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OrganizadoresRenato BaumannIvan Tiago Machado Oliveira

Os BRICSe seus vizinhoscomrcio e acordos regionais

Os BRICSe seus vizinhoscomrcio e acordos regionaisOrganizadoresRenato BaumannIvan Tiago Machado Oliveira

Governo Federal

Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica Ministro Marcelo Crtes Neri

Fundao pbl ica v inculada Secretar ia de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica, o Ipea fornece suporte tcnico e institucional s aes governamentais possibilitando a formulao de inmeras polticas pblicas e programas de desenvolvimento brasi leiro e disponibi l iza, para a sociedade, pesquisas e estudos realizados por seus tcnicos.

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Assessor-chefe de Imprensa e ComunicaoJoo Cludio Garcia Rodrigues Lima

Ouvidoria: http://www.ipea.gov.br/ouvidoriaURL: http://www.ipea.gov.br

Os BRICSe seus vizinhoscomrcio e acordos regionaisOrganizadoresRenato BaumannIvan Tiago Machado Oliveira

Braslia, 2014

Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ipea 2014

As opinies emitidas nesta publicao so de exclusiva e inteira responsabilidade dos autores, no exprimindo, necessariamente, o ponto de vista do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada ou da Secretaria de Assuntos Estratgicos da Presidncia da Repblica.

permitida a reproduo deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reprodues para fins comerciais so proibidas.

Os BRICS e seus vizinhos : comrcio e acordos regionais / organizadores: Renato Baumann, Ivan Tiago MachadoOliveira. Braslia : Ipea, 2014. 472 p. : il., grfs., mapas color.

Inclui bibliografia.

ISBN: 978-85-7811-206-6

1. Comrcio Internacional. 2. Acordos Comerciais. 3. Poltica de Comrcio Internacional. 4. RelaesEconmicas Internacionais. 5. Integrao Econmica. I.Baumann, Renato. II. Oliveira, Ivan Tiago Machado. III. Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada.

CDD 382.3

SUMRIO

APRESENTAO ........................................................................................7

INTRODUO ............................................................................................9

BRASILCAPTULO 1AS RELAES COMERCIAIS DO BRASIL COM O SEU ENTORNO ..................15Flavio Lyrio CarneiroIvan Tiago Machado Oliveira

CAPTULO 2OS ACORDOS REGIONAIS E PREFERENCIAIS DE COMRCIO DO BRASIL COM O SEU ENTORNO .............................................................55Michelle Ratton Sanchez BadinMarina Amaral Egydio de CarvalhoJoo Henrique Ribeiro Roriz

RSSIACAPTULO 3A RSSIA E SEUS VIZINHOS: COMRCIO ..................................................105Flavio Lyrio CarneiroIvan Tiago Machado Oliveira

CAPTULO 4O PERFIL REGULATRIO NOS ACORDOS REGIONAIS DE COMRCIO DA RSSIA COM OS SEUS VIZINHOS ................................... 135Michelle Ratton Sanchez BadinJoo Henrique Ribeiro RorizMarina Amaral Egydio de Carvalho

NDIACAPTULO 5AS RELAES COMERCIAIS DA NDIA COM SEUS VIZINHOS .....................173Renato Baumann

CAPTULO 6OS ACORDOS REGIONAIS DE COMRCIO DA NDIA COM O SEU ENTORNO .............................................................................207Michelle Ratton Sanchez BadinJoo Henrique Ribeiro RorizMarina Amaral Egydio de Carvalho

CHINACAPTULO 7AS RELAES COMERCIAIS DA CHINA COM SEUS VIZINHOS ...................255Ivan Tiago Machado OliveiraFlavio Lyrio CarneiroRicardo G. Bacelette

CAPTULO 8O PERFIL REGULATRIO NOS ACORDOS REGIONAIS DE COMRCIO DA CHINA COM O SEU ENTORNO ............................................................281Michelle Ratton Sanchez BadinJoo Henrique Ribeiro RorizMarina Amaral Egydio de Carvalho

FRICA DO SULCAPTULO 9O COMRCIO INTERNACIONAL ENTRE A FRICA DO SUL E SEU ENTORNO ......................................................................................337Ivan Tiago Machado OliveiraFlavio Lyrio Carneiro

CAPTULO 10OS ACORDOS REGIONAIS DE COMRCIO DA FRICA DO SUL COM O SEU ENTORNO ............................................................................359Michelle Ratton Sanchez BadinJoo Henrique Ribeiro RorizMarina Amaral Egydio de Carvalho

ANEXOS .................................................................................................395

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ....................................................469

NOTAS BIOGRFICAS ...........................................................................471

APRESENTAO

Na ltima dcada, os pases que compem o BRICS passaram a ganhar maior ateno de investidores, autoridades de governo, jornalistas e acadmicos. Vistos como economias dinmicas que representavam uma provvel mudana do eixo locomotor da agenda de crescimento econmico no mundo, o BRICS passou a ter igualmente papel de destaque em aspectos relativos a temas da poltica inter-nacional, ganhando espaos em foros de governana global.

Embora muitas vezes suas projees de poder e interesses econmicos possam ser globais, cada um dos pases do BRICS precisa ser entendido como uma potncia regional, um polo econmico e poltico de liderana em suas respectivas regies. A regio parece ser central para o adensamento de processos de integrao econ-mica, produtiva e comercial, e de concertao poltica entre parceiros regionais. Assim, o entorno geoeconmico e geopoltico de cada um dos membros do BRICS deve ser visto como o espao onde suas influncias e interesses tendem a aparecer de forma mais transparente. Assim tambm devem ser encarados os processos e mecanismos de poltica externa associados a essa projeo de poder regional.

O presente livro traz ao leitor, leigo ou iniciado, anlises dos processos de in-tegrao econmico-comercial de cada um dos pases do BRICS com seus vizinhos, seu entorno estratgico. Com foco nas trocas comerciais e na formatao de acordos regionais de comrcio, as apreciaes aqui realizadas lanam luz no debate sobre o papel da integrao regional nas polticas comerciais externas dos membros do BRICS e o papel de cada um deles enquanto eixos produtivo-comerciais em suas respectivas regies. O entendimento acerca desses processos contribui igualmente para a compreenso dos desafios impostos pela identificao de uma agenda comum para as naes que compem o BRICS.

Sergei Suarez Dillon SoaresPresidente do Instituto de Pesquisa

Econmica Aplicada (Ipea)

INTRODUO

Este livro o resultado de um projeto de pesquisa coletivo intitulado Os BRICS e seus Vizinhos, desenvolvido pela Diretoria de Estudos e Relaes Econmicas e Polticas Internacionais (Dinte) do Ipea ao longo do ltimo ano. O projeto envolveu tanto pesquisadores do Ipea quanto bolsistas contratados, e teve como objetivo avaliar como cada um dos pases do BRICS se relaciona com seu entorno imediato no que diz respeito a trs temas, quais sejam: comrcio internacional; realizao de acordos regionais; e investimentos estrangeiros diretos.

Ao destacar as relaes dos membros do BRICS com sua vizinhana, o projeto buscou examinar o papel que cada pas do grupo desempenha em suas respectivas regies, considerando-os como polos econmicos e polticos em cada uma delas. Neste livro, so apresentadas as pesquisas realizadas sobre os temas comerciais (comrcio internacional e acordos regionais) pelos pesquisadores envolvidos no projeto.

O BRICS tem ganhado crescente relevncia no comrcio internacional, especialmente com a abertura de algumas das economias do grupo economia mundial. O comrcio internacional tambm desempenha um papel importante nas estratgias de cada um destes pases que visam estreitar laos com as economias de suas regies, seja por meio de processos de integrao produtiva, seja com acordos que criam instituies regionais.

Portanto, entender a mecnica das relaes dos membros do BRICS com seus vizinhos parte essencial do processo de entender cada um dos pases do agrupamento, especialmente no que concerne dimenso econmica de sua insero internacional.

Como se trata de sociedades e economias bastante distintas em suas bases, a diversidade de projetos, objetivos e resultados desses processos de integrao dos pases do BRICS com suas vizinhanas forma um conjunto de ricas experincias, que permitem o aprendizado coletivo.

O aprofundamento do conhecimento sobre experincias de integrao e uso de polticas comerciais por naes do BRICS com seus vizinhos era a meta central do projeto que gerou este livro. Para alcanar este objetivo, inicialmente o grupo de pesquisadores envolvidos com o projeto em sua dimenso comercial reuniu-se para definir uma metodologia que permitisse a comparao de resultados e a aplicao a todos os casos em anlise.

10 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

Assim, dois caminhos foram definidos com vistas ao desenvolvimento da pesquisa sobre o tema das relaes de comrcio entre os pases do BRICS e entre estes e seus vizinhos, tal como apresentado a seguir.

1) Uma parte do grupo, mais focada nos fluxos comerciais e na agenda de poltica comercial, identificou uma srie de dados econmicos e ndices de comrcio para aplicao a todos os estudos com o BRICS.

2) Outra parte dos pesquisadores deteve-se na regulao das trocas dos pases do BRICS com seu entorno, usando metodologia de mapeamento temtico dos acordos regionais e identificao do tipo de regulao neles empregada, trazendo alguma comparao quanto temtica dos acordos entre as polticas comerciais desses pases.1

Dessa forma, houve um esforo para que as pesquisa gerassem resultados embasados em metodologia comum, com ganhos claros quanto possibilidade de comparao de dados e tambm para o entendimento dos interessados no tema.

A definio de vizinhana tambm passou por longas discusses no grupo de pesquisadores do projeto. Ao fim delas, decidiu-se por usar um conceito ad hoc que levasse em conta aspectos geogrficos, econmicos e polticos, sendo a vizinhana de cada um dos pases do BRICS composta da seguinte forma:

1) Brasil: Argentina, Bolvia, Chile, Colmbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

2) Rssia: Armnia, Azerbaijo, Belarus, Cazaquisto, Gergia, Moldvia, Quirguisto, Tadjiquisto, Turcomenisto, Ucrnia e Uzbequisto.

3) ndia: Afeganisto, Bangladesh, Buto, Maldivas, Mianmar, Nepal, Paquisto e Sri Lanka.

4) China: Brunei, Camboja, Cingapura, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Filipinas, Indonsia, Japo, Laos, Malsia, Mianmar, Monglia e Vietn.2

5) frica do Sul: Angola, Botsuana, Lesoto, Madagascar, Malaui, Maurcio, Moambique, Nambia, Repblica Democrtica do Congo, Seicheles, Suazilndia, Tanznia, Zmbia e Zimbbue.

Ademais, optou-se pela escolha do perodo de 2000 a 2010 para anlise uma vez que, para os objetivos do projeto, conta menos a conjuntura e mais a agenda de integrao estrutural de cada membro do BRICS com seus vizinhos no campo comercial. Agrega-se a isso o fato de se ter a consolidao de dados e informaes

1. Replicou-se a metodologia de anlise de acordos regionais usada em: OLIVEIRA, Ivan Tiago M.; BADIN, Michelle R. Tendncias regulatrias nos acordos preferenciais de comrcio do sculo XXI: os casos de Estados Unidos, Unio Europeia, China e ndia. Braslia: Ipea, 2013.2. Hong Kong e Taipei Chins tambm foram inseridos quando da anlise dos acordos regionais da China.

11Introduo

sobre negociaes comerciais essenciais, por exemplo, para a anlise dos acordos regionais. Portanto, o livro traz anlises dos processos de integrao de cada um dos pases do BRICS com seus vizinhos na primeira dcada do sculo XXI.

Alm dos organizadores deste livro, a equipe de pesquisa foi composta por Flavio Lyrio Carneiro e Ricardo Ginicolo Bacelette, pesquisadores do Ipea; e por Michelle Ratton Sanchez Badin, Marina Egydio de Carvalho e Joo Henrique Ribeiro Roriz, na condio de bolsistas.

Aps essa curta nota metodolgica com a apresentao do objetivo do livro, cabe relatar que, a fim de manter a sequncia do acrnimo nas anlises desenvolvidas ao longo do volume, decidiu-se manter uma estrutura de apresentao que traz um captulo sobre as relaes comerciais de cada um dos pases do BRICS com seus vizinhos, seguido por um captulo com anlise do perfil regulatrios dos acordos regionais que cada uma deles tem com sua vizinhana. Assim, a anlise comea do processo de integrao do Brasil com seus vizinhos e termina com textos sobre o comrcio e os acordos regionais da frica do Sul com seu entorno.

Nos captulos 1 e 2, so analisadas as relaes do Brasil com seus vizinhos. No primeiro, os autores apresentam as caractersticas do padro de comrcio brasi-leiro com os vizinhos, examinando uma srie de indicadores relativos intensidade, concentrao e ao padro de especializao das pautas bilaterais. Alm disso, examina-se a relevncia da regio para a poltica comercial do Brasil.

O perfil dos acordos do Brasil com os vizinhos analisado no segundo captulo, em que os autores fazem um mapeamento do conjunto de compromissos assumidos pelo Brasil com sua vizinhana nas diferentes reas de comrcio e a ele relacionadas. Apresentam, ainda, em detalhe, as caractersticas de cada uma das reas reguladas nos acordos, bem como uma anlise crtica sobre a inter-relao entre estes compromissos.

O comrcio e os acordos regionais da Rssia com seu entorno so objeto dos captulos 3 e 4 deste livro. Os autores do terceiro captulo trabalham os indicadores de comrcio selecionados para uso no projeto a fim de apresentar um quadro no qual se destaca a falta de competitividade internacional da maioria dos vizinhos da Rssia, bem como os baixos ndices de comrcio intrassetorial na regio.

O papel dos acordos regionais na poltica comercial russa ganha ateno no captulo 4. Nele, a idiossincrasia russa quanto sua relao com seus vizinhos apontada na apreciao da poltica comercial do pas. Os autores apresentam uma anlise que mostra como a Rssia concentra suas atenes em estratgias de negociao de acordos regionais com seus tradicionais parceiros na rea da ex-Unio das Repblicas Socialistas Soviticas.

12 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

A poltica comercial e as relaes da ndia com seus vizinhos so o tema do captulo 5. O autor segue a metodologia do projeto e apresenta alguns dados gerais sobre a economia indiana, seguidos da anlise de ndices comerciais, tais como grau de concentrao, composio setorial e percentual de transaes intrassetoriais entre a ndia e seus vizinhos. Alm disto, apresenta os impactos que tm sobre o comrcio exterior brasileiro as preferncias dadas pela ndia a seus vizinhos.

No captulo 6, analisa-se o perfil regulatrio dos acordos regionais indianos com seu entorno. Os autores relatam que as relaes entre ndia e alguns de seus vizinhos so bastante assimtricas, se considerada a disparidade entre o peso poltico e econmico na regio. Vale destacar que o governo indiano, segundo estes autores, considera seus vizinhos como a mais alta prioridade em sua agenda externa, pois uma periferia pacfica considerada essencial nos objetivos de desenvolvimento indiano.

As relaes comerciais da China com economias vizinhas so analisadas nos captulos 7 e 8 deste livro. Em ambos, observa-se o peso do comrcio regional no quadro da integrao econmica entre a China e seus vizinhos. Para os autores do captulo 7, o elevado grau de complementaridade produtiva entre a China e os pases de seu entorno o faz funcionar como locomotiva produtivo-comercial na regio. J no captulo 8, desenvolve-se anlise da China como centralizadora de acordos regionais na sia, mapeando-se em detalhe os tipos de temas inseridos nesses acordos, bem como sua vinculao com a poltica comercial externa chinesa.

Por fim, os captulos 9 e 10 apresentam anlises sobre a integrao da frica do Sul com sua vizinhana. Sendo a principal economia do sul da frica e signa-tria do tratado de criao da mais antiga unio aduaneira no mundo, a Unio Aduaneira Sul-africana (Southern African Customs Union Sacu), a frica do Sul tem papel relevante no contexto da integrao comercial na regio. Alguns dos resultados mostram a complexidade da relao do pas com seus vizinhos, pois mostram uma alta intensidade no comrcio bilateral, ainda que declinante ao longo do perodo analisado, exceto no caso das importaes de produtos com origem nos vizinhos pela frica do Sul.

Com este livro, espera-se trazer novas vises e interpretaes sobre os processos de integrao comercial de cada um dos membros do BRICS com seus vizinhos tanto para o pblico leigo interessado no tema quanto para especialistas, bem como estimular o debate concernente relao entre esses cinco pases e de cada um deles com seu entorno.

Renato BaumannIvan Tiago Machado Oliveira

Organizadores

BRASIL

CAPTULO 1

AS RELAES COMERCIAIS DO BRASIL COM O SEU ENTORNOFlavio Lyrio Carneiro

Ivan Tiago Machado Oliveira

1 INTRODUO

A regio tem importncia nos processos de integrao econmica e poltica de naes. A proximidade geogrfica e histrica entre naes de uma mesma regio tambm contribui significativamente para fomentar a cooperao e a integrao ou criar resistncias a elas. No caso dos BRICS, cada um dos pases aparece ao mundo como polo regional relevante seja na economia, seja na poltica. So pases que projetam seus interesses e exercem suas lideranas no seu entorno estratgico, tendo o Brasil, na Amrica do Sul, como um importante espao de atuao externa.

O foco deste estudo a anlise das relaes comerciais entre o Brasil e seus vizinhos entre 2000 e 2010, bem como um exame da poltica comercial brasileira voltada a seus parceiros regionais. No caso do Brasil, considera-se que a vizinhana composta dos seguintes pases: Argentina, Bolvia, Chile, Colmbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

Para isso, o captulo est dividido em cinco sees, alm desta breve in-troduo. A prxima seo apresenta brevemente alguns dados gerais sobre o comrcio exterior e a poltica comercial do Brasil. A terceira seo analisa as caractersticas do padro de comrcio brasileiro com os vizinhos, examinando uma srie de indicadores concernentes intensidade, concentrao e ao padro de especializao das pautas bilaterais, entre outros. Na seo seguinte, a anlise repetida, porm seccionando os fluxos comerciais entre bens de produo e bens destinados ao consumo final. A quinta seo analisa a poltica comercial brasileira voltada para os parceiros regionais, com foco nas preferncias tarifrias concedidas pelo Brasil aos vizinhos e vice-versa. Por fim, a ltima seo apresenta as consideraes finais.

2 ASPECTOS GERAIS DA ECONOMIA E DO COMRCIO EXTERIOR DO BRASIL

Passados os turbulentos anos da dcada de 1980 e do incio da seguinte, em que o Brasil sofria simultaneamente com a inflao crnica e elevada e com os problemas no balano de pagamentos, da segunda metade da dcada de 1990

16 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

em diante, pode-se observar, alm da estabilidade macroeconmica, uma relativa estabilidade na estrutura setorial da economia. Em primeiro lugar, encontra-se o setor de servios, cuja participao tem oscilado na faixa entre 65% e 70% do valor adicionado do setor industrial, enquanto a indstria tem representado entre 25% e 30% do produto interno bruto (PIB), e o setor agrcola, cerca de 5%, como indica o grfico 1.

GRFICO 1Participao setorial no PIB Brasil (1995-2010)(Em %)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Servios Agropecuria Indstria

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: World Bank, World Development Indicators.Elaborao dos autores.

Porm, ao contrrio do que acontece, por exemplo, com a ndia, a impor-tncia do setor de servios na estrutura setorial interna no se reflete no com-portamento do comrcio exterior de bens e servios. Contrastando-se a ltima dcada do sculo XX e a seguinte, conforme a tabela 1, pode-se verificar que tanto a exportao quanto as importaes de ambos cresceram de maneira subs-tancial; no entanto, o comrcio de bens ainda supera largamente o de servios. Alm disso, as exportaes destes cresceram em ritmo superior s importaes, mas partindo de uma base muito baixa, de maneira que o saldo em servios foi deficitrio ao longo de todo o perodo, ao contrrio da balana comercial, que apresentou resultado negativo apenas entre 1995 e 2000 e exibiu superavit expressivo ao longo de quase toda a dcada de 2000. Como resultado, o Brasil obteve superavit em transaes correntes entre 2003 e 2007 a primeira vez em que o pas obteve saldo positivo em conta corrente por cinco anos consecutivos desde a Segunda Guerra Mundial.

17As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

TABELA 1Brasil Balana comercial e de servios

Mdia 1990-1999 Mdia 2000-2010

Exportao de bens 42.924,50 119.349,71

Importao de bens 39.061,70 94.349,80

Saldo comercial 3.862,80 24.999,90

Exportao de servios 5.164,10 18.260,58

Importao de servios 11.446,20 29.839,98

Saldo de servios (6.282,10) (11.579,40)

Fonte: World Bank, World Development Indicators.Elaborao dos autores.

Como indica o grfico 2, boa parte do expressivo desempenho das exporta-es brasileiras durante a ltima dcada, especialmente a partir de 2004, pode ser creditado ao aumento dos preos dos bens exportados, em especial das commodities agrcolas e minerais, que permitiram que o valor exportado crescesse em ritmo bastante superior ao volume. Tal processo se refletiu na melhora dos termos de troca, conforme grfico 3.

GRFICO 2Exportaes totais (1990-2010)

0

50

100

150

200

250

300

350

400

Exportaes - ndice de valor Exportaes - ndice de volume

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010

Fonte: World Bank, World Development Indicators.Elaborao dos autores.Obs.: 2006 = 200.

18 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

GRFICO 3Termos de troca (1990-2010)

Termos de troca (2000 = 100)

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 20100

20

40

60

80

100

120

140

cores prioritriasFonte: World Bank, World Development Indicators.Elaborao dos autores.Obs.: 2006 = 100.

Tambm alavancada pelo aumento dos preos das commodities agrcolas e minerais, bem como dinamizada pela demanda derivada do forte crescimento chins, a participao de produtos bsicos na pauta exportadora brasileira vem aumentando sensivelmente no perodo recente. Aps oscilar entre 23% e 28% do valor FOB (sigla, em ingls, de free on board) exportado ao longo da dcada de 1990 e se estabilizar prximo a 30% na seguinte, a partir de 2007, a proporo desta classe de produtos comeou a subir, alcanando um auge de 49% em 2011, ao passo que a participao dos manufaturados declinou de um patamar entre 55% e 60% para atingir 38% no ltimo ano, como indicam os grficos 4 e 5.

19As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

GRFICO 4Exportaes por classe de produto (1990-2012)(Em US$)

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 201220100

50,000

100,000

150,000

200,000

250,000

300,000

Bsicos Semimanufaturados Manufaturados

Fonte: Funcex.Elaborao dos autores.

GRFICO 5Participao no valor exportado (1990-2012)(Em %)

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 20122010

Bsicos Semimanufaturados Manufaturados

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Fonte: Funcex.Elaborao dos autores.

20 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

Entretanto, a anlise dos ndices de preo de exportao desagregados para cada classe de produto refora a noo de que esse crescimento vertiginoso foi, ao menos em parte, inflado pelo ciclo de alta nos preos internacionais de commodities. Como mostra o grfico 6, o aumento do ndice de preos de produtos bsicos a partir de 2006 foi quase trs vezes superior ao observado nos preos de manufaturados.

GRFICO 6Exportaes ndice de preos (2000-2012)

0.0

50.0

100.0

150.0

200.0

250.0

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Bsicos Semimanufaturados Manufaturados

Fonte: Funcex.Elaborao dos autores.Obs.: 2006 = 100.

Ao se observar a evoluo do quantum exportado (grfico 7), possvel perceber uma mudana visvel de tendncia aps 2008, provavelmente relacionada com o impacto diferenciado da crise sobre pases desenvolvidos e emergentes. Nesse perodo, em que quantum exportado de produtos primrios continuou a crescer, apenas reduzindo o ritmo naquele ano, no caso dos semimanufaturados e, sobretudo, dos manufaturados, o impacto foi considervel. Nestes, o ndice alcanou em 2009 um patamar prximo ao de 2003, e, apesar de ter voltado a crescer no ano seguinte, em 2011 ainda se encontrava abaixo do alcanado em 2004, e voltou a declinar no ltimo ano.

21As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

GRFICO 7Exportaes ndice de quantum (1990-2012)

Bsicos Semimanufaturados Manufaturados

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

120.0

140.0

160.0

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

Fonte: Funcex.Elaborao dos autores.Obs.: 2006 = 100.

Sendo assim, mesmo levando-se em considerao a evoluo distinta dos preos para cada classe de produtos, h indcios de que, mesmo dissipados os efeitos do perodo mais agudo da crise, suas consequncias sobre a composio da pauta de exportaes do Brasil ainda permanecem possivelmente por conta das dificuldades ainda enfrentadas pelos Estados Unidos e pela Unio Europeia, tradicionalmente os principais demandantes de produtos manufaturados brasileiros.

2.1 A poltica comercial brasileira

Membro fundador do Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio (em ingls: General Agreement on Tariffs and Trade, GATT) e da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), o Brasil tem participado do sistema multilateral de comrcio desde seu incio, e vem ganhando importncia no espao das negociaes multilaterais, especialmente no campo do acesso a mercados de bens agrcolas. De fato, o mul-tilateralismo tem assumido posio central na poltica comercial brasileira, que, em contraste, no tem obtido avanos significativos no tocante a acordos bilaterais, e, no mbito regional, encontra dificuldades em dinamizar e aprofundar o Mercosul.

Esta seo visa apresentar, de maneira bastante sucinta, algumas caractersticas da poltica comercial brasileira. Para isso, examinam-se as linhas gerais da poltica de importaes e dos incentivos s exportaes, alm de se analisarem brevemente os acordos comerciais firmados pelo pas.

22 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

2.1.1 Poltica de importaes

O Brasil um importante membro do sistema multilateral de comrcio e tem 100% de suas linhas tarifrias consolidadas. No obstante, at a segunda metade da dcada de 1980, a poltica tarifria pode ser caracterizada como um instrumento explcito de proteo ao mercado domstico, inserida em um arcabouo mais amplo de poltica econmica de orientao nacional-desenvolvimentista, erigido ao longo do processo de industrializao por substituio de importaes, e que se desintegrava na chamada dcada perdida. Neste contexto, os primeiros anos da dcada de 1990 representaram o pice de um processo de desmonte desta estru-tura protecionista, iniciado em 1987 e acelerado durante o governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) e, mais frente, pela implementao do Plano Real e a adoo da tarifa externa comum (TEC) do Mercosul.

Assim, observa-se nos primeiros anos da dcada uma abrupta reduo das tarifas aplicadas exceto no caso da mdia ponderada para produtos primrios, que j era consideravelmente baixa , seguida de uma relativa estabilidade, com reduo mais paulatina at os dias atuais, como pode ser observado na tabela 2 (Oliveira e Carneiro, 2011).

TABELA 2Evoluo recente do perfil tarifrio brasileiro (1990, 1993, 2001 e 2010)(Em %)

1990 1993 2001 2010

Tarifa aplicada, mdia simples, todos os produtos 33,5 15,73 14,8 13,44

Tarifa aplicada, mdia simples, manufaturas 34,91 16,64 15,15 14

Tarifa aplicada, mdia simples, produtos primrios 23,27 9,06 11,71 8,1

Tarifa aplicada, mdia ponderada, todos os produtos 18,95 13,02 10,42 7,64

Tarifa aplicada, mdia ponderada, manufaturas 28,7 16,62 12,42 9,83

Tarifa aplicada, mdia ponderada, produtos primrios 6,47 7,27 4,32 1,47

Fonte: World Bank, World Development Indicators.Elaborao dos autores.

Como esperado, a posio do Brasil como importante exportador de diversas commodities primrias se reflete nas mdias mais baixas para este tipo de produto, tanto simples quanto ponderadas.

Uma peculiaridade da estrutura tarifria herdada do perodo de substituio de importaes e que permanece at a atualidade a excessiva proteo a setores intermedirios da indstria brasileira, em face das caractersticas da estrutura de mercado destes produtos, tradicionalmente bastante oligopolizada e detentora de tecnologia de fronteira (Arajo Jnior e Costa, 2010). A razo desta peculiaridade reside no fato de que o critrio que norteou o estabelecimento do atual esquema

23As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

tarifrio brasileiro foi o da escalada ao longo da cadeia produtiva, de maneira que a proteo conferida a cada setor no guardou relao com a competitividade internacional de suas empresas. No caso dos intermedirios, portanto, a estrutura tarifria criada acabou por gerar uma proteo suprflua a empresas que, dadas a sua eficincia tecnolgica e a estrutura concentrada de mercado que enfrentam, no precisariam de proteo tarifria.

2.1.2 Incentivos s exportaes

O Brasil conta atualmente com uma srie de mecanismos de incentivo atividade exportadora. Tais mecanismos podem ser classificados, de maneira esquemtica, em trs categorias: programas de financiamento s exportaes, incentivos tributrios e aes de promoo de exportaes.

Um dos principais desafios para a promoo de exportaes no Brasil neu-tralizar os efeitos de sua catica estrutura tributria, que prejudica sobremaneira a competitividade dos produtos nacionais diante de seus concorrentes globais. Diante deste quadro, os incentivos fiscais exportao incluindo desde os benefcios tributrios propriamente ditos at os regimes aduaneiros especiais acabam por assumir um papel central.

A no incidncia de tributos indiretos Imposto sobre Circulao de Mer-cadorias e Prestao de Servios (ICMS), Programa de Integrao Social (PIS) e Contribuio para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre bens exportados garantida pela Constituio Federal de 1988 e por legislao com-plementar. No obstante, tais benefcios so destinados apenas ao ltimo elo da cadeia de valor, isto , exportao propriamente dita. Dessa forma, no caso de produtos com mais de uma etapa em sua produo o que obviamente o caso para produtos manufaturados, por exemplo , o produto final acaba sendo onerado por estes tributos, pois seu custo vem embutido no preo dos insumos utilizados. deste problema que advm a relevncia assumida pelo mecanismo de drawback e pelos regimes aduaneiros especiais, que permitem a aquisio de insumos impor-tados ou mesmo nacionais, no caso de algumas modalidades do drawback sem que se incorra no custo tributrio que estaria presente em uma aquisio normal.

Entre tais mecanismos, o regime de drawback o mais abrangente, em termos do nmero de empresas beneficiadas (Barral e Barreto, 2010).1 O drawback brasileiro um mecanismo mais complexo e abrangente que normalmente conhecido pelo termo que geralmente descreve um benefcio tributrio em que a firma recupera o imposto devido pela importao de algum insumo quando da exportao do

1. Em termos de valor, o drawback foi o mais relevante at 2009, quando foi suplantado pelo Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (RECOF), voltado para empresas de grande porte e que, portanto, utilizado por um nmero menor de empresas (Barral e Barreto, 2010).

24 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

produto no qual ele foi utilizado. No Brasil, alm de garantir condies mais van-tajosas para a importao de insumos para a exportao, o regime permite ainda o benefcio tributrio na aquisio de insumos no mercado interno, desde que estes entrem no processo produtivo de um bem que seja destinado exportao.

Outros importantes regimes aduaneiros especiais que tm por finalidade incentivar as exportaes so o Regime Aduaneiro de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado (RECOF) semelhante ao drawback, entretanto com mais benefcios e sujeito a um controle mais rigoroso por parte da Receita Federal e as zonas de processamento e exportao (ZPEs), que, alm de promoverem as exportaes, podem ser importantes mecanismos de dinamizao econmica de regies menos desenvolvidas.

Entre os programas de financiamento s exportaes, dois merecem especial destaque: o Programa de Financiamento s Exportaes (Proex) e o BNDES-Exim. Este ltimo uma linha de financiamento com taxas de juro subsidiadas operada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES), dispo-nvel nas modalidades pr e ps-embarque.

O Proex, por sua vez, uma linha de crdito dotada de recursos do Tesouro Nacional e operacionalizado pelo Banco do Brasil, O programa possui duas moda-lidades: financiamento e equalizao. A primeira consiste em financiamento direto ao exportador ou ao importador, com taxas de juros compatveis com as praticadas no mercado internacional (Brasil, Artigo 2o, 2001). Na segunda modalidade, a empresa interessada obtm o crdito diretamente com uma instituio financeira, e o Tesouro Nacional, por meio do Banco do Brasil, paga parte dos juros da operao diretamente ao financiador, de modo a tornar os encargos compatveis com os padres do mercado internacional (Brasil, Artigo 1o, 2001).2 Ambos so do tipo ps-embarque e podem ter como beneficirio direto tanto o exportador (suppliers credit) como o importador (buyers credit) de produtos brasileiros.

Por fim, o governo brasileiro, por meio de rgos como a Secretaria de Comrcio Exterior (Secex), do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC), e de entidades como a Agncia Brasileira de Promoo de Exportaes e Investimentos (Apex-Brasil), disponibiliza a exportadores sobretudo a potenciais exportadores uma srie de programas de informao, treinamento e facilitao da atividade exportadora.

Alguns exemplos de aes de promoo de exportaes existentes so os programas Aprendendo a Exportar e Rede Nacional de Agentes de Comrcio Exterior (Redeagentes) e o Portal Brasileiro do Comrcio Exterior, mantidos pelo

2. Essa equalizao de taxas precisa respeitar um limite estabelecido pela Resoluo no 2.799/2000 do Conselho Monetrio Nacional CMN (BCB, 2000).

25As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

Departamento de Planejamento e Desenvolvimento do Comrcio Exterior (Depla) da Secex, bem como os projetos setoriais integrados, as feiras multissetoriais e as misses comerciais, coordenados pela Apex-Brasil.

2.1.3 Acordos comerciais

O ponto de partida para os acordos comerciais dos quais o Brasil parte a Associao Latino-Americana de Integrao (Aladi). Criada em 1980 por meio do Tratado de Montevidu em substituio Associao Latino-Americana de Livre Comrcio (ALALC), conta atualmente com treze membros3 e figura como o arcabouo central da integrao comercial brasileira, em virtude de sua arquitetura flexvel, que, alm de estabelecer preferncias tarifrias entre suas partes, permite a celebrao de acordos de alcance parcial, envolvendo um subconjunto de seus membros, ou mesmo pases externos associao.

Tal flexibilidade permitiu a criao do Mercosul formalizado por meio de um desses acordos de alcance parcial, o Tratado de Assuno (1991), entre Argen-tina, Brasil, Paraguai e Uruguai , que figura atualmente como o mais importante exerccio de integrao regional do qual o Brasil participa, ainda que sujeito a percalos e crticas.4

Criado com a inteno de se tornar um mercado comum englobando os pases do cone sul,5 o Mercosul configura-se atualmente como uma unio aduaneira imperfeita, com livre comrcio intra-bloco e uma tarifa externa comum que, contudo, permite a cada pas uma lista nacional de excees, para as quais o pas tem liberdade para estabelecer sua tarifa. A TEC entrou em vigor, no Brasil, em setembro de 1994, e compreende quase 10 mil produtos.6 Atualmente, as listas nacionais podem conter no mximo cem linhas tarifrias, no caso do Brasil e da Argentina; 225, no caso do Uruguai; e 649, para o Paraguai (CMC, 2010).

Em consonncia com um dos objetivos centrais do Mercosul, expresso j no Artigo 1o do Tratado de Assuno o de se adotar uma poltica externa co-mum , quase todos os acordos comerciais bilaterais firmados pelo Brasil so, na verdade, assinados entre o Mercosul e outro pas (Mercosul, 1991). Entre os principais acordos de livre comrcio e de preferncias comerciais envolvendo o bloco destacam-se os seguintes.

3. So eles: Argentina, Bolvia, Brasil, Chile, Colmbia, Cuba, Equador, Mxico, Panam, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.4. No faz parte do objeto deste trabalho analisar criticamente a formao do Mercosul. Para isto, ver, por exemplo, Baumann (2011), ou Almeida (2001; 2011).5. Atualmente, alm dos quatro membros originais, o Mercosul conta ainda com um membro pleno em processo de adeso (a Venezuela) e cinco membros associados (Bolvia, Chile, Peru, Colmbia e Equador).6. A tarifa externa comum (TEC) tem como base a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), criada de acordo com o Sistema Harmonizado de Designao e Codificao de Mercadorias (SH) da Organizao Mundial de Alfndegas.

26 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

1) Mercosul-Israel: firmado em 2007, foi o primeiro acordo de livre comrcio reali-zado com um pas de fora da Aladi. Entrou em vigor em abril de 2010. Para Israel, o acordo prev desgravao de 8 mil produtos em um perodo de oito anos. Para o Mercosul, abrange 9.424 itens, com liberalizao prevista para at dez anos.

2) Mercosul-Egito: foi assinado em 2010, mas ainda aguarda aprovao dos Congressos Nacionais dos pases-membro. Possui cinco listas de desgravao distintas: uma para liberalizao imediata, outras para quatro, oito e dez anos, e a ltima para negociao futura do cronograma de desgravao. Conta ainda com clusula prevendo a possibilidade de entendimentos, no futuro, sobre acesso a mercados em servios e investimentos.

3) Mercosul-Chile: assinado em 1996, entrou em vigor no mesmo ano. Desde janeiro de 2006, a quase totalidade do universo tarifrio atingiu 100% de margem de preferncia. Em 2007, iniciou-se a desgravao dos produtos constantes das listas de exceo. Em 2008, as partes aprovaram um protocolo, visando incluir o comrcio de servios; tambm encontra-se em negociao a incluso de temas relativos a investimentos.

4) Mercosul-Bolvia: assinado em 1996, entrou em vigor no ano seguinte. Desde 2006, a maioria dos produtos contam com 100% de preferncia. As listas de exceo esto previstas para serem liberalizadas at 2014.

5) Mercosul-Mxico: trata-se, na verdade, de dois acordos. O primeiro, assinado em 2002, um acordo-quadro cujo objetivo final a formao de uma rea de livre comrcio. O segundo, vigente desde 2003, estabelece preferncias comerciais bilaterais para o setor automotivo (veculos e autopeas).

6) Mercosul-Peru: assinado em 2005 e em vigor desde o ano seguinte, visa criao de rea de livre comrcio, com a concluso das desgravaes previstas para 2014 (no caso de Brasil e Argentina) at 2019 (para o Peru).

7) Mercosul-Colmbia/Equador/Venezuela: em vigor desde 2005, prev ritmos e prazos de desgravao diferenciados, com concesses maiores para os pases andinos, Paraguai e Uruguai.

8) Mercosul-South African Customs Union (Sacu):7 assinado em 2008, ainda no entrou em vigor. As listas de ofertas contemplam 1.076 produtos para o Mercosul e 1.026 para a Sacu, em diversos setores: agrcola, pesqueiro, txtil e vesturio, aparelhos de tica, autopeas, plsticos e suas obras, qumicos, siderrgicos, eletroeletrnicos, mveis, bens de informtica e telecomunicaes, bens de capital e ferramentas, entre outros.

9) Mercosul-ndia: primeiro acordo de preferncias fixas estabelecido com um pas de fora do continente, assinado em 2004, entrou em vigor em 2009. As margens de preferncia previstas concentram-se nas faixas de 10% e 20%, com desgravao total para algumas linhas.

7. Inclui frica do Sul, Nambia, Botsuana, Lesoto e Suazilndia.

27As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

Atualmente, encontra-se em negociao um acordo de livre comrcio com a Unio Europeia, cujas negociaes foram iniciadas em 1999, mas estiveram suspensas entre 2004 e 2010.

3 AS RELAES COMERCIAIS DO BRASIL COM SEUS VIZINHOS

Nesta seo e na prxima, ser realizada a anlise dos fluxos de comrcio de bens entre o Brasil e os pases de seu entorno, conforme discutido na introduo deste captulo. Para tanto, foi utilizada uma base construda com dados extrados do United Nations Comtrade Database (UNComtrade), com produtos classificados a cinco dgitos na Standard International Trade Classification (SITC), reviso 3, para o perodo 2000-2010.

A tabela 3 apresenta a corrente de comrcio bilateral entre o Brasil e cada um de seus vizinhos entre 2000 e 2010, em milhares de dlares. O maior volume de comrcio se d, como se poderia esperar, com a Argentina, segunda maior economia da regio. Em segundo lugar encontra-se o Chile, com o qual o fluxo comercial superou US$ 8 bilhes em 2010. O comrcio com os demais membros do Mercosul apresentou magnitude prxima a de outros vizinhos externos ao bloco, como Bolvia, Colmbia, Peru e Venezuela.

TABELA 3Corrente de comrcio bilateral (2000-2010)(Em milhares de US$)

Argentina Bolvia Chile Colmbia Equador Guiana Peru Paraguai Suriname Uruguai Venezuela

2000 13.080.916 504.943 2.215.904 930.982 152.032 4.718 565.458 1.183.824 6.928 1.271.067 2.080.578

2001 11.216.348 590.596 2.198.772 796.343 228.761 6.264 518.542 1.021.459 9.445 1.146.322 1.842.253

2002 7.090.293 818.035 2.113.533 747.028 404.190 8.781 656.446 942.713 10.705 897.389 1.432.034

2003 9.242.378 882.858 2.708.212 850.154 375.751 9.695 726.833 1.183.501 16.415 943.660 883.384

2004 12.960.779 1.253.800 3.954.568 1.186.805 577.670 13.644 985.548 1.171.178 29.147 1.193.437 1.668.885

2005 16.171.263 1.575.027 5.369.681 1.549.942 740.354 16.616 1.397.773 1.281.657 35.908 1.346.791 2.479.311

2006 19.793.240 2.149.981 6.795.405 2.387.785 907.890 20.204 2.297.704 1.529.543 54.726 1.630.822 4.157.045

2007 24.826.943 2.451.858 7.747.094 2.765.429 692.002 20.003 2.644.604 2.082.230 55.771 2.074.642 5.069.864

2008 30.863.553 3.993.448 8.953.666 3.124.442 920.544 21.080 3.255.023 3.145.057 75.808 2.662.325 5.688.737

2009 24.066.132 2.568.983 5.272.527 2.368.932 679.636 19.473 1.973.079 2.269.343 47.568 2.600.424 4.191.958

2010 32.861.765 3.314.087 8.321.228 3.245.662 1.025.826 27.957 2.907.783 3.152.135 63.156 3.091.326 4.668.553

Fonte: United Nations Comtrade Database (UN Comtrade).Elaborao dos autores.

28 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

interessante destacar que, em termos de crescimento da corrente de comrcio no perodo, o pior desempenho foi exibido com os parceiros do Mercosul, sobre-tudo, com a Venezuela. Os pases cujo comrcio com o Brasil mais aumentou foram Equador, Bolvia e Peru alm de Guiana e Suriname, que, a despeito do notvel crescimento proporcional, ainda exibem laos comerciais muito tnues com o maior pas da regio.

Uma caracterstica que se pode destacar do padro do comrcio entre o Brasil e seus vizinhos, ilustrada no grfico 8, o fato de que o Brasil foi sistematicamente superavitrio em quase todos os casos e anos observados. As excees foram a Argentina, at 2003, e a Bolvia,8 a partir deste mesmo ano, alm do Uruguai, em trs anos (incluindo o ltimo da srie), e a Vene-zuela, apenas no primeiro.

GRFICO 8Balana comercial bilateral (2000-2010)(Em milhares de US$)

8A Argentina, Bolvia, Chile, Colmbia, Paraguai e Venezuela

-3.000.000

-2.000.000

-1.000.000

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Argentina Bolvia Chile

Colmbia Paraguai Venezuela

8. Cabe ressaltar que o comportamento sui generis da Bolvia, cujo comrcio com o Brasil apresentou forte crescimento e foi sistematicamente deficitrio do ponto de vista do Brasil, se deveu particularmente s importaes de gs natural, que dominam a pauta de importaes brasileiras provenientes daquele pas em 2010, por exemplo, representaram 95% das importaes totais e cujos preos aceleraram fortemente neste perodo.

29As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

8B Equador, Guiana, Peru, Suriname e Uruguai

-200.000

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Equador Guiana Peru

Suriname Uruguai

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Alm disso, possvel notar uma tendncia de aumento do saldo positivo com grande parte dos parceiros notadamente Argentina, Venezuela, Paraguai, Peru e Equador. No caso de Chile e Colmbia, a tendncia ascendente parece ter se invertido em meados da dcada, enquanto com o Uruguai a reverso se deu aps a ecloso da crise econmica mundial.

A prxima dimenso analisada a importncia relativa de cada vizinho no comrcio exterior brasileiro como um todo. A tabela 4 apresenta a participao de cada um dos pases no total das importaes e exportaes brasileiras de bens em 2000, 2005 e 2010.

TABELA 4Importncia relativa do comrcio bilateral (2000, 2005 e 2010)(Em %)

4A Exportaes do Brasil para os vizinhos

2000 2005 2010

Exportaes

Brasil Argentina 11,32 8,38 9,34

Brasil Bolvia 0,66 0,49 0,55

Brasil Chile 2,26 3,06 2,14

(Continua)

30 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

2000 2005 2010

Exportaes

Brasil Colmbia 0,94 1,19 1,10

Brasil Equador 0,24 0,55 0,49

Brasil Guiana 0,01 0,01 0,01

Brasil Paraguai 1,51 0,81 1,29

Brasil Peru 0,64 0,79 1,01

Brasil Suriname 0,01 0,03 0,03

Brasil Uruguai 1,21 0,72 0,77

Brasil Venezuela 1,37 1,88 1,94

Brasil Vizinhos 20,17 17,91 18,68

4B Exportaes dos vizinhos para Brasil

2000 2005 2010

Argentina Brasil 26,54 15,78 21,16

Bolvia Brasil 11,39 36,34 35,02

Chile Brasil 5,32 4,33 6,08

Colmbia Brasil 2,16 0,67 2,61

Equador Brasil 0,37 0,90 0,29

Guiana Brasil 0,05 0,11 0,12

Paraguai Brasil 38,71 19,09 14,57

Peru Brasil 3,22 2,65 2,70

Suriname Brasil 0,54 2,66 0,08

Uruguai Brasil 23,09 13,46 -

Venezuela Brasil 3,65 1,65 0,41

Vizinhos Brasil 10,04 5,93 7,71

4C Importaes do Brasil para os vizinhos

2000 2005 2010

Importaes

Brasil Argentina 12,25 8,48 7,99

Brasil Bolvia 0,25 1,34 1,24

Brasil Chile 1,73 2,37 2,27

Brasil Colmbia 0,74 0,19 0,60

Brasil Equador 0,03 0,12 0,03

Brasil Guiana 0,00 0,00 0,00

Brasil Paraguai 0,63 0,43 0,34

Brasil Peru 0,38 0,62 0,50

Brasil Suriname 0,00 0,00 0,00

Brasil Uruguai 1,08 0,67 0,87

Brasil Venezuela 2,38 0,35 0,46

Brasil Vizinhos 19,48 14,58 14,31

(Continuao)

31As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

4D Importaes dos vizinhos para o Brasil

2000 2005 2010

Argentina Brasil 25,63 37,04 31,25

Bolvia Brasil 14,42 21,92 18,59

Chile Brasil 8,00 11,53 8,29

Colmbia Brasil 4,33 6,52 5,82

Equador Brasil 3,96 7,13 4,15

Guiana Brasil 0,91 1,64 1,45

Paraguai Brasil 23,79 27,19 24,09

Peru Brasil 5,09 8,23 7,29

Suriname Brasil 1,68 4,53 3,94

Uruguai Brasil 19,23 21,26 -

Venezuela Brasil 4,99 9,10 9,83

Vizinhos Brasil 12,58 15,79 13,52

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Da tabela 4 possvel depreender a importncia dos vizinhos para as exporta-es brasileiras, absorvendo-se cerca de 20% do total especialmente a Argentina, com aproximadamente 10% das vendas externas totais. Entre os demais vizinhos, apenas os parceiros do Mercosul (Uruguai e Paraguai), Colmbia, Venezuela e Chile superaram 1% de participao.

Quanto s importaes brasileiras, apesar de, no incio do perodo, a impor-tncia dos vizinhos equivaler das exportaes, a tendncia de reduo, atingindo pouco mais de 14% em 2010. Novamente, a Argentina representa pouco mais da metade desta participao, apresentando a mesma trajetria descendente.

Do ponto de vista dos vizinhos, a participao do Brasil como destino das exportaes do conjunto desses pases oscilou entre 5% e 10%. Analisando-se cada pas individualmente, pode-se notar que o Brasil absorveu parte significativa das exportaes dos parceiros do Mercosul e da Bolvia, ainda que com significativa reduo recente no caso de Paraguai e Uruguai, o que novamente ilustra a impor-tncia do pas para a economia da regio.

J no que se refere s importaes dos vizinhos, a participao do Brasil supera a observada para as exportaes em quase todos os casos, e oscilou entre 13% e 16% para o conjunto dos pases. Tambm em quase todos os casos, exceto na Venezuela, a trajetria peculiar, com um aumento na primeira metade da dcada e uma reduo na segunda sem, contudo, retornar aos valores iniciais. Novamente, o Brasil se destaca nas importaes de pases do Mercosul e da Bolvia e, em menor medida, do Chile e da Venezuela.

32 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

Outro indicador usado para mensurar a importncia de um determinado par-ceiro para o comrcio exterior de um pas o ndice de intensidade de comrcio. Ele permite verificar se o fluxo bilateral de comrcio entre dois pases maior do que entre um desses pases e o resto do mundo. Formalmente, para dois pases, i e j, tem-se:

(1)

em que xij representa as exportaes do pas i para o pas j; Xi, as exportaes totais do pas i; xwj, as exportaes do mundo para o pas j; e Xw, as exportaes mundiais totais. Assim, um ndice superior unidade indica que a participao do pas j nas exportaes do pas i so proporcionalmente maiores que as exportaes mundiais para aquele pas, o que denota uma intensidade comparativamente maior entre i e j, vis--vis o resto do mundo. A tabela 5 apresenta os ndices entre o Brasil e os vizinhos como um todo; no anexo A, tabela A.1 expe os resultados detalhados por pas.

TABELA 5ndice de intensidade do comrcio (2000, 2005 e 2010)

5A Exportaes

2000 2005 2010

Exportaes

Brasil Vizinhos 15,18 14,62 10,71

Vizinhos Brasil 11,32 8,30 6,21

5B Importaes

2000 2005 2010

Importaes

Brasil Vizinhos 11,27 7,55 6,76

Vizinhos Brasil 13,55 12,85 9,56

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Os ndices calculados sugerem uma intensidade relativamente alta, porm decrescente ao longo da dcada. Alm disso, observa-se maior intensidade no caso das exportaes brasileiras e das importaes dos vizinhos, em decorrncia da importncia do Brasil para a regio. No caso das exportaes dos vizinhos, e das importaes brasileiras, alm da menor magnitude, verifica-se uma reduo mais acentuada do indicador, caindo quase metade ao final do perodo, corroborando a reduo da importncia relativa dos vizinhos como destino dos produtos brasilei-ros cuja origem pode estar relacionada ao efeito do comrcio destes pases com a China, diante da ascenso desta como grande absorvedora de commodities primrias.

33As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

Novamente, como seria de se esperar, pode-se verificar que o comrcio brasileiro particularmente intenso com os parceiros do Mercosul e com a Bolvia. A tendncia decrescente tambm observada em quase todos os casos, exceto no que se refere s importaes, por vizinho, de produtos brasileiros. Com relao a estas, a trajetria similar da participao no comrcio total, com aumento na primeira metade da dcada e reduo na segunda metade para todos os pases, afora Paraguai e Uruguai.

Outro aspecto importante na anlise das relaes comerciais do Brasil e seus vizinhos o grau de diversificao ou concentrao da pauta comercial. Nesse sentido, em primeiro lugar, buscou-se avaliar a concentrao das exportaes totais de cada um dos pases envolvidos, por meio do ndice de concentrao das exportaes, que mede a concentrao setorial da pauta em comparao com o padro de comrcio mundial, da seguinte forma:

(2)

Em que xij denota a participao do produto i nas exportaes do pas j e xi expressa a participao do produto i no total das exportaes mundiais. Quanto mais prximo de zero, mais a diversificao das exportaes do pas j se assemelha mun-dial, de modo que quanto maior o ndice, mais concentrada a pauta exportadora.

Como apresentado na tabela 6, o Brasil, sendo a economia mais diversificada da regio, apresentou o menor ndice durante todo o perodo. Esse ndice apresentou-se aumentado ao final do perodo, indicando uma concentrao relativa da pauta e aproximando-se do nvel alcanado pela Argentina, segunda mais diversificada da regio. Quase todos os pases da regio apresentaram grau de concentrao bastante alto, com ndice acima de 0,5, com destaque para a Venezuela, detentora da pauta mais concentrada em 2010, e superada em 2000 e 2005 apenas pelo Suriname.

TABELA 6ndice de concentrao das exportaes (2000, 2005 e 2010)

2000 2005 2010

Brasil 0,32 0,32 0,41

Argentina 0,43 0,43 0,42

Bolvia 0,44 0,61 0,60

Chile 0,62 0,64 0,64

Colmbia 0,47 0,40 0,49

Equador 0,49 0,69 0,66

Guiana 0,35 0,70 0,59

Paraguai 0,71 0,75 0,69

Peru 0,48 0,53 0,53

Suriname 0,82 0,83 0,76

Uruguai 0,50 0,54 -

(Continua)

34 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

2000 2005 2010

Venezuela 0,74 0,75 0,77

Vizinhos 0,50 0,50 0,46

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Em segundo lugar, para medir a concentrao dos fluxos bilaterais entre o Brasil e seus vizinhos, foi adotado como indicador a participao dos dez principais produtos (classificados a cinco dgitos) no valor total de cada pauta bilateral de comrcio. Quanto mais elevada esta participao, maior o peso de um pequeno nmero de produtos no total transacionado, indicando uma pauta bilateral mais concentrada. A tabela 7 apresenta os ndices entre o Brasil e os vizinhos como um todo, enquanto a tabela A.2 traz os resultados detalhados por pas.

TABELA 7Participao dos dez principais produtos (a cinco dgitos) no valor total de cada fluxo de comrcio bilateral (2000, 2005 e 2010)(Em %)

7A Exportaes

2000 2005 2010

Exportaes

Brasil Vizinhos 23,50 29,81 24,21

Vizinhos Brasil 33,65 34,55 43,94

7B Importaes

2000 2005 2010

Importaes

Brasil Vizinhos 33,69 34,51 42,52

Vizinhos Brasil 23,47 30,63 24,99

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

A tabela 7 indica que as exportaes brasileiras para os vizinhos (e, em con-trapartida, as importaes de produtos brasileiros pelos vizinhos) se concentraram entre 2000 e 2005 e depois voltaram a um patamar de diversificao prximo ao inicial, com os dez principais produtos respondendo por quase um quarto do valor total. Mais uma vez, excetuando-se os pequenos vizinhos caribenhos Guiana e Suriname, as exportaes para a Venezuela apresentam a pauta mais concentrada, chegando a mais de 55% de participao dos dez primeiros produtos em 2010.

J as exportaes dos vizinhos para o Brasil, e as importaes do Brasil advin-das dos vizinhos, apresentaram concentrao ainda maior e crescente durante

(Continuao)

35As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

todo o perodo. Neste caso, a participao dos dez principais produtos saltou de cerca de um tero para mais de 40% da pauta. Bolvia, Equador, Peru e Venezuela apresentam as maiores concentraes, superando 80% em 2010 (alm de Guiana e Suriname, cujas pautas no superaram dez produtos).

Em seguida, cabe avaliar quais setores foram os principais responsveis pela concentrao observada no perodo nas exportaes de cada pas. Para isso, pode-se utilizar o chamado ndice de entropia relativa, que avalia o peso relativo de cada observao em um conjunto de dados no caso, o peso relativo de cada produto (captulo SITC) na pauta comercial. Quanto mais diversificada a pauta, menos dependente ela ser de um nmero reduzido de produtos, e mais homognea a distribuio; portanto, maior ser a contribuio de cada observao e mais elevado o ndice agregado. Formalmente, o ndice dado por:

Sendo:

(3)

(3.1)

(3.2)

Em que aij denota a proporo das exportaes do produto i pelo Brasil (ou cada um dos vizinhos) ao pas j (no caso dos vizinhos, ao Brasil).

A tabela 8 apresenta os resultados para o Brasil e os vizinhos; os resultados por pas encontram-se no Anexo A. Em consonncia com o que sugere o ndice de concentrao, pode-se perceber que os ndices de entropia para o Brasil foram em geral mais elevados que os dos demais pases nos dois primeiros perodos; no ltimo, os indicadores brasileiros sofreram reduo em quase todos os captulos, sendo inferiores aos dos vizinhos em sete deles.

TABELA 8ndice de entropia relativa8A 2000

2000 Captulo Brasil Vizinhos

0 6,084 5,822

1 1,183 0,516

2 1,957 2,643

3 0,115 1,217

(Continua)

36 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

2000 Captulo Brasil Vizinhos

4 0,482 0,812

5 1,453 2,278

6 5,787 4,256

7 4,131 1,523

8 1,517 1,055

9 0,312 0,391

8B 2005

2005 Captulo Brasil Vizinhos

0 6,979 6,019

1 0,940 0,981

2 1,753 1,829

3 0,320 0,693

4 0,328 0,911

5 1,437 1,368

6 4,364 3,252

7 4,655 2,055

8 1,658 1,199

9 0,187 0,204

8B 2010

2010 Captulo Brasil Vizinhos

0 4,933 5,927

1 1,044 0,947

2 1,886 2,151

3 0,314 1,134

4 0,287 0,932

5 1,248 1,793

6 2,308 2,913

7 3,763 1,863

8 1,486 0,976

9 0,057 0,191

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

No caso do Brasil, o ndice de entropia indica que os setores responsveis pela concentrao das exportaes entre o segundo e o ltimo perodo foram aqueles classificados no captulo 0 (alimentos e animais vivos), 4 (leos vegetais e animais), 6 (manufaturas classificadas por material) e 7 (mquinas e materiais de transporte).

(Continuao)

37As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

Analisando-se os ndices de entropia relativa por categoria de intensidade tecnolgica,9 conforme tabela 9, pode-se notar que a concentrao observada na pauta de exportaes do Brasil para os vizinhos se deveu principalmente aos produtos primrios e s manufaturas de baixa e mdia tecnologia. No caso das exportaes dos vizinhos para o Brasil, por sua vez, observa-se reduo do ndice no ltimo perodo nas manufaturas intensivas em recursos e de baixa tecnologia, enquanto nas demais categorias a distribuio tornou-se mais homognea.

TABELA 9ndice de entropia relativa por intensidade tecnolgica (2000, 2005 e 2010)

2000 2005 2010

Brasil

Alta tecnologia 1,439 1,480 1,468

Mdia tecnologia 4,655 5,242 3,380

Baixa tecnologia 3,331 3,174 2,594

Manufaturas intensivas em recursos 5,103 5,960 6,049

Produtos primrios 4,020 6,564 5,927

Vizinhos

Alta tecnologia 0,725 0,772 0,941

Mdia tecnologia 2,784 2,375 2,812

Baixa tecnologia 2,034 2,127 1,462

Manufaturas intensivas em recursos - 6,866 5,326

Produtos primrios 8,634 6,574 11,512

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Uma possvel explicao para tais resultados o aproveitamento de vanta-gens comparativas. Escapa ao objeto deste trabalho analisar se tal fato se verifica; contudo, possvel examinar a distribuio setorial das vantagens comparativas, por meio do ndice de vantagens comparativas reveladas (IVCR). Desenvolvido inicialmente por Balassa (1965), o ndice se baseia na ideia de que se um pas tem vantagem comparativa em um determinado produto, ir exportar este produto proporcionalmente mais que o resto do mundo. Assim, se um produto i tem uma participao nas exportaes do pas j que maior que a participao deste pro-duto no comrcio mundial total, este fato revela que o pas j possui vantagem comparativa na produo do bem i. Formalmente, tem-se:

em que: (4)

a) = exportaes do produto i pelo pas j;

b) = total das exportaes do pas j;

9. Conforme classificao proposta por Lall (2000).

38 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

c) = exportaes do produto i pelo mundo; e

d) = total das exportaes do mundo.

Se o ndice for maior que a unidade, significa que a participao do bem i nas exportaes do pas j superior sua participao nas exportaes mundiais totais, de maneira que j tem vantagem comparativa revelada em i. Inversamente, se VCR

39As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

10C 2010

2010 Captulo Brasil Vizinhos

0 3,988 2,776

1 1,836 1,232

2 6,455 3,727

3 0,749 2,550

4 1,500 3,504

5 0,550 0,395

6 0,902 1,147

7 0,481 0,142

8 0,218 0,162

9 0,178 0,924

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Da tabela 10 pode-se depreender que tanto o Brasil quanto o conjunto dos vizinhos possui vantagem comparativa em alimentos e animais vivos (captulo 0), bebidas e tabaco (captulo 1), materiais crus (captulo 2), leos vegetais e animais (captulo 4), e manufaturas classificadas por material (captulo 6), ainda que o Brasil tenha perdido terreno nesta ltima categoria. O captulo 6, ademais, parece ter sido a notvel exceo relativa estabilidade na distribuio das vantagens comparativas. Tanto para o Brasil quanto para os vizinhos, na maior parte dos produtos, aqueles que apresentaram vantagem comparativa revelada o fizeram em 2000, 2005 e 2010, e em geral com magnitudes semelhantes nos trs anos. O conjunto dos vizinhos tambm apresentou vantagem comparativa revelada em combustveis minerais, lubrificantes e semelhantes (captulo 3) resultado da intensa vantagem comparativa revelada nestes produtos pela Venezuela e, em menor medida, pela Bolvia.

Quando tal resultado contrastado com o padro setorial do comrcio regional, apresentado na tabela 11, possvel constatar uma caracterstica interessante das relaes comerciais entre o Brasil e seus vizinhos: a relativa dissociao entre o desempenho comercial e a distribuio das vantagens comparativas reveladas.

40 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

TABELA 11Padro setorial do comrcio regional (2000, 2005 e 2010)(Em %)

11A Exportaes do Brasil para os vizinhos

Cap[itulo 2000 2005 2010

0 7,55 5,18 9,86

1 1,04 0,27 0,48

2 4,04 3,70 4,12

3 0,90 4,46 6,90

4 0,23 0,18 0,30

5 13,84 13,50 13,24

6 23,61 19,38 16,83

7 40,39 48,57 43,87

8 8,24 4,69 4,39

9 0,16 0,07 0,00

11B Exportaes dos vizinhos para o Brasil

Captulo 2000 2005 2010

0 21,84 17,91 18,19

1 0,28 0,52 0,58

2 6,93 10,31 6,54

3 28,85 20,29 17,86

4 1,01 0,40 0,52

5 9,20 16,09 10,44

6 10,97 16,33 15,77

7 18,53 15,76 27,92

8 2,38 2,38 2,19

9 0,00 0,00 0,00

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

O captulo 2, no qual o Brasil apresentou o maior ndice de vantagem com-parativa revelada, respondeu por cerca de 4% das exportaes para os vizinhos nos trs anos examinados, enquanto o captulo 4, cujo IVCR sugere relativa compe-titividade brasileira, teve participao marginal. A maior parte (mais de 40% nos trs anos) das exportaes do Brasil para a regio consiste em produtos classificados no captulo 7, no qual o pas no apresentou vantagem comparativa revelada em nenhum dos anos observados.

No caso dos produtos exportados dos vizinhos para o Brasil, a disparidade menor, mas ainda existe. O captulo 7, no qual os vizinhos no revelaram vantagem

41As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

comparativa, teve participao relativamente alta. Dos outros trs captulos com participao acima de 10% em todos os perodos, dois apresentaram IVCR relativa-mente alto (os captulos 0 e 3), um obteve ndice prximo unidade (o captulo 6) e o restante (captulo 5) no demonstrou vantagem comparativa. Por outro lado, os captulos 2 e 4, nos quais os vizinhos obtiveram IVCR mais elevado, apresen-taram participao bastante baixa nas exportaes para o Brasil especialmente este ltimo, que no alcanou 1%.

Essa dissociao entre a distribuio das vantagens comparativas e a distribui-o setorial sugere que a composio do comrcio intrarregional razoavelmente distinta daquela da totalidade do comrcio exterior brasileiro. Ainda que o objetivo aqui seja analisar as relaes comerciais do Brasil com os vizinhos, vale contrastar os dados da tabela 11 com os da tabela 12, que apresenta a distribuio, por captulo da SITC, do total das exportaes e importaes brasileiras.

TABELA 12Exportaes e importaes brasileiras por captulo da SITC (2000, 2005 e 2010)(Em %)

12A Exportaes do Brasil

Captulo 2000 2005 2010

0 16,75 18,37 22,90

1 1,65 1,50 1,45

2 15,72 16,21 26,67

3 1,65 5,99 10,05

4 0,86 1,26 0,83

5 6,47 6,16 6,20

6 20,04 18,36 11,83

7 27,97 25,78 16,78

8 6,27 4,14 2,38

9 2,63 2,23 0,92

12B Importaes do Brasil

Captulo 2000 2005 2010

0 5,64 3,67 3,91

1 0,28 0,27 0,28

2 3,29 3,27 2,49

3 14,84 18,29 16,60

4 0,39 0,31 0,41

5 17,90 19,90 17,91

6 9,95 10,33 12,67

(Continua)

42 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

Captulo 2000 2005 2010

7 41,84 37,85 39,33

8 5,87 6,11 6,40

9 0,00 0,00 0,00

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Como seria esperado, a participao dos captulos 0 (alimentos e animais vivos) e 2 (materiais crus), nos quais o Brasil possui elevada vantagem compa-rativa revelada, consideravelmente maior nas exportaes para o mundo que nas vendas regionais os dois captulos juntos representaram praticamente a metade das exportaes totais brasileiras em 2010. Entretanto, considerando-se a totalidade das importaes, a participao do captulo 7 (maquinrio e equipa-mentos de transporte) bastante superior se levadas em conta apenas as compras originrias dos vizinhos.10

Em suma, tem-se um quadro em que o padro setorial do comrcio regional difere sensivelmente daquele observado na totalidade do comrcio exterior brasileiro. O arqutipo assumido pelo Brasil no comrcio mundial, de fornecedor de alimentos e commodities primrias e comprador de produtos manufaturados, d lugar, ao se considerar apenas o comrcio com os vizinhos, a um comportamento bastante diverso, em que predominam as exportaes de mquinas e outras manufaturas e as importaes de produtos primrios e de menor valor agregado.

O fato de que a maioria dos pases da regio possui vantagens comparativas nos mesmos tipos de produto sugere, ainda, a possibilidade de um intenso comrcio intrassetorial. Uma forma de examinar tal dimenso por meio do ndice de Grubel-Lloyd, que mede a proporo de comrcio intrassetorial em cada fluxo comercial bilateral. O ndice dado pela seguinte frmula:

(5)

Em que representa as exportaes de produtos do setor i do pas j para o pas k e denota as importaes de produtos do setor i do pas j provenientes do pas k. O ndice varia entre 0 e 1, e quanto maior o ndice, maior a participao de transaes intrassetoriais no total.

10. Cabe notar que o baixo ndice de vantagens comparativas reveladas (IVCR) obtido pelo Brasil no captulo 7, em contraste com sua participao razoavelmente elevada nas exportaes brasileiras, decorre da alta participao dos produtos classificados neste captulo no valor total do comrcio mundial. Situao semelhante ocorre no captulo 4, em que a aparente contradio entre vantagem comparativa revelada e baixa participao no valor exportado decorre da nfima parcela do comrcio mundial que este captulo representa.

(Continuao)

43As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

TABELA 13ndice de Grubel-Lloyd de comrcio intrassetorial (2000, 2005 e 2010)13A Comrcio intrassetorial do Brasil com os vizinhos

2000 2005 2010

Brasil Argentina 0,37 0,41 0,42

Brasil Bolvia 0,16 0,08 0,15

Brasil Chile 0,06 0,07 0,06

Brasil Colmbia 0,25 0,12 0,17

Brasil Equador 0,32 0,18 0,12

Brasil Guiana 0,00 0,71 -

Brasil Paraguai 0,14 0,16 0,13

Brasil Peru 0,19 0,14 0,03

Brasil Suriname - - -

Brasil Uruguai 0,18 0,22 0,18

Brasil Venezuela 0,21 0,11 0,10

Brasil Vizinhos 0,34 0,30 0,33

13B Comrcio intrassetorial dos vizinhos com o Brasil

2000 2005 2010

Argentina Brasil 0,36 0,39 0,41

Bolvia Brasil 0,16 0,07 0,14

Chile Brasil 0,10 0,06 0,06

Colmbia Brasil 0,24 0,07 0,15

Equador Brasil 0,26 0,15 0,08

Guiana Brasil 0,15 0,06 0,22

Paraguai Brasil 0,15 0,08 0,07

Peru Brasil 0,07 0,08 0,05

Suriname Brasil 0,32 0,13 0,10

Uruguai Brasil 0,22 0,21 -

Venezuela Brasil 0,31 0,06 0,12

Vizinhos Brasil 0,35 0,29 0,31

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

A tabela 13 demonstra que apenas no caso da Argentina h uma participao considervel de transaes intrassetoriais, que representam em torno de 40% do comrcio total bilateral. Por conseguinte, as transaes com o Chile apresentam o menor componente intrassetorial, assim como o Peru ao final do perodo. Alm disso, exceto pela Argentina, no possvel discernir nenhuma tendncia de aumento das transaes intrassetoriais entre o Brasil e seus vizinhos.

44 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

Finalmente, pode-se examinar a composio do comrcio no que se refere ao grau de sofisticao tecnolgica. Para tanto, utilizou-se a classificao proposta por Lall (2000), que divide os produtos em cinco categorias: produtos primrios; manufaturas intensivas em recursos naturais; baixa tecnologia; mdia tecnologia; e alta tecnologia. Os resultados esto expostos nas tabelas A.5 e A.6.

Para a quase totalidade dos vizinhos, a maior parte das exportaes brasileiras de produtos de mdia intensidade tecnolgica, seguidos de produtos de baixa tecnologia e manufaturas intensivas em recursos naturais em segundo e terceiro lugares, a depender do caso. Este resultado contrasta com as exportaes para o resto do mundo, em que a participao de manufaturas intensivas em recursos e de produtos primrios foram as maiores, e aumentaram entre 2000 e 2010, alcanando em conjunto quase 80% das vendas brasileiras para pases de fora da Amrica do Sul.

No que se refere s importaes brasileiras, o quadro mais variado. Con-tudo, exceto no caso da Argentina cujas vendas para o Brasil se concentram na categoria de mdia tecnologia , as importaes advindas de quase todos os pases so compostas de produtos primrios e manufaturas intensivas em recursos, com a principal categoria variando caso a caso, da quase totalidade de primrios (caso da Bolvia) at a maior participao de manufaturas intensivas em recursos (Equador).

Novamente, o contraste do comrcio brasileiro com o resto do mundo interessante. Como demonstram as duas ltimas linhas das tabelas A.5 e A.6, em lugar dos produtos de mdia tecnologia, a maior parte das exportaes brasileiras para fora da Amrica do Sul pode ser classificada como produtos primrios ou manufaturas intensivas em recursos. Alm disso, a participao destas duas cate-gorias aumentou sensivelmente entre 2000 e 2010, alcanando, juntas, quase 80% das exportaes extrarregionais brasileiras.

Por seu turno, ao contrrio do ocorrido no comrcio com os vizinhos, as importaes brasileiras advindas do restante do mundo se concentram em produtos de mdia e alta tecnologia. Ainda que a participao desta ltima categoria tenha declinado ao longo do perodo, as duas juntas representaram 60% das importaes brasileiras de outros pases que no os vizinhos em 2010.

Esse quadro corrobora a impresso, j aventada, de que o padro do comrcio brasileiro com os vizinhos difere sensivelmente do padro das transaes com o resto do mundo. Enquanto na regio o Brasil figura como fornecedor, sobretudo, de manufaturas de mdia tecnologia (ainda que a participao das manufaturas intensivas em recursos no possa ser desprezada na maioria dos casos) e comprador de produtos primrios e intensivos em recursos naturais, a relao com o resto do mundo pode ser caracterizada como a de fornecedor destes dois tipos de produtos e comprador de manufaturas de mdia e alta tecnologia.

45As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

4 O COMRCIO DO BRASIL COM O ENTORNO EM BENS DE PRODUO E BENS FINAIS

Com o objetivo de lanar luz adicional sobre o grau de integrao produtiva entre o Brasil e os pases em sua vizinhana, esta seo analisa novamente os fluxos comer-ciais, mas desta vez dividindo-os em bens relacionados com o processo produtivo e os produtos destinados ao consumo final.

Para isso, os bens classificados a cinco dgitos da classificao SITC (terceira reviso) foram separados com base em uma listagem ad hoc que identifica 1.919 bens de produo entre bens de capital, partes, peas, componentes e matrias--primas. Os demais produtos so considerados bens de consumo final.

A tabela 14 apresenta a participao dos vizinhos no comrcio brasileiro dos dois tipos de bens e vice-versa (no anexo A se exibem os resultados detalhados por pas). Pode-se notar que a importncia dos vizinhos como destino das exportaes brasileiras relativamente maior no caso dos bens de produo que nos destinados ao consumo final. Isto se verifica para praticamente todos os pases, e tambm ocorre nas exportaes dos vizinhos para o Brasil e nas importaes dos vizinhos oriundas do Brasil a notvel exceo se d nas exportaes da Venezuela para o Brasil, para as quais a participao brasileira maior nos bens de consumo final que nos relacionados ao processo produtivo.

J no caso das importaes brasileiras de produtos dos pases vizinhos a dinmica inversa. Quase todos os vizinhos parecem ter importncia relativa para as importaes nacionais maior em bens finais comparativamente aos bens de produo.

Cabe ainda ressaltar uma dinmica peculiar observada no comrcio de bens de produo com os parceiros do Mercosul. Se, por um lado, do ponto de vista de Argentina, Paraguai e Uruguai, o Brasil bastante importante tanto como origem de importaes quanto como destino de exportaes deste tipo de produto, com participaes entre 20% e 40%, do ponto de vista do Brasil o mesmo no ocorre. Paraguai e Uruguai tm participao bastante baixa nas exportaes e, sobretudo, nas importaes brasileiras de bens de produo. Mesmo a Argentina, que tem importncia relativamente alta como destino das exportaes brasileiras, alcanando quase 20% em 2010, do lado das importa-es a participao bem menor e decrescente, mal superando os 5% em 2010. Isto parece ser motivo de preocupao quanto s potencialidades da integrao produtiva regional, sobretudo, quando contrastado com a experincia asitica, em que os pases menores so importantes fornecedores de bens de produo para os mais pujantes (Baumann, 2011).

46 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

TABELA 14Importncia relativa (2000, 2005 e 2010)(Em %)

2000 2005 2010 2000 2005 2010

Exportaes Importaes

Bens de produo

Brasil Vizinhos 29,67 28,16 38,03 Brasil Vizinhos 9,66 9,53 9,29

Vizinhos Brasil 18,30 12,69 16,37 Vizinhos Brasil 14,97 20,38 16,46

Bens finais

Brasil Vizinhos 13,73 8,37 9,99 Brasil Vizinhos 26,18 20,47 19,25

Vizinhos Brasil 6,90 3,94 4,61 Vizinhos Brasil 15,23 15,42 14,58

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

No que se refere concentrao das pautas bilaterais, a tabela 15, que exibe a participao dos dez principais produtos no valor total transacionado (os resultados por pas encontram-se no anexo A), demonstra que o comrcio regional de bens de produo razoavelmente menos diversificado que o de bens finais, especialmente nas exportaes brasileiras para os vizinhos (e nas importaes dos vizinhos de produtos brasileiros). As exportaes dos vizinhos para o Brasil, contudo, apresentam concentrao bastante elevada nos dois tipos de bem para quase todos os pases, exceto a Argentina.

TABELA 15Grau de concentrao dos fluxos comerciais dez principais produtos (2000, 2005 e 2010)(Em %)

2000 2005 2010 2000 2005 2010

Exportaes Importaes

Bens de produo

Brasil Vizinhos 25,34 35,87 25,60 Brasil Vizinhos 41,28 41,74 51,79

Vizinhos Brasil 41,37 41,63 54,49 Vizinhos Brasil 27,45 35,37 24,56

Bens finais

Brasil Vizinhos 17,77 19,27 Brasil Vizinhos 18,39 17,08 22,27

Vizinhos Brasil 18,06 17,06 15,71 Vizinhos Brasil 10,70 6,57 26,66

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Mais uma vez, a alta concentrao no comrcio bilateral nos leva anlise das vantagens comparativas em cada um dos dois tipos de bem. Utilizou-se o mesmo ndice da seo anterior; os resultados encontram-se detalhados na tabela 16.

47As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

TABELA 16ndice de vantagem comparativa revelada (2000, 2005 e 2010)16A Bens de produo

Bens de produo

2000 2005 2010

Brasil 0,82 0,84 0,72

Argentina 0,59 0,57 0,53

Bolvia 0,39 0,34 0,39

Chile 0,76 0,82 0,98

Colmbia 0,47 0,47 0,42

Equador 0,21 0,24 0,31

Guiana 0,10 0,11 0,07

Paraguai 0,37 0,27 0,19

Peru 0,50 0,46 0,41

Suriname 0,87 0,26 0,58

Uruguai 0,48 0,39 -

Venezuela 1,09 1,17 1,27

16B Bens finais

Bens finais

2000 2005 2010

Brasil 1,46 1,37 1,57

Argentina 2,05 2,03 1,96

Bolvia 2,56 2,56 2,25

Chile 1,62 1,43 1,04

Colmbia 2,36 2,27 2,19

Equador 3,03 2,81 2,42

Guiana 3,30 3,12 2,90

Paraguai 2,62 2,75 2,66

Peru 2,28 2,28 2,20

Suriname 1,32 2,76 1,86

Uruguai 2,32 2,46 -

Venezuela 0,78 0,61 0,45

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

A tabela sugere que tanto o Brasil quanto a maior parte dos vizinhos so compe-titivos nos bens finais e no competitivos nos bens de produo. Apenas a Venezuela tem comportamento distinto, com vantagem comparativa revelada nos bens de

48 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

produo e no nos de consumo final; a razo para isto o fato de que o petrleo, preponderante nas exportaes deste pas, considerado um bem de produo.

Resta avaliar o peso relativo do comrcio intrassetorial em cada tipo de bem. Para isso, a tabela 17 expe o ndice de Grubel-Lloyd para as duas categorias. Os resultados por pas encontram-se no anexo A.

TABELA 17ndice de Grubel-Lloyd de comrcio intrassetorial (2000, 2005 e 2010)17A Bens de produo

Bens de produo

2000 2005 2010 2000 2005 2010

Brasil Vizinhos 0,37 0,30 0,37 Vizinhos Brasil 0,38 0,30 0,35

17B Bens finais

Bens finais

2000 2005 2010 2000 2005 2010

Brasil Vizinhos 0,22 0,29 0,21 Vizinhos Brasil 0,23 0,25 0,18

Fonte: UN Comtrade.Elaborao dos autores.

Outra vez, apenas no caso da Argentina (e, em menor medida, do Uruguai) o comrcio intrassetorial assume proporo considervel. Como de se esperar, a participao maior nos bens de produo que nos bens finais. O mesmo no ocorre nos casos de Bolvia, Chile, Colmbia e Equador, em que o comrcio intrassetorial aparenta ser mais relevante para produtos de consumo final que para bens de capital.

5 POLTICA TARIFRIA DO BRASIL PARA SEUS VIZINHOS

O debate sobre os acordos comerciais dos quais o Brasil participa coloca a caracterstica mais visvel da poltica comercial do pas frente sua vizinhana: no s tm-se acordos comerciais sejam de livre comrcio, sejam de preferncias tarifrias firmados com todos os vizinhos (exceto Guiana e Suriname), como estes constituem a quase totalidade dos acordos dos quais o Brasil participa.

Tal fato se reflete nas margens de preferncia tarifria concedidas pelo Brasil a seus vizinhos.11 Como ilustra a tabela 18, alm do fato de que o Brasil concede preferncia mxima aos vizinhos do Mercosul, notvel a ampliao das margens para os demais vizinhos entre 2005 e 2010, com mdias simples superando 90%.12

11. A metodologia aqui empregada segue Baumann e Ceratti (2012).12. H que se considerar que a utilizao de mdias simples opo forada por limitao da base de dados disponvel provavelmente enviesa a real magnitude das preferncias concedidas. Neste sentido, mais correto considerar este exerccio como uma medida da sinalizao quanto liberalizao comercial regional, e no uma real medida desta liberalizao.

49As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

No obstante, em quase todos os casos (com exceo do Peru), houve reduo do nmero de setores abrangidos pelas margens de preferncia.

TABELA 18Margens de preferncia concedidas aos vizinhos (2005 e 2010)

2005 2010

Nmero de setores Margem mdia (%) Nmero de setores Margem mdia (%)

Argentina 95 100 90 100

Bolvia 44 64 39 100

Chile 82 26 80 100

Colmbia 59 51 52 95

Equador 38 66 33 98

Paraguai 53 100 46 100

Peru 57 51 71 92

Uruguai 79 100 69 100

Venezuela 40 52 27 97

Fonte: WITS.Elaborao dos autores.

interessante verificar a distribuio setorial das margens de preferncia concedidas a cada um dos vizinhos. Uma primeira aproximao pode ser alcanada agregando-se os setores (97 no total) nas 21 sees do Sistema Harmonizado. Os dados encontram-se no anexo A.

No caso da Argentina, como sugere o elevado nmero de setores envolvidos, as preferncias distribuem-se por todas as sees. Alm disso, apenas no caso das sees 5 (produtos minerais), 11 (txteis), 15 (metais e suas obras) e 17 (material de transporte) h setores em que no h nenhuma margem; nas demais, as prefe-rncias esto distribudas em todos os setores.

As tarifas para Uruguai e Chile apresentam padres semelhantes: as vantagens tarifrias tambm se estendem por todas as sees, exceto a 19 (armas e munies) para o primeiro, e a 21 (objetos de arte, colees e antiguidades) para o segundo. No entanto, nem todas as sees apresentam preferncias em todos os setores, apenas a 8, no caso do Uruguai, e a 11, no caso do Chile. Deve-se ressaltar ainda o grande avano nas margens preferenciais: enquanto as mdias se situavam em geral abaixo dos 30% em 2005, em 2010 vinte sees apresentaram preferncia mxima, e o restante alcanou uma mdia de 98%.

No que se refere aos demais vizinhos, apesar de as preferncias mdias tambm se revelarem regularmente elevadas, a abrangncia ao longo dos setores no to homognea. Por exemplo, o Paraguai, como parceiro no Mercosul, recebe desgra-vao mxima. Contudo, este benefcio no alcana todos os setores, nem mesmo

50 Os BRICS e seus Vizinhos: comrcio e acordos regionais

todas as sees; em quatro delas no h preferncia alguma (produtos minerais, prolas e pedras preciosas, armas e munies e objetos de arte). Bolvia, Colmbia, Equador e Peru apresentam padres semelhantes, com mdias ligeiramente mais baixas para os trs ltimos.

Por fim, a Venezuela era, em 2010, o vizinho menos beneficiado no tocante s preferncias, sem benefcio algum em nove das 21 sees existentes na classificao. H que se considerar, contudo, a recente aprovao da entrada deste pas no Mercosul. Assim, quando a Venezuela completar seu processo de adeso, esse quadro deve se alterar sobremaneira.

De toda maneira, os dados mostram que, em geral, houve aumento nas margens mdias de preferncia concedidas pelo Brasil aos vizinhos sul-americanos, ainda que a distribuio setorial destas preferncias tenha apresentado ligeira retrao. Cumpre agora analisar a recproca: as preferncias tarifrias concedidas pelos vizinhos aos produtos brasileiros. A tabela 19 apresenta estas informaes.

TABELA 19Margens de preferncia concedidas pelos vizinhos (2005 e 2010)

2005 2010

Nmero de setores Margem mdia (%) Nmero de setores Margem mdia (%)

Argentina 95 100,00 92 100,00

Bolvia 95 81,44 88 97,73

Chile 96 97,59 93 99,75

Colmbia 93 22,27 89 74,37

Equador 74 16,29 72 52,31

Paraguai 93 99,08 92 99,21

Peru 66 12,54 80 57,50

Uruguai 95 99,37 93 99,67

Venezuela 91 22,45 87 68,96

Fonte: WITS.Elaborao dos autores.

possvel notar que a evoluo apresentada pelas margens de preferncia concedidas pelos vizinhos ao Brasil foi bastante semelhante da recproca analisada anteriormente. Observa-se um aumento das margens mdias, porm acompanhado de ligeira reduo no nmero de setores beneficiados por estas preferncias exceto, mais uma vez, no caso do Peru. Ademais, especialmente no segundo perodo, pode-se notar, ao se compararem as preferncias dadas pelo Brasil e pelos vizinhos, que em praticamente todos os casos a margem mdia oferecida pelo Brasil maior, mas as concesses dos vizinhos abrangem uma gama maior de setores.

51As Relaes Comerciais do Brasil com o seu Entorno

BOX 1Conflitos recentes nas relaes comerciais Brasil-Argentina

Os dados sobre intensidade do comrcio e poltica tarifria no deixam dvidas sobre a importncia da Argentina como o principal parceiro comercial do Brasil na regio o que seria esperado, pois se tratam das duas maiores e mais diversificadas economias do subcontinente. Alm disso, os dois pases tm liderado o processo de integrao econmica regional, sobretudo no cone sul, tendo estruturado o Mercosul a partir de negociaes bilaterais entre ambos.

No obstante, as relaes comerciais entre os dois parceiros tm se deteriorado nos ltimos anos, diante de uma srie de aes protecionistas tomadas pela Argentina e de reaes brasileiras na mesma tnica , sobretudo aps o agravamento da crise econmica mundial, em 2008.

Um dos principais mecanismos protecionistas utilizados pela Argentina o sistema de licenas no automticas de importao, utilizadas, sobretudo, contra importaes de txteis, calados e eletrodomsticos (Aumenta..., 2009). A proliferao desta prtica por parte daquele pas em 2009 frequentemente desrespeitando o prazo mximo de sessenta dias estabelecido pela OMC para este tipo de licena levou o Brasil a retaliar pelo mesmo expediente meses mais tarde.

A escalada de medidas administrativas para barrar importaes levou negociao de redues voluntrias nas exportaes brasileiras de produtos sensveis do ponto de vista da Argentina, com o estabelecimento de cotas de exportao inferiores aos valores observados em 2008 (Macadar, 2010). Contudo, novas medidas protecionistas continuaram a ser editadas pela Argentina, adotando-se, por exemplo, um sistema de compensao em que, para poder importar, os setores afetados deveriam se comprometer a exportar o mesmo montante em dlares, no prazo mximo de um ano (Macadar, 2010).

A despeito das tentativas de acordo e negociaes presidenciais, novos episdios de acirramento do conflito comercial entre os dois pases continuaram a ocorrer. Por exemplo, em novembro de 2009, menos de uma semana aps um encontro entre os presidentes tratar especificamente do aumento do protecionismo bilateral, a Argentina incluiu brinquedos no rol de produtos com exigncia de licenciamento no automtico (Palacios, 2009); o Brasil revidou dias depois com medida semelhante.

Desde ento, o processo no d mostras de soluo, e as medidas protecionistas continuam sendo tomadas e desfeitas arbitrariamente de ambos os lados com auge em maio de 2011, quando a imposio de licenas no automticas para importaes brasileiras de automveis argentinos quase gerou uma crise diplomtica entre os dois pases (Landim, 2012).

6 CONSIDERAES FINAIS

Este trabalho teve por objetivo analisar as relaes comerciais entre o Brasil e seus vizinh