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NOTÍCIA 27 de abril de 2016 PESQUISA

CELSO MATTOS

O surgimento da terapia antirretroviral(TRV) aumentou a expectativa de

vida dos portadores de HIV, mas nãolivrou os pacientes dos efeitos colateraisassociados ao tratamento. Entre essesefeitos estão distúrbios metabólicos,acúmulo de gordura central, osteopenia,resistência à insulina, doençascardiovasculares e perda de massa mus-cular. Efeitos que poderiam ser atenuadoscom um programa de educação físicadirecionado a esta população.

A convivência com portadores de HIVdespertou no estudante Vitor HugoFernando de Oliveira o interesse empesquisar mais a fundo este tema. Gradu-ado em Educação Física pela Universida-de Federal de Santa Catarina (UFSC), eleresolveu fazer mestrado na UEL sob aorientação do professor Rafael Deminice,do Departamento de Educação Física(CEFE), que na época coordenava o pro-jeto de extensão “Programa de AtividadeFísica e Nutrição para Portadores de HIV”.

Os estudos estão sendo aprofundadosem sua tese de doutorado, também sob aorientação de Rafael Deminice. O estu-dante destaca que existem poucas pesqui-sas sobre os benefícios da atividade físicapara portadores de HIV. “É uma popula-ção negligenciada que ainda sofre precon-ceito, em especial os de baixo poder aqui-sitivo e que dependem exclusivamente dasaúde pública”, diz Vitor Hugo.

O professor Rafael Deminice acres-centa que o tratamento com o antirretroviralé efetivo no combate à ação do vírus, mastraz os já mencionados efeitos colaterais.“Um projeto piloto realizado na UEL em2012 com 50 portadores de HIV revelouque um programa de atividade física podeaumentar a força muscular dando a estapopulação uma melhor qualidade de vida”.

A perda de força muscular foi avaliadana pesquisa de mestrado, que analisou doisgrupos de homens e mulheres na mesmafaixa etária: um grupo portador do vírusHIV e outro não infectado. “A literaturaexistente na área já havia apontado que estegrupo sofre uma perda na qualidade damassa muscular, fomos um pouco alémpara confirmar que também ocorre umaperda significativa de força muscular, emespecial, nos membros inferiores e estaperda é mais acentuada nos homens quenas mulheres”, aponta Vitor Hugo.

Segundo o doutorando, esses dados

Estudo avalia força muscularem portadores de HIV

Pesquisa desenvolvida no programa de mestrado e doutorado em Educação Física(CEFE) avaliaa perda de força muscular em portadores de HIV e também os efeitos da medicação no sistema nervoso central

são importantes porque a força muscu-lar está diretamente relacionada à inde-pendência física que se agrava confor-me a idade avança. “Além disso, indicaque os homens infectados precisam deuma atenção especial considerando queeles são mais prejudicados”, sintetiza oestudante. Além de exames clínicos, ogrupo pesquisado foi submetido a testesno aparelho Dinamômetro Isocinético,cuja função é a avaliar a força musculartanto nos membros inferiores quantonos superiores.

DOUTORADO – Em sua pesquisa dedoutorado, Vitor Hugo pretende obter re-sultados que não foram contemplados nomestrado como, por exemplo, quais osefeitos da medicação antirretroviral nosistema nervoso central dos portadores doHIV. “Existem estudos que demonstramque apesar de alguns infectados teremmassa muscular normal a sua força mus-cular é fraca. Por que isso acorre é o quequeremos estudar, considerando que é osistema nervoso central que ativa a mus-culatura”, explica o estudante.

De acordo com professor RafaelDeminice, os resultados desses estudosserão importantes para melhorar aindamais a qualidade de vida dos portadoresde HIV. “Em especial aqueles com poder

Durante dois anos, o professorRafael Deminice coordenou o projetode extensão “Programa de AtividadeFísica e Nutrição para Portadores deHIV”, mas atualmente o projeto encon-tra-se suspenso devido à falta de re-cursos. “É um programa que dependede verbas para manter bolsistas deEducação Física, Psicologia e Nutri-ção, além de oferecer passes de ônibuspara que os participantes venham até oCampus fazer o treinamento físico”,explica o professor.

Na época, o programa chegou aatender 50 portadores de HIV que fazi-am parte do cadastro do Centro deReferência de Tratamento de Aids de

Londrina. “Entrevistamos 250 pessoas,e deste total 50 aceitaram participaramdo programa”, conta Rafael.

O projeto contava com a colabora-ção da médica Susana Lílian Wiechmann,hoje diretora clínica do HU; da assistentesocial, Argéria Maria Narciso, do Am-bulatório de Especialidades do HU; doprofessor Fabiano Koich Miguel, do cur-so de Psicologia da UEL e da professoraFlávia Troncon Rosa, do curso de Nu-trição do Centro Universitário Filadélfia(Unifil). Além de estudantes bolsistasdos cursos de Educação Física, Psico-logia e Nutrição. “Esperamos retomar oprojeto em breve, mas para isso depen-demos de recursos”, afirma Deminice.

Projeto envolvia 5 áreas

O professor Rafael Deminice e o estudante Vitor Hugo de Oliveira explicam como funcionaa avaliação de força muscular no aparelho Dinamômetro Isocinético

aquisitivo baixo e que não têm acesso a umsistema de saúde mais avançado. Apesarda medicação manter a doença controlada,esta população ainda sofre muito comoefeitos colaterais”, destaca.