UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARABACAMPUS I CAMPINA GRANDE
CENTRO DE EDUCAO CEDUCDEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS
LARISSA LUCENA RIBEIRO
OS FATORES DE COERNCIA NA CONSTRUO DE SENTIDO DO GNERO TEXTUAL CHARGE
CAMPINA GRANDE PB2016
LARISSA LUCENA RIBEIRO
OS FATORES DE COERNCIA NA CONSTRUO DE SENTIDO DO GNERO TEXTUAL CHARGE
Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em Letras da Universidade Estadual da Paraba, em cumprimento s exigncias para a obteno do ttulo de Graduao.
Orientadora: Prof. Ms Amasile Coelho L. da C. Sousa
CAMPINA GRANDE PB2016
RESUMO
Diante da falta de interesse dos alunos pela leitura, bem como das dificuldades encontradas em relao compreenso e interpretao dos mais variados textos que circulam socialmente, entendemos o gnero textual charge como uma alternativa de leitura atrativa aos alunos. Pelo uso da linguagem verbal associada a imagem e pela crtica no revelada de maneira explcita. Alguns livros didticos de portugus a partir das sugestes de leitura pelos PCNs acerca do estudo das charges em sala de aula como um texto que promove a reflexo crtica, optaram por inclu-las em seus volumes. Desta forma, indagamos se estes livros contemplam os fatores de coerncia implicados na construo de sentido das charges. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo geral analisar a abordagem que dada ao gnero em questo na coleo do livro didtico de portugus do ensino mdio, Vozes do mundo (2013), e como objetivo especfico mostrar que no trabalho de compreenso e interpretao da charge cumpre-se necessrio considerar os fatores de coerncia para que o gnero em questo realize com eficcia sua inteno sociocomunicativa. A partir da anlise percebemos que embora as atividades propostas sejam significativas, elas precisam ser aprofundadas a partir dos fatores de coerncia, que entendemos de grande relevncia para a construo de sentido do gnero. Para tanto, nos baseamos nas teorias de Beaugrand e Dressler (apud COSTA VAL, 1991) e Koch e Travaglia (1993).
PALAVRAS-CHAVE: Gneros textuais. Livro didtico. Charge. Fatores de coerncia
ABSTRACT
Given the lack of student interest in reading as well as the difficulties encountered in relation to the understanding and interpretation of various texts circulating socially, we understand the genre as an alternative charge of engaging reading to students. The use of verbal language associated with image and critics undisclosed explicitly. Some textbooks Portuguese from reading suggestions by NCPs about the study of the cartoons in the classroom as a text that promotes critical thinking, chose to include them in their volumes. Thus, we ask whether these books include the consistency of factors involved in the construction of meaning of the cartoons. Thus, this work has as main objective to analyze approach that is given to the gender issue in the textbook collection of Portuguese high school, "Voices of the World" (2013), and as a specific objective to show that the work of understanding and interpretation the charge meets is necessary to consider the consistency of factors for the genre in question perform effectively its sociocomunicativa intention. From the analysis we realized that although the proposed activities are meaningful, they need to be deepened from consistency factors, we understand the great importance to the construction of meaning of gender. For this, we rely on the theories of Beaugrand and Dressler (apud COSTA VAL, 1991) and Koch and Travaglia (1993).
KEYWORDS: Text genres. Textbook. Charge. Coherence factors.
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1. INTRODUO
Uma das maiores preocupaes dos professores de lngua portuguesa a
acentuada falta de interesse dos alunos pela leitura, e quando lem, fazem
desmotivados pelos prprios mtodos de ensino utilizados pelos docentes, que
ainda incorrem no erro de promover atividade de leitura centrada unicamente nas
habilidades mecnicas de decodificao da escrita, atividade de leitura sem funo,
desvinculada dos diferentes usos sociais, atividade de leitura cuja interpretao se
limita a recuperar os elementos literais e explcitos presentes na superfcie do texto.
Por entendermos que o gnero textual charge desperta maior ateno no
aluno/leitor, sendo um texto condensado, que abarca mltiplas informaes, atrativo
pela linguagem no-verbal e ainda ser um poderoso instrumento de crtica, o que
contribui de forma significativa na formao de leitores crticos, d-se a escolha do
gnero em questo como objeto de pesquisa.
A charge possibilita ao aluno perceber as informaes implcitas e sua
contribuio para o exerccio de reflexo, atravs do dilogo existente entre a
linguagem verbal e no-verbal e do uso da ironia. Desta forma, o gnero textual
prope alternativa de leitura, compreenso e interpretao que tenham como
objetivo a formao de um leitor crtico, que vai alm do que est no texto, que faz
inferncias, que faz uso de seus conhecimentos prvios para preencher os vazios do
texto, construindo assim novos significados.
Sabendo da importncia que o gnero textual charge tem na formao de
leitores crticos, bem como que no processo de compreenso e interpretao do
gnero citado importante considerarmos os fatores de coerncia, podemos
perceber a presena de algumas charges nos livros didticos de portugus. Sendo
assim, ser que estes livros tm levado em considerao esses fatores implicados
na construo de sentido do texto?
Diante de tais questes, o presente artigo teve como objetivo geral analisar a
abordagem que dada ao gnero textual charge presente na coleo do livro
didtico de portugus (LDP) Vozes do mundo, em suas trs sries do ensino
mdio. E, por fim, teve como objetivo especfico mostrar que no trabalho de
compreenso e interpretao da charge cumpre-se necessrio considerar os fatores
de coerncia para que o gnero em questo realize com eficcia sua inteno
sociocomunicativa.
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Optamos por trabalhar com a anlise do livro didtico do ensino mdio por
entender que este faz parte de uma etapa intermediria entre o Ensino Fundamental
e a Educao Superior. nesta etapa que os estudantes se preparam para
enfrentar o Exame Nacional do Ensino Mdio (ENEM), que os levar ao ingresso em
universidades pblicas e privadas e estas para o mercado de trabalho. Desta forma
faz-se necessrio uma formao que busque promover a capacidade de pensar,
refletir e compreender o mundo.
Diante da importncia do Ensino Mdio, o livro didtico til como elemento
norteador das aulas ministradas pelo professor. O docente no deve, pois limitar-se
ao uso, uma vez que o ensino passa por crescentes mudanas, que muitas vezes
no so acompanhadas pelos livros didticos. Prova disso so os trabalhos com os
gneros textuais, que apesar de inclusos nos PCNs, nem sempre so abordados
nos livros didticos, cabendo ao professor buscar recursos extras para tornar suas
aulas mais atrativas.
Embora haja falhas nos livros didticos, a escola atravs da figura do
professor tem o poder de escolher o material que ser utilizado em sala de aula
atravs do Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD) que elabora o Guia do Livro
Didtico com resenhas das colees consideradas aprovadas. Desta forma, a
equipe de professor seleciona os livros que melhor atendem ao seu projeto poltico
pedaggico.
Os livros analisados nesse artigo fazem parte da coleo Vozes do Mundo,
composto por trs volumes, do primeiro ao terceiro ano do ensino mdio. Seus
autores so: Llia Santos Abreu Tardelli, Lucas Sanches Oda, Maria Tereza arruda
Campos(coord.) e Salete Toledo. Publicada pela editora Saraiva em sua 1 edio
2013. Cada volume dividido em trs partes: Literatura, Lngua e Produo de texto.
A coleo de livros, de modo geral, contemplou o gnero textual charge em
todos os trs volumes, sendo que as charges foram encontradas em sees de
lngua e produo de texto de forma dispersa. Enquanto vrios outros gneros
tiveram um espao privilegiado. Sendo reservado um captulo inteiro na parte de
produo de texto destinado ao seu estudo. No volume 1, encontramos o conto, a
crnica, a notcia, a reportagem, o texto didtico, a comunicao oral, a entrevista e
o artigo de opinio.
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No volume 2, temos o texto dramtico, o relato de viagem, o artigo de
divulgao cientfica, o relatrio, a exposio oral, o editorial, o debate e a
propaganda.
No volume 3, temos o conto fantstico, o artigo de divulgao cientfica, o
artigo enciclopdico, o artigo de opinio, a dissertao do vestibular, a carta aberta,
a resenha crtica e o debate deliberativo.
As charges foram encontradas em sees de lngua e produo de texto de
forma dispersa.
Num total de 10 charges encontradas nos trs volumes, optamos por
trabalhar com todas as ocorrncias.
2. GNEROS TEXTUAIS
Como destaca Marcuschi (2008), o estudo dos gneros textuais no novo,
porm vem sendo atualmente utilizado com muita frequncia em diversas reas,
principalmente nas aulas de Lngua Portuguesa (LP), uma vez que tanto os livros
didticos quanto os docentes da rea ainda incorrem no erro de empregar tipo
textual a diversidade de gneros existentes, contudo, ... No devemos imaginar
que a distino entre gnero e tipo textual forme uma viso dicotmica, pois eles so
dois aspectos constitutivos do funcionamento da lngua em situaes comunicativas
da vida diria (MARCUSCHI, 2008, p. 156).
O autor faz uso do termo gnero textual
Como uma noo propositalmente vaga para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diria e que apresentam caractersticas scio-comunicativas definidas por contedos, propriedades funcionais, estilo e composio caracterstica. (MARCUSCHI, 2003, p. 22-23).
Os gneros textuais so, pois, textos variados, atravs dos quais se
estabelece a comunicao e a interao entre os interlocutores. Eles surgem a partir
das prticas sociais de linguagem, mediante a necessidade de novos meios para se
realizar. E assim como surgem, tambm podem desaparecer, por isso, no h como
se fazer uma lista fechada de todos os gneros.
Podemos apontar ainda em relao aos gneros textuais, a utilizao do
termo inter-gneros, ao que Ursula Fix (1997:97), citada por Marcuschi (2003)
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prefere usar a expresso intertextualidade inter-gneros, que a mescla de
gneros, quando um gnero assume a funo de outro. Por isso mesmo, no
podemos defini-los ou caracteriz-los simplesmente pela forma, seja ela estrutural
ou lingustica, mas por aspectos scio-comunicativos e funcionais. Sabendo, claro,
que no podemos desprezar a forma, uma vez que em algumas situaes ela
quem determinar o gnero e em outras so as funes. Tambm no devemos
confundir intertextualidade inter-gneros com heterogeneidade tipolgica, sendo a
primeira traduzida como um gnero que assume a funo de outro e o segundo
como um gnero com a presena de vrios tipos.
2.1 Gneros textuais e ensino
Os PCNs (Parmetros Curriculares Nacionais) sugerem que todo aluno seja
capaz de interpretar diferentes textos que circulam socialmente, sendo assim, os
gneros textuais cumprem um papel fundamental nessa misso.
Sendo os gneros de carter ilimitado, impossvel a escola tratar de todos, por isso:
os textos a serem selecionados so aqueles que, por suas caractersticas e usos, podem favorecer a reflexo crtica, o exerccio de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, bem como a fruio esttica dos usos artsticos da linguagem, ou seja, os mais vitais para plena participao numa sociedade letrada (PCN, 1998, p. 24).
Por esse motivo, cabe ao professor a escolha de quais gneros textuais
abordar em sala de aula, levando em considerao aqueles que fazem parte da
realidade dos alunos, bem como os que despertam maior interesse.
Por ser a charge um gnero textual que impe a reflexo crtica do aluno, os
PCNs o incluem em um dos privilegiados para a prtica de leitura de textos, com a
finalidade de formar leitores competentes, com habilidades que vo alm da
decodificao textual, que compreendam o que lem, mas tambm o que est nas
entrelinhas e que consigam estabelecer relaes entre o texto que se l e outros j
lidos.
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3. Fatores de textualidade na construo de sentido
A leitura da charge exige do leitor muita ateno quanto aos aspectos e
caractersticas envolvidas na construo de sentido. A charge um gnero textual
que se constitui pela linguagem verbal e no verbal, sendo muitas vezes produzida
apenas atravs da imagem. Ela tem como objetivo geralmente fazer uma crtica a
um acontecimento atual comumente relacionado poltica.
O primeiro passo entend-la como um texto, ou seja, uma unidade de
linguagem verbal e no-verbal em uso, cumprindo uma funo sociocomunicativa.
O processo de apreenso de sentidos na charge dar-se- a partir dos fatores
de textualidade, termo adotado por Beaugrande e Dressler (apud COSTA VAL,
1991). Trata-se, pois, de sete princpios de textualidade, que permitem a
caracterizao do texto, que so a coerncia e a coeso, o primeiro relacionado ao
aspecto semntico e o segundo ao formal, a intencionalidade, a aceitabilidade, a
situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade, todos cinco ligados ao
aspecto pragmtico.
A coerncia de grande importncia dentre todos os fatores de textualidade,
por ser responsvel pelo sentido global do texto, ou seja, por torn-lo lgico. Para
que a coerncia seja estabelecida em um discurso, preciso que o locutor leve em
considerao o conhecimento de mundo do interlocutor, uma vez que grande parte
dos conhecimentos necessrios compreenso dos textos no vem de forma
explcita, sendo necessrio um esforo por parte do ouvinte para pressupor e inferir
o que no est dito no discurso.
A coeso, por sua vez, responsvel pela unidade formal do texto e constri-
se atravs de mecanismos gramaticais (artigos, conjunes, correlaes entre os
tempos verbais, etc.) e lexicais (reiterao, substituio e associao). Em relao
aos aspectos lexicais, podemos dizer que a reiterao ocorre pela repetio de uma
palavra ou pela nominalizao; a substituio se d pela troca de palavras por meio
da sinonmia, antonmia, hiponmia e hiperonmia e a associao permite
relacionarmos termos relativos a um mesmo evento ou situao. Apesar de a
coeso ser til pelo fato de facilitar a leitura e a produo do texto, ela no
suficiente para garantir a textualidade, pois a relao entre as frases num dado texto
se d no no nvel gramatical, mas no nvel semntico cognitivo.
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O primeiro fator pragmtico da textualidade citado por Beaugrande e Dressler
(apud COSTA VAL, 1991) a intencionalidade, centrada no produtor, que tem como
perspectiva ao construir um discurso coerente, satisfazer seus objetivos, que podem
ser o de convencer, pedir, ironizar, ofender, etc. O produtor espera que o leitor
perceba nas entrelinhas suas reais intenes, sem que ele tenha que deixar explcito
o que pretende dizer.
A aceitabilidade est voltada para a expectativa do recebedor em perceber o
texto como coerente, coeso, til e relevante, capaz de lev-lo a adquirir
conhecimentos ou a ajudar com os objetivos do produtor. Desta forma, Grice (apud
COSTA VAL, 1991) estabelece algumas estratgias utilizadas pelo produtor para
alcanar a aceitabilidade do recebedor. So elas: a cooperao, que se refere ao
empenho do produtor em responder aos interesses do recebedor, a qualidade, que
diz respeito veracidade do que est sendo dito, a quantidade de informaes
veiculadas, a pertinncia e relevncia das mesmas e a apresentao destas
informaes, que devem ser claras. Assim sendo, possvel dizer que h uma
espcie de colaborao entre produtor e recebedor, pois o primeiro espera que o
recebedor participe na construo do sentido, e o segundo que se cumpram as
mximas conversacionais. Porm, h casos em que algumas dessas mximas so
desrespeitadas propositalmente pelo produtor e o recebedor ao supor como
intencional prefere aceitar o discurso como coerente. Esse fenmeno por Grice
chamado implicitura conversacional.
Charolles (apud COSTA VAL, 1991, p. 12) afirma que:
Em geral, o recebedor d um crdito de coerncia ao produtor: supe que seu discurso seja coerente e se empenha em captar essa coerncia, recobrindo lacunas, fazendo dedues, enfim, colocando a servio da compreenso do texto todo conhecimento de que dispe.
A situacionalidade segundo COSTA VAL (1991, p.12) a adequao do
texto situao comunicativa. O texto por ser amplo e dotado de polissemia
muitas vezes aberto a interpretaes, porm ao levarmos em considerao o
contexto de produo e recepo, teremos um texto com um sentido mais restrito.
Outro fator de textualidade a informatividade, que, por sua vez, vai
depender do interesse do recebedor em relao ao texto, podendo rejeit-lo se este
tiver um alto grau de informatividade, pois, consequentemente, o receptor no
conseguir process-lo, como tambm se o texto for demasiadamente bvio, sem
muito a acrescentar. Nesse sentido,
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o ideal o texto se manter num nvel mediano de informatividade, no qual se alternam ocorrncias de processamento imediato, que falam do conhecido, com ocorrncias de processamento mais trabalhoso, que trazem novidade (COSTA VAL, 1991, p.14).
Entretanto, no possvel nem desejvel que o discurso explicite todas as
informaes necessrias ao seu processamento, mas preciso que ele deixe
inequvocos todos os dados necessrios sua compreenso aos quais o recebedor
no conseguir chegar sozinho.
O stimo fator a intertextualidade, relao entre textos, tendo em vista que
um texto mesmo que de forma sutil sempre far aluso a outro/outros textos e as
percepes dessas relaes intertextuais depender do repertrio do leitor. Da a
importncia da leitura, pois quanto mais se l, mais se amplia a competncia para
apreender o dilogo que os textos travam entre si por meio de referncias, citaes
e aluses (PLATO & SAVIOLLI, 1990, p.20).
Todos os fatores de textualidade apontados por Beaugrande e Dressler (apud
COSTA VAL, 1991) so fundamentais para que o leitor perceba todas as nuances
envolvidas no processo de construo e apreenso de sentido um texto.
Para Kock e Travaglia (1993), a coerncia o princpio que faz com que o
texto faa sentido para os usurios, e ela se estabelece na interao entre os fatores
dela dependentes numa dada situao comunicativa. Devendo, portanto, ser
entendida como um princpio de interpretabilidade.
A capacidade dos usurios de construir e recuperar o sentido do texto vai
depender do que os autores acima citados chamaram de fatores de coerncia, termo
que Beaugrand e Dressler (apud COSTA VAL, 1991) consideraram como um dos
fatores de textualidade.
4. Fatores de coerncia apontados por Kock e Travaglia
Kock e Travaglia apontam treze fatores de coerncia, dentre os quais cinco j
foram citados por Beaugrand e Dressler. Os demais so: elementos lingusticos,
conhecimento de mundo, conhecimento partilhado, inferncias, fatores de
contextualizao, focalizao e consistncia e relevncia. Os elementos lingsticos
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so responsveis pela linguagem textual, contribuindo de forma ativa na construo
da coerncia, pois atravs deles podemos fazer inferncias sobre a orientao
argumentativa dos enunciados que compem o texto, observando a escolha lexical,
dos conectivos e o modo como se inter-relacionam para veicular sentidos.
O conhecimento de mundo diz respeito ao conhecimento adquirido ao longo
da nossa existncia, que vai desde o conhecimento referente s nossas vivncias
pessoais at o conhecimento dito cientfico ou enciclopdico. Dessa forma, quanto
maior for o conhecimento de mundo do leitor, mais previses ele far acerca do
texto.
O conhecimento partilhado a parcela de conhecimento comum entre
produtor e receptor de um texto. esse conhecimento que determina a quantidade
de informaes que devem ou no ser explicitadas no texto. O professor tem um
papel decisivo na escolha de textos que possuam certo grau de similaridade ao
conhecimento de mundo do aluno/leitor. Porm deve haver certo equilbrio entre as
informaes dadas ou velhas e as informaes novas para que o texto no seja to
bvio nem tampouco incompreensvel.
A inferncia a operao que o aluno/leitor realiza para compreender o que
no est explcito, mas que pode ser inferido a partir do que foi dito, porm no
diretamente no texto, podendo ser deduzido atravs dos elementos lingusticos-
gramaticais e semnticos juntamente com o contexto. necessrio, portanto a
mediao do professor nesse processo de inferncias, pois h casos em que o
aluno faz inferncias imprevistas ou no desejadas pelo produtor.
Os fatores de contextualizao segundo Marcuschi (apud KOCK e
TRAVAGLIA, 1993) podem ser de dois tipos: contextualizadores propriamente ditos
(data, local, assinatura, elementos grficos, timbre, etc) que ajuda a situar o texto e
os perspectivos ou prospectivos que esto relacionados ao contedo e forma
(ttulo, autor, incio do texto). Todos estes fatores permitem ao aluno/leitor fazer
previses sobre o texto, por exemplo, quando ele j conhece o estilo de determinado
autor. A contextualizao constitui um dos fatores que fazem com que um texto seja
coerente em uma determinada situao comunicativa.
A focalizao est intrinsecamente ligada ao conhecimento de mundo e ao
conhecimento partilhado entre produtor e receptor do texto, pois ambos se apiam
em determinada parte desse conhecimento para estabelecer uma viso a respeito
dos componentes do mundo textual. O produtor fornece algumas pistas sobre o que
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est focalizando, cabendo ao receptor ativar alguns conhecimentos para poder
entender o texto, pois um mesmo texto pode ser lido de maneiras distintas por
diferentes leitores, impedindo por vezes o estabelecimento da coerncia.
comum ao professor de lngua portuguesa aplicar este termo no momento
de leitura e produo textual, ao pedir ao aluno para delimitar o assunto e
estabelecer um objetivo para o texto, levando-o a focalizar o tema de um modo
determinado.
5. A abordagem do gnero textual charge na coleo Vozes do
Mundo
A coleo de livros contemplou nos seus trs volumes um total de 10 charges.
Abaixo apresentamos um quadro demonstrando a quantidade de charges presentes
em cada volume e suas respectivas sees.
VOLUME QUANTIDADE SEO
1 6 Lngua e produo de texto
2 3 Lngua e produo de texto
3 1 Lngua
No volume 1, aparecem um total de seis charges, das quais cinco esto
distribudas na seo de lngua e uma na seo produo de texto.
A primeira charge encontra-se no captulo 4, intitulado fala e escrita, em que
o chargista teve como finalidade criticar o uso abusivo dos marcadores
conversacionais na comunicao oral, o que alm de quebrar muitas vezes a
linearidade do texto, empobrecem o discurso, tornando-o repetitivo e chato.
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Na parte de leitura e reflexo, que consiste numa atividade acerca da charge, as
questes de interpretao foram razoavelmente bem elaboradas, quanto as
questes de oralidade. Os elaboradores da atividade proposta poderiam ainda fazer
uma reflexo acerca do uso exagerado dos marcadores conversacionais, mostrando
suas funes dentro do discurso, quando bem conduzidas, alm de trabalhar com a
oralidade pedindo aos alunos, por exemplo, para gravarem uma conversa entre eles
e ao final transcreverem os marcadores registrados, abrindo espao para uma
discusso.
No foi levado em considerao em nenhum momento o conhecimento de
mundo do aluno acerca da Torre de Pisa, sendo esse fator um dos mais importantes
na construo de sentido, pois se o leitor no tiver nenhum conhecimento, por
menor que seja, no conseguir perceber o texto como coerente.
A quarta questo diz que o autor fez uma brincadeira com a semelhana entre
as palavras Pisa e pizza, apesar de ambas terem pronncias diferentes. Esta
questo deveria, pois, suscitar no aluno a relao entre as duas palavras, pois a
primeira vista parece ilgico, mas se acionarmos nosso conhecimento prvio e
fizermos algumas inferncias, podemos perceber que tanto a torre de Pisa quanto a
pizza, fazem parte da histria da Itlia.
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A intencionalidade tambm no foi explorada, e tem grande importncia
nesse contexto, pois o aluno precisa inferir quais as intenes do chargista ao
produzir esse texto.
Percebemos que a charge foi utilizada para se trabalhar com a oralidade, pois
de um total de cinco questes apenas a questo 2 apresenta uma das
caractersticas do gnero, o humor, embora a finalidade maior tenha sido explorar as
marcas da oralidade.
Tomemos a segunda charge que se encontra no captulo 5, intitulado
linguagem e interao.
A inteno dos elaboradores da atividade proposta foi trabalhar os meios de
comunicao: emissor, receptor, mensagem, canal, que de certa forma, foram bem
abordados, levando em considerao todos os elementos envolvidos no processo.
Porm as questes no abordaram nenhum aspecto relativo s caractersticas do
gnero em questo para apreenso de sentido do texto. Nem mesmo o humor
trazido na charge foi comentado pelos elaboradores da atividade, desprezando
assim a caracterstica mais evidente inerente ao gnero nesta charge. O humor
um recurso muito utilizado nas charges, pois descreve o comportamento de
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personagens de forma humorstica, provocando o riso no leitor a partir do
inesperado, do surpreendente, do cmico.
A inteno do chargista foi provocar humor, ao demonstrar o perfil de toda
me: protetora, preocupada, aquela que embora os filhos cresam, para elas so as
mesmas crianas de outrora.
Podemos construir a coerncia nesta charge a partir do conhecimento de
mundo do aluno, pois ele tem arquivado na memria que toda me tem um instinto
protetor, sendo assim o humor percebido quando a me do piloto do avio grita:
Desce j da, Carlos Augusto.
Outro fator responsvel pelo estabelecimento da coerncia o fator de
contextualizao, percebido na parte inferior da charge em que consta a data de
publicao, que foi no ms de maio, ms em que se comemora o dia das mes.
Desta forma, podemos tambm citar outro fator igualmente importante na construo
de sentido, a situacionalidade, pois o contexto em que a charge foi produzida
relevante a situao comunicativa.
A terceira charge encontra-se no captulo 7 e tem como ttulo aniversrio de
So Paulo.
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Nela representado o nmero 456 formado com imagens de automveis
referindo-se idade da fundao da cidade de So Paulo. O chargista teve como
objetivo ironizar a festa de aniversrio ao demonstrar um dos maiores problemas
enfrentados pelos paulistanos, que o grande congestionamento de automveis.
Outro aspecto observado que os carros encontram-se num grande
estacionamento, em que s so vistos carros, numa aluso a que os condutores,
moradores da cidade encontram-se aprisionados dentro deles. As questes
elaboradas para trabalhar esta charge foram suficientes para que o leitor percebesse
o texto como coerente, pois o aluno foi levado a estabelecer a relao existente
entre o ttulo da charge e seus elementos no verbais para ajud-lo a compreender
as intenes do chargista. Intenes essas que so abordadas quando se questiona
os objetivos na questo dois e trs. E a quarta questo trata dos conhecimentos de
mundo que o aluno deve ter para poder estabelecer sentido ao texto.
Para que o leitor compreenda a charge preciso que ele tenha conhecimento
de como o trnsito na cidade de So Paulo. Acionando o conhecimento de mundo,
o aluno/leitor ser levado a perceber quais as intenes do chargista, pois preciso
que o professor na tentativa de formar um leitor crtico, capaz de agir e interagir em
sociedade, mostre que no existe texto neutro, sempre h uma inteno no discurso
do outro, que ser percebida a partir de inferncias que o leitor far para perceber os
implcitos do texto.
A quarta charge est presente no quesito de nmero quatro de uma atividade
na pgina 263.
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O autor da charge brinca com as palavras: ps e paz, uma vez que ambas
tm a mesma sonoridade, porm significados distintos, numa tentativa de ironia e
crtica a regio do Oriente Mdio, territrio marcado por conflitos polticos e
religiosos que perduram por sculos e que j foi a causa de milhes de mortes.
Na imagem, percebemos com clareza a figura de soldados. Isto foi possvel
atravs do conhecimento de mundo que diz que soldados vestem fardas. Eles
utilizam ps para enterrar mortos, pois temos a imagem de cruzes, que indica serem
uma espcie de cemitrio e a presena de pssaros, provavelmente urubus, que so
animais que se alimentam de carnes em estado de putrefao.
O professor deve aprofundar o debate mostrando que se o substantivo paz
fosse utilizado produziria certa ironia, pois como pode uma palavra que denota
harmonia, tranquilidade fazer parte de uma rea conflituosa, que tem como principal
contenda, questes de ordem religiosa? A ironia se d pelo emprego de uma palavra
em sentido figurado, ou seja, no literal e pelo conflito entre o que se diz e o que
realmente se pretende dizer.
O conhecimento de mundo sobre os conflitos ocorridos na regio do Oriente
Mdio ser de suma importncia para construirmos a coerncia na charge. Alm
desse fator, h tambm o fator de intencionalidade, j citado em charges anteriores.
Todo texto produzido a fim de satisfazer os objetivos do produtor, e este espera
que o leitor seja capaz de perceber suas intenes sem que haja necessidade de
explicit-las. Da a necessidade de que faamos uma srie de inferncias para
podermos compreender o texto integralmente. Os fatores de contextualizao
tambm ajudam no processo de compreenso, pois eles permitem ao aluno/leitor
fazer previses sobre contedo e forma do texto. Nesta charge, conhecendo o estilo
do autor Millr Fernandes, podemos inferir que o texto ter traos de humor e ironia,
caracterstica comum a seus escritos.
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A quinta charge encontra-se num texto que aborda a linguagem polissmica.
Na charge, pressupe-se que h um debate poltico na TV, pois as palavras
nos bales que vm da TV so rplica e trplica. A inteno do produtor da
charge foi criticar o discurso de polticos que apenas reproduzem discursos alheios,
ou seja, no apresentam novidade. O texto mostra a palavra rplica como
polissmica, mostrando abaixo um texto explicitando os vrios significados para a
palavra de acordo com dicionrio Houaiss da lngua portuguesa e no final o autor
explica a crtica revelada pela charge.
O humor da charge percebido quando a menina conceitua rplica como algo
que acreditamos ser autntico, mas que, na verdade, no passa de uma cpia do
original. Porm, para que o humor se estabelea, preciso que o aluno/leitor tenha
conhecimento prvio de que as palavras rplica e trplica fazem parte do universo
dos debates geralmente de cunho poltico. Da inferirmos que o que acontece na TV
um debate poltico principalmente quando realizamos outra inferncia, a de que os
discursos dos polticos no so originais.
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A sexta e ltima charge do 1 volume encontra-se na pgina 390.
A charge faz meno ao projeto de lei da ficha limpa ao mostrar um poltico
ficha suja tatuado com atos de desgoverno: fraude, desvio de verbas, formao de
quadrilha, sonegao, compra de votos, etc. A proposta foi bem conduzida ao propor
um dilogo entre textos, a charge e um artigo de opinio, presente na pgina
anterior sob o ttulo: Ficha limpa vitria exemplar, ambos publicados no mesmo
jornal e no mesmo dia. um momento oportuno para o professor trabalhar com o
conceito de intertextualidade, uma vez que a charge s pode ser entendida se o
leitor tiver conhecimento acerca do projeto de lei da ficha limpa, que teve incio no
ano de 2010, bem como lanar um debate a respeito das mudanas ocorridas
atravs deste projeto na vida do cidado e da classe poltica.
No segundo volume da coleo, temos um total de trs charges, sendo que
as duas primeiras encontram-se na seo de lngua e a ltima na de produo
textual.
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Encontramos a primeira charge na pgina 187.
Ela faz referncia ao atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, quando
avies controlados por terroristas atingiram as torres gmeas do Word Trade Center,
mas a finalidade foi mostrar a situao dos moradores de rua, que esto na mesma
situao de misria h dcadas, o que nos revela o descaso e a inrcia dos
polticos. As questes de interpretao foram bem elaboradas. A primeira questo
foi bem contextualizada, levando o leitor a perceber que o lugar a que o personagem
se referiu no foi um lugar fsico, mas social. Ainda nesta charge, podemos explorar
as intenes do chargista, reforando ao aluno/leitor que todo discurso realizado
em funo de uma determinada inteno. Desta forma, o aluno dever inferir o que
no est posto explicitamente, mas que significativo para estabelecer um sentido
ao texto.
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Para que o aluno faa inferncias pertinentes, ele dever ter conhecimento
prvio de que os personagens da charge so moradores de rua. A partir desse
contexto, vamos construindo o real sentido da charge. A segunda questo abordou
um tema da gramtica normativa, o advrbio ali, mas foi bem contextualizada,
mostrando o sentido do advrbio ali num outro contexto e exigindo do leitor uma
reflexo sobre os usos desse elemento gramatical.
A segunda charge est na pgina 228 como quarta questo de uma atividade
sobre regras do plural dos substantivos.
A charge faz uma crtica a uma situao que ocorreu e ainda est ocorrendo
no mundo inteiro, considerado um dos grandes e graves problemas ecolgicos que
enfrentamos na atualidade, o desmatamento. Alm da crtica h tambm humor,
demonstrado na fala de um dos contrabandistas que desconhece o significado da
palavra clula-tronco. O humor s ser percebido se o aluno tiver conhecimento de
mundo acerca do significado da palavra clula-tronco. A inteno da charge
deduzida a partir do contexto em que foi produzida. As questes elaboradas nos
itens (a) e (b) so pertinentes ao gnero em foco, porm poderiam ser
contextualizadas, abordando o problema do desmatamento e os desastres por ele
provocados. Poderiam ainda falar sobre a aplicabilidade das leis, que so to
contraditrias, pois os culpados nunca so punidos. O item (c) traz uma questo
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gramatical, o plural dos substantivos, em que se pede o plural da palavra e a
justificativa da escolha. Sendo que questes dessa natureza, desvinculada de sua
aplicabilidade e funo s faz o aluno decorar regras e excees gramaticais.
A terceira e ltima charge do volume 2, encontra-se na pgina 379 na seo
de produo de texto, intitulado nas fronteiras do gnero.
A charge retrata a situao de milhes de moradores do pas, que vivem
constantemente em contato com a violncia. Pela imagem, podemos perceber que
se trata de uma favela, localizada no Rio de Janeiro, porque em frente ao varal de
roupas estendidas est parte do po de acar, carto postal da cidade. A imagem
parece corriqueira, uma vez que a moradora estende roupas com marcas de tiros.
Na primeira questo, temos a caracterizao do gnero charge e a referncia
ao suporte textual. O item (a) da mesma questo s poder ser respondido se o
aluno tiver conhecimento de mundo do que caracteriza uma favela e como o lugar
na maioria das vezes marcado pela violncia, percebida pelas marcas de tiro nas
roupas estendidas no varal. Nesta charge, o professor deve levar o aluno a perceber
que no h nenhuma palavra ou expresso, nem mesmo ttulo na charge. Ele se
constitui apenas pela linguagem no verbal, mesmo assim podemos estabelecer
coerncia. No item (b), podemos levar o aluno mais uma vez a perceber que um
texto, mesmo que de forma sutil, sempre far aluso a outro/outros textos, por isso a
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pergunta: Que notcia poderia ter gerado essa charge? No item (b) da segunda
questo foi abordado outro fator responsvel pela coerncia quando se pergunta
com que objetivos os elementos da cena foram selecionados, ou seja, as intenes
do chargista, que pode ser denunciar a situao vivida pelas comunidades carentes
nos grandes centros urbanos. As questes foram bem elaboradas, levando em
considerao todos os aspectos envolvidos na charge, bem como foram bem
contextualizadas.
A nica charge apresentada no volume 3 da coleo, est na pgina 311, na
seo de lngua, na parte de leitura e reflexo como primeira questo de uma
atividade.
Na charge, a imagem da parte verde e amarela da bandeira nacional
brasileira representa a balana e o crculo ao meio, barriga dos brasileiros que
esto acima do peso, sendo assim temos uma intertextualidade. Apenas o item (a)
da questo aborda o gnero em estudo. Nela, podemos mostrar aos alunos que o
autor apresentou um ttulo para a charge. Este ttulo considerado como um fator de
contextualizao, pois ajuda o aluno a estabelecer coerncia entre a linguagem
verbal e no-verbal. Os elaboradores da questo poderiam ter citado ainda o humor
implcito na charge e ter contextualizado a mesma, levantando um debate sobre as
recentes pesquisas sobre o peso dos brasileiros. Os itens (b) e (c) apenas tratam
questes gramaticais, que nada contribuem para uma reflexo sobre seus usos num
dado contexto.
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Percebemos que o maior nmero de charges foi encontrada no volume 1 da
coleo, totalizando seis. O volume 2 traz trs charges e o volume 3 apenas uma. A
coleo traz um pequeno nmero de charges em todos os volumes se
compararmos, por exemplo, ao gnero tiras, no havendo um espao maior para se
trabalhar o gnero de maneira mais aprofundada, fazendo com que o aluno perceba
os elementos constitutivos da charge e os fatores que so indispensveis na
construo da coerncia.
6. CONSIDERAES FINAIS
Baseado na anlise da abordagem que dada ao gnero textual charge na
coleo Vozes do mundo, observamos que os livros de forma geral contemplam
uma grande diversidade de gneros, tendo como j dito anteriormente, um captulo
inteiro destinado ao seu estudo. Porm, o mesmo no acontece em relao com
gnero textual charge, em que encontramos a presena em algumas sees dos
livros sem, contudo, haver um espao privilegiado como foi dado aos demais.
Entendemos que o gnero analisado de grande importncia na formao do
leitor, uma vez que alm de despertar um maior interesse nos alunos por suas
caractersticas, ainda se constitui um poderoso instrumento de crtica.
As atividades de interpretao das charges, de maneira gera,l foram bem
trabalhadas, levando em considerao alguns dos fatores responsveis pela
construo de sentido. Porm, com a ressalva de que algumas delas foram
escolhidas em funo de algum tema relacionado ao ensino da lngua, pois nelas
no encontramos questes determinantes para a compreenso das charges em si.
Num total de dez charges analisadas, os fatores de coerncia que tiveram
maior destaque na busca de uma melhor e mais eficaz compreenso e interpretao
do gnero textual em nossa anlise foram: o conhecimento de mundo, as
inferncias, a situacionalidade, os fatores de contextualizao, a intencionalidade e a
intertextualidade.
Foi possvel, por meio deste trabalho, constatar que, embora as atividades
propostas ao gnero textual charge sejam significativas, elas precisam ser
aprofundadas a partir dos fatores de coerncia, que entendemos de grande
relevncia para a construo de sentido, pois a coerncia no um fenmeno que
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est no texto espera do leitor, mas resulta de uma construo dos usurios do
texto numa dada situao comunicativa.
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7. REFERNCIAS
BRASIL, Secretaria de Educao Fundamental. Parmetros CurricularesNacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: lngua portuguesa. Braslia, MEC/SEF, 1998.
CAMPOS, Maria Tereza Arruda. et AL. Portugus Vozes do mundo 1: literatura, lngua e produo de textos. 1 ed. So Paulo: Saraiva, 2013.
CAMPOS, Maria Tereza Arruda. et AL. Portugus Vozes do mundo 2: literatura, lngua e produo de textos. 1 ed. So Paulo: Saraiva, 2013.
CAMPOS, Maria Tereza Arruda. et AL. Portugus Vozes do mundo 3: literatura, lngua e produo de textos. 1 ed. So Paulo: Saraiva, 2013.
COSTA VAL, M da G. Redao e textualidade. So Paulo: Martins Fontes, 1991.
FIORIN, J. L; SAVIOLLI, F. P. Para entender o texto. Leitura e redao. So Paulo: tica, 1990.
Guia de livros didticos: PNLD 2015: Lngua Portuguesa. Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Bsica, 2014.
KOCH, Ingedore Villaa; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerncia textual. 5. ed. So Paulo: Contexto, 1993.
MARCUSCHI, Luiz Antnio. Produo de texto, anlise de gneros e compreenso. So Paulo: Parbola Editorial, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antnio. Gneros textuais: definio e funcionalidade. In: DIONSIO, ngela Paiva; BEZERRA, Maria Auxiliadora; MACHADO, Anna Rachel (Orgs.) Gneros textuais & ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2003. 19-36.