MARISTELA WESSLER DAGOSTIM
O IMAGINÁRIO POLÍTICO PARANAENSE NA “ERA VARGAS”: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL RIBAS
(1930 -1937)
CURITIBA
OUTUBRO/2008
ii
MARISTELA WESSLER DAGOSTIM
O IMAGINÁRIO POLÍTICO PARANAENSE NA “ERA VARGAS”: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL RIBAS
(1930 -1937)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de História da Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes para a obtenção do grau de Bacharel em História pela Universidade Federal do Paraná.
Orientadora: Profª. Drª. Ana Paula Vosne Martins
CURITIBA
OUTUBRO/2008
iii
AGRADECIMENTOS
No que diz respeito ao espaço acadêmico quero agradecer a Professora Ana Paula
Vosne Martins, minha orientadora, pelo seu incentivo e direção neste trabalho, e também pela
sua dedicação e excelente desempenho na condução do PET – Programa de Educação
Tutorial, do qual fui bolsista. O enfrentamento dos desafios por nós propostos, tanto para os
trabalhos desenvolvidos em grupo, quanto para o trabalho individual, foram de grande valia
para o amadurecimento intelectual como um todo.
Como resultado de um exercício de aplicação dos conhecimentos adquiridos ao longo
do curso, agradeço a todos os professores do departamento, os quais contribuíram para a
minha formação acadêmica. Mas em especial, àqueles cuja contribuição foi central para o
desenvolvimento deste trabalho, os Professores Carlos Alberto Lima, Helenice Rodrigues da
Silva, Luiz Carlos Ribeiro, Luiz Geraldo Silva, Marion Brepohl de Magalhães e Roseli
Boschilia, deixo o meu singelo agradecimento.
Quero agradecer também aos profissionais que me deram o apoio necessário ao
trabalho de pesquisa na Biblioteca Pública do Paraná, Seção Paranaense, em especial a
atenção dispensada por Josefina Palazzo Ayres e Vilma Aparecida G. Nascimento.
Agradeço em especial o apoio amável de Diniz, meu marido, Daniel, Bernardo e Júlia,
meus queridos filhos, e de todos os demais amigos. Eles não foram importantes somente para
esta realização. O carinho, a compreensão e também a crítica vinda deles, me proporcionou o
fundamental enriquecimento subjetivo diário, sem o qual nenhum trabalho subsiste.
Pela presença constante deles na minha vida, juntamente com a presença de todos
aqueles que contribuíram diretamente para a realização desta experiência acadêmica eu
agradeço a Deus. Dele vieram todos estes presentes já mencionados, e acima de tudo, o
padrão de ética e moral que dão sentido à minha vida.
iv
RESUMO
Palavras-chave: história política, imaginário político, Paraná.
No cenário conflituoso da imposição das interventorias federais após o movimento
político-militar que colocou Getulio Vargas na chefia do governo provisório em novembro de
1930, o interventor paranaense não se sustentou no poder, renunciando em dezembro de 1931.
Seu substituto, Manoel Ribas, sendo nomeado em janeiro de 1932 permaneceu à frente do
Executivo estadual até a deposição de Vargas em outubro de 1945. Dividida em três capítulos,
esta pesquisa buscou compreender o sucesso desta indicação, através da relação entre
imaginário social e representação social na construção da figura pública de Manoel Ribas.
Usamos como referencial teórico-metodológico o conceito de imaginário social definido por
Ansart, e o conceito de representação social definido por Denise Jodelet. O primeiro capítulo
trata do contexto nacional dos anos 1930, e os capítulos subseqüentes abordam da gestão e a
representação social desta figura pública. Nossas fontes contam com documentos oficiais e
jornais.
v
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................................06
CAPÍTULO 1: O CONTEXTO NACIONAL DOS ANOS 1930.............................................11
CAPÍTULO 2: O GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ NOS TUMULTUADOS ANOS
1930...........................................................................................................................................31
CAPÍTULO 3: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL
RIBAS.......................................................................................................................................50
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................63
FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................68
6
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa buscou inserir-se no quadro de renovação teórico-metodológica da
história política presente nos trabalhos de autores que procuraram problematizar o político
com ênfase no imaginário. Nosso recorte espaço/temporal abrange a administração pública
paranaense no período que se inicia em outubro de 1930, com o movimento insurrecional que
foi denominado por seus próprios atores como Revolução de 1930, e vai até o início de
vigência do Estado Novo em novembro de 1937.
Entendemos o “político”, como nos ensina Claude Lefort, como instância que
atravessa todo o conjunto social, fazendo-se presente em todos os seus domínios, abrangendo
neste sentido as relações que se estabelecem entre as práticas, as crenças e as representações.
“Pensar o político” 1 pode levar o historiador a identificar nas experiências históricas, os
diferentes modos com que os vários sistemas e setores das relações sociais se articularam.
Tal perspectiva acompanha também o pensamento de outro filósofo político, Cornelius
Castoriadis, o qual chama atenção para a impossibilidade de compreendermos o mundo das
relações entre indivíduos fora do imaginário, visto que a linguagem ou as instituições são
constituídas em parte pelo simbólico. Tanto o imaginário utiliza o símbolo para existir, como
o simbolismo pressupõe a capacidade imaginária do homem.
Desta maneira, as formas de apreensão do real, sejam por qual meio for, são definidas
pela função simbólica. Um simbolismo não totalmente neutro nem inteiramente adequado ao
funcionamento dos processos reais. A sociedade o engendra dentro de limites, pois que “todo
simbolismo se edifica sobre as ruínas dos edifícios simbólicos precedentes, utilizando seus
materiais” 2
Nosso objetivo foi buscar estabelecer uma inteligibilidade da história política do
Paraná, através da investigação da construção da representação política de Manoel Ribas em
sua ação na esfera estratégica do Sistema de Interventorias e a relação deste processo com a
dinâmica social a ele subjacente. Para tal, privilegiamos como fonte, por um lado, o discurso
do poder, informado tanto pelo seu Relatório de Governo, quanto por suas Mensagens, como
Governador eleito à Assembléia Legislativa. Por outro lado, procuramos conhecer o discurso
dos jornalistas responsáveis por sua positiva representação, seus locutores políticos.
1 LEFORT, Claude. Pensando o político. Ensaios sobre a democracia, revolução e liberdade. p. 254-259. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1991. 2 CASTORIADIS, Cornelius. A instituição imaginária da sociedade, p. 144. São Paulo: Paz e Terra, 1986.
7
No cotejamento dos dois discursos procuramos compreender a relação entre a proposta
de administração pública de Manoel Ribas, e a dinâmica política e social do período,
informada também pelos jornalistas do periódico Gazeta do Povo. A escolha de tal periódico,
entre outros que circularam no período, deveu-se a sua cobertura constante, e, principalmente,
ao fato de que alguns de seus jornalistas transformaram-se em verdadeiros “locutores
políticos” 3 da figura pública em evidência.
Pensamos que tanto a ascendência histórica do novo interventor quanto o seu
imbricamento por laços de parentesco com a elite política local tiveram peso decisivo na sua
acomodação no cenário político deste momento. Porém, tais elementos podem ser verificados
também no que diz respeito ao nome do interventor que não conseguiu permanecer no cargo.
Ademais, estas mesmas marcas, qual sejam, a ascendência histórica e o imbricamento
por laços de parentesco, estão presentes no padrão social dos representantes políticos
anteriores e posteriores a 1930. A problemática desta pesquisa foi gerada então pela
necessidade de entender o que contribuiu de fato para o estabelecimento de um sistema de
relações sociais entre o novo interventor e a elite política paranaense, bem como sua longa
permanência no cargo máximo da administração pública do Estado.
Dado que essa pesquisa dedicou-se a perceber a relação entre uma dada representação
social e o imaginário social a ela subjacente, interessou objetivar a produção de alguns autores
que se ocuparam com esta reflexão. Neste sentido, amparamo-nos em alguns conceitos que
nos permitiram ler as fontes extraindo delas aspectos que foram tratados qualitativamente no
sentido de responder às nossas indagações.
Denise Jodelet, uma das estudiosas da noção de representação social e principal
colaboradora e continuadora do trabalho pioneiro de Moscovici4 definiu o conceito de
Representações Sociais como um pensar prático, o saber do senso comum, “como uma forma
de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, tendo uma visão prática e concorrendo
para a construção de uma realidade comum a um grupo social ”5. A partir do conceito de
imaginário, como “o conjunto das evidências implícitas, das normas e valores que asseguram
3 ANSART, Pierre. Ideologias, conflitos e poder, p. 16. . Rio de Janeiro: Zahar editores, 1978. 4 Segundo Celso Pereira de Sá, Denise Jodelet deu continuidade ao trabalho do psicólogo social francês, Serge Moscovici, um dos primeiros delineadores do conceito e da teoria das Representações Sociais através do trabalho intitulado La psichanalyse, son image ET son public: SÁ, Celso Pereira de. Representações Sociais: o
conceito e o estado atual da teoria. In SPINK, Mary Jane (Org.) O conhecimento no Cotidiano: As
representações sociais na perspectiva da psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 1993. 5 JODELET, Denise. Representações sociais: um domínio em expansão, p. 22. In: JODELET, Denise (org.). As
representações sociais. Rio de Janeiro: Uerj, 2001.
8
a renovação das relações sociais” 6, procuramos fazer a relação entre a representação social
de Manoel Ribas, sua administração e o imaginário social a ela subjacente veiculados no
periódico usado como fonte para a pesquisa.
Esta relação torna evidente o fato de que, “a vida política se desenrola
permanentemente no plano das ações e no plano da linguagem e a produção ideológica não
cessa de acompanhar o conjunto dos empreendimentos, das tentativas e das decisões”.7
Portanto se faz necessária, como sugere Ansart, a ampliação da noção de ideologia cujo foco
não é a ideologia enquanto sistema intelectual estruturado, mas sim o trabalho ideológico das
linguagens políticas de uma sociedade, as condições desse trabalho e suas conseqüências.8
Neste sentido, procuramos perceber através das fontes os elementos evocados na
representação do interventor que contribuíram para sua legitimação, bem como para seus
longos anos de administração pública no Paraná. Estes bens de significado político divulgados
pelos mecanismos que os colocaram em circulação, ora adaptando-os, ora transformando-os
foram apresentados aos cidadãos e desempenharam a função de produzir consenso.
No primeiro capítulo deste trabalho procuramos abordar o contexto nacional deste
governo, no sentido de podermos fazer nos capítulos seguintes a relação entre a administração
pública paranaense e o conjunto de circunstâncias em que ela ocorre no interior do cenário
político nacional. Entendemos que a conjuntura nacional que antecedeu o golpe de 1937 é
bastante rica de elementos que apontam para uma sociedade bastante articulada. Tal
articulação se deu através de seus grupos de pressão, dos partidos políticos que a partir de
1933 entraram novamente em cena, e, quando da volta a normalidade constitucional, também
através dos seus representantes políticos eleitos pelo povo.
Como nos mostrou Dulce Pandolfi, este contexto caracterizou-se pela incerteza, pela
instabilidade, por marchas e contramarchas políticas9. Neste cenário que se vai desenhando
podemos observar também a emergência de lideranças, as quais apresentavam estratégias
políticas para atacar de frente os desafios suscitados por uma também nova sociedade de
massas que se formava.
6 ANSART, op. cit., p. 21. 7 ANSART, op. cit., p. 10. 8 ANSART, op. cit., p. 17. 9 PANDOLFI, Dulce. Os anos 1930: as incertezas do regime, p. 14 -37. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo: do início da década
de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
9
Neste sentido, o segundo capítulo de nossa pesquisa apresenta a administração de
Manoel Ribas em dois momentos. Primeiramente como Interventor do Paraná, cargo que
ocupa de fins de Janeiro de 1932 até janeiro de 1935, quando foi eleito indiretamente pela
Assembléia Estadual e assumiu o Governo Constitucional do Estado. Cargo no qual
permaneceu até o início da vigência do Estado Novo. Na verdade há um terceiro momento que
começa com a implantação do Estado Novo, pois Manoel Ribas voltou à posição de
Interventor, na qual perseverou até outubro de 1945, ou seja, até a deposição de Getúlio
Vargas. Este período, porém, fará parte de pesquisa futura.
No terceiro capítulo desta pesquisa procuramos investigar o processo de construção da
representação social e política do poder e a relação desta representação com o imaginário
social a ela subjacente. Neste sentido, interessou-nos, sobretudo, objetivar a produção de
autores que se ocuparam com a reflexão sobre a relação entre imaginário social e
representação apontando também a relação entre estes e a dinâmica social que os movia.
Além do paradigma da auto-instituição da sociedade, através do qual Castoriadis
apresenta o imaginário como agente formador do social, como força organizadora do mundo
social-histórico, foram importantes as reflexões de Ansart acerca da “imanência dos
significados na prática social”.10 E é justamente pela imanência do imaginário na produção
social de significados, e neste particular na produção social de significados políticos, que o
processo de produção e circulação dos bens de significados de uma determinada conjuntura
constitui-se em elemento decisivo para sua compreensão.
Desta maneira, foi importante para este capítulo o conceito de representações sociais,
também mencionado acima, visto que através delas os jornalistas mobilizam um conjunto de
conceitos, valores, afirmações e explicações socialmente elaborados e partilhados,
concorrendo para a construção desta realidade comum a um conjunto social. Por um lado,
atentamos para o fato de que para tais conceitos e explicações contribuíram julgamentos
valorativos vindos de fontes e experiências diversas, devem ser consideradas, como aponta
Moscovici, como verdadeiras teorias do senso comum, como “forma de compreensão que
cria o substrato das imagens e sentidos, sem a qual nenhuma coletividade pode operar”. 11
Por outro lado não podemos negligenciar o fato de que, enquanto forma de
conhecimento cuja finalidade é atender às necessidades de interpretar e mesmo construir as
10 ANSART, op. cit., p. 21-35. 11
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social, p.48. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
10
realidades sociais, as representações sociais estão embasadas no contexto e na própria
vivência dos sujeitos nelas envolvidos. Neste sentido, colocados “entre o universo dos
senhores e dos dominados”,12 a função que os jornalistas desempenharam contribuiu para a
transmissão e cristalização do imaginário daqueles aos quais representaram. São portadores
de uma espécie de “senso comum” sobre a variedade dos assuntos e objetos sociais ali
veiculados, mas são também são correias de transmissão de uma determinada cultura, de um
determinado saber.
As representações sociais são então o material com o qual os fatos ou fenômenos são
construídos enquanto tal e veiculados no periódico, são constituídas, portanto, como objetos
de conhecimento psicossocial. Conseqüentemente, elas não devem ser reduzidas a um evento
intra-individual, tampouco devem ser diluídas como forma de um pensamento social. Elas
estão embasadas no contexto e na própria vivência dos sujeitos nelas envolvidos.
Contudo, o simbolismo que as reveste, como nos mostra Castoriadis, não é totalmente
neutro, nem inteiramente adequado ao funcionamento dos processos reais. É gerado
socialmente dentro de limites, pois “todo simbolismo se edifica sobre as ruínas dos edifícios
simbólicos precedentes, utilizando seus materiais”.13
Para além dos discursos que traduzem a ação ou as propostas de ação de determinado
grupo, existem aqueles elementos extra-discursivos que muitas vezes falam mais que
palavras. Ao analisar tais elementos, os quais fizeram parte das justificativas ideológicas da
primeira república, José Murilo de Carvalho viu na batalha pela conquista do imaginário
popular no momento da implantação do regime republicano a tentativa de “formação das
almas”.
Foi assim que imagens de heróis, mitos e outros símbolos, transbordaram o restrito
circulo das elites através de um empreendimento político-pedagógico que visava atingir mente
e coração de toda a população. Como nos mostrou o autor, podemos observar que através do
imaginário “as sociedades definem suas identidades e objetivos, definem seus inimigos,
organizam seu passado, presente e futuro (...). O imaginário social é constituído e se
expressa por ideologias e utopias... (e)... por símbolos, alegorias, rituais, mitos.” 14
12 VOVELLE, Michel. Ideologias e mentalidade, p. 216. São Paulo: Brasiliense, 1 991. 13 CASTORIADIS, op. cit., p. 144. 14 CARVALHO, José Murilo de. A Formação das almas: o imaginário da república no Brasil, p. 11. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
11
CAPÍTULO l: O CONTEXTO NACIONAL DOS ANOS 1930.
Neste período marcado pela crise internacional do liberalismo o jogo político se viu
transformado em verdadeira guerra de disputas ideológicas, as quais, internacionalizadas nos
anos 1930, marcaram de maneira indelével o cenário político brasileiro. Neste sentido, mesmo
constatando o fato de que o movimento político-militar que se opôs a dominação oligárquica
em 1930, propondo-se a restabelecer e aperfeiçoar a democracia culminou numa ditadura, não
podemos deixar de lado o fato de que a estrutura política e econômica brasileira sofreu
visíveis transformações.
Assim, o primeiro governo de Getúlio Vargas, 1930-1945, foi um período singular da
história política nacional. Em poucos anos sucederam-se um governo provisório com nuance
ditatorial, seguido por um período em que o Brasil permaneceu sob a égide de uma
Assembléia Nacional Constituinte, o qual foi sucedido de um curto espaço de normalidade
institucional. Entretanto, a movimentação social do período foi acirrada com implantação do
governo constitucional, dando início a uma mais radical onda de movimentos populares, em
meio a qual o Executivo conseguiu fortalecer gradativamente o seu poder.
Este período de normalidade constitucional foi suspenso através do golpe de Estado
que implementou o Estado Novo em novembro de 1937, o qual se estendeu até fins de 1945.
Durante o momento singular em que tal estrutura parecia estar em risco de mudanças radicais,
no decorrer do período que a partir de 1930 antecedeu o Estado Novo, surgiram projetos
políticos antagônicos, mas que em sua essência partilharam em comum a solução autoritária e
a idéia de que o povo não tem identidade própria, nem sabe se autogovernar.
Para refletirmos sobre este contexto faz-se necessário ter em conta a crescente
complexidade social, o que pode ser aferido apenas por estimativas, visto que não houve
censo nacional neste período. Momento marcado por ambigüidades, por marchas e
contramarchas políticas, o alvorecer deste período que a historiografia chamou de Segunda
República traz a marca destes diferentes projetos que estavam sendo gestados como solução
para velhos problemas político-sociais, para os quais a “República Velha”, no dizer da elite
política que ia se consolidando no pós-1930, se mostrou inoperante.
Os anseios por mudanças sociais, democratização e moralização da vida pública
reclamados pela sociedade, alguns deles já presentes no ideário republicano, eram
constantemente frustrados. Desta maneira, a crise institucional que se instalou nos anos 1930
após a derrota de Getúlio Vargas à presidência da República, encontrou um ambiente de
12
efervescência política propício: vários setores da sociedade participando de debates e ações
que visavam mudar os rumos da República, o que de certa forma legitimou as ações armadas
do movimento de 1930 que se dizia revolucionário. Tal movimento de caráter político-militar
que no dia 3 de novembro de 1930 depõe Washington Luiz e coloca Getúlio Vargas na chefia
do Governo Provisório, apesar de não ter ligações diretas com as crises políticas da Primeira
República, pode ser entendido no contexto das mesmas.
Na base deste conflito estavam as dissensões que surgiam entre os vários grupos
oligárquicos estaduais – que ora se aglutinavam, ora se separavam, conforme melhor lhes
conviessem – na luta pelo poder.15 Porém, não resumiu-se a isto. A experiência republicana,
no dizer de Maria do Carmo Campello de Souza,16 legara uma geração de políticos mais
preocupados com a ascensão ao poder do que com os diversos problemas da sociedade, os
quais reclamavam um organismo econômico e uma máquina burocrática administrativa mais
competente.
Até então, o crescimento econômico, cuja base para o seu desenvolvimento era uma
economia capitalista periférica, havia sido realidade para alguns setores a volta dos quais
outros setores da economia vinham se desenvolvendo. A cafeicultura, tratando-se dos Estados
mais fortes política e economicamente, e a economia do mate, no que tange ao Estado do
Paraná, haviam proporcionado respectivamente um desenvolvimento urbano-industrial, o qual
reclamou uma maior integração econômica baseada no mercado interno. Se tal mercado
interno, por um lado vinha abrindo caminho para o crescimento econômico brasileiro, por
outro lado, necessitava, para a sua expansão, responder às turbulências internas e externas,
agravadas neste momento da conjuntura da crise de 1929.
Em 1929 o paulista Washington Luis, Presidente da República em exercício, indicou
Júlio Prestes seu conterrâneo para concorrer às eleições presidenciais que ocorreriam em
março do ano seguinte. Por esta escolha, Antônio Carlos Ribeiro de Andrade, o Presidente17
do Estado de Minas Gerais, era alijado da disputa eleitoral, contrariando assim um antigo
15 As crises políticas a que nos referimos são os arranjos e rearranjos oligárquicos na Primeira República, mas em especial a campanha civilista de Rui Barbosa em oposição à candidatura oficial de Marechal Hermes da Fonseca, 1910, e a Reação Republicana de 1921, a qual lançou a candidatura dissidente de Nilo Peçanha em oposição à oficial de Arthur Bernardes. Para ver mais sobre o assunto: SOUZA (1975), Maria do Carmo Campello de. O processo político na Primeira República, p. 162-226. In MOTA, Carlos Guilherme. Brasil em
Perspectiva. SP/RJ: Difel: 1975. 16 SOUZA (1975), Maria do Carmo Campello de. O processo político na Primeira República, p. 162-226. In
MOTA, Carlos Guilherme. Brasil em Perspectiva. SP/RJ: Difel: 1975. 17 Durante a vigência da Carta Constitucional de 1891 o cargo de Executivo Estadual era denominado Presidente de Estado.
13
pacto pelo qual os representantes políticos destes dois estados se revezavam na presidência da
República. Sob a égide da “política dos governadores” 18
, como ficou conhecido o
mecanismo de sustentação do sistema oligárquico da Primeira República, os verdadeiros
protagonistas do processo político eram os governadores. Tal mecanismo, porém, não impedia
a luta das oligarquias estaduais pelo poder.
Foi este o contexto que possibilitou uma articulação política entre as principais
lideranças de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba para a formação da Aliança Liberal.
Tal aliança oposicionista, bastante heterogênea, em meados de 1929 lançou a candidatura do
gaúcho Getúlio Vargas e do paraibano João Pessoa, para presidente e vice-presidente da
República, respectivamente. Congregados pelo objetivo primordial de ascender ao poder, a
Aliança Liberal reunia então descontentes de todos os matizes. A partir dos oligarcas
dissidentes, a aliança recebeu a adesão de todas as oposições estaduais, inclusive do Partido
Democrático de São Paulo e do Distrito Federal.
Afiançado por pleito eleitoral marcado por costumes corrompidos, garantes do
controle de poder às facções às quais os aliancistas se opunham, o resultado concedeu vitória
ao candidato paulista Júlio Prestes. Diante da derrota alguns participantes da Aliança Liberal
organizaram uma insurreição armada que em 3 de novembro colocou Getúlio Vargas na
chefia do Governo Provisório. Na condução do movimento, que se dizia revolucionário
estavam os tenentes e um grupo de políticos civis afinados com suas propostas.
Desta maneira, sintetizada na luta pela quebra da hegemonia oligárquica cafeeira, a
crise institucional que levou a superação da ordem federativa descentralizada, encontrou então
na Aliança Liberal, as condições para viabilização de seu projeto. Tal crise, porém, “dizia
respeito, em grande medida, à necessidade de reformulação das relações do Estado com um
organismo econômico que passava a exigir atuação não somente sobre alguns focos
regionais mais sobre as exigências de seu conjunto” 19. Entendemos que esta reformulação
das relações do Estado, configurada na orientação política do Governo Vargas, é o fio que
conduz nossa interpretação do período ora privilegiado.
18 A política dos governadores diz respeito ao acordo de colaboração entre Presidente da República e Governadores estaduais. Enquanto o primeiro garantia ampla autonomia aos grupos oligárquicos dominantes de cada estado, o segundo dava-lhe apoio político no Congresso através das bancadas estaduais. O resultado desse pacto foi a marginalização dos estados de menor força política, o enfraquecimento das oposições e a fraude eleitoral.:SOUZA (1975), op. cit., p. 162-226. 19 SOUZA (1975), op. cit., p.226.
14
Apesar das diferenças internas, as reivindicações da Aliança Liberal20 apresentavam
temas que se relacionavam, como justiça social e liberdade política. Propunham reformas no
sistema político, adoção do voto secreto e fim das fraudes eleitorais. Defendiam também
questões como a anistia aos perseguidos políticos, direitos sociais como a regulamentação do
trabalho das mulheres e menores, férias e salário mínimo. Também fazia parte da pauta
questões como diminuição das disparidades regionais e a diversificação da economia.
Uma das principais divergências em meio aos embates que cedo se iniciaram entre os
aliancistas dizia respeito à duração do Governo Provisório e ao modelo de Estado a ser
adotado. De um lado estavam os “oligarcas dissidentes”, em especial os representantes dos
estados mais fortes defendendo propostas que limitassem os poderes da União, concedendo
mais autonomia ao poder estadual. Na outra ponta ficavam os tenentes, defensores de um
regime forte, apartidário, centralizador e de orientação nacionalista, inspirados em intelectuais
como Oliveira Viana e Alberto Torres.
Segundo Mônica Pimenta Veloso, o caráter diferenciado da classe intelectual brasileira
como agentes da consciência e do discurso, se manifesta no Brasil ao longo de sua história.
Ressalta a autora, que nos “momentos de crises e mudanças históricas profundas (...) as elites
intelectuais marcaram presença no cenário político, defendendo o direito de intervirem no
processo de organização nacional”. 21 Vemos, porém, que apesar do papel de paladinos da
nacionalidade brasileira assumido pelos intelectuais na década de vinte, o que foi manifestado
explicita e publicamente pelo o movimento modernista, sua articulação com o campo político
se deu efetivamente a partir de 1930.
É necessário ter-se em conta, porém, que suas diferentes propostas de organização do
Estado vinham sendo apresentadas ao longo das décadas de 1920 e continuaram em 1930.
Todas as suas contribuições, destacando-se a proposta jurídica, de Francisco Campos, a
econômica, de Azevedo Amaral e a espiritual de Jacson de Figueiredo, convergiam para um
mesmo ponto, qual seja, “a solução autoritária e a desmobilização social”. 22
Neste sentido,
todos os investimentos do governo Vargas, quer na área social, política ou econômica, que
não foram poucos mesmo neste período de convulsão social, trazem a marca do autoritarismo
e da desmobilização social.
20 PANDOLFI, op. cit., p.13 -35. 21 VELLOSO, Mônica Pimenta. Os intelectuais e a política cultural do Estado Novo. p.147. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo
– do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 22 VELLOSO, op. cit. p. 148.
15
Neste período, do qual se pode afirmar que nascia “uma nova forma de regulação das
relações capital-trabalho cuja legitimidade foi garantida para além do tempo histórico
conhecido como era Vargas23
, os investimentos na área social começaram cedo. Em
novembro de 1930 foram criados o Ministério do Trabalho, Indústria e comércio e o
Ministério da Educação e Saúde. Muitas leis e decretos de proteção ao trabalhador foram
promulgados entre 1931 e 1934. Entre elas destacam-se aquelas que regularam a jornada de
trabalho fixada em 8 horas para o comércio e a indústria, a adoção de uma lei de férias, a
instituição da carteira de trabalho e o direito a pensões e aposentadorias, que em 1933-34
contou com o Institutos de Aposentadoria e Pensão Marítimo e Comerciário respectivamente.
Tal investimento foi acompanhado de uma nacionalização do trabalho através de
dispositivo de lei se exigia 2/3 dos empregados nacionais, e de uma Lei Sindical que em
março de 1931 adotava modelo único. Definida como órgão de colaboração com o poder
público a sindicalização não era obrigatória, porém só eram atingidos pelos benefícios
trabalhistas os membros dos sindicatos oficiais, os quais contavam também com uma Junta de
Conciliação e Julgamento para arbitrar conflitos entre patrões e empregados. As resistências
foram dissipadas na medida em que o governo “afastava antigas lideranças anarquistas e
comunistas comprometidas com a autonomia sindical do passado (...) e estimulava a
emergência de novas lideranças operárias dispostas a pactuar com seu projeto
corporativista”. 24
Segundo Eric Hobsbawm, no início dos anos 1930 a economia mundial havia
mergulhado profundamente “na maior e mais dramática crise que conhecera desde a
Revolução Industrial” 25
. Neste sentido, os investimentos na área econômica foram marcados
pela crise de escala mundial, que também se fazia sentir no Brasil, exigindo do governo recém
empossado tanto medidas de caráter econômico quanto político.
Tais crises, porém, “além de contribuírem de forma direta para a industrialização por
substituição de importações (como analisou Celso Furtado), ajudaram a formar instituições e
23 D’ARAUJO, Maria Celina. Estado, classe trabalhadora e políticas sociais, p. 215. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo – do
início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 24 PANDOLFI, op. cit. p. 20. 25 HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: O breve século XX (1914-1991), p. 43. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
16
uma capacidade de governança que se torn[ou] mais evidente na segunda metade deste
período”. 26
A política de defesa do café é emblemática desta situação: praticamente único
responsável pelas divisas de exportação, o café necessitava achar equilíbrio no mercado
internacional. Além de ter de enfrentar a concorrência externa pelo mercado em expansão,
havia a questão interna gerada pela expansão do plantio, e sua conseqüente super produção.
Com este objetivo o Governo Provisório retoma a política de defesa do café, tendo como
Ministro da Fazenda o banqueiro paulista José Maria Whitaker.
O plano econômico para a defesa do café contou mais uma vez com empréstimos em
libras esterlinas, empregados na compra de boa parte da safra paulista. Foi estabelecida
também a cota de sacrifício do café inferior, e acordos comerciais com dezenas de novos
países da Europa Central e dos Estados Unidos.
O modelo agroexportador também precisava ser diminuído através do incentivo ao
crescimento industrial. Para Maria Aparecida Leopoldi, a relação entre Estado e Industriais
evidencia o papel de Vargas e seus ministros tanto como interlocutores atentos, quanto de
árbitros dos conflitos que iam surgindo. Sob o impacto destas crises e choques externos, o
governo Vargas, através de seus assessores, se esforçou no sentido de estabilizar um balanço
de pagamento instável, ao mesmo tempo em que incentivava o desenvolvimento industrial
com medidas protecionistas.
Desta maneira, baseado em medidas intervencionistas e centralizadoras, o
investimento na área econômica fez crescer a insatisfação dos setores oligárquicos neste
período de início do desencadeamento de um processo de industrialização do país. Entre 1931
e 1934 setores chave da economia ganharam o controle direto do governo com a criação de
institutos, como o Instituto do Cacau em 1932, o Departamento Nacional do Café, e do
Conselho Federal de Comércio Exterior.
Passado o primeiro momento de crise e recessão, os anos de 1929 a 1931, começava
no Brasil o primeiro milagre econômico do século. 27 Este período de crescimento industrial
26 LEOPOLDI, Maria Antonieta. P., A economia política do primeiro governo Vargas (1930 – 1945): a política
econômica em tempos de turbulência, p. 243 In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo – do início da década de 1930 ao apogeu do
Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 27 Nestes anos de milagre econômico, principalmente 1933 – 1936, o crescimento industrial deu um salto, puxando o PIB para cima. Segundo Leopoldi, os setores mais dinâmicos o foram o setor têxtil, químico, de papel, cimento, aço e pneus: LEOPOLDI, op. cit. p. 249
17
que se iniciava, segundo Leopoldi, era resultado de três fatores combinados28: do choque
externo, o qual contribui para a substituição de importações devido à recessão internacional;
das políticas governamentais, tanto daquelas políticas implementadoras de medidas
necessárias ao enfrentamento do choque externo, quanto das medidas em atendimento às
demandas setoriais (dos industriais, dos militares e da burocracia governamental); e do
esforço do empresariado industrial, cujo projeto político desenvolvimentista tinha a indústria
como propulsora do desenvolvimento econômico.
A caminhada do Governo Provisório até o Governo Constitucional foi marcada por
agitações e crises sucessivas visto que suas primeiras medidas foram intervencionistas e
centralizadoras. Através do Sistema das Interventorias, cujo Código foi promulgado em
agosto de 193l, estabelece-se um poderoso instrumento de controle do poder central sobre a
política local. Num primeiro momento a nomeação dos interventores, a maioria militares,
subordinados diretamente ao governo provisório e sem ligações locais, provocou crises as
quais foram amainadas com concessões às forças locais.
Focos permanentes de crise pulularam o país em face do ostracismo a que foram
legadas as tradicionais forças políticas locais. São Paulo é exemplo significativo desta
conjuntura contando com cinco interventores em menos de dois anos. Além da autonomia
cerceada, os gastos com o poder de fogo das oligarquias regionais, - a polícia estadual -
também estavam sendo restringidos a 10% da despesa ordinária, cujo armamento não deveria
ultrapassar ao do Exército.
Em face dos conflitos que iam surgindo a ala mais tenentista buscou se organizar
contra aqueles que não aderiram ao “espírito da revolução”, qual seja, a ameaça das
oligarquias regionais. Sua primeira organização na tentativa de reforçar o apoio popular ao
Governo Provisório, a Legião Revolucionária, não se estruturou nacionalmente. O clube 3 de
Outubro, porém, se organizou em fevereiro de 1931, pretendendo ser instrumento apaziguador
dos conflitos entre os militares.29 Criticavam o federalismo oligárquico ao tempo que
defendiam um governo forte e intervencionista capaz de eliminar o latifúndio, nacionalizar a
extração de recursos e atividades econômicas, entre outros.
Para fazer frente às forças tenentistas rearticulam-se facções oligárquicas antigas que
passam a exigir o fim do regime discricionário. Surge em São Paulo a Frente Única Paulista,
28 LEOPOLDI, op. cit., p. 248. 29 Conforme Pandolfi, entre 1930-34 ocorreram aproximadamente 50 movimentos militares de protesto: PANDOLFI, op. cit., p. 22.
18
união dos dois principais partidos políticos do Estado: Partido Republicano Paulista, que
dominava a cena política desde fins do século XIX, e o mais recente, Partido Democrático,
pleno de expectativas de assumir a liderança política. Esta aliança política recebeu também o
apoio de grandes associações de classe.
No rio Grande do Sul o questionamento parte da Frente Única Gaúcha, a qual tenta
sem sucesso conseguir a mobilização de interventores do Norte e Nordeste. Em Minas
Gerais semelhante movimento é neutralizado por acordos do Interventor Olegário Maciel com
o Partido Republicano, ficando de fora apenas a ala reconstitucionalista de Artur Bernardes.
Neste mesmo momento foi criado o Código Eleitoral através do decreto nº 21.076 de
fevereiro de 1932, o qual estabelecia em suas disposições legislativas a criação do Tribunal
Superior Eleitoral, o que aconteceu no mês de maio próximo. Além de importantes inovações,
como a introdução do voto feminino e do voto secreto, as disposições legislativas referentes
ao processo eleitoral estabeleciam também a criação da Justiça Eleitoral. A partir daí, não
estaria mais a cargo do Poder Legislativo o controle de seu próprio processo de renovação,
quadro que havia garantido a implantação das oligarquias estaduais durante a Primeira
República.30
Manifestações radicais seguiram-se a decretação do Código Eleitoral, como a
depredação do jornal antitenentista Diário Carioca. Vendo o desinteresse do governo em
punir os culpados vários de seus auxiliares pediram demissão. No mês de maio era a vez de
sedes de jornais favoráveis a Vargas serem depredadas: A Razão, O Correio da Tarde e
também a sede da Legião Revolucionária. No conflito morrem quatro estudantes cujos nomes
inspiraram uma entidade que trabalhou na organização de um levante armado pró-
reconstitucionalização. 31
As dificuldades enfrentadas por Vargas na área militar também foram grandes e
contribuíram para aumentar ainda mais o clima de agitação política. A crise militar entrou
para a história “como o caso dos ‘picolés’ e ‘rabanetes’ (...). Eram considerados ‘picolés’ os
tenentes que tinham se mostrado frios diante das adesões tardias (...), e ‘rabanetes’ os
adesistas de última hora”.32 A preocupação do governo em foi resolvida com a criação de
quadros paralelos de promoção sem prejuízo para ambos os lados.
30 SOUZA (1974 ), op. cit., p. 162 -226. 31 PANDOLFI, op. cit., p. 24. 32 Ibid, p. 13 – 37.
19
As concessões foram feitas, tanto pelo interesse em aproximar a cúpula militar,
sobretudo a parte da alta oficialidade ressentida pelo fortalecimento do tenentismo, quanto
pela necessidade de contemplar oficiais que participaram do movimento de 1930 e dos
movimentos anteriores. Neste sentido foram concedidas promoções significativas como a de
Góis Monteiro, peça chave do regime, e a de Bertoldo Klinger, o qual em seguida marchou
em luta pela reconstitucionalização do país.33
Neste mesmo mês foi criada a comissão encarregada do anteprojeto constitucional e
marcada para maio de 1933 as eleições para a Assembléia Constituinte. Em seguida o governo
se esforçou no sentido de formar bases regionais de apoio e garantia dos seus interesses no
processo de elaboração e regulamentação da futura organização política do país. Da bancada
classista, prevista pelo Código Eleitoral, o governo provisório esperava principalmente o
apoio dos representantes dos trabalhadores, eleitos por sindicatos legalizados pouco antes pelo
Ministério do Trabalho.
Contudo, o agendamento das eleições para a constituinte não arrefeceu os ânimos dos
insatisfeitos que já se articulavam para organizar uma conspiração. Em meio ao clima de
insatisfação que grassava por todos os lados, irrompeu em Julho de 1932, em São Paulo, a
luta armada pela reconstitucionalização do país. Comandada pelo tenentista Isidoro Dias
Lopes, um dos revoltosos da década de 20, o movimento de 1932 ficou restrito ao Estado,
porém recebeu apoio voluntário de vários pontos do Brasil, e transformou-se na “pior guerra
civil vivida pelo país. 34
Não recebendo apoio oficial dos demais estados, se bem que adesões expressivas
como a dos oligarcas dissidentes Artur Bernardes-MG, e Borges de Medeiros-RS, no dia 2 de
outubro o movimento foi debelado pelo Governo Provisório. Alguns líderes do movimento
foram presos, outros exilados, ou tiveram seus direitos políticos suspensos.
Apesar de derrotados militarmente, os paulistas conseguiram o compromisso de
Vargas com a reconstitucionalização do país. Conseguiram também colocar um tenentista
civil – Armando Sales de Oliveira – no governo do Estado. Essa conjuntura de adesão aos
revoltosos paulistas possibilitou uma reorganização do cenário político nacional.
33 Id. 34 PANDOLFI, op. cit., p. 25
20
Mas, para além deste “processo de depuração das elites” 35, tal radicalização política
despertou a preocupação por parte do governo central no sentido de reestruturar as Forças
Armadas e fazer delas um ator político significativo. Neste sentido, uma cúpula militar
afinada com o governo foi sendo formada com os novos generais promovidos. Alguns deles
ocupando posições importantes, como é o caso de Góis Monteiro e Eurico G. Dutra. Todavia,
aqueles generais mais antigos, em especial os que participaram do movimento de 1932 foram
afastados.
Diante da inevitabilidade da reconstitucionalização os adeptos do tenentismo se
dividem. Alguns se distanciam do governo numa postura de neutralidade, outros passam a
engrossar as fileiras dos movimentos contestatórios, como o integralismo e o comunismo, os
quais saíram fortalecidos do episódio de 1932. Outros partem, sem êxito, para a criação de um
partido nacional.
Tal tentativa aglutinaria os ‘“revolucionários” e faria oposição à “politicagem” das
antigas máquinas partidárias voltadas para “interesses particulares” 36
. Como a legislação
permitia tanto a existência de partidos provisórios, como candidaturas avulsas, o que surgiu
neste momento foi uma infinidade de partidos estaduais, a maioria organizada por
interventores, favorecendo neste sentido os situacionistas.
O saldo das eleições de maio de 1933 para a Assembléia Constituinte foi
esmagadoramente favorável às agremiações situacionistas. Em São Paulo, porém, com a
vitória da Chapa Única, que congregava as agremiações políticas que desencadearam o
movimento constitucionalista em 1932, o governo procurou compor com a elite paulista
atendendo finalmente aos seus apelos por um interventor civil. Foi neste contexto que
Armando Sales de Oliveira assumiu a interventoria do Estado em julho de 1933. 37
Instalada em 15 de novembro de 1933 a Constituinte brasileira deu início ao seu
trabalho de elaboração da Carta Constitucional que substituiu a Carta de 1891. Uma gama
variada de projetos e interesses que vinham sendo discutidos no cenário político estava sendo
ali representada Tanto para o governo quanto para a maioria das lideranças tenentistas ali
presentes a nova Carta deveria incorporar as inúmeras mudanças de caráter econômico,
político e social que vinham sendo implementadas.
35 GRYNSZPAN & PANDOLFI, Da revolução de 30 ao golpe de 37: a depuração das elites, p. 11. In Revista de Sociologia e Política, nº 9, UFPR: 1997. 36 PANDOLFI, op. cit, . p.27. 37 PANDOLFI & GRYSZPAN, op. cit., p.12.
21
Neste sentido, o grande debate polarizador das bancadas girou em torno da questão de
escolha entre a forma federalista ou centralista de governo. “Mesmo havendo um certo
consenso em torno da necessidade de um federalismo aliado a um intervencionismo estatal, a
polêmica fixou-se no grau de centralização e de intervenção possíveis”. 38 Os estados
política e economicamente mais fracos, representados pelas bancadas do Norte e Nordeste
temiam o enfraquecimento do poder central e a volta do desequilíbrio na distribuição dos
benefícios. Para os estados mais poderosos interessava uma maior autonomia em relação ao
governo central.
Outra polêmica importante no interior da Assembléia Constituinte dizia respeito à
forma de representação das associações profissionais no aparato decisório do Estado. Um
acirrado debate intelectual vinha sendo travado desde o início dos anos 1930 em torno do
modo como ocorreria a organização e a participação das entidades profissionais. Diferentes
atores sociais e diferentes estratégias estavam em jogo nessa disputa.
Os industriais argumentavam que a natureza diferenciada das entidades – patronais, de
natureza econômica e de trabalhadores, de natureza profissional –, exigiam forma de
articulação diferenciada. Neste sentido defendiam a autonomia organizativa e administrativa
das entidades. O governo e sua base de apoio defendiam o controle do Estado sobre estas
organizações e sua administração.
O modelo organizacional das entidades que prevaleceu foi aquele que as organizava
por ramo de atividade econômica, uma espécie de meio termo entre a proposta de classes,
experimentada na Constituinte e a proposta das profissões afins. Desta maneira, definiram-se
quatro categorias “correspondentes a amplos setores da atividade econômica: lavoura e
agropecuária; indústria; comércio e transportes (todas divididas paritariamente entre
patrões e empregados), mais profissões liberais-funcionários públicos.” 39
Quanto ao papel
das entidades duas questões estavam em jogo: a função deliberativa, por representação
parlamentar, ou a função consultiva, através de conselhos técnicos. Prevaleceu a forma
parlamentar, tanto na Constituinte como na Constituição de 1934.
Ficou estabelecido constitucionalmente que as eleições deveriam realizar-se por voto
direto, porém, era responsabilidade da Assembléia Nacional Constituinte a eleição do
primeiro Presidente da República após sua promulgação. Vargas é eleito por cento e setenta
38 Idem. 39 BARRETO, Álvaro Augusto de Borba. Representação das associações profissionais no Brasil: o debate dos
anos 1930, p. 129. In Revista de Sociologia e Política, nº 22 - UFPR: 2004.
22
votos contra setenta distribuídos por seus adversários, entre os quais figuravam Góes
Monteiro e Borges de Medeiros. Porém, o processo eleitoral transcorre em meio a ameaças de
golpes e conspirações, demonstrando sua frágil posição. O resultado da aprovação dos atos do
Governo Provisório também comprova o quadro de insatisfação reinante no período: “dos
duzentos e vinte deputados presentes no plenário, apenas cento e trinta e cinco votaram a
favor”. 40
A votação das disposições transitórias também gerou acalorados debates. Por fim
estabeleceu-se que haveria eleições para o Poder Legislativo, permanecendo o funcionamento
da Constituinte somente até a posse do novo Congresso. Com respeito à elegibilidade dos
interventores ao cargo de governadores constitucionais ficou determinado que estes poderiam
disputar o cargo através de eleição indireta, pelas respectivas constituintes estaduais.
A Constituição foi promulgada em 16 de Julho de 1934, e no dia seguinte Getúlio
Vargas foi eleito presidente. Para garantir sua eleição, porém, Vargas comprometeu-se com
diversas propostas contrárias ao seu encaminhamento de governo. Desta maneira, mesmo com
todo o seu esforço no sentido de intervir, tanto no conteúdo dos debates, quanto no seu
encaminhamento no plenário, o resultado do processo jurídico-político que regeria a nova
ordem, desagradou profundamente o presidente recém eleito.
No dizer de Pandolfi, “o que se tentou de fato com a Constituição de 1934, foi
estabelecer uma ordem ‘liberal’ e ‘moderna’, que não se chocasse com o fortalecimento do
Estado e com seu papel ativo na órbita dos interesses econômicos e sociais”. 41
Neste
sentido, mesmo assegurando a importância dos estados através do princípio federalista, o
texto constitucional havia ampliado o poder da União em novos capítulos referentes à ordem
econômica e social. Entretanto, a questão norteadora dos liberais representados na
Constituinte era a de assegurar o predomínio do Legislativo como instrumento inibidor do
avanço do Executivo e base da vida governamental.
Outras questões caras que vinham sendo disputadas por lideranças trabalhistas são
contempladas no texto constitucional, incorporando também o encaminhamento dados a elas
pelo governo provisório. Desta maneira, são aprovadas medidas que beneficiaram os
trabalhadores como a criação da Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a jornada de oito
horas, férias remuneradas e descanso semanal.
40 PANDOLFI & GRYSZPAN, op. cit., p. 13. 41 PANDOLFI & GRYSZPAN, op. cit., p.13.
23
Mas a Constituição de 1934 teve vida curta. A salvaguarda dos poderes do Legislativo
tolhia o raio de ação de Executivo detendo seus avanços. O descontentamento de Vargas com
esta situação garantida pela aprovação da nova Carta fica patente em seu primeiro discurso
como Presidente Constitucional.
Pronunciando-se na Assembléia Nacional Constituinte Vargas externa sua inquietação:
“a Constituição de 34 (...) enfraquece os elos da Federação: anula, em grande parte, a ação
do presidente da República, cercando-lhe os meios imprescindíveis à manutenção da ordem,
ao desenvolvimento normal da administração (...) coloca o indivíduo acima da comunhão”.42
Se sua insatisfação com os resultados da Carta Constitucional foi explícita publicamente,
como demonstrou seu discurso, sua intenção de revisão da mesma foi também manifesta nesta
mesma ocasião em círculos privados.43
O estabelecimento de uma ordem liberal através da Constituição de 1934 confirmou o
grande peso político dos Estados, especialmente dos Estados mais influentes econômica e
politicamente, peso este, conquistado durante a Primeira República com seu regime
federalista. No início do seu governo constitucional, Vargas demonstrava a intenção de fazer
o país voltar à normalidade, com a entrada em vigor da Constituição e uma clara definição dos
limites do poder executivo.
Eleito indiretamente pelo Congresso Nacional para um mandato de quatro anos, sem
direito a reeleição, o presidente mostrou-se bastante hábil em conciliar ou neutralizar as
diversas forças políticas ao reorganizar o ministério. Os tenentes, porém, são preteridos na
reforma ministerial. “A partir de então o projeto de Vargas passou a confluir com a
estratégia que vinha sendo apontada por Góis Monteiro, que se devia fazer a política do
Exército, e não a política no Exército”. 44
As eleições em outubro de 1934 para o Congresso Nacional e para as Assembléias
Estaduais foram bastante turbulentas trazendo a tona um novo reordenamento das elites.
Apenas nove dos vinte interventores foram reconduzidos ao poder pelo voto indireto de suas
respectivas Assembléias Legislativas. O país entrava num período de normalidade
Constitucional, mas a insatisfação e a movimentação política continuavam.
42 ARQUIVO. Getúlio Vargas, Rio de Janeiro. FGV/CPDOC. GV 34.07.15/12) : Apud :PANDOLFI, op. cit.,
p.31. 43 Conforme consta no site da Fundação Getúlio Vargas, disponível em: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos30-37/ev_constituicao_1934.htm, acessado em agosto de 2008. 44 PANDOLFI, op. cit., p.30.
24
Era este, na verdade, tempo de muitas agitações sociais. Tanto à direita quanto à
esquerda surgiram organizações não-partidárias com alcance nacional: a AIB - Ação
Integralista Brasileira de inspiração fascista e dirigida por Plínio Salgado, e a Aliança
Nacional Libertadora - ANL, que tinha como presidente de honra Luis Carlos Prestes. Embora
radicalmente opostos, ambos os movimentos dirigiam seu discurso contra os preceitos liberais
da Primeira República e os descaminhos da Revolução de 1930.
A AIB existiu legalmente de outubro de 1932 a dezembro de 1938. O ano de 1933
marca o início de seus investimentos em ação de caráter nacional com uma marcha em São
Paulo que reuniu cerca de 40 mil pessoas. A partir deste momento a ação nacional tem
continuidade através da organização das “Bandeiras Integralistas" que difundiram o
integralismo pelo país. Direcionadas para o Nordeste e Sul do país, a concepção subjacente às
bandeiras “sugeria um novo processo de ‘conquista ideológica e interiorização do projeto
político integralista (...) no contexto do surgimento de slogans como a ‘marcha para o oeste e
a necessidade de conhecer o ‘Brasil real’”. 45
Segundo Marcos Chor Maio e Roney Cytrynowicz,46 o integralismo assemelhava-se
aos partidos fascistas europeus em sua ideologia, organização e ação política. Sua ação
política mobilizou o país pautando-se num nacionalismo e moralismo exacerbado,
combatendo os partidos políticos e defendendo uma integração total da sociedade, cujo
representante seria a própria AIB. Em 1935 a AIB chegou a reunir entre 500 a 800 mil
partidários, para uma população de 41,5 milhões de habitantes, sendo então o primeiro partido
político em âmbito nacional, diferente da realidade dos partidos políticos da Primeira
República, de cunho regional.
Em 1934 foi realizado o 1º Congresso nacional da AIB, no qual ficou definida a
natureza de sua estrutura e seu estatuto, ocasião mesma da eleição de Plínio Salgado como seu
chefe nacional. Contudo, foi depois das revoltas comunistas de 1935 que a organização
crescera politicamente, se alinhando junto ao governo contra o comunismo. A partir de seu 2º
Congresso Nacional, realizado em 1936, a AIB transformou-se em partido político visando
45 Ibid, p.42. 46 MAIO & CYTRYNOWICZ, Ação Integralista Brasileira: Um movimento fascista no Brasil (1932-1938), p.
40 - 63. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O
tempo do nacional-estatismo – do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
25
concorrer às eleições de 1938. Porém, em função do processo de radicalização política
algumas sedes do partido foram fechadas pelos respectivos governos estaduais47.
No dizer de Maio & Cytrynowicz, não havia uma unicidade neste movimento que
emergiu no contexto de incertezas dos anos 1930. Seja no plano ideológico ou no âmbito da
ação política, havia distintas concepções acerca de uma revolução integral que estava sendo
propostas.
O Integralismo foi analisado por alguns pesquisadores como um “projeto de fascismo
à brasileira”, por outros como uma “alternativa conservadora ao capitalismo dependente”,
ou ainda como uma “resposta geracional de segmentos da classe média não contemplados
pelas mudanças ocorridas após a Revolução de 1930”. Sua singularidade, todavia, repousa
no fato de que enquanto movimento ele “representou as especificidades da sociedade
brasileira das décadas de 1920 e 1930” 48
.
Fundada em outubro de 1932, a AIB contribuiu então com um dos projetos radicais
que emergiram do ambiente de indefinições e imprevisibilidades no terreno político que
marcaram os anos 1930. O movimento estruturou-se a partir de pequenos grupos e partidos de
direita, como Ação Social Brasileira (Partido Nacional Fascista), a Legião Cearense do
Trabalho, o Partido Nacional Sindicalista e a Ação Imperial Pátrio-novista (monarquista). A
partir de 1930, integrantes destes partidos se reuniram sob a liderança de Plínio Salgado tendo
como lema "Deus, Pátria e Família". 49
A AIB também atuou no executivo e no legislativo de diversas cidades e estados entre
1933 e 1937. Se em 1935 haviam elegido apenas 1 deputado federal e 4 estaduais. Conforme
mostram os autores, nas eleições de 1936, para prefeitos, deputados estaduais e vereadores, o
Partido conseguiu eleger cerca de 500 vereadores, 20 prefeitos e 4 deputados estaduais. Da
mesma maneira, o grande número de eleitores habilitados para o processo de escolha de seu
candidato para disputar as eleições à presidência nacional, marcadas para janeiro de 1938, nos
permite refletir a respeito do tamanho e influência do partido.
Mas a luta pela hegemonia política que tomou as ruas no momento da volta à
normalidade institucional teve como oposição ao grupo governista de Vargas, principalmente,
comunistas e tenentes desarticulados do novo governo. O recurso às armas não estava
47
O que acontece nos Estados da Bahia, Santa Catarina, Espírito Santo, Alagoas, Paraná, entre outros: MAIO & CYTRYNOWICZ, op. cit., p. 43. 48 MAIO & CYTRYNOWICZ, op. cit., p. 58. 49
ibid, p.41.
26
descartado visto que “a tradição republicana brasileira não era de mudanças eleitorais, mas
de movimentos militares”.50
Neste sentido, os autores apontam os levantes de novembro de 1935 como episódios
importantes dessa luta, da qual o Partido Comunista Brasileiro – PCB era seu mais novo
agente. Apesar de ter sido fundado em 1922, foi somente na década de 1930 que sua
participação no cenário político se tornou mais efetiva, quando, de fato, houve um esforço dos
comunistas brasileiros em ajustar o Brasil ao ritmo da revolução soviética.
Em agosto de 1934 Prestes havia sido admitido pelo PCB, por ordens expressas da
Internacional. Seus planos de retornar ao Brasil para liderar a luta revolucionária convergiram
com as informações dadas pela delegação brasileira do PCB, durante a conferência de
Moscou neste mesmo ano. Segundo informações que partiam do Brasil o PCB estava
fortemente organizado e contava com o apoio das Forças Armadas em todo território
nacional.
A revolução estava também prestes a começar no Brasil, visto que o governo, cada vez
mais fraco, acabaria por ceder à investida comunista. Desta maneira, o ex-líder tenentista que
havia aderido ao comunismo desde que rompera com os tenentistas que apoiaram Vargas em
1930, decidia então voltar ao Brasil para dirigi-la.51
A ANL teve também importância fundamental nos levantes de 1935. Constituída com
uma frente ampla de oposição ao integralismo e ao imperialismo, começou a ser articulada em
setembro de 1934 pelo Comitê Jurídico Popular de Investigação, organizado pelos tenentes de
esquerda. Dirigida e composta por uma absoluta maioria de tenentes, embora agrupasse civis
de todas as forças e instituições democráticas, a organização foi lançada em março do ano
seguinte, reunindo partidos políticos, sindicatos, diversas organizações femininas, culturais,
estudantis, profissionais liberais e militares. Nesta mesma ocasião foi lançado o nome de Luis
Carlos Prestes como seu presidente de honra.
Embora as perspectivas programáticas comunistas e tenentistas nem sempre
convergissem, ambos estavam convencidos de que a revolução no Brasil se aproximava e a
luta armada era o único caminho para atingir este objetivo. Neste sentido, quando Prestes
passou a participar efetivamente da ANL e o PCB ingressou oficialmente na organização, os
rumos da organização mudaram. Partia-se para ação definitiva que culminaria “num governo
50 VIANNA, Marly. O PCB, a ANL e as Insurreições de Novembro de 1935, p. 69. In: FERREIRA, Jorge & DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Orgs.). O Brasil Republicano. O tempo do nacional-estatismo – do
início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Livro 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 51 VIANNA, op. cit., p. 81-82.
27
nacional revolucionário, tendo á frente de tal governo, com chefe de maior prestígio popular
em todo o país, Luís Carlos Prestes.52
Os comícios que foram realizados atraíam multidões, fazendo seus líderes crerem que
aquele era verdadeiramente o momento da revolução. Concomitantemente a idéia de
revolução, um movimento que pudesse sair dos quartéis e ganhar as ruas, estava sendo
amadurecida no interior do PCB, cuja importância dentro da ANL era decisiva.
Segundo Vianna a ANL foi a maior organização de massas do Brasil. Espalhando
sedes pelo país conseguiram a adesão de milhares, mas atraíram a preocupação do governo
também. Assustado com o sucesso da organização o governo procurou combatê-la
identificando-a com o PCB. No primeiro mês da sua fundação, abril de 1935, o Congresso
aprovou a Lei de Segurança Nacional, mecanismo constitucional que lhe permitiu colocar o
movimento na ilegalidade em julho de 1935.
Na verdade o acirramento das lutas antifascitas e antiintegralistas contribuiu para que
o governo conseguisse a aprovação de três emendas constitucionais através das quais eram
intensificados os mecanismos de repreensão e controle social. Tais emendas possibilitavam ao
Executivo declarar comoção intestina grave, o equivalente a estado de guerra; declarar perda
de patente ou posto ao oficial envolvido em movimento subversivo e o equivalente poderia
ser aplicado ao funcionário civil encontrado nesta mesma situação.53 Porém, mesmo na
clandestinidade a organização cresceu e se mobilizou na tentativa de derrubar Vargas.
Planejada para ser iniciada dentro dos quartéis, a revolução tão esperada eclodiu em
novembro de 1935. Como não houve coordenação entre os diversos núcleos comunistas ela
iniciou em dias diferentes: 23 em Natal e Recife e 27 no Rio de Janeiro. Em Pernambuco o
golpe fracassou, embora no Rio Grande do Norte tenha durado um pouco mais, com a
instalação de um governo revolucionário que se manteve por três dias.
Na capital federal, conseguiram a sublevação da Escola de Aviação no Campo dos
Afonsos e do Terceiro Regimento de Infantaria na Praia Vermelha. Em todo o episódio,
porém, a tão esperada adesão maciça, limitou-se a uma participação popular e algumas
iniciativas isoladas. Desta maneira, os rebeldes acabaram também se rendendo após intensos
combates. Fracassava o movimento conhecido como Intentona Comunista. Na avaliação do
52 VIANNA, op. cit., p. 83. 53 Tais emendas possibilitavam ao Executivo declarar comoção intestina grave, equivalente a estado de guerra; declarar perda de patente ou posto ao oficial envolvido em movimento subversivo e o equivalente poderia ser aplicado ao funcionário civil encontrado nesta mesma situação. PASNDOLFI & GRYNSZPAN, op. cit., p.14.
28
próprio PCB, movimento foi derrotado porque “o país não tinha chegado ao ponto
culminante de madureza revolucionária”.54
Refutando hipóteses que ligam o movimento às ordens de Moscou, Vianna mostra que
os levantes devem ser atribuídos à insatisfação que reinava nos meios políticos e, em especial,
entre os militares. A autora ressalta o fator surpresa presente no movimento em Natal,
determinado por questões políticas locais e agitações de quartel. No Recife, foi o secretariado
do Nordeste que desencadeou a quartelada sem ter clareza do que ocorria em Natal.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, onde a presença dos comunistas era mais forte, a
direção do PCB e o grupo da Internacional Comunista desconheciam por completo o que se
passava no Nordeste, o que, nas palavras da autora, demonstrava a desarticulação do
movimento, o qual não ocorrera nem mesmo por deliberação do próprio PCB. O apoio do
PCB aos levantes do nordeste se daria somente em um segundo momento, por iniciativa de
Prestes, o qual buscaria apoio junto a Moscou.
Para Vianna, a luta desencadeada em 1935 foi a “última manifestação da rebeldia
tenentista”55
, tendo relação direta com a tradição das lutas travadas durante a década anterior.
Neste sentido, tal luta continuava expressando os anseios de classes e camadas da população
que queriam novos caminhos para o país, e este momento foi marcado por significativa
manifestação de militares, tanto aliancistas quanto integralistas, desiludidos com os rumos do
governo constitucional.
Na verdade, o movimento foi pretexto para que o governo desencadeasse violenta
repressão contra todos os participantes e simpatizantes do comunismo, bem com àqueles
apenas suspeitos de simpatizar ou aos inimigos do regime. Diante da demonstração de força e
autonomia do movimento popular o governo se beneficiou do temor dos liberais, conseguindo
que estes recuassem, aprovando uma série de medidas que cerceava seu próprio poder.
Desta maneira, os poderes do Legislativo foram sendo minados progressivamente. As
greves que se sucediam e o crescimento de organizações e mobilizações de massa haviam
possibilitado a aprovação da Lei de segurança Nacional em abril de 1935. Em novembro
deste mesmo ano o levante comunista foi o álibi do governo federal para a decretação do
Estado de Sítio.
54 Avaliação do PCB foi publicada em um suplemento do Jornal “A Classe Operária”, nº 195, RJ:14/12/1935, Apud VIANNA, Op. Cit. p. 99. 55 VIANNA, Op. it. P. 101.
29
Depois de violentamente reprimida e punida a revolta comunista, o Executivo se
encontrava fortalecido e com mais poder de repressão anulou franquias democráticas
presentes na Constituição de 1934, o que demonstrou o claro recuo dos liberais diante da
organização do movimento popular. Perto das eleições de 1937, mesmo com todo poder, e
aparato repressivo, Vargas não havia conseguido os necessário 2/3 do Congresso para a
prorrogação do seu mandato presidencial. A partir de então sua meta passou a ser a
desarticulação dos opositores: as articulações golpistas que redundariam no Estado Novo,
contando apenas com o governador de Minas Gerais, dentre os estados mais fortes.
Num clima de muita repressão a sucessão presidencial tomou conta da cena política.
Três candidatos foram lançados para disputarem as eleições: Armando Sales Oliveira, o
candidato de São Paulo “recebeu o apoio do governador gaúcho Flores da Cunha e de
diversos agrupamentos estaduais oposicionistas”; José Américo de Almeida, representante
dos tenentistas, mas também das forças do Norte/Nordeste, foi apoiado também “por todos os
partidos situacionistas, exceto os de São Paulo e Rio Grande do Sul“; Plínio Salgado, chefe
dos Integralistas, “foi indicado por um grande plebiscito promovido pela AIB” 56
. Estes
últimos haviam de início dado sustentação política ao governo Vargas, sobretudo no combate
ao comunismo.
Mesmo diante da expressividade das forças de oposição, manifestando sua preferência
pela candidatura Armando Sales, e da posição contrária ao continuísmo de Vargas por parte
de muitos situacionistas, seus esforços não conseguiram barrar as manobras golpistas. Desta
maneira, “instalou-se, portanto um processo em que as forças contrárias ao continuísmo,
cedendo constantemente para evitar o pior (...) facilitaram a ação de Vargas, ação esta que
terminaria por se voltar contra aquelas mesmas forças”. 57
Foi esta a conjuntura da aprovação de prorrogação do estado de guerra, em vigor
desde abril de 1936. Apesar da negativa do Congresso, a medida acabou sendo aprovada pela
Câmara dos Deputados, em função da divulgação, pelo governo, do “Plano Cohen”, o qual
revelava uma provável insurreição comunista. Mesmo havendo desconfiança por parte dos
opositores foi esta falácia, junto com o boato de que o Exército fecharia o Congresso caso a
medida não fosse aprovada, instrumentos que serviram aos objetivos golpistas. Desta maneira
Vargas ganhou tempo para buscar apoio no Norte e Nordeste, para cuja missão de adesão ao
56PANDOLFI, Op. Cit. p. 34 57 PANDOLFI & GRYNSZPAN, Op. Cit. p. 21
30
golpe foi enviado o deputado mineiro Negrão de Lima. O sucesso junto aos estados mais
fracos foi imediato.
Os Estados mais fortes acabam cedendo às pressões, visto que as manobras de Vargas
aos poucos, foram garantindo as bases de sustentação ao projeto golpista. Assim, na manhã de
10 de novembro de 1937 foi implementado o Estado Novo, através da imposição de uma nova
Constituição elaborada por Francisco Campos. No dizer de Pandolfi, tal acontecimento era,
“um dos resultados possíveis das lutas e enfrentamentos diversos travados durante a incerta
e tumultuada década de 1930.58
Para a articulação deste projeto de radicalização do centralismo autoritário foi
importante a aproximação entre Vargas e os Militares, a qual teve início em meados de 1936.
Porém, através do que foi acima exposto, torna-se notório que a ambiência política dos anos
1930, consubstanciada na carência de propostas democráticas ou de projetos com bases
verdadeiramente liberais, contribuiu para o fechamento do regime em novembro de 1937.
Durante todo o período Vargas que precedeu o golpe de 1937 a resistência ao projeto
de centralismo e autoritarismo político foi uma constante em todo o país. A ação de Vargas,
porém, se desenvolveu no sentido de “desarticular os obstáculos que se interpunham em seu
caminho, quer fossem oriundos da oposição, quer da própria situação”.59
Neste sentido, ressaltamos como força decisiva para a vitória deste projeto político
centralista e autoritário a acomodação das forças regionais aos interesses do dirigismo político
central. Para tal estratégia Vargas contou com administrações estaduais encabeçadas por
homens de confiança, entre os quais figurava Manoel Ribas, “o fiel obreiro e executor dos
seguros planos com que o Presidente Vargas norteia os rumos da causa pública”.60
Mas
desta figura pública e do governo paranaense durante os tumultuados anos 1930 trataremos no
capítulo seguinte.
58 PANDOLFI, op. cit., p. 35. 59 PANDOLFI & GRYNSZPAN, op. cit., p. 21. 60 DAGOSTIM, Maristela Wessler. O imaginário político paranaense na “era Vargas”: uma reflexão sobre o
interventor Manoel Ribas, o fiel obreiro. Texto apresentado no 14º Evento de Iniciação Científica da UFPR: Outubro de 2006.
31
CAPÍTULO 2: O GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ NOS TUMULTUADOS
ANOS 1930
As principais fontes utilizadas para a construção deste capítulo foram as Mensagens do
Governador à Assembléia Legislativa, o Relatório de Governo apresentado ao Presidente
Getúlio Vargas em 1939 e o Diário Oficial. As Mensagens são dirigidas a um fórum
eminentemente político, onde se encontravam os representantes do povo com os quais Manoel
Ribas iria governar. O relatório de Governo revela o esforço de relatar as atividades do
governo e, ao mesmo tempo, imprimir-lhes uma lógica, um sentido que as reunisse. São,
portanto, documentos a partir dos quais é possível perceber o discurso do poder sobre as
práticas gerenciais do campo político correspondente.
Em outubro de 1930 representava a situação dominante no Paraná uma arregimentação
política denominada Coligação Republicana, Partido que havia dominado a cena política nos
últimos 15 anos da Primeira República. Affonso Camargo, o Presidente de Estado deposto
sem resistência em outubro de 1930, e Caetano Munhoz da Rocha, prócer do antigo Partido
Republicano do Paraná, formavam a dobradinha que se revezou na Presidência do Estado a
partir de 1917, quando o primeiro substituiu Carlos Cavalcante no poder Executivo do Estado.
O Paraná foi um Estado que contribuiu de maneira decisiva para a vitória do
movimento insurrecional deflagrado em 3 de outubro de 1930 no Rio Grande do Sul. No dia 5
de outubro Curitiba foi tomada pelo comandante das forças revolucionárias no Estado, com a
adesão de vários setores estratégicos da força militar. Além do grande apoio de forças
militares federais sediadas no estado, por sua rota ferroviária ficou garantido o deslocamento
logístico e militar das tropas gaúchas.61
Desta maneira, o Estado contribuiu para que prevalecesse a periferia rebelde, ao
contrário do desfecho dos movimentos de ruptura política do século passado – a revolta
Farroupilha de 1838 e a Revolução Federalista de 1894 – nos quais as forças legalistas foram
vitoriosas. Um mês após o início da sublevação, no dia 3 de novembro, uma junta militar
passa o poder a Getúlio Vargas. “De imediato o Congresso Nacional e as assembléias
estaduais e municipais foram fechados, os governadores de estado depostos e a Constituição
de 1891 revogada. Vargas passou a governar através de decretos-lei”. 62
61OLIVEIRA, Ricardo Costa de (1997). Notas sobre a política paranaense no período de 1930 a 1945, p. 48. In
Revista de Sociologia e Política, nº 9, UFPR: 1997. 62 PANDOLFI, op. cit., p. 17.
32
A importância da participação do Estado do Paraná no desenrolar deste movimento
que culminou na ascensão de Getúlio Vargas ao Governo Provisório, pode ser aferida também
pela autoridade do Comandante das forças Revolucionárias no Paraná, em nomear e indicar os
governadores provisórios do Paraná e Santa Catarina, respectivamente. Neste sentido, em 5 de
Outubro de 1930, praticamente um mês antes da deposição de Washington Luiz, o Major
Plínio Alves Monteiro Tourinho já havia nomeado governador provisório do Paraná o seu
próprio irmão, o General Mario Alves Tourinho.63
O novo Governador-tenentista Provisório do Paraná era então um militar que já havia
servido no Cerco da Lapa, na Campanha do Contestado, e na perseguição aos revoltosos de
1924 em São Paulo.64 A vitória deste movimento político/militar provocou, de início, uma
abertura no modo de recrutamento das elites políticas, representando assim uma militarização
dos cargos públicos.
Neste sentido, muitos outros militares ingressaram na política, como foi o caso do
Coronel Joaquim Pereira de Macedo, Prefeito Revolucionário de Curitiba e Deputado
Estadual em 1935 pelo PSN - Partido Social Nacionalista. As primeiras medidas tomadas por
decreto imediatamente atestam a esperada reorganização dos quadros políticos, mas, também
demonstram a tentativa de compressão de despesas num momento de crise também
econômica.
O primeiro decreto do governo estadual provisório unificava as três secretarias de
estado sob o antigo nome de Secretaria Geral do Estado. Este decreto na verdade anulava a
Lei nº 2.502, de 25 de fevereiro de 1928, a qual havia desdobrado tal Secretaria em três:
Secretaria de Estado de Interior, Justiça e Instrução Públicas; Secretaria de Estado de
Fazenda, Indústrias e Comércio, e Secretaria de Estado de Agricultura, Viação e Obras
Públicas. Nesta mesma data foi nomeado pelo decreto de nº 2 o Secretário Geral do Estado,
Dr. João Ribeiro de Macedo Filho.65
Além das exonerações para substituições de nomes em cargos de destaque político,
muitos outros auxiliares do governo foram dispensados por medidas de economia. Isto foi o
63 OLIVEIRA (1997), op. cit., p. 49. 64 Inserido no contexto da Revolução Federalista, também iniciada no Rio Grande do Sul, o Cerco da Lapa, cidade paranaense, foi o nome com o qual o episódio foi constituído como marco histórico. Foi o confronto armado entre as tropas federalistas, contrárias à política centralizadora do Marechal Floriano e as tropas republicanas legalistas por este enviadas, pelas quais o Gal. Mário Tourinho havia combatido. Para ver mais sobre o assunto: CARNEIRO, David. O Cerco da Lapa e seus heróis. Rio de Janeiro: Ravaro, 1934; PEREIRA, L. F. Paranismo: o Paraná inventado: cultura e imaginário no Paraná da Primeira República. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1997; PESAVENTO, S. J. A Revolução Federalista. São Paulo: Brasiliense, 1983. 65 DIÁRIO OFICIAL, 14 de Outubro de 1930, p. 1 -2.
33
que se alegou no decreto de nº 94, de 13 de Outubro de 1930, pelo qual foram demitidos os
auxiliares da Diretoria Geral de Saúde. Seu Diretor, Dr. Alceu Ferreira já havia sido nomeado
em 6 de Outubro de 1930.66 Ainda no mês de dezembro deste mesmo ano a Secretaria Geral
do Estado foi desdobrada novamente em duas secretarias: Secretaria dos Negócios da Fazenda
e Indústrias e Secretaria dos Negócios do Interior e Obras Públicas.
Seus secretários foram respectivamente: Antônio Augusto de Carvalho Chaves,
político antigo e Presidente do Comitê Central da Reação Republicana, o qual foi também
eleito Deputado Estadual pelo Partido Social Democrático em outubro de 1935; e João David
Pernetta, engenheiro civil e político antigo do Partido Republicano, o qual na última
dissidência deste extinto partido havia rompido com a situação dominante.
Contudo, apesar de sua origem e da ligação por laços de parentesco a famílias
tradicionais do Paraná, o interventor revolucionário não conseguiu atender a todas as
ambições exaltadas neste momento de reorganização dos quadros políticos. Enfrentando forte
oposição política, inclusive dos setores militares, o General Mário Alves Tourinho renunciou
no dia 29 de dezembro de 1931. Assim a administração da Interventoria Estadual foi
substituída provisoriamente por João David Pernetta, seu Secretário do Interior e Obras
Públicas, e também tradicional político da Primeira República, até 31 de janeiro de 1932.
O Sistema de Interventorias foi acionado após a vitória dos “revolucionários” de 1930,
como mecanismo político-institucional. Pelo Código dos Interventores, nome dado ao
decreto nº 20.340, de agosto de 1931, Getúlio Vargas visava, sobretudo, regulamentar o
controle por ele exercido sobre as interventorias estaduais.
Desta maneira, através deste sistema era estabelecido um poderoso instrumento de
controle do poder central sobre a política local. No Paraná, como em muitos outros estados, o
primeiro momento de nomeação dos interventores, a maioria militares subordinados
diretamente a Getúlio Vargas e sem ligações políticas locais provocou crises, as quais seriam
amainadas com concessões às forças locais.67
Segundo Campello de Souza, “as crises estaduais do período deviam-se quase
sempre, (...) à imposição de interventores demasiado desconhecidos da política local, que
não puderam ou quiseram estabelecer com ela um razoável modus vivendi (grifo da autora)68.
66 DIÁRIO OFICIAL, 14 E ? de Outubro de 1930, p. 2. 67PANDOLFI, Dulce Chaves. Os anos 1930: as incertezas do regime. In FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília, A. M.(Orgs). O Brasil Republicano: O tempo do nacional-estatismo: do início da década de 1930 ao apogeu do Estado Novo. (vol. 2) Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. 68
SOUZA(1976), Maria do Carmo Campello de Estados e Partidos Políticos no Brasil (1930 a 1964), p. 88.
34
Foi este o contexto no qual o primeiro interventor do Paraná não se sustentou no poder e foi
substituído por Manoel Ribas, aparentemente um indivíduo bem vindo entre seus pares, visto
que descendia de famílias históricas do Paraná. O novo interventor federal assumiu a
Interventoria em 31 de janeiro de 1932, permanecendo no poder pelos treze anos que se
seguiram até a deposição de Vargas em fins de 1945.
Pressupomos, todavia, que a nomeação dos Interventores, peças chave desse processo
centralizador e autoritário em seus primeiros passos, não transcorreu sem problemas em parte
alguma. Focos permanentes de crise política pululavam o país devido, em parte ao ostracismo
a que foram relegados muitos membros de tradicionais forças políticas locais, as quais
entraram logo em choque com as novas autoridades constituídas, mas também devido ao
abuso de poder destas mesmas autoridades recém instituídas.
Administrar a ambição de inúmeros políticos em dominar ou manter a dominação da
nova máquina administrativa que ia se montando, era tarefa que demandava energias no
sentido de confrontar, desarticular e até mesmo compor com as situações dominantes. No
dizer de Ricardo Costa de Oliveira a nomeação do novo interventor, “conseguia reunir a
confiança de Vargas e o apoio de importantes setores das classes dominante e trabalhadoras
do Paraná.” 69
Manoel Ribas descendia das famílias históricas do Paraná, base social da classe
dominante do Estado em sua formação. Pertencia, também ao “núcleo duro, o centro de
gravidade da classe dominante do Paraná.” 70
, um reduzido grupo que contava com três
troncos genealógicos dentre as sete grandes formações genealógicas das quais emergiu o
poder político do Estado em sua formação. Embora fizesse parte da elite campeira, Manoel
Ribas era também representante dessa classe política dominante cujos herdeiros políticos de
1930 até o final do século XX ainda sairão de suas fileiras. 71
Este mesmo ambiente propício à acomodação do novo interventor e de sua aceitação
pode ser percebido também nas páginas do livro Manoel Ribas, o mito que ficou.72 Mario
Marcondes de Albuquerque, o memorialista que produziu esta biografia elogiosa de Manoel
Ribas, nos permite conferir a ligação por laços de parentesco do novo interventor com nomes
69, OLIVEIRA (1997), op. cit., p. 49. 70 OLIVEIRA, Ricardo Costa de (2001) O Silêncio dos vencedores: genealogia, classe dominante e estado no
Paraná, p. 269. Curitiba: Moinho do Verbo, 2001. 71 Como é o caso também dos governadores Bento Munhoz da Rocha Neto, Ney Braga e Pedro Viriato Parigot de Souza, pertencentes a um dos três troncos genealógicos centrais , segundo análise de OLIVEIRA (2001), op.
cit., p. 269. 72 ALBUQUERQUE, Mario Marcondes de. Manoel Ribas o Mito que ficou, p. 20-23. s. ed. 1994.
35
de importantes famílias da tradição política paranaense. Estes nomes também foram
colocados em destaque por Oliveira73, e são eles: Lupion, Rocha, Fontana, Macedo, Hauer,
Erichsen, Lacerda, Maciel, Oliveira Franco, entre outros.
Com certeza foi fácil a verificação destes laços de parentesco nos nomes de
personagens políticas importantes neste período. Porém, não é difícil perceber também que,
de um modo geral, alguns destes nomes estão presentes na composição das três tendências
políticas que neste momento estão disputando o poder.
É o caso do nome Macedo, por exemplo: o prefeito deposto, era Joaquim Pereira de
Macedo, prócer do Partido Social Nacionalista, e se elegeu Deputado pelo Partido Social
Nacionalista em 1934; a União Republicana Paranaense, agremiação partidária que reunia
personagens importantes do extinto Partido Republicano Paranaense, elegeu dois Macedo: o
Deputado Laertes de Macedo Munhoz, e o Deputado Carlos Ribeiro de Macedo; o Deputado
Oscar Borges de Macedo Ribas elegeu-se Deputado pelo Partido Social Democrático, o
partido do Interventor.
Para entendermos a importância da trajetória política de Manoel Ribas diante das
exigências da conjuntura histórica que ora analisamos, necessitamos pensar sua trajetória
social de vida. Não pretendemos neste trabalho registrar todo o conjunto das posições
simultaneamente ocupadas por um indivíduo biológico socialmente instituído, o que Bourdieu
denomina superfície social.
Neste sentido, interessa-nos perceber “o conjunto das relações objetivas que uniram o
agente considerado ao conjunto de outros agentes envolvidos no mesmo campo e
confrontados com o mesmo espaço dos possíveis” 74
. O que não podemos fazer sem antes
extrapolarmos as balizas temporais já estabelecidas.
Manoel Ribas descendia das famílias históricas do Paraná. Seu bisavô materno, o
Capitão Manoel Gonçalves Guimarães, além de militar era dono de muitas terras e
personagem de destaque na ocupação da região. Sua progênie paterna não era diferente: o
Brigadeiro Manoel Ferreira Ribas, além de militar e dono de muitas terras foi também
tropeiro, Diretor Geral dos Índios e deputado provincial.
Nascido em Ponta Grossa, no dia 6 de março de 1873, Manoel Ribas foi o primogênito
dos dez filhos do casamento do Comendador Augusto Lustoza de Andrade Ribas. Deputado
73 OLIVEIRA, Ricardo Costa de (2004). Notas sobre a política paranaense no período de 1930 a 1945, p. 20. 74 BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica, p. 190. In: FERREIRA; AMADO (orgs.). Usos e abusos da
história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1996.
36
de prestígio em Ponta Grossa, seu pai casara-se com dona Pureza da Conceição Branco de
Carvalho, a qual também pertencia à família de importância histórica.75
Fez seus preparatórios escolares em Castro, no mesmo colégio pelo qual passou Rocha
Pombo, o prestigiado intelectual paranaense. Para continuar seus estudos deveria seguir para
Curitiba, mas como conta seu biógrafo, Manoel Ribas pertencia a uma família numerosa e
sem muitos recursos visto que as muitas terras àquela época tornaram-se num “patrimônio de
pouca conversibilidade”. 76
De fato, a História do Paraná aponta este período como um momento de
“desagregação da sociedade tradicional” 77. Este era um período no qual o Brasil passava
por transformações relacionadas às mudanças no regime de trabalho, ocasionada pela pressão
externa pela extinção do tráfico escravo.
Segundo Magnus Roberto de Mello Pereira, a demanda por braço cativo pela
cafeicultura paulista em fraca expansão, num período de declínio econômico dos Campos
Gerais tornou atraente o preço de revenda de mão-de-obra escrava, o que estimulou “a
transferência de uma grande parcela de escravos para São Paulo, alterando o panorama
demográfico paranaense”. 78
Ademais, no contexto de recente emancipação política da Província, 1853, ocupar o
território com imigrantes estrangeiros era uma questão política atrelada também às novas
idéias de modernidade e progresso. Neste sentido, a política imigratória como projeto das
elites brancas, estava “destinada a tonificar o organismo nacional abastardo por vícios de
origem e pelo contato que teve com a escravidão”. 79
Na década de 1870, em especial na administração de Lamenha Lins, um dos
Presidentes de Província que mais se empenhou em povoar os vazios, foram desenvolvidos
programas oficiais de assentamentos de imigrantes. No parecer desta citada administração,
com o apoio do governo os imigrantes, além ocupar a vasta região dos campos da província,
poderiam aproveitar as terras férteis da região para a produção da agricultura de subsistência.
75 ALBUQURQUE, op. cit., p. 19-20. 76 ALBUQUERQUE, op. cit., p. 24. 77BALHANA, Altiva Pilati, MACHADO, Brasil Pinheiro, WESTPHALEN, Cecília Maria. História do Paraná,
p. 153. Curitiba: Editora Grafipar, 1969. 78PEREIRA, Magnus Roberto de Mello. Semeando iras rumo ao progresso. Ordenamento jurídico e econômico
da sociedade paranaense, 1829-1889, p. 57-58. Curitiba: Editora da UFPR, 1996. 79Conforme Relatório do Presidente de Província Miranda Ribeiro 1888:26, citado por NADALIN, Sérgio Odilon. Paraná: ocupação do território, população e migrações, p. 72. Curitiba: SEED, 2001.
37
No dizer de Lamenha Lins, citado por Balhana, Pinheiro Machado e Westphalen, era
necessário a vinda de colonos morigerados, “conhecedores de processos mais acabados, e
habituados ao uso de instrumentos mais vantajosos ao maneio e cultura das terras, (...) cuja
prodigiosa fertilidade abrange todo o gênero de produção agrícola”.80
Segundo apontavam os Presidentes de Província, a economia da região dos “campos
gerais”, atual município de Ponta Grossa, encontrava-se por este período em estado de
decadência. Nesta administração citada acima, o apoio do governo provincial para dinamizar
a economia se deu no sentido de demarcar os lotes e contribuir financeiramente com o
transporte de imigrantes.81
Nesta conjuntura de declínio econômico dos Campos Gerais Manoel Ribas nasceu e
permaneceu até os 24 anos. Ali se casou com Zenilda Fonseca, e também “desempenhou
atividades junto ao setor ferroviário, pendor que o iria encaminhar para o Rio Grande do
Sul, em circunstâncias sempre ligadas a esse ramo e em conjunto com a criação de gado,
desempenhando ele próprio o serviço de tropeiro”.82
Em 1897, ele muda-se para o Rio Grande do Sul a convite de seu cunhado Gustave
Vauthier, o engenheiro belga e diretor da empresa concessionária das ferrovias rio-
grandenses. Em Santa Maria Manoel Ribas trabalhou primeiramente como “distribuidor de
mantimentos aos turmeiros”. 83
Foi também diretor do armazém de fornecimento de
mantimentos aos funcionários, de uma espécie de associação mútua que antecedeu a
Cooperativa dos Funcionários da Viação Férrea de Santa Maria, fundada em 1913.
Nesta cooperativa, da qual foi um dos fundadores, Manoel Ribas desempenhou a
função de gerente até 1920, e daí em diante foi seu diretor geral, tornado-se mais tarde, no
dizer de seu biógrafo, “um expert em cooperativismo”.84 Foi também o criador da Escola
Técnica de Artes e Ofícios para os filhos dos ferroviários, além de um Hospital da
Cooperativa.
Segundo Márcio Alex Biavaschi, Manoel Ribas, enquanto diretor da Cooperativa de
Consumo dos Ferroviários destacou-se como “elemento ferroviário aliançado à política
dominante perrepista santa-mariense”.85 Para ele “convergiam os coronéis que pretendiam
80 BALHANA et al, op. cit., p. 162. 81 BALHANA et al, Op. Cit, p. 177- 181. 82 ALBUQUERQUE, Op. Cit., p. 24. 83 ALBUQUERQUE, Op. Cit., p. 25. 84 ALBUQUERQUE, Op. Cit., p. 25. 85 BIAVASCHI, Márcio Alex Cordeiro (2003). A árvore e a floresta: uma contribuição metodológica de Pierre
Bourdieu acerca da História Regional, p. 129
38
ter o apoio do eleitorado ferroviário” grupo de pressão que além de representar um entrave
ao controle local por parte do PRR – Partido Republicano Rio-Grandense, “servia como
constante ponto de atrito entre os coronéis locais”.86
Na condição de representante do eleitorado ferroviário, sua liderança e capacidade de
arregimentar grande número de eleitores foram bastante prestigiadas por Borges de Medeiros,
chefe político perrepista rio-grandense. Em 1926, em meio ao escândalo político que
desencadeou o processo de cassação de um Intendente santa-mariense, Manoel Ribas faz parte
da comissão executiva do Partido Republicano Rio-Grandense de Santa Maria, cuja instalação
pretendeu e consegui desprestigiar uma facção do PRR local, que não interessava ao borgismo
naquele momento.
Como nos mostra Biavaschi, “a escolha dos membros que compuseram esta comissão
baseou-se na posição social e na capacidade de liderança dos indivíduos (...), preocupados
em manter seus postos de prestígio a nível local”. 87
Em 1927 Manoel Ribas foi eleito para o
cargo de intendente municipal e em 1930 foi “nomeado o primeiro prefeito municipal de
Santa Maria, cargo que ocupou até 1932, quando foi nomeado interventor do estado do
Paraná”.88
A partir de 23 de Janeiro de 1932, quando foi nomeado Interventor Federal do Estado
do Paraná, até o fim do primeiro governo Vargas, Manoel Ribas permaneceu à frente da
administração do Governo do Estado. O relato de sua gestão de governo, cobrindo o primeiro
período interventorial e o período constitucional, objeto de nossa pesquisa, pode ser conferido
no Relatório de Governo datado de março de 1939. Assinado já no retorno do período de
discricionarismo político, tal documento traduziu o esforço de relatar as atividades do
governo, e, ao mesmo tempo, dar sentido ao encaminhamento político destas.
Para o período de retorno ao regime constitucional, quando em Maio de 1935 foi
instalada a 1ª Legislatura da Segunda República, podemos contar também com duas
Mensagens do Governador à Assembléia Legislativa. Tais documentos são dirigidos a um
fórum eminentemente político, qual seja, os representantes do povo com os quais Manoel
Ribas governou.
Para além da exposição dos atos de sua administração, podemos perceber nelas o
esforço do executivo para um bom relacionamento entre este e o legislativo. São, portanto,
86 Idem. 87 BIAVASCHI, Márcio Cordeiro (2005). Escândalos políticos, borgismo e coronelismo em Santa Maria, p.27. 88 BIAVASCHI (2003), Op. Cit., p. 130.
39
documentos a partir dos quais foi possível conhecer o discurso do poder sobre as práticas
gerenciais do campo político correspondente.
Conforme foi registrado no Relatório de Governo acima citado, Manoel Ribas foi alvo
da confiança de Getúlio Vargas, porém iria “exercer o alto e espinhoso cargo de Interventor
Federal” num momento em que “a situação econômica e financeira do Estado era de
verdadeira insolvência”.89 Além da crise política que com sua indicação Getúlio Vargas
tentava controlar, o novo interventor enfrentaria a grave crise financeira pela qual passava o
Estado. Seu plano de governo foi pautado por políticas públicas que visaram primeiramente
“por em ordem o caos financeiro e promover o ressurgimento das forças elaboradoras de
riqueza”.90
Neste sentido, pudemos perceber em todos os documentos oficiais o discurso acerca de
uma obra construtora de riquezas para o Paraná como fio condutor das principais orientações
políticas da administração Manoel Ribas deste período aqui. Para esta obra construtora era
imperativo seguir à risca as diretivas político administrativas do governo federal, pois, no dizer
do Interventor, dele provinha a “assistência moral e material”.91
Do governo Federal também vinha a orientação para a constituição de um Conselho
Consultivo, órgão previsto no Código dos Interventores em meados de 1931, e instituído no
Estado em dezembro do mesmo ano. A todos que haviam tomado ali assento o governador
eleito agradecia a “maneira desinteressada e patriotica com que se dignaram a servir os altos
designios do Estado”. 92
Muitos dos auxiliares do governo Ribas passaram primeiro por este cargo, ou ocuparam
cargos políticos importantes antes de 1930, o que, no nosso entender, denota a mesma política
de Vargas, a qual procurou “acomodar as forças regionais aos interesses de planejamento e
dirigismo político e econômico da política no plano nacional”.93 Neste sentido, não
concordamos com o parecer de Pinheiro Machado94 ao falar de uma elite política local frágil
em fazer valer seus projetos.
Se um dos problemas principais a serem enfrentados pelo governo federal era o cuidado
com o crédito do país, no plano estadual não era diferente. As dívidas internas e externas do 89 PARANÁ (1940), Governo: Relatório de Governo 1932- 1939, apresentado ao Governo Federal em março de 1940, p. 3. 90 Ibidem. 91 Ibidem. 92 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 21. 93 MAGALHÃES, Marion. Brepohl de. Paraná Política e Governo, p. 48. Curitiba: SEED, 2001. 94 PINHEIRO MACHADO, Brasil. Sobre a Política Paranaense, p. 5-24. In: IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Curitiba, 1989.
40
Estado eram enormes. O serviço de pagamento de juros e resgates de apólices estava suspenso
juntamente com as demais obrigações do Tesouro e o pagamento do funcionalismo público
estava atrasado em 9 meses.95 Esta situação de colapso financeiro foi certamente agravada
pelos efeitos catastróficos, de alcance mundial, provocados pela quebra da bolsa de Nova
Iorque em 1929.
Por outro lado, a economia do Estado, baseada principalmente na extração de madeira e
na extração e indústria da erva mate, passava por grandes dificuldades. A produção ervateira,
que desde o período colonial representava importante papel econômico, passara por diversas
crises provocadas pela crescente oferta do produto no mercado exterior pelos produtores da
região do Prata. A indústria da madeira, além de enfrentar dificuldades no mercado interno,
geradas por questões fiscais, sofria também a concorrência externa.
Em fins da década de 1920, a pouco diversificada economia paranaense sofria também
as conseqüências de um precário aparato infra-estrutural, elementos estes que determinaram
um retrocesso econômico.96 Com o colapso econômico veio a conseqüente queda das
arrecadações e o empobrecimento do Estado enquanto máquina administrativa. No contexto da
Primeira República, salientava o Relatório, a prática usual era a dos empréstimos para cobrir
déficits financeiros, os quais na verdade cresceram ainda mais devido as onerosas obrigações
impostas.
Desta maneira, apesar das agitações políticas de 1932, e do ano eleitoral em 1933 e
1934, como visto no capítulo 1 desta pesquisa, nos primeiros anos de interventoria o governo
estadual procurou “Intensificar por todos os meios a lavoura e a pecuaria”, o que no seu
dizer, é o mesmo que “conduzir o Estado á sua grandeza”. 97
. Assim, sem descuidar das
culturas já estabelecidas, cogitava o, agora já Governador, “ampliar todas as demais
[culturas], quer fazendo distribuição de sementes, quer decretando medidas indispensaveis ao
seu desenvolvimento”98
.
Até o ano de 1936 o Estado vinha trabalhando com uma verba orçamentária baixa. A
partir daí a política econômica da gestão Ribas procurou incentivar a iniciativa privada através
95 Segundo consta no Relatório de Governo, p. 5, em 1932 havia ainda em circulação 12. 853.870 francos, dos empréstimos contraídos em 1905, 1913, 1917, conhecidos como empréstimos franceses, cujo valor em circulação em fins de 1939 caiu para 12.292.275 francos. Em 1932 estavam circulando também 951.500 libras e 4.642.000 dólares dos empréstimos contraídos em 1928, cujos valores em 1939 foram reduzido para 569.100 libras e 3.026.000 dólares. As dívidas, interna e externa, eram de 124.432:280$317 e 82.608:713$310 contos respectivamente (Relatório de Governo 1932-1939, p.3). 96 PADIS, P. C. A formação de uma economia periférica: o caso do Paraná, p. 75. São Paulo: Hucitec,1981. 97 PARANÁ (1935), Governo: Mensagem do Governador à Assembléia Legislativa, p. 31. 98 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 31-32.
41
do fomento à agricultura e à pecuária. Para tanto foi instituído pelo Departamento da
Agricultura um Registro Geral de Lavradores e Criadores99, através do qual eram distribuídos
os recursos.
Dentro da política cooperativista da época, a venda ou empréstimo de máquinas e
equipamentos, a distribuição de sementes e outros elementos necessários para a promoção do
tão almejado desenvolvimento de um parque industrial, privilegiava os inscritos no referido
Registro. As medidas de fomento à produção vegetal trouxeram resultados satisfatórios às
várias culturas. Assim, podemos perceber pelo relatório que nos exercício de 1931 a 1933
ainda predominou a erva-mate como principal fonte de riqueza, produto que foi daí para frente
perdendo espaço para uma economia que ia se diversificando a partir da madeira, café, gado,
algodão, trazendo o esperado crescimento das receitas.
Em meados de março de 1932 o cooperativismo era representado na Gazeta do Povo,
reproduzindo a fala dos criadores de Guarapuava, dos plantadores de café no nordeste, dos
plantadores de banana de Morretes, dos madeireiros e outros setores da economia que
buscavam cooperativar-se, como o meio de ligar diretamente produtores e consumidores. A
união cooperativa iria “defender a produção, diminuir despesas, melhorar o preço (...)” e
Manoel Ribas era, no dizer destes que se intitulavam como “classes trabalhadoras do
Paraná”, o governo que “se revelou de energia, de lealdade, de objetivos práticos para salvar
o Paraná”.100
O cooperativismo, para o qual o novo interventor se mostrou “compenetrado na
sua missão coordenadora” 101
, significava a organização em moldes modernos das associações
de classes. Seu interesse não era fazer política, mas defender a classe.
Segundo o Relatório, o aumento das receitas que foi se tornado realidade no governo
estadual a partir então, não era resultado de majoração de impostos, muito pelo contrário, em
abril de 1932 o interventor já havia nivelado com os outros estados as taxas fiscais de
exportação, atendendo assim à antiga aspiração dos ervateiros. Também não era devido apenas
ao incentivo à produção.
Concorria para este sucesso a revisão do sistema tributário e uma eficiente fiscalização
da arrecadação de rendas, que neste período contou com cursos para habilitação de
funcionários. Neste sentido, pôde ser percebida, através das fontes, uma racionalização
99 PARANÁ (1940), Relatório. Op. Cit., p. 32. 100 GAZETA DO POVO, Curitiba, 17 de Março de 1932, p. 1. 101 GAZETA DO POVO, Curitiba, 30 de Março de 1932, p. 1.
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burocrático/administrativa que além da austeridade orçamentária contou também com a
demissão de muitos funcionários.
Parece que esta tarefa para Manoel Ribas não foi difícil, visto que, a partir de 1930
foram sendo implementadas inúmeras mudanças na administração pública brasileira, como a
exigência de padronização e fiscalização do horário de trabalho e o ingresso no serviço público
por concurso. A carga horária do funcionário público foi mudada no início de 1932, de 4 horas
para 7 horas diárias, distribuídas em dois turnos, o que suscitou muitas manifestações de
desagrado e também outras sugestões.102
Sobre as reivindicações de fusão deste horário em 6 horas corridas, Manoel Ribas só se
manifestou no ano de eleição dos Deputados que em seguida o elegeriam Governador
Constitucional. Desta maneira, prometia através do jornal a Gazeta do Povo, estudar o
estabelecimento de um novo horário, sendo a favor de uma possível fusão, desde que não
prejudicasse a administração pública.103 Tal caso foi resolvido por portaria da interventoria
fixando o horário nos sábados, das 08h30min às 12h00min, e durante a semana das 12h00min
às 18h00min. 104
O discricionarismo do governo no que diz respeito às demissões de funcionários
públicos foi reclamado em várias ocasiões neste período estudado. Já em março de 1932 foi
realizada na sede da Organização dos Advogados do Estado uma reunião para tratar da
reintegração dos funcionários públicos demitidos a partir de outubro de 1930. Com respeito às
admissões mediante concurso público, com certeza neste momento também se fez exceções, e
a nomeação de funcionário sem concurso, dependendo dos interesses que estivessem por trás
da contratação continuou sendo praticada.105
Uma questão importante para prover o Estado de uma infra-estrutura necessária ao
futuro desenvolvimento econômico do Estado foi a questão viária. De início foi posto em
prática um plano rodoviário de urgência, o qual consistiu primeiramente na reforma e
aparelhamento da antiga rede rodoviária.
Mas também foram construídas novas estradas de primeira classe, as quais foram
articuladas no plano viário organizado em seguida. Consta deste período o início da
construção da famosa Estrada do Cerne, interligando a capital com o norte pioneiro. A
prioridade era ligar a capital do Estado e os portos de mar aos principais centros produtores.
102 GAZETA DO POVO, Curitiba, 18 de Fevereiro de 1932, p. 1. 103 GAZETA DO POVO, Curitiba, 19 de Julho de 1934, p. 1. 104 GAZETA DO POVO, Curitiba, 28 de julho de 1934, p. 1. 105 GAZETA DO POVO, Curituba, 24 de Março de 1935, p. 2.
43
Neste sentido, o Relatório pedia também a continuidade na ampliação da rede de
estrada de ferro. Segundo o exposto, a estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande do Sul, “cobria
uma região de dimensões quase insignificantes do território do Estado, não tendo assim
finalidades de grande vulto”.106 Além disso, a via férrea não tinha sido construída para atender
os interesses do Paraná, por isso as regiões mais importantes economicamente não haviam sido
contempladas. Mas com a construção do ramal do Paranapanema, pelo governo federal e da
linha-tronco Ourinhos/Guaíra, pelo governo do estadual, “um largo passo na viação férrea
estadoal” 107
já havia sido dado.
O aparelhamento do Porto de Paranaguá foi outra questão importante para a
administração Ribas, de cujo Relatório percebe-se que as obras de aparelhamento portuário
vão sendo executadas ao longo do período aqui privilegiado. Sendo o atendimento portuário
precário, foi firmado o primeiro contrato para a execução de novas obras em 1933, o qual foi
concluído em 1934. Porém em 1935 o movimento do Porto já havia aumentado pedindo assim
novas benfeitorias, as quais foram imediatamente atacadas pelo Governo do Estado.
É interessante notar que pela Fiscalização das obras, como rezava a cláusula 26ª do
contrato com a Cia Christiani & Nielsen, o Estado pôde negociar com a referida companhia
materiais existentes no Almoxarifado, adquirindo também daquela empresa outros materiais.108
Estas e outras medidas atendiam não apenas aos antigos anseios do empresariado paranaense,
contemplavam também as expectativas de um governante necessitado do aumento da
arrecadação num momento de grandes tensões políticas e transformações econômicas e sociais
geradoras de novas necessidades.
No tocante a Educação, questão também essencial do governo Vargas, a prioridade foi
dada ao ensino profissional. Desta maneira, haviam sido construídas, ou estavam em fase de
acabamento, neste período 8 escolas de trabalhadores rurais. As Escolas de Trabalhadores
Rurais localizaram-se: 2 em Curitiba, 2 em Paranaguá e as demais nos municípios de Castro,
Palmeira, Ponta Grossa e Rio Negro. Porém muitos outros edifícios escolares foram
construídos visto que, “excluindo-se alguns prédios de real valor em Curitiba, Ponta Grossa e
Paranaguá, nada mais havia em todo o vasto território do Estado”.109
Conforme consta na Mensagem do Governador à Assembléia Legislativa, as novas
escolas eram criadas, dentro das possibilidades orçamentárias, em atendimento a demanda
106 PARANÁ (1940), Relatório, op. cit., p. 12. 107 PARANÁ (1940), Relatório, op. cit., p. 12. 108PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 25. 109 PARANÁ (1940), Relatório. Op. Cit., p. 8.
44
gerada pelo aumento da população infantil. Sob a orientação de Gaspar Duarte Velloso,
Diretor da Inspetoria Geral de Instrução Pública, todas as escolas primárias eram providas do
material e professores necessários, e no ano de 1935 foi criado o cargo de Instrutor de Cultura
Physica110 dos estabelecimentos de ensino. Para a fiscalização da subvenção às escolas
federais foi designado o Inspetor José Augusto Gomy. Foi também neste período que foi
construído o prédio da Escola de Aprendizes Artífices, hoje Universidade Tecnológica Federal
do Paraná.
Foram construídas também “Colônias Correcionais, para a reclusão de jovens
delinqüentes”.111
No dizer do governo Ribas, o problema com a infância desprotegida que
vinha sendo enfrentado desde 1935, podia ser resolvido de forma “racional e proveitosa para
nossa economia” 112
. Desta maneira as diversas escolas de trabalhadores rurais ofereciam,
além do ensino prático, o curso primário, e depois transferiam seus alunos para a Escola de
Trabalhadores Rurais Dr. Carlos Cavalcanti em Curitiba, onde estes receberiam o ensino
profissional, o qual visava a “a formação de um Auxiliar Prático de Agrônomo, com
conhecimentos gerais em agricultura e pecuária”.113
A preferência na matrícula era dada aos órfãos e aos menores desamparados pelos pais,
podendo também aceitar matriculas de filhos de lavradores, dependendo dos recursos dos
mesmos. A Escola Agronômica do Paraná, além de ter aumentada a subvenção, recebeu do
governo uma granja modelo para a ministração da parte prática de seus cursos. Tratava-se da
Granja do Canguiri, local onde eram realizados, entre outros, estudos sobre as possibilidades
de desenvolvimento de novas culturas.
É interessante notar que o ensino agrícola era defendido como base da educação de
crianças do interior. Neste sentido, o engenheiro civil Souza Mello Júnior, fazendo referência
aos estudos de Alberto Torres sobre a índole do povo brasileiro, critica um edital da
interventoria sobre a obrigatoriedade do ensino primário.
Diz o artigo, que deveria ser colocado de lado o “espírito de liberdade que tanto mal
causa na campanha educacional”. Tal reclame, reproduzido na Gazeta do Povo, dizia respeito
ao fato de que se espalhavam pelo interior do Estado escolas primárias, as quais tinham,
segundo o reclamante, professores de “pequena cultura”.114 Delas os alunos saíam meio
110 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 20. 111 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p.20. 112 PARANÁ (1940), Relatório. Op. Cit., p. 39. 113 Id. 114 Id.
45
alfabetizados e sem conhecimento agrícola. Para o articulista, “a educação natural das
crianças, principalmente a do interior, é o primeiro passo na organização racional para
garantir o futuro” (grifo nosso). 115 Parece claro que para este indivíduo educação deveria
continuar sendo instrumento de discriminação social.
Acreditamos que tais políticas educacionais devem ser compreendidas como uma
leitura singular do movimento educacional de caráter renovador que acontecia na primeira
metade da década de 1930. Levada a cabo pelo governo estadual, as políticas educacionais
parecem estar marcadas por uma idéia em voga neste período, qual seja, a pretensão de ser o
Estado do Paraná o celeiro do Brasil.
O movimento que ficou conhecido como Manifesto dos Pioneiros da educação nova de
1932 116
, foi sintetizado na obra redigida neste mesmo ano por Fernando Azevedo, o
intelectual da educação que encabeçava o movimento. Entre seus 26 signatários figuravam
personalidades de vulto, tais como Anísio Teixeira, Cecília Meireles, entre outros.
Consagrando-se na defesa formal da democratização escolar, o texto apontava também
a necessidade de combater o empirismo dominante. Para tanto, deveria ser criado, através de
planos político-sociais que entrelaçassem reformas econômicas e educacionais, um programa
educacional à altura das necessidades modernas e das necessidades do país.
Sob a ótica destes intelectuais, a educação era um instrumento de reconstrução da
democracia, visto que possibilitava a integração dos diversos grupos sociais. Nesse sentido, o
manifesto defendia também uma escola única e comum, a qual não deveria ignorar as
características regionais de cada comunidade, mas também não deveria servir a interesses de
classe nem privilegiar uma minoria economicamente diferenciada.
Conferindo visibilidade às contradições do processo de escolarização no Brasil e
estimulando o debate em torno da democratização do acesso à educação, o documento
defendia a educação como uma função essencialmente pública, cujo ideal deveria ser
profundamente humano, de solidariedade e cooperação. Não é necessário, depois do acima
exposto, tratarmos dos desvios do ideário da educação nova no Paraná, as políticas
educacionais por si falam.
115 GAZETA DO POVO, Curitiba, 01 de Maio de 1934, p. 2. 116Para estas informações foram acessados os sites educabrasil, e CPDOC-FGV disponíveis em http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp, acessado em 10 de setembro de 2008, e http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/o_brasil_de_jk/Manifesto_dos_pioneiros_da_educacao.asp, acessado em 10 de setembro de 2008, respectivamente.
46
Mas é necessário apontar a opinião de intelectuais paranistas a respeito dos internatos
que eram as escolas rurais, para entendermos o grau de articulação entre atores sociais
importante e os projetos da administração pública deste período. No dizer de Romário Martins
“o Sr. Manoel Ribas, pela sua penetrante visão de administrador, e com sua comprovada e
inteligente audácia construtiva procura resolver agora mesmo o problema demográfico,
nacionalista e econômico (...), é a revolução, no sentido cívico e cultural do termo” 117
Outra questão premente da gestão Ribas foi o tratamento dado a colonização. Em 1932
o Estado cumpria apenas o papel de fiscal no que diz respeito à colonização, cujos serviços
estavam sendo totalmente administrado por companhias particulares. Com exceção da
Companhia Brasileira de Viação e Comércio, cuja concessão já havia caducado pelo decreto
nº. 300, de novembro de 1930, as demais companhias e colonizadores ainda estavam
administrando as terras devolutas do Estado. Em meados de 1934 outras concessões foram
declaradas caducas, o que fez reverter ao Estado mais de dois milhões e trezentos mil hectares
de terras.
Permaneceu no serviço de colonização por contrato com o Estado apenas a
“Companhia de Terras Norte do Paraná e o Engenheiro Francisco Gutierrez Beltrão, os
quais localizaram entre 1932 e 1939, mais de cinco mil famílias”.118
Segundo o Relatório, o
trabalho de colonização realizado diretamente pelo governo já havia localizado mais de oito
mil famílias de agricultores nas colônias organizadas nos municípios de Londrina, Tibagi,
Paranaguá, Guarapuava, Reserva, Morretes, Clevelândia, Palmas, entre outros. Desta maneira
o Estado implementava, mais especificamente a partir de 1939, uma nova política agrária de
colonização fundiária, o que veremos com mais vagar na nossa próxima pesquisa.
No que concerne às políticas industrializantes o destaque é o empreendimento da
Indústria Klabim, de papel e celulose, a qual começou a construir um impressionante parque
industrial que em 1934 chamava a atenção da população com o movimento de transporte do
maquinário. As terras da fazenda Monte Alegre, onde estava sendo instalada a ndústria, foram
adquiridas do Estado, por intermédio do Banco do Estado do Paraná.
No mês de dezembro deste mesmo ano, em meio à campanha política para a eleição
indireta para o governo do estado, as cláusulas do contrato com o Estado foram colocadas sob
suspeita. Mas em manchete do periódico Gazeta do Povo a Klabim se dizia surpresa com a
117 GAZETA DO POVO, 28 de novembro de 1934, p. 6. 118 PARANÁ (1940), Relatório, op. cit., p. 23.
47
celeuma e se prontificava a rever o contrato aceitando as ditas “propostas mais vantajosas
para o Estado”119
, se elas existissem.
É interessante notar as reflexões afetas ao trabalhador, geradas no contexto do mês de
Maio deste mesmo, o ano eleitoral de 1934. Frederico Faria de Oliveira, o futuro Deputado do
partido do interventor, transcreve trechos do manifesto do Partido dos Proletários, o qual diz
que “a desorganização social assenta-se na desigualdade imperativa da exploração do
homem pelo próprio homem” 120
, e apela para que se possam transpor “as barreiras que
impedem a investida das vanguardas proletárias nas conquistas das reinvidicações
sociais”.121
Comentando a organização da primeira concentração em praça pública do Partido
Proletário, diz o articulista que estes estavam tocados pelo desejo de servir a coletividade. O
que Frederico traduzia para os trabalhadores como “não fazer o jogo dos aventureiros e
demagogos, cujo objetivo é turvar as águas para que a pescaria se desenvolva no melhor dos
mundos”. 122
Tal partido, segundo Frederico, se apresentava “com um colorido vermelho das
reivindicações”, mas dentro da ordem. Os proletários, no dizer do articulista, deveriam reagir
“contra os elementos que os exploram em nome de falsas conquistas utópicas”. Deveriam
também, em nome de um “trabalhismo patriotico”, manter sua tendência, a qual sempre
convergiu para o equilíbrio construtivo do espírito de cooperação, dizendo não aos
“pescadores de águas turvas”, os quais tentam disseminar idéias vãs. A proposta do articulista
para o Partido era a de “tomar as formas que a oportunidade da ação recomendar”.123
Questão crucial para o entendimento de Manoel Ribas com a elite política local foi o
“aproveitamento dos moços”. Seu quadro de auxiliares administrativos, bem como a
arregimentação partidária por ele organizada, contou com uma renovação dos quadros
políticos. Não em termos de posição social, pois nos quadros políticos ainda figuravam
indivíduos ilustres por sua posição social e econômica. Contudo no quadro do Partido Social
Democrático figuravam novos nomes para a política paranaense e também mais novos em
idade.
119 GAZETA DO POVO, Curitiba, 19 de dezembro de 1934, p. 1. 120 GAZETA DO POVO, Curitiba, 01 de Maio de 1934, p. 1. 121 Idem. 122 Idem. 123 Idem.
48
Dentre os vinte Deputados Estaduais eleitos em 1934 pelo Partido Social Democrático,
apenas dois eram veteranos na política paranaense. Antônio Augusto Carvalho Chaves era
bacharel em direito e havia sido anteriormente Deputado Estadual na legislatura 1906 -1907, e
Deputado Federal na legislatura 1903 -1914. Havia também ocupado cargo importante no
período revolucionário como Secretário da Fazenda entre 1930 e 1931, e era também
comerciante.124
Outro veterano da política paranaense era Caio Gracho Machado de Lima. Ele era
irmão de Antônio Jorge Machado Lima, fundador do Jornal A Tarde, e um dos representantes
do Paraná eleito pelo PSD em 1933 para a Assembléia Nacional Constituinte. Ambos eram
filhos de Vicente Machado, um importante político paranaense. Caio estudara Ciência
Política em Paris e havia sido Deputado Estadual nas legislaturas de 1908 -1909 e 1929 -
1930. Em 1930 se encontrava na dissidência do Partido Republicano do Paraná. Ele foi
também jornalista e diretor do jornal O Dia.
Quatro dos Deputados eleitos pelo PSD em 1934 eram tenentistas revolucionários: os
militares do Exército: Major Djalma Rocha Al Chueyr, articulador revolucionário em 1930 e
vinculado à Aliança Nacional Libertadora; o Tenente Agostinho Pereira Alves, participante
do levante de 1922 e de 1930 e o Tenente Raul Gomes Pereira, participantes do movimento
político militar de 1930 e 1932, ao lado de Vargas125. Ovande Ferreira do Amaral era
tenentista civil e participou da Aliança Liberal no Sul do Estado e também do movimento de
1930.126
Pudemos perceber que além das profissões de advogado e médico, praxe comum na
escolha dos selecionáveis para o cargo político até então, havia neste momento a presença
grande de militares, industriais, comerciantes e jornalistas. O que denota que o processo de
recrutamento para a arena política estava em processo de transformação, mas também aponta,
principalmente, para uma bem pensada e articulada arregimentação política por parte de
Manoel Ribas, o qual em janeiro de 1933 havia convocado “todos os moderados que apóiam
o governo provisório”127
, para a organização de um novo Partido.
Este foi, em linhas gerais, o encaminhamento da administração política de Manoel
Ribas, e suas principais políticas públicas encabeçadas neste primeiro momento da
administração. Como interventor ele administrou o Estado de janeiro de 1932 até janeiro de
124 OLIVEIRA (1997), Op. Cit., p. 51. 125 OLIVEIRA (1997), Op. Cit., p. 52. 126 Idem. 127 GAZETA DO POVO, Curitiba, 07 de Janeiro de 1933, p. 1
49
1935. Como Governador Constitucional, eleito pelos Deputados que compunham a
Assembléia Legislativa do Paraná, ele permaneceu até novembro de 1937.
Quando do golpe de Estado Novo voltou a funcionar o sistema de interventorias.
Manoel Ribas continuou no cargo de Interventor, mas este é um período para posterior
pesquisa. Seu maior mérito, no sentido de contribuir para o estabelecimento de um sistema de
relações político/sociais deveu-se ao fato de ter articulado uma nova e estratégica
arregimentação política, no interior da qual havia os elementos-chave responsáveis por sua
positiva representação. Mas disto trataremos no capítulo seguinte.
50
CAPÍTULO 3: A REPRESENTAÇÃO SOCIAL DA FIGURA PÚBLICA DE MANOEL
RIBAS
O que prevalecia no Paraná da Primeira República era o “relacionamento de um grupo
oligárquico visivelmente parental, desaparecendo qualquer traço de partido”.128 Como
mostra Samuel Guimarães da Costa, Carlos Cavalcanti era cunhado de Caetano Munhoz da
Rocha, que era sogro de Affonso Alves de Camargo, que era ... Segundo Ricardo Oliveira, o
que se revelou com o perfil das novas autoridades constituídas a partir de outubro de 1930, na
verdade, foi “a continuidade de tradicionais grupos e famílias no poder”. 129
Desta maneira, o imbricamento do nome Ribas numa rede de parentesco aponta, sem
sombra de dúvidas, para um padrão de continuidade dos grupos tradicionais da classe
dominante no poder local. Contudo, tal fato não é elucidativo da sua continuidade no poder,
nem da vitória do projeto centralizador e autoritário nas eleições de 1934, visto que este
mesmo padrão social pode ser observado nos outros dois projetos que disputaram
efetivamente o controle da máquina estatal.
Partimos do pressuposto de que a implementação do Sistema de Interventorias, o qual
foi aperfeiçoado no Estado Novo, fez parte de uma determinada proposta de modernização do
Estado enquanto máquina administrativa, e da própria sociedade brasileira como um todo.
Mesmo que não podemos dizer que havia um projeto de antemão definido, como sinalizam
alguns autores aqui consultados, é impossível deixar despercebido um movimento crescente
em direção ao escancarado autoritarismo do Estado Novo.
No Estado do Paraná, cuja inserção político/econômica no cenário nacional era ainda
bastante tímida, este processo também se desenvolveu em meio a marchas e contramarchas
políticas que colocaram em jogo uma luta travada no campo da representação. Tal embate,
evidenciado pelos jornais, explicitou os meios pelos quais uma determinada concepção de
mundo, de valores e comportamentos, funcionou como signo de afirmação de um grupo neste
espaço social.
Vimos naqueles testemunhos que apontam a continuidade do padrão social, certa
cumplicidade e conivência da elite política local com as novas diretrizes impostas. Porém,
noutro depoimento a respeito da nomeação de Manoel Ribas e sua acomodação no cenário
128 COSTA, Samuel Guimarães da. História da Assembléia Legislativa , p. 281. Curitiba: Editora da Assembléia Legislativa do Paraná, 1994. 129 OLIVEIRA (1997), Op. Cit., p. 49.
51
político paranaense, pesa o fato de que não houve necessidade do estabelecimento de alianças
entre as elites políticas locais e o novo interventor. Foi este o parecer de Brasil Pinheiro
Machado, um dos Deputados Estaduais eleitos pelo PSD– Partido Social democrático em
1934. Segundo Pinheiro Machado a indicação de Manoel Ribas alcançou sucesso, por um
lado, pelo fato de que este rapidamente conquistou a liderança política, e, por outro lado, pela
fragilidade dos grupos políticos em imporem seus projetos locais. 130
Para além destas questões que podem ser apreendidas através da bibliografia, existem
outros aspectos deste momento histórico que merecem nossa atenção. Optamos então pelo uso
da fonte jornalística por nos permitir conhecer através das representações ali registradas, não
apenas os embates travados em meio a tal disputa pelo controle do poder no Estado, mas a
visão de mundo destes agentes nela envolvidos. Para a construção dos conhecimentos deste
capítulo os documentos fonte foram, principalmente, os vários exemplares do periódico
Gazeta do Povo já citado anteriormente.
Nestes documentos estivemos atentos às representações sociais do poder que foram ali
reproduzidas visto que estas, como nos mostra Jodelet, concorrem para “a construção de uma
realidade comum a um grupo social”.131
Ao mesmo tempo em que as representações provem
de universos reificados, vindos de diferentes papéis ou categorias sociais, elas são a matéria
prima para a construção de realidades consensuais. É, pois, esta construção de uma realidade
consensual que possibilitou a ação comum entre Manoel Ribas e demais atores sociais
importantes nesta pesquisa que procuramos observar nas fontes.
O periódico O Cruzeiro foi utilizado apenas através da citação de outro autor, por nos
informar acerca da representação desta figura pública no momento de sua entrada na cena
política do Paraná. Pensamos tais documentos como instrumentos de conhecimento e
construção do mundo objetivo, através de seus jornalistas colocados “entre o universo dos
senhores e dos dominados”.132
Neste sentido, como “correias de transmissão de uma cultura, de um saber” 133
, os
jornalistas desempenharam papel importante como construtores dos fatos que veicularam nas
páginas dos jornais. Os bens de significados colocados em circulação através destes veículos
de comunicação nos permitem conhecer também sua visão de mundo.
130 PINHEIRO MACHADO, Brasil Pinheiro. Sobre a Política Paranaense, p. 5-24. In: IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social. Curitiba, 1989, citado por MAGALHÃES, Marion. Brepohl de. Paraná Política e Governo, p. 48. Curitiba: SEED, 2001. 131 JODELET, op. cit., p. 22. 132 VOVELLE, Michel. Ideologias e mentalidade, p. 216. São Paulo: Brasiliense, 1 991. 133 Idem.
52
A função que os jornalistas desempenharam, portanto, contribuiu para a transmissão e
cristalização do imaginário daqueles aos quais representavam. Ao desenharem os contornos
da representação social de Manoel Ribas se mostraram verdadeiros locutores políticos,
reproduzindo, adaptando, e transformando bens de significado de acordo com as exigências
do momento. Buscamos observar através da leitura das fontes, a produção, circulação e o
consumo de bens de significado utilizados quando da representação da figura pública de
Manoel Ribas.
Tais bens de significado fazem parte de uma “estrutura complexa de designação, de
integração de significante, de valores, um código coletivo e interiorizado "134
. Pertencem ao
arsenal de designações implicados na vida coletiva como um todo. Porém, sua evocação na
legitimação de objetivos, na ampliação dos valores propostos à ação comum, como nos
mostra Pierre Ansart, faz parte de um trabalho ideológico.
O verdadeiro locutor político, no dizer de Ansart, é aquele que melhor manipula estes
bens de significados, ora reproduzindo formas, ora transformando-as de acordo com a
situação. Um trabalho que vem sendo produzido e acumulado ao longo do tempo, e cuja
investigação pode levar a um novo questionamento da idéia de consenso político, “com
demasiada freqüência confundida com a dominação política em razão da negligência com
que se encaram as suas condições produtivas”.135
Nossa leitura esteve atenta às aparições públicas de Manoel Ribas, aos comentários
sobre sua administração e outros assuntos correlatos que foram noticiados. Interessou-nos o
tratamento que se lhes era dispensado e os bens de significados colocados em operação
quando da representação que fizeram do poder. Dados estes que puderam contribuir para
nossa tentativa de interpretação tanto da representação que o jornal fez desta figura pública
em questão, como da relação desta representação com o cenário político local.
No processo de comunicação social estabelecido no seio da sociedade por meio do
jornal, de caráter indireto e mediato, os jornalistas mobilizam um conjunto de conceitos,
afirmações e explicações que são as representações sociais. Para tais conceitos e explicações
contribuíram julgamentos valorativos vindos de fontes e experiências diversas, e no dizer de
Moscovici, devem ser consideradas como verdadeiras teorias do senso comum.
Consistindo assim numa forma de conhecimento cuja finalidade é atender às
necessidades de interpretar e mesmo construir as realidades sociais, ele é continuamente
134 ANSART, Op. Cit., p. 21. 135 ANSART, Op. Cit., p. 1.
53
acionado. Há, no dizer de Moscivici, “uma necessidade contínua de re-construir o “senso
comum” ou a forma de compreensão que cria o substrato das imagens e sentidos, sem a qual
nenhuma coletividade pode operar”. 136
Nesse sentido, podemos dizer que o nosso periódico-fonte, enquanto categoria, é
portador de uma espécie de “senso comum” sobre a variedade dos assuntos e objetos sociais
ali veiculados. As representações, material com o qual os fatos ou fenômenos sociais são
construídos enquanto tal, e veiculados no periódico, são constituídas como objetos de
conhecimento psicossocial.
Conseqüentemente elas não devem ser reduzidas a um evento intra-individual,
tampouco devem ser diluídas como forma de um pensamento social. Elas estão embasadas no
contexto e na própria vivência dos sujeitos nelas envolvidos. No dizer de Jodelet, as
representações sociais são “uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada,
tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum a um
conjunto social”. 137
Segundo Moscovici, as representações sociais se estruturam a partir de duas faces
pouco dissociáveis, a face figurativa e a simbólica. Ou seja, são construídas a partir de dois
processos básicos: “objetivação e ancoragem, ambas (...) transformam o não familiar em
familiar”138
. Pelo processo da objetivação somos capazes de dar uma forma específica ao
conhecimento acerca de determinado objeto, podemos atribuir palavras e significações às
coisas. De modo geral, o processo de objetivação tira conceitos e imagens para juntá-los e
“(...) reproduzi-los no mundo exterior para fazer as coisas conhecidas a partir do que já é
conhecido [...]”.139
O processo de ancoragem “transforma algo estranho e perturbador, que nos intriga,
em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria
que nós pensamos ser apropriada” 140. Desta maneira o sujeito pode transferir novas idéias
para o seu contexto familiar, e, baseando-se em conhecimentos prévios pode classificar e
nomear o que lhe está sendo apresentado.
136
MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social, p.48. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2003. 137 JODELET, op. cit., p. 22. 138 MOSCOVICI, op. cit., p. 61. 139 MOSCOVICI, op. cit., p.78. 140 MOSCOVICI, op. cit., p. 61.
54
No dizer de Moscovici, pelo processo de objetivação e ancoragem, informações novas
são integradas e transformadas em um conjunto de conhecimentos estabelecidos numa rede de
significados socialmente disponíveis para interpretar um objeto. Sejam estes objetos idéias,
pessoas, acontecimentos, relações, etc. A partir deste momento o objeto passa a ser
reincorporado na qualidade de categorias, as quais orientarão novas integrações, compreensão
e ação.
No contexto político paranaense, as representações sociais da figura pública de
Manoel Ribas foram capazes de proporcionar várias imagens, idéias, crenças, atitudes,
valores, relacionadas à prática política, aos objetivos políticos, dentre outros. Elas oferecem a
possibilidade de compreender o processo de construção social da realidade em questão. Nesse
sentido, as representações sociais criadas podem ocultar ou mesmo elaborar imagens de uma
realidade objetiva. E porque são compartilhadas, elas também podem proporcionar
estabilidade entre os membros de um grupo.
Neste sentido, nossa fonte jornalística nos permitiu ressaltarmos três momentos
simbólicos distintos, importantes para a construção da representação da figura pública de
Manoel Ribas no Paraná: o primeiro momento, quando “prudência e fortaleza” são
qualidades invocadas em um paranaense, para que no cumprimento dos ideais revolucionários
“o morbo da política, doença maléfica (...) não venha transtornar as melhores intenções” 141;
um segundo e mais rico momento de sua representação, quando da campanha política para o
pleito eleitoral outubro de 1934; e por fim, o momento do retorno ao regime constitucional
quando as dissidências no interior do próprio partido do interventor ameaçam a harmonia
conquistada até então. As vicissitudes deste momento político parecem exigir então um
esforço maior na produção dessas representações.
No momento de sua entrada na cena política do Estado a indicação de Manoel Ribas
foi acompanhada no Cruzeiro, o qual fazia menção ao seu passado histórico de “homem de
ação e empreendimento... administrador seguro... que soube impor-se por suas realizações
como prefeito Municipal na cidade de Santa Maria”. 142
Vale ressaltar também o acento dado
pelo periódico ao seu “propósito altruístico em favor dos proletários”.143 Em seu discurso
durante o almoço em sua homenagem, como ressaltou o periódico, mostrou o novo
141 O CRUZEIRO, Curitiba, 01de janeiro de 1932, apud LIMA: 1997 p.26. 142O CRUZEIRO, Curitiba, 13 de janeiro de 1932, apud LIMA: 1997 p. 26. 143 O CRUZEIRO, Curitiba, 20 de janeiro de 1932, apud LIMA: 1997 p. 28.
55
interventor paranaense que se empenharia na solução do problema que o proletário do Paraná
enfrentava.
Solucionar estes problemas, no dizer do interventor, começava com a organização
destes em cooperativas, mas prometia também o “melhoramento gradativo das condições dos
seus lares, o auxilio para proporcionar aos seus filhos, em estabelecimentos apropriados,
educação profissional gratuita e tudo que atender ás legítimas aspirações sociais dos
proletários”. 144
Tal discurso, proferido no Rio de Janeiro e reproduzido em periódico local,
descrevia Manoel Ribas como aquele que viria cooperar “para a solução, nos moldes
cristãos, do problema operário tão em evidência” 145
Pudemos perceber que, com exceção do artigo do Cruzeiro, a disposição local desses
construtores de fatos se mostrou um tanto tímida no momento da nomeação do novo
interventor. Uma resistência que foi em breve vencida, quando as primeiras ações do governo
inspiraram a “boa impressão e confiança” 146
das classes conservadoras representadas pelo
periódico Gazeta do Povo. O periódico comentava, na ocasião, o rebaixamento dos impostos.
Mas a mudança de ânimo dos jornalistas da Gazeta do Povo é mais notória depois de uma
visita do Interventor à sede da Associação Paranaense de Imprensa, onde proferiu uma
palestra para um grupo de jornalistas.147
Creio que somos autorizados a entender que, tanto a portaria baixada pela
interventoria em meados de fevereiro de 1932, dando liberdade de ingresso no Palácio aos
jornalistas, 148 quanto a já mencionada palestra de Manoel Ribas na Associação Paranaense de
Imprensa, em abril do mesmo ano, contribuíram para uma maior aproximação entre o
interventor e a mídia local. Assim vemos o Diretor da Gazeta do Povo, Acir Guimarães e o
jornalista Frederico Faria de Oliveira ingressando neste momento na política, e elegendo-se
Deputados pelo partido do Interventor em 1934.
Quando da estréia de Manoel Ribas no cenário político paranaense, foram relevantes e
revestiram-se de significado as inúmeras representações que de Manoel Ribas foram sendo
divulgadas no periódico. Foi o interventor representado neste momento como trabalhador e
apolítico. Em entrevista dada ao correspondente da Gazeta do Povo no Rio de Janeiro,
144 Idem. 145 O CRUZEIRO, Curitiba, 20 de janeiro de 1932, apud LIMA, op. cit., p. 28. 146 GAZETA DO POVO, Curitiba, 30 de abril de 1932, p.1. 147 GAZETA DO POVO, Curitiba, 17 de abril de 1932, p. 1. 148 GAZETA DO POVO, Curitiba, 14 de fevereiro de 1932, p. 1.
56
Manoel Ribas diz que só aceitou o cargo porque não precisava fazer política, vinha para o
Paraná trabalhar.149
Tais afirmações de um “apoliticismo de Manoel Ribas”, que a princípio deixou
“desolado” o redator principal da Gazeta do Povo, Frederico Faria de Oliveira, foi um bem
de significado importante. Ele foi colocado em circulação quando das escolhas dos nomes
para comporem o novo quadro de auxiliares administrativo e no silêncio quanto à política
nacional. Destacava-se seu “apoliticismo”, pela sua distância da “ambiência intolerável do
disse-me- disse tão do agrado de determinadas almas”.150
No andar dos acontecimentos este bem de significado foi adaptado ao propósito de
afastar a figura do interventor da imagem desgastada do político profissional que os
“revolucionários” teoricamente desprezavam, para aproximá-lo da figura do trabalhador.
Quando das reuniões para organização do programa do Partido Social Democrático, se
expressou assim seu locutor político acima mencionado: que a reunião “foi realizada num
ambiente de fé e serena confiança”, que o novo partido “não é núcleo de políticos
profissionais (...), quer trabalhar pelo povo e cumprir o programa revolucionário” 151
Em meio aos embates por reconstitucionalização do país que agitaram o cenário
político nacional, Manoel Ribas mantém-se em silêncio acerca da política. Na sua volta de
viagem da Capital Federal, traz a ajuda material necessária para dar continuidade às obras da
administração paranaense e declara à imprensa não ter tomado “conhecimento dos casos da
política nacional (...) [seu] interesse é no Paraná” o qual pretende “administrar modesta e
honradamente”. 152 Noutros momentos esta questão de ser apolítico, do Sr. Manoel Ribas,
também aparece e pode ser observada no mesmo periódico, quando o redator afirma que
Manoel Ribas se mantém “alheio aos reboliços da politicagem nos cobiçados postos”. 153
Em janeiro de 1933, depois de noticiado pelo jornal Gazeta do Povo uma possível
exoneração de Manoel Ribas, o Conselho Consultivo do Estado foi reorganizado. Tal órgão
foi instituído pelo Código dos Interventores em agosto de 1931, mas havia sido instalado no
Estado apenas em Dezembro deste mesmo ano.154
Entraram para o Conselho nesta ocasião, um dos fundadores do periódico citado, o
advogado e professor da Faculdade de Direito do Paraná, Benjamin Lins de Albuquerque, e o
149 GAZETA DO POVO, Curitiba, 13 de janeiro de 1932, p.1. 150 GAZETA DO POVO, Curitiba, 19, e 17 de abril de 1932, respectivamente p.1 151GAZETA DO POVO, Curitiba, 08 de janeiro de 1933, p. 1 152 GAZETA DO POVO, Curitiba, 19 de março de 1932, p. 1 153 GAZETA DO POVO, Curitiba, 09 de abril de 1932, p. 1. 154 PARANÁ (1935), Mensagem. Op. Cit., p. 21.
57
fundador do Jornal A Tarde, Antônio Jorge Machado Lima.155 Este último havia sido Diretor
Geral do Ensino no período de Mário Tourinho, e além de Conselheiro do Estado foi também
membro fundador do PSD, pelo qual se elegeu Deputado Constituinte em 1933.156
O segundo e mais rico momento de sua representação, ocorreu no período de
campanha política para o pleito eleitoral outubro de 1934. Houve 5 concentrações pessedistas,
sendo que a primeira foi realizada em Ponta Grossa, em junho de 1934, seguida pela
concentração de Jacarezinho, norte do Estado, no mesmo mês. As outras duas ocorreram em
Paranaguá e União da Vitória, nos meses de julho e agosto, respectivamente.
A quinta concentração pessedista foi realizada no município de Jaguariaíva, em
setembro de 1934. Tanto este município, quanto o município de Jacarezinho se localizavam
perto da divisa com o Estado de São Paulo, região por onde escoava a produção paranaense e
as divisas em impostos do Estado. Os necessários ramais da estrada de ferro São Paulo/Rio
grande do Sul estavam em construção e precariedade das estradas de rodagem impedia a
integração destas regiões com o Porto exportador de Paranaguá.
Articulador de uma estratégica arregimentação política, Manoel Ribas atraiu para a
composição do Partido Social Democrático indivíduos importantes para o seu sucesso político
no Estado, como já mostramos. Durante a campanha política de 1934 dentre estes novos
nomes que ingressavam na política muitos concorreram ao Legislativo Estadual, sendo
inclusive os mais votados. Foram estes indivíduos que trataram de “fazer” o nome Ribas
através das páginas do jornal a Gazeta do Povo.
Na condição de Chefe de Partido e, ao mesmo tempo à frente do Executivo Estadual, o
Interventor paranaense foi comparado a um “exímio empinador de pandorgas”. 157
As
pandorgas, no dizer do articulista da Gazeta do Povo e responsável por este epíteto com o qual
caracterizou Manoel Ribas enquanto político eram aqueles indivíduos que ao promoverem a
positiva representação de Manoel Ribas, ao ”fazer” o nome Ribas, “faziam” seus nomes
também. Porém, ao tomar o impulso dos ventos favoráveis, eles não deveriam esquecer que
“se o fio arrebentar era uma vez a glória e o prazer das alturas”. 158
Queria Rodrigo de Freitas advertir os incautos a respeito da habilidade de Manoel
Ribas em controlar seu espaço de ação política. Mas esta analogia é bastante significativa da
relação de simbiose política entre o PSD e Manoel Ribas. Deveriam ser evidenciados nestas
155 GAZETA DO POVO, Curitiba, 05 de janeiro de 1933, p. 1. 156 OLIVEIRA(1997), Op. Cit., p. 50. 157 GAZETA DO POVO, Curitiba, 26 de outubro de 1934, p. 1. 158 Ibid.
58
campanhas pessedistas os candidatos a Deputado Estadual, eleição que ocorreu em outubro
deste mesmo ano. Porém, o que se procurou mostrar em todas as concentrações citadas foi a
administração de Manoel Ribas, quer seja através de seus feitos, quer seja pela proposta de
encaminhamento de administração posterior.
Ao desenhar os contornos da figura pública do interventor, ao fazer sua representação,
esse discurso ligava sempre suas qualidades às questões técnicas importantes como
rebaixamento e nivelamento de impostos, construção de estradas, de escolas, aparelhamento
portuário, entre outras questões que dariam condições ao desenvolvimento das forças
produtoras de riquezas. O que interessou àqueles indivíduos estrategicamente posicionados foi
dar a conhecer o perfil empreendedor de Manoel Ribas, que via no desenvolvimento das
forças produtivas o progresso do Estado, e, conseqüentemente do país.
Para alcançar tal objetivo para o qual foi apresentado como preparado, não pouparia
nem sacrifícios pessoais. Assim vemos seus locutores políticos apresentarem a possível
candidatura de Manoel Ribas ao governo do Estado: “Manoel Ribas há de quebrar a
resistência do seu desejo de deixar o governo e a atividade política em nosso Estado”.159
Segundo o periódico, o impedimento que o fazia cogitar a idéia de deixar o governo dizia
respeito a problemas de saúde provenientes da incompatibilidade com o clima. Porém, diziam
seus locutores políticos, o interventor “fará o sacrifício de prejudicar-se para o bem da
coletividade”. 160
Neste contexto até um nome importante do meio político-intelectual paranaense vemos
figurar no periódico fazendo coro com os políticos, e locutores políticos de plantão. Este
procurou representar Manoel Ribas como “a garantia para a tranqüilidade dos espíritos
desejosos da salvação e progresso do Estado”. 161
Trata-se de um comentário de Romário
Martins, no qual noutro momento faz votos de êxito a Manoel Ribas o “notável
administrador paranaense”.162
A representação que foi veiculada no jornal Gazeta do Povo, colocou Manoel Ribas
em posição privilegiada e à grande distância em relação aos “políticos profissionais”, locução
bastante usada para designar os políticos depostos em 1930. Representado também como o
“administrador mais enérgico, consciente, probo, e criterioso” que o Paraná jamais teve, e
159 GAZETA DO POVO, Curitiba, 08 de agosto de 1934, p. 1. 160 Idem. 161 GAZETA DO POVO, Curitiba, 18 de agosto de 1934, p. 1. 162 GAZETA DO POVO, Curitiba, 13 de outubro de 1934, p. 6.
59
outros tantos adjetivo e superlativos que foram acionados como bens de significado para a
construção de sua figura pública.
Neste sentido, o interventor também foi desenhado no periódico como o salvador do
Paraná, “o nosso messias, o São Manuel”. Tal articulista, dizendo-se não jornalista,
reivindicava para si mais autoridade para propalar tais qualidades e afirmar que, “se todos os
estados tivessem um Manuel Ribas o Brasil seria a maior nação do mundo”.163
Por fim, o momento do retorno ao regime constitucional quando as dissidências no
interior do próprio partido do interventor ameaçam a harmonia conquistada até então. As
vicissitudes do momento político parecem exigir então um esforço maior na produção dessas
representações. Este é o contexto no qual um artigo assinado por Eroni Teixeira Pinto, vai
apresentar Manoel Ribas como “homem do povo (...) o esperado de nossa terra, o messias da
tão decantada terra dos Pinheirais, (...) impregnado pelo só rutilo da operosidade e
franqueza”.164
As ameaças de dissídio partidário enfraqueceriam o PSD no momento da eleição dos
Deputados que elegeriam o novo Governador Constitucional. Frederico comenta neste
momento a falta de harmonia ideológica da Aliança Liberal. Segundo ele “os revoltosos
teriam esquecido de organizar um programa uniforme que consolidasse objetivos e ideais
políticos”165 . No dizer de Frederico, foi a falta de uma pregação que servisse de padrão aos
diversos setores que se articulavam que teria acarretado a confusão que se instalou depois da
vitória dos revoltosos, a qual deu lugar aos “pescadores de águas turvas”166.
Então, temeroso das ameaças de um fortalecimento dos adversários políticos Frederico
faz um apelo contra as intrigas que estavam provocando dissidências no interior de seu
partido. Dizia ele: “O perrepismo não compreende que o povo paranaense forma um pedestal
de corações gratos a revolução que os livrou da turba insana que os ia devorando” 167
A leitura do periódico/fonte, o jornal Gazeta do Povo nos permitiu também dizer que
perseguiu o PSD uma constante ameaça de aliança entre o interventor Manoel Ribas e
Caetano Munhoz da Rocha. Mas lá estava Francisco de Oliveira exprimindo em primeira
página, e compartilhando com os demais leitores suas preocupações, e a de seus futuros
163 GAZETA DO POVO, Curitiba, 03 de agosto de 1934, p. 3. 164 GAZETA DO POVO, Curitiba, 15 de novembro de 1934, p. 3. 165 GAZETA DO POVO, Curitiba, 04 de outubro de 1934, p. 1. 166 Idem 167 GAZETA DO POVO, Curitiba, 04 de outubro de 1934, p. 1.
60
correligionários com “os pruridos de perrepismo” os quais, no dizer do articulista, “são
como apunhaladas no coração”.168
O temor de que o “delegado do Governo Provisório” pactuasse com os “adversários
de ontem”, devia-se, naquele momento, ao fato de que na escolha de seus auxiliares figurava
o nome de Clotário de Macedo Portugal, prócer do extinto Partido Republicano indicado para
ocupar o cargo de Desembargador do Estado. Se as escolhas dos nomes dos auxiliares de
Manoel Ribas são elogiadas, faltava, porém, “a homogeneidade necessária à verdadeira
atuação revolucionária”.169
Este ex-presidente de Estado presidiu a União Republicana do Paraná, coligação que
elegeu 1 Deputado Federal Constituinte em 1933, e, contando com ele, 5 Deputados Estaduais
em 1934. Para os próceres do PSD Munhoz da Rocha representava tudo o que eles diziam ter
deixado para traz. Contudo, no período de vigência do Estado Novo tal político proeminente
ocupará um cargo de importância vital, qual seja, a presidência do Departamento de
Administração do Estado.
A representação do interventor, que ia sendo construída pelo periódico político-
partidário contribuiu para que seu nome alcançasse guarida ao responder aos anseios,
principalmente, da classe dominante e da emergente, imbuídas de um ideário liberalizante, as
quais ansiavam pelo incremento no ritmo de acumulação de capital sem, contudo encontrar
meios para alcançá-lo. Distanciado de tudo o que representava o político profissional e
aproximado de tudo o que representava um administrador eficiente, o nome de Manoel Ribas
foi sendo construído no imaginário político paranaense.
Sua capacidade de liderança também foi importante, pois possibilitou uma
arregimentação partidária de peso: foram eleitos 20 Deputados Estaduais pelo Partido Social
Democrático, somando 22.441 votos, enquanto que os outros dois partidos, União
Republicana Paranaense e o Partido Social Nacionalista elegeram apenas cinco Deputados por
legenda, cuja soma de votos destes dois partidos juntos computou 17.415 votos 170 . Quando
sua administração se achava ameaçada Manoel Ribas não titubeou em trazer para o seu lado
nomes que representavam a “velha ordem” que dizia repudiar, com a qual, como nos mostrou
a bibliografia consultada, esteve profundamente envolvido.171
168GAZETA DO POVO, Curitiba, 17 de abril de 1932, p. 1. 169 GAZETA DO POVO, Curitiba, 11 de fevereiro de 1932, p. 1. 170 ALBUQUERQUE. Op. cit. p. 44 171 BIAVASCHI, Op. Cit., p.29-30.
61
Mas o fortalecimento de seu nome no cenário político local não aconteceu sem a
resistência da classe política, a qual ficou dividida neste momento entre os três Partidos que
elegeram seus representantes para a Assembléia Constituinte Estadual. A União Republicana
Paranaense (URP), partido que reunia os políticos do extinto Partido Republicano,
identificados, pelo periódico mencionado, com tudo o que representava as práticas políticas
de um passado que a “Revolução” deveria extirpar.
O Partido Social Nacionalista (PSN) era uma agremiação política cuja principal figura
era o comandante paranaense das forças revolucionárias de 1930, e reunia a dissidência
varguista. O Partido Social Democrático (PSD), do qual era chefe político o próprio
Interventor, reunia os moderados de 1930. Estes constituíram o fórum eminentemente político
com o qual Manoel Ribas teve que governar quando eleito governador constitucional em
janeiro de 1935.
Evidência desta resistência pode ser constatada no periódico acima mencionado,
através das ameaças de dissidência no interior do próprio PSD. Mas também no acento dado a
necessidade de harmonia entre o poder Executivo e o Legislativo são elementos que apontam
a dificuldade de relacionamento entre os poderes constituídos.
Seu apelo à “cooperação de todos” para que “em completa harmonia de vista possam
ser vencidas as dificuldades que tentam embaraçar o desenvolvimento de nossa terra”, se
repete na Mensagem dirigida à Assembléia reunida em sua Segunda Sessão da Primeira
Legislatura. Lembrava em seu discurso, que da “harmonia sempre mantida entre essa
Assembléia e o Governo (...) indispensável a colaboração que visa atender, com
superioridade de vista, aos desejos da comunhão”(...) resultava também “o realce e o valor
das medidas tomadas, com a vitória dos interesses superiores do Estado sobre paixões
pessoais ou partidárias”172
Seus locutores políticos tinham consciência de seu trabalho ideológico, tanto é que em
meio a acirrada disputa eleitoral entre os candidatos à Presidência da República, em meados
de 1937, Acir Guimarães, Diretor da Gazeta do Povo e também Deputado do PSD, sugere que
a oposição “faça” o nome de Armando Sales, como eles haviam feito o nome de Manoel
Ribas. No dizer do diretor da Gazeta do Povo, a União Democrática Brasileira (UDN), chapa
criada para disputar as eleições presidenciais, estava mais empenhada em ofuscar o nome de
Manoel Ribas do que de fazer o nome de Armando Sales de Oliveira. Tal postura
172 As citações referem-se, respectivamente a Primeira (16.05.35) e a Segunda (01.09.36) Mensagem do Governador à Assembléia Legislativa.
62
demonstrava, segundo Guimarães, o seu temor de que “a fascinação do ‘VOTAR COM
MANOEL RIBAS’ conduza o eleitorado para a vitória da candidatura José Américo”.173
173 GAZETA DO POVO, Curitiba, 08 de julho de 1934, p. 1.
63
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decurso dos últimos governos presenciamos no Brasil um movimento deliberado
por parte dos nossos presidentes e representantes políticos, no sentido de modernização do
aparelho do Estado através de reformas estruturais econômicas, da previdência, e da
administração pública, entre outras. Tais mudanças não mais teriam como objetivo o
fortalecimento do Estado, como nos anos 30, ou o desenvolvimentismo dos anos subseqüentes,
períodos nos quais uma discussão radical sobre modernidade e atraso apontou impositivamente
para um Estado forte, intervencionista e nacionalista, como expressão da almejada
modernidade.
As ditas reformas teriam como foco a acomodação do Estado como regulador,
submetido aos imperativos do mercado internacional. Neste contexto foram definidos novos
parâmetros para modernidade, entre os quais “Estatismo, nacionalismo e intervencionismo,
manifestação de uma fase ultrapassada, seriam estigmatizados e o pólo moderno passaria a
ser representado pela trilogia mercado, livre iniciativa e intercionalismo”.174
Portanto, a partir
dos anos 1980, um movimento pendular de retorno ao Estado necessário se processava no
nível mundial, e esta era a tendência política para o papel a ser desempenhado pelo Estado.
No parecer do Professor de Ciência Política e Administração Pública da Universidade
de Brasília, João Paulo M. Peixoto, essa “busca da racionalidade quanto à adequada dimensão
do Estado encontrar[ia] em políticas públicas pragmáticas uma âncora segura para o desempenho
eficiente de sua tarefa precípua, e razão de sua existência, que é a promoção do bem comum.175
Tais políticas estariam eqüidistantes do fundamentalismo de mercado e do coletivismo
soviético.
Este discurso que invoca racionalidade e pragmatismo em detrimento de ideologia com
certeza não é novo, tampouco sua linguagem está isenta de ideologia. Desde o início do século
dezenove, momento da formulação da linguagem política, tanto o discurso liberal, quanto a
crítica socialista, seu contraponto, revestiam-se do mesmo entusiasmo racionalista. O
pensamento liberal na sua origem já pregava o advento de uma prática racional, que ao fim e
174 DINIZ, Eli. A busca de um novo modelo econômico: padrões alternativos de articulação público/privado,
p.7. 175
Paper integrante do painel “Reformas estruturais: o legado de FHC e os desafios de Lula” – apresentado no VIII Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administracíon Pública: Statecraft:
o legado do governo Fernando Henrique e os desafios de Lula. Professor João Paulo M. Peixoto Unb. Panamá, 2003.
64
ao cabo, faria declinar, na época, as “alienações religiosas”.176 Os intelectuais socialistas
contrapunham com um socialismo científico, o qual deveria ser instaurado a partir do
conhecimento prático e racional das leis sócio-econômicas. Assim as grandes ideologias
políticas, ambas, reduziram o fenômeno ideológico a um “fenômeno aberrante, que o futuro
eliminaria no triunfo da razão”. 177
Segundo Pierre Ansart, uma e outra ideologia política desconheciam o imaginário
como agente formador do mundo social. “Ignorava-se assim a dimensão essencial de toda a
sociedade política que é a constituição e a renovação de um imaginário coletivo, através do
qual a comunidade aponta a sua identidade, as suas aspirações e as linhas gerais da sua
organização”.178
Neste sentido, entendemos que o sucesso da nomeação de Manoel Ribas como
Interventor federal em Janeiro de 1932, e também como Governador Constitucional em
Janeiro de 1935, não se compreende em função da inexistência de mudanças substantivas em
termos de estrutura de classe. Ou seja, não foi por descender de famílias históricas, ou por
ligar-se em parentesco a um conjunto de nomes de tradição política no Paraná que sua posição
foi estabelecida.
Sua permanência também não se deveu ao respaldo da elite política local. Aliás, esta
mesma elite só não conseguiu impedir sua eleição como governador constitucional, porque o
número de deputados eleitos pelo partido do interventor era o dobro da soma dos deputados
eleitos por seus opositores, o que dificultou tal tentativa. Tampouco sua acomodação no
cenário político paranaense pode ser explicada em termos de uma rápida liderança
conquistada por Manoel Ribas, o que lhe permitiu não estabelecer alianças com a elite
política, “frág[il] em fazer valer seus projetos locais”179
.
O bom êxito desta nomeação tem relação direta com um imaginário político
trabalhado objetivamente neste momento, mas também já sensibilizado pelos mesmos
elementos com os quais esta figura pública foi representada. Se observadas à luz do contexto
histórico dos anos 1930, tornam-se relevantes e revestem-se de significado as inúmeras
representações que de Manoel Ribas foram se divulgando.
Representá-lo como apolítico, em um momento no qual se reclamava por moralidade
na política, produzia um efeito no imaginário dos consumidores destas representações capaz
176ANSART, Pierre. Ideologias, conflitos e poder, p. 11. 177 ANSART, Op. Cit., p.13. 178 Idem. 179 PINHEIRO MACHADO, Brasil. Sobre a política paranaense: entrevistas, p. 5-24.
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de afastar o interventor, de tudo o que simbolicamente representava a velha ordem. Desta
maneira, ao reproduzirem, adaptarem e/ou transformarem bens de significado implicados na
vida social, os jornalistas desempenharam papel importante no sentido de transmitirem uma
visão de mundo e posicionamento político capaz de mobilizar energias em favor novo
interventor.
Ao refletirem as diferenciações próprias do mundo social como instrumentos de
conhecimento e construção deste mundo objetivo, os jornalistas deram a conhecer a dinâmica
social subjacente ao processo de implantação deste projeto de modernização e construção do
Estado brasileiro que foi se desenhando e estruturando aos poucos.
Entendemos, outrossim, que o sucesso da indicação de Manoel Ribas deveu-se, em
primeiro lugar, a sua incondicional fidelidade ao dirigismo político central de Getúlio Vargas,
para o qual ele foi durante todo o período um homem de confiança, “o fiel obreiro e executor
dos seguros planos com que o Presidente Vargas norteia os rumos da causa pública”.180 Em
segundo lugar, mas não menos importante, nossa investigação aponta o trabalho de locutores
políticos realizado por jornalistas do periódico fonte desta pesquisa.
Alguns destes eram elementos do Partido Social Democrático - PSD, a meticulosa e
estratégica arregimentação política articulada por Manoel Ribas. Foram eles também os
responsáveis pelo sucesso de sua nomeação. Tais elementos se encontravam em posições
estratégicas e desenvolveram um trabalho de suma importância para o desenvolvimento de o
sistema de relações político-sociais que foi estabelecido.
Saber impor-se politicamente por realizações, administrar a coisa pública
honestamente, prometer administrar a questão do proletariado e contribuir técnico-
administrativamente através de sua experiência respondia às questões mais caras que estavam
sendo colocadas neste momento. Podemos dizer também que atendia a reclames de todas as
classes sociais. Não significava, e é bom lembrar, que seu plano de governo - que se traduzia
em acatar fielmente a orientação vinda do Catete - contemplaria estas ainda atuais e justas
reclamações na mesma medida em que estas foram colocadas por outros grupos também
portadores de um projeto político-social neste momento.
O que propusemos observar nesta pesquisa foi o trabalho da linguagem política na
produção, circulação e consumos destes “bens de significado” implicados na vida coletiva
180 DAGOSTIM, Maristela Wessler. O imaginário político paranaense na “era Vargas”: uma reflexão sobre o
interventor Manoel Ribas, o fiel obreiro. Texto apresentado no 14º Evento de Iniciação Científica da UFPR: Outubro de 2006.
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como um todo. Sua evocação na legitimação de objetivos, na ampliação dos valores propostos
à ação comum, deve ser observada à luz do contexto histórico do qual emerge. Como nos
mostra Pierre Ansart, é um trabalho ideológico que vem sendo produzido e acumulado ao
longo do tempo. Neste momento de reconstrução econômica pelo qual passava não apenas o
Paraná, mas o próprio país, tal discurso deve ser relacionado com os conflitos sociais por
resolver.
No dizer de Ansart, é no imaginário social, como um conjunto de representações
através das quais uma sociedade se designa, fixando simbolicamente suas normas e valores,
que a linguagem política trabalha. Se, por um lado, a criação das justificativas, as
racionalizações, a ampliação de valores propostos à ação comum participavam da necessidade
de atribuir sentido à ação e aos projetos de seus agentes sociais, por outro lado, o sentido
visado neste momento pode também ser compreendido dentro da ideologia reformista 181 cuja
pretensão é a reconciliação das classes.
Para pensarmos nas conseqüências e na relação desta linguagem ideológica que
identificamos nas fontes, nos alerta Ansart182 que o imaginário não pode ser reduzido
simplesmente a linguagem que observa suas próprias leis, ou a instância epifenomenal, ou
ainda a força de dominação imposta a sujeitos alienados. Sua importância prévia na análise da
linguagem ideológica de um período reside justamente na imanência do imaginário nas
praticas sociais, na urgência de um sentido para a realização de atividades comuns a um
determinado grupo ou sociedade.
Nos jornais, instrumentos de conhecimento e construção do mundo objetivo, os
jornalistas desempenham a função de contribuir para a transmissão e cristalização do
imaginário daqueles para os quais se fizeram representantes. Ao sacarem de bens de
significado para veicularem suas representações, podem se mostrar verdadeiros locutores
políticos, reproduzindo, adaptando e transformando bens de significado implicados na vida
social.
Portanto não podemos dissociar os bens de significado colocados em situação, os
quais integram o arsenal de valores que moldam o comportamento social, da ação política do
momento. Neste sentido estamos empregando o conceito de ideologia também como "visão
de mundo" que tem como objetivo assinalar o significado das práticas coletivas e das
representações, bem como o modelo de sociedade. Manoel Ribas e seus locutores políticos
181 ANSART, Op. Cit., p. 38. 182 ANSART, Op. Cit., p. 21-30.
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não eram ideólogos, mas tinham certa “visão de mundo” marcada pela ideologia reformista de
1930.
No dizer de Ansart, “o ideólogo induz um conjunto de conseqüências simbólicas e
práticas, das quais procura fazer seu inventário” 183
, e o “verdadeiro locutor político” é
aquele que “sabe reproduzir as formas, transformando-as de acordo com as situações”. 184
O momento de finalização deste trabalho de pesquisa coincide com uma crise
financeira cujas proporções, conforme alguns comentaristas beiram à crise mundial de 1929.
Talvez seja este o momento da iminência de uma nova versão do debate em torno do binômio
modernidade/atraso, o qual vinha apontando desde os anos 1980 para o retorno da perspectiva
liberal desaprovadora de tudo quanto naquela conjuntura se dizia moderno. Quiçá esse debate
fosse frutífero no sentido de encontrarmos um caminho que nos levasse a um mundo
verdadeiramente de justiça social, tão continuamente protelado.
183 ANSART, Op. Cit., p. 19. 184 ANSART, Op. Cit., p. 16.
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FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Jornal Gazeta do Povo de Curitiba: 1932 a 1937;
2 – Documentos oficiais:
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3 – Memória:
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4 – Entrevista:
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