Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
UNVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
UNIDADE DIDÁTICA
FICHA PARA CATÁLOGO
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
Título:
O trabalho com estimulação precoce de crianças de 0 a 3 anos com
necessidades educacionais especiais: contribuições da psicologia histórico-
cultural.
Autor Marly Sespede Mazia
Escola de Atuação Escola Dom Jaime Luiz Coelho
Município da escola Mandaguari
Núcleo Regional de Educação
Maringá
Orientador Adriana de Fátima Franco
Instituição de Ensino Superior
Universidade Estadual de Maringá – UEM
Disciplina/Área (entrada no PDE)
Educação Especial
Produção Didático-pedagógica
Unidade Didática
Relação Interdisciplinar: (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Não
Público Alvo: (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...).
Professores e Equipe Pedagógica
Localização: (identificar nome e endereço da escola de implementação)
Escola de Educação Básica na Modalidade de
Educação Especial Dom Jaime Luiz Coelho
Rua Barão do Rio Branco, 572 – Mandaguari- Pr
Resumo: Este estudo tem como objetivo buscar subsídios
teóricos para a compreensão do desenvolvimento
infantil, particularmente, da criança de 0 a 3 anos com
necessidades especiais, fundamentando o trabalho
educacional e entendendo-o como uma prática social
que precisa de outras áreas do conhecimento para
transformar sua ação. Recorreu-se aos conceitos da
psicologia histórico-cultural, com o objetivo de
conhecer quais os elementos julgados fundamentais
para a efetivação e mediação de uma prática
adequada às particularidades da criança com
necessidades especiais inseridas no programa de
estimulação essencial da Escola Especial. Para isso, é
importante a formação com professores através de
conceitos teóricos que auxiliam na compreensão deste
momento, possibilitando espaços de discussões para
uma prática pedagógica efetiva, concretizando assim o
objetivo dessa unidade didática.
Palavras-chave (3 a 5 palavras)
Estimulação Precoce; Educação Especial, Psicologia Histórico-Cultural; Desenvolvimento infantil de 0 a 3 anos.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Marly Sespede Mazia
Área PDE: Educação Especial
NRE: Maringá
Professora Orientadora IES/UEM: Adriana de Fátima Franco
Escola de Implementação: Escola de Educação Básica na Modalidade de
Educação Especial Dom Jaime Luis Coelho – Mandaguari- Pr
Público objeto da intervenção: Professores da Escola de Educação Básica na
Modalidade de Educação Especial Dom Jaime Luis Coelho
TEMA DO PROJETO
Desenvolvimento humano e Estimulação Precoce
TÍTULO
O trabalho com estimulação precoce de crianças de 0 a 3 anos com
necessidades educacionais especiais: contribuições da psicologia histórico-
cultural.
APRESENTAÇÃO
O presente Material Didático foi elaborado para implementação do
Projeto de Intervenção Pedagógica do PDE 2013: “O trabalho com estimulação
precoce de crianças de 0 a 3 anos com necessidades educacionais especiais:
contribuições da psicologia histórico-cultural” e será aplicado com os
professores e equipe pedagógica da Escola de Educação Básica na
Modalidade de Educação Especial Dom Jaime Luiz Coelho – Mandaguari- Pr.
Atualmente algumas escolas passaram a adotar a expressão
“estimulação essencial” em substituição a “estimulação precoce”, com intuito de
melhor esclarecê-la. Nas Diretrizes Educacionais sobre Estimulação Precoce
(1995), considera-se a expressão “estimulação precoce” como a mais
adequada e conceitua-se como o conjunto dinâmico de atividades, recursos
humanos e ambientais incentivadores que são destinados a proporcionar à
criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências significativas para
alcançar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo, centralizando-se
nas áreas do desenvolvimento global da criança: física, motora, cognitiva,
sensório-perceptiva, sócio afetiva, de linguagem, entendendo que ela é um ser
completo e indivisível. Neste trabalho iremos utilizar o termo estimulação
precoce, por ser este o termo utilizado na escola onde o trabalho será
desenvolvido. Esta, portanto, não é uma expressão utilizada pela teoria
histórico-cultural, esta teoria apresenta bases para a compreensão do processo
de desenvolvimento humano.
A proposta de atividades apresentada a seguir tem como objetivo
subsidiar por meio de reflexão teórica a prática docente, tendo como
referenciais norteadores os fundamentos da Teoria Histórico-Cultural, cujo
precursor é Lev Semenovich Vigotski. Por meio de referenciais teóricos,
debates e reflexões que permeiam o fazer pedagógico, esperamos que este
material auxilie os profissionais da educação especial em sua prática e que
gere a necessidade de um maior aprofundamento em seus estudos.
Esta Unidade Didática contém atividades teórico-práticas que serão
desenvolvidas por meio de leituras de textos, vídeos, exposições, debates e
sínteses que serão produzidos pelos professores e equipe pedagógica no
decorrer dos encontros previamente estabelecidos nesta unidade.
Após o desenvolvimento das atividades propostas, será elaborado um
Artigo Científico, a ser apresentado como conclusão do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, contendo as análises das avaliações
tanto dos estudos realizados no GTR quanto da implementação desta unidade
didática junto aos professores e equipe Pedagógica da Escola de Educação
Básica na Modalidade de Educação Especial Dom Jaime Luiz Coelho –
Mandaguari- Pr.
INTRODUÇÃO
O Programa de Educação Infantil - Estimulação Essencial na Escola de
Educação Básica na Modalidade de Educação Especial Dom Jaime Luiz
Coelho atende crianças de 0 a 3 anos, que apresentam atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor, síndromes, paralisia cerebral e casos de
alto risco (prematuridade, baixo peso, desnutrição), negligência de cuidados
pela família, falta de estimulação, vulnerabilidade social, econômica, cultural e
outros. (BRASIL, 1995).
Tendo em vista a necessidade de um aprofundamento teórico-prático do
corpo docente, bem como, da equipe pedagógica, trabalharemos com os
principais conceitos da Teoria Histórico-Cultural. No primeiro módulo,
abordaremos a importância do conhecimento e estudo das contribuições da
psicológica histórico-cultural, para posteriormente, uma melhor compreensão
do papel da estimulação precoce no desenvolvimento infantil de zero a três
anos.
Arce e Martins (2009), em seus estudos sobre o desenvolvimento da
criança de zero a três anos, à luz da Teoria Histórico Cultural de Vigotski,
afirmam que a mediação que a criança recebe desde o nascimento e segue em
seus primeiros meses de vida é indispensável.
Para o entendimento do desenvolvimento infantil, discutiremos no
segundo módulo, a importância da periodização do desenvolvimento
psicológico na infância, ressaltando que estes períodos estão relacionados a
condições histórico-sociais em que os indivíduos se desenvolvem desde o
nascimento até a vida adulta. (Facci, 2004).
Nesta direção, o autor apresenta as funções psicológicas superiores.
São estas funções segundo Vigotsky (1998) que difere os animais do homem,
que por meio de experiências e processos mediados, desenvolvem o controle
consciente do comportamento, atenção e lembrança voluntária, memorização,
pensamento abstrato, raciocínio dedutivo e capacidade de planejamento.
Nesta relação de desenvolvimento e aprendizagem, será enfatizado o
estudo do conceito de zona de desenvolvimento proximal, a qual é definida por
Vigotski como:
...a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (Vigotski, 1998, p.112).
Por fim, os estudos estarão voltados para o processo do
desenvolvimento da criança com deficiência, tendo como referencia as
reflexões no artigo de Vigotski (1995), sobre defectologia, correlacionando com
a prática docente no programa de estimulação precoce com crianças de zero a
três anos na educação especial.
Com a finalidade de auxiliar o professor nos estudos do título proposto,
dividiu-se o mesmo em quatro temas:
1- Concepções da Teoria histórico-cultural
2- Periodização do desenvolvimento psicológico na abordagem histórico
cultural.
3- A formação das funções psicológicas superiores
4- O desenvolvimento da criança de zero a três anos.
Iniciaremos o trabalho na Escola, apresentando o Projeto de Intervenção
Pedagógica à Direção e Equipe Pedagógica para tomarem conhecimento do
tema que será abordado e em seguida será apresentado aos demais
professores a proposta de trabalho e convidá-los a participar do curso de
capacitação.
Com a carga horária de 32 horas, esse Curso será programado em quatro
encontros de oito horas com atividades teórico-práticas, as quais serão
desenvolvidas por meio de leitura de textos, vídeos, exposições, debates,
pesquisas, confecção de material, etc.
A avaliação dar-se-á no decorrer do trabalho, observando-se a
frequência, participação e envolvimento dos professores nas atividades
propostas.
CRONOGRAMA
Datas
Encontros
17/02/2014 a 28/02/2014
15/03/2014
22/03/2014
29/03/2014
05/04/2014
Período de inscrições
X
1º encontro X
2º encontro X
3º encontro X
4º encontro X
1. PROPOSTA DE TRABALHO:
TEMA: Concepções da Teoria histórico-cultural
Atividade 1: Exposição por meio de slides, do Projeto de Implementação; “O
trabalho com estimulação precoce de crianças de 0 a 3 anos com necessidades
educacionais especiais: contribuições da psicologia histórico-cultural”.
a) A partir da exposição do tema, sintetize o seu conhecimento sobre a
Psicologia histórico-cultural
b) Tal conhecimento foi adquirido na formação acadêmica, formação continuada
de professores ou motivada por interesse pessoal?
Atividade 2: Assistir ao Vídeo: Pedagogia histórico-crítica e Psicologia histórico-
cultural (Prof. Dr Newton Duarte e Prof.Dra Lígia Márcia Martins) – Curso ministrado
no VI EBEM em agosto de 2013.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=PHBrDQuS6KU
a) Reflexão a serem feitas no grupo após o filme:
- Como Vigotski entendia o funcionamento psicológico do ser humano
integrando aspectos biológicos e culturais?
- Com relação à educação, a teoria de Vigotski enfatiza o papel da
aprendizagem no desenvolvimento humano, valorizando a escola, o professor
e a intervenção pedagógica. Como você entende o papel do professor no
processo ensino aprendizagem?
Atividade 3: Texto base: Para ler Vygotski: recuperando parte da historicidade
perdida – Silvana Cavo Tuleski.
A partir da leitura do texto acima indicado, sistematize as questões a seguir:
a) Qual sua visão de homem e natureza baseando-se nos preceitos da Teoria
histórico Cultural?
b) Qual a relação entre aprendizagem e desenvolvimento, na perspectiva da
Teoria Histórico-Cultural.
2. PROPOSTA DE TRABALHO:
TEMA: Periodização do desenvolvimento psicológico na abordagem histórico
cultural.
Atividade 1: Vídeo: Periodização do Desenvolvimento Humano (Marilda Facci)
a) Cada professor deverá identificar o período do desenvolvimento humano de
seu aluno de acordo com a visão da psicologia histórico-cultural, exposto por
Marilda Facci.
Atividade 2: Texto Base:
FACCI, M.G.D. A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski. Cadernos Cedes, v.24, n.62, abril, 2004.
Atividade Complementar 1: Assistir ao vídeo “O segredo das Crianças
Selvagens” - Documentário sobre Genie, uma das chamadas “crianças
selvagens”. Ela foi mantida por mais de 10 anos trancada em um quarto,
totalmente isolada do mundo exterior. Após seu resgate ela foi objeto de
estudo de uma equipe de médicos e psicólogos de uma Universidade da
Califórnia. Esse documentário acompanha a trajetória de Genie ao longo dos
anos e questiona os métodos aplicados em seu tratamento e estudo. O filme
também aborda o caso de Victor, outra criança selvagem encontrada na
França em 1800, cujo caso foi posteriormente retratado no filme “O Menino
Selvagem”, de Truffaut.
“O segredo das Crianças Selvagens”, disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=_dA2W0SwIwY
“O menino selvagem Victor de Averon”, disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=VvIRuYgqPsc
Após assistir ao filme, responda:
a) No seu entendimento, como se dá a formação do desenvolvimento
humano quando o indivíduo é privado do convívio social?
Atividade 2: Artigo: A história do homem que viveu por seis anos achando ser uma
galinha. Após viver seis anos em um galinheiro em um vilarejo no interior de Fiji, o
órfão Sujit Kumar foi adotado pela australiana Elizabeth Clayton. Disponível em:
http://noticias.terra.com.br/mundo/oceania/conheca-a-historia-do-homem-que-viveu-por-6-anos-achando-ser-uma-
galinha,31fec074ee3be310VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html (9 de agosto de 2013•09h17)
a) Refletir e discutir em grupo sobre o que é natural e o que é aprendido na
relação com as outras pessoas.
b) Baseando-se nos pressupostos norteadores de Vigotsky, justifique sua
atuação como mediador no processo de intervenção enquanto um elemento
intermediário numa relação.
Periodização do desenvolvimento psicológico na abordagem histórico
Cultural
Marilda Gonçalves Dias Facci (2009) tem estudado o desenvolvimento
infantil que se produz em nosso momento histórico e, comprovado, por meio de
suas pesquisas, que os pressupostos apontados por Vigotski, Leontiev e
Elkonin continuam atuais, legitimando-os, inclusive, em nossa sociedade.
Para Tuleski (2009), a psicologia Histórico-Cultural está apoiada no
materialismo histórico e dialético, e seus principais representantes são Lev
Semonevich Vigotski, Alex N. Leontiv e Alexander Romanovich Luria, que
viveram na Rússia no início do século XX. Insatisfeitos com os caminhos que
psicologia vinha tomando, romperam com os métodos até então empregados,
propondo um novo entendimento de homem e seu desenvolvimento psíquico.
Contrariando as ideias daquela época, destacavam a psique humana como
tendo origem social, desenvolvendo-se num contexto Histórico-Cultural,
pautado nas relações sociais.
Segundo Facci (2004), Leontiev e Elkonin, seguindo a linha histórico-
cultural iniciada por Vigotski, desenvolveram as bases de uma psicologia do
desenvolvimento humano, o qual é caracterizado por uma atividade dominante,
a partir da qual se estruturam as relações do individuo com a realidade social.
Para Elkonin (1987, apud FACCI, 2004), o estudo da periodização do
desenvolvimento psicológico na infância é essencial para o entendimento da
psicologia infantil. A compreensão das forças motrizes do desenvolvimento
psíquico passa, necessariamente, pelo estudo dos períodos deste
desenvolvimento. Além disso, por meio do conhecimento da periodização do
desenvolvimento psíquico, podem-se criar estratégias para a organização do
sistema educacional em detrimento a uma periodização elaborada sobre a
base do sistema de educação.
Para Facci (2004), Vigotski apresenta um esquema de periodização do
desenvolvimento que vai desde o nascimento até a passagem do indivíduo
para o período da vida adulta, ressaltando que estes períodos estão
relacionados a condições histórico-sociais em que os indivíduos se
desenvolvem.
Nesse sentido,
[...] o traço fundamental do psiquismo humano é que este se desenvolve por meio da atividade social, a qual, por sua vez, tem como traço principal a mediação por meio de instrumentos que se interpõem entre o sujeito e o objeto de sua atividade. As funções psicológicas superiores (tipicamente humanas, tais como a atenção voluntária, memória, abstração, comportamento intencional etc.) são produtos da atividade cerebral, têm uma base biológica, mas, fundamentalmente, são resultados da interação do indivíduo com o mundo, interação mediada pelos objetos construídos pelos seres humanos. (FACCI 2004, P.66).
Segundo Elkonin (1987, apud FACCI, 2004, p.67), “os principais
estágios de desenvolvimento pelos quais os sujeitos passam são: comunicação
emocional do bebê; atividade objetal manipulatória; jogo de papéis; atividade
de estudo; comunicação íntima pessoal; atividade profissional/estudo”. Este
autor destaca ainda a comunicação emocional direta dos bebês com o adulto
como sendo a principal atividade para a formação de ações sensório-motoras
de manipulação.
Em relação ao primeiro ano de vida da criança Vygotski (1996, apud
FACCI, 2004), aponta dois momentos importantes no desenvolvimento do
comportamento da criança. Primeiramente a criança se apresenta
biologicamente incapacitada de assegurar suas necessidades básicas, sendo
inteiramente dependente do adulto, tornando esta relação a principal atividade
neste período. O contato da criança com o meio externo é socialmente
mediado pelo adulto.
Em um segundo momento, a relação com o adulto passa a ser objetal-
instrumental, ou seja, o adulto torna-se responsável por mostrar a relação entre
a ação e o objeto. “A comunicação emocional dá lugar a uma colaboração
prática. Por meio da linguagem, a criança mantém contato com o adulto e
aprende a manipular os objetos criados pelos homens, organizando a
comunicação e a colaboração com os adultos.” (FACCI, 2004, p.68).
Na sequência do desenvolvimento infantil, o próximo período
corresponde ao pré-escolar, no qual o jogo e a brincadeira passam a ser a
principal atividade. Seguindo a abordagem da ontogênese humana, nos
limitaremos na primeira infância tendo seu cerne a comunicação emocional
direta e atividade objetal manipulatória.
Facci (2004, p.72) considera que para Vigotski, Leontiev e Elkonin “as
atividades são dominantes em determinados períodos e, no período seguinte,
não deixam de existir, mas vão perdendo sua força”. Desse modo a infância
assume um caráter histórico concreto, onde as especificidades de cada idade
são socialmente transformadas.
Facci (2004) conclui em seus estudos que:
Os estágios de desenvolvimento, para esses autores, possuem uma certa sequencia no tempo, mas não são imutáveis. Eles dependem das condições concretas nas quais ocorre o desenvolvimento. As condições histórico-sociais concretas exercem influencia tanto sobre o conteúdo concreto de um estágio individual do desenvolvimento como sobre o curso total do processo de desenvolvimento psíquico como um todo. (p.76).
Seguindo a concepção de Vigotski, o desenvolvimento da criança não
ocorre de modo linear e sim num processo dialético, onde a passagem de um
período para outro se realiza pela alternância entre períodos estáveis e
períodos de crise, onde a criança faz novos avanços, apresentando importante
progresso em seu desenvolvimento.
3. PROPOSTA DE TRABALHO:
TEMA: A formação das funções psicológicas superiores
Atividade 1: Video: Funções Psicológicas Superiores (Lígia Márcia Martins).
a) A partir da reflexão e discussão do vídeo, cada professor deverá elaborar um
planejamento de aula, para sua respectiva turma, que contemple as funções
psicológicas superiores – Sensação, Percepção, Atenção, Memória,
Linguagem, Pensamento, Imaginação, Emoções e Sentimentos.
Atividade 2: Texto base: VIGOTSKI, L. S. Interação entre aprendizado e
desenvolvimento. In – A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
a) Explique como você entende a gênese social das funções psicológicas
superiores.
b) Qual é o papel da mediação docente no processo de ensino-aprendizagem,
na ótica da Teoria Histórico-Cultural?
c) Frente às novas habilidades requeridas na atualidade, qual a finalidade do ensino? Qual é o papel do professor na formação dos indivíduos?
Formação das funções psicológicas superiores
Para Vigotski (1998), as funções psicológicas superiores são o que
difere os seres humanos dos animais, pois esses apresentam apenas funções
psicológicas elementares. Para este autor, a criança ao nascer, possui apenas
as funções psicológicas elementares que são especificamente biológicas, como
a atenção involuntária e a memória imediata. Na interação com o meio social e
cultural a criança vai aprendendo e, consequentemente, desenvolvendo as
funções psicológicas superiores constituindo um produto do desenvolvimento
social.
Pasqualini e Ferracioli (2009) destacam sobre as funções psicológicas
superiores proposta por Vigotski, que as mesmas se caracterizam pela
introdução de estímulos que passam a mediar a relação entre estímulos e
reações. Esse novo estímulo é o signo. Os signos e as palavras são para as
crianças um meio de contato social com outras pessoas, facilitando uma função
psicológica superior (atenção voluntária, memória lógica, formação de
conceitos, etc.).
Para Vigotski (1987), por volta dos dois anos de idade, a fala da criança
torna-se intelectual, generalizante, com função simbólica, e o pensamento
torna-se verbal, sempre mediado por significados fornecidos pela linguagem.
Isso ocorre com a inserção da criança no meio cultural, interagindo com adultos
que já dispõe da linguagem estruturada. Portanto, Vigotsk destaca que o grupo
cultural fornece ao indivíduo um ambiente estruturado onde os elementos são
carregados de significado cultural.
Segundo Vygotsky (1998) todo e qualquer processo de aprendizagem é
ensino-aprendizagem, incluindo aquele que aprende, aquele que ensina e a
relação entre eles. Ele explica esta conexão entre desenvolvimento e
aprendizagem através da zona de desenvolvimento proximal.
Nesse contexto, para Vigotski, não existe somente um nível de
desenvolvimento, mas no mínimo dois: o real e o potencial. Uma criança que
ainda não tem habilidade para realizar determinada função, somente poderá
concretizá-la após ser desafiada para isso e auxiliada na realização, para que
então possa fazer sozinha, ou seja, o desenvolvimento ocorre mediado, e
nesse processo de mediação, é que o professor desempenha seu principal
papel, o de mediador.
4. PROPOSTA DE TRABALHO:
TEMA: O desenvolvimento da criança de zero a três anos.
Atividade 1: Texto base: O ensino e o desenvolvimento da criança de zero a três
anos. (Lígia Márcia Martins)
a) Discutir a identificação entre ação docente e mediação, de modo a
caracterizar aquilo a que corresponde, segundo nossa ótica, o trabalho
desenvolvido pelo professor, tendo como foco o conceito de zona proximal de
desenvolvimento.
Atividade 2: Texto base: A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da
educação da criança anormal. (Vigotski, L. S. 1995)
a) Identificar como a atuação do professor na estimulação precoce pode
promover o desenvolvimento psíquico da criança com atraso no
desenvolvimento infantil
Atividade 3: Filme: O milagre de Anne Sullivan (filme baseado na história da
surdocega Helen Keller, uma garota cega, surda e muda, a qual uma professora
tenta fazer entender melhor as coisas que a cercam. Para isto entra em confronto
com os pais da menina, que sempre sentiram pena da filha e a superprotegeram.
Disponível em: www.filmesdetv.com/the-miracle-worker.html
a) Discutir o desenvolvimento do pensamento e da linguagem fundamentando-o
teoricamente.
Atividade 4: Dinâmica: Café Temático.
Após assistir o filme e serem feitas as discussões propostas será realizado um Café
Temático. O grupo será divido em três categorias: deficiência sensorial, deficiência
física e sem deficiências. Cada participante receberá um papel com instruções a
qual terá que ser desempenhada durante o café temático – por exemplo, ausência
da fala (não pode usar a palavra), deficiência física - membro superior, deficiência
visual (não tirar a venda até terminar a dinâmica) e participantes sem deficiência.
Será servido o café e todos deverão se alimentar, cada qual com sua limitação).
Após terminar a dinâmica cada participante deverá fazer suas impressões sobre a
experiência vivida e no grande grupo pontuar as questões relevantes sobre os
conceitos de deficiência e suas implicações para a aprendizagem. Ao final cada
participante dever fazer uma síntese relatando sua experiência nesta dinâmica,
apontando questões relevantes sobre os conceitos de deficiência e suas implicações
para a aprendizagem e entregue ao professor PDE.
OBS: Esta Dinâmica: Café Temático em particular será realizada em conjunto com
o curso de extensão da professora PDE 2013- Dicéia Antunes que tem como estudo
“O desenvolvimento de alunos com deficiência intelectual e processo de
Escolarização: contribuições da Psicologia Histórico-Cultural.” (Curso de Extensão
aplicado na Escola Dom Jaime Luiz Coelho.)
A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educação da criança
anormal
Vigotski (1995) ao estudar as anomalias congênitas que afetavam os
processos de socialização das crianças em seu entorno, denominou este
campo de defectologia. Estes estudos consistiam em demonstrar como a
sociedade e a cultura poderia criar ferramentas e instrumentos que
possibilitassem as pessoas com necessidades especiais superarem as
dificuldades em seu processo de inserção social. Vigotski referiu-se as
deficiências como sendo primárias; a qual é ocasionada pela má formação ou
disfunção de algum caractere biológico e ou hereditário e deficiência
secundária; derivada do isolamento das relações sociais e culturais
características do entorno em que cada sujeito se insere.
Vigotski (1995), em seu artigo A defectologia e o estudo do
desenvolvimento e da educação da criança anormal, indica que a deficiência e
a decorrente educação escolar deparam-se com problemas de natureza muito
mais histórico-social do que de natureza biológica.
Barroco (2007) em sua tese de doutorado, nos mostra o modo como
Vigotski conhecia a criança com deficiência. Em seus exames clínicos,
preocupava-se muito mais com a essência da criança do que com sua
aparência, com o desenvolvimento qualitativo do que o quantitativo.
Vigotski ficava atento ao resultado de uma determinada tarefa, mas atentava-se ainda mais ao modo como a criança solucionara, como se comportara e o que dissera no processo. Falava, ainda, com os pais da criança e, então, com os seus professores. Só depois de considerar todos os dados é que generalizava o material e elaborava conclusões. (BARROCO, 2007, p. 211)
Vigotski, de acordo com Barroco (2007), não minimizava as dificuldades
das crianças com deficiência, considerando-a como menos desenvolvida, mas
as reconhecia com um desenvolvimento especial.
Segundo Barroco (2007) o cerne central da defectologia defende que
qualquer defeito origina estímulos para a constituição da compensação. Esta
colocação nos faz refletir sobre o nosso papel enquanto mediador no programa
de estimulação precoce na escola especial, onde nosso olhar deve estar
voltado para as potencialidades da criança e não suas limitações. A ação social
do ambiente escolar e a atividade coletiva, numa perspectiva histórico-cultural,
é que propicia o desenvolvimento da criança com deficiência, evidenciando sua
condição essencialmente social.
REFERÊNCIAS
ARCE, Alessandra; MARTINS, Ligia M. (Orgs). Ensinando aos pequenos de zero a três anos. Campinas, SP. Editora Alínea, 2009.
BARRACO, S. M. S. A educação especial do novo homem soviético e a psicologia de L.S. Vigotski: implicações e contribuições para a psicologia e a educação atuais . 2007. Tese (doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Campus de Araraquara, São Paulo.
BRASIL, Ministério da Educação e Secretaria da Educação Especial. Diretrizes educacionais sobre estimulação precoce. Brasília: MEC/SEESP, 1995. ELKONIN. D. Sobre el problema de La periodizacion Del desarrollo psíquico em La infância, 1997. In:FACCI, M.G.D. A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski. Cadernos Cedes, v.24, n.62, abril, 2004. FACCI, M.G.D. A periodização do desenvolvimento psicológico individual na perspectiva de Leontiev, Elkonin e Vigotski. Cadernos Cedes, v.24, n.62, abril, 2004. FACCI, M.G.D; TULESKI, S.C; BARROCO, S.M.S (Orgs). Escola de Vigotski: Contribuições para a Psicologia e a Educação. Maringá: Eduem, 2009. PASQUALINI, J. C.; FERRACIOLI, M. U. A Questão da Agressividade em Contexto Escolar: Desenvolvimento Infantil e Práticas Educativas. In: ARCE, A.; MARTINS, L. M. (Orgs) Ensinando aos pequenos de zero a três anos. Campinas, SP: Editora Alínea, 2009. SOUZA, M. P. R., & FACCI, M. (Orgs.). (2011). Lev Vigotski [DVD – Coletânea 4 vols.]. São Paulo: Atta Mídia e Educação. Vídeo: O Desenvolvimento do Psiquismo: Lev Vigotski. TULESKI, S. C. Para ler vygotski: Recuperando parte da historicidade perdida. In: ANPED 25 anos CD ROOM histórico, 2002, Caxambu. Caxambu, 2002. TULESKI. S.C. Em defesa de uma leitura histórica da teoria vigotskiana. In: FACCI, M.G.D; TULESKI, S.C; BARROCO, S.M.S (Orgs). Escola de Vigotski: Contribuições para a Psicologia e a Educação. Maringá: Eduem, 2009. VIGOTSKI, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
VIGOTSKI, L.S. A defectologia e o estudo do desenvolvimento e da educação da criança anormal. Este artigo foi traduzido diretamente do russo por Denise Regina Sales, Marta Kohl de Oliveira e Priscila Nascimento Marques, que constituem um grupo de tradução dedicado às obras de Vigotski. O texto original (VIGOTSKI, L. S. Defektologuia i utchenie o razvitii i vospitanii nenormálnogo rebionka. In: Problemi defektologuii [Problemas de defectologia]. Moscou: Prosveschenie,1995.p.451-458.)Disponível
em:<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1517-97022011000400012&script=sci_arttext>
Acesso em: 12 de junho de 2013.
VIGOTSKI, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1998.