07/04/2017 OS SETE ANÕES EM ITAÚNA ~ Itaúna Décadas ...
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OS SETE ANÕES EM ITAÚNA 19:43:00
CHARLES AQUINO NO COMMENTS
OS SETE ANÕES EM ITAÚNA & BRANCA DE NEVE*Urtigão
A vida das professoras primárias e das diretoras de grupo escolar era dura. Nada deverbas de qualquer espécie para merenda escolar. O dinheiro tinha de ser angariado com rifas,tômbolas, jantares festivos e contribuições de pais de alunos mais abastados.
Havia uma diferença dos dias de hoje. Só recebiam merenda os alunoscomprovadamente pobres. Normalmente era sopa, bem rica, de macarrão "goela de pato"com carne picada, legumes, etc. Se não era macarrão, era um belo engrossado de fubá,comprado no moinho do Serjobes. Tinha broa de fubá, broa de canjica com melado derapadura, broa feita com coalhada. Quem fazia a merenda era a Merendeira, uma funcionariadestacada para a função. Os outros alunos, " não pobres" levavam merenda de casa.
Lembrome bem de um teatro organizado pelas professoras do Grupo Escolar " José deMelo", onde fiz o primeiro ano primário. Coisa bemfeita.
A peça teatral apresentada foi a história da Branca de Neve e os Sete Anões, comnúmeros de canto e dança, orquestra de violões e violinos de uns ciganos estabelecidos emItaúna. Eles eram ciganos fixos. Tinham uma fábrica de máquinas de moer carne. Tinhamfama de bonitões e as professoras solteiras suspiravam por um deles. Por azar delas, só secasavam com mulheres “ciganas”.
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Ia me esquecendo de dizer: as apresentações foram no antigo Cine Sant'ana, na ruaSilva Jardim. Espetáculo com ingresso pago. O dinheiro arrecadado serviria para reforçar aCaixa Escolar.
Os ciganos tocavam de graça, bem como, todos os "artistas" se apresentavam semcachê. Fantasia também por conta dos pais. Já narrei em outra parte deste blog que eu e meuirmão mais velho, éramos nanicos. Ele foi escolhido para ser o Zangado. Fazia bem o seutipo. Baixinho, marrento e enfezado. Eu era de boa paz. Deramme o papel de Feliz.Entrávamos no palco, com pás e picaretas nas costas a cantar as canções conhecidas degerações e gerações. Barbas de algodão a fazer cócegas e todos nós compenetrados daresponsabilidade que nos cabia.
Na casinha bem arrumada, encontramos Branca de Neve, adormecida, encantada pelafeiticeira invejosa. Era bonita. Se não me falha a memória, o papel coube a Eleusa Moreira, jádesaparecida. Um alvoroço entre os anões. O chefe era o Irdevan Nogueira, dava ordens comprecisão.
Branca de Neve jazia na cama, adormecida para sempre. O que fazer. Aflição, clima de" barata voa"!!!!!
Nos contos de fada, sempre há final feliz. Eis que surge o Príncipe Encantado, vestidode veludo azul, com alamares e botões dourados. Chapéu com plumas, parecendo um mestresala de escola de samba, tamanha a imponência. Era o Aires Bastos. Muito branco, com apalidez realçada pela luz indireta e pelas roupas azuis. Beija a Branca de Neve no rosto e ofeitiço desaparece.
Aplausos retumbantes. Mesuras e mais mesuras para a plateia. Fechamse as cortinas.As palmas não cessam. Os toscos artistas reaparecem. Mais aplausos. As mães orgulhosas "lambem as crias”. Nada de assobios e os gritinhos histéricos tão comuns nas apresentaçõesatuais. Sucesso absoluto. Três dias de casa lotada. Só não houve prorrogação da temporadaem razão de compromissos dos donos do cinema com as distribuidoras de filmes.
Um segredo: para os artistas mirins o que fez sucesso mesmo foram as maçãs. Coisatão rara no interior que foram mandadas buscar em Belo Horizonte. Compradas num empóriode nome" Estâncias California". Ficava na escadaria dos edifícios Sulacap e Sulamerica.
A cada anão, coube uma maçã à guisa de cachê. Embrulhadas em um papel azul,vermelhas e perfumadas. Uma beleza.
*Urtigão é pseudônimo de José Silvério Vasconcelos Miranda, que viveu em Itaúna nasdécadas de 50 e 60. Tudo que narrei acima é verdade. É meio piegas, mas sai um pouco do"modelo" Urtigão!
Crônica escrita e enviada especialmente para o blog Itaúna Décadas em 06/04/2017.