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Área de Competências-Chave
Cultura, Língua e Comunicação
RECURSOS DE APOIO À EVIDENCIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Recursos de apoio ao desenvolvimento do processo de RVCC, nível secundário
Núcleo Gerador 2 – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
DR4 – Tema: Clima
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Tema 4: Clima
COMPETÊNCIA: Agir de acordo com a compreensão dos diversos impactos das alterações climáticas nas actividades humanas.
O país das renas (...) Saí dali com um bilhete e, no dia seguinte, já instalado no avião que me levaria a Kiruna, lembrei-me
dos dias felizes vividos na Lapónia em meados dos anos oitenta. Estivera lá durante o mês de julho, em dias
intermináveis e de visita a uma estranha mulher chilena que se tornou lapónia por amor.
Chamava-se - e espero que continue a chamar-se - Sonia Hidalgo, uma antropóloga que chegou à Lapónia
em 1979, quando o governo norueguês anunciou a construção de uma central hidroelétrica em Altaev.
Para isso tinham de desflorestar
uma enorme região de que os lapões
sempre usufruíram, o que deu origem a
um forte protesto, não apenas dos
lapões da Noruega, Suécia e Finlândia,
mas também de numerosas organiza-
ções ecologistas. (...)
Os lapões perderam aquela batalha,
a central foi construída, e a recordação
de uma absurda lei sueca promulgada
em 1971 tornou mais amarga essa der-
rota: determinava ela que a cultura, o
idioma, o artesanato, a tradição, a ligação histórica ou o lugar de nascimento não eram determinantes para se
ser ou não lapão. (...)
Paisagem da Lapónia - Imagem disponível em: http://www.equalityturismo.com.br/pacotes-viagem-internacionais/laponia-encantada-e-
paris
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Kiruna é uma bela cidade que, do ar e no inverno, se avista como uma delicada mancha vermelhada sobre
um panorama uniformizado pela penumbra criada pela neve e pela obscuridade. No verão, em compensação,
aparece como uma alegre mansão rodeada por uma paisagem intensamente verde, com centenas de lagos e rios
que a circundam.
Está um frio de rachar. Vinte e oito graus abaixo de zero, mas a roupa térmica alugada em Estocolmo dá
segurança e, assim, deito pés ao caminho em busca de duas recordações.
A cidade é sede de numerosas instituições científicas que investigam sobre a vida em condições tão
extremas e sobre a assombrosa fragilidade desta enorme região. O comércio oferece todas as novidades da
moda e as tecnologias aos esforçados trabalhadores das minas de ferro que, a setecentos metros de
profundidade, escavam as entranhas desta terra gelada. Por fim, perto da estação de comboios, chego a uma
das minhas recordações.
É um monumento semioculto pela neve, que
mostra quatro homens carregando um pedaço de
carril. Trata-se de uma homenagem aos legendários
protagonistas de uma proeza sobre-humana; entre
1882 e 1900 construíram a linha férrea que, saindo de
Lulea, passando por Malmberget e Kiruna, atravessa
depois quinhentos quilómetros de montes, glaciares,
pântanos e bosques, até chegar ao porto de Narvik, na
Noruega, onde o ferro era e é embarcado para o resto
do mundo.
Quatro mil lapões, homens e mulheres,
conseguiram tal façanha. Trabalharam com
temperaturas de cinquenta graus abaixo de zero,
suportaram doenças, ataques de ursos, de lobos, e
sofreram acidentes que mataram mais de metade. Os seus corpos, enterrados primeiro junto das linhas, foram
anos mais tarde reunidos no cemitério ferroviário de Torneham, na fronteira sueco-norueguesa. Diante deste
monumento, saúdo como Romain Gary: Glória aos ilustres pioneiros! (...)
De Kiruna e de qualquer outro lugar da Lapónia, todos os caminhos levam a Jokkmokk. (...) Jokkmokk é a
duzentos e vinte quilómetros a sul de Kiruna, e viajar até lá no Verão é particularmente belo, porque a estrada
atravessa soberbos bosques de bétulas, lagos e a estupenda cidade de Gallivare, onde fazem um incomparável
gelado de leite, mel e açafrão, e ainda porque se dá a volta ao parque nacional de Muddus; mas no Inverno as
baixas temperaturas nada mais oferecem - e nada menos - que uma paisagem branca de neve e árvores
cristalizadas. (...)
Em Jokkmokk vivem três mil e duzentas pessoas, na sua maioria lapões. Moram em casas de madeira
unifamiliares com o Volvo ou o Saab diante da porta. Só usam as suas coloridas roupagens tradicionais para as
festas e abundam os bonés de basebol. O museu de Jokkmokk permite lançar um olhar à fascinante cultura
lapónia, ligada à criação de renas desde o ano de 1600. (...)
Saímos do museu e é chocante saber e aceitar que muitos jovens lapões cada vez mais - vão para o sul em
busca de oportunidades que eles consideram melhores, e a maioria nunca mais regressa. (...)
No dia seguinte àquele em que chegámos a Kvikkjokk, a temperatura desce a 34 graus abaixo de zero. (…)
Luís Sepúlveda, As Rosas de Atacama (adaptado)
“As alterações climáticas são já uma realidade: as temperaturas estão a aumentar, os padrões da
precipitação estão a mudar, os glaciares e a neve estão a derreter e o nível médio das águas do mar está a
subir. É de esperar que estas alterações prossigam e que se tornem mais frequentes e intensos os
fenómenos climáticos extremos que acarretam perigos como inundações e secas. Na Europa, os impactos e
as vulnerabilidades no que respeita à natureza, à economia e à nossa saúde diferem entre regiões,
territórios e setores económicos.
Imagem disponível em: http://naufrago-da-utopia.blogspot.pt/2009_08_01_archive.html
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É muito provável que a maior parte do aquecimento observado desde meados do século XX se deva ao
aumento das concentrações de gases com efeito
de estufa (GEE), resultantes das emissões
provocadas pela atividade humana. A
temperatura global subiu cerca de 0,8 ºC nos
últimos 150 anos e prevê-se que continue a
aumentar.
Um aumento superior a 2 °C das
temperaturas registadas na época pré-industrial
aumenta o risco de ocorrência de alterações
perigosas para os sistemas humano e natural à
escala global. A Convenção-Quadro das Nações
Unidas relativa às Alterações Climáticas consagra
como objetivo limitar o aumento da temperatura
média global registado desde a era pré-industrial a um valor inferior a 2 °C.
Como atingir este objetivo? É preciso que as emissões mundiais de GEE estabilizem na presente década e
que, até 2050, se registe uma diminuição de 50% relativamente aos níveis de 1990. Tendo em conta os
esforços necessários por parte dos países em desenvolvimento, a UE apoia o objetivo de reduzir as suas
emissões de GEE em 80% a 95% até 2050 (face aos valores de 1990).
Ainda que as políticas e esforços destinados a reduzir as emissões se venham a revelar eficazes, algumas
alterações climáticas serão inevitáveis, pelo que serão igualmente necessárias estratégias e medidas de
adaptação ao seu impacto.
Aquecimento Global: a caminho da autodestruição ou da engenharia climática planetária?
As alterações climáticas provocadas pela Humanidade já não se limitam a fenómenos locais ou regionais
como o smog e as chuvas ácidas. Alcançam agora todo o planeta: redução da camada de ozono
estratosférica, aquecimento global, acidificação dos oceanos... Isto parece provar a nossa ignorância e
irresponsabilidade face aos complexos equilíbrios ambientais, o que acabará por conduzir à catástrofe esta
nossa sociedade global que tem vindo a ser desenhada desde o Renascimento. Parece que as mudanças
ambientais já várias vezes tiveram esse efeito na História, desde a Mesopotâmia à Civilização Maia.
Se a degradação da camada de ozono com radiação UV mais intensa se manifesta especialmente em
zonas circumpolares ainda bastante remotas, já o aquecimento global atinge a maior parte da população. No
Mundo e em Portugal os impactos do aquecimento ainda modesto registado no século XX já são visíveis. [...]
Ora os impactos que se avizinham são muito maiores - e em parte substancial inevitáveis. Por um lado
porque não é possível alterar bruscamente a maneira como a Humanidade usa a energia e os recursos
naturais, de maneira a cessar rapidamente a emissão de gases com efeito de estufa. E, por outro lado,
porque mesmo que isso fosse exequível já não reconduziria à situação anterior à Revolução Industrial, devido
à existência de grandes inércias e à perturbação entretanto já introduzida nos sensíveis equilíbrios dos
reservatórios de carbono na Biosfera, na Atmosfera e na Hidrosfera.
[...] O aquecimento global é um desafio mais sério, pois envolve mais atores, toca em controversas
questões de equidade internacional e exige uma mais aguda consciência da responsabilidade de cada
Imagem disponível em: http://paginaglobal.blogspot.pt/2014/09/timor-leste-vulneravel-perante-
as.html
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geração com as seguintes. Em todo o caso as abordagens de ataque ao problema concorrem com outros
objetivos identificados como necessários à
sustentabilidade, desde a conservação da
biodiversidade à segurança do abastecimento ener-
gético, da redução da poluição ao desenvolvimento
humano justo. Melhoria de comportamentos, de
regulamentos e de tecnologia formam um triângulo
virtuoso que permite ter esperança no sucesso.
Estamos realmente nas fronteiras da Ciência
quando para fundamentar e tornar operacional no
concreto a mitigação das alterações climáticas
necessitamos perspetivar o que irá suceder - através
da prospetiva quantitativa, que recorre à complexa
modelação de milhares de aspetos do futuro, do
Clima à Sociedade e à Tecnologia. [...]
Ricardo Aguiar - Na fronteira da Ciência, Ciência Viva, 18 de Junho de 2008 In www.cienciaviva.pt/divulgacao/fronteira/aguiar.asp. Junho 2010 [adaptado)
Impactos e vulnerabilidades das alterações climáticas
Na Europa, os maiores aumentos da temperatura verificam-se no sul do continente e na região do Ártico.
As quedas mais acentuadas da precipitação são registadas no sul, enquanto no norte e noroeste se registam
aumentos. Os aumentos previstos da intensidade e frequência das vagas de calor e das inundações, assim
como as alterações da distribuição de algumas doenças infetocontagiosas e dos pólenes têm efeitos adversos
para a saúde humana.
As alterações climáticas constituem uma pressão suplementar para os ecossistemas, levando várias
plantas e espécies animais a deslocarem-se para norte e para terrenos de maior altitude. Esta situação afeta
negativamente a agricultura, a silvicultura, a produção de energia, o turismo e as infraestruturas em geral.
Entre as regiões europeias particularmente vulneráveis às alterações climáticas contam-se:
o sul da Europa e a bacia do Mediterrâneo,
onde Portugal se integra (devido ao aumento das
vagas de calor e da seca);
as zonas de montanha (devido ao aumento
do degelo);
as zonas costeiras, deltas e planícies aluviais
(devido à subida do nível médio das águas do mar e
ao aumento das chuvas intensas, inundações e
tempestades);
o extremo norte da Europa e o Ártico (devido
ao aumento das temperaturas e ao degelo).
In Alterações Climáticas, Agência Europeia do Ambiente. Disponível na Internet: http://www.eea.europa.eu/pt/themes/climate/
Imagem disponível em: http://www.publico.pt/ciencias/jornal/aplicar-castigos-promove-cooperacao-entre-paises-face-as-alteracoes-do-clima-27288425
Mecanismo do efeito de estufa Disponível na Internet:
http://site.noticiaproibida.org/fotos/Image/atuais/esquema_do_efeito_estufa_
reduzido.jpg
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Causas das alterações climáticas induzidas pelo Homem
Os GEE são emitidos, quer através de processos naturais, quer através de atividades humanas, sendo que
o GEE natural mais importante presente na atmosfera é o vapor de água. As atividades humanas libertam
grandes quantidades de outros GEE na atmosfera, o que aumenta as concentrações atmosféricas desses
gases e, consequentemente, o efeito de estufa, contribuindo para o aquecimento do clima.
As principais fontes de GEE de origem humana são:
a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) na produção de eletricidade, nos
transportes, na indústria e em utilizações domésticas (CO2);
a agricultura (CH4) e as alterações da utilização dos solos, tal como a desflorestação (CO2));
os aterros sanitários (CH4);
a utilização de gases industriais fluorados.
O aquecimento global pode ser explicado pelo efeito de estufa, produzido pela libertação de gases, como
dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), hidrofluorocarbonetos (HFC), hidrocarbonetos perfluorados (PFC),
hexafluoreto de enxofre (SF6) e óxido nitroso (N2O), que aumentam a capacidade de a atmosfera absorver a
radiação infravermelha, favorecendo a retenção de calor. “
In Alterações Climáticas, Agência Europeia do Ambiente. Disponível na Internet: http://www.eea.europa.eu/pt/themes/climate/intro, adaptado
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Políticas e instrumentos de combate às alterações climáticas A Cimeira do Rio, com o título oficial de Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e
Desenvolvimento, teve lugar em 1992 e culminou anos de preparação de diferentes tratados e documentos
na área do Ambiente.
Estes tratados ambientais eram a resposta da comunidade internacional ao crescendo de preocupações
sobre tendências alarmantes no ecossistema global. A própria noção de questão ambiental global era então
recente e questionava a comunidade internacional sobre os conceitos e as instituições necessárias.
A evidência científica acumulava-se: os primeiros relatórios do Painel Intergovernamental sobre
Alterações Climáticas apontavam para a possível existência de interferência humana no clima global; as
estimativas sobre a perda de biodiversidade genética eram progressivamente mais alarmantes; a
desertificação crescente e a sobreexploração dos
oceanos eram crescentemente documentadas em
múltiplos relatórios do Programa das Nações Unidas
para o Ambiente.
Foi neste ambiente que no Rio são assinados
vários documentos, entre os quais predominam três
Tratados:
1- A Convenção-Quadro das Nações Unidas
para o Combate às Alterações Climáticas
(UNFCC), pedra basilar do regime jurídico
internacional sobre clima.
2- A Convenção sobre Diversidade Biológica,
ou Convenção da Biodiversidade (UNCDB);
3- A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).
Convenção-Quadro das Nações Unidas para o Combate às Alterações Climáticas
A Convenção-Quadro das Nações Unidas relativa às Alterações Climáticas (CQNUAC) tem como objetivo
de longo prazo a estabilização das concentrações de gases com efeito de estufa (GEE) na atmosfera a um
nível que evite uma interferência antropogénica perigosa no sistema climático. Para atingir esse objetivo, a
temperatura global anual média da superfície terrestre não deverá ultrapassar 2 °C em relação aos níveis
pré-industriais.
A emissão de gases com efeito de estufa é um fenómeno comum a vários setores de atividade,
justificando, por isso, o caráter transversal das políticas de mitigação das Alterações Climáticas e de
adaptação aos seus efeitos.
Efetivamente, para fazer face ao problema das Alterações Climáticas existem essencialmente, duas
linhas de atuação – mitigação e
adaptação. Enquanto a mitigação é o
processo que visa reduzir a emissão de
GEE para a atmosfera, a adaptação é o
processo que procura minimizar os
efeitos negativos dos impactes das
alterações climáticas nos sistemas
biofísicos e socioeconómicos. (…)
Conferência das Nações Unidas para o Clima e o Desenvolvimento – Eco 92, Rio de Janeiro
Disponível na Internet: http://www.meioambiente.coppe.ufrj.br/eco-92-e-rio20/
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Uma vez que as Alterações Climáticas
constituem um problema global, as decisões no
que respeita quer à mitigação quer à adaptação
envolvem ações ou opções a todos os níveis da
tomada de decisão, desde o nível mais local e da
comunidade ao nível internacional, envolvendo
todos os governos nacionais. A resposta política
a este problema requer uma ação concertada e assertiva, traduzida na tomada de medidas que minimizem
as causas antropogénicas e que preparem a sociedade para lidar com os seus impactes biofísicos e
socioeconómicos.
A Convenção sobre Diversidade Biológica, ou Convenção da Biodiversidade
A Convenção sobre a Diversidade Biológica tem como objetivos: "a conservação da diversidade biológica,
a utilização sustentável dos seus componentes e a partilha justa e equitativa dos benefícios provenientes da
utilização dos recursos genéticos".
A Convenção é o primeiro
acordo que engloba todos os
aspetos da diversidade
biológica: genomas e genes;
espécies e comunidades;
habitats e ecossistemas.
Com a Convenção, a
conservação da diversidade
biológica deixou de ser encarada apenas em termos de proteção das espécies ou dos ecossistemas
ameaçados ao introduzir uma nova forma de abordagem, ao reconciliar a necessidade de conservação com a
preocupação do desenvolvimento, baseada em considerações de igualdade e partilha de responsabilidades.
Reconhece-se assim que a conservação da diversidade biológica é uma preocupação comum da Humanidade
e parte integrante do processo do desenvolvimento económico e social.
A Convenção sobre a Diversidade Biológica é pois um dos mais recentes e significativos instrumentos do
direito internacional e das relações internacionais no âmbito do ambiente e desenvolvimento.
A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
Com o aumento das preocupações ambientais ao nível da Desertificação, foi aprovada a Convenção sobre
Combate à Desertificação, tendo como objetivo o combate contra o fenómeno numa escala internacional,
reconhecendo que o problema da seca prolongada não tem soluções simples e de curto prazo. Todas as
resoluções, decisões e programas trabalhadas na Convenção direcionavam-se inicialmente para os países
Africanos, devido ao seu caráter único em termos económicos, sociais e ambientais. Mas à medida que a
perceção da globalidade do problema foi aumentando, outros países passaram a ter Parte na Convenção das
Nações Unidas para o Combate à Desertificação, de modo a serem atingidos os objetivos da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas e a Convenção sobre a Diversidade Biológica.
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Protocolo de Quioto
O Protocolo de Quioto foi o primeiro (e até à data, o único) tratado jurídico internacional que
explicitamente pretende limitar as emissões quantificadas de gases com efeito de estufa dos países
desenvolvidos. Como Protocolo à Convenção-Quadro de Alterações Climáticas, herda daquela os princípios
fundamentais do regime climático, em particular o princípio das
responsabilidades comuns, mas diferenciadas. É esse princípio que
explica o facto de no Protocolo de Quioto aparecer replicada a divisão
mundial em:
Países desenvolvidos (Anexo I). De entre estes países, o
Protocolo distingue ainda um subconjunto: o Anexo B do
Protocolo lista aqueles países que têm limites quantificados às
suas emissões. De fora ficam países como a Turquia.
Países em vias de desenvolvimento (conhecidos como os "não-
Anexo I). Estes países não têm metas quantificadas de redução
de emissões.
Tal como a Convenção, também o Protocolo estabelece órgãos
próprios. À semelhança da Convenção, as Partes do Protocolo
encontram-se uma vez por ano ao mais alto nível, na chamada
Reunião das Partes (MOP - Meeting of the Parties) e semestralmente
nos Órgãos subsidiários. Por razões logísticas, as reuniões das Partes à Convenção e Protocolo coincidem no
tempo.
Uma das características do Protocolo de Quioto é o da introdução de diferenciação entre metas de
redução entre diferentes países. Esse conceito, introduzido na negociação pelos Estados Unidos, permitia
diferentes tipos de argumentos que pudessem justificar circunstâncias especiais na consideração de metas
para cada Parte. No final, o conjunto de reduções e limitações acordadas (nem todos as Partes se
comprometeram a reduzir, algumas Partes, como a Austrália, têm um compromisso de limitar o crescimento)
resultam na redução estimada global das emissões destes países em cerca de 5%.
Infelizmente a não-ratificação pelos Estados Unidos limitou severamente a eficácia ambiental do
Protocolo.
Cada uma das metas inscritas no Anexo B como uma percentagem do ano-base é convertida num volume
de direitos de emissão, i.e. toneladas de CO2 equivalente. Esse volume, a que é dado o nome de Quantidade
Atribuída corresponde ao máximo de emissões que devem ser emitidas pela Parte ao longo do período de
Quioto. A título de exemplo, a Quantidade Atribuída do Japão é de 1,261,441,934.08 toneladas de CO2
(dados de emissões em 1990) × 0.94 (6% de redução) × 5 (os anos do período de Quioto) = 5,928,777,090.16
(tCO2 eq). Ou seja, o Japão está limitado a emitir, no
período de janeiro de 2008 a dezembro de 2012,
aproximadamente 6 biliões de tCO2eq. Caso emita
mais do que este valor, deverá ter adquirido, através
dos mecanismos de flexibilidade, outras unidades de
cumprimento.
O Protocolo de Quioto é particularmente inovador,
enquanto tratado internacional de ambiente, por ter
sido o primeiro acordo internacional a reconhecer o
potencial de utilização da economia de mercado como
instrumento para ajudar à concretização das metas
Protocolo de Quioto
O Protocolo de Quioto foi
discutido e negociado em Quioto
no Japão em 1997.
Foi aberto para assinaturas
em 1997 e ratificado em 15 de
março de 1999. Para entrar em
vigor precisou da assinatura de
55 países, que juntos eram
responsáveis pela emissão de
55% das emissões. Tal só veio a
acontecer em 2005, depois da
Rússia o ter ratificado em
Novembro de 2004.
Imagem da Conferência que aprovou o Protocolo de Quioto, Japão,1997
Disponível na Internet: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1361640-5603,00-
MAIS+UMA+CONFERENCIA+SOBRE+CLIMA+E+ACORDO+AMBICIOSO+AINDA+E+MIRAGEM.html
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acordadas. Os mecanismos de flexibilidade inscritos no Protocolo de Quioto permitem às Partes com metas
(Anexo B do Protocolo) adquirir direitos de emissão adicionais, permitindo a essas Partes uma forma
potencialmente mais eficiente de atingir o seu objectivo global.
São três os mecanismos de mercado do Protocolo de Quioto:
Os mecanismos do desenvolvimento limpo;
O mecanismo de implementação conjunta;
O mecanismo do comércio internacional de emissões.”
As políticas da União Europeia
Tendo em conta as convenções e protocolos assinados no âmbito das Nações Unidas relativas às questões
das alterações climáticas, a União Europeia desenvolveu, entre outras, as seguintes medidas:
a ratificação do Protocolo de Quioto, que instava os 15 Estados-Membros (UE-15) a reduzirem as
suas emissões coletivas, durante o período de 2008-2012, em 8% relativamente aos níveis
registados em 1990;
a melhoria contínua da eficiência energética de uma vasta gama de equipamentos e
eletrodomésticos;
a imposição do aumento da utilização de fontes de energia renováveis, tais como a eólica, a solar, a
hídrica e a biomassa, bem como de combustíveis renováveis, como os biocombustíveis, nos
transportes;
o apoio ao desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCS), a fim de
capturar e armazenar o CO2 emitido por centrais elétricas e outras instalações de grande escala;
a implementação do Regime Europeu do Comércio de Licenças de Emissão (RCLE-UE, um
instrumento fundamental da UE para reduzir as emissões de GEE provenientes da indústria.”
In Alterações Climáticas, Agência Portuguesa do Ambiente, Disponível na Internet:
http://www.apambiente.pt/index.php?ref=16&subref=81, Adaptado
Disponível na Internet: http://www.publico.pt/ciencia/noticia/relatorio-confirma-culpa-humana-nas-
alteracoes-climaticas-recentes-1607259
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Estratégia nacional de adaptação às alterações climáticas
As alterações climáticas têm vindo a ser identificadas como das maiores ameaças ambientais, sociais e
económicas que o planeta e a humanidade enfrentam na atualidade. As alterações verificadas nos padrões
climáticos são já bastante marcadas, tendo a maioria dessas alterações ocorrido durante a segunda metade
do último século. Segundo o IPCC AR4 (4.º Relatório de avaliação) é altamente provável que o aumento
observado da temperatura média global, desde meados do século XX, seja na sua maior parte uma con-
sequência do aumento da concentração dos gases com efeito de estufa de origem antropogénica. À escala
global, o aquecimento antropogénico dos últimos 30 anos teve provavelmente uma influência discernível nas
alterações observadas em muitos sistemas físicos e biológicos.
In Programa Nacional para as Alterações Climáticas, disponível em: http://sniamb.apambiente.pt/infos/geoportaldocs/Consulta_Publica/DOCS_QEPIC/150515_PNAC_Consulta_Publica.pdf
Confrontar as alterações climáticas é, portanto, um duplo desafio: atacar a origem do problema, isto é, as
emissões de gases com efeito de estufa; e preparar as sociedades em todo o mundo para lidar com os
impactes biofísicos e socioeconómicos das alterações do clima. (...)
A estratégia nacional de adaptação às alterações climáticas encontra-se estruturada sob quatro objetivos,
que pretendem também traduzir a metodologia geral de organização dos trabalhos.
O primeiro objetivo - Informação e Conhecimento - constitui a base de todo o exercício de adaptação às
alterações climáticas e foca-se sobre a necessidade de consolidar e desenvolver uma base científica e técnica
sólida.
O segundo objetivo - Reduzir a Vulnerabilidade e Aumentar a Capacidade de Resposta - constitui o fulcro
desta estratégia, e corresponde ao trabalho de identificação, definição de prioridades e implementação das
principais medidas de adaptação.
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O terceiro objetivo - Participar, Sensibilizar e Divulgar - identifica o imperativo de levar a todos os
agentes sociais o conhecimento sobre alterações climáticas e a transmitir a necessidade de ação e,
sobretudo, suscitar a maior participação possível por
parte desses agentes na definição e implementação
desta estratégia.
O quarto objetivo - Cooperar a Nível lnternacional-
aborda as responsabilidades de Portugal em matéria de
cooperação internacional na área da adaptação às
alterações climáticas, bem como no acompanhamento
das negociações levadas a cabo nos diversos fóruns
internacionais.
Uma abordagem por domínios e setores
estratégicos permite identificar medidas de adaptação
setoriais de forma mais consistente. No entanto, não
devem descurar-se as inter-relações funcionais entre
alguns dos domínios e setores identificados, pelo que se deve tentar maximizar as possíveis sinergias e evitar
a criação de efeitos perversos entre as medidas de adaptação identificadas para cada domínio ou setor:
Ordenamento do Território e Cidades; Recursos Hídricos; Segurança de Pessoas e Bens; Saúde Humana;
Energia e Indústria; Biodiversidade; Agricultura, Florestas e Pescas; Turismo; Zonas Costeiras.
Proposta de Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas, Comissão para as Alterações Climáticas (adaptado ]
In www.portugal.gov.pt/pt/Documentos/Governo/ MAOTDR/ Adaptacao_Alteracoes_Climaticas_Portugal.pdf, Junho 2010
Em resumo:
As atividades humanas estão a provocar alterações na atmosfera a um ritmo sem precedentes, como
consequência do aumento da poluição: as emissões de gases perturbadores do efeito de estufa (gás
carbónico, metano, óxido de azoto) continuam a aumentar, contribuindo para a alteração do equilíbrio
térmico do planeta, cuja principal consequência será o aumento médio da temperatura do planeta entre
1,4°C e 5,8 °C até ao ano 2100.
O ritmo de concentração de gases de efeito de estufa é superior à capacidade humana para impor
restrições às suas atividades. Como resultado dessas concentrações, destacam-se:
- o aumento do nível médio das águas do mar, em resultado da expansão térmica dos oceanos e da fusão
dos glaciares e das calotas de gelo polares;
- a desertificação de vastas áreas, sobretudo em
regiões intertropicais, ampliada pela agricultura
intensiva, desflorestação, queimadas, etc.;
- as alterações do ciclo hidrológico, com profundas
consequências nos ecossistemas naturais e na
agricultura, devido às mudanças na distribuição e
frequência das precipitações a nível mundial;
- a diminuição drástica da calota polar ártica.
Para estabilizar imediatamente a concentração
destes gases aos níveis atuais, o que não impedirá uma
alteração do clima da Terra, seria necessário reduzir
sem demora as emissões mundiais em 50 a 70%,o que
Consequências das alterações climáticas Disponível na Internet:
http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/alteracoes-climaticas-vao-limitar-barragens-e-regadio-no-sul-1630359
Disponível na Internet: http://www.beinternacional.eu/pt-pt/the-
week/week/alteracoes-climaticas-estao-nas-maos-de-90-empresas
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não está a acontecer.
As perspetivas futuras são pouco animadoras, se atendermos aos seguintes aspetos:
- a população mundial continua a crescer;
- a expansão industrial recente em muitos países, de
que são exemplo os BRICS;
- a reduzida capacidade dos oceanos e das plantas
para absorver a grande quantidade de C02 lançado
para a atmosfera;
- a contribuição cada vez mais intensa por parte dos
países em desenvolvimento para a poluição, em
particular, atendendo a que a incapacidade
financeira e tecnológica não permitirá controlar,
num futuro próximo, o lançamento de gases
resultantes do consumo de energia, da
desflorestação e até da queima de gás natural excedentário.
Alterações climáticas, transformação da paisagem e qualidade de vida
Nobody expects the portuguese winter
Todos os anos, Portugal é surpreendido duas vezes: uma vez pelo Verão e outra pelo Inverno. Nunca
estamos à espera deles. Para o resto do mundo, a natureza é cíclica, monótona e repetitiva. Para nós, é uma
caixinha de surpresas. "Olha, lá vem o Verão outra vez. E não é que traz novamente muito calor, este
bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às matas. Ops!, tarde de mais, já está tudo a arder." No
Inverno, a mesma coisa. "Olha, lá vem o Inverno outra vez. E não é que traz novamente muita chuva, este
bandido? Se calhar devíamos ter feito uma limpeza às sarjetas. Ops!, tarde de mais, já está tudo alagado.- E
assim sucessivamente. Nunca cansa. E, no entanto, imagino que os jornalistas usem sempre a mesma notícia.
Há dois ou três pormenores que mudam, como a marca dos helicópteros que combatem o fogo ou o número
de viaturas que são arrastadas pela enxurrada, mas o resto é igual: "Violento incêndio ali", "Fortes chuvas
acolá". Até os adjetivos que qualificam as catástrofes são previsíveis: os incêndios são quase todos violentos
e é raro as chuvas serem outra coisa que não
fortes. Não há memória de fortes incêndios e
violentas chuvas, por exemplo. Mas não é por
isso que deixamos de receber as notícias com
renovada surpresa. Temos dificuldade em
acreditar que ainda não foi desta que a chuva
deixou de causar os estragos próprios da
chuva. É verdade que, este ano, a chuva deu
novamente cabo das estradas e voltou a fazer
vítimas, mas pode ser que, para o ano, chova
mais civilizadamente. Todos os anos damos
uma oportunidade à chuva. E, por um lado,
ainda bem.
Não sei se consigo imaginar Portugal sem as calamidades. As calamidades ajudam-nos a organizar a vida.
São pontos de referência. "Quando é que mudámos de casa? Foi depois dos incêndios de 91, porque eu já
tinha o Citroën que foi levado pelas cheias de 94, mas ainda não tinha ficado sem a perna esquerda, que foi
Disponível na Internet: http://segurancaecienciasforenses.com/2015/09/01/bombeiros-formacao-e-
carreira/
Disponível na Internet: http://www.esa.int/por/ESA_in_your_country/Portugal/DesertWatch_em_Portugal_Resultados_e_potencialidades_de_uso_dos_prod
utos_apresentados_em_dois_eventos
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ao ar nos incêndios de 92." Se as autoridades competentes começam a varrer as matas e a limpar as sarjetas,
deixamos de ter a noção da passagem do tempo. Ainda vamos ter de comprar uma agenda. Com as
calamidades, é dinheiro que se poupa. (...)
Enfim, gosto da esfera armilar, na nossa bandeira. Mas uma sarjeta entupida, entre o vermelho e o verde,
também não ficava mal.
Ricardo Araújo Pereira. 27 de Fevereiro de
2008, In http://aeiou.visao.pt.Junho 2010
(adaptado)
Para saber mais sob alterações
climáticas, consultar Alterações
climáticas, publicação editado pela
Comissão Europeia e visualizar o
documentário “Uma Verdade
Inconveniente” realizado por AL Gore.
2014 foi o ano mais quente desde que há registos
A temperatura média à superfície da Terra em 2014 foi 0,69 graus Celsius acima do valor médio do século
XX, o maior valor desde 1880, segundo os dados da agência para os oceanos e a atmosfera dos Estados
Unidos.
Anomalia das temperaturas terrestres em 2014 em comparação com o passado NOAA
O esperado confirmou-se: 2014 foi o ano mais quente na Terra desde que se iniciou o registo das
temperaturas em 1880. No ano passado, a temperatura média à superfície do planeta foi 0,69 graus acima
do valor médio de 14,1 graus Celsius no século XX. Os recordes anteriores de temperatura em 2005 e 2010
foram ultrapassados por 0,04 graus, avançou nesta sexta-feira a agência para os oceanos e a atmosfera dos
Estados Unidos (NOAA).
Em terra, 2014 foi o quarto ano mais quente desde 1880, com um grau acima da temperatura média do
século XX. No mar, a temperatura média foi a mais alta de sempre, com 0,57 graus acima da média do século
XX.
De acordo com a NOAA, houve recordes máximos de temperaturas por todo o mundo: em grande parte
da Europa, no extremo Leste da Rússia, na parte Oeste dos Estados Unidos, no Norte de África, em certas
regiões do interior da América do Sul, nas regiões costeiras do Oeste e Leste australiano, entre outros.
Já no início de Dezembro último, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) avisava que 2014 poderia
vir a ser o ano mais quente de que há registo. Segundo as contas daquela altura da OMM, a temperatura
média global de 2014 entre Janeiro e Outubro era de 0,57 graus acima do valor entre 1960 e 1990, e 0,09
graus acima da média dos últimos dez anos.
A NOAA, em Novembro, já tinha dado a mesma indicação para os primeiros dez meses do ano, em que a
temperatura média à superfície da terra e do mar tinha sido 0,68 graus acima da média do século XX.
In jornal Público, em 16 de janeiro de 2015
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Desenvolvimento sustentável e ação climática
A servidão à economia tem sido o centro de todas as questões. E se tudo fosse diferente?
Entende-se por desenvolvimento sustentável o que “procura satisfazer as necessidades da geração
atual sem comprometer a capacidade das gerações vindouras de suprirem as suas próprias necessidades”
(relatório Bruntland, “O nosso Futuro Comum”). Um compromisso assente no equilíbrio de três eixos: social,
ambiental e económico.
O tema está na ordem do dia. Com o fim da vigência dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milénio, setembro iniciou uma
nova temporada de desafios.
Aprovada e adotada pela Assembleia Geral da Nações Unidas,
a Agenda Global para o Desenvolvimento Sustentável 2030 é
um plano de ação, tendo as pessoas, o planeta e a prosperidade
no seu epicentro, que procura a paz universal através de
parcerias verdadeiramente globais. Com 17 objetivos e 169
metas, este programa, mais abrangente e ambicioso nos
propósitos do que o anterior, assume a sustentabilidade do
planeta e dos seus modelos de desenvolvimento como sendo
prioritária nos próximos 15 anos.
Os cientistas afirmam, com 95 por cento de certeza, que a
atividade humana constitui a principal causa na base do aumento
de temperatura global.
Identificada como sendo uma das maiores ameaças ambientais, sociais e económicas que enfrentamos
atualmente, a questão das alterações climáticas discutiu-se em Dezembro, na 21ª Conferência das Partes da
Convenção, resultante da Cimeira do Rio, de 1992, de onde se esperava um novo acordo, juridicamente
vinculativo, em que todas as partes, países desenvolvidos ou em desenvolvimento, se comprometam a
reduzir a emissão de Gases com Efeitos de Estufa, conforme as respetivas Contribuições Nacionais
Determinadas.
As propostas parecem simples mas exigem um mergulho na nossa essência e uma análise detalhada aos
nossos usos e costumes.
Exigem que nos reposicionemos e repensemos as nossas escolhas. Exigem medidas que implicam
sacrifício e empenho.
O “Ter” tem-nos definido, mas com que consequências
para a possibilidade do “Ser”, saudável, informado, justo,
feliz?
Vivemos escravos das nossas necessidades que, a solto
galope, estão cada vez mais distantes de serem consideradas
básicas. A nossa lógica de consumo desenfreado subsidia
esquemas de produção que cilindram muitas vidas e
constroem uma realidade muito injusta, muito desigual.
A servidão à economia tem sido o centro de todas as
questões.
E se tudo fosse diferente? E se a necessidade de possuir
desse lugar à possibilidade de usufruir?
E se não exigíssemos mais à natureza do que aquilo que ela
nos pode dar?
Disponível na Internet: http://bruxelas.blogs.sapo.pt/a-proposta-da-uniao-
europeia-para-397789
Disponível na Internet: http://meioambiente.culturamix.com/blog/wp-
content/gallery/centro-mundial-para-o-desenvolvimento-sustentavel/
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E se nos preocupássemos com a proveniência dos produtos que consumimos e com as condições de
trabalho das pessoas que os confecionam?
E se a produção estivesse ajustada às necessidades de todas as pessoas?
“Temos nas mãos o terrível poder de recusar”. E com essa liberdade uma enorme responsabilidade.
A força que temos enquanto cidadãos e consumidores é gigante. E entre nós e ela somente a nossa
decisão, que, apesar de ser individual, deve ser pensada globalmente.
É urgente a opção por modelos de consumo e gestão informados e responsáveis.
O trabalho digno e produtivo no setor público e privado é factos chave para a redução da pobreza e
fomenta uma globalização mais justa.
É preciso que cada país use consistente e coerentemente modelos de consumo e de produção sustentável
para criar oportunidades de trabalho de qualidade para todas as pessoas, promover políticas de proteção
social, fomentar a inclusão e fazer cumprir os princípios e direitos fundamentais, com benefícios para as
gerações atuais e futuras — só assim a paz e a felicidade serão possíveis. Na construção de um mundo justo e
livre, o investimento tem de ser nas pessoas. Em todas as pessoas!
Aprendermos a pensar e agir em conformidade é o caminho mais direto para um mundo melhor.
CLÁUDIA SEMEDO*, in jornal Público de 15/11/2015 - *Embaixadora do Ano Europeu para o Desenvolvimento
Quem é quem: um guia dos interesses nas negociações climáticas
Como os países se posicionam na busca de um acordo para travar o aquecimento global.
Com 196 países na mesma sala, chegar a um acordo nas negociações climáticas das Nações Unidas é uma dor
de cabeça, ainda mais porque as decisões têm de ser aprovadas por consenso. Eis alguns dos principais
protagonistas e o que levam na bagagem para Paris.
Estados Unidos
Obama tornou-se num líder climático, invertendo a imagem dos EUA como
força de bloqueio. Em Copenhaga, promoveu a solução agora em vigor, em
que são os países a dizer o que vão fazer, e não a ONU a impor metas. Em
2014, deu as mãos à China. E tem compromisssos concretos de redução do
CO2. Obama quer um acordo em Paris que prescinda da sua ratificação
pelo hostil Congresso, que nunca o faria.
Contribuição: reduzir as emissões em 26-28% até 2025, em relação aos
níveis de 2005
China
A China sempre se escudou no grupo dos países em desenvolvimento para
evitar compromissos, enquanto crescia em ritmo galopante. Agora rendeu-
se à evidência de que tem a segunda maior economia do mundo, é o
principal emissor global de CO2 e precisa de acabar com a poluição. De
mãos dadas com Obama no clima, o Presidente Xi Jinping faz de Paris um
palco para a China na diplomacia ambiental.
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Contribuição: reduzir as emissões por unidade de PIB em 60-65% em relação a 2005, até 2030. Atingir o pico
de emissões nessa data, ou antes, e depois comear a baixá-las.
França
A grande missão de François Hollande é evitar que Paris repita o fracasso de
Copenhaga em 2009. Mas o Governo preparou tudo ao milímetro,
mobilizando a sua potente máquina diplomática em todo o mundo, e é
grande a possibilidade de um acordo.
Contribuição: incluída na da UE
Polónia
A Polónia vai a Paris com um governo recém-eleito que quer rever a política
climática europeia. O país depende do carvão para 90% da sua electricidade.
Pode ser uma pedra no sapato da unidade europeia nas negociações.
Contribuição: incluída na da UE
Portugal António Costa vai estar em Paris na abertura da cimeira. Mas como a UE
responde como um bloco, Portugal não terá grande protagonismo. A
delegação portuguesa integra técnicos experientes em cimeiras do clima,
empresários e organizações não-governamentais.
Contribuição: incluída na da EU
Índia
Com um sexto da população do mundo, mas apenas 6% do consumo
energético global, a Índia conta com o carvão para o seu futuro – tal como o
fez a China. Em 2040, metade da energia primária consumida no país virá
deste que é o mais poluente dos combustíveis fósseis. É natural que se
coloque muito mais na defesa em Paris, do que outros dos seus parceiros
entre as economias emergentes.
Contribuição: reduzir as emissões por unidade de PIB em 33% a 35% até
2030, em relação a 2005
Brasil Das grandes economias emergentes, o Brasil foi quem apresentou a
contribuição mais ambiciosa para a luta climática. Promete reduzir as suas
emissões em termos absolutos no curto prazo, e não em relação à trajectória
normal ou ao PIB, como México, África do Sul, Índia ou China. Em 2009, Lula
da Silva prometeu até ajudar os países mais pobres. Agora, Dilma Rousseff
tem um problema: o país está em recessão.
Contribuição: reduzir as emissões em 37% até 2025, em relação a 2005, e 43%
em 2030.
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Rússia
Puttin chega com um espinho na garganta: as limitações à venda do seu “ar
quente” – créditos pela enorme redução de emissões nos países do Leste
europeu nos anos 1990, dados como moeda de troca para que aceitassem o
Protocolo de Quioto. Há três anos, foram porém impostas restrições à sua
venda. E a UE, seu potencial comprador, já disse que não os quer. A questão
pode de alguma forma reemergir em Paris.
Contribuição: redução das emissões em 25% a 30% em relação a 1990, até
2030.
Arábia Saudita
Sempre levantou obstáculos, em favor da sua indústria petrolífera. Mas o seu
consumo de energia disparou e, com ele, a demada interna de petróleo, em
detrimento das exportações. O país começa a sentir a necessidade de mais
renováveis ou combustíveis limpos. Isto poderá eventualmente moderar o
seu posicionamento, mas não deverá provocar alterações radicais.
Contribuição: alcançar até 2030 uma redução anual 130 milhões de toneladas
de CO2, mas desde que se garanta o crescimento do país, com exportações de
petróleo.
Venezuela
Tem tido uma presença vociferante e ideológica nas cimeiras climáticas,
juntamente com os outros países da Alba – a Aliança Boilvariana para os Povos
da Nossa América, criada por Hugo Chavez e Fidel Castro em 2004. Mas
Nicolas Maduro não possui o magnetismo do seu antecessor e enfrenta uma
profunda crise interna, política e económica. Vai a Paris enfraquecido.
Contribuição: até 27 de Novembro ainda não tinha apresentado
Maldivas
Estão na presidência do grupo AOSIS, a aliança dos pequenos estados
insulares, que defende uma limite de 1,5ºC do aumento máximo da
temperatura global até ao final do século. Com 2ºC, a meta acordada
internacionalmente, muitas ilhas hoje habitadas podem desaparecer sob o
mar, incluindo várias das 1190 que compõem as Maldivas.
Contribuição: reduzir em 10% o aumeno das emissões até 2030, ou 24%, se
houver ajuda financeira internacional
Butão
O pequeno Butão chega a Paris com a fama de exemplar: já é neutro em
carbono. As suas emissões brutas de CO2 são baixas, equivalentes às de uma
fábrica de cimento. Mas as suas florestas absorvem tudo. O saldo final até é
negativo. O país quer manter tudo como está.
Contribuição: manter-se neutro em carbono
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União Europeia
Ensombrada pela dupla EUA-China, a UE advoga agora o papel de lider “pelo
exemplo”. Mas a sua ambiciosa política climática nunca foi suficiente para
convencer o mundo a seguir o mesmo caminho. A UE quer em Paris um acordo
vinculativo, com reforço progressivo da sua ambição. Vai aplicar aí a sua
influência e as boas pontes que tem com os países mais pobres. Mas tem as
suas próprias divergências internas.
Contribuição: redução das emissões em pelo menos 40% até 2030, em relação a
1990.
Gracia, Ricardo. Publicado no Jornal Público em 29 de novembro de 2015
De cimeira em cimeira até Paris
O sinuoso percurso das negociações até ao acordo que se espera agora 1992
Rio de Janeiro, Brasil A histórica Cimeira da Terra aprovou a Convenção Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas. Tudo o que tem sido discutido desde então está subordinado a este tratado. O seu objetivo é estabilizar a concentração de CO2 na atmosfera a um nível que impeça uma interferência humana perigosa sobre o clima. Nela ficou também estabelecido o princípio das “responsabilidades comuns mas diferenciadas”. Assim, todos os países devem agir, mas conforme as suas circunstâncias. 1997 COP3, Quioto, Japão À 3.ª conferência das partes (COP) da convenção, surgiu o Protocolo de Quioto. Al Gore assinou-o pelos EUA. Os países industrializados prometeram reduzir em 5% as suas emissões de CO2 até 2012, face a 1990. Mas foi preciso introduzir “mecanismos de flexibilidade” para os convencer, como o comércio de emissões. Para as nações em desenvolvimento, não havia metas. 2000/2001 COP6, Haia, Holanda/COP6-bis, Bona, Alemanha Em Haia deveriam ser concluídos os pormenores para aplicação de Quioto, para que fosse ratificado e posto em prática. Mas não houve acordo, a COP teve de ser suspensa e foi retomada seis meses depois, em Bona. Pouco antes, os Estados Unidos, sob a presidência de George W. Bush, abandonaram o protocolo, por comprometer a sua economia e só vincular os países desenvolvidos. Com isso, anos antes de entrar em vigor, o tratado já estava ferido de morte. Ainda assim, chegou-se a acordo em Bona, à custa de concessões ao Japão, Canadá, Austrália e Rússia. Quioto, sem os EUA, tinha pernas para andar. 2005 COP11, Montréal, Canadá A Rússia resistiu durante anos a ratificar Quioto e só em 2005 é que o protocolo finalmente entrou em vigor. Na COP11, lançou-se logo a discussão sobre o que se deveria fazer depois de 2012. A ideia era fixar um novo período, com novas metas. Mas, com os EUA fora do barco, a discussão já estava inquinada e outros países começavam a torcer o nariz a Quioto. 2007 COP13, Bali, Indonésia Em Bali, as negociações climáticas transformaram-se numa serpente com duas cabeças. De um lado, continuou-se a discutir o futuro do Protocolo de Quioto. Do outro, lançou-se um diálogo paralelo para uma
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cooperação global de longo prazo, entre todos os países — incluindo os EUA —, sob a égide apenas da convenção de 1992. Em dois anos, ambos os caminhos deveriam chegar a conclusões. Portugal, na presidência da UE nessa altura, teve um papel central nas negociações em Bali. 2009 COP15, Copenhaga, Dinamarca Esperava-se da COP15 um acordo que salvasse o mundo. Foi um desastre. As negociações não estavam maduras, a Dinamarca perdeu as rédeas da conferência e a presença de 119 líderes mundiais atrapalhou mais do que ajudou. No final, os Estados Unidos, China, Índia, Brasil e África do Sul reuniram-se numa sala e de lá saíram com o Acordo de Copenhaga, um texto à margem do processo negocial, que o plenário da conferência não aprovou. Nele, porém, estava o germe do que está agora na mesa em Paris: que cada país dissesse, nos meses seguintes, o que poderia fazer na luta climática. Quase todos aceitaram o desafio. Do fracasso nasceu uma hipótese de solução. 2010 COP16, Cancun, México Na ressaca de Copenhaga, a COP16 adoptou decisões importantes. Determinou que tudo deverá ser feito para que o termómetro global não suba mais do que 2oC até ao fim do século. E fixou que até 2020 os países
desenvolvidos financiarão os mais pobres com 100 mil milhões de dólares anuais. Parte desse dinheiro será canalizada pelo Fundo Climático Verde, também criado em Cancun. 2011 COP17, Durban, África do
Sul O Protocolo de Quioto foi estendido até 2020, mas completamente esvaziado. Do mundo desenvolvido, só lá ficaram a União Europeia, Noruega, Austrália e Suíça — apenas 11% das emissões globais de CO2. Com Quioto encostado a um canto, Durban deu mais gás à outra linha de negociação, que começava a gerar consenso. Definiu-se 2015 como o prazo para adopção de um novo acordo internacional, com compromissos de todos os países, para vigorar a partir de 2020. 2015 COP21, Paris, França O longo percurso chega agora a Paris. Um acordo provavelmente será aprovado, agregando as “contribuições” de cada país, mas por ora insuficientes para a meta dos 2oC.
João Manuel Rocha, publicado no Jornal Público 29/11/2015
Papa divulga encíclica histórica sobre ambiente e alterações climáticas
Francisco diz que "o clima é um bem comum" e que a humanidade tem de mudar o seu estilo de vida.
Clima, biodiversidade, água, poluição do ar, energia, resíduos, tecnologia. Praticamente todos os aspectos
da crise ambiental mundial estão abordados numa encíclica do Papa Francisco inteiramente dedicada à
protecção do planeta, divulgada esta quinta-feira pelo Vaticano.
Cimeira de Paris, in Jornal Público, 29/11/2015
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Não é a primeira vez que um Papa se debruça sobre os temas ambientais. E a própria encíclica recorda
passagens de textos desde 1971, de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.
Mas uma encíclica inteiramente dedicada ao ambiente é uma novidade. E, mais do que isso, Francisco
põe-se claramente ao lado dos
cientistas na questão das
alterações climáticas. “Existe um
consenso científico muito
consistente que indica que
estamos perante um preocupante
aquecimento do sistema
climático”, escreve. O clima, diz a
encíclica, “é um bem comum, de
todos e para todos”.
O Papa aponta o dedo aos
combustíveis fósseis e afirma: “A
humanidade é chamada a tomar
consciência da necessidade de
mudar o seu estilo de vida, de
produção e de consumo, para
combater este aquecimento ou, pelo menos, as causas humanas que o provocam ou agravam”.
“As alterações climáticas são um problema global, com graves implicações ambientais, sociais,
económicas, distributivas e políticas, e constituem o principal desafio da humanidade”, acrescenta a
encíclica, na mesma linha do que cientistas e políticos têm vindo a dizer nas últimas duas décadas.
Para a elaboração da encíclica, o Papa cercou-se tanto de pensadores religiosos como de cientistas. Um
dos académicos que esteve profundamente envolvido no processo foi Hans Schellnhuber, presidente do
Instituto Potsdam de Investigação sobre os Impactos Climáticos, na Alemanha. Schellnhuber é um dos
principais investigadores nesta área e considerado como o pai da ideia de que se deve evitar um aumento da
temperatura média global acima de 2oC até ao final deste século.
Na apresentação da encíclica, numa conferência de imprensa no Vaticano, Schellnhuber saudou a
iniciativa do Papa. “[A encíclica] junta a fé e a moral à razão e ao engenho”, disse.
Um relatório "melhor e mais claro"
O texto do Papa descreve detalhadamente as causas e consequências do aquecimento global. “É como se
fosse um relatório do IPCC [Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas], mas melhor e mais
claro”, interpreta Francisco Ferreira, da associação ambientalista Quercus.
Com a encíclica, a Igreja Católica posiciona-se claramente em relação a várias opções políticas e
económicas relacionadas com as alterações climáticas. O texto defende a substituição dos combustíveis
fósseis pelas energias renováveis. E critica os sistemas de comércio de emissões de carbono, que “podem
conduzir a novas formas de especulação” e “não permitem as mudanças radicais que a circunstância
presente exige”.
O texto do Papa surge num momento crítico das negociações internacionais para um novo tratado
climático, que deverá ser adoptado em Dezembro, numa conferência das Nações Unidas (ONU) em Paris. Já
este mês, o tema será discutido num encontro de alto nível promovido pela ONU em Nova Iorque. E em
Setembro, deverão ser aprovados também pela mesma organização os objectivos do desenvolvimento
sustentável. “O momento para a divulgação desta encíclica não poderia ser melhor”, afirma Francisco
Ferreira.
Papa Francisco, imagem disponível na Internet em: http://leigoseciencia.blogspot.pt/2015/06/o-papa-e-as-alteracoes-climaticas.html
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O clima não é senão um dos tópicos abordados pela encíclica. O texto toca em tudo o que diga respeito à
crise ambiental – ou seja, à forma como a humanidade está a desestabilizar o planeta. Francisco cita os
efeitos da poluição atmosférica, que “provocam milhões de
mortes prematuras”, e fala do problema dos resíduos. “A Terra,
nossa casa, parece transformar-se cada vez mais num imenso
depósito de lixo”, afirma.
Também lá está o risco de extinção de espécies, com o alerta
de que animais e vegetais não são apenas “recursos exploráveis”
mas também têm “um valor em si”. O papa também reflecte
sobre os problemas de acesso à água, criticando a tendência de
privatização deste recurso, “tornando-se uma mercadoria sujeita
às leis do mercado”.
Os desafios e oportunidades da tecnologia também estão
presentes. O texto menciona os riscos do acelerado mundo
digital, dizendo que “os grandes sábios do passado correriam o
risco de ver sufocada a sua sabedoria no meio do ruído dispersivo
da informação”. E aborda também, de uma forma cautelosa, o
debate sobre os transgénicos. “Às vezes não se coloca sobre a
mesa a informação completa, mas é seleccionada de acordo com
os próprios interesses, sejam eles políticos, económicos ou
ideológicos”, escreve Francisco.
Por toda a encíclica, há eixos comuns a ligar os diversos temas. E o principal deles é o da relação entre a
pobreza e a fragilidade do planeta. Também a desigualdade entre países ricos e pobres é várias vezes
mencionada. “Há uma verdadeira dívida ecológica, particularmente entre o Norte e o Sul”, diz o Papa
Francisco.
A encíclica poderá chegar aos 1,2 mil milhões de católicos do mundo, mas a intenção de Francisco é
maior. “Pretendo especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum”, afirma.
As reacções à iniciativa do Papa começaram a ouvir-se na segunda-feira, quando um rascunho da encíclica
foi divulgado pela imprensa italiana. A iniciativa foi saudada por líderes religiosos, ambientalistas,
investigadores e dirigentes de organizações internacionais. O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim,
disse esta quinta-feira que a encíclica é “um claro alerta sobre a ligação entre alterações climáticas e
pobreza”.
“A liderança moral do Papa sobre as alterações climáticas é particularmente importante devido ao
falhanço de muitos chefes de Estado e de governo em mostrar liderança política”, acrescentou o economista
britânico Nicholas Stern, autor de trabalhos pioneiros sobre o impacto do aquecimento global na economia.
“É realmente inovador”, opina Filipe Duarte Santos, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e
coordenador de vários estudos sobre alterações climáticas em Portugal. “A importância da encíclica pode ser
avaliada por estar já a incomodar alguns sectores económicos e financeiros ligados aos combustíveis fósseis”,
completa o investigador.
Nos Estados Unidos, a iniciativa de Francisco é uma pedra no sapato para os republicanos católicos que
estão na corrida à sucessão de Barack Obama. Alguns reagiram antes da divulgação da encíclica, quando uma
versão preliminar já estava em circulação. “Espero não ser castigado pelo padre da minha cidade, mas a
minha política económica não vem de bispos, cardeias ou do Papa”, disse Jeb Bush, ex-governador da
Florida, que concorre à Presidência dos EUA.
“A Igreja já se enganou algumas vezes no passado, e é melhor deixarmos a ciência com os cientistas e
centrarmo-nos naquilo em que somos bons, ou seja, em teologia e moral”, afirmou o ex-senador republicano
Rick Santorum, também candidato.
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Republicanos e democratas vão ouvir Francisco de viva voz em Setembro, quando o Papa visitará os
Estados Unidos e falará perante o Congresso norte-americano e também na Assembleia Geral das Nações
Unidas.
Ricardo Garcia, Publicado no Jornal Pública em 18 de junho de 2015.
Face a um desafio climático global, um compromisso europeu e soluções
locais
É chegado o momento de as capitais e as metrópoles europeias unirem as suas forças para lutar contra
as alterações climáticas.
Se as alterações climáticas são globais, as soluções devem ser, antes de mais, locais. As grandes cidades,
uma vez que se situam na
articulação entre estas
duas escalas, estão na
primeira linha do combate
contra as mudanças
climáticas.
Este é o motivo pelo
qual nós, capitais e
metrópoles europeias, que
representamos mais de 60
milhões de habitantes e
que dispomos de uma
significativa capacidade de
investimento (dois mil
milhões de euros de PIB),
optamos por partilhar e
reforçar as nossas ferramentas de transição energética e ecológica.
A nossa ambição é identificar e combater as principais causas das emissões de gases de efeito de estufa,
que incluem os transportes poluentes, os edifícios antigos e mal isolados, bem como o aprovisionamento de
energia. Paralelamente, estabelecemos projectos de futuro ambiciosos, tais como a luta contra a expansão
urbana, a renaturalização, a biodiversidade nas nossas cidades, a intensificação da reciclagem, a luta contra
os desperdícios, a promoção da economia circular, a prioridade aos transportes públicos, o incremento da
mobilidade eléctrica, a renovação dos edifícios e a melhoria da eficiência energética. A criação de emprego e
a procura de parcerias com os territórios rurais vizinhos são pontos essenciais para alcançar estes objectivos.
Reunidos hoje em Paris, comprometemo-nos a aumentar os respectivos "planos do Clima".
O segundo nível de acções assenta numa escala europeia. É chegado o momento de as capitais e as
metrópoles europeias unirem as suas forças para lutar contra as alterações climáticas. Isto passa por um
diálogo mais estreito entre as cidades, por trocas mais regulares de conhecimentos e de boas práticas. Esta
diplomacia europeia das cidades, respeitando a diversidade dos territórios e das culturas locais, deverá ser
implementada rápida e duradouramente. Deverá ser apoiada no seio da União Europeia, sobretudo pelo
Parlamento e pela Comissão Europeia, e beneficiar directamente dos apoios financeiros europeus.
Devemos ir ainda mais longe, facilitando, numa base de voluntariado, a coordenação dos investimentos
públicos. Em conjunto, as metrópoles europeias representam mercados consideráveis de contratos públicos,
Imagem disponível em: Papa Francisco, imagem disponível na Internet em: http://www.domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=917210
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da ordem dos dez mil milhões de euros por ano, aos quais se juntam os efeitos do sector privado, que alinha
muitas vezes as suas próprias exigências com as do sector público. Estes montantes de investimento deverão
concentrar-se na fileira
“verde”, nas indústrias
(modernização das
ferramentas de produção e
inovação) e nos serviços
com baixas emissões de
carbono. É esta a iniciativa
que lançamos hoje em Paris:
coordenar os nossos
mercados públicos para
incentivar o aparecimento
de ofertas mais
respeitadoras do ambiente.
A Europa das cidades
surgirá, assim, de uma
forma audaciosa e
colaborativa.
Finalmente, devemos envolver-nos a nível mundial. Os esforços que fazemos e as políticas que aplicamos
nas nossas cidades devem contribuir para a adopção de um acordo mundial em relação ao clima. Devemos
apoiar-nos nas redes de cidades e de governos locais envolvidos na luta contra as alterações climáticas para
favorecer uma governação a nível mundial.
Desde a Cimeira da Terra, no Rio de Janeiro em 1992, há 23 anos, que as Nações Unidas procuram o
consenso internacional para fazer face ao desafio constituído pelas alterações climáticas, que não param de
se agravar. Hoje, não temos escolha. A próxima conferência de Paris sobre o Clima, em Dezembro deste ano,
deve mostrar que compreendemos finalmente a dimensão do problema.
A partir de agora, as metrópoles europeias podem contribuir para a luta contra as alterações climáticas,
propondo localmente soluções concretas.
Amanhã, vamos juntar os nossos esforços aos das outras cidades em todo o planeta – na América do
Norte e do Sul, África e Ásia – para implementar soluções locais inovadoras. É em conjunto, graças às cidades
unidas em rede e ligadas com os cidadãos, às ONG, à comunidade científica e ao mundo empresarial, que
faremos a diferença.
Se as grandes cidades participarem com todas as capacidades na luta contra as alterações climáticas,
vamos encontrar em conjunto os caminhos para um futuro sustentável. A colaboração das cidades onde nos
envolvemos deve fazer surgir soluções coordenadas, comuns, com muito mais frequência.
Assinado pelos presidentes de câmara: Anne Hidalgo, Paris; Michael Hãupl, Viena; Yvan Mayeur, Bruxelas;Jordanka
Fandakova, Sófia; Constantinos Yiorkadjis, Nicósia; Frank Jensen, Copenhaga; Jussi Pajunen, Helsínquia; Alain Juppé,
Bordéus;Yiorgos Kaminis, Atenas; István Tarlós, Budapeste; Christy Burke, Dublin; Giuliano Pisapia, Milão; Ignazio
Marino, Roma; Artúras Zuokas, Vilnius; António Costa, Lisboa; Sorin Oprescu, Bucareste;Boris Johnson, Londres; Zoran
Jankovic, Ljubljana; Karin Wanngárd, Estocolmo; Sami Kanaan, Genebra; Ana María Botella Serrano, Madrid; Alexiei
Dingli, La Valeta; Dario Nardella, Florença; Edgar Savisaar,Tallinn; Gérard Collomb, Lyon; Roland Ries,
Estrasburgo;Lydie Polfer, Luxemburgo; Eberhard van der Laan, Amesterdão;Michael Müller, Berlim; Johanna Rolland,
Nantes.
In Jornal Público, em 26 de março de 2015
Imagem disponível em: http://www.africa21online.com/artigo.php?a=2086&e=Ambiente
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Portugal é o quarto melhor em lista de desempenho climático
Redução das emissões de dióxido de carbono contribuíram para a boa classificação.
Portugal é o quarto país mais bem classificado numa lista de 58 países ordenados pelo seu
comportamento em relação às
alterações climáticas. A tabela,
feita por organizações
ambientalistas, é encabeçada
pelo terceiro ano consecutivo
pela Dinamarca. No final, surge a
Arábia Saudita.
O Climate Change
Performance Index (índice de
desempenho de alterações
climáticas) foi divulgado nesta
segunda-feira, no âmbito de
conferência anual das Nações
Unidas sobre alterações
climáticas, que decorre em Lima,
no Peru. O trabalho é da responsabilidade da organização não-governamental GermanWatch e da Rede
Europeia de Acção Climática, de que fazem parte várias organizações, entre as quais a portuguesa Quercus.
Com uma nota de 67 num máximo de 100, Portugal mantém este ano a posição do ano passado. A
classificação mostra ainda uma melhoria substancial nos anos recentes: há três anos, Portugal estava em 14º
lugar.
O índice tem em conta as emissões de dióxido de carbono (tanto o seu valor absoluto, como a sua
evolução), as políticas ambientais nacionais (nomeadamente no que diz respeito às energias renováveis) e as
posições internacionais de cada país nesta matéria.
Um dos factores a contribuir para a boa classificação de Portugal foi a queda nas emissões de dióxido de
carbono a um ritmo superior ao declínio do produto interno bruto. Quando uma economia abranda, as
emissões tendem também a diminuir. E uma redução a um ritmo superior indica que há factores para além
do arrefecimento económico que estão a contribuir para um melhor comportamento ambiental.
Por outro lado, Portugal piorou no que diz respeito à evolução das emissões associadas ao uso residencial
e de edifícios, e à produção de eletricidade.
No índice agora divulgado, e para além da Dinamarca (que tem 78 pontos), estão à frente de Portugal a
Suécia e o Reino Unido. Os dados usados na análise, que os responsáveis dizem serem os mais recentes,
dizem respeito a 2012. Os 58 países analisados representam mais de 90% das emissões globais de dióxido de
carbono.
Em comunicado, a Quercus considera que Portugal “é um exemplo de como lidar com a crise económica,
obtendo resultados das políticas climáticas, reduzindo a dependência de recursos e lucrando com
investimentos realizados por governos anteriores em áreas chave como as energias renováveis”. A
organização ambientalista alerta, contudo, para o facto de a posição de Portugal estar “ameaçada pela
política do actual Governo, que já abrandou alguns dos investimentos benéficos, em particular nas energias
renováveis e na diversificação de fontes”.
Espanha, por exemplo, registou uma queda de oito lugares, para a 28.ª posição, ao passo que a Grécia se
ficou pelo 35º (embora seja uma subida face ao ano anterior). A Irlanda, que se destaca por um bom
desempenho no que diz respeito às emissões, melhorou dois lugares, ficando na 10.ª posição.
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Os três primeiros lugares, porém, surgem simbolicamente vazios – o que significa que Portugal surge
como estando na sétima posição. Os responsáveis pela ordenação consideram que nenhum país está a fazer
o suficiente para merecer um lugar no pódio. “Tal como no ano passado, há, na opinião dos peritos, uma
insatisfação generalizada em relação às medidas tomadas por cada país para assegurar, à escala global, um
aumento de temperatura inferior a 2ºC, em relação à era pré-industrial”, refere o comunicado da Quercus.
João Pedro Pereira, Publicado em 8 de dezembro de 2014
Alguns recursos adicionais sobre a temática do ambiente e da sustentabilidade em geral e das
alterações climáticas em particular:
1- “Homem” de Steve Cutts, 2012. Vídeo sobre o modo predador como o homem se comportou desde se
tornou verdadeiramente homem, publicado na Internet, pode ser acedido aqui.
2- A maior flor do Mundo de Saramago, 2007 - Curta-metragem de animação baseada no livro «A Maior
Flor do Mundo», de José Saramago. Produzido em 2007,o filme ganhou o prémio de melhor animação do
Anchorage Internacional Film Festival e foi nomeado para os Goya deste ano na categoria de melhor
curta-metragem. Publicado na Internet, pode ser acedido aqui.
3- Crossroads - Labor Pains of a New Worldview, 2013 (Encruzilhada: Dores de parto de uma Nova Visão
de Mundo) - É um documentário que explora as profundezas da condição humana atual e a emergência
de uma visão integrada do mundo. Juntando contributos e descobertas de vários ramos da ciência e do
conhecimento (biologia, psicologia, ciência da rede, ciência de sistemas, negócios, cultura e meios de
comunicação), o filme revela o funcionamento interno da experiência humana no século XXI, incitando
os telespetadores a pensarem fora da caixa e desafiarem as suas próprias suposições sobre quem
realmente somos e porque fazemos o que fazemos. Publicado na Internet, pode ser acedido aqui.
4- Uma Verdade Inconveniente de Al Gore, 2006. Neste documentário, Al Gore apresenta uma sequência
de fatos sobre a destruição do meio ambiente devido ao dióxido de carbono preso na atmosfera
terrestre. O início do documentário poderá ser visualizado aqui.
5- Gráficos que explicam as alterações climáticas. Página online da BBC com gráficos dinâmicos que
apresentam evidências das alterações climáticas. Publicado na Internet, pode ser acedido aqui.