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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O JORNALISMO INDEPENDENTE E O EMPODERAMENTO DO

DISCURSO DE GÊNERO NAS MÍDIAS DIGITAIS

Andressa Kikuti1

Paula Melani Rocha2

Resumo: A proposta do artigo é discutir o empoderamento do discurso de gênero pelo jornalismo

independente materializado nas mídias digitais. As transformações no jornalismo impulsionadas

pela tecnologia, sobretudo no século XXI, reverberaram em um jornalismo on-line, estruturado em

novos modelos de gestão, voltado para nichos específicos. Neste contexto destacam-se sites com

linhas editoriais demarcadas por questões de gênero, bem como representações de gênero e

narrativas contra-hegemônicas, usualmente não exploradas pela mídia convencional. Levantamento

colaborativo realizado pela Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo Pública aponta a

abertura de mais de 150 sites de jornalismo independente no Brasil, com crescimento acentuado nos

últimos três anos. Destes pelo menos 10% mencionam diretamente no seu escopo perspectiva de

gênero. Há mais sites mencionados no mapeamento que abordam pautas com enfoque direcionado a

gênero, contudo não está discriminado na linha editorial. A discussão teórica envolve estudos de

gênero, jornalismo on-line e novos modelos de gestão em jornalismo. O corpus compreende quinze

sites, cadastrados no Mapa do Jornalismo Independente, lançado pela Pública, os quais foram

classificados de acordo com a linha editorial, equipe executora, forma de financiamento e ano de

origem. Também inclui análise dos sites Catarinas e AzMina. Foram selecionados dois conteúdos

veiculados por cada um deles no segundo semestre de 2016. A metodologia envolve análise de

conteúdo a partir da classificação de categorias estabelecidas pelo Projeto Global de Monitoramento

de Mídia.

Palavras-chave: Mídias digitais. Jornalismo independente. Gênero

I. As mutações do jornalismo: o jornalismo independente sobre questões de gênero

O jornalismo atual configura-se em um quarto paradigma, segundo Charron e Bonville

(2016), conceituado como o jornalismo de comunicação. O primeiro paradigma refere-se ao

jornalismo de transmissão, o segundo ao jornalismo de opinião, o terceiro corresponde ao

jornalismo da informação e o quarto o jornalismo de comunicação. Neste último, a discussão

proposta fundamenta-se na teoria da hiperconcorrência e os autores analisam o novo paradigma a

partir de cinco mercados (fontes, anunciantes, profissional, consumidores e financeiro) e de suas

1 Professora colaboradora do Departamento de Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) (Ponta

Grossa/Brasil). Pesquisadora colaboradora no Observatório de Ética Jornalística (Objethos) (Florianópolis/Brasil) e no

GPS Jor (Florianópolis/Brasil). 2 Pesquisadora Colaboradora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor), UNICAMP (Campinas,

Brasil). Professora do Departamento de Jornalismo e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade

Estadual de Ponta Grossa (UEPG) (Ponta Grossa/Brasil). Desenvolve o projeto Inovação tecnológica e conhecimento

científico em Jornalismo, com o apoio da FAPESP (processo número 2016/09841-6).

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inter-relações. Uma das características do mercado profissional no jornalismo de comunicação é o

jornalismo para nichos. Outras são com relação ao mercado de consumo, à mudança do perfil do

público e da cultura de acesso à informação. Para Mendez (2016, s/p.), a internet e as

transformações tecnológicas que esta ocasionou mudaram a conduta do receptor, até então passivo.

O resultado repercutiu na queda de assinaturas dos jornais e revistas, e na redução do volume de

publicidade. Uma pesquisa realizada pela World Association of Newspaper and News Publishers

apontou que a circulação de jornais caiu 2% em 20123 e com relação à América Latina, a taxa de

publicidade caiu mais rápido que a circulação. No Brasil, em 2015, segundo o site Comunique-se4,

foram demitidos 1400 jornalistas, devido à redução da estrutura da redação e fechamento de

veículos. As demissões atingiram impressos (jornais e revistas), emissoras de televisão, assessorias

de imprensa e internet. Parte dos profissionais demitidos migraram para iniciativas de sites de

jornalismo voltados para nichos. Mapeamento coletivo da Agência Pública cadastrou mais de 150

iniciativas de sites de jornalismo autodenominados independentes. Desse total, 10% mencionam em

seu escopo perspectivas direcionadas a gênero.

A proposta deste artigo é mapear sites de jornalismo autodenominados independentes que se

propõem a empoderar o discurso de gênero, com recorte no público feminino. O objetivo é verificar

se os sites de fato dão visibilidade às questões de gênero, mais especificamente ao empoderamento

feminino, representando diferentes segmentos de gênero, e classificá-los de acordo com a linha

editorial, público alvo, equipe e formas de financiamento.

Utilizar a imprensa como espaço de debates sobre o direito das mulheres ocorre no Brasil,

localizado na imprensa feminina e feminista, ao longo de sua história. Jornalistas mulheres

apropriaram-se dos veículos impressos, jornais e revistas, para abordar pautas e opiniões contrárias

às normas vigentes. Ao mapear a história do jornalismo brasileiro pela perspectiva da imprensa

feminina e feminista encontram-se iniciativas que dialogam com o contexto social, econômico e

político da época, atendendo determinadas demandas específicas, sejam estas de mercado, sociais

ou mesmo de representações políticas. O ingresso de mulheres no jornalismo "convencional" foi

gradual e ocorreu em maior número sobretudo após a abertura dos cursos de graduação em

Jornalismo/Comunicação. Nesse sentido é importante salientar que a participação feminina no

jornalismo nacional e o crescente processo de feminização da profissão repercutiram também no

mercado. No final do século XIX e início do século XX a participação feminina no jornalismo era

3 O relatório World Press Trends coleta dados sobre a circulação de jornais e as receitas de publicidade em cerca de 70

países. http://www.marketingcharts.com/wp/print/global-newspaper-circulation-and-advertising-trends-in-2012-30062/. 4 Disponível em //portal.comunique-se.com.br/, acessado em 01 de abril de 2016.

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pontual e restrita às mulheres letradas, o que significava uma minoria da sociedade brasileira e

atuavam na imprensa feminina. Hoje as mulheres já são maioria, elas representam 63,7% do

mercado contra 36,3% de homens, como revela a pesquisa realizada com uma amostragem de 2.731

jornalistas brasileiros (MICK; LIMA, 2013), contudo, como aponta Pontes (2017), há desigualdades

estruturais de gênero no mercado de trabalho em jornalismo desfavorecendo a mão de obra

feminina, em relação à remuneração, postos e cargos desempenhados.

2. Olhar histórico, marcas da imprensa de gênero

A legislação que autorizou a abertura de escolas femininas no Brasil data de 1827. Ainda

final do século XIX, após o fim do regime escravocrata e com a instauração do capitalismo, era alto

o índice de analfabetismo no país, sobretudo do segmento feminino, contudo percebeu-se que a

mulher correspondia a uma faixa de mercado. “Dos 4890 estabelecimentos de instrucção primária,

que temos, apenas 1752 pertencem ao sexo feminino, sendo 1339 públicas e 413 particulares, uns e

outros freqüentados por 50.758 alumnos” (OLIVEIRA, 1874, p.39). Nesse sentido, em um primeiro

momento do século XIX despontaram impressos destinados a um público interessado nos modelos

vigentes e no consumo, e na segunda metade do século ocorreram iniciativas que questionavam

determinadas normas, porém a participação da autoria feminina era incipiente e mais concentrada

nesta segunda fase.

Ainda na primeira metade do século XIX, Duarte (2016) mostra que circularam no século

XIX no Brasil 143 títulos entre jornais e revistas femininos e feministas. Neste mesmo período,

Buitoni (1981) mapeou alguns veículos destinados ao público feminino que abordavam moda e

literatura. Provavelmente o primeiro foi O Espelho Diamantino, editado no Rio de Janeiro, em

1827. A imprensa brasileira, de maneira geral, na primeira metade do século XIX foi marcada por

iniciativas de curta duração. Já na segunda metade do século XIX, Buitoni (1981) mostra que

despontaram iniciativas editadas por mulheres como o Jornal das Senhoras, lançado por Joana

Paula Manso de Noronha em 1852, que mesmo timidamente protestava "contra a maneira

possessiva com que os homens tratavam suas mulheres". Em 1862, no Rio de Janeiro, um grupo de

mulheres fundou O Belo Sexo, que trazia críticas à situação social da mulher na época. As

integrantes faziam reunião de pauta semanal e não mantinham o anonimato na autoria do conteúdo.

Rago (1995,1996, p.19) aponta que no final do século XIX e início do século XX, os

impressos gestados por mulheres da classe média reivindicavam a falta de acesso à educação e ao

trabalho por parte das mulheres bem como "à participação do mundo público em igualdade de

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condições com os homens". Não se discutiam outros problemas que acometiam mulheres de outras

camadas sociais, como as operárias, embora seguidores do movimento anarquista já estivessem

presentes no país, especialmente em São Paulo, onde ocorriam lutas operárias no centro da cidade e

nos bairros periféricos. Um exemplo é a revista literária d'A Mensageira, que circulou em São Paulo

entre 1897 a 1900, fundada pela escritora e feminista Presciliana Duarte de Almeida, que citava em

seu escopo "revista literária dedicada à mulher brasileira", contudo limitava-se às opressões que

afligiam as camadas mais abastadas.

De acordo com Rago (1995, 1996) os estudos históricos sinalizam que além das feministas

liberais desconhecerem a imprensa anarquista, elas também ignoravam os jornais O Amigo do

Povo, A Terra Livre, A Lanterna e a Plebe que circulavam na época em São Paulo e Rio de Janeiro,

alguns exemplares inclusive traziam artigos assinados por mulheres. Duarte (2016) mostra que um

dos motivos da criação dos periódicos de mulheres no século XIX foi a necessidade de

conquistarem direitos: em um primeiro momento a educação, com o propósito de educar melhor os

filhos; depois a profissão, que estava associada a poder frequentar escolas; e no final do século

inicia a manifestação pelo direito ao voto.

Já no século XX, em contraposição às feministas liberais, as libertárias não apoiavam

negociações com instituições burguesas e o debate sobre educação era para denunciar as condições

de trabalho, baixos salários, ausência de assistência pública e a relevância dos sindicatos e

associações trabalhistas (RAGO, 1995, 1996). Em um segundo momento, o discurso torna-se mais

político. Um exemplo foi a Revista Feminina, criada em São Paulo, que circulou durante mais de 20

anos, de 1914 a 1936, em todos os estados do país. Fundada por Virgilina Duarte da Costa, o

segmento lutou pelo direito do voto feminino e da educação, criticou a violência masculina contra a

mulher, tanto no âmbito doméstico como no mercado de trabalho e evidenciou os atrasos vividos

pelas mulheres brasileiras em comparação com outros países (RAGO, 1995, 1996). Ainda segundo

a autora, os artigos veiculados abordavam a construção da nova mulher moderna, passando pelas

categorias profissionais, cargos públicos e universidades, discutiam a redefinição do ideal de

feminilidade, de masculinidade e do modelo vigente de família, além de orientar formas de conduta,

vestuário e modo de se comportar. A Revista Feminina também trazia um discurso relacionando a

"esposa perfeita" com a "felicidade do lar", sendo que a mulher devia se anular perante o marido.

De um lado valorizavam o papel de mãe na esfera privada e por outro defendiam igualdades na

esfera pública (RAGO, 1995, 1996).

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Na década de 1960 as feministas assumem um discurso mais libertário na esfera privada,

com bandeiras como a favor do aborto, divórcio, amor livre, maternidade independente, reiterado

nos anos subsequentes das décadas de 1970 e 1980, sobretudo na coluna de Carmem Silva na

revista Cláudia. Paralelamente, nesse período despontou a imprensa feminista com influência

marxista voltada para as mulheres trabalhadoras, sobretudo operárias, configurada nos impressos

Brasil Mulher (1975 a 1980) e Nós, Mulheres (1976 a 1978) (RAGO, 1995, 1996). Ainda na

década de 1980, outro segmento alternativo que se destaca é Mulherio (1981-1988).

Em um cenário da prática do jornalismo de comunicação (CHARRON; BONVILLE, 2004),

guiado pela diversificação e subordinação da oferta a partir das demandas do público, um segmento

que cresce após a década de 1980, destinado principalmente ao público feminino, refere-se às

revistas de consumo que estimulam a proliferação de reportagens associadas a produtos,

denominado por Damian (2005) como formato de "publirreportagem".

Essa breve revisão de alguns registros das imprensas feminina e feminista tem como

propósito ratificar dados da existência de uma imprensa feminina diversificada no Brasil, destinada

a públicos diferentes. Isto não é algo atual, ao contrário, mesmo no século XIX, quando o acesso à

escolaridade por parte das mulheres era restrito, as poucas mulheres letradas já utilizavam a

imprensa como forma de ecoar suas demandas. As narrativas correspondiam a contextos

específicos, alguns coexistindo simultaneamente. Nesse sentido, a presente discussão concebe os

sites de jornalismo autodenominados independentes destinados a públicos diversos, representando

diferentes segmentos de gênero. Embora entenda que a internet tenha impulsionado a segmentação

do conteúdo jornalístico em nichos, antes dela já existiam veículos segmentados destinados às

mulheres.

Metodologia

Este estudo se baseia no Mapa do Jornalismo Independente, lançado pela Pública, cuja

proposta é mapear as iniciativas independentes de jornalismo no Brasil. Os critérios para incluir

veículos neste mapa, conforme explícito no site, são terem nascido na rede (excluindo os blogs),

serem fruto de projetos coletivos e não ligados a grupos de mídia, políticos, organizações ou

empresas. O trabalho resultou em duas listas: uma levantada pela própria Pública, e outra

colaborativa, com a seleção de iniciativas sugeridas pelos leitores.

A partir desta lista, produzimos um mapeamento dos sites com perspectiva de gênero nas

duas listas do Mapa de Jornalismo Independente, totalizando 15 veículos. As informações foram

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coletadas a partir dos delineamentos postados nos endereços oficiais, considerando características

que perpassam por marcas de gênero. Nesse sentido, definiu-se como relevante ver o público alvo;

linha editorial, equipe executora, ano de fundação, se a iniciativa tem fins lucrativos e quais são as

formas de financiamento.

Em um segundo momento buscou analisar dois textos dos sites Catarinas e AzMina, para

aferir as representações de gênero em diálogo com especificidades do jornalismo. Assim, utilizou-se

as categorias definidas pelo Projeto de Monitoramento de Mídia, o qual estuda a representação das

mulheres e dos homens nas notícias veiculadas em jornais, rádio e televisão, em diferentes países.5

As categorias de análise foram: pessoas na notícia (papel, sexo e idade, ocupação/posição, função

na notícia, vítima, sobrevivente, citação direta e fotografia); e análise (foco na mulher;

igualdade/desigualdade; análises adicionais).

Análise

O foco e escopo dos sites em questão são diversos, mas todos têm em comum a busca pelo

empoderamento do seu segmento de público. Em AzMina, por exemplo, lê-se que “visa estimular o

empoderamento feminino por meio da promoção da cultura e da informação de qualidade”; a Lado

M “fala sobre empoderamento feminino. Conteúdos que mostrem que as mulheres podem ser e

fazer o que quiserem, independentemente de estereótipos de gênero”. Já Catarinas “se coloca como

uma unidade ativista do jornalismo enquanto direito e do feminismo enquanto estratégia de ação

para a superação desta sociedade que ainda reserva lugares para as mulheres”, o que também remete

ao empoderamento, embora não utilize esta palavra. É possível perceber, conforme a Tabela 1, que

todos os sites, em maior ou menor grau, se preocupam em empoderar a mulher enquanto sujeito

histórico, autônomo e não regido pelas normas e condutas sociais de submissão impostas pelo

patriarcado. Os veículos se propõem a dar voz às mulheres, aos seus anseios, debates, demandas,

gostos, etc.

Capitolina possui 134 pessoas na equipe, e em Blogueiras Negras constam 200,

configurando coletivos de mídia que trabalham na lógica da colaboração. Outras quatro iniciativas

possuem mais de cinco pessoas na equipe (por exemplo, AzMina com nove mulheres na equipe

mais 12 colaboradores; Nós, Mulheres da Periferia tem nove na equipe, sendo oito jornalistas e uma

designer); Catarinas possui quatro pessoas; Lado M, três; Cientista que Virou Mãe tem duas

5 O grupo de estudos Jornalismo e Gênero da Universidade Estadual de ponta Grossa, utilizou-se da metodologia

desenvolvida pelo Projeto de Monitoramento de Mídia em pesquisas anteriores, que analisaram as representações de

gênero veiculadas nos jornais de Ponta Grossa e Curitiba e em sete revistas nacionais (ROCHA, WOITOWICZ, 2015).

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pessoas; e três são feitas por apenas uma pessoa: Mães de Peito, Mulher no Cinema e Las Abuelitas.

Tais dados mostram que as iniciativas independentes de gênero estão longe de uma uniformidade de

tamanho, mas o número de colaboradores(as) não significa, necessariamente, a existência de uma

estrutura física nos moldes de uma redação tradicional.

Das 15, somente uma (Las Abuelitas) não indica a presença de jornalista na equipe, no

entanto, o veículo foi mantido na análise por estar incluído no mapa da Pública, utilizado como

referência. Em todos os sites, mulheres são maioria nas equipes. Além de jornalistas, também há

ilustradoras, fotógrafas, revisoras, consultoras, analistas de mídias sociais, entre outras. Entre os

homens identificados, constam um designer (AzMina) e um programador (Gênero e Número). Três

dos sites analisados não continham informações sobre equipe editorial.

O ano de fundação dos sites revela propostas jovens, com, no máximo, quatro anos de vida.

Duas surgiram em 2016 (Mães de Peito e Nós 2); cinco nasceram em 2015 (AzMina, Cientista que

Virou Mãe, Catarinas, Mulher no Cinema e Frida Diria); três em 2014 (Capitolina, Lado M e Nós,

Mulheres de Periferia); duas em 2013 (Think Olga e Revista Geni), e três não informaram (Gênero

e Número, Las Abuelitas e Blogueiras Negras). Ao olhar estes dados em conjunto com a quantidade

de demissões de jornalistas e outros profissionais de mídia no Brasil computados pelo Volt6 (1867

jornalistas demitidos em redações desde 2012, e 6126 demissões totais em empresas de mídia), é

possível relacioná-los, delineando um movimento de migração de parte destes profissionais para o

jornalismo que se autodenomina independente. Para confirmar esta suspeita, no entanto, seriam

necessárias entrevistas com profissionais atuantes deste novo cenário, para conhecer suas

trajetórias.

Todos os veículos analisados miram no público feminino, ou seja, são segmentados. Mas

muitos deles possuem públicos-alvo específicos, de nicho, evidenciando que há uma diversidade de

mulheres ao invés de homogeneidade, contemplando o gênero como categoria de análise (SCOTT,

1990). Não existe uma mulher universal, mas uma multiplicidade de mulheres em situações

distintas de acordo com os espaços que ocupam e as relações de poder que travam neste ambiente:

por exemplo, adolescente, afro brasileira, indígena, oriental, de diferentes estratos sociais, jovem,

velha, criança, residente em regiões distintas, a que trabalha em casa, a que tem um emprego com

carteira assinada, a autônoma, a estudante, a professora, enfim é impossível ser representada apenas

6 Volt é uma iniciativa independente, focada em jornalismo de dados. Desde 2012, computa demissões de jornalistas no

Brasil a partir de publicações de sites especializados, como o Comunique-se e o Portal Imprensa, em uma publicação

denominada “A conta dos Passaralhos”. Disponível em: http://passaralhos.voltdata.info/. Acesso em 12/06/2017 às

16h46.

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como "a mulher". Cinco sites abarcavam algum nicho de público: Revista Capitolina é voltada para

garotas adolescentes que se sentem excluídas das representações da mídia tradicional; Cientista que

Virou Mãe e Mães de Peito tem como alvo mulheres que são ou serão mães; Nós, Mulheres de

Periferia é produzida para as moradoras da periferia de São Paulo; Catarinas procura atingir as

mulheres do estado de Santa Catarina. Outros quatro veículos (AzMina, Lado M, Think Olga,

Mulher no Cinema) procuram atingir um grupo mais amplo de mulheres, e seis não informaram o

público-alvo.

Nenhum dos 15 sites analisados revelou explicitamente ter fins lucrativos. No entanto, ao

olhar para o financiamento, vê-se que muitos deles ainda não se mantêm, e/ou utilizam formas não

compatíveis com o modelo tradicional de jornalismo que visa lucro. Também observamos que

somente três sites possuem apenas uma forma de financiamento, sendo que a maioria busca

diversificar as maneiras de obter receita e viabilizar seu trabalho. Cinco veículos disseram utilizar

financiamento coletivo (crowdfunding); quatro recebiam doações. Também foram mencionados

como forma de financiamento os editais (1), oficinas (1), eventos beneficentes (1), leilões de obras

de arte (1), parcerias com empresas (1), assinaturas (1) e publicidade/anúncios (3). Destes, somente

as três últimas fontes de receita indicam fins lucrativos, e são utilizados por uma minoria.

Tabela 1. Classificação dos sites de acordo com linha editorial, equipe, ano, público e

sustentabilidade

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Nome Foco e escopo/linha editorial Equipe Ano Público Fins lucrativos/Forma de financiamento

Revista Capitolina

Criada por jovens, tem a intenção de estabelecer um diálogo honesto com as leitoras, de forma inclusiva, sem restrições de classe social, raça, orientação sexual e aparência física. A intenção é representar todas as jovens, especialmente as que se sentem excluídas pelos moldes tradicionais da adolescência.

134 mulheres colaboradoras, de diversas funções (sobre temas específicos, ilustradoras, fotógrafas, conselho editorial, audiovisual, revisoras, redes sociais, social media, quadrinistas)

2014 Garotas adolescentes

Não/Ainda não se mantém. Fizeram financiamento coletivo para viabilizar estrutura do site entre outras coisas.

AzMina Visa estimular o empoderamento feminino por meio da promoção da cultura e da informação de qualidade.

Nove mulheres na equipe mais 12 colaboradorxs (1 homem, designer)

2015 Mulheres (geral)

Não/ Crowdfunding, doação de Pessoas Jurídicas, oficinas e eventos beneficentes. Mas ainda não se mantém. Tem lançada uma campanha de bolsas de reportagens para 2017

Lado M Fala sobre empoderamento feminino. Conteúdos que mostrem que as mulheres podem ser e fazer o que quiserem, independentemente de estereótipos de gênero.

Duas jornalistas e uma formada em Direito

2014 Mulheres (geral)

Não explicitado/Publicidade no site, mas ainda não se mantém

Cientista que virou Mãe

Informação produzida exclusivamente por mulheres mães. São produtoras independentes de conteúdo que sabem de que tipo de informação as mulheres precisam.

Duas mulheres 2015

Mulheres grávidas e mulheres mães

Não/Crowdfunding, doação de Pessoas Jurídicas.

Nós, mulheres de Periferia

Objetivo é contribuir para o empoderamento das mulheres da periferia de São Paulo, promovendo espaços de reflexão, debate, informação, troca de conhecimento, experiências e visibilidade sobre seus protagonismos, vivências, histórias e dilemas

Oito jornalistas e uma designer 2014 Mulheres da periferia de São Paulo

Não/Editais

Think Olga O objetivo é criar conteúdo que reflita a complexidade das mulheres. A missão é empoderar mulheres por meio da informação e retratar as ações delas em locais onde a voz dominante não acredita existir nenhuma mulher.

Não informada 2013 Mulheres (geral)

Não/Crowdfunding, doação de Pessoas Jurídicas.

Catarinas Se coloca como uma unidade ativista do jornalismo enquanto direito e do feminismo enquanto estratégia de ação para a superação desta sociedade que ainda reserva lugares para as mulheres. É um canal de comunicação livre, que abrange o jornalismo especializado e de opinião..

Quatro mulheres – três jornalistas e uma consultora de projetos em feminismo, gênero e sexualidade.

2015

Mulheres do estado de Santa Catarina

Não explicitado/ Crowdfuding para viabilizar estrutura do site. Atualmente possuem sistema de doações/assinaturas, leilões virtuais de obras de arte e discutem um plano de publicidade. Planejam outras campanhas de financiamento coletivo.

Gênero e Número – narrativas pela

Propõe-se a levantar, tratar e expor dados e evidências em conteúdos de múltiplos formatos. Transparência como valor inegociável. o

Sete pessoas – três diretoras de conteúdo, uma assistente editorial, um programador, uma estagiária e uma colaboradora

Não informado

Não informado Não informado

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equidade

Mães de peito

Traz informações para um parto respeitoso e outros assuntos que envolvem a maternidade. Traz discussão necessária sobre a maternidade real a

Uma jornalista 2016 Mulheres que são mães

Não explicitado/Apoio de pequenas empreendedoras (na forma de anúncios). O site não faz posts patrocinados

Nós 2 Aborda temáticas atuais, mas que pauta por vias desprivilegiadas pela Grande Mídia, elaborando um exame crítico que busca atender as especificidades de movimentos sociais, como LGBTs, mulheres, negros e povos indígenas. A linha editorial segue a ótica de contracultura, propondo alternativas, diálogos, e denúncias, visando o fortalecimento do direito a informação, a qualificação do debate democrático e a promoção dos direitos humanos.

Não informada 2016 Não informado Não/Ainda não se mantém

Mulher no Cinema

Site exclusivamente dedicado a filmes feitos por mulheres ou centrados em mulheres. Busca ser um espaço capaz de dar voz às mulheres que fazem cinema, informar os espectadores e ajudar a colocar um em contato com o outro.

Uma jornalista 2015 Geral – fãs de cinema e preocupadas com questões de gênero

Não explicitado/Ainda não se mantém

Frida Diria visa tratar de discussões e temas atuais a partir da perspectiva de gênero e sem deixar de lado outros recortes de opressão, como raça, orientação sexual e identidade de gênero.

Não informada 2015 Não informado Não explicitado/Ainda não possui modo de monetização fixa. Pretende firmar parceria com empresas que tenham iniciativas voltadas à promoção da igualdade de gênero e da oferta de cursos e palestras.

Lasabuelitas Divulgar e reunir o trabalho de mulheres artistas, além de trazer informações sobre assuntos importantes relacionados direta ou indiretamente ao fazer criativo.

Uma pessoa – atriz, advogada e gestora cultural

Não informado

Não informado Não informado

Blogueiras Negras

Mulheres negras e afrodescentes discutem negritude e feminismo. Criado a partir da Blogagem Coletiva da Mulher Negra. A missão do Blogueiras Negras é promover a livre produção de conteúdo, partindo do principio de que às mulheres negras sempre foi negado lugares e discursos.

Coletivo (mais de 200 autoras) Não informado

Não informado Não/Conteúdo colaborativo

Revista Geni Nasce do compromisso com valores libertários e com a luta pela igualdade e pela diferença.

Coletivo composto por pessoas espalhadas pelo Brasil (principalmente São Paulo) e por brasileirxs que vivem em outros países, como Argentina, Portugal e Rússia.

2013 Não informado Não/ Não informado.

Fonte: das autoras

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Análise dos sites Catarinas e AzMina

Projeto Catarinas

Os textos analisados foram: “#SomosMuitas Clandestinas: por um debate ético sobre o

aborto”, e “Campanha escancara machismo histórico na Oktoberfest”. Ambas reportagens atendem

à linha editorial do site, produzindo jornalismo com perspectiva de gênero. O primeiro trata-se de

uma reportagem, assinada pela jornalista Paula Guimarães, e aborda o aborto, apontando os

prejuízos da criminalização para a saúde e autonomia da mulher e dados sobre práticas de aborto no

país. Ao todo são 35 fontes mencionadas: pessoas, relatórios, documentos e pesquisas. Das 24

pessoas entrevistadas, 22 mulheres e dois homens. Estes são ouvidos como especialistas (um

médico obstetra e um promotor de justiça). Entre as mulheres, são 11 especialistas, quatro aparecem

como porta-vozes das instituições que representam, uma é testemunha ocular do debate sobre o

aborto, trazendo a síntese do lado que defende e do que acusa, e seis são vítimas do aborto

clandestino no Brasil, todas sobreviventes.

O conteúdo conta ainda com nove fotografias, de fontes ouvidas nas matérias. Há um

cuidado em não expor vítimas de aborto clandestino, seus rostos foram propositalmente escondidos

pela luz e foco das imagens. Cinco infográficos auxiliam na compreensão dos dados utilizados na

reportagem: o primeiro contém porcentagens e gráficos sobre o perfil das mulheres que declararam

já ter feito pelo menos um aborto, de acordo com a Pesquisa Nacional do Aborto (PNA), realizada

pelo Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. O segundo infográfico traz o aborto em

números no Brasil, e o destaque para o estado de Santa Catarina. O terceiro infográfico traz os

dados das mulheres que foram presas por terem abortado – a maioria são jovens, negras, com pouca

escolaridade e baixa renda, e quase todas foram denunciadas por médicos, que quebram o sigilo e

informam a polícia quando elas dão entrada no hospital. O quarto e quinto infográficos trazem

artigos do Código Penal e da Constituição Federal procurando sintetizar a legislação em vigência no

país.

O segundo texto assinado por Ana Claudia Araújo, fala sobre a campanha “Oktoberfest Sem

Machismo”, e problematiza a banalização do assédio na festa, como a ocorrência de cantadas

grosseiras, passadas de mão e estupros, por meio de lambe-lambes construídos coletivamente com

desenhos e frases das participantes colados pelas ruas, além de uma fanpage no Facebook, que

conta com informações sobre estupro, publicidade machista, entre outros assuntos. As duas fontes

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ouvidas são mulheres: uma organizadora da campanha, e uma vítima que relata já ter sofrido

assédio durante a festa. Das quatro fotos que ilustram o texto, três são dos lambes colados pela

cidade, com frases como “Silêncio não é consentimento”, “Deixa as mina em paz” e “O

comprimento da minha saia não é um cumprimento a você. Respeite!”.

AzMina

As duas reportagens analisadas apresentam perspectiva de gênero: “Cor, gênero e pobreza: o

que torna as quilombolas mais vulneráveis ao estupro?”; e “Conheça os deputados que querem

acabar com o direito ao aborto”. A primeira tem sete entrevistas: duas masculinas, que atuam como

especialistas para compreender a questão social; e cinco femininas, que se dividem entre

especialistas e testemunhas oculares, relatando casos de violência e dificuldades vividas pelas

vítimas de abuso nas comunidades quilombolas. O conteúdo expõe retratos da vida cotidiana de

mulheres e homens quilombolas, contudo tem o cuidado de não identificar mulheres e crianças -

enquadram apenas os pés, ou mostram pessoas de costas. Nenhuma foto possui legenda.

O segundo texto é parte de uma investigação patrocinada pelo Programa de Bolsas de

Reportagem da Revista AzMina. A reportagem mostra como o poder Legislativo brasileiro vem

trabalhando para impor perdas ao direito do aborto legal. São três entrevistas de especialistas: duas

femininas e uma masculina. Uma delas é porta-voz do serviço de aborto legal, e as outras duas

problematizam, a partir da perspectiva jurídica, os Projetos de Lei propostos por deputados. O

conteúdo traz dois infográficos – um explicando o que é o aborto legal e, o outro, o que diz a lei

sobre aborto em casos de estupro. Há ainda um vídeo com a fala de uma psicóloga sobre como

funciona (ou deveria funcionar) o aborto legal no Brasil.

Considerações finais

A classificação dos sites analisados apontou que eles trazem em seu escopo tanto em relação

à linha editorial quanto equipe executora perspectivas de gênero e empoderamento feminino.

Alguns se caracterizam como veículos para nichos e nesse sentido de fato contemplam o gênero

como categoria de análise, pois reconhecem determinados grupos de mulheres como mães,

adolescentes, lésbicas, mulheres cientistas entre outras. Embora o uso da imprensa como veículo

para expressar as demandas das mulheres e como espaço de luta pelos seus direitos e cobranças de

políticas públicas não seja algo da atualidade, sem dúvida os sites jornalísticos autodenominados

independentes vêm se despontando como um novo espaço de expressão.

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Outro destaque é que a as equipes são compostas basicamente por mulheres, talvez as

desigualdades impostas no mercado de trabalho das redações com menciona Pontes (2017), as

fazem migrar para essas novas iniciativas. Sem dúvida isso merece ser conferido em pesquisas

futuras. A discussão sinaliza também para a jovialidade das iniciativas, nenhuma informa ter mais

de quatro anos, o que pode justificar a precaridade na estabilidade financeira e na auto gestão,

caracterizada pela dependência de doações, leilões ou eventos beneficentes. Aqui também instiga

uma novo estudo, para a aferir se os sites com mais tempo apresentam melhores condições de

governança financeira ou não.

Os dois sites analisados apresentam em seu escopo tanto em relação à linha editorial quanto

equipe executora perspectivas de gênero e empoderamento de gênero, em especial feminino. Eles

possuem um modelo de gestão distinto da mídia hegmônica, contudo ainda não se consolidaram

financeiramente, semelhante a outros também apresentados no Mapa da Agência Pública. As

propostas espelham as pautas com enfoque em gênero confrontando valores heteronormativos e

ausência de políticas públicas. O empoderamento feminino também é visível na escolha das fontes.

As mulheres não aparecem apenas como vítimas, mas também como especialistas. É notória ainda a

pluralidade de vozes femininas.

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http://apublica.org/mapa-do-jornalismo/index.html#envolverde

Independent journalism and the empowerment of gender discourse in digital media

Abstract: The purpose of this article is to discuss the empowerment of gender discourse by

independent journalism embodied in digital media. The transformations in journalism driven by

technology and digital media especially in the 21st century reverberated in online journalism,

structured in new models of management, directed to specific niches. In this context, we highlight

sites with editorial lines demarcated by gender, as well as representations of gender and counter-

hegemonic narratives, usually not explored by conventional media. A collaborative research carried

out by the Agency for Reportage, and Investigative Public Journalism indicates the opening of 200

independent journalism sites in Brazil, with sharp growth in the last three years. Of these, at least

8% mentions gender perspective directly in their scope. With this, there are more sites mentioned in

the mapping that approach guidelines with a focus oriented to gender, however, it is not

discriminated in the editorial line. The theoretical discussion involves gender studies, online

journalism and new management models in journalism. The corpus includes the websites Catarinas

and AzMina. Three contents were selected by each of them in the second semester of 2016. The

methodology involves content analysis based on the classification of categories established by the

Global Media Monitoring Project.


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