UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
O ENSINO DA ATIVIDADE ASSISTENCIAL – CONSULTA
DE ENFERMAGEM: O TÍPICO DA AÇÃO INTENCIONAL
Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas
2003
O ENSINO DA ATIVIDADE ASSISTENCIAL –
CONSULTA DE ENFERMAGEM: O TÍPICO DA AÇÃO
INTENCIONAL
Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas
Tese de Doutorado apresentada ao Programa
de Pós-graduação em Enfermagem, Escola de
Enfermagem Anna Nery, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de
Doutor em Enfermagem.
Orientador: Profª Drª Ligia de Oliveira Viana
Rio de Janeiro
Outubro, 2003
Rosas, Ann Mary Machado Tinoco Feitosa. O ensino da atividade assistencial – consulta de
enfermagem: o típico da ação intencional/ Ann Mary
Machado Tinoco Feitosa Rosas. – Rio de Janeiro: UFRJ/
EEAN, 2003.
xvi, 180 f. Orientador: Lígia de Oliveira Viana
Tese (doutorado) – UFRJ/ Escola de Enfermagem Anna Nery/ Programa de Pós-graduação em Enfermagem, 2003.
Referências Bibliográficas: f. 126-133 1. Enfermagem. 2. Educação. 3. Consulta de
Enfermagem. 4. Fenomenologia – Alfred Schütz. I. Viana, Lígia de Oliveira. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Enfermagem Anna Nery, Programa de Pós-graduação em Enfermagem. III. Título.
O ENSINO DA ATIVIDADE ASSISTENCIAL – CONSULTA DE ENFERMAGEM: O TÍPICO DA AÇÃO
INTENCIONAL
Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas
Orientadora: Profª Drª Ligia de Oliveira Viana Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem, Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Enfermagem. Aprovada por:
............................................................................................................... Lígia de Oliveira Viana – Orientadora / Presidente
Doutora em Enfermagem – Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ ................................................................................................................................................
Maria Cristina Pinto de Jesus – 1ª Examinadora Doutora em Enfermagem – Universidade Federal de Juiz de Fora / MG
................................................................................................................................................
Benedita Maria Rêgo Deusdará Rodrigues – 2ª Examinadora Doutora em Enfermagem – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
...............................................................................................................................................
Creusa Capalbo – 3ª Examinadora Doutora em Filosofia – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
..............................................................................................................................................
Ivis Emília de Oliveira Souza – 4ª Examinadora Doutora em Enfermagem – Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ
............................................................................................................................................. Terezinha de Jesus Espírito Santo da Silva – Suplente
Doutora em Enfermagem – Escola de Enfermagem Alfredo Pinto – UNIRIO ............................................................................................................................................
Marluce Andrade Conceição Stipp – Suplente Doutora em Enfermagem – Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ
Rio de Janeiro
Outubro, 2003
DEDICO ESTE TRABALHO:
À minha mãe, Maria da Penha Machado Tinoco, a pessoa mais forte, de
mais fé, de mais coragem, mais alegre e feliz que conheço nesta vida. Um
exemplo.
Ao meu pai, Rubens de Medeiros Tinoco (in memorian), pelos seus
ensinamentos e um deles foi: “Se no seu caminho, só houverem flores, nunca
você saberá o prazer da glória”. Um sábio.
Ao meu marido, Antonio, companheiro, amigo muito amado, por tudo que
vivenciamos no nosso dia-a-dia. Sua coragem e amor por todos nós me fascina.
À minha filha, Bárbara Maria Machado Tinoco Feitosa Rosas, que tem
sido mais mãe do que filha e com certeza, se tornará uma médica consciente
de suas responsabilidades para com a saúde da população deste país.
Aos meus sogros: Antonio Pereira Feitosa Rosas Sobrinho e Cyrene de
Brito Feitosa Rosas (in memorian), pelo amor que me dedicaram, como o de
uma filha.
Agradecimentos Especiais
A Deus que por Sua infinita sabedoria fez com que a execução deste
trabalho tenha me colocado diante de tantos Anjos, enfrentando momentos
difíceis e aprendendo a ser uma pessoa mais forte.
À Profª Drª Lígia de Oliveira Viana, minha Orientadora, a eterna gratidão
pelo apoio incondicional, companheirismo e por acreditar na possibilidade
desse momento.
À minha família, pela alegria com que sabem viver e que sempre têm
uma palavra de amor para que eu consiga ter garra e energia para concretizar
meus sonhos.
Aos meus irmãos, cunhados, por tanta demonstração de amor, de
afinidade, de presença, de compreensão e de união.
Aos meus alunos dos Cursos de Graduação, Licenciatura e
Especialização, pelas trocas de saberes nos momentos de encontro.
Aos nossos Clientes, por me provarem a cada dia que é possível ser
feliz, mesmo nas dificuldades.
À equipe do Dr. Daniel Tabak, por cuidar do meu marido com saber
científico e pelo carinho, estando conosco como pre-sença constante.
À Profª Drª Creusa Capalbo, membro da Banca Examinadora, pela
simplicidade com que rege e distribui saberes e conhecimentos, meu muito
obrigado também por seu carinho.
Às Enfermeiras, sujeitos desta investigação, pelas trocas estabelecidas e
a construção desse saber. Que bom saber que vocês existem.
À Direção das Instituições que foram cenários desse movimento, por me
receberem e providenciarem a viabilidade das entrevistas.
Ao meu filhote querido, Raphael Ghelman, por tantas coisas significativas
e tantas demonstrações de sentimentos para conosco.
Aos amigos do Raphael que, liderados por ele, foram “doadores de
sangue exemplar” para o Antonio, sensibilizando toda a equipe da Drª Iara e até
hoje servem como exemplo em seus pronunciamentos.
Aos meus sobrinhos, queridíssimos por tanto amor e carinho em todos os
nossos momentos.
Aos amigos Ivis Emília e Miro, por se tornarem irmãos nesta vida.
Nenhuma palavra vai traduzir o que vocês têm sido nos últimos anos para todos
da nossa família, em todos os sentidos.
À amiga Bené, por se fazer presente na minha vida nas ocasiões mais
difíceis e sempre compartilhando o seu saber como profissional e como pessoa.
Eu sei que você gosta de mim. É recíproco. Você é amiga de verdade.
À amiga Maria Cristina, pela competência, disponibilidade e presença
constante nesse estudo. Uma amiga de todas as ocasiões. Gosto de você.
Às minhas amigas de infância: Norma, Sonias, Célia, Saletinha, por
enriquecerem minhas lembranças e serem tão presentes até hoje, muitas
vezes, me dando colo sem muito em troca.
Às minhas amigas irmãs, “âncoras” como diz minha filha, Lia, Liane,
Laísa, Lúcia Polido, Glória, Ana Shirley, Ana Maria da Silva, Ana Maria
Januário, Márcia, e seus familiares, por viabilizarem não só o material
necessário para o estudo, mas pela presença para o que der e vier.
À minha amiga mais nova e mais vivida, Marianinha, que me ensina
tantas coisas da vida com tanta sapiência. Sou sua aprendiz.
AGRADECIMENTOS
À Direção da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (EEAN / UFRJ), por incentivar e investir na minha
qualificação profissional.
Aos colegas do Departamento de Metodologia da Enfermagem da
EEAN / UFRJ, pelo apoio recebido durante a realização do Curso de
Doutorado.
Às Professoras do Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu – Doutorado
da EEAN / UFRJ, pela qualidade das aulas e dedicação aos doutorandos.
Aos professores, membros da banca examinadora, pelas
reflexões críticas nos encaminhamentos de seus pareceres durante
toda a nossa trajetória.
À Professora Florence Tocantins, pelo pioneirismo em refletir a Consulta
de Enfermagem utilizando a Fenomenologia Sociológica de Alfred Schütz na
Enfermagem da cidade do Rio de Janeiro.
Às colegas do Grupo de Estudos sobre “Sociologia Compreensiva de
Alfred Schütz”, pelo suporte nos momentos de busca, mesmo sem o encontro
efetivo do grupo: Alba Lúcia, Ana Lúcia, Antonia, Bené, Carina, Cristina,
Eurinilce, Florence, Heliane, Lia Cristina, Maria, Patrícia, Therezinha e Zélia.
Às colegas Lígia, Soledade, Margarethe, Cecília e Márcia, pelas trocas
no curso de Educação à Distância – PROFAE.
Aos meus alunos do Curso PROFAE, especialmente a Slete, por ter
viabilizado nosso momento no Centro Municipal de Saúde Milton Fontes
Magarão.
À colega Marléa Moreira, por ter feito minha indicação para o Grupo de
Orientadores do Curso de Especialização em Enfermagem Oncológica do
Instituto Nacional de Câncer (INCA), mesmo quando eu não acreditava que
fosse gostar dessa atividade. Ela acreditou, e hoje, vivencio um aprendizado e
muitas alegrias com os resultados desses trabalhos dos meus orientandos.
Às Professoras Rosângela da Silva Santos, Ilda Cecília Moreira da Silva
e Joséte Luzia Leite, pelo carinho e por viabilizarem a minha qualificação no
Curso de Doutorado.
À colega Nereida, pelo apoio e compreensão de minhas ausências na
Licenciatura, mas sua presença tem sido satisfatória e sua competência
reconhecida.
À Professora Célia Brito, do Colégio de Aplicação da UFRJ, com quem
aprendo e compartilho o campo de estágio dos alunos do Curso de Licenciatura
em Enfermagem, pelos momentos de alegria e confiança.
À amiga Leila Velger, que sempre oferece seu apoio a todos que a
procuram e tem colaborado para minha participação nos mais importantes
eventos científicos realizados em nossa cidade do Rio de Janeiro.
Aos amigos do Centro de Pesquisa e Assistência Integrada à Mulher e à
Criança (CPAIMC) e muito especialmente ao Dr. Fernando Hurtado, Dr. Pedro
Metidieri, Dr. Sérgio da Silva Nunes e Dr. Aramis, por acreditarem no nosso
trabalho com a Consulta de Enfermagem. O nosso “PSF”, nos anos 80.
Às colegas Cecília Pedro, Conceição Gonçalves, Tereza Coimbra, Ana
Maria Domingos, Marilurde Donato, Jurema Gouvêa, Carla Luzia, Maria José
Coelho, pelo incentivo e a torcida.
Ao Grupo da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Endocrinologia,
pela oportunidade de conviver e aprender com profissionais empenhados em
melhorar o cotidiano dos portadores de Diabetes.
À Professora Substituta do DME/EEAN/UFRJ, Lorena, por manter o
campo de estágio no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) /
UFRJ no setor da Consulta de Enfermagem, procurando fazer o melhor para
todos.
À Professora Vivina Lanzarini de Carvalho, pela confiança, apoio,
competência e assessoria no Curso de Licenciatura em Enfermagem.
Aos meus Professores do Curso de Graduação, que fizeram parte da
minha meninice em Enfermagem, meu muitíssimo obrigado. De vocês trago um
pouquinho de cada um.
À minhas médicas queridíssimas Semida e Anair, por atenderem com
tanto carinho os meus encaminhamentos... quantas vidas compartilhamos!
Às minhas dentistas Fátima e Mariza, e suas secretárias Maria e Graça,
por me ouvirem com tanta ternura. Minhas amigas, vocês não sabem o bem
que me fazem.
À Anita, Estela, Cristina e Rosário, por cuidarem com tanto carinho de
mim.
À Lúcia Marina Rodrigues Boiteaux e sua equipe, pela presteza e
competência com o referencial bibliográfico.
Ao Gabriel, Secretário do Departamento de Metodologia da Enfermagem
da EEAN / UFRJ, por entender minhas limitações com o computador e, com
paciência, dar soluções aos meus problemas.
Aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação, em especial à Sonia,
pela colaboração, estímulo, carinho no atendimento às minhas solicitações.
À amiga Marisa Medeiros de Souza, pela atenção dispensada durante a
organização e arte final deste estudo mas, mais que tudo, pelo carinho e as
trocas.
O ENSINO DA ATIVIDADE ASSISTENCIAL – CONSULTA DE ENFERMAGEM: O TÍPICO DA AÇÃO INTENCIONAL
Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas
Orientadora: Lígia de Oliveira Viana
Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem, Escola de Enfermagem Anna Nery, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Doutor em Enfermagem.
Minha experiência como enfermeira docente levou-me a realizar um
estudo buscando apreender o típico da ação intencional das enfermeiras,
docentes e assistenciais, no ensino da atividade assistencial, consulta de
enfermagem aos graduandos em enfermagem. Utilizei como cenário, as
escolas e faculdade de enfermagem das universidades públicas do município
do rio de janeiro, e seus campos de estágio curriculares. A investigação foi
fundamentada na fenomenologia sociológica de Alfred Schutz. Os dezessete
depoimentos das enfermeiras, dez docentes e sete assistenciais, obtidos por
meio de entrevista fenomenológica permitiram a partir dos “motivos-para”,
compreender a ação subjetiva dos sujeitos mediante a constituição das
categorias concretas do vivido: ensinar e aprender a cuidar; singularidade;
autonomia; agir profissional; educação continuada. O “motivo-porque” emergiu
através da categoria: da formação à experiência profissional. A partir daí, foi
possível construir o tipo vivido “enfermeiras docentes e assistenciais que
ensinam a atividade assistencial, consulta de enfermagem, aos graduandos em
enfermagem” como sendo a pessoa que deseja ensinar e aprender a cuidar,
levando em conta a singularidade de cada cliente, conquistando autonomia
para a tomada de decisões na vida profissional e buscando o saber através da
educação continuada, com intuito de superar as dificuldades de formação para
a realização da consulta de enfermagem. A fenomenologia de Alfred Schutz
mostrou-se, neste estudo, não só como uma teoria compreensiva da ação
social, mas podendo ser experienciada como uma estratégia de ensino e
Aprendizagem, já que o saber que emergiu do vivido dos sujeitos do estudo
apontou um caminho que se abre para o ensino da atividade assistencial
consulta de enfermagem, como um espaço de trocas de aprendizagem. Assim,
quem ensina e quem aprende é sujeito na interação social resultante da
situação face a face estabelecida no processo ensino-aprendizagem e este, por
sua dinâmica, pode promover mudanças no comportamento das pessoas em
relação a aprender a aprender a ensinar.
Palavras-chave: enfermagem. Educação. Consulta de enfermagem.
Fenomenologia de Alfred Schutz.
THE TEACHING OF THE HEALTH CARE ACTIVITY - NURSING CONSULTATION: THE TYPICAL OF THE INTENTIONAL ACTION
Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas
Adviser: Lígia de Oliveira Viana
Abstract of the Thesis for the Doctor’s Degree submitted to the Graduate
Program in Nursing, Anna Nery School of Nursing – Federal University of Rio de
Janeiro (UFRJ), as part of the requirements for obtaining the Doctor’s Degree in
Nursing.
My experience as a Nursing Professor led me to carry out a study aiming
at learning about the typical of the intentional action of nurses and professors in
the teaching of the health care activity, Nursing Consultation to Nursing
students. I used as scenario the Nursing Schools and training spaces of the
public Universities of Rio de Janeiro. The research was based on the
Phenomenological Sociology of Alfred Schutz. The statements of seventeen
registered nurses, ten professors and seven nurses, obtained by
phenomenological interviews, allowed to comprehend, by the “reasons-for”, the
subjective action of the subjects by means of the constitution of the concrete
categories of the lived: Teaching and Learning to Take Care; Singularity;
Autonomy; Professional Acting; and Continuing Education. The “reasons-why”
emerged through the category: From the Graduation to the Professional
Experience. From those results, it was possible to construct the typical lived
“Nursing Professors who teache the Health Care Activity - Nursing Consultation
to Nursing students” as being a person who wishes to teach and to learn how to
take care considering the singularity of each client, conquering autonomy to take
decisions in the professional life and seeking knowledge through continuing
education, with the objective of overcoming the background difficulties for
performing the Nursing Consultation. The Phenomenology of Alfred Schutz
appeared in this Study not only as a comprehensive theory about the social
action, but also as a teaching and learning strategy, since the learning which
emerged from the subject’s lived, pointed to a way that opens itself for the
teaching of the Health Care Activity - Nursing Consultation, as a space for
learning exchange. Therefore, who teaches and who learns is the subject of the
social interaction resulting from the Face to Face situation established in the
teaching-learning process, and that, for his dynamic, may promote behavioral
changes in relation to learning to learn to teach.
Keywords: Nursing. Education. Nursing Consultation. Alfred Schutz’s
Phenomenology.
L’ ENSEIGMENT DE L’ACTIVITÉ D’ASSISTANCE - CONSULTATION INFIRMIÊRE: LE TYPIQUE DE L’ACTION INTENCIONNELLE
Ann Mary Machado Tinoco Feitosa Rosas
Sous l’orientation de: Lígia de Oliveira Viana
Résumé de la Thèse de Doctorat d’ Etat soumise au Programme de
Maîtreet Doctorat d’Etat du Cours d’ Infermières, Ecole d’ Infirmières Anna Nery
- UFRJ, comme une partie de ce qui est requis pour l’obtention du titre de
Docteur dans le métier d’infermière.
Mon expérience en tant qu’infirmière enseignante m’a améné à réaliser
une étude pour mieux comprendre le caractère typique de l’action intencionnelle
des infirmirès dans l’enseigment de l’activité d’assistance - consultation
infirmière pour des graduats en sciences infirmières. J’ai adopté l’ambience des
ecoles et des facultes infirmières des universités publiques du municipe de rio
de janeiro et ses terrain de stage. La recherche s’est basée dans la
phénomélogie sociologique de Alfred Schüz. Le témoignage a été fait par dix-
sept infirmières, dont dix enseitenantes et sept exerçant láctivité d’assistance,
témoignabe obtenie au moyen d’un entnetien phénoménologique et qui a
permis, à partir des “motifs pour”, comprendre l’action subjective des sujets à
travers la constitution des catégories du vécu: enseigner et apprendre à soigner;
la singularité; l’autonomie; l’action profissionnelle et l’éducation comtinuelle. Le
“motif-pourquoi”s’est dégabé de la formation à l’experience profissionnelle
permettant construire le type vécu “des infirmières enseignantes et celles qui
exercent une activité d’assistence-consultation infirmière pour des graduats des
sciences infirmières, comme etant celle qui vent enseigner et apprendre à
soigner, en tenant compte de la singularité de chaque client et en même temps
avec la capacité de prendre des décisions dans la vie professionnelle et de
chercher la connaissance à travers l’éducation continuelle. Tout ça dans le but
desurmanter les difficultés de formation pour réaliser une consultation infirmière.
La phénoménologie sociologique de alfred schütz s’est présenté dans cette
étude, pas seulement comme une théorie compréhensive de l’action sociale
mais aussi pouvant être éprouvée comme une stratégie d’enseignement et
d’apprentissage. De cette façon, nous avons un chemin que s’ouvre à
l’enseignement de l’action d’assistance-consultation infirmière comme un temps
d’échange d’apprentissabe lequel établit que celui qui enseigne et et celui qui
apprend est le sujet dans l’interation sociale.
Mots-clés: infirmiêre. Education. Consultation - infirmiêre. Fhenoménologie de
Alfred Schütz.
S U M Á R I O
Resumo Abstract Résumé
ix xi xiii
CAPÍTULO I – INTRODUZINDO A SITUAÇÃO ESTUDADA
Vivenciando a Temática: a troca de experiência com os graduandos de Enfermagem no setor da prática da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem Situação Estudada Objeto do Estudo Objetivo Relevância do Estudo
1
9
19 22 22 22
CAPÍTULO II – COMENTANDO A TEMÁTICA NO CONTEXTO SOCIAL A Saúde no Brasil e o Sistema Único de Saúde (SUS) A Formação das Enfermeiras no Brasil: do Currículo às Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Enfermagem Processo Ensino-Aprendizagem da Consulta de Enfermagem
26 27
32
44
CAPÍTULO III – DESCREVENDO A TRAJETÓRIA TEÓRICO-METODOLÓGICA DO ESTUDO A Opção pelo Referencial Fenomenológico
As Concepções da Fenomenologia Sociológica de Alfred Schütz A Etapa de Campo
49 50
53
58
CAPÍTULO IV – DESENVOLVENDO A ANÁLISE COMPREENSIVA I – Categorias Constituídas pelos Depoimentos II – Descrição do Tipo Vivido ‘Enfermeira Docente e Assistencial, que Ensina a Atividade Assistencial Consulta de Enfermagem aos Graduandos de Enfermagem’
67 69
71
CAPÍTULO V – COMPREENDENDO AS VIVÊNCIAS TIPIFICADAS DAS ENFERMEIRAS DOCENTES E ASSISTENCIAIS NO ENSINO DA ATIVIDADE ASSISTENCIAL - CONSULTA DE ENFERMAGEM AOS GRADUANDOS DE ENFERMAGEM
91
CAPÍTULO VI – INTERPRETANDO A TIPIFICAÇÃO DAS ENFERMEIRAS DOCENTES E ASSISTENCIAIS NO ENSINO DA ATIVIDADE ASSISTENCIAL - CONSULTA DE ENFERMAGEM AOS GRADUANDOS DE ENFERMAGEM
109
CONSIDERAÇÕES FINAIS
119
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
126
BIBLIOGRAFIA 134
ANEXOS
I – Solicitações ao Comitê de Ética do HUCFF / UFRJ
II – Solicitações ao Comitê de Ética do HUGG / UNIRIO
III – Solicitações ao Comitê de Ética do HUPE / UERJ
IV – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
V - Entrevistas
139
140
141
142
144
CAPÍTULO I
INTRODUZINDO A SITUAÇÃO ESTUDADA
A saúde no Brasil, por seus confrontos entre as necessidades da
população e as reais condições dos serviços de assistência prestados, ocupa
destaque nas diversas áreas do saber científico como a social, tecnológica,
humana, biológica, refletindo-se no ensino em Enfermagem objetivado pela
ação individual da Enfermeira ao cuidar das pessoas.
Neste contexto, os cuidados de saúde prestados se dão através da
relação que envolve os profissionais que compõem a equipe de saúde de
natureza multidisciplinar, detentora de um saber interdisciplinar que envolve os
profissionais: docentes, assistenciais e o cliente, que se traduz no ato de
consultar.
De acordo com o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa (Fernando,
Luft e Guimarães, 1993, p. 246), consulta (do Latim consulta) significa: ato de
consultar, opinião, conselho ou parecer que se pede a profissionais, exame ou
pesquisa para esclarecimento, prudência, reflexão. Tais se aplicam à ação de
conlsultar, competência do profissional liberal das mais diversas áreas do
conhecimento, como a Saúde.
No Brasil, constato que na área de Saúde, o profissional de maior acesso
à população através da consulta é o Médico. Por isso, nos relatos literários,
científicos, históricos, populares sobre a atuação médica no país, a figura deste
profissional se identifica como: conselheiro, carismático, dono do saber sobre
saúde e doença, conferindo-lhe status pessoal, profissional e social. O que
denota um fenômeno cultural presente em nossa sociedade.
Na Enfermagem existem, desde 1925, registros da participação das
Enfermeiras durante a pré e pós-Consulta Médica no manual preparado pelas
Enfermeiras americanas para as Enfermeiras de Saúde Pública, brasileiras,
especificamente na parte dedicada às doenças venéreas. Porém, a
denominação, Consulta de Enfermagem só foi criada em 1968, pelos
profissionais que participaram do Curso de Planejamento de Saúde da
Fundação de Ensino Especializado de Saúde Pública (hoje Instituto Presidente
Castelo Branco) (Castro 1975, p.79).
É neste panorama que cada vez mais a população vem necessitando de
melhores condições de vida e sobrevida através da prestação de serviços de
saúde, que possam atender as suas necessidades e, por conseguinte, exigindo
que melhores profissionais cuidem de sua saúde através de uma formação
condizente com a realidade social.
No desenvolvimento da minha prática profissional como Enfermeira1
assistencial e docente, a questão do ensino da atividade assistencial da
Consulta de Enfermagem (CE) surge como uma preocupação que se traduz
por vivenciar a prática desta temática no meu dia-a-dia desde que me fiz
profissional há mais de vinte anos.
Desta maneira, nos diferentes cenários da prática tais como:
comunidades, domicílios, indústrias, unidades de saúde pública, escolas,
creches, ambulatórios, hospitais e tantos outros, a prestação do cuidado de
Enfermagem através da CE, não se restringe somente às pessoas doentes,
mas também é uma atividade que vai além do atendimento às necessidades
humanas básicas do ser humano, visa o autocuidado, a auto-estima, a
autovalorização, a cidadania não só dos que recebem cuidado mas dos que
prestam este cuidado.
_____ 1 Considerando a predominância do sexo feminino no desempenho das atividades de Enfermagem, neste estudo será utilizada a expressão “Enfermeira” para fazer referência aos profissionais da categoria.
Logo, a Enfermagem é uma profissão cujo cuidar de pessoas é
finalidade, objetivo e prática; é o que a embasa como ciência e arte, conforme a
maioria das produções científicas publicadas pelas Enfermeiras nos anos 90
(Henriques, 1993; Tyrrell & Carvalho, 1994; Rodrigues, 1996; Rosas, 1998;
Castelo Branco, 1999; Ghelman, 2000; Camargo & Oliveira, 2001; Santana,
2002; Lós de Alcântara, 2002; Ribeiro, 2002).).
A Enfermeira, enquanto exerce a sua função assistencial ou docente
através da CE, tem a possibilidade de transformar-se pois experiencia a
singularidade do outro quando compreende o mundo subjetivo que lhe é
expresso e vivencia a intersubjetividade, resultando na liberdade de ser de
cada um. Logo, a CE é o cuidar globalizado do indivíduo em uma vivência que
lhe é própria e define suas necessidades sentidas, estas serão únicas na
tomada de decisão da enfermeira, na manutenção da saúde do indivíduo e,
conseqüentemente, da coletividade (ROSAS, 1998, p. 21).
Neste contexto, a partir de 1995, minha prática vem se intensificando
com o trabalho da docência, especialmente com o ensino da atividade CE
enquanto professora do Departamento de Metodologia da Enfermagem −
Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(DME – EEAN / UFRJ), e no Curso de Licenciatura e Enfermagem junto ao
Departamento de Didática da Faculdade de Educação/UFRJ.
Destaco que o ensino da atividade assistencial da CE se faz no setor de
estágio, de forma previamente planejada e programada pelas diretrizes
hospitalares, através das normas e rotinas setoriais na prática das Enfermeiras
que cuidam dos clientes matriculados nos respectivos programas de saúde.
Enquanto docente, atuo com os alunos em todos esses programas, com a
autonomia adquirida pelo trabalho que realizamos.
Assim, ao receber os discentes neste setor, ressalto o contato dos
mesmos com a atividade CE, desde o início do curso de graduação em
Enfermagem, através do currículo flexível, de conteúdos programáticos,
disciplinas planejadas e recursos de laboratórios relativamente equipados,
tendo em vista a formação da futura profissional, Enfermeira.
Deste modo, entendo que o currículo das Escolas de Enfermagem tem
que estar vinculado ao momento histórico, e inserido na realidade profissional,
que deve se pautar por princípios filosóficos e pedagógicos que direcionem a
prática da Enfermeira do nível do senso comum ao da consciência crítica da
realidade.
Oguisso (1970, p. 65) afirma que:
[...] Tais condições são imprescindíveis para que o estudante de Enfermagem possa vivenciar e, se possível, repetir experiências pessoais, contribuindo para o desenvolvimento de capacidades e habilidades, evidenciando o sentido ético da profissão. [...]
Na nossa atuação no Programa Curricular Interdepartamental-VI (PCI-VI),
de acordo com o modelo da Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ,
realizando a CE para pacientes portadores de patologias crônicas e seus
familiares, no setor ambulatorial de baixa e média complexidades do Hospital
Universitário Clementino Fraga Filho / UFRJ, salas 103 e 105, desenvolvemos
os programas de diabetes, hipertensão, imunodeficiência adquirida, climatério e
menopausa, idoso com alteração do comportamento. Ao compactuar com o
discente o processo de ensinar e aprender a atividade assistencial CE,
vivenciamos o seu reconhecimento como atividade de relevância nas práticas
de Enfermagem, uma vez que é concebida como uma forma de assistir
permitindo à Enfermeira autonomia para decidir junto ao cliente as ações que
deverão ser implantadas para a manutenção ou alcance de sua saúde
(Rosas,1998, p. 17).
Porém, no citado Programa Curricular, respeitando o grau de
complexidade referente à atividade, vivenciamos o que Henriques (1993, p.31)
refere:
[...] A CE se constitui em uma das mais polêmicas atividades do processo de trabalho do Enfermeiro, já que ao longo dos anos passou por transformações que acompanharam as mudanças na sociedade. A CE assume para muitos Enfermeiros um papel de resgate do valor profissional, definindo melhor seu papel e ampliando seu campo de atuação. [...]
Assim, temos vivenciado nossas trocas no processo de ensinar e
aprender a realizar a CE no PCI-VI, docentes, assistenciais e discentes, no
nosso cotidiano, na busca de formalizar nosso conhecimento científico através
das nossas vivências junto ao processo político de formação profissional.
Já com os discentes do curso de Licenciatura em Enfermagem ministro
as disciplinas Didática Especial de Enfermagem I e II, que têm por finalidade
funcionar como um laboratório didático para a disciplina Prática de Ensino que
ocorrem concomitantemente.
Alguns de nossos alunos de Enfermagem, ao cursarem essas
disciplinas, já terminaram o curso de graduação e, neste momento, investem na
educação continuada através de residência, especializações e até mestrado,
ou já fazem parte da força de trabalho profissional nas diversas instituições
públicas e privadas.
Os estágios do curso de Licenciatura são ministrados no Colégio de
Aplicação (CAp) da UFRJ no ensino fundamental do Curso de Alfabetização,
CA (do CA à oitava série) e médio (do primeiro ao terceiro ano), junto à
disciplina Ciências, com o conteúdo de Programa de Saúde.
Os licenciandos de Enfermagem compartilham do saber e do ensinar
dos demais estágios do curso de Licenciatura, especificamente os de Biologia e
Pedagogia.
Identifico que nas aulas teórico-práticas, quando utilizamos a
metodologia participativa construindo o conhecimento através da vivência, os
discentes de Enfermagem têm ministrado os conteúdos programáticos voltados
para a sua prática assistencial nas ações preventivas, o que os difere dos
alunos de Biologia, cujo enfoque é a morbidade.
Neste contexto, verificamos a aproximação dos discentes e docentes do
CAp/UFRJ, numa ampliação das atividades programáticas institucionais
voltadas para campanhas de ações educativas, orientações dos aspectos de
saúde como avaliação do crescimento e desenvolvimento, as condições
nutricionais, teste de acuidade visual, detecção da glicemia capilar, saúde oral e
emocional cabe destacar a integração dos nossos licenciandos junto ao Serviço
de Orientação Educacional (SOE).
Assim, a ação assistencial da CE por vezes se faz necessária e
condizente com o ensino formal, visto que o CAp/UFRJ se dispõe a prestar
educação integral como finalidade por sua filosofia educacional.
Desta maneira, nossos alunos discutem o desenvolvimento da prática
assistencial e pedagógica no processo didático de ensino e aprendizagem
neste grupo da população estudantil.
Neste meu caminhar docente, em 1998, concluí o Curso de Mestrado
em Enfermagem apresentando a dissertação: “A Consulta de Enfermagem na
Unidade de Saúde: Uma Análise Compreensiva na Perspectiva das
Enfermeiras”. Esta pesquisa foi um estudo fenomenológico, baseado na
Fenomenologia Sociológica de Alfred Schütz. Tal investigação se deu a partir
das minhas inquietações com a temática CE, desenvolvendo a atividade
enquanto Enfermeira de instituição privada, desde 1980 até 1993.
Busquei analisar compreensivamente o significado da atividade
assistencial – Consulta de Enfermagem para as Enfermeiras e então saber
porque algumas obtêm sucesso ao desenvolver a ação assistencial da CE
enquanto outras não. A fala das dezesseis Enfermeiras, sujeitos do estudo,
apontou para o contexto específico, único que diferencia a situação biográfica
de estar inserida no mundo da vida que é a própria vivência, a visão de mundo,
o seu eu pessoa que a faz profissional – Enfermeira, diante do ser pessoa -
cliente através do fenômeno: Consulta de Enfermagem no processo saúde-
doença.
Por todas essas reflexões, baseadas nas minhas vivências com a
temática como pessoa e profissional, ao dar prosseguimento à minha
qualificação profissional através do Curso de Doutorado em Enfermagem, vindo
ao encontro dos meus interesses de docente e pesquisadora vinculada às
linhas de pesquisa do meu Departamento através de seu Núcleo de Pesquisa
em Educação, Gerência e Exercício Profissional em Enfermagem
(NUPEGEPEn), surge como tema de estudo: “O ensino da atividade
assistencial Consulta de Enfermagem: o típico da ação intencional. Com isto,
mais uma vez, retorno ao processo de ensinar a cuidar através da ação
assistencial Consulta de Enfermagem, subsidiada por toda a minha trajetória
profissional, na perspectiva das Enfermeiras docentes e assistenciais se
mostrarem através de suas subjetividades no mundo da vida da Enfermagem.
Neste sentido, o Ser Enfermeira no mundo das relações sociais entre o
Eu e o Outro deve ser estimulado por docentes e assistenciais através de um
ensino crítico, no qual os interesses da profissão transcendam os interesses
pessoais. Só assim faremos mudanças no tocante ao reconhecimento
profissional direcionado para a autonomia legitimando o pensar, o fazer e o
decidir da Enfermagem através da ação intencional das Enfermeiras ao
desenvolverem a atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, estimulando
o graduando de Enfermagem a aprender a aprender o seu agir profissional.
Vivenciando a Temática: a troca de experiência com os
graduandos de Enfermagem no setor da prática da
atividade assistencial, Consulta de Enfermagem
Ao receber os graduandos de Enfermagem no cenário de prática, solicito
que as Enfermeiras assistenciais responsáveis, respectivamente, pelo Setor de
Consulta de Enfermagem e pelos Programas de Saúde procedam as
orientações sobre ações sistematizadas como: normas, rotinas, procedimentos,
protocolos de atendimentos, agendamentos, encaminhamentos internos e
externos institucionais, referentes aos Programas de Diabetes, Hipertensão,
Climatério, do Idoso, entre outros, nos quais a maioria dos nossos clientes
estão inseridos.
Neste momento, sempre que possível, para que saibam com quem
trabalhamos direta e indiretamente, também apresentamos aos nossos
graduandos os demais membros da Equipe de Saúde como médicos,
assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos, auxiliares e técnicos de
Enfermagem, acadêmicos de outras áreas e aos clientes que se encontram na
sala de espera dos Consultórios, e até sendo atendidos nos outros setores por
algum membro da Equipe, no intuito de iniciarmos a relação social de forma
comunicativa entre o Eu e o Outro intersubjetivamente.
Em seguida, embora ao julgarem necessário possam perguntar, dedico
um espaço para que os graduandos em tela possam expor seus pensamentos,
dúvidas, ansiedades sobre o referido cenário de prática da Consulta de
Enfermagem, já que em outros Programas Curriculares Interdepartamentais
eles tiveram contato com alguns Programas de Saúde, através da atividade
assistencial, Consulta de Enfermagem, embora nem sempre todo o grupo tenha
podido vivenciar as oportunidades, pelos mais diversos motivos, um deles o
número de alunos, incompatível com o reduzido número de docentes, fato que
dificulta o atendimento das necessidades de quem ensina e de quem aprende.
No meu registro sobre a fala dos graduandos ao exporem suas
expectativas, consta: relacionar o estágio no setor da Consulta como um
momento para suprir as deficiências da aprendizagem nas técnicas,
procedimentos como: exames físico e laboratoriais, administração de
medicamentos do tipo insulinização, utilização de instrumentos para testes de
glicemia capilar, como também de conteúdos teóricos curriculares a exemplo:
“Como vamos atender no climatério, se não tivemos esse conteúdo ainda?”
A resposta é: vamos atender aos clientes, e assim fazendo, vamos
aprendendo. Só necessitamos estar motivados para realizar a atividade
assistencial, Consulta de Enfermagem, e abertos à possibiidade de ouvir o
nosso cliente nas suas necessidades; e para tal, destacamos alguns princípios
fundamentais, baseados nas autoras Vanzin e Nery (1977), citadas por Ribeiro
(2002, p.43):
[...] – Aceitar o cliente com seus valores, crenças, seu estilo de vida, dentro de uma visão holísica; – concebê-lo dentro do seu contexto familiar, pertencente a uma comunidade, com responsabilidade mútua; – manter autenticidade no processo de comunicação, oportunizando-lhe expressar seus sentimentos, num relacionamento de empatia; – conceber a enfermagem como ciência exercida com base nos conhecimentos científicos e como arte, que exige habilidade nas relações interpessoais; – desenvolver um trabalho harmônico entre a equipe, produzindo um atendimento qualificado e eficiente. [...]
Assim, no processo de prestação de assistência de enfermagem através
da consulta de enfermagem, esse cliente tem a sua cultura, pertence a um
núcleo familiar, a uma comunidade, tem sua opinião própria, desejos, alegrias,
insatisfações, é livre em suas escolhas, e é através da interação entre quem
ensina a cuidar e quem aprende a cuidar com quem aprende a se cuidar que se
dá a intersubjetividade, possibilitando o verdadeiro cuidar humano,
independente das patologias de que a pessoa seja portadora.
é necessário, portanto, um cuidado que englobe não somente o aspecto
técnico-científico, mas um conceito de assistência que se coadune com o
holismo, superando a fragmentação e o reducionismo da assistência tecnicista
atual, possibilitando uma compreensão mais ampla do homem e da natureza
que o determina como ser humano (camargo, 2001, p.15).
desta maneira, o cuidado não é uma técnica, mas sim uma conjunção
entre a técnica e o modo de ser de quem realiza e para quem é realizado,
trazendo para a prática de saúde o cuidado, que pode ser definido como zelo,
atenção, uma forma de expressão, ser-com o mundo, enfim, exercício pleno do
que há de mais humano no ser (waldow, 2001, p.17).
considero importante que o graduando de enfermagem possa
compreender a atividade assistencial consulta de enfermagem como um
cuidado ao cliente, que possibilita identificar as necessidades sentidas e
expressas, direcionando a assistência de saúde para a pessoa. Tocantins
(1984, p.94) define a consulta de enfermagem como uma atividade que inclui
técnicas e procedimentos destinados à obtenção, análise e interpretação de
informações sobre as condições de saúde da clientela, orientação e outras
medidas visando influir na adoção de práticas favoráveis à manutenção e
proteção da saúde.
neste contexto, iniciamos o nosso estágio com a recepção ao cliente,
solicitamos que ele fale como se sente no momento atual, como tem passado
desde a última consulta e/ou da última vez em que nos vimos, observando as
suas reações e distinguindo suas necessidades prioritárias. Algumas vezes,
essas necessidades não estão ligadas a nenhum fator da doença relativa ao
programa de saúde, sendo de ordem meramente pessoal. Nem sempre
podemos resolvê-las, mas ouvi-lo pode estabelecer uma relação de ajuda.
a empatia deve ser exercitada durante todo o atendimento para que
possamos estabelecer a interação de pessoa para pessoa e proceder uma
assistência na qual o cuidado prestado pela enfermeira, docente ou
assistencial, ou pelo graduando de enfermagem, possa oferecer o conforto
necessário; e isso só será possível se houver confiança e respeito. Santana
(2002, p.56) nos diz que a enfermeira exerce a função de mediadora e facilita
as reorganizações dos pensamentos, gerando uma possibilidade de
aprendizado pelo cliente desse momento singular no qual se encontra.
ao realizarmos o exame físico baseado nos princípios técnico-científicos
faz-se necessário enfocar os pontos importantes para o auto-exame, como os
de mama, verificação de sinais vitais, pressão arterial, edemas, hidratação da
pele e mucosas, oxigenação, peso compatível com altura e massa corporal,
curativos, testes de sensibilidade (caso seja necessário). O importante é que o
graduando aprenda a repassar o conhecimento e que o cliente compreenda que
ele é quem melhor vai se cuidar.
O tratamento medicamentoso e as medidas terapêuticas, previamente
estabelecidas pelos médicos, psicólogos, dentistas, são enfatizados por
detalhada orientação como os exames laboratoriais, radiológicos e de alta
precisão, teste de mensuração de glicose2, seja glicosúria, cetonúria ou
glicemia capilar, hormonioterapia, devem ser prescritos de acordo com a
condição econômica do cliente, que deve ser considerada na elaboração do
plano de assistência, e reavaliada a cada momento de encontro na consulta de
enfermagem.
No que se refere aos hábitos, sugiro que sejam interrogados com uma
certa sutileza para que a pessoa não se sinta constrangida e possa responder
com sinceridade. Exemplifico que, se desejamos saber sobre sua alimentação,
devemos perguntar como arruma seus alimentos em relação à cor, para que
possamos avaliar proteínas, carboidratos, legumes, verduras, o que gosta de
beber, como o faz e quantas vezes ao dia, durante quanto tempo e em que
local.
2 muitos clientes são portadores de doenças crônicas, mas estão matriculados em outros programas que não o de
diabetes.
Os alimentos contribuem para a nossa saúde e a maneira como os
arrumamos, o local no qual realizamos as nossas refeições, com quem
desfrutamos esse prazer, isso é muito importante para a implementação das
nossas ações, baseadas nas necessidades expressas pelo cliente. por isso,
trocamos receitas na confecção das dietas, principalmente com as pessoas que
fazem parte do programa de diabetes e de hipertensão, pelo rigor das
quantidades e qualidade dos alimentos.
Dada pessoa, ao falar dos seus hábitos, transmite o seu comportamento
adquirido de seus familiares, amigos, professores; é sempre um refletir sobre os
erros e os acertos, expressar culpas, sentir-se vítima de qualquer coisa que não
conseguiu resolver. é uma ocasião propícia para as orientações que julgamos
necessárias na identificação dos problemas.
No tocante à higiene pessoal, considero não só o fato do banho, mas a
troca das roupas íntimas de quanto em quanto tempo; em relação a cavidade
oral: uso de prótese e a limpeza da peça; a sexual: como procede antes e
depois das relações sexuais, orientando para evitar possíveis infecções no trato
das mucosas, especialmente a genital.
Este é um momento no qual as pessoas expõem suas dúvidas com
muita propriedade em relação à sua sexualidade nos aspectos emocionais,
espirituais, condições sociais e ambiente em que vivem e foram criadas. oriento
aos graduandos de enfermagem que necessitamos observar até que ponto do
depoimento podemos intervir, e se o próprio cliente sente necessidade de dividir
com outro profissional, como o psicólogo e até mesmo o assistente social ou o
médico, dependendo da área do problema desta sua vivência, para poder se
sentir confiante.
O graduando de enfermagem precisa aprender que, embora toda a
equipe de saúde cuide do cliente, a consulta de enfermagem oportuniza a
enfermeira a prover um cuidado voltado para a pessoa na sua complexidade:
corpo, alma e espírito, não dissociando essas partes, mas compreendendo que
elas formam um todo.
Assim, para tal cuidado, faz-se necessário o saber teórico, a destreza
técnica, o conhecimento científico, buscando-o a cada dia para embasar-se e
compartilhá-lo com os demais elementos da equipe de saúde e junto às
pessoas que cuidamos, numa relação social entre nós, porque esse é o nosso
jeito de fazermos a arte e a ciência de enfermagem.
Waldow (2001, p.36) nos diz que:
[...] O cuidado tem sua origem no interesse, na responsabilidade, na preocupação ou no afeto. Resgatar o cuidado humano parece inerente à nossa condição como enfermeiras. No entanto, profissionais de saúde acostumados a agir tecnicamente, não reconhecem as implicações do cuidar e afastam-se do cuidado ou o realizam de maneira impessoal. [...]
No intuito de mostrar aos graduandos que a enfermeira cuida de modo
singular, levando em conta a formação pessoal, crenças, valores e a
aprendizagem de cada indivíduo, por vezes, solicito que o nosso cliente
demonstre como procede no seu dia-a-dia na aplicação do uso de
medicamentos, fale sobre o que sabe sobre as bulas dos remédios prescritos,
efeitos colaterais, da própria patologia ou mesmo do momento da fase da vida,
como no caso das pessoas dos programas de climatério e do idoso.
Percebo que o cliente se sente valorizado, reconhece que valeu a pena
seu sacrifício na mudança de hábitos, faz comparações acerca de como era
antes a sua vida e como ela é agora, através da consulta de enfermagem,
dando as explicações com afeto aos graduandos, que gostam dessa dinâmica e
citam-na como positiva em suas avaliações do cenário da prática.
Desta forma, podemos identificar junto ao cliente, o levantamento das
necessidades sentidas e não satisfeitas, verbalizadas, percebidas pelo cliente,
familiar, enfermeira e/ou graduando que se constituem no problema ou nos
problemas, os quais avaliamos durante toda a atividade assistencial e nos
conduzem ao diagnóstico de enfermagem.
Para Vanzin e Nery (1996, p.62):
[...] O diagnóstico de enfermagem é a identificação de problemas a serem atendidos frente ao subjetivo, ou seja, pelas informações do cliente, e frente ao objetivo, ou seja, pela constatação dos achados clínicos ou laboratoriais. Diz respeito à identificação correta das necessidades do cliente, atuais ou potenciais; é também a escolha ou a ajuda dada ao cliente para escolher os métodos eficazes para satisfazer estas necessidades. [...]
A medida que realizamos o diagnóstico de enfermagem de cada cliente,
iniciamos as ações que farão parte do plano assistencial e/ou de ações
educativas, direcionadas para o autocuidado das pessoas e planejadas,
implementadas e avaliadas a cada consulta de enfermagem.
Assim propomos organizar o plano de ação assistencial a ser seguido e
manuseado pelo cliente no qual a própria pessoa se atribui uma nota referente
ao prazer que sentiu ao realizar a ação planejada, como por exemplo:
NECESSIDADE SENTIDA
AÇÃO ASSISTENCIAL
PLANEJADA
AÇÃO REALIZADA
PELO CLIENTE
OBERVAÇÕES DO CLIENTE
GRAU ATRIBUÍDO
PELO CLIENTE
FALTA DE EXERCÍCIO FÍSICO
CAMINHADA TRÊS VEZES POR SEMANA
FIZ DUAS CAMINHADAS
CHOVEU NO TERCEIRO DIA
ÓTIMO (10)
No plano de ações educativas, interessa-nos o aprendizado do cliente ou
do familiar sobre o manuseio de algum procedimento e/ou técnica que constitua
uma atividade didática que possa interferir no seu comportamento para o auto-
cuidado, como exemplo: verificação dos sinais vitais incluindo a pressão
arterial, pequenos curativos, teste de glicemia capilar entre outros.
NECESSIDADE IDENTIFICADA
MOTIVO AÇÃO PLANEJADA
AÇÃO DO CLIENTE E/OU
FAMILIAR
GRAU ATRIBUÍDO
PELO CLIENTE PARTICIPAR
DA PALESTRA SOBRE
PRESSÃO ARTERIAL E
VERIFICAÇÃO DE PA
APRENDER A VERIFICAR A PRESSÃO ARTERIAL
REUNIÃO EM 03/9/03, DE
09:00 ÀS 10:00H NA SALA 103 - AMBULATÓRIO
ASSISTI AS EXPLICAÇÕES E DESENVOLVI
A TÉCNICA
ÓTIMO (10)
Percebo que os clientes sentem-se mais seguros ao levarem para casa
um material que é feito com cada um deles, explicado, avaliado e que constitui
um motivo de leveza e até de lazer, porque a medida que começam a
preencher os quesitos e a reavaliar suas condutas, fortalecem sua motivação
para a manutenção da saúde.
o registro das observações feitas, os procedimentos e técnicas
realizadas, os achados numéricos, os dados específicos protocolares
correspondentes a cada programa de saúde, o diagnóstico de enfermagem, as
orientações para as ações a serem implementadas para o auto-cuidado, o
agendamento da próxima consulta, os encaminhamentos a outros profissionais
ou serviços, se houver, são todos relatados no prontuário do cliente.
discuto com os graduandos de enfermagem que não há uma receita nem
para a consulta de enfermagem e nem para o seu registro, mas existem
princípios éticos, técnicos, científicos e didáticos críticos que devem ser
seguidos e a conferem como atividade relevante que vem ajudando a
caracterizar a assistência de enfermagem como uma profissão autônoma com
um corpo de conhecimentos próprios, científica.
o tempo que os graduandos passam no setor de consulta de
enfermagem é de, no máximo, quatro dias durante o estágio, o que considero
Pouco porque os grupos são constituídos por oito a nove componentes, o que
mesmo dividindo em dois subgrupos, um atuando numa sala com a docente e o
outro noutra sala com a assistencial, se faz fundamental que todos possam ter
as mesmas oportunidades de aprendizagem.
verifico que não fazemos uma abordagem detalhada sobre as teorias de
enfermagem durante a consulta de enfermagem, já que no programa curricular
interdepartamental vi há a dinâmica do estudo de caso, que complementa a
atividade assistencial. Geralmente, o graduando escolhe o caso de um cliente
vivenciado no setor da consulta e cuja fundamentação teórica se baseia em
uma teoria de enfermagem.
das teorias de enfermagem, as mais citadas nos estudos de caso são as
de: martha rogers, 1970; elizabeth d. Orem, 1971, do auto-cuidado; roy, 1974,
1976 e 1981 da adaptação; imógene king, 1971 e 1981 do alcance dos
objetivos; wanda de aguiar horta, 1979 das necessidades humanas básicas;
jean watson, 1979 do cuidado humano e o referencial teórico do north american
nursing diagnosis association (nanda) (almeida e rocha, 1986, p.102).
neste contexto, os graduandos de enfermagem aprendem que o ensino
da atividade assistencial, consulta de enfermagem, consiste em compreender
as experiências humanas, independente da patologia crônica a qual a pessoa
está acometida, e referida a um programa de saúde. Por isso...
[...] Um método proeminente que está progressivamente a ser reconhecido como um método apropriado para a enfermagem por um número de teóricas da enfermagem e investigadores, é o método fenomenológico. [...] (Watson, 2002, p.136).
Situação Estudada
Na busca por atender a estas solicitações que vêm deflagrando a
problemática da questão saúde em nosso país, é que cada vez mais se faz
presente no referido setor, a operacionalização do trabalho em equipe, no qual
cada membro tem o mesmo grau de responsabilidade junto ao sujeito das
nossas ações, o cliente.
Desta forma devemos ensinar que a Consulta de Enfermagem é uma
atividade privativa da Enfermeira, que exerce a profissão liberal de acordo com
a Lei nº. 7.498, de 1986, que dispõe sobre o regulamento do Exercício
Profissional de Enfermagem.
De acordo com a Resolução 272 / 2002, o Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN), no uso de suas atribuições legais e considerando a
respectiva Lei, resolveu:
[...] Artigo 1º - Ao Enfermeiro incumbe: a implementação, planejamento, organização, execução e avaliação do processo de Enfermagem, que compreende as seguintes etapas: - Consulta de Enfermagem - Histórico de Enfermagem - Exame Físico - Diagnóstico de Enfermagem - Prescrição da Assistência de Enfermagem - Evolução da Assistência de Enfermagem - Relatório de Enfermagem. [...]
E essas etapas, conforme o Artigo 3º, deverão ser registradas
formalmente no prontuário do paciente / cliente / usuário.
Porém, não deve haver confrontos entre as abordagens das consultas
dos diversos profissionais de saúde, em especial entre Médicos e Enfermeiras.
No que concordo com Vanzin e Nery (1996, p. 113):
[...] a abordagem da CE é diferente da abordagem da consulta médica. A primeira é centralizada na pessoa, que é o sujeito das ações, com mente, corpo e espírito; e a segunda é centralizada na doença/patologia e seu sujeito, o homem é igual a soma das partes.[...]
Portanto, o ensino dos conteúdos da CE tem a ver com a promoção e
proteção específicas da saúde, bem como a sua reabilitação. O enfoque é a
educação para a saúde e como se conduzir ao bem-estar pelo auto-cuidado.
É neste panorama que os Programas de Saúde cada vez mais vêm se
tornando exeqüiveis nas Unidades de Saúde, e o ensino da atividade Consulta
de Enfermagem incorporado aos mesmos, já que para a clientela matriculada
nestes Programas a necessidade buscada não é mais o diagnóstico clínico ou
terapêutico de competência médica, e sim a manutenção da saúde (Rosas,
1998, p. 22).
Essa percepção nos indica o cuidar do indivíduo, tão próprio da
profissional Enfermeira, levando em conta a pessoa com suas características
biológicas, psicológicas, religiosas e sociais que as tornam particular
(Rosas,1998, p. 22).
Neste contexto, o ensino da atividade assistencial da Consulta de
Enfermagem praticada por Enfermeiras docentes e assistenciais nas Unidades
de Saúde é uma realidade.
Os ambulatórios dos hospitais que figuram como campo de estágio para
os graduandos de Enfermagem, oferecem oportunidades de aprendizado da
atividade CE através dos diversos Programas de Saúde.
Nesta perspectiva, Tocantins (1993, p. 7) afirma que a tomada de
decisão profissional de Enfermagem não é influenciada somente pela
orientação institucional, mas também por valores individuais e pelos da
profissão.
Logo, entendo que as Enfermeiras que ensinam aos graduandos de
Enfermagem a realizar a Consulta de Enfermagem sistematizada ou não na
Unidade de Saúde, podem ter respostas significativas e singulares ao levarem
em conta os sentimentos e pensamentos de cada indivíduo, e até mesmo os
diferentes contextos sócio-culturais vivenciados por este ensinar a cuidar
(Rosas,1998, p. 24).
Neste contexto, percebo: que no cotidiano do ensino da atividade
Consulta de Enfermagem, algumas Enfermeiras, apenas reproduzem suas
ações sem levar em conta a presença do graduando de Enfermagem na
condição de aprendiz, como se apenas estivessem demonstrando o seu
conhecimento científico para posteriori, tal atitude ser copiada, reproduzida sem
considerar o processo de reflexão, do pensar a sua prática profissional
enquanto sujeito da ação e do ato de cuidar do cliente com suas implicações de
historicidade, no contexto social, político, econômico e cultural.
Assim, o ensinar a realizar a CE se dá numa relação Eu e Tu, na qual
Enfermeiras docentes, assistenciais, graduandos e clientes são sujeitos de suas
ações e vivenciam a relação social na produção do conhecimento em
Enfermagem na busca da qualidade da assistência de saúde.
Diante das minhas inquietações com a temática, busco compreender o
que se passa com esses sujeitos - Enfermeiras docentes e assistenciais ao
ensinarem aos graduandos de Enfermagem a realizar a ação assistencial da
CE, não no intuito de comparar seus procedimentos mas de ouvi-las nas suas
subjetividades e intersubjetividades para que possamos cada vez mais
qualificar o ensino desta atividade assistencial.
O objeto de estudo é o típico da ação intencional das Enfermeiras,
docentes e assistenciais, no ensino da atividade assistencial Consulta de
Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem.
A questão que norteou o presente estudo foi: “Como as Enfermeiras,
docentes e assistenciais, refletem sobre a sua prática de ensinar a atividade
Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?”, tendo como
objetivo apreender o típico da ação intencional das Enfermeiras, docentes e
assistenciais, no ensino da atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos
graduandos de Enfermagem.
Assim Utilizando o referencial metodológico da Fenomenologia
Sociológica de Alfred Schütz que permite, mediante a compreensão do típico da
ação intencional, a busca dos “Motivos-para”e dos “Motivos-porque”, a
construção do tipo vivido, na perspectiva da Consciência Intencional, como
observa Schütz (1979, p. 27).
Relevância do Estudo
A relevância do estudo dá-se através das reflexões que surgem a partir
da apreensão do típico da ação intencional das Enfermeiras no ensino da
atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de
Enfermagem, na busca de um conhecimento advindo do vivenciar dessas
pessoas, constituindo uma possibilidade de influir nos setores: de ensino,
assistencial, pesquisa e extensão.
Ao desenvolver a atividade assistencial nos campos de prática, o
graduando de Enfermagem experiencia que deve respaldar-se não apenas no
conhecimento técnico-científico, mas buscar compreender a contextualização e
o vivido das pessoas inseridas no seu mundo da vida, direcionando o seu agir
profissional que se fará visto por outros profissionais e por toda comunidade de
saúde.
Ao propor uma abordagem fenomenológica ao tema, acredito poder
ampliar as possibilidades de entendimento no ensino da CE, porque a
compreensão fenomenológica não é um pensar sobre algo, se dá em conjunto
com a interpretação que o investigador social apreende como resultado de
processos da aprendizagem ou aculturação manifesta pelos sujeitos, ao darem
significado ao fenômeno situado, vivido.
É neste contexto que as Ciências Sociais tratam da Compreensão da
Ação Social e por ação social, entende-se desde uma relação interpessoal eu e
tu, dual, entre duas pessoas ou até de mais pessoas presentes estabelecendo
uma ação que tem significado subjetivo. Para Schütz, a ação é a conduta do
sujeito baseada em um projeto, isto é, "[...] toda ação é uma atividade
espontânea orientada para o futuro, visando algo, portanto é projeto [...]"
(Schütz, 1972, p. 87).
No mundo da vida, vivemos como homens entre homens, recebendo
influências, influenciando, sendo interpretados e interpretando o universo de
significados que nos são culturalmente transmitidos, e que transmitimos
pela historicidade dos costumes e tradições determinantes em nosso
comportamento social. Como explica Schütz (1974, p. 17),
[...] cada pessoa segue durante toda a sua vida interpretando o que encontra no mundo segundo a perspectiva de seus interesses particulares, motivos, desejos, aspirações, compromissos religiosos e ideológicos. [...]
A compreensão (Vesterhen) é algo que se mostra, que aí está presente,
que vemos na relação conjunta daquilo que aí está presente.
[...] Portanto, a compreensão é um ato de ligar quem compreende com aquilo que se compreende. Na sua origem latina, compreensão significa: preencher-apreender você ou aquilo que se apreende, você consegue captar a unidade daquela ação, daquilo que está sendo compreendido. [...]
Em síntese, a compreensão não pode ser vista apenas como um método
empregado pelo pesquisador para análise das ações humanas em seu contexto
cultural. ”[...] É a forma experiencial em que o pensamento comum forma
conhecimento do mundo social e cultural [...]" (Schütz, 1974, p.77).
Para o autor, a Compreensão é um processo subjetivo, cujo propósito é
desvelar os motivos que os sujeitos atribuem às ações humanas e não aos
objetos inanimados. É o significado subjetivo entre as pessoas sobre a relação
social com um significado de pessoa, pessoa para pessoa.
Tendo em vista a opção por essa possibilidade de compreender a fala
livre, subjetiva da Enfermeira, docente e assistencial, sobre a ação intencional
de ensinar a CE, numa relação social, somada às abordagens já existentes,
acredito que a mesma potencializará a maneira de transmitir a assistência de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem, o que representará mais um
desafio para a profissão.
O estudo justifica-se por ser a Consulta de Enfermagem uma ação
privativa das Enfermeiras e dar-lhes autonomia, diferenciando-as dos demais
membros da equipe profissional de Enfermagem. Logo, o ensino da CE ainda
aparece na sistemática da saúde como um campo não explorado
suficientemente em relação aos motivos desta atividade enquanto ação
intencional para as Enfermeiras.
É atual porque a medida que os sujeitos das ações e dos atos possam
se expressar, poderemos adequar as necessidades sentidas às propostas
buscadas, numa interação de encontro através da relação social, presente no
transmitir e trocar conhecimentos traduzindo o ensino da CE com a mesma
complexidade e polêmica do processo ensino-aprendizagem do curso de
Graduação em Enfermagem.
No momento, vivenciamos a mudança do Currículo Mínimo ás Diretrizes
Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em Enfermagem, discutindo
competências, habilidades que nos levam a uma aprendizagem significativa,
resultante não só do “como” mas também do “porque” e “para que” ensinamos e
aprendemos a nossa ação intencional na construção da arte e da ciência em
Enfermagem.
CAPÍTULO II
Comentando a temÁtica
NO CONTEXTO SOCIAL
Ao comentar a temática em questão, não posso deixar de situar os
seguintes panoramas: A Saúde no Brasil e o Sistema Único de Saúde (SUS), a
Lei do Exercício Profissional de Enfermagem, a Formação das Enfermeiras no
Brasil: do Currículo Mínimo às Diretrizes Curriculares para o Curso de
Graduação em Enfermagem e o Processo de Ensino-Aprendizagem da
Consulta de Enfermagem.
A Saúde no Brasil e o Sistema Único de Saúde (SUS)
O ensino da atividade assistencial Consulta de Enfermagem, está
diretamente relacionado à questão do desenvolvimento da prática da
Enfermeira em prestar assistência, em cuidar de pessoas na comunidade,
associada as estruturas sociais de saúde e políticas da Nação.
Logo, entendo que a política, a economia, a filosofia, a ideologia e as leis
determinam a formação social dos períodos históricos. As relações de poder, a
questão saúde, são fatores que definem as trajetórias das práticas de saúde
nas quais a Enfermeira docente e assistencial com o seu modo de ensinar a
cuidar se insere, já que as necessidades das diversas populações são tão
antigas quanto a existência da Humanidade.
Neste sentido, segundo Garrafa (1983, p.16),
[...] As soluções para os principais problemas de saúde nas nações em desenvolvimento se relacionam fundamentalmente com uma reordenação social global, nunca com os recursos humanos com que contam ou possam vir a contar estes países e muito menos com os eventuais hospitais e tecnologia sofisticada que venham a adquirir e colocar à disposição da população.[...]
Assim sendo, as Enfermeiras de que o mundo atual está precisando são
aquelas capazes de diagnosticar problemas de saúde comunitária e adotar
medidas para proteger, proporcionar e promover a saúde geral da população;
de cuidar do cliente e do incapaz e de ensinar ao próximo a cuidar de si mesmo
(Rosas, 1998, p.20).
Embora entenda que, no Brasil, a principal unidade administrativa da
ação sanitária: Ministério da Saúde (desvinculado do Ministério da Educação e
Cultura em 1953) tenha iniciado os Programas Sociais e suas siglas, no intuito
de atacar as causas básicas de saúde, geradoras de problemas como:
saneamento, nutrição e tantos outros, os quais nos anos 2000, continuam
existindo e neles a Enfermeira vem desenvolvendo cada vez mais a Consulta
de Enfermagem enquanto ação precípua profissional, identifico que o
graduando tem o seu processo de aprendizagem com a atividade CE
oportunizado através dos Programas de Saúde vigentes nos setores de ensino,
assistência e pesquisa.
Em 1975 – através da Lei nº 6.229 – o Sistema Nacional de Saúde
legitimou a pluralidade institucional e identificou a Previdência Social como
responsável pela assistência individual e curativa, ficando o Ministério da Saúde
responsável, através das Secretarias, pelos cuidados preventivos de alcance
coletivo, acarretando uma divisão entre ações tecnicamente indivisíveis.
Em 1978, a Declaração de Alma-Ata, cujo objetivo foi traçar a Atenção
Primária de Saúde, passa a ser vinculada à resolutividade dos problemas de
saúde no país. Até hoje ainda é citada como tal.
A crise econômica e financeira que vem se arrastando, dificultou a
tomada de medidas articuladas para o slogan: “Saúde para todos no ano 2000”.
Não descartando a decisão política e a participação dos profissionais da saúde
neste contexto.
Na década de 80, ocorrem avanços para a Enfermagem: em 1982 o
Plano CONASP1 trouxe perspectivas para as Ações Integradas de Saúde,
tendo a integração programática entre as instituições de níveis federal,
estadual e municipal, objetivado a melhoria da assistência.
Essas diretrizes compactuaram com a ideologia e com as práticas do
Movimento de Reforma Sanitária e do Sistema Único de Saúde (SUS),
incorporado à Constituição brasileira. Em detrimento da VIII Conferência
Nacional de Saúde (março de 1986), há mudança do conceito saúde, sendo
incorporado à Constituição Federal Brasileira (1988) o Artigo 196, antes
abstrato, que passa a ser entendido como:
[...] A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução
de riscos de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação a agravos.[...]
Ainda em 1986, a aprovação da Lei nº 7.498, de 25/6/86, que trata do
Exercício Profissional de Enfermagem [alínea i, inciso I, Artigo III], publicada no
DOU de 26/6/86 e regulamentada pelo Decreto nº 94.406, de 8/6/87, legitima a
Consulta de Enfermagem como atividade privativa da Enfermeira.
Neste intuito, Campedelli (1989, p.128), ao abordar o tema CE,
refere que a legislação regulamentadora de uma atividade por si só não
_____ 1 CONASP – Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa, órgão do Ministério da Saúde.
garante que ela seja legitimada. O que a legitima é o existir da atividade
continuamente, é o fato de ser importante mesmo não estando legalizada. Era
o que estava ocorrendo com a ação assistencial Consulta de Enfermagem, que
já estava legitimada em algumas instituições de saúde, antes mesmo da
aprovação da Lei do Exercício Profissional.
A Constituição Federal, em seu Artigo 198, cria o Sistema Único de
Saúde (SUS), tendo como proposta o co-financiamento dos três níveis de
governo, além da universalização dos serviços de saúde.
De acordo com a Lei nº 8.080/92, que regulamenta o SUS, o Modelo
Assistencial de Saúde proposto, trouxe avanços para a sociedade brasileira no
que destaca:
- a implantação de um modelo de saúde que atenda aos princípios finalísticos
do SUS;
- a incorporação do conceito ampliado de saúde, entendido como qualidade
de vida;
- a utilização dos critérios epidemiológicos para a definição das prioridades;
- o planejamento da assistência embasado nas reais necessidades de saúde
da população e que utilize como instrumento o diagnóstico de saúde local;
- a promoção de mudanças nas práticas assistenciais, assegurando uma
atenção integrada a saúde dos cidadãos, priorizando as ações preventivas e
promocionais da saúde.
Neste intuito, ressalto a necessidade da reestruturação do ensino e das
práticas de saúde, cabendo às Enfermeiras uma redefinição na formação de
pessoal; logo, no ensino da atividade assistencial Consulta de Enfermagem.
De acordo com Mendes (1995, p.94), “[...] o processo que vem
construindo o SUS pode ser caracterizado como um processo do cotidiano da
prática social, que não vem sendo trilhado por um caminho tortuoso [...]”. Vem
sendo constituído por acertos e desacertos, em construções e desconstruções,
que fizeram os municípios enfrentarem, a cada dia, os mais variados desafios.
Os municípios buscam inovar na tentativa de “[...] uma mudança de paradigma
de atenção a saúde e /... / de um sistema de saúde eficaz, eficiente, de
qualidade e eqüitativo [...]”.
Na década de 90, a IX Conferência Nacional de Saúde (1992) foi o mo-
mento de mudanças políticas governamentais. A Enfermagem ocupa duas
posições: enquanto um contingente significativo de Enfermeiras especializa-se
cada vez mais para atender às expectativas médico-hospitalares, outro grupo
mais reduzido, sinaliza na direção do resgate da Saúde Pública no Brasil.
Assim, cada vez mais a Enfermeira deve incentivar a prática de
Enfermagem como objeto de ensino da assistência de Enfermagem, visando a
saúde do indivíduo como ser integral no seu ecossistema para que os
graduandos de Enfermagem possam exercitar a criatividade no seu modo de
assistir a sociedade.
É neste panorama que a atividade assistencial, Consulta de
Enfermagem, é praticada pelas Enfermeiras nos diversos Programas de Saúde
normatizados pelo Ministério da Saúde há algumas décadas e que, a partir do
Sistema Único de Saúde, vêm se caracterizando como uma estratégia na
prestação de assistência pela Equipe de Saúde para os grupos humanos
através do Programa Saúde da Família.
Nos Manuais elaborados pelo Ministério da Saúde, referentes ao Plano
de Reorganização da Atenção à Tuberculose; à Hanseníase; à Criança; ao
Adolescente; ao Adulto; ao Idoso e à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus
(2002, p.16), no capítulo referente às Atribuições e Competências da Equipe de
Saúde, no que se refere à Enfermeira temos:
Item 2 – Realizar Consulta de Enfermagem, abordando fatores de risco,
tratamento não medicamentoso, adesão e possíveis intercorrências ao
tratamento, encaminhando o indivíduo ao médico, quando necessário;
Item 5 – Solicitar, durante a Consulta de Enfermagem, os exames
mínimos estabelecidos nos consensos e definidos como possíveis e
necessários pelo médico da equipe;
Item 10 – Acrescentar na Consulta de Enfermagem, o exame dos
membros inferiores para identificação do pé em risco. Realizar, também,
cuidados específicos nos pés acometidos e nos pés em risco (Diabetes
Mellitus).
Quando enfocamos as doenças crônico-degenerativas, a Consulta de
Enfermagem se mostra como um cuidado. Pode viabilizar a qualidade da
assistência prestada e a melhoria da qualidade de vida das clientes, orientando
ou estimulando para as mudanças de estilo de vida (Santana, 2002, p.24).
O que se faz necessário ensinar ao graduando de Enfermagem é que a
prática da Enfermeira está centrada no conhecimento científico e no cuidado
humano, vendo o cliente como um todo e não como a soma de órgãos.
A Formação das Enfermeiras no Brasil: do Currículo às Diretrizes
Curriculares para o Curso de Graduação em Enfermagem
Embora não seja pretensão, neste momento, estudar o currículo dos
Cursos de Graduação de Enfermagem, importa abordar alguns aspectos
histórico-curriculares que possam embasar o refletir sobre o ensino da atividade
assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
No Brasil, a Enfermagem científica teve início com a criação da Escola
de Enfermagem Anna Nery, através do Decreto nº 15.799, de novembro de
1922, e como modelo de ensino o Sistema Nightingale, preconizado por
Florence Nightingale, Enfermeira. Esse sistema foi criado na Inglaterra e se
encontrava em vigor nos Estados Unidos, à época.
Os princípios nightingalianos, de acordo com Silva (1986, p.53), podem
ser resumidos como: preocupação com a conduta pessoal das alunas, com
exigências específicas relacionadas à postura física, modos de vestuário e de
comportamento, recomendações para que as escolas tivessem a direção de
Enfermeiras, e não de médicos, exigências de ensino teórico sistematizado e de
autonomia financeira e pedagógica.
Constato que estes princípios indicam a preocupação pelo
reconhecimento da identidade profissional da Enfermeira, o que até hoje se
faz presente em nossa profissão. É comum, nos instrumentos de avaliação
criados pelas Enfermeiras docentes e assistenciais para avaliar os graduandos
de enfermagem, itens que contemplam: a postura física, comportamentos,
modos de vestuário, além dos conteúdos teóricos e práticos de cunho científico.
O primeiro currículo implantado na Escola de Enfermagem Anna Nery foi
baseado no Standard Curriculum for Schools of Nursing, utilizado nos Estados
Unidos desde 1917 (Sauthier, 1996). Apresentava um total de trinta e nove
disciplinas entre as teóricas, que representavam a maioria, e eram ministradas
por médicos, e as práticas, disciplinas específicas de Enfermagem, ministradas
por Enfermeiras (Porto, 1997, p.53).
No tocante à construção das disciplinas, Germano (1983) considera que
esse currículo privilegiava as disciplinas de caráter preventivo, compatível,
portanto, com o objetivo da Escola, que era o de formar Enfermeiras de Saúde
Pública. Entretanto, o mero exame dos nomes das disciplinas, sem o exame
mais aprofundado de seus programas, demonstra que a maior ênfase curricular
era dada às áreas curativa e hospitalar, o que nos indica a influência do
currículo da formação médica na formação das Enfermeiras brasileiras.
O Decreto nº 20.109/31, da Presidência da República, que regulamentou
o exercício da profissão de Enfermagem, tornava a Escola de Enfermeiras
D.Anna Nery a escola oficial padrão para todo o país, à qual todas as escolas
existentes e, possivelmente criadas a partir de então, teriam que se enquadrar
no modelo Nightingale.
A Lei nº 775 / 49, que dispôs sobre o ensino de Enfermagem no País,
registra disciplinas voltadas para a área hospitalar, predominantemente, e as
disciplinas voltadas para a área de Saúde Pública, menos numerosas, embora
o objetivo continuasse sendo o de formar Enfermeiras de Saúde Pública.
Em julho de 1952, em São Paulo, o VI Congresso Nacional de
Enfermagem, da Associação Brasileira de Enfermeiras Diplomadas, teve como
um de seus temas oficiais o “Currículo das Escolas de Enfermagem”. Dentro
dessa temática foi incluída a elaboração curricular, levando-se em conta as
ligações existentes entre currículo e sociedade, a inclusão de pedagogia,
supervisão e administração nos currículos, o programa de ética, bem como o
programa de orientação nas Escolas de Enfermagem (ABEN, 1952).
Percebo a preocupação das Enfermeiras em caracterizar aspectos
peculiares à formação do graduando de Enfermagem, que podem embasar
suas ações futuras no processo de construção do perfil profissional: Enfermeira,
responsável pelas atividades técnicas assistenciais da equipe de Enfermagem e
sujeito de suas próprias ações junto à clientela assistida e à equipe
multidisciplinar.
Neste movimento de historicidade da formação da Enfermeira, no tocante
à trajetória do currículo do curso de graduação, em 1972, o Conselho Federal
de Educação aprovou o Parecer 163 e a Resolução nº 04, que determinaram o
currículo mínimo para os Cursos de Graduação em Enfermagem e Obstetrícia.
O curso apresentava três partes: o ciclo básico ou pré-profissional, o ciclo
profissional ou tronco profissional comum e as habilitações, composto assim:
§ Parte Pré-Profissional:
Biologia (citologia genética, embriologia e evolução)
Ciências Morfológicas (anatomia e histologia)
Ciências Fisiológicas (bioquímica, fisiologia, farmacologia e nutrição)
Introdução à Saúde Pública (estatística vital, epidemiologia, saneamento e
saúde da comunidade)
§ Tronco Profissional Comum:
Introdução à Enfermagem
Enfermagem Médico-Cirúrgica
Enfermagem Materno-Infantil
Enfermagem Psiquiátrica
Enfermagem em Doenças Transmissíveis
Exercício da Enfermagem (deontologia médica e legislação profissional)
Didática Aplicada à Enfermagem
Administração Aplicada à Enfermagem
Parte das Habilitações:
§ Habilitação em Enfermagem Médico-Cirúrgica
Enfermagem Médico-Cirúrgica (administração de centro cirúrgico,
Enfermagem em pronto-socorro, unidade de recuperação e de cuidado
intensivo)
Administração de Serviços de Enfermagem Hospitalar
§ Habilitação em Enfermagem Obstétrica ou Obstetrícia
Obstetrícia
Enfermagem Obstétrica, Ginecológica e Neonatal
Administração de Serviços de Enfermagem e Maternidades e
Dispensários Pré-Natais
§ Habilitação em Enfermagem de Saúde Pública
Enfermagem de Saúde Pública
Administração de Serviços de Enfermagem em Unidades de Saúde
Licenciatura (conforme Parecer nº 672/69)
Disciplinas Obrigatórias em qualquer modalidade; Estudos de Problemas
Brasileiros e Prática de Educação Física (predominância desportiva)
§ Duração do Curso
Habilitação Geral de Enfermeira: 2.500 h (mínimo de 3 e máximo de 5
anos letivos)
Habilitação em Enfermagem Médico-Cirúrgica, Obstetrícia e de Saúde
Pública: 3.000 h (mínimo de 4 e máximo de 6 anos letivos).
O Parecer do Conselho Federal de Educação (CFE) nº 163/72 despertou
um refletir sobre as necessidades apontadas pelas Escolas de Enfermagem na
formação das Enfermeiras e as contidas no seu respectivo referencial. Primeiro,
a distorção em relação a carga horária, constatada entre as 3.000 h
estabelecidas no Parecer, e até 5.300 h registradas por algumas escolas de
Enfermagem em seu currículo pleno. Segundo, o mercado de trabalho
raramente absorveu o profissional, Enfermeira, por sua habilitação.
Verifico que nos dias atuais, muitas Enfermeiras que foram formadas
através do vigorado no Parecer 163/72 encontram-se no mercado de trabalho,
seja através da docência ou assistência, em todos os níveis institucionais, seja
na área de Saúde Pública ou na Hospitalar, e algumas fazem parte do presente
estudo.
Na busca por um ensino mais próximo da realidade com a ação da
Enfermeira, em 1978, teve início de forma efetiva na Escola de Enfermagem
Anna Nery, iniciativa individual e inovadora no Brasil, ao deflagrar o
desenvolvimento da reformulação curricular que teve como idéia norteadora a
integração da teoria com a prática, do estudo com o trabalho e, finalmente, a
integração das disciplinas, originando o Currículo Novas Metodologias
(Carvalho e cols., 1978, p.119).
O ensino integrado, pressuposto curricular sobre o qual se concebeu a
mudança do ensino de graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery,
repercutiu no cenário da educação em Enfermagem, o que se verifica pelo
Parecer do Ministério da Educação e Cultura (MEC) nº 314/94, aprovado em
06/04/94 – Processo 2301.001783-99 – Currículo Mínimo para a Graduação em
Enfermagem.
Destaco da proposta como pontos essenciais:
§ O currículo mínimo do curso de graduação em Enfermagem é uma
referência nacional e tem como terminalidade a formação do enfermeiro;
§ A essencialidade e a vocação de cada instituição formadora devem estar
expressas na formulação de cada currículo pleno.
§ A formação do enfermeiro deve capacitá-lo a apreender a complexidade do
trabalho de saúde que é por natureza coletivo e interdependente.
§ Na elaboração da programação e no processo de supervisão e avaliação do
aluno, em estágio curricular, será assegurada a efetiva participação do
enfermeiro dos serviços de saúde onde se desenvolve o referido estágio
(Op.cit., p.174).
Assim, identifico um ensino de graduação que tenta subsidiar as
necessidades atuais da sociedade, priorizando o desenvolvimento de críticos e
autônomos; para tal, percebe-se nitidamente a flexibilidade dos conteúdos, a
autonomia das escolas e a necessidade de uma integração docente-
assistencial na formação do graduando de Enfermagem.
Neste contexto, a Comunidade Científica da Enfermagem vem
participando dos diversos seminários, encontros, promovidos pela categoria,
tais como: Congresso Brasileiro de Enfermagem (CBEn) e os Seminários
Nacionais de Diretrizes para a Educação em Enfermagem (SENADEns), no
sentido de subsidiar as Escolas de Enfermagem na reorganização de seu
projeto pedagógico e, então, decidir por seu perfil junto à comunidade científica
e à sociedade entre outros.
Após vários debates que duraram alguns anos, o governo promulgou a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que trouxe uma alteração significativa nas bases da
educação brasileira. Uma delas foi a do capítulo que trata do ensino superior: a
recomendação do fim dos currículos mínimos e a adoção de Diretrizes
Curriculares, que podem ser definidas como diretrizes gerais que orientam o
planejamento acadêmico do curso de graduação para a formação profissional
pelas Instituições de Ensino Superior. Então, coube ao MEC legislar sobre a
matéria.
As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em
Enfermagem foram instituídas pelo Conselho Nacional de Educação, Câmara
de Educação Superior (CNE / CES) nº 03, de 07 de novembro de 2001, e
definem os princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação
de Enfermeiras, para aplicação em âmbito nacional na organização,
desenvolvimento e avaliação dos projetos pedagógicos dos cursos de
graduação em Enfermagem das Instituições do Sistema de Ensino Superior
(Op.cit., 2001, p. 1).
Na descrição do perfil do formando / egresso profissional, consta:
Enfermeiro com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva.
Profissional qualificado para o exercício de Enfermagem, com base no rigor
científico e intelectual e pautado em princípios éticos, capaz de conhecer e
intervir sobre os problemas / situações de saúde-doença mais prevalentes no
perfil epidemiológico nacional, com ênfase na sua região de atuação,
identificando as dimensões bio-psico-sociais e seus determinantes. Capacitado
a atuar com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania,
como promotor da saúde integral do ser humano.
Enfermeiro com Licenciatura em Enfermagem, capacitado para atuar na
Educação Básica e na Educação Profissional em Enfermagem (Op.cit., 2001,
p.4).
Identifico uma formação profissional pautada no desenvolvimento de
aquisição de competências e de habilidades. A necessidade do conhecimento
científico para prestar atenção à saúde, desenvolvendo ações de prevenção,
promoção, proteção e reabilitação da saúde individual e coletiva na tomada de
decisão pelas evidências científicas, através da comunicação acessível
identificada em sua liderança diante do compromisso, responsabilidade,
empatia para tomada de decisões na administração e gerenciamento da equipe
de saúde na busca de educação permanente, estimulando a troca dos saberes
interdisciplinares.
O documento, no tópico de Competências e Habilidades Específicas, em
seu artigo 5º, inciso VII, refere: atuar nos programas de assistência integral à
saúde da criança, do adolescente, da mulher, do adulto e do idoso; em seu
inciso X consta: atuar como sujeito no processo de formação de recursos
humanos. No parágrafo único: a formação do enfermeiro deve atender as
necessidades sociais da saúde, com ênfase no Sistema Único de Saúde (SUS)
e assegurar a integralidade da atenção e a qualidade e humanização do
atendimento (Op.cit., 2001, p.5).
No artigo 7º, parágrafo único: na elaboração e no processo de supervisão
do aluno em estágio curricular supervisionado pelo professor, será assegurada
efetiva participação dos enfermeiros no serviço de saúde onde se desenvolve o
referido estágio curricular. A carga horária mínima do estágio curricular
supervisionado deverá totalizar 20% da carga horária total do curso de
graduação em Enfermagem proposto, com base no Parecer / Resolução
específico da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de
Educação.
Verifico que, nesse momento, há um redesenho do ensino do curso de
graduação em Enfermagem, uma vez que seus conteúdos deverão ser
centrados na saúde dos grupos humanos, fortalecendo um saber interdisciplinar
através da atuação da equipe multidisciplinar, no qual as ações de cada
elemento da equipe de saúde aconteça com propriedade, tendo como objetivo
proporcionar um ensino dinâmico, ao encontro das necessidades da população
programática.
Nesse sentido, vejo a atividade assistencial Consulta de Enfermagem,
como uma possibilidade de interação entre docentes e assistenciais,
Enfermeiras e demais elementos da equipe de saúde, pois o cliente precisa ser
atendido com a especificidade propícia ao grupo humano a que pertence, sendo
o sujeito do seu processo saúde-doença.
No entanto, o graduando de Enfermagem necessita vivenciar o processo
de aprender a aprender a realizar a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem, de acordo com a realidade dos cenários da prática. Neste se dará
a sistematização dos conteúdos programáticos, teóricos e práticos até então
aprendidos, possibilitando a construção de sua bagagem de conhecimentos
profissionais.
Isto far-se-á através dos modelos de assistência prestada aos clientes e
pelas ações das Enfermeiras docentes e assistenciais nos campos de estágio,
podendo até intervir na escolha de sua educação continuada a posteriori.
O Parecer do Conselho Nacional da Educação que estabelece as novas
Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem,
Medicina e Nutrição (Brasil, 2001), tem como referencial os quatro pilares da
educação descritos no Relatório Delors para a Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), conhecido como Relatório
Delors (1999). A referida Comissão pontuou suas reflexões a partir da
identificação de tendências mundiais de mudanças na Educação, e indicou os
fundamentos para a construção de um novo paradigma: a valorização do ser
humano em sua totalidade, reativando o potencial criativo existente em cada um
de nós, revelando a subjetividade de cada sujeito-pessoa.
Neste sentido, os autores do Relatório (Delors et al., 1999, p.11)
conferiram destaque a quatro pilares, essenciais a um novo conceito de
educação: o primeiro, Aprender a Conhecer – significa aprender a aprender
para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação, ao longo de
toda a vida. Para tal, se faz necessário exercitar a atenção, a memória e o
pensamento. Esse pilar é considerado como um meio e como finalidade. Meio,
para que cada indivíduo aprenda a compreender o mundo que o rodeia, na
medida em que isto lhe é necessário para desenvolver as suas capacidades
profissionais, para comunicar. Finalidade, desfrute do prazer de compreender,
de conhecer e de descobrir.
O segundo pilar, Aprender a Fazer – está ligado mais estreitamente à
formação profissional, mas não somente a uma qualificação profissional. São
competências que tornem a pessoa apta a enfrentar várias situações e a
trabalhar em equipe. Também, aprender a fazer no âmbito das diversas
experiências sociais ou de trabalho. Porém, essa dimensão não pode ser vista
como mera transmissão de práticas rotineiras, pois o mundo tem exigido
competência pessoal com o domínio do conhecimento, do informativo e da
criatividade.
Desse modo, a busca de um compromisso pessoal do profissional,
considerado agente de mudança, torna-se evidente que as qualidades
subjetivas inatas ou adquiridas, muitas vezes denominadas “saber-ser”, juntam-
se ao “saber-fazer” para compor a competência exigida – o que mostra bem a
ligação que a educação deve manter entre os diversos aspectos da
aprendizagem (Op.cit., 1999, p.94).
O terceiro pilar, Aprender a Viver Junto Com os Outros – é um dos
maiores desafios da educação. Porque o mundo contemporâneo estimula a
concorrência, a competição e o sucesso individual, fazendo com que as
pessoas se afastem de padrões solidários. Tentando minimizar esses
sentimentos e resolver conflitos, o Relatório propõe duas vias complementares
para a educação: a descoberta progressiva do outro e a participação, ao longo
da vida, em projetos comuns, que parecer ser um método eficaz para evitar ou
resolver conflitos latentes (Op.cit., 1999, p.99).
Por último, o quarto pilar, Aprender a Ser – orienta-se para o
desenvolvimento completo da pessoa, de sua personalidade e estar à altura
de agir com autonomia e responsabilidade pessoal no discernimento de suas
ações. Por isso, não devemos negligenciar no desenvolvimento das diferentes
potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético,
capacidades físicas, aptidão para comunicar-se, sensibilidade, responsabilidade
e espiritualidade (Op.cit., 1999, p.99).
Esses conceitos indicam a reflexão sobre a importância e a
responsabilidade da Enfermeira, docente e assistencial, no processo de sua
auto educação e na dos graduandos de Enfermagem, que não só se restringe à
formação profissional, mas abrange as contingências do agir no mundo da vida,
no qual escolheram dar singularidade às suas ações intencionais através do
fenômeno, Consulta de Enfermagem, num projeto contínuo de descobertas e
satisfações pessoais.
Processo Ensino-Aprendizagem da Consulta de Enfermagem
O ensino da atividade assistencial da CE ao graduando de Enfermagem
é desenvolvido, inicialmente, ao longo dos Programas e está respaldado pelas
Diretrizes Curriculares, através dos conteúdos básicos, disciplinas obrigatórias
e eletivas, teorias de Enfermagem e a metodologia da assistência de
Enfermagem.
Segundo Demo (1997, p.28), a formação geral é sempre mais
importante que o treinamento, estágio ou exercício. Por isso, formação deve ser
compreendida como a capacidade de saber pensar e de aprender a aprender,
ou seja, a maneira humana de internalizar o conhecimento, construindo-o
continuamente.
Os graduandos adquirem os conhecimentos básicos para executar esta
abordagem ao cliente, através das modalidades de aprendizagem: aula teórica,
prática, teórico-prática, demonstração e treinamento da técnica em laboratório
e, posteriormente, prática supervisionada nos locais de estágios.
Neste sentido, Bordenave e Pereira (1986, p. 71-72) ao considerarem o
planejamento de uma aula prática, tecem as seguintes afirmações:
[...] A aula prática não é uma sessão puramente de fazer coisas. Também não só ocasião de aplicar o que foi aprendido previamente na aula teórica. Ambos são erros conceituais herdados de uma teoria de educação na qual a aprendizagem sempre comece com o pensamento e termine com a ação. A prática oferece um contato direto com a realidade e, por conseguinte, pode ser utilizada tanto para a etapa de observação da realidade como para a etapa de aplicação da realidade. [...]
As afirmações destes autores indicam a desmistificação dos fatores:
teoria e prática, na qual a teoria deveria vir a priori. Ainda destacam a
importância da prática enquanto contato direto com a realidade. Logo, o contato
do graduando de Enfermagem o mais breve possível com o cenário:
aprendendo-fazendo-aprendendo, na busca de atuar no concreto, indicam-me
uma dinâmica essencial no processo ensino-aprendizagem.
Neste contexto, Libâneo (1994, p. 177) afirma que:
[...] devemos entender a aula como um conjunto dos meios e condições pelos quais o professor dirige e estimula o processo de ensino em função da atividade própria do aluno no processo da aprendizagem.[...]
Entendo que a aula, seja teórica e/ou prática, tem que estar visando a
necessidade de aprendizagem, devendo ser uma relação de encontro entre
docentes, assistenciais e graduandos. Segundo Demo (2001, p. 46),
[...] a aula precisa ser colocada em seu devido lugar. É um instrumento de organização, introdução e arrumação das coisas. Deveria ser um elemento didático supletivo, não o centro da aprendizagem. O aluno só aprende se ler, pesquisar e elaborar. Com isso vem à tona também o jeito como ele vê o mundo e, conseqüentemente, forma-se sua autonomia, à medida que mexe com o conhecimento. [...]
A realização da atividade assistencial da CE necessita domínio de
conteúdo e aquisição de habilidades motoras e intelectuais, no entanto é
fundamentalmente uma relação com o outro. Assim, no ensino desta atividade
se faz necessário que as Enfermeiras tenham como veículo principal o
processo de ensino e aprendizagem, seja como transmissoras, facilitadoras ou
mesmo como aprendizes do conhecimento.
Ressalto, que na literatura, observa-se que a análise e/ou discussão do
ensino da Enfermagem é feita de uma forma acadêmica, sob o enfoque
curricular. Ressente-se de uma discussão mais ampla e profunda dos
componentes que afetam o ensino e da atuação do “professor”, aquele que
socializa o conhecimento. Desta maneira, o ensino da atividade assistencial da
CE, perpassa pelos mesmos enfoques referentes ao ensino da Enfermagem.
Mattos, citado por Libâneo (1994, p. 67), destaca como conceitos
básicos da Didática o ensino e a aprendizagem, em estreita relação entre si. O
ensino é a atividade direcional sobre o processo de aprendizagem e a
aprendizagem é a atividade mental intensiva e propositada do aluno em relação
aos dados fornecidos pelos conteúdos culturais.
Percebo que a aprendizagem do graduando consiste nas experiências
concretas do trabalho reflexivo sobre as ações intencionais do fazer, cuidar,
valores da cultura e da vida, ampliando as possibilidades de compreensão com
a interação do seu ambiente com a sociedade.
Entretanto, não podemos falar de ensino, seja de que área for, sem nos
reportarmos ao ponto de vista didático, no qual, o ensino consiste na mediação
de objetivos-conteúdos-métodos, assegurando o encontro formativo entre
alunos e as matérias, fator decisivo da aprendizagem.
Para Lobo (2001, p.51), “[...] aprender é transformar-se. Sempre que o
homem aprende, algo se produz nele. Aprender é incorporar alguma coisa e,
conseqüentemente, significa apresentar uma nova faceta ou realidade.[...]”.
As ações de ensinar e aprender formam uma unidade, mas cada uma
tem a sua especificidade. A didática tem como objetivo a direção do processo
de ensinar, tendo em vista finalidades sócio-políticas e pedagógicas e as
condições e meios formativos; tal direção converge para promover a auto-
atividade dos alunos, a aprendizagem. É o que dizem os autores da área de
Educação / Pedagogia como Libâneo (1994); Demo (1999), e que nós
Enfermeiras, em nosso trilhar, seja na assistência ou docência, enquanto
elementos intencionalmente convictas de nossas possibilidades de ensinar e
aprender, seja com graduandos ou clientes ou equipe, necessitamos conhecer
para que possamos transformar a nossa prática de ensinar a cuidar através da
CE, conforme Waldow (1999, p. 40) exemplifica: “[...] a habilidade de cuidar só
se adquire cuidando e descobrindo novas formas do cuidado [...]”.
Refletindo sobre estas questões, acredito ser fundamental que o
processo ensino-aprendizagem da Consulta de Enfermagem seja repensado
pelos docentes, assistenciais e graduandos, pois ensinando é que
redescobriremos formas de aprender e ensinar.
Portanto, concordo com Develay (1993, p. 174): “[...] a didática se
constitui como uma ciência do conhecer, uma teoria. [...]”.
Já para Contreras (1990, p. 18), “[...] a didática é parte da trama do
ensinar, e não uma perspectiva externa que analisa e propõe prática de
ensinar. [...]”.
Complementando, Popkewitz (1986, p.215) afirma que:
[...] A didática enquanto ciência humana, tem um caráter explicativo e projetivo, ao mesmo tempo. Por isso, provoca a geração de respostas novas. Não gera por si respostas. É uma ação intencional, refletida, indagada, problematizada, ou seja, na práxis, na relação entre sujeitos, que se geram / transformam as práticas / seus resultados.[...]
Assim, entendo que o ensino da atividade assistencial da Consulta de
Enfermagem perpassa pela condição de encontro entre quem ensina e quem
aprende, numa relação de troca de vivências e saberes únicos na escolha de
perspectivas capazes de promover possíveis transformações.
Neste sentido, Resende (1990, p. 32) conclui que "[...] no método da
fenomenologia existe uma dimensão profundamente pedagógica, podendo ser
considerado um método de aprendizagem [...]".
Ainda o autor (1990, p. 14), ao referir-se à concepção fenomenológica
da educação observa que, “[...] o mestre desempenha um papel muito
importante, pois a intenção pedagógica só pode ser vivida como uma
experiência de encontro entre o educador e o educando. [...]”.
CAPÍTULO III
DESCREVENDO A TRAJETÓRIA
TEÓRICO-METODOLÓGICA DO ESTUDO
A Opção pelo Referencial Fenomenológico
O interesse pela Fenomenologia surgiu em 1993, quando aluna do
Curso de Licenciatura em Enfermagem, na Faculdade de Educação da UFRJ,
na disciplina de Sociologia. Durante a organização de um trabalho, realizado
em grupo, intitulado “Saúde e Educação no Brasil”, obtive alguns conceitos
sobre este método de investigação. Ressalto que um destes conceitos foi a
seguinte citação de Martins e Bicudo (1983, p. 80):
[...] A fenomenologia procura abordar o fenômeno, aquilo
que se manifesta, de modo que não o parcializa ou o explica
a partir de conceitos prévios, de crenças ou afirmações sobre
o mesmo, enfim, de um referencial teórico. Mas ela tem a
intenção de abordá-lo diretamente, interrogando-o, tentando
descrevê-lo e procurando captar a sua essência.[...]
Então, refleti sobre o meu vivido no mundo da vida da Enfermagem
vivenciando a CE junto aos clientes ou através das colegas, Enfermeiras, por
ocasião de algum curso de treinamento sobre esta temática ou ministrando
conteúdos de ensino nos quais buscava relato de vivências destas profissionais
ou alunos na prática desta atividade e obtinha como respostas a descrição de
ações próprias, pessoais, que constituem o ato de ser Enfermeira no contexto
social.
Este meu caminhar teve continuidade como aluna regular do Curso de
Mestrado da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, onde tive a oportunidade
de me aproximar das idéias básicas da Fenomenologia, através das leituras
indicadas pelos professores, das trocas com as colegas em sala de aula e do
Grupo de Estudos sobre as Concepções de Alfred Schütz.
Assim, foi intencional prosseguir meu estudo sobre o ensino da Consulta
de Enfermagem, uma vez que percebo a adequação deste referencial teórico-
metodológico ao objeto e ao objetivo desta investigação e tenho clareza: a
escolha deste referencial foi feita por este ser o meu olhar próprio de estar no
mundo.
Além de que, é da nossa prática profissional que surgem as situações
passíveis de transformações, para tal é preciso compreendê-las, e uma maneira
apropriada é através da pesquisa qualitativa.
Concordo com o dizer de Minayo (1996, p. 90):
[...] nada pode ser intelectualmente um problema, se não
tiver sido, em primeira instância, um problema da vida
prática. Isto quer dizer que a escolha de um tema não
emerge espontaneamente, da mesma forma que o
conhecimento não é espontâneo. Surge de interesses e
circunstâncias socialmente condicionadas, frutos de
determinada inserção no real, nele encontrando suas razões
e seus objetivos. [...]
Identifico através da pesquisa em Enfermagem a preocupação da
Enfermeira, docente e/ou assistencial em cuidar do ser humano na sua
totalidade, a partir das necessidades sentidas e expressas pelo sujeito de suas
ações. O que nos faz refletir sobre o significado atribuído a ação intencional de
ensinar aos nossos graduandos a nossa prática profissional.
Ao examinar a questão do significado, Schütz1 afirma: “[...] é um ato de
atribuição por parte do sujeito, por isso, é sempre significado de intenção
subjetiva sendo a vivência a fonte dos significados humanos [...]”.
Atribuir significado é uma maneira de olhar para um aspecto de uma
vivência que nos pertence. Este é o primeiro sentido da palavra significado. Só
são significativas as vivências às quais atribuímos um sentido.
O significado se estabelece em atos dentro dos quais o EU assume uma
atitude reflexiva. “[...] Se digo que uma das minhas vivências é significativa, só o
faço porque, ao prestar a atenção a ela, seleciono e a distingo das vivências
que coexistem com ela, a precedem ou a seguem. [...]” (Schütz, 1972, p. 71).
Portanto, o significado indica uma atitude peculiar por parte do EU
para o fluxo de sua própria consciência. Então, para a pessoa, ela se constitui a
medida que ela vai vivenciando-o. Só o já vivenciado é significativo. É uma
operação de intencionalidade que se torna visível ao olhar reflexivo.
As Concepções da Fenomenologia Sociológica de Alfred Schütz
A obra de Alfred Schütz foi fortemente influenciada pela Sociologia
Compreensiva de Max Weber e da Fenomenologia de Edmund Husserl. Porém,
Schütz buscou um método para compreender a vida social, o conjunto de ações
sociais no qual as relações mútuas se fazem de maneira consciente.
Destacando aspectos relevantes para a compreensão deste
referencial, Panizza (1981, p. 128-129) cita que Schütz encontrou em Husserl
uma teoria coerente do “significado”, da “subjetividade”, da “intersubjetividade”,
da “intencionalidade” e da “consciência”, conceitos que serviram para traçar as
bases filosóficas da Fenomenologia Sociológica, ideal que perseguiu durante
toda a vida.
_____ 1 Fala da Filósofa, Profª Drª Creusa Capalbo, em Seminário na Cidade do Rio de Janeiro, 1997.
Husserl sugere uma concepção de subjetividade que trasncende o
conteúdo psíquico real. Propõe uma análise do fenômeno vivido, excluindo
qualquer pressuposto, explicando assim o seu lema que é: “[...] volta às
coisas nelas mesmas [...]”. Logo, a fenomenologia se orienta às coisas,
interrogando-as na sua gênese, deixando de lado todo e qualquer preconceito
(Capalbo, 1996, p.30). Segundo a autora (1984, p.135),
[...] Husserl caracteriza as investigações fenomenológicas pela discussão e esclarecimento da estrutura da consciência. Para ele, consciência é ato que está sempre voltado para algo; para o mundo exterior, para as coisas, para os outros homens, para si mesmo ou para seu ego, para ação que o homem executa sobre o mundo. Agrupa também os atos da consciência em intelectuais, afetivos e práticos. E estes atos estão interligados na existência do homem. [...]
A Fenomenologia nunca se orienta para fatos, e sim para a realidade da
consciência, que se define essencialmente em termos de intenção voltada para
um objeto. Porém, não só os objetos da consciência, mas os próprios atos
enquanto conscientes, são considerados fenômenos.
Na abordagem fenomenológica, não indagamos a causa da vivência da
pessoa, mas sim, o significado do ser e suas ações intencionais, durante sua
vida. E isto acontece por um olhar atentivo para o vivido das experiências que
poderá ser descrito e compreendido no mundo da vida.
Para Schütz, segundo Capalbo (1979, p. 45), o mundo da vida é
intersubjetivo desde o início e nossas ações nele exercidas são eminentemente
sociais, pois elas nos colocam em relação uns com os outros. O nível mais
fundamental desta relação dá-se na situação face a face. É aí que a inter-
subjetividade aparece em toda sua densidade e que o outro nos aparece em
sua unidade e em sua totalidade.
É na relação face a face que apreendo diretamente o outro, num
momento de interação social, numa relação entre nós. É quando duas pessoas
compartilham da mesma comunidade de espaço e de tempo, ou seja, quando
estão presentes como sujeitos, e uma tem consciência da outra como tal.
Interpretando este mundo da vida, cada pessoa se insere de modo
particular, tendo em vista o que Schütz denomina “situação biográfica”. O
mundo da vida é uma realidade histórica e cultural, de validade universal. A
interpretação desta realidade depende das vivências de cada um.
Esta situação biográfica é denominada por Schütz como “bagagem de
conhecimentos disponíveis”, que é uma estrutura sedimentada das experiências
subjetivas prévias do indivíduo, adquiridas ao longo da vida, através de suas
experiências vivenciadas ou comunicadas por pessoas mais velhas como pais,
avós, professores entre outros.
Em relação à Ação, segundo Panizza (1981, p. 130), Schütz a define
como “[...] a conduta humana projetada pelo agente de maneira autoconsciente;
ela se origina na consciência do agente, por isso pode ser latente ou manifesta,
projetada ou dotada de propósito [...]”. A ação está relacionada ao projeto no
qual ela encontra seu significado; assim, para Schütz, ela terá dois tipos
diversos de motivos: os motivos “a fim de” – denominados pelo tempo futuro – e
os “motivos porque” – referentes ao passado.
No tocante aos “motivos-para”: Schütz (1976, p.11) explica que estes
referem-se ao futuro e são idênticos ao objetivo ou propósito da realização e
para o qual a ação em si é um meio. Sendo assim, a ação é determinada pelo
projeto, e este é o ato intencionado, imaginado como realizado. Para Schütz
(1962, p.71):
[...] o motivo-para se refere a atitude do ator vivenciando o processo de sua ação em desenvolvimento. É assim, uma categoria essencialmente subjetiva e revelada ao observador somente quando este pergunta qual o significado que o ator confere à sua ação. [...]
Os “motivos-porque” são as ações refletidas a partir do ato concluído.
Estes se referem ao passado. Experiências passadas que levaram a pessoa a
agir daquele modo, correspondendo à reflexão do passado.
[...] O motivo-porque genuíno [...] é uma categoria objetiva,
acessível ao observador que deve reconstruir a partir do ato
concluído, a atitude do ator em relação ao seu ato. Somente
quando o ator se volta para seu passado, e assim se torna
um observador de seus próprios atos, que ele poderá captar
o motivo-porque genuíno de seus próprios atos. [...] (Schütz,
1962, p.72).
O “ato” é a ação realizada, e como tal pode ser refletida, caracterizando
o “motivo-porque”.
Para distinguir ação e ato, Schütz (1972, p.29) diz que: “[...] toda ação
ocorre no tempo, ou seja, na consciência temporal interna. É uma realização
imanente a duração. O ato é o cumprido transcendente a duração. [...].”
Logo, toda ação situacional já possui um sentido, por isso será
conseqüentemente significativa para o investigador social para quem
compreender o mundo social será compreender o modo como os homens
definem sua situação biográfica.
A interpretação de um significado subjetivo implica a referência a uma
pessoa em particular; o intérprete deve ter alguma experiência desta pessoa
para que possa acompanhar seus estados subjetivos, simultânea ou quase
simultaneamente.
Nesta perspectiva, Capalbo (1979, p. 20) cita que a noção de subjetivo
deve ser entendida como a ação de relação incluindo a consciência do ator. É
por isto que a análise de Schütz volta-se para a subjetividade do ator em
relação aos aspectos da consciência que são passíveis de descrição
fenomenológica.
Assim, o outro interpreta suas vivências, atribui-lhes significado e esse
significado é o significado para o qual está dirigindo sua atenção (Schütz,
1972).
Percebo que a concepção de Alfred Schütz sobre o significado subjetivo
é o que a pessoa atribui às suas experiências próprias e exemplifico a ação
intencional do ensino da Consulta de Enfermagem realizada pelas Enfermeiras
docentes, assistenciais, que se faz numa relação de interação face a face na
vivência única da Enfermeira para atender as necessidades do outro – o
graduando, sendo necessário ter como objetivo conhecer essas necessidades
para melhor compreendê-las.
Desta forma, para captar o significado que o sujeito atribui à ação, é
preciso ouvir o seu relato, identificando a sua “bagagem de conhecimentos
disponíveis” que lhe é própria e que desconheço, permitindo tipificá-la.
Capalbo (1979, p. 39), destaca que, quando oriento minha ação em
direção a alguém, eu atribuo um conjunto de motivos em vista dos quais vou
agir. Para tal recorro a minha bagagem de conhecimentos disponíveis, na
qual tenho tipificações de meus semelhantes, atribuindo-lhes conjuntos
típicos de motivos variáveis em razão dos quais e em vista dos quais eles
agem. Em toda interação social do tipo face a face atribuem-se motivos
típicos aos indivíduos com os quais estamos em relação. A tipicidade
desempenha papel importante na compreensão do outro e na interação social.
Logo, a interpretação subjetiva do significado é uma tipificação, na qual
o pesquisador capta as convergências nas intenções do sujeito da pesquisa.
Para Schütz, citado por Wagner (1979, p. 119),
[...] A tipificação transforma ações individuais únicas, de
seres humanos únicos, em funções típicas, de papéis sociais
típicos, que se originam de motivações típicas e têm como
objetivo realizar fins típicos.[...]
Assim, a compreensão do fenômeno, a partir das descrições das
situações vividas pelo sujeito da ação, possibilita uma análise interpretativa que
levará à apreensão do tipo vivido, uma vez que o pesquisador está buscando a
tipicidade desta ação, que consiste em uma atitude fenomenológica de
significação.
Para a fenomenologia social, o que importa investigar não é o
comportamento de cada indivíduo em particular, mas o que pode constituir-se
como uma característica típica daquele grupo social que está vivendo aquela
situação de comportamento vivido.
Desta forma, a Fenomenologia Sociológica de Alfred Schütz
fundamenta-se no vivenciar a experiência, valoriza a vivência que é única e só
o sujeito da ação pode dizer o que pretende sentir na realização da mesma. E
que toda ação é intencional, tem significado.
Schütz em sua abordagem aponta a valorização do sujeito, o que para a
Enfermagem é fundamental, já que a Enfermeira tem por objetivo cuidar das
pessoas a partir das suas necessidades exteriorizadas.
Logo, o ato de realizar o ensino da atividade CE por Enfermeiras
docentes e assistenciais para os graduandos de Enfermagem é considerada
ação social, intencional. Ocorrerá através dos “motivos” que as impulsionem de
acordo com as suas respectivas “situações biográficas”. É assim que o
trabalho de explicitação, de clareamento e de aplicação da fenomenologia
à Enfermagem, cabe às próprias Enfermeiras (Capalbo, 1994, p. 70).
A Etapa de Campo
Segundo Carvalho (1987, p. 30), a entrevista fundamentada na
metodologia fenomenológica não submete a situação observada e o cliente a
uma análise conceitual, classificadora, orientada por um esquema de idéias e
direcionada para determinados fins. Ao contrário, descarta-se de modelos,
projetos, alternativas e valores últimos que possibilitam um saber “sobre” o
cliente mas não um saber “do” cliente.
Para a mesma autora (1994, p.35), a entrevista fenomenológica pode
ser uma maneira acessível ao sujeito de penetrar a sua verdade, seja ela qual
for, e afirma que o sujeito:
[...] na intersubjetividade do diálogo e na forma de significar o mundo por seu comportamento explicita para si mesmo tudo aquilo que seria dito ou realizado, deixado de dizer e deixado de realizar, desvelando também o que pode ser realizado e o que não será. [...]
Baseado nestes princípios, o presente estudo foi desenvolvido através
de pesquisa qualitativa na abordagem fenomenológica de Alfred Schütz que
permite a valorização do sujeito, aquele que vivencia a experiência de realizar a
ação, que é única, pois só ele vai poder dizer o que pretende, é intencional,
portanto, tem significado.
Ao propor uma abordagem que valoriza o sujeito da ação, identifiquei em
Schütz aproximação com a realização da assistência em Enfermagem, já que a
Enfermeira tem por objetivo, buscar a necessidade do cliente que só poderá ser
atendida se for exteriorizada através da comunicação e impulsionada por seus
motivos para ser compreendida.
Assim, o estudo foi realizado em estabelecimentos públicos nos
ambulatórios nos quais são desenvolvidos os Programas de Saúde como:
diabetes, hipertensão, tuberculose, climatério, idoso, da mulher, da criança,
nas unidades de assistência e de ensino das Universidades, campos de estágio
para os graduandos de Enfermagem na prática da atividade assistencial,
Consulta de Enfermagem na cidade do Rio de Janeiro.
Logo, a investigação teve como cenário as Escolas e Faculdade de
Enfermagem públicas, na cidade do Rio de Janeiro, como: Escola de
Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(EEAN/UFRJ) e seu campo de atuação no Hospital Universitário Clementino
Fraga Filho (HUCFF/UFRJ); Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da
Universidade do Rio de Janeiro (EEAP/UNIRIO) e Hospital Universitário Gaffrée
e Guinle (HUGG/UNIRIO) e Faculdade de Enfermagem da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro (FE/UERJ) e seu Hospital Universitário Pedro
Ernesto (HUPE/UERJ).
A inclusão do Centro Municipal de Saúde Milton Fontes Magarão, da
Secretaria Municipal de Saúde da Cidade do Rio de Janeiro, deu-se em virtude
deste setor ser considerado como cenário de prática das Escolas e Faculdade
supracitadas e, assim, congregar as três unidades públicas no ensino da
atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de
Enfermagem.
No momento do estudo, presenciei a Escola de Enfermagem da UNIRIO
e a Faculdade de Enfermagem da UERJ desenvolvendo os seus respectivos
estágios nos setores da citada Unidade.
A Escola de Enfermagem da UFRJ, neste período, não estava
estagiando no referido Centro Municipal de Saúde por questão de programação
do período curricular, foi a informação que recebi de um dos supervisores do
Centro Municipal de Saúde.
Ao decidir por esses cenários, considerei as Escolas / Faculdade de
Enfermagem criadas anteriormente a 1986, quando o Código de Ética de
Enfermagem foi aprovado e reconhecido.
Esses ambientes são familiares para mim pelas trocas de
conhecimentos que mantenho com Enfermeiras na realização da CE através da
participação, ministrando aulas em Cursos de Especializações, eventos
promovidos pela Sociedade Brasileira de Enfermagem em Endocrinologia e
Diabetes, e por também serem unidades de referência nacional de assistência,
ensino, pesquisa e extensão para o desenvolvimento do ensino da CE.
Os sujeitos do estudo foram as Enfermeiras docentes e assistenciais
que ensinam a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos
de Enfermagem nestes citados cenários de prática.
Defini como Enfermeiras docentes as que estão vinculadas às Escolas e
Faculdade de Enfermagem das Universidades Públicas já citadas, pertencentes
a um de seus Departamentos, e são responsáveis pelo ensino teórico e prático
da atividade.
As Enfermeiras assistenciais são as lotadas nos Hospitais Universitários
e no Centro Municipal de Saúde em tela; responsáveis pelo setor de Consulta
de Enfermagem ou pelo setor dos respectivos Programas de Saúde
institucionalizados, sendo normatizados pelo Ministério da Saúde e rotinizados
e executados pelas Secretarias Estadual e Municipal de Saúde da Cidade do
Rio de Janeiro; que participam do ensino da atividade assistencial em conjunto
com as Enfermeiras docentes aos graduandos de Enfermagem.
Ressalto que os respectivos sujeitos foram indicados pelas diretoras das
Unidades e Chefias de Setores como Enfermeiras que fazem e ensinam a
Consulta de Enfermagem.
As entrevistas com os sujeitos foram aprazadas com antecedência, de
acordo com horários pré-estabelecidos e aconteceram em um espaço físico
reservado para que pudéssemos ter tranqüilidade, evitando interrupções e
desconforto físico.
Neste sentido, considerando a Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde foi importante o atendimento de alguns critérios, como os ditos por
Castelo Branco (1999, p. 45):
- o consentimento do sujeito para participar da pesquisa (termo em anexo);
- a garantia do anonimato;
- a escolha de um pseudônimo (aleatório ou pelo próprio sujeito);
- a autorização do sujeito para gravar sua fala, se for esta a estratégia
utilizada;
- os dois depoimentos obtidos pelo pesquisador através de anotações foram
submetidos aos respectivos sujeitos, para confirmação de seus conteúdos.
Segundo Capalbo In Carvalho (1991, p. 6), para que se pratique a
entrevista numa abordagem fenomenológica é imprescindível que se recorra “...
a compreensão intuitiva do vivido”, ou seja, é necessário proceder a empatia. É
através da empatia que eu vou penetrar no mundo do outro/sujeito,
possibilitando a compreensão de aspectos subjetivos de suas vivências, ou
seja, ter acesso a maneira de como ele/sujeito vivencia o mundo. Portanto, a
entrevista fenomenológica estará sempre centrada nas vivências da
pessoa/sujeito.
Portanto, a abordagem às Enfermeiras docentes e assistenciais,
aconteceu através da entrevista não estruturada, buscando compreender o
motivo-para da ação de realizar o ensino da Consulta de Enfermagem
para os graduandos de Enfermagem através das questões orientadoras da
entrevista:
Você faz a Consulta de Enfermagem?
Fale como é, para você ensinar a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial,
Consulta de Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem?
Segundo Schütz (1972, p. 158), é através da Comunicação que a
pessoa explicita seu motivo-para.
No motivo-porque do ato de realizar o ensino da CE aos graduandos
de Enfermagem, não formulei a questão específica orientadora da entrevista.
Schütz (1972, p.159), o “motivo-porque” ou “motivo devido a algo” tem
o caráter de pretericidade, só sendo possível apreendê-lo quando olhamos
retrospectivamente para a vivência motivada como ato inteiro e completo.
Visando chegar ao significado da ação intencional das Enfermeiras
docentes e assistenciais no ensino para realizar a CE aos graduandos, utilizei a
trajetória metodológica referida por Tocantins (1993, p. 35) e Rodrigues (1996,
p. 35-36):
- obtenção das falas, para descrição das ações vividas pelos sujeitos;
- transcrição imediata das entrevistas, por possibilitar de certa maneira que a
subjetividade daquele momento da interação pesquisador-sujeito do estudo
se faça presente;
- leitura distinta procurando captar aquilo que se mostra subjetivo e trazer
para uma visão objetiva, a fim de possibilitar o agrupamento de aspectos
afins dos significados da ação, com vistas à categorização;
- construção do tipo vivido a partir do típico das falas, isto é, de categorias
concretas do vivido.
No que concordo com Rodrigues (1996, p. 41):
[...] Dispondo do material não estruturado, obtido por
entrevista fenomenológica realiza-se uma exploração do
conteúdo para captar suas interrelações e a seguir, a
arrumação ou agrupamento em itens por afinidade do
material [...].
Esta é uma atividade própria do pesquisador: identificar as
convergências nas falas dos sujeitos que constituiram as categorias
concretas do vivido originando o esquema: típico da ação e típico do ato.
Para tal, necessitei ouvir os meus sujeitos para que pudesse
compreender o típico da ação intencional que, em suas vivências, atribuem ao
ensino da CE aos graduandos de Enfermagem.
Vivenciando esta etapa do estudo, para que pudesse explicitar os
propósitos da pesquisa, senti necessidade de estabelecer com os sujeitos um
momento de aproximação. Assim, possibilitei um encontro que aconteceu de
acordo com a disponibilidade das Enfermeiras docentes e assistenciais, na
maioria das vezes em suas respectivas instituições.
Nesta ocasião, inicialmente informei sobre os meus objetivos, o
procedimento da entrevista fenomenológica, "não estruturada" que permite
ao sujeito responder livremente sobre o que é proposto (Minayo, 1996,
p.108) e obtive o consentimento formal das enfermeiras como participantes
do estudo, assim como a permissão para o uso do gravador e a opção
por um pseudônimo. No estudo, os depoimentos foram identificados por um
nome fictício acompanhado pela denominação da atuação profissional da
depoente como enfermeira-docente e enfermeira-assistencial.
Em seguida, propus-me a ouvi-las para identificar suas expectativas e
opiniões e lancei as perguntas orientadoras do estudo, que considerei como
estimulação para a reflexão dos motivos subjetivos que necessitei captar
durante seus depoimentos.
A pergunta: “Você faz a Consulta de Enfermagem?” – foi construída para
estabelecer o “rapport” entre a pesquisadora e os sujeitos, só que ao respondê-
la, algumas Enfermeiras já iniciaram explicitando seus “motivos porque” e
“motivos para” no contexto do ensino da atividade assistencial aos graduandos
de Enfermagem. Nas outras perguntas como: “Fale como é para você, ensinar
a atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de
Enfermagem” e “O que você tem em vista quando ensina a atividade
assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem?”,
focalizei o seu projeto futuro, o “motivo para” e pude captar o significado
subjetivo da ação desses sujeitos na relação social do tipo face a face.
Na abordagem fenomenológica, o número de sujeitos e de instituições
não é significativo nem estabelecido a priori. Procura-se a qualidade
diferenciada das percepções dos sujeitos sobre suas experiências (Bicudo e
Espósito, 1994). Realizei dezessete entrevistas (em anexo), sendo dez com as
docentes e sete com as assistenciais.
Assim, experienciei esse meu momento único junto ao mundo da vida
dessa nossa profissão, ensinando a fazer a Consulta de Enfermagem.
Na perspectiva de compreender o típico da ação vivenciada pelas
Enfermeiras docentes e assistenciais em relação à ação social, ensino da
atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, segui como Jesus (1998, p.
76) os passos indicados por Capalbo2:
1. Descrição das vivências das Enfermeiras docentes e assistenciais,
frente às questões do ensino da atividade assistencial Consulta de
Enfermagem, a partir dos depoimentos obtidos por meio da entrevista
fenomenológica para alcançar a tipologia do vivido;
2. Compreensão das vivências tipificadas das Enfermeiras docentes e
assistenciais em relação ao ensino da atividade assistencial Consulta
de Enfermagem para os graduandos de Enfermagem, por meio da
análise compreensiva;
3. Interpretação, a partir da compreensão do tipo vivido Enfermeiras
docentes e assistenciais que ensinam a atividade assistencial,
Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem, à luz da
sociologia compreensiva fenomenológica de Alfred Schütz.
A leitura minuciosa dos depoimentos, com a finalidade de identificar a
repetitividade das falas comuns das Enfermeiras docentes e assistenciais,
direcionam para a apreensão das categorias concretas do vivido frente à
questão do ensino da atividade assistencial Consulta de Enfermagem.
Lazarsfeld apud Parga Nina (1976, p. 66) chamou de ´categorias
concretas´ "[...] o tipo de categorias que [...] participantes da situação
empregam, trabalhadas (worked out) de forma tão clara e lógica quanto
possível [...]".
[...] No que se refere à elaboração das categorias, a sua construção pouco se diferencia dos demais métodos que também a utilizam, o que faz ser fenomenológica de Schütz é que estará interessando os motivos-para, expresso pelo próprio indivíduo que o vivencia, sendo ele o único capaz de expressá-lo. [...]
_____ 2Em seminário sobre Fenomenologia Social de Alfred Schütz, na cidade do Rio de Janeiro, 1997.
CAPÍTULO IV
DESENVOLVENDO A ANÁLISE
COMPREENSIVA
Como pesquisadora, o que se mostrou significativo para mim, foi
captado constituindo-se em elementos para a compreensão das categorias.
Nesse sentido, minha situação biográfica foi fundamental para o significado
atribuído à ação intencional das Enfermeiras, docentes e assistenciais, no
ensino da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de
Enfermagem.
Os itens afins foram agrupados e o material analisado e organizado em
categorias não excludentes, pois alguns aspectos das vivências dos sujeitos
podem estar situados em mais de uma categoria.
Gino Germani apud Parga Nina (1976, p.58):
[...] é necessário destacar que em medida considerável um mesmo comportamento concreto pode implicar participação em subsistemas distintos [...] as categorias não são mutuamente exclusivas, distinguem aspectos, papéis [...] atos ou comportamentos concretos [...] as categorias [...] estão, ou podem estar, intimamente relacionadas entre si. [...]
Desta maneira, as categorias, sob outra análise, poderiam ter tido outra
organização, uma vez que as falas dos sujeitos podem transmitir vários
sentidos e a compreensão é a da intérprete da pesquisa.
Assim, os constructos de segundo nível constituem a tipologia do vivido
das Enfermeiras docente e assistencial que, ao mesmo tempo, têm um projeto
para ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem ao graduando de
Enfermagem, e reflete, retrospectivamente, as suas vivências passadas com
vistas a este projeto, desvelando o motivo porque da sua ação.
I – CATEGORIAS CONSTITUÍDAS PELOS DEPOIMENTOS
A partir das questões orientadoras do estudo:
- Você faz a Consulta de Enfermagem?
- Fale como é, para você, ensinar a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial
Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
busquei os “motivos para” a realização, pelas Enfermeiras docentes e
assistenciais, da ação intencional de ensinar a atividade assistencial Consulta
de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem. Emergiram as seguintes
proposições e respectivas categorias:
q Estimular a troca de conhecimentos como uma modalidade de
aprender a aprender a cuidar.
§ Categoria: Ensinar e Aprender a Cuidar
q Assistir a cada cliente como um ser individualizado.
§ Categoria: Singularidade
q Demonstrar que a Consulta de Enfermagem pode levar à conquista da
liberdade para a tomada de decisões.
§ Categoria: Autonomia
q Preparar os graduandos de Enfermagem para o novo perfil da
Enfermeira.
§ Categoria: Agir Profissional
q Esperar que os graduandos busquem o saber específico para melhor
atenderem a demanda da clientela.
§ Categoria: Educação Continuada
Não formulei questão específica para captar o “motivo porque” mas, na
medida em que os sujeitos foram respondendo as perguntas orientadoras do
estudo, voltaram-se reflexivamente para as próprias experiências relacionadas
ao ensino da atividade assistencial Consulta de Enfermagem e, expressando
em suas falas as vivências passadas e presentes, fizeram emergir o “motivo
porque”, permitindo a construção do seguinte enunciado e respectiva categoria:
q Superar as dificuldades da formação para a Consulta de Enfermagem
por meio da prática profissional.
§ Categoria: Da formação à experiência profissional
Logo após a constituição das categorias referentes ao “motivo para” e ao
“motivo porque”, passei à descrição do tipo vivido dos sujeitos diante da
questão do ensino da atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos
graduandos de Enfermagem.
II – DESCRIÇÃO DO TIPO VIVIDO ‘ENFERMEIRA, DOCENTE E
ASSISTENCIAL, QUE ENSINA A ATIVIDADE ASSISTENCIAL
CONSULTA DE ENFERMAGEM AOS GRADUANDOS DE
ENFERMAGEM’
As enfermeiras, docentes e assistenciais, ensinam a atividade
assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem com a
intenção de estimular a troca de conhecimentos como uma modalidade de
aprender a aprender a cuidar, de acordo com seus depoimentos:
§ Ensinar e Aprender a Cuidar
(...) olha, eu gosto e acredito que através da Consulta você ensina e aprende muito com os clientes (...) não acho fácil fazer e nem ensinar a fazer consulta, mas para mim é muito prazeroso, é muito mais do que as técnicas (...) vejo que os alunos gostam do setor e participam. Eu me preocupo que eles não saiam sem saber, mas depende deles e se todos os professores dessem continuidade, só que não é assim, dá trabalho. (...) (Vitória – Enfermeira Docente)
(...) o aluno e professor têm que ter humildade de
aprender e ensinar e aprender sempre (...) eu considero que a Consulta não é apenas um protocolo que tem que constar no Prontuário do paciente. Ela é muito mais que isso, é uma didática pessoal do Enfermeiro, uma maneira de ensinar. (...) (Maria – Enfermeira Docente)
(...) Na verdade, é uma satisfação (...) eu considero
uma modalidade de ensino porque faz com que os alunos aprendam a cuidar e principalmente na área preventiva, se bem que é uma prevenção voltada para o não agravamento da doença (...) a Consulta de Enfermagem melhora a qualidade de vida do cliente. (...) (Gabriela – Enfermeira Assistencial)
(...) eu vejo a Consulta de Enfermagem como uma
estratégia da Enfermeira para cuidar. Ela é uma maneira de dar um ponto de partida para ensinar a cuidar dos clientes (...) procuro mostrar o que eu aprendo e aprendi com os clientes e familiares. Eu acredito que essa aproximação da Ciência e da Arte é que dá para defender a Enfermagem. (...) (Luiza – Enfermeira Docente)
(...) é a maneira do aluno aprender a atuar na profissão
e do professor ensinar ao aluno a modalidade de ensinar a prestar cuidados. (...) (Solange – Enfermeira Docente)
(...) é preciso desenvolver essa estratégia de ensinar a
cuidar bem dos clientes aos nossos alunos, que a Consulta nos possibilita hoje (...) a Consulta, ela é o ‘boom’, o ‘boom’ da atuação da Enfermeira, é um aprender muito grande, porque cada pessoa tem um ensinamento, é aprender e ensinar e aprender todo dia. (...) (Susana – Enfermeira Docente)
(...) é um momento de aprendizagem para o professor
e para a Enfermeira e para todos. Eu aprendo muito, mas muito mesmo (...) depende muito de quem ensina, não é? (...) considero uma estratégia didática de ensinar a cuidar dos pacientes para os alunos. (...) (Sandra – Enfermeira Docente)
(...) eu gosto muito dessa troca (...) sinto que é muito
importante esse aprendizado da Consulta de Enfermagem
porque ela é uma assistência organizada não por papéis, protocolos, fichas, mas porque é uma maneira de atuação da Enfermeira (...) até porque o mercado de trabalho não tem idéia do que é a Consulta (...) é preciso que o mercado de trabalho saiba que a Consulta é uma estratégia de ensino. (...) (Joana – Enfermeira Assistencial)
(...) eu não sou aquela pessoa que adora ensinar,
porque eu sou reservada e levo um tempo para interagir com as pessoas (...) eu gosto de participar e mostro como atuo na Geriatria (...) a Consulta de Enfermagem é uma forma da Enfermeira desenvolver o seu conhecimento (...) aprender a cuidar do paciente de forma digna, oferecendo conforto e qualidade de vida (...) para que possam aprender e depois, mais tarde, ensinar aos clientes. (...) (Margarida – Enfermeira Assistencial)
(...) eu gosto muito (...) eu considero a Consulta uma
modalidade de ensinar a cuidar (...) é um aprender diário com todos a cuidar. (...) (Paula – Enfermeira Docente)
(...) eu acho que a teoria e a prática precisam estar
juntas. Eu gosto de participar porque sempre sou solicitada para participar, para dizer como funciona o setor, demonstrar como faço a Consulta de Enfermagem, e eu gosto de atuar com os alunos e com as professoras. Eu aprendo e também ensino (...) eu vejo como ensinar a cuidar das pessoas (...) ainda tem colegas que acham que a Consulta são ações Educativas, tem muita coisa para aprender ainda (...). Eu acho ensinar uma tarefa difícil porque tem que ter muita atenção com quem quer e com quem não quer. (...) (Lia – Enfermeira Assistencial)
Ao ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos
graduandos de Enfermagem, as enfermeiras, docentes e assistenciais, têm em
vista assistir a cada cliente como um ser individualizado. Trechos de suas
falas compõem esta categoria:
§ Singularidade
(...) tudo fica por nossa conta (...) a Enfermeira é quem faz e vê tudo. Tem os protocolos, mas você é quem decide com o cliente. É muito interessante porque você pode mostrar para o aluno que cada pessoa é uma pessoa, apesar de várias pessoas terem o mesmo diagnóstico. Nós atendemos alcoólatras, traficantes, marginais, gente de todo tipo e cada um tem a sua forma de viver a sua vida. (...) (Paula – Enfermeira Docente)
(...) no Programa de Reabilitação, é outro tipo de Consulta de Enfermagem. São clientes de vários grupos da sociedade: homens, mulheres, adultos, adolescentes e até idosos, cada um é uma pessoa. (...) a gente trabalha com pessoas de todo o tipo, portadores de doenças venéreas, diabéticos, hipertensos, cirróticos, até com AIDS, porque também tem gente com doenças venéreas, cada pessoa é uma pessoa. (...) você sabe, a mulher, ela é muito preconceituosa, mas é demais, ela é muito mais do que o homem. Elas, quando chegam no Programa, elas são, estão completamente deterioradas, abandonadas, desprezadas, sem a família e muito sozinhas, cada uma tem a sua história. (...) (Joana – Enfermeira Assistencial)
(...) pelo aspecto pessoal, tenho prazer em realizar e
ensinar (...) do ponto de vista profissional, diretamente atendendo a mulher no ciclo gravídico-puerperal, eu considero a atividade de extrema importância no sentido de assegurar o desenvolvimento da gestação com o menor número de intercorrências possíveis, não esquecendo de atender as peculiaridades de cada uma em particular, é esse o conceito que procuro passar para os alunos. Eu considero isso importante. (...) (Ana – Enfermeira Docente)
(...) a Enfermeira tem visão do todo, que é diferente do
Médico. Ela cuida do cliente, da pessoa como um todo, percebe as necessidades básicas do cliente, que é só dele, tem mais proximidade e ele fala, diz tudo o que sente, às vezes é emocionante (...). A Consulta tem feed-back do cliente, porque ele te diz o que sente, o que melhorou para ele. (...) (Gabriela – Enfermeira Assistencial)
(...) na Geriatria, a coisa é diferente. É um mundo de
patologias que reduzem o ser humano a uma dependência cada vez maior do outro. Isso é muito complicado porque afeta a você, também como profissional, pessoa. Dá uma compreensão maior da vida, do nosso papel na Equipe, porque nós trabalhamos em equipe (...). Além disso, os pacientes da Geriatria têm muitos problemas sociais (...) é terrível ver alguém demenciar e não contar com um familiar, um cuidador. Então, não é só as doenças correlatas da idade ou os danos próprios da velhice, é um único ser humano que muitos estão inteiramente sós. (...) (Margarida – Enfermeira Assistencial)
(...) eu trabalho com mulheres, na prevenção do câncer
de mama e de colo de útero e cada mulher é um mundo á parte. (...) (Norma – Enfermeira Docente)
(...) aqui no meu setor, eu participo, eles ficam juntos
assistindo como eu faço com os clientes, tiram as dúvidas, que são muitas, o que é natural porque Hanseníase você não aprende só com aula e com poucos contatos. O cliente nos ensina muito, cada caso é um caso, cada pessoa tem uma
vida, até a medicação é protocolada. (...) (Mariúza – Enfermeira Assistencial)
(...) e aí, estamos direto com os clientes, é nesse
momento que iniciamos os cuidados direcionados para essa pessoa. O cuidado e as orientações, identificamos as necessidades do cliente e da família, porque você não pode deixar de ouvi-los, não dá. A partir das necessidades, prestamos os cuidados, apoio emocional para essa pessoa, e aplicamos todos os nossos conhecimentos. Os clientes da Quimioterapia necessitam de uma assistência total. (...) nós só podemos desenvolver técnicas se eu conhecer melhor as necessidades dos clientes, de cada um. (...) (Luiza – Enfermeira Docente)
(...) no ensino prático, você usa a simulação a cada
cliente, para que o aluno consiga aprender. (...) (Maria – Enfermeira Docente)
(...) na Consulta (...) a Enfermeira tem que ser gente,
ela não pode ter preconceitos, tem que trabalhar a percepção, é pessoal. Aí você se envolve e o tratamento acontece. (...) aprende muito com os clientes, porque você ouve e, às vezes, você ouve coisas e mais coisas que nem pensou que iria ouvir, porque não é sobre a patologia, os remédios, o que os médicos não fizeram ou como fizeram, são coisas muito subjetivas, lá de dentro da pessoa. (...) (Vitória – Enfermeira Docente)
(...) sabe, aqui no setor, cada paciente precisa de
muitas orientações, de muitos cuidados, de muito apoio emocional, a auto-estima fica muito baixa. Você já viu como são os curativos feitos aqui (...) tem paciente que não consegue fazer o seu próprio curativo. São pacientes muito especiais, mas muito mesmo. Eles passam muitos anos conosco. (...) (Liliane – Enfermeira Assistencial)
(...) eu tento não perder de vista, a visão de todo do
paciente e que cada um é uma história. O aluno tem que aprender isso: o Enfermeiro vê o cliente como um todo. Aí, se as mulheres diabéticas, hipertensas ou do Programa de Tuberculose não vão ao ginecologista, não pode, tem que ser incentivadas a fazer o preventivo e procuro chamar atenção do aluno para não perder de vista a queixa principal do cliente, mas não esquecer de vê-lo como um todo e um ser. (...) (Elizabethe – Enfermeira Docente)
(...) a Consulta depende muito de quem a faz e para
quem se faz. É muito pessoal. Mesmo quando você está desenvolvendo a atividade através de um grupo de pessoas e elas estão fazendo trocas de conhecimentos, é pessoal. É confidencial! Eu acho que cada Enfermeira tem uma visão sua de como agir, que vai muito além do que é específico de um Programa de Saúde. (...) (Fabíola – Enfermeira Assistencial)
(...) o aluno, quando chega no estágio (...) ele aprende a conhecer esse sujeito, com suas especificidades no Programa de Geriatria. É um mundo à parte, a Geriatria (...) o idoso é um mundo de coisas. (...) (Sandra – Enfermeira Docente)
(...) é assim, a Consulta de Enfermagem é um elo do
tratamento e da reabilitação. Isso é muito sofrido porque eu fico muito, muito preocupada com esse paciente, qualquer insatisfação ele volta tudo ao zero, são idas e vindas, sempre. Você tem que controlar as ansiedades, eu fico muito, muito ansiosa. São muitas coisas que interferem. (..) (Susana – Enfermeira Docente)
(...) incentivo sempre o olhar de bom observador, de
investigador para tomar providências adequadas para cada caso e para isso, é importante deixar o paciente à vontade. (...) (Solange – Enfermeira Docente)
(...) é gratificante porque os clientes também gostam
de serem atendidos com tantas minúcias e se sentirem únicos, valorizados, ouvidos. (...) (Lia – Enfermeira Assistencial)
As enfermeiras docentes e assistenciais ensinam a atividade assistencial
Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem, tendo como projeto
demonstrar que a Consulta de Enfermagem pode levar à conquista da
liberdade para a tomada de decisões, segundo suas falas.
§ Autonomia
(...) o aluno, quando chega no estágio, ele aprende a ser Enfermeiro, percebe a autonomia da atividade. (...). (Sandra – Enfermeira Docente)
(...) ela dá autonomia ao Enfermeiro para decidir,
encaminhar, solicitar Parecer, o aluno tem que aprender isso. (...) (Vitória – Enfermeira Docente)
(...) ah! Não posso esquecer que a autonomia é uma
conquista. (...) (Maria – Enfermeira Docente) (...) só que hoje, a Consulta dá autonomia para o
Enfermeiro agir nos Programas. (...) (Liliane – Enfermeira Assistencial)
(...) eu acho que a Consulta de Enfermagem, de todas
as atividades desenvolvidas pela Enfermeira, a Consulta é a que mais oferece liberdade, independência de atuar de forma
resolutiva, autônoma. É disso que o aluno precisa, e passar para ele essa coisa de autonomia. (...) (Ana – Enfermeira Docente)
(...) procuro mostrar que é a atividade da Enfermeira
porque é a ação autônoma, você trabalha com o cliente, com a família, com a comunidade e com a equipe de saúde. (...) (Paula – Enfermeira Docente)
(...) isso faz com que o aluno desperte para o papel do
Enfermeiro em responder e solicitar Pareceres, Diagnósticos, tomar decisões, providências, encaminhamentos e resoluções, usar da autonomia. (...) (Gabriela – Enfermeira Assistencial)
(...) eu encaminho para o Hospital de Reabilitação,
esses encaminhamentos podem ser feitos tanto pelos médicos como pelos enfermeiros. Para você encaminhar certo, você precisa saber o porque do encaminhamento e tem que justificar, mas a Consulta de Enfermagem dá essa autonomia. (...) (Mariúza – Enfermeira Assistencial)
(...) os Programas de Saúde favorecem a nossa
atuação de forma sistematizada e nos dá autonomia. (...) (Margarida – Enfermeira Assistencial)
(...) a prática e a teoria têm que caminhar juntas, é
pelo saber realizar que os Programas de Saúde conferem autonomia às Enfermeiras. (...) (Fabíola – Enfermeira Assistencial)
(...) Eu gosto muito e procuro mostrar que é a
atividade da Enfermeira, porque é a ação autônoma (...) no Programa de Tuberculose, tudo fica por nossa conta, o cliente nem precisa da Consulta Médica, só se ele tem algum problema. A Enfermeira é quem faz e vê tudo. (...) competência para que a autonomia que a Consulta de Enfermagem propicia não seja vista de forma pessoal, como é até hoje, mas da profissão. (...) (Joana – Enfermeira Assistencial)
(...) os alunos ficam perplexos, gostam porque
identificam a autonomia da Enfermeira desenvolvendo novas metodologias, como a Consulta Individual e Coletiva. (...) (Norma – Enfermeira Docente)
(...) outro aspecto é a autonomia que a Consulta dá.
Essa coisa de poder é complicada. Você não tem que ir além do seu domínio porque senão, fica complicado. (...) (Luiza – Enfermeira Docente)
(...) a Consulta de Enfermagem não é fechada, a
Enfermeira tem autonomia para avaliação ampla e fazer encaminhamentos para outros Programas. (...) a rede básica dá autonomia e as clientes dizem ‘obrigado, Doutor’. Isso é gratificante (...). Na avaliação dos alunos, eu pergunto:
‘Como vocês se sentiram na Consulta de Enfermagem?’ E aí eles respondem: ‘Puxa, professora, consegui encaminhar para ginecologista, oftalmologia, me senti importante, autônomo’. (...) (Elizabethe – Enfermeira Docente)
(...) o mercado de trabalho vem atentando para os
trabalhos autônomos e a Consulta é direcionada pela Enfermeira, de acordo com as necessidades que os pacientes apontam. É a maneira do aluno aprender a atuar na profissão com autonomia. (...) (Solange – Enfermeira Docente)
(...) que eles vejam a importância da autonomia do
Enfermeiro. Eu estou estudando para que daqui a algum tempo, o Enfermeiro, através do conhecimento adquirido com este saber, possa ter a sua autonomia através da Consulta de Enfermagem. (...) (Susana – Enfermeira Docente)
As enfermeiras docentes e assistenciais ensinam a atividade assistencial
Consulta de Enfermagem motivadas a preparar os graduandos de Enfermagem
para o novo perfil da Enfermeira, conforme seus depoimentos.
§ Agir Profissional
(...) eu tenho em vista sensibilizá-los e fazê-los entender, de alguma forma, qual é o seu papel como Enfermeiro, na sociedade. Eu fico muito frustrada quando o aluno reduz a atuação do Enfermeiro a técnicas, roteiros e a conversas com o cliente. Daí, eu fico achando que tem alguma coisa que não é passado para eles, e eu não sei o que é. (...) (Fabíola – Enfermeira Assistencial)
(...) chamar o aluno para a importância de desenvolver
a prática dos Enfermeiros, que é a Consulta de Enfermagem, e que eles vão continuar essa prática (...) pena que poucos de nós façamos a nossa atividade principal, será por que? (...) (Lia – Enfermeira Assistencial)
(...) que esse aluno possa chegar à vida profissional
sabendo pelo menos que especialidade ou que cursos ele vai buscar para aprender a cuidar do paciente de forma digna, oferecendo conforto e qualidade de vida. Porém, ele só vai saber em que área vai se especializar, se houver pelo menos passado por setores que tenham despertado algum interesse (...) eu penso que os alunos darão continuidade a essa profissão. (...) (Margarida – Enfermeira Assistencial)
(...) viso um profissional que possa exercer a sua
profissão cada vez melhor, possa ser um continuador que saiba identificar um portador de hanseníase, e possa oferecer
as melhores possibilidades a essas pessoas (...) eu me preocupo que eles possam aprender o mais que possam, para terem outro perfil na área profissional, e se tornem enfermeiras compromissadas, porque eu acredito na Consulta de Enfermagem. É uma atividade que é própria da Enfermeira e depende muito do modo como ela encara ou compreende o que o cliente está precisando, e isso não está nos protocolos, nos roteiros, está no que você sabe. O aluno tem que perceber isso. Até porque, a vida profissional é muito difícil, e está cada vez pior. (...) (Mariúza – Enfermeira Assistencial)
(...) eu tenho em vista sempre, mas sempre, que os
alunos possam dar continuidade ao papel do Enfermeiro na vida profissional. Eu sei que é muito, mas muito difícil, resgatar o Enfermeiro para a Consulta de Enfermagem. É assim em todos os lugares. A Consulta de Enfermagem não pode ser algo pessoal, eu faço, você faz e outros, mas o que é isso, os Enfermeiros não fazem? (...) (Gabriela – Enfermeira Assistencial)
(...) eu só acho que é preciso ensinar a Consulta de
Enfermagem durante todo o curso de graduação, para que o aluno possa compreender o seu papel de Enfermeiro e faça a Consulta, todos nós na vida profissional, e dar continuidade à profissão. (...) (Joana – Enfermeira Assistencial)
(...) eu tenho em vista a continuidade da profissão.
Eles não vão enfrentar muitos problemas que nós já enfrentamos para desenvolver a Consulta de Enfermagem na vida profissional. Eles precisam é fazer sempre, mesmo que não seja completa. (...) esse é o nosso momento, continuar podendo ser Enfermeiras. (...) (Liliane – Enfermeira Assistencial)
(...) eu sinto que os alunos se sentem mais seguros,
mais independentes para desenvolver o trabalho na vida profissional, e o mercado está aí. (...) (Maria – Enfermeira Docente)
(...) que na vida profissional os nossos alunos não
sejam mecanicistas, exerçam suas funções conscientes de suas responsabilidades, e tenham compromisso com os clientes de continuidade da ação. (...) (Paula – Enfermeira Docente)
(...) eu procuro passar para o aluno a postura
profissional adequada para ele dar continuidade profissional, bem como o trato com a clientela. (...) (Ana – Enfermeira Docente)
(...) eu acho que é a prática profissional nossa, e cada
vez tem que ser continuada. A Enfermagem ganhou uma certa posição com as Consultas, o retorno dos clientes é rápido (...) eu acho que nem todos fazem a Consulta porque
precisa de tempo, de conhecimentos, além dos científicos e técnicos. (...) (Vitória – Enfermeira Docente)
(...) sensibilizar o aluno para a atividade, que é própria
do Enfermeiro. Instrumentalizá-lo para a vida profissional. Eu quero que eles possam aprender a lidar com os diversos grupos da sociedade (...) particularmente na Consulta de Enfermagem para o idoso. (...) (Sandra -–Enfermeira Docente)
(...) eu vejo o mercado de trabalho que se abre para
essa possibilidade da Consulta na vida da profissional, e a continuidade da profissão. (...) (Susana – Enfermeira Docente)
(...) na vida profissional, a continuidade da profissão,
porque a Consulta de Enfermagem faz parte da atuação da Enfermeira. É uma prática para ajudar a modificar os comportamentos. Pena que nem todos façam a Consulta de Enfermagem porque não conseguem se desvencilhar das outras atividades administrativas. (...) (Solange – Enfermeira Docente)
(...) ah! Eu também tenho em vista que eles, na vida
profissional, não fiquem restritos aos protocolos e aos roteiros (...) eu acho que eles deverão atuar na Enfermagem fazendo Consulta, sem medo. (...) (Elizabethe – Enfermeira Docente)
(...) a vida profissional é difícil, mas eu tenho em vista
a continuidade do nosso espaço profissional através da Consulta de Enfermagem, melhorando a saúde. (...) (Luíza – Enfermeira Docente)
(...) ampliar o número de Enfermeiras desenvolvendo
essa atividade na vida profissional, porque acredito que a Consulta de Enfermagem possa influir na transformação dos atuais índices de mortalidade e morbidade. (...) (Norma – Enfermeira Docente)
As enfermeiras docentes e assistenciais ensinam a atividade assistencial
Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem, com a perspectiva
de esperar que os graduandos busquem o saber específico para melhor
atenderem a demanda da clientela.
§ Educação Continuada
(...) é um saber constante, comigo é assim, e com eles também será, o importante é fazer e estudar. Já treinamos muitas Enfermeiras que se tornam aptas a desenvolver a Consulta de Enfermagem e se queixam que estão com muitas atividades administrativas e alegam que o consultório toma muito tempo. Acho que toma mesmo, e necessita de muito envolvimento, estudar, se informar sobre tudo o que acontece, depende de cada um de nós. (...) (Norma – Enfermeira Docente)
(...) com os cursos de Especialização, você passa a
cuidar melhor, oferecendo qualidade de vida aos clientes e ensinando mais efetivamente aos alunos. (...) (Maria – Enfermeira Docente)
(...) eu acho assim, o aluno precisa conhecer os
Programas, atuar com a Consulta para que ele possa ter idéia e compromisso com e como se aprimorar (...) eu acho importante os cursos de Especialização para o aprimoramento aprendizagem da Enfermeira. (...) (Paula – Enfermeira Docente)
(...) acho que aquele que quer aprofundar deve se
especializar, porque para o atendimento de qualidade, é necessário aperfeiçoar-se e gostar. Sem gostar, não adianta (...) com essa coisa do Programa de Saúde da Família, se abriram portas, e também essa Filosofia da Humanização do Parto, algumas instituições estão valorizando a Enfermeira Obstetra. (...) (Ana – Enfermeira Docente)
(...) atualmente você tem que estudar, se especializar
(...) um campo que sempre está precisando é a área de ensino (...) tem muita Enfermeira dando aula nas Escolas. Tem Escola que prioriza Enfermeiro com experiência na prática. Isto é outra coisa que tento mostrar ao aluno, se ele não unir teoria à prática, fica complicado. (...) (Vitória – Enfermeira Docente)
(...) eles sempre solicitam uma volta para o setor, mas
você sabe, nós não temos tempo e eu não tenho disponibilidade, não podemos contemplar. Penso que os cursos de Especialização favorecem esse aprimoramento, não é? (...) eu acho que através dos cursos de Atualização, Extensão, abrangeríamos essa demanda. (...) (Sandra – Enfermeira Docente)
(...) evidentemente, à medida que o Enfermeiro tenha
especialidade na área, ele vai desenvolver a Consulta de Enfermagem mais dentro da realidade. (...) o Enfermeiro, antigamente, só era contratado para atuar no assistencialismo. Atualmente, com a Consulta de Enfermagem, eles estão querendo contratar a Enfermeira para a manutenção, reabilitação do cliente alcoolista e/ou usuário de outras drogas. (...) eu não estou satisfeita.
Gostaria de participar de um grupo de estudos sobre a Consulta de Enfermagem na nossa Escola. (...) (Susana – Enfermeira Docente)
(...) o aluno tem que aprender que vai necessitar
estudar, se especializar e se dedicar sempre, para dar o melhor que possa ao cliente ou paciente. (...) (Solange – Enfermeira Docente)
(...) a especialidade é uma forma de prestar um cuidado técnico-científico, mas é necessário usar a especialidade para cuidar da pessoa, e não da doença. Se ele, o aluno, vai para a Especialização, esses conhecimentos vão ajudar para um olhar direcionado para as necessidades dos pacientes. A especialidade é uma forma de fortalecer o Modelo Biomédico, mas e daí? Ela pode ser. Eu uso a Especialidade como uma forma de cuidar, e ela é necessária. (...) (Luíza – Enfermeira Docente)
(...) mas, dependendo do aluno, ele pode depois se
especializar e atuar melhor. (...) (Joana – Enfermeira Assistencial)
(...) consulta requer tempo, paciência, e é muito
elaborativa, tem que estudar e se aprofundar no que está fazendo, vai muito além de desenvolver técnicas, testes. Tem que estudar, e muito (...) quem faz, tem que procurar estudar e se especializar. (...) (Gabriela – Enfermeira Assistencial)
(...) acho que fazer Consulta, é preciso gostar e estar
disposta a se aprimorar, buscar cursos, se atualizar, se especializar. A Consulta não é fechada. Ao contrário, ela é aberta, dependendo do conhecimento de quem a faz. (...) (Mariúza – Enfermeira Assistencial)
(...) eu fico feliz de poder passar conhecimento para
alguém, é muito bom mesmo, mas quem faz Consulta de Enfermagem tem que estudar sempre, tem que se especializar na sua área de atuação, porque os Programas de Saúde favorecem a nossa atuação de forma sistematizada. (...) (Margarida – Enfermeira Assistencial)
(...) eles vão ter que estudar para se aperfeiçoarem,
especializarem, e só serão reconhecidos no Modelo Tecnicista de Saúde se souberem se colocar com compromisso, com ética e com saber científico. O aluno está diferente, ele às vezes não valoriza o momento e aí ele vai procurar depois, e aí eu fico pensando, será que é porque não foram estimulados para a Consulta (...). (Lia – Enfermeira Assistencial)
As enfermeiras docentes e assistenciais ensinam a atividade assistencial
Consulta de Enfermagem porque, através das suas vivências, necessitaram
superar as dificuldades da formação para a Consulta de Enfermagem por
meio da prática profissional, e explicitaram sua “motivação porque”,
conforme suas reflexões pontuadas por seus dizeres:
§ Da Formação à Experiência Profissional
(...) mesmo uma Escola de Enfermagem cujo Currículo Novo está sendo implantado, os professores continuam seguindo o Modelo Biomédico. (...) dificuldades, temos algumas, como a inexperiência do aluno em visualizar a pelves no toque, a Anatomia e a Fisiologia que é ensinada e que, no momento da Consulta de Enfermagem, se faz necessário resgatar, até porque há uma inadequação do ensino, porque os professores que ensinam essas disciplinas não são Enfermeiras. (...) (Norma – Enfermeira Docente)
(...) eu não aprendi assim, eu fui aprender exame físico
e a fazer Consulta nos cursos que fiz. Aí, que eu fiquei mais confiante, foi isso, só depois eu fiquei confiante (...) me sentia despreparada. Eu faço há uns dez anos. Eu já trabalhei no Programa de Diabetes, de Hipertensão um tempo, e também na enfermaria na área hospitalar (...) fiz curso de Especialização na Saúde da Mulher, Ginecologia, Pré-Natal, Pós-Parto, Planejamento Familiar e aí não saí mais dessa área, e outros cursos de Atualização, que me deram suporte para a Consulta (...) e o Currículo Novo continua o mesmo. (...) (Lia – Enfermeira Assistencial)
(...) eu considero que o currículo de graduação novo,
hoje pode ser revisto para que estejamos mais dentro da realidade da saúde, que está ruim tanto pública como particular. (...) (Elizabethe – Enfermeira Docente)
(...) No início foi muito difícil para mim atuar na
Geriatria, parecia que eu ia para um matadouro. Nossa, era horrível! Eu não dominava os conteúdos de Gerontologia (...) porque eu não aprendi nada disso na Escola e foi isso mesmo, eu não aprendi nem Geriatria e nem Consulta (...). Trabalhei quatorze anos com a Consulta de Enfermagem para os pacientes diabéticos e hipertensos (...). Aí, eu comecei a fazer cursos e fui melhorando, aprendendo com os próprios pacientes, com as histórias de vida deles, com seus familiares e com todos da equipe (...) nos currículos de graduação estão deixando tudo corrido (...) eu acho que é muito pouco tempo que eles passam (...) os grupos são rotativos, um dia é um grupo, no outro dia é outro grupo e
no outro é outro grupo (...). As Escolas de Enfermagem estão fora da realidade. (...) (Margarida – Enfermeira Assistencial)
(...) eu não sei se é o currículo dos cursos de
Enfermagem, acho que são os professores que precisam ensinar aos alunos durante o curso a fazer a Consulta, não só em um momento, porque fica um ensino dissociado, acontece na Saúde Pública e depois vai depender de outro professor. (...) eu aprendi a desenvolver um pouco a Consulta de Enfermagem no Pré-Natal, no Setor de Tuberculose, e era diferente demais, os Programas não eram integrados, era diferente (...) eu aprimorei minha atuação na vida prática, quando fiz o curso de Epidemiologia, na Escola Nacional de Saúde Pública, e veja só, eu sou do Departamento Médico-Cirúrgico. Depois, quando fui desenvolver o meu trabalho no Mestrado, fiz um acordo com a Chefe do setor, eu fiz os atendimentos e, em troca, colhi os dados da minha pesquisa. Isso foi de 1997 à 99. Foi uma experiência muito boa. É um trabalho de equipe, tem que ser. Depois ganhei uma bolsa de estudos para Johns Hopkins University, aí já em função da pesquisa que hoje faço parte. (...) (Paula – Enfermeira Docente)
(...) ninguém nos preparou para isso, nós aprendemos
depois (...) não é muito falado na Escola, no Curso de Graduação. O que se fala não mostra a dimensão e a importância da enfermeira, não é? Na nossa época foi assim (...). Atuo no Programa de Diabetes Mellitus desde 1987, início do Censo sobre Diabetes, o único que houve até hoje, eu não sei de outro, e esta é a minha prática sempre (...) eu vejo que os currículos das Faculdades precisam ser revistos porque a prática, hoje, é junto com a teoria, e o SUS, embora valorize a área hospitalar, a estratégia do Programa de Família dá emprego, e será que os alunos estão sendo preparados? (...) (Gabriela -–Enfermeira Assistencial)
(...) não era desse jeito e quando se passava pelos
setores, você assistia, orientava, fazia curativos e (...). Eu não aprendi mesmo (...) eu não ensino hoje a Consulta que aprendi (...) e aí a necessidade obriga a buscar conhecimento (...) os alunos (...) eles ficam muito mais tempo no hospital e eu acho que saber mexer com máquinas, agulhas, neste momento, é o que eles pensam ser necessário. (...) o currículo deveria dar prioridade à área de Saúde Pública, o PSF está aí e precisamos preparar o nosso ensino, então rever e ajustar o currículo para sair do enfoque tecnicista. (...) (Victória – Enfermeira Docente)
(...) nós não aprendemos a fazer Consulta, aprendi ‘no
grito’ (...) só que trabalhei outros tantos anos, muitos na assistência, e aprendi muito e foi o que me deu base (...). (Susana – Enfermeira Docente)
(...) não foi assim na minha época de graduação. Eu
aprendi, mas foi diferente (...). Hoje, nós ensinamos de maneira diferente do que aprendemos, é óbvio, mas por que? Fomos melhorando, aprimorando, nos especializando, nos interessando por atender melhor as necessidades do cliente. (...) (Luíza – Enfermeira Docente)
(...) Eu aprendi a fazer Consulta de Enfermagem no
curso de Graduação, mas era muito diferente, hoje é outra coisa, mas para mim não foi marcante, eu acho que era isso (...) só com o passar das minhas experiências profissionais é que descobri que é a atividade que dá a cara do Enfermeiro (...) mantenho o campo há sete anos e muitos outros na Consulta, uns vinte anos ao todo. É! (...) Na opinião dos alunos, eles necessitam de mais tempo no setor durante o Curso. Eu acho também. Eu procuro mostrar para eles que a Consulta está atrelada a uma teoria ou a várias teorias, e isso se perde ao longo do curso, acho que não tem continuidade no currículo. (...) (Sandra – Enfermeira Docente)
(...) o modelo de saúde é biomédico (...) os currículos
não contemplam o necessário, eles dão o mínimo (...) também não sei se tem continuidade os vários campos, eu acho que isso atrapalha (...) o currículo precisa ser revisto nos seus conteúdos porque as exigências são outras, e será que os alunos estão sendo preparados? (...) (Ana – Enfermeira Docente)
(...) penso que os currículos deveriam dar mais atenção
à Consulta (...) eu não aprendi como estou ensinando (...) trabalhava antes com Epidemiologia e já trabalhei durante dois anos na favela com crianças e adolescentes, e eu fazia Consulta, dava orientações específicas e prestava assistência (...) eu acho também que você vai aprimorando e o aluno não consegue enxergar a importância ainda. Só depois, com a prática. (...) (Solange – Enfermeira Docente)
(...) no curso de Graduação, eu não aprendi a fazer
Consulta dessa forma, era pré e pós Consulta Médica, orientações, ações educativas e só. Acho até que até hoje, as colegas acham que a Consulta são Ações Educativas e não é assim, porque vai dizer que isso é propriedade das Enfermeiras para a Equipe de Saúde?! (...)eu trabalhei em Centro Munic ipal de Saúde muitos e muitos anos, e depois também como professora, as duas funções (...) na Consulta, no setor de curativos, já tem muito tempo (...) tem que ser precisa nos anos? (...) o currículo é um caminho, mas os professores são responsáveis pelos conteúdos e eu acho que precisam ajustar aos nossos problemas de saúde, que são muitos, caos. (...) (Maria – Enfermeira Docente)
(...) talvez seja necessário rever os currículos das nossas instituições, porque o sistema de saúde hoje é o SUS, e eu acho que ele ainda não foi atendido e a pressão é para atender. O mercado de trabalho, atualmente, é o Programa de Família, que já é uma metodologia (...) mas eu não vejo uma preparação para isso dos alunos (...) o currículo ou quem sabe, os professores, precisam interagir melhor teoria e a prática. Sabe, eu acho que o nosso discurso é legal, mas a prática difere (...) será que as Faculdades não precisam rever seus currículos e até pressionarem o governo para a parte de prevenção das doenças? Eu acho que são órgãos que têm força, mas as ações não são tomadas neste sentido. O currículo pode ser um caminho (...) também tem essa passagem pelos campos de estágios, que é pouco tempo, essa teoria livresca e a prática, que nem sempre acontece conjuntamente (...). Aprimorei a minha Consulta através dos cursos que fiz, e fiz vários para aprender hanseníase, na Fundação Oswaldo Cruz (...) não aprendi a fazer Consulta de Enfermagem no curso de Graduação, em 1988, quando eu formei. Até porque, os cursos de graduação estavam e estão direcionados para a área hospitalar. Os encontros na área de Saúde Pública são poucos e restritos às ações educativas, orientações, palestras, e isso é só uma etapa da Consulta. (...) era diferente e ficava só sendo pré e pós consulta médica, totalmente diferente de hoje. (...) (Mariúza – Enfermeira Assistencial)
(...) eu não aprendi no meu curso de graduação a fazer essa Consulta que vocês fazem, tão completa. Não era como uma disciplina. Nós aprendíamos a dar orientações, fazer ações educativas e ensinarmos aos pacientes as técnicas que eles necessitavam aprender (...) sabe, nós fazíamos a pré consulta médica e a pós. Depois é que os alunos começaram a atender no consultório, com as consultas agendadas. Acho que ocorreu lá por 1983 e 1984, não foi? É isso, acho que nós não aprendemos a fazer a Consulta de Enfermagem como os alunos aprendem hoje. Também, nossos estágios eram mais na área hospitalar (...). Agora é que a Consulta de Enfermagem está sistematizada nos Programas de Saúde e os alunos fazem as consultas completas, o currículo deveria priorizar a consulta hoje, será que é o currículo? (...) (Liliane – Enfermeira Assistencial)
(...) para realizar a consulta, o aluno necessita de
conhecimentos adquiridos através do currículo (...) não podemos deixar de lembrar que tudo isso tem que ser com a visão do Enfermeiro, para que possam entender como se dá o processo de enfermagem. Eu acho importante apreender a metodologia da consulta de enfermagem porque isso é que vai torná-la científica (...) também o que dificulta é porque quem faz, ou melhor, executa ou faz valer o currículo, são os professores, e há prioridade para a área hospitalar, até as disciplinas, conteúdos. É cultural, isso. Eu acho que necessita
ser revisto, e parece que o SUS, apesar de não priorizar a prevenção, dá um certo apoio aos Programas (...) eu não vejo os alunos serem preparados para atuarem no mercado que é o PSF, que engloba todos os Programas. (...) (Fabíola – Enfermeira Assistencial)
As categorias concretas constituídas a partir do sentido da ação
subjetiva permitiram descrever o tipo vivido “Enfermeiras docentes e
assistenciais que ensinam a atividade assistencial, Consulta de Enfermagem,
aos graduandos de Enfermagem”, como sendo a pessoa que deseja ensinar
e aprender a cuidar, levando em conta a singularidade de cada cliente,
conquistando a autonomia para a tomada de decisões na vida
profissional e buscando o saber através da Educação Continuada, com o
intuito de superar as dificuldades de formação para a realização da
Consulta de Enfermagem.
As categorias concretas de significados que emergiram dos
depoimentos, revelaram as características das Enfermeiras, docentes e
assistenciais, que vivenciam o fenômeno do ensino da atividade assistencial
Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem no cotidiano,
segundo a perspectiva dos próprios sujeitos no mundo da vida.
De acordo com Panizza (1980, p.18),
[...] o mundo da vida cotidiano é um mundo de significações,
uma textura de sentido que devemos compreender para nos
guiar nele, a cultura nos remete a ações humanas, isto é, a
atividades significativas dos sujeitos humanos. [...]
Logo, o fato de estarmos em contato com outros semelhantes,
estabelecendo ações de influência e compreensão desde que nascemos,
crescemos, construindo cada um de nós a sua bagagem de conhecimentos e
vivências inerentes a cada ser, nos torna seres singulares.
Desta maneira, o ser humano não está dissociado no mundo cotidiano, e
sim inserido no contexto social. Apenas, ele possui uma trajetória de vida, a sua
história, com base sedimentada em experiências vividas por ele mesmo e que
foram passadas por seus predecessores.
Para Jesus (1998, p.54):
[...] as experiências vividas no aqui e no agora se dão em
função da herança recebida do passado, passado este que
influencia o presente e que as pessoas somam a própria
experiência, construindo o contexto de significados do tempo
presente. [...]
O mundo da vida é o espaço subjetivo no qual se dão as relações no
cotidiano, as vivências resultantes entre o Eu e o Outro interpessoal, tem
presente a intersubjetividade e como elemento impulsionador, a motivação: os
“motivos para” e os “motivos porque” que articulam a ação intencional dos
sujeitos no ensino da Consulta de Enfermagem.
Para a Análise Compreensiva dos depoimentos, as vivências não são
tipicamente exclusivas de um indivíduo, mas sim de algumas pessoas que
vivenciam o fenômeno do ensino da Consulta de Enfermagem aos graduandos
de Enfermagem.
Concordo com Jesus (1998, p.16):
[...] A síntese de reconhecimento não é a pessoa única tal
como existe em seu presente vivente. É uma representação
de pessoa, tornando-a sempre a mesma e homogênea,
deixando de lado as características individuais. [...]
Para Schütz (1972), na síntese tipificante de reconhecimento, realizo um
ato de anonimização, no qual abstraio a vivência do marco da corrente da
consciência e, portanto, faço-a impessoal.
Assim, a Análise Compreensiva das vivências tipificadas das
Enfermeiras, docentes e assistenciais, na questão do ensino da Consulta
de Enfermagem, se dá através do significado subjetivo contido nas palavras
ditas pelo outro no contexto significativo da comunicação interpessoal.
Segundo Schütz (1972, p.156),
[...] a compreensão dos atos conscientes de outra pessoa que está comunicando-se por meio de signos1 não difere, em princípio, da compreensão de seus atos [...] o significado que o falante trata de fazer compreender não será somente significado objetivo, pois ele tem a intenção também de comunicar sua atitude pessoal [...].
Daí, percebo como uma aproximação o significado captado por mim
daquele dito pelos sujeitos ao se expressarem por meio da comunicação verbal,
o mundo de tipicidade e intersubjetividade que experimentam na vivência do
ensino da Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
_____ 1São significados objetivos transmitidos pela cultura, aquilo que pela linguagem eu valorizo e atribuo
sentido; aquilo que posso compreender, mesmo sem ter vivenciado, pois expressa a vivência de alguém. (CAPALBO, C. in Seminário Alfred Schütz, Rio de Janeiro, em 21/10/97).
O modo como a tipicidade ocorre. Schütz (1974, p.39) explica como:
[...] o que se experimenta na percepção real de um objeto é
transferido aperceptivamente a qualquer outro objeto similar,
que é percebido simplesmente como do mesmo tipo. A
experiência real confirmará ou não minha antecipação da
conformidade típica com outros objetos. [...]
Assim, a compreensão da pessoa está ligada à compreensão de seus
“motivos para” e “motivos porque”, e estes foram expressos de acordo com a
situação biográfica de cada Enfermeira, docente e assistencial, no mundo da
vida.
CAPÍTULO V
COMPREENDENDO AS VIVÊNCIAS
TIPIFICADAS DAS ENFERMEIRAS
DOCENTES E ASSISTENCIAIS NO ENSINO DA
ATIVIDADE ASSISTENCIAL
CONSULTA DE ENFERMAGEM
AOS GRADUANDOS DE ENFERMAGEM
A Fenomenologia Sociológica de Alfred Schütz, permite a compreensão
da ação intencional dos sujeitos, segundo seus “motivos para” e “motivos
porque” expressos por essas pessoas, explicitando as relações sociais sem
emitir juízo de valores.
Assim, a partir das perguntas orientadoras do estudo, feitas às
Enfermeiras, docentes e assistenciais, que ensinam a atividade assistencial,
Consulta de Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem: − Você faz a
Consulta de Enfermagem? Fale como é para você ensinar a atividade
assistencial, Consulta de Enfermagem e O que você tem em vista, quando
ensina a Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem ? –
emergiram algumas categorias que exteriorizaram o pensamento das
Enfermeiras, evidenciaram o típico da ação intencional desses sujeitos,
permitindo apreendê-lo.
Desta maneira, através da relação interativa estabelecida entre a
pesquisadora e os sujeitos que revelaram por seus “motivos para”, seus
projetos futuros, possibilitando construir as categorias do vivido.
Ensinar e aprender a cuidar – pude compreender que as enfermeiras
projetam a ação intencional de ensinar a consulta de enfermagem aos
graduandos de enfermagem, como uma modalidade de aprender a aprender a
cuidar dos seus clientes, vivenciando uma relação face a face, na qual ambos
são sujeitos das suas ações, numa relação de encontro através das trocas de
saberes, experiências que constituem as suas vivências.
Para schütz (1972), a relação de situação mais forte é a relação social do
tipo face a face, que estabelece uma relação de comunidade, na qual os
participantes estão conscientes um do outro.
Segundo schütz (1972, p.172):
[...] Meu aqui e meu agora incluem o outro junto com sua consciência do meu mundo, tal como eu e meu conteúdo consciente pertencemos ao teu mundo em teu aqui e teu agora. [...]
Neste contexto, ao ser estabelecida a relação social, face a face entre
quem ensina e quem aprende a cuidar dos clientes, as enfermeiras docentes e
assistenciais consideram: ensinar a fazer a atividade assistencial, consulta de
enfermagem, não é uma tarefa fácil, embora gostem de ensinar a atividade
atribuem que depende de quem ensina e de quem aprende, sendo uma ação
que vai além dos conhecimentos científicos, de demonstrações de técnicas e
procedimentos. É um aprender contínuo de cada pessoa, entre pessoas e para
pessoas. “[...] Eu e meu conteúdo ao teu mundo com teu aqui e teu agora. [...]”
(schütz, 1972, p. 172)
(...) O aluno e professor têm que ter humildade de aprender e ensinar e aprender sempre (...) Eu considero que a consulta não é apenas um protocolo que tem que constar no prontuário do paciente. Ela é muito mais que isso, é uma didática pessoal do enfermeiro, uma maneira de ensinar. (...) (maria – enfermeira docente)
(...) Olha, eu gosto e acredito que através da consulta você
ensina e aprende muito com os clientes (...) Não acho fácil fazer e nem ensinar a fazer consulta, mas para mim é muito prazeroso, é muito mais do que as técnicas (...) Vejo que os alunos gostam do setor e participam. Eu me preocupo que eles não saiam sem saber, mas depende deles e se todos os professores dessem continuidade, só que não é assim. (...) (victória - enfermeira assistencial)
Além disso, as enfermeiras, docentes e assistenciais, enfatizam o ensino
da consulta de enfermagem como uma estratégia para ensinar ao graduando
de enfermagem a cuidar dos clientes e isso se dá de maneira muito peculiar,
cada enfermeira cuida do seu jeito, não existindo regras, técnicas para
exemplificá-lo, mas falam desse cuidar como uma característica do agir da
Enfermeira com o cliente, oportunizando a sua qualidade de vida.
(...) É preciso desenvolvermos essa estratégia de ensinar a cuidar bem dos clientes aos nossos alunos que a consulta nos possibilita hoje (...) A consulta é o ‘boom’, o ‘boom’ da atuação da enfermeira, é um aprender muito grande, porque cada pessoa tem um ensinamento, é aprender e ensinar e aprender todo dia. (...) (susana – enfermeira docente)
(...) É um momento de aprendizagem para o professor e para a
enfermeira e para todos. Eu aprendo muito, mas muito mesmo (...) Depende muito de quem ensina, não é? (...) Considero uma estratégia didática de ensinar a cuidar dos pacientes para os alunos. (...) (sandra – enfermeira docente)
A categoria singularidade mostra o projeto das enfermeiras, docentes e
assistenciais, em transmitir aos graduandos de enfermagem que este ensinar e
aprender a cuidar através da consulta de enfermagem, é um assistir a cada
cliente como um ser único, por seus sentimentos, valores, necessidades,
projetos expressos em seus motivos para e porque, manifestos por sua
subjetividade numa relação de encontro entre o eu e o outro, estando presente
a intersubjetividade na troca de significados por suas vivências.
para schütz (1972, p.135), o significado que dou às vivências do outro
não pode ser exatamente o mesmo que a própria pessoa dá ao interpretá-las,
pois “[...] Se eu pudesse estar consciente de toda a experiência do outro, ele e
eu seríamos a mesma pessoa [...]”.
segundo creusa capalbo1, em schütz, a intersubjetividade é precondição
da vida social. A vida social é a vida entre sujeitos, vida intersubjetiva e o
significado que é vivenciado na singularidade é ao mesmo tempo vivenciado
com os outros.
1fala da filósofa, professora doutora creusa capalbo, em seminário sobre alfred schütz, rio de janeiro, em 21/10/97.
Embora as falas dos sujeitos priorizem a individualidade de cada cliente,
identificamos também o enfoque dessas enfermeiras, docentes e assistenciais,
em relação às peculiaridades de cada programa de saúde, para cada grupo
humano, nas suas diferenças entre as suas especificidades, passando a
merecer atenção de quem ensina e de quem aprende com singularidade.
(...) Tudo fica por nossa conta (...) A enfermeira é quem faz e
vê tudo. Tem os protocolos, mas você é quem decide com o cliente. É muito interessante, porque você pode mostrar para o aluno que cada pessoa é uma pessoa, apesar de várias pessoas terem o mesmo diagnóstico. Nós atendemos alcoólatras, traficantes, marginais, gente de todo tipo e cada um tem a sua forma de viver a sua vida. (...) (paula – enfermeira docente)
(...) Na geriatria, a coisa é diferente. É um mundo de patologias
que reduzem o ser humano a uma dependência cada vez maior do outro. Isso é muito complicado, porque afeta a você também, como profissional, pessoa. Dá uma compreensão maior da vida, do nosso papel na equipe, porque nós trabalhamos em equipe (...) Além disso, os pacientes da geriatria têm muitos problemas sociais (...) É terrível ver alguém demenciar e não contar com um familiar, um cuidador. Então, não é só as doenças correlatas da idade ou os danos próprios da velhice, é um único ser humano que muitos estão inteiramente sós. (...) (margarida – enfermeira assistencial)
(...) Aqui no meu setor, eu participo, eles ficam juntos assistindo
como eu faço com os clientes, tiram as dúvidas que são muitas, o que é natural, porque hanseníase você não aprende só com aula e com poucos contatos. Os clientes nos ensinam muito, cada caso é um caso, cada pessoa tem uma vida, até a medicação é protocolada. (...) (mariúza – enfermeira assistencial)
(...) Na consulta (...) A enfermeira tem que ser gente, ela não
pode ter preconceitos, tem que trabalhar a percepção, é pessoal. Aí, você se envolve e o tratamento acontece (...) Aprende muito com os clientes, porque você ouve, e às vezes você ouve coisas e mais coisas que nem pensou que iria ouvir, porque não é sobre a patologia, os remédios, o que os médicos não fizeram ou como fizeram, são coisas muito subjetivas, lá de dentro da pessoa. (...) (victória – enfermeira docente)
As enfermeiras, docentes e assistenciais, percebem a
importância de ensinar ao aluno de graduação a cuidar dos clientes,
respeitando sua singularidade, sem se distanciar de uma visão
holística do indivíduo, para que ele possa vivenciar a sua vida social
entre pessoas de seu convívio familiar, da comunidade e possa por
si próprio ser o sujeito das suas ações, podendo exercitar seus
direitos e deveres com liberdade de cidadão.
na categoria autonomia, os sujeitos desejam mostrar para o graduando
de enfermagem que a atividade assistencial consulta de enfermagem, dentre
todas as demais atividades desenvolvidas pelas enfermeiras, é uma das mais
abrangentes, realçadas pela subjetividade de cada pessoa, na presença da
intersubjetividade entre enfermeiras, docentes e assistenciais, graduandos de
enfermagem, clientes e equipe de saúde, numa relação entre nós.
schütz (1972, p.195) refere que a medida em que nós podemos vivenciar
mutuamente a simultaneidade da sua corrente de consciência fluindo junto com
a minha, envelhecemos juntos por um tempo, podemos viver os contextos
subjetivos de significados um do outro.
jesus (1998, p.55) interpreta: a “relação nós” a que permanece
ininterrupta, cada um está aberto e acessível aos atos intencionais do outro.
Cada um vivencia o fluxo de consciência do outro em uma espécie de
possessão mútua.
assim, a liberdade de agir das enfermeiras, docentes e assistenciais, se
faz através das conquistas que esses sujeitos adquirem no mundo da vida da
enfermagem pela consciência de serem responsáveis por suas ações, no
ensino da atividade consulta de enfermagem aos graduandos de enfermagem,
Segundo suas falas.
(...) Eu acho que a consulta de enfermagem, de todas as atividades desenvolvidas pela enfermeira, a consulta é a que mais oferece liberdade, independência de atuar de forma resolutiva, autônoma. É disso que o aluno precisa, e passar para ele essa coisa de autonomia. (...) (ana – enfermeira docente)
(...) Isso faz com que o aluno desperte para o papel do
enfermeiro em responder e solicitar pareceres, diagnósticos, tomar decisões, providências, encaminhamentos e resoluções, usar a autonomia. (...) (gabriela – enfermeira assistencial)
(...) Os alunos ficam perplexos, gostam porque identificam a
autonomia da enfermeira desenvolvendo novas metodologias, como a consulta individual e coletiva. (...) (norma – enfermeira docente)
(...) Ah! Não posso esquecer que autonomia é uma conquista.
(...) (maria - enfermeira docente) (...) A prática e a teoria têm que caminhar juntas, é pelo saber
realizar que os programas de saúde conferem autonomia às enfermeiras. (...) (fabíola – enfermeira assistencial)
Neste contexto, a categoria agir profissional foi composta por falas que
evidenciam a futura vida profissional dos graduandos de enfermagem no
ensino da atividade assistencial consulta de enfermagem, de acordo com o
projeto das enfermeiras, docentes e assistenciais, em dar continuidade ao
nosso espaço profissional, e assim, ampliar o número de enfermeiras
exercendo o seu assistir aos clientes, propiciando a saúde e influenciando
comportamentos.
(...) Na vida profissional, a continuidade da profissão, porque a consulta de enfermagem faz parte da atuação da enfermeira. É uma prática para ajudar a modificar os comportamentos. Pena que nem todos façam a consulta de enfermagem, porque não conseguem se desvencilhar das outras atividades administrativas. (...) (solange – enfermeira docente)
(...) Ampliar o número de enfermeiras desenvolvendo essa atividade na vida profissional, porque acredito que a consulta de enfermagem possa influir na transformação dos atuais índices de mortalidade e morbidade. (...) (norma – enfermeira docente)
(...) Eu tenho em vista a continuidade da profissão. Eles não vão enfrentar muitos problemas que nós já enfrentamos para desenvolver a consulta de enfermagem na vida profissional. Eles precisam é fazer sempre, mesmo que não seja completa (...) Esse é o nosso momento, continuarmos podendo ser enfermeiras. (...) (liliane – enfermeira assistencial)
(...) Eu tenho em vista sempre, mas sempre, que os alunos possam dar continuidade ao papel do enfermeiro na vida profissional. Eu sei que é muito, mas muito difícil, resgatar enfermeiro para a consulta de enfermagem. É assim em todos os lugares. A consulta de enfermagem não pode ser algo pessoal, eu faço, você faz e outros, mas o que é isso, os enfermeiros não fazem? (...) (gabriela – enfermeira assistencial)
Mesmo a consulta de enfermagem proporcionando um reconhecimento
por parte dos clientes, da equipe de saúde que atua nos programas de saúde,
a prática da atividade ainda não é exercida por todas as enfermeiras na vida
profissional, e as enfermeiras, docentes e assistenciais, consideram importante
estimular os graduandos de enfermagem, instrumentalizando-os para o
compromisso de cuidar dos clientes nos diversos grupos humanos da
sociedade.
(...) Sensibilizar o aluno para a atividade que é própria do enfermeiro. Instrumentalizá-lo para a vida profissional. Eu quero que eles possam aprender a lidar com os diversos grupos da sociedade (...) Particularmente na consulta de enfermagem para o idoso. (...) (sandra – enfermeira docente)
(...) Viso um profissional que possa exercer a sua profissão
cada vez melhor, possa ser um continuador que saiba identificar um portador de hanseníase e possa oferecer as melhores possibilidades a essas pessoas (...) Eu me preocupo que eles possam aprender o mais que possam para terem outro perfil na vida profissional e se tornem enfermeiras compromissadas, porque eu acredito na consulta de enfermagem. É uma atividade que é própria da enfermeira, e depende muito do modo como ela encara ou compreende o que o cliente está precisando, e isso não está nos protocolos, nos roteiros, está no que você sabe. O aluno tem que perceber isso. Até porque, a vida profissional é muito difícil, e está cada vez pior. (...) (mariúza – enfermeira assistencial)
Também as enfermeiras, docentes e assistenciais, consideram que a
atividade assistencial consulta de enfermagem deve ser ensinada durante todo
o curso de graduação de enfermagem, num processo contínuo, para que mais
tarde, quando o graduando de enfermagem, já profissional, for dar continuidade
à sua educação continuada, possa ter facilidade na escolha da área de atuação
em enfermagem.
(...) Eu só acho que é preciso ensinar a consulta de enfermagem durante todo o curso de graduação, para que o aluno possa compreender o seu papel de enfermeiro e faça a consulta, todos nós na vida profissional e dar continuidade à profissão. (...) (joana – enfermeira assistencial)
(...) Que esse aluno possa chegar à vida profissional sabendo pelo menos que especialidade, ou que cursos, ele vai buscar para aprender a cuidar do paciente de forma digna, oferecendo conforto e qualidade de vida. Porém, ele só vai saber em que área vai se especializar se houver pelo menos passado por setores que tenham despertado algum interesse (...) Eu penso que os alunos darão continuidade a essa profissão. (...) (margarida – enfermeira assistencial)
Na categoria educação continuada, as enfermeiras, docentes e
assistenciais, com o intuito de promover o ensino da atividade assistencial,
consulta de enfermagem, aos graduandos de enfermagem, tendo como projeto
a continuidade do processo de aprendizagem na vida profissional, buscam o
conhecimento dos aspectos que possam, cada vez mais, satisfazer as
necessidades dos clientes como seres singulares. Foi o que identifiquei no
conteúdo de suas falas:
(...) Com os cursos de especialização você passa a cuidar melhor, oferecendo qualidade de vida aos clientes e ensinando mais efetivamente aos alunos. (...) (maria – enfermeira docente)
(...) O aluno tem que aprender que vai necessitar estudar, se
especializar e se dedicar sempre para dar o melhor que possa ao cliente ou paciente. (...) (solange – enfermeira docente)
(...) A especialidade é uma forma de prestar um cuidado
técnico-científico, mas é necessário usar a especialidade para cuidar da pessoa, e não da doença. Se ele, o aluno, vai para a especialização, esses conhecimentos vão ajudar para um olhar direcionado para as necessidades dos pacientes (...). (luiza – enfermeira docente)
(...) Eu acho assim, o aluno precisa conhecer os programas,
atuar com a consulta para que ele possa ter idéia e compromisso com e como se aprimorar (...) Eu acho importante os cursos de especialização para o aprimoramento, aprendizagem da enfermeira. (...) (paula – enfermeira docente)
(...) Consulta requer tempo, paciência e é muito elaborativa,
tem que estudar e se aprofundar no que está fazendo, vai muito além de desenvolver técnicas, testes. Tem que estudar e muito (...) Quem faz, tem que procurar estudar e se especializar. (...) (gabriela – enfermeira assistencial)
(...) Acho que fazer consulta, é preciso gostar e estar disposta a
se aprimorar, buscar cursos, se atualizar, se especializar. A consulta não é fechada. Ao contrário, ela é aberta, dependendo do conhecimento de quem a faz. (...) (mariúza – enfermeira assistencial)
(...) Mas, dependendo do aluno, ele pode depois se
especializar e atuar melhor. (...) (joana – enfermeira assistencial) (...) Eu fico feliz de poder passar conhecimento para alguém, é
muito bom mesmo, mas quem faz consulta de enfermagem tem que estudar sempre, tem que se especializar na sua área de atuação, porque os programas de saúde favorecem a nossa atuação de forma sistematizada. (...) (margarida –enfermeira assistencial)
Outro fator que as enfermeiras, docentes e assistenciais, destacam é
que os graduandos de enfermagem como as já profissionais enfermeiras, no
momento em que estão nos cenários de prática no ensino da atividade, podem
não se sentir motivadas para exercer essa prática pelos mais diversos motivos,
e só depois percebem a necessidade e buscam a oportunidade do saber fazer
a consulta de enfermagem.
(...) Eles vão ter que estudar para se aperfeiçoarem, especializarem, e só serão reconhecidos no modelo tecnicista de saúde se souberem se colocar com compromisso, com ética e com saber científico. O aluno está diferente, ele às vezes não valoriza o momento e aí ele vai procurar depois, e aí eu fico pensando, será que é porque não foram estimulados para a consulta? (...) (lia – enfermeira assistencial)
(...) É um aprender constante, comigo é assim e com eles
também será, o importante é fazer e estudar. Já treinamos muitas enfermeiras que se tornam aptas a desenvolver a consulta de enfermagem e se queixam que estão com muitas atividades administrativas e alegam que o consultório toma muito tempo. Acho que toma mesmo, e necessita de muito envolvimento, estudar, se informar sobre tudo o que acontece, depende de cada um de nós. (...) (norma – enfermeira docente)
(...) Eles sempre solicitam uma volta para o setor, mas você
sabe, nós não temos tempo e eu não tenho disponibilidade, não podemos contemplar. Penso que os cursos de especialização favorecem esse aprimoramento, não é? (...) Eu acho que através dos cursos de especialização, extensão, abrangeríamos essa demanda. (...) (sandra – enfermeira docente)
Assim, os sujeitos da ação explicitaram seus “motivos para” ou “em vista
de”, pelos quais pude captar as suas vivências no ensino da atividade
assistencial, consulta de enfermagem, aos graduandos de enfermagem,
através de suas falas obtidas pelo ato da comunicação. “[...] Todo o ato de
comunicação tem como ‘motivo para’ o fim de que a pessoa ao que se dirige
tome conhecimento dela de certa maneira [...]” (schütz, 1972, p.159).
os sujeitos, ao abordarem seus projetos futuros que se constituíram no
motivo “em vista de” ou “motivo para”, refletiram e exteriorizaram por suas
falas, suas vivências referentes às experiências passadas que proporcionaram
determinada ação para o fenômeno do ensino da atividade assistencial,
consulta de enfermagem, aos graduandos de enfermagem e pelas quais pude
compreender o motivo "devido a", “motivo porque”.
capalbo (1997) explica:
[...] Schütz caracteriza como uma ação porque uma coisa foi feita é aquela que permite entender que aquilo que foi feito se estrutura e constitui uma espécie de acúmulos de conhecimentos sociais que são transmitidos e nós herdamos. Herdamos uma série de comportamentos tecnológicos do passado e que se aprimoram no presente a cada dia e vão produzindo instrumentos cada vez mais aperfeiçoados e você tem aí um background de conhecimentos transmitidos que facilitam o proceder. [...]
A categoria da formação à experiência profissional evidenciou as
necessidades buscadas pelas enfermeiras, docentes e assistenciais, para
superar as dificuldades da formação para a consulta de enfermagem por meio
da prática profissional, já que relatam que embora tenham aprendido a realizar
a ação intencional, não se sentiam aptas a realizar a atividade assistencial,
consulta de enfermagem.
(...) Nós não aprendemos a fazer consulta, aprendemos ‘no grito’ (...) Só que trabalhei outros tantos anos, muitos na assistência e aprendi muito e foi o que me deu base (...). (Susana – enfermeira docente)
(...) Não foi assim na minha época de graduação. Eu aprendi,
mas foi diferente (...). Hoje, nós ensinamos de maneira diferente do que aprendemos, é óbvio, mas por que? Fomos melhorando, aprimorando, nos especializando, nos interessando por atender melhor as necessidades dos clientes. (...) (Luíza – enfermeira docente)
(...) Eu aprendi a fazer consulta de enfermagem no curso de
graduação, mas era muito diferente, hoje é outra coisa, mas para mim não foi marcante, eu acho que era isso (...) Só com o passar das minhas experiências profissionais é que descobri que é a atividade que dá a cara do enfermeiro (...). (Sandra – enfermeira docente)
(...) Aprimorei a minha consulta através dos cursos que fiz, e fiz
vários para aprender hanseníase na fundação oswaldo cruz (...) Não aprendi a fazer consulta de enfermagem no curso de graduação, em 1988, quando eu formei (...). (Mariúza – enfermeira assistencial)
(...) Eu não aprendi no meu curso de graduação a fazer essa
consulta que vocês fazem, tão completa. Não era como uma disciplina. Nós aprendíamos a dar orientações, fazer ações educativas e ensinarmos aos pacientes as técnicas que eles necessitavam aprender (...) Sabe, nós fazíamos a pré-consulta médica e a pós. Depois é que os alunos começaram a atender no consultório, com as consultas agendadas. Acho que ocorreu lá por 1983 e 1984, não foi? (...) O fato é que não aprendi na escola. (...) (Liliane – enfermeira assistencial)
(...) No curso de graduação eu não aprendi a fazer consulta de
enfermagem dessa forma, era pré e pós-consulta médica, orientações, ações educativas e só. Acho que até hoje as colegas acham que a consulta são ações educativas e não é assim, porque vai dizer que isso é propriedade das enfermeiras para a equipe de saúde! (...) (Maria – enfermeira docente)
(...) Eu não aprendi como estou ensinando (...) Trabalhava
antes com epidemiologia e já trabalhei durante dois anos na favela, com crianças e adolescentes, e eu fazia consulta, dava orientações específicas e prestava assistência (...) Eu acho também que você vai aprimorando e o aluno não consegue enxergar a importância ainda. Só depois, com a prática. (...) (Solange – enfermeira docente)
(...) Não era desse jeito e quando se passava pelos setores,
você assistia, orientava, fazia curativos e (...) Eu não aprendi mesmo (...) Eu não ensino hoje a consulta que aprendi (...) E aí a necessidade obriga a buscar conhecimento (...). (Victória – enfermeira docente)
(...) Ninguém nos preparou para isso, nós aprendemos depois
(...) Não é muito falado na escola, no curso de graduação. O que se fala não mostra a dimensão e a importância da enfermeira, não é? Na nossa época foi assim (...). (Gabriela – enfermeira assistencial)
(...) Eu aprendi a desenvolver um pouco da consulta de
enfermagem no pré-natal, no setor de tuberculose, e era diferente demais. Os programas não eram integrados, era diferente (...) Eu aprimorei minha atuação na vida prática quando fiz o curso de epidemiologia na escola nacional de saúde pública (...). (Paula – enfermeira docente)
(...) No início, foi muito difícil para mim atuar na geriatria,
parecia que eu ia para um matadouro. Nossa, era horrível! Eu não dominava os conteúdos de gerontologia (...) Porque eu não aprendi nada disso na escola, e foi isso mesmo, eu não aprendi nem geriatria e nem consulta (...). Aí, eu comecei a fazer cursos e fui melhorando, aprendendo com os próprios pacientes, com as histórias de vida deles, com seus familiares e com todos da equipe (...). (Margarida – enfermeira assistencial)
(...) Eu não aprendi assim, eu fui aprender exame físico e a
fazer consulta nos cursos que fiz. Aí que eu fiquei mais confiante (...) Me sentia despreparada (...) Fiz curso de especialização na saúde da mulher, ginecologia, pré-natal, pós-parto, planejamento familiar (...) E outros cursos de atualização que me deram suporte para a consulta (...). (Lia – enfermeira assistencial)
As enfermeiras, docentes e assistenciais, por sua bagagem de
conhecimentos adquiridos, consideram que o currículo das escolas de
enfermagem pode ser um caminho para o ensino da atividade assistencial,
consulta de enfermagem, uma vez que a estratégia utilizada para a assistência
de saúde, nos dias atuais, está inserida através do sistema único de saúde
(sus) que, embora ainda priorize a área hospitalar, tem como prestação de
assistência na área de saúde pública os programas de saúde vigentes,
inseridos no programa saúde da família (psf) que, na prática, vem se tornando
uma metodologia de assistência aos grupos humanos.
(...) Eu considero que o currículo de graduação novo, hoje pode ser revisto para que estejamos mais dentro da realidade da saúde que está ruim, tanto pública como particular. (...) (elizabethe – enfermeira docente)
(...) Mesmo uma escola de enfermagem cujo currículo novo
está sendo implantado, os professores continuam seguindo o modelo biomédico (...) Até porque, há uma inadequação do ensino, porque os professores que ensinam essas disciplinas não são enfermeiras. (...) (norma – enfermeira docente)
(...) Nos currículos de graduação estão deixando tudo corrido
(...) As escolas de enfermagem estão fora da realidade. (...) (margarida – enfermeira assistencial)
(...) Eu vejo que os currículos das faculdades precisam ser
revistos, porque a prática hoje é junto com a teoria, e o sus, embora valorize a área hospitalar, a estratégia do programa de saúde da família dá emprego, e será que os alunos estão sendo preparados? (...) (gabriela – enfermeira assistencial)
(...) O currículo deveria dar prioridade à área de saúde pública,
o psf está aí e precisamos preparar o nosso ensino, então, rever e ajustar o currículo para sair do enfoque tecnicista. (...) (victória – enfermeira docente)
(...) O modelo de saúde é biomédico (...) Os currículos não
contemplam o necessário, ele dá o mínimo (...) O currículo precisa ser revisto nos seus conteúdos, porque as exigências são outras, e será que os alunos estão sendo preparados? (...) (ana – enfermeira docente)
(...) O currículo é um caminho (...). (maria – enfermeira
docente) (...) Talvez seja necessário rever os currículos das nossas
instituições, porque o sistema de saúde hoje é o sus, e eu acho que ele ainda não foi atendido, e a pressão é para atender. O mercado de trabalho, atualmente, é o programa de família, que já é uma metodologia (...) Mas eu não vejo uma preparação para isso dos alunos (...) Será que as faculdades não precisam rever seus currículos? (...) O currículo pode ser um caminho (...). (mariúza – enfermeira assistencial)
(...) O currículo (...) Eu acho que necessita ser revisto e parece
que o sus, apesar de não priorizar a prevenção, dá um certo apoio aos programas (...) Eu não vejo os alunos serem preparados para atuarem no mercado, que é o psf, que engloba todos os programas. (...) (fabíola – enfermeira assistencial)
Os sujeitos enfatizam que o ensino da atividade assistencial, consulta de
enfermagem, deveria ocorrer ao longo do curso de graduação já que, na
prática, este ensino fica restrito a um período específico, ou seja, no momento
em que os graduandos desenvolvem a prática curricular junto aos programas
de saúde na área de saúde pública e os professores são os responsáveis por
um dos referenciais do curso de graduação em enfermagem, que é o currículo.
(...) Eu não sei se é o currículo dos cursos de enfermagem, acho que são os professores que precisam ensinar aos alunos durante o curso a fazer a consulta não só em um momento, porque fica um ensino dissociado, acontece na saúde pública e depois, vai depender de outro professor. (...) (paula – enfermeira docente)
(...) Os alunos (...) Eles ficam muito mais tempo no hospital e
eu acho que saber mexer com máquinas, agulhas, neste momento, é o que eles pensam ser necessário. (...) (victória – enfermeira docente)
(...) Na opinião dos alunos, eles necessitam de mais tempo no
setor durante o curso. Eu acho também. Eu procuro mostrar para eles que a consulta está atrelada a uma teoria, ou a várias teorias, e isso se perde ao longo do curso, acho que não tem continuidade no currículo. (...) (sandra – enfermeira docente)
(...) O modelo é biomédico (...) Também, não sei se tem
continuidade nos vários campos, eu acho que isso atrapalha (...). (ana – enfermeira docente)
(...) Eu penso que os currículos deveriam dar mais atenção à
consulta (...). (solange – enfermeira docente) (...) O currículo (...) Os professores são responsáveis pelos
conteúdos e eu acho que precisam ajustar aos nossos problemas de saúde, que são muitos, caos. (...) (maria – enfermeira docente)
(...) O currículo ou quem sabe, os professores, precisam
interagir melhor teoria e a prática. Sabe, eu acho que o nosso discurso é legal, mas a prática difere (...) As faculdades (...) E até pressionarem o governo para a parte de prevenção das doenças? Eu acho que são órgãos que têm força mas as ações não são tomadas neste sentido (...) Também, tem essa passagem pelos campos de estágios, que é pouco tempo, essa teoria livresca e a prática que nem sempre acontece conjuntamente. (...) (mariúza – enfermeira assistencial)
(...) Também, nossos estágios eram mais na área hospitalar (...) Agora é que a consulta de enfermagem está sistematizada nos programas de saúde e os alunos fazem as consultas completas, o currículo deveria priorizar a consulta hoje, será que é o currículo? (...) (liliane – enfermeira assistencial)
(...) Para realizar a consulta, o aluno necessita de
conhecimentos adquiridos através do currículo (...) Não podemos deixar de lembrar que tudo isso tem que ser com a visão do enfermeiro para que possam entender como se dá o processo de enfermagem (...) Eu acho importante apreender a metodologia da consulta de enfermagem, porque isso é que vai torná-la científica (...) Também o que dificulta é porque quem faz, ou melhor, quem executa ou faz valer o currículo, são os professores, e há prioridade para a área hospitalar, até as disciplinas, conteúdos. É cultural, isso. (...) (fabíola – enfermeira assistencial)
Percebi revelados nas falas das enfermeiras, docentes e assistenciais,
ao explicitarem seus “motivos porque” ensinam a atividade assistencial,
consulta de enfermagem, aos graduandos de enfermagem, a necessidade de
superar o despreparo dos ensinamentos referentes ao conteúdo que lhes foi
atribuído por seus predecessores, professores, durante o curso de graduação
através das experiências profissionais que foram adquirindo por suas vivências.
Embora os sujeitos digam que não ensinam aos graduandos como lhes
foi ensinado, admitem que hoje a atuação da enfermeira no sistema único de
saúde, através dos programas de saúde, é bem diferente. Citam a estratégia
de prestação da assistência pela junção dos referidos programas no programa
saúde da família no modelo biomédico, como campo de atuação para a ação
assistencial, consulta de enfermagem.
Em relação ao currículo do curso de graduação, consideram como um
possível caminho para que o ensino da atividade possa acontecer ao longo do
curso, favorecendo o aprendizado do graduando, em todos os níveis de
Assistência. Isto depende dos professores, porque eles são os responsáveis
pela sistematização dos conteúdos, teóricos e práticos, e de formatá-los
através de sua didática crítica, possibilitando o processo de ensino-
aprendizagem do graduando de enfermagem.
Assim, ao considerarmos o contexto de significados vivenciados pelas
enfermeiras, docentes e assistenciais, frente ao fenômeno do ensino da
consulta de enfermagem, identificamos um acúmulo de conhecimentos sociais
que lhes foram transmitidos e herdados e fortemente impregnados em suas
ações. Por isso, os sujeitos alegam a necessidade de buscar superar o
despreparo e então, prover mudanças que vêm constituindo a sua experiência
profissional para atuar no contexto do ensino da saúde.
Capalbo (1997), explicando schütz:
[...] Se estou investigando o porque é por causa do para [...] Estou tentando compreender esta estrutura global, de que a minha ação não é desmotivada, ela está sempre motivada, intencionalmente dirigida para. Quando me volto para o passado é porque no passado posso compreender algo que vem ao presente explicitando um entendimento melhor de uma ação possível para o futuro [...].2
_____ 2 fala da filósofa, Profª Drª Creusa Capalbo, em seminário sobre Schütz. Rio de Janeiro, em 25 de novembro de 1997.
CAPÍTULO VI
INTERPRETANDO A TIPIFICAÇÃO DAS
ENFERMEIRAS DOCENTES E ASSISTENCIAIS
NO ENSINO DA ATIVIDADE ASSISTENCIAL
CONSULTA DE ENFERMAGEM AOS
GRADUANDOS DE ENFERMAGEM
O presente estudo permitiu emergir o típico da ação intencional das
enfermeiras, docentes e assistenciais, frente às questões do ensino da
atividade assistencial, consulta de enfermagem, aos graduandos de
enfermagem, por meio da relação comunicativa interpessoal no mundo da vida
social.
Ao interpretar a tipificação dos sujeitos do estudo, enquanto
pesquisadora, estive imbuída da minha bagagem de conhecimentos pessoais e
profissionais e percebi que as Enfermeiras têm em vista um ensino dinâmico,
criativo, no qual a relação intersubjetiva esteja presente entre quem ensina e
quem aprende, num movimento constante para aprender a aprender pelo
compromisso pessoal e profissional com a promoção da saúde e a qualidade de
vida das pessoas.
No tocante aos estudos referentes à temática do ensino, até então, vêm
sendo abordados como formação e relacionados a currículo, e as Enfermeiras,
embora o citem como possível caminho, não descartam a importância da
atuação dos professores e a força das Escolas de Enfermagem frente aos
Programas de Saúde governamentais e ao Sistema Único de Saúde, inseridos
no Modelo Tecnicista.
Em seu estudo sobre currículo, Porto (1997, p.21) diz:
[...] currículo, origina-se de constrangimentos e moldagens
decorrentes tanto da legislação, regulamentos, instruções,
normas e guias (elementos imitantes do que pode ser
pensado e feito em termos de currículo), como dos processos
informais e interacionais (elementos subversivos e
transformadores daquelas deliberações conscientes e formais
sobre currículo). O centro das descrições em estudos
curriculares deve enfatizar os processos informais e
interacionais e os resultados a que levam, em geral,
diferentes da previsão baseada no que é formalmente
legislado. [...]
Assim, embora tenhamos clareza da necessidade do ensino de
enfermagem voltado para o enfoque da área de saúde pública, no tocante à
prevenção da doença e promoção da saúde dos grupos humanos, nossos
recursos técnicos, financeiros, econômicos e nossas ações intencionais ainda
estão direcionadas à área curativa, hospitalar. Pode ser que alguns aspectos
curriculares não estejam sendo seguidos por seus executores na prática, pelos
mais diversos motivos.
A transmissão dos conhecimentos adquiridos pelas Enfermeiras, sejam
docentes e assistenciais, recebidos de seus predecessores durante a formação
em Enfermagem, através de disciplinas teórico-práticas, predominou as
baseadas na formação para o profissional médico. Não podemos esquecer que
pelos relatos históricos, a profissão, Enfermeira, surgiu para atender as
necessidades de saúde da população e atuar com o profissional médico.
Segundo Castro (1975, p.78):
[...] No manual preparado pelas enfermeiras americanas para
as enfermeiras de Saúde Pública brasileiras, em 1925, na
parte dedicada às doenças venéreas constava como
atribuição da Enfermeira realizar entrevistas pós-clínicas com
cada paciente nova, quando deveriam ser interpretados o
diagnóstico e o tratamento, a importância e os meios de
prevenção e disseminação da doença. [...]
Identifico pelo citado estudo de Castro, o prenúncio da atuação das
Enfermeiras, desde o início da formação da Enfermagem científica no Brasil,
através da atividade assistencial, que só foi cognominada Consulta de
Enfermagem em 1968, no Segundo Curso de Planejamento de Saúde
da Fundação de Ensino Especializado de Saúde Pública e que, anteriormente,
a atividade era considerada como um dos componentes da Consulta
Médica, só sendo regulamentada em 25 de julho de 1986, pela Lei do
Exercício Profissional.
Na minha opinião, baseada na vivência com o ensino da prática da
atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, o Parecer 163/72 – Resolução
nº 4/72, que determinou o Currículo Mínimo para os Cursos de Graduação em
Enfermagem e Obstetrícia e apresentava três partes: o ciclo básico ou pré-
profissional, o ciclo profissional ou tronco profissional comum e as Habilitações
em Enfermagem: Médico-Cirúrgica, Obstétrica e de Saúde Pública, as duas
últimas, favoreceram a atuação da Enfermeira através da Consulta de
Enfermagem nos Programas de Saúde.
Neste contexto, o Parecer nº 314/94 do Ministério da Educação e Cultura
(Processo 2301.001783/93-94) determinou o currículo mínimo para graduação
em Enfermagem em vigência, pontuando algumas influências recebidas pela
iniciativa inovadora do Currículo Novas Metodologias (1978) que teve início na
Escola de Enfermagem Anna Nery e como idéia norteadora a integração da
teoria com a prática, do estudo com o trabalho e a integração das disciplinas.
No citado Parecer, dentre as suas propostas, destaco a seguinte:
[...] na elaboração da programação e no processo de
supervisão e avaliação do aluno, em estágio curricular, será
assegurada a efetiva participação do Enfermeiro nos Serviços
de Saúde onde se desenvolve o referido estágio. [...]
(Op.Cit., p.274)
Percebo essa proposição como fundamental para o ensino da atividade
assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem, a
exemplo disso, as convergências que se fizeram presentes neste estudo. As
Enfermeiras, docentes e assistenciais, explicitaram por suas falas, típicos
“motivos para” e “motivos porque” do ensino da atividade aos graduandos de
Enfermagem.
O objeto de estudo da Enfermeira está centrado nas necessidades
subjetivas do cliente e o graduando de Enfermagem, nos cenários da prática,
necessita vivenciar o real, que se apresenta através das condutas dos
profissionais, sejam elas docentes ou assistenciais, neste processo de ensinar
e aprender para o Agir Profissional na continuidade do processo de ser
Enfermeira no mundo da Saúde.
Os sujeitos do estudo me fizeram interpretar as suas tipicidades frente ao
ensino da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, que quem ensina,
ensina mais por suas atitudes, éticas, costumes, conhecimentos adquiridos ao
longo da vida, do que só pelas informações de técnicas, procedimentos
científicos da área de Enfermagem, por isso necessitam aprender e aprender
durante toda a vida profissional, numa relação comunicativa com o Outro, e
este Outro pode ser o cliente, o familiar, alguém da Equipe de Saúde.
Assim, os debates entre a comunidade científica voltados para a
formação de um profissional da área de Saúde que possa atender as
necessidades da população configurou, em 20 de dezembro de 1996, as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional com a recomendação do fim dos
currículos mínimos e a adoção de Diretrizes Curriculares (2001), que hoje
orientam o planejamento acadêmico do curso de graduação para a formação
profissional pelas Instituições de Ensino Superior.
Neste intuito, identifico semelhanças entre o projeto futuro das
Enfermeiras, docentes e assistenciais, com o Parecer do Conselho Nacional de
Educação, que estabeleceu as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais do
Curso de Graduação em Enfermagem, Medicina e Nutrição (Brasil, 2001), tendo
como um dos referenciais os quatro pilares da Educação, descritos no Relatório
Delors para a UNESCO (1999, p.94-99) – “[...] levar os alunos a aprender a
aprender, aprender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser [...]”.
O primeiro pilar, Aprender a Aprender, em síntese, significa: “[...]
beneficiar-se das oportunidades de aprender para compreender o mundo que o
rodeia e desfrute do prazer de conhecer e de descobrir possibilidades. [...]”. Tal
proporosição vem ao encontro da interpretação da pesquisadora em relação à
tipificação dos sujeitos, por considerarem o espaço da Consulta de
Enfermagem como um meio de proporcionar descobertas e redescobertas,
através da Comunicação que se faz entre quem ensina e quem aprende,
oportunizando o desenvolvimento de suas capacidades profissionais.
No segundo pilar, Aprender a Fazer, pontuei: “(...) competências que
tornem a pessoa apta a enfrentar situações como trabalhar em equipe, não
podendo ser visto como apenas transmissão de práticas rotineiras (...)”. O que
se faz coerente com o projeto dos sujeitos do estudo em instrumentalizar os
graduandos para que não sejam mecanicistas e possam adquirir habilidades
para promover mudanças no setor da saúde da população e a Consulta de
Enfermagem pode resultar em um meio de exercitar a criatividade e a
Autonomia na tomada de decisão junto ao cliente e à Equipe de Saúde.
Além disso, o ensino da Consulta de Enfermagem não se faz restrito
aos roteiros, técnicas e procedimentos, normas, rotinas e atribuições das
Enfermeiras. Os Programas de Saúde já sistematizaram todos esses
Protocolos. O processo de ensino-aprendizagem da citada atividade
assistencial se dá pelas necessidades pontuadas pela vivência das pessoas e
pela empatia estabelecida entre elas. Daí, a fala expressa das Enfermeiras,
docente e assistenciais, que mesmo não sendo uma tarefa fácil, dá prazer,
satisfação. Ensinar é um ato de entrega, de sensibiização entre pessoas.
Do terceiro pilar, Aprender a Viver Junto com o Outro, destaquei “a
descoberta progressiva do outro”, o que considero a diferenciação para o
ensino da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, já que até então, ao
falarmos em aprendizagem, reportamo-nos à relação entre quem ensina e
quem aprende, na qual o papel do primeiro é criar condições para que o
segundo aprenda e pela citada proposição, ambos necessitam refletir sobre as
ações intencionais de suas motivações para ensinar e aprender,
compactuando com o que diz Schütz (1974b, p. 192): “[...] compartilhar uma
comunidade de espaço e tempo significa ter consciência do outro como tal,
quando o percebo em particular e seu corpo como manifestação dos sintomas
de sua consciência [...]”.
Logo, quem ensina tem que estar consciente da presença de quem
aprende e vice-versa, numa relação face a face por meio da qual um capta a
existência do outro no modo de si mesmo, original.
No quarto pilar: Aprender a Ser, situei: “agir com autonomia e com
responsabiidade pessoal no discernimento de suas ações”. É uma tipicidade da
profissão, Enfermeira, docente e assistencial, no mundo da vida da
Enfermagem no contexto da Saúde, experienciado desde sua formação no
Modelo Biomédico e hoje, configurado no Sistema Único de Saúde através dos
Programas de Saúde, no qual vivenciam o ensino da atividade assistencial,
Consulta de Enfermagem ao graduando de Enfermagem vislumbrando a
continuidade de suas ações intencionais.
Na perspectiva de Schütz, refletido por Jesus (1998, p.131),
[...] o conhecimento cultural recebido dos antepassados é aceito pelo homem no mundo da vida como indiscutível até que se prove o contrário, e o conhecimento social é um conhecimento de receitas confiáveis que serve como esquema de expressão e interpretação das situações da vida do dia-a-dia. [...]
Assim, o que recebemos de nossos antepassados a respeito do ensino
da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, tais como: concepções
teóricas, práticas, registro da atividade como pré e pós-consulta médica,
tentativas de aprimoramento e de independência profissional na busca por uma
atuação científica própria, motivada por propósitos das ações intencionais das
Enfermeiras, constituem o conhecimento social de cunho cultural recebido dos
predecessores e aceitos como indiscutíveis, até que se prove o contrário.
Para Schütz (1974b, p.130):
[...] acredito na experiência de meu semelhante porque se
eu estivesse no seu lugar teria as mesmas experiências que
ele teve; poderia fazer o mesmo que ele fez e teria as
mesmas probabilidades ou riscos na mesma situação. Assim,
a experiência real dele é, para mim, uma experiência
possível. [...]
As descrições das Enfermeiras, docentes e assistenciais, de acordo com
suas vivências frente ao fenômeno do ensino da atividade, Consulta de
Enfermagem no mundo da vida, fizeram emergir o sentido que essa ação tem
para elas e seus semelhantes como um acontecimento de origem social e,
portanto, socialmente aceito e aprovado.
É socialmente aprovado porque faz parte da bagagem de conhecimento
de todas nós, Enfermeiras da comunidade científica da área de Enfermagem e
aceito por outros membros da Equipe de Saúde e da sociedade; portanto, é
considerado autêntico e vem se convertendo como um modelo a ser transmitido
aos graduandos de Enfermagem.
Nesta conjuntura, podemos compreender a historicidade do
comportamento das Enfermeiras, docentes e assistenciais, movido por seus
projetos referentes às suas ações intencionais no ensino da atividade
assistencial, Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem,
que foram passados de geração em geração, que vem se modificando, porém,
conserva em sua essência a estrutura da formação das gerações anteriores
no contexto do ensino na área de Saúde, influenciado pelo Modelo Biomédico.
O estudo permitiu refletir que a realidade social dos sujeitos, frente ao
ensino da Consulta de Enfermagem, permanece tendo como pano de fundo os
conteúdos curriculares ministrados por professores, ainda de forma
segmentada por toda a formação do curso de graduação, o que pode gerar, na
vida prática, a continuidade de um número reduzido de Enfermeiras que
realizam a Consulta de Enfermagem, o que constitui o acervo de conhecimento
social ainda hoje, nessa área.
O desejo de suprir as deficiências da formação para a Consulta de
Enfermagem através das experiências adquiridas por suas vivências com o
Outro, sendo respeitadas as Singularidades de cada sujeito, oportunizando o
Aprender e Aprender continuamente, despertando a busca para a Educação
Continuada e, assim, adquirir Autonomia para a realização de seus “motivos
para” e “motivos porque” de suas ações, constitui um avanço para que as
Enfermeiras estejam dialogando a formação dos graduandos de Enfermagem
neste contexto das diretrizes curriculares vigentes.
Para Schütz, é o interesse que motiva todo o nosso pensar, projetar,
atuar estabelecendo, assim, o problema que nosso pensamento deve resolver e
os objetivos que nossas ações devem alcançar (Capalbo1, 1997).
De acordo com a reflexão das vivências das Enfermeiras, docentes e
assistenciais, frente ao ensino da Consulta de Enfermagem no panorama da
Saúde no país, através do Sistema Único de Saúde ainda por ser contemplado
e a implementação do Programa Saúde da Família como uma tentativa de
estratégia de prestação de assistência à saúde da população, podem justificar
novos projetos para o ensino da atividade, e suscitar a realização dos mesmos,
tornando-os realidade, ampliando o acervo de conhecimento social no mundo
da vida.
A transformação social no ensino da atividade assistencial, Consulta de
Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem só se fará a partir da tomada de
consciência pelas pessoas envolvidas nesta relação social, intersubjetiva, da
necessidade de transformar seus projetos idealizados em atos vividos e, assim,
promover as mudanças que se farão refletir no comportamento das Enfermeiras
em suas relações sociais no contexto da saúde do país.
____ 1Filósofa, Profª Drª Creusa Capalbo, em Seminário sobre Schütz na cidade do Rio de Janeiro, em
novembro de 1997.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
O meu cotidiano como Enfermeira docente, responsável pelo cenário de
prática para o ensino da atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos
graduandos de Enfermagem do Programa Curricular Interdepartamental VI,
coordenado pelo Departamento de Metodologia da Enfermagem da Escola de
Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN /
UFRJ), no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho / UFRJ, junto às
Enfermeiras assistenciais responsáveis pelos Programas de Saúde
desenvolvidos no ambulatório hospitalar de maneira sistematizada e
institucionalizada, foi o ponto de partida para as minhas reflexões no presente
estudo.
Neste contexto, pude questionar a ação intencional das Enfermeiras,
docentes e assistenciais, no cotidiano do ensino da atividade, Consulta de
Enfermagem, não no intuito de comparar suas ações, mas numa visão mais
abrangente, e perceber como essas Enfermeiras refletem o ensino da atividade
aos graduandos de enfermagem: se demonstrando o seu conhecimento
científico para, a posteriori, tal atitude ser copiada, reproduzida; ou se o aluno é
visto como sujeito desse processo com suas implicações de historicidade, no
contexto social, político, econômico e cultural.
O saber que emergiu do vivido dos sujeitos do estudo apontou um
caminho que se abre para o ensino da ação assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem, como um espaço de trocas de
aprendizagem, no qual quem ensina e quem aprende é sujeito na interação
social resultante da situação face a face estabelecida no processo ensino-
aprendizagem, e este, por sua dinâmica, pode promover mudanças no
comportamento das pessoas em relação a aprender a aprender a ensinar.
Para Schütz apud Wagner (179, p.180),
[...] é na relação social do tipo face a face que o outro está
ao alcance da minha experiência direta quando este
compartilha comigo um tempo e um espaço comum. Isto
acontece quando ele está presente, pessoalmente, e estou
consciente dele como pessoa – ele próprio, esse indivíduo –
em particular e do seu corpo como campo de sua consciência
interior. [...]
De acordo com as falas das Enfermeiras, docentes e assistenciais, o
ensino da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de
Enfermagem se dá na relação social face a face, permitindo a compreensão do
outro diretamente, sem intermediários, visando a reflexão dos conhecimentos
adquiridos nas experiências vividas no cotidiano, constituindo a bagagem de
conhecimentos de cada sujeito na presença da intersubjetividade.
A medida que quem ensina e quem aprende – seja Enfermeira,
graduando, cliente – expressa sua realidade, e esta seja compreendida, a ação
intencional de quem vai ministrar a assistência de Enfermagem se fará de
maneira holística, respeitando a singularidade de cada pessoa, atendendo as
suas necessidades que lhes são próprias, e esse pode ser um caminho para o
ensino da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem.
No momento em que os sujeitos do estudo identificaram que ensinar a
fazer a Consulta é muito mais do que atender aos roteiros, técnicas,
procedimentos, protocolos previamente estabelecidos nos Programas de
Saúde, sendo também necessário que a pessoa que ensina e que aprende
esteja aberta a ouvir os clientes, seus familiares em relação às suas histórias de
vida, seus sentimentos, dores, e não só por suas patologias, compreendi que
este ensino significa permitir-se como pessoa dotada de possibilidades para
estimular e incorporar mudanças no contexto pessoal da Equipe de Saúde e no
modelo de assistência e de ensino vigente.
Assim, o caminho percorrido no estudo, utilizando a Fenomenologia
como abordagem teórico-metodológica de estudo, permitiu-me apreender o
típico da ação intencional das Enfermeiras, docentes e assistenciais no ensino
da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de
Enfermagem na sua atitude natural de estar situada biograficamente no mundo
da vida, experienciando-o de maneira própria e intersubjetiva com o mundo da
realidade social expressa através da constituição das categorias concretas do
vivido como: ensinar e aprender a cuidar; singularidade; autonomia; agir
profissional; educação continuada e a da formação à experiência profissional.
Desta maneira, foi possível construir o tipo vivido “Enfermeira docente e
assistencial que ensina a atividade assistencial – Consulta de Enfermagem aos
graduandos em Enfermagem” como sendo a pessoa que deseja ensinar e
aprender a cuidar, levando em conta a singularidade de cada cliente,
conquistando autonomia para a tomada de decisões na vida profissional e
buscando o saber através da educação continuada, com o intuito de superar as
dificuldades de formação para a realização da Consulta de Enfermagem.
Entendo que, para desenvolver o ensino da Consulta de Enfermagem, as
Enfermeiras devam respaldar-se não apenas no conhecimento técnico-científico
centrado na construção dos modelos assistenciais existentes e em
características básicas, como sensibilidade, gostar de ensinar e executar a
atividade profissional, mas sim dispor-se a uma busca contínua de descobertas
fundamentada em compreender o “para que” e o “porque” de estar vivendo os
seus projetos daquela maneira, e não de outra, o que se refletirá no agir
profissional e na qualidade do ensino em Enfermagem, com repercussões na
vida do cliente.
Logo, identifico a necessidade de: as Escolas, Faculdades de
Enfermagem, através de seus docentes e assistenciais, socializarem o
conhecimento e repensarem a sua maneira de ensinar “para que” e “porque”
ser Enfermeira no contexto social, e não só como vêm sendo feitas as
discussões na área do ensino para a formação do profissional, focalizadas nos
conteúdos científicos programáticos da teoria e da prática do eixo
interdisciplinar gerado pelo currículo para, então, compreenderem o significado
da ação intencional produzida por uma sociedade em uma determinada época
por uma realidade.
Considero, pelas falas dos sujeitos do estudo, que o ensino da atividade
assistencial, Consulta de Enfermagem, deva ser uma estratégia de ensino
utilizada durante todo o curso de graduação, trabalhada na situação face a face
proporcionada pela relação social entre os sujeitos envolvidos neste processo
de ensinar e aprender, como uma necessidade de comunicação entre as
pessoas que propicia a implementação de ações baseadas nas necessidades
concretas de aprendizagem do graduando, e não só no tipo de ação para
atender as diretrizes de um Programa de Saúde.
Desta maneira, a Fenomenologia Social de Alfred Schütz mostrou-se,
neste estudo, como uma estratégia de ensino se considerarmos, como aponta
este autor, a necessidade de buscar junto à pessoa, seus motivos existenciais
que levam ao comportamento social frente à questão do fenômeno de ensinar a
atividade assistencial, Consulta de Enfermagem aos graduandos de
Enfermagem.
A especificidade de implementar o ensino da atividade assistencial,
buscando junto aos graduandos seus motivos reais para a aprendizagem,
direciona as Enfermeiras para uma nova realidade que se mostra na vivência
da pessoa, numa reflexão constante sobre suas ações intencionais no ato de
ensinar, apontando características típicas e significativas que lhes são próprias
no mundo da vida da Enfermagem.
Desta forma, cabe às Enfermeiras, docentes e assistenciais, assumirem
que o ensino da atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, não está
somente apoiado na legislação do Exercício Profissional, nas atribuições
descritas nos Programas de Saúde e na bagagem de conhecimentos
profissionais disponibilizados pelos Currículos, mas que também se faz
necessário estarem abertas para a compreensão das ações das pessoas
contextualizadas no seu mundo da vida, com o seu vivido na atitude natural
como ponto de partida do ato de realizar suas necessidades motivacionais.
Logo, as Enfermeiras, docentes e assistenciais, podem não só
desenvolver a prática da atividade nos consultórios ambulatoriais, podendo
estender o ensino da teoria e da prática da Consulta de Enfermagem utilizando
outras dinâmicas como Estudo de Caso, Estudo Clínico, Projetos de Pesquisa e
Extensão, buscando adequar suas ações intencionais como seu fazer,
integrando ensino, pesquisa e extensão a partir das necessidades emergentes
do vivido concreto, oportunizando o aprender – fazendo – aprendendo –
ensinando -aprendendo.
A partir do momento que as Enfermeiras compreendam que o ensino da
atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de
Enfermagem é um espaço para o encontro intencional entre quem ensina e
quem aprende, considerando que essas pessoas atribuem um significado às
coisas que vivenciam, esse momento de encontro pode provocar mudanças
intencionais em todas elas e, assim, também nos Sistemas de Saúde e de
Educação.
REFERÊNCIAS
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A N E X O S
ANEXO 1
SOLICITAÇÕES AOS COMITÊS DE ÉTICA DAS
INSTITUIÇÕES
Carta de Apresentação ao Diretor do HUCFF/UFRJ
Carta de Apresentação ao Diretor do HUGG/UNIRIO
Carta de Apresentação ao Diretor do HUPE/UERJ
ANEXO 2
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
TERMO DE CONSENTIMENTO (Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde
Item IV – Consentimento Livre e Esclarecido) Prezada Colega Venho consultá-la a respeito da sua participação, através de seu depoimento, na tese de doutorado que estou desenvolvendo. Para tanto, cabe esclarecer os seguintes pontos: Sobre a Pesquisadora: Sou Enfermeira e Professora da Escola de Enfermagem Anna Nery / UFRJ, lotada no Departamento de Metodologia da Enfermagem. Atuo no setor de estágio de Consulta de Enfermagem, no Programa Curricular Interdepartamental VI cujo cenário de prática é o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e estou cursando o doutorado em Enfermagem. Sobre a Pesquisa: Trata-se de uma pesquisa cujo título é “O Ensino Da Atividade Assistencial Consulta de Enfermagem: o típico da ação intencional”. Pretendo buscar o típico da ação das Enfermeiras, docentes e assistenciais, no ensino da Atividade Assistencial – Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem. Realizarei a pesquisa através de entrevistas que terei com você, caso aceite participar. As entrevistas serão realizadas em dia e hora marcada, conforme a disponibilidade de cada participante, será garantida a privacidade e sigilo das informações prestadas por cada Enfermeira. Você terá sua identidade preservada, pois as participantes serão identificadas por nomes fictícios. Sobre o Comportamento da Pesquisadora: Informo que não tenho como proposta promover qualquer movimento reivindicatório ou de avaliação comparativa entre profissionais Enfermeiras, docentes e assistenciais, neste momento. Não é objetivo da pesquisa avaliar procedimentos técnicos realizados pela equipe profissional com os clientes. Sobre os procedimentos específicos para garantir os direitos dos clientes: Como pesquisadora comprometo-me a esclarecer as dúvidas das entrevistadas no momento em que acharem necessário. Caso você desista da sua participação isto será respeitado, mesmo que tenha aceitado participar da pesquisa previamente. Neste caso, se você já tiver concedido a entrevista gravada, a fita será entregue a você. Muito obrigada pela sua atenção e colaboração.
Ann Mary Machado Tinôco Feitosa Rosas Autora
Lígia de Oliveira Viana
Orientadora
Rio de Janeiro, ... de .................................de 2003 Autorização dos sujeitos da pesquisa: Após ter tomado conhecimento do conteúdo deste termo, aceito participar da pesquisa proposta, conforme consta neste documento. Rio de Janeiro, ..... de ....................................de 2003
.................................................................................... Participante
ANEXO 3
E N T R E V I S T A S
ANA – Professora, 16 anos de formada, há 15 anos faz Consulta de Enfermagem,
sempre no Programa da Mulher – Ciclo Gravídico.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço, com os alunos de graduação, ensinando a atividade e sem os
alunos, cumprindo o agendamento. O importante é o vínculo com o
cliente e o professor, tem que manter isso para ensinar. Eu faço há
quinze anos, desde que formei, e eu só trabalhei durante quatro meses
em Enfermagem do Trabalho, depois só trabalhei com a Consulta de
Enfermagem e no Programa da Mulher.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Ah, pelo aspecto pessoal, tenho prazer em realizar e ensinar... do ponto
de vista profissional, diretamente atendendo a mulher no ciclo gravídico-
puerperal, eu considero a atividade de extrema importância no sentido de
assegurar o desenvolvimento da gestação com o menor número de
intercorrências possíveis... não esquecendo de atender as peculiaridades
de cada uma em particular, e é esse conceito que procuro passar para os
alunos. Eu considero isso importante... Eu tive oportunidade de aprender
as bases do acompanhamento pré-natal no curso de graduação, porque
uma professora X me ensinou, destacando as alterações fisiológicas,
anatômicas, os fatores de risco e a rotina de atendimento à gestante,
conforme as normas do serviço, e depois através das normas criadas pelo
Ministério da Saúde, em 1984. A partir daí, eu senti necessidade de
adaptar o atendimento, considerando também a contextualização de cada
cliente dentro do seu meio. (Foi em 1984? Por aí...). Agora, isso se deu
mediante aos meus estudos, aos cursos que fiz nesta área de
conhecimento. Agora, os protocolos, eu acho que é muito mais para dar
uma ordem... mas a Consulta de Enfermagem é muito mais que isso, e
depende do profissional e da estrutura do serviço... eu acho que a
Consulta de Enfermagem que é ensinada ainda não é suficiente, porque
eu vejo profissionais ainda com medo de realizar a Consulta de
Enfermagem. Também não sei se tem continuidade nos vários campos,
eu acho que isso atrapalha. O modelo de saúde é Biomédico, mas os
alunos ouvem e comentam que as clientes vêm diferenças nas Consultas
médicas e de enfermagem. Agora, eu não sei se elas sabem identificar
quem é o médico ou se é médico ou não, porque elas nos chamam de
doutoras mesmo sabendo que somos enfermeiras. Ah, ‘pera aí’, eu
aprendi muito no Centro de Pesquisas X, até mesmo a trabalhar em
equipe, cada um tendo o seu papel, autonomia, decisão, isso foi
fundamental na minha vida profissional, até hoje no que ensino.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Basicamente, os princípios técnicos envolvidos na Fisiologia, para que
eles saibam identificar quaisquer fatores que indiquem risco, todos os
procedimentos relacionados à qualidade de vida da gestante e do
concepto, tomar sol no seio, alimentação, a questão das orientações que
as gestantes precisam ter... às vezes, elas não pedem, mas você
identifica que necessitam ter e tem as que pedem, e aí a gente fala das
modificações do organismo e as psicológicas que podem ocorrer no
período gestacional, não só com ela, mas com a família... precisamos
colocar todo mundo nesse bolo. Ah, tem atividade de sala de espera,
onde trabalhamos com as orientações à saúde, direitos, deveres e
cuidados com os bebês. Temos o toque terapêutico, massagem,
relaxamento, dinâmicas de grupo, onde procuramos fazer com que a
cliente possa se colocar sobre o momento que está vivendo. Eu procuro
passar para o aluno a postura profissional adequada para ele dar
continuidade profissional, bem como o trato com a clientela, e acho que
aquele que quer aprofundar deve se especializar, porque os currículos
não contemplam o necessário, eles dão o mínimo e para o atendimento
de qualidade é necessário aperfeiçoar-se e gostar, sem gostar não
adianta... com essa coisa do Programa de Saúde da Família, se abriram
portas e também essa Filosofia de Humanização do parto, algumas
instituições estão valorizando a Enfermeira Obstetra. Eu acho que a
Consulta de Enfermagem, de todas as atividades desenvolvidas pela
Enfermeira, a Consulta é a que mais oferece liberdade, independência de
atuar de forma resolutiva, autônoma. Depende da Enfermeira o
diagnóstico, a intervenção e o acompanhamento, considerando-se os
limites da nossa área de conhecimento e a percepção da necessidade de
encaminhar esta cliente para outro profissional, quando se fizer
necessário. É disso que o aluno precisa e, principalmente, passar para ele
essa coisa da autonomia... porque é ele e o cliente, as portas fechadas, e
ele tem que dar conta, isso dá medo e requer um constante estudo,
reciclagem e aprimoramento na vida profissional. O currículo precisa ser
revisto nos seus conteúdos porque as exigências são outras, e será que
os alunos estão sendo preparados?
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Só agradecer a você por este momento. Foi tão bom...
Pesquisadora: Obrigado, digo eu.
ELIZABETHE – Enfermeira, docente, formada há quatorze anos; dez de Consulta de
Enfermagem e há quatro anos e meio nos setores de Diabetes, Hiperptensão e
Tuberculose.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço sim, com os alunos no campo de estágio dos Programas de Diabetes
Mellitus, Hipertensão e Tuberculose. Os grupos são de seis a oito alunos,
e passam de três a quatro semanas nos setores.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Bom, como eu ensino e aprendo... ah! Professora fala sempre um
pouquinho sobre tudo, não é assim? Nós fazemos sala de espera e é aí
que você já observa o cliente, e aí já introduz as orientações, já estimula
a participação dele para tirar dúvidas sobre qualquer coisa, eu acho isso
importante, tanto para o cliente como para o aluno. Depois, já na
Consulta, no primeiro momento eu avalio as medicações, faço exame
físico, ausculta pulmonar, cardíaca, se sente dor, avaliação da pele,
gânglios, etc... Eu mesma montei um instrumento e fui eu quem fiz esse
instrumento para facilitar os passos da Consulta de Enfermagem para o
aluno, eu considero que facilita a aprendizagem para eles, que estão
iniciando. O importante é a visão de todo do paciente. Às vezes, o
paciente está no Programa de Hipertensão, mas você identifica outras
patologias, Hansen, Tuberculose. A Consulta de Enfermagem não é
fechada, a Enfermeira tem autonomia para avaliação ampla e de fazer
encaminhamentos para outros profissionais, outros serviços, e até para
outros Programas. Não é fechada a um Programa, e sim possibilita a
outros achados para a qualidade de vida do cliente. Eu vejo que os
Programas facilitaram muito a Consulta de Enfermagem e aí, a atuação
do Enfermeiro ficou mais visível para todos da Equipe de Saúde e hoje,
quem faz Consulta, tem seu trabalho reconhecido. Antes, não era assim,
eu não aprendi no meu curso de graduação como eu ensino. Os
Programas facilitam e todos aceitam bem, isso é bom para nós, mas
ainda somos poucos. Eu considero que o currículo de Graduação novo,
hoje pode ser revisto para que estejamos mais dentro da realidade da
Saúde que está ruim, tanto pública como particular.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tento não perder de vista a visão de todo do paciente, e que cada um
é uma história. O aluno tem que aprender isso: o Enfermeiro vê o cliente
como um todo. Aí, se as mulheres diabéticas, hipertensas ou do
Programa de Tuberculose não vão ao ginecologista, não pode, tem que
ser incentivada a fazer o preventivo e procuro chamar atenção do aluno
para não perder de vista a queixa principal do cliente, mas não esquecer
de vê-lo como um todo e um ser. O aluno deve diminuir a sobrecarga do
cliente, porque dependendo do problema do paciente, o interesse do
aluno pode despertar o olhar crítico para os sinais e sintomas, e uma
avaliação para um diagnóstico correto e mais rápido. Outro aspecto que
me preocupa é a postura do aluno. Antigamente, o aluno era muito
generalista. Hoje, o aluno já chega com a diferença, ele chega com a
prioridade na rede pública, na Saúde Pública, e outros já preferem a área
hospitalar. Os que não têm tanto interesse pelo cuidar na Saúde Pública,
você pode despertar interesses e aí o aluno não se sente tão tarefeiro. A
rede básica é muito importante porque você lida com a família. Na
avaliação dos alunos, eu pergunto: Como vocês se sentiram na Consulta
de Enfermagem? E aí, eles respondem: Puxa, professora, consegui
encaminhar para ginecologista, oftalmologista, me senti importante e
autônomo. Eu acho o perfil do aluno importante porque quem gosta, faz
bem. A rede básica dá autonomia e as clientes dizem obrigado doutor.
Isso é confortante. Já tivemos clientes que chegam e não querem ir para
os médicos e preferem ficar com a Enfermeira, e o aluno se sente
vaidoso. Isso tem sido dito na sala de espera no Programa de Diabetes e
Hipertensão. Isso é muito gostoso. Ah, eu também tenho em vista que
eles na vida profissional não fiquem restritos aos protocolos e aos
roteiros, mas nesse momento, para nós, professores, eu considero que
fica mais didático. Não pode ser rígido, senão o aluno fica perdido. O
roteiro favorece seqüência lógica. O professor não precisa interferir e aí o
cliente vê o aluno com outro olhar. O instrumento facilita, o aluno está
aprendendo e o cliente percebe ser fonte desse estudo. Eu acho que eles
deverão atuar na Enfermagem fazendo a Consulta sem medo, e que
estudem para cada vez fazer melhor, porque ela é uma modalidade de
ensinar o aluno para, na vida profissional, cuidar dos clientes.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Só que você tem todos os meus números e endereços, qualquer coisa, é
só pedir. Gostei muito.
Pesquisadora: Obrigado, pode deixar.
FABÍOLA – Enfermeira assistencial, formada há 7 anos, atuando no Programa de
Diabetes e Hipertensão há 1 ano e meio.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim, eu faço a Consulta de Enfermagem aqui no Posto para os clientes
portadores de Diabetes e Hipertensão, e participo do estágio dos alunos
de enfermagem demonstrando a minha atuação com os clientes, tiro as
dúvidas, oriento como os pacientes devem ser atendidos nos consultórios.
Não dou aulas formais sobre os conteúdos, isso são os professores que
fazem, mas há sempre um complemento na ocasião da prática, ou
melhor, não dá para separar as duas quando se está atendendo clientes.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Embora eu goste de ensinar, é o meu jeito de ser, eu estou sempre
fazendo alguma coisa para alguém, no intuito de passar o que eu aprendi
e aprendo, e nunca acho que sei, mas estou tentando. Ah, eu gosto
mesmo de ensinar ou (sorrisos) participar do ensino da Consulta. Só que
eu acho difícil ensinar a Consulta, porque os alunos querem tudo pronto,
roteiro, papel escrito como modelo rígido para ser seguido, e eles nunca
se comprometem com nada do tipo: isso não foi falado, às vezes, você
precisa ser astuta para não cair na armadilha. Eu não dou roteiros
prontos, já bastam os protocolos de cada Programa que você precisa
fazer as respectivas anotações. Além disso, para realizar a Consulta, o
aluno necessita de conhecimentos adquiridos através do currículo, como:
Anatomia, Fisiologia, Farmacologia, Parasitologia, Ética, Fundamentos,
Teorias de Enfermagem e Clínica e tudo mais, e mais (...) Não podemos
deixar de lembrar que tudo isso tem que ser com a visão do Enfermeiro
para que possam entender como se dá o Processo de Enfermagem. Eu
acho importante apreender a metodologia da Consulta de Enfermagem
porque isso é que vai torná-la científica. A Consulta depende muito de
quem a faz, e para quem se faz. É muito pessoal. Mesmo quando você
está desenvolvendo atividade através de um grupo de pessoas e elas
estão fazendo trocas de conhecimentos, é pessoal. É confidencial!! Eu
acho que cada Enfermeira tem uma visão sua de como agir, que vai
muito além do que é específico de um Programa de Saúde, como exame
físico, verificação de pressão arterial, medicamentos, etc... daí, eu acho
difícil ensinar a fazer a Consulta, embora goste. Ensinar Consulta de
Enfermagem não é ensinar teorias e técnicas e ações educativas
somente. Você tem que sensibilizar o aluno para que ele possa sentir a
importância do que é o agir profissional do Enfermeiro. Agora, você
sensibilizar alguém pelo valor do seu trabalho é difícil, e se isso não
acontece, ele não vai saber aplicar. A Consulta é dinâmica, eu acredito
em energias, em objetivos. Também o que dificulta é porque quem faz,
ou melhor, quem executa ou faz valer o currículo são os professores e há
prioridade para a área hospitalar, até pelas disciplinas, conteúdos. É
cultural isso. Eu acho que necessita ser revisto e parece que o SUS,
apesar de não priorizar a prevenção, dá um certo apoio aos Programas de
Saúde, não é? Você entendeu? Eu disse que o Sistema Único de Saúde
não tem nada com a Consulta, mas sim com os Programas, será que é
isso? Eu não vejo os alunos serem preparados para atuarem no novo
mercado que é o PSF, que engloba todos os Programas, e aí eu acho
difícil ensinar tudo isso, mas tenho prazer, é isso. A prática e a teoria têm
que caminhar juntas, é pelo saber realizar que os Programas de Saúde
conferem autonomia às Enfermeiras.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tenho em vista sensibilizá-los e fazê-los entender de alguma forma
qual é o seu papel como Enfermeiro, na sociedade. Eu fico muito
frustrada quando o aluno reduz a atuação do enfermeiro a técnicas, a
roteiros e a conversas com o cliente. Daí, eu fico achando que tem
alguma coisa que não é passado para eles, e eu não sei o que é. Depois
eu acho que poucos professores aprenderam a realizar a Consulta no
curso de graduação, e na vida profissional você necessita exercitar essa
prática, e não só tem que ser nos ambulatórios, e aí necessita estudar, se
especializar, para atender as clientes o melhor que se possa. Eu acho que
hoje as pessoas estão muito autoritárias, vaidosas e críticas, mas só
sabem dizer que isso ou aquilo é ruim, e se repete que ‘tá’ tudo ruim e
pronto. E não é isso que é crítica para transformar alguma coisa. As
coisas não são assim. Não dá para dizer que está tudo ruim e pronto, e
sem tentar conquistar algum ganho. Eu acho que tudo na vida é uma
conquista, e isso não se consegue com autoridade. Você tem que
conquistar o aluno, o aluno o professor, o professor os enfermeiros e
todos, o cliente. Você sabe, os alunos hoje são diferentes, falta
compromisso, respeito e querem tudo, tanto os da rede pública como os
da particular, mas os da rede particular são mais amadurecidos, porque a
maioria já são técnicos e auxiliares de enfermagem. Esse nosso salário
não dá para não trabalhar noutro lugar, e dou aula na rede privada,
disciplina de Fundamentos, são cinquenta alunos com uma visão técnica,
mas você sabe que estudar as Teorias de Enfermagem, como NANDA, o
Diagnóstico e o Processo de Wanda Horta me clareou muito para o ensino
da Consulta para os alunos, aqui no Posto e na minha conduta. Já falei
demais (sorrisos). Eu acho que a Consulta é uma forma didática de
ensinar a ser enfermeiro.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Nossa! Só que faltou uma coisa: eu acho que nós que trabalhamos com a
Consulta, precisamos ter fé em Deus, muita fé mesmo, porque é difícil, exige muito, e
ensinar alguém ser um profissional é muita responsabilidade. Chega. Obrigado, foi
muito bom participar. Fiquei feliz.
Pesquisadora: Eu também. Obrigado mesmo.
GABRIELA – Enfermeira assistencial, formada há 23 anos, faz Consulta de
Enfermagem há 16 anos no Programa de Diabetes.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim. Atuo no Programa de Diabetes Mellitus desde 1987, início do Censo
sobre Diabetes, o único que houve até hoje, eu não sei de outro, e esta é
a minha prática, sempre.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Na verdade, é uma satisfação, porque não é muito falado na Escola, no
curso de Graduação. O que se fala não mostra a dimensão e a
importância da Enfermeira, não é? Na nossa época foi assim, ninguém
nos mostrou isso, nós aprendemos depois. Eu considero uma modalidade
de ensino porque faz com que os alunos aprendam a cuidar e,
principalmente na área preventiva, se bem que é uma prevenção voltada
para o não agravamento da doença. Eu costumo dizer para os nossos
clientes diabéticos que eles precisam pensar a longo prazo e o aluno
também investe no cuidado do cliente diabético a longo prazo (sorrisos)...
sai da beira do leito hospitalar que é uma assistência complexa de maior
grau de complexidade, e por isso exposta a muitos outros profissionais. É
a chance da Enfermeira trabalhar com a Saúde da Comunidade e prevenir
as doenças, porque doença é muito ruim, algumas podemos prevenir, e
por que não? A Consulta de Enfermagem melhora a qualidade de vida do
cliente... a Enfermeira tem visão de todo, que é diferente do Médico. Ela
cuida do cliente, da pessoa como um todo, percebe as necessidades
básicas do cliente, que é só dele, tem mais proximidade e ele fala, diz
tudo o que sente, às vezes é emocionante, e como nos ensinam! No leito,
é diferente, ele não diz muito, às vezes nada, é constrangedor em
determinadas situações. A Consulta tem feedback do cliente porque ele te
diz o que sente, o que melhorou para ele. Isso faz com que o aluno
desperte para o papel do Enfermeiro em responder e solicitar pareceres,
diagnósticos, tomar decisões, providências, encaminhamentos e
resoluções, e usar da autonomia. Aqui, isso foi uma conquista nossa, não
foi? Tenho certeza que isto poderia estar previsto no currículo de
Enfermagem e como não está, é tudo muito rápido, muito rápido mesmo.
Consulta requer tempo, paciência e é muito elaborativa, tem que estudar
e se aprofundar no que está fazendo, vai muito além de desenvolver
técnicas, testes. Tem que estudar, e muito. Eu vejo que os currículos das
Faculdades de Enfermagem precisam ser revistos porque a prática, hoje,
é junto com a teoria, e o SUS, embora valorize a área hospitalar, a
estratégia do Programa de Família dá emprego, e será que os alunos
estão sendo preparados?
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tenho em vista sempre, mas sempre, que os alunos possam dar
continuidade ao papel do Enfermeiro na vida profissional. Eu sei que é
muito, mas muito difícil resgatar Enfermeiro para a Consulta de
Enfermagem. É assim em todos os lugares. É muito difícil. Contar com a
colaboração é bom, tanto para o serviço quanto para o aluno, porque com
a presença dos alunos, os clientes são melhor atendidos e os alunos
aprendem com as experiências de todos nós, e nós aprendemos também.
Agora, quando se formam e são escalados para a Consulta, não querem
fazer ou fazem mal feito, porque já esqueceram. Isso é que não deve
acontecer. A Consulta não pode ser algo pessoal, eu faço, você faz e
outros, mas o que que é isso, os Enfermeiros não fazem? Quem faz, tem
que procurar estudar e se especializar.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Você é quem sabe. Respondi? Só que eu fiquei feliz de ser lembrada no seu
estudo. Sabe, eu fiquei pensando, enquanto respondia. O currículo tem que dar mais
importância à Consulta, não é?
Pesquisadora: Muito obrigado.
LIA – Enfermeira assistencial, formada há 19 anos e acho que faço Consulta de
Enfermagem há uns dez, no Programa da Mulher.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Eu faço há uns dez anos, eu acho que é isso, mais ou menos. Eu já
trabalhei no Programa de Diabetes, de Hipertensão um tempo, e também
na Enfermaria na área hospitalar, mas eu gosto mesmo é do Programa da
Mulher, sempre gostei e fiz Curso de Especialização na Saúde da Mulher,
na área de Saúde da Mulher, ginecologia, pré-natal, pós-parto,
planejamento familiar, e aí não saí mais dessa área, e outros cursos de
Atualização, que me deram suporte para a Consulta, me sentia
despreparada.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto de participar, porque sempre sou solicitada para participar, para
dizer como funciona o setor, demonstrar como faço a Consulta de
Enfermagem, e eu gosto de atuar com os alunos e com as professoras.
Eu aprendo e também ensino e até já fizemos trabalhos juntas. Eu acho
que a teoria e a prática precisam estar juntas. Não pode ficar uma coisa
sem a outra. Atualmente, a Consulta faz parte dos Programas e os alunos
precisam aprender a fazer, mas eles ficam uns cinco dias na prática, e
não considero que seja suficiente, e são muitos alunos, alguns ficam mais
interessados, outros mais dispersivos, e eu acho que são muitos, e aí
mesmo dividindo em pequenos grupos é difícil todos terem a mesma
oportunidade. Eu acho ensinar uma tarefa difícil, porque tem que ter
muita atenção com quem quer e com quem não quer. O aluno está
diferente, ele às vezes não valoriza o momento e aí ele vai procurar
depois, e aí eu fico pensando, será que é porque não foram estimulados
para a Consulta ou é porque o currículo prioriza a área hospitalar? O SUS
também prioriza a parte hospitalar, mas também qual é a prevenção que
fazemos? A saúde está muito ruim e eu não acho que seja só na área
pública, até nos convênios se espera internação, atendimento. As pessoas
adoecem cada vez mais, e ‘cadê’ a prevenção? Se não tem, só podemos
prevenir complicações. O currículo novo continua o mesmo. Depois, as
pessoas estão sem salários, sem comida, sem emprego. Antes não
víamos Enfermeiro sem emprego, mas isso já está acontecendo, porque
as Cooperativas é que empregam, e é uma vida profissional difícil (eu
estou respondendo?) [Pesquisadora: Está, fale como quiser.] Eu acho
isso, eu tenho prazer de ensinar, de participar, é gratificante porque os
clientes também gostam de serem atendidos com tantas minúcias e se
sentirem únicos, valorizados, ouvidos. Eu não aprendi assim, eu fui
aprender exame físico e a fazer a Consulta nos cursos que fiz. Aí que eu
fiquei mais confiante, foi isso, só depois eu fiquei confiante.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Chamar o aluno para a importância de desenvolver a prática dos
Enfermeiros, que é a Consulta de Enfermagem e que eles vão continuar
essa prática, vão ter que estudar para se aperfeiçoarem, especializarem,
e só serão reconhecidos no Modelo Tecnicista de Saúde se souberem se
colocar com compromisso, com ética e com saber científico, mas eu acho
que os nossos alunos nem todos conseguem captar o que é ser
Enfermeiro, eles são ainda muito imaturos para nesse momento pegar
tudo isso. A Consulta é um aprendizado constante, o que os clientes nos
ensinam é muito importante, eu não sei se há continuidade durante o
curso todo de Enfermagem a Consulta, acho que isso seria bom porque
ela é muito mais do que técnicas e preenchimento de papéis e se tomou
remédio, etc... Pena que poucos de nós façamos a nossa atividade
principal, será por que? Eu acho que a maneira de ensinar Enfermagem
tem que ser didaticamente diferente de ensinar os médicos e os
fisioterapeutas. Quem tem que ensinar Enfermeiro é Enfermeiro, não é?
(sorrisos) Ainda tem colegas que acham que a Consulta são ações
educativas, tem muita coisa para aprender ainda porque eu vejo como
ensinar a cuidar das pessoas.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não, falei demais, não foi?
Pesquisadora: Não. Falou o que achou que deveria, e eu agradeço a sua participação.
Entrevistada: Que nada. Se precisar, é só dizer, você é quem sabe.
JOANA – Enfermeira assistencial, formada há dois anos e meio. Dois anos e meio de
experiência com a Consulta de Enfermagem no Programa de Reabilitação do Alcoolisto
e Outras Drogas.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Eu faço sim, como Enfermeira e acompanho os alunos no campo de
estágio junto com as professoras. Agora mesmo, o campo está
superlotado de alunos, e isso é bom porque dá para diversificar, porque
eles são de períodos diferentes. Eu faço sim, e gosto muito.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto muito dessa troca, até porque eu me reporto ao meu tempo de
aluna e sinto que é muito importante esse aprendizado da Consulta de
Enfermagem, porque ela é uma assistência organizada, não por papéis,
protocolo, ficha, mas porque é uma maneira de atuação da Enfermeira
dentro da Equipe de Saúde, cada um tem o seu papel. Às vezes, o aluno
ainda não consegue entender a importância dela, mas não faz mal, é
muito importante essa troca vai gerar um crescimento. É gratificante, eu
sempre gostei e aprendi muito no meu estágio.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- O mercado de trabalho é um ponto, mas não é só isso, até porque o
mercado de trabalho não tem idéia do que é a Consulta de Enfermagem,
ele está atrelado a uma sala, mesa, cadeiras e o espaço ajuda, mas não é
só, é preciso que o mercado de trabalho saiba que a Consulta é uma
estratégia de ensino e é também a atividade do Enferme iro. Aqui, no
Programa de Reabilitação, é outro tipo de Consulta de Enfermagem. São
clientes de vários grupos da sociedade: homens, mulheres, adultos,
adolescentes e até idosos – cada um é uma pessoa. Ontem, eu atendi um
senhor de setenta e um anos, e também atendi um menino de dez anos.
As necessidades do senhor de setenta e um e as do garoto de dez,
diferem, mas ambos necessitam da reabilitação em relação ao uso do
álcool. Você entende? Eu acho que nós não podemos ter preconceitos
porque doença dá em todo mundo, independente de classe, cor, idade,
cultura. Não adianta, ela quando dá, dá e a pessoa fica precisando de
tudo, de sair para uma luta e tem que ser estimulado, amado, útil e todos
da Equipe necessitam compreender isso e não é fácil. Aqui, no nosso
setor, o exame físico, verificação dos sinais vitais é secundário, são
aferidos, o exame físico é feito, mas o principal é avaliar o cliente, ele
como está. Ele nunca está bem porque não pode estar. Ele tem que se
sentir seguro e confiar no profissional e isso depende muito de quem está
atendendo. Eu acho que a Consulta de Enfermagem dá oportunidade de
você, Enfermeira, aprender muito. A gente trabalha com pessoas de todo
tipo, portadores de doenças venéreas, diabéticos, hipertensos, cirróticos,
até com AIDS, porque também tem gente com doenças venéreas, cada
pessoa é uma pessoa. Então, você tem que estudar para saber como vai
agir, encaminhar, se for o caso, corretamente. Ah, eu estava falando do
senhor de setenta e um anos, não foi? Pois é, já é geriatria, e aí, quantas
coisas esse senhor não passou e passa nesta vida? Você sabe, a mulher,
ela é muito preconceituosa, mas é demais, ela é muito mais do que o
homem. Elas quando chegam no Programa, elas são, estão
completamente deterioradas, abandonadas, desprezadas, sem a família e
muito sozinhas, cada uma tem a sua história, dá pena, mas não é isso
que resolve. Eu aprendi com a professora responsável pelo campo de
estágio que elas, as mulheres, têm menos água no organismo do que os
homens, aí fica mais danificada e também mais lesadas organicamente.
Quando o problema é do marido, do filho, irmão, sobrinho, pai, vizinho,
ela traz para eles se cuidarem, serem tratados, e ela é uma boa parceira
e sofre muito. Mas quando é ela, dificilmente acontece isso. A mulher, ela
é mais companheira e ela cuida de todos da família dela, e até dos
outros, mas parece que com ela, ela tem vergonha, culpa, e se sente
péssima... Mulheres e homens são muito diferentes em tudo. O curso de
graduação, o estágio de Consulta de Enfermagem me ajudou muito a
atuar na vida profissional, porque o enfoque da Consulta do período X é
diferente do período Y, também o comportamento do aluno é diferente,
você vê só, quando ele inicia, ele vai para o setor com aparelho de
pressão pendurado no pescoço, o estetoscópio, quando chegam no final,
isso já não acontece tanto, porque ele vai amadurecendo, tudo tem seu
tempo e o aluno também precisa do tempo dele, porque é muita
responsabilidade, porque exige um conhecimento crescente, e isso
depende da prática, cada pessoa é uma pessoa e não uma doença, e o
mais complicado é lidar com esta pessoa. Eu não fiz estágio neste setor,
eu acho que não tinha na época, cheguei aqui sem saber nada daqui, mas
o que eu aprendi nos outros e especialmente no de Consulta, serve de
ensinamento para eu ensinar, participar aqui, aqui eu venho aprendendo
muito. Eu gosto de participar com os alunos. Eu fui professora da Escola
de Enfermagem W e fui supervisora de alunos no campo de estágio,
fiquei cinco meses mas eu saí porque eu não dei conta de tantos
empregos. Eu passei no concurso público, quando ainda era aluna, aí eu
passei para o Hospital Universitário, então eu fui ao Sub-Reitor e pedi
para ser lotada aqui, e ele aceitou. Aí, no Município, por análise de
currículo e etc., eu estou na Coordenação do Programa de Diabetes e
Hipertensão, então, eu além de trabalhar na Consulta, eu ainda tenho
acesso aos dados gerais epidemiológicos, os dados que nos dizem o
crescimento anual do Programa e, por exemplo, o índice de abandono é
de 30%, isso pelos dados estatísticos, os instrumentos são políticos
também. Então, a Consulta de Enfermagem dá autonomia para nós, mas
eu ainda acho que ela ainda não é feita por todos nós e é isso que o
aluno precisa aprender que ela é o agir do Enfermeiro e é uma força
política. Eu considero pouco tempo de estágio, mas, dependendo do
aluno, ele pode depois se especializar e atuar melhor. Eu só acho que é
preciso ensinar a Consulta de Enfermagem durante todo o curso de
Graduação para que o aluno possa compreender o seu papel de
Enfermeiro e faça a Consulta, todos nós, na vida profissional, e dar
continuidade à profissão.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Só agradecer.
Pesquisadora: Obrigado, digo eu.
LILIANE – Enfermeira assistencial, formada há 23 anos, atualmente lotada no Setor de
Curativos, ambulatório hospitalar.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim, já trabalhei com Consulta de Enfermagem no ambulatório do
primeiro andar para os pacientes hipertensos e diabéticos. Aliás, quando
eu me formei, há vinte e três anos atrás, fui lotada na enfermaria de
Ortopedia por mais ou menos um ano. Depois, eu fazia a Consulta de
Enfermagem no ambulatório do primeiro andar, como eu já falei. E aí,
atendíamos também as clientes de Ginecologia e outras especialidades.
Porque, qualquer dificuldade que os médicos percebiam, eles
encaminhavam para darmos orientações. Principalmente em relação às
medicações. Você lembra? Naquela época, ainda as atividades não
estavam separadas por Programas, e como eu era enfermeira do primeiro
andar, atendia os clientes de Clínica Médica. Agora, é que a Consulta de
Enfermagem está sistematizada nos Programas de Saúde e os alunos
fazem as Consultas completas. O currículo deveria priorizar a Consulta
hoje, será que é o currículo? Eu não aprendi no meu curso de Graduação
a fazer essa Consulta que vocês fazem, tão completa. Não era como uma
disciplina. Nós aprendíamos a dar orientações, fazer ações educativas e
ensinarmos aos pacientes as técnicas que eles necessitavam aprender,
como: pequenos curativos, aplicação de medicamentos, fazer
mamadeiras, cuidar das mamas, higiene, aspectos nutricionais, as
imunizações. Nossa! Tudo isso. Dávamos aulinhas e palestras no Posto de
Saúde. Eu lembro que fazíamos encaminhamentos para nutricionista,
assistente social e para os especialistas. Ah, até dávamos aulas sobre
prevenção das doenças e promoção da saúde nas escolas, sabe, nós
fazíamos a pré-Consulta médica e a pós. Depois é que os alunos
começaram a atender no Consultório com as Consultas agendadas, etc...
Acho que isso ocorreu lá por 1983, 1984, não foi? É isso, acho que nós
não aprendemos a fazer a Consulta de Enfermagem como os alunos
aprendem hoje. Também, nossos estágios eram mais na área hospitalar,
não era? Era sim, e passávamos mais tempo nas enfermarias. O fato é
que eu não aprendi na Escola. Hoje ainda é assim, não é? Só que hoje, a
Consulta dá autonomia para o enfermeiro agir nos Programas.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Para mim é gratificante. Eu gosto de ensinar o que eu sei. Gosto mesmo.
Bom, mas eu participo indiretamente porque a professora também está
presente e é ela quem é a responsável pela programação do aluno. Ela
também tira as dúvidas, etc... Sabe, aqui no setor, cada paciente precisa
de muitas orientações, de muitos cuidados, de muito apoio emocional, a
auto-estima fica muito baixa. Você já viu como são os curativos feitos
aqui. O aluno, quando chega, fica apreensivo, tem dúvidas e eu as tiro,
sempre que posso. Para o paciente, eu oriento para o auto-cuidado,
ensino a fazer o curativo, a evitar as contaminações, a lavar as mãos e
tudo que percebo que ele necessita saber ou pergunta. O aluno participa
e aprende como devemos fazer ou como fazemos, e ele faz junto. Porque
aqui, a teoria e a prática acontecem juntas. A gente tem que estar
sempre aprendendo e trabalhamos com as técnicas ma is recentes,
embora não tenhamos material necessário, só quando ganhamos, alguém
traz. É complicado mas os nossos hospitais estão com muitas
dificuldades. O nosso, quase não tem material. O paciente já não tem
recursos financeiros, a maioria já é idoso, já teve muitas perdas
emocionais, já está com outras patologias. As técnicas do curativo
mudaram muito. As medicações também. Os curativos aqui do setor são
diferentes dos cirúrgicos. Os pacientes também são diferentes dos
submetidos às cirurgias. Eles diferem entre si porque cada pessoa é uma
pessoa. Eu ensino como faço. Eu gosto de participar deste estágio porque
eu sinto que contribuo com os alunos. A sala fica cheia, são muitos e a
área física é pequeniníssima. Eu gosto mesmo de ensinar o que eu sei,
mas acho que é muito pouco tempo que eles passam no setor. Apesar
dos alunos passarem nas enfermarias e lá também fazerem curativos, eu
já trabalhei em enfermaria, eu sei que é totalmente diferente. Ah, ainda
tem os familiares, que precisam ser orientados sobre os cuidados e até
mesmo como fazer o curativo. Tem paciente que não consegue fazer o
seu próprio curativo. São pacientes muito especiais, mas muito mesmo.
Eles passam muitos anos conosco. Seria melhor se o aluno tivesse mais
tempo no setor. Jamais ele sairia um especialista, mas teria mais
oportunidade de interagir com o cliente e com a sua família, e até mesmo
com a comunidade, porque mesmo que não seja uma Consulta de
Enfermagem completa, não é uma pré nem uma pós Consulta médica. É
como a Enfermeira atua. Eu acho isso, nós hoje agendamos os nossos
pacientes, determinadas condutas, damos pareceres. A Consulta permite
isso e o retorno acontece. Os médicos estão sempre encaminhando para
darmos continuidade aos tratamentos, mas a nossa Consulta independe
das deles. É, eu gosto, todos crescem. Somos autônomos, temos
autonomia para agir, é isso.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- A continuidade da profissão e da nossa autonomia, porque autonomia
você conquista e nós temos conquistado. Os alunos irão atuar no
mercado de trabalho, e hoje o mercado é diferente. O número de leitos
hospitalares vem diminuindo. As condições de ofertas para as vagas
hospitalares não estão de acordo com as necessidades da população.
Hoje está tudo diferente de há vinte anos atrás, quanto menos tempo o
paciente passar internado, é melhor para ele e para todos. Temos
pacientes que necessitam mesmo de repouso, precisariam de uma
alimentação adequada, medicação, cuidados e não conseguimos vaga. A
situação da saúde está muito ruim, e não é só nos hospitais públicos, é
geral. Então, vejo a Consulta de Enfermagem muito presente, porque ela
pode ser feita até no domicílio e os curativos podem ser realizados,
ensinados no próprio habitat do paciente. É isso mesmo, a Consulta de
Enfermagem possibilita a Enfermeira exercer a sua autonomia profissional
e os alunos têm que saber disto. Hoje, o sistema de saúde é o SUS e os
nossos hospitais estão muito pobres. É isso, eu tenho em vista a
continuidade da nossa profissão. Eles não vão enfrentar muitos
problemas que nós já enfrentamos para desenvolver a Consulta de
Enfermagem na vida profissional. Eles precisam é fazer sempre, mesmo
que não seja completa, com o exame físico completo, céfalo-caudal, mas
ouvir o paciente e proporcionar o conforto necessário sempre. Esse é o
nosso momento, continuaremos podendo ser Enfermeiras. Respondi?
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não, eu acho que falei exatamente como pensei, disse tudo, mas se você
precisar de mais alguma coisa, é só falar, estou às suas ordens.
Pesquisadora: Obrigado.
LUIZA – Enfermeira docente, formada há 16 anos, 9 anos na docência, trabalhou com
assistência, gerência do cuidar e administração em Enfermagem. Setor de
Quimioterapia.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Eu faço porque eu considero que fazemos, sim, mas não de forma
sistematizada. Na Unidade de Terapia Intensiva e no Ambulatório de
Quimioterapia é o local onde fazemos a administração das medicações e
aí estamos direto com os clientes, é nesse momento que iniciamos os
cuidados direcionados para essa pessoa. O cuidado e as orientações,
identificamos as necessidades do cliente e da família, porque você não
pode deixar de ouvi-los, não dá. A partir das necessidades, prestamos os
cuidados, apoio emocional para essa pessoa e aplicamos todos os nossos
conhecimentos: técnicos, administrativos, científicos, pessoais e até
emocionais. Os clientes da Quimioterapia necessitam de uma assistência
total. Eu vejo a Consulta de Enfermagem como uma estratégia da
Enfermeira para cuidar. Ela é uma maneira de dar um ponto de partida
para ensinar a cuidar dos clientes. Eu acho que as Enfermeiras acham
que não fazem Consulta porque criou-se um mito: da salinha equipada e
fechada e etc... mas a Consulta não é só quando a gente fica só na
salinha fechada... a Enfermeira precisa ver a atitude política que ela
confere às Enfermeiras, porque não são só técnicas, protocolos,
prontuários, medicações, exames, é a ação da Enfermeira profissional.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- É uma pergunta difícil. Em primeiro lugar, eu considero importante dizer
sobre o meu entendimento sobre como é ensinar a Consulta de
Enfermagem. E como é ensinar a Consulta de Enfermagem? Eu vejo que
os alunos às vezes mostram uma idéia errada sobre a Consulta, Sabe por
que? Porque o nosso currículo, eu considero um primor, porque os alunos
já dão início e vêem fazendo as atividades que fazem parte da Consulta
de Enfermagem desde o primeiro momento que entram na Escola. Eles
têm o privilégio de aprender lá no setor de Consulta de Enfermagem, nos
Programas de Saúde de Diabetes, Hipertensão, Climatério, Idoso e os
outros, e depois, depende dos professores, nos outros setores, eles
desenvolvem algumas ações, como: orientações, educativas, técnicas,
como a Quimioterapia e e outras. Então, eles vão aprendendo a cada
período os graus de complexidade. O currículo é um caminho. Segundo,
eu procuro mostrar para os alunos que no setor de Quimioterapia nós não
só realizamos técnicas porque é necessário desenvolver um diagnóstico
de enfermagem, um plano assistencial ou planos assistenciais, porque o
auno necessita aprender isso para prestar uma assistência adequada. Eu
conduzo dessa forma: nós só podemos desenvolver técnicas se eu
conhecer melhor as necessidades dos clientes, de cada um. O espaço
físico do setor não favorece, mas eu direciono o cuidado para os sinais e
sintomas da situação. Dependendo da situação do cliente, é feito o
atendimento. Hoje nós ensinamos de maneira diferente do que
aprendemos, é óbvio, mas por que? Fomos melhorando, aprimorando,
nos especializando, nos interessando por atender melhor as necessidades
do cliente, e não foi assim na minha época de graduação. Eu aprendi,
mas foi diferente. O que eu tenho planejado com a enfermeira é que haja
espaço dentro da Quimio, um espaço específico para o exame físico, para
as anotações específicas, e então aproximar a idéia de que a Consulta de
Enfermagem deve fazer parte de todo o contexto. A Enfermeira tem que
estar junto ao doente e a família, buscando as necessidades para atuar.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- O que eu tenho em vista? Primeiramente, quando eu converso com os
alunos, eu procuro mostrar o que eu aprendo e aprendi com os clientes e
familiares. Eu acredito que essa aproximação da Ciência e da Arte é que
dá para defender a Enfermagem. Enquanto Enfermeira, para isso eu
tenho que ter conhecimentos técnicos, filosóficos, éticos que garantam o
nosso espaço junto à equipe de Saúde. O grande desafio da Enfermeira é
lutar por nossos espaços, fazendo com que a gente possa estar
assumindo um espaço de contribuição porque para estarmos lá, fazendo
a Consulta, você tem que saber, só assim é que se tem autonomia.
Quando nós estamos com o cliente, com a família, é que a gente vê a
importância do conhecimento, porque o cliente é cheio de necessidades,
às vezes é muito difícil lidar com tantas coisas, e também, você tem que
saber até onde pode ir e se não sabe, encaminha para o colega. Também,
a humildade é importante. Outro aspecto é a autonomia que a Consulta
dá. Essa coisa de poder é complicado. Poder, porque prescrições,
protocolos, não significa que você vai trabalhar sozinha, ao contrário,
quando você não consegue fazer encaminhamentos e você recua, você
deixa de ocupar o seu espaço, e aí, são coisas que estão ligadas à ética, o
respeito pelo colega. Você não tem que ir além do seu domínio porque
senão fica complicado. Algumas colegas não dividem o seu conhecimento,
as suas conquistas com os clientes, com os médicos e com os outros
elementos da equipe dos Programas, e se nós não dividirmos isso, fica
difícil, nós precisamos dividir o nosso saber e ensinar isso a todos da
equipe de Saúde. Você veja só, a Escola não recebeu nenhuma bolsa
PIBIQUE. Será que as Enfermeiras estão fazendo errado? Utilizando o
momento errado? Quem está na assistência e na docência tem que
refletir muito. Talvez as nossas alianças estejam erradas, por que não?
Eu tenho em vista, no primeiro momento, a responsabilidade docente de
passar para o aluno o sentido da Consulta de Enfermagem, que é cuidar
da pessoa e que a especialidade é uma forma de prestar um cuidado
técnico-científico, mas é necessário usar a especialidade para cuidar da
pessoa, e não da doença. Se ele, o aluno, vai para a especialização, esses
conhecimentos vão ajudar para um olhar direcionado para as
necessidades dos pacientes. A especialidade é uma forma de fortalecer o
Modelo Biomédico, mas e daí? Ela pode ser. Eu uso a especialidade como
uma forma de melhor cuidar e ela é necessária. A vida profissional é
difícil, mas eu tenho em vista a continuidade do nosso espaço profissional
através da Consulta de Enfermagem melhorando a saúde.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Acho que falei exatamente como penso e faço. Muito obrigado.
Pesquisadora: Eu sou quem agradeço.
MARGARIDA – Enfermeira assistencial, formada há 24 anos. Atualmente lotada no
Programa de Geriatria, no mínimo há 4 anos, eu acho.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim, faço. Trabalhei quatorze anos com a Consulta de Enfermagem para
os pacientes diabéticos e hipertensos. Quatro anos em enfermaria, talvez
muitos mais, e há quatro anos estou na Geriatria. Olha, eu não aprendi a
fazer a Consulta de Enfermagem na Escola, ou seja, no curso de
Graduação, desse jeito que vocês fazem. Eu aprendi a dar orientações,
fazer ações educativas, exercitar técnicas, ministrar conteúdos sobre as
doenças, administrar medicamentos, etc... A Consulta de Enfermagem
que eu faço hoje no Programa de Geriatria é totalmente diferente das que
eu fazia para os diabéticos e hipertensos. A Geriatria é outro mundo.
Tudo melhorou depois que eu fiz o curso de especialização em Geriatria
na FIOCRUZ, porque eu não aprendi nada disso na Escola, e foi isso
mesmo, eu não aprendi nem Geriatria e nem Consulta.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu não sou aquela pessoa que adora ensinar, porque eu sou reservada e
levo um tempo para interagir com as pessoas, mas não me nego a
receber os alunos e deixar que assistam como faço a Consulta para os
pacientes da Geriatria. Eu demonstro o que faço. Os grupos de alunos são
rotativos. Um dia é um grupo, no outro dia é outro grupo e no outro, é
outro grupo, daí, ninguém interage com ninguém, e aí eu ficava muito
constrangida, porque eu preciso de um tempo para me desinibir. Depois,
quando eu fui para a Geriatria, eu ainda não havia feito o curso de
especialização, então eu estava diante de um mundo totalmente diferente
de tudo. Os pacientes diabéticos, hipertensos, são pessoas que se
tiverem força de vontade, forem estimulados, eles vão longe na vida e
com qualidade, essa era a minha experiência. Na Geriatria, a coisa é
diferente. É um mundo de patologias que reduzem o ser humano a uma
dependência cada vez maior do outro. Isso é muito complicado porque
afeta você, também como profissional, pessoa. Dá também uma
compreensão maior da vida, do nosso papel na equipe, porque nós
trabalhamos em equipe e eu aprendo muito com todos e muito
especialmente com a assistente social, só em pensar que ela vai se
aposentar, eu fico aflita, porque a experiência dela é inigualável, você
sabe disso. No início, foi muito difícil para mim atuar na Geriatria, parecia
que eu ia para um matadouro. Nossa, era horrível! Eu não dominava os
conteúdos de Gerontologia, eu não havia dado isso no curso de
Graduação, foi dificílimo porque também tinha a minha inibição, e não era
nada com os alunos, nem com os clientes, nem com ninguém, era uma
coisa minha. Aí, eu comecei a fazer cursos e fui melhorando, aprendendo
também com os próprios pacientes, com as histórias de vida deles, com
seus familiares e com todos da equipe. Agora, o curso de especialização
foi o marco para me sentir mais segura. É o tal caso, eu fico feliz de
poder passar conhecimento para alguém, é muito bom mesmo, mas
quem faz Consulta de Enfermagem tem que estudar sempre, tem que se
especializar na sua área de atuação, porque os Programas de Saúde
favorecem a nossa atuação de forma sistematizada, e nos dá autonomia.
Além disso, os pacientes da Geriatria têm muitos problemas sociais, aliás
quem não os tem hoje? É terrível ver alguém demenciar e não contar
com um familiar, um cuidador. Então, não é só as doenças correlatas da
idade ou os danos próprios da velhice. É um único ser humano que
muitos estão inteiramente sós. Feliz do idoso que tem independência para
cuidar de si. Eu acho que o aluno tem que passar pelo setor, mas eu acho
que é muito pouco tempo que eles passam, e eu gosto de participar e
mostro como atuo, mas a Geriatria é difícil, você lida com pacientes
depressivos, com familiares assustados. O mundo hoje é outro. As
pessoas estão envelhecendo e adoecendo, portando patologias ainda
pouco conhecidas se instalando. Eu acho um absurdo não ter uma
disciplina Gerontologia, no currículo do curso de Graduação, porque o que
mais os alunos convivem em qualquer nível de atenção hoje, é com
pessoas idosas. Aí, vai acontecer o que aconteceu comigo, não vão
atender tranqüilos até se habilitarem. Sabe, eu acho que o currículo tem
que atender essas necessidades da população e a Consulta de
Enfermagem é uma forma da Enfermeira desenvolver o seu conhecimento
e exercer o seu papel na equipe de saúde. Você sabe disso. Claro que o
curso de Graduação não pode abranger até as especialidades, mas que
que é isso, o aluno não pode sair assim, sem saber atender a um idoso.
Eu tenho o maior cuidado de demonstrar como eu faço, passo a passo,
para que possam aprender e depois, mais tarde, ensinar aos clientes a
fazer os testes de memória, a identificar outras patologias, a preencher
os formulários, mas você sabe, isso não é tudo, tem também os outros
da equipe, e acho que quando eles vão para a enfermaria fazer estágio,
não tem o mesmo seguimento, então, eles não aprendem bem, nem aqui
na Consulta, nem lá, e ficam prejudicados. Aliás, somos muito poucas a
trabalhar com os idosos, as nossas colegas ainda sabem pouco sobre isso
e cá para nós, é muito difícil, eu acho também que tem que gostar e se
preparar, porque é um mundo totalmente diferente de tudo, e é isso que
os alunos vão pegar na vida profissional. Não vai ter outro jeito. Eu falei
como eu ensino? Você gostou? É isso mesmo.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tenho em vista que esse aluno possa chegar na vida profissional
sabendo, pelo menos, que especialidade ou que cursos ele vai buscar
para aprender a cuidar do paciente de forma digna, oferecendo conforto e
qualidade de vida. Porém, ele só vai saber em que área vai se
especializar, se houver pelo menos passado por setores que tenham
despertado algum interesse. Também, tem uma coisa: eu acho que tem
poucos cursos de especialização e que as universidades, nos currículos de
graduação, estão deixando tudo muito corrido. Aí vai acontecer com o
aluno o que aconteceu comigo: parecendo que vai para o matadouro,
porque não tem o conhecimento, porque não aprendeu a fazer. Eu tenho
em vista, também, que a Consulta de Enfermagem deva ser levada em
consideração durante todo o currículo de enfermagem, porque senão, fica
complicado para o aluno. Aprende, ou melhor, inicia aqui conosco, todos
nós, e depois só vai ver isso se for trabalhar com Consulta, fala sério...
Outra coisa que eu tenho em vista, não podem, nos currículos, não ter
Gerontologia. Acho que isso é básico. As Escolas de Enfermagem, estão
fora da realidade. É isso, eu acho que nós já ganhamos alguns espaços e
perdemos outros, mas eu penso que os alunos darão continuidade a essa
profissão que às vezes me preocupa muito, porque antes tinha a teoria
meio fora da prática, agora dizem que é assim, pouco tempo nos lugares
para aprender teoria e prática. Eu sou tímida, mas acho que falei
exatamente o que tenho em vista.
Pesquisadora: Quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Se você achar que precisa de mais alguma coisa, eu estou aqui, é só
você pedir. Eu quero só agradecer pela oportunidade.
Pesquisadora: Obrigado.
MARIA – Enfermeira, docente, formada há mais de 25 anos, e vinte e cinco de
professora. Programa / Setor de Curativos, Ambulatório hospitalar.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço. Eu trabalhei em Centro Municipal de Saúde muitos e muitos anos, e
depois também como professora, em duas funções: assistencial e
docente; me aposentei do Estado e já vou me aposentar da docência. Na
Consulta, no setor de Curativos, ah! tem muito tempo... tem que ser
precisa nos anos? (Pesquisadora: Não, necessariamente. Fique à vontade,
fale como quiser.) Eu trabalhei com os Programas de Diabetes e
Hipertensão no Município. Aqui no Programa, com os alunos, não é rotina
fazer aquela Consulta estrutural, como vocês fazem lá embaixo,
considero que a Consulta não é apenas um protocolo que tem que
constar no Prontuário do paciente. Ela é muito mais que isso, é uma
didática pessoal do Enfermeiro, uma maneira de ensinar. Fazemos o
exame físico do membro, prescrições de enfermagem para o tratamento
das feridas e as orientações para o curativo ser feito em casa. No ensino
prático, você usa a simulação a cada cliente, para que o aluno consiga
aprender. Estou exigindo, exigindo que o aluno passe um dia no hospital
X, porque lá nós temos material necessário para cobertura das feridas. É
complicado, porque aqui no Hospital de Ensino, só temos soro fisiológico,
dermazine, gaze e atadura, e até atadura já está diminuindo. A saúde
está uma coisa, é difícil, muito problemático.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial, Consulta de Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem?
- Eu gosto, mas eu acho assim: o aluno deveria ter as duas coisas assim:
termos um espaço para as orientações dos pacientes e, em seguida,
passar para o local específico da técnica do curativo. Nós temos toda a
equipe para sermos um hospital de referência em curativos, mas falta a
mentalidade de trabalho em equipe. Já estamos conseguindo que os
auxiliares e técnicos assistam e repassem algumas orientações para os
clientes, igual aos alunos. O modelo é Biomédico, logo é difícil a aceitação
por mudanças. O médico é onipotente até então, mas você veja: eu
tenho clientes que o médico fez prescrição que não estava dando certo.
Como pessoa, professora e enfermeira me interessa que a ferida feche.
Aí, eu por minha conta, encaminhei para o HESFA e aí eu iniciei com
Polimen, é um hidropolímero. Eu entrei em contato com o laboratório e a
ferida está quase fechada, e vai fechar. Quando o cliente veio para a
Consulta aqui, chamaram o médico que ficou super feliz, achando que era
um tratamento que ele estava fazendo. Aí, eu falei o porque, e o médico
quase teve um ‘troço’, mas eu tive que dizer: Doutor, eu sou especialista
na área de Enfermagem Dermatológica pela SOBEND. Eu estudo e
acompanho os clientes. Depois, ficou tudo certo. Os alunos viram tudo.
Você tem que não ter medo e saber argumentar. No curso de graduação,
eu não aprendi a fazer Consulta dessa forma, era pré e pós Consulta
médica, orientações, ações educativas e só. Acho até que até hoje, as
colegas acham que a Consulta é ações educativas, e não é assim, porque
vai dizer que isso é propriedade das enfermeiras para a equipe de
saúde... com os Cursos de Especialização, você vai tendo autonomia e
passa a cuidar melhor, oferecendo qualidade de vida aos clientes e
ensinando mais efetivamente aos alunos. O currículo é um caminho, mas
os professores são responsáveis pelos conteúdos, e eu acho que precisam
ajustar aos nossos problemas de saúde, que são muitos, caos. Pergunta
outra.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial, Consulta de
Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem?
- Eu sinto que os alunos se sentem mais seguros, mais independentes para
desenvolver o trabalho na vida profissional. Aprendem que têm de
estudar, sem estudar não dá, mas eles buscam isso em algum momento.
Eu incentivo para que eles vejam a importância da Consulta de
Enfermagem, ela é muito importante, mas não é por causa dos Protocolos.
Eles, na prática, vão adquirindo confiança e prazer por assistir o cliente.
Pode ter mais prazer do que isso para alguém? Eu acho que o aluno tem
que cumprir suas etapas durante o curso, mas a Consulta tem que ser
uma maneira de aprendizagem para a vida profissional e o mercado está
aí. Respondi? Ah! Não posso esquecer que a autonomia é uma conquista,
e o aluno e o professor têm que ter humildade de aprender e ensinar e
aprender sempre.
Pesquisadora: Você quer dizer mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Estou ‘torcendo’ muito por sua defesa. Esse é o seu tema. Eu só
quero agradecer sua gentileza. Gostei muito de participar, você sabe. Se precisar mais
de alguma coisa, é só falar.
Pesquisadora: Obrigado. Eu admiro muito o seu trabalho, você sabe disso. Obrigado.
MARIÚZA – Enfermeira assistencial, formada há 15 anos - Programa de Hanseníase.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço há quinze anos. Aprimorei a minha Consulta através dos cursos que
fiz e fiz vários, para aprender sobre Hanseníase, na FIOCRUZ (Fundação
Oswaldo Cruz). Não aprendi a fazer Consulta de Enfermagem no curso de
Graduação, em 1988, quando eu me formei. Até porque os currículos de
graduação estavam e estão direcionados para a área hospitalar. É isso, as
Faculdades dão mais atenção à área hospitalar. Os encontros na área de
Saúde Pública são poucos e são restritos às ações educativas,
orientações, palestras e isso é só uma etapa da Consulta. Você lembra,
era diferente e ficava sendo pré e pós-Consulta médica, totalmente
diferente de hoje... a Consulta é uma forma de cuidar da Enfermeira.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto de participar desse ensino demonstrando como eu faço para os
alunos, e eles participando, perguntando as dúvidas e aprendendo a
atuar. A Consulta é uma atividade dinâmica... sabia, de 1988 até há
pouco, tivemos alunos da sua Escola aqui, e já tivemos de outras Escolas,
e as professores que são responsáveis pelos alunos sempre solicitam que
eu demonstre como eu faço. Atualmente, os alunos que fazem estágio
aqui no meu setor estão no oitavo período, e já chegam com um pouco
de teoria, porque eles têm uma aula com o conteúdo de Hansen, se não
me engano, no quarto período, que é dada pelas professoras. Aqui no
meu setor, eu participo, eles ficam juntos, assistindo como eu faço com
os clientes, tiram as dúvidas que são muitas, o que é natural porque
Hanseníse você não aprende só com aula e com poucos contatos. O
cliente nos ensina muito, cada caso é um caso, cada pessoa tem uma
vida, até a medicação é protocolada, tem os testes que são feitos e o
preenchimento sobre o atendimento. Os clientes portadores de Hansen,
muitas vezes também são diabéticos, hipertensos, portadores de
comprometimentos no fígado e até de câncer. Daí, a Consulta de
Enfermagem não só fica restrita à patologia, Hansen. A pessoa tem que
ser vista como um todo. Se precisa de gineco, de terapeuta, etc... eu
encaminho para o Nísia da Silveira (Hospital de Reabilitação), esses
encaminhamentos podem ser feitos tanto pelos médicos como pelos
enfermeiros. Para você encaminhar certo, você precisa saber o porque do
encaminhamento, e tem que justificar, mas a Consulta de Enfermagem
dá essa autonomia. Eu acho que o currículo, os professores, deveriam se
preocupar mais com a Consulta de Enfermagem, porque eles aprendem
num estágio, vão para o hospital ou outro lugar e ficam mais
preocupados com aparelhagens, técnicas. Também tem essa passagem
pelos campos de estágios, que é pouco tempo, essa teoria que é livresca
e a prática que nem sempre acontece conjuntamente (pausa). Acho que
fazer Consulta, é preciso gostar e estar disposta a se aprimorar, buscar
cursos, se atualizar, se especializar. A Consulta não é fechada, ao
contrário, ela é aberta, depende do conhecimento de quem a faz... você
vê, o cliente está no Programa de Tuberculose, ou outro qualquer, aí a
Enfermeira suspeita de Hansen, ela tem que saber pelo menos o básico
para poder resolver o mais rápido o problema do paciente, para que ele
possa ter qualidade de vida e conforto. A Hansen tem todo um tabu de
séculos. É difícil lidar com esse problema porque não é só o doente, é
também os familiares, a sociedade, é tudo isso que também precisamos
vencer. Algumas vezes, é preciso terapias complementares. Então, eu
considero que, dependendo do conhecimento da Enfermeira, o
atendimento pode ser cada vez melhor. O aluno tem que saber disso.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Viso um profissional que possa exercer a sua profissão cada vez melhor,
possa ser um continuador que saiba identificar um portador de
Hanseníase e possa oferecer as melhores possibilidades a essas pessoas.
Eu vejo que para isso acontecer, talvez seja necessário rever os
currículos das nossas instituições, porque o Sistema de Saúde hoje é o
SUS, e eu acho que ele ainda não foi atendido, e a pressão é para
atender. O mercado de trabalho atualmente é o Programa de Família, que
já é uma metodologia. Isso por causa do salário, que é maior, mas eu
não vejo uma preparação para isso dos alunos. Sei lá, acho que o pessoal
é meio descompromissado. Eu vejo até na passagem de plantão, as
pessoas cumprem o necessário e olhe lá... vejo que é dada muita
importância a monografia, pesquisa, durante o curso, e fico preocupada
com esses comportamentos dos profissionais e dos alunos. Na avaliação
do MEC, teve escola que tirou A, B. Fico pensando nestes critérios, será
que estão de acordo com a realidade? Será que esta avaliação está
voltada para a área de conteúdos de pesquisa? Eu sei que é muito
importante despertar o olhar de pesquisador no profissional para mudar a
prática, que é o que o doente tem acesso do profissional, mas eu
discordo um tanto quanto da prioridade para o mestrado, doutorado, sem
conhecimento prático. O professor tem que saber atuar no campo, senão
fica complicado e sem retorno adequado. Os Programas de Saúde
praticamente sistematizaram a Consulta de Enfermagem nas instituições,
você não acha? ‘Tá’ lá escrito e com isso, abriu o campo para o
Enfermeiro, só que é preciso que o ensino se volte para as necessidades
do cliente. Eu me preocupo que eles possam aprender o mais que possam
, para terem outro perfil na vida profissional e se tornem Enfermeiras
compromissadas, porque eu acredito na Consulta de Enfermagem. É uma
atividade que é própria da Enfermeira e depende muito do modo como
ela encara ou compreende o que o cliente está precisando, e isso não
está nos protocolos, nos roteiros, está no que você sabe (pausa). O aluno
tem que perceber isso. Até porque, a vida profissional é muito difícil e
está cada vez pior. Os enfermeiros sempre trabalham em dois lugres, no
mínimo, e fica difícil liberação para cursos de especialização, mas é muito
necessário que sejam feitos. Tirando o PSF, ficam as Cooperativas, que
são terríveis (sorri), não se tem férias e nem décimo terceiro, e os
salários são baixos, você tem que trabalhar direto, como é que pode
estar saindo para cursos pagos? Depois, eu acho que os alunos das
Escolas particulares são mais amadurecidos, porque já são técnicos e
auxiliares. Os alunos das Escolas públicas são mais imaturos, e aí, muitas
vezes, só se dão conta já na vida profissional, e tentam rever o que não
deram importância, e já era. O currículo, ou quem sabe, os professores,
precisam integrar melhor a teoria e a prática. Sabe, eu acho que o nosso
discurso é legal, mas a prática difere: mesmo o SUS, eu acho que ainda
prioriza a área hospitalar e a questão da internação, vaga, está cada vez
pior para a população, se a prevenção não é a área mais importante,
cada vez mais as pessoas vão adoecer. Será que as Faculdades não
precisam rever seus currículos e até pressionarem o Governo para a parte
de Prevenção das doenças? Eu acho que são órgãos que têm força, mas
as ações, decisões, não são tomadas neste sentido. Os hospitais estão
cheios e sem recursos, os clientes, quando procuram os médicos, é
porque são ou estão doentes. Qual é a prevenção para hipertensão,
diabetes, câncer e outros problemas? Pelo que sabemos, não é só através
das ações educativas. Necessitam exames. Sabe, é um problema cultural,
até mesmo dos professores, que precisam estar ligados na prática. O
Governo está exigindo equipe preparada para a estratégia do Programa
de Família, e os alunos passam mais tempo na área hospitalar, a
população está envelhecendo e os alunos estão preparados para cuidar
dos idosos? Tem professor que acha que Saúde Pública é só prevenção, e
que Consulta é conversar para informar e que isto é mais fácil. Eu não
vejo assim e sei que muito pelo contrário. É um problema cultural
mesmo, que necessita ser estudado, e o currículo pode ser um caminho
porque a Consulta de Enfermagem é o agir do Enfermeiro.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Desculpa, eu falei demais, mas me senti à vontade. Muito obrigada pela
oportunidade. Se precisar de mais alguma coisa, você tem tudo meu, é só dar um
toque, estou para o que precisar e quem agradece sou eu.
NORMA – Enfermeira, docente, formada há mais ou menos 13 anos. Ensina os
graduandos a desenvolver a Consulta de Enfermagem para a mulher há 10 anos.
Programa Saúde da Mulher.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço, sim, desde 1991. Iniciei fazendo a Consulta de Enfermagem no
Projeto de Extensão Universitária, depois como Enfermeira da Secretaria
Municipal de Saúde e na docência, na sala de parto, acompanhando os
alunos. Foi aí que a gerente do Programa da Mulher, da Secretaria
Municipal de Saúde, nos convidou para atuarmos aqui, neste Centro
Municipal de Saúde com os alunos da graduação, e também
promovermos treinamento para as Enfermeiras recém-concursadas, para
atuar com a Consulta de Enfermagem. Isso aconteceu em 1993, no
Espaço Mulher. Veja bem, são dez anos atuando aqui no Posto de Saúde,
fazendo Consulta de Enfermagem para mulheres, ensinando aos alunos
de graduação e eu hoje faço diferente de como aprendi, mas por que? Os
Programas de Saúde facilitam a atuação da Enfermeira na Consulta.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Para mim, é muito estimulante ensinar a Consulta de Enfermagem, e
estou sempre motivada para aprender e ensinar a Consulta, porque eu
sou uma professora que acredita muito que a chave da nossa atuação é a
prevenção, e isso é viável de ser reproduzido. Dificuldades, temos
algumas como: a inexperiência do aluno em visualizar a pelves no toque,
a anatomia e a fisiologia que é ensinada e que, no momento da Consulta
de Enfermagem se faz necessário resgatar, até porque há uma
inadequação do ensino, porque os professores que ensinam essas
disciplinas não são Enfermeiras e você sabe, mesmo numa Escola de
Enfermagem cujo Currículo Novo está sendo implantado, os professores
continuam seguindo o Modelo Biomédico. Temos que levar em conta que
os nossos alunos são ainda adolescentes quando chegam à Universidade,
e falta experiência de vida, maturidade. Eu acho que neste ponto os
alunos das universidades particulares são diferentes, porque eles já são
técnicos, auxiliares de enfermagem, e são mais experientes e mais
amadurecidos, até porque a maioria já trabalha em hospitais, públicos e
particulares, e são pessoas mais velhas do que os nossos adolescentes
graduandos. Tem também a questão do tempo para desenvolvermos
habilidades em nossa aprendizagem. Eu tiro por mim, todos temos um
tempo para aprendermos, que é só nosso, e que não é padronizado. É
freqüente o aluno que está já formado, trabalhando, voltar aqui no
Centro Municipal e vir ao setor pedir para tirar dúvidas no exame físico,
sobre determinadas condutas como medicamentos, saber se podem ser
prescritos, etc... principalmente aqueles que hoje estão atuando no
Programa de Saúde da Família que, hoje, já é uma constante, porque
engloba todos os outros programas. Aí você tem que explicar que
podemos, sim, que isso já foi discutido e acordado. É a tal coisa, eles
fizeram o estágio, viram tudo isso, mas na ocasião que estão atuando, o
olhar é diferente, é o tempo que necessitam para o desenvolvimento das
habilidades. É isso.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Tenho em vista ampliar ao número de Enfermeiras desenvlvendo essa
atividade na vida profissional, porque acredito que a Consulta de
Enfermagem possa influir na transformação dos atuais índices de
mortalidade e morbidade. Eu trabalho com Mulheres, na prevenção do
câncer de mama e do colo de útero, e cada mulher é um mundo à parte.
Outro dia, entrei no ‘site’ do Instituto Nacional de Câncer e vi que o Rio
de Janeiro vem despontando em primeiro lugar, e com larga margem de
novos casos, a cada ano. É assustador. Ah, estamos implantando a
Consulta de Enfermagem coletiva. Reuno os grupos de mulheres e inicio
falando como em uma rodada de conversa sobre saúde, sua importância,
etc... deixo que elas falem, opinem, contem suas vivências, porque às
vezes, algumas são mais tímidas, mais descompensadas e se sentem
mais intimidadas quando estão sozinhas, e no grupo elas desinibem,
porque passam a ver que podem trocar com as outras. Os alunos ficam
perplexos, gostam porque identificam a autonomia da Enfermeira
desenvolvendo novas metodologias como a Consulta individual e coletiva.
Eu acho muito bom que o aluno possa ver que a cada mulher há uma
coisa nova, cada mulher é uma coisa nova. Já treinamos muitas
Enfermeiras que se tornam aptas a desenvolver a Consulta de
Enfermagem, e se queixam que estão com muitas atividades
administrativas, e alegam que o Consultório toma muito tempo. Acho que
toma mesmo, e necessita de muito envolvimento, estudar, se informar
sobre tudo que acontece, depende também de cada uma de nós. Neste
Centro Municipal tem Enfermeiras Assistenciais que desenvolvem bem a
Consulta de Enfermagem. Eu considero a Consulta de Enfermagem um
grande instrumento de trabalho da Enfermeira, é a modalidade do cuidar
do cliente. Acho que falei demais, mas é isso, é um aprender constante,
comigo é assim e com eles também será. O importante é fazer e estudar.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não, mas quero assistir a defesa. Se precisar de alguma coisa, é só
telefonar lá para casa, celular ou aqui no Posto. Você sabe, foi com muito prazer que
respondi e me sinto honrada.
Pesquisadora: Obrigado.
PAULA – Enfermeira, docente, formada há 14 anos, dez anos ensinando, sempre
atuou na Consulta. Programa de Tuberculose.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço sim. Eu desenvolvo dentro da atividade de pesquisa do Programa de
Tuberculose. Eu também, quando era professora da AFE, ensinava aos
alunos a Consulta de Enfermagem nos Programas de Saúde. Também,
nos ensinos clínicos, eu ensino a Consulta. Publicamos um trabalho com
os alunos que gosto muito do título: “O quente antes do frio”, que fala da
experiência da Consulta no pré-operatório. O quente são as orientações
específicas para a cirurgia e após operação; o frio é a cirurgia em si, que
o doente não tem voz. (sorrisos). Estou formada há quatorze anos. São
dez anos ensinando.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto muito e procuro mostrar que é a atividade da Enfermeira,
porque é a ação autônoma, você trabalha com o cliente, com a família,
com a comunidade e com a equipe de saúde. No Programa da
Tuberculose, tudo fica por nossa conta, o cliente nem precisa da consulta
médica, só se tem algum problema. A Enfermeira é quem faz e vê tudo.
Tem os protocolos, mas você é quem decide com o cliente. É muito
interessante, porque você pode mostrar para o aluno que cada pessoa é
uma pessoa, apesar de várias pessoas terem o mesmo diagnóstico. Nós
atendemos alcoólatras, traficantes, marginais, gente de todo tipo, e cada
um tem a sua forma de viver a sua vida. É uma pena que ao ensinarmos
aos nossos alunos, eles convivam durante todo o curso, na maioria das
vezes só com pessoas carentes, mas nos Programas de Tuberculose,
Hanseníase, AIDS, toda população recebe os medicamentos através dos
Postos, Unidades de Assistência do Governo. Aí, você vê como a
população independente do nível social, tem dificuldades em aceitar um
diagnóstico deste tipo. É claro que a assimilação das orientações,
condutas, acontecem de forma diferente, mas todos levam algum tempo
para ser portador de alguma doença. A Enfermeira trabalha até isso. Eu,
quando fiquei grávida, e ia às consultas médicas, nunca a médica
examinou meu seio. Veja você só. Aí, eu ficava pensando, será que é
porque ela sabe que eu sou Enfermeira? Eu acho que não, é porque o
médico se detém em outros aspectos. Na verdade, nós complementamos
todo o resto. No meu curso de Graduação, eu aprendi a desenvolver um
pouco da Consulta de Enfermagem no pré-natal, no setor de tuberculose,
e era diferente demais, os Programas não eram integrados, era diferente,
mas eu aprimorei minha atuação na vida prática quando fiz o curso de
Epidemiologia Sanitária na Escola Nacional de Saúde Pública e, veja só,
eu sou do Departamento Médico-Cirúrgico. Depois, quando fui
desenvolver o meu trabalho de mestrado, fiz um acordo com a Chefe do
Setor de Tuberculose, porque não havia Enfermeira no setor. Eu fiz os
atendimentos e em troca, colhi os dados da minha pesquisa. Isso foi de
1997 à 99. Foi uma experiência muito boa. É um trabalho de equipe. Tem
que ser. Depois, ganhei uma bolsa de estudos pela Johns Hopkins
University, aí já em função da pesquisa que hoje faço parte. Eu acho
assim, o aluno precisa conhecer os Programas, atuar com a Consulta para
que ele possa ter idéia e compromisso com e como se aprimorar. Porque
só com o que nos é dado não podemos dar qualidade para os clientes, e
eu considero a Consulta uma modalidade de ensinar a cuidar, a ver o
outro com as suas necessidades, e eles falam para nós das suas
necessidades. É a nossa assistência pessoal. É um aprender diário com
todos a cuidar.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Que na vida profissional os nossos alunos não sejam mecanicistas,
exerçam as suas funções conscientes de suas responsabilidades e tenham
compromisso com os clientes e de continuidade da ação. Eu vim para o
ensino porque eu não estava satisfeita com a prestação de assistência,
com a prática embora a Consulta de Enfermagem sempre fez parte da
minha atuação. Eu acho importante os cursos de Especialização para o
aprimoramento, aprendizagem da Enfermeira, mas o que a gente vê é
que as pessoas se especializam, fazem mestrado e ficam longe da
prática. Aí não dá porque eu tenho uma parceria com as Enfermeiras
assistenciais. Elas têm medo de escrever, de apresentar trabalhos, mas
elas sabem muito, só precisam de parceria. Então, precisamos
desenvolver os trabalhos juntas, eu, elas e os alunos. Você veja, nós
temos 450 casos de contatos com a Tuberculose na pesquisa, precisamos
divulgar esse trabalho, mas é uma pesquisa conjunta. É isso que eu
penso, temos que nos integrarmos, o docente com o seu saber
acadêmico, e o Enfermeiro assistencial. Os Programas facilitam o agir da
Enfermeira e faz com que possamos atender a todas as classes sociais. É
assim no da Tuberculose. Eu tenho pessoas de bom nível intelectual. A
doença aparece para todo mundo e as pessoas precisam ser tratadas
como pessoas únicas, e estimuladas a continuar vivendo. É isso,
compromisso, aceitação do outro, competência para que a autonomia que
a Consulta de Enfermagem propicia não seja vista de forma pessoal,
como é até hoje, mas da profissão Enfermeiro. Aí, eu não sei se é o
currículo dos Cursos de Enfermagem, acho que são os professores que
precisam ensinar aos alunos durante o curso a fazer a Consulta, não só
em um momento, porque fica um ensino dissociado, acontece na Saúde
Pública e depois vai depender de outro professor. O pessoal faz ações
educativas, sala de espera, muitas outras atividades. O aluno passa no
campo de estágio, uns cinco dias fazendo Consulta, é muito pouco. Vai
para a vida profissional e aí fica assustado. O Programa de Saúde da
Família agora é uma estratégia da prestação de assistência, eu tenho
muitas dúvidas se os Enfermeiros estão indo trabalhar por opção,
conhecimento para desenvolver as ações ou se é oportunidade de
emprego. Fico na dúvida, porque vamos continuar com uma atuação
pessoal, e não profissional. É isso que eu penso.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não, acho que já falei tudo. Gostei muito de participar. Fala da defesa
para nós estarmos lá.
Pesquisadora: Lógico! Obrigado.
SANDRA – Enfermeira docente, 25 anos de formada, há 15 faz Consulta de
Enfermagem, sendo 7 na Gerontologia.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim, desenvolvo sim, no Programa de Gerontologia, e acompanho os
alunos no período de estágio neste campo e mantenho o campo há sete
anos e muitos outros na Consulta, uns vinte anos ao todo. É?
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- É um prazer fazer isso. Eu digo porque: primeiro, para o aluno, quando
chega no estágio, ele aprende a ser Enfermeiro, percebe a autonomia da
atividade, ele aprende a conhecer esse sujeito, com suas especificidades
no Programa de Geriatria. É um mundo à parte, a Geriatria. Segundo, é
um momento de aprendizagem para o professor e para a enfermeira e
para todos. Eu aprendo muito, mas muito mesmo. Eu aprendi a fazer
Consulta de Enfermagem no curso de Graduação, mas era diferente, hoje
é outra coisa. Mas, para mim, não foi marcante, eu acho que estava com
outras preocupações técnicas, eu acho que era isso... só com o passar
das minhas experiências profissionais é que descobri que é a atividade
que dá a cara do Enfermeiro. Também, depende de quem ensina, não é?
Para mim, é assim, eu gosto de ensinar e considero uma estratégia
didática de ensinar a cuidar dos pacientes para os alunos.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Primeiro, sensibilizar o aluno para a atividade que é própria do
Enfermeiro. Instrumentalizá-lo para a vida profissional. Eu quero que eles
possam aprender a lidar com os diversos grupos da sociedade...
particularmente na Consulta de Enfermagem para o Idoso, eu acho muito
pouco tempo, porque são muitas coisas para serem vistas. O idoso é um
mundo de coisas. Na opinião dos alunos, eles necessitam de mais tempo
no setor, durante o curso. Eu acho também. Eu procuro mostrar para eles
que a Consulta está atrelada a uma teoria ou várias teorias, e isso se
perde ao longo do curso, acho que não tem continuidade no currículo.
Eles sempre solicitam uma volta para o setor, mas você sabe, nós não
temos tempo e eu não tenho disponibilidade, não podemos contemplar.
Penso que os cursos de especialização favorecem esse aprimoramento,
não é? Ah, eu percebo que os Enfermeiros não fazem a atividade por
medo do exame físico, dos conteúdos da Consulta, principalmente os
Enfermeiros da rede básica. Eu acho que através dos cursos de
atualização, extensão, abrangeríamos essa demanda, porque o que não
dá é que uns fazem, e outros não. Agora, sem fazer, não dá para ensinar.
Eu nunca tive essa dificuldade, mas eu sempre atuei na prática e isso eu
acho que faz a diferença, porque ensinar a alguém a ser profissional é
difícil, e a Consulta também é.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Eu quero dizer que eu considero da maior relevância o seu estudo. Faz
uma chamada para a reflexão. Só ao responder as perguntas, eu já repensei umas
tantas coisas. Eu acho isso, temos que rever este ensino da Consulta. Eu adorei.
Obrigado. Estarei na defesa.
Pesquisadora: Claro! Obrigado.
SOLANGE – Enfermeira, docente, formada há 9 anos. Ensina aos graduandos de
Enfermagem no Setor de Imunização há 3 meses, mas faz Consulta de Enfermagem
há 3 anos.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Eu considero que faço, porque a Consulta de Enfermagem é como a
Enfermeira atua. Neste setor, eu não faço uma Consulta completa, mas
eu ensino ao aluno a fazer as observações devidas, a identificar se a
criança está com febre, se tem manchas na pele, se tem alergias, as
reações que podem ocorrer, orientar as mães ou responsáveis, aplicar as
vacinas, o esquema de Imunização que é preconizado pelo Ministério da
Saúde, a preencher os formulários e as cadernetas de vacinas. Eu fiz o
curso de mestrado na Escola Nacional de Saúde Pública, e trabalhava
antes com Epidemiologia e já trabalhei durante dois anos na favela, com
crianças e adolescentes, e eu fazia Consulta, dava orientações específicas
e prestava assistência. Agora, estou acompanhando os alunos há apenas
três meses neste setor.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto. É uma experiência satisfatória. Como trabalhei com
Epidemiologia, incentivo sempre o olhar de bom observador, de
investigador, para tomar providências adequadas para cada caso, e, para
isso, é importante deixar o paciente à vontade. Faço com prazer. Eu não
aprendi como estou ensinando. Eu acho também que você vai
aprimorando e o aluno não consegue enxergar a importância ainda. Só
depois, com a prática.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Na vida profissional, continuidade da profissão, porque a Consulta de
Enfermagem faz parte da atuação da Enfermeira. É uma prática para
ajudar a modificar os comportamentos. Pena que nem todos façam a
Consulta de Enfermagem porque não conseguem se desvencilhar das
outras atividades administrativas. Só que eu acho que o aluno tem que
aprender que vai necessitar estudar, se especializar e se dedicar sempre
para dar o melhor que possa ao cliente ou paciente. Penso que os
currículos deveriam dar mais atenção à Consulta. O mercado de trabalho
vem atentando para os trabalhos autônomos e a Consulta é direcionada
pela Enfermeira, de acordo com as necessidades que os pacientes
apontam. É a maneira do aluno aprender a atuar na profissão, com
autonomia, e do professor ensinar ao aluno a modalidade de ensinar a
prestar cuidados.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Acho que respondi e agradeço por poder participar.
Pesquisadora: Obrigado.
SUSANA – Enfermeira, docente, formada há vinte e tantos anos. Faz Consulta de
Enfermagem há muitos anos, mas no Programa de Reabilitação do Alcoolismo e
Outras Drogas, desde 1999.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço, desde 1999 no Centro de Estudos de Prevenção e Reabilitação do
Alcoolismo e outras Drogas. Acompanho os alunos e também mantenho o
campo com a enfermeira assistencial. Veja bem, é um Centro de Estudos,
logo, os atendimentos são constantes, independente do período de
estágio dos alunos. Eu faço parte do Grupo do Centro de Estudos. Só que
trabalhei outros tantos anos, muitos, na assistência, e aprendi muito e foi
o que me deu base.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem.
- É gratificante, os alunos gostam, se sentem satisfeitos e a contribuição da
Consulta de Enfermagem é efetiva, porque nós conseguimos ajudar na
manutenção da saúde dos clientes e na abstinência do álcool e/ou
drogas. Auxiliamos na promoção da saúde (...) são dadas informações
aos clientes e a sua família. Temos um protocolo de registro da Consulta,
mas eu acho que a Consulta não está restrita a esse protocolo. Ela vai
além de dados e de fichamento específicos do protocolo. Eu não estou
satisfeita. Gostaria de participar de um grupo de estudos sobre a
Consulta de Enfermagem na nossa Escola... não seria bom? (sorrisos).
Este corpo de conhecimento na área de Alcoologia e Drogadição tem uma
demanda reprimida e é necessário que possamos ampliar e criar esse
mercado de trabalho para a Enfermeira. Os donos das clínicas de
tratamento e reabilitação têm procurado o CEPRAL porque precisam de
profissionais, Enfermeiros com esta capacitação. Evidentemente, à
medida que o Enfermeiro tenha Especialidade na área, ele vai
desenvolver a Consulta de Enfermagem mais dentro da realidade. A
Clínica de Vassouras está esperando um Enfermeiro para atuar. O
Enfermeiro, antigamente, só era contratado para atuar no
assistencialismo, nós não aprendemos a fazer Consulta, aprendi no grito.
Atualmente, com a Consulta de Enfermagem, eles estão querendo
contratar a Enfermeira para a manutenção, reabilitação do cliente
alcoolista e/ou usuário de outras drogas. A Enfermeira tem autonomia e
participa dos grupos multidisciplinares e interdisciplinares. No Programa,
a Consulta de Enfermagem é realizada mês sim, mês não, intercalada
com a Consulta Médica. A Enfermeira prescreve exames complementares
a exemplo dos Programas do Ministério da Saúde, repete-se a receita do
paciente, Programas de Doenças Crônicas e Degenerativas, Diabetes,
Hipertensão, Hanseníase, Tuberculose e outros. Faz encaminhamentos
para os outros profissionais. É assim: ele passa por todos os profissionais
e é na nossa consulta que verificamos se está sendo tratado
holisticamente. É assim, a Consulta de Enfermagem é um elo do
tratamento e da reabiitação. Isso é muito sofrido porque eu fico muito,
muito preocupada com esse paciente, qualquer insatisfação ele volta tudo
ao zero, são idas e vindas sempre. Você tem que controlar as ansiedades,
eu fico muito, muito ansiosa. São muitas coisas que interferem. Eu acho
muito pouco tempo para a aprendizagem, só dá para uma vaga noção e o
aluno tem que ter um tempo para isso. Eles passam quatro dias no
campo e oito horas de teoria. Eu considero, eu vejo a Consulta, ela é o
‘boom’, o ‘boom’ da atuação da Enfermeira, é um aprender muito grande,
porque cada pessoa tem um ensinamento, é aprender e ensinar e
aprender, todo dia.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tenho em vista que eles vejam a importância da autonomia da
Enfermeira. Eu estou estudando para que daqui a algum tempo, o
Enfermeiro através do conhecimento adquirido com este saber, possa ter
a sua autonomia, através da Consulta de Enfermagem e possam atender
a clientela junto com a Equipe de Saúde. Eu vejo o mercado de trabalho
que se abre para essa possibilidade da Consulta na vida profissional e a
continuidade da profissão. Para isso, é preciso desenvolvermos essa
estratégia de ensinar a cuidar bem dos clientes aos nossos alunos que a
Consulta nos possibilita hoje.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa mais?
Entrevistada: Só que eu agradeço muito por participar do seu estudo. É muito prazer
para mim. Eu quero que você saiba disso. É muito relevante. Foi muito bom.
Pesquisadora: Obrigado. Você é uma estrelinha desse Programa.
VICTÓRIA - Enfermeira, docente, formada há treze anos. Faz Consulta no Programa
de Diabetes e Hipertensão há oito anos.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço. Acompanho os alunos nos campos de estágios e a Enfermeira
responsável pelo setor ou pelo Programa participa, dividindo o espaço e
participando do treinamento, das dúvidas dos alunos, de como é no dia-
a-dia.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfermagem
aos graduandos de Enfermagem.
- Como é para mim (...) Olha, eu gosto e acredito que através da Consulta
você ensina e aprende muito com os clientes, porque você ouve e à
vezes você ouve coisas e mais coisas que nem pensou que iria ouvir,
porque não é sobre a patologia, os remédios, o que os médicos não
fizeram ou como fizeram, são coisas muito subjetivas, lá de dentro da
pessoa. Na Consulta, embora ela seja uma atividade científica (...) a
Enfermeira tem que ser gente, ela não pode ter preconceitos, tem que
trabalhar com a percepção, é pessoal. Aí, você se envolve e o tratamento
acontece. (pausa) Eu acho que nem todos fazem a Consulta porque
precisa de tempo, de conhecimentos além dos científicos e técnicos. Vejo
que os alunos gostam do setor e participam mas ainda estão querendo os
roteiros, tudo escrito no papel. Digo, Consulta não se faz no papel, papel
é conseqüência. Só vemos o outro se estivermos querendo vê-lo, não é?
Você fica sempre repetindo a mesma coisa, até porque eu sei que mais
tarde, ele vai valorizar a Consulta. Eles ficam muito mais tempo no
hospital, e eu acho que saber mexer com máquinas, agulhas, neste
momento é o que eles pensam ser necessário. Eu não ensino hoje a
Consulta que aprendi, porque não era desse jeito, e quando se passava
pelos setores, você assistia, orientava, fazia curativos e, e... Eu não
aprendi mesmo e aí a necessidade obriga a buscar o conhecimento. Eu
me preocupo que eles não saiam sem saber mas depende deles, e se
todos os professores dessem continuidade, só que não é assim (pausa)
dá trabalho Eu não acho fácil fazer e nem ensinar a fazer a Consulta, mas
para mim é muito prazeroso, é muito mais do que as técnicas, é pessoal
demais. O currículo deveria dar prioridade à área de Saúde Pública, o PSF
está aí e precisamos preparar o nosso ensino, então rever e ajustar o
currículo para sair do enfoque tecnicista.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Algumas coisas eu almejo... eu acho que é a prática profissional, nossa,
e cada vez tem que ser continuada. A Enfermagem ganhou uma certa
posição com as Consultas, o retorno dos clientes é rápido, a equipe de
saúde acredita e os médicos nem se fala, eu penso que as Enfermeiras
alegam que fazem muitas coisas... é verdade, elas trabalham muito e
atualmente você tem que estudar, se especializar, e trabalhar para
sobreviver... um campo que sempre está precisando é a área de ensino...
tem muita Enfermeira dando aula nas Escolas. Tem Escola que prioriza
Enfermeiro com experiência na prática. Porque os mestres e doutores,
nem todos atuam na prática. Isto é outra coisa que tento mostrar ao
aluno, se ele não unir teoria e prática, fica complicado. Os nossos alunos
fazem muitas coisas e eu acho que isso descompromete. É tudo
rapidinho, tudo pronto. O comportamento das pessoas está muito
diferente, e aí eu fico pensando: como é a valorização do ser humano
para essas pessoas? A Consulta é uma ação que está direcionada para
mudança de comportamento. A pessoa chega doente, com medo,
desvalorizada, às vezes abandonada, com problemas sociais, físicos,
emocionais, com tudo que pode de ruim espera a vez de ser atendida e
nem sempre é quando precisa. Aí, a Consulta acontece e precisa mudar
tudo isso através do que a Enfermeira faz para a partir dalí, possa se
sentir capaz de continuar vivendo... Nossa, isso é tudo. Eu acho que
temos um lugarzinho reservado (sorrisos). É difícil que os alunos
consigam isso, acho difícil ensinar, é tudo particular demais. Já falei do
aluno, do cliente.. Ah, eu vejo que hoje, a Consulta é uma modalidade de
cuidar já comprovada e tem que estar no Currículo. Ela dá autonomia ao
Enfermeiro para decidir, encaminhar, solicitar Parecer, o aluno tem que
aprender isso.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Eu falei o que quis. Agora só se você achar que precisa.
Pesquisadora: Obrigada.
ENTREVISTAS
ANA – Professora, 16 anos de formada, há 15 anos faz Consulta de Enferma-
gem, sempre no Programa da Mulher – Ciclo Gravídico.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço, com os alunos de graduação, ensinando a atividade e sem os
alunos, cumprindo o agendamento. O importante é o vínculo com o
cliente e o professor, tem que manter isso para ensinar. Eu faço há
quinze anos, desde que formei, e eu só trabalhei durante quatro me-
ses em Enfermagem do Trabalho, depois só trabalhei com a Consulta
de Enfermagem e no Programa da Mulher.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Ah, pelo aspecto pessoal, tenho prazer em realizar e ensinar... do
ponto de vista profissional, diretamente atendendo a mulher no ciclo
gravídico-puerperal, eu considero a atividade de extrema importância
no sentido de assegurar o desenvolvimento da gestação com o menor
número de intercorrências possíveis... não esquecendo de atender as
peculiaridades de cada uma em particular, e é esse conceito que pro-
curo passar para os alunos. Eu considero isso importante... Eu tive
oportunidade de aprender as bases do acompanhamento pré-natal no
curso de graduação, porque uma professora X me ensinou, desta-
cando as alterações fisiológicas, anatômicas, os fatores de risco e a
rotina de atendimento à gestante, conforme as normas do serviço, e
depois através das normas criadas pelo Ministério da Saúde, em
1984. A partir daí, eu senti necessidade de adaptar o atendimento,
considerando também a contextualização de cada cliente dentro do
seu meio. (Foi em 1984? Por aí...). Agora, isso se deu mediante aos
meus estudos, aos cursos que fiz nesta área de conhecimento. Ago-
ra, os protocolos, eu acho que é muito mais para dar uma ordem...
mas a Consulta de Enfermagem é muito mais que isso, e depende do
profissional e da estrutura do serviço... eu acho que a Consulta de
Enfermagem que é ensinada ainda não é suficiente, porque eu vejo
profissionais ainda com medo de realizar a Consulta de Enfermagem.
Também não sei se tem continuidade nos vários campos, eu acho
que isso atrapalha. O modelo de saúde é Biomédico, mas os alunos
ouvem e comentam que as clientes vêm diferenças nas Consultas
médicas e de enfermagem. Agora, eu não sei se elas sabem identifi-
car quem é o médico ou se é médico ou não, porque elas nos cha-
mam de doutoras mesmo sabendo que somos enfermeiras. Ah, ‘pera
aí’, eu aprendi muito no Centro de Pesquisas X, até mesmo a traba-
lhar em equipe, cada um tendo o seu papel, autonomia, decisão, isso
foi fundamental na minha vida profissional, até hoje no que ensino.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Basicamente, os princípios técnicos envolvidos na Fisiologia, para
que eles saibam identificar quaisquer fatores que indiquem risco, to-
dos os procedimentos relacionados à qualidade de vida da gestante e
do concepto, tomar sol no seio, alimentação, a questão das orienta-
ções que as gestantes precisam ter... às vezes, elas não pedem, mas
você identifica que necessitam ter e tem as que pedem, e aí a gente
fala das modificações do organismo e as psicológicas que podem o-
correr no período gestacional, não só com ela, mas com a família...
precisamos colocar todo mundo nesse bolo. Ah, tem atividade de sala
de espera, onde trabalhamos com as orientações à saúde, direitos,
deveres e cuidados com os bebês. Temos o toque terapêutico, mas-
sagem, relaxamento, dinâmicas de grupo, onde procuramos fazer
com que a cliente possa se colocar sobre o momento que está viven-
do. Eu procuro passar para o aluno a postura profissional adequada
para ele dar continuidade profissional, bem como o trato com a clien-
tela, e acho que aquele que quer aprofundar deve se especializar,
porque os currículos não contemplam o necessário, eles dão o míni-
mo e para o atendimento de qualidade é necessário aperfeiçoar-se e
gostar, sem gostar não adianta... com essa coisa do Programa de
Saúde da Família, se abriram portas e também essa Filosofia de Hu-
manização do parto, algumas instituições estão valorizando a Enfer-
meira Obstetra. Eu acho que a Consulta de Enfermagem, de todas as
atividades desenvolvidas pela Enfermeira, a Consulta é a que mais
oferece liberdade, independência de atuar de forma resolutiva, autô-
noma. Depende da Enfermeira o diagnóstico, a intervenção e o a-
companhamento, considerando-se os limites da nossa área de co-
nhecimento e a percepção da necessidade de encaminhar esta clien-
te para outro profissional, quando se fizer necessário. É disso que o
aluno precisa e, principalmente, passar para ele essa coisa da auto-
nomia... porque é ele e o cliente, as portas fechadas, e ele tem que
dar conta, isso dá medo e requer um constante estudo, reciclagem e
aprimoramento na vida profissional. O currículo precisa ser revisto
nos seus conteúdos porque as exigências são outras, e será que os
alunos estão sendo preparados?
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Só agradecer a você por este momento. Foi tão bom...
Pesquisadora: Obrigado, digo eu.
ELIZABETHE – Enfermeira, docente, formada há quatorze anos; dez de
Consulta de Enfermagem e há quatro anos e meio nos setores de Diabetes,
Hiperptensão e Tuberculose.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço sim, com os alunos no campo de estágio dos Programas de Di-
abetes Mellitus, Hipertensão e Tuberculose. Os grupos são de seis a
oito alunos, e passam de três a quatro semanas nos setores.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Bom, como eu ensino e aprendo... ah! Professora fala sempre um
pouquinho sobre tudo, não é assim? Nós fazemos sala de espera e é
aí que você já observa o cliente, e aí já introduz as orientações, já es-
timula a participação dele para tirar dúvidas sobre qualquer coisa, eu
acho isso importante, tanto para o cliente como para o aluno. Depois,
já na Consulta, no primeiro momento eu avalio as medicações, faço
exame físico, ausculta pulmonar, cardíaca, se sente dor, avaliação da
pele, gânglios, etc... Eu mesma montei um instrumento e fui eu quem
fiz esse instrumento para facilitar os passos da Consulta de Enferma-
gem para o aluno, eu considero que facilita a aprendizagem para e-
les, que estão iniciando. O importante é a visão de todo do paciente.
Às vezes, o paciente está no Programa de Hipertensão, mas você i-
dentifica outras patologias, Hansen, Tuberculose. A Consulta de En-
fermagem não é fechada, a Enfermeira tem autonomia para avaliação
ampla e de fazer encaminhamentos para outros profissionais, outros
serviços, e até para outros Programas. Não é fechada a um Progra-
ma, e sim possibilita a outros achados para a qualidade de vida do
cliente. Eu vejo que os Programas facilitaram muito a Consulta de En-
fermagem e aí, a atuação do Enfermeiro ficou mais visível para todos
da Equipe de Saúde e hoje, quem faz Consulta, tem seu trabalho re-
conhecido. Antes, não era assim, eu não aprendi no meu curso de
graduação como eu ensino. Os Programas facilitam e todos aceitam
bem, isso é bom para nós, mas ainda somos poucos. Eu considero
que o currículo de Graduação novo, hoje pode ser revisto para que
estejamos mais dentro da realidade da Saúde que está ruim, tanto
pública como particular.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tento não perder de vista a visão de todo do paciente, e que cada
um é uma história. O aluno tem que aprender isso: o Enfermeiro vê o
cliente como um todo. Aí, se as mulheres diabéticas, hipertensas ou
do Programa de Tuberculose não vão ao ginecologista, não pode,
tem que ser incentivada a fazer o preventivo e procuro chamar aten-
ção do aluno para não perder de vista a queixa principal do cliente,
mas não esquecer de vê-lo como um todo e um ser. O aluno deve
diminuir a sobrecarga do cliente, porque dependendo do problema do
paciente, o interesse do aluno pode despertar o olhar crítico para os
sinais e sintomas, e uma avaliação para um diagnóstico correto e
mais rápido. Outro aspecto que me preocupa é a postura do aluno.
Antigamente, o aluno era muito generalista. Hoje, o aluno já chega
com a diferença, ele chega com a prioridade na rede pública, na Saú-
de Pública, e outros já preferem a área hospitalar. Os que não têm
tanto interesse pelo cuidar na Saúde Pública, você pode despertar in-
teresses e aí o aluno não se sente tão tarefeiro. A rede básica é muito
importante porque você lida com a família. Na avaliação dos alunos,
eu pergunto: Como vocês se sentiram na Consulta de Enfermagem?
E aí, eles respondem: Puxa, professora, consegui encaminhar para
ginecologista, oftalmologista, me senti importante e autônomo. Eu a-
cho o perfil do aluno importante porque quem gosta, faz bem. A rede
básica dá autonomia e as clientes dizem obrigado doutor. Isso é con-
fortante. Já tivemos clientes que chegam e não querem ir para os
médicos e preferem ficar com a Enfermeira, e o aluno se sente vaido-
so. Isso tem sido dito na sala de espera no Programa de Diabetes e
Hipertensão. Isso é muito gostoso. Ah, eu também tenho em vista que
eles na vida profissional não fiquem restritos aos protocolos e aos ro-
teiros, mas nesse momento, para nós, professores, eu considero que
fica mais didático. Não pode ser rígido, senão o aluno fica perdido. O
roteiro favorece seqüência lógica. O professor não precisa interferir e
aí o cliente vê o aluno com outro olhar. O instrumento facilita, o aluno
está aprendendo e o cliente percebe ser fonte desse estudo. Eu acho
que eles deverão atuar na Enfermagem fazendo a Consulta sem me-
do, e que estudem para cada vez fazer melhor, porque ela é uma
modalidade de ensinar o aluno para, na vida profissional, cuida dos
clientes.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Só que você tem todos os meus números e endereços, qualquer
coisa, é só pedir. Gostei muito.
Pesquisadora: Obrigado, pode deixar.
FABÍOLA – Enfermeira assistencial, formada há 7 anos, atuando no Progra-
ma de Diabetes e Hipertensão há 1 ano e meio.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim, eu faço a Consulta de Enfermagem aqui no Posto para os clien-
tes portadores de Diabetes e Hipertensão, e participo do estágio dos
alunos de enfermagem demonstrando a minha atuação com os clien-
tes, tiro as dúvidas, oriento como os pacientes devem ser atendidos
nos consultórios. Não dou aulas formais sobre os conteúdos, isso são
os professores que fazem, mas há sempre um complemento na oca-
sião da prática, ou melhor, não dá para separar as duas quando se
está atendendo clientes.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Embora eu goste de ensinar, é o meu jeito de ser, eu estou sempre
fazendo alguma coisa para alguém, no intuito de passar o que eu a-
prendi e aprendo, e nunca acho que sei, mas estou tentando. Ah, eu
costo mesmo de ensinar ou (sorrisos) participar do ensino da Consul-
ta. Só que eu acho difícil ensinar a Consulta, porque os alunos que-
rem tudo pronto, roteiro, papel escrito como modelo rígido para ser
seguido, e eles nunca se comprometem com nada do tipo: isso não
foi falado, às vezes, você precisa ser astuta para não cair na armadi-
lha. Eu não dou roteiros prontos, já bastam os protocolos de cada
Programa que você precisa fazer as respectivas anotações. Além dis-
so, para realizar a Consulta, o aluno necessita de conhecimentos ad-
quiridos através do currículo, como: Anatomia, Fisiologia, Farmacolo-
gia, Parasitologia, Ética, Fundamentos, Teorias de Enfermagem e
Clínica e tudo mais, e mais (...) Não podemos deixar de lembrar que
tudo isso tem que ser com a visão do Enfermeiro para que possam
entender como se dá o Processo de Enfermagem. Eu acho importan-
te apreender a metodologia da Consulta de Enfermagem porque isso
é que vai torná-la científica. A Consulta depende muito de quem a faz,
e para quem se faz. É muito pessoal. Mesmo quando você está de-
senvolvendo atividade através de um grupo de pessoas e elas estão
fazendo trocas de conhecimentos, é pessoal. É confidencial!! Eu acho
que cada Enfermeira tem uma visão sua de como agir, que vai muito
além do que é específico de um Programa de Saúde, como exame fí-
sico, verificação de pressão arterial, medicamentos, etc... daí, eu a-
cho difícil ensinar a fazer a Consulta, embora goste. Ensinar Consulta
de Enfermagem não é ensinar teorias e técnicas e ações educativas
somente. Você tem que sensibilizar o aluno para que ele possa sentir
a importância do que é o agir profissional do Enfermeiro. Agora, você
sensibilizar alguém pelo valor do seu trabalho é difícil, e se isso não
acontece, ele não vai saber aplicar. A Consulta é dinâmica, eu acredi-
to em energias, em objetivos. Também o que dificulta é porque quem
faz, ou melhor, quem executa ou faz valer o currículo são os profes-
sores e há prioridade para a área hospitalar, até pelas disciplinas,
conteúdos. É cultural isso. Eu acho que necessita ser revisto e parece
que o SUS, apesar de não priorizar a prevenção, dá um certo apoio
aos Programas de Saúde, não é? Você entendeu? Eu disse que o
Sistema Único de Saúde não tem nada com a Consulta, mas sim com
os Programas, será que é isso? Eu não vejo os alunos serem prepa-
rados para atuarem no novo mercado que é o PSF, que engloba to-
dos os Programas, e aí eu acho difícil ensinar tudo isso, mas tenho
prazer, é isso. A prática e a teoria têm que caminhar juntas, é pelo
saber realizar que os Programas de Saúde conferem autonomia às
Enfermeiras.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tenho em vista sensibilizá-los e fazê-los entender de alguma forma
qual é o seu papel como Enfermeiro, na sociedade. Eu fico muito frus-
trada quando o aluno reduz a atuação do enfermeiro a técnicas, a ro-
teiros e a conversas com o cliente. Daí, eu fico achando que tem al-
guma coisa que não é passado para eles, e eu não sei o que é. De-
pois eu acho que poucos professores aprenderam a realizar a Con-
sulta no curso de graduação, e na vida profissional você necessita
exercitar essa prática, e não só tem que ser nos ambulatórios, e aí
necessita estudar, se especializar, para atender as clientes o melhor
que se possa. Eu acho que hoje as pessoas estão muito autoritárias,
vaidosas e críticas, mas só sabem dizer que isso ou aquilo é ruim, e
se repete que ‘tá’ tudo ruim e pronto. E não é isso que é crítica para
transformar alguma coisa. As coisas não são assim. Não dá para di-
zer que está tudo ruim e pronto, e sem tentar conquistar algum ga-
nho. Eu acho que tudo na vida é uma conquista, e isso não se conse-
gue com autoridade. Você tem que conquistar o aluno, o aluno o pro-
fessor, o professor os enfermeiros e todos, o cliente. Você sabe, os
alunos hoje são diferentes, falta compromisso, respeito e querem tu-
do, tanto os da rede pública como os da particular, mas os da rede
particular são mais amadurecidos, porque a maioria já são técnicos e
auxiliares de enfermagem. Esse nosso salário não dá para não traba-
lhar noutro lugar, e dou aula na rede privada, disciplina de Fundamen-
tos, são cinquenta alunos com uma visão técnica, mas você sabe que
estudar as Teorias de Enfermagem, como NANDA, o Diagnóstico e o
Processo de Wanda Horta me clareou muito para o ensino da Consul-
ta para os alunos, aqui no Posto e na minha conduta. Já falei demais
(sorrisos). Eu acho que a Consulta é uma forma didática de ensinar a
ser enfermeiro.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Nossa! Só que faltou uma coisa: eu acho que nós que trabalha-
mos com a Consulta, precisamos ter fé em Deus, muita fé mesmo, porque é
difícil, exige muito, e ensinar alguém ser um profissional é muita responsabili-
dade. Chega. Obrigado, foi muito bom participar. Fiquei feliz.
Pesquisadora: Eu também. Obrigado mesmo.
GABRIELA – Enfermeira assistencial, formada há 23 anos, faz Consulta de
Enfermagem há 16 anos no Programa de Diabetes.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim. Atuo no Programa de Diabetes Mellitus desde 1987, início do
Censo sobre Diabetes, o único que houve até hoje, eu não sei de ou-
tro, e esta é a minha prática, sempre.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Na verdade, é uma satisfação, porque não é muito falado na Escola,
no curso de Graduação. O que se fala não mostra a dimensão e a
importância da Enfermeira, não é? Na nossa época foi assim, nin-
guém nos mostrou isso, nós aprendemos depois. Eu considero uma
modalidade de ensino porque faz com que os alunos aprendam a cui-
dar e, principalmente na área preventiva, se bem que é uma preven-
ção voltada para o não agravamento da doença. Eu costumo dizer
para os nossos clientes diabéticos que eles precisam pensar a longo
prazo e o aluno também investe no cuidado do cliente diabético a
longo prazo (sorrisos)... sai da beira do leito hospitalar que é uma as-
sistência complexa de maior grau de complexidade, e por isso expos-
ta a muitos outros profissionais. É a chance da Enfermeira trabalhar
com a Saúde da Comunidade e prevenir as doenças, porque doença
é muito ruim, algumas podemos prevenir, e por que não? A Consulta
de Enfermagem melhora a qualidade de vida do cliente... a Enfermei-
ra tem visão de todo, que é diferente do Médico. Ela cuida do cliente,
da pessoa como um todo, percebe as necessidades básicas do clien-
te, que é só dele, tem mais proximidade e ele fala, diz tudo o que sen-
te, às vezes é emocionante, e como nos ensinam! No leito, é diferen-
te, ele não diz muito, às vezes nada, é constrangedor em determina-
das situações. A Consulta tem feedback do cliente porque ele te diz o
que sente, o que melhorou para ele. Isso faz com que o aluno desper-
te para o papel do Enfermeiro em responder e solicitar pareceres, di-
agnósticos, tomar decisões, providências, encaminhamentos e reso-
luções, e usar da autonomia. Aqui, isso foi uma conquista nossa, não
foi? Tenho certeza que isto poderia estar previsto no currículo de En-
fermagem e como não está, é tudo muito rápido, muito rápido mesmo.
Consulta requer tempo, paciência e é muito elaborativa, tem que es-
tudar e se aprofundar no que está fazendo, vai muito além de desen-
volver técnicas, testes. Tem que estudar, e muito. Eu vejo que os cur-
rículos das Faculdades de Enfermagem precisam ser revistos porque
a prática, hoje, é junto com a teoria, e o SUS, embora valorize a área
hospitalar, a estratégia do Programa de Família dá emprego, e será
que os alunos estão sendo preparados?
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tenho em vista sempre, mas sempre, que os alunos possam dar
continuidade ao papel do Enfermeiro na vida profissional. Eu sei que
é muito, mas muito difícil resgatar Enfermeiro para a Consulta de En-
fermagem. É assim em todos os lugares. É muito difícil. Contar com a
colaboração é bom, tanto para o serviço quanto para o aluno, porque
com a presença dos alunos, os clientes são melhor atendidos e os a-
lunos aprendem com as experiências de todos nós, e nós aprende-
mos também. Agora, quando se formam e são escalados para a Con-
sulta, não querem fazer ou fazem mal feito, porque já esqueceram.
Isso é que não deve acontecer. A Consulta de Enfermagem não pode
ser algo pessoal, eu faço, você faz e outros, mas o que que é isso, os
Enfermeiros não fazem? Quem faz, tem que procurar estudar e se
especializar.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa mais?
Entrevistada: Você é quem sabe. Respondi? Só que eu fiquei feliz de ser lem-
brada no seu estudo. Sabe, eu fiquei pensando, enquanto respondia. O currícu-
lo tem que dar mais importância à Consulta, não é?
Pesquisadora: Muito obrigado.
LIA – Enfermeira assistencial, formada há 19 anos e acho que faço Consulta
de Enfermagem há uns dez, no Programa da Mulher.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Eu faço há uns dez anos, eu acho que é isso, mais ou menos. Eu já
trabalhei no Programa de Diabetes, de Hipertensão um tempo, e tam-
bém na Enfermaria na área hospitalar, mas eu gosto mesmo é do
Programa da Mulher, sempre gostei e fiz Curso de Especialização na
Saúde da Mulher, na área de Saúde da Mulher, ginecologia, pré-
natal, pós-parto, planejamento familiar, e aí não saí mais dessa área,
e outros cursos de Atualização, que me deram suporte para a Consul-
ta, me sentia despreparada.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto de participar, porque sempre sou solicitada para participar,
para dizer como funciona o setor, demonstrar como faço a Consulta
de Enfermagem, e eu gosto de atuar com os alunos e com as profes-
soras. Eu aprendo e também ensino e até já fizemos trabalhos juntas.
Eu acho que a teoria e a prática precisam estar juntas. Não pode ficar
uma coisa sem a outra. Atualmente, a Consulta faz parte dos Pro-
gramas e os alunos precisam aprender a fazer, mas eles ficam uns
cinco dias na prática, e não considero que seja suficiente, e são mui-
tos alunos, alguns ficam mais interessados, outros mais dispersivos, e
eu acho que são muitos, e aí mesmo dividindo em pequenos grupos é
difícil todos terem a mesma oportunidade. Eu acho ensinar uma tarefa
difícil, porque tem que ter muita atenção com quem quer e com quem
não quer. O aluno está diferente, ele às vezes não valoriza o momen-
to e aí ele vai procurar depois, e aí eu fico pensando, será que é por-
que não foram estimulados para a Consulta ou é porque o currículo
prioriza a área hospitalar? O SUS também prioriza a parte hospitalar,
mas também qual é a prevenção que fazemos? A saúde está muito
ruim e eu não acho que seja só na área pública, até nos convênios se
espera internação, atendimento. As pessoas adoecem cada vez mais,
e ‘cadê’ a prevenção? Se não tem, só podemos prevenir complica-
ções. O currículo novo continua o mesmo. Depois, as pessoas estão
sem salários, sem comida, sem emprego. Antes não víamos Enfer-
meiro sem emprego, mas isso já está acontecendo, porque as Coope-
rativas é que empregam, e é uma vida profissional difícil (eu estou
respondendo?) [Pesquisadora: Está, fale como quiser.] Eu acho isso,
eu tenho prazer de ensinar, de participar, é gratificante porque os cli-
entes também gostam de serem atendidos com tantas minúcias e se
sentirem únicos, valorizados, ouvidos. Eu não aprendi assim, eu fui
aprender exame físico e a fazer a Consulta nos cursos que fiz. Aí que
eu fiquei mais confiante, foi isso, só depois eu fiquei confiante.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Chamar o aluno para a importância de desenvolver a prática dos En-
fermeiros, que é a Consulta de Enfermagem e que eles vão continuar
essa prática, vão ter que estudar para se aperfeiçoarem, especializa-
rem, e só serão reconhecidos no Modelo Tecnicista de Saúde se
souberem se colocar com compromisso, com ética e com saber cien-
tífico, mas eu acho que os nossos alunos nem todos conseguem cap-
tar o que é ser Enfermeiro, eles são ainda muito imaturos para nesse
momento pegar tudo isso. A Consulta é um aprendizado constante, o
que os clientes nos ensinam é muito importante, eu não sei se há
continuidade durante o curso todo de Enfermagem a Consulta, acho
que isso seria bom porque ela é muito mais do que técnicas e preen-
chimento de papéis e se tomou remédio, etc... Pena que poucos de
nós façamos a nossa atividade principal, será por que? Eu acho que a
maneira de ensinar Enfermagem tem que ser didaticamente diferente
de ensinar os médicos e os fisioterapeutas. Quem tem que ensinar
Enfermeiro é Enfermeiro, não é? (sorrisos) Ainda tem colegas que
acham que a Consulta são ações educativas, tem muita coisa para
aprender ainda porque eu vejo como ensinar a cuidar das pessoas.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não, falei demais, não foi?
Pesquisadora: Não. Falou o que achou que deveria, e eu agradeço a sua parti-
cipação.
Entrevistada: Que nada. Se precisar, é só dizer, você é quem sabe.
JOANA – Enfermeira assistencial, formada há dois anos e meio. Dois anos e
meio de experiência com a Consulta de Enfermagem no Programa de Reabili-
tação do Alcoolisto e Outras Drogas.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Eu faço sim, como Enfermeira e acompanho os alunos no campo de
estágio junto com as professoras. Agora mesmo, o campo está super-
lotado de alunos, e isso é bom porque dá para diversificar, porque e-
les são de períodos diferentes. Eu faço sim, e gosto muito.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto muito dessa troca, até porque eu me reporto ao meu tempo
de aluna e sinto que é muito importante esse aprendizado da Consul-
ta de Enfermagem, porque ela é uma assistência organizada, não por
papéis, protocolo, ficha, mas porque é uma maneira de atuação da
Enfermeira dentro da Equipe de Saúde, cada um tem o seu papel. Às
vezes, o aluno ainda não consegue entender a importância dela, mas
não faz mal, é muito importante essa troca vai gerar um crescimento.
É gratificante, eu sempre gostei e aprendi muito no meu estágio.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- O mercado de trabalho é um ponto, mas não é só isso, até porque o
mercado de trabalho não tem idéia do que é a Consulta de Enferma-
gem, ele está atrelado a uma sala, mesa, cadeiras e o espaço ajuda,
mas não é só, é preciso que o mercado de trabalho saiba que a Con-
sulta é uma estratégia de ensino e é também a atividade do Enfermei-
ro. Aqui, no Programa de Reabilitação, é outro tipo de Consulta de
Enfermagem. São clientes de vários grupos da sociedade: homens,
mulheres, adultos, adolescentes e até idosos – cada um é uma pes-
soa. Ontem, eu atendi um senhor de setenta e um anos, e também
atendi um menino de dez anos. As necessidades do senhor de seten-
ta e um e as do garoto de dez, diferem, mas ambos necessitam da
reabilitação em relação ao uso do álcool. Você entende? Eu acho que
nós não podemos ter preconceitos porque doença dá em todo mundo,
independente de classe, cor, idade, cultura. Não adianta, ela quando
dá, dá e a pessoa fica precisando de tudo, de sair para uma luta e
tem que ser estimulado, amado, útil e todos da Equipe necessitam
compreender isso e não é fácil. Aqui, no nosso setor, o exame físico,
verificação dos sinais vitais é secundário, são aferidos, o exame físico
é feito, mas o principal é avaliar o cliente, ele como está. Ele nunca
está bem porque não pode estar. Ele tem que se sentir seguro e con-
fiar no profissional e isso depende muito de quem está atendendo. Eu
acho que a Consulta de Enfermagem dá oportunidade de você, En-
fermeira, aprender muito. A gente trabalha com pessoas de todo tipo,
portadores de doenças venéreas, diabéticos, hipertensos, cirróticos,
até com AIDS, porque também tem gente com doenças venéreas,
cada pessoa é uma pessoa. Então, você tem que estudar para saber
como vai agir, encaminhar, se for o caso, corretamente. Ah, eu estava
falando do senhor de setenta e um anos, não foi? Pois é, já é geriatri-
a, e aí, quantas coisas esse senhor não passou e passa nesta vida?
Você sabe, a mulher, ela é muito preconceituosa, mas é demais, ela é
muito mais do que o homem. Elas quando chegam no Programa, elas
são, estão completamente deterioradas, abandonadas, desprezadas,
sem a família e muito sozinhas, cada uma tem a sua história, dá pe-
na, mas não é isso que resolve. Eu aprendi com a professora respon-
sável pelo campo de estágio que elas, as mulheres, têm menos água
no organismo do que os homens, aí fica mais danificada e também
mais lesadas organicamente. Quando o problema é do marido, do fi-
lho, irmão, sobrinho, pai, vizinho, ela traz para eles se cuidarem, se-
rem tratados, e ela é uma boa parceira e sofre muito. Mas quando é
ela, dificilmente acontece isso. A mulher, ela é mais companheira e
ela cuida de todos da família dela, e até dos outros, mas parece que
com ela, ela tem vergonha, culpa, e se sente péssima... Mulheres e
homens são muito diferentes em tudo. O curso de graduação, o está-
gio de Consulta de Enfermagem me ajudou muito a atuar na vida pro-
fissional, porque o enfoque da Consulta do período X é diferente do
período Y, também o comportamento do aluno é diferente, você vê
só, quando ele inicia, ele vai para o setor com aparelho de pressão
pendurado no pescoço, o estetoscópio, quando chegam no final, isso
já não acontece tanto, porque ele vai amadurecendo, tudo tem seu
tempo e o aluno também precisa do tempo dele, porque é muita res-
ponsabilidade, porque exige um conhecimento crescente, e isso de-
pende da prática, cada pessoa é uma pessoa e não uma doença, e o
mais complicado é lidar com esta pessoa. Eu não fiz estágio neste se-
tor, eu acho que não tinha na época, cheguei aqui sem saber nada
daqui, mas o que eu aprendi nos outros e especialmente no de Con-
sulta, serve de ensinamento para eu ensinar, participar aqui, aqui eu
venho aprendendo muito. Eu gosto de participar com os alunos. Eu fui
professora da Escola de Enfermagem W e fui supervisora de alunos
no campo de estágio, fiquei cinco meses mas eu saí porque eu não
dei conta de tantos empregos. Eu passei no concurso público, quando
ainda era aluna, aí eu passei para o Hospital Universitário, então eu
fui ao Sub-Reitor e pedi para ser lotada aqui, e ele aceitou. Aí, no
Município, por análise de currículo e etc., eu estou na Coordenação
do Programa de Diabetes e Hipertensão, então, eu além de trabalhar
na Consulta, eu ainda tenho acesso aos dados gerais epidemiológi-
cos, os dados que nos dizem o crescimento anual do Programa e, por
exemplo, o índice de abandono é de 30%, isso pelos dados estatísti-
cos, os instrumentos são políticos também. Então, a Consulta de En-
fermagem dá autonomia para nós, mas eu ainda acho que ela ainda
não é feita por todos nós e é isso que o aluno precisa aprender que
ela é o agir do Enfermeiro e é uma força política. Eu considero pouco
tempo de estágio, mas, dependendo do aluno, ele pode depois se es-
pecializar e atuar melhor. Eu só acho que é preciso ensinar a Consul-
ta de Enfermagem durante todo o curso de Graduação para que o a-
luno possa compreender o seu papel de Enfermeiro e faça a Consul-
ta, todos nós, na vida profissional, e dar continuidade à profissão.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Só agradecer.
Pesquisadora: Obrigado, digo eu.
LILIANE – Enfermeira assistencial, formada há 23 anos, atualmente lotada no
Setor de Curativos, ambulatório hospitalar.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim, já trabalhei com Consulta de Enfermagem no ambulatório do
primeiro andar para os pacientes hipertensos e diabéticos. Aliás,
quando eu me formei, há vinte e três anos atrás, fui lotada na enfer-
maria de Ortopedia por mais ou menos um ano. Depois, eu fazia a
Consulta de Enfermagem no ambulatório do primeiro andar, como eu
já falei. E aí, atendíamos também as clientes de Ginecologia e outras
especialidades. Porque, qualquer dificuldade que os médicos perce-
biam, eles encaminhavam para darmos orientações. Principalmente
em relação às medicações. Você lembra? Naquela época, ainda as
atividades não estavam separadas por Programas, e como eu era en-
fermeira do primeiro andar, atendia os clientes de Clínica Médica. A-
gora, é que a Consulta de Enfermagem está sistematizada nos Pro-
gramas de Saúde e os alunos fazem as Consultas completas. O cur-
rículo deveria priorizar a Consulta hoje, será que é o currículo? Eu
não aprendi no meu curso de Graduação a fazer essa Consulta que
vocês fazem, tão completa. Não era como uma disciplina. Nós apren-
díamos a dar orientações, fazer ações educativas e ensinarmos aos
pacientes as técnicas que eles necessitavam aprender, como: peque-
nos curativos, aplicação de medicamentos, fazer mamadeiras, cuidar
das mamas, higiene, aspectos nutricionais, as imunizações. Nossa!
Tudo isso. Dávamos aulinhas e palestras no Posto de Saúde. Eu
lembro que fazíamos encaminhamentos para nutricionista, assistente
social e para os especialistas. Ah, até dávamos aulas sobre preven-
ção das doenças e promoção da saúde nas escolas, sabe, nós fa-
zíamos a pré-Consulta médica e a pós. Depois é que os alunos co-
meçaram a atender no Consultório com as Consultas agendadas,
etc... Acho que isso ocorreu lá por 1983, 1984, não foi? É isso, acho
que nós não aprendemos a fazer a Consulta de Enfermagem como os
alunos aprendem hoje. Também, nossos estágios eram mais na área
hospitalar, não era? Era sim, e passávamos mais tempo nas enferma-
rias. O fato é que eu não aprendi na Escola. Hoje ainda é assim, não
é? Só que hoje, a Consulta dá autonomia para o enfermeiro agir nos
Programas.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Para mim é gratificante. Eu gosto de ensinar o que eu sei. Gosto
mesmo. Bom, mas eu participo indiretamente porque a professora
também está presente e é ela quem é a responsável pela programa-
ção do aluno. Ela também tira as dúvidas, etc... Sabe, aqui no setor,
cada paciente precisa de muitas orientações, de muitos cuidados, de
muito apoio emocional, a auto-estima fica muito baixa. Você já viu
como são os curativos feitos aqui. O aluno, quando chega, fica apre-
ensivo, tem dúvidas e eu as tiro, sempre que posso. Para o paciente,
eu oriento para o auto-cuidado, ensino a fazer o curativo, a evitar as
contaminações, a lavar as mãos e tudo que percebo que ele necessi-
ta saber ou pergunta. O aluno participa e aprende como devemos fa-
zer ou como fazemos, e ele faz junto. Porque aqui, a teoria e a prática
acontecem juntas. A gente tem que estar sempre aprendendo e traba-
lhamos com as técnicas mais recentes, embora não tenhamos mate-
rial necessário, só quando ganhamos, alguém traz. É complicado mas
os nossos hospitais estão com muitas dificuldades. O nosso, quase
não tem material. O paciente já não tem recursos financeiros, a maio-
ria já é idoso, já teve muitas perdas emocionais, já está com outras
patologias. As técnicas do curativo mudaram muito. As medicações
também. Os curativos aqui do setor são diferentes dos cirúrgicos. Os
pacientes também são diferentes dos submetidos às cirurgias. Eles
diferem entre si porque cada pessoa é uma pessoa. Eu ensino como
faço. Eu gosto de participar deste estágio porque eu sinto que contri-
buo com os alunos. A sala fica cheia, são muitos e a área física é
pequeniníssima. Eu gosto mesmo de ensinar o que eu sei, mas acho
que é muito pouco tempo que eles passam no setor. Apesar dos alu-
nos passarem nas enfermarias e lá também fazerem curativos, eu já
trabalhei em enfermaria, eu sei que é totalmente diferente. Ah, ainda
tem os familiares, que precisam ser orientados sobre os cuidados e
até mesmo como fazer o curativo. Tem paciente que não consegue
fazer o seu próprio curativo. São pacientes muito especiais, mas mui-
to mesmo. Eles passam muitos anos conosco. Seria melhor se o alu-
no tivesse mais tempo no setor. Jamais ele sairia um especialista,
mas teria mais oportunidade de interagir com o cliente e com a sua
família, e até mesmo com a comunidade, porque mesmo que não se-
ja uma Consulta de Enfermagem completa, não é uma pré nem uma
pós Consulta médica. É como a Enfermeira atua. Eu acho isso, nós
hoje agendamos os nossos pacientes, determinadas condutas, da-
mos pareceres. A Consulta permite isso e o retorno acontece. Os
médicos estão sempre encaminhando para darmos continuidade aos
tratamentos, mas a nossa Consulta independe das deles. É, eu gosto,
todos crescem. Somos autônomos, temos autonomia para agir, é is-
so.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- A continuidade da profissão e da nossa autonomia, porque autonomia
você conquista e nós temos conquistado. Os alunos irão atuar no
mercado de trabalho, e hoje o mercado é diferente. O número de lei-
tos hospitalares vem diminuindo. As condições de ofertas para as va-
gas hospitalares não estão de acordo com as necessidades da popu-
lação. Hoje está tudo diferente de há vinte anos atrás, quanto menos
tempo o paciente passar internado, é melhor para ele e para todos.
Temos pacientes que necessitam mesmo de repouso, precisariam de
uma alimentação adequada, medicação, cuidados e não consegui-
mos vaga. A situação da saúde está muito ruim, e não é só nos hospi-
tais públicos, é geral. Então, vejo a Consulta de Enfermagem muito
presente, porque ela pode ser feita até no domicílio e os curativos po-
dem ser realizados, ensinados no próprio habitat do paciente. É isso
mesmo, a Consulta de Enfermagem possibilita a Enfermeira exercer a
sua autonomia profissional e os alunos têm que saber disto. Hoje, o
sistema de saúde é o SUS e os nossos hospitais estão muito pobres.
É isso, eu tenho em vista a continuidade da nossa profissão. Eles não
vão enfrentar muitos problemas que nós já enfrentamos para desen-
volver a Consulta de Enfermagem na vida profissional. Eles precisam
é fazer sempre, mesmo que não seja completa, com o exame físico
completo, céfalo-caudal, mas ouvir o paciente e proporcionar o con-
forto necessário sempre. Esse é o nosso momento, continuaremos
podendo ser Enfermeiras. Respondi?
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não, eu acho que falei exatamente como pensei, disse tudo, mas
se você precisar de mais alguma coisa, é só falar, estou às suas ordens.
Pesquisadora: Obrigado.
LUIZA – Enfermeira docente, formada há 16 anos, 9 anos na docência, traba-
lhou com assistência, gerência do cuidar e administração em Enfermagem. Se-
tor de Quimioterapia.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Eu faço porque eu considero que fazemos, sim, mas não de forma
sistematizada. Na Unidade de Terapia Intensiva e no Ambulatório de
Quimioterapia é local onde fazemos a administração das medicações
e aí estamos direto com os clientes, é nesse momento que iniciamos
os cuidados direcionados para essa pessoa. O cuidado e as orienta-
ções, identificamos as necessidades do cliente e da família, porque
você não pode deixar de ouvi-los, não dá. A partir das necessidades,
prestamos os cuidados, apoio emociona para essa pessoa e aplica-
mos todos os nossos conhecimentos: técnicos, administrativos, cientí-
ficos, pessoais e até emocionais. Os clientes da Quimioterapia ne-
cessitam de uma assistência total. Eu vejo a Consulta de Enferma-
gem como uma estratégia da Enfermeira para cuidar. Ela é uma ma-
neira de dar um ponto de partida para ensinar a cuidar dos clientes.
Eu acho que as Enfermeiras acham que não fazem Consulta porque
criou-se um mito: da salinha equipada e fechada e etc... mas a Con-
sulta não é só quando a gente fica só na salinha fechada... a Enfer-
meira precisa ver a atitude política que ela confere às Enfermeiras,
porque não são só técnicas, protocolos, prontuários, medicações, e-
xames, é a ação da Enfermeira profissional.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- É uma pergunta difícil. Em primeiro lugar, eu considero importante di-
zer sobre o meu entendimento sobre como é ensinar a Consulta de
Enfermagem. E como é ensinar a Consulta de Enfermagem? Eu vejo
que os alunos às vezes mostram uma idéia errada sobre a Consulta,
Sabe por que? Porque o nosso currículo, eu considero um primor,
porque os alunos já dão início e vêem fazendo as atividades que fa-
zem parte da Consulta de Enfermagem desde o primeiro momento
que entram na Escola. Eles têm o privilégio de aprender lá no setor
de Consulta de Enfermagem, nos Programas de Saúde de Diabetes,
Hipertensão, Climatério, Idoso e os outros, e depois, depende dos
professores, nos outros setores, eles desenvolvem algumas ações,
como: orientações, educativas, técnicas, como a Quimioterapia e e
outras. Então, eles vão aprendendo a cada período os graus de com-
plexidade. O currículo é um caminho. Segundo, eu procuro mostrar
para os alunos que no setor de Quimioterapia nós não só realizamos
técnicas porque é necessário desenvolver um diagnóstico de enfer-
magem, um plano assistencial ou planos assistenciais, porque o auno
necessita aprender isso para prestar uma assistência adequada. Eu
conduzo dessa forma: nós só podemos desenvolver técnicas se eu
conhecer melhor as necessidades dos clientes, de cada um. O espa-
ço físico do setor não favorece, mas eu direciono o cuidado para os
sinais e sintomas da situação. Dependendo da situação do cliente, é
feito o atendimento. Hoje nós ensinamos de maneira diferente do que
aprendemos, é óbvio, mas por que? Fomos melhorando, aprimoran-
do, nos especializando, nos interessando por atender melhor as ne-
cessidades do cliente, e não foi assim na minha época de graduação.
Eu aprendi, mas foi diferente. O que eu tenho planejado com a en-
fermeira é que haja espaço dentro da Quimio, um espaço específico
para o exame físico, para as anotações específicas, e então aproxi-
mar a idéia de que a Consulta de Enfermagem deve fazer parte de
todo o contexto. A Enfermeira tem que estar junto ao doente e a famí-
lia, buscando as necessidades para atuar.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- O que eu tenho em vista? Primeiramente, quando eu converso com
os alunos, eu procuro mostrar o que eu aprendo e aprendi com os cli-
entes e familiares. Eu acredito que essa aproximação da Ciência e da
Arte é que dá para defender a Enfermagem. Enquanto Enfermeira,
para isso eu tenho que ter conhecimentos técnicos, filosóficos, éticos
que garantam o nosso espaço junto à equipe de Saúde. O grande de-
safio da Enfermeira é lutar por nossos espaços, fazendo com que a
gente possa estar assumindo um espaço de contribuição porque para
estarmos lá, fazendo a Consulta, você tem que saber, só assim é que
se tem autonomia. Quando nós estamos com o cliente, com a família,
é que a gente vê a importância do conhecimento, porque o cliente é
cheio de necessidades, às vezes é muito difícil lidar com tantas coi-
sas, e também, você tem que saber até onde pode ir e se não sabe,
encaminha para o colega. Também, a humildade é importante. Outro
aspecto é a autonomia que a Consulta dá. Essa coisa de poder é
complicado. Poder, porque prescrições, protocolos, não significa que
você vai trabalhar sozinha, ao contrário, quando você não consegue
fazer encaminhamentos e você recua, você deixa de ocupar o seu
espaço, e aí, são coisas que estão ligadas à ética, o respeito pelo co-
lega. Você não tem que ir além do seu domínio porque senão fica
complicado. Algumas colegas não dividem o seu conhecimento, as
suas conquistas com os clientes, com os médicos e com os outros e-
lementos da equipe dos Programas, e se nós não dividirmos isso, fica
difícil, nós precisamos dividir o nosso saber e ensinar isso a todos da
equipe de Saúde. Você veja só, a Escola não recebeu nenhuma bolsa
PIBIQUE. Será que as Enfermeiras estão fazendo errado? Utilizando
o momento errado? Quem está na assistência e na docência tem que
refletir muito. Talvez as nossas alianças estejam erradas, por que
não? Eu tenho em vista, no primeiro momento, a responsabilidade
docente de passar para o aluno o sentido da Consulta de Enferma-
gem, que é cuidar da pessoa e que a especialidade é uma forma de
prestar um cuidado técnico-científico, mas é necessário usar a espe-
cialidade para cuidar da pessoa, e não da doença. Se ele, o aluno, vai
para a especialização, esses conhecimentos vão ajudar para um o-
lhar direcionado para as necessidades dos pacientes. A especialidade
é uma forma de fortalecer o Modelo Biomédico, mas e daí? Ela pode
ser. Eu uso a especialidade como uma forma de melhor cuidar e ela é
necessária. A vida profissional é difícil, mas eu tenho em vista a con-
tinuidade do nosso espaço profissional através da Consulta de En-
fermagem melhorando a saúde.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Acho que falei exatamente como penso e faço. Muito obri-
gado.
Pesquisadora: Eu sou quem agradeço.
MARGARIDA – Enfermeira assistencial, formada há 24 anos. Atualmente
lotada no Programa de Geriatria, no mínimo há 4 anos, eu acho.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim, faço. Trabalhei quatorze anos com a Consulta de Enfermagem
para os pacientes diabéticos e hipertensos. Quatro anos em enferma-
ria, talvez muitos mais, e há quatro anos estou na Geriatria. Olha, eu
não aprendi a fazer a Consulta de Enfermagem na Escola, ou seja, no
curso de Graduação, desse jeito que vocês fazem. Eu aprendi a dar
orientações, fazer ações educativas, exercitar técnicas, ministrar con-
teúdos sobre as doenças, administrar medicamentos, etc... A Consul-
ta de Enfermagem que eu faço hoje no Programa de Geriatria é to-
talmente diferente das que eu fazia para os diabéticos e hipertensos.
A Geriatria é outro mundo. Tudo melhorou depois queeu fiz o curso
de especialização em Geriatria na FIOCRUZ, porque eu não aprendi
nada disso na Escola, e foi isso mesmo, eu não aprendi nem Geriatria
e nem Consulta.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu não sou aquela pessoa que adora ensinar, porque eu sou reser-
vada e levo um tempo para interagir com as pessoas, mas não me
nego a receber os alunos e deixar que assistam como faço a Consul-
ta para os pacientes da Geriatria. Eu demonstro o que faço. Os gru-
pos de alunos são rotativos. Um dia é um grupo, no outro dia é outro
grupo e no outro, é outro grupo, daí, ninguém interage com ninguém,
e aí eu ficava muito constrangida, porque eu preciso de um tempo pa-
ra me desinibir. Depois, quando eu fui para a Geriatria, eu ainda não
havia feito o curso de especialização, então eu estava diante de um
mundo totalmente diferente de tudo. Os pacientes diabéticos, hiper-
tensos, são pessoas que se tiverem força de vontade, forem estimu-
lados, eles vão longe na vida e com qualidade, essa era a minha ex-
periência. Na Geriatria, a coisa é diferente. É um mundo de patologias
que reduzem o ser humano a uma dependência cada vez maior do
outro. Isso é muito complicado porque afeta você, também como pro-
fissional, pessoa. Dá também uma compreensão maior da vida, do
nosso papel na equipe, porque nós trabalhamos em equipe e eu a-
prendo muito com todos e muito especialmente com a assistente so-
cial, só em pensar que ela vai se aposentar, eu fico aflita, porque a
experiência dela é inigualável, você sabe disso. No início, foi muito di-
fícil para mim atuar na Geriatria, parecia que eu ia para um matadou-
ro. Nossa, era horrível! Eu não dominava os conteúdos de Gerontolo-
gia, eu não havia dado isso no curso de Graduação, foi dificílimo por-
que também tinha a minha inibição, e não era nada com os alunos,
nem com os clientes, nem com ninguém, era uma coisa minha. Aí, eu
comecei a fazer cursos e fui melhorando, aprendendo também com
os próprios pacientes, com as histórias de vida deles, com seus fami-
liares e com todos da equipe. Agora, o curso de especialização foi o
marco para me sentir mais segura. É o tal caso, eu fico feliz de poder
passar conhecimento para alguém, é muito bom mesmo, mas quem
faz Consulta de Enfermagem tem que estudar sempre, tem que se
especializar na sua área de atuação, porque os Programas de Saúde
favorecem a nossa atuação de forma sistematizada, e nos dá auto-
nomia. Além disso, os pacientes da Geriatria têm muitos problemas
sociais, aliás quem não os tem hoje? É terrível ver alguém demenciar
e não contar com um familiar, um cuidador. Então, não é só as doen-
ças correlatas da idade ou os danos próprios da velhice. É um único
ser humano que muitos estão inteiramente sós. Feliz do idoso que
tem independência para cuidar de si. Eu acho que o aluno tem que
passar pelo setor, mas eu acho que é muito pouco tempo que eles
passam, e eu gosto de participar e mostro como atuo, mas a Geriatria
é difícil, você lida com pacientes depressivos, com familiares assus-
tados. O mundo hoje é outro. As pessoas estão envelhecendo e ado-
ecendo, portando patologias ainda pouco conhecidas se instalando.
Eu acho um absurdo não Ter uma disciplina Gerontologia, no currícu-
lo do curso de Graduação, porque o que mais os alunos convivem em
qualquer nível de atenção hoje, é com pessoas idosas. Aí, vai acon-
tecer o que aconteceu comigo, não vão atender tranqüilos até se ha-
bilitarem. Sabe, eu acho que o currículo tem que atender essas ne-
cessidades da população e a Consulta de Enfermagem é uma forma
da Enfermeira desenvolver o seu conhecimento e exercer o seu papel
na equipe de saúde. Você sabe disso. Claro que o curso de Gradua-
ção não pode abranger até as especialidades, mas que que é isso, o
aluno não pode sair assim, sem saber atender a um idoso. Eu tenho o
maior cuidado de demonstrar como eu faço, passo a passo, para que
possam aprender e depois, mais tarde, ensinar aos clientes a fazer os
testes de memória, a identificar outras patologias, a preencher os
formulários, mas você sabe, isso não é tudo, tem também os outros
da equipe, e acho que quando eles vão para a enfermaria fazer está-
gio, não tem o mesmo seguimento, então, eles não aprendem bem,
nem aqui na Consulta, nem lá, e ficam prejudicados. Aliás, somos
muito poucas a trabalhar com os idosos, as nossas colegas ainda sa-
bem pouco sobre isso e cá para nós, é muito difícil, eu acho também
que tem que gostar e se preparar, porque é um mundo totalmente di-
ferente de tudo, e é isso que os alunos vão pegar na vida profissional.
Não vai ter outro jeito. Eu falei como eu ensino? Você gostou? É isso
mesmo.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tenho em vista que esse aluno possa chegar na vida profissional
sabendo, pelo menos, que especialidade ou que cursos ele vai buscar
para aprender a cuidar do paciente de forma digna, oferecendo con-
forto e qualidade de vida. Porém, ele só vai saber em que área vai se
especializar, se houver pelo menos passado por setores que tenham
despertado algum interesse. Também, tem uma coisa: eu acho que
tem poucos cursos de especialização e que as universidades, nos
currículos de graduação, estão deixando tudo muito corrido. Aí vai
acontecer com o aluno o que aconteceu comigo: parecendo que vai
para o matadouro, porque não tem o conhecimento, porque não a-
prendeu a fazer. Eu tenho em vista, também, que a Consulta de En-
fermagem deva ser levada em consideração durante todo o currículo
de enfermagem, porque senão, fica complicado para o aluno. Apren-
de, ou melhor, inicia aqui conosco, todos nós, e depois só vai ver isso
se for trabalhar com Consulta, fala sério... Outra coisa que eu tenho
em vista, não podem, nos currículos, não ter Gerontologia. Acho que
isso é básico. As Escolas de Enfermagem, estão fora da realidade. É
isso, eu acho que nós já ganhamos alguns espaços e perdemos ou-
tros, mas eu penso que os alunos darão continuidade a essa profis-
são que às vezes me preocupa muito, porque antes tinha a teoria
meio fora da prática, agora dizem que é assim, pouco tempo nos lu-
gares para aprender teoria e prática. Eu sou tímida, mas acho que fa-
lei exatamente o que tenho em vista.
Pesquisadora: Quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Se você achar que precisa de mais alguma coisa, eu estou aqui, é
só você pedir. Eu quero só agradecer pela oportunidade.
Pesquisadora: Obrigado.
MARIA – Enfermeira, docente, formada há mais de 25 anos, e vinte e cinco
de professora. Programa / Setor de Curativos, Ambulatório hospitalar.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço. Eu trabalhei em Centro Municipal de Saúde muitos e muitos
anos, e depois também como professora, em duas funções: assisten-
cial e docente; me aposentei do Estado e já vou me aposentar da do-
cência. Na Consulta, no setor de Curativos, ah! tem muito tempo...
tem que ser precisa nos anos? (Pesquisadora: Não, necessariamen-
te. Fique à vontade, fale como quiser.) Eu trabalhei com os Progra-
mas de Diabetes e Hipertensão no Município. Aqui no Programa, com
os alunos, não é rotina fazer aquela Consulta estrutural, como vocês
fazem lá embaixo, considero que a Consulta não é apenas um proto-
colo que tem que constar no Prontuário do paciente. Ela é muito mais
que isso, é uma didática pessoal do Enfermeiro, uma maneira de en-
sinar. Fazemos o exame físico do membro, prescrições de enferma-
gem para o tratamento das feridas e as orientações para o curativo
ser feito em casa. No ensino prático, você usa a simulação a cada cli-
ente, para que o aluno consiga aprender. Estou exigindo, exigindo
que o aluno passe um dia no hospital X, porque lá nós temos material
necessário para cobertura das feridas. É complicado, porque aqui no
Hospital de Ensino, só temos soro fisiológico, dermazine, gaze e ata-
dura, e até atadura já está diminuindo. A saúde está uma coisa, é di-
fícil, muito problemático.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial, Consulta de Enfer-
magem, aos graduandos de Enfermagem?
- Eu gosto, mas eu acho assim: o aluno deveria ter as duas coisas as-
sim: termos um espaço para as orientações dos pacientes e, em se-
guida, passar para o local específico da técnica do curativo. Nós te-
mos toda a equipe para sermos um hospital de referência em curati-
vos, mas falta a mentalidade de trabalho em equipe. Já estamos con-
seguindo que os auxiliares e técnicos assistam e repassem algumas
orientações para os clientes, igual aos alunos. O modelo é Biomédico,
logo é difícil a aceitação por mudanças. O médico é onipotente até
então, mas você veja: eu tenho clientes que o médico fez prescrição
que não estava dando certo. Como pessoa, professora e enfermeira
me interessa que a ferida feche. Aí, eu por minha conta, encaminhei
para o HESFA e aí eu iniciei com Polimen, é um hidropolímero. Eu
entrei em contato com o laboratório e a ferida está quase fechada, e
vai fechar. Quando o cliente veio para a Consulta aqui, chamaram o
médico que ficou super feliz, achando que era um tratamento que ele
estava fazendo. Aí, eu falei o porque, e o médico quase teve um ‘tro-
ço’, mas eu tive que dizer: Doutor, eu sou especialista na área de En-
fermagem Dermatológica pela SOBEND. Eu estudo e acompanho os
clientes. Depois, ficou tudo certo. Os alunos viram tudo. Você tem que
não ter medo e saber argumentar. No curso de graduação, eu não a-
prendi a fazer Consulta dessa forma, era pré e pós Consulta médica,
orientações, ações educativas e só. Acho até que até hoje, as cole-
gas acham que a Consulta é ações educativas, e não é assim, porque
vai dizer que isso é propriedade das enfermeiras para a equipe de
saúde... com os Cursos de Especialização, você vai tendo autonomia
e passa a cuidar melhor, oferecendo qualidade de vida aos clientes e
ensinando mais efetivamente aos alunos. O currículo é um caminho,
mas os professores são responsáveis pelos conteúdos, e eu acho
que precisam ajustar aos nossos problemas de saúde, que são mui-
tos, caos. Pergunta outra.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial, Consulta
de Enfermagem, aos graduandos de Enfermagem?
- Eu sinto que os alunos se sentem mais seguros, mais independentes
para desenvolver o trabalho na vida profissional. Aprendem que têm de estudar,
sem estudar não dá, mas eles buscam isso em algum momento. Eu incentivo
para que eles vejam a importância da Consulta de Enfermagem, ela é muito
importante, mas não é por causa dos Protocolos. Eles, na prática, vão adquirin-
do confiança e prazer por assistir o cliente. Pode ter mais prazer do que isso
para alguém? Eu acho que o aluno tem que cumprir suas etapas durante o cur-
so, mas a Consulta tem que ser uma maneira de aprendizagem para a vida pro-
fissional e o mercado está aí. Respondi? Ah! Não posso esquecer que a auto-
nomia é uma conquista, e o aluno e o professor têm que ter humildade de a-
prender e ensinar e aprender sempre.
Pesquisadora: Você quer dizer mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Estou ‘torcendo’ muito por sua defesa. Esse é o seu tema.
Eu só quero agradecer sua gentileza. Gostei muito de participar, você sabe. Se
precisar mais de alguma coisa, é só falar.
Pesquisadora: Obrigado. Eu admiro muito o seu trabalho, você sabe disso. O-
brigado.
MARIÚZA – Enfermeira assistencial, formada há 15 anos - Programa de
Hanseníase.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço há quinze anos. Aprimorei a minha Consulta através dos cursos
que fiz e viz vários, para aprender sobre Hanseníase, na FIOCRUZ
(Fundação Oswaldo Cruz). Não aprendi a fazer Consulta de Enfer-
magem no curso de Graduação, em 1988, quando eu me formei. Até
porque os currículos de graduação estavam e estão direcionados pa-
ra a área hospitalar. É isso, as Faculdades dão mais atenção à área
hospitalar. Os encontros na área de Saúde Pública são poucos e são
restritos às ações educativas, orientações, palestras e isso é só uma
etapa da Consulta. Você lembra, era diferente e ficava sendo pré e
pós-Consulta médica, totalmente diferente de hoje... a Consulta é
uma forma de cuidar da Enfermeira.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto de participar desse ensino demonstrando como eu faço para
os alunos, e eles participando, perguntando as dúvidas e aprendendo
a atuar. A Consulta é uma atividade dinâmica... sabia, de 88-I até há
pouco, tivemos alunos da sua Escola aqui, e já tivemos de outras Es-
colas, e as professores que são responsáveis pelos alunos sempre
solicitam que eu demonstre como eu faço. Atualmente, os alunos que
fazem estágio aqui no meu setor estão no oitavo período, e já che-
gam com um pouco de teoria, porque eles têm uma aula com o con-
teúdo de Hansen, se não me engano, no quarto período, que é dada
pelas professoras. Aqui no meu setor, eu participo, eles ficam juntos,
assistindo como eu faço com os clientes, tiram as dúvidas que são
muitas, o que é natural porque Hanseníse você não aprende só com
aula e com poucos contatos. O cliente nos ensina muito, cada caso é
um caso, cada pessoa tem uma vida, até a medicação é protocolada,
tem os testes que são feitos e o preenchimento sobre o atendimento.
Os clientes portadores de Hansen, muitas vezes também são diabéti-
cos, hipertensos, portadores de comprometimentos no fígado e até de
câncer. Daí, a Consulta de Enfermagem não só fica restrita à patolo-
gia, Hansen. A pessoa tem que ser vista como um todo. Se precisa
de gineco, de terapeuta, etc... eu encaminho para o Nísia da Silveira
(Hospital de Reabilitação), esses encaminhamentos podem ser feitos
tanto pelos médicos como pelos enfermeiros. Para você encaminhar
certo, você precisa sber o porque do encaminhamento, e tem que jus-
tificar, mas a Consulta de Enfermagem dá essa autonomia. Eu acho
que o currículo, os professores, deveriam se preocupar mais com a
Consulta de Enfermagem, porque eles aprendem num estágio, vão
para o hospital ou outro lugar e ficam mais preocupados com apare-
lhagens, técnicas. Também tem essa passagem pelos campos de es-
tágios, que é pouco tempo, essa teoria que é livresca e a prática que
nem sempre acontece conjuntamente (pausa). Acho que fazer Con-
sulta, é preciso gostar e estar disposta a se aprimorar, buscar cursos,
se atualizar, se especializar. A Consulta não é fechada, ao contrário,
ela é aberta, depende do conhecimento de quem a faz... você vê, o
cliente está no Programa de Tuberculose, ou outro qualquer, aí a En-
fermeira suspeita de Hansen, ela tem que saber pelo menos o básico
para poder resolver o mais rápido o problema do paciente, para que
ele possa ter qualidade de vida e conforto. A Hansen tem todo um ta-
bu de séculos. É difícil lidar com esse problema porque não é só o
doente, é também os familiares, a sociedade, é tudo isso que também
precisamos vencer. Algumas vezes, é preciso terapias complementa-
res. Então, eu considero que, dependendo do conhecimento da En-
fermeira, o atendimento pode ser cada vez melhor. O aluno tem que
saber disso.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Viso um profissional que possa exercer a sua profissão cada vez me-
lhor, possa ser um continuador que saiba identificar um portador de
Hanseníase e possa oferecer as melhores possibilidades a essas
pessoas. Eu vejo que para isso acontecer, talvez seja necessário re-
ver os currículos das nossas instituições, porque o Sistema de Saúde
hoje é o SUS, e eu acho que ele ainda não foi atendido, e a pressão é
para atender. O mercado de trabalho atualmente é o Programa de
Família, que já é uma metodologia. Isso por causa do salário, que é
maior, mas eu não vejo uma preparação para isso dos alunos. Sei lá,
acho que o pessoal é meio descompromissado. Eu vejo até na pas-
sagem de plantão, as pessoas cumprem o necessário e olhe lá... vejo
que é dada muita importância a monografia, pesquisa, durante o cur-
so, e fico preocupada com esses comportamentos dos profissionais e
dos alunos. Na avaliação do MEC, teve escola que tirou A, B. Fico
pensando nestes critérios, será que estão de acordo com a realida-
de? Será que esta avaliação está voltada para a área de conteúdos
de pesquisa? Eu sei que é muito importante despertar o olhar de pes-
quisador no profissional para mudar a prática, que é o que o doente
tem acesso do profissional, mas eu discordo um tanto quanto da prio-
ridade para o mestrado, doutorado, sem conhecimento prático. O pro-
fessor tem que saber atuar no campo, senão fica complicado e sem
retorno adequado. Os Programas de Saúde praticamente sistematiza-
ram a Consulta de Enfermagem nas instituições, você não acha? ‘Tá’
lá escrito e com isso, abriu o campo para o Enfermeiro, só que é pre-
ciso que o ensino se volte para as necessidades do cliente. Eu me
preocupo que eles possam aprender o mais que possam , para terem
outro perfil na vida profissional e se tornem Enfermeiras compromis-
sadas, porque eu acredito na Consulta de Enfermagem. É uma ativi-
dade que é própria da Enfermeira e depende muito do modo como ela
encara ou compreende o que o cliente está precisando, e isso não es-
tá nos protocolos, nos roteiros, está no que você sabe (pausa). O alu-
no tem que perceber isso. Até porque, a vida profissional é muito difí-
cil e está cada vez pior. Os enfermeiros sempre trabalham em dois
lugres, no mínimo, e fica difícil liberação para cursos de especializa-
ção, mas é muito necessário que sejam feitos. Tirando o PSF, ficam
as Cooperativas, que são terríveis (sorri), não se tem férias e nem
décimo terceiro, e os salários são baixos, você tem que trabalhar dire-
to, como é que pode estar saindo para cursos pagos? Depois, eu a-
cho que os alunos das Escolas particulares são mais amadurecidos,
porque já são técnicos e auxiliares. Os alunos das Escolas públicas
são mais imaturos, e aí, muitas vezes, só se dão conta já na vida pro-
fissional, e tentam rever o que não deram importância, e já era. O cur-
rículo, ou quem sabe, os professores, precisam integrar melhor a teo-
ria e a prática. Sabe, eu acho que o nosso discurso é legal, mas a
prática difere: mesmo o SUS, eu acho que ainda prioriza a área
hospitalar e a questão da internação, vaga, está cada vez pior para a
população, se a prevenção não é a área mais importante, cada vez
mais as pessoas vão adoecer. Será que as Faculdades não precisam
rever seus currículos e até pressionarem o Governo para a parte de
Prevenção das doenças? Eu acho que são órgãos que têm força,
mas as ações, decisões, não são tomadas neste sentido. Os hospitais
estão cheios e sem recursos, os clientes, quando procuram os
médicos, é porque são ou estão doentes. Qual é a prevenção para
hipertensão, diabetes, câncer e outros problemas? Pelo que
sabemos, não é só através das ações educativas. Necessitam
exames. Sabe, é um problema cultural, até mesmo dos professores,
que precisam estar ligados na prática. O Governo está exigindo
equipe preparada para a estratégia do Programa de Família, e os
alunos passam mais tempo na área hospitalar, a população está
envelhecendo e os alunos estão preparados para cuidar dos idosos?
Tem professor que acha que Saúde Pública é só prevenção, e que
Consulta é conversar para informar e que isto é mais fácil. Eu não
vejo assim e sei que muito pelo contrário. É um problema cultural
mesmo, que necessita ser estudado, e o currículo pode ser um
caminho porque a Consulta de Enfermagem é o agir do Enfermeiro.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Desculpa, eu falei demais, mas me senti à vontade. Muito obriga-
da pela oportunidade. Se precisar de mais alguma coisa, você tem tudo meu, é
só dar um toque, estou para o que precisar e quem agradece sou eu.
NORMA – Enfermeira, docente, formada há mais ou menos 13 anos. Ensina
os graduandos a desenvolver a Consulta de Enfermagem para a mulher há 10
anos. Programa Saúde da Mulher.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço, sim, desde 1991. Iniciei fazendo a Consulta de Enfermagem no
Projeto de Extensão Universitária, depois como Enfermeira da Secre-
taria Municipal de Saúde e na docência, na sala de parto, acompa-
nhando os alunos. Foi aí que a gerente do Programa da Mulher, da
Secretaria Municipal de Saúde, nos convidou para atuarmos aqui,
neste Centro Municipal de Saúde com os alunos da graduação, e
também promovermos treinamento para as Enfermeiras recém-
concursadas, para atuar com a Consulta de Enfermagem. Isso acon-
teceu em 1993, no Espaço Mulher. Veja bem, são dez anos atuando
aqui no Posto de Saúde, fazendo Consulta de Enfermagem para mu-
lheres, ensinando aos alunos de graduação e eu hoje faço diferente
de coo aprendi, mas por que? Os Programas de Saúde facilitam a a-
tuação da Enfermeira na Consulta.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Para mim, é muito estimulante ensinar a Consulta de Enfermagem, e
estou sempre motivada para aprender e ensinar a Consulta, porque
eu sou uma professora que acredita muito que a chave da nossa atu-
ação é a prevenção, e isso é viável de ser reproduzido. Dificuldades,
temos algumas como: a inexperiência do aluno em visualizar a pelves
no toque, a anatomia e a fisiologia que é ensinada e que, no momen-
to da Consulta de Enfermagem se faz necessário resgatar, até porque
há uma inadequação do ensino, porque os professores que ensinam
essas disciplinas não são Enfermeiras e você sabe, mesmo numa
Escola de Enfermagem cujo Currículo Novo está sendo implantado,
os professores continuam seguindo o Modelo Biomédico. Temos que
levar em conta que os nossos alunos são ainda adolescentes quando
chegam à Universidade, e falta experiência de vida, maturidade. Eu
acho que neste ponto os alunos das universidades particulares são
diferentes, porque eles já são técnicos, auxiliares de enfermagem, e
são mais experientes e mais amadurecidos, até porque a maioria já
trabalha em hospitais, públicos e particulares, e são pessoas mais ve-
lhas do que os nossos adolescentes graduandos. Tem também a
questão do tempo para desenvolvermos habilidades em nossa apren-
dizagem. Eu tiro por mim, todos temos um tempo parap aprendermos,
que é só nosso, e que não é padronizado. É freqüente o aluno que
está já formado, trabalhando, voltar aqui no Centro Municipal e vir ao
setor pedir para tirar dúvidas no exame físico, sobre determinadas
condutas como medicamentos, saber se podem ser prescritos, etc...
principalmente aqueles que hoje estão atuando no Programa de Saú-
de da Família que, hoje, já é uma constante, porque engloba todos os
outros programas. Aí você tem que explicar que podemos, sim, que
isso já foi discutido e acordado. É a tal coisa, eles fizeram o estágio,
viram tudo isso, mas na ocasião que estão atuando, o olhar é diferen-
te, é o tempo que necessitam para o desenvolvimento das habilida-
des. É isso.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Tenho em vista ampliar ao número de Enfermeiras desenvlvendo es-
sa atividade na vida profissional, porque acredito que a Consulta de
Enfermagem possa influir na transformação dos atuais índices de
mortalidade e morbidade. Eu trabalho com Mulheres, na prevenção
do câncer de mama e do colo de útero, e cada mulher é um mundo à
parte. Outro dia, entrei no ‘site’ do Instituto Nacional de Câncer e vi
que o Rio de Janeiro vem despontando em primeiro lugar, e com lar-
ga margem de novos casos, a cada ano. É assustador. Ah, estamos
implantando a Consulta de Enfermagem coletiva. Reuno os grupos de
mulheres e inicio falando como em uma rodada de conversa sobre
saúde, sua importância, etc... deixo que elas falem, opinem, contem
suas vivências, porque às vezes, algumas são mais tímidas, mais
descompensadas e se sentem mais intimidadas quando estão sozi-
nhas, e no grupo elas desinibem, porque passam a ver que podem
trocar com as outras. Os alunos ficam perplexos, gostam porque iden-
tificam a autonomia da Enfermeira desenvolvendo novas metodologi-
as como a Consulta individual e coletiva. Eu acho muito bom que o
aluno possa ver que a cada mulher há uma coisa nova, cada mulher é
uma coisa nova. Já treinamos muitas Enfermeiras que se tornam ap-
tas a desenvolver a Consulta de Enfermagem, e se queixam que es-
tão com muitas atividades administrativas, e alegam que o Consultó-
rio toma muito tempo. Acho que toma mesmo, e necessita de muito
envolvimento, estudar, se informar sobre tudo que acontece, depende
também de cada uma de nós. Neste Centro Municipal tem Enfermei-
ras Assistenciais que desenvolvem bem a Consulta de Enfermagem.
Eu considero a Consulta de Enfermagem um grande instrumento de
trabalho da Enfermeira, é a modalidade do cuidar do cliente. Acho
que falei demais, mas é isso, é um aprender constante, comigo é as-
sim e com eles também será. O importante é fazer e estudar.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não, mas quero assistir a defesa. Se precisar de alguma coisa, é
só telefonar lá para casa, celular ou aqui no Posto. Você sabe, foi com muito
prazer que respondi e me sinto honrada.
Pesquisadora: Obrigado.
PAULA – Enfermeira, docente, formada há 14 anos, dez anos ensinando,
sempre atuou na Consulta. Programa de Tuberculose.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço sim. Eu desenvolvo dentro da atividade de pesquisa do Progra-
ma de Tuberculose. Eu também, quando era professora da AFE, en-
sinava aos alunos a Consulta de Enfermagem nos Programas de
Saúde. Também, nos ensinos clínicos, eu ensino a Consulta. Publi-
camos um trabalho com os alunos que gosto muito do título: “O quen-
te antes do frio”, que fala da experiência da Consulta no pré-
operatório. O quente são as orientações específicas para a cirurgia e
após operação; o frio é a cirurgia em si, que o doente não tem voz.
(sorrisos). Estou formada há quatorze anos. São dez anos ensinando.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto muito e procuro mostrar que é a atividade da Enfermeira,
porque é a ação autônoma, você trabalha com o cliente, com a famí-
lia, com a comunidade e com a equipe de saúde. No Programa da
Tuberculose, tudo fica por nossa conta, o cliente nem precisa da con-
sulta médica, só se tem algum problema. A Enfermeira é quem faz e
vê tudo. Tem os protocolos, mas você é quem decide com o cliente. É
muito interessante, porque você pode mostrar para o aluno que ca-
da pessoa é uma pessoa, apesar de várias pessoas terem o mesmo
diagnóstico. Nós atendemos alcoólatras, traficantes, marginais, gente
de todo tipo, e cada um tem a sua forma de viver a sua vida. É uma
pena que ao ensinarmos aos nossos alunos, eles convivam durante
todo o curso, na maioria das vezes só com pessoas carentes, mas
nos Programas de Tuberculose, Hanseníase, AIDS, toda população
recebe os medicamentos através dos Postos, Unidades de Assistên-
cia do Governo. Aí, você vê como a população independente do nível
social, tem dificuldades em aceitar um diagnóstico deste tipo. É claro
que a assimilação das orientações, condutas, acontecem de forma di-
ferente, mas todos levam algum tempo para ser portador de alguma
doença. A Enfermeira trabalha até isso. Eu, quando fiquei grávida, e
ia `s consultas médicas, nunca a médica examinou meu seio. Veja
você só. Aí, eu ficava pensando, será que é porque ela sabe que eu
sou Enfermeira? Eu acho que não, é porque o médico se detém em
outros aspectos. Na verdade, nós complementamos todo o resto. No
meu curso de Graduação, eu aprendi a desenvolver um pouco da
Consulta de Enfermagem no pré-natal, no setor de tuberculose, e era
diferente demais, os Programas não eram integrados, era diferente,
mas eu aprimorei minha atuação na vida prática quando fiz o curso de
Epidemiologia Sanitária na Escola Nacional de Saúde Pública e, veja
só, eu sou do Departamento Médico-Cirúrgico. Depois, quando fui
desenvolver o meu trabalho de mestrado, fiz um acordo com a Chefe
do Setor de Tuberculose, porque não havia Enfermeira no setor. Eu
fiz os atendimentos e em troca, colhi os dados a minha pesquisa. Isso
foi de 1997 à 99. Foi uma experiência muito boa. É um trabalho de
equipe. Tem que ser. Depois, ganhei uma bolsa de estudos pela
Johns Hopkins University, aí já em função da pesquisa que hoje faço
parte. Eu acho assim, o aluno precisa conhecer os Programas, atuar
com a Consulta para que ele possa Ter idéia e compromisso com e
como se aprimorar. Porque só com o que nos é dado não podemos
dar qualidade para os clientes, e eu considero a Consulta uma moda-
lidade de ensinar a cuidar, a ver o outro com as suas necessidades, e
eles falam para nós das suas necessidades. É a nossas assistência
pessoal. É um aprender diário com todos a cuidar.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Que na vida profissional os nossos alunos não sejam mecanicistas,
exerçam as suas funções conscientes de suas responsabilidades e
tenham compromisso com os clientes e de continuidade da ação. Eu
vim para o ensino porque eu não estava satisfeita com a prestação de
assistência, com a prática embora a Consulta de Enfermagem sem-
pre fez parte da minha atuação. Eu acho importante os cursos de Es-
pecialização para o aprimoramento, aprendizagem da Enfermeira,
mas o que a gente vê é que as pessoas se especializam, fazem mes-
trado e ficam longe da prática. Aí não dá porque eu tenho uma parce-
ria com as Enfermeiras assistenciais. Elas têm medo de escrever, de
apresentar trabalhos, mas elas sabem muito, só precisam de parceriª
Então, precisamos desenvolver os trabalhos juntas, eu, elas e os alu-
nos. Você veja, nós temos 450 casos de contatos com a Tuberculose
na pesquisa, precisamos divulgar esse trabalho, mas é uma pesquisa
conjunta. É isso que eu penso, temos que nos integrarmos, o docente
com o seu saber acadêmico, e o Enfermeiro assistencial. Os Progra-
mas facilitam o agir da Enfermeira e faz com que possamos atender a
todas as classes sociais. É assim no da Tuberculose. Eu tenho pes-
soas de bom nível intelectual. A doença aparece para todo mundo e
as pessoas precisam ser tratadas como pessoas únicas, e estimula-
das a continuar vivendo. É isso, compromisso, aceitação do outro,
competência para que a autonomia que a Consulta de Enfermagem
propicia não seja vista de forma pessoal, como é até hoje, mas da
profissão Enfermeiro. Aí, eu não sei se é o currículo dos Cursos de
Enfermagem, acho que são os professores que precisam ensinar aos
alunos durante o curso a fazer a Consulta, não só em um momento,
porque fica um ensino dissociado, acontece na Saúde Pública e de-
pois vai depender de outro professor. O pessoal faz ações educati-
vas, sala de espera, muitas outras atividades. O aluno passa no cam-
po de estágio, uns cinco dias fazendo Consulta, é muito pouco. Vai
para a vida profissional e aí fica assustado. O Programa de Saúde da
Família agora é uma estratégia da prestação de assistência, eu tenho
muitas dúvidas se os Enfermeiros estão indo trabalhar por opção, co-
nhecimento para desenvolver as ações ou se é oportunidade de em-
prego. Fico na dúvida, porque vamos continuar com uma atuação
pessoal, e não profissional. É isso que eu penso.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não, acho que já falei tudo. Gostei muito de participar. Fala da
defesa para nós estarmos lá.
Pesquisadora: Lógico! Obrigado.
SANDRA – Enfermeira docente, 25 anos de formada, há 15 faz Consulta de
Enfermagem, sendo 7 na Gerontologia.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Sim, desenvolvo sim, no Programa de Gerontologia, e acompanho os
alunos no período de estágio neste campo e mantenho o campo há
sete anos e muitos outros na Consulta, uns vinte anos ao todo. É?
4. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- É um prazer fazer isso. Eu digo porque: primeiro, para o aluno, quan-
do chega no estágio, ele aprende a ser Enfermeiro, percebe a auto-
nomia da atividade, ele aprende a conhecer esse sujeito, com suas
especificidades no Programa de Geriatria. É um mundo à parte, a Ge-
riatria. Segundo, é um momento de aprendizagem para o professor e
para a enfermeira e para todos. Eu aprendo muito, mas muito mesmo.
Eu aprendi a fazer Consulta de Enfermagem no curso de Graduação,
mas era diferente, hoje é outra coisa. Mas, para mim, não foi marcan-
te, eu acho que estava com outras preocupações técnicas, eu acho
que era isso... só com o passar das minhas experiências profissionais
é que descobri que é a atividade que dá a cara do Enfermeiro. Tam-
bém, depende de quem ensina, não é? Para mim, é assim, eu gosto
de ensinar e considero uma estratégia didática de ensinar a cuidar
dos pacientes para os alunos.
5. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Primeiro, sensibilizar o aluno para a atividade que é própria do En-
fermeiro. Instrumentalizá-lo para a vida profissional. Eu quero que e-
les possam aprender a lidar com os diversos grupos da sociedade...
particularmente na Consulta de Enfermagem para o Idoso, eu acho
muito pouco tempo, porque são muitas coisas para serem vistas. O
idoso é um mundo de coisas. Na opinião dos alunos, eles necessitam
de mais tempo no setor, durante o curso. Eu acho também. Eu procu-
ro mostrar para eles que a Consulta está atrelada a uma teoria ou vá-
rias teorias, e isso se perde ao longo do curso, acho que não tem
continuidade no currículo. Eles sempre solicitam uma volta para o se-
tor, mas você sabe, nós não temos tempo e eu não tenho disponibili-
dade, não podemos contemplar. Penso que os cursos de especializa-
ção favorecem esse aprimoramento, não é? Ah, eu percebo que os
Enfermeiros não fazem a atividade por medo do exame físico, dos
conteúdos da Consulta, principalmente os Enfermeiros da rede bási-
ca. Eu acho que através dos cursos de atualização, extensão, abran-
geríamos essa demanda, porque o que não dá é que uns fazem, e
outros não. Agora, sem fazer, não dá para ensinar. Eu nunca tive es-
sa dificuldade, mas eu sempre atuei na prática e isso eu acho que faz
a diferença, porque ensinar a alguém a ser profissional é difícil, e a
Consulta também é.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Eu quero dizer que eu considero da maior relevância o seu estu-
do. Faz uma chamada para a reflexão. Só ao responder as perguntas, eu já
repensei umas tantas coisas. Eu acho isso, temos que rever este ensino da
Consulta. Eu adorei. Obrigado. Estarei na defesa.
Pesquisadora: Claro! Obrigado.
SOLANGE – Enfermeira, docente, formada há 9 anos. Ensina aos graduan-
dos de Enfermagem no Setor de Imunização há 3 meses, mas faz Consulta de
Enfermagem há 3 anos.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Eu considero que faço, porque a Consulta de Enfermagem é como a
Enfermeira atua. Neste setor, eu não faço uma Consulta completa,
mas eu ensino ao aluno a fazer as observações devidas, a identificar
se a criança está com febre, se tem manchas na pele, se tem alergi-
as, as reações que podem ocorrer, orientar as mães ou responsáveis,
aplicar as vacinas, o esquema de Imunização que é preconizado pelo
Ministério da Saúde, a preencher os formulários e as cadernetas de
vacinas. Eu fiz o curso de mestrado na Escola Nacional de Saúde
Pública, e trabalhava antes com Epidemiologia e já trabalhei durante
dois anos na favela, com crianças e adolescentes, e eu fazia Consul-
ta, dava orientações específicas e prestava assistência. Agora, estou
acompanhando os alunos há apenas três meses neste setor.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- Eu gosto. É uma experiência satisfatória. Como trabalhei com Epide-
miologia, incentivo sempre o olhar de bom observador, de investiga-
dor, para tomar providências adequadas para cada caso, e, para isso,
é importante deixar o paciente à vontade. Faço com prazer. Eu não
aprendi como estou ensinando. Eu acho também que você vai apri-
morando e o aluno não consegue enxergar a importância ainda. Só
depois, com a prática.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Na vida profissional, continuidade da profissão, porque a Consulta de
Enfermagem faz parte da atuação da Enfermeira. É uma prática para
ajudar a modificar os comportamentos. Pena que nem todos façam a
Consulta de Enfermagem porque não conseguem se desvencilhar
das outras atividades administrativas. Só que eu acho que o aluno
tem que aprender que vai necessitar estudar, se especializar e se de-
dicar sempre para dar o melhor que possa ao cliente ou paciente.
Penso que os currículos deveriam dar mais atenção à Consulta. O
mercado de trabalho vem atentando para os trabalhos autônomos e a
Consulta é direcionada pela Enfermeira, de acordo com as necessi-
dades que os pacientes apontam. É a maneira do aluno aprender a
atuar na profissão, com autonomia, e do professor ensinar ao aluno a
modalidade de ensinar a prestar cuidados.
Pesquisadora: Obrigado. Você quer falar mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Acho que respondi e agradeço por poder participar.
Pesquisadora: Obrigado.
SUSANA – Enfermeira, docente, formada há vinte e tantos anos. Faz Consul-
ta de Enfermagem há muitos anos, mas no Programa de Reabilitação do Alcoo-
lismo e Outras Drogas, desde 1999.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço, desde 1999 no Centro de Estudos de Prevenção e Reabilitação
do Alcoolismo e outras Drogas. Acompanho os alunos e também
mantenho o campo com a enfermeira assistencial. Veja bem, é um
Centro de Estudos, logo, os atendimentos são constantes, indepen-
dente do período de estágio dos alunos. Eu faço parte do Grupo do
Centro de Estudos. Só que trabalhei outros tantos anos, muitos, na
assistência, e aprendi muito e foi o que me deu base.
2. Fale como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enfer-
magem aos graduandos de Enfermagem.
- É gratificante, os alunos gostam, se sentem satisfeitos e a contribui-
ção da Consulta de Enfermagem é efetiva, porque nós conseguimos
ajudar na manutenção da saúde dos clientes e na abstinência do ál-
cool e/ou drogas. Auxiliamos na promoção da saúde (...) são dadas
informações aos clientes e a sua família. Temos um protocolo de re-
gistro da Consulta, mas eu acho que a Consulta não está restrita a
esse protocolo. Ela vai além de dados e de fichamento específicos do
protocolo. Eu não estou satisfeita. Gostaria de participar de um grupo
de estudos sobre a Consulta de Enfermagem a nossa Escola...
não seria bom? (sorrisos). Este corpo de conhecimento na área de
Alcoologia e Drogadição tem uma demanda reprimida e é necessário
que possamos ampliar e criar esse mercado de trabalho para a En-
fermeira. Os donos das clínicas de tratamento e reabilitação têm pro-
curado o CEPRAL porque precisam de profissionais, Enfermeiros
com esta capacitação. Evidentemente, à medida que o Enfermeiro te-
nha Especialidade na área, ele vai desenvolver a Consulta de Enfer-
magem mais dentro da realidade. A Clínica de Vassouras está espe-
rando um Enfermeiro para atuar. O Enfermeiro, antigamente, só era
contratado para atuar no assistencialismo, nós não aprendemos a fa-
zer Consulta, aprendi no grito. Atualmente, com a Consulta de Enfer-
magem, eles estão querendo contratar a Enfermeira para a manuten-
ção, reabilitação do cliente alcoolista e/ou usuário de outras drogas. A
Enfermeira tem autonomia e participa dos grupos multidisciplinares e
interdisciplinares. No Programa, a Consulta de Enfermagem é reali-
zada mês sim, mês não, intercalada com a Consulta Médica. A En-
fermeira prescreve exames complementares a exemplo dos Progra-
mas do Ministério da Saúde, repete-se a receita do paciente, Progra-
mas de Doenças Crônicas e Degenerativas, Diabetes, Hipertensão,
Hanseníase, Tuberculose e outros. Faz encaminhamentos para os
outros profissionais. É assim: ele passa por todos os profissionais e é
na nossa consulta que verificamos se está sendo tratado holistica-
mente. É assim, a Consulta de Enfermagem é um elo do tratamento e
da reabiitação. Isso é muito sofrido porque eu fico muito, muito preo-
cupada com esse paciente, qualquer insatisfação ele volta tudo ao ze-
ro, são idas e vindas sempre. Você tem que controlar as ansiedades,
eu fico muito, muito ansiosa. São muitas coisas que interferem. Eu
acho muito pouco tempo para a aprendizagem, só dá para uma vaga
noção e o aluno tem que ter um tempo para isso. Eles passam quatro
dias no campo e oito horas de teoria. Eu considero, eu vejo a Consul-
ta, ela é o ‘boom’, o ‘boom’ da atuação da Enfermeira, é um aprender
muito grande, porque cada pessoa tem um ensinamento, é aprender
e ensinar e aprender, todo dia.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Eu tenho em vista que eles vejam a importância da autonomia da En-
fermeira. Eu estou estudando para que daqui a algum tempo, o En-
fermeiro através do conhecimento adquirido com este saber, possa
ter a sua autonomia, através da Consulta de Enfermagem e possam
atender a clientela junto com a Equipe de Saúde. Eu vejo o mercado
de trabalho que se abre para essa possibilidade da Consulta na vida
profissional e a continuidade da profissão. Para isso, é preciso de-
senvolvermos essa estratégia de ensinar a cuidar bem dos clientes
aos nossos alunos que a Consulta nos possibilita hoje.
Pesquisadora: Você quer falar mais alguma coisa mais?
Entrevistada: Só que eu agradeço muito por participar do seu estudo. É muito
prazer para mim. Eu quero que você saiba disso. É muito relevante. Foi muito
bom.
Pesquisadora: Obrigado. Você é uma estrelinha desse Programa.
VICTÓRIA - Enfermeira, docente, formada há treze anos. Faz Consulta no
Programa de Diabetes e Hipertensão há oito anos.
1. Você faz a atividade assistencial Consulta de Enfermagem?
- Faço. Acompanho os alunos nos campos de estágios e a Enfermeira
responsável pelo setor ou pelo Programa participa, dividindo o espaço
e participando do treinamento, das dúvidas dos alunos, de como é no
dia-a-dia.
2. e como é para você ensinar a atividade assistencial Consulta de Enferma-
gem aos graduandos de Enfermagem.
- Como é para mim (...) Olha, eu gosto e acredito que através da Consul-
ta você ensina e aprende muito com os clientes, porque você ouve e à vezes
você ouve coisas e mais coisas que nem pensou que iria ouvir, porque não é
sobre a patologia, os remédios, o que os médicos não fizeram ou como fizeram,
são coisas muito subjetivas, lá de dentro da pessoa. Na Consulta, embora ela
seja uma atividade científica (...) a Enfermeira tem que ser gente, ela não pode
ter preconceitos, tem que trabalhar com a percepção, é pessoal. Aí, você se
envolve e o tratamento acontece. (pausa) Eu acho que nem todos fazem a
Consulta porque precisa de tempo, de conhecimentos além dos científicos e
técnicos. Vejo que os alunos gostam do setor e participam mas ainda estão
querendo os roteiros, tudo escrito no papel. Digo, Consulta não se faz no papel,
papel é conseqüência. Só vemos o outro se estivermos querendo vê-lo, não é?
Você fica sempre repetindo a mesma coisa, até porque eu sei que mais tarde,
ele vai valorizar a Consulta. Eles ficam muito mais tempo no hospital, e eu acho
que saber mexer com máquinas, agulhas, neste momento é o que eles pensam
ser necessário. Eu não ensino hoje a Consulta que aprendi, porque não era
desse jeito, e quando se passava pelos setores, você assistia, orientava, fazia
curativos e, e... Eu não aprendi mesmo e aí a necessidade obriga a buscar o
conhecimento. Eu me preocupo que eles não saiam sem saber mas depende
deles, e se todos os professores dessem continuidade, só que não é assim
(pausa) dá trabalho Eu não acho fácil fazer e nem ensinar a fazer a Consulta,
mas para mim é muito prazeroso, é muito mais do que as técnicas, é pessoal
demais. O currículo deveria dar prioridade à área de Saúde Pública, o PSF está
aí e precisamos preparar o nosso ensino, então rever e ajustar o currículo para
sair do enfoque tecnicista.
3. O que você tem em vista quando ensina a atividade assistencial Consulta de
Enfermagem aos graduandos de Enfermagem?
- Algumas coisas eu almejo... eu acho que é a prática profissional, nossa,
e cada vez tem que ser continuada. A Enfermagem ganhou uma certa posição
com as Consultas, o retorno dos clientes é rápido, a equipe de saúde acredita e
os médicos nem se fala, eu penso que as Enfermeiras alegam que fazem mui-
tas coisas... é verdade, elas trabalham muito e atualmente você tem que estu-
dar, se especializar, e trabalhar para sobreviver... um campo que sempre está
precisando é a área de ensino... tem muita Enfermeira dando aula nas Escolas.
Tem Escola que prioriza Enfermeiro com experiência na prática. Porque os
mestres e doutores, nem todos atuam na prática. Isto é outra coisa que tento
mostrar ao aluno, se ele não unir teoria e prática, fica complicado. Os nossos
alunos fazem muitas coisas e eu acho que isso descompromete. É tudo rapidi-
nho, tudo pronto. O comportamento das pessoas está muito diferente, e aí eu
fico pensando: como é a valorização do ser humano para essas pessoas? A
Consulta é uma ação que está direcionada para mudança de comportamento. A
pessoa chega doente, com medo, desvalorizada, às vezes abandonada, com
problemas sociais, físicos, emocionais, com tudo que pode de ruim espera a
vez de ser atendida e nem sempre é quando precisa. Aí, a Consulta acontece e
precisa mudar tudo isso através do que a Enfermeira faz para a partir dalí, po-
sas se sentir capaz de continuar vivendo... Nossa, isso é tudo. Eu acho que te-
mos um lugarzinho reservado (sorrisos). É difícil que os alunos consigam isso,
acho difícil ensinar, é tudo particular demais. Já falei do aluno, do cliente.. Ah,
eu vejo que hoje, a Consulta como uma modalidade de cuidar já comprovada e
tem que estar no Currículo. Ela dá autonomia ao Enfermeiro para decidir, en-
caminhar, solicitar Parecer, o aluno tem que aprender isso.
Pesquisadora: Você quer falar mais mais alguma coisa?
Entrevistada: Não. Eu falei o que quis. Agora só se você achar que precisa.
Pesquisadora: Obrigado.