Transcript

NOTAS SOBRE O PROCESSO RECENTE DE DRBANIZACAO/METROPOLIZAçAO NO ESTADO

DA BARIA *

Na tentativa de e~plicar o dinamismo do recenteprocesso de urbanizayão/metropolizayão na Bahia ,mais especificamente a partir de 1940, adotamoscomo critério inicial, dois conjuntos espaciais,um referente ao Estado da Bahia como um todo e ou-tro destacando a Região Metropolitana de Salvadorque serão vistos em dois planos de análise, um externo à região e outro interno. Evidentementereconhecemos as importantes interações entre asdimensões espaciais e os niveis analiticos. Oscortes esquemáticos visam apenas resumir, de for-ma lógica, os principais componentes do processode urbanização/metropolização no Estado da Bahia.

A Tabela 1 destaca, em termos abrangentes, osprincipais elementos responsáveis pelo dinamismodo processo de urbanização/metropolizayão no Estado da Bahia.

* Comunicação apresentada ao 11 Encontro Nacionalde Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Ur-bano e Regional, realizada em T~esópolis, RJ,em novembro de 1987.

** Professor do Departamento de Geog~afia eg9 Mestrado em Arquitetura e Urbanismo da FAUFBa.

ELEMENTOS COMPONENTES DA DINÂMICA DA URBANIZAÇÃO/METROPOLIZAÇÃONO ESTADO DA BAHIA

PLANOS ANALÍTICOS~. "'".. •.•.•.•.•. '-'v>J PI.ANO (,Xl'1',RNO

~!~_E~~_~__,~(DIMENSÕES) ESPACIAIS·

Nivel Estariual mudançasna estrutura eno relacionamento daeconania nacional emumcontexto internacional.

mudançasno sistema detransporte a nivel n~cional, em termos de estrutura emrede.

mudançasno papel exercido pelas cidades, emtermos sistêmicos.

necessidade de uma desconcentração da econ~mia nacional exigiQdounvigoroso papel do setorpúblico emdeterminadasareas.

necessidade de integr~ção da econania naci~nal exigindo una adequ~ção do sistema de tr~portes e ccmmicCiÇõesemregiões especificas.

mudanças no relacion~mento da econania estadual e de sua estruturaeconômica

expansão e retração deeconanias sub-regionaise urbanas.

mudançasnas funções urbanas.

dinamismodas atividades econômicas metropolitanas, sobretudo industriais.

reorganização de áreasurbanas e implantaçãode novos eixos de exp~são metropolitana.

Tendo o Estado da Bahia como um todo, destaca-se ,preliminarmente, a indução externa, de caráter nacional, como sendo a principal responsável pelaevolução recente do processo de urbanização/metro-polização. Com efeito, a economia nacional nos últimos cinquenta anos, relacionada a um contexto i~ternacional, ora adverso ora favorável, experimen-tou uma significativa transformação estrutural,pa~sando progressivamente de um estágio primário - e~portador para um estágio de caráter urbano-indus -trial, o que levou a integrar as economias region~is outrora mais autônomas e atreladas tradicional-mente aos mercados externos.

Este processo de mudança, fortemente conduzido p~10 Estado, beneficiou, inicialmente, a região Su-deste, particularmente são Paulo, onde foram maisrápidas as transformaçôes estruturais da economiarepercurtindo em uma reorganização do espaço prod~tivo com um intenso mecanismo de metropolização.A conformação de uma região central de caráter nacional requeria uma rápida integração do mercadonacional, estabelecendo um conjunto de relaçôes dotipo centro-periferia de que passou a fazér parteo Estado da Bahia. A este processo de mudança esteve vinculada uma vigorosa politica de transpor -tes beneficiando sobretudo as rodovias já que asmesmas estavam associadas à implantação e ao rápi-do crescimento da indústria automobilistica. Comoexemplo, a rede rodoviária do Estado da Bahia, segundo dados dos Anuários Estatisticos do Brasil(IEGE), passou de 11.739 km em 1937 para 133.953km,

em 1986, dos quais 9.946 km são asfaltados. Tamb~segundo esta mesma fonte, a relação habitantes/ve!culo registrado no Estado da Bahia passou de 783,0em 1940 ~ara 31,6 em 1985. Todos estes complexosmecanismos de mudança, envolvendo um considerávelnúmero de elementos, causaram substanciais altera-ções no papel exercido pelas cidades que, em termos gerais, passaram progressivamente de centrosl~cais e/ou regionais, sem uma expressiva interdepe~dência, a não ser com as metrópoles regionais, pa-ra centros com uma variada hierarquia funcionalmelhor equipados, e com um forte interrelacionamento abrangendo uma grande dimensão espacial, ou' seja, o espaço nacional. Assim, pouco a pouco podese falar em um sistema urbano nacional, integrandovários subsistemas como, por exemplo, o da Bahia.

Estas mudanças, definidas como sendo de caráter nacional, tiveram, portanto, uma repercussão direta,no plano interno, ou seja, a nivel do Estado da Bahia como um todo. Para a consolidação de uma regi-ão com caracteristicas urbano-industriais predomi-nantes, o Sudeste brasileiro, foi necessário impl~mentar a unificação do mercado nacional como um todo, para escoamento dos produtos industrializadose integração dos setores produtivos, sobretudo a-través da produção de insumos nas áreas periféri -caso Assim, também ocorreu na Bahia o grande cre~cimento do setor industrial, superando o da agrop~cuária, na composição do PIB estadual, na décadade 70. A progressiva integração da economia bras!leira causou, por outro lado, a partir de meadosda última década, uma expressiva superioridade das

transações internas (com o resto do País) sobre asexternas (com o resto do mundo) , o que significou,concomitantemente, a introdução de importantes mudanças no sistema urbano-regional. 1

Por outro lado, as relações comerciais da Bahiacom o resto do Brasil, inclusive com são Paul~têmsido superavitárias nos últimos anos, graças à importãncia e à natureza do processo recente da industrialização baiana, destacadamente concentradona oferta de insumos industriais. Como este pr~gressivo relacionamento foi efetivado sobretudo a-través do sistema rodoviário, com grandes eixos p~vimentados N-S e L-W, algumas economias sub-regi~nais com vários centros foram bastante beneficia-das na Bahia enquanto outras áreas mais iSOladas ,com suas respectivas cidades, entraram em crise.2As vantagens para determinados espaços foram prin-cipalmente de duas ordens, uma referente aos estí-mulos que passaram a .ser oferecidos aos setores ~dutivos (ampliação de mercados, diversificação deatividades com o aproveitamento de novos recursos,etc.) e outra relacionada com o crescimento da vida de relações. Em ambos os casos, destaca-se opapel dirigente das cidades, conduzindo o processode mudanças econômicas e a vida de relações intere intra-regionais. As desvantagens para as áreasque ficaram à margem deste processo também seguem,em geral, a mesma lógica mas ao inverso, com a fa!ta de estímulo para as atividades produtivas, sup~radas na concorrência com outras áreas e, por conseguinte, com fraca vida de relações, afetando, negativamente, o crescimento urbano.

A titulo de exemplo, as áreas de Salvador, Feirade Santana, Vitória da Conquista, Ilhéus-Itabuna ,Eunápolis-Itamaraju, Irecê e Barreiras representammuito bem o primeiro caso enquanto as zonas da C~pada Diamantina Meridional, o Nordeste do Estado ealgumas áreas do Recôncavo, além de várias sub-áreas e municipios diversos, expressam sintomas decrise urbano-regional, com estagnação ou decrésci-mo de suas populaçôes urbanas e mesmo rurais, emdeterminados casos.

A simples menyão das cidades e áreas mais ou menosdinâmicas destaca a importância de suas localiza -yões ao longo dos grandes eixos de circulayâo decaráter nacional, resultando no crescimento de economias sub-regionais e o peso das localizaçôes intersticiais, com certo isolamento, causando deses-timulo às atividades produtivas. As grandes viasde integração nacional beneficiando sub-regiões ecidades aparecem como as mais importantes e é aolongo destas vias que se localizam, em geral, aslocalidades com maiores itidices de crescimento(Feira de Santana, Vitória da Conquista, Itabuna, Eun~polis, Itamaraju, Barreiras, etc.). O~ espaços"vazios" e os trechos com pequenos fluxos corres -pondem às áreas mais fracamente urbanizadas no Es-tado e com pequeno dinamismo. A Malha rodoviáriaestá, evidentemente, associada ao crescimento devárias atividades economicas em diferentes espaçoscomo, por exemplo, a expansão da fronteira agrico-Ia nas áreas de Irecê (cereais), Extremo Sul (e~ploração florestal e pecuária), Oeste (cereais epecuária), Vitória da Conquista (pecuária e café)

e Chapada Diamantina Central(café) Outras áreasmais tradicionais tiveram suas economias regionaise urbanas submetidas a um intenso processo de mu -danças como, por exemplo, nas áreas de Valença (d~senvolvimento de uma policultura) e Feira de Santana (intensificação da pecuária, industrialização ecrescimento dos serviços). Com isto, ocorreu pr2gressivamente na Bahia um novo arranjo econômico -espacial com áreas dinãmicas ao longo de eixos quesurgem quase como corredores de crescimento econô-mico urbano-regional e com áreas declinantes ou e~tagnadas correspondente a espaços com menor acesslbilidade e com crises nas atividades produtivas ~~dução do setor agricola, como em áreas marginaisdo velho Recôncavo e exaustão dos recursos nénatu-rais, como em Andarai, Lençõis e Mucugê

significado para a Região Metropolitana de Salvador a ponto de se poder afirmar que esta area e,sem dúvida alguma, a que melhor expressa as trans-formações já mencionadas. Com efeito, esta regiãoé o principal locus do processo recente de indus -trialização estadual, setor responsável pelas mudanças estruturais da economia baiana e pelo redi-recionamento de suas relaçôes. Evidentemente, isto também demandou uma re-estruturação nos trans -portes visando melhor integrar esta área aos sist~mas regionais e nacionais em expansão. A duplica-.ção da rodovia Salvador-Feira, a construção do pOEto de Aratu, a implantação do Ferry-Boat e a edificação do novo aeroporto são exemplos que confirmam

esta constatação. Com tudo isto, Salvador teve alterado seu papel tradicional de centro de carátercomercial e de outros serviços, elo entre o mundosubdesenvolvido, para uma outra função em que a r~gião de Salvador passa a somar a tudo isto a ativ!dade àe centro industrial de caráter nacional,con~tituindo-se em um dinãmico centro de negócios bastante vinculado aos interesses ~ economia brasi -leira.Vale a pena transcrever aqui uma definição de Salvador feita por Milton Santos em 1959 e que retratabem sua função antes das grandes transformações queiriam ocorrer nas décadas posteriores: "... Salva-dor é uma criação da economia especulativa, a metrópole de uma economia agricola antiga que aindahoje subsiste ;p,laconserva as funções que lhe deram um papel regional, e embora penetrada pelas novas formas de vida, devidos à sua participação aosmodos de vida do mundo industrial, mostra, ainda ,na paisagem aspectos materiais de outros periodos"~Com o crescimento das atividades da PETROBRÂS naarea, com a CHESF, o BNB, a SUDENE, o crA e o COPEC, além de outros elementos de transformação, esta posição tradicional é substancialmente alteradanas décadas seguintes no sentido de que a economiaurbana de Salvador adquire maior importância e dinamismo, em termos nacionais. É somente a partirdai que se pode substituir a tradicional expresSão"métropole regional" pelo uso do conceito modernode "região metropolitana" inserida em um amplo sistema urbano-regional de caráter nacional.Com a área tradicional de influência de Salvadorocorreram ta~eim mudanças np sentido de que houve

perda de parte de suas caracteristicas de interme-diação já que, com a integração do mercado nacio -nal dos transportes e das comunicações, muitastransações passaram a ser diretamente feitas entreos centros consumidores e os centros produtoresMas Salvador passou a oferecer, em contrapartida ,novos bens e serviços, alguns desses últimos de nivel bem elevado, à sua região de influência.

são grandes, portanto, os mecanismos de interaçãoentre os planos externos e internos, a nivel esta-dual envolvendo a Região Metropolitana de Salvador.

Em termos de destaque, tentamos mostrar alguns el~mentos externos atuando e repercutindo na RegiãoMetropolitana de Salvador. Neste nivel, as mudan-ças na economia nacional passaram a demandar umasubstancial desconcentração econõmica com um fortepapel do Governo (Federal e Estadual). Com efeit~a partir dai o modelo de desenvolvimento econômicoimplementado no Pais desde os anos 50 se aproximamuito, em termos espaciais, do tipo "desconcentra-ção concentrada" proposto por Rodwin~ em que a estrutura centro-periferia ê reduzida graças ao papel de centros regionais dinâmicos. Este modelo,teoricamente, tentaria promover um equilibrio entre os principios de eficiência e equidade espaci-ais, ou seja, por falta de uma racionalidade econõmica que justifique uma ampla descentralização,pr~cede-se a uma desconcentração parcial com certograu de hierarquização. Salvador, com sua regiãoimediata, se encaixa bem neste modelo, razão pelaqual ocorreu, no plano intra-regional, um grandedinamismo das atividades econõmicas, sobretudo in

dustriais. A ação do Setor Público, direcionandoa área empresarial, foi decisiva em termos econômico-financeiros, através de diversos mecanismos, efisicos, com a preparação de grandes áreas indus -triais infra-estruturadas e com a melhoria relati-va da infra-estrutura da própria cidade do Salva -dor. Com o crescimento do setor industrial, sobr~tudo a partir da implantação do Pólo Petroquimicode Camaçari, cresceram bastante as atividades comerciais e de outros serviços na região, particularmente em Salvador. ~ preciso também mencionarque o desenvolvimento recente da Reg~ão Metropoli-tana de Salvador (e de várias outras áreas do Estado) igualmente se beneficiou, em termos comparati-vos com outras regióes do Nordeste, das menoresdistãncias com o Sudeste.

Esta desconcentração, mesmo que parcial, passou aexigir uma correspondente adequação do sistema detransporte e comunicações o que, a nivel interno ,determinou a reorganizacão de áreas urbanas e o direcionamento de novos eixos de expansão urbana emetropolitana (avenidas de vale, Avenida Paralela,Avenida Suburbana, via Parafuso, Estrada do Côco ,ampliação dos telefones, etc.). Ao lado da já de~tacada expansão dos transportes e comunicações, ho~ve também a melhoria de outros setores da infra-e~trutura urbana, notadamente água e energia, naoobstante o reconhecimento da persistência de gr~ves carências nestas áreas e em outras, como ocor-re mais significativamente no esgotamento sanitá -rio.

quência, uma grande expansão das áreas resiàenci -ais, sobretudo nas zonas periféricas, com destaquepara as enormes áreas de invasão, e o desdobramen-to e a decadência do congestionado centro da cidade do Salvador, ampliando-se os demais sub-centrosque já estavam em formação (Calçada, Liberdade, S~te Portas, Barra) e criando praticamente um novo"centro de negócios" na área da Pituba - Vale doCamurujipe. Com as novas áreas industriais concentradas no CIA (rodovia BR-324) e no COPEC (Camaça-ri), a várias dezenas de quilômetros da metrópole,não puderam ainda servir de residência para os op~rar~os e técnicos, implantou-se um intenso fluxopendular residência-trabalho.S

Assiln, de maneira abrangente, este processo de de~concentração relativa da moderna economia brasile!ra foi fundamental também para que Salvador passasse efetivamente a agir como um tipo de pólo decrescimento, na linguagem de perroux~ ou seja, comuma economia urbana dinãmica, com certa especiali-zação, integração e capacidade de gerar adaptaçõesmudanças e crescimento. Esta inserção de Salvado~nas modernas formas assumidas pelo capitalismo br~sileiro fez com que ela passasse a ter a posiçãode maior destaque no Nordeste do Pais e uma rele -vante função do conjunto do sistema metropolitanonacional.

3. AVALIAÇAO CONJUNTA DA URBANIZAÇAO/METROPOLIZA-

ÇAoO processo de difusão da urbanização concomitanteao da metropolização foi acentuado nas últimas dé

cadas na Bahia graças a uma forte indução externacombinada com fatores internos favoráveis ao crescimento. ~ surpreendente observar, como já desta-caram Geiger e Davidovich? que a industrializaçãodo Sudeste, resultando em Ulna enorme concentraçãoespacial do crescimento e no incremento das dispa-ridades regionais. foi quem obrigou o governo central a se envolver cada vez mais com o desenvolvi-mento econômico regional, sobretudo a partir de1956, ou seja, no início da chamada fase "desenvolvimentista" da economia nacional. Com isto, o Estado brasileiro procurava, de certa forma, compensar as regiôes periféricas pelos privilégios atéentão majoritariamente atribuidos ao Sudeste, emtermos de alocação de grandes investi~entos públi-Cos e de política econômica (Cia. Siderúrgica Nac!onal, Vale do Rio Doce, Fábrica Nacional de Moto -res, Cia. Nacional de Alcalis, infraestruturas, p~lítica cambial, etc.)

Por outro lado, é também surpreendente que a difusão da urbanização tenha ocorrido na Bahia pelo m~nos com igual intensidade que o processo de metro-polização, conforme tivemos a oportunidade de me -dir. Com efeito, no modelo altamente centralizadode nossas estruturas político-administrativas, ec~nômicas, sociais e culturais, seria mais lógicouma ainda mais forte metropolização. Entendemosque o crescimento urbano-regional no interior doEstado ocorreu sobretudo eM funyão da forma comose desenvolveu a penetração do capital nessas áreas diretamente relacionadas ao centro dinâmico damoderna economia brasileira através de um novo sis

tema de transportes e comunicações. Este relacio-namento se deu, portanto, por meio de eixos prioritários envolvendo diferentes áreas, inicialmentesem grande integração entre si.8 A Região Metropo-litana de Salvador deve ser colocada também nesteesquema, com a observação de que, com a "abertura"do interior, Salvador vê reduzido em parte seu tr~dicional papel de centro regional mas agrega novasatividades econômicas responsáveis pelo seu dina -mismo em termos nacionais.Portanto, a integração do mercado nacional é oprincipal fator responsável pelo dinamismo dos pr~cessos recentes de difusão da urbanização e de metropolização. Pode-se dizer também que graças aoforte predominio da indução externa, os dois prccessos, urbanização no interior e metropolizaçãoem torno da Capital, têm uma integração ainda fra-ca até nossos dias.

Neste sentido, ãbre-se um enorme leque de possibi-lidades de interação entre os dois processos, conduzido por um eficiente e aberto sistema de plane-jamento, no sentido de se projetar, de forma inov~dora, um sistema urbano-regional dinamicamente ar-ticulado, capaz de maximizar caca vez mais os ben~ficios de suas relações externas e de internalizá-los através do incremento das relações internãSem busca de um desenvolvimento mais eficiente, bemsustentado e justo. Só assim se poderia falar efetivamente em uma relação positiva entre urbaniza -ção/metropolização e desenvolvimento econômico-s~cial amplamente difundido. Para tanto, é precisoreconhecer o potencial já representado pelo atual

estágio db sistema urbano baiano mas também os seusus aspectos criticos. Assim, com a difusão da urbanização e com a metropolização, poderiam ser destacados os seguintes aspectos positivos:

(a) emergência de ~a metrópole com tamanho e dinamismo capaz de atuar mais efetivamente comocentro propulsor da economia regional através de:

• economias de escala e de aglomeração,importante área de mercado para produtos re-gionais,

• pesquisa - desenvolvimento e difusão de ino-vações,atividades comerciais, de transporte e comu-nicações,prestação de outros serviços de alto nivelo

(b) emergência de Uma rede de cidades no interiorcapaz de atuar sobre amplos espaços, de formarelevante, como:

centros de serviço pfiblicos e sociais, inclusive dirigidos ao campo,

• centros comerciais,• centros de abastecimento e de desenvolvimen-to da agro-indfistria,centros de desenvolvimento de indfistrias pe-quenas e médi.as,centros de transporte e comunicações,

• em casos especiais, centros de turismo e Iazer,centros de mudança social.

Os aspectos criticos podem ser destacados daseguinte forma:

(a) exagerada concentração espacial do crescimentona Região Metropolitana de Salvador, com:

grande concentração das indústrias modernas,desequilibrio no crescimento industrial beneficiando os setores quimicos e metal-mecânico, fraqueza das relações inter-industriais,crescimento desordenado e grande expansão dasáreas de baixa renda,problemas de transporte e saneamento,problemas de abastecimento urbano e de comercialização,fraqueza de suas relações com o restante dosistema urbano estadual,

(b) desnivel nas atividades econômicas e no padrãode vida das cidades médias e pequenas com rel~ção à Região ~etropolitana de Salvador, com:

fraqueza das atividades industriais,fraqueza da oferta de equipamentos e de distribuição de bens e serviços,dificuldades nas áreas de infraestruturatransportes e comunicações,fragilidade de suas relações com a Região Metropolitana de Salvador.

Estes as~ectos serão analisados proximamente, in-clusive permitindo a proposlçao de estratégias dedesenvolvimento urbano-regional. A prioridade será dada aos seguintes temas:

I

(a) incentivar as relações da Região Metropolitanade Salvador com as demais regiões do Estado v~sando criar condições de sustentação e cresci-mento da base econômica de inúmeras áreas e ci

dades e também da própria Região Metropolita -na, ampliando a área de mercado e repercutindona elevação dos padróes de emprego e renda;

(b) reforçar significativamente, mediante diretri-zes especiais, as cidades intermediárias e p~quenas, considerando o seu papel no processode produção e distribuição de bens e serviçossobre todo o território do Estado e na estruturação mais eficiente e eqüitativa do espaçobaiano em regióes funcionalmente integradas.

~ importante observar, de forma resumidamente conclusiva que:

a urbanização na Bahia teve um lento crescimentono periodo colonial pelas caracteristicas tipi -cas da economia primário-exportadora que necess!tava somente de uma 'metrópole comercial e admi -nistrativa e de pequenos núcleos nas áreaS deprodução;

- c desenvolvimento urbano no periodo pós-colonialse fez inicialmente por expansão da malha viáriaintra-regional associada ao crescimento de novasatividades produtivas, mudanças estas que não alteraram fundamentalmente a estrutura primaz dosistema urbano comandado por Salvador;

com o crescimento industrial no Sudeste do Pais,o Estado da Bahia entra primeiramente em crise ,afetando o crescimento urbano-regional;com a necessidade de unificação do mercado nacional, implantando complementaridades entre as ati

vidades de produqão e consumo, básica para a'r~produção do capital, passa a ocorrer uma progre~siva integração das economias urbano _regionais-do Estado à economia nacional, O que transmitegrande dinamismo para o sistema, sobretudo após1960. A malha viária inter-regional é de fundamental importância. Várias regiões do Estadosão especialmente beneficiadas e a partir dessemomento é que se implanta efetivamente a regiãometropolitana de Salvador e cresce sua base econõmica.

Cabe perguntar agora sobre o que aconteceria senão fosse a integração do mercado nacional, ou se-ja, do papel da nova indução externa transformandouma tradicional economia regional em crise. Certamente pode-se afirmar que o dinamismo seria bemmenor e provavelmente sujeito a ciclos de expansãoe retratação em função da dependência dos mercadosinternacionais como historicamente ocorreu e ocor-re ainda hoje na regiâo cacaueira do Estado.

Deve-se também perguntar, a esta altura, sobre asrelações deste processo de urbanização/metropoliz~ção com o desenvolvimento econom~co e suas perspe~tivas. Já destacamos que este processo expressauma alteração estrutural da economia baiana e umagrande mudança nas suas relações externas, com reflexos em muitos setores. Entretanto, não obstan-te o fato de que o processo de urbanização apareceigualmente como um relevante indicador do direcio-namento das migrações inter-regionais na busca demelhores condições de vica, a consecução desteobjetivo não se efetivou para grandes parcelas dapopulação das cidades e da metrópole. Isto, ao la

do da persistente pobreza rural, certamente confi-gura um enorme desafio em termos de perspectivas~ra o processo de urbanização/metropolização no Es-tado da Bahia a médio prazo.

Neste sentido, é importante uma reflexão sobre osgrandes problemas inseridos neste processo, tendoem mente os aspectos de eficiência e eqüidade:

incremento dos diferenciais cidade e campo, resultando em um intenso êxodo rura1

grande dependência do dinamismo do processo deindustrialização a nivel naciona1 ;

expansão de agriculturas comerciais no Estado edependência exterma em alimentos ;

- desequilibrios metrópole versus demais cidadesdo sistema urbano no setor industrial e no setorde serviços;

- desequilibrios intra-metropolitanos. ,intenso processo de favelização via invasão indicando os graves problemas de acesso à terra, emprego e renda.

A análise efetuada, baseada sobretudo em questõesde organização espacial, sua evolução e'projeções,permite, entretanto, destacar os aspectos favoráveisda importante difusão de urbanização ocorrendoao mesmo tempo que um intenso processo de metropo-lizacão, pelos resultados já atingidos e, sobretu-do, pelo potencial em termos de mudanças que podemser inseridas visando alcançar um estágio maiseqüitativo e eficiente para o sistema de cidadescomandado por Salvador. Neste sentido, assumindo

estrategicamente a hipótese de que para uma maioreficiência e eqüidade deve haver um incentivo àsrelações entre a metrópole e as demais partes deseu sistema, ao lado do aperfeiyoamento das rela-ções externas, deveriam ser destacados os seguin -tes aspectos em termos prospectivos:

- medir o grau de interação entre a ,Região Metrop2litana e as cidades do Estado, delimitando níveis de intensidade.

realizar análises visando a proposiyão de uma reformulação do conceito de Região Metropolitanade Salvador e de sua delimitação

comparar o nível de oferecimento em bens e serviços entre a Região Metropolitana de Salvador eas demais cidades do Estado, propondo uma adequ~da hierarquia funciona1 ;

- propor medidas estratégicas para o desenvolvime~to urbano-regional com base nos critérios de eficiência e eqüidades espaciais.

Desta forma, seria possível tentar maximizar asvantagens, para os setores produtivos e para a sociedade, de uma urbanização desconcentrada associ~da ao dinamismo de uma metrópole em expansão. Sóassim poderíamos falar em uma real interação entreo processo de urbanização/metropolização e desen -volvimento econõmico-social no Estado da Bahia, a-proximando-o da experiência internacional que temdemonstrado com efeito, que as regiões metropolit~nas que mais têm induzido e sustentado o desenvol-vimento regional são as que têm mantido suas rela-ções internas e externas com eficiência e eqüidade.

1SILVA, S.C. BANDEIRA de MELLO e. Cartografia daacessibilidade no Estado da Bahia. Geografia,Rio Claro, l (13-14): 57-73, out. 1982.

___________. O sistema urbano de Salvador e sua inserção no contexto nacional. DEBATES/CENPES(Centro de Projetos e Estudos), Salvador,~ (5):233-257, jul. 1985.

20 primeiro e o mais importante destes grandes eixos, a BR-116 (Rio-Bahia), só foi totalmente as -fãltado em 1963. Sua implantação inicial data de1947-48.

3SANTOS, M. O centro da cidade do Salvador. Sal-vador, Progresso, 1959, p. 192.

4pRODWIN, L. Planejamento urbano em países em desenvolvimento. Rio de Janeiro, USAID, 1967p. 81-85.

5Como os locais de trabalho industrial estão dis -tantes da área urbana de Salvador e como a mora -dia do pessoal ocupado está inserida majoritaria-mente dentro do tecido urbano, Salvador é um exe~plo raro de ocorréncia de migrações pendulares aoinverso do que ocorre na maioria das regiões me -tropolitanas do mundo. Com efeito, é muito maisfrequente e intenso que a moradia esteja nas cidades pequenas e médias da área metropolitana eque os locais de trabalho se situem sobretudo namaior cidade, ou seja, na própria metrópole ou emsua periferia imediata. Entre nós, só entre o

COPEC e Salvador, estima-se que o fluxo pendularatinja hoje o total de 20.000 pessoas/dia. O cus-to deste transporte para as empresas é de cercade 1 salário mínimo/homem/mês.

6pERROUX, F. Note sur le notion de "põle de croissance" . Economie Appliquée, 8: I :07-320, 1955.

7GEIGER, P.P. & DAVIDOVICH, F.R. The spatial stra-tegies of the state in the political-economicdevelopment of Brazil. In: SCOTT, A.J. & STORPER, M. (eds.). Production, work, territory.Winchester, Allen & Unwin, 1986, p. 281-298.

8Também na época em que Salvador exercia plenamen-te seu tradicional papel de centro regional, asdiversas regiões geo-econõmicas do Estado não tinham grande intera~ão entre si mantendo sobretudorelações diretas com a metrópole soteropolitana.

O trabalho analisa o processo de urbanização/metr~polização no Estado da Bahia, a rartir de 1940, a-través da proposição de um quadro interpretativo anível estadual e a nível metropolitano, destacan -do-se os planos externo e interno. A nível estaduaI destaca-se o papel da indução externa com a co~solidaçâo da integração da economia nacional, oque causou significativas mudanças na estrutura eno relacionamento da economia baiana. Com o pred~mínio do transporte rodoviário, ao longo dos gra~des eixos, muitas cidades do interior do Estado sãobeneficiadas, contribuindo para o incremento e adifusão espacial do processo de urbaniza~ão. A ni