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*Artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso de Naturologia Aplicada da Universidade do Sul de

Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Professora Graciela

Mendonça de S. Medeiros, Especialista em Medicina Tradicional Chinesa.

**Acadêmica da 9ª fase do Curso de Naturologia Aplicada da Universidade do Sul de Santa Catarina –

UNISUL. E-mail: [email protected]

OS EFEITOS DA REFLEXOTERAPIA PODAL E DA AURICULOTERAPIA NA

REDUÇÃO DA DOR LOMBAR EM POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS*

Daiane Cenci**

Graciela Mendonça da Silva de Medeiros

RESUMO: Este estudo teve como objetivo verificar o efeito da reflexoterapia podal isolada e

associada à auriculoterapia. Ambas as terapias são utilizadas para aliviar dores em geral,

disfunções orgânicas e/ou emocionais. Participaram efetivamente da pesquisa, 15 (quinze)

policiais rodoviários que tinham dores na região lombar. Foram divididos em três grupos de

cinco participantes, os quais receberam atendimento uma vez por semana, ao longo de quatro

encontros. Cinco policiais receberam tratamento de reflexoterapia podal, outros cinco

receberam tratamento de auriculoterapia associado à reflexoterapia podal e os demais fizeram

parte do grupo controle. Antes do primeiro atendimento e após o último, foi utilizado o

questionário Oswestry para avaliar a incapacidade causada pela dor lombar. Já a intensidade

da dor foi medida antes e após cada atendimento, pela escala facial de dor Wong-Baker.

Considera-se que a reflexoterapia e a auriculoterapia associada à reflexoterapia possuem

resultados semelhantes quanto à redução da intensidade da dor, entretanto, a associação das

duas técnicas proporcionou estabilidade dos sintomas entre uma sessão e outra, realizando o

efeito mantenedor dos estímulos através da auriculoterapia.

Palavras-chave: Reflexoterapia. Auriculoterapia. Dor Lombar. Polícia Rodoviária Federal.

1 INTRODUÇÃO

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi criada, no Brasil, em 24 de julho de 1928,

através do Decreto nº 18.323, com a denominação inicial de “Polícia das Estradas”. É um

órgão permanente, organizado, mantido pela União e estruturado em carreira. Destina-se, na

forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais (BRASIL, 1988).

Desde 1991 este órgão público integra a estrutura organizacional do Ministério da

Justiça, como Departamento de Polícia Rodoviária Federal (DPRF), que tem por missão

fiscalizar diariamente mais de 61 mil quilômetros de rodovias e estradas federais

(DEPARTAMENTO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, 2012).

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Para cumprir seus deveres, o policial rodoviário federal enfrenta diversas

situações insalubres e perigosas1, mantendo-se em constante estresse físico e psíquico ao

longo da sua jornada de trabalho.

Segundo a Organização Mundial do Trabalho – OMT (1997) e reconhecido pela

Organização Mundial da Saúde – OMS (2000), policiais e seguranças têm a profissão mais

estressante do mundo. Em seguida, vêm os motoristas de ônibus e controladores de voo

(SILVA, 2009; DEPARTAMENTO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, 2009).

Várias pesquisas têm buscado compreender as relações de trabalho e saúde do

policial sob diversas perspectivas, sendo consenso que as condições de trabalho são

determinantes dos modos de viver e adoecer e influenciam diretamente na sua saúde física,

mental e social (SIMÕES; MARQUES; ROCHA, 2010).

Um dos fatores que potencializam o desgaste físico do policial é a crescente

quantidade de equipamentos que precisa portar junto ao corpo, a todo instante. De acordo com

Silva (2009), esses equipamentos acarretam um aumento de peso total da ordem de 10.454

Kg, sendo a maior carga distribuída na coluna vertebral, em especial na região lombar.

A ocorrência da dor lombar na população mundial é tão grande que Albuquerque

(2008) a considera epidemia. São inúmeras as circunstâncias que contribuem para o

desencadeamento e cronificação das síndromes dolorosas lombares, entre elas: alterações

psicossociais, insatisfação laboral, obesidade, realização de trabalhos pesados, sedentarismo,

síndromes depressivas, litígios trabalhistas e hábitos posturais (CECIN, 2001).

Atualmente, as ciências da saúde vêm oferecendo uma gama diversificada de

técnicas e formas de tratamento que possibilitam a melhora significativa ou a cura total da dor

lombar, dentre elas estão a reflexoterapia e a auriculoterapia.

A reflexoterapia é a aplicação da reflexologia, (esta estuda os efeitos reflexos no

organismo humano). Além de identificar a existência de distúrbios, a reflexoterapia também

se propõe a tratá-los através de manipulações sobre as áreas reflexas específicas, permitindo

ao cérebro detectar, com maior eficiência possível, problemas no organismo e assim iniciar o

processo de homeostase (LOURENÇO, 2002).

1 Atividades insalubres são aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, expõem o servidor

público a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade

do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. Atividades perigosas são aquelas que, por sua natureza,

condições ou métodos de trabalho, expõem o servidor público a substâncias inflamáveis, explosivas ou

radioativas, em condições de risco acentuado à vida (DEPARTAMENTO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA

FEDERAL, 2012).

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A auriculoterapia trata-se de método terapêutico em que o pavilhão auricular é

utilizado para aliviar dores em geral, disfunções orgânicas e emocionais. Esta constitui uma

parte importante da Medicina Tradicional Chinesa, sendo atualmente um ramo na

especialidade da acupuntura (OLESON, 2002; SANTOS, 2003; GARCÍA, 1999). O pavilhão

auricular está estreitamente relacionado com um grande número de pontos reflexos nervosos

que se comunicam expressamente a atividade funcional de todo organismo (GARCÍA, 1999).

Na Naturologia Aplicada2 o procedimento de aplicação da auriculoterapia é feita no sentido

de intensificar e/ou prolongar os efeitos das práticas naturais mantendo o estímulo até a sessão

seguinte.

A maioria destas técnicas possui comprovação empírica e milenar, sendo

utilizadas pelas culturas mais antigas e tradicionais do mundo. Entretanto, faz-se necessário

introduzir esse campo no mundo científico, realizando pesquisas que comprovem a sua

efetividade.

Esta pesquisa constatou que os efeitos da reflexoterapia isolada e reflexoterapia

associada à auriculoterapia são significativos, porém o efeito é mais imediato quando estas

técnicas são utilizadas em conjunto. Além disso, foi possível verificar que a reflexoterapia

associada à auriculoterapia prolongou o estímulo terapêutico e estabilizou os sintomas de dor

lombar de policiais rodoviários federais.

2 MÉTODO

A pesquisa teve caráter preponderantemente quantitativo, pois aplicou técnicas

estatísticas, utilizando questionários para avaliar os efeitos da reflexoterapia podal e da

auriculoterapia na redução da dor lombar em PRFs. Durante a aplicação da pesquisa e na

análise dos resultados, este estudo apresentou algumas características descritivas, buscando o

entendimento do fenômeno como um todo e na sua complexidade, classificando esta pesquisa

com caráter ligeiramente qualitativo (GODOY, 1995). A pesquisa classificou-se como

explicativa e experimental, devidos a constatação de fatores que determinaram ou que

contribuíram para a ocorrência da dor lombar em policiais, além de investigar hipóteses para o

esclarecimento da relação de causa-efeito quando tratados com reflexoterapia podal e

auriculoterapia. A pesquisa também apresentou natureza de temporalidade longitudinal,

2 A Naturologia Aplicada é um campo da área da saúde que propõe o cuidado ao Ser partindo de uma visão

integral deste com a intenção de promover, manter e recuperar a saúde, a qualidade de vida e a integração do ser

humano ao meio em que vive (HELLMANN; WEDEKIN; 2008).

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devido a coleta de dados com o mesmo grupo de policiais (MARCONI; LAKATOS, 2004;

CHIZZOTTI, 2003; GIL, 2002; APPOLINÁRIO, 2006).

Esta pesquisa baseou-se na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde por

possuir como unidade experimental seres humanos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de

Ética e Pesquisa (CEP) da UNISUL, registro/ código: 12.126.4.06.III e teve como norteadores

os princípios da bioética.

A divulgação do convite para participação voluntária ocorreu através de envio

por endereço eletrônico e por aposição de cartazes nas unidades da PRF, ambos com anuência

da seção de recursos humanos daquele órgão.

Os critérios de inclusão foram:

a) ter entre 25 e 65 anos;

b) ter dor lombar constante há pelo menos 1 semana;

c) assinar o termo de consentimento livre e esclarecido;

d) preencher o Questionário Oswestry de incapacidade por dor lombar

(Disponível em: <http://www.europeanmedicaltourist.com/spine-surgery/oswestry-

disability.html>), onde, para prosseguir na pesquisa, a somatória deveria ser igual ou superior

a 10 pontos;

e) preencher a Escala facial de dor Wong-Baker (Disponível em: <

http://www4.usp.br/index.php/saude/11291>)e;

f) ser policial rodoviário federal.

Os critérios de exclusão foram:

a) apresentar patologias de caráter maligno como câncer e doenças degenerativas;

b) apresentar lesões nos pés, tais como fissuras, fístulas, dermatites, dentre outras

que danificassem a integridade da pele.

A coleta de dados foi realizada nas unidades de serviço da Polícia Rodoviária

Federal, em horário de serviço ou não e teve como referência central o consultório da

superintendência da polícia rodoviária federal, localizado na Rua Álvaro Mullen da Silveira,

104, Centro, Florianópolis, Santa Catarina, CEP: 88020 -18, no período de julho a setembro

de 2012.

Foram selecionados os primeiros 15 policiais voluntários, sendo distribuídos em 3

grupos de 5 participantes cada um: Reflexoterapia podal, Auriculoterapia associada à

reflexoterapia podal e Controle. Para manter a equiparação entre os grupos, a pontuação do

questionário Oswestry foi levada em consideração para a distribuição.

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Não foi feita distinção entre os policiais no momento da formação dos grupos, e

com o intuito de não comprometer os resultados da pesquisa, eles não tiveram conhecimento

de qual grupo estavam inseridos. O grupo controle não foi beneficiado durante a coleta dos

dados, o que classifica a pesquisa como ensaio clínico controlado randomizado cego com

grupo controle negativo (ESCOSTEGUY; 1999). Somente após o término da pesquisa, o

grupo controle foi beneficiado com quatro sessões de tratamento com terapias naturais.

Os materiais utilizados na pesquisa foram: algodão e álcool 70% para assepsia dos

pés e pavilhão auricular dos participantes, semente de mostarda e esparadrapo (micropore

3M) para estimulação dos pontos de auriculoterapia, pinça anatômica, tesoura e maca.

Ao total foram realizadas 4 (quatro) sessões, no tempo de 40 (quarenta) minutos

cada, sendo a frequência de uma vez na semana. A posição do interagente era em decúbito

dorsal sobre maca com olhos vendados. Na primeira sessão foi realizada a triagem com o

preenchimento do Questionário Oswestry de incapacidade por dor lombar e, de acordo com o

resultado deste questionário, cada policial foi distribuído em grupos, buscando-se o equilíbrio

de pontuação dos mesmos. Na sequência, foi realizada a avaliação da Escala facial de dor

Wong-Baker e os atendimentos com reflexoterapia, auriculoterapia ou grupo controle,

seguindo os protocolos previstos para as aplicações destas técnicas. Após os atendimentos, a

Escala facial de dor Wong-Baker foi novamente aplicada, com o objetivo de observar os

resultados imediatos de cada prática. Esta conduta permaneceu nas sessões subsequentes;

exceto na última sessão em que houve o preenchimento do Questionário Oswestry de

incapacidade por dor lombar novamente.

As manobras utilizadas para a realização dos atendimentos com reflexoterapia

foram retiradas do protocolo de Gillanders (2006). Para os atendimentos de auriculoterapia,

foi utilizado o mapa de auriculoterapia de Souza (1996) e utilizado como protocolo os pontos

de região lombar, aplicando semente de mostarda aderida a esta área com esparadrapo

micropore.

Nos procedimentos de controle da auriculoterapia foi aplicado apenas o

esparadrapo sem a semente de mostarda e para o controle da reflexoterapia podal, foi

realizado toque superficial nos pés sem a manipulação de pontos específicos.

Para descrever as variáveis quantitativas desta pesquisa foram calculadas as

medianas, os valores mínimos e máximos. A diferença entre os grupos imediatamente antes e

após as sessões foram avaliadas por meio do teste de Mann Whitney, enquanto que as

diferenças entre os mesmos grupos foram investigadas por meio do teste pareado de

Wilcoxon. Estas diferenças foram consideradas estatisticamente significativas quando valor

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de p ≤ 0,05 (KIRKWOOD, 1988). As análises foram realizadas através dos aplicativos

Microsoft Excel e EpiInfo 6.04.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa contou com 15 (quinze) participantes (policiais). Destes, 11 tinham

entre 36 e 45 anos, 2 tinham entre 46 e 55 anos e 2 entre 56 e 65 anos. 14 (93,33%) são do

sexo masculino e 1 (6,01%) do sexo feminino, 8 (53,33%) não possuíam patologias físicas

que pudessem ocasionar a dor lombar, mas associavam-na com tensão nervosa, enquanto 7

(46,66%) apresentavam alguma doença ou lesão na região lombar, sendo que a hérnia de

disco foi mais frequente e encontrada em 4 (26,66%) pessoas.

De acordo com Silva et al. (2004), não é necessário que haja uma lesão física na

coluna para que a dor lombar apareça. Esta é uma patologia que não decorre de doenças

específicas, mas sim de um conjunto de causas, como fatores sociodemográficos (idade, sexo,

renda e escolaridade), comportamentais (fumo e baixa atividade física), exposições ocorridas

nas atividades cotidianas (trabalho físico pesado, vibração, posição viciosa, movimentos

repetitivos), entre outros tais como: obesidade, morbidades psicológicas (AMARAL, 2012).

Os aspectos psicológicos assumem relevância significativa como fator de risco para a

lombalgia assim como fator que contribui para a sua cronicidade (PONTE, 2005).

O Questionário Oswestry de incapacidade por dor lombar é dividido em 10 itens

de avaliação, sendo eles relacionados à intensidade da dor sentida, à capacidade de realização

dos cuidados pessoais do entrevistado, à capacidade de carregar pesos, de andar, de sentar, de

ficar de pé, de dormir, de ter uma vida social, de viajar e de realizar trabalhos de casa e

emprego. Estes foram os dados avaliados antes e depois do tratamento ao longo de 4 sessões.

Nas tabelas 1 (grupo reflexoterapia podal); 2 (grupo auriculoterapia e reflexoterapia) e 3

(grupo controle), expõe-se as pontuações das medianas gerais de cada grupo e as diferenças

das pontuações do questionário realizado antes dos atendimentos entre as pontuações do

questionário realizado após cada atendimento. Além disso a tabela mostra os resultados

calculados pelo método teste T pareado de Wilcoxon, resumidos em valores de P, em cada

grupo. Houve a comprovação de valores significativos, nos grupos submetidos ao tratamento,

pois foram consideradas estatisticamente significativas quando valor de p ≤ 0,05

(KIRKWOOD, 1988).

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Tabela 1 - Análise do Questionário Oswestry de incapacidade por dor lombar – Grupo 1 -

Reflexoterapia Podal

P** = 0,029 ANTES DEPOIS DIFERENÇAS*

Mediana mín máx Mediana mín máx Mediana mín máx

Intensidade da dor 2 0 4 2 0 3 0 0 -1

Cuidados Pessoais 2 0 2 1 0 1 -1 0 -1

Pesos 2 1 3 2 1 3 0 0 0

Andar 1 0 2 1 0 2 0 0 0

Sentar 1 0 3 1 0 2 0 0 -1

Ficar de Pé 1 1 3 1 1 2 0 0 -1

Sono 1 0 2 1 0 1 0 0 -1

Vida Social 2 0 2 1 0 2 -1 0 0

Viagens 1 0 2 1 0 1 0 0 -1

Ativ. de casa e emprego 2 1 3 1 1 2 -1 0 -1

TOTAL 14 11 19 10 8 15 -4 -3 -4 *As diferenças foram obtidas através dos valores “DEPOIS” subtraídos pelos valores “ANTES”

** Teste T pareado de Wilcoxon

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

Tabela 2 - Análise do Questionário Oswestry de incapacidade por dor lombar – Grupo 2 -

Auriculoterapia associada à Reflexoterapia podal.

P* = 0,021 ANTES DEPOIS DIFERENÇAS

Mediana mín. máx. Mediana mín. máx. Mediana mín máx

Intensidade da dor 3 1 4 1 0 3 -2 -1 -1

Cuidados Pessoais 1 0 3 0 0 2 -1 0 -1

Pesos 2 0 5 1 1 2 -1 1 -3

Andar 0 0 1 0 0 0 0 0 -1

Sentar 1 0 4 1 0 4 0 0 0

Ficar de Pé 1 1 3 1 0 1 0 -1 -2

Sono 1 0 2 0 0 1 -1 0 -1

Vida Social 1 0 3 1 0 2 0 0 -1

Viagens 2 0 3 1 0 3 -1 0 0

Ativ. de casa e emprego 1 0 2 1 0 2 0 0 0

TOTAL 14 13 17 10 7 10 -4 -6 -7 *As diferenças foram obtidas através dos valores “DEPOIS” subtraídos pelos valores “ANTES”

** Teste T pareado de Wilcoxon

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

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Tabela 3 - Análise do Questionário Oswestry de incapacidade por dor lombar – Grupo 3 -

Controle.

P* = 0,387 ANTES DEPOIS DIFERENÇAS

Mediana mín. máx. Mediana mín. máx. Mediana mín máx

Intensidade da dor 1 1 3 2 1 3 1 0 0

Cuidados Pessoais 2 1 3 2 1 2 0 0 -1

Pesos 1 0 3 1 1 3 0 1 0

Andar 0 0 1 1 0 1 1 0 0

Sentar 1 1 2 1 1 2 0 0 0

Ficar de Pé 2 1 3 2 1 2 0 0 -1

Sono 1 0 5 1 0 5 0 0 0

Vida Social 1 0 3 1 0 2 0 0 -1

Viagens 1 1 2 1 1 2 0 0 0

Ativ. de casa e emprego 1 0 2 1 0 2 0 0 0

TOTAL 14 10 22 14 9 21 0 -1 -1 *As diferenças foram obtidas através dos valores “DEPOIS” subtraídos pelos valores “ANTES”

** Teste T pareado de Wilcoxon

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

Visando objetividade e clareza na análise dos dados expostos, realizou-se

discussões (abaixo) à respeito dos dados mais significativos entre os grupos, seguindo os

temas da própria tabela.

O primeiro item do questionário Oswestry descreve sobre a intensidade da dor

relacionada ao uso de analgésicos. Neste item, verificou-se que o grupo 2 apresentou maiores

diferenças nos resultados. No grupo 3, um dos policias que antes não tomava analgésicos

passou ao tomar no decorrer da pesquisa. Atualmente sabe-se que a sensação individual da

dor é variável e se manifesta como uma resposta fisiológica, além de atuar como um sinal que

desencadeia um conjunto de reações de adaptação (KLAUMANN; WOUK; SILLAS, 2008).

A introdução de analgésicos durante o processo da pesquisa no grupo 3, sugere que este grupo

mostrou maior vulnerabilidade à dor do que os demais grupos que receberam tratamento.

Estes dados demonstram que a reflexoterapia e a auriculoterapia associada à reflexoterapia

possibilitaram a redução efetiva do uso de analgésicos em policiais rodoviários federais,

sendo que a associação das técnicas foi mais eficaz.

A seção que descreve sobre a incapacidade por dor lombar em cuidados pessoais,

relaciona-se à autonomia para cuidar de si. De todos os grupos, apenas um policial do grupo 3

assinalou, nesta seção, a pontuação 3 que descreve sobre a necessidade de ajuda para realizar

os cuidados pessoais, entretanto, após os atendimentos, ele optou pela pontuação 2, em que

não há mais esta necessidade. Assim, o grupo 3 apresentou redução da pontuação máxima,

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que reduziu de 3 para 2. As diferenças das pontuações de mediana, mínima e máxima entre os

grupos 1 e 2 mantiveram-se iguais, demonstrando similaridade entre os resultados.

Inúmeros estudos epidemiológicos buscam a relação de dor lombar com

exigências físicas do trabalho e fatores ergonômicos como o levantamento de cargas, flexões

e torções do tronco, vibrações e esforços repetitivos (MATOS et al., 2008). Considerando

isso, verificou-se que é difícil controlar a variável dos resultados relacionados à avaliação da

intensidade de dor para levantar ou carregar pesos, já que nem todos os policiais levantaram

pesos nas semanas próximas ao preenchimento deste questionário, o que fez com que

desconhecessem a percepção da dor no momento da resposta. Desta forma, no item que

descreve sobre levantar ou carregar pesos, o grupo 1 não apresentou diferenças de pontuações

gerais entre os questionários avaliados antes e após os atendimentos, entretanto no grupo 2,

ocorreram mudanças em todas as pontuações, demonstrando que estas diferenças de

pontuações que indicam melhora dos resultados neste grupo (auriculoterapia associada à

reflexoterapia) são maiores quando comparadas aos outros grupos (reflexoterapia e grupo

controle). No grupo 3 não houve melhora na intensidade da dor.

No item sobre a análise de dor para andar, não foi possível fazer uma boa

avaliação comparativa entre os grupos já que a intensidade da dor nesta seção (intensidade de

dor para andar), do grupo 2, foi bastante reduzida, sendo que apenas um policial relatou nível

de dor 1 que descreve sobre a impossibilidade de andar mais de 2 quilômetros. A pontuação 0

(zero) deste item descreve sobre a possibilidade de andar qualquer distância. Alguns policiais

relataram que apresentavam dor para caminhar, mas que não se consideravam enquadrados no

nível de dor 0 (zero) ou 1, eles questionaram sobre a existência da opção 0,5. Entretanto,

como o questionário não apresenta tal opção, eles preferiam optar pelo nível de dor 0 (zero). É

possível que tenha ocorrido a dificuldade de interpretação dos itens do questionário,

impossibilitando uma avaliação comparativa adequada deste item (intensidade de dor para

andar). Mesmo assim, os resultados entre os dados confirmam que o grupo 1 não apresentou

melhoras, o grupo 2 obteve certa melhora e o grupo 3, apresentou aumento de 1 ponto na

intensidade da dor.

Quanto à avaliação de dor para sentar, houve melhora no grupo 1. Os grupos 2 e 3

não apresentaram mudanças nas pontuações de mediana, mínima e máxima, apesar disso, no

grupo 2, um dos policiais aumentou a pontuação e outro reduziu estes números em 2 pontos

na intensidade da dor. Estes dados demonstram que o tamanho da amostra dos grupos foi

pequena e refletiu nos resultados analisados.

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Manter-se em pé pode ser perturbador para os portadores de lombalgia. A

Classificação Internacional de Comprometimentos, Incapacidades e Deficiências da

organização Mundial de Saúde reconhece que a lombalgia ou a dor lombar limita ou impede o

desempenho pleno de atividades físicas, evidenciando síndromes de uso excessivo,

compressivas ou posturais, relacionadas a desequilíbrios musculares, fraqueza muscular,

diminuição na amplitude ou na coordenação de movimentos, aumento de fadiga e

instabilidade de tronco (JUNIOR; GOLDENFUM; SIENA, 2010). Aliando isto às

características de trabalho do PRF, percebe-se que ficar em pode acentuar a dor destes

indivíduos. O PRF realiza um trabalho onde há a necessidade de manter-se em pé durante

várias horas do dia, sustentando junto ao corpo diversos Equipamentos de Proteção Individual

(EPI) e de serviço, que precisam estar sempre à mão. Conforme aferição prévia de Silva

(2009), há o aumento de 10 a 15% do peso corpóreo quando o policial se paramenta (uso de

colete balístico, algemas, pistola, bastão e armas não letais – arma de choque e gás pimenta)

para seu turno de trabalho. Na seção que avalia incapacidade por dor para ficar em pé,

verificou-se que o grupo que obteve os melhores resultados, foi o grupo 2, o que demonstra

novamente que o grau de melhora deste grupo (quando ocorre) é superior aos outros.

Em um estudo realizado com o objetivo de analisar as condições de trabalho da

Polícia Rodoviária Federal e sua influência na capacidade para trabalhar, na cidade de Porto

Alegre, em relação à quantidade de horas de sono, 76,7% dos entrevistados dormem menos de

8 horas diárias, que seria o tempo de descanso ideal na opinião de muitos especialistas

(GASPARY; SELAU; AMARAL, 2008). Como o trabalho em turnos exige que os policiais

fiquem acordados durante seus plantões, é possível que muitos não consigam dormir cedo

devido à alteração do ritmo circadiano. Considerando as dificuldades relacionadas ao sono

inerentes ao cargo de policial e somando isso à dor lombar, observou-se que um problema

potencializa o outro e que os policiais melhoraram a qualidade do sono a partir do momento

que suas dores reduziram. Entretanto, a qualidade inferior do sono (devido ao cargo de

policial), retardou a melhora efetiva da lombalgia. Desta forma, na avaliação da intensidade

da dor durante o sono observou-se que o grupo que mais apresentou melhoras foi o grupo 2.

Confirmando a observação de que neste grupo (auriculoterapia associada à reflexoterapia), os

resultados são mais acentuados. O grupo 1, por sua vez reduziu 1 ponto da máxima e o grupo

3 não apresentou diferenças entre os resultados.

Na avaliação sobre a intensidade da dor para realizar atividades sociais, muitos

dos policiais relataram que normalmente tinham pouca ou nenhuma atividade social e que,

muitas vezes, utilizavam a dor lombar como justificativa para não sair de casa. Entretanto, foi

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verificado que o grupo 1 obteve redução de 1 ponto da mediana, e os grupos 2 e 3

apresentaram redução de 1 ponto das suas pontuações máximas. Sabe-se que, apesar de não

receber tratamento de reflexoterapia ou de auriculoterapia, o grupo 3 permaneceu deitado,

com os olhos vendados, durante o mesmo período de tempo (40 minutos) que os demais

membros dos outros grupos permaneceram. Este tempo de repouso por si só, proporciona

relaxamento, modificando sistemas orgânicos e emocionais e influenciando nos mais diversos

tipos de patologias. Além disso, o toque nos pés dos participantes do grupo 3, que apesar de

suave e não pontual, proporcionou a sensação de “estar em tratamento”. Desta forma,

entende-se que a melhora do grupo 3, apesar de pequena, pode estar relacionada ao tempo de

relaxamento e à sensação de estar em tratamento.

A dor lombar atinge principalmente a população em idade economicamente ativa,

podendo ser altamente incapacitante e é uma das mais importantes causas de absenteísmo.

Este tipo de dor contínua e por longo período de tempo, afeta muitos aspectos da vida,

podendo levar a distúrbios do sono, depressão, irritabilidade e, em casos extremos, ao suicídio

(SILVA, 2004). Sabe-se que a realização de atividades sociais relaciona-se ao bem-estar

físico bem como aspectos culturais e emocionais de cada indivíduo.

A seção que descreve sobre viagens gerou dúvidas para alguns dos participantes

da pesquisa no momento de responder o questionário, uma vez que nem todos viajaram nas

semanas anteriores ao preenchimento dos questionários antes e após as sessões. Isto fez com

que, alguns deles, não tivessem parâmetros comparativos ou experiências que pudessem

referenciar o nível de dor em viagens. Entretanto, os resultados obtidos demonstraram que o

grupo 1 obteve redução de 1 ponto da máxima e o grupo 2 reduziu 1 ponto da mediana,

enquanto que o grupo 3 não obteve melhoras.

Na avaliação dos níveis de dor para as atividades de casa e emprego, foi possível

observar a redução nas pontuações da mediana e máxima no grupo 1, pois houve a melhora de

1 ponto nos níveis de dor de 3 policiais, enquanto que nos grupos 2 e 3, não houve mudanças

nas pontuações entre os questionários avaliados na primeira sessão e após todos os

atendimentos.

Avaliando os totais das medianas de cada grupo, verificou-se os mesmos

resultados entre os grupos 1 e 2. Entretanto, há diferenças importantes dos totais das mínimas

e máximas nestes grupos, uma vez que o grupo 1 apresentou diferença de 3 pontos entre as

mínimas e o grupo 2 apresentou diferença de 6 pontos entre as mínimas. Da mesma forma, a

diferença entre as máximas do grupo 1 é de 4 pontos enquanto que o grupo 2 mostra

diferença de 7 pontos. Estes valores sugerem melhores resultados para o grupo 2, entretanto,

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como a amostra de cada grupo foi considerada pequena, não foi possível verificar esta

diferença nos resultados das medianas. O grupo 3 por sua vez, não apresentou diferenças nos

resultados totais das medianas e os valores mínimos e máximos demonstraram diferenças de

apenas 1 ponto, demonstrando melhora que pode estar associada ao relaxamento

proporcionado durante as sessões.

Na comparação dos valores de P, percebe-se que o grupo 2 (0,021) apresentou

valor ligeiramente mais significativo quando comparado ao grupo 1 (0,029) e ambos os

grupos apresentaram valores estatisticamente mais significativo quando comparados ao grupo

3 (0,387). Desta forma conclui-se que os grupo 1 e 2 apresentaram resultados semelhantes,

entretanto a associação da auriculoterapia com a reflexoterapia reduz ligeiramente mais, a

incapacidade por dor lombar em policiais rodoviários federais. Estes valores confirmam a

percepção clínica da auriculoterapia como uma técnica que potencializa e mantém o efeito da

reflexoterapia.

As escalas faciais Wong Baker foram aplicadas antes e após cada sessão, o que

possibilitou as diferenças de pontuação relativas à intensidade da dor imediatamente após

cada atendimentos e ao longo do tempo. Para análise dos dados da escala facial Wong Baker,

foi utilizado por teste de Mann Whitney, considerando o valor de P ≤ 0,05 (Tabela 4, 5 e 6).

Sendo assim, compararam-se as diferenças pontuais das medianas antes da realização da

primeira sessão e após a realização da última.

Verificou-se que na primeira sessão o grupo 3 apresentou o maior nível de dor no

primeiro atendimento. Entretanto, os grupos 1 e 2 foram os grupos que obtiveram os melhores

resultados.

Os gráficos (1, 2, 3) demonstram a evolução dos resultados das medianas antes e

imediatamente após cada sessão e ao longo das sessões. O grupo 1 apresentou maior variação

nos níveis de intensidade de dor se comparado ao grupo 2, visto que na terceira sessão obteve

melhora entre uma sessão e outra, mas manteve-se com a mesma intensidade de dor após o

atendimento, apresentando melhora mais acentuada na última sessão.

O grupo 2 por sua vez, apresentou resultados equalizados nos níveis de

intensidade da dor, o que sugere maior estabilidade dos sintomas quando comparado ao grupo

1. Entretanto, apesar dos participantes deste grupo saírem sempre sem dor ao final das

sessões, sempre havia o retorno da dor ao longo da semana, enquanto que o grupo 1

apresentou melhora efetiva da dor quando comparados os resultados da primeira e última

sessões.

13

Sabe-se que estas variações podem estar relacionadas às características individuais

de cada grupo. A cada sessão era feita uma observação geral de aspectos relacionados ao

estresse físico e/ou emocional ao longo da semana. No grupo 2, observou-se maior variação

de humor dos participantes se comparado aos outros grupos. Mas todos os grupos

relacionaram aumento na intensidade da dor em momentos de estresse emocional. O esforço

físico nem sempre foi razão de aumento nos níveis de intensidade de dor, uma vez que a

atividade física proporciona alongamento e aquecimento das fibras musculares, podendo

realizar a redução da dor. Entretanto, o estresse emocional provoca tensão e gera a contração

muscular e consequente aumento da dor.

Apesar das diferenças subjetivas de cada grupo, é possível concluir que tanto a

reflexoterapia quanto a associação da auriculoterapia com a reflexoterapia proporcionam

redução da dor, mas quando associadas as duas terapias, os resultados são imediatos e os

sintomas são estabilizados.

Em um levantamento bibliográfico sobre a auriculoterapia com o uso de sementes

no tratamento da lombalgia aguda concluiu que a auriculoterapia é uma técnica indicada para

pacientes com dor lombar aguda, pois as inúmeras análises realizadas comprovam que este

tratamento acarreta a melhora do quadro álgico (CARMINÉ, R. de A; MEJIA, D. P. M;

2012).

O grupo 3 apresentou melhora dos sintomas na primeira sessão, mantendo os

níveis de intensidade de dor iguais até o último atendimento. Neste grupo foi possível

observar a necessidade de relaxamento dos participantes. Ao deitar na maca, com os olhos

vendados durante alguns minutos para receber um toque suave nos pés, alguns policiais (de

todos os grupos) adormeciam, relaxando profundamente. Sabe-se que o relaxamento promove

redução da ansiedade, fadiga e tensões musculares. Estudos demonstram que a técnica de

relaxamento aplicada em sessenta e um pacientes que realizaram intervenção cirúrgica

abdominal, obteve redução da dor em 85,3% dos casos (ELER; JAQUES, 2006; ALMEIDA,

2005).

Os valores de P foram calculados através da comparação do momento antes da

primeira sessão com o depois de cada atendimento. Assim, verificou-se que o grupo 1

apresentou melhora paulatina ao longo das sessões, enquanto que o grupo 2 obteve melhora

desde a primeira sessão e manteve os sintomas estabilizados até o final dos atendimentos.

14

Tabela 4 - Resultados da Escala Facial Wong Baker imediatamente antes e após as sessões –

Grupo 1 - Reflexoterapia podal

ANTES DEPOIS

Mediana mín. máx. Mediana mín. máx. P*

1ª sessão 3 2 6 2 0 4 0,038

2ª sessão 4 2 6 2 0 5 0,019

3ª sessão 2 0 5 2 0 4 0,019

4ª sessão 2 0 4 0 0 4 0,011

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

*Quando comparado ao valor do primeiro dia

Gráfico 1 – Medianas do grupo 1 – Reflexoterapia podal

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

Tabela 5 - Resultados da Escala Facial imediatamente antes e após as sessões – Grupo 2 -

Auriculoterapia associada à reflexoterapia podal

ANTES DEPOIS

Mediana mín. máx. Mediana mín. máx. P*

1ª sessão 2 2 4 0 0 2 0,010

2ª sessão 2 2 4 0 0 2 0,010

3ª sessão 2 0 2 0 0 0 0,010

4ª sessão 2 0 2 0 0 2 0,010

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

*Quando comparado ao valor do primeiro dia

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1ª sessão 2ª sessão 3ª sessão 4ª sessão

Esc

ala

Fac

ial

Wong B

aker

ANTES

DEPOIS

15

Gráfico 2 – Medianas do grupo 2 – Auriculoterapia associada à reflexoterapia podal

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

Tabela 6 - Resultados da Escala Facial Wong Baker imediatamente antes e após as sessões –

Grupo 3 – Controle

ANTES DEPOIS

Mediana mín. máx. Mediana mín. máx. P*

1ª sessão 4 2 5 2 0 4 0,230

2ª sessão 2 2 5 2 2 4 0,100

3ª sessão 2 2 4 2 0 4 0,900

4ª sessão 2 2 4 2 2 4 0,270

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

*Quando comparado ao valor do primeiro dia

Gráfico 3 – Medianas do grupo 3 - Controle

Fonte: Elaboração dos autores, 2012.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1ª sessão 2ª sessão 3ª sessão 4ª sessão

Esc

ala

Fac

ial

Wong B

aker

ANTES

DEPOIS

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

1ª sessão 2ª sessão 3ª sessão 4ª sessão

Esc

ala

Fac

ial

Wong B

aker

ANTES

DEPOIS

16

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste estudo, foi verificado que é comum o policial enfrentar tensões

físicas e/ou emocionais, e dificilmente é possível dissociá-las. Percebeu-se que na jornada de

plantões de 24 horas, este profissional necessita manter-se em pé durante várias horas do dia,

expondo-se aos fenômenos climatológicos que independem da sua vontade, além de sustentar

junto ao corpo, a todo instante, diversos equipamentos de proteção individual (EPIs) e de

serviço, gerando desgaste físico acentuado. Fatores como a rodovia movimentada e a

iminência da criminalidade, provocam uma postura física de tensão e prontidão, que é uma

característica do policial próximo ao trânsito rodoviário, seja em pé ou dentro do veículo.

Quando afastado do veículo, portanto mais desprotegido, a atitude passa para um alerta

acentuado, pois existe tanto o risco de atropelamento, quanto de ações criminosas contra o

policial. Estas condições associadas colaboram para resultar em diversas doenças sendo muito

comum a ocorrência de dor lombar.

A PRF não tem TAF (Teste de Aptidão Física) como os militares, por isso o

policial rodoviário federal descuida mais da saúde. Em razão disso, o número de atestados de

saúde é maior e consequentemente o número de faltas ao serviço também, tornando-se

necessária a realização de mais estudos e pesquisas a respeito de técnicas não invasivas,

simples, de baixo custo e de fácil acesso à comunidade, como as práticas naturais.

Através dos preceitos da Naturologia Aplicada, que estuda e aplica práticas

naturais visando a manutenção da saúde e qualidade de vida de seus interagentes, optou-se

pelo uso do questionário Oswestry de incapacidade por dor lombar porque ele se adequou a

esta proposta, uma vez que identifica de forma ampliada os vários aspectos da vida do

indivíduo com dor lombar e o quanto estes interferem na qualidade de vida do mesmo.

Através deste questionário, foi possível ampliar a visão sobre cada policial e realizar uma

análise mais complexa e integral, uma vez que se tratavam de grupos pequenos.

Foi possível perceber que as diferenças de humor e, principalmente, o aumento do

estresse emocional, resultou em consequente aumento da dor. Alguns policiais passaram por

mudanças organizacionais no trabalho, outros sofreram transformações em suas vidas

pessoais e outros submeteram-se a intenso esforço físico durante o período de pesquisa. Todos

eles apresentaram alterações nos níveis de intensidade de dor, mas aqueles que haviam

vivenciado estresse emocional relataram maior intensidade de dor na sessão subsequente ao

aumento do estresse.

17

Percebeu-se também que os motivos que podem desencadear a dor lombar são os

mais diversificados, podendo originar-se de estresse físico ou emocional e que a percepção e

sensibilidade da dor de cada indivíduo é algo determinantemente singular. A manifestação da

dor ocorre de diversas formas e está relacionada a fatores externos e internos com os quais o

indivíduo convive ou conviveu durante sua vida, como elementos sensoriais, afetivos, sociais,

culturais e emocionais. Neste contexto, foi possível observar mudanças no indivíduo, em sua

existência, no que diz respeito não somente ao físico, mas à sua vida em diversos aspectos

como a relação consigo mesmo, família, trabalho, etc. Assim a interpretação dos questionários

pode ter variado de um indivíduo para outro, influenciando nos resultados da pesquisa.

A frequência da aplicação e o número de encontros aparentaram ser o suficiente

para a obtenção dos dados, visto que houve melhora dos resultados desde a primeira sessão.

Um fator a ser observado em relação ao grupo de auriculoterapia associada à

reflexoterapia diz respeito à adequada estimulação dos pontos de auriculoterapia. Os policiais

foram orientados a realizar pressão em cada ponto de auriculoterapia durante 1 minuto 3

vezes ao dia, a partir do dia seguinte à sessão. Entretanto, muitos deles podem ter se

esquecido de realizar adequadamente este estímulo, visto que geralmente as sementes não são

sentidas ou percebidas na orelha. Este fato pode ter influenciado negativamente nos resultados

do grupo de auriculoterapia associada à reflexoterapia.

Notou-se que o tipo de patologia e a presença ou não da mesma, a idade ou sexo,

não interferiram nos resultados da pesquisa uma vez que indivíduos das mais diversas

características apresentaram resultados semelhantes.

Através deste estudo também foi possível perceber que o grupo de auriculoterapia

associada à reflexoterapia, obteve diferenças mais acentuadas que os demais grupos nas

pontuações dos valores da mediana, mínima e máxima de 5 itens do questionário Oswestry,

sugerindo resultados mais efetivos para a redução da dor. Entretanto, esta pesquisa contou

com poucos participantes em cada grupo, refletindo diretamente nos resultados. Desta forma,

para melhor análise comparativa, sugere-se que novos estudos sejam feitos com amostra

adequada para a obtenção de resultados mais significativos.

É importante discutir também sobre à realização de outro estudo que analise os

resultados de um grupo com a aplicação da auriculoterapia sem associá-la a outra técnica. A

naturologia tem como prática clínica associar esta terapia à outras com a intenção de manter o

estímulo realizado em consultório. Entretanto, conhecer os resultados da auriculoterapia sem a

influência de outros estímulos, contribuirá na compreensão de seus efeitos, tempo e

intensidade de ação.

18

Esta pesquisa atingiu o objetivo proposto, atuando beneficamente sobre a dor

lombar e a incapacidade que esta causa. Percebeu-se que a auriculoterapia, além de

proporcionar efeitos analgésicos instantâneos, pode atuar como instrumento mantenedor das

terapias naturais, neste caso, a reflexoterapia. Esta associação prolongou o estímulo

terapêutico e estabilizou os sintomas de dor lombar de policiais rodoviários federais. Tanto o

naturólogo, quanto outros profissionais da área da saúde podem valer-se deste instrumento

estendendo e ampliando os benefícios dos tratamentos.

THE EFFECTS OF FOOT REFLEXOTHERAPY AND AURICULOTHERAPY IN

THE REDUCTION OF BACK PAIN SUFFERED BY THE FEDERAL HIGHWAY

POLICE

ABSTRACT: This study seeks to measure the individual effects of foot reflexology and

auriculotherapy in cases of back pain suffered by the Brazilian Highway Police (PRF). Both

therapies are generally utilized for pain as well as organic or emotional upset. Our study seeks

to highlight the benefit of combining reflexology and auriculotherapy both as an extension of

naturological interventions and as a long-lasting therapy. 15 members of the Highway Police

suffering from back pain participated in the study, who were then divided into three groups of

five participants. These groups received treatment once a week over a four week period. Five

subjects underwent foot reflexology, the other five received auriculotherapy associated with

foot reflexology, and the remaining constituted the control group. Before the first sessions and

after the final session, the Oswestry questionnaire was used to evaluate the incapacities and

limitations caused, and experience, through back pain. The intensity of pain was measured

prior to, and following each session using the Wong-Baker facial expression scale. Research

concluded that reflexotherapy and auriculotherapy associated with foot reflexology furnish

similar results in terms of the reduction of back pain. Both techniques demonstrated

proportional stabalization of symptoms between sessions, highlighting the lasting stimulus

effect of auriculotherapy.

Keywords: Reflexology. Auriculotherapy. Back Pain. Federal Highway Police.

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