Coordenação editorial Bruna Piantino
assemblages Rita Brás
Coordenação gráfiCa Raquel Piantino
Capa e projeto gráfiCo Rafael Maia
preparação de texto Letícia Féres
revisão tipográfiCa Rebeca Bolite
assessoria de planejamento Xsete
biblioteCária responsável Maria Lucia Donnard Santos
Piantino, Bruna.
O siri e a sombrinha. Belo Horizonte,
Edição do Autor, 2011.
108p. 13 ilust.
Rita Campos Brás, ilustradora
ISBN – 978-85907-429-1-3
1.Literatura infantil-juvenil-bras. I. Título. II. Brás, Rita Campos, Ilust.
CDU-82-93(81)
© 2011, Bruna Piantino
brunapiantino.com Printed in Brazil
Bruna Piantino
segunda
prólogo
sexta {in the past}
sábado
terça
quarta
sexta {in the future}
quinta
domingo
nota de encerramento
sobre os nomes citados neste livro
Na minha lembrança, eu tinha entre seis e sete anos de idade e
costumava viajar nas férias para visitar a família. A primeira coisa que
fazia ao chegar à casa de minha avó em Passos, no sul de Minas, era,
na calada, sair à procura de minha prima Bertha. Eu andava a passos
curtos, pois a ansiedade alimentava a minha alegria. Percorria, então, os
cheiros daquela casa, as portas brancas de folhas duplas, a sala de leitura
onde costumava ficar o meu avô, os quadros nas paredes, a chapeleira
no corredor, a banheira no canto do banheiro, as passagens secretas
da minha imaginação e os ladrilhos alvinegros que eu tanto adorava.
Depois, de forma receosa, descia pelas escadas largas e misteriosas,
que me levavam a um anexo nos fundos da casa. Lá havia uma
segunda cozinha onde eram preparadas as saladas de frutas e onde se
armazenavam os engradados de refrigerantes, além de um pequeno
banheiro com um candeeiro pendente, a sala com uma mesa pequena
ao centro para se jogar baralho, um quarto de passar roupas e um
barracão de chão batido para guardar ferramentas e sacas de milho.
Mais adiante, se via um tanque de pedra, cujo desgaste anunciava
sua antiguidade, alguns pés de figo, limão, caju e carambola, um
galinheiro com poucas galinhas, um cão pastor-alemão e um
enorme pátio para se brincar de pique-pega.
E, como em um passe de mágica, quando eu me virava
repentinamente, encontrava-a de pé com uma lousa, uma caixa
de gizes brancos e coloridos e uma vareta na mão, com a qual
afirmava sua autoridade. Mal nos abraçávamos já me instalava na
única cadeira que ficava de frente para a professora, porque nós
levávamos as coisas a sério. Com ela, aprendi a primeira divisão
de sílabas, a rezar a salve-rainha, a pular carnaval, a tomar água
com gás, a andar de mobilete, a deixar o cabelo comprido, a pegar
o dinheiro que minha avó nos dava para comprar um sorvete da
Kibon e trocar por dois para cada uma no sorveteiro português
vizinho. Juntas tomamos o meu primeiro cálice de vinho; brincamos
de malabarismos, de guerra de merda de vaca nos dias de chuva na
fazenda; minha prima assistiu à chegada do meu primeiro período;
ouviu a minha fraqueza quando chorava de saudade dos meus pais,
mesmo estando de férias. Aprendi a beijar imitando os filmes de
faroeste, a pedir ao meu avô que me comprasse uma saída de praia,
a roubar as latas de leite condensado que ficavam empilhadas no
armário, mas nunca consegui acompanhar à altura os seus passos
de dançarina, mesmo que assistisse orgulhosa às suas apresentações
de jazz, pois era, sem dúvida, a mais leve de todas as meninas.
Passaram-se dez, quinze, vinte e três anos, e foi no Guarujá, litoral
paulista, durante o carnaval, que ganhei de Bertha o último sorriso, sua
última lição. Na ocasião do meu trigésimo aniversário, não pude receber
o seu telefonema e talvez ainda não entenda como a vida, assim como
a morte, assemelha-se ao tempo que determina implacável a nevasca,
o sol a pino na praia e a bruta jornada. Posso acreditar que sempre
haverá um código verbal para se decifrar, uma natureza estranha para
se apropriar, uma ferida para se curar, a noite escura por amanhecer,
mas Bertha, de carne e osso, já não há. Ofereço-lhe esta história de amor
invulgar, pois a beleza do trágico é eterna. Sem as velhas comiserações
desnecessárias, resta-me a companhia infinita do mar, pois, afinal de
contas, era ela a água, e eu, apenas esponja.
13
Era uma vez uma sombrinha. Hermelinda era seu nome,
laranja a cor predominante de sua cobertura e médio o seu
tamanho, para pequeno. Na vida, dentre outras coisas, Hermelinda
se apaixonou por três guarda-chuvas, cuidou de três aranhinhas
e pertenceu a três mocinhas. Não eram essas coincidências que
a deixavam mais linda, e sim o seu modo discreto de desbravar
o mundo, com a doçura e a fragilidade de um marshmallow em
formato de filhote de cavalo-marinho.
Hermelinda era uma sombrinha de seda chinesa
impermeável, toda feita à mão, especialmente para sua primeira
dona, uma princesa sueca chamada Stéphanie Schwarp, como
um dos presentes de seu oitavo aniversário. Stéphanie gostava de
andar a cavalo todos os dias e levava a sombrinha para tomar sol
sexta
nos jardins de seu castelo às sextas-feiras, quando os pais recebiam
alguns convidados para reuniões extraoficiais.
De tanto ouvir as conversas de Stéphanie com seus ami-
gos reais, a sombrinha aprendeu a falar sueco, alemão, português,
francês, inglês, italiano, espanhol e russo. Linda, carinhosamente
apelidada pela princesa, seguia sua dona onde quer que ela esti-
vesse, sendo assim educada nos preceitos da boa mesa e iniciada
nas artes do piano, da esgrima e do canto gregoriano.
Stéphanie era uma menina ruiva, de cabelos encaraco-
lados, tinha traços finos e marcantes, os olhos azuis e os lábios
cor de pitanga. No entanto, os garotos não se aproximavam dela
com facilidade, e as garotas que simulavam serem suas amigas, ti-
nham, bem no fundo, uma ponta de inveja da riqueza e da beleza
da princesa, o que a deixava um tanto quanto insegura e voltada
para as fantasias que se multiplicavam dentro dela.
Certa vez, os Schwarp fizeram uma viagem à Índia, e quando
a princesa se deu conta de que havia esquecido a sombrinha em
casa, seus pais não permitiram que ela voltasse para buscá-la, pois
já estavam prontos para tomar o trem que os levaria de Estocolmo
a Mumbai. Stéphanie ficou trinta dias visitando as fazendas de
arroz e os campos de petróleo que pertenciam a seu pai. Quando
voltaram à Suécia, Linda simplesmente não estava mais no quarto
de Stéphanie.
A princesa procurou a sombrinha por todos os cômodos
possíveis e até pelos impossíveis, perguntou aos empregados se
alguém sabia do paradeiro da sombrinha, mas ninguém sabia
explicar o que acontecera. Hermelinda era tão invisível como uma
joaninha anã sobre uma toalha vermelha. Os Schwarp colocaram
cartazes por toda a cidade, oferecendo recompensas a quem a
encontrasse, mas, após meses de tentativas inválidas, sequer uma
pista foi enviada à família.
Veredicto: uma das pseudoamigas de Stéphanie, Catarina,
foi até o castelo, aproveitando-se da ausência dos Schwarp, em
viagem pela Índia, e pediu à governanta para subir até o quarto da
princesa, pois havia deixado por lá o seu jogo de amarelinha.
Com Catarina, Linda nunca teve uma relação intensa, pois
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não achava justo ter sido tirada de Stéphanie daquela maneira.
Mesmo sabendo que Catarina tinha algumas poucas qualidades,
Linda jamais se entregou a ela e fugiu logo no sexto mês, quando
um carteiro entrou para tomar café, a convite da mãe de Catarina, e
Linda se instalou em sua bolsa de couro desgastado.
Foi abrir os olhos novamente apenas na Central dos
Correios. Ali, Linda morou por duas semanas, onde fez amizade
com vários insetos que se alojavam entre as cartas, caixas e
envelopes que se acumulavam para serem enviados. A sombrinha
ajudava no dia a dia dos carteiros, fazendo o café, fervendo o leite,
comprando cola, tinta para carimbo, fitas adesivas e separando os
selos por preço.
Gaia, uma mulher muito bonita que costumava frequentar
a agência, apareceu para postar um telegrama para sua afilhada,
Sophia, dizendo que iria passar as próximas férias com ela no Brasil.
Viu Linda sobre o balcão, coberta de pó de carimbo, e pegou-a
prontamente, pensando que fosse a sombrinha azul-violeta que
havia esquecido nos correios no dia anterior.
Ano 2008. Gaia chegou a Salvador num voo charter e foi recepcio-
nada por Sophia e mais oito mocinhos que a acompanhavam: Juan,
Rana, Tina, Khalis, Pollyanna, Victoria, Miro e Latio. Formavam
uma turma de dez seres humanos divertidos e, para surpresa dos
que nunca tinham visto, uma exemplar rara da espécie Umbrelinus
spatificus. Logo na chegada do aeroporto, Linda conheceu, por aca-
so, uma grande e valiosa amiga, a inesquecível Mata Atlântica. As
duas, que já falavam em ser vizinhas, sentiram-se tão ligadas que
contariam todo o tempo que passassem separadas. Os que estavam
ao lado ouviam num tom um pouco irritante todo o blá-blá-blá, pa-
ra-rá e ki-ki-ki proferidos. E depois das perguntas e respostas ini-
ciais, e um quê de sem graceza, visto que ambas eram tímidas, a
sombrinha notou em sua nova amiga uma tristeza profunda.
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sábado Mata Atlântica era uma planta diferente, no lugar de raízes,
possuía patins que deslizavam por superfícies quentes ou geladas,
o que a colocava em situação de vantagem de velocidade e adapta-
ção perante os demais mortais. Mas, habilidades à parte, o motivo de
sua tristeza era que sua família estava se extinguindo rapidamente.
Como temia não restar resquícios de sua passagem pelo mundo, Mata
Atlântica resolveu escrever um livro de memórias. Segundo a teoria
dela, todos que nascem têm uma árvore que vem por trás e uma ou-
tra que vem pela frente, pendurando nos galhos os nossos parentes.
No caso da Mata, a árvore que a precedia carregava um milhão de
outras árvores, mas ela tinha medo que não houvesse mais ninguém
para sucedê-la e, por isso, ela estava escrevendo um livro. Ao fim da
conversa, ainda acrescentou: “Gostaria de ter nascido mangueira”.
Nessa hora, a aeromoça efetuou o chamado: “Atenção pas-
sageiros do voo Paradise Airlines 3344, com destino à Baía de Cama-
mu, favor dirigirem-se ao portão sete, embarque imediato, portão
sete!”. A sombrinha desculpou-se, pois estavam à espera dela para
embarcar, mas escreveu às pressas num guardanapo o endereço
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de Sophia, para trocarem correspondências. Mata Atlântica prometeu
que lhe faria uma visita logo que terminassem as entrevistas com os úl-
timos parentes vivos de sua linhagem e sumiu no enorme corredor da
ala B do Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães.
Ao que o avião decolou, permaneceu no ar por cinquenta
minutos a onze mil metros de altitude, aterrissou, e Linda pisou no-
vamente em terra firme. As coisas se apresentavam com certa magia
inexplicável, era natureza por toda parte, árvores que não acabavam
mais, praias extensas, calor de miragem, imagens de santos, colares
de contas, bandeiras coloridas, plantações de cacau, cana, sisal, man-
dioca, mamona, eucaliptos, tudo muito calmo, muito tranquilo, pare-
cia que existia uma expansão do tempo. Na Baía, quando chegava a
tarde ou amanhecia o dia, o povo era todo de dar boa-tarde!, bom-dia!.
Eram pessoas muito educadas e atenciosas, e, para Linda, isso era
estupendo, magnífico!
Tomaram uma lancha rápida com destino ao inesperado. Na-
vegavam em uma baía de águas mansas e intermináveis, que iniciava
mais estreita e se alargava ao encontro do continente. Era um imen-
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so deleite para os pequenos passageiros. No trajeto, o vento batia no
rosto de cada um, e todos exprimiam o sentimento de liberdade com
um grito ou um silêncio próprio. Gaia orientou-os para que se segu-
rassem bem forte para que não caíssem da lancha, no que eles obede-
ceram piamente, apesar de continuaram gritando, até que o barulho
do motor desaparecesse por completo. Atracaram num local ainda
mais belo do que o da partida, onde desceram rapidamente com suas
mochilas pesadas e coloridas nas costas.
Toda a turma foi recebida com um forte abraço, seguido pe-
las boas-vindas, de Naura Luiza, a simpática dona da pousada Sol do
Mutá. Foram logo direcionados aos três quartos que tinham sido
reservados, cada qual com uma porta branca, que dava para um
corredor estreito, que levava ao banheiro. Ficaram assim distribuí-
dos: Gaia, com sua privacidade no quarto Pôr do Sol; as meninas no
quarto Bromélia, o maior de todos; e os meninos no quarto Abacate.
Como o banheiro era comum, Gaia tratou de fazer a escala de banhos,
porque após a euforia da acomodação notara que já era noite feita de
estrelas, e todos se preparavam para a festa de réveillon.
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Colocaram suas roupas brancas e os anéis sinalizadores que
Gaia levara para que ninguém sumisse na escuridão. Os anéis pis-
cavam cada um de uma cor, feito lanternas especiais de uma liga de
super-heróis, e todos se descobriam ao longe. Os anéis sinalizadores
tinham cara de sorriso, mas quando acesos não dava para enxergar
esse detalhe. Nas fotografias, eles apareciam mais do que qualquer ou-
tra coisa, mostrando o movimento da luz que se arrastava pela noite.
A areia estava úmida e macia, todos brincavam com os pés,
mexendo as partículas de um lado para o outro. Os fogos estouravam
no céu, vermelhos, azuis, amarelos, verdes, barulhentos, ocos e bri-
lhantes; havia festa por toda parte. Cearam frutas, pães, castanhas,
leitoa à pururuca, e de sobremesa havia charlotte marta, mousse de
limão e bombom de uva. Na virada do ano, pularam de mãos dadas
as sete ondinhas e se recolheram para continuar a conversa nos seus
respectivos quartos. Como estavam cansados da festa e da viagem,
naquela noite todos dormiram rápido, exceto Gaia, que teve a com-
panhia de Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres até a alvorada.
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Gaia, Linda, Sophia e os outros amigos tomaram um café da ma-
nhã reforçado e caminharam juntos pela praia no primeiro dia do
ano, cada qual ao seu ritmo. Em uma das viradas da orla, na Praia
da Bombaça, conheceram o siri mais forte e interessante de toda a
redondeza. Linda se ruborizou, enquanto o siri a olhava e se apre-
sentava, dizendo com sua bela voz: Olá, todos aqui me conhecem por
Breno, e eu crio os atalhos subterrâneos que me levam da península
para as ilhas e das ilhas para a península, portanto não pensem duas
vezes antes de me pedir qualquer informação local. Aqui onde se en-
contram não tem tubarão nem ladrão nem confusão.
Papearam por mais alguns minutos, e Breno, com seu
charme cativante, convidou a turma para fazer um mergulho de
snorkel. Seguiram-no, então, em busca de equipamentos e caíram
domingo
no mar feito golfinhos. Linda ficou espantada com a variedade de
organismos e ecossistemas marinhos. Ela, a olhos nus, jamais ima-
ginara o quanto era rico e colorido o fundo do mar, então apelidou a
máscara de mergulho de óculos mágicos, pois transformava ime-
diatamente tudo o que se encontrava debaixo d’água. Ao descobrir
o uso da máscara, uma outra realidade, escondida pelo balanço das
ondas, se apresentava para a sombrinha.
Após duas horas e meia de mergulho, o estômago falou
mais alto, e saíram do mar famintos em busca de algo para comer.
Breno se despediu, dizendo que era hora de trabalhar, e entregou
para Linda, sem que ninguém visse, duas conchinhas negras. Gaia e
os meninos voltaram pelo mesmo caminho e pararam em uma ca-
bana no meio do nada para comer bobó de camarão na moranga e
tomar suco de cupuaçu. Já na pousada de Naura, estiraram-se nas
redes espalhadas pelos coqueiros, a fim de não fazer nada.
À noite quando se reencontraram inesperadamente, ape-
nas os dois, Breno começou a filosofar: “Linda, você consegue ver o
céu? Olhe! As nuvens são como os corais que vimos hoje, o céu é o
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mar, e as estrelas são os peixes, os polvos, as sereias, as conchas, as
algas, os tubarões, as baleias, as moreias, as águas-vivas, os ouriços,
os cavalos-marinhos e muito mais, cada constelação é um cardume
de peixes-morcego, de barracudas, tainhas, anthias, peixes-vidro, e
aquela estrela ali brilhante é você, está vendo?, no meio daquelas
três menores. Eu estou ao seu lado, logo ali à direita.” Eles se beijaram
naturalmente e se despediram logo em seguida.
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No outro dia, Linda acordou mais cedo que todos e pôs-se a cami-
nhar sozinha com os pés na areia, curtindo o silêncio das horas, ela
mordia os lábios, sentindo um frio na barriga, um receio relativo
a algo que não podia controlar, sentindo que ali naquele lugar ela
podia se entregar. Foi então que, ao se deparar com o voo de uma
garça-gaivota, observou aquele movimento por alguns minutos.
Ela era tão esguia, alva e elegante! Aquela garça não tinha o pesco-
ço virado como todas as outras, era diferente, parecia uma gaivota,
era uma garça privilegiada e voava com um desempenho invejá-
vel. Elas não se falaram, tampouco trocaram um olhar cruzado,
mas a presença de uma foi percebida pela outra, e a semelhança
segunda
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entre elas comunicou, sem palavras, um desejo mútuo de sorte,
confiança e descobrimentos vindouros.
A praia já começava a ser ocupada, e um pouco mais à
frente Linda viu um garoto sozinho, assentado, chorando, com os
braços entre os joelhos. Linda sentou-se ao seu lado, esperou ter-
minarem os soluços e então perguntou o nome dele. Chen Nian, res-
pondeu o garoto com os olhos semicerrados, e disparou a chorar
novamente. Linda começou a riscar o nome de Chen Nian na areia
e contou para ele que, quando ela era pequena, não era raro viajar
sozinha para visitar os familiares, e não se cansava de fazer uma
porção de coisas para preencher o dia. Costumava tomar leite tira-
do direto da vaca no sítio, gostava de fazer companhia para a avó
na cozinha, construía cadernos de recortes com a tia, passeava de
Fiat 147 e jogava ludo com o tio, brincava de espiã com a prima pe-
los aposentos da casa, espiava o avô cochilando sentado na sala de
leitura. Mas, depois que já haviam jantado, sua avó a deitava numa
cama limpa, cheirosa e confortável e lhe contava histórias já co-
nhecidas. Quando a avó saía, já cansada das obrigações da rotina,
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Linda confessou que chorava baixinho e se encolhia nos lençóis
de algodão, desejando que os pais surgissem na manhã seguinte.
Então ela acordava, percebia que os pais não chegariam, tomava
o seu café calada, apreciava os aromas matutinos e rumava para
as roseiras vermelhas, a fim de admirá-las.
Chen Nian, que permaneceu confiante no decorrer do re-
lato, falou sua terceira palavra: saudade. Esse era o significado do
seu nome e o motivo pelo qual ele chorava. O garoto contou à som-
brinha que havia exatamente um ano, tinha recebido a notícia de
que seu avô saíra para a grande partida. Ali na praia, Chen Nian
lembrava que seu avô, Chen Yat, era um homem muito respeitado
e querido. No dia de sua morte, houve um cortejo em sua homena-
gem, com mais de cem limusines que passavam na frente dos lo-
cais frequentados pelo avô, e paravam por um minuto em silêncio,
em cada lugar, sem se preocuparem com o tempo, atravessando a
cidade, ao desenhar um traçado da vida de Chen Yat. Essas e outras
imagens tomavam conta da lembrança do menino Nian, e, apesar
de ele conseguir se expressar apenas com lágrimas, a ausência do
avô criava dentro dele um buraco sem fim. E Linda pensou: Para
cada nome, um motivo.
Sophia apareceu do nada, ignorou Chen Nian e saiu puxan-
do Linda para comprar tornozeleiras de palha com miçangas. Na
feira, encontraram uns rapazes que faziam bichos e flores de palha,
então encomendaram, para presentear Gaia, uma tartaruga verde
gigante, que em alguns dias se tornaria bege, depois que a palha per-
desse a vida. Ganharam pela tartaruga um louva-a-deus, uma rosa,
três peixinhos, um beija-flor e uma arraia de palha. Compraram tam-
bém pequenas joias de prata e coco, feitas por uma hippie uruguaia
chamada Luna e por seu marido, que não disse o nome. Os dois vi-
viam havia alguns anos na vila, eram bastante jovens, tinham uma
filha pequena para cuidar e estavam à espera de um novo bebê. Eles
pareciam felizes e tristes ao mesmo tempo.
Saindo da feira, as duas aproveitaram e passaram na far-
mácia para comprar escova de dente e protetor solar Sundown 30
FPS, conforme indicação da farmacêutica, para proteger Sophia e
suas sardas, no auge de seus onze anos de idade. Enquanto Sophia
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enfrentava a fila, Linda lia o jornal em voz alta: Existe no Brasil a fe-
bre das sacolas plásticas, encontradas em todos os estabelecimentos
comerciais para serem distribuídas, sem economia, para qualquer pes-
soa que se interesse. Porém, as pessoas conscientes do tamanho do lixo
que vamos juntando a cada ato, aparentemente inofensivo, pedem para
que não sejam aceitas sacolas plásticas sem necessidade, pois o mate-
rial plástico leva mais de trezentos anos para se decompor na natureza.
Há relatos de biólogos que encontraram restos de sacolas plásticas nos
esôfagos de noventa e cinco por cento das crias de albatroz em algumas
ilhas do Pacífico.
E, apesar de Sophia ser uma menina curiosa e mimada
pela mãe, era, assim como a madrinha, muito inteligente e possuía
facilidade para aprender as coisas. Naquele mesmo dia, elas dis-
pensaram sacolinhas da farmácia, da padaria, da feira de artesa-
nato e da barraca de acarajé. No caminho de volta, caiu uma chuva
fina e Linda protegeu Sophia, que equilibrava tudo nas mãos: a tar-
taruga de palha, o louva-a-deus, a rosa, os peixinhos, o beija-flor, a
arraia, as tornozeleiras, as joias de prata e coco, o protetor solar, os
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chocolates, os caramelos, o jornal e a sombrinha.
Perto do píer, viram um barco de pesca e foram até lá falar
com os pescadores, que preparavam a rede para o outro dia. Co-
nheceram Gaetano e Ramiro, irmãos gêmeos famosos pelos maio-
res pescados da região, que se vangloriavam de fisgar as melhores
lagostas, atuns e polvos em alto-mar. Com eles, aprenderam sobre
as camboas, que funcionam como labirintos de rede, armadilhas
fixadas próximas da orla, onde as vítimas entram e não conse-
guem mais sair.
Depois, Ramiro e Gaetano colocaram Hermelinda e So-
phia dentro do barco, ensinaram a elas os sinais das embarcações,
alguns nós de marinheiro, como o borboleta e o lais de guia, fa-
laram sobre a influência das marés na pesca e dos perigos de se
perder no mar. Para incrementar a aventura, contaram ainda uma
história um pouco fantástica de quando, em meio a uma grande
tempestade, uma mulher-peixe pulou para dentro da embarca-
ção e cantou para que os dois a seguissem até as profundezas do
mar. Ela lhes mostrou um enorme baú cheio de joias, moedas e
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cálices de ouro e seduziu-os, fazendo-os crer que seriam felizes
ao lado dela. A mulher-peixe fez tudo muito sabiamente, mas,
ao verem o sol reluzindo no seu rabo cintilante, retomaram a
consciência num piscar de olhos e não conseguiram conceber
uma mulher que fosse companheira dos dois irmãos, e então
ela desapareceu.
Quando a chuva começou a engrossar, voltaram cor-
rendo para o Sol do Mutá. Na chegada, avistaram Gaia, que con-
versava com um senhor muito simpático. Colocaram as coisas
no quarto e, quando voltaram, ele não estava mais lá. Gaia re-
preendeu-as pela demora e avisou que todos já tinham comido,
pois cansaram de esperar pelas aventureiras.
Depois da sabatina, a madrinha contou a elas que o se-
nhor com quem conversava tratava-se, pasmem!, do Papai Noel.
Linda e Sophia ficaram muito ansiosas e dispararam mil per-
guntas para Gaia, que respondeu dizendo que ele é bem mais
moderno do que se pensa e, que, para disfarçar as crianças to-
las, ele tinha cinco identidades distintas.
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O Papai Noel podia se chamar Ivan e se passar por um
médico que trabalha em Edimburgo; ou Sergio, um escritor que
vive em uma bela casa na Sicilia; ser o sultão Adolpho de Ban-
gladesh; o físico finlandês Ricardo Rainstmatter; ou ainda Carlos
Eustáquio, arqueólogo cubano radicado na Cidade do México.
De todos os nomes, Linda preferia Sergio e, por algum motivo,
ele a fazia lembrar o tenor italiano Luciano Pavarotti, porém de
cabelos brancos e olhos azuis.
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terça
Na manhã seguinte, Sophia desceu para o café e viu Sergio em uma
das mesas, lendo o jornal por trás dos óculos de armação verde,
e disse em alto e bom som: Buon giorno, Babbo Natale!. Ish! Ela co-
locou a mão na boca, sem saber se poderia se referir a ele dessa,
maneira e saiu correndo. Sergio acalmou Sophia, falando que ali
todos sabiam quem ele era e que não precisava se esconder, pois
estava de férias transgressivas. Sophia não sabia o real significa-
do de transgressivo, mas ficou com vergonha de perguntar para o
Papai Noel e começou a imaginar mil coisas. Havia controvérsias
com relação ao sentido da palavra por ordem de influência do
próprio significado; era a palavra se autotransgredindo.
O Papai Noel, além do saco de presentes, tinha um saco
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de histórias, e de lá tirou uma das boas. Em sua primeira viagem
ao Brasil, disse que encontrou Antoine de Saint-Exupéry, o criador
de Le Petit Prince e da melhor dedicatória do mundo. Disse que, na
época em que Saint-Exupéry trabalhou como piloto dos correios,
trazendo e levando correspondências da Europa para a América
do Sul, ele costumava ficar hospedado por aquelas bandas, no Sítio
Ipê, em uma ilha bem próxima dali, chamada Campinho. Contou
que nessa época ele tinha uma namorada, que cuidava da casa du-
rante todo o ano e ficava esperando pelo escritor, sem saber o dia
certo em que chegaria. Essa mulher ainda hoje mora na ilha e con-
tinua esperando, sem saber que o francês não mais virá.
Enquanto Sophia ficava de papo com o Papai Noel, o siri
chegou de fininho e botou os dois olhos e todas as patas para ver o
que estava acontecendo. Aí, Sophia começou a rir, porque os olhos
de Breno ficavam muito úmidos e grandes, então ele os encolhia
para lavar as vistas e depois retornava com eles de novo, pareciam
olhos portáteis. Sergio chamou Breno para se juntar a eles e come-
çou a dar lições de cavalheirismo ao siri.
O Papai Noel tinha duas filhas, mas optou por viver sozi-
nho, sem uma Mamãe Noel fixa, porque nunca conseguiu se casar,
apesar de ter amado várias mulheres em toda a sua vida. Às vezes,
ele se sentia só, mas tratava de se ocupar rapidamente com uma de
suas profissões inventadas, com sua fábrica de brinquedos e com
suas viagens, para que os pensamentos negativos não contaminas-
sem o seu espírito desbravador.
Gaia chegou com Linda, e Sergio, com seus olhos azuis
galanteadores, começou a paquerá-la, propondo um passeio de
buggy até a Praia de Algodões. Antes de Gaia responder qualquer
coisa, Breno, Linda e Sophia pularam de suas cadeiras e começa-
ram a cantar a música-tema do filme Top Gun, que acordou toda a
turma. Em menos de quinze minutos, já estavam todos empolei-
rados no buggy, com Sergio e seus óculos escuros no comando. A
estrada de terra estava cheia de ondinhas e os meninos se agar-
ravam na barra do buggy, para que não voassem no mato. Foram
quarenta minutos de percurso, com direito a uma parada para to-
mar água de coco, ver bonés voadores, ouvir casos inacreditáveis
do motorista, presenciar uma perseguição policial, contemplar
tribos indígenas e plantas carnívoras.
Em Algodões, estenderam uma canga gigantesca na praia,
desceram com os girassóis que apanharam no caminho e pediram
ao rapaz que os atendia vinho rosé e suco de groselha, pois, assim,
pela cor semelhante, os pequenos simulavam que tomavam a bebi-
da dos adultos. Comeram bolinhos de camarão e queijo coalho e se
horizontalizaram, admirando o desfile de nuvens. Passados alguns
minutos, Latio e Miro foram jogar frescobol; Juan, Rana, Khalis e
Pollyanna começaram a construção de um castelo de areia; Victo-
ria, Tina e Sophia catavam conchas especiais e ficavam de olho nos
garotos bonitos que passavam por elas.
Sobraram Gaia e Papai Noel. Ele, de cara, elogiou o biquíni
verde com argolas e frutas douradas da bela Gaia, que devolveu o
elogio ao calção azul da cor do céu com estampa de espinhas de
peixe de Sergio. Ficaram sem se falar por meio minuto, e o tempo se
estendia, enquanto buscavam na mente um gesto que transmitisse
o sentimento que regia aquele momento, algo mágico. Sergio, com
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um largo sorriso, estendeu a mão a Gaia, convidando-a para um ba-
nho de mar, e os dois caminharam de mãos dadas, aproximando,
através do vento, os fios de cabelo de um e do outro.
Nadaram um pouco sozinhos a modalidade mais querida
pelo mar, o crawl. Mais tarde, quando o sol se punha, eles ficaram
boiando na água, ouvindo o som que ecoava deles mesmos, era um
barulho maior do que o dos ônibus e caminhões trafegando nas gran-
des cidades, maior do que o barulho das britadeiras, era um barulho
de poder, o barulho que cada um possui dentro do seu oco.
Eles apreenderam o som, driblaram o medo e acalmaram
suas existências. Finalmente, flutuavam com as atenções voltadas
um para o outro, Gaia gostou de se ver na pupila de Sergio, os olhos
dele eram azuis, eles se beijaram, iluminados pelos raios do sol e
pelos reflexos da lua. Gaia deu um forte abraço no Papai Noel e o
puxou de volta à areia.
Deram o toque de recolher, conferiram todos os perten-
ces, checaram a presença de um por um e se colocaram de volta
no buggy, ainda mais felizes do que antes. Foram à peixaria escolher
um pescado para assar no jantar. Sergio entrou na câmara frigo-
rífica e saiu com um atum azul de oito quilos, que foi limpo pelos
pescadores e embrulhado num papel pardo. Pararam no super-
mercado para comprar carvão, batatas, azeite, gelo e bebidas. Latio
e Miro desceram para ajudar Sergio no carregamento.
Os meninos aproveitaram a ocasião para comprar algu-
mas figurinhas do X-Men, pois um bom colecionador sabe o quanto
é inteligente adquiri-las em cidades diferentes, assim teriam mais
chances de conseguir figuras novas.
Com todos os ingredientes em mãos, chegaram à pousada,
conversaram com Naura e alguns hóspedes, e todos se reuniram para
preparar a brasa, o peixe, a mesa, as bebidas, as tochas que ilumina-
riam o jantar e o espírito para uma boa refeição. Existia um companhei-
rismo ainda maior naquele momento, todos se ajudavam, e, antes
mesmo que o outro pedisse algo, a coisa já estava lá em suas mãos.
Linda se lembrou de Chen Nian durante o jantar, lembrou dos fogos
do ano-novo e rezou para que sua vida fosse sempre cheia de pe-
quenas alegrias, como aquele momento agradável e inesquecível.
48 49
Breno deu boa-noite aos amigos, Sergio foi logo em segui-
da, Gaia propôs a Sophia que organizassem tudo, para não deixar
nenhum afazer para o pessoal da pousada no dia seguinte. Eles
lavaram os pratos, as taças e os talheres, separaram as latinhas de
alumínio, as garrafas de vidro, as de plástico, deram um pouco de
comida para Frida, a gata de Naura, colocaram tudo em ordem e
foram descansar.
No meio da noite, as meninas ouviram um barulho na jane-
la, logo depois um bilhete passou por debaixo da porta. Victoria se
levantou correndo, pegou o papel e leu em voz alta:
52 53
Linda Linda Linda
Meu coração por ti cintila
Qual feixe de luz n’água d’oceano
Eu com você fugiria
Numa nau nesta vida aflita
A cantar mesmo que à despedida
Um lugar para sempre te amar
Breno.
Após o bilhete, elas ficaram sem dormir a noite inteira, e Linda não
entendia como concretizar o amor dela por Breno. O seu coração
batia acelerado por alguns minutos e depois ficava mudo. Seria pe-
rigoso descobrir-se apaixonado? Seria mais fácil nunca se alimen-
tar da paixão de outras pessoas? Seria possível? Seria uma honra e
um privilégio de poucos? Todas, naquele momento, desejaram ter
um namorado ou alguém que lhes pudesse fazer companhia no ci-
nema, nas horas tristes, ao construir uma casa, pensar em adotar
um filho, passar alguns anos velejando pelo mundo, alguém que
saiba a hora que você gosta de acordar, a hora em que você não
consegue dormir, o seu chocolate preferido, aquele que sente o seu
cheiro a alguns quilômetros de distância, sai à porta para recebê-lo
adivinhando a hora da chegada, deixa-te um recado antes de um
exame importante, enfim, alguém para o que der e vier. E, quando
os raios de sol já tocavam o quarto, Linda finalmente adormeceu.
Nesta manhã, a filha de Naura Luiza, Maria, chorou alucinadamen-
te e acordou todos os hóspedes do Sol do Mutá. O café da manhã
foi tomado por todos ao mesmo tempo, e Maria continuou choran-
do até que seus pais a levaram de volta para casa, pois não havia
brinquedo que a fizesse calar. Maria era uma menina muito forte e
temperamental, e seu irmão mais novo, Pedro, apanhava dela pra-
ticamente todos os dias.
A avó de Maria, que tinha vindo da Itália para visitá-la, trouxe
roupas de inverno, jogos de raciocínio e alguns mimos para a neta pre-
dileta, porém, de nada adiantava todos os presentes, pois a pequena
gostava de se divertir na praia com suas enormes boias de jumbo e
de carro de corrida. Ela subvertia todos os comandos que lhe davam,
falava tudo em italiano e andava com os pares de sapatos trocados.
quarta
54 55
As crianças grandes da pousada e as pequenas somavam
dezesseis, os pais somavam oito, e as pessoas solteiras somavam
quatro, era, enfim, uma pousada picolina, com apenas dez suítes,
doze funcionários e um restaurante íntimo que atendia os clientes,
os visitantes e os convidados italianos. Camamu abrigou uma co-
lônia de italianos no passado, quando o local foi palco da Segunda
Guerra Mundial. Ali, treinavam os canhões da artilharia da Marinha,
que afundavam navios nazistas na costa brasileira.
Indicados por Naura, o mundo de Sophia foi conhecer o Bar
do Alemão. Para chegarem até lá, foi preciso andar três quilômetros
a pé dentro da mata, depois pegar uma pequena canoa, com direito
a iminência das viradas, e aí descer na ilha onde o Rio Piratangui e
um braço da Baía de Camamu se encontravam.
O Bar do Alemão estava instalado na antiga Fazenda do Ca-
pão, que começava por um marco de pedra no espigão da divisa de
Genaro Teodoro e ia em reta a outro marco cravado ao pé de uma
árvore de folhas miúdas, subindo pelo córrego acima, até onde exis-
te um marco cravado numa árvore de cabuí. Depois desce, desce à
56 57
direita, passando por uma árvore de pequi, em linha reta, até o co-
queiro na beira do barranco. Deste ponto à direita segue até um mar-
co de pedra cravado ao pé de uma árvore de açoita-cavalos, em reta
até outro marco cravado ao pé de uma árvore pau-manteiga, voltan-
do à esquerda, até o marco ao pé de uma árvore de aroeira, passan-
do por uma goiabeira e voltando ao espigão onde teve início.
Os visitantes ficavam deitados em esteiras sobre a grama,
apreciando o encontro daquelas águas, curtindo com tranquilidade o
local e descansando o corpo e a mente debaixo das árvores, em paz.
As horas se passavam, e a temperatura se amenizava gradualmente.
Quando uma enorme nuvem encobriu parte do sol, todo o céu ficou
vermelho, e o astro se deixou ser levado para trás de uma pequena
montanha de vegetação densa, e ali, em instantes, desapareceu.
Na volta da travessia do rio, via-se uma comitiva de siris na
praia, e Linda avistou Breno bem no meio deles, com um rastro de
sangue transparente-esverdeado na areia. Foi correndo para ver de
perto a imagem que parecia uma miragem ou um ritual de cura. De-
zoito siris acompanhavam Breno até o mar, dois que o carregavam,
mais o padre, o médico, alguns amigos e familiares, todos muito so-
lenes. No ar, sentia-se cheiro de incenso e enxofre. Breno estava des-
maiado, e seu abdômen, com um enorme rasgo que não parava de
sangrar. Quando o colocaram no mar, ele afundou como uma ânco-
ra, e os outros siris apenas observavam, com as barrigas deitadas na
areia e as pinças fechadas, parecia que meditavam. Enquanto Linda
corria para salvá-lo, bateu em uma árvore e percebeu que estava
tendo um terrível pesadelo, e que já estava tostada depois de tanta
exposição ao sol.
Linda convenceu todos a voltarem logo para a vila, para as-
sistirem a Dr. No, o primeiro filme da série do agente secreto 007,
no Café do Mar. O filme contava a história de James Bond, um agen-
te secreto enviado para a Jamaica, com a missão de impedir que o
misterioso Dr. No dominasse o mundo. As cenas na Jamaica lembra-
vam, em termos de beleza, a praia onde eles estavam.
O uso de armas no filme era próximo ao de uma história em
quadrinhos, em que os assassinatos não são tão cruéis como deve-
riam. Os filmes de ação têm sempre mocinhos e vilões em situações
60 61
de confronto, e, para que cada um alcance seu objetivo, é preciso
derrubar obstáculos, mesmo que, para isso, algumas vidas sejam
destruídas. É como se fossem os dois lados de uma mesma história
ou dois polos que se atraem, duas forças opostas que se equilibram,
se redescobrem.
Findada a sessão, os olhos de Linda, Sophia, Latio, Miro,
Pollyana e companhia estavam encantados com o Mar do Caribe,
e os pequenos se inspiraram nas imagens para que tivessem, assim
como as personagens, momentos gloriosos em suas vidas. Surgiu
uma discussão a respeito de profissões e, então, Sophia disse que
gostaria ser atriz; Juan seria trapezista; Rana, cientista; Tina, profes-
sora; Khalis, massagista; Pollyanna, médica; Victoria, economista;
Miro, político; e Latio, polícia. Linda teve um aperto no coração, pois
não sabia o que queria ser na vida, e começou a chorar internamen-
te, até que uma lágrima oculta lhe escorresse pela face.
Linda tinha a personalidade forte, mas era frágil feito porcela-
na e tinha um senso de humanidade tão apurado que não conseguia
ficar parada diante de algumas situações. Até mesmo disfarçar-se de
batina, para entrar no Vaticano e ajudar uma túnica carola a conhe-
cer o Papa Bento XVI Linda já fez. Ela é uma sombrinha que planta
coragem nas pessoas, mas, no que diz respeito à sua própria vida, é
levada conforme a maré manda, e ela se dá tão bem com as ondas,
que até se esquece que não foi ela quem escolheu estar ali.
Apesar de não parecer, Linda se sentia só e, às vezes, até fin-
gia estar feliz, para não atrapalhar a felicidade de ninguém. Caso se
casasse com Breno, não poderiam ter filhos juntos, visto que a cons-
tituição do corpo dos dois não permitia a fecundação. E tinha outro
detalhe importante, Sophia era a atual dona de Linda, e somente
com seu consentimento a sombrinha poderia se casar, o que, prova-
velmente, não seria um entrave.
Ainda assim, Linda foi ficando cada vez mais triste, e deseja-
va que aqueles pensamentos fossem embora, mesmo sabendo que
de tudo aquilo dependia a sua máxima felicidade. Linda gostava da
vida ao lado de Sophia, porém pela primeira vez desejou ter uma
família. As pessoas conversavam ao seu redor e Linda só conseguia
ouvir as suas batidas cardíacas percorrendo-lhe as têmporas.
64
O tempo de vida das sombrinhas é diferente do dos huma-
nos, pois uma sombrinha vive em média vinte anos. Linda estava
com oito anos, o que, na escala humana, corresponderia a trinta e
dois anos e, na escala dos siris, ela teria dezoito anos. Linda era uma
sombrinha adulta, seus amigos davam para contar na palma da mão,
e o fato de conviver com pessoas de pouca idade propiciava a ela ati-
tudes infantis. Graças a essa viagem, a sombrinha descobriu que o
mundo em que vivia parecia protegido e ilusório.
Linda dormiu um sono intranquilo, acordou várias vezes no
meio da noite, com medo do escuro, do futuro e de se tornar uma som-
brinha velha e infeliz. Toda a beleza que ela tinha visto no filme cativa-
va seu espírito para que ela pudesse fazer alguma diferença no mundo,
para que ela não passasse toda a sua vida despercebida. Linda não ti-
nha família consanguínea, portanto toda a história que ela tinha conta-
do para Chen Nian era mentira. Na maior parte do tempo, a sombrinha
tinha um comportamento exemplar, com disposição e coragem para
muitas coisas, mas, ao se ver num beco sem saída, a sombrinha ficou
cega e, de uma hora para a outra, entrou em depressão profunda.
65
As ondas vieram acordar Gaia pela manhã e, por coincidência, as
mesmas ondas acordaram Sophia, que foi correndo descalça até o
quarto da madrinha. Gaia abriu seu notebook e acessou a internet,
para pesquisar sobre o nome Hermelinda. Etimologicamente, nome
de origem germânica, formado pela junção de ermin, “grande, po-
tente” e linta, “escudo”. Quando são postas à prova ou passam por
transformações existenciais, as pessoas com este nome perdem ra-
pidez e ganham inteligência e sensibilidade. Suas melhores carac-
terísticas são as boas maneiras, a diplomacia, a delicadeza no trato
e a originalidade.
Pode não parecer, mas os nomes próprios têm grande in-
fluência na vida das pessoas, disse Gaia. Se Hermelinda significava
quinta
escudo para a potência, isso queria dizer que havia uma grande po-
tência escondida no meio dos problemas que se tornaram maiores
que tudo para ela naquele momento. Os motivos que Linda escolhia
para os seus sentimentos eram tão íntimos e difusos que só pode-
riam ser atingidos por alguém que a conhecesse realmente a fundo.
Gaia propôs a Sophia um plano para tirar Linda do reco-
lhimento em seu mundo interior e livrá-la da melancolia que a
abatia. O primeiro passo seria explicar a Breno o que estava acon-
tecendo e dizer a ele que Hermelinda, assim como todos os ou-
tros, partirá na lancha da meia-noite. Nisso, Sophia arregalou os
olhos e perguntou: Mas, mas, mas... madrinha, hoje? A menina, per-
dida nas folhas do calendário, não acreditava na breve partida, e a
madrinha, adepta a surpresas, também não fez questão de avisá-
la com antecedência, mas preocupava-se principalmente com o
estado de saúde de Hermelinda.
E Gaia explicava a Sophia: É preciso ter certeza de que
você é uma pessoa importante e cheia de vida, daquelas que as
pessoas conhecidas e até as desconhecidas olham com orgulho,
67
pelo vigor de sua personalidade. Num lugar como Camamu não
se prepara para o dia da partida, parte-se o coração com tudo,
mesmo que partido.
Linda, por sua vez, amargava suas dúvidas e constrangi-
mentos, mas, num ato de coragem, resolveu dar a volta por cima.
Desde que conheceu o siri, ela começou a ter vertigens, dor de
cabeça, ânsia de vômito, labirintite, tudo porque tinha medo de
perdê-lo e, ao mesmo tempo, medo de não caber mais em si de
tanta felicidade.
Enquanto isso, Gaia, que executava um plano-relâmpago,
deixou um recado para Latio, o mais velho dentre os pequenos, para
que cuidasse de todos e, especialmente de Linda, pois ela e Sophia
teriam que sair por algumas horas, mas não tardariam. Foram até o
píer, onde Breno costumava ajudar a lavar os barcos que voltavam
da pesca e não ouviram a voz do siri. Sophia perguntou a Gaetano, o
irmão gêmeo de Ramiro, se ele sabia de algo, mas Gaetano disse que
Breno não tinha aparecido naquele dia.
Depois, continuaram andando pela orla, em direção a
Taipus de Fora, a praia preferida de Breno, que formava piscinas
naturais perfeitas para as práticas de mergulho. Avistaram várias
centenas de máscaras transparentes, pés de pato e roupas colo-
ridas, mas nem sombra do siri. Pegaram um binóculo no Bar do
Gaúcho, para ver se enxergavam o siri em alto-mar, mas só havia
duas jangadas amarelas. Devolveram o binóculo e compraram
um Cornetto para cada uma.
Subiram em uma das jardineiras que levavam ao centro da
vila e desceram na rua das flores, passaram pelas hortênsias, orquí-
deas e hibiscos, foram até a igreja, deram a volta na praça, voltaram
pela rua da feira, passaram pela mercearia, pela padaria e pela far-
mácia, chegaram a ir ao ateliê de Micky Julian Cola, e nada.
Cumprimentaram o dono da loja que alugava bicicletas, pe-
diram duas com cesta, farol e buzina e pilotaram até Cassange. De-
ram com uma lagoa negra de pura lanolina, com um casal de italia-
nos se banhando e com três velas que inflavam com o vento. Colo-
caram as bicicletas em uma balsa, passaram na Barra do Serinhaém,
depois Pratigi, fizeram uma pequena busca submarina, mostraram
68 69
72 73
uma foto de Breno para os comerciantes locais, e não obtiveram
nenhuma pista. Camamu, de uma hora para a outra, triplicou de ta-
manho, e, após cinco horas e cinquenta e cinco minutos tentando
encontrar Breno em cada fresta e em cada esquina, voltaram para a
pousada, arrasadas.
No Sol do Mutá, para surpresa da dupla de detetives de
meia-tigela, acontecia uma festa em comemoração ao dia de São
Simeão Estilita e, em homenagem ao santo das penitências espan-
tosas, foram colocadas vinte e oito colunas com vinte e oito metros
de altura cada.
No topo de uma das colunas, estava Linda tremendo feito
furadeira, enquanto Breno escalava uma das paredes laterais pela
metade. O siri tinha facilidade para se locomover rapidamente em
todas as direções, e, antes que Gaia e Sophia chegassem a Latio, para
uma breve explanação sobre o período que estiveram fora, Breno
chegara ao topo, ostentando um microestojo de veludo. O público
aplaudia muito, e o siri encolhia e voltava com os olhos de quinze
em quinze segundos.
Enquanto Gaia e Sophia corriam para resolver a felicidade
de Hermelinda, Breno foi até Campinho pegar as alianças encomen-
dadas com a ex-namorada do escritor Saint-Exupéry, que desde
cedo dominava a arte da ourivesaria.
O set de músicas selecionadas para a festa de São Simeão
foi interrompido temporariamente pelo som das doze badaladas
vindas dos sinos seculares da igreja, forjados em bronze na cidade
de Caetanópolis do Sul. Todos os moradores sabiam o que significa-
vam aquelas badaladas, já os visitantes não tinham a menor ideia.
Logo na última badalada, Sergio apareceu, com uma roupa branca
que se arrastava na areia, seguido por dois coroinhas, que levavam,
cada um deles, dois cálices de vinho na mão.
Uma siri-vermelha, com sua veste longa e preta, apresenta-
va, de cima de uma das principais colunas, um canto próximo a “Ha-
banera”, a famosa ária da ópera Carmen de Bizet, acompanhada por
uma pequena orquestra composta de um piano, dois violoncelos,
três violinos, um contrabaixo, uma harpa, uma trompa, um tímpa-
no, um oboé, duas flautas, um clarinete, um fagote, dois pandeiros,
um triângulo, um par de pratos, duas dançarinas com castanholas,
e, por último, um coro de outras siris-vermelhas.
A voz sublime da mezzo-soprano introduzia:
Quand je vous aimerai?
Ma foi, je ne sais pas,
Peut-être jamais, peut-être demain.
Mais pas aujourd’hui, c’est certain.
Param-pam-pam...
... param-pam-pam
... param-pam-pam!
Tudo meticulosamente preparado por Breno, em conchavo
com o Papai Noel, para pedir a mão da sombrinha em casamento.
Linda estava tão eufórica, que começou a soluçar de nervosismo e,
por sorte, foi abafada pela orquestra que executava majestosamen-
te cada passagem.
Findada a “Habanera”, Sergio convocou os padrinhos para
se posicionarem: do lado direito, Gaia e Gaetano, Khalis e Tina, Miro e
Pollyanna; e do lado esquerdo, Sophia e Latio, Victoria e Ramiro, Juan
e Rana. Breno desceu a coluna com Linda em seus braços e a colocou
em pé no tapete vermelho, entre as duas fileiras de padrinhos.
Nesta hora de extrema emoção, a orquestra tocava “Glory
Box”, de Portishead, e os convidados se sentiram tão à vontade que
começaram a cantar e a dançar junto com o coro. Linda caminhava
em passos lentos e decididos, alcançando a outra extremidade do
tapete, onde Breno estava à sua espera.
Exatamente ao fim da canção, Sergio fez um sinal para a or-
questra e se dirigiu a todos os presentes, agradecendo o testemunho
que dariam da união entre os queridos Breno e Hermelinda. Discursou
79
por alguns minutos, dando como referência exemplos de amor para a
humanidade, e finalizou mostrando que a felicidade conjunta do casal
depende do dom do amor desenvolvido a cada dia, dom que mantém
a ligação de um indivíduo com o outro e com a força criadora, que pode
se encontrar dentro e fora de nós, e é capaz de transformar o impossí-
vel em realidade.
Os dois se beijaram e saíram correndo pelo tapete, receben-
do os parabéns, os grãos de arroz e as serpentinas. A lua, no esplendor
de sua cor laranja, acabava de surgir, abençoando e dando força à ceri-
mônia. Uma siri-vermelha, com todo o seu charme, improvisava um:
Toda vez que o amor disser
Vem comigo
Vai sem medo
De se arrepender
Você deve acreditar
No que eu digo
Pode ir fundo
Isso é que é viver
E uma milagrosa chuva de prata caía sobre todos, com exce-
ção dos instrumentistas que tocavam sob tendas.
À meia-noite em ponto, o céu estava tomado de Farinha
Láctea, a lancha cruzava o mar a toda, indo contra as ondas que se
quebravam em sua proa, e a silhueta dos amigos do siri e da sombri-
nha foram ficando cada vez mais distantes.
80 81
Linda e Breno não tiveram filhos, tampouco tentaram a adoção. A
paixão que existia entre os dois fez com que pudessem seguir uma
vida plena de desejo e sonho, com toda a sorte de um casal 20, sim-
plesmente pelo fato de se bastarem. Não eram daqueles amantes
alienados, nem foras da lei suicidas, mas seres curiosos, sensíveis
e encantadores, que esnobavam os contratempos diários e dizima-
vam a má energia vinda dos olhares preconceituosos e taxativos das
pessoas da vila, condição mais do que necessária para continuar vi-
vendo. Em sete anos de casamento, receberam vários amigos queri-
dos, entre eles, Sophia, Gaia, Sergio e a saudosa Mata Atlântica, que
já portava a prova gráfica de seu importante livro genealógico com
quinhentas e trinta e quatro páginas assinadas pelo seu nome artís-
tico: Mata A.
Logo após sua mudança para Camamu, Linda começou a
se dedicar ao reflorestamento, e ela foi responsável pela plantação
anual de milhares de árvores e pela coordenação de uma equipe de
trinta e oito pessoas que a ajudavam a desenvolver técnicas de clo-
nagem aliadas ao clima favorável do sul da Bahia. Tudo o que sabia
sobre o assunto tinha sido aprendido em livros especializados em
botânica e em conversas com um ou outro biotecnólogo estrangei-
ro interessado nas terras férteis da Bahia. Além de sua grande de-
dicação às árvores, ela adquirira o hábito de se banhar no mar dia-
riamente após o cansaço do trabalho, exceto nos dias em que as
chuvas frequentes do outono e do inverno deixavam o oceano
revolto e perigoso. Hermelinda tornou-se uma mulher, construiu
o que chamamos de lar e se impressionou com cada ato heroico
inflamado próximo a ela.
No dia 13 de março de 2015, enquanto Breno e Linda saíam
de casa para fazer um longo e ensolarado passeio de lancha, um car-
gueiro saído de Vitória navegava ao norte do Arquipélago de Abro-
lhos, por volta da cidade de Santa Cruz de Cabrália, com ventos de
{in the future}sexta
84 85
leste entre oito e quinze nós, dirigindo-se para o porto de Salvador,
onde descarregaria vários contêineres com blocos brutos dos mais
belos mármores e granitos extraídos de Cachoeiro do Itapemirim.
Exatamente às quinze horas, a rota incomum desempe-
nhada pelo cargueiro devido à falta de combustível e a luminosi-
dade do sol, que cegava os olhos de Breno, foram os motivos apa-
rentes do choque ocorrido entre as duas embarcações. Breno e
Linda foram imediatamente arremessados da lancha. Ele foi dire-
to para o fundo do mar, e ela, totalmente esmaecida, após quatro
horas boiando sobre um toco de madeira, foi encontrada à deriva
por um marujo e logo depositada junto a uma chapeleira antiga e,
por sinal, muito bonita.
Ela bem sabia dos anos a fio que a esperavam sem a ironia
do marido, sem qualquer pressa, sem uma bengala feita do marfim
de um bravo elefante siberiano, sem a companhia de um espelho re-
dondo e bisotado que a faria parecer um quadro de Picasso; ao seu
lado não haveria sequer um chapéu que lhe contasse as histórias
dos fios dos tapetes persas.
Sem sentir o cheiro do toque de, ao menos, uma mão des-
conhecida, o pó se acumulava à sua volta, e a sombrinha se ima-
ginava hibernando em uma cama fria, decidida que só acordaria
com o cair volumoso da chuva, que, nesta época, raramente acon-
tecia, em consequência da derrubada das florestas e da poluição
atmosférica. Hermelinda dormia, enquanto a temperatura do mun-
do elevava-se progressivamente.
As plantações ficaram comprometidas pela seca, os pedrei-
ros desmaiavam a cada trinta minutos de trabalho e os ursos pola-
res não tinham mais o auxílio do gelo para se camuflar no ataque às
presas. Alguns cientistas pesquisavam dispositivos alternativos de
sobrevivência, como uma indumentária térmica capaz de conser-
var o gelo de suas paredes e proteger a vida do desaparecimento.
Vez ou outra algumas pessoas vestidas de astronautas atravessa-
vam a faixa de pedestres. Os termômetros marcavam quarenta e
oito graus Celsius. Além do derretimento das geleiras, houve maior
incidência de tufões, mortes, desastres, desequilíbrios, inundações
e acúmulo dos gases PFC, HFC, CO2, N
2O, CH
4 e SF
6 no planeta.
86 87
Em uma dessas manifestações da natureza, a sombrinha
subiu aos céus, rodopiou pelos ares, sobrevoou os mares e fincou-
se em uma terra fofa de Nagasaki. Do seu cabo de Ginkgo biloba,
uma espécie que data da época dos dinossauros, nasceram brotos
que se desprenderam de Hermelinda e se transformaram em ár-
vores adultas. Apesar de serem muito resistentes a infecções por
vírus, bactérias e fungos, pequenas mutações podiam ser vistas
naquelas três guardiãs de Linda. No lugar de nozes, nasciam pe-
quenos siris em seus galhos. Era um milagre numa época em que
tudo era permitido. Mas, ao assistir à marcha dos siris para o mar
e à morte dos filhotes mais fracos, nada substituía a imensa falta
que a sombrinha sentia do seu companheiro.
Pela idade avançada, nunca pensara em deixar aquela ter-
ra. Ela que, afinal, já havia conhecido diferentes partes do mundo,
não tinha mais forças para se aventurar pelas trilhas tortuosas da
América e para subir e descer grandes montanhas, picos e cordi-
lheiras ou participar do próximo voo a Júpiter.
Em seu último ano de vida, Linda foi confundida com
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uma lápide, e então começaram a lhe ofertar com frequência incen-
so, flores, comidas e orações. Entre uma visita e outra, ela fez novas
amizades e ficou estarrecida com o que se passava a alguns quilô-
metros dali.
Acontecia mais ou menos assim: uma criança estava to-
mando sorvete, quando uma minhoca gigante se alojava dentro
dela e a transformava em um ser fantástico. Começava-se a era do
efeito dominó letal, sem pedal de freio, porém algumas áreas ainda
estavam salvas das terríveis transformações.
Sinais de rádio...
89
Baseado em fatos reais,
considerando-se os seis fundamentos propostos
pelo escritor Italo Calvino em 1985,
para o nosso milênio:
leveza, rapidez, exatidão, visibilidade,
multiplicidade e coerência.
PESSOAS
sobre os nomes citados neste livro[em ordem de aparição]
* Escritora ucraniana e brasileira, conhecida pela extraordinária sensibilidade. Publicou, entre outros, Perto do coração selvagem, A paixão segundo G.H., Água viva e A mulher que matou os peixes.
* Um dos mais importantes escritores italianos do século XX, cuja obra mais conhecida é Cidades invisíveis.
LISPECTOR, Clarice [1920-1977]
CALVINO, Italo [1923-1985]
* Tenor italiano, merecidamente reconhecido como popularizador da música clássica, grande intérprete das obras de Donizetti, Puccini e Verdi.
* Escritor francês, ilustrador e piloto da Segunda Guerra Mundial. Os livros que escreveu sempre tiveram relação com sua grande paixão, a aviação.
PAVAROTTI, Luciano [1935-2007]
SAINT-EXUPÉRY, Antoine [1900-1944]
BENTO XVI, Papa [1927-]
Joseph Ratzinger examina a ponta do sabre do chefe dos atiradores da Baviera, em Munique, 1982
Foto dpa - Corbis
* Alemão nascido Joseph Alois Ratzinger, eleito em 2005 como o 265º Papa, sucessor de João Paulo II. Possui oito doutorados honoríficos e domina os idiomas alemão, italiano, francês, latim, inglês, espanhol, grego antigo e hebraico. Exímio pianista e membro de várias academias científicas da Europa.
Antoine de Saint-Exupéry com sua esposa Consuelo
Pavarotti cozinhando após o concerto de Tel-Aviv em 1979 Foto David Rubinger
Foto Sophie Bassouls - Sygma - Corbis
São Simeão Estilita era um monge Sírio que, no início do cristianismo, refugiou-se do mundo e viveu cerca de trinta anos sobre uma coluna de pedras.
ESTILITA, São Simeão [ano 400] *
Compositor francês nascido numa família de músicos, admitido no Conservatório de Paris aos nove anos de idade. No ano de sua morte, escreveu Carmen.
BIZET, Georges [1838-1875] *
Pintor espanhol, fundador do Cubismo. Um dos artistas mais famosos e versáteis do mundo, criador das telas Retrato de Suzanne Bloch, Les Demoiselles d’Avignon, Guernica e Tauromaquia, entre várias.
PICASSO, Pablo [1881-1973] *
Pablo Picasso com Brigitte Bardot Foto Bettmann-CORBIS
OBRAS DE ARTERomance de Clarice Lispector que aborda os aspectos íntimos do aprendizado amoroso, com precisão e domínio de linguagem. Sua primeira publicação pela Editora Sabiá lhe rendeu o prêmio Golfinho de Ouro, do Museu da Imagem e do Som.
uma aprendizagem ou o livro dos prazeres [1969] *
Obra rara e profunda, dedicada às crianças, por seu criador, o francês Antoine de Saint-Exupéry. O livro é um verdadeiro marco na literatura infantojuvenil, e deixou um legado inesquecível pelos atos e pelas palavras do personagem, de caráter e simplicidade ímpares.
le petit prince [1943] *
Filme dirigido por Tonny Scott, com Tom Cruise, Kelly McGillis, Val Kilmer e Tim Robbins no elenco. Venceu o Oscar de melhor canção original em 1987, com a música “Take my breath away”.
top gun [1986] * Tom Cruise em Top Gun
No cinema, a história equivale ao primeiro filme da série 007, dirigido por Terence Young, com Sean Connery no papel do protagonista, contracenando com Ursula Andress e Joseph Wiseman. Filme baseado no sexto livro de Ian Fleming, lançado em 1958, sobre o agente secreto britânico James Bond. No Brasil o filme foi lançado com o título 007 contra o satânico Dr. No.
Dr. No [1962] *
Carmen é a última e a mais famosa ópera composta por Georges Bizet. Carmen é uma cigana que usa os talentos da dança e do canto para enfeitiçar e seduzir vários homens. Ela é cruel, engenhosa e volúvel. Carmen consegue ser perversa e admirável ao mesmo tempo, uma mistura incomum para uma heroína operística.
carmen [1875] *
Augustin Berger representando o toureiro na ópera Carmen Foto Bettmann - CORBIS
O autor Ian Fleming conversa com Ursula Andress entre as cenas de ação de Dr. No. Foto Bettmann - CORBIS
Música brasileira composta por Ed Wilson e Ronaldo Bastos, famosa na voz da cantora Gal Costa.
Décima primeira música de Dummy, um dos álbuns mais influentes dos anos 1990 e o primeiro da banda britânica de trip-hop Portishead, formada pela vocalista Beth Gibbons e pelos músicos Geoff Barrow e Adrian Utley.
glory box [1994] *
chuva de prata [1984] *
REFERÊNCIAS GEOGRÁFICAS
suécia * País da Escandinávia, região norte da Europa. A Suécia possui um dos mais altos Índices de Desenvolvimento Humano [IDH], medida comparativa padronizada do bem-estar de uma população, especialmente do bem-estar infantil. A Suécia é o terceiro país com maior número de ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura, criado pelo também sueco Alfred Nobel.
índia *
Estocolmo é a capital e a maior cidade da Suécia, situada num arquipélago de catorze ilhas e ilhotas, unidas por 53 pontes, na região onde o Lago Mälaren encontra o Mar Báltico. Seu relevo é de planície, atingindo no máximo a 200 metros de altitude em relação ao mar.
estocolmo *
mumbai * brasil * República Federativa formada pela união de 26 estados federados e
pelo Distrito Federal. Maior economia latino-americana, tem hoje forte influência internacional e possui a maior biodiversidade do planeta. A Floresta Amazônica, maior floresta tropical do mundo, com mais de seis milhões de km , é um exemplo dessa riqueza. Além do Brasil, a Floresta Amazônica está presente em oito países: Bolívia, Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, Suriname, Guiana Francesa e Guiana.
salvador *
A cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, na região nordeste do Brasil, foi fundada por Thomé de Souza em 1549. Seu centro histórico, onde se encontra o Pelourinho, possui um conjunto arquitetônico colonial barroco-português preservado, que foi inscrito em 1985 na Lista da Organização das Nações Unidas para a Educação,a Ciência e a Cultura [Unesco] como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Ilhas localizadas no Oceano Pacífico, situado entre a América, a leste, a Ásia e a Austrália, a oeste, e a Antártida, ao sul. Com 180 milhões de km , o Pacífico cobre quase um terço da superfície do planeta e corresponde a quase metade da superfície e do volume dos oceanos.
ilhas do pacífico *
Mapa das ilhas do oceano Pacífico Sul
Farol de Itapuã, um dos subdistritos da capital do estado brasileiro da Bahia, Salvador.
Vendedores de pão em 1923, Mumbai, Índia. Foto Gervais Courtellemont 3
Localizado no centro-sul da Ásia, é o segundo país mais populoso do mundo, depois da China. O hinduísmo, predominante na Índia, é a religião mais antiga ainda existente no mundo.
Antiga Bombaim, Mumbai é a capital do estado de Maharashtra e a cidade mais populosa da Índia. Abriga importantes instituições financeiras e o polo cinematográfico Bollywood, maior produtor de filmes do mundo, seguido por Hollywood.
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Capital da Escócia, uma das nações do Reino Unido. No século XVI foi totalmente destruída pelo fogo. As numerosas instituições culturais valeram à cidade o epíteto de Atenas do Norte. Importante centro das artes gráficas, da indústria química, cervejaria e destilação de uísque.
Região autônoma com estatuto especial da Itália meridional com 25.710 km de extensão e 5,1 milhões de habitantes. Sua capital é Palermo, e a Sicília é a maior ilha do Mediterrâneo, separada da península pelo estreito de Messina. Historicamente, foi colonizada por fenícios e gregos, caindo depois sob a dominação sucessiva dos romanos, godos, sarracenos e normandos. Mais tarde foi governada pelas dinastias de Angevin, Habsburgo e Bourbon, e finalmente incorporada à Itália por Garibaldi, em 1861. A região é conhecida por ser uma das mais completas e fascinantes do país.
País da Ásia, situado no Golfo de Bengala, sua capital é Daca. Bangladesh é um dos países mais pobres do mundo e possui densidade populacional altíssima [700 habitantes/km ], índice incomum num país quase exclusivamente rural.
edimburgo *
sicília *
bangladesh *
Capital do México, país da América do Norte, limitado ao norte com os EUA, a leste com o golfo do México, a sudeste com o mar do Caribe, com Belize e com a Guatemala e ao sul e a oeste com o Pacífico. A Cidade do México é uma das maiores cidades do mundo e foi a capital do império asteca sob o nome Tenochtitlán.
cidade do méxico *
Scopello, Trapani, Sicília
Briga de galos, Cidade do México, 1922 Foto Clifton R. Adams - National Geographic Society - Corbis
País da Europa do Norte, tem um quarto de seu território situado no círculo polar Ártico. As línguas oficias são o finlandês e o sueco e sua capital é Helsinque. A base da economia finlandesa é a silvicultura, especialização agrônoma que estuda as essências florestais, a formação e a exploração de florestas artificiais, a preservação das florestas naturais, a ecologia e as ciências afins.
finlândia *
Pequeno estado federal localizado no centro da Europa. Possui uma das economias mais ricas do mundo e sedia inúmeros bancos privados e organizações internacionais. Sua história é marcada pela neutralidade política, o que foi tido como exemplo de liberdade e democracia para o resto do mundo. Sua diversidade linguística abrange quatro idiomas oficiais: alemão, francês, italiano e romanche. O lema do país é: Um por todos, todos por um.
suíça *
Terceira maior baía do Brasil em volume de águas, depois das baías de Todos os Santos e de Guanabara. A Baía de Camamu abriga uma variedade de ilhas de todos tamanhos, além de praias, florestas e manguezais ainda bastante preservados.
baía de camamu *
Turku Castle, Finlândia
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A Itália é uma península do sul da Europa, onde predomina o clima temperado mediterrânico. É limitada a norte pelos Alpes, ladeada a oeste pelo Mar Tirreno e a leste pelo Adriático. Dois vulcões ativos existem no país: Etna e Vesúvio. A cultura italiana é riquíssima e muito famosa por seus compositores clássicos, pela pintura, escultura, literatura, cinema, teatro, design e culinária. A Itália é o local de nascimento de diversos movimentos artísticos e intelectuais que se espalharam pela Europa e pelo mundo, como o Renascimento e o Barroco.
Terceira maior ilha do Caribe, situa-se a cerca 145 km ao sul de Cuba e a 190 km do Haiti e da República Dominicana. Sua capital é Kingston, e a língua oficial é o inglês. A Jamaica é berço do gênero musical reggae, difundido por seu ilustre representante, Bob Marley.
jamaica *
itália *
Vulcão Etna, Itália
O mais vasto país da Europa, sua capital, Paris, é conhecida como a capital da moda e da boa gastronomia, e tem um conjunto arquitetônico fascinante, outrora palco de importantes revoluções culturais. O hino da França, La Marseillaise, é considerado o mais bonito do mundo. A nação francesa apresenta uma economia muito desenvolvida e é um dos países mais ricos e influentes do planeta.
A Sibéria ocupa 58% da área da Federação Russa. O Planalto Central Siberiano ocupa cerca de 3,5 milhões de km , com recursos minerais abundantes, especialmente carvão, ferro, ouro, diamantes e gás natural. Na Sibéria, situa-se o local habitado mais frio do mundo, a aldeia de Oymyakon.
frança *
sibéria *
Parte meridional do continente americano, que compreende os seguintes países: Bolívia, Colômbia, Peru, Brasil, Venezuela, Equador, Suriname, Argentina, Uruguai, Chile, Paraguai, Guiana Francesa e Guiana.
américa do sul *
Paris, Place de l'Etoile, ilustração, 1857. Foto Stefano Bianchetti
Conjunto geográfico formado pelas Antilhas, arquipélago da América Central, que se estende por 2.500km, desde as proximidades da península da Flórida até a Venezuela, cortado pelo Trópico de Câncer.
caribe * pérsia * Antigo nome do Irã, país da Ásia Ocidental.
Sua capital é Teerã, e a língua oficial é a persa.
Um dos cinco continentes do globo terrestre, conhecido como o Velho Mundo.
europa *
Mapa da europa publicado em 1870 em almanaque humorístico
Loja de Reggae Music em Kingston, março de 1980. Foto Patrick Chauvel_Sygma_Corbis
Um cientista e sua assistente preparam um balão meteorológico para ser lançado em Prima, base científca na Ilha Bolchevique, no Ártico.Foto Remi Benali
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O arquipélago começou a se formar entre 42 e 52 milhões de anos, quando erupções vulcânicas submarinas derramaram lava no fundo dos mares. Possui o Parque Nacional Marinho de Abrolhos e o mais importante complexo coralíneo do Atlântico Sul, com suas águas quentes, rasas e cristalinas. Entre julho e novembro, as baleias Jubarte fogem do inverno antártico e migram para Abrolhos para o acasalamento.
Cidade considerada berço da civilização brasileira, é localizada no extremo sul do estado da Bahia, na chamada Costa do Descobrimento. Sua baía é o local de chegada das caravelas dos portugueses por ocasião do descobrimento do Brasil, em 22 de abril de 1500.
arquipélago de abrolhos *
santa cruz de cabrália *
Cidade japonesa localizada na província de Nagasaki, conhecida como o cenário da peça Madame Butterfly, de Giacomo Puccini. Possui o porto livre mais antigo do Japão, e foi a porta de entrada ocidental no século XVI. Juntamente de Hiroshima, sofreu o ataque nuclear, no final da Segunda Guerra Mundial, contra o Império do Japão, pela Força Aérea dos Estados Unidos da América.
nagasaki *
Centro internacional de rochas ornamentais, responsável pelo abastecimento de 80% do mercado brasileiro de mármore. Cidade onde nasceu o cantor Roberto Carlos.
cachoeiro do itapemirim *
Cachoeiro do Itapemirim fotografada pelo alemão Albert Richard Dietze, entre 1869 e 1878. Faz parte da coleção Imperatriz Tereza Cristina da Biblioteca Nacional, doada pelo Imperador D. Pedro II.
REFERÊNCIAS HISTÓRICAS
Segunda guerra mundial *
Conflito armado iniciado em 1939 e finalizado em 1945, que opôs os Aliados às Potências do Eixo. As principais potências aliadas eram: China, França, Grã-Bretanha, União Soviética e Estados Unidos. O Brasil se integrou aos Aliados em 1943. A Alemanha, a Itália e o Japão, por sua vez, perfaziam as forças do Eixo. O líder alemão de origem austríaca Adolf Hitler, Führer do Terceiro Reich, pretendia criar uma nova ordem na Europa, baseada nos princípios nazistas da suposta superioridade ariana. O nazismo pautava-se na exclusão com a eliminação física incluída de algumas minorias étnicas e religiosas, como os judeus e os ciganos, bem como deficientes físicos e homossexuais; na supressão das liberdades e dos direitos individuais; e na perseguição de ideologias liberais, socialistas e comunistas. A Segunda Guerra Mundial foi o conflito que causou mais vítimas em toda a história da humanidade.
REFERÊNCIAS AMBIENTAIS
O termo reflorestamento aplica-se à implantação de florestas em áreas naturalmente florestais que, por ação antrópica ou natural, perderam suas características. Os objetivos do reflorestamento podem ser comerciais [produção de produtos madeireiros e não madeireiros] ou ambientais [recuperação de áreas degradadas e preservação de ecossistemas].
A poluição atmosférica resulta da emissão de gases poluentes ou de partículas sólidas na atmosfera. Pode provocar uma degradação dos ecossistemas, devido ao lançamento de inúmeras substâncias [radioativas, ácidas, recalcitrantes etc.], e pode se tratar de um problema local e/ou transfronteiriço. Este tipo de poluição pode dar origem ao efeito estufa, às alterações climáticas, à diminuição da qualidade do ar e a problemas de saúde para os seres vivos.
Este fenômeno verificado nas últimas décadas e provocado pelo homem tem influenciado o aumento da temperatura média dos oceanos e da temperatura do ar próximo da superfície terrestre. Apesar da maioria dos estudos projetarem os efeitos até o ano 2100, estima-se que o aquecimento e o aumento no nível do mar continuem por mais de um milênio, mesmo que os atuais níveis de gás estufa se estabilizem. São incertos o exato grau da alteração climática prevista para o futuro e a forma como essas alterações irão variar de região em região ao redor do globo. Existe um debate político e público para se decidir como poderá ser reduzido ou revertido o aquecimento futuro e para prever as adaptações necessárias às consequências esperadas. Nesse sentido, 172 países assinaram o Protocolo de Quioto, que visa a combater a emissão de gases estufa.
reflorestamento *
poluição atmosférica *
aquecimento global *
Trabalhadores de reflorestamento na Columbia National Forest, Washington. Cada homem tem um machado e um saco de mudas de árvores. Foto Hulton-Deutsch Collection-CORBIS.
Tuvalu é um arquipélago situado no Pacífico Sul, sendo o quarto menor país do mundo, com apenas 26 km , e provavelmente o primeiro a desaparecer como resultado das alterações climáticas e do aumento de nível do oceano.
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Este livro foi revisado segundo
em fevereiro de 2011.
o novo Acordo Ortográfico,
composto em Stag e Providence
e impresso em Belo Horizonte pela
Formato Artes Gráficas em papel Pólen Soft 80g/m,2