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I S SN

1517 7599

PERFORM NCE MUSIC L

2 1

P

s

G

RADUA<;:AO

ESCOL

DE MUSICA

UNIVERSID DE

FEDERAL DE

MINAS GER IS

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Editorial

o Programa de

P 6 s - G r a d u a ~ a o

da Escola de Musica da UFMG tern prazer de apresentar

Volume 4 de

P R MUS -

Revista de Performance Musical. Alem de tratar de assuntos

especfficos como

tecnicas

e

praticas

de performance  

decisoes

de

interpretacao re-criacc3o

musical, i m p r o v i s a ~ a o gestual e i n t e r ~ o com 0 publico,

P R

MUS tambem abriga temas

resultantes de interfaces da performance musical com Qutras areas

(musicologia

his

toriea

 

e d u c a ~ a o

musical,

c o m p o s i ~ a o

analise, tecnologia, medicina, filosofia

...

.

No presente volume, tres interpretes/analistas exploram a interface da performance

com

a

analise musical em obras significativas do repertorio brasileiro do seculo XX. Fernando Rocha

discarre sabre a presenc;a de elementos indeterrninados, improvisat6rios e aleat6rios

em

uma

p e ~ a

para caixa clara de Carlos Stasi. Luciana Monteiro de Castro apresenta uma analise

multifacetada e sugere criterios para a interpretacao de

uma

canyao

de

Helza

meu

. Partindo

de uma hipotese surgida ap6s diversas experiencias interpretativas, Cristina Capparelli Gerling

realiza uma

i n v e s t i g ~ o

detalhada sobre a

p r e s e n ~ a

do elemento octat6nico nas tres ultimas

p e ~ a s

para piano de Bruno Kiefer. Explorando a interface da performance musical com a

fisiologia

  Sonia Ray aponta a

presenCa

de elementos provenientes das artes marciais

nos

exerclcios criados pel a contrabaixista Diana Gannett. A partir da perspectiva da educa9ao

musical, eith Swanwick reflete sobre a natureza do fazer musical, apontando importantes

implicac6es para urn ensina de musica

que

venha a ser realmente musical.

A diversidade de facetas da perfonnance musical abordadas neste volume confirma a vocacao

de

P R

MUS de servir como urn forum para a comunidade academica dedicada

a

pesquisa

envolvendo a

r e l i z ~ o

musical.

Born

pro

veito

ndre Cavazotti

Editor-Chefe de

P R

MUS [email protected])

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P R MUS

Revlst

a

de

Pe

rformance Musical

e um espaco democralico para a reflexao in telectual na area de musica, onde

a diversidade e

0

debate sao bem-vindos. s ideias aqui expressas nao refletem a oplnlao da Comissao Ed itorial ou do

Conselho Consultive.

Editor-Chefe

Prof. Or. Andre Cavazottl UFM G)

Comlsslo Edftorlal

Prof. Or. Fa usto Borem UFMG)

Profa. Maria In6z Lucas Machado UFMG)

Prof. Or. Mauricio Veloso Queiroz Pinto

U

FMG)

Profa.

Ora.

Sandra Loureiro de Freitas Reis

U

FO?)

Con 8lho Consultlvo

do

Volume 4:

Prof. Or. Arthur Andres UFMG)

Profa. Ora. Cecilia Cavalieri Franva UFMG)

Prof. Or. Esdras Silva UNICAMP)

Prof.

Or

. Fausto Borem

U

FMG)

Prof. Or. Fernando lazzetta USP)

Profa.

Ora

. Ingrid Barancoskl UNI-RIO)

Profa. Ora . Martha Tupinamba de Ulh

Oa

UNI-RIO)

Profa. Ora . Regina Marcia Simao Santos UNI-Rl0)

Profa. Ora.

Sa

lomea Gandelman UNI-RIO)

Profa. Ora. Sandra Loureiro de Freitas Reis UFOP)

Profa. Ora. Vanda l ima Bellard Freire UFRJ)

Universldade Federal

de

Minas Gerais

Reitor Prof. Or. Francisco Cesar de Sa Barreto

Vice-Reitora Profa. Ora. Ana Lucia Almeida Gazzola

PrO-Reltorla

d

P6s-Gr.aduaclo

Prof. Or. Ronaldo AntOnio Neves Marques Barbosa

PrO-Reitoria

de

Pesqulsa

Prof.

Or.

Paulo Sergio Lacerda Bel

rAo

Escola

d

Muslca da

UFMG

Prof.

Dr.

Claudio Urgel Pires Cardoso, Dlretor

Programa

de

Pos-Graduacio

em Muslca da

UFMG

Prof. Dr. Lucas Bretas, Coordenador

Secreta.ria de P6s-Graduaclo, Mestrado em Muslca

Marll Sliva Coura

Revlslo

Profa. Maria In6z

Lu

cas Machado

Arta-Final

Jussara Ubirajara

I

Romero Harlem Centro Audiovisual - UFMG)

PER MUSI: Revista de Performance Musical- v.4, 2001

Belo HoriZonte: Escola de Musica da UFMG, 2001 -

V : il.; 28x22 em.

Semestral

ISSN: 1517-7599

Musica - Peri6dicos. 2. Performance Musical- Perl6dicos.

3. Interpretac;ao Musical - Peri6dicos

I. Escola

de

Musica

da

UFMG

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SUMARIO

Uma

i n v e s t i g a ~ a o analitico interpretativa sobre

a

c a n ~ a o

Crepusculo de

outono

de Helza Cameu ................................ 5

An analytical-interpretive investigation of the song Crepuscufo de outono by Helza Cameu

Luciana Monteiro e Castro

Partitura

completa

de

Crepusculo

de

outono

...................... .........

 

.... 23

Complete score

of Crepuscufo de autono

Helza Cameu

Teaching music musically

......

 

.

 

......

 

.................

 

..........

  29

Ensinando mOsica musicalmente

Keith Swan wick

n d e t e r m i n a ~ a o

na

obra

Cam;ao

Simples

de Tambor

de

Carlos Stasi ....................................... 37

Indeterminacy in Can t8o

Simples de Tambor by

Carlos Stasi

Fernando Rocha

Terra Selvagem Lamentos da Terra Alternancias

o

componente

octatonico nas ultimas tres

p e ~ a s

para piano de Bruno Kiefer ..................................................

 

...........

 

52

The octatonic component in Bruno Kiefer's last piano pieces

Cristina Capparelli Gerling

Os Phases Warm-up Exercises de Diana Gannett:

a p r e s e n t a ~ a o e extensao as cordas orquestrais .............................  . 72

Diana Gannett's

Phases Warm-up Exercises:

presentation and extension to string instruments

Sonia Ray

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Uma i n v e s t i g a ~ a o analitico-interpretativa sobre

a

c a n ~ a o repusculo de outono

de Helza Cameu

Luciana Monteiro de Castro

U

EMG)

e-mail: [email protected].

br

...Quem

e

Helza Camllu ? Antes de mais nada, nao

e

urna amadora . [ ..J Apesar disSQ, sua obra

continua quase que desconhecida e

e bern passlvel que te urn ou outro dos seus companheiros e

amigos

sa

aproximasse

do

concerto

de

sexta-feira'

co

m

certas

duvidas e

reee ie

s.

Por que

a compositora

tera preferido manter-se ~ o lange do campo de batalha de todo musico? Por duvidar. ela tambem?

Por urn pouco de altivez diante do volga sciocco

2

que deveria julga-Ia? Renzo MassaranP

Resumo:

Analise integrada da can-;ao

CrepliscuJo

de Qutono Op 25

n.2

(1943) para canto e piano da compositora

Helza Cameu (1903-1995), abordando aspectos harmOnicas. formais, poeticos e a relacao texto-musica. Constata

a utilizacao da Sene de Fibonacci e emprego de elementos da linguagem impressionista na sua estruturayao.

Aborda tambem aspectos da vida da compositora e faz referlmcias

ll

sua obra e importancia de seu resgate.

Palavras chave: Helza Camau, cancao brasileira, interpretacao, analise musical.

An

analytical-interpretive.investigation of

the

song repusculo

de

outono by

Helza Cameu

Abstract: An integrated analysis of the song Crepusculo de outono Autumn twilight) Op.25 n.2 (1943) by

Brazilian composer Helza a m ~ u (1903-1995) for voice and piano, including harmonic formal and poetic aspects

as well as text painting. It also explains how Fibonacci 'series and impressionist elements are used in the structure

of the song. Finally, it presents aspects of the composer's life and the importance of divulging her work.

Key w

ords:

Helza C a m ~ u Brazilian song, interp,reta·tion .

Introdu9ao

,

Helza Cameu nasceu em 1903 no Rio de Janeiro e faleceu na mesma cidade em 1995. Aluna

de piano de Alberto Nepomuceno no Instituto Nacional de Musica , passou

a

ciasse de Joiio

Nunes com a enfermidade do primeiro, concluindo 0 curso com medalha de ouro. Afastada dos

palcos pelas pressoes paternas e pelo pr6prio ·temperamento, passou a dedicar se a

composic;ao, estudando contraponto com Francisco Braga

eAssis

Republicano, harmonia com

Agnelo F r a n ~ a alem de canto, violino e violoncelo. Conclui 0 curso de c o m p o s i ~ i i o no

Conservat6rio Brasileiro de Musica sob a orientac;ao de Lorenzo Fernandez, que muito a

1

Refere-se

a

data de urn dos concertos com obras de Helza Cameu realizado em

1965 

2 Jutgamento de um publico tolo.

3

Critico musical e compositor italiano, residente no Rio de Janeiro, cujo artigo foi escrito para

0

Jamal do

Commercia,

em 1965.

5

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CASTRO, LlfCiana Monteiro de. Urna investigao;lio anatitico-interpretallve sobre a cano;lio ..

Ptlr

Musi. Belo Horizoot

e.

yA , 2001 . p  5-22

incentivou. A convite deste, foi uma das fundadoras da Academia Brasileira de Musica , sendo

uma das tres mulheres entre os 46 membras. Junto a Villa-Lobos, trabalhou no ensino do

Canto Orfeonico. De personalidade forte, acabou por abandonar

0

projeto, dissentindo de suas

diretrizes, sem perder a amizade e a

a d m i r a ~ a o

que obtivera de Villa-Lobos.

Helza Cameu trabalhou na Radio MEC de 1955 a 1973 como redatora de programas musicais.

Foi membra da Sociedade Internacional de Musica Contemporanea e no Museu do Indio e

Museu Nacional trabalhou na anc:illise e c a t a l o g a ~ a o de g r a v a ~ e s recolhidas entre tribos

indigenas. A partir de suas extensas pesquisas sobre 0 tema, elaborau 0 livra

IntroduqBo

ao

estudo da mus;ca ;nd;gena brasileira

uma das primeiras referencias do assunto no pais.

A vasta p r a d u ~ a o musical de Helza Cameu e, entretanto, a mais surpreendente vertente de

seu trabalho. Suas

c o m p o s i ~ e s

abrangem cerca de 90

p e ~ a s

para canto e piano (e canto e

orquestra) e mais de 30

h a r m o n i z a ~ o e s

de cantos populares, numera consideravel para

0

panorama nacional. Compos 40

pec;as

para piano, 12 peltas para violino, peltas para viola,

violoncelo, contrabaixo, orgao, f1auta fagote, clarineta e cora, alem de suites para cordas ,

quinteto de sopros, uma cantata e 4 'quadras' sinfonicos, obras que a situam como uma das

primeiras compositoras de musica sinf6nica no Brasil. Seu Quarteto de Cordas

Op

12 recebeu

em 1936 0 2  premio em concurso instituldo pelo Departamento Municipal de Cultura de Sao

Paulo, dirigido por Mario de Andrade; em 1944, em concurso promovido pela Orquestra Sinfonica

Brasileira, seu quadro sinfonico Suplicio de Felipe dos Santos recebeu 0 1 premio, cabendo 0

2

0

premio

a

obra de Claudio Santoro Numa usina de a90.

Diante de

urn

curricula como este, restaria ao leitor indagar as raz6es do esquecimento do qual

Helza Cameu tanto se ressentiu. Estariam ligadas

a

personalidade retraida da compositora?

Seria vitima de preconceitos? Buscando respostas para estas questoes e objetivando 0 resgate

do nome e da musica da compositora, realizamos em curso de Mestrado na UFMG, sob

orienta9ao do Prof. Dr. Fausto BOrE;m pesquisa biografica e estudos sobre a obra para canto e

piano de Helza Cameu, enfocando a Can9aO CrepiJsculo de outono n.2 da Suite Liricas Op

25, de 1943, sobre poema de Manuel Bandeira (1886-1968). 0 presente artigo apresenta uma

analise da canltao, abordando aspectos da forma, harmonia, melodia, ritmo, relac;oes

matematicas e relac;oes texto-musica que possam fundamentar sua pratica interpretativa.

orma e harmonia em

repusculo de autano

Crepusculo de outono

foi escrita sobre as 6 estrafes do poema hom6nimo de Manuel Bandeira,

estando dividida em duas partes, as quais denominamos Parte I e Parte

II

. Cada parte

e

estruturada em 3 se90es musicais, correspondentes a 3 estrofes, denominadas A, B e na

Parte I e C

DeC'

na Parte II. A semelhan9a musical entre as se90es A e A' e a independencia

da Sec;ao B e igualmente entre C C'e D caracterizam a forma ternaria do Lied.

Apresenta estrutura harmonica ambigua, mesclando elementos predominantemente modais a

elementos tonais. A armadura de clave, referente as tonalidades de Sol

m nor

ou ib Maior 

permite giros  par regi6es de diferentes modos eclesiasticas, sem usa excessivo de acidentes.

Pope-se considerar que a obra

se

direciona para regioes locais definidas pela forlta polarizadora

de notas focais .

Nas Se90es A (c.1 - 21) e (c. 36 - 53) da Parte I

0

piano executa ostinato de colcheias,

6

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CASTRO, Lucia

na

Monteiro de. Uma

i n v e s t i g ~ Inalitioo-interpretativlllObte I

I ~ .. .

er

Musi. Beta

Horizonle,

v.4 

2001. p. 5-22

inieialmente em dlades de S  justas e .1 -10 e e. 38 - 43) em movimento deseendente e

paralelo, pereorrendo tres oitavas (Ex. 1) . Estas dlades sem ~ a s de natureza tonal amblgua,

dificultam a confirmar;ao de uma tonalidade maior

au

menor e rea

lr;a

m a ca

nMe

r modal

do

treeho. Piano e

ca

nto

re

velam, entre as

e.

1 - 8, notas do modo e6lio em

La

(eseala

La

-

Si -

06

Re

- Mi

- Fa

- SoD.

A reeorreneia das dlades La

- Mi

no piano, com a La no baixo, insinua um

pedal em L

a.

A presen,a do

Sib

na linha do canto

e.S)

gera ambiguidade modal , e sugere a

modo frigio em La (eseala La

-

Sib - 06

-

Re

- Mi

- Fa

- SoD

paden do tambem ser justifieado par

incluir-se no treeho de esea la de tons inteiros (Ex.1).

[2J

J b

ca nl

o

@

i

*

J i l J

Jill

o ere-p

us-

cu-lo

cal

~ r \ q ~

ciano

.......

~

Tons inl

eiros

IJ

pliiJW

'w W

man-

-

s

co-

ro

o u·

rna

ben

~ i o .

r ~

0

::

~ ,

r

.... '

.J

Ex

. 1 - Ostinato de diades de 5  paralelas no

pi

ano e trecho de escala de tons inteiros no canto c.

5)

.

Do e.10 ao e.12 (Ex. 2) e apresentada uma sequencia de aeordes de

7 :

La

-

Mi - Sol (sem a

te

r,a

e Mi - So  Si - Re (c.10), Re -Fa - La - 06 e

Sol

Si -

Re

-Fa (c.

11

, acordes amblguos

que podem ser considerados pa ssagens pelos I, V, IV e V II graus do modo e61io em La au do

I

V, I,

V

II

e

III

graus modo eolia em Mi.

/ \ f

/ \

canto

ir se

D

quc o

cho -

  ' . pri

•••

d

1ft

- t

...

h==

~

~ - - -

 

ql

-

i

....;

ij;

I.: ,JJ

W

-

 

iano

,

.

-

E

x.

2 - Sequencia de acordes

de

7· menor, baseados nas notas da escala do modo e

1io

em

L

a

7

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CASTRO. Luciana Monteiro de. Uma Invesliga,.:lo anal itico-lnterpmtaliva

sob .

8

canciO .. Per

AIusi

. BeIo

iorizDntB

....

4. 2001 . p. .22

Entre os c.

15

-17 , ocorre uma passauem pel a regiao focal de

Sol

(Ex.3). Pode-se considerar

que esse trecho esteja na tonalidade de

Sol menor,

devido

a

presenc;a da 'sensivel' a

Uma

passagem pelo modo frigio em Sol escala So/- Lab

-

SIb

-

06

-

Re

- Mib -

Fa) e percebida

entre c.19 - 21, finalizando a se9aoA na regiao focal de

Sol

Ex.4). 0 Reb, estranho

a

escala

frigia em

Sol

(c.19), pode ser considerado nota de passagem, vista que

0

R m

e

repetido na

harmonia c.21).

A Sec;ao B, iniciada no I grau do modo frigio em

Sol

no c. 22, apresenta uma sequencia de

aco

rd

es de

r

menor,S' aum. e

r

maior sem resoluc;6es, seguida no c.25 do acorde de

11'

SIb

-

Re

-   a-

La

-

Min e do acorde de quintas tematicas sobrepostas La

-

Mi m.e.) e Sol

- Re

m.d.). A partir do c. 27, ocorre uma sequencia ascendente de acordes de 5

~

aum., com

cromatismos Ex.5). Este trecho dissonante cria tens6es que s6 irao se dissipar no acorde

perfeito maior do c.30, seguido de arpejos do I grau do modo d6nco em

Re

Ex.6). A regiao

focal de

Re

gera uma for

c;a

atrativa de subdominante modal

(IV

grau) em

relac;ao

ao trecho

seguinte, no modo eolio em La regiao focal de La reapresentado

na

se9ao K Assim, a

passagem de B para

A'

pode ser ouvida como uma cadencia plagal.

r

r

~

: - van - -

Ii ·

cal pen

~ =:::'::.

# ."

~ ; L \

~ ~

#

G: 

i 1t

L-

pi

ano

--I...f

.........

....

I..J

....I.J

:

v

-

IV

III

Ex.

3 -

Pa ssagem do

V

ao

I

grau da nota

focal Sol.

canto

[3J

, w r T f D ~ ~

I ~ B

pJJfr-

. J

s

fe -

ri

- das

qu

e a vi - cia a- briu

em

ca-da pei - to.

piano

Ex.

4 -

as

trecho

s

assinalados

c.

19

- 21),

exceto

pelo

Reb, apresentam

nota

s

do

m

odo frigio em

Sol

8

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CASTRO, Luciana Monteiro

de

. Uma invesliga<;ao analiticcHnt rpretativa sobre a canclio .. p. . Musi Belo HoriZQnte, v.4 , 2001. p. 5-22

Poderia se considerar a Parte

II

como iniciada no modo frigio em Sol, como 0 final da Sec;:ao

P\

mas presen9a do Lan e

0

desaparecimento do Lab remetem ao modo e61io em Sol. Estabelece

se, entao, uma

relac;:ao

de

modos homonimos entre a final

de

A

- frigio em

Sol-

e a inicio de

C - e6lio em

Sol.

A ambigUidade causada pela superposi9ao de quintas

Re

-

La

e

Sol - Re,

tocadas pela m.d. e m.e. do pianista (c.55-58), a ausencia de sensiveis e a

presenc;:a do

acorde

de I grau com sexta acrescentada

(Sol- Sib - Re - M/b

reafirrna 0 can,ter modal de C (Ex. 7).

Enquanto que nas

Sec;:6es

A e A da Parte I 0 piano repete diades

de

5

as

justas paralelas, nas

se90es C e C' da Parte II repete acordes de 5 sobrepostas, Re - La e Sol - Re, imprimindo

ambiguidade tonal e certa estaticidade. As Se90es centrais B (c. 22 - 35) e D (c. 67 - 75), por

outro lado, apresentam percursas modulatorios geradores de novas cores timbricas e de tensao.

Enquanto na Sec;:ao B estes percursos ocorrem par meio do encadeamento

de

acordes

de

5

as

aum. com cromatismos (Ex .5), na Sec;:aa D acorrem

par

encadeamentas de acordes de 7

as

em

tremulos no piano e arpejos de

5

dim. no canto (Ex. 8).

canto

piano

canto

piano

dei xa e. par to no ar 0 ter rorau gu raldeen clll1 tosefei ti. f .

I

I®§

Ex. 5 - Recitativo com cromatismo no canto no piano (c. 27 - 31) .

o

t ~

J

J ~ J

J

Toda

a rei va

-

As 00 rcsmor· rem.

-

 .

-

 

~

£

oJ

~ ~ 9 /

1 J ? ~ 9

/ 1tO ~ 9

/

~

~ 9

,

-

-

t

~

tJ J

~ J

~

Ex. 6 - Passagem pelo modo d6rico em Re (c. 32 - 35), IV grau do modo e61io em

La

(c. 36).

9

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CASTRO, Luciana Monteiro de. Urne

V ' 8 s t l g ~

analffieo.intetpfetatiVa sabre II

C I I ~ ••• M

usi

Belo Horizonle,

vA.

2001.

p.

5-22

canto

-.

-'

f

Urn

Ii-n.o plan - ae A fU-e . 0: . nc-rna

omw

-md-nodo

r- r.

1 1

· ·

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. . .

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plano

.

I ~

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·

.

·

·

.

·

·

.

·

·

. . .

·

· ·

~ . ~ .

: =< •

·

.

Ex. 7 Modo eolia em

Sol

com acorde de I grau com sexta acrescentada, assinalado no c.54 , e sobreposicao

de acordes, assinalados no c. 55.

0

canto

~ ~

JjlJlJ\l·

$'

$ , ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

j JJ¥ Wi) j l W ~ ~ ~

A pe_nu

h 4 n 0 . b . n n .

O I - W ' F l O - O ; Q ~ b.Iz dopo-

t t l -

 . n- W. -

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-c t

S._

rae-lha. .b61'lhoi:rl.DIk

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e  

I

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~

.

piano

\

rr

'f"

I

.

.

. . .

. . .

·

. .

II:

. j

':

II: .

)

Ex. 8

Crepusculo de outona:

Trecho musical (c.

71

- 74) com tremulos em acordes de 7'

di

m. real izados pela

m.d. e ce lu las ritmico-mel6dicas tocadas pela m.

e.

o esquema apresentado no Quadra I resume

0

percurso harmonica da cancao. Pade-se concluir

que predomin m na br progressoes h rmonic s n o funcionais , com referencias a

progressoes tonais nao 'resolvidas' de maneira convencional. Observa-se na sua macra-estrutura

a

re

aliza9ao de uma grande progressao de 2' M descendente, passando do loco modal a ao

~ o modal o

_

Tal progressao nao ocorre apenas no interior das

Sec,;:oes

A e f:\ mas da in fcio

da Parte I ate a final da Parte II , gerando uma grande cadencia plagal entre a

La II

grau) inicial

e a

Sol

(I grau) fi nal.

10

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http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 11/83

CA

STRO, Luciana Mont.,jro da. Uma investigayio analltico-intefl)l etativ9 sobre a C ~ o

...

P

ar

Mus

;

Belo Ho

riro

nte.

vA.

2001. p. 5

-22

Quadro I - Resumo do percurso harmOnlco de repusculo de outono

A

B

[1

-

7

modo

e6

1i

o

em

La

i

-

vi

-

V

 

[8 -12 modo

e6

lio

em

La

i _i , _v _ VI_ iv_VII,

[13-18

modo

e6

1io em

Sol ou Sol

menor)

VI

-

V

_ iv, _

i i i _ i

,

[ 19 - 21

modo frfgio em Sol

[22-24

modo frigio

em Sol

[25-26 modo frfgio em Sol

[2 7 - 3 0 sequenc. de

acord

. aum

em

cromatismo

[

3

-

35

modo d6rico em e

[36-41 modo e6110 em La

[42-45

modo e61io em La

[46-49

percurso modu lat6rio

[50-53

modo frfgio em Sol

[ 54 - 59

J modo e6lio em Sol

[ 59 -

61] modo e6lio em Sol

[ 62 - 65] modo eolio em Sol

[ 65 - 66] modo

e6

lio em Sol

[67-70

modo

e6

lio

em Sol

[71-73

modo

e6

lio

em

Sol

[74-75

modo e6lio em Sol

[76-79

modo e6lio

em Sol

[80-81

modo

e61io

em Sol

[82-84

modo

e61io

em Sol

[85-87 modo e6lio em Sol

i,_iv ,_v i i ,_ i

i _ i, _ i'.   ivdeLa

i

vi V

- -

i

_ i, _

V,_

V

_ IV

_ VII,

V V_ iv, _iii_i ,

-

i, _

iv

, _

vii, _ i

i...,

_i

' , _iv_i

i. _ v i i

 _i

.

_v i i _ i

i, _ VI, _

i,

_i7, _

vi+

(alemA) _

i.   ou

b Ii)

VI,_

vi,  

ou I'l _

btl _ i

._

iv

~

nV

l

lioo

niii

 _ e :

. '1 . ,

IIoo _I , _ IV_1

i. _v i i, _i. _v i i _ i

i

lloo

_ vii, _ i,

_ I

,

iv

_ I ,

iv

-

-

bii,

-

vii, _ i6

Zona

foca l:

La

Zona

focal: Sol

Zona

focal:

La

Zona

f

oca

l:

Sol

>

Zona

foca l: La

,

Page 12: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 12/83

CASTRO . Luciana Motlteiro de.

U m a l l l y a s t l g ~ l ~ t e r p r e t a t i v a

sobra a ~ ...

PerMu .

8alo Ho

rlzor lifl.

y ... 200 1.

p.

5-22

Melodia

Em Crepusculo de outono

a canto apresenta uma melodia principal.

0

piano acompanha ritmica

e harmonicamente a voz, sem descrever melodias secundarias. 0 ambito vocal encontra-se

entre 0 6

2

e Sol

.

, havendo varios trechos com notas de alturas repetidas, especialmente

J

e

Re

3

 

levando

a t i l i z ~ o

predominante do registro vocal medio, com breves incursoes pelo

registro agudo. As vozes medias e medio-agudas sao as mais adequadas

it

interpreta9ao

desta can9ao.

Os contornos mel6dieos desenvolvem-se segundo a neeessidade de expressar tensoes,

relacionada a conota9ao poetica. Na Parte

I,

se90es A e 1< a estaticidade e valorizada par

melodias em areo e melodias aseendentes cornpensadas por subseqOentes melodias

descendentes, gerando

urn

equillbrio entre as formas, Notam-se as

p r e s e n ~ a s

estruturais dos

intervalos tematicos de

SJ, 4J

e

A

(tritonos) , conduzindo a pontos estrategicos das Irases

(veja c.10 no E

x.

2 e c.18 no Ex.3). A melodia na Se9ao

B

(c. 22 - 26) apresenta notas repetidas

(E

x.

9)

, seguidas de cromatismos ascendentes geradores de maior tensao (Ex.

S)

e

um

posterior

retorna

a

estaticidade da Se9ao

K

canto

,

pl

ano

u

Ex. 9 - Estilo recitativo na Secao B, com emprego de notas repetidas na canto (c.22 - 23).

A Parte

II

acumula, entretanto, ao longo das se90es

C,

DeC ' , desenhos mel6dicos angulosos

e formas ascendentes sem

e o m p e n s a ~ a o

ou

r e s o l u ~ a o

descendente,

a h ~ m

da p r e s e n ~ a

marcante de trltonos. Entre os c. 56 - 61 na Se9ao C e c. 76 - 79 na Se9iio C', ha saltos

intervalares alternadamente ascendentes e descendentes de

SJ

(do tipo dente de serra

 

),

seguidos por

um

trecho descendente em ter93s. A Se9ao D (c.67) apresenta curtos arcos

mel6dicos aseendentes formados par notas de arpejos de aeardes de 7

a

de dominante (c.68) e

5  dim . (c.70 - 75) , gerando progressao caracterizada pela presen9a

de

A (quartas

aumentadas) descendentes, como mostra 0 esquema seguinte:

4 0 desenha mel6dico dente de e r r saw-teeth), citado par LA RUE 1970).

e

onstituido de saltas intervalares

iguais au

pr

6ximas, alternadamente ascendentes e descendentes, que partem de uma detenninada nota e a

ela retornam sucessivas vezes.

12

Page 13: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 13/83

CASTRO. l uciana M o n t

 

de. Uma r w e s t i g ~ analitlco-lntetptetativa

sob

re I

ean.;lo

. Ptlr MIn I.

Belo

Horizonte. 4. 2001 . p. 5-22

__ +.So/

Mib ----.:: .

S

  ';;:-'06

So Ib

_ _

.

e

~ M i

c. 67 - 70)

c. 71

- 73)

.

74 - 75)

Sib ~ a b

A supremacia de tensces

na

Parte II e tambem confirmada pelo uso de notas de reg ices mais

extremas do ambito da can9iio.

De

senhos esquematicos dos contornos mel6dicos presentes

na

obra podem ser apreciados

junto aos versos do poema:

Parte

I

o crepuscu/o

cai

manso como uma ben ao

Dir-se-a que 0 rio chera a prisao do seu leito.

As grandes maos das sombras evangelicas pensam

As

feridas que

a

vida abriu

em

cada peito.

o

outono amare/ece

e

despoja os /ari90s

Um corvo passa

e

grasna

e

deixa esparso no ar

o

terror augura/ de encantos e feiti,os.

As flares morrem. oda a relva entra a murchar.

Os pinheiros porem vi9am e serao breve

odo a verde que a vista espairecendo vejas

Mais negros sabre a alvura inanime da neve,

A/tos e espirituais como flechas de igrejas.

13

,,---....

[1 -7

,,---....

[8

- 12

[13 -18

[19 -21

- - - . _ [22 -24

[25 -30

[31 -35

,,---.... [36 -

41

,,---.... [ 42 - 45)

[46 -49

[50 -53

Page 14: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 14/83

CASTRO,

Luci

ana M

on

teiro de.

Urn

s j n v s t

~ i o

ana

li

tico-l

r,t

erpr

eta

tiva

sab re

8

~

..•

er

M

u /.

8 elo Horizonte, V• , 2001. p. 5-22

Parte II

Urn sino plange.

A

sua voz ritma

0

murmurio [ 54

- 59

Do rio, e isso parece

a

voz da solidao. -------.. [ 59 - 61

E essa voz enche 0 vale o horizonte purpureo... [

62 - 65

Consoladora como urn divino perdao. [

65 - 66

o sol fundiu a neve. A folhagem vermelha } [ 67 - 70

Reponta. Apenas hfl

nos

barrancos retortos,

/ \ , / , \ ,A

f/ocos, que

a

luz do poente estatica semelha [

70 - 73

A

urn rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.

[74-75

A

sombra casa os sons, casa os sons,)

numa grave harmonia . [

76 - 78

E tamanha esperanqa e uma tao grande paz -------..

[79

-

81

Avultam do clarao que cinge

a

serrania, [

82 - 84

Como se houvesse aurora e

0 mar

cantando atcas. [ 85 -

87

Ritmo

A Parte I de Crepusculo de outono estrutura-se

em

compassos quaternarios simples 4/4 e, na

Parte

II

em compassos quaternarios compostos 1218

0

piano apresp.nta padroes ritmicos

bem

defin

idos a

cada secao

 

que atuam

como

elementos

de

definiyao

da textura e da

tensao

Nas Se90es

e

,

0

padri io ritmico

eurn

continuum de colcheias

em

movimento descendente,

que confere baixa densidade ritmica e textura rarefeila as seq6es e eslabilidade, numa ambiencia

de calma e estaticidade Quadro II).

Na Se9iio B

0

piano apresenta, entre os

c.

22 - 27, urn acompanhamento no estilo recitativo

com

acordes

em

semibreves

e

curtos

adensamentos

ritmicos em

minimas

No final da

Secao

14

Page 15: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 15/83

CASTRO.

Luciana Monteiro de Uma n v e s l ~ l l I I a l l t l c ; o . l n ~ I I v a . o b r e , I I ~ o

...

Per

Mu  J. Belo

H

orizonie'.

'1.4 

200

1. p. .22

B

C

. 31 - 35), a piano realiza grupos de tercinas em movimento ascendente a cada compasso,

sob as indica90es de calma e pp padrao frequente em cadeneias e pontes, preparando a

retorno

a

estabilidade ligeiramente alterada no inlcio da Se9ao B (veja Quadro

II

 .

Nas Seyoes C e C', 0

piano

apresenta novo padrao: a cada

urn

dos 4 tempos do

compasso,

a

m.e . e a m.d. do piano articulam acordes em semfnimas pontuadas sob a indicayoes de

expressao Com gravidade e de andamento J.

=

44 (Quadro III). Entre C e C  apresenta-se a

Se9ao D, cuja padrao rltmico gera as maiores tensoes da obra: tremulos

na

m.d. com articula9ao

do prirneiro,

segundo

e

quarto

tempos

pela

m

.e.

Se a piano desenvolve ritmos regulares, a canto e silabica e alterna calcheias , semlnimas e

mfnimas na

escansao das

srlabas poeticas

  sem

regularidade que defina um padrao ritmico.

Pade-se afirmar que a regularidade da figura9ao rltmica no piano em cada uma das se90 

es

e

os contrastes

ent

re os pad roes apresentados

definem

a forma

tripartida

da canr;ao e

conferem

unidade

a

abra. Enquanto nas Se90es A e />: analogamente as Se90es C e C , com ritmos

nitidamente articulados e repetidos, M ambiencia de estaticidade e monotonia, nas se90es B

e D  com ritmos

de contornos pouco de fin idos

 

htl ambientes de maior tensao mu sica

l

A

Dfades de colcheias

em

movimento dlreto

descendents

e

paralelo

Parte I Campassa quaternaria simples

4 4

B

[22 0, 5

I

Acordes em

semlbfeves no estll0

recitativo

Arpejos de

lerelnas em

m

ovi

menlo ascendenle

,

[ 75 61

Dlades

de

colcheias em

movlmenlo direlo

descendente e paralelo.

como n seyao A

Quadro

II - Estruturacao ritmica

do

piano na Parte I de repusculo

de

outono.

15

Page 16: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

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CASTRO, lucUona Monteiro de . Urns invesfiOaCJO "'11lli ;oo-interprelativa sobre. I I ~ .••

er

Musi.

Belo Honzonte ,

Y• . 2001 .

p.

5-22

Parte II Compasso quaternario composto 12  8

C

D

C

[54

65J [ 66 74J [ 75 86 J

4 tempos po ' compasso em

1 T r ~ m u l o s executados pela m.d. rom

1

4 tempos por compasso em

semlnimas pontuadas articulados

1

m a r c a ~ do quarto tempo pela m.e

1

. semlnimas pontuadas

pela m.e.

1

1

articulados pe la m.e.

llV'

fllJJ

,

J

J1

1

1

f P ? ~ : 1 &

~

~ I ,

1

-

 

cs.sa v

oz cn<hc

0 1

I

1

manh .

J l l n n ~ ~

u_ m2 lao 1 P . . , , · d ~

1

: <V

1

1

,

1

~ I

t

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d

.

i : •.

1

~

1

1 1

I

;

I

;

. :

r

i

b t :

,

.

1

1

I

=---

I

;::

... r'

1

[

: : i

'i :

1

·

1

.'

'

·

r

·

Quadro III - Estruturacao ritmica do piano na Parte

II

de Crepuscufa de autano.

Uma breve analise matema

tica

Considerando-se as observac;oes fe itas anteriormente, pode-se afirmar que Crepusculo de

outo o

apresenta em sua estruturacao elementos caracteristicos da linguagem impressionista,

como a ambiguidade tonal-modal, 0 emprego de cadencias plagais nao conclu sivas, 0 emprego

de quintas paralelas

0

emprego de escala de tons in teiros,

0

encadeamento e a nao resolw

;ao

de'acordes de setima, 0 emprego de acordes dissonantes como objetos independentes que

se

sustentam pela sua "cor" apenas e pela atmosfera que criam, a utili

zac;ao

de acordes de quinta

com sex

ta

acrescentada e de acordes incompletos, sem a ten;a ou sem a quinta e finalmente,

o cromatismo, que nao aparece como elemento estrutural, mas como elemento colorfstico.

Uma outra caracteristica da musica impressionista, especialmente observada na obra de

Claude Debussy (1862 -1918 e a preocupac;ao com as rela

c;oes

de proporcionalidade na

estruturac;ao musical (HOWAT, 1983), Diante da evidente inftuencia impressioni sta em

Crepusculo de Outono, buscou-se localizar relac;oes fundamentadas no principio da proporc;ao

aurea, segundo 0 qual os objetos artfsticos, a musica e os seres vivos apresentam, entre

suas dimensoes ou partes, re

la

90es matematicas estabelecidas por

um

numero irracional

denominado Sec;ao Aurea ou SA. 0 valor numerico de

SA

pode ser obtido por meio da Serie

de Fibonacci'

(0

,   2 3 5, 8,13,21,34 , 55,89, . . .

,

na qual a soma de dois numeros

consecutivos gera 0 pr6ximo numero da serie. 0 valor de SA e obtido pela med ia da soma

das razoes entre um numero da serie e 0 seu sucessor, ou seja, SA = 1/2

+

213

+

3/5

+

5/8

+ 8/

13

+

13/21

+

21/34...) I n, valor proximo de 0,618.

5 A se rie torna

0

nome do matematico medieval Leonardo de Pisa (1170-1 250), conhecido com "Figlio Bonnacio"

ou filho de Bonaccio,

Que

instituiu 0 usa das a

lg

arismos arabicos na Europa (HOWAT, 1983).

16

Page 17: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

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CAS

TR

O. Luciana Monteiro de.

Uma

l i ~ Inalllico interpretativa sobra a cant;:Io .. er

M

u i

 

al

lo Horizont.  v.4. 2001 . p. 5·22

A Set;:ao A

de

Crepusculo de ouiono tem

21 compassos,

a Set;:ao B tem

14 compassos

e a

SeeaoA tem 18 compassos, perfazendo 53 compassos na Parte I; a Seeao C tem 12 compassos,

a Set;:ao D tem 9 compassos e a Set;:ao

C

tem

12

compassos, perfaze

ndo

33 compassos na

Parte II. No total , a caneao tem 87 compassos, Multiplicando-se

0

quociente

S

pelos numeros

de

compassos das Part

es

I e

II,

ver ifica

-se

uma apraximat;:ao bastante grande

com

as numeros

da

SMe

de Fibonacci:

87 (node compassos da caneao) x 0,618 = 53 (nOde compassos da Parte I);

53 (node compassos da Parte I) x 0,618 = nO de co mpassos da Parte

II);

33 (node co mpassos da Parte

II

)

x 0,618 = (pr6ximo de 21 =nOde compo da Seeao A).

Obse/Va-se ainda

que

n

os numera

s dos com pas sos coi

ncidentes

com

os

numer

os

da Serie de

Fibonacci

.

au pr6ximo

a el

es

,

ocorrem eventos mu sicais releva ntes

.

Considerando

as numeros

da Serie 1, 2 3 5 8, 13, 21 , 34, 55, 89 observam-se os eventos:

C 1

=

n lcio da Secao A e Parte I

• C

2

=

inal da introdueao A

C 3

=

entrada do canto

C

5

=

recho de escala de tons inteiros

C 8

=

retorno ao modo inicial, com r

epetit;:ao

da

harmonia

do c. 1

C 13

=

novo

retorno

ao

modo inicial, com repe ti<;ao da harmonia

do

c.1

C

21

=

ultimo compasso da Seeao A

C

34

=

pen ultimo

co

mpasso da Seeao B

C 55

=

nlcio da Seeao C e Parte II

c

87

=

valor pr6ximo a 89 = inal da obra

Renumerando

as compassos

da Parte

II a partir do numera

1,

verificam-se os eventos:

c.1

=

nicio da Seeao C

c.2

=

inal da introdueao de C

c.3

=

entrada do canto

c.5

=

nrcio de cromatismo

c.8

=

ret

o

rno

ao modo inicia

l

c.13

=

nlcio da Secao D

• c 21

=

ultimo compasso da Seeao D

c.33

=

valor proximo a 34 = ltimo compasso da Seeao C

Mu

ltiplicando numero de compassos da Parte II pelo valor da SA obtem-se:

33

x 0,618 =21 .

o 21   compasso da Parte II , que corresponde ao 74  compasso da caneao, configu

ra

ponto

de

maior

tensao

na

obra, onde se

verifiea

maior

densidade

rftmica ,

presen<;a

de

aeordes

dissonantes, dinamica

f

ap6s crescendo e maior

dr

amaticidade poetica . Mediante tais

observat;:oes, pode-se afirmar que

Crepuscufo de oulana

abedeee largamente as principios de

praporeionalidade

.

s me

smas

tipos

de eventos

que

ocorrem

na obra

como

urn

todo  

S

repetem

17

Page 18: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 18/83

CAS

T

RO.

Luciana Monlelro de Uma

I n v e s t i g ~

analili<xHlterpretaliva a

  ... Per M

Usi

. 6, 1

Horizoote. v • , 2001.

p. So22

nas

sec;;oes,

em disposic;;oes proporcionais. Portanto, as rela

c;;oes

observadas no nivel macro

estrutural da obra sao verificadas tambem no nivel medio das sec;;oes.

R e f a ~ o e s

lexlo-musica

em

Crepusculo

de

outono

Em

Crepuscufo de

outono musica e poesia se unem

em

uma lin

guagem comum,

perceptivefmente pictarica. Enquanto

0

poema

e

caracteristicamente slmbolista, a musica

apresenta trac;;os impressionistas, que remetem

a

utilizaC ao primeira do termo - ao apelo visual

da pintura francesa que caracterizou 0 estilo. Ainter-relaC;;ao entre simbolismo e impressionismo

permei'a, portanto, as relac;;oes texto-musica em Crepusculo de outono. Considerando que as

relac;;oes texto-musica contribuam para a

fundamentaC;;8o

de decisoes interpretativas coerentes

com a genese da ob,a, apontando ideias provavefmente concebidas pela interpretayao conjunta

do compositor dos materiais litera rio e musical, apresentamos algumas destas relac;:oes , junto

das estroles do poema.

l Eslrofe

S e ~ a o A :

v.

1.

0 crepusculo cai manso como uma benyao

v.2 . Dir-se-a que 0 rio chora

a

prisao de seu leila

v.

3.

As grandes maDS das sombras evangellcas pensam

v.4. As

(eridas que

a

vida abriu

em

cada peilo

Na Se9ao

A

0 ostinalo de celulas em 5  justas paralelas remete a orma primitiva da musica

polilonica sacra, 0 organum paralelo (BENNETT, 1986, p.14), numa alusao ao ambiente mrstico

e aatmoslera eterea e contemplativa da l estrole. 0 os/ina/o de celulas descendentes remete

ainda a repetic;;ao diaria do

c r e p u s c u l o

0 'cair' do sol.

as contornos mel6dicos de A em catabase sao tambem sugestivos das ideias literarias da 1 I

estrofe: quando 0 poema diz cai ... como urna benyao , a melodia do canto e descendente,

assim como a ben9ao desce do ceu. Este movimento

e

real9ado por urn trecho de escala de

tons inteiros (c.S), caracterizada por sua indefini9aO tonal e grande estaticidade, devidas

a

ausencia de semitons em seu interior. Em certas obras impressionistas. asta escala sugere 0

movimento da agua (REfS, 2001 , p.263) e curiosamente,

0

verso 2, que se segue, menciona

urn rio. Quando 0 poema diz prisao

de

seu lei/o', a melodia

e

novamente descendente, como

descendente e 0 curso do rio. Ha ainda neste movimento demonstra9ao de resigna9ao diante

do fato de estar 0 rio ladado

a

prisao do leito, assim como 0 poeta

a

prisilo do exilio' .

A abundancia de assonancias de vogais nasais na prime ra estrofe (nas palavras Cllill1S0 ,

ben98o , grsm..des , tnaQ,s , sombras , evange/icas e PfillS§1IL) remete tambem a

tranquilidade - sons nasais ~ m sido associados apaz e amedita9ilo, como nos mantra orientals

e no bocca chiusa das

canc;;oes

de ninar, Contudo, asta quadro de tranqLiilidade, abriga uma

angustia velada: os versos 2, 3 e 4 apresentam l i t e r ~ o e s do lsi, Ichl e Irl, sonoridades

caracteristicas de perturba90es S HAFFER, 1987, p.216-219).

6 Manuel Bandeira escreveu Crepuscufo de Outono ern 1913. periodo em que se internara em um sanat6rio na

SufCa para tratar-se de urna tuberculose perslstente.

18

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CASTRO  Luciana Mof\Ie ro da .

oma

n f t ~ anllftico.lntetprataliv8

sobfe

8 c ~ ...

$1.

Selo Horilonte . v.4 2001. p. 5-22

Alem dos modos ec1esias ticos estarem associado ao "sagrado", a ideia de religiosidade presente

no poema e sublinhada por palavras como

"manso", "ben9fio", "evange/icas"

e par articulat;5es

proprias do cantochao, com a emprego do ritmo silabico e melismatico, como em

"manso"

(c.5), Apesar do emprego de sequencias de acordes de

7"

sem resolu9ilo

nile

ser usual na

musica sacra do passado, a linguagem·musical e ainda coerente com a linguagem Iiten3ria,

pais a 'sugestao' e as 'ambigUidades' produzidas por tais acordes sao fundamentais na estetica

simbolista, na qual se baseia 0 poema Crepuscu o de oulono.

2' Estro fe

( 5 e ~ 3  

B):

v.5 0

outono amarefece e despoja

as

/ari90s.

v 6 Um

corvo passa

e

grasna

a

deixa asparso

no

ar

v 7

0

terror augura/ de encantos

a feiti90S.

v 8

As flares marrero.

Toda

re/va entra a murchar.

A Se9ao B se desenvolve no estilo recitativo, apropriado ao discurso e a narrativa (SADIE,

1994, p,769), preparando ou sucedendo trechos melodiosos em que preponderam sugestoes

de sentimentos e devaneios, Da contempla98o da calma paisagem na

l '

estrole, passa-se as

vis5es perturbadoras da 2

8

estrofe. 0 recitativo atua aqui como uma "chamada" a realidade

ardua e pa lpavel.

No verso 6, quando

0

poema diz

"uro corvo passa

e

grasna",

e ndicado urn

decrescendo,

que

sugere um ruido que se distancia gradativamente. Entretanto, 0 cervo

Mdeixa esparso no

ar a

lerror augural de encanlos e feili.os" (versos

6

e 7) e provoca afli90es, refletidas no crescendo,

no

animando

e no aumento de densidade rftmica do piano, que executa acordes de minimas,

ao inves das semibreves anteriores,

Ha

nesta estrole alitera90es do

Ir/, IRI

e

lsi,

relor9ando 0

aspecto

iuduo

das palavras

"corvo",

g [ a ~ n a ewa[so ,

"terret', "augu[al"

e seu carater

dramatico. A linha do canto refort;a a aspereza do texto com 0 uso de ritmos marcades, em

colcheias pontuadas e semicolcheias.

A ten sao presente na Se9ao B, relor9ada pela varia9ao de dinamicas, pel as alitera90es e pelo

adensarnento rftmico na linha do canto, esublinhada na harmonia. Nos versos 6 e 7 a

e q ( j ~ n c i a

de acordes dissonantes com cromatismos nas vozes internas do piano enfatiza as sensat;oes

de indefiniQao e rn isterio provocadas pelas palavras e s p a r s o , "terror', "augura/", "encantos" e

"fei/i.os",

A tensao acumulada s6 se dissipa com a chegada a urn acorde perfeito maior, junto

de urn

decrescendo

e urn

cedendo

sob a pa lavra

"feiti90s".

Vitima destes

"encantos

e

feiti90

s ,

o 'eu irico' passa da visao perturbadora avisao

rn

elanc6lica e apaziguadora das

"flores"

e da

"relva"

que murcham no outono (verso 8). Sob este verso, 0 piano descreve arpejos ascendentes

em tercinas no I grau do modo d6rico em

Re,

em

pp,

Este movimento sa converte em 'ponte',

remete a musica aestaticidada contemplativa da

Se9aO ,

3

Estrofe (5e93o A'):

11 9 Os pinheiros

pOl'em vi.am

,

e

serBo breve

11 10 Todo a

verde que

a

vista espairecendo vejas,

11.11

Mais negros sabre

a

a/vura inimime da neve,

11.12

Altos e espiriluais

como

fiechas de igrejas,

19

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CASTRO L

uelana

Mont

elto

<Ie

 

Urna Inyestigat;:lo

ana Jtioo-interpretativ3 so te

3

~ o Per

Mil .

Belo

HoriZonte. y • . 2001 . p. 6-22

Na Se9aa f< (c.36), as e·ementas musicais da Se9aa A se repetem. 0 texta retama a ideia da

visao pict6rica sugestiva de sentimentos e de estaticidade. Na 3 estrofe, contudo, M valoriza9ao

da imagem pelo uso

de

recursos cromaticos, com sugestao de ideias visuais pela men9ao do

nom e de co res,

como

verde   ,

negros

  e a/vura (versos 9 e 10, respectivamente ).

Estrofe

(Se9ao

C):

v,13

Um sino piange. A

sua

voz

rilma 0 murmuri

o

v,14 Do rio,

e

isso

pareee a voz da solidao.

v,15 E essa voz enche

0

vale.  

0

horizonte purpureo" ,

v.16 Consoladora como

urn

divino perdao.

A

8e9ao

C

(c.

54) e

iniciada com

a indica9ao

express

va

Com gravidade.

Permanece a

id e ia

de

estaticidade

e

contempla9ao.

Entretanto

,

ouve-se

urn

s

ino "

perturbador

,

representado por acordes percussivos   ricos em harmOnicas devido ao emprego ample

das r

egis

tros do piano.

Observa

-se que, enquanto 0

poem

a diz

"

Urn

sino plange,

a

sua voz

ritm

a 0

murmurio do rio ,

a celula ritmica do piano e repetida 6 vezes  num a passiv

el

alusao

as 6 bada ladas da

angelus.

Notam-sa

assonancias de vogais nasais

am

toda a 4  estrofe

("sma

 ,

"pliHlge

 ,

"solidao",

iH1

che

 ,

"horizonte","coosoladara

 ,

"divino", "perdiiQj ,

indicativas de certa tranqii ilidade ,

interrompida pelas alitera90es do

IR , Irl e

lsi em

"[itma

  ,

"mu[murio  , "do", "

pa[eJ<e

, "

vo,(

,

so lidao

  .

enQ}]e e purpureo

  .

A harmonia na 8e9ao C apresenta ambigGidades provocadas pela superposi9ao de

5

justas

e acordes de 7

3

sem resolu9ao. Esta ambigGidade e sugestiva da inconstaneia de sentimentas

do

'e

u [frieo ', que oseila

entre

a eentempla9ao re s

ignada

e a angustia. A

melodia em

diferentemente das

sec;:5es

anteriores, apresenta grandes saltos intervalares . Sobre verso

13

 

o canta a 0 piano repetem saltos de 5J, alternadamente ascendentes e descendentes (c. 56 -

59) , alusivos ao badalar do sino e ao fata deste 'ritmar'

0

murmurio do rio". Quando

0

texto se

refere a "solidao" (verso 14), a melodia descreve urn arpejo descendente de 5 dim

.

dissanante

e n

ao

resolvida

(c

.60), como naa se resalve a solidao

do

poeta.

S'

Estrofe (Se9ao D

:

v.17 0 sol fundiu a neve. A folhagem vermelha

v.

1S

Reponta. Apenas

M

nos barrancos retorios,

v.19 Flocos que a luz do poente extalics semelha

v.20

A

urn

rebanho infeliz de cordeirinhos morios.

A 8e9aO D (c .67 - 74) inicia-se com 0 verso "0

sol fundiu

a

neve  .

Os trl\mulos no piano

sugerem, de fato , uma fusao de harmOnicas, textura sugestlva de conturba9ao e desordem de

se ntimentos. A dramaticidade do paema e refor9ada pelas alltera90es do Irl e do

lsi,

rna is

presentes que anteriormente. Note-se que   enquanto a m

.d. realiza os

tremulos, a

m.e.

executa

celulas mel6dicas repetitivas, sugestivas da badalar da sino.

A

medida que a descri9i a pict6rica

no

poema

se torna mais

a

ngu

stiante,

a

tensao

na

Sec;:ao

0 e acentuada

pelo

encadeamento

de

20

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acordes de 7

8

de dominante e 7

8 S

dim.

e por cromatismos utilizados

como

as variac;oes de

cores sugeridas no poema, onde os tons dos

fIocos de neve',

da

/uz do poenle

e das

fa/has

verme/has

se mesclam .

6' Estrofe

S e ~ a o

C ):

v.21. A sombra casa os sons numa grave harmonia.

v.22. E lamanha esperan,a e uma l o grande paz

v.23. Avullam do clarao que cinge a serrania,

v.24.

Como se houvesse aurora

e a

mar cantando atras.

A Secao C' inicia-se

na

dlnamica do

p,

em subito contraste com

0

f e a tensao da SeCao D. A

dinamica de

p

que perdura nos versos 21 e 22, sublinha urn esmaecimento das tensees

acumuladas

em

D,

confirmando a finaHzaC;ao

apaziguadora dos

versos a sombra casa as

so

ns

numa grave harmonia

 e

tamanha

esperanc;a

e

uma

faD

grande paz .

Entretanta

,

seguem

uma indicaCao de

crescendo

no verso 23 junto da palavra

avullam', urn

aumento da densidade

hanmonica

no

verso 24,

urn

impulso mel6dico acentuado pelo saito de 5J (c.84 -

85

e urn

'B/argando nos

c.

86

8

:

depois

do

crepuscu/o viria

a aurora e

atras da serrania

 

existiria 0

mar' - , au seja, haveria esperanc;a, atinal.

Conclusao

Uma das razees para 0 esquecimento e consequente desconhecimento da obra de Helza

Cameu

pode

estar relacionada

ao seu estila composicional

e as

circunstancias hist6ricas em

que se

desenvolveu sua carreira.

Helza

sofreu,

de

certa forma,

urn ostracismo

gerado por

ideologias de processos composicionais (como Nacionalismo e Serialismo) que detenminaram

os rumos da vida musical brasileira durante

0

perlodo de sua maior produtividade musical ,

entre os anos 30 e 50. A despeito da sua evidente postura nacionalista, Helza Cameu nao

privilegiou

tamas falcl6ricos au populares, apesar

de

empregar criteriasamente temas

indigenas

e

ritmos populares urbanos

'ern

suas obras. Sua obra, ainda que demonstrasse firme interesse

pelo nacional e pelo moderno, apresentou propositais e evidentes tracos da musica europeia,

como se percebe

em Crepusculo

de

oulono

e, apesar de ter participado de associac6es de

musica

conternporanea

da epoca, nao

desprezou

elementos musicais tradicionais.

o poema Crepusculo de oulono foi escrito em 1913, ana em que Debussy concluia seus

preludios. Conhecedora da obra pianistica de Debussy, Helza Cameu certamente buscou

na

canc;ao urna

coneX80

entre

simbolismo de

Bandeira e impressionismo debussyano,

remetendo 0 poeta

ao

seu ambiente inspirador,

a

Europa impressionista

.

Tendo a oportunidade de interpretar Crepuscu/o de oulono antes e depois de

urn

estudo analitico

interpretativo, verificamos

que

a interpretacao rna is coerente e eficiente se deu ap6s

0

reconhecimento dos processos composicionais da obra. Aanalise musical associada ao estudo

das relacoes texto-musica assegurou justificativas para decisOes interpretativas. ainda que

pessoais, subjetivas e nao definitivas. Observamos que a musica em

Crepuscu/o de oulono

partiu da ambiguidade literaria, da sugestao do 'concreto' pelo 'abstrato', do crepusculo como

metatora que progrlde da monotonia ate uma alegoria da esperance. A ambiguidade literaria

foi confinmada nos confrontos entre modalismo e tonalismo, nas sobreposicoes de acordes,

nos encadeamentos sem resolucoes tradlclonals e na propria forma da obra, urn Lied-bipartido.

21

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CASTRO, Luci

ana

Monteiro

de.

Uma

l i g ~ o

analjijco-Interpretatilla Obnl a

~

...

Per

Musi. Belo Horizonte.

vA 

2001.

p

22

Como interpretes, coube-nos evidenciar contrastes e manter ambiguidades, par meio de

decis6es relacionadas as graduac;6es da dinamica, ao usa da voz - lisa au com vibrato, aos

tipos de ataques e timbre vocais, as respirac;6es e articulac6es de frases, a enfase dada a

certas palavras ou fonemas e mesmo as decis6es sabre a usa dos pedais do piano, uma vez

que a ambigGidade harmonica mostrou-se

um

elemento estrutural. As tendencias impressionistas

presentes na obra apontam para uma interpretacao rica em sutllezas e despida de exageros.

A analise e a interpretacao de Crepusculo de auiona revelaram, finalmente, uma obra com

elevado grau de elaboracao e eficiencia, no que concerne a sua escrita idiomatica para voz e

piano. Acreditamos que a compositora Helza Cameu, pela diversidade, refinamento e qualidade

estatica de sua obra, ora exemplificada em Crepusculo de autono, mereca retomar e ampliar

seu lugar no panorama da musica brasileira.

Referencias bibliogr3ficas

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DE

MUSICA. Ficha biografica de Helza Cameu. In: Jomal do Commercio, 5 de marc;:o

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BENNET, Roy. Uma breVe hist6ria da musica. Trad. Maria Tereza Resende Costa. 3ed . Rio de Janeiro: Jorge

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Biblioteca Nacional).

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.

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internet:<http://

.

www

.ornela.com.br/teoria_literaria.htm>

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3.ed. Sao Paulo: Cultrix, 1969. 293p.

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V.3. Rio de Janeiro:

Imprensa Nacional, 1952.

PASCOAL, Maria Lucia.

Tecnicas de o m p o s i ~ a o nos Pre/udios de Debussy

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PESQUISA EM MOSICA, 1987, p.391-403. Ouro Preto: UFMG, 1988.

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finguagem oculta da arte impressionista.

Belo Horizonte: Maos Unidas, 2001.

447p.

SADIE, Stan ley.

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SCHAFER, Murray. 0

ouvido pensante.

Trad. de Marisa Trench O. Fonterrada, Magda R. G. da Silva, Maria Lucia

Pascoal . Sao Paulo: UNESP, 1991 . 399p.

O b s e r v a ~ a o

a capia anexada de Crepuscufo de oulono, da qual foram extrafdos as exemplos musicais,

foi realizada em

2001

e baseou-se integralmente

na

versao original da obra, um manuscrito aut6grafo

datado de

1943,

atualmente em posse da autora deste artigo.

A

Biblioteca Nacional edltou em

1999

uma versao de Crepuscufa de aulana, baseada em um manuscrito de

1967.

que divergente em alguns

pontos do manuscrito de

1943 .

Luciana Monteiro de Castro formou-se em Canto em 1996 pela Escola de Musica da UFMG e concluiu Mestrado

em performance na mesma escola. em 2001. Formou-se em Canto no Conservat6rio Nacional de Lisboa em 1992

com balsa de estudos do

govemo

portugues. professora de Canto no curso de

Graduac;:Ao

da Escola de MlJsica

da UEMG desde 1995 e do curso de Especlallzac;::io em Musica Brasileira desda 2001 .

22

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Crepusculo de outono

Sufte Lulcas Op  5 n 2

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Helza

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C6pia do manuscrito autografo de 1943 feita por Luciana Monteiro de Castro em 200 I

23

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CAM£U.

Helu. P.rtiturlI completa de

0epIi1CUlo

de 0tK0n0. . , 1. 8.10

Hortzonte v.4  2001 . p. 23-28

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7/18/2019 Num04 Full

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CAM£U. H

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..:II. p"rtilu,.,. romoletl

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Cf IOIi.<tr.II/o

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Olllcmn

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v 4

2001. o. 23-28

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67

VIII pouco IIItJ/1

In

co or

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poo • ta.

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CAMI U. Helvo. p",rti'ura comlllet l de Ct1I uSCtlIo

de

Outono_ Par ll N  Belll Horizllll e. .4. 200 1. n. 23-2A

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7/18/2019 Num04 Full

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CAMI U. HtttzII.

p,rtitunI

completa

de CnlpUscub de

Outono. p.

M

uaI eIo Horizonte,

v.4.

2001,

p.

23-28

A-w]_tam do el"

rio

que cin .go

XT-I I.

C . IC 1llMl1O

CREPUSCULO DE OUTONO

o crcpusculo eai, manso como uma

Dir-JC

hi

que 0 rio chora a prisao do seu leilo ..

As grundcs mios

da

sombm evnngelicas pensarn.

As f(:ridas que a vida abriu

em

carla peilo.

o lono am

are

l

ece

e despoja

os

l r i ~ o

Um corvo passa e geasna, e dei

xa

esparso no at

o terror augurnl

de

canl

os

e f i l i ~ o

As flores morrem. Toda a relva cnlra a murchar.

Os pinheiros porem   ~ e smo

em

breve

Todo 0 verde que a vista espairecc:ndo vejas,

Maia

negros sobre a atvurn ininime cia

nev

e,

Ali

os e espirituais com flcchas de igr

ejas.

28

Em A Cinza das horns"

Urn sino plange. Asua v z rilma 0 munnurio

Do

rio

, e isso

pare<:e

a voz rla solid

io

.

E essa voz enche 0 vale .. 0

hOr1z

onle purpurio ..

Consoladora como

urn

divino perdio.

o sol

fundiu

a neve. A folhagem

ve

nnelha

Re

ponla

. Apenas ha

nos

barran

cos ret

o

rtos,

Floc

os que

a luz do poenle extfilica

sem

eihll

A um rebanho infeliz de cordeirinhos mortos.

A sornbra C

UI

os so

ns

Duma grave harmonia.

E tamanha espenuWI c urna tAo grande paz

Avullam do clado que tinge a serrania,

Como

se houvesse aurora e 0 mar cantando

IItras.

Clavadel, 1913

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Teaching music musically

1

Keith Swanwick

(University

of

London)

Abstract:

In this presentation I shall propose that music is a form

of

discourse. This has three fundamental principles

for music teachers and these principles present some implications for teaching methods and curriculum structure.

I

use

the word 'discourse' in an everyday, non-technical sense. Associated terms include 'argument' , 'interchange

of ideas', 'conversation', 'expression of thought' and.

most

important, 'symbolic form'. Discourse manifests itself in

a variety

of

ways, not only through words. I wish to argue that music is part of a web

of

human discourse, rather

than some curious activity separated from life

in

general. I shall also argue that music is not object but always

contemporary event. Musical processes have a degree

of

cultural autonomy with multiple interpretations, uses

and responses.

Keywords: music education, musical processes, Swanwick, discourse.

;-

.

r

.-

Resumo : Nesta a p { e s e n t a ~ a o eu proponho que'a-musica e uma forma de discurso,

0

que traz tres principios

-fundamenta}s p a r a o f e s s o r e s m u s 1 c a p r i n c r p j o s ~

p r ~ s e n t a m

a l g u m a s implica¢es para os metodos

de ensino .e curr

fc

ulos.

AE..

alavra ,'(fiscurso' e

t i l i z a d ~

a 9 ( J i c o m um se'ntido cotidiano, e nao tecnico·.-Termos

c o r r e l a t o s e m 'arg(imento:; troca de idelas', 'conv efSa\;ao', 'expressao do pensamento' e, acima de tudo,

'forma simMlica'. c u r s o s"e·manifesta de maneiras variadas, a p e n a s atraV/f s de palavras. Meu argumento

e que a;musica

e

parfe thftoda uma rede f o r m a d a p ' b r varias formas do discurso humano, e nao uma atividade

r l h a , s ~ p a r a d a v i ~ a ~ m gelal. a m ~ e m argumento que mysica nao c'um objeto, mas sempre urn evenlo

c o n t e m p o r OsprocessosJT1usicais ' tem grau de u t o n o m i c u l t u r a l com multiplas interpretac;:oes,' usos e

_ ':

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: : . ~ . t . ; : - ' ' ; ' '

~ : ;

' _

~ ? ~

It gives me real pleasure

once

again to be amongst Brazilian colleagues and friends. There is

always a tremendous sense of energy here and I very much appreciate this and

the wa

rmth of

your

welcome.

The

main focus of

my

professional and research interest has been the educational transaction,

in classroom, studio, in informal setting or communities. Throughout this

work

I have attempted

to develop a strong theory, both for music and

for

pedagogy. In this presentation I shall consider:

1 Conference given by Professor Keith Swanwick

in

the XIII Encontro Anual da ANPPOM

in

April 2001, Belo

Horizonte. These ideas are developed

in

Keith Swanwick's book of 1999, Teaching Music Musically (SWANWICK,

1999), published by Routledge.

2

C o n f e r ~ n c i a

proferida pelo Prof. Dr. Keith Swanwick

da

University

of ondon

no XIII EncontroAnual daANPPOM.

em abril de 2001, 8elo Horizonte. Estas ideias sao desenvolvidas no livro do autor de 1999, e ching MusIc

Musically

(SWANWICK, 1999), publicado pe

la

Editora Routledge.

29

Page 30: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 30/83

SWANWICK. Keith. Teaching music musically.

er /.

Belo H0ri2:ontB.

Y 4

. 2001.

p

29-36

• the idea

of

music as a form

of

discourse

• three fundamental principles for music teachers which arise from this view

• some implications of these principles forteaching methods and curriculum structure

use the word discourse in an everyday, non-technical sense. Associated terms include

argument , interchange

of

ideas , conversation , expression

of

thought and, most important,

symbolic form . Discourse manifests itself in a variety

of

ways, not only through words. I wish

to argue that music is part of a web

of

discourse rather some curious activity separated from

life in general.

Following the philosopher Karl Popper, I shall maintain that each of us is aware of a subjective

world  that

we

recognise as ourselves  and

of

a world we perceive as being outside

of

ourselves,

consisting

of

other people, objects and events and the natural world. These two worlds - the

inner and outer - are linked by what Popper called World Three . This world

of

discourse and is

full

of

ideas articulated in symbolic forms: inventions, questions. theories, ideas in books , music,

art, science, mathematics and so on. This world is where we have the possibility of meeting the

minds and cultures of others (POPPER, 1972). Discourse significantly enhances and enriches

our understanding

of

ourselves and the world. Music is no exception. It can be found in all

cultures, often interwoven with dance and ceremony, with ritual and healing. It takes a central

role in celebrating significant life events: birth, adolescence; marriage, death.

Discourse does not merely reproduce, it also modifies the symbolic form in which it appears.

Take for instance the daily extension and evolution

of

languages evidenced in the rapid revision

of dictionaries. And discourse can appear in

new or

fresh combinations

or

symbolic forms,

such as film, television and internet publishing. Discourse is a useful generic term for all

meaningful interchange. It encompasses the trivial and the profound, the obvious and the

recondite, the

new

and the old, the complex and the simple, the technical and the vernacular.

As with any other medium of thought, musical discourse can be socially reinforcing or culturally

provocative, soporific or challenging. Discourse fills the space between us with ideas and

negotiations.

It

is a market place where we trade what we think

we

know. Even though we

may

not approach universal truths we can at least arrive at some places

of

negotiation. This

is possible only through symbolic processes, through creating and sharing meaning and values .

These meanings and values are obviously social products, to the extent that they are creations

that

are formed in and through the defining activities

of

people as they interact (BLUMER,

1969,

pA-5 .

These defining activities are the discourses

of

language, mathematics, science,

art, music and so on. There can be no significant interaction without interpreting minds engaged

within symbolic forms.

Each individual exists in a particular set of discursive forms deriving from the social institutions in which

she or he

fi

nds herself or himself. The resolution of these tensions, contradictions, and incompatibilities,

provides a constant source of dialogue . (KRESS, 1985, p.31).

I take it that education is concerned with studying, engaging in and developing these discursive

forms, forms which are plural rather than singular. They are not Platonic, essentialist, Intrinsic

or

invariant universals but are constantly evolving, always reforming , Nor are they sets of fixed,

socially conditioned actions without the possibility

of

reflection, reconstitution

or

resistance.

3

Page 31: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 31/83

SWNIWICK,Kei1h. Tetd llng music musiealy. er UM Be

la

Horizonle v t  2001. p. 2S-36

From this perspective we can see that music not only has a role in cultural reproduction and

social affirmation but also has potential for individual development, for cultural renewal, for

social evolution, for change.

Music shares with all forms

of

discourse four major psychological characteristics.

• We

inte

rnally represent actions

and events to

our

se

lves; we

imagine

• We recognise and generate

relationships

between these images .

• We employ systems of signs,

shared vocabularies

• We negotiate and

exchange ur thinking

with others.

This way of looking at music gets us away from defining it as

an

essentially 'aesthetic' activity.

This difficult and problematic word tends to be defined in a multiplicity of ways and is very often

an

unsatisfactory confusion

of

several different concepts, including the aesthetic, the artistic

and Ihe affective. For example, Bennett Reimer sees the 'aesthetic', 'artistic' and 'intrinsic' as

interchangeable (REIMER, 1989) and Peter Abbs views aesthetic experience as those encounters

which are highly memorable or overwhelmingly affective. f we take the view that there

is

a

special kind of experience called the aesthetic then we are likely to push all the arts together

into this overall category. This is so for PeterAbbs who advocates the id

ea

of a 'generic community'

of

the arts. This aesthetic community has three shared characteristics that distinguish it from

other areas of human activity (ABBS, 1994, p.92).

1. All the arts 'create forms expressive of life'.

2 All for their meanings 'depend upon their formal constructions that cannot be

extracted

or

translated without Significant loss'.

3

They require 'not a critical response but

an

aesthetic response - a response through

feeling, the senses, and the imagination'.

Thus stated, the problem becomes fairly clear. The first of these defining statements must

surely apply to al/ forms of discourse, unless a very restricted meaning is placed upon the

phrase 'expressive of life'. Science and philosophy, for instance, also create meanin

gf

ul

expressive

or

communicative forms. The second statement may appear to be more artistically

distinctive

but is

also

true

of

interpersonal

relations  

sex

uality

and humour

 

in

fact of

all intuitive

or holistic ways of taking the world. And I suspect that much advanced thinking in mathematics

might also depend on 'formal constructions'. The third statement containing the idea

of

aesthetic

response seems more easily justified, even if the argument is somewhat circular. Even here

though, it

is

difficult to imagine artistic participation, let alone teaching the arts, which is divorced

entire

ly from critical

awareness. In any

case, is this

aesthetic

response through

the

senses not

also characteristic of eating, drinking, participation in games and in the enjoyment of nature?

So it seems that all three of Abb's allegedly distinctive 'aesthetic' characteristics appear to be

shared with several other forms

of

symbolic discourse.

We are all surely on the side of the aesthetic rather than its opposite, the

anaesthetic

But the main

problem of special pleading for the arls based

on

the supposed unifying Idea of the aesthetic is that

It reactivates the underlying old and unhelpful division between the 'affective' and the 'cognitive',

between feeling and thinking. This dichotomy is of course false. As John Dewey reminds

us:

The

3

Page 32: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 32/83

SWANW

IC

K. Ke ith.

Teaching

music T slea l

ly

. P lo

us

Bela Horizonte v.4 

2001

. p. 29-36

odd notion that an artist does not think and a scientific inquirer does nothing else is the result of

converting a difference o tempo and emphasis into a difference in kind (DEWEY, 1934, p.15).

What differentiates music, literature and the other arts from the sciences is the strength of

connection wi th

personal and cultural

histories

- a

matter of

degree . There

is

a stro ng

awareness

o

the quality of arts activity which is frequently the focus of the experience itself. However, we

ought not to bundle the arts together

as i

they all do the same thing, Each has its own history

and

methodology. There

is

no common ingredient in artistic processes beyond this concern

with subjective impact and metaphoric playfulness. A painter thinks in paint, a mu sician in

sound a write r in words .

Psychologically speaking

we can

picture musical

discourse in several

l

ayers

of metaphorical

transformation .

Sounds

are tr

ansformed

by our minds into expressive shapes , into sonorous

ge

s

tur

es.

Th ese

gestures

are

perceived

as

positio

n

ed

in

relationsh

i

ps

with

each

other

, as

mus

ic

al form .And

at times these new

forms

relate

strong ly

to our personal histories

and

produce

powerful affective

re

sponses, informing what Langer called the life

o

feeling. When attempting

to

describe the third of these transformations, terms such as 'aesthetic experience', 'flow' and

'peak experience' are interchangeable. This strong sense

o

personal significance occurs

frequently enough to motivate many people to put themselves in the way of musical experiences.

Furthermore, this third metaphorical shift is only possible when approached through the two

previous

transformations.

Only

when tones become gestures and when these gestures evolve

into interlocking forms can music relate to and inform the shapes and patterns

o

our previous

life experiences. Only then does the symbolic form of a mu sical performance becorne able to

be

'mapped' on to the form

o

human feelings. The

se

metaphorical processes are internal, invisible,

but we

ca

n observe their effects in the various layers

o

musical activity. I call these layers

materials expression  form and value.

This perspective of music as

discourse

has a profound effect

on

h

ow we

conceive of music

education and leads me now to propose three fundamental principles.

First principle: care for music

as

discourse

n my ea

rl

y research I found that very young children can identify and respond to expressive

gestures

in

music .

Th is

may be called

the

semantic layer of mus ica l

ex

perienc

e.

L  ter

research shows that by the age o 9 or 10, most children can also respond to and produce

interesting musical structures . Children as young as seven are able to consistently describe

small musical changes in terms o activity, size, weight, level o outward-Iookingnes s and

flexibility. Music that

is

perceived as

more

or less sad

is

also heard as

pas

sive, hea vy, s

tiff

and inward -lo oking . Music is

thus

closely related to posture and gesture. There are

i

mplications

here

for music

~ n movement.

One aim o the music teacher is to bring music from the background into the fo reground of

awaren

ess

. Whenever music sounds , whoever makes it

and

however simple or comp lex the

resqurces and techniques may be, the musi

ca

l teacher is receptive and alert, is really listening

and expects students to do the same. The smallest meaningful musical unit is the phrase or

gesture

not

an

intelVal

beat

or

measure.

3

Page 33: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 33/83

SWANWICK. Keith. Te.ehfig music 1TlI.I ieal1y.

Per

M  i  elo Horironte. v.4. 2001 . p  29-36

The particular teaching method is nowhere near so important as our perception of what music

is and what it does. Running alongside any system or way of working will be the ultimate

question - is this really

music n

Is there a feeling for expressive character and a sense of

structure

in

what

is

done or

said?

To

watch an

effective music

teacher at

work

rather than a

trainer or instructor ), is to observe this strong sense of musical intention linked

to

educational

purposes: skills are used for musical ends, factual knowledge informs musical understanding.

Music history and the sociology

of

music are seen as accessible only through the doors and

windows of particular

mu

sical encounters. For it is only

in

these encounters that tl)e possibilit

ie

s

exist to transform tones

into

tunes,

tunes

into

forms

and

forms into significant

life

events. In

my book,

Teaching Music Musically

I draw attention to those features

of

discourse which

music shares with

other

forms and I identified three ways

in which music

functions

metaphorically (SWANWICK, 1999). Through the process

of

metaphor we:

t r ~ n s o r m

tones

into

'tunes', gestures

• transform these

'tunes

'. these

gestures

into

structures

• transform these symbolic structures into significant experience.

Second

principle

care for the musical discourse o students

Discourse - musical conversation - by definition

can

never be a monologue . Each student

brings

a

realm

of

musical understanding

into our educational institutions. We do not

introduce

them to

mu sic, they are already well acquainted with

it,

though they may not have SUbjected it to the

vario

us

forms of analysis that we may feel are important for their further development. We

ha

ve

to be aware of student achievement and autonomy,

to

respect what the psychologist Jerome

Bruner has called the natural energies that sustain spontaneous learning

 :

curiosity; a de

si re to

be competent; wanting to emulate others; a need for social interact

io

n.

Some recent pieces of research help to illuminate this principle.

Jane Cheung

in

Hong Kong studied the effect of different computer programmes on children s

composing (CHEUNG, 2001). She adapted Bemstein s concepts

of

:

classification

(the choice of materials and topics, whether determined by the teacher or

in part by the student)

framing

(the style of the teaching/leaming transaction, whether didactic or more involving

of

student choice)

When secondary school children worked with a more flexible

Information Technology

programme

they were more

freely inv

en tive .They produced musical compositions that were

more

imaginative.

More of the musical layers were evident. Weaker classification and weaker framing allows

students to bring their

own mus

ical ideas to

the

educational transaction .

A range

of

different musical activities also allows students to participate

in

their own way.

Engagement with music from different angles strengthens musical understanding. For example,

Jose Godinho worked with children in their 5th school year in a Portuguese school. With two

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7/18/2019 Num04 Full

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SWANWlCK.

Keith

Teaching

music

muaicalty. erMus;. B

elo

Horizonte, .4. 2001 

29..a6

matched groups he investigated the difference in ability to recognise an aural presentation of

a phrase from music they had previously either followed in simplified notation (audience

listening group) or performed along (audience-performing group) with the recording from the

same

notation. Children

in

the audience-performing group acquired stronger images.

Performance thus seems to have a positive effect on attentive listening and mental

representation (GODINHO, 2000).

The level of a student s musical understanding may depend on the activity. For example, the

work of Cecilia Cavalieri Fran9a here in Bela Horizonte is illuminative. The same children tend

to play published compositions less musically than they do when they perform their own work

(FRANt;A SILVA, 1998). We can speculate about the reason

why

It may have to do with technical

level or with musical ownership. he important thing is that the second principle is at work - care

for the musical discourse of students. Composing gives the possibility of choice of idiom

and

technical level. Performing gives a technique

to

enable compositional express

io

n. Audience

listening widens the possibilities and builds up the internal dynamic library. We should notice

though that the level of freedom to make musical decisions changes with the activity, especially

in schools. If students are listening to music already selected for them, (strongly classified)

then there is little room for choice. In performance there might be more scope provided that the

performing group is small and that excessive technical demands do not preoccupy the attention.

When

composing

t h ~ r

can be optimum levels of decision-making.

Third principle fluency first and last

I make this point briefly. If music is a form of discourse then it is analogous in some ways with

language, though, of course, not identical. The acquisition of language seems to involve several

years or more of mainly aural and oral engagement with other Ianguagers . We have

to

look for

the equivalent,

of

engagement with other musicers , long before any written text or other analysis

of

what is essentially intuitively known. I recall Jose Maria Neves in 1976 talking to teachers in

Silo Joilo del Rey about a village which had 40 ambamasters. Only one of these used notation

and he was a nuisance

 .

Principles in practice

What follows is an example of one teacher at work, someone who is at least trying to hold in

mind this first principle , that we care for music as many-layered discourse. I trust the reader will

excuse the personal nature ofthis illustration

and

the necessary analytical detail that accompanies

Its description.

Papua New Guinea, March, 1987

Outside the clouds drifted over the high mountains. Inside the University of Goroka, on tables in

the music room , student teachers were engrossed in cutting up sago stems into manageable

lengths. They had rarely if at all seen sago before, since it grows only at much lower altitudes.

Working

in

pairs and following a demonstration by their teacher, wi

th

bush knives they expertly

made incisions of two parallel lines about a centimetre apart down most of the length of the

outer surface

of

the sago stem. The last couple of centimetres at each end was left undisturbed

a

nd

made secure with twine. Inserting a

kn

ife halfway along the stem they lifted the strip away

from the body

of

the sago until it resembled a small bow without an arrow. A small piece of

34

Page 35: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 35/83

SWANWICK, Kei th . Teaching music musically. Per Mu l. Belo Horizonle, vA . 2001. p. 29 36

bamboo was wedged underneath the strip, forming a kind of bridge. A second piece of bamboo

was introduced in the same way and it was seen that these two bridges beneath the stretched

sago strip created three different lengths of string , giving off different pitched sounds when

plucked or struck. The students had to decide how best to tune these three notes. And this was

quite tricky, for shifting the bridge in one direction affected the length of the strip on either side.

In the space of just over half an hour they had made sago zithers. With these three chosen

pitched notes

and

using short bamboo beaters each pair

of

students invented and performed a

short piece of music. Then came a revelation. Photographs and tape recordings were introduced

of distant tribesmen playing sago zithers in a manner that can only be described as virtuosic.

The students looked at their home-made zithers, remembered their own musical inventions and

found themselves moving along new musical pathways into a part of the culture of their nation

previously unknown.

e

were to some extent able to gain access to and sympathise with the

musical minds

of

strangers from a remote place in a country where inter-tribal confrontation and

violence seemed never far away.

What so strongly characterises this particular transaction and many other rich educational

encounters which I have been involved or privileged to witness, is not so much the novelty of

new musical accents but the three levels

of

metaphor running through the presentation and

production

of

music. These Papua New Guineans became musicians. That is to say, they heard

and organised sound materials as i

they were expressive shapes: they heard these shapes as

i

they had a life

of

their own and were organically connected: they began to engage with the

accents of others, to refresh their perspectives, to feel as

i

the entire world is as a foreign

place . This is what I mean by teaching music musically.

Notice the pedag()gical process. The session moved from understanding and parlicipating in

musical experience towards understanding the cultural context - not the reverse. This was not

cultural studies but music - an important distinction.

Music is a way of knowing, a way

of

being in a culture, a way

of

thinking and feeling. I t is not

an

example of something else, of rondo form, of a symphony, orofthe culture of Brazil s North East

Or

of music making on the shores of Papua New Guinea. We all know this really. And we must

always be vigilant

to

see that the music in schools, in classrooms and studios is a direct and

powerful experience

of

discourse.

Finally, some

points

for

thought

• Music is not object: it is always contemporary event.

• There are

multiple interpretations

uses and responses.

• Musical processes have a degree of cultural autonomy.

In music we meet in the market place of ideas. The aim of music education is bring

ts

share of

products in this area

of

trade. For it is in World Three that we meet, partiCipate in the discourse

o

music rather than

about

music. It is a place

of

significant transactions.

5

Page 36: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 36/83

SWANWICK. Keith. Teaching music musically. PM Mull. Bllio Horizontll, v

•.

2001. 29-38

ibliographic references:

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BLUMER, H. Symbolic interactionism: perspective and method. Berkeley: University

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California Press, 1969.

DEWEY,

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New York: Capricorn Books, 1934.

GOOINHO,

J  

C. D.

N

Audience-listening and audience-performing: a study

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the

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music. Tese de Doutorado. London: Institute

of

Education. Music and Drama Op t., University

of

London, 2000.

CHEUNG, Jane Wai Yee. The effects

of

computerised music instruction on the attitude and achievement of children:

with special reference to strong and weak framing. Tese de Doutorado. London: Institute

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Education, Music

and Drama Opt., University

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London, 2001 .

KRESS, G. Linguistic processes

n

sociocultural practice. Oxford : Oxford University Press, 1985 .

POPPER, K Objective knowledge. Oxford: Clarendon Press, 1972.

REIMER, B. A philosophy of music education. Englewood Cliffs. N.J.: Prentice Hall. 1989.

SILVA, M. Cecilia C. Franr;;:a Composing. perfonning and audience-listen ing as symmetrica l indicators

of

musical

understanding.

Te

ss de Doutorado. London: Institute

of

Education, Music and Drama Opt , University

of

London.

1998 

SWANWICK, K. Teaching music musicafly. London and New York: Routledge, 1999.

Kei th

Swanwick

is Dean of Research and Professor of Music Education at the Institute of Educat ion, Universi ty of

London. He has been musically active throughout his career, notably as a conductor, and has taught at secondary.

post-16 and university levels: He is the author

of

a number

of

books on music and music education. Including

Teaching Music Musically

London: Routledge, 1999),

Music mind and education

London ; Routledge, 1988) and

A

basis for music education

London: Routledge, 1979).

36

Page 37: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 37/83

Indeterminaqao

na

obra

Cam;ao Simples de Tamborde Carlos Stasi

Fernando Rocha (UFMG)

e-mail: [email protected].

br

Resumo: Este artigo discute as conceitos de

i n d e t e n n i n a ~ a o

aleatoriedade e improvisayao, encontrados na

musica da segunda metade do

seculo Xx. Com a

analise da

obra C a n ~ a o

Simpl

es

de Tambor de

Carlos Stasi,

pode-s8 verifiear e exemplifiear

como

estes

conceitos pod

em ser

utilizados como verdadeiros recursos

composicionais.

Palavras chave: Carlos Stasi. indeterminayao, aleatoriedade, improvisayao, percussao. musica

do sec

ulo XX.

Indeterminacy in

Canlfao Simples de Tambor

by

Carlos

Stasi

Abstract: Thi s article discusses the concepts of indeterminacy, aleatory and improvisation found in the music

'from the second half

f t h e t w ~ n W : ~ t

century. In the

analysis of

Cantyao Simples

de

Tambor

by

Carlos Stasi,

itwas

possible to verify and,.exemplify

how

these concepts can

be

used as true compositional resources.

Keywords: Carlos

S t a ~ i

indeterm'inacy, aleatory, improvisation, percussion, twentieth-century

music

.

Can ao Simples de Tambor escrita pelo compositore interprete Carlos Stasi,' em 1990, e urn

solo para caixa clara em seis movimentos, nos quais sao utilizadas diversas possibilidades

t

imbrfsticas do

instrumento, organizadas, em certos momentos,

de

maneira a produzir

verdadeiras melodias. o interessante notar que, nos cinco primeiros movimentos, a caixa e

empregada com a esteira desligada, praduzindo uma sonoridade mais escura

e

deste modo,

distante da sua sonoridade usual

de

esteira ligada, que a caracteriza como instrumento militar

marcial. No ultimo movimento,

ja

com a esteira ligada, ocorre uma melodia de timbres tao bern

definida que a can3ter militar

do

instrumento acaba sendo mais uma vez amenizado. 0 nome

da peC;:8 ( can9ao ) reflete este uso mais suavizado

do

instrumento e as proprias melodias que

ela apresenta, especial mente a do sexto movimento.

Stasi explora, no decorrer da

pec;:a

alguns recursos bastante inusitados no instrumento, como

toca-Io com uma vara de pescar au com uma bola de ping-pong ou ainda, sopra-Io. Este

material sonora e trabalhado

de

forma a integra-Io a uma estrutura formal bastante clara, que

encontrada em seus diversos movimentos.

Os

recursos inusitados apresentados funcionam

tarn bern como elementos cenicos. 0 contrale da bola de ping-pong pelo interprete, no terceiro

movimento,

8

assemelha ao de um malabarista; uma vara de pescar em urn concerto urn

1

Cartos Stasi e

professor de

percussao

do

Instituto

de

Artes

da UNESP

,

em Sao

Paulo. Em 1995 concluiu

0

mestrado

em performance. na CalArts. nos Estados Unidos. e

em

1999 tornou-sa

PhD

em i ~ n c i a s Humanas,

com

especializ3C;:c3o

em Musica, pela Universidade

de

Natal, em Durban, Arrica

do

SuI. Alem

de

compositor e

interprete, tambEtm atua

como

pesquisador, possuindo grande interesse em instrumentos raspadores (como 0

reca-reca), tendo, inclusive. fundado

0

RECO - Centro

de

Estudos .

7

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7/18/2019 Num04 Full

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ROCHA   Fernando. n e t e r m i n ~ na obna

Cent;io

Simpln de Tambor er MllII  Belo Hotizonte. vA 2001 .

p.

31·51

elemento totalmente inesperado e causa

um

certo espanto na

p l a b ~ i a

assim como os sopros e

olhares em direc;ao ao instrumento, no quinto movimento. A arte da musica vai, deste maneira,

um pouco alem da ideia de sons organizados, fundindo-se a outras linguagens artlsticas.

especialmente, ao teatro, II arte da representacao.

Outro aspecto importante da obra, e que sera 0 centro de atenc;ao deste artigo, e a ocorrencia

de diferentes formas de indetenninac;ao, as quais Stasi utiliza como verdadeiros recursos

composicionais.

1. INDETERMINACAO,IMPROVISACAo EALEATORIEDADE

Os termos aleatoriedade e indeterminaCao sao muitas vezes empregados quase sem nenhuma

distinCao. No dicionario

The New Grove

(SADIE, 1980), por exemplo, 0 verbete indeterminacy

remete ao aleatory . 0 conceito de improvisac;ao, na musica contemporanea, tambem e

frequentemente associado ao de musica aleat6ria, geralmente de fonna equivocada. Para

analisar mais a fundo os tres conceitos, vejamos como eles aparecem no Novo Aurelio Seculo

I 0

dicionario da  lingua portuguesa

(FERREIRA, 1999),

no Dicionario Grove de Musica

(SADIE, 1994), e na

Encic/opedia da Musica do

SeculoXX(GRIFFITHS, 1995).

Segundo a

Novo Aurelio Seculo XXI:

Aleat rio : N1. Dependente de (atores incertos, sujeitos ao aeaso ..• (p.90).

Improvisar

: M2. Falar, escrever ou compor, sam p r e p a r a ~ a o de improviso . . ; de

Improviso

: -1. De

repente ( ..) 2. sem preparacao previa .

.

; improviso: M2. Produto Intelectual inspirado na propria

ocasiao e feito de repente, sem prepare .

.

(p.10B7).

Indeterminado

: M1. Que nao e daterminado ou fixo ... • (p.1100);

determlnar

: -2. Indicar com

precisao

.

.

(p.67

 

.

De acordo com 0

Dicionaria Grove de Musica:

Aleatoria,

musica

:

Mgenero

de musica em que certas escolhas na c o m p o s i ~ a o

ou

na reaiizac;ao soo.

em maior ou menor grau, deixadas ao acaso ou

a

vontade de cada interprete.

N

(p.19).

l m p r o v i s a ~ a o

a

criacao de uma obra musical, ou de sua forma final. amedida que esta sendo

executada. Pode slgnificar a composicao imediata da obra pelos executantes, a elaborat;ao ou

ajusae

de detalhes numa obra

jil

existente, ou qualquer colsa dentro desses limites. (p.450).

(Nao h6 0 verbeta Indeterminat;Ao, na

e d i ~ o

concisa em portugues e, na

ed

ioao original completa

em ingles,

0

verbete

indeterminacy

remete ao aleatory)

Segundo GRIFFITHS (1995):

Aleat rio

:

M(do

lalim alea

=

dados de jogar) . Adjetivo usado para a muslca em que 0 compositor

deixa deliberadamente margem para

o c o r r ~ n c l a s

casuais ou o p ~ o e s do interprete [ ..] 0 termo

e

normalmente reservado para a musica do

~ c u l o

XX ... (p.3).

I m p r o v i s a ~ a o MArte que jil estava em decHnio muito antes do inlcto do sec.

xx

com 0 costume

de

por na paula cadencias e ornamentos [ ..) Contudo, varios tipos de improvisae;:ao voltaram a ser

praticados nos anos 50, com 0 advento da composie;:Ao aleatoria, da

notae;:ao

grilfica e da

indeterminayao, embora a imprevisae;:ao no sentldo antigo, permitindo a exibioao do virtuosismo nurn

mundo musical prescrito, seja mais uma caracterfstica do jazz ...• (p.107-10B).

I n d e t e r m i n a ~ a o : MTermo usado por Cage e por ale preferido para a c o m p o s l c ~ o aleatoria. Cage

fazia uma distine;:ao entre 'obras indeterminadas

ns composie;:ao'

(p, ex

.,

uma partitura convenclonal

produzida por

operae;:oes

casuais) e as 'indeterminadas

na

execuciio' (p. ex., a partilura dei

xa

varia

decisoes para os musicos) . (p.10B).

38

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R

OCH.t.

Fernando. Indetenninlll;to na o/mI a ~ Simples e TIt7lbc:rt • ar Musl

Sa

b Horizoo le, v.  . 2001. p. · 51

Uma

primeira

observa9ao a

ser feita sobre estas

defini90es

e

a

ideia de que na musica

indeterminada existem elementos deixados a e r ~ do acaso ou da escolha

do

interprete. a

termo aleat6rio vem do latim alea , que significa dados de jogar,

e

desta forma, esta diretamente

ligado

a

deia de acaso . Por

outro lado

0

tenno

improvisa.;ao implica numa

tomada de

deci

s

5es

pelo interprete no momenta em que executa a obra 0 que e bastante diferente de um produto

oriundo do acaso.

Aleatoriedade e

improvisa9ao

apresentam-se

assim

 

como duas formas

distintas de indetermina9ao .

Em

Techniques o the Contemporary Composer

David Cope afirma que indetermina9ao e

qualquer processo cujo produto final, ou partes deste produto, nao podem ser completamente

previstos (COPE, 1997,161). Do ponto de vista musical, qualquer obra, na qual compositor

deixa certas decis5es para 0 interprete

ou

a merce

do

acaso pode ser considerada

indeterminada. Apesar

de Cope

nao

utilizar

0

tenno aleat6rio ele

cita a tomada

de decis6es do

compositor

a

partir de processos probabilisticos como

0

jogo de dados

urn

dos casos possfveis

de indetermina9iio. Voltando a origem da palavra aleat6rio (alea = dados de jogar) , pode-se

inferir que este tipo de indetermina9ao eum processo aleatorio. A improvisa9ao e colocada por

Cope como urn dos outros casos

possiveis

de indetermina9ao e

ocorre quando 0

compositor

deixa intencionalmente para 0

interprete

a

decisao

sobre certos elementos do discurso music

al

como alturas, ritmos e timbres). E

realmente importante

dilerenciar aleatoriedade de

improvisa9ao. Uma obra composta com auxllio de algum processo randOmico econsiderada

aleat6ria

porem pode

apresentar

em

sua

nota980

urn

alto grau de precis80

 

nao conferindo

assim

ao

interprete nenhum

momenta de improvisa980.

A aleatoriedade normalmente o associada a uma indetermina9ao na composi9ao, porem ela

tambem pode ocorrer no momento da performance,

quando

algum fator randamico,

propositalmente colocado

pelo

compositor na obra

 

interfere

no

resultado

sonora

da execu9ao

.

Em uma oficina ministrada em 1994 na Universidade Federal

de

Minas Gerais (UFMG) pelo

compositor Marco

Antonio

Guimaraes

 

os

alunos

compuseram

urna

pe9a que

utilizava

as cartas

de um baralho. Cada uma delas recebeu um determinado significado musical. Durante a

performance as cartas

eram

misturadas e iam

sendo sorteadas uma

a

uma

orientando a

execu9ao. Neste caso, e nltida a presen98 da aleatoriedade na performance.

A n0980

de improvisa9ao

 

na

musica

contemporanea

aparece

tambem

associada ao

usa de

nota90es

graficas

isto e grafias

musicais

nao

tradicionais.

A

interpreta9ao de obras

com

estas

nota90es normal mente e considerada um tlpo de improvisa9ao,

0

que nem sempre e verdade.

Assim como a nota9ao convencional, algumas destas novas nota9Oes podem significar uma

orienta9ao bastante preclsa

ao

interprete.

Pode

nao haver necessariamente, espa90 para

jrnprovisa98o mas sim urn tipo

diferente

de controle

do

compositor

utilizando-se

de urna

nota9ao

mais adequada a

sua

obra

como acontece por

exemplo em onancias para piano

e

percu

ssfi

o

de Marlos Nobre (Fig. 1). Apesar de conter elementos indeterminados, especlalmente no que

dlz respeito a dura9ao das notas, nao ha trechos aleat6rios ou de improvisa9ao, po s

0

controle

do compositor sobre produto final e bastante eletivo.

Percebe-se que nem toda indetermina9ao na performance implica em improvlsa9ao. Pode

haver uma aleatoriedade, ou, ainda, um tipo diferente

de

controle por parte do compositor, a

partir

de nota90es

nao

convencionais. Na verdade qualquer nota9ao sempre gera alguma

39

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ROCHA.

Fllmlilldo.

t n d e \ e n n i n ~ ril l obit

Cltn#o

Sln1pJes

d

Tembor ur Belo

HoriZon\e. v.4, 2001 . p. 37·51

f

,

,

Ognl Tpo • Mttronomo 4 eea.

3

beat$ 01 4 )

Fig.1: Marlos Nobre: Sonancias para piano e percussao

lent o , :lcc e l. - .

imprecisao e, desta forma, qualquer musica escrita poderia ser chamada de indeterminada. 0

conceito de indetermina'Y8o s6 pede ser melhor compreendide em fUOf;ao de grau, e nao de

maneira absoluta . Neste sentido, a nota9ilo tradicional pode

s r

considerada bastante

deterrninada  , pois

0

seu desenvolvirnento propiciou ao compositor urn alto grau de precisao

na indica'Y8o de elementos essencials do discurso musical ocidental, especial mente as alturas

e dura90es.Assim e0 repertorio do periodo romantico e grande parte das pe9as compostas no

come9

0

do seculo XX, por compositores como Debussy, Stravinsky e Schoenberg , nas quais

40

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R

OC

HA. Fcmoooo. delerm

inaCio na obnI C. o

bnp e

s d 

r

altlbol ..

Per

Mu$i. elo

Horizonte. v.4.

2001

.

P

37-51

toda s as alturas encontravam-se determinadas e os

ritmos e,

tambem   as dinamicas eram

especificados com bastante precisao.

Concluindo, indeterminat;ao

e

um

processo

no

qual

0

resultado

sonoro nao pode ser previsto

com urn alto grau de precisao . Aleatoriedade e improvisayao

sao

duas formas poss lveis de

indetermina yao, sendo

que

  na

primeira

. ha

0 governo

do acaso e, na segunda, do interprete.

A aleatoriedade pode ocorrer no processo composicional, quando 0

compositor utiliza

algum

proces

so

rand6mico, como

um

sorteio de dados, para decidir sobre

os elementos

da obra   ou

mesmo na performance, quando 0 interprete tambem nao controla 0 produto final. Este ultimo

recurso e explorado por Carlos Stasi, na Can9iio Simples de Tambor, como sera mostrado a

frente. Na improvisa9ao, 0 compositor deixa, deliberadamente, elementos para a escolha do

interprete, no momento da performance. Considerar que uma obra e indeterminada pel a

liberdade do

interprete e

uma questao de grau de indeterminat;80 registrado na partitura . A

improvisa9ao acontece, quando este grau e elevado, podendo ser detectada uma inten9ao

deliberada do

compositor em

deixar certas decisoes   para

serem

tomadas pelo interprete no

momento da performaQce. Neste caso,

0

controle do produto final pelo compositor diminui e

0

inte

rpret

e pas sa a ser um

verdadeiro

co-autor da obra.

2. tNDETERMINACAO N CAN Ao SIMPLES DE TAMBOR

A obra

Can980 Simples de Tambor

euma boa referEincia para exemplificar as diferen9as entre

os

termos

discutidos

na

set;ao

anterior

  e tambem para

mostrar

como um

compos

i

tor pode

util iza-Ios como verdadeiros

recursos

composic ionais . Apesar do tema deste artigo s

er

indetermina9ao,

urn

primeiro aspecto a se notar e a grande preocupa9ao do compositor em

determinar

perfeitamente os

timbres. Mesmo propondo recursos pouco comuns, Stasi controla

o som produzido a partir de instru90es bern claras, como pode ser visto

na

partitura (Fig. 4).

Tambem a forma e cuidadosamente trabalhada e definida pelo compositor. 0 primeiro

movimento, par exemplo, possui uma estrutura ternaria ABC, com coda. (ver Anexo 1 .

Dentro desta organiza9iio bern rigorosa, surgem alguns trechos com indetermina9iio durante a

pe9a . 0 primeiro deles ocorre

no

pr6prio primeiro movimento (Fig.

2)

com a interprete tendo a

liberdade de

decidir

de

que

maneira

ira combinar os eventos

apresentados pelo

compositor entre

as compa

ss

os

24

e

30

e quantas vezes

ira

tocar cada

urn

deles. Vale notar que todos estes eventos

m n t ~ m

a frase inicial , porem ela vai ficando camuflada atras dos sons dos rim shots' que vao

sendo acrescidos.Assim, ha a presen98 de duas frases, uma deterrninada pelo compositor (a Irase

in

ici

al) e outra sobre a qual

0

interprete tern a liberdade de escolha

a

entrada dos

rim shots,) .

No segundo movimento F ig. 2 , h urn outro trecho de indetermina9iio. Stasi propoe que 0

interprete execute repetidas colchei

as,

tocando a

baqueta

da mao direita sabre a da esquerda,

enquanto

mantemesta sobre a pele.A baqueta da

esquerda

produzira

ritmos

irregulares, a

partir

dos rebotes produzidos pela pele. 0 resultado final euma simultaneidade de uma Irase ritmica

precisa, no caso, as colcheias, contra a aleatoriedade dos ritmos produzidos pel a baqueta

esquerda. 0 final do movimento ea aflrma9iio das colcheias, com a indica9ao pelo compositor

sem rebates .

2

r m

shot 

e

0

tenno normalmente utilizado para

se

referir

ao timbr

e

da cai

xa 

pr

o

duzido ao

se

tocar

com

a

baqu

eta simultaneamente

na

pele e

no aro

.

41

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ROCHA. Fernando. Indetetlflina9iiona obl1l

C a ~ o

Simples da Tam bor .. Per Musl  Seb Horizonte,

1f

4. 2001.

p.

37-51

can lB.o Simples de

tambor

1

( a r l Q ~ Stasi

t.n

0

J.

88- '

3 . •

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Fig. 2 - Carlos Stasi:

Can ao Simples de Tam bor-

primeiro e segundo movlmento$.

42

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ROCHA, Fernando. Indeterminaclo na obfa ~ i o Simples de Tambor Per Musi Belo Horironte. v.4. 2001.

31-51

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Fig. 2 - Carlos Stasi:

a n ~ a o Simpl

es

e Tambor

primeiro e segundo movimentos.

43

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ROCHA

  F

ll

m

ando

.

n d e l e n r W l ~ l1li obfa ~ de Tambof • ~ Mull. Belo HorIzontll

.

 

.4. 2001 .

p.

31·

5

No terceiro movimento (Fig. 3 aparece uma indicat;ao textual improvise sabre motivos

serne/hanfes . Estes motivos sao os timbres e ritmos produzidos com a bola de ping-pong.

Depois de apresentar varias possibilidades sonoras do uso da bola na caixa, 0 autor da liberdade

ao interprete de improvisar sobre eles, explorando este recurso inovador introduzido

na pe

t;

a.

o improviso funciona como uma set;ao de desenvolvimento, ap6s 0 qual e retomada a ideia

inicialmente apresentada no movimento, isto

e

a bolinha girando ao redor da caixa. Este

movimento introduz uma mudant;a de foco na percept;:ao da obra musical, trazendo fen6menos

nao necessariamente sonoros (especialmente

0

controle da bola girando). Porem, mesmo

estes fenomenos sao organizados a partir da sua resultante sonora e nao aparecem apenas

como efeitos teatrais.

o quarto movimento (Fig.

3

talvez seja 0 mais interessante para os objetivos deste artigo.

Nele acontece uma grande aleatoriedade no processo interpretativo. 0 interprete deve tocar

uma frase ritmica totalmente definida com uma vara de pescar sobre a caixa. Como a vara

e

muito flexivel, a

re

sultante sonora torna-se totalmente aleat6ria. Assim como no segundo

movimento,

e

interessante notar a simultaneidade de duas frases, uma determinada pelo

compositor (tocada pelas maos) e outra aleal6ria (vara percutindo na caixa). No decorrer do

mqvimento, 0 interprete passa a ter a liberdade para improvisar os ritmos com as maos, mas a

resultante

na

caixa continua aleat6ria. E a afirmayao da aleatoriedade, ao contra rio do que

aconteceu

no

segundo movimento. E nteressante notar, que

em

todos os exemplos relatados

ate aqui ocorreu uma simultaneidade de Irases ou ideias, uma determinada pelo compositor ou

improvisada pelo interprete e outra aleatoria . Conforme relato do proprio compositor, esta

si

multaneidade se assemelha a certos problemas

da

comunicat;:ao, provavelmente

jii vi

vidos

por todos nos. As vezes, uma mesma frase provoca diferentes entendimentos em diferentes

pessoas. Carlos Stasi, nesta obra, aproveita-se mu ito bern de recursos de indetermina

<;ao,

aleat6rios ou improvisat6rios, para transformar este aspecto da comunica<;ao em obra mu sical.

No quinto movimento (fig. 3 0 compositor radicaliza a busca de eleitos inesperados e apenas

propce que 0 inteprete sopre em direyao

a

caixa.

Ohservem a trajet6ria da pec;a desde 0 terceiro movimento. Primeiro, foj apresentada uma bola

de ping-pong, mas a caixa continuou a ser urn instrumento de percussao controlado pelo

interprete. No quarto,

0

interprete continua percutindo a instrumento, mas perde

0

contrale

sabre 0 resultado. Vale notar que neste momenta acontece, inclusive,

urn

distancjamento fisico

do interprete em relayao II caixa. Finalmente, no quinto movimento, ele desiste de percutir e

passa a tentar descobrir ate on de mais

0

instrumento pode chegar.

E

um movimento de

improvisa9ao, com importante papel do aspecta cenico, que conduz a uma reaproxjmac;ao

entre instrumento e instrumentista, marcada

pel

a aproximac;ao da hoca do interprete com a

calxa, para eletuar 0 ato de sopra-Ia.

Em contrapartida 0 ultimo movimento (Fig. 4) nao apresenta nenhum momento

de

indeterminayao. A sua estrutura e bastante clara, apresentando duas seyces com melodias de

timbres lacilmente detectadas pelo ouvinte.

0

compositor, depois de afirmar novas possibilidades

para a estrutura Yao musical, especialmente, nos movimentasanteriores, mostra que tam ham

nao nega seus recursos mais convencionais, ao empregar a ·caixa com sua sonoridade mais

comum (esteira ligada), uma lorma tradicional (ABA ) e melodias simples e de tacit entendlmenlo.

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3

~

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F

 

. 3 - Carlos Stasi;

Cancao

imples de mbor - terceiro, quarto e quinto movlmentos.

45

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7/18/2019 Num04 Full

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ROCHA,

FemMdo. n d e t e n n i n ~ n l

obra

~ o

Simple.

de Ta IIbor •• p . Mulll. Bela Horizonte

v

• 2001 . p. 37-51

rio .

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46

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7/18/2019 Num04 Full

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ROCHA. Fernando. I

ndetanninllltlo ,

obra

C'II#O

SimpWs hi

Tambot

.. Per Musl  Beb Horb:OI'lte, v 4 2001 . p. 37·51

6

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Fig. 4 Ca

rl

os Stasi: Cany80

Simples de

ambor sexto movimenlo

47

Page 48: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

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ROCHA

Femllndo.

n d e t e r m

~ na obra C .

SImples

de Taonbot ..

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Mu l

 

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Horilonte 

v • . 2001.

p.

3Ni

I n t r u ~ o e s

Fig  5 Carlos Stasi: Cancao SImples de Tambor i n s t r u ~ e s

48

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7/18/2019 Num04 Full

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ROCHA. Femando. Indetermlna<;ao nil obra

Cans; o

Simples de Tambor .. Per MusJ Belo Hori:z:onte. v

4

2001 . p 37·51

Concluindo, a obra apresenta varios exemplos de trechos indeterminados, tanto de improvisacao,

quanta aleat6rios. Carlos Stasi soube utiliza-Ios como verdadeiros recursos composicionais,

propiciando uma unidade

a

peca e possibilitando que, infinitas vers6es possam existir sem

comprometer a coerencia do seu discurso musical.

3

R E F E R ~ N C I S BIBLIOGRAFICAS

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ew

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9

Page 50: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

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ROCHA, Fernando. Indeterm

in

ar;llo

ria

obra Cancllo Simp/8 de Tll

mbor

.. PftrMusi. Belo HOfizonle. v.4. 20£11. p 31-51

4.

ANEXO

1:

FORMA

DO PRIMEIRO MOVIMENTO

I

e ~ i i o

A

22

33

o ~ a o

C

41

Coda 45

I

I

I

I

I

1 a 8blOl l 0 1314d 1

8190 2

12202324 f3031g3233h3637i3839j40 141 0 45

Caraeteristiea

de

eada se<;ao:

A -

Se ao

em compasso binario simples (2/4), dividida em 5 subse,oes:

a - Duas vozes bern definidas, com urn pequeno processo de condensac;:ao, a partir do

acrescimo de rim shots ;

b - Apresentac;:ao de uma melodia de timbres entre 0 aro, rim shot e centro da pele.

e - evento pianissimo, com um rulo seguido de sil€mcio e l Ima nota precedida por uma apojatura

dupla;

d -

subsec;:ao

que possui uma correspond€mcia com b, pois ha uma melodia de timbres

e

tambem um ritmo, que sao simplifica,oes dos apresentados em b.

e' - esta

subsec;:ao e

uma repetil;ao de c, porem, a ultima nota e tocada na borda, e nao no

centro da pele, em dinamica piano, nao meio piano.

B -

Se ao

com compasso temario simples (3/4), dividida em tres subse¢es e apresentado na

segunda subsec;:ao urn momento de indeterminac;:ao.

e -

subsec;:ao

que apresenta uma frase ritmica em

3/4

tocada no centro da pele;

f - aqui ha uma altera,ao da Irase inicial a partir do acn;scimo gradativo de rim shots . 0

interprete te

rn

a l i b e ~ d a d e de decidir como ira combinar os eventos, representados, cada urn,

por urn compasso desta

subsec;:ao. Vale notar que todos os compassos man.tem a frase

inicialmente apresentada em e porem ela vai ficando eamuflada atras dos rim shots  que vao

aparecendo. Esta s u b s e ~ a o funciona como uma transic;:ao entre e e g;

9 - consiste na repetic;:ao de urn grupo de sernicolcheias com 0 timbre do rim shor.

C - Compasso binario composto

6IB,

nao explicitado na partitura), dividida ern quatro subsel;oes.

~ interessante perceber que M um processo de diminui,ao do tamanho da Irase ate 0 seu

desaparecimento, em I.

h - Irase de dois compassos repetida uma vez; no total, 8 tempos;

i -

frase de urn compasso repetida uma vez; no total, 4 tempos;

j - Ir

ase de meio compasso repetida uma vez; no total , 2 tempos

I - silencio.

Coda - Compasso binario simples 214). A coda apresenta a volta do evento pianissimo c, da

sec;:ao A da pec;:a seguido por urn silencio e urn rim

shor

que surge de maneira inesperada,

encerrando este primeiro movimento.

50

Page 51: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

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ROCHA, Femsndo.

l n ~ o

na obra Co

nf4

Simples de Tambor er Musi

ee

lo Horizonte. 4. 2001.

p

37-51

Vi sao

geral:

Este movimento possui uma forma terniuia, com uma coda que retorna 0 mesmo evento que

fecha a sel;80 A. A prirneira sel;ao apresenta 0 recurso da melodia de timbres. A sel;8o a, 0

recurso de translormal'ao

de

Irase a partirda adil'ao de mais notas, alem de ser urn trecho com

indetermina98o, e a se980 C apresenta

urn

processo de dirninuil;ao do tamanho das frases. B

e C parecern existir como contrapontos urna da outra, a primeira formando e levando a

urn

grupo de notas agressivas repetidas e a segunda operando no sentido oposto e levando ao

silencio.

Fernando Rocha eprofessor de Percussao da Escola de Musica da UFMG. Bacharel em Percussao pelo Instituto

de Artes da UNESP, concluiu em 2001

0

seu mestrado em Musica pera UFMG, com a pesquisa improvisa98o

18

Musica Indeterminada: analise e performance de tras obras brasileiras para percussao .

5

Page 52: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

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Terra Selvagem

Lamentos

da Terra e Alternancias

o

componente octatonico

nas

ultimas

tres pe ;as

para

piano de

Bruno

Kiefer

Cristina Capparelli Gerling (UFRGS)

e-mail:

[email protected]

Resume: Tendo gravado a obra para piano solo de Bruno Kiefer, constatei a preSeny8

de

sonoridades recorrentes

cuja conformacao

co

incide com

0

conteudo intervalar das coleyoes octatOnicas. Estas configurar;oes intervalares

e

as

sonoridades decorrentes contribuem na fonnacao

de

urn universe sonoro caracteristico. Para defini-Io, mapeei

as gestos musicais de cada urna

das

Ires ultimas pacas para piano

erra

Selvagem Lamentos da

erra

e

Altemimciasutilizando

0

programa P C N ~ de

Jamary Oliveira. Esle texto

e

a resultado desta interpretar;8o ana litica.

Palavras-chave

:

Bruno

Kiefer,

analise musical, componente octat6nico, musica brasileira para piano,

performance

musical.

c

.0'-' .... . •

The oc"tatonic cdmpdmi

nt

in Bruno Kiefer s last piano pieces

. t : \ - - - ; 'f< ;:.4'ii

.... ;;.0,.

~ . ~ .

-

Ab'strac

t:=

O u r ing the recordIng of Bruno Kiefer's ~ 9 2 3 1 9 8 7 ) , o o n f p l e t e works for piano, I noticed that

the

musical

gesturesjn the

last three pieces :

Terra Sefvagem Lamentos da

erra e

Altemancias

shared a redundant

interval-content

appar

entlyrderived ·from octatonic pitch collections. Each

one

of these musical and pianistic

gestures yia§..parsed and "

map

p,.ed into octatoni.c subsets wi th the

o f ~ P C N computer

program designed

by

Brazilian cOmposes Jarrtary 0

t .:

eira (b.1944

).

The results shown' in this

paper

confinned

my

initial intuition

as

a

performer: , . N ;.:;

to.

' . :-:: _

Keywords:

-

Bruno

"Kiefer, . l l i ~

i c a l

analysis; Brazilian piano musicJ-

ictatonic

component,

music

performance

I - I n t r o d u ~ a o

  primeiro aspecto a chamar a atenr;:ao e a posir;:ao cientrfica

do

artista diante

da cr

iar;:ao arti stica;

o segundo,

0

acaso criador."

Bruno Kiefer

Brun-.i<iefer (1927-1987) foi urn compositor moderno plenamente conhecedor da cultura e

padroes vigentes no seu tempo. Sua musica continua despertando polemica pela aparente

f r a g m e n t a ~ a o

e d e s e s t r u t u r a ~ a o pelo clima de crise constante e urna perrnanente irresoluc;:ao.

Celso Loureiro Chaves destaca que 0 compositor nao aderiu ao serialismo utilizado por Luis

Cosme, nern se serviu da antropofagia demolidora de Armando Albuquerque. Na e l a b o r a ~ a o

de seu estilo, foi "buscar com esfor90 quase muscular a inspira9aO para plasmar em musica

urna originalidade que nern sempre soa natural, embera soe sempre individual , sempre

claramente identificavel como sendo Bruno Kiefer" .(CHAVES, p. 81).

52

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GERlING. Cristina Cappareli. Ten ll S.tv.gem

~ ' O

da T6fTI . Altemlndas Per Mu l.

Belo

Horizon\e.

Y.4.

2001. p. 52-71

No

coletivo de suas

c o m p o s i ~ e s

para piano, a

r e i t e r a ~ a o

de elementos ritmico-mel6dicos

baseados em estruturas delineadas de forma marcante

e

sem duvida,

0

denominador comum.

Estes gestos

re

iterados tendem a criar um conteudo ilusor

ia

mente homogeneo e cujo

a n ~ t e r

obstinado pode parecer obsessivo.

0

que de fato acontece a que as configura90es motivicas

de perfis distintos e individualizados sao agrupadas e reagrupadas, e por vezes transformad as.

Utilizando a metafora organicista, podemos dizer que em sua obra, Kiefer utiliza as

o r m a ~ e

motfvicas como col6nias de celulas. Estas celulas

n

, atraves de suas descendencias e

m u t a ~ e

ao migrarem de

uma

p e ~ a

para outra

determinam

a unida

de

estilistica

.

Compreender a complexidade estillstica da musica para piano de Bruno Kiefer atravas do

rnapeamento destas eelulas e evidenciar os elementos comuns na sua origem sao os objetivos

deste trabalho .

Bruno Kiefer tinha uma visao lucida da perspectiva hist6rica e dos processos cornposicionais

empregados por compositores deste saculo. Admirava e conhecia as obras de Debussy,

Hindemith, Bart6k. Schonberg, Stravinsky. Webern e Berg. No entant

o

nao e apenas na

busea de

i n f l u ~ n c i a s

deste ou daquele compositor que encontraremos 0 rumo de seu

pensamento musical. Sua individualidade estilfstica nao deve ser atribuida a busea do novo

ou inusitado,

porque os nossos composi

to

res bravamenta optaram pelo caminho ma

is

arduo,

ma is

comple

xo

e

(tambem) mais fertil: 0 da personalidada individual que se transborda em musica. E destes

compositores pessoais, destes compositores que filtram atraves de seus pr6prios olhos a

e x p e r i n c i a

cotidiana para transforma-Ia

em

musica, certamente Bruno Kiefer asia entre os

primeiros (CHAVES, 1983).

No

conjunto da obra pianfstica escrita entre

1956

e

984

(KIEFER,

1994,

p.

93-99;

inclu i

informa90es sobre a obten9ao de partituras) percebe-se a convivencia de sonoridades

aparentemente paradoxais.Algumas sao agressivamente dissonantes e asperas com contorno

e apresenta9ao decididamente

p6s tonal. Outras forma90es de esca

la s, modos ,

encadeamentos e interva

lo

s caracteristicamente consonantes trafegam no limiar da tonalidade

tomada no seu sentido mais amplo. A relutancia em abandonar

0

tonal a nltida nas primeiras

obras; ja na

Segunda Sonata 1959),

a agressividade articulada pela

dissonanc

ia e

estatisticamente dominante. Nas ultimas obras da decada de oitenta processa-se uma sintese

e 0

compositor

atinge um novo

patamar de c o n v i v ~ n c i a

entre estes do s elementos

aparentemente contradit6rlos.

Nas obras compostas ate

1969,

ano de composi9aO do

Triptico,

podemos observar as seguintes

caracterrsticas: uso de uma linguagem diatonica com doses moderadas de cramatismo e

lampejos de uma funcionalidade hann6nica como em r

es de Mo/equa

e

Poema para

i

(1956).

A dissoluyao das fronteiras entre consonancia e dissonancia pela

u t i l i z a ~ a o

de tons estranhos

agregados a acordes diatonicos ocorre nas duas peyas de 1957,

Toccata

e

Duas Pe(}as Serias.

A

Toccata

exibe

urn

grau de elevado virtuosismo, 0 compositor demonstra

urn

conhecimento

s6

1ido das pos

si

bilidades instrumen

ta

is contidos nos padrees de escrita pian istica.

0

cenario

des

ta

composi9iio e

urn

forte prenuncio do estilo que adotara nos pr6

xi

mos anos, mas asta

composi9aO ainda exibe uma continuidade associada

aDs

procedimentos do barraco, estilo

preferencial do compositor enquanto professor de hist6ria da musica.

53

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GERLING, Cristina C pparel ll, THTI S Iv.

pem, l

 menl da Terra e Altem.nciBl .. PfIr Mum. Bela Horb:oote. v.4, 2001. p. 52-71

o emprego consistente de motivos de contomos distintos e de repeti90es frequentes na

Primeira Sonata (1958), sua primeira composi9ao publicada para piano, passa a ser uma

possibilidade composicional. A sintaxe musical baseia-se no emprego de sonoridades

distantes, no uso de paralelismos cordais e na

u t i l i z ~ o

simultanea de mais de urn modo ou

regiao tonal. Obedecendo aos canones formais, utiliza-se de urn primeiro movimento de

sonata, urn segundo movimento de andamento moderado e cantabile   e, como ultimo

movimento, uma fuga finalizada par uma seC;ao de toccata.

o espa90 reservado as consoniincias e drasticamente reduzido na Segunda Sonata (1959), onde

o compositor opta por formac;oes cromaticas recorrentes dos intervalos de segundas, trftonos,

setimas e nonas nos tres movimentos que a integram. Nas passagens em cantilena, nota-se 0

uso

de sonoridades tradicionais desvinculadas dos canones

de

encadeamentos. 0 primeiro movimento

caracteriza-se pela eloqGencia, pela

e x p l o r a ~ a o de

registros extremos e pela emotividade dos

gestos pianisticos.Esta obra representa uma etapa importante na defini9iio de

um

perfil composicional

singular, pais a homogeneidade do

discurso do primeiro movimento

e

gradualmente substitufda par

gestos descontinuos e contrastantes de fragmentas reiterados, sabretudo no ultimo movimento,

ym tema com variayaes. 0 atonalismo da

Segunda Sonata 

ainda que ocasionalmente mesclado

de interferencias tonaisimodais,

e

retomado de maneira inconfundlvel

no Triptico

(1969), obra

fundamental para a compreensao estilistica das tres ultimas pe98S para piano solo de Kiefer - Terra

Selvagem  Lamenlos da Terra

e

Altemiincias - ,

que serno analisadas em detalhe neste artigo.

A

Influencla do Triplico

nas

tres ultimas

pe9as para

piano de

Bruno

Kiefer

Com 0 Triptico Kiefer volta-se novamente para a piano solo e estabelece seu estilo definitivo .

o ouvinte e continuamente confrontado com urn elenco de sonoridades alternadas entre

dissonAncias agressivas, insistencias desatinadas, sutilezas de colorido e articulac;ao que

redundam num ambiente tenso e de carater inquietante. Nestas tres pe9as, 0 compositor

retoma e transforma

t r ~ o s

marcantes ja esboc;ados na Segunda Sonata ao mesmo tempo

em que estabelece uma outra caracteristica igualmente definidora, qual seja, a explora9iio

dos

registros extremos

do

instrumento em

c o m b i n a ~ a o

com uma gama de dina micas

fortemente contrastantes.

0

resultado

e

uma simbiose admiravel entre a escrita pianistica e

a linguagem composicional. 0 primeiro movimento do Triptico conserva uma semelhanc;a

com a egunda Sonata na angularidade dos contornos mel6dicos, no gesto rapido e

descendente do registro agudo ao registro medio, na sucessao de oitavas no baixo e na

u t i l i z ~ o de canlilenas. Estes gestos estao identificados e incorporados nas tres

p e ~ a s

que

serao analisadas posteriormente neste texto.

Entre estes, salientamos, como pode ser observado no Ex.

1 0

usa caracteristico do intervalo

de tritono entre 0 primeiro e segundo compasso, D6-F8 (baixo em oitavas, linha inferior)

como contomo mel6dico, bem como padrees de tons e semitons nas oitavas (c.1-12, mao

esquerda, linha inferior), colocando em destaque os procedimentos preferenciais das suas

futuras composit;;oes para 0 piano. Oeste baixo em movimento cromatico, evidenciam-se

s e q ~ n c i a s de r ~ s e quatro semitons cromaticos. Ao migrarem para a melodia, estas seqGencias

de sons cromaticos formam passagens melismaticas nas vozes superiores, como no c.4: La

Lab-Sol-La-Lab e no c.7: D6-Si-Sib-Si e Sib-la-Lab (Sol )-La. Estas figuras melismaticas,

construidas em segmentos de semitons, isoladas

ou

agrupadas, recorrem em nlveis estruturais

diferenciados, nos

Trlplicos /I

e

11

bem como nas pe9as subseqOentes .

54

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7/18/2019 Num04 Full

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GERLING. r i s ~ n a

C pparelli T1T3

SaI\IagoJm. LamenID.

d

Tem A I t ~ .... ParMu

si

ilo Horizon

v.4. 2001.

52 71

I

Lvguh r,

J.60)

,

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I

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55

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b m

,

urnprt

pea

.

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GERLING. Cristina Capparelli.

TelTa Selvagem. Larnentos da Terra eAltem mCi/ls .. PerMusi.

Bela

o ~ o n t e

v

.4.

2001 . p. 52-

71

No segundo movimento, a figura melismatica compare com os c.4 e 7 mao direita do Trfptico

f

reaparece com

0

acresc

im

o de repeti90es e articula90es diferenciadas_ Estas destacam-Ihe

o perfi l e 0 carater contundente

   

~ a d o pela insistEmcia dos semitons vide Ex.2).

]

Viv

d

- I ~

t

I

em

po

~ ~

l l

,

IJ Jdii

r J ~

rJ

.II,

I 1

,

.

.

.

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.

.

.

I .

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f

Inar l  /;jdo

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J : . l ~ . ... .hJ .

> :>-

.J...

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. :

.:-.

j   t

cJ

>

,. ,.

>

>

> >

==j fl

Ex_2 - Figura melismatica modifica no Triptico _

Conforme observado nos compassos iniciais do r

ip/ico 11

vide Ex.3), a figura me lismatica

tem sua dur

ac;:ao

expand da e

0

carater transforma-se, aba

nd

ona

0

clima insistente em favor

de uma passagem plangent

e.

Este movimento sera recomposto em Lamentos da Terra , sendo

inequfvoca a coincidemcia de ideias, atmosfera e gestos musicais.

1 Procedime

nto

s Analiticos

o exame das tres pe9as selecionadas para este trabalho, Terra Selvagem, Lamentos

da erra

e Altern§ncias, demonstra que sonoridades recorrentes conferem um colorido especial cuja

r

esolU9aO

e indissociavel das decisoes de execuc;ao. Esta caracterfstica sonora fornece indicios

tanto para

0

analista, sugerindo que unidades motivicas do discurso sejam transformadas em

event

os

discretos, quanti f ic8veis e comparaveis, quanto para 0 executante, ao servir de

parametro para suas decisoes interpreta

ti

vas. As unidades motrvicas nas quais a analise se

56

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7/18/2019 Num04 Full

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GERLI

N

G. Cristina Capparell

i. T

erra S v g em

lamentos

dB

T

erra eA/t mllnd s Per Mu

  l.Be

la Horizonte. v.

4.

2001

.

p  52-71

]

-,

- - ~

~ A :

h ~ A ~ ~ j

t ~

 

~

;;

tr po

n

f

V

Omdi, '4piao pOJ,ry('/

--

,

Ex. 3

Figura

melismatica mod

ifica no Trlptico

If

 

apoia partem de decisoes interpretativas ou

seja

.

ap6s

a

convivencia

e

execUf

;ao musical

das

p e ~ a s

a e g m e n t a ~ a o proposta nesta analise coincide coma miriade

de gestos

musicais que

integram cad a urna

das

pecas .

Quanta aas procedimentas analiticas, adatamos camo panta de partida

s

farmulacoes de

BABBIT (1960) e FORTE (1973) com 0 abjetivo de revelar estruturas internas de maneira

diversa

da

urna ana l

ise

motivico-temati

ca tradicional.

0

compositor

e

pe

squisador Jamary

Oliveira desenvolveu a prograrna PCN  farmulada para a camputadar visando tabular os

seg rnento

s

numericos

e

estudar

os

processos de man

ipulacao

dos

conjuntos

de

classes de

natas (BORDINI, 1994).A

te

ar

i

das canjuntas, operacianalizada pela pragrama PCN mastrou

se

adequada

na classificacc30

e comparacao

dos

elementos

in

tegr

antes deste r

epert6

  o.

57

Page 58: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

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GER

LING. Cristina

CaPCHlrelli

T

eITa Selv6gem Umenlos

da Teff 

e AIIem ncias

..

er

Musi. Be

lo

H o ~ o n t e

Y4. 2001. p 

52-71

Na

cornposlc;ao

de

Terra

Selva gem

Lamentos da Terra

e

Alternancias

compostas

respectivamente

em

1971, 1974 e 1984, Kiefer adota alguns dos procedimentos, recursos e

sobretudo, gestos cuja genese remonta ao

Trlplico

(1969). Nestas obras, a u t i l i z ~ i i o do

seqGe

n

ciamento imprevisive

l

de

fr

agmentos

sonoros

contrastantes

contribui

para

a

gerac;ao

de

esquemas formais,

como e

0

caso da sonoridade diminuta de tres e quatro sons. AfreqGencia

destas ocorrencias, aliadas ao poder expressivo dos fragmentos formados par e r ~ s menores,

tern urn pape l determinante, tanto na dimen sao

horizonta

l qua nto

vertica

l do texto musica l A

s u p e r p o s i ~ a o

ou

justaposic;ao

de duas

formac;oes

diminutas de quatro

sons resu lta numa

sequencia escalar octatOnica (vide ExA) .

a)

~ > H U

E

x.

4 - Figura melismatica expandida e omamentada no Trfpt/co

III.

Como vista no ExA-b, a primeiro tetracorde D6-Re-Mib-Fa, e identico ao primeiro tetracorde da

uma

escala de menor, neste caso,

6

menor. 0 tetracorde Fa -Sol -La-Si l contendo

um

trltono,

corr

esponde,

neste

caso,

ao primeiro tetracorde de Fa menor. De

cada

uma das tres formac;oes,

a

ou

b

ou c,

derivam-se trIades

maiores

, men ores, diminutas e aumentadas ,

bem

como quatro

tritonos . Seus dois tetracordes de con teudo simetricos

conferem

-Ihe urna sonoridade especial,

seu numera

equiva lente de intervalos consonantes e dissonantes formam urn elo entre 0 tona l

e p6s-tonal.

A principal particularidade que distingue esta o r m a ~ i i o escalar e sua r d e n a ~ i i o em um padriio

recorrente de tom/semitom ou semitom/tom (LESTER, 1989; STRAUS, 1990). A c o l e ~ i i o de

oito sons resultante da

p e r m u t a ~ i i o

clclica e 0 conjunto (8-28) do qual extraem-se os

subconjuntos de sete, seis, cinco, quatro e tres sons explicitados no EX.5.

7·31

6·213 6·27 6 249 50 6 30 6 223

5 10 5 16 5 19

5 31

5 32 5 28

4 3 4 13 4 229

4 215

4 18 4 9 4 10

4 12 4 27 4 25

4 17

4 26 4 28

3 2 3 3 3 5 3 7 3 8 3 10 3 11

Ex.

5. Subconjuntos da

E

sca ta

O

ctatOnica

58

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GERLING Crisfina

C a p p a r e l ~

Terra Selvagem Lamentos da II Allem nciu.

. PM MuS;

. Belo

HOI1zonte

, v.4 , 2001 . p  52-71

Allen Forte descreveu 0 elemento octatonico na musica de Debussy, e ao faze-Io demonstrou

que 0

composit

or

nao usa uma escala octatonica, mas sim elementos extrafdos desta

forma<;:ao

aos quais nomeou de componente octatonico (FORTE, 1991). Assim como Debuss

y

Bruno

Kiefer utiliza-se deste componente, estabelecendo um universo octatonico nas tres obras a

seguir analisadas,

Ao afirmar que existe um componente octatonico, mostrarei que este e em grande parte

respons8vel pela cor e carater das composi<;:6es. Estas sonoridades caracteristicas coexistem

com outros con)untos de sons. Urn dos componentes de grande irnportancia e 0 que designo de

elemento Terra usado como pedal em cada uma das tres

pe<;:as.

Outros segrnentos cromaticos,

variados quanto ao numero, criam urn fater de contraste entre conjuntos ordenados de intervalos.

o

compositor altema sonoridades estruturadas com intervalos simetricos e sequencias nao

ordenadas de semitons. 0 componente octatonico

e

mais saliente em

Terra

Selvagem e em

Lamentos da Terra enquanto em Alterniincias a cole9iio (8-23) divide 0 universo sonora com a

cole9;;0 (8-28) . A natureza fragmentada e irregular dos gestos musicais e espelhada na

segmenta<;:ao do discurso musical em eventos discretos e quantificados em subconjuntos.

IV-

Terra Selvagem

Esta composiC;ao com 257 compassos delineia urn esquema ternario, mas a sequencia de

gestos imprevisiveis dificulta a percepc;ao imediata desta estrutura. Os fragmentos contrastantes

e a sequenciamento randomico de eventos constitui-se em sua caracteristica definidora . Este

pracedimento, aliado ao deslocamento dos fragmentos com rela9iio ametrica, confere a Terra

Se/vagem urn clima de angustia e aridez. Sua organiza<;:ao sonora baseia-se principal mente

em cole90es de notas e subconjuntos derivados de (8-28), distribuldos entre suas possiveis

formula90es. Os sUbconjuntos derivados de (8-28) estao presentes nas se90es exteriores (c.1-

50 e 210-257, respectivamente), mas tem um papel menos definidor na parte central da

composic;ao.

Ao priorizar 0 subconjunto de classe de notas (4-28), formado pelos mimeros integrais 0,3,6 9

e suas transposi<;:6es 0 compositor elegeu uma sonoridade coincidente em conteudo intervalar

com

0

acarde diminuta de quatro sons, como a sonoridade encontrada em maior numera e

ern

varios nfveis de ocorrencia nesta

composi<;:ao.

Esta organizac;ao de alturas tern uma sonoridade

distinta gracas a

ordena<;:ao

dos elementos em segundas menores e maiores , terc;as menores,

suas inversoes e

0

trrtono.

Ex. 6 - Gestos iniciais de

Terra Se

lvagem c.1-10.

1 Uma primeira versM do presents trabalho foi apresentado em um semfnlirio no Programa de P6s-Gradualf

i1o

em Musica da UFRGS em dezembro de 1995. Uma outra abordagem

e

apresentada por Luciane Cardassi

em: musica

de

Bruno Kiefer: MTerra , Vento e Horizonte e 8 poesia de Carlos Nejar . Porto Alegre, 1998.

Disserlacao (Mestrado em Musica) UFRGS.

59

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GERLING. Crtstlna Capparelli. Terra Setvagem.

Laman/os

da Terra e Altemlncil JS PerMust. 8el0

HO

rizon

ta

. v.4. lnOt p.

52

·

71

Nos dez primeiros compassos de

Terra Se/vagem

(vide Ex.6), os gestos rapidos e descendentes

delineiam sonoridades angulares e aparentemente desconexas. No entanto, os subconjuntos

derivados dos dez compassos iniciais: (3-8), (3-10), (4-27) e (4-28) e explicitados no Ex.7, sao

derivados de (8-28), sendo notavel a coincidencia na constitui<;ao intervalar das segundas

maiores, terc;as

maio res

e menores e

de

tritonos.

~ o

~

In

i

~ n

In

b .

0

in

~

n

0

&

3-8)

3-10) 4-27) 4-28)

Ex

. 7 -

Subconjuntos derivados dos compassos iniciais de

erra

Selvagem

Ao comparar OS conjuntos dos componentes octatonicos, coluna 2 ( octatonico ) do Ex.9, com

as dados das colunas 4 e 5 ( cromatico  e outro ), estabelece-se a presen<;a do componente

octatonico como ingrediente sonora basico neste segmento

da

pec;a. Embora coloridos

resultantes de uma composi<;iio intervalar diversa, tais como subconjuntos (4-1), (4-2), (4-4),

(4-8), (4-24) e (7-1), integrem a composi<;ao a partir do compasso 26, 0 componente octatonico

superp6e-se e justap6e-se

de

maneira indelevel. Denomino como pedal Terra , no quadro ao

lado (Ex.

9

representado pelo slmbolo X, a sonoridade formada par duas sequencias de tons

inteiros, Solb-Lab-Sib (3-6) e (4-21) Fa-Sol-La-Si respectivamente, e que emoldura esta obra

nos c.8 a 39 e 227 a 257 . Este forma um alicerce

no

registro grave e serve de suporte para

as

varias manifestac;oes do componente octatonica.

Como diagramado no quadro ao lado (Ex. 9), sequencias extensas de seis a onze semitons

diferentes ocorrem

de

maneira intermitente a partir do c.41. Varias destas passagens cromaticas

se interpolam entre fragmentos formadas por subcanjuntos de seis, cinco, quatro e tres so

ns

derivados de (8-28). Outras ocorrencias de subconjuntos formados par transposi<;6es de 0,3,6,9

tem 0 seu conteudo intervalar mostrado no Ex.8 (c.57 e 58).

\

I

4-24)

Ex.

8 -

Subconjuntos derivados de

8

-

28)

em

Terra

Se/vagem.

60

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7/18/2019 Num04 Full

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GERLIN

G, Cristina

Capp.llrelli. Tflf13 S ~ m Lamentos 0 Tef13

flA.l emAncias

.

..

PerMus;  Bela Horizonte, yA. 2001.

p  52-11

compasso

oClalonlco Terra

cromatico outro

1-7 3-8) 3-10)

8-15 4-28)

3-6) 4-21)

15-21 3-10)

22-25

3-8) 3-10)

26-31 5-28)

X

4-2)

32-35

3-8) 3-5) 3-3)

36-39 3-5)

X

4 3-5)

41-42

7-1)

43-44

6-30)

45 -47

5-32) 4-z29) 3-5) 4-1)

48-50

X

51

4-8)

51-54 4-9) 7-1)

54-57 4-9) 5-19)

57-58

6-z50) 5-25)

59-61

4 -24)

62 -64

3-1)

64-67

4-z15) 4-27)

68-69

6-1)

70

4-12)

71 3-5)

7 ·76

12-1)

77

4-4)

Ex. 9 Conjunt

o$

em

Terra Selvagem

c.1·71.

61

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GERLING. Cristina Capparelli. Terra Se vagqm 

Lemen os

d/l Tern

eAJtem nd/ls_

. Per Mu S .

Bclo

Ho

rizonte.

v 4 2001. p. 52-71

Justaposic6 es de acordes diminutos colorem as passage ns em cantilena

dos

c.6 -67 , 78-81,

155-160, 176-181 . Cantilenas const

ru

ldas com sonoridades diminutas caracterizam as

frequentes passagens

escritas

na regiao

media do

instrumento

como no Ex .10

.

,

,

,

,

n

,

.

Ex

. 10 -

Outra passagem

com subconjuntos derivados de

8-28)

em

Terra Se/vagem

Cabe, no entanto , ressaltar que

mesmo constatando

a frequente presenca de conjuntos tais

como 6-Z50), 5-32), 5-25), 5-19), 4-27), 4-17), 3-10) e 3-3), estas ocorrencias nao

evidenciam

processos

sistematicos de manipulacao de conjuntos. No decorrer da composicao

seqOencias cromaticas sao pontuadas par expressivas interjeic6es cujo conteudo

e

de ter9as

maiores e tons inteiras, tais como a sUbconjunto 4-24) . Este e derivado de 6-30), a escala

de

tons inteiras, como nos c.60 e 150.

o

compositor emprega tambem fragmentos mel6dicos cujo contelldo

in

tervalar distingue-s9

do

componente

octatonico propriamente dito

,

embora retendo alguns

dos

el

ementos

em comum

com subconjuntos derivados de 8-28). Trata-se dos conjuntos de

r e l ~ o

Z

2

em especial as

subconjuntos derivados de 6-Z3) e 6-Z36) nos compassos 109 e 111 .

Urn

outro subconjunto,

a 6-16) tambem exibe afinidade de contelldo intervalar como demonstrado

no

E

X 11

6-l3)

6 16

Ex.

11

- Subconjuntos relacio nados por Z

em

Terr8 Se/vagem 

2 Quando dois conjuntos tem

mesmo

vetor

intelValar

isto

e

m n t ~ m a mesmo

numero de

tons comuns na

operac;ao

de inversao este trac;o

comum reeebe a

nome de

relac;ao

Z. segundo

Allen

Fort

e. Compare par

exemplo {O 1 ,4,6} e {O 1 3.7}.

6

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GERLING, Cristna Capparelli. Tem SeivlJf}flm,

L.6m

fJllto& da Tem eAJtem ncies. . Per Musi. Bela Horizonte. Y.4. 2001. p. 52-71

Como pode ser observado no exemplo anterior, ainda que os diversos fragmentos tenham

contornos e identidades aparentemente distintos, seu conteudo intervalarorigina-se de intervalos

de segundas e ter9as menores. Este fato acresceas possibilidades de forma90es triadicas

diversas. Dfades formadas por semitons

em

dobramento de vozes pontuam a composi<;ao a

partir do c.96 e sao mediad as ocasionalmente por subconjuntos octatonicos. Este e

0

caso da

ocorrencia de

4

-3) nos c.112-113.

Terra Selvagem

conclui (c.227-257) com os subconjuntos

derivados de (8-28). Como nos compassos iniciais, estes gestos apresentados na forma de

contornos diminutos no registro agudo do instrumento sao projetados sobre 0 pedal

Terra

no

registro grave.

amentos

da Terra

Lamentos da Terra

(1974) tern 162 compassos. Como observado anteriormente, existe uma

coincidencia de desenhos e figurayoes entre esta composiyao e 0 terceiro movimento do

Triptico

(vide Ex.3), mas

Lamentos da Terra

e

de maior envergadura.

0

jogo de contrastes entre os

registros extremos do instrumento que inicia e finaliza

Terra Se/vagem,

transforma-se em urna

estrategia composicional consistente em Lamentos da Terra, conferindo-Ihe urn espectro

timbrfstico singular. Urn estudo detalhado das figurac;oes mel6dico-rnotfvicas revela urna

diversidade de figura90es insuspeitadas como demonstradas nos Exs.

12

a

19

a seguir:

P =

====

Ex 12 - Elemento

a:

Octat6nico, caracterizado pelo conjunto (3-3), aparece no decorrer da composicao

prefigurado pelos conjuntos 3-10), (4-12), (5-28) e (5-32). Da finalizacao de a emerge um novo elemento

que, a partir do c.20, adquire identidade pr6pria, a

b

So--- - -

 

- -  

,

.

.

~

'"

f

p

 

,fi/ .

.-

-

:

Ex. 13 - Elemento b: Octat6nico, caracterizado pelos conjuntos (4-13), (3-8) e (4-3). Estes subconjuntos do

elemento

b

derivam de (8-28).

63

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GERLING

, Cristina capparelli. Terra Selvagem

 

Lamen os

da Teflll

aAltem'ncJa

s. PerMII1i. Belo

Horlzon e, v.4, 2001. p.

52-71

.Iff

° ripdo ,

E

x.

14 - Elcmento c: Cromatico, originario do

Trfpitco 1If

este gesto ocorre tambem em Terra

Selvagem.

"='

9 -

 = - :

=

.1

-3)

. -m

P i

.

8 ~

Ex. 15 - Elemento TERRA: Octatonico, e 0 gesto mais saliente da composicao. Formado por sequencias

sonoras constituidas pelo subconjunto (3-3), 0 elemento

TERRA

soa inicialmente no

c.39

retornando posteriormente em eco no registro agudo, e 0 subconjunto (4-18). No decorrer da

composicao 0 elemento TERRA e parcial mente modificado, sua c o n f i g u r a ~ o pode ser descrita

como subconjunto (4-9).

Ex. 16 - Elemento

d:

Urn dos contra-motivos de

TERRA

(c.45-46, 56-57, 100-104). 0 conjunto 5-1.6) asia

conlido em(8-28), doravante descrito como (5-16) < (5-28), c.71-72.

64

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,

GERLING, Cristina Capparelli. T rra S /vagem,

Lemen/os ds T rra A n m ~ n c i a s ... Pcr Mu

s/.

e 10

HOlU:onta, vA 2001.

p

52-71

A I ~

J.

~ . :

:::=::

:

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - -  

~ ) J

·

. .

.

-

·

0

i

P

sllbito

A

·

. .

·

· ·

.

·

.

· ,..

,

~

·

.

Ex

.

17·

Elemento

e:

Eco do elemento

TERRA no

registro agudo do instrumento, a sonaridade priorizada

e

farmada dos subconjuntos (3·3) e (4·18)

<

(8-28).

p

Ex.

18 - Elemento f Constitufdo de diades invertidas e horizontalizadas, como breves comentarios apas

d

:

 

-

 :::-.

tempo

Ex 19· Elemenlo 3: Ofades cromaticas compactadas em oilavas.

A cole'Yao de notas forma

0

subconjunto (6-5).

de Kiefer par considerar esle elemento como uma assinatura do compositor, presenle em muitas das suas

pecas para piano.

6

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GERLING

Cristina

~ p p r e I Te

mB

SfIIwIg m, i menkn da THJB

eAJlemincia

:J

..

Per uf .

Beio

Horlzonta .4  2001. p. 52·1 1

Da s tres pe9a s aqui discutidas Lamentos da effa e a que ex

ib

e mais claramente uma forma

ternaria estruturada em exposicao

 

contraste

e

retorno.

como

se segue

:

C.1

a 38: Apresenta os elementos

a b c.

C.39 a 55:Ap

re

senta 0 pedal TERRA como base de

s u s t e n t a ~ a o

para

a

b c.

Primeira ocorrencia do

elemento

e transicao

para

a parte B .

B:

Compo

55

a 110: Apresenta

0

pedal TERRA como alicerce dos elementos d e, f e

k.

Comp.118 a 162: Retorno dos elementos a, b C e TERRA como em A.

No inlcio desta

p e ~ a

os elementos a e estabelecem 0 componente octatonico no qual se

estrutura

0

discurso. Este ambiente sonoro

e

confirmado pelo pedal

Terra

que nesta compos ic;ao

obedece a p o s i ~ a o de tons e semitons caracteristicos. Na

s e ~ a o

E 0 elemento d ecoa no

registro agudo sobre

0

pedal

Terra

operando uma

r a n s f e r ~ n c i a

gradual de registros, do medio

grave para

0

super-agudo . Embora ocasionalmente os elementos c f e ocorrem nesta secao .

o

elemento c cromatico e descendente, e contraposto a

f

e interrompido por e A partir do

c.100,

ha um a nitida aceleracao e intensificacao na utilizaeao do elemento e de forte colorido

octatonico no direclonamento para 0 ponto cUlminante que ocorre nos c.105-111 . 0 elemento

k

formado por dlades cromaticas articuladas no registro agudo, concorre para a intensa

dissonancia desta passagem. Urn subitopianissimo assinala 0 decrescimo de atividade mel6dica

e rltmica que coincide com a volta do elemento

a

ausente desde 0 compasso 55. Na parte

final, os elementos a, b c e TERRA retornam como em A permanecendo ausentes os

elementos d, f e k. 0 elemento e esta presente como eco do pedal TERRA. Das tres peeas

para piano aqui discutidas eem Lamentos da Terra

que

os subco

njun

tos actatonicos permeiam

o maior

num

e

ra

de

co

nfigura c6es moti

v

ica

s

contr

i

buindo

para

a estabelecimento

de sua

identidade sonora .

VI-   lternanclas

Escrita em 1984, Alterniincias e a ultima peea para piano de Bruno Kiefer. Nesta composieao

torna-se evidente que

0

compositor optou por gestos sonoros com menor indice de estridencia.

A d o ~ a o de urn vocabulario menos contundente revela-se nao s6 em determinadas e ~ o e s da

composicao

ma

s

pode

se r observada tambem na

coincidencia

en tre a sonoridade inicial e a

final, a

l

ade Sol-Re em quintas abertas no registro medio do instrumento e a mesma colecao

de notas no reglstro agudo

c.253).

0 material sonoro nesta composieao orlgina-se de dois

conjuntos de oito sons, 8-23) e 8-28), conforme explicitado no E

X.20.

66

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G

ERLING

  Cristina Capparel6. Temt

Selvagem. L_ro

de

T'm "

Alfemlnel s

',Mu$l.

8010 Horilonlc. v. . 200 1. p. 52·11

(

8-23)

(8

-28)

Ex. 20 - Cole¢es de oito

sons

8-23) e 8-28) em

Aftemancias

Os subconjuntos derivados das duas

cole<;6es

acima sao:

3

, 3-2 ,3-3 ,3-4 , 3-5 ,3-1 ,3-8 ,3-9,3-10 ,3-11

4 , 4-2, 4-3 , 4-5, 4-8,4-10 , 4-11,4-14, 4-16, 4-Z15

 ,

4 8 , 4-20, 4-23,

4-26 , 4-2r , 4-28 ,4-Z29 

5-1,5-7,5-9,

5 Z

2, 5-15, 5-19 , 5-25, 5-29, 5-31  , 5-32

6-1, 6-Z12, 6Z25, 6-21 , 6-33, 6-Z49

7-31 7-35

• denota s

Ubconjuntos

de 8-28 au me smo co

muns as

duas

o r m a ~ Q e s

o primeiro tetraco

rd

e do conjunto (8-23) e formado por uma o r d e n a ~ a o que alterna tom e

semltom, iniciada pelo tom inteiro. 0 segundo tetracorde deste conjunto apresenta um a

sequencia de quatro semiton

s,

perdendo, portanto, a simetria estrita. Como

0

conjunto

(8-28)

mant

em

es trita

a sim

et

ria

entre

tons e

semitons

a c o m b n ~ o destas

duas

cole90es

permite

a n s e r ; ~ o de sUbconjuntos diatonicos cromaticos e octatOnicos no discurso mu sica

l.

A

coincid

E, ci

a entre 0 primeiro tetracorde do conjunto (8-23) com 0 primeiro tetracorde

da

escala

menor e signifrcativa, pOis este super conjunto (8-23) contem 0 subconjunto (7-35) , ou seja,

uma

das

forrna s

da

ascala

manor natural.

Nesta compasicao , co

nforme

sugerida no

tftula

a forma resulta da alternancia entre 5e-;6es

co ra

is

segmentos de notas repetidas

e

gest05 angulares contrastantes

.

0

E

 

21

mostra como

a primelra ocorrencia de cada uma des as

s e ~ 6 e s

se sucedem.

67

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7/18/2019 Num04 Full

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GERliNG,Cristina Capparelli. T e n a ~ Lamen/o dfl Temr aAlremtncias. .

PfH

Mus Bela Horizonle Y• , 2001 . p. 52-7

t

C.1-8

C.9-20

6-33)

Coral I 8-23)

>

7-35)

>

6-Z25)

4-23)

3-1) segmento cromatico de notas repetidas

4-28)

e

a elaboracao resultante do componente

octatonico

no

nivel

medio

4-28)

..

3-1)

3-1)

--

.--/

3-1 )

C.21-22 5-19) < 8-28), 8-23)

3-1)

Ex.

21

-

Ocorrencias de

subconjuntos

nos

c.1-22

de Alte

mancias

Como explicitado

no

Ex.21,

0

coral dos oito compassos iniciais estrutura-se no conjunto 7-35),

u

subconjunto de 8-23) que coincide com a lonma natural da escala menor, neste caso, Sol.

A passagem cromatica de notas repetidas enlatiza segmentos agregados por semitons no

nlvel imediato c.9-20), mas 0 resultado no nlvel medio e

u

contomo baseado no subconjunto

octat6nico 4-28), indicado pelas notas de maior valor no Ex.21. Este trecho

e

seguido de uma

passagem c.21-22) cujo conteddo intervalar 5-19) e

derivado de 8-28). Embora este

subconjunto tambem laca parte do conjunto 8-23), opto pela derivaciio a partir do conjunto

octatonico

pois seu

conteudo

intervalar trftonos e quartas emais compativel com esta formacao

escalar. Cada seyao

de notas

repetidas

e

inallzada ou mediada

por

gestos formados

por linhas

angulares arpejadas

como

no Triptico

11

e

em

Lamenlos da Tena   Estes gestos rem iniscent

es

do elemento de Lamentos da Terra, sao

u

claro exemplo da migracao de elementos de uma

peca para outra.

68

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7/18/2019 Num04 Full

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GERL1

NG, Cristina Capparelli. Tena

Se vs

gBm

s

mentos

da

Tem

e A J t

m ~ n c i s s

Pf r M

usi. Belo Horizonte. 4, 2001 . p. 52-7 1

As

sec;aes corais nas

suas primeiras entonaQ5es sao

diatOnicas

e modais , sua

c o n d u ~ a o paralela

de vozes imprime-Ihes urn carcHer solene e

reminiscente

do cantochao (c.1-8 e 23-32).

No

decorrer da c o m p o s i ~ a o tornam-se mais dissonantes pela utilizac;ao simultanea de conjuntos

em rna

is

de

um

nivel

de

t r a n s p o s i ~ a o

Na terceira ocorrencia da

textura coral

c

.57-68) ,

0

preenchimento das quintas resulta em falsas relacoes entre os acordes, relembrando 0 clima

de inquietude de Terra Se/vagem e Lamentos da Terra  quarto coral , dissonante no seu inicio

c.1

09-113) , prossegue utilizando figuracoes taticas e conteudo intervalar de triades maiores

do subconjunto (4-27). A s e ~ a o conclui com a u t i l i z ~ o

de uma

c o l e ~ a o de

sete

sons ,

subconjunto 7-31), nos compassos 121-124, numa reafinmacao do componente octatonico.

Nesta passagem, os subconjuntos 4-3), 4-27), 4-28) e 6-27) confirmam a predilecao do

compositor pela sonoridade resultante da disposicao altern ada entre tons e semitons.

o

pedal Terra

ainda

nao

utilizado

nesta

composic;ao, ocorre em dezoito

compassos a partir do

c.175 e a cromatico como em Terra Se/vagem Pairando sobre este pedal destacam-se os

gestos arpejados e angulares, construldos com subconjuntos 5-29) e 3-10*). ultimo coral

sofre uma transformacao quando uma cantilena plangente, executada pel a mao esquerda,

ocupa registro

grave.

Amao direita

executa que

resta do coral numa

sucessao de sonoridades

consonantes e dissonantes c.219-240). Asuperposicao das duas texturas ocasiona a rapida

sucessao de subconjuntos

octatOnicos, diatOnicos e

cromaticos

.

Ainda que sec;6es de

colorido agressivamente dissonantes

integrem esta obra

,

tanto

os

compassos iniciais quanto

os

compassos

finais

de

Alternancias

apontam para uma

modificac;ao

no estilo composicional do autor. A disposicao e a combinacao dos subconjuntos derivados de

8-23) e 8-28), associ ados com a ampliacao do espaco reservado para passagens cordais,

conferem

a

esta

obra

urn

estilo

rnais

consonante

,

as frases tornam

urn

contorno mais

ameno

e

os

gestos

abrandam-se.

Alternancias finaliza em uma

s e q O ~ n c i a

de

triades

cujo conteudo

intervalar 3-11) e 4-26) pertence as duas fonmaelies de oito sons 8-23) e 8-28), sobre as

quais a obra esta estruturada. Esta obra se destaea das demais pecas pelo conotacao afinmativa

e triunfante do seu final.

VII-   oncludo

As tres pecas estudadas passaram por um completo mapeamento de seus fragmentos e

configuracoes, cada gesto de execucao foi transfonmado em conjuntos e subconjuntos de acordo

com

0 sistema proposto por FORTE 1973). programa PCN de Jamary Oliveira mostrou-se

uma ferramenta de grande utilidade e aplieabilidade neste repert6rio. Este programa penmite

agrupar e classificar dados aparentemente desconexos ou divergentes, permitindo seu

processamento e possibilitando sua compara9ao. Como aludido anteriormente , a percep9ao

do componente

octatOnico na musica de Bruno Kiefer

surgiu

prime ra mente da escuta de

sonoridades recorrentes e posteriormente

da constatac;ao das

freqOentes ocorrencias

de

subconjuntos de 8-28) durante 0 mapeamento das pe9as escolhidas.

Dos subconjuntos ordenados, 4-28), ou seja,

0

acorde diminuto pr6priamente dito, e

0

que

tem sua presen9a definidora mais frequente, bem como 5-25), 5-19) e 4-27). Outros conjuntos

nao ordenados como 5-10), 4-10), 4-3) e 3-10), os dois ultimos em especial, sao ingredientes

basicos

no

discurso musical. Ainda

que estes subconjuntos de

quatro

e tres

sons

p e r t e n ~ a m a

varias outras colec;6es, a Interpretac;ao octatonica

e

mais condizente com seu

contorno

69

Page 70: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 70/83

GERLING 

r l s ~ n a Capp.areIW. Til

Selvagem 

Lamflnlos de

TfImI

fl Altflmlncias er Musi 

B

flk

H

omonte,

4  2001.

52-71

caracteristico e

com

a

frequencia de

ocorrencia.

Conjuntos simetricos

nao

produzem formas

inversionais

distintas,

ao

contrario,

as

formas

produzidas por inversao

sao

coincidentes com

as geradas por transposiyao. 0 conteudo intervalar

restrito

e a equ

iv

alenc ia de transposit;oes

e

inversoes

contribuem

para

a qualidade

harmonica

aparentemente

estat

i

ca

deste repert6rio

.

o

entanto e inegavel 0 papel relevante que 0 emprego destes subconjuntos imprime

na

determinayao de caracteristicas sonoras . A relayao entre

resultado

sonora e as propriedades

exibidas nas coley

6es

de

sons selecionadas

fica evidenciada no resultado do

mapeamento.

Apesar da present;a inequivoca do componente

octatOnico,

nao posso afirmar que este seja

resultante de

um

planejamento pre-composicional,

nem

que 0

compositortenha

conscientemente

se utilizado de urn sistema

especialmente

construido. 0

material contido no

discurso musical

enseja uma analise

por segmentat;ao.

mas

nao

ha

indicios

de

que

estes segmentos fayam

parte de um sistema pre-estabelecido  Mesmo que 0 usa do componente octat6nico possa ser

constatado tanto pelo ndmero de ocorrencias quanto pela localiza9ao em pontos culminantes

e de grande expressividade considero-o mais como resultado de escolhas sonoras nao pre

determinadas . Seria temerario insistir

em

uma premed itat;ao enquanto formulat;ao

num

erica e

pre-compos icio

nal  

pois 0 compositor

privilegia a

qualidade sonora

dos fragmentos

mel6dicos

e certos

padroes da configurayao

do

teclado,

ma

is

do

que

os

processos de

elaborayao e

transforma9ao do seu conteddo intervalar. Isto fica evidenciado na transposi9ao do Triptico 11

para Lamen tos da

erra

; a coincidencia de conteudo entre as duas peyas nas qua

is

0

componente

octaton ico faz-se

presente de maneira mais marcante, aponta para uma predilet;80

sonora inequivoca. A utiliza9ao de componentes estruturados por forrna90es simetricas em

combina9ao com outros nao estruturados resulta em linguagem identificavel e propria. Os

fragmentos ritmico-mel6dicos e de contornos marcantes se cruzam e se interceptam na

determina

y

80 de uma

narrativa musical

dramatica e expressiv8.

Ao determinar

0 papel exercido pelo componente

octatOnico

nestas tres peyas, nao 0 fiz pelo

componente

em si,

mas

como

uma maneira de

explicaro colorido

especial que este

Ihes

confere.

A confluencia

entre

consonancia e

dissonancia

encontra um ponto

de equilibrio nesta

formacao

escalar e

e

com

este

elemento

que 0 compositor articula

seu

discurso entre 0 tonal

e

0

p6s

tonal.

Se

0

u n i v e r s ~ octatOnico contribui para

0 clima

de incerteza e inquietude associado as

formula90es sonoras tambem possibilita sua explica9ao e justificativa.

Estas conclus6es

 

fundamentadas em informayoes

analiticas orig inam-se

da experiencia

renovadora da

execuyao .

Muitas das

intui¢es

do ponto de

v

is

ta do

interprete foram confirmadas

pela analise  enquanto outros novos aspectos e fatos se revelaram atraves do estudo do c6digo

e passaram a integrar 0 meu entendimento destas pe9as. Sem ida aspecto mais

preponderante deve-se

a

oportunidade de ter gravado toda obra para piano solo de Bruno

Kiefer  podendo emitir um jufzo a partir dos elementos comuns e contrastantes do seu todo .

Duas destas pe9as Lamentos

d

Terra e ftemancias aguardam boas edi90es de performance.

7

Page 71: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 71/83

GERLING, r i s ~ n a Capparelli . T Ifr I

SeIvIgMI

Lamen/os da Tamt eAllemlncitJs . . er

Mus . Belo

Horizonte,

v.4 

2001.

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STRAUS, Joseph.

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Cristina Capparelli

Gerling

, M.M., D.M.A. pianista e pesquisadors, eprofessors titular de p iano e orientadors de

mestrado e doutorado em praticas interpretstivas na Universidade Federal do Rio Grande do Sui. Com a t u a

~

slgnlflcatlva na vida musical e academica do pais, tern publicado regularmente sobre analise musical no Brasil e

nos Estados Unidos. Recentemente lancou 0 CD Musics Lstino-amaricanapara Piano na serie INTERMUSICAS

e organizou a publicayao da serie 5 dos Cademos de Estudos Trds Estudos Analiticos: Villa-Lobos Mignone e

Camargo Guamieri

do Programs de P

6s

-GraduaC8o em Musica

da

UFRGS.

7

Page 72: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 72/83

Os Phases Warm-up Exercises de Diana Gannett:

apresenta(fao e

extensao

as

cord

as

orquestrais

Sonia

ay

UFG)

e-mail: [email protected]

Resu mo : Performance Musical: revendo a lecnica atrav{,s da abordagem metodof6gica,

e

a pesquisa que

desenvolvo no Programa de P6s-Gradua.;ao Stricto-Sensu da Escola de Musica eArtes Cltnicas da Universidade

Federal de Goias (EMAC - UFG). A pesquisa tern por objetivo rever e mapear a literatura para a ensina de

performance musical mais utllizada nas universidades brasileiras.

com enfase nos

EPMs - Elementos da

f>crfomance Musical e em procedimentos metodol6gicos informais adatados pelos performers-educadores, na

tentativa de detectar e organizar procedimentos que possam ser incorporados

a

iteratura tradicional disponivel

para a performer musical brasileiro, em particular, para 0 instrumentista de cordas. Esle artigo apresenta um

desses procedimentos: as

Phases Warm·up

Exercises, elaboradas pela Profa. Ora. Diana Gannett, da University

of Michigan, EUA.

as

exercicios sao aqui apresentados nao s6 como uma

p ~

para aquecimento estendida as

cordas orquestrais, mas principalmente como uma proposta de integra'lso do estudo tecnico 80S varios oulros

aspectos que a performance musical compreende.

P a l a v r a s ~ c h a v e

performance, cordas, metodologia, educa'lso musical, contrabaixo, esporte, Diana Gannett.

Djana' Gannett s Phases Warm-up Exercises: :?

presentation and extension

to

string instruments

Abstract

Musical Performance: reviewing technique from a methodological approach

is a research project I'm

currently working on at the School of Music and Drama of the Federal University

of

Goias Graduate Program. The

research aims at reviewing and mapping the literalure on musical performance most used in Brazilian universities,

emphasLilng the·EMPs - Elements of Musical Performance and informal methodological approaches adopled by

performer

 

educador

s.

an attempt .to select and organize procedures that can be used along with the

available literature· for Brazilian perfortners particularly for string players. This article presents one of Iheses

procedures: tiJe

Phases Warm-up Exercises

by Dr. 'Diana Ga'nnett, Professor

of

Double Bass at University

of

Michigan.

The

exercises are presented not only as an option for

warm·

up extended to all orchestral string

instruments ;-l5ut-also as a path 10 increase the musician's awareness of the interaction Involved in technical

·studies and many-other aspects required in a musical performance.

Keywords

: performance,_strings, method, music education, double bass, sport, Diana Gannett

I - I n t r o d u ~ a o

No processo de preparar aulas para instrumentistas de extensao, gradua

y

80, a p6s-gradua

y

8o

na

Escola de Musica e Artes Cenicas da Universidade Federal de Goias (EMAC-UF

G

a

am

contato com varios performers-educadores em congressos e festivais de musica no Brasil e

nos Estados Unidos nos ultimos sete anos, constatei que sao poucos os estudos disponiveis

que focalizam os varios elementos que interagem durante uma periormance musical. Estes

elementos, que chamo EPM - Elementos da Performance Musical, compreendem aspectos

fisiol6gicos, conhecimento do conteudo (que inclui 0 texlo musical e suas multiplas abordagens),

72

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7/18/2019 Num04 Full

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RAY on a. Os

Phases

WMI HIp Exercise de OlIn Gannett. .. Per Mu  i. Bela Horizonte. v.4  2002. p. 72-80

aspectos

tecnicos,

psico16gicos e

neurol6gicos.

Eno processo de

intera

eao destes elementos

que aspectos como expressividade

e

musicalidade podem

ser

traba

lhados.

Poram ,

tais

interaeoes quase sempre

sao

abordadas

de forma

inconsciente (por vezes

inconsistente) ,

ou

atraves

dos chamados

'segredos profi

ssiona

i

s'

por performers-educadores,

uma especie de 'jeitinho' de cada professor, frequentemente apresentados em forma de

apostilas e

roteiros

para uso exclusivo de seus alunos , levando-os a descobrir 0 que livro de

tecn

ica algum descreve: a essencia· da performance . Tal material quase sempre reve la

caminhos

comprovadamente p o s i t i v ~ s (tendo

em vista

0 desempenho dos aJunos) para 0

preenchimento de lacunas existentes na literatura de tecnica para 0 performer. Os EPMs e

suas multiplas abordagem sao a foco principal da pesquisa

Performance Musica/: revendo

a

Mcnica atraves da abordagem metodo/6gica,

que desenvolvo no Programa de P6s-GraduaC;ao

Stricto-Sensu da EMAC - UFG. Este artigo e

0

primeiro de uma serie de publicac;6es que

pretendo preparar com resultados parciais do projeto.

II -   sFases: urn breve hislorleo

As

Fases

foram

elaboradas pela professora Diana Gannett, doutora

em

contrabaixo, na classe

de Gary Karr, pela Universidade Yale, onde foi tambem professora. Gannett apomorou as Fases

durante os anos de 1993 a 2000, e atualmente e profes

so ra

de contrabaixo na Universidade de

Michigan, EUA. Nas Fases, Gannett aborda alguns fundamentos da performance das artes

marciais aplicados

a

performace musical. As Fases

(Warm-up Phases Exercises)

sao uma

compi/aeao

de

exerclcios

de

aquecimento

fisico-corporal

,

mental

e tecnico di

recionados

ao

contrabaixista

. Apesar de

envolverem

basicamente escalas, arpejos e exercfcios de resistencia

mUSCUlar

as Fases apresentam uma estrutura de complexidade crescente a cada nivel exigindo

que 0

instrumentista

repense

  a

maneira

como

executa

tais

tarefas

diariamente

e entre em cantato

com

aspectos

fisio16gicos e

psicol6gicos,

ao mesmo tempo em que sa prepara tecnicamente .

Gannett

extraiu

dos Bass Class Exercises de Gary

Karr 0 embriao das

Fases. As experi€mcias

de Karr moslraram, afirma Gannett, que um bam aquecimento, alem de permitir que

0

aluno

se concentre em como tocar, pode

surpreender

com a "quao rapido

pode

ser a

progresso

em

forc;a

muscular e

r e s i s t ~ n c i

fisica dos alunos.

Em

grupos de alunos que apresenlam diferenc;as

em nlvel tecnico, as Fases se mostraram um elemento de estudo individual capaz de equilibrar

lais diferen,as (AARON e GANNETT, 1994, p.18).

Apesar

das Fa ses terem side

elaboradas

com

0

objetivo principal de

serem exercicios

de

aquecimenlo, elas podem tambem ser utilizadas paralelamente aos metodos ou livros de estudos

como exercicios de tecnica. Importante e sempre considerar a proposta das Fases de ver

0

instrumento

de

uma maneira integrada ao funcionamento do

corpo

e a consciencia das

dimensoes

do ins

trumento,

evitando, sempre que possfvel, °convencional e pre-conceituado ',

como se nota claramente na

insistencia

de Gannett

em

evitar a

escrita

co

nvencional.

As Fases sao aqui apresentadas com possibilidades de aplicac;6es aos instrumentos de cordas

frlccionadas, po s

lidam

com principios

basicos

da relaeao corpo-instrumento e com a

coordenaeao

da mao

esquerda

no

espelho, razoes pelas

quais acredito

que grande parte

de

seu

conteudo,

a certamente a

totalidade

de

seus

conceitos,

sejam

de

extrema

relevancia para

instrumentistas

de cordas em gera .

73

Page 74: Num04 Full

7/18/2019 Num04 Full

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RAY Sonia. Os Phases

W8nt1 UP

Exercises de Diana Gannett ..

Per

Musi.

6910

Horizonte,

v

2{)02.

p.

72-80

III As Fases: 0 conceito

Domine

0

instrumento e toque qualquer musica,

em

qualquerestilo que voce queira. Como? Primeiro

encontre

0

foco central dos aspectos fisico, mental e tecnico relacionados a tocar. Num born

aquecimento, aspectos fundamentais da pratica instrumental sao exercitadns criando f o r ~ a muscular,

resistencia e velneidade nas duas maos, ao mesmo tempo em que se desenvolve uma compreensao

intelectual dos principios basicos da disciplina. Domine ou internalize os fundamentos e entao a

mente estara livre para considerar a mUsica. Existe urn numero limitado de coisas em que se pode

prestar atencao ao mesmo tempo.

a

sistema de Fases oferece ao estudante uma maneira objetiva e

sistematica para que ele mesmo possa cuidar dos aspectos tecnicos do seu desenvolvimento ..

Todos

os

exercfcios sao r a z o a v ~ l m e n t e curtos esperando-se eom isso qua sejam lotalmente

dominados... Tenha em mente que 0 desejo de tocar musical mente e a razao para que sa astude

tecnica, nao 0 meio. (GANNETT, 1997.)

As palavras de Gannett estao repletas de lundamentos emprestados das Artes Marciais e

aplicados amusica. Nao e coincidencia. Diana Gannett e faixa preta em Ai-ki-do e admite que,

amedida em que se consolidavam num sistema, as Fases revelavarn certos valores que forarn

emprestados das Artes Marciais, ainda que ela nao tivesse esta n t e n ~ a o Muitos destes valores

sao discutidos pelo treinador olfmpico de ginastica e levantamento de peso Charles Staley, que

coloca 0 preparo ffsica e tecnico como candic;:oes primarias para 0 aprendizada da 'disci

pi

ina',

seguidos da prepara<;ao tatica e psicol6gica.

0

atleta de disciplinas marciais e chamado de

'martial artist'. Staley entende que a tecnica nao seja a objetivo linal deste 'artista' mas sim a

dominio da tecnica com 'habilidade artistica' (STALEY, 1999, p.6).

Pesquisas recentes mostram que as atividades de rnusicas e atletas tern mesma muita em

comum_ Ambas envalvem um [aquecimento e)'treinamenta muscular, que inclui longas haras

diarias de pratica visando,

em

geral, uma apresentac;:aa publica onde deverao mastrar habilidade

e e f i c i ~ n c i a (ANDRADE e FONSECA, 2000, p.120)

Gannett nao

56

ressalta a importancia dos aspectos fisico, mental e tecnica relacionados a

tocar urn instrumento com fundamentos emprestados das artes marciais, como tambern propoe

que se identifique e se domine os elementos que interagem durante uma performance artfstica.

Porque as Fases estao fundamentadas em principios artfsticos, e integram varios aspectos

destes princfpios, eu as chama de Fases lntegradas.

IV • As Fases:

0

conteudo

as exercicios apresentados nas Fases incluem escalas e arpejos que sao reconhecidos hit

muito tempo como fundamentos de uma boa tecnica. Sao certamente a fonte de material para

toda a musica tonal e, ainda que questionavel, para a atonal tambem  (GANNETT, 1997). Hii

tambem estudos para resist;;ncia e agilidade da mao esquerda e para

afina9ao.

Varias

c o m b i n a ~ 6 e s de arcadas e

digitac;:oes

sao sugeridas nos exercfcios, proporcionando constante

atenc;:ao

a

o o r d e n a ~ a o

dos movimentos das maos.

v As

Fases

: a estrutura

As Fases sao divididas em oito grupos de exercicios sendo uma Pre-Fase e sete Fa ses. Cada

fase

organizada

com

urn

mfnimo de material escrito

1

folha por

Fase porem,

7

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7/18/2019 Num04 Full

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RAY 

Sonia

Os ~ W W

8nIH Ip ardw de Diana Gamett

Per

s  8aIo Horizonle v 4 2002 

p  72.. 0

propositadamente evitando-se

0

uso da escrita musical como uma forma de sugerir ao musico

uma maneira nao-convenclonal de 'pensar'

em

seus exercicios diarios. A Pre-Fase aborda

postura, relaxamento, equilibrio e sensibilidade ao usa do arco. Cada uma das sete Fases

inelui exereleios de esealas, arpejos, agilidade da mao esque

rd

a,

afina9ao e golpes de ar

eo.

No

vas exercicios de resistencla sempre sao introduzidos a cada Fa se. Alem disso, a diferem;a

basica entre uma fase e outra e a fo

rm

a como as exerciclos sao organizado

s.

Nas Fases 1 e

2,

por exemplo, nao ha

m a r c a ~ a o

de metronomo para as escalas. Na Fase 3

c o m e ~ m

os

exercicios mais complexos, utilizando cordas duplas e da Fase 4 em diante, as escalas sao

exploradas em todo a espelho, inclusive com 'formatos' variados de dedilhado para a capotasto.

As Fases 4 a 7 incluem a p l i c a ~ 6 e s mais complexas de escalas e arpejos, alam de mais

exercicios de a f i n a ~ a o resistencla muscular e agilidade. No casa de iniciantes, os exercicios

podem ser diluidos e simplifieados

.

(GANNETI, 1997)

Existe uma

r e l a ~ a o

entre as sete Fases e as faixas das artes marciais - as niveis sao

progressivos porem equivalentes. Na pratica das artes marcia s, a passagem de uma faixa

pa

ra

a autra da ao artista-atleta urn profunda reconhecimento de seu crescimento, a rnedida

em

que ele domina eertas habilidades e esta apto a aprender outras. Porem, ele nunea pode

deixar de praticar seus 'fundamentos' . Cada vez que ele retorna a urn fundamento dentro de

uma determinada faixa (nao importa a nivel), ele rev6 aquele fundamenta de maneira mais

experiente, tornando sua a t u a ~ a o rna is eficlente.

Muitos instrumentistas de carreiras consolidadas fazem usos de alguns destes fundamentos.

Antonio Meneses afirmau, durante uma

masterelas

s ter tadas as problemas de area que tinha

desde que eome90u a taear vialoneela, 56 que no momenta eles estavam em autro nivel

(MENESES, 1991).Apesar de naa

re

eeber treinamenta em artes mareiais, a ide

ia

de Meneses

cabe perfeitamente no principia das F a ~ e s Ele certamente entende

0

valor de revisitar os

fundamentos da tecnica nurn processo clclica. ista exatamente 0 que as Fases prap5em. Ao

final da Fase 7, opr xlma passa sera retarnar a Fase 1 [au para Pn;-Fasej.

o material abardada neste estuda inclui ate a Fase 3, afereeenda material sufieiente para urn

aquecimento diario variado e para enriquecer a f a r m a ~ a o e manutenyao de uma base solida

no instrumentista de cordas. Descrever tadas as sete Fases seria inviavel para a extensaa de

urn

artiga. Parem, para que

se

tenha uma ideia de como os exerelcias sao arganizadas e seus

abjetivos, vejamas como esealas, arpejas, agilidade e resisteneia f isiea sao abardadas.

V,1 - Escalas e

arpejas

Cada urna das sete Fases inclui escalas e arpejos (maiores, menores, diminutos e aumentados).

As escalas abardadas nas tr6s primeiras Fases sao estudadas seguinda a cic

io

de ter9as,

valorizando, assim, os aspectos de continuidade e

i n t e g

r a ~ a o inerentes ao exerclcio.

Na

Fase

1,

a cicio apresenta as seguintes instru90eS:

Arcadas: detacM (notas separadas) e depo

ls

legato com

2,

3, 4, 5, 6 e 7 notas por

areo a cada escala da sequencia. ~ como objetivo toear 0 cIcio inteiro.

Comece numa escala diterente a cada dia alterando a

relat;:ao

escalas e ligadura

s.

Treine para talar 0 nome das notas enquanto voc6 toea. (GANNETT, 1997)

75

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RAY, Sonia. s

Phases

W a m H p ~ de Diana GaMtltl.. • er

MIlsi 

8e1o Horizonte, 4, 2002 p. 12-80

cicio

de

e r ~ s

ib

Fa

Re

b

reo

I

Si

Lab

50111

d6

Mi

Mi

d6

sol

La

Sib

f

re

Re

Fa si

la Sol

D6 mi

EX .

1:

cicio de ten;as presentes nas Fases 1 a 3

(Ietras maiusculas significam tons ma iores e letras mlnusculas significam tons menores)

Em

aproximadamenle Ires lin has de

i n s t r u ~ i i e s

Gannett apresenla uma gama infinita de

possibilidades (implicando dilerentes graus de dificuldade) de x e c u ~ i l o dos exercicios. Como

as escalas pertencem aquela parte do conteudo das Fases comum a todos

os instrumentos de

cordas friccionadas, os objetivos tambem podem ser generalizados sem prejuizo para seu

destino orig inal - a contrabaixista.

Ao ler-se escalas a partir do nome da nota fundamental, pode-sa assimilar claramente os

desenhos das vari

as

escalas no espelho 0 mesmo acontece com os arpejos) e ainda exercitar

o estudo tatil mais profundamente, uma vez que

0

uso da visao nao esta agindo como elemento

de

t r ~ i l o

Ou seja, sem leilura de cada nota da escala, voce pode se concentrar na sua

postura, na qualidade do som, na

f i n ~ i l o

e no trabalho de arco, etc. , e deixar

0

esludo de

leitura para outro momenta, que nao a do aquecimenta au 0 de aprendizado de escalas e

arpejos.

As variat;:5es de arcadas sao deixadas para a ascolha do instrumentista, sendo que

0

ponto de

partida sao exercicios de natas separadas (uma nota para cada area para eima e uma nota

para cada arco para baixo) e ligadas, o m e ~ n d o de 2 notas par arco, depois

3,

4 .. . ate 7 notas

par area em cada escala. Gannett reeomenda que cad a eseala seja toeada em duas oitavas, e

que a eada mudant;:a de escala mude-se tambern a

relaC;ao

de nota par arco. Nas Fases 2 e 3,

sao sugeridas arcadas variadas para cada escala (ou para cada sequencia de escalas). A

escolha dos golpes de arco a serem aplicados dave estar relacionada com a tecnica do repert6ria

76

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RAY,

Os Phflses

W3m H.f Exercises

de Diana metl. 

M

 

. 8eIo

Horizoote.

, 2002. p. 72-80

que voce estiver estudando no momento,

Se

nao tiver nada em particular no momento, adote

um padrao de exercfcios para mao direita do livro de tecnica que voce tiver a mao (Kreutzer,

Hrabe, Zimmermann, Autran Dourado, Bille, Rabbath , etc.)

Com

r e l ~ o

aos golpes de arco, os arpejos tem sugestoes diferentes das escalas. Sao

organizados

em

grupos

de 2,

3 e 4 notas que obrigam

0

instrumentista a alterar seu dedilhado

a cada grupo, levando-o a pensar

no

espelho como uma ampla fonte de possibilidades, a partir

do

som que se quer ouvir (da nota que completa

0

arpejo) e nao apenas uma busca a um

formato ou uma formula para se tocar arpejos. Este trabalho, alem de possibilitar um aquecimento

prazeroso, contrlbui para uma maior compreensao e reconhecimento de estruturas harmonicas

sempre presentes na musica tonal e comumente pouco exploradas pelos de instrumentistas

de cordas friccionadas, principal mente pela natureza mel6dica

de

seus instrumentos. Os

instrumentistas que atuam na area popular e/ou idam com improvisa Yao hit muito descobriram

a

i m p o r t ~ n c i

de idar com arpejos neste sentido,

em

particular para compreensao de

progressoes hanmOnicas atraves de cifras. Diferente das escalas, os arpejos sao apresentados

em campos harmonicos (Fases 1 e 2) e em ciclos de quintas (Fases 3 e 4). Vejamos em

detalhes os arpejos·da Fase 1.

Arpejos em 06

maior

- 2 oltavas em sucessao dlatonica ascendente

06 (mi-sol-d6-mi-sol -d6) (ftl-la-re-fC\-ltI-r6)

ml

(sol-si-mi-sol-si-mi)

F \

(la-d6-fa -la-d6-fa)

501

1

(si-re-fa-sol-si-re  fa-sol)

Ic\

(d6-mi-la-d6-mi-la) 51 (re-fa-si-re-fa-si) 06 (mi-sol-d6-mi-sol-d6)

Obs: Sempre comece na posi Yao ma

is

grave posslvel . Inclua a regiao da extensao, se tiver,

Grupos de 1 nota (Obs: nao repita a fundamental no final da segunda oitava)

subindo: d6-mi-sol-d6-mi-sol-d6

descendo: sol-mi-d6-sol-ml-d6

Grupos de 2 notas

subindo:

d6 m

i-mi-d6,

mi

-sol-sol-mi, sol-d6-d6-sol, d6-mi-ml-d6,

mi s

ol-sol-mi,

sol

-do-do-sol ,

descendo:

d6

so l-sol-d6, sOI-mi-mi-sol, etc.

Grupos de 3

notas

subind6: d6-mi-sol-sol-ml-d6. mi-sol-d6-d6-sol-mi,

sol

-d6-mi-mi-d6-sol, d6-mi-sol-sol-mi-d6 mi-sol-d6-

d6-sol-mi '

descend6: d6 sol-ml-ml-d6-sol, etc.

Grupos

de

4

notas

su

blndo: d6 -m i-sol-d6-d6-sol-mi-d6, mi-sol-d6-mi-ml-d6-sol-mi, sol-d6-mi-

so

l-sol-mi-d6-sol. d6-mi-sol

d6-d6-sot-mi-d6,

descendo:d6-sOI-ml-d6-d6-mi-sol-d6. etc.

Obs: cada sub-grupo

it

separado por vfrgulas e compreende urn rnovimento ascen dente seguido de urn

descendente ou vice-versa (com e x e ~ o do grupe 1 que nao apresenta sub-grupos). Cada sub-grupo

come(:a na nota que da sequencia ao arpejo tanto no movimento ascedendente quanto no desecendente.

Estas notas estao destacadas para facilitar a compreensiio do exercfcio.

Arcadas:

ar

ea

ligado, separado (marle/ato staccato, spiccato ...) e combina¢es diversas.

Ex . 2: Arpejos em 0 6 maior

77

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7/18/2019 Num04 Full

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RAY. Sonia. s Phases Wamr-up ExenilJfJ de

Oiana

Garnett .

er

Belo omon t . v.4. 2002. p. 72..ao

V.2 -

  gilidade

e reslsleneia da maO esquerda

As

Fa

ses 2 e 4 apresentam

0

exercfcio rotalfao cromatica. Sempre executado

em

cordas

duplas (quaisquer duas eordas),

0

exerdeio e um exeelente estudo de afinaCao intervalar, alem

de proporcionar a ampliaCao da resisteneia e da agilidade da mao esquerda. Nao deve ser

executado por longos perfodos ou com velocidade excessiva, mas deve ser repetido com

frequencia e mantendo-se urn pulso regular para que se alcance 0 objetivo aqui proposto. As

regioes medias de cada instrumento

sao

as

mais confortaveis para inlciar este exercfcio, que

deve seguir sendo repetido eromatieamente aseendente e descendentemente no espelho, ate

o limite de sua extensao. A arco muda de direlfao sempre que 0 dedo da corda grave

e

alterado.

t importante que se mantenha os dedos na corda durante todo 0 exercicio. Os intervalos

resultantes do mesmo exercicio aplicado aos quatro instrumentos se rao variados dada a

diferen9a de afinacao entre os mesmos. Poram, as objetivos do exercicio continuam validos.

Observe que as intervalos entre as dedos que iniciam os exercfcios variam como segue: Ex.3

=

5J,

EX.4

e 5

=

3m

(contrabaixo) e

7m

(violino, viola e violncelo). 0

si

nal

--)

signifiea que

0

dedo anterior se mantem. Abaixo transerevo algumas possibilidades de aplieaCao do exercicio

chamado por Gannett de rotacao eromatica para violino, viola, violoncelo e eontrabaixo.

Corda + aguda

Corda + grave

Intervalos

Corda + aguda 3

Corda + grave

p

Corda

+

aguda

4

Corda + grave

1

4

2

1

4

1 4

2

5J Tr 3M 3m

3M

5aum

Ex.3: Rotacao Cromatica para contrabaixo (regiao mediolgrave)

2 P 3 P

-

3 1 2 3

Ex.4: Rotacao Cromatica para vloloncelo e contrabaixo

(capotasto onde P=polegar)

3

1 4 1

4

2

3

4

2

3

1

5J

3

1

P

4

2

1

Ex.5: Rotacao Cromatlca para violino, viola, vlotoncelo e contrabaixo (toda a extensao que permitir

usa de dedilhado com dedos

1 2.

3 e 4)

78

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RAY, Sonia. 0 Pha e Warm-up Exert lsu de

O

l,n,

Gannett Per

Mu

sl

.

e eto H

OIil:onle

v 4   2002

p

72·80

VI

-   sFases: 0 uso da voz e do

ouvido

interno

Gannett sugere que, sempre que possivel, 0 estudo (ou aquecimento) seja feito com 0 auxflio

verbal. Segundo ela fale [e cante] 0 nome das notas e dos acordes enquanto voce toca pois

o cerebro adora etiquetas com nomes.

[ ~ c o m o

se

fosse] uma slntese de entrada de

informa¢es

diversas ajudando a solidificar uma aeao neurol6gica. Os resultados deste processo sao

notaveis em bern pouco tempo.

Em

especial no estudo de passagens complicadas tecnicamente.

Usar

0

ouvido interne e parte de

urn

processo que Gannett chama de 'pensar antes' de que

urn

musculo se mova, de que 0 arco mude de direeao ou de angulo na corda

ou

que mude de

corda.

0

exercicio de pensar antes e tocar

0

que seu ouvido interno ja 'cantou' faz com que a

busca pelo som desejado seja mais efetiva, e

0

processo, uma vez assimilado, vai se tornar

automatico, mesmo sob pressao. (GANNETT, 1997)

VII -

  s

Fases: A Sequencia

dos

exercicios

A tipica maneira de

se

ler uma e q ~ n c i a 61er a primeira pflgina. Pode-se adquirir

os mais estranhos

hilb

itos fisico-corporais neste processo. Foi proposital 0 uso

de muito pouco material escrito nas Fases, assim as ideias padroes e as notas

tern que ser muito bern pensados ou memorizados (GANNETT, 1997)

Apesar de concordar com a cita9ao acirna, senti-me compel da a ampliar a quantidade de

material escrito sobre as Fases para que sua

traduc;ao para a

Hngua

portuguesa fizesse sentido.

Porem, faz-

se

importante ressaltar que,

e

ustamente

0

uso de pouco material escrito que

coloca as Fases na categoria de 'segredo profissional'

ou

'jeitinho' do professor, pais, a menos

que voce tenha contato com a Professora Gannett ou

urn

de seus 'discipulos', nao

ha

como

compreender

0

concelto das Fases e muito de seu conteudo se perde. Obviamente, Gannett

nunca teve a inteneao de que as Fases se tornassem

urn

livro de metodo. Entretanto, acredito

que elas constituern

urn

material singular que podera ajudar muitos instrumentistas de cordas

em suas atividades tanto como performers tanto como professores de instrumento.

VIII - Conclusao

As Fases apresentam combina90es de aquecimento, treinamento e reflexao sobre a maneira

de sa estudar e colaboram na busca por possfveis caminhos para

0

estudo da performance

musical. A pesquisa que gerou este artigo partilha desta mesma busca. Espero que as seus

resultados parciais provoquem mais reflexoes sobre 0 estudo da performance e estimulem

musicos, medicos, psicologos e atletas a

se

aprofundarem cada vez mais neste tema.

Qutros temas complexos e frageis envolvendo relac;ao corpo-mente, postura, com preensao do

funcionamento dos musculos e, principal mente, 0 complexo estudo do funcionamento do arco

(angulo, velocidade, planejamento, ponto de contato, peso, uso dos musculos das costas,

sensibilidade da mao direita ao segurar 0 arco, etc.), sao propostas pelas Fases e por outros

procedimentos de pedagogia da performance e devem ser abordados nas proximas eta pas do

projeto

Performance Musical: revendo a Mcnica atraves da abordagem metodo/6gica.

79

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RAY Sonia. OS

Phlsn

W

8I l Il-UP

Exllfdsf/s de

Diana

Gannett . er uS Bela Horizonte. y .. . 2002.

p.

72 80

Referencias

bibliogr icas

AARON J . e GANNETT Diana. Comprehensive Warm-up Exercises for Bassists: a key to proficiency. Revista

da

International Society of Bassists Vol. XIX no.3  Outono 1994. p.16-21 .

ANDRADE E.

Q .

de

e FONSECA 

J .

G. M. Artista-atleta: renexao sabre a utilizacao

do co

rpo na performance dos

instrumentos de cordas. er Musi. Belo Horizonte v.2 2000. p.116-126.

GANNETT Diana. Wann up Phases Exercises. Houston  EUA: apostila apresentada na o n v e n ~ o da International

.Society of Bassists na Rice University junho. 1997.

MENESES  Antonio. Apontamentos da masterc/ass ministrada no Festival de Inverno de Campos dos Jordao.

Campos dos Jordao. Sao Paulo. julho.1991 .

STALEY Charles I The Science of Martial Arts Training. Burbank. Ca lifornia EUA: Multimedia Books 1999.

Sonia Ray e

doutora em Pedagogia e Performance

do

contrabaixo pela University

of

Iowa EUA. Atualmente

e

professora da Escola de Musica e Artes ~ n i c a s da Universidade Federal de Golas onde tambem atua como

coordenadora do Programa de P6s-Graduacao. t edltora da Revista Musica Hodie e desenvolve pesquisas na

area de pertormance e pedagogia do instrumento musical e

ediCAo

de musica brasileira para contrabaixo.

80

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Trabalhos publicados nos volumes anteriores de

PER MUSI

Vo lume 1:

o serialismo e atonalismo livre aportam na MPB:

as

can¢es

do LP

Clara Crocodile

de Arrigo amabe

ndre Cavazotti

Execur;aolinterpretat;ao musical: urna abordagem filos6fica

Sandra Abdo

Per questa bella mana KV 612 de

Mozart: a redescoberta

do

manuscrito

de

urna aria

de

concerto para

voz

e contrabaixo obligato e a reabilitae;ao de urna pratica de performance ~ d e afinac;ao equivocada

 t

obias

Glock/ar

Gravando a flaula: aspectos tecnicos e musicais

Mauricio Freire Garcia

Performance

instrumental e educac;ao musical: a re

l

aCao entre a

compreensao

musical e a tecnica

Cecilia Cavalieri Frant;a

Viol Will

de Pau l Mc intyre:

analomia

de urn madrigal serial canadense para

voz

e contrabaixo

nthony See/ba

Partitura completa de Viol Will

Paul Macintyre

Performance

de

harmonicas natura s

cam

a Tecnica

de

Nodo

Duplo

aplicada

ao

violoncelo

Claudio Urgel

Reflex6es sobre a pratica

da

transcric;ao :

as suas r e l a ~ e s com a interpretac;ao na musica e na poesia

Flavio Barbeitas

Volume 2:

o fator

a t r a s a d o na

musica brasileir

a

evoluc;ao, caraclerlsticas e interpretayao

Tania

Mar

a Lopes C a n ~ a d o

Fiddling for classical violinists

ndrew

rthur

Carlson

A

unidade

da

consciencia e a consciencia

da

unidade nas performances musicais

bel Moraes

Technical, interpretive and aesthetics issues in the performance practice of contemporary music

Lewis Nielson

Duo

Concertant

- Danger

Man

de Lewis Nielson: aspectos da escrita idiomatica para contrabaixo

Fausto Borem

Memorizando as

Variat;oes Op 27 para

piano de

Webem:

da analise A o g n i ~ a o

Sa/omea Gandelman

Artista-atleta: reflex6es sobre a utilizac;ao do corpo na performance dos instrumentos de corda

Edson Queiroz

de

Andrada a Joao Gabriel Marques

Fonseca

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Volume :

As claves alias na

p r ~ t l c

musical religiosa paulista e mineira dos 5eculas XVIII e XIX

Paulo astagna

As

Valsas Humor slicas

e Alberto Nepomuceno: urna edil;8o critica

Luiz Guilherme Duro Goldberg

As

Sonatas

e

Sonatinas para violina

e

piano

de Ernst Mahle:

urna abordagem dos aspectos estilfsticos

Eliane Tokeshi

Anfdise e consideracoes sobre a execUI ao dos choras para piano solo

Canh6to e Manhosamente

e

Radames Gnattali

Rafael dos Santos

Urna passlvel i n t e r p r e t ~ o da r e f e r ~ n c i musical

em

De Umbris

Cecflia Nazare

de

Lima

Partitura completa de

De Umbris

Olliam Lanna

In

defense

of

arrangement

nthony Scelba

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http://slidepdf.com/reader/full/num04-full 83/83

  iado em 1920,

0

Conservat6rio Mine iro de Musica passou a integrar a

UFMG

em

1962.

Ap6s a t

ra

nsferencia

d

Esco

la de Musica para as novas

i n s t a a ~ e s no ampus Pampu lha e m 1997, 0 hist6rico predio da Av. Afonso

Pena

foi

restaura

do

e transfo

rm

ado no

onservatorio UFMG que

abriga

um centro de cursos

de

extensao, um museu de artes plasticas, uma vraria

da Editora UFMG, um audit6rio para concertos, restaurante e cafe bistro,

entregue acomunidade no n 2000.

o

novo pred

io

da

Escola deMusica da UFMG

no

ampus

Pampu lha esta

loca

 

zado

em

uma area tranq u

ila

e arborizada, ocupando uma area

de

2.800 m  . Disp6e

de

um mode rno

estLid

io de

g r a v a ~ a o

e

de

laborat6r

ios de

informatica,

p e c e p ~ a o

musical, restauro

de

partitu

ras

musica e letro-acustica

e

c o m p u t a ~ a o

musical, com equ ipamentos e softwares atual izados.

E

ervi

do

por rede 16gica com fibra 6tica e possui uma biblioteca com cerca del 0.000

partituras, 3.000 livros e peri6dicos, 3.250

g

a v a ~ e s e 200 videos. No seu

aud it6r io modu lar para 300 pessoas apresentam-se r

eg

u

la

rmente a Orquestra

Sinfonica

d

UFMG 

a

Gerais Big-Band  Cora de Camara  e diversos

grupos

de

camara e sol

istas.

Publica os peri6dicos

Musica Hoje e PER MUSI.