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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO

ALISSON ALVES DA SILVA

ANDREIA SOUSA DE SÁ

ISLANA FERREIRA

O CASARÃO DO VINIL

SÃO PAULO

2014

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO

ALISSON ALVES DA SILVA – N° USP: 9021664

ANDREIA SOUSA DE SÁ – N° USP: 8497340

ISLANA FERREIRA – N° USP: 8948519

O CASARÃO DO VINIL

SÃO PAULO

2014

Trabalho apresentado à disciplina

de Documentação Audiovisual,

como requisito parcial de

conclusão da matéria.

Orientadora: Profª. Drª. Vânia

Lima

Sumário

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 4

2. HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO....................................................................................... 7

3. HISTÓRIA DO VINIL ........................................................................................................ 9

4. TIPOS DE DISCOS .......................................................................................................... 10

5. CASARÃO DO VINIL: DESCRIÇÃO ORGANIZACIONAL E CONDIÇÕES DE

ARMAZENAMENTO DO ACERVO ..................................................................................... 11

6. DIAGNÓSTICO DO ACERVO........................................................................................ 15

7. MEDIDAS DE PRESERVAÇÃO..................................................................................... 16

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 18

9. REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 19

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho foi desenvolvido de acordo com a proposta da disciplina de

Documentação Audiovisual, que tem como objetivo analisar a documentação audiovisual, se

atentando às especificidades desta tipologia documental quanto à organização,

armazenamento e conservação dos suportes. A apresentação de diferentes tipos e funções do

documento audiovisual trouxe à tona discussões acerca do problema da preservação das

mídias e dos mediadores que tornam possível o acesso às informações.

O conceito de documento audiovisual é amplo, portanto para trabalharmos com esse

tema utilizamos como escopo teórico os textos utilizados na disciplina nos apropriando de

informações e reflexões produzidas durante as aulas. Devido à existência de diversos meios

de difusão das informações, convêm apresentar a classificação utilizada por Johanna W. Smit

(2000) na especificação de gêneros e suportes classificados na categoria audiovisual. Deste

modo no gênero de documentos sonoros podem ser inseridos os suportes fitas e discos e sua

principal preocupação é a informação sonora; no gênero de documentos iconográficos o

suporte analisado é a fotografia como informação iconográfica; no gênero de documento

cinematográfico os suportes analisados são os filmes e os vídeos como informação

cinematográfica; o gênero documentos multimídia disponibilizado no suporte CD-ROMs

como informação multimídia.

No universo da documentação audiovisual a proposta deste trabalho foi a de realizar

um diagnóstico de uma instituição, pública ou privada, a partir de fatores como tipologia do

acervo, organização, meios utilizados para recuperação das informações, público e verificação

da existência de uma política de preservação do acervo.

No contexto atual, século XXI, verificamos que o processo de globalização e as novas

tecnologias produzem veículos de comunicação e produtos que movem a indústria de

consumo. Principalmente em relação aos documentos audiovisuais, a internet possibilita o

acesso fácil, rápido e gratuito de músicas, filmes, imagens ocasionando a desmaterialização

do suporte. Porém a grande quantidade de informações encontradas e a falta de credibilidade

das fontes que disponibilizam tais documentos, ainda geram a busca por locais confiáveis e

tradicionais.

Diante deste cenário nosso critério de escolha buscou uma instituição que apesar do

processo de modernização, optou por um caminho inverso oferecendo ao público o que não

está em evidência ou destaque no mundo tecnológico e comercial. Os sebos subsistem como

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um local de resistência e resgate contrariando uma cultura pautada nas relações puramente

comerciais, priorizando também as relações entre os sujeitos. A procura por sebos está

relacionada a um conjunto de fatores como preços mais acessíveis, facilidade do acesso à

informação, localização de obras raras, possibilidade de procura dos materiais organizados em

disposição diferenciada das grandes lojas, o que possibilita conhecer o novo a partir do

próprio interesse do indivíduo.

Inicialmente a concepção do projeto era a de analisar um sebo que contivesse uma

variedade de materiais e suportes como livros, discos, Cds. Até mesmo porque quando se

pensa em sebo, pensa-se em livros, não é comum encontrar sebos especializados em outros

tipos de documento que não o textual. Contudo, durante a orientação do trabalho com a

professora Dra. Vânia Lima, ela falou sobre a existência de um sebo voltado para a

comercialização de discos. Compreendemos então, ser este espaço mais adequado para a

proposta de diagnóstico uma vez que o interesse principal do seu público é o documento

audiovisual.

Nossa primeira ação foi acessar o endereço eletrônico da instituição visando termos

um contato inicial com as ações promovidas e informações veiculadas, o que demonstra que a

tecnologia não necessariamente substitui o físico, mas pode ser utilizada como instrumento de

aceso e divulgação. Devido a prática ser uma ação importante para que o pesquisador produza

conhecimento foi realizada uma visita ao local, que possibilitou um contato direto com o

espaço, funcionários, verificação dos discos, organização dos materiais. Também foi possível

conversar com Manoel Jorge Dias, apelidado de Manezinho da Implosão, que é o idealizador

e responsável pela existência do espaço.

Neste trabalho, procurou-se realizar, a partir de um conhecimento básico sobre o tema,

uma análise técnica do sebo de discos denominado “Casarão do Vinil”, propondo medidas de

intervenção visando a preservação dos materiais e melhoria nos serviços prestados ao público.

Contudo foi essencial se atentar ao contexto, apresentando um pouco da história local da

instituição e também dos discos, o que auxilia na tomada de ações que não fujam às

especificidades de ambos.

Assim o trabalho foi organizado apresentando nos dois primeiros tópicos a história do

Casarão do Vinil relacionando informações encontradas em meios eletrônicos com as

coletadas durante a entrevista com o Manezinho e uma breve história do vinil contendo

informações físicas do material e tipos de vinis. No tópico seguinte é realizada a análise de

organização do local considerando aspectos técnicos relacionados a preservação e

conservação dos materiais. Considerando as informações discutidas são propostas ações

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imediatas e as que podem ser realizadas em longo prazo, objetivando a preservação do

material, e o melhor atendimento a um público mais amplo.

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2. HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO

Manoel Jorge Dias, apelidado de Manézinho da Implosão, é engenheiro formado pela

Universidade de São Paulo, e é proprietário do maior acervo de disco de vinil da América

Latina, este totalizado por volta de 1,6 milhões de discos.

Conhecido por participar de diversas implosões notórias e importantes na história

brasileira como o Carandiru, o edifício Palace 2 entre outros, Manuel sempre teve como

passatempo a coleção de discos de vinis e “velharias”, e desde sua juventude comprou, trocou

e barganhou diversos discos, este processo se transformou no que é hoje reconhecido pelo

maior acervo de vinis latino americano. Durante o garimpo de vinis pelo Brasil o engenheiro

colecionou, também, diversas histórias excêntricas.

O acervo surge através de um empreendimento fracassado. O objetivo de Manoel era

abrir uma loja de roupas intimas femininas, e para tal em 2000 comprou um grande lote de

produtos do tipo, em menos de um ano observou que o negócio estava fadado à falência e no

ano seguinte decidi escambiar o lote pelas ruas da Mooca, Manézinho trocava lingeries e

outras peças por livros, móveis, objeto decorativos e vinis, aproveita seu fracassado

empreendedorismo para aumento de estoque. Um grande salto quantitativo para o seu acervo,

foi a compra de 200 mil discos de uma única vez, estes utilizados como parte do pagamento

de imóveis pouco utilizados, totalizando cinco caminhões carregados de LPs.

Montar o acervo foi um processo lento e demorado, comprou a maioria de seu acervo

no interior de São Paulo, no Rio de Janeiro e em cidades como Peruíbe, Paraty e São José dos

Campos. A rotina do engenheiro ateve-se em encontrar relíquias, negociar o preço das

mesmas carrega-las, estoca-las em seu deposito na Mooca além de limpa-las e organiza-las. O

engenheiro afirma que foi um processo terapêutico, e que estava precisando, devido ao

sequestro sofrido em 8 de dezembro de 2001.

Por não ter o conhecimento em músicas necessário para a avaliação dos LPs, Manoel

contratou uma equipe para que a avaliação e classificação dos discos seja feita de forma mais

precisa possível. Esta avaliação é feita por quatro pessoas. Primeiro, a que tem menor

conhecimento sobre música verifica o disco e lhe dá um preço. O valor é reajustado pelo

sujeito a seguir, com mais bagagem cultural do que o primeiro, e depois pelo terceiro. O

quarto e último, que tem mais conhecimento entre os quatro, curiosamente, é um cego. Celso

Marcílio, dono da loja de música Celsom, no centro de São Paulo, reconhece vários dos

álbuns só com o tato.

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É no bairro da Mooca, em São Paulo, que Manézinho mantém a coleção de vinis

estocada em galpões e também à venda em três lojas. Uma na Rua da Mooca, 3.401, onde

realiza o Feirão do LP desde março deste ano a preços populares, entre R$ 5, R$ 10 e R$ 30.

Outra na Rua do Oratório, 273. E, mais recente, uma na Rua dos Trilhos, 1.212, apelidada de

Casarão do Vinil. O casarão tem 600 metros quadrados, com arquitetura colonial datada da

década de 1940 e quase nenhuma restauração. Lustres, cadeiras e mesas lembram a mobília de

seus bisavôs. As paredes, com antiga pintura cor de rosa, descascam em vários cantos.

O Casarão do Vinil faz parte de um plano maior, o de transformar a Mooca na “capital

nacional do vinil”. Mais para frente, Manoel Jorge quer inaugurar um centro cultural para

expor os discos mais valiosos e raros que dispõe e criar um tour no bairro, este iniciar-se-á na

estação Bresser/Mooca e através de um ônibus particular as pessoas conheceriam as três lojas.

O propósito é atender todas as manifestações culturais possíveis. O engenheiro afirma “O

vinil nunca acabou, mas agora voltou com tudo também para os jovens."

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3. HISTÓRIA DO VINIL

O disco de vinil foi desenvolvido em 1948, também é conhecido como LP (Long

Play), em material plástico (usualmente em policloreto de vinila)1. São maleáveis, leves e

possuem resistência aos choques e reproduzem um maior número de músicas, diferentemente

dos discos de 78 RPM2, com muita qualidade sonora e capas ilustradas se popularizou rápido.

São compostos de micro-sulcos, ou ranhuras, dispostos em forma de espiral, eles

conduzem a agulha do toca-discos de modo que vá da borda externa ao centro, no sentido

horário e a gravação é feita de forma analógica. Os micro-sulcos são microscópicos e fazem a

agulha vibrar, gerando uma vibração que é transformada em sinal elétrico que por sua vez é

amplificado e alterado para o som audível.

No final da década de 1980 surgem os Compact Discs (CD), com promessas de

melhor qualidade e durabilidade, diante desse cenário os vinis perderam espaço, de modo que

os artistas gravaram em LPs até o final de 1997.

Os discos de vinil possuem entalhes que refletem as ondas do áudio original fazendo

com que nenhuma informação seja perdida, o resultado de um toca-discos é analógico,

enviado diretamente ao amplificador sem ser convertido. Isso significa que as ondas sonoras

de um disco de vinil podem ser muito mais precisas, o aspecto negativo é que, qualquer sinal

de poeira ou riscos pode prejudicar na reprodução, em alguns momentos, os ruídos podem ser

ouvidos.

Atualmente os discos são objetos procurados por colecionadores e entusiastas da

música reproduzida em boa qualidade, grande exemplo desse fato é o Feirão de 1 milhão de

LPs, que reúne, agora em sua sede, variados discos de diferentes estilos musicais e pessoas

que garimpam e até viajam em busca alguma raridade.

1 O formato disco de 78 rpm começou a ser utilizado em 1888 com a invenção do gramofone e eram feitos de

goma-laca. O formato vinil começou a ser utilizado para a fabricação de discos após a Segunda Guerra

Mundial devido ao exército japonês ter cortado o suprimento dessa matéria - prima para os Estados Unidos e

Europa.

2 RPM é a abreviação para a expressão rotações por minuto.

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4. TIPOS DE DISCOS

LP: abreviatura do inglês Long Play (conhecido na indústria como, Twelve inches- ou,

"12 polegadas" em português). Disco com 31 cm de diâmetro que era tocado a 33 1/3 rotações

por minuto, a sua capacidade normal era de cerca de 20 minutos por lado, o formato LP era

utilizado, usualmente, para a comercialização de álbuns completos. Nota-se a diferença entre

as primeiras gerações dos LP que foram gravadas a 78 RPM (rotações por minuto).

EP: abreviatura do inglês Extended Play. Disco com 17 cm de diâmetro e que era

tocado, normalmente, a 45 RPM, a sua capacidade normal era de cerca de 8 minutos por lado

e normalmente continha em torno de quatro faixas.

Single ou compacto simples: abreviatura do inglês Single Play (também conhecido

como, seven inches- ou, "7 polegadas"em português); ou como compacto simples, disco com

17 cm de diâmetro, tocado usualmente a 45 RPM (no Brasil, a 33 1/3 RPM), a sua capacidade

normal rondava os 4 minutos por lado. O single era geralmente empregado para a difusão das

músicas de trabalho de um álbum completo a ser posteriormente lançado.

Máxi: abreviatura do inglês Maxi Single. Disco com 31 cm de diâmetro e que era

tocado a 45 RPM, com capacidade de cerca de 12 minutos por lado.

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5. CASARÃO DO VINIL: DESCRIÇÃO ORGANIZACIONAL E CONDIÇÕES

DE ARMAZENAMENTO DO ACERVO

O Casarão do Vinil como o próprio nome indica, é uma casa que atualmente ganhou

como função a guarda de diversos tipos de objetos, sendo em sua maioria discos. A casa é

ampla e apresenta dois andares. No portão de entrada há um banner divulgador, escrito

Casarão do Vinil contendo os valores dos discos de acordo com o tipo (duplo, compacto e se

pertence à área externa ou interna) além do desenho de artistas da música, Chico Buarque,

Elvis Presley e Jimi Hendrix com a seguinte frase: “E o melhor, tem que garimpar”.

O acesso à casa ocorre por meio de uma escadaria, ao se chegar na porta de entrada há

uma pequena área, uma espécie de hall, no qual já se tem acesso aos discos. Eles estão

organizados em caixas de plástico, com uma abertura na parte da frente, e dispostos em pé

permitindo a visualização das capas e a manipulação dos discos. Já na entrada também nota-se

outros objetos que apesar de parecerem ser somente decorativos também estão à venda, além

disso, sobre um móvel são disponibilizadas luvas de látex e máscaras descartáveis. Nesta área

há grandes janelas de vidro permitindo a entrada de luz natural e não há cortinas. As caixas de

plástico com os discos ficam a uma altura de mais de meio metro do chão, sob uma base de

madeira.

Após o hall, adentra-se no espaço casa, uma sala, o espaço é mais fechado, há uma

mesa de época na qual estão colocados discos na posição horizontal, estantes com diversos

objetos e as vitrolas que também são comercializadas. O público pode pegar o disco e ouvi-lo

em uma vitrola que fica na estante. Na área esquerda no sentido da entrada, há mais discos

disponibilizados na mesma organização citada anteriormente.

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Saindo da sala inicial, há uma escada, mais à frente o banheiro e uma outra sala

somente com discos, são três fileiras de discos com dois corredores para que os usuários

possam m ter acesso a eles. O espaço possui duas janelas que ficam abertas e em um dos

cantos ficam caixas contendo os chamados “brindes” que contêm bijuterias, figurinhas,

lingeries, livros entre outros objetos. Eles ficam dentro de uma caixa sem separação.

O andar de cima da casa ainda não está aberto ao público, porém tivemos acesso ao

local para conversar com o Manezino. Neste espaço, há móveis, sofás, poltronas e mais

discos. Ele explicou que eles fazem uma pré-seleção dos materiais, há discos que são raros e

que tiveram tiragem única. Conforme a história do casarão, com a ideia de se fazer um centro

cultural, ele não pretende comercializar todos os discos, pois alguns serão apenas expostos.

Na área externa é possível encontrar discos armazenados de diversas formas. Os

discos que podem ser escolhidos como brinde ou comprados a um valor menor que os da área

interna, estão em um espaço aberto, colocados sob uma mesa dentro das caixas de plástico e

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cobertos por uma estrutura feita com lona. Há outros que estão dentro de caixotes de feira

empilhados uns sob os outros. Durante o manuseio, foi verificado que muitos discos estão

com a capa rasgada e a exposição ao ar livre e janelas abertas corroboram para a entrada de pó

e deterioração dos materiais. Também há muitos livros que ainda estão encaixotados, pois de

acordo com o Manezinho, faz parte do projeto trazer para o espaço cerca de 20.000 livros,

sendo que 10.000 estão catalogados.

Referente a organização e métodos de recuperação da informação ainda não foram

tomadas nenhum tipo de medida. O espaço conta hoje com quatro colaboradores e funciona

todos os dias das 08 às 18h. Os funcionários não têm nenhuma formação específica na área de

música ou conservação, porém um deles entende muito acerca da história e tratamento do

vinil, além de conhecer bem o acervo. Conforme a própria característica do local, o que se

pretende enfatizar é o garimpo, no sentido de que há uma relação diferenciada com o objeto,

que está associada a materialidade e experiências culturais e sonoras (GAUZISKI, 2012).

Acerca do público, o Manezinho explicou que devido ao projeto de divulgação inicial ter

ocorrido por meio do feirão de 1 milhão de discos, não havia possibilidades de organização do

acervo. A intenção era divulgar e reunir diferentes públicos, com idades e classes sócias

distintas em busca de algo comum, o resgate do vinil. Atualmente ele disse que o gênero mais

procurado é o rock e que o pulico assíduo é o colecionador. Porém já recebeu reclamações

devido a não utilizar nenhum critério de classificação, pois tem pessoas que procuram algo

mais específico e acham desorganizado os discos ficarem todos juntos sem nenhum tipo de

critério.

Atualmente com a consolidação do espaço e intenção de implantar um centro cultural,

Manezinho tem ciência da importância da organização e catalogação do acervo para a

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recuperação da informação e também de práticas de preservação visando valorizar os discos

no âmbito financeiro e também quanto à preservação da memória.

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6. DIAGNÓSTICO DO ACERVO.

Falar em preservação de acervo implica a realização de ações que tenham como foco

recuperar as condições físicas e manter a durabilidade dos materiais dos suportes garantindo o

acesso à informação. Há uma discussão acerca dos conceitos de preservação e conservação

que são muitas vezes utilizados como sinônimos. Contudo não nos aprofundaremos nestes

conceitos teóricos, porém cabe mencionar que de maneira ampla eles são divididos em

preservação, conservação, restauração e conservação preventivas.

Apesar de ser um local que pode ser considerado de abrangência cultural, não deixa de

ter como foco a comercialização dos discos, não tendo sido considerado viável um trabalho de

restauro ou de intervenção no material, o qual exigiria profissionais especializados e espaço

específico, tornando o produto final muito mais caro. Tendo em vista essa multiplicidade de

conceitos, as observações realizadas referentes ao acervo fonográfico do Casarão do Vinil

dizem respeito ao desenvolvimento de metodologias de preservação. Objetivando a

integridade dos registros musicais contidos no vinil além da preservação da arte da capa dos

discos, que são essenciais para a significação simbólica e visual deste suporte.

Considerando a descrição organizacional e condições de armazenamento do acervo os

principais problemas que podem ser apontados a partir de uma análise superficial é o

empilhamento dos discos encaixotados, pois essa forma de armazenamento pode provocar

amolecimento e empenamento da superfície dos discos. Mesmo que não estejam encaixotados

é importante que os discos sejam armazenados na posição vertical e não um sobre o outro na

posição horizontal. A exposição dos materiais ao ar livre sem o devido acondicionamento

pode provocar acúmulo de poeira. Este acúmulo por sua vez penetra nos sulcos dificultando a

passagem da agulha provocando interferências na correta reprodução do som.

Devido à poeira e a manchas causadas pela ação de microorganismos os discos podem

ser lavados. Uma das formas que podem ser utilizadas para a realização desse processo é

imergir o disco em uma solução com um detergente específico. Para os discos de vinil deve se

colocar 18 ml de Detertec para cada 1, 5 L de água utilizando para a limpeza trinchas de pelo

de marta3. No procedimento deve haver a fricção com a trincha acompanhando o sentido dos

microsulcos. Em casos de manchas o banho pode ser repetido por mais vezes. Após a retirada

dos discos da solução com detergente eles devem ser lavados com água abundante e

colocados em escorredor para a secagem e não devem ser guardados ainda molhados.

3 A trincha de pelo de marta apresenta pelo macio.

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7. MEDIDAS DE PRESERVAÇÃO

Tendo em vista a problemática apresentada, analisada e compreendida, medidas se

mostraram aplicáveis, de modo que não comprometa a dinâmica estabelecida pela instituição,

visto que um dos ideais do Casarão do Vinil é o garimpo.

Face à esse cenário, a primeira providência é a reorganização dos discos por ordem

alfabética pelo do artista, visando uma composição simples, útil e que ao mesmo tempo não

interfira na busca por parte do público, a ideia é propiciar um norte tanto para quem já sabe o

disco que procura quanto para quem está disposto a fazer uma procura menos seletiva.

Concomitante ao arranjo alfabético é preciso que se realize a limpeza dos vinis e um

levantamento simples. A higienização desse tipo de mídia não exige cuidados específicos,

com água, sabão e esponja faz-se o asseio do material e a capa exige apenas pasta de limpeza

e lenços, é um processo que levará certo tempo, haja vista a quantidade de discos, porém não

implica dificuldades, fato que permite que o levantamento de dados como nome do artista,

título do álbum e ano de publicação sejam retirados.

No que tange a área da entrada principal, a proposta é que seja feito o remanejamento

dos vinis que ali ficam expostos, tendo em vista que o acúmulo de poeira é prejudicial para os

LPs. A mudança deve ocorrer de modo que o material seja redistribuído pelo espaço interno,

já na ordem alfabética, e com capas de poliondas nos mais danificados e/ou sem proteção.

Consequentemente, o espaço dessa entrada principal ficará livre, diante disso a

sugestão é que se crie um pequeno espaço de convivência, para que o público converse entre

si, faça trocas e até escute os discos de forma mais tranquila, para tanto deve haver à

disposição pequenas mesas, bancos e vitrolas que já existem no Casarão.

Uma parte do acervo se encontra na parte externa e está sujeito as intempéries

naturais, chuva, sol, poeira entre outros. A solução mais cabível seria a construção em

alvenaria de um pequeno galpão nos fundos da casa, neste caso deve-se levar em consideração

a arquitetura do casarão que data da década de 90. Após construído poder-se-á dispor do

acervo da forma que achar mais adequada. Para a construção dessa estrutura de alvenaria seria

necessário transferir o acervo externo para o setor interno, para tal dever-se-á remanejar o

espaço interno assim como o acervo deste ambiente, algo que pode-se fazer concomitante a

organização em ordem alfabética assim como a limpeza do acervo.

O piso superior esta inutilizável no momento, um espaço essencial para a melhor

disposição do acervo. Deve-se organizar esse espaço para que desta forma todo o acervo seja

comportado de forma adequada. Com a organização do piso superior poder-se-á, também,

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iniciar a organização do estoque que esta encaixotados e empilhados, condições inadequadas a

um acervo de LPs.

Após o galpão erguido, propomos a construção de um mini laboratório de conservação

e limpeza dos discos assim como o estabelecimento de sistemáticas e processos de tratamento

para a aquisição de novos LPs.

É necessário a construção de um banco de dados, para controle e acesso a todos os

tens do acervo. Se tratando de uma entidade comercial o banco de dados otimizaria seus

lucros e agilidade nos processos de busca, no caso do casarão do vinil não queremos perder a

dinâmica já pré-estabelecida, por isso faz-se necessário um sistema simples de busca, como a

disposição em ordem alfabética que não é o ideal, mas que agiliza o processo de acesso e não

perde o caráter de garimpo. As informações necessárias para a construção desse banco de

dados serão retiradas no momento da organização em um sistema único de

limpeza/organização/retirada de informação. Inicialmente poder-se-á utilizar uma simples

planilha no Excel ou um banco de dados simples no Access, mas se faz necessário a

contratação de um banco de dados profissional em um segundo momento.

Tais processos e procedimentos precisarão de contribuição humanas e financeiras.

Diante este fato se faz necessário a contratação de profissionais, esses poderão ser

especializados ou poderão receber um curso da própria instituição.

Em relação aos recursos financeiros, é necessário que se classifique em dois grupos os

processos aqui citados: emergenciais (estes poderão ser paliativos ou não), e de longo prazo

(estes geralmente são os que depender de maior investimento financeiro).

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As inovações tecnológicas trouxeram uma infinidade de possibilidades para diversas

áreas do conhecimento, o desenvolvimento de novos suportes proporcionou uma revolução

nas formas de apresentação da informação e do seu consumo. Contudo a supervalorização do

fluxo constante de informações e dos dispositivos capazes de armazená-las, ignora os

resultados e as consequências dos novos hábitos.

O fato da sociedade ter como base valores da cultura escrita fez com que a

documentação audiovisual fosse tratada apenas enquanto suporte de interpretação e

significação do texto. Contudo estes documentos apresentam dimensões reflexiva, cultural e

documental e técnicas específicas de preservação que garantam sua subsistência e acesso ao

seu conteúdo.

A realização deste trabalho em um sebo com o objetivo de verificar o acervo

audiovisual da instituição possibilitou que fizéssemos um recorte relacionando a dimensão

sociocultural deste espaço com o retorno mais forte do vinil na mídia mundial. Apesar do

termo utilizado ser “retorno”, a leitura de textos de pesquisadores do tema e a entrevista

realizada com o idealizador do Casarão do Vinil, mostrou que o vinil nunca deixou de existir.

E os sebos e feiras livres já eram os espaços privilegiados para o consumo dos discos.

No que tange as relações sociais, verifica-se que este espaço conduz ao encontro de

pessoas e grupos que têm como hábito o colecionar, trocar informações, experiências que

fazem parte da constituição da identidade dos indivíduos. As novas gerações apesar de não

terem pertencido ao momento auge deste fenômeno, conseguem ter a dimensão do vinil como

suporte de acesso à música. Percebem que há outros fatores implícitos nessa relação como a

arte da capa do disco, as histórias que fizeram parte do processo de desenvolvimento da obra e

até mesmo a qualidade sonora que é diferenciada em relação ao CD e a música digital.

É perceptível que independentemente do tipo de instituição, seja ela museus, centro

culturais, sebos, o conhecimento do acervo, do usuário e das técnicas correspondentes ao

trabalho com este tipo de documentação são extremamente importantes para o

desenvolvimento deste trabalho e alcance de resultados eficazes.

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9. REFERÊNCIAS

CAVAGLIERI, Marcelo; Steindel, Gisela Eggert. Um lugar para observar, conversar, ler,

comprar – livros e outros suportes de informação e lazer: uma análise dos sebos da cidade de Florianópolis. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 19, n. 3, p. 55-64, set./dez.

2009. Disponível em:< http://www.brapci.ufpr.br/download.php?dd0=11377>

GAUZISKI, Débora. O resgate do vinil: uma análise do mercado atual e dos colecionadores na cidade do Rio de Janeiro. In: IV Encontro Nacional da Ulepicc- Brasil – Rio de Janeiro/RJ

– 9 a 11/10/2012. Disponível em:< http://ulepiccbrasil4.com.br/anais/pdf/gt3/GAUZISKIo_ resgate_do_vinil_uma_analise_do_mercado_atual_e_dos_colecionadores_na_cidade_do_rio_de_janeiro.pdf>

SILVIA, Sérgio Conde deAlbite. A preservação e o acesso de acervos fonográficos – relato

por pesquisa. Arquivística.net (www.arquivistica.net), Rio de Janeiro, v. 4, n. 2, p. 35-58, ago./dez. 2008. Disponível em: < http://www.rebeca.eca.usp.br/Blog/AN-2009-207.pdf>

SMIT,Johanna W. Documentação Audiovisual. In: BELLOTTO, H.L., LIMA, Y. D., SMIT, J.W. (coord.). Organização de Arquivos. São Paulo: ECA/IEB, 2000. v. 3, p. 67-80