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Page 1: Padronização de Coletes

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA

BRIGADA MILITAR

“PADRONIZAÇÃO DE MODELO DE COLETE BALÍSTICO A SER EMPREGADO

NAS ATIVIDADES DA BRIGADA MILITAR”

Maj RÉGIS ROCHA DA ROSA, Id. Func. 2191814

Maj EDUARDO OTONELLI PITHAN, Id. Func. 2151162

1º Ten EDEMILSON GONÇALVES DA SILVA, Id. Func. 2192047

1º Ten RODINEY PERES SIMÕES, Id. Func. 2182688

Porto Alegre, 20 de novembro de 2007

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“PADRONIZAÇÃO DE MODELO DE COLETE BALÍSTICO A SER EMPREGADO

NAS ATIVIDADES DA BRIGADA MILITAR”

Pesquisa encomendada pelo Exmº Sr

Comandante-Geral da Brigada Militar

(Boletim Geral nº 150, de 15 de agosto de

2007).

Comissão

Maj RÉGIS ROCHA DA ROSA, Id. Func. 2191814

Maj EDUARDO OTONELLI PITHAN, Id. Func. 2151162

1º Ten EDEMILSON GONÇALVES DA SILVA, Id. Func. 2192047

1º Ten RODINEY PERES SIMÕES, Id. Func. 2182688

Porto Alegre, 20 de novembro de 2007

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SUMÁRIO

RESUMO 5

1 INTRODUÇÃO 7

1.1 Problema de pesquisa.......................................................................................... 8

1.2 Objetivos............................................................................................................. 8

1.2.1 Geral.................................................................................................................... 8

1.2.2 Específicos........................................................................................................... 8

1.3 Questões de pesquisa........................................................................................... 9

2 JUSTIFICATIVA 9

3 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 10

3.1 Histórico.............................................................................................................. 10

3.2 Materiais utilizados na fabricação de coletes...................................................... 16

3.2.1 Fibras de Aramida............................................................................................... 16

3.2.1.1 Propriedades da fibra de Aramida....................................................................... 20

3.2.2 Polietileno............................................................................................................ 21

3.2.2.1 Propriedades........................................................................................................ 22

3.2.3 Zylon................................................................................................................... 23

3.3 Princípios de funcionamento............................................................................... 28

3.4 Colete como equipamento de proteção individual.............................................. 30

3.4.1 Proteção adicional............................................................................................... 35

3.5 Os padrões propostos pelo National Institute of Justice – NIJ, dos EUA........... 35

3.6 Tipos de coletes................................................................................................... 37

3.6.1 Coletes Dissimulados.......................................................................................... 37

3.6.2 Coletes Ostensivos.............................................................................................. 39

3.6.3 Coletes Táticos.................................................................................................... 39

3.6.4 Coletes Correcionais............................................................................................ 40

3.7. Conforto e Ajuste................................................................................................ 43

3.8. Área de proteção.................................................................................................. 45

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3.9 Testes, certificação e níveis de proteção............................................................. 45

3.9.1 Níveis de proteção............................................................................................... 48

3.9.2 Testes para homologação dos coletes correcionais............................................. 52

3.10 Identificando o tipo de colete adequado.............................................................. 54

3.11 Prazo de validade dos coletes.............................................................................. 59

3.12 Critérios técnicos para aquisição de coletes balísticos........................................ 61

3.13 Situação atual na Brigada Militar........................................................................ 64

4 METODOLOGIA 68

4.1 Caracterização do estudo..................................................................................... 68

4.2 Coleta de dados................................................................................................... 69

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS 69

5.1 Discussão............................................................................................................. 69

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 73

6.1 Conclusões da pesquisa....................................................................................... 73

6.2 Limitações do estudo.......................................................................................... 75

6.3 Sugestões............................................................................................................ 75

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77

ANEXO 1 79

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RESUMO

O presente estudo teve por objetivo verificar qual o colete balístico mais adequado às

atividades desenvolvidas pela Brigada Militar, seu tipo, propriedades de resistência balística,

configuração e demais aspectos quanto à sua correta utilização, considerando aspectos

relativos à especificação dos produtos pelos fabricantes, as normas técnicas que regem sua

fabricação e a regulamentação quanto ao seu fabrico e aquisição.

O referencial teórico está centrado em normas americanas internacionalmente

aplicadas, em informações técnicas colhidas nos sites dos fabricantes e de órgãos policiais

estrangeiros, bem como em alguns escassos trabalhos e artigos a respeito do tema proposto.

Do ponto de vista metodológico, tal estudo situa-se dentro do contexto de uma

abordagem naturalista, caracterizada como uma pesquisa exploratória descritiva, envolvendo

levantamentos bibliográficos e documentais, ao qual foram acrescentadas algumas pesquisas

realizadas na própria Corporação.

Foram abordadas três dimensões do conhecimento: dados fornecidos pelos fabricantes,

os aspectos técnicos concernentes à fabricação e aquisição dos coletes balísticos e, ainda, a

doutrina técnica policial acerca da utilização deste equipamento de proteção individual.

Na coleta dos dados relativos aos materiais balísticos e os aspectos técnicos dos

diversos tipos de coletes, os membros desta comissão assistiram a uma palestra do gerente da

Divisão de Fibras Avançadas da Du Pont, Márcio Elio Manique Júnior, que esclareceu várias

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dúvidas acerca da composição e das propriedades das fibras de Aramida, material fabricado

pela referida empresa, comparando-as com as propriedades do polietileno, além de detalhar

normas de fabricação dos coletes em conformidade com as imposições legais do

Departamento de Logística do Exército Brasileiro.

Ainda, tivemos contato com Jefferson Teixeira, Gerente de Negócios Institucionais da

Companhia Brasileira de Cartuchos – CBC, maior fabricante de coletes do país, que abordou

os processos de fabricação e características técnicas dos materiais balísticos empregados pela

referida empresa na fabricação de tais equipamentos.

No que tange à doutrina policial atinente ao tema, foi utilizado como base referencial

deste trabalho, um documento elaborado pelo National Institute of Justice, dos Estados

Unidos, denominado Selection and Aplication Guide to Personal Body Armor, ou Guia para

Seleção e Aplicação do Colete Balístico Pessoal, no qual são abordadas inúmeras matizes

inerentes ao assunto, das normas quanto à fabricação, exigências de conforto para o usuário,

níveis de proteção e passando pelos testes de qualificação para a comercialização de tais

produtos.

Os dados coletados foram qualitativos, baseando-se na legislação reguladora deste

produto controlado, nas pesquisas anteriores sobre temas correlatos e informações técnicas

dos fabricantes, sendo tal referencial analisado sob a luz da diversidade de modelos existentes

no mercado brasileiro, seus níveis de proteção balística, sua forma, tamanho e emprego tático.

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INTRODUÇÃO

O presente estudo propõe-se a analisar os diferentes tipos de coletes balísticos

disponíveis no mercado nacional, verificando aqueles que se apresentam mais adequados às

atividades desenvolvidas pela Brigada Militar, visando a padronização quando de futuras

aquisições.

Chamado comumente de “colete à prova de balas”, o colete balístico se constitui no

equipamento que, depois das armas, está mais agregado às atividades militar e policial, tendo

em vista a sua importância técnica e tática, uma vez que sua utilização se revelou

extremamente eficaz no que concerne à proteção individual dos profissionais que labutam

nestas áreas, sendo que, das duas atividades acima referidas, nos reportaremos mais

pontualmente à área policial, por ser o escopo do presente trabalho e por termos maior

conhecimento acerca de suas especificidades.

Diuturnamente, os policiais militares atuam diretamente na mediação de conflitos,

ocasião em que o emprego do equipamento e do armamento adequado influencia diretamente

no resultado de sua ação, tendo repercussões em várias dimensões, no âmbito institucional,

técnico e no próprio comportamento da sociedade, uma vez que a ação policial visa dirimir

conflitos sociais, nos quais, não raramente, os ânimos das partes envolvidas se encontram

exaltados e a presença dos agentes da lei pode desencadear reações violentas, inclusive com

armas de fogo.

A atividade policial se caracteriza como uma das profissões em que o risco de vida é

mais presente, impondo, desta forma, que todos os seus profissionais estejam

permanentemente se atualizando, tanto no que diz respeito às novas técnicas e táticas de

atuação quanto à utilização do equipamento adequado, a fim de que se diminua, o tanto

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quanto possível, a possibilidade de ser atingido por um disparo de arma de fogo ou

minimizando os traumas oriundos de tais tipos de lesões.

O presente trabalho, portanto, objetiva verificar qual o colete de proteção balística

mais adequado às atividades da Corporação, tanto aquelas ligadas ao policiamento ostensivo

geral, quanto outras que sejam de competência legal ou atribuídas temporariamente à Brigada

Militar, como por exemplo, a guarda interna de ambientes correcionais.

Para tanto, diante da inexistência de normas técnicas brasileiras sobre equipamentos

balísticos de uso pessoal, balizaremos nosso estudo na normatização americana, publicada

pelo National Institute of Justice, dos Estados Unidos, a qual é adotada por diversos países,

inclusive o Brasil.

Diante do exposto, formulamos o problema de pesquisa, os objetivos e as questões de

pesquisa a seguir enunciados.

1.1 O problema de pesquisa

“Qual o tipo de colete balístico mais adequado para a utilização contínua por parte

dos policiais-militares em serviço e que garanta efetiva proteção, mobilidade e conforto.”

1.2 Objetivos

1.2.1 Geral

Verificar qual o colete mais adequado para emprego das atividades rotineiras da

Brigada Militar, padronizando a sua utilização.

1.2.2 Específicos

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- Identificar o nível de proteção balística que um colete deve apresentar em razão do

grau de ameaça a que os policiais-militares da Corporação estão expostos;

- Relacionar os requisitos mínimos de conforto que um colete balístico deve

proporcionar;

- Identificar, dentre os materiais balísticos oferecidos no mercado nacional, aquele

que apresente melhores propriedades de resistência;

- Identificar o tipo de colete tecnicamente apropriado para a utilização rotineira pelos

policiais-militares em serviço.

1.3 Questões de pesquisa (QP)

QP 1 – Qual o nível de proteção balística que um colete deve apresentar em razão do

grau de ameaça a que os policiais-militares da Corporação estão expostos?

QP 2 – Quais os requisitos mínimos de conforto que devem apresentar os coletes

balísticos?

QP 3 – Dos materiais balísticos oferecidos no mercado nacional, qual apresenta

melhores propriedades de resistência?

QP 4 - Qual o tipo de colete tecnicamente apropriado para a utilização rotineira pelos

policiais-militares em serviço?

2. JUSTIFICATIVA

O presente estudo atende à demanda do Comando da Brigada Militar, conforme

pesquisa encomendada pelo Exmº Sr Comandante-Geral, publicada no Boletim Geral nº 150,

de 15 de agosto de 2007, visando padronizar o uso dos coletes balísticos em uso na Brigada

Militar, assim como as normas gerais de sua utilização e seus requisitos mínimos de proteção.

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A complexidade das atividades afetas à segurança pública, os riscos cada vez mais

presentes no cotidiano dos policiais-militares, o número de profissionais feridos ou mortos em

serviço e a falta de padronização quanto à aquisição e utilização dos coletes de proteção

balística nortearam esta necessidade.

O presente estudo propõe-se a apresentar subsídios técnicos e legais que permitam a

adoção de medidas visando padronizar a aquisição e forma de utilização deste equipamento de

proteção individual pelos policiais-militares da Corporação nas diversas modalidades de

policiamento.

3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Histórico

A humanidade, ao longo de sua história, registrou o uso de vários tipos de materiais

para se proteger de agressões de animais, de inimigos e outras situações de conflito. No

princípio, roupas protetoras e escudos eram feitos de peles animais. Os primeiros escudos de

que se tem notícia foram fabricados em couro, recobertos por algum tipo de resina e

posteriormente talhados em madeira.

Acompanhando a evolução das civilizações e o desenvolvimento da metalurgia

primitiva, começaram a surgir os escudos feitos em bronze e ferro, sendo que, eventualmente,

o metal também era usado na confecção de vestes, como a couraça utilizada pelos nobres

cavaleiros da Idade Média. (ABRAHÃO, p. 19)

No século XII, armaduras, capacetes e blusas metálicas foram sendo criados a fim de

complementarem a frágil proteção oferecida pelo escudo, chegando a ponto de uma armadura

modesta de um cavaleiro medieval pesar cerca de cinqüenta quilos, o que, por si só, implicaria

na quase total imobilidade do soldado e sua condenação à morte numa eventual queda do

cavalo.

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FIGURA 1 - Um tipo de peitilho metálico, utilizado na Idade Média e início da

Idade Moderna, e uma armadura muito usada pelos altos oficiais do exército

romano. Fonte: http://www.eriding.net/media/photos/history

Um dos primórdios da evolução dos coletes pessoais, com uso de materiais mais leves,

é oriundo do Japão, onde os guerreiros medievais utilizavam coletes fabricados de seda.

Ainda segundo o citado autor, assim como nas Guerras Napoleônicas, onde pouquíssimos

eram os soldados que utilizavam os ditos peitilhos metálicos, nas 1ª e 2ª Guerras Mundiais a

estratégia militar continuou desprezando totalmente o conceito de proteção individual dos

combatentes. (ABRAHÃO, p. 20)

Embora o primeiro registro formal, nos EUA, de um agente da lei morto em serviço,

date de 1792, em Nova York, apenas no final do século XIX foi verificado o primeiro uso de

um colete pessoal.

Durante a 1ª Guerra Mundial, os Estados Unidos desenvolveram vários tipos de

coletes balísticos, a maioria sem aplicação prática, dos quais podemos citar um, feito de uma

liga de aço e níquel, que consistiu em um peitoral e um capacete, os quais resistiam a projéteis

com velocidade de até 820 metros por segundo (m/s), mas era desajeitado e pesava cerca de

dezoito quilogramas (Kg). (ROSA, p.41)

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Em 1918, os alemães conseguiram reduzir o peso do colete, ainda rudimentar, para

“meros” 12 kg e, mais tarde, utilizando como base um forro de couro sobreposto por uma

camada de aço, chegou-se a um colete que pesava cerca de 5 kg, considerado, á época,

confortável e dotado de um perfeito ajuste ao corpo.

FIGURA 2 - Colete alemão utilizado na 1ª Guerra Mundial Fonte: http://www.wikipedia.com

Porém, pelo fato deste artigo de vestuário ter sido configurado unicamente para

efetividade contra projéteis de baixa velocidade – cerca de 120 metros por segundo (m/s) -,

não oferecia proteção contra a nova geração de munições de armas de fogo que foram

introduzidas desde então, cujas velocidades superam os 300 m/s.

Por sua vez, nos idos de 1920-1930, os criminosos americanos começaram a utilizar

coletes quase artesanais, feitos de espessas camadas de algodão e pano. Estes coletes eram

capazes de resistir a projéteis de baixa potência, como os de calibre .22, o .25 Auto, o .32

S&W, o .380 ACP e o .45 ACP, que possuem velocidade de até 300 m/s. Tal fato conduziu ao

desenvolvimento do calibre .357 Magnum para uso específico dos agentes do Federal Bureau

of Investigation - FBI.

Nos anos que antecederam a 2ª Grande Guerra, nos Estados Unidos ainda não havia

grande interesse no desenvolvimento de proteções balísticas individuais, haja vista que a

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maioria dos modelos até então existentes, como vimos anteriormente, eram muito pesados,

desconfortáveis e não muito confiáveis, restringindo a mobilidade do usuário.

Em 1952 introduziu-se no uniforme dos Marines (o Corpo de Fuzileiros Americanos)

uma jaqueta acolchoada e revestida de fibra de vidro laminado, conhecidas como as "flak

jackets", que ofereciam proteção principalmente contra fragmentos de explosões de granadas,

mas se mostravam ineficazes contra a maioria dos projéteis de armas curtas, o que não

impediu, contudo, que obtivessem relativo sucesso nas Guerras da Coréia e do Vietnã, sendo

consideradas um tímido embrião das proteções balísticas hoje existentes.

FIGURA 3 – “Flak Jacket” utilizada na Guerra do Vietnã Fonte: http://www.mooremilitaria.com

Durante os anos sessenta, os EUA testemunharam uma elevação dramática no que

tange a mortes de policiais em serviço. De 1966 a 1971, o número de agentes da lei que

tombaram no cumprimento do dever mais que dobrou, de 57(cinqüenta e sete) para 129 (cento

e vinte e nove). (ROSA, p. 42)

Motivado por este índice alarmante de policiais mortos e reconhecendo que a maioria

dos homicídios foi efetuada com a utilização de armas de fogo, o Instituto Nacional de

Execução da Lei e Justiça Criminal (NILECJ), predecessor do National Institute of Justice

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(NIJ), iniciou um programa de pesquisa visando o desenvolvimento de um colete balístico

leve que o policial poderia usar em tempo integral.

Tal estudo identificou a existência de materiais novos, dotados de excelentes

propriedades balísticas, que poderiam ser tecidos em painéis de baixo peso, concluindo, então,

que a construção de coletes leves para uso em tempo integral seria uma tarefa realizável.

Durante os cinco anos seguintes, de 1971 para 1976, mais de U$ 3 milhões de dólares do NIJ

foram empregados no desenvolvimento de coletes balísticos, o qual se deu em quatro fases:

A primeira fase verificou a capacidade do tecido de Kevlar® em deter um

projétil de arma de fogo;

A segunda fase determinou o número de camadas de material necessário para

resistir à penetração dos projéteis da imensa variedade existente de calibres de

armas curtas, desenvolvendo, então, um colete protótipo que protegeria seu

usuário contra disparos de calibre .38 Special e .22, os mais comuns naquela

época, não deixando de serem testados, ainda, outros 32(trinta e dois) calibres

de armas de porte, entre os quais o 9 mm e o .45 Auto;

A terceira fase da iniciativa envolveu extensas pesquisas médicas no sentido de

determinar as propriedades de resistência necessárias para que os coletes

resguardassem a integridade física dos policiais, pois não era suficiente que o

colete “parasse” o projétil, mas, sim, que quando isso ocorresse, o trauma

resultante do impacto não trouxesse conseqüências maiores ao corpo humano;

A fase final envolveu o monitoramento quanto à vestibilidade do colete

balístico, isto é, sua condição de ser vestido por tempo indeterminado, além,

claro, de sua concreta efetividade quando atingido por um projétil. Um teste

inicial, procedido em três cidades determinadas, concluiu que o colete podia

ser vestido sem maiores transtornos orgânicos, não causando tensões

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impróprias ou pressões sobre corpo, bem como não impediu qualquer

movimento corporal necessário para o trabalho policial.

Em 1975, um extenso teste de campo extenso foi aplicado, no qual cinco mil coletes

fabricados com Kevlar® foram distribuídos a quinze Departamentos de Polícia, em todo o

território americano. Cada departamento servia uma população de, no mínimo, 250.000

habitantes e apresentavam índices de policiais mortos ou feridos acima da média nacional.

Entre os fatores avaliados estavam o conforto quando usado ininterruptamente durante um

dia, sua adaptabilidade sob temperaturas extremas e sua durabilidade por períodos longos de

uso.

Igualmente sopesado neste teste foi o efeito psicológico que os coletes traziam aos

policiais que os utilizavam, no concernente a se aqueles se sentiam mais confiantes ou

relaxados nos contatos com o público ou se tal uso induzia-os a exposição a riscos ainda

maiores que de costume. Os testes, enfim, pretendiam demonstrar que o colete balístico podia

ser usado sem que houvesse qualquer restrição a maneabilidade dos policiais e, o mais

importante, que fossem realmente eficazes.

Durante o período de testes, com duração de doze meses, aconteceram 18(dezoito)

confrontos armados em que os coletes utilizados pelos policiais, quando atingidos, deram

efetiva proteção àqueles, mesmo que, à época, o material e o desenho do colete fossem

projetados para assegurar uma probabilidade de 95% de sobrevivência quando atingido por

um projétil calibre .38 Special, a uma velocidade de 265 m/s.

Então, em 1976, foi apresentado o relatório final do experimento, no qual se constatou

que o novo material balístico, o Kevlar®, possuía propriedades resistentes a projéteis de arma

de fogo e constituía uma peça de vestuário utilizável em tempo integral. Desde então, o uso

rotineiro de coletes por parte dos profissionais encarregados da execução da lei se popularizou

nos Estados Unidos, nação conhecida mundialmente pela cultura armamentista e pela

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legislação permissiva à posse e porte de armas de fogo aos seus cidadãos, tendo, após, sido

agregado como equipamento de proteção individual por quase todas as polícias do mundo.

De outra sorte, variados tipos de coletes que eram muito mais pesados e mais vultosos

do que aqueles fabricados de Kevlar®, desapareceram progressivamente do mercado, cujos

negócios, nos Estados Unidos, movimentam a quantia anual estimada de U$ 200 milhões,

tendo como grandes consumidores as Forças Armadas e os departamentos de polícia estaduais

e municipais.

3.2 Materiais utilizados na fabricação dos coletes

Modernamente, os coletes balísticos utilizam, em regra, três tipos de materiais: as

fibras de Aramida, conhecidas comercialmente como Kevlar® ou Twaron®, o Polietileno de

Alto Peso Molecular (Spectra Shield®, GoldFlex® e Dyneema®) e o mais recente deles, o

Zylon®.

Há, entretanto, variantes híbridos, em que duas espécies de materiais são

solidariamente empregadas num mesmo painel, unindo as propriedades de resistência balística

de ambos.

A seguir, analisaremos cada material distintamente, para, então, abordarmos a

aplicação dos coletes balísticos, níveis de proteção, certificação, tempo de validade e demais

aspectos acerca do tema.

3.2.1 Fibras de Aramida

A grande revolução no desenvolvimento de tecidos modernos para coletes balísticos

iniciou em 1960, nos laboratórios da indústria química americana Du Pont, com a produção

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industrial de uma fibra de polímero amido-aromática (poliaramida), a qual se deu o nome

comercial de Kevlar® 29.

Porém, sua fabricação só tornou-se economicamente viável a partir de 1965, quando

Stephanie Kwolek, um cientista de pesquisa da estação experimental da Du Pont, em

Wilmington, descobriu que o amidobenzóico poderia ser polimerizado e solubilizado sob

circunstâncias especiais, produzindo um polímero com uma resistência aproximada em cinco

vezes superior a do aço. (http://www.heritage.dupont.com/)

De todos os materiais desenvolvidos e avaliados nos anos setenta pelo NIJ, o que mais

se destacou foi o fabricado de Kevlar®, desenvolvido pela DuPont originalmente para

substituir o aço na moldação de pneus de veículo. Lester Shubin, que atuou como Gerente do

Programa de Avaliação de Tecnologia do NIJ por vinte anos, suspeitou que o Kevlar® teria

potencial de aplicação em painéis balísticos. Então, juntamente com Nicholas Montanarelli,

especialista em tecnologia de guerra, levou um pedaço de Kevlar® a um estande de tiro, onde

efetuaram vários disparos contra o material, sendo que nenhum dos projéteis conseguiu

transfixá-lo. (SAGPBA, p. 7)

FIGURA 4 – Camada balística tecida em Kevlar Fonte:http://www.heritage.dupont.com

Em meados de 1973, pesquisadores do Arsenal de Edgewood, do Exército Americano,

desenvolveram um painel balístico semelhante a uma peça de vestuário, composto de sete

camadas de tecido de Kevlar®, a qual foi colocada à prova em testes de campo. Durante estes

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testes preliminares, verificaram que a resistência à penetração do Kevlar® era degradada

quando o material fosse molhado, além do que suas propriedades balísticas também

diminuíam diante da exposição às luzes ultravioleta e solar. (SAGPBA, p. 4)

Visando evitar estes problemas, os painéis de Kevlar® foram recobertos por uma

resina impermeabilizante, bem como adicionada uma camada de tecido como reforço contra a

exposição do material à luz solar e outros agentes degradantes.

Em 1988, a Du Pont introduziu a segunda geração desta fibra, o Kevlar® 129, sendo

15% mais forte e 20% mais macio do que o Kevlar® original. Segundo a Du Pont, os fios de

Kevlar®, utilizados na construção de tecidos para coletes balísticos, mantém suas

propriedades físicas inalteradas por um período mínimo de dez anos, desde que se mantenham

em condições normais de uso. (SAGPBA, p. 20)

Em 1995, a mesma empresa lançou o Kevlar Correcional®, com tecnologia que

oferece proteção contra agressões por objetos pontiagudos, e, no ano seguinte, em 1996,

introduziu no mercado o Kevlar Protera®, um tecido de grande desempenho que permite

menor peso, mais flexibilidade e maior proteção balística graças a uma nova estrutura

molecular da fibra, que teve maximizadas a sua resistência à tração e capacidade de absorção

de energia pelo desenvolvimento de um novo processo de tratamento do material. (SAGPBA,

p. 20)

Segundo informações de Márcio Elio Manique Junior, Gerente da Divisão de Fibras

Avançadas, da Du Pont, em palestra proferida aos integrantes desta comissão, na data de 10

de outubro do fluente ano, o Kevlar® está na sua quarta geração, com seu fio sendo tecelado

sob várias gramaturas (espessuras), a fim de atender uma imensa variedade de aplicações, tais

como cintos de segurança, cordas, luvas especiais, pneus, construções aeronáuticas, entre

outras.

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Aduziu, também, que o Kevlar® constitui o principal material balístico utilizado pelas

tropas americanas no conflito do Iraque, havendo, inclusive, um contrato entre a Du Pont e o

governo americano, no sentido de que a empresa só pode comercializar o fio do Kevlar® com

empresas estrangeiras quando todas as necessidades dos órgãos públicos daquele país

estiverem sendo plenamente atendidas. (2007)

FIGURA 4 – Rolo de fio de Kevlar Fonte: http://www2.dupont.com/Kevlar/en_US/products/fiber.html

Um dos últimos lançamentos da DuPont foi o Kevlar Confort XLT®, com uma nova

tecnologia de tecelagem, permitindo a fabricação de painéis balísticos com uma redução de

25% (vinte e cinco pontos percentuais) no seu peso, mantendo os mesmos níveis de

desempenho.

Quanto ao Twaron®, cabe-nos asseverar que se constitui numa fibra similar ao

Kevlar®, que foi desenvolvida, quase que simultaneamente, por uma equipe de químicos da

empresa Akzo Nobel Incorporation (atual Teijin Twaron® BV), multinacional com sede na

Holanda. Este fato gerou um grande processo no registro das respectivas patentes, que

culminou em um acordo entre ambas as empresas, em que a Akzo foi proibida de

comercializar o Twaron® nos EUA até 1990.

A resistência do Twaron® é comparável à do aço, porém com peso muito menor,

sendo que para minimizar os efeitos da umidade, recebe tratamento de hidrorepelência. Da

mesma forma que a Du Pont, a Akzo Nobel garante as propriedades mecânicas do fio

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balístico Twaron® por, no mínimo, 10 (dez) anos, desde que sejam obedecidas as instruções

de uso e manuseio do produto.

3.2.1.1 Propriedades das fibras de Aramida

Cinco vezes mais resistente que o aço e dez vezes mais que o alumínio;

Velocidade de dissipação de energia em torno de 6800 m/s;

Densidade de cerca da metade daquela encontrada na fibra de vidro habitual;

Não conduzem eletricidade;

A estrutura molecular rígida também provê propriedades adicionais como

estabilidade térmica e resistência a temperaturas de até 500º Celsius;

Altamente flexível, podendo ser costurada e inserida em vestes comuns, tais

como camisetas, bonés e até mesmo sutiãs;

Durabilidade de até cinco anos, requerendo cuidados especiais durante a

lavagem, uma vez que não totalmente impermeável, deficiência minimizada pelo

acondicionamento dos painéis em capas costuradas e cerzidas, que impedem a

absorção de umidade através do suor do corpo do usuário ou de agentes externos,

o que, como vimos, reduziria suas propriedades protetivas.

FIGURA 5 – A dispersão de energia no material balístico Kevlar® é mais

pontual, isto é, atinge uma menor área, mas com maior intensidade.

Note o formato de estrela na fotografia acima.

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3.2.2 Polietileno

O polietileno é usado na fabricação dos materiais balísticos Spectra Shield®, Spectra

Flex®, Spectra Goldflex® e Dyneema®, os quais variam apenas no tocante a gramatura do

polímero. No caso específico do Spectra Goldflex®, ele é um material híbrido, composto

tanto de fibras de aramida quanto de polietileno.

Com nomes comerciais diferentes, mas de características similares, no início dos anos

80 foram lançados o Spectra Shield®, produzido pela empresa norte-americana Honeywell

Spectra Technologies (antiga AlliedSignal), e o Dyneema®, fabricado pela holandesa DSM

High Performance Fibers, ambas fibras sintéticas de um polímero de polietileno, de peso

molecular extremamente elevado (UHMWPE - Ultra High Molecular Weight Polyethylene).

Os polímeros de polietileno se destacam pela forte ligação entre suas moléculas de

carbono, tal qual o diamante. O polietileno convencional é uma molécula flexível, composta

de átomos de carbono e hidrogênio, contendo um número de hastes curtas com muitas dobras

que não contribuem em nada para a resistência da fibra, enquanto que o polietileno ultra-

resistente é simplesmente uma versão mais longa da mesma molécula. (ROSA, p. 44)

Quando transformado em fio do tipo filamento contínuo, em processo conhecido

tecnicamente por "gel spinning", a fibra de polietileno adquire orientação molecular no

filamento, a qual é responsável pela elevação da resistência à ruptura deste em níveis difíceis

de serem igualados e com um alongamento praticamente igual a zero.

Sob forma composta, o polietileno balístico resulta da montagem de camadas de fibras

unidirecionais, com orientação de 0º/90º e prensadas entre dois filmes termoplásticos de baixa

densidade, dando como resultado um produto extremamente flexível e com características

balísticas excepcionais.

Page 22: Padronização de Coletes

22

FIGURA 6- Quatro lâminas de polietileno dispostas entre duas camadas de

filme termoplástico Fonte: http://www.firstdefense.com/html/bulletproof_vests.htm

Ao falarmos em flexibilidade, destacamos a conformação das lâminas que são usadas

nos coletes fabricados com este tipo de material, não havendo tramas ou costuras,

proporcionando boa movimentação ao usuário e, ainda, contribuindo para a inexistência de

ângulos e áreas mais frágeis ao impacto de projéteis.

Os coletes de polietileno proporcionariam, segundo os fabricantes, uma proteção

infinitamente superior contra o fenômeno do “trauma fechado”, pois eles possuem fios

longitudinais ao invés de tramas, nos quais a energia da munição se dissiparia com maior

rapidez, mantendo-se pronunciada por menos tempo e ocasionando um menor

aprofundamento do material contra o corpo do usuário.

No que se refere à resistência a líquidos, os fabricantes destes materiais afirmam que

se trata de um ponto importantíssimo a se avaliar, pois os coletes anteriormente existentes no

mercado, confeccionados em fibras de Aramida (Kevlar® e Twaron®), não são naturalmente

hidrorepelentes, ou seja, para adquirirem impermeabilidade se faz necessário o recebimento

de uma camada de um verniz, a fim de que a absorção de líquidos seja impedida.

Page 23: Padronização de Coletes

23

Isto não aconteceria com as fibras de Polietileno, uma vez que, por se tratarem de uma

espécie de plástico, possuiriam uma performance incrível frente a líquidos, sendo utilizada até

nos coletes de mergulhadores das tropas especiais americanas.

Por último acrescentam que, enquanto as fibras de Aramida têm a velocidade de

dissipação de energia em torno de 6.800 m/s, as fibras de polímero de polietileno possuem

velocidade de dissipação da energia da munição de aproximadamente 13.400 m/s , o que

minimizaria as conseqüências do “trauma fechado”.

3.2.2.1 Propriedades

Dez vezes mais resistente que o aço;

Velocidade de dissipação de energia do projétil de cerca de 13.400 m/s, o que

redunda num menor “trauma fechado”;

Mais leve que as fibras de Aramida, resultando numa maior proteção com menor

número de painéis, com peso específico de 0,97, significando que pode boiar

sobre a água;

Maior flexibilidade, conseqüente da conformação dos painéis, compostos por fios

longitudinais a 0º e 90º, não existindo tramas nem costuras, evitando que o colete

se transforme numa carapaça, reduzindo a mobilidade do policial;

Por não possuir nenhum tipo de costura, os coletes de polietileno permitem,

quando baleados, que as lâminas perfuradas pelo disparo, sejam substituídas sem

que se perca por completo o equipamento;

Total impermeabilidade, sendo utilizada até nos coletes dos mergulhadores das

tropas especiais dos EUA (SEALS);

Page 24: Padronização de Coletes

24

FIGURA 7 – O padrão de dispersão de energia no Polietileno cobre uma área

maior e de forma mais uniforme.

3.2.3 Zylon®

O Zylon®, outra espécie de fibra sintética (PBO – polifenilene benzobisoxazole) de

elevada performance balística, foi desenvolvido pela Toyobo Corporation Ltd, uma empresa

japonesa com mais de 120 anos de experiência na área têxtil, que conta, inclusive, com três

filiais no Brasil, nas cidades paulistas de Americana, Salto e Tatuí.

A fibra de Zylon® foi originalmente utilizada na fabricação de componentes

aeronáuticos, logo depois passando a ser empregada, também, como matéria-prima na

fabricação de raquetes de tênis, cordames de pára-quedas, balões meteorológicos, capacetes

esportivos, alto-falantes, eixos dos carros de Fórmula Um e, por fim, a partir de 1998, na

confecção de painéis balísticos.

Com relação ao seu emprego na indústria aeronáutica, no ano de 2000, a Agência

Espacial Americana (NASA) levou a efeito inúmeros testes de resistência desta fibra como

material de isolamento de turbinas, utilizando-a na forma de uma tela trançada, colocada entre

as paredes interna e externa da turbina, cuja função precípua seria a de evitar que as hélices ou

seus fragmentos, no caso de um eventual acidente ou falha técnica, pudessem transfixá-las.

(ROSA, p. 45)

Page 25: Padronização de Coletes

25

Nos referidos experimentos, discos de titânio pesando aproximadamente um

quilograma e medindo 4,5 polegadas de diâmetro, eram arremessados por meio de uma

máquina contra uma tela trançada feita de Zylon®, restando comprovado que dito material

poderia absorver cerca de duas vezes mais energia cinética que o Kevlar®, tendo suportado

até 64.000 libras-pé, ou cerca de 8.850 Kilogramas/metro, antes de sofrer qualquer

penetração.

Com base em tais resultados, há cerca de sete anos o Zylon® começou a ser

empregado como componente de coletes à prova de balas, cujos painéis são constituídos de

camadas sobrepostas num ângulo de 0º/90º, formando um “sanduíche” dotado de ótima

resistência a projéteis e caracterizado pelo baixíssimo peso e pela invejável maleabilidade do

material.

Apesar do seu estrondoso lançamento, teve sua efetividade questionada em razão de

estudos científicos realizados na Alemanha, em 2001, nos quais se verificou sérios problemas

de degradação nos seus painéis quando demasiadamente exposto à luz solar ou a ambientes

úmidos. (LESSER, 2001)

Diante disso, segundo informa o site institucional da Toyobo, a própria fabricante deu

início a intensos estudos no sentido de comprovar as propriedades balísticas de tal material,

tendo divulgado o relatório final de tal pesquisa no mês de julho daquele mesmo ano, o

fazendo, entretanto, de forma reservada aos fabricantes de coletes balísticos.

Naquele documento formal, a Toyobo revela que a fibra de Zylon® sofre uma

degradação maior do que aquela que se esperava, com uma redução de cerca de 10% das

propriedades balísticas a cada ano, sendo muito suscetível aos raios ultravioletas ou condições

extremas de umidade, havendo, neste último caso, o fenômeno chamado hidrólise, ou seja, a

quebra da estrutura química do material por ação dos líquidos, considerado irreversível.

Page 26: Padronização de Coletes

26

Entretanto, mesmo diante de tal suspeita, a utilização do Zylon® como proteção

balística permanecia inalterada, até que começaram a surgir fatos reais que suscitaram

questionamentos acerca de suas reais propriedades. No dia 13 de junho de 2003, durante um

tiroteio com marginais, o policial Tony Zeppetella, 27 anos de idade, do Departamento de

Polícia de Oceanside, Califórnia, EUA, morreu ao ser atingido por dois projéteis disparados

de uma pistola calibre 9 mm, os quais transfixaram o seu colete de Zylon. (Los Angeles

Times, edição de 15 Jun 03)

Poucos dias depois, em 23 de junho de 2003, o policial Eduard Limbecher, do

Departamento de Polícia de Forest Hills, Pensilvânia, também nos EUA, foi gravemente

ferido quando um projétil no calibre .40 S&W transfixou os painéis de Zylon® do colete,

penetrando no seu tórax. O colete utilizado era o de nível II A, Modelo Ultima, da empresa

Second Chance Body Armour Incorporation, fabricado no mês de dezembro do ano de 2002,

portanto, com poucos meses de uso.

Neste último caso, tendo em vista que o projétil não pôde ser retirado do corpo do

policial, sendo, portanto, desconhecido o seu tipo, bem como sua velocidade, a Second

Chance procurou, inicialmente, imputar as causas da transfixação dos painéis de Zylon® a

uma suposta jaqueta de Teflon aliada a uma configuração de projétil perfurante.

Temendo uma reação negativa do mercado, logo em seguida, a empresa anunciou a

interrupção da comercialização dos coletes fabricados em Zylon® até a realização de testes

concludentes acerca do assunto, oferecendo, por outro lado, um up grade totalmente gratuito

aos usuários dos coletes modelos Ultima® e Ultimax®. Essa estratégia de marketing consistia

na inserção de camadas adicionais as já existentes, sendo considerada, por muitos, uma grave

violação aos direitos do consumidor, suscitando inúmeras ações cíveis de indenização por

propaganda enganosa.

Page 27: Padronização de Coletes

27

Em junho de 2005, mesmo antes da emissão de um parecer conclusivo do NIJ sobre a

efetividade do material, a empresa deu início ao maior recall da indústria mundial de

componentes balísticos, substituindo cerca de 130.000(cento e trinta mil) coletes balísticos de

Zylon®, no que foi seguida por outros fabricantes norte-americanos, que suspenderam a sua

utilização em vestes balísticas.

Finalmente, em 24 de agosto de 2005, o NIJ finalizou a sua investigação no tocante à

identificação das causas do envelhecimento prematuro do Zylon®, restando apurado, nos

testes químicos, a presença de ácidos de processos residuais em níveis até oito vezes maiores

do que aqueles previstos pela Toyobo. Estes ácidos podem conduzir a uma perda súbita e

dramática de resistência à tração, até mesmo debaixo de condições normais, num processo

denominado "degradação hidrolítica", que reduz potencialmente a eficácia da natureza

protetora da veste.

Depois de revisar estes resultados cuidadosamente com o Departamento de Justiça, o

NIJ expediu documento normativo nos seguintes termos:

O Instituto Nacional de Justiça (NIJ) identificou que o polifenilene benzobisoxazole

(geralmente conhecido como PBO ou Zylon®) tem seu desempenho balístico

degradado quando utilizado em coletes de uso pessoal, resultando um risco de morte

ou dano sério ao seu usuário. Esta é uma recomendação do NIJ que integra as

Normas Padrões de Coletes Balísticos. Entretanto, O NIJ recomenda que os

profissionais de segurança pública continuem usando os coletes de Zylon® até que

sejam substituídos, haja vista que um colete que possa ter degradado seu

desempenho balístico é melhor que a não-utilização de tal equipamento. (2005,

disponível em http://www.ojp.usdoj.gov/bvpbasi/)

Finalizando este tópico, a título de informação, apuramos que o incidente com o

policial Tony Zeppetella foi apreciado pela Corte Superior do Condado de San Diego,

Califórnia, em 7 de setembro de 2006, oportunidade em que a empresa Second Chance,

fabricante do colete, e a Toyobo, que tece o fio, foram condenadas ao pagamento de três

milhões de dólares à família da vítima, haja vista que restou apurada a falha inequívoca do

equipamento balístico. (Los Angeles Times, edição de 08 Set 06)

Page 28: Padronização de Coletes

28

3.3 Princípios de funcionamento

Quando um indivíduo sofre o impacto de um projétil de arma de fogo, a extensão do

dano provocado depende da área corporal atingida e da trajetória daquele pelo interior do

corpo humano, sendo que, qualquer dano para os nossos órgãos vitais, são freqüentemente

fatais. Assim, a finalidade principal e óbvia do colete balístico é impedir a penetração do

projétil no corpo.

Ao contrário do que se pensa, o princípio de funcionamento dos coletes balísticos é

extremamente simples, baseando-se na absorção da energia cinética do projétil.

Para começarmos a compreender o funcionamento dos painéis balísticos, imagine

diversas varas de madeira; com seu punho você poderá quebrá-las uma de cada vez. Porém, se

forem amarradas juntas em um pacote, nenhuma ou apenas as primeiras sofrerão algum tipo

de dano, enquanto que as demais permanecerão intactas.

FIGURA 8 - Material balístico absorvendo parte da energia do projétil, ao

mesmo tempo em que o deforma Fonte: http://www.compositesworld.com/hpc/issues/2003/March/31

Assim, os painéis são dispostos em camadas com o objetivo de romper-se ao impacto

do projétil, envolvendo-o, e, com isso, absorvem gradativamente a energia cinética do projétil

até pará-lo por completo, transferindo sua energia aos demais painéis e ao corpo da pessoa

atingida. (SAGPBA, p. 21)

Page 29: Padronização de Coletes

29

Desta forma, para que surta efeito contra projéteis de calibres de grandes velocidades,

tais como o 7,62 x 51 mm, o 5,56 x 45 mm e o .30-06, é necessário o reforço de uma placa

rígida confeccionada em cerâmica, a qual é posicionada à frente dos painéis, a fim de que

receba o primeiro impacto, “esfriando o projétil” e auxiliando na distribuição da energia

cinética, sendo que tal diferencial será analisado mais adiante quando da abordagem acerca

dos níveis de proteção.

Como já referido, o colete tem a função principal de evitar a perfuração do corpo pelo

projétil, não tendo a capacidade de evitar lesões indiretas, (hematomas, fraturas ósseas e

traumas internos), decorrentes do denominado "trauma fechado”, ou seja, a profundidade com

que um projétil pressiona os painéis balísticos contra o corpo (não confundir com penetração),

o que pode causar contusões graves, danos internos e até mesmo a morte. (SAGPBA, p. 9)

Neste sentido, segundo as normas americanas NIJ 0101.3 e 0101.04, adotadas

mundialmente, o “trauma fechado” deve ser inferior a 44(quarenta e quatro) milímetros, a fim

de que não resultem ferimentos consideráveis.

FIGURA 9 - Na figura acima é demonstrado o fenômeno do trauma

fechado, em plastilina Fonte: http://www.pointblankarmor.com/101.asp

Page 30: Padronização de Coletes

30

Com relação aos efeitos do impacto de um projétil de arma curta, na região toráxica de

uma pessoa que esteja utilizando um colete balístico, ROSA afirma que:

[...] esta não será, necessariamente, arremessada violentamente para trás da forma

comumente mostrada nos filmes, cujos diretores objetivam dar o maior grau possível de dramaticidade à cena, em detrimento dos reais efeitos balísticos das munições. Na

realidade, a maioria das munições de armas curtas não tem energia suficiente para

nocautear um homem, eis que, caso a tivessem, de acordo com a famosa lei física da

ação e reação, de Isaac Newton, a mesma força seria aplicada contra o corpo do

atirador, que também seria derrubado.” (2007, p.43)

A eventual queda do indivíduo atingido no colete por um projétil dependerá de vários

fatores, tais como: compleição física, energia cinética do projétil, circunstâncias do tiro,

equilíbrio do corpo, eixo de gravidade, entre outros.

Efetivamente, no caso em questão, a pessoa atingida por um projétil de arma curta terá

uma sensação similar ao impacto de uma bola de baseball, logicamente, com a grande

diferença de que a massa e a forma daquele lhe conferem a capacidade de penetração,

causando, por conseguinte, os efeitos primários e secundários característicos a tais

instrumentos pérfuro-contundentes, aos quais deixaremos de nos reportar tendo em vista que

não constituem o foco do tema proposto.

3.4 Colete como equipamento de proteção individual

O colete balístico, ou mais comumente conhecido como “colete à prova de balas”,

constitui o equipamento de proteção individual mais difundido entre policiais do mundo todo

há várias décadas, porém, no Brasil, a cultura na utilização de tal equipamento data de meados

dos anos 90, quando coletes fabricados com materiais mais leves começaram a ser adquiridos

em maior quantidade pelos órgãos policiais, que tomaram consciência da importância da

proteção pessoal por parte de seus integrantes.

Page 31: Padronização de Coletes

31

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), na Norma Regulamentadora 6

(NR 6), do Ministério do Trabalho, considera-se Equipamento de Proteção Individual - EPI,

[...] todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador,

destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no

trabalho.

A seleção do uso de EPI deve ser feita em função do tipo adequado, das características

específicas do trabalho a ser desenvolvido e do preenchimento das condições mínimas de

proteção sob o ponto de vista preventivo.

Inobstante sua importância como equipamento de proteção, só teve tal condição

oficialmente reconhecida pelo Ministério do Trabalho em 4 de dezembro de 2006, pela

Portaria nº 194, oportunidade em que foi incluído no Anexo I da NR6, tornando-se item

obrigatório para vigilantes que trabalhem portando arma de fogo, visando a proteção do

tronco contra riscos de origem mecânica.

Tal medida resulta do fato de que o uso de armas de fogo, particularmente armas de

porte, representam uma ameaça constante aos profissionais de segurança, seja no atendimento

a uma desordem doméstica, seja na repressão a uma ocorrência de roubo, pois cada vez mais

freqüente a canalização do sentimento de raiva contra aqueles que são responsáveis pela

resolução de conflitos, impondo a lei e a ordem.

Em uma rara pesquisa na área, datada de 1992, coordenada pelo então Capitão, Ten

Cel RR Martin Luiz Gomes, editada pelo Instituto de Pesquisa da Brigada Militar - IPBM, se

verificou que 27,5%(vinte e sete pontos percentuais) dos acidentes de trabalho sofridos por

policiais-militares são oriundos de ferimentos por projéteis de armas de fogo e que 82%

(oitenta e dois pontos percentuais) daqueles sofreram disparos no tórax. Por si só, este dado

vem confirmar a premente necessidade de utilizarmos o colete balístico nas atividades

policiais. (UNIDADE, 1992, p. 26)

Page 32: Padronização de Coletes

32

Em 1987, a empresa Du Pont, fabricante do Kevlar, um dos materiais mais utilizados

na fabricação de coletes, após uma pesquisa em diversos departamentos policiais americanos,

demonstrou que embora a maioria dos policiais pesquisados reconhecesse os riscos a que

estão expostos e a necessidade da utilização dos coletes, apenas 65% daqueles utilizavam tal

equipamento de proteção, e apenas 20% o faziam em tempo integral. (SAGPBA, p. 12)

Por sua vez, em 1993, o Federal Bureau of Investigations – FBI – demonstrou, através

de estudo metodológico, que o risco de uma lesão fatal em policiais que não usam colete

habitualmente é catorze vezes maior do que para aqueles que o fazem. O FBI chegou a tal

índice quantificando o número de policiais mortos ou feridos no cumprimento do dever, os

quais haviam sidos atingidos na parte superior do corpo, na área comumente protegida pelo

colete balístico, excluindo-se, pois, a cabeça e os braços. De um total de 133(cento e trinta e

três) casos que se enquadravam naquelas condições, foram escolhidos, aleatoriamente, 25

(vinte e cinco) casos de policiais que sobreviveram e 25(vinte e cinco) casos de policiais que

haviam tido lesões fatais. (SAGPBA, p. 91)

Comparando o resultado daqueles que sobreviveram por estarem utilizando a proteção

balística, constatou-se que do grupo dos policiais mortos, 21 não faziam uso dos coletes e os

quatro restantes o faziam. Da mesma forma, entre o grupo de policiais feridos e que

sobreviveram, sete não utilizavam coletes e 18(dezoito) faziam uso adequado de tal proteção.

Como podemos ver na tabela abaixo, o risco relativo de fatalidade para policiais que não

utilizavam proteção balística em comparação com aqueles que restaram feridos é de 21/7, ou

seja, três policiais mortos para um ferido.

Já para aqueles que utilizavam coletes, a mesma relação é de 4/18, ou 0,22(zero,

vírgula vinte e dois) policiais mortos para cada ferido. Finalmente, para chegarmos à relação

entre os índices, dividimos os casos de fatalidade sem coletes (três) com o valor obtido

Page 33: Padronização de Coletes

33

daqueles que utilizavam coletes (0,22), resultando um risco relativo de 13.6, que no caso em

questão foi arredondado para catorze.

TABELA 1

Condição Mortos Feridos Total

Sem colete balístico 21 7 28

Com colete balístico 4 18 22

TOTAL 25 25 50

= (21 * 18)/(7 * 4) = 13.5.

Corroborando esta pesquisa científica, temos a maioria das estatísticas americanas

nesta área, que ilustram a importância de tal atitude comportamental:

De 1973 a 1º de janeiro de 2001, um total de 2.500 policiais foram salvos por

estarem utilizando coletes balísticos;

58% destes foram alvo de agressões humanas, enquanto os outros 42% sofreram

acidentes de trânsito

40% das agressões envolveram armas de fogo, enquanto 12% sofreram agressões

com uso de objetos cortantes e 6% por cento envolveram outros tipos de ofensas

De acordo com o Associação Internacional dos Chefes de Polícia (IACP), em

associação com o denominado Clube dos Sobreviventes, mantido pela DuPont

Kevlar®, o custo calculado da morte de um policial, nos EUA, é de cerca de U$

1.3 milhão, entre gastos funerários, benefícios sociais, pensão e o custo para um

departamento contratar e treinar outro policial. (SAGPBA, p. 7 e 8)

Portanto, os profissionais de polícia estão expostos à confrontações armadas

inesperadas, necessitando, então, de proteção contínua oferecida pelos coletes balísticos.

Mesmo que a lógica e as estatísticas recomendem o uso rotineiro daquele equipamento, há

policiais que, mesmo diante da obrigatoriedade do seu uso por parte de seus órgãos, não o

Page 34: Padronização de Coletes

34

fazem, alegando vários inconvenientes ou pretextos, dentre os quais: que o tamanho e o peso

do colete o tornam desconfortável, que aumenta a fadiga laboral, etc.

As razões elencadas para a não-utilização dos coletes, fundamentalmente, baseiam-se

em preocupações legítimas, como o conforto e peso, e também em concepções errôneas sobre

o seu funcionamento.

Por isso, na concepção de ROBOREDO, a proteção para o tronco é adequada quando a

vestimenta é confortável, quando há consciência do trabalhador para o a sua utilização, que

ela não interfira nos movimentos corporais e que proporcione uma proteção adequada. (1992,

p.26)

Com relação à periodicidade quanto à utilização dos equipamentos de proteção

individual, SIMÃO refere às seguintes condições:

1) USO CONTÍNUO – praticamente durante todo o turno de trabalho;

2) USO INTERMITENTE – quando há períodos de uso contínuo, espaçados por

períodos em que não há necessidade de proteção; vale dizer, apenas durante certa

operação ou atendimento de uma ocorrência específica;

3) USO EVENTUAL – naquelas operações não-rotineiras, que se apresentam bem

espaçadas no tempo;

4) USO DE EMERGÊNCIA - nas situações típicas de alto risco.

Além de prevenir ofensas à integridade física e a morte de policiais, que seria a

finalidade imediata dos coletes balísticos, cabe ressaltar que todo acidente de trabalho,

especialmente aqueles fatais, acarretam conseqüências sociais e econômicas às partes

envolvidas.

Utilizando um estudo de caso no qual um policial-militar, em serviço, foi ferido com

um tiro no tórax, apurou-se que foram gastos, entre despesas assistenciais, hospitalares e com

medicação, uma quantia equivalente à U$ 2.578,96 (dois mil, quinhentos e setenta e oito

dólares e noventa e seis centavos de dólares americanos), sendo que o custo de um colete

balístico, naquela época, era de cerca de U$ 416,00 (quatrocentos e dezesseis dólares

Page 35: Padronização de Coletes

35

americanos), podendo-se inferir que, com os custos decorrentes daquele acidente, poderiam

ser adquiridos cerca de seis coletes. (GOMES, 1992, p; 27)

3.4.1 Proteção adicional

Vimos que o objetivo principal da utilização dos coletes está na necessária proteção

contra agressões armadas. Porém, assim como a maioria das novas tecnologias, os coletes

provaram sua utilidade em outras situações não pensadas quando de seu desenvolvimento. As

mesmas propriedades que provêem sua resistência balística também são extremamente

eficazes na minimização de danos físicos graves em acidentes veiculares.

Em um acidente de trânsito, o colete funciona como um protetor da região toráxica,

especialmente naqueles casos em que o corpo do policial é arremessado contra o volante da

viatura, como conseqüência pelo não-uso do cinto de segurança, ou até mesmo mitigando

lesões internas quando o cinto de segurança é utilizado adequadamente.

Nesse mesmo passo, oferece uma proteção não-balística àqueles policiais

motociclistas, especialmente vulneráveis a danos em acidentes de trânsito, bem como

funciona como amortecedor de agressões por instrumentos contundentes, tais como pedaços

de madeira, de metal e outros materiais rígidos.

3.5 Os padrões propostos pelo National Institute of Justice - NIJ, dos EUA

Devido à operacionalização de coletes de uso pessoal mais leves e resistentes, a sua

utilização, especialmente nos Estados Unidos, teve um aumento considerável na década de 80,

fazendo com que várias empresas ingressassem nesse mercado a fim de atender a demanda

surgida, surgindo uma imensa variedade de modelos, estilos e desenhos de coletes, sendo

Page 36: Padronização de Coletes

36

necessário, então, um controle estatal em tão delicada área, definindo padrões de fabricação e

normas técnicas de segurança.

Então, no início da década de 70, o National Institute of Justice buscou implementar

padrões de desempenho para resistência balística, bem como padrões de manufatura de

coletes pessoais. Enquanto os padrões de desempenho especificam um nível mínimo

satisfatório para cada atributo considerado crítico, os padrões de manufatura especificam os

processos de confecção do equipamento.

O programa de padronização em questão, inicialmente, confiou na participação

voluntária dos fabricantes, tendo alcançado tamanha credibilidade junto aos organismos

militares e policiais americanos, que as respectivas agências só adquiriam coletes que seguiam

as normas emitidas pelo NIJ.

A primeira norma a respeito, a 0101.00, sobre Resistência Balística de Coletes

Policiais, foi publicada pelo NIJ em março de 1972, na qual se definiu exigência de proteção

para um único impacto de projétil, especificando apenas três níveis de proteção (I, IIA e II),

não sendo levado em consideração, naquela época, o fenômeno do “trauma fechado”.

(SAGPBA, p. 23 e 24)

Em 1975, foi publicada a primeira revisão desta norma, a 0101.01, inserindo o

conceito do “trauma fechado” e a possibilidade de degradação das propriedades balísticas das

fibras de Aramida quando molhadas, e, em dezembro de 1978 foram introduzidos os testes de

proeficiência em disparos, a rotulagem das especificações na parte interna das capas dos

painéis, bem como previsto que os disparos, quando nos testes de campo, deveriam ser

efetuados nos materiais molhados. (SAGPBA, p. 24)

Mais adiante, em março de 1985, a norma anterior foi atualizada, sob o número

0101.02, a qual considerava a suscetibilidade para múltiplos disparos, além de introduzir os

parâmetros de resistência para o nível IIIA, devido à necessidade de proteção contra disparos

Page 37: Padronização de Coletes

37

dos calibres 9 mm e 44 Magnum, munições estas que apresentam elevada energia e

velocidade. Depois, em abril de 1987, a Norma 0101.03 trouxe exigências de rotulagem mais

abrangentes e critérios de seleção de coletes, regulando, ainda, procedimentos administrativos

no tocante à submissão dos modelos aos testes requeridos. (SAGPBA, p. 24)

Finalmente, em setembro de 2000, após treze anos da última revisão normativa sobre

coletes, foi publicada a Norma 0101.4, em resposta às inúmeras melhorias tecnológicas no

tocante aos materiais balísticos que adviram no período, bem como devido a alteração das

ameaças a que os agentes da lei estavam expostos: munições mais potentes e maior emprego

de armas automáticas e semi-automáticas, tanto pelos policiais quanto pelos delinqüentes.

(SAGPBA, p. 24)

O padrão da Norma 0101.04 representou um passo significante para solidificar a

credibilidade dos programas de prova do NIJ, além de introduzir testes relativos a tiros

agrupados e prevendo técnicas e equipamentos para as provas, instalação do material de apoio

necessário e, também, formatando e disponibilizando bancos de dados aos usuários.

3.6 Tipos de coletes

3.6.1 Coletes dissimulados

Estes tipos de coletes são fabricados para serem usados sob o uniforme, com sensível

redução no tamanho dos painéis, se destacando pelo relativo conforto, baixo peso e boa

proteção, inclusive lateral, não restringindo a mobilidade corporal, normalmente sendo

disponibilizados pelos fabricantes em uma variedade de desenhos e tamanhos, tanto

masculinos quanto femininos.

Os painéis balísticos dos coletes balísticos dissimulados são, freqüentemente,

acondicionados em capas protetoras, que mesclam poliéster e algodão, as quais acompanham

Page 38: Padronização de Coletes

38

o colete, preferencialmente em número de duas, a fim de que se permita o rodízio para a sua

necessária lavagem.

Para seu ajuste ao corpo, devem ser evitados os fixadores feitos em metal, tendo em

vista que eles podem se tornar projéteis secundários e aumentarem os danos do trauma

fechado. Por isso, recomenda-se a utilização de fitas de velcro, com pelo menos duas

polegadas de largura e aproximadamente a mesma medida de ajuste. Além disso, tais

fixadores devem ser costurados em material elástico de boa qualidade, com no mínimo três

polegadas de largura, permitindo manuseio mais fácil e compensando os movimentos

corporais.

FIGURA 10 - Colete dissimulado Fonte: http://www.rontan.com.br/

Muitos fabricantes também comercializam camisetas para serem utilizadas com estes

coletes, sendo aquelas produzidas com fibras sintéticas que minimizam os efeitos da

transpiração.

As capas dos coletes dissimulados também são disponibilizadas com bolsas especiais

que permitem proteção balística adicional, com a inserção de placas balísticas (de metal,

cerâmica ou polímero) na parte frontal e, em alguns casos, também na parte traseira.

Page 39: Padronização de Coletes

39

Os atuais materiais balísticos permitem, ainda, serem usados diretamente na confecção

de peças de vestuário, apresentando-se como casacos, jaquetas e até camisetas, favorecendo

aqueles policiais que, pela atividade desempenhada, não possam transparecer que estejam

utilizando tal proteção.

3.6.2 Coletes ostensivos

Oferecem proteção relativamente maior que os dissimulados, pois seus painéis são um

pouco maiores, sendo oferecidos com capas externas, com ajustes em velcro, em material

lavável, utilizado sobre a peça superior do uniforme.

FIGURA 11 - Colete ostensivo Fonte: http://www.rontan.com.br/

3.6.3 Coletes táticos

São compostos, assim como os demais, de dois painéis balísticos que são insertos

numa capa, geralmente de poliéster, na qual podem ser agregados diversos porta apetrechos,

tais como porta-carregadores, porta-algema, porta-lanterna, etc, costurados ou presos à capa

Page 40: Padronização de Coletes

40

por botões de pressão, sendo projetado para cobrir uma maior porção do corpo e utilizado

sobre a parte superior do uniforme.

FIGURA 12 - Colete tático Fonte: http://www.rontan.com.br/

Em geral, os coletes táticos devem ser usados por curto período, no qual se espera

confrontação iminente, pois geralmente são configurados em níveis maiores de resistência

(Nível III ou IV).

3.6.4 Coletes correcionais

Mesmo diante da evolução dos materiais vistos até agora, o conceito de coletes

balísticos não engloba a sua proteção contra facas e outros objetos pontiagudos, aos quais se

mostra potencialmente vulnerável, embora minimize, sem sombra de dúvida, os danos das

eventuais lesões.

Em outros países, a ameaça comum ao policial de rua está nas armas de fogo,

enquanto os policiais ou agentes penitenciários estão comumente expostos a uma variedade de

Page 41: Padronização de Coletes

41

armas brancas, pelo fato de ser mais difícil que um detento obtenha uma arma de fogo dentro

de um ambiente correcional.

Todavia, em nosso país é bastante freqüente o emprego de armas de fogo por parte dos

criminosos, além de ser comum a introdução dessas armas em estabelecimentos correcionais,

sem falar no tocante às armas brancas, cuja maioria adentra naquele ambiente

clandestinamente ou são fabricadas artesanalmente pelos detentos, improvisadas de restos de

objetos metálicos obtidos no interior dos presídios.

Para estas situações, as modernas tecnologias criaram materiais que ao mesmo tempo

são leves e oferecem total proteção contra punhaladas e/ou estocadas de objetos pontiagudos,

auxiliando na redução de lesões ou mortes de policiais e agentes penitenciários.

FIGURA 13 - Colete Multi-ameaça da CBC Fonte: http://www.cbc.com.br/

O colete resistente a agressões por armas perfurantes, foi desenvolvido utilizando o

mesmo tipo de material empregado nos coletes balísticos (tecido fabricado com fibra de

Page 42: Padronização de Coletes

42

Aramida denominada Kevlar, produzida pela DuPont) porém com fios mais finos de modo a

permitir que o conjunto da trama e urdume do tecido seja sete vezes mais denso, garantindo,

assim, a necessária resistência à penetração de objetos pontiagudos, podendo receber o

reforço de malhas metálicas, a fim de desacelerar a força oriunda da estocada.

Como o objeto pontiagudo ou laminar atinge uma área muita pontual, a força nele

aplicada é muito alta e, por isso, deve ser rapidamente dissipada, fazendo com que o objeto se

incline e, com isso, desloque o ponto de pressão para uma área maior.

Geralmente são necessárias várias camadas múltiplas de materiais para que tal

proteção seja eficaz, sendo que algumas destas camadas poderão ser perfuradas, não

demonstrando, contudo, fragilidade, mas, sim, que a sua função principal, de dissiparem a

energia do golpe, foi devidamente cumprida.

FIGURA 14 – Comparação gráfica dos mecanismos de dissipação da energia

nos sistemas balísticos e correcional

Fonte: http://www.cbc.com.br/equipamentos/coletes/multi/

Page 43: Padronização de Coletes

43

3.7. Conforto e ajuste

Ao ser feita a escolha do tipo de colete mais adequado a uma atividade que exija o seu

uso em tempo integral, o conforto é um fator principal. Este aspecto deve ser considerado sob

o ponto de vista da mobilidade e da distribuição de peso.

Claro que o conforto e um perfeito ajuste são sensações de cunho muito pessoal,

porém, antes que se faça qualquer compra, mister que seja implementado um teste prático, a

fim de que se estabeleça qual o produto que se mostra mais satisfatório para uso em tempo

integral, sopesando um eventual desconforto secundário em troca da proteção que é oferecida.

Testes de campo, levados a cabo pelo National Institute of Justice, apuraram as

principais reclamações de policiais que utilizavam em tempo integral os coletes, sendo

constatados entre os fatores que geram conforto ou desconforto, os seguintes: (SAGPBA, p.

47)

A abertura do pescoço não pode ser muito alta, nem a placa frontal muito longa,

para não enforcar o policial ao sentar;

As alças dos ombros devem ser largas, mas não o bastante para restringir os

movimentos;

Os furos do pescoço e braços devem ser amplos, para garantir flexibilidade e

conforto, sem, contudo, comprometer a proteção;

As placas devem ser ajustáveis e sobreporem-se, para que o colete não se

deforme ou surjam espaços vazios entre os painéis;

Para as mulheres a placa frontal deve considerar o volume dos seios, visando a

manutenção do conforto;

O peso deve ser o menor possível.

Page 44: Padronização de Coletes

44

Na figura abaixo, ilustramos os principais itens de conforto que deve possuir um colete

balístico:

FIGURA 15 – Itens de conforto de um colete balístico

Importante frisar, ainda, que os coletes destinados ao público feminino devem ser

conformados à anatomia das mulheres, sendo altamente recomendável uma costura bem feita

e que nos recortes o material se sobreponha um ao outro em, no mínimo, uma polegada.

A abertura do pescoço

não deve ser muito alta

e deve ser amoldada

corretamente.

As aberturas das axilas

não devem ser muito

pequenas.

O painel frontal deve

ser suficientemente

maior para permitir sua

sobreposição sobre o

traseiro.

A abertura dorsal do

pescoço deve ser alta,

oferecendo, contudo,

conforto e proteção.

As tiras superiores dos

ombros devem ser

largas para distribuírem

o peso do colete, mas

não a ponto de

restringirem

movimentos

As costuras do colete

devem manter a

flexibilidade e manter a

cobertura protetora.

A capa deve possuir

um prolongamento que

ficará por dentro das

calças, impedindo que

o colete suba.

As tiras devem permitir

o adequado ajuste de

tamanho, enquanto

retém a integridade da

proteção lateral.

O comprimento do

painel frontal não deve

ser grande ao ponto de

ser empurrado contra a

garganta do policial

quando este se sentar.

Page 45: Padronização de Coletes

45

3.8 Área de proteção

É possível se adquirir coletes que só oferecem proteção frontal e dorsal, porém, é

altamente recomendável que contenham, também, a proteção lateral, pois, com base em

Relatório do FBI, no período de 1990 a 1999, 290 policiais que utilizavam proteção balística

foram mortos. Destes, 160 policiais (55,2 %) foram mortos por impactos de projéteis na

cabeça; 101 (34.8 %) morreram como resultado de tiros no torso superior; 18 (6.2 %) por tiros

abaixo da linha da cintura; 5 (1.7 %) foram atropelados por automóveis; enquanto 2 (0.7 %)

foram apunhalados e 4 (1.4 %) mortos por outros meios. (SAGPBA, p. 48)

Dos 101 policiais mortos por disparos no torso superior, 40 (39.6 %) foram mortos

quando o projétil penetrou na região lateral, entre os painéis balísticos ou pelas aberturas dos

braços, e 34 (33.7 %) morreram em decorrência de disparos que não atingiram a área coberta

pelo colete. (SAGPBA, p. 48)

Diante disso, um colete tem que proporcionar ampla proteção, ou seja, frontal, dorsal e

lateral, aliado a um ajuste adequado do equipamento ao corpo, sendo altamente recomendável

uma medição individual dos policiais, no caso de coletes dissimulados. Neste caso, na

hipótese de um ganho ou perda de peso considerável, que teriam um impacto adverso no

concernente aos ajustes, o colete deveria ser inspecionado habitualmente, a fim de assegurar a

manutenção de sua total proteção.

3.9 Testes, certificação e níveis de proteção

Antes de receber a autorização para sua comercialização, todos os fabricantes de

coletes balísticos nacionais realizam as provas de penetração, a fim de certificar o nível de

proteção exigido para os diferentes calibres e configurações de projéteis, testes estes que são

Page 46: Padronização de Coletes

46

referendados pelo Campo de Provas de Marambaia, do Exército Brasileiro, o qual emite um

registro para o fabricante, exercendo o controle dos coletes comercializados no país.

Como já referenciadas anteriormente, são utilizadas as normas americanas de nº

0101.3 e 0101.04, do National Institute of Justice – NIJ, que classificam os coletes em seis

diferentes categorias e definem os respectivos padrões de desempenho.O número de lâminas,

por sua vez, varia de acordo com o tipo de tecido utilizado e com o nível (potência) da

munição da qual se quer proteger.

Nos testes balísticos, para cada munição são efetuados seis disparos sobre cada painel,

dentre os quais quatro são impactos frontais e os outros dois são impactos em ângulo,

respeitando-se uma distância mínima de duas polegadas entre os impactos, que deverão estar

a mais de duas polegadas da borda do painel. (SAGPBA, p. 39)

Estes testes geralmente incluem meios de quantificar a deformação do colete contra o

impacto, como uma medida do trauma que sofreria o tecido vivo embaixo do colete,

denominado de “trauma fechado”, ou seja, a deformação deixada em um bloco de “plastilina”

(massa plástica estandardizada), simulando o efeito que o impacto ocasionaria no corpo

humano, sendo que tal afundamento deverá ser menor que 44(quarenta e quatro) milímetros

(mm), geralmente se buscando um trauma menor de 35(trinta e cinco) mm, a fim de se evitar

desde grandes hematomas até lesões internas mais sérias, de acordo com o peso e a

velocidade do projétil utilizado. (SAGPBA, p. 36)

O parâmetro de deformação máxima permitida, de 44 mm (1,73 polegadas), foi

determinado pelo NIJ em 1978, após extensos testes administrados por uma equipe de peritos

médicos, indicando a alta probabilidade de que não haja danos internos. (SAGPBA, p. 65)

Os testes são feitos com os painéis molhados, justificando-se na medida em que,

nestas condições, certos tecidos balísticos têm minimizadas suas propriedades de resistência,

as quais são readquiridas, por completo, após estarem secas. Testes em laboratório indicaram

Page 47: Padronização de Coletes

47

que coletes não tratados com hidrorepelentes, quando saturados em água, sofreram uma

redução de 20% em sua eficiência balística. A causa deste fenômeno não é plenamente

conhecida, mas é teorizada baseando-se no fato de que a água age como um lubrificante,

permitindo que o projétil transfixe as fibras mais facilmente.

Em razão disso, a quase totalidade dos coletes hoje fabricados utiliza materiais que são

originalmente impermeáveis ou que são tratados com substâncias repelentes de água.

Inobstante tal fato, a Norma NIJ exige a prova molhada, objetivando assegurar que estes

coletes realmente provêem proteção adequada, mesmo quando expostos a situações de

umidade.

As exigências de desempenho da Norma 0101.04 do NIJ foram desenvolvidas com a

participação ativa de diversos fabricantes de coletes, definindo que cada tipo de colete

possuirá um nível mínimo de proteção balística, de acordo com calibres específicos e as

respectivas velocidades de impacto que cada um deve resistir.

Para os Níveis II A, II e III A os padrões de testagem exigem seis impactos de

projéteis em cada painel, para duas amostras completas (painéis frontal e dorsal), logo depois

de serem submersos em água, sendo que dois desses impactos devem se dar em um ângulo de

30º (trinta graus). Em todos os casos, a deformação do material de apoio não deve exceder,

como já referido, a 44 mm, uma medida considerada aceitável por critérios orgânicos.

A exigência dos tiros em ângulos se justifica porque a probabilidade do painel sofrer

um impacto exatamente perpendicular é baixa, aliado ao fato de que certos tecidos são

balisticamente menos eficientes em até 20% quando de impactos angulares.

Por sua vez, para o Nível III, as exigências de blindagem são idênticas as acima

referidas, sendo que todos os seis disparos são efetuados perpendiculamente à superfície do

colete, num total de 12 disparos, sendo seis por painel.

Page 48: Padronização de Coletes

48

Já para o Nível IV é exigida a sua resistência para apenas dois disparos do calibre .30-

06, em configuração penetrante, mantida a deformação máxima do material de apoio, sob um

único impacto perpendicular. (SAGPBA, p. 65)

FIGURA 16 - Testes de resistência de painel balístico sob plastilina,

demonstrando o fenômeno do “trauma fechado”. No detalhe, o projétil que

ficou retido no colete. Fonte: http://www.nlectc.org/pdffiles/94213-9.pdf'

Além das exigências balísticas, o padrão do NIJ requer um elevado nível de qualidade

na fabricação, bem como informações mínimas quanto às especificações dos calibres

suportados em cada nível de proteção

3.9.1 Níveis de proteção

Geralmente, as empresas fabricantes de painéis balísticos comercializam seus produtos

classificados em seis níveis de proteção balística, residindo a diferença entre eles apenas no

número de camadas de painéis utilizadas, da seguinte forma:

Page 49: Padronização de Coletes

49

Nível I (.22 LR; .380 ACP)

Protege contra projéteis de calibre .22 Long Rifle , em configuração ogival totalmente

encamisada, com massa nominal de 2.6 g (40 gr), impactando a uma velocidade de até 320

m/s (1050 ft/s) e contra o calibre .380 ACP com projétil ogival totalmente encamisado (FMJ),

com massa nominal de 6.2 g (95 gr), impactando a uma velocidade de até 312 m/s (1025 ft/s).

Nível II-A (9mm; .40 S&W).

Os coletes de nível II A possuem resistência aos calibres 9 mm com projétil ogival

totalmente encamisado (FMJ), com massa nominal de 8.0 g (124 gr), com velocidade de até

332 m/s (1090 ft/s),e ao calibre .40 S&W, na mesma configuração, com massa nominal de

11.7 g (180 gr), impactando a uma velocidade de até 312 m/s (1025 ft/s). Logicamente,

oferece proteção a todas as munições previstas para o Nível I.

Nível II (9 mm; .357 Magnum)

Semelhante ao nível II A, oferecendo proteção contra os mesmos calibres daquele,

embora em velocidades maiores ( 358 m/s (1175 ft/s)), agregando, também, a resistência

balística contra o .357 Magnum em configuração Jaquetado Ponta Macia, com massa nominal

de 10.2 g (158 gr), a uma velocidade de até 427 m/s (1400 ft/s).

Nível III-A (9 mm; .44 Magnum)

Este colete protege contra projéteis de 9 mm em configuração ogival totalmente

jaquetada (FJM), com massa nominal de 8.0 g (124 gr), bem como ao .44 Magnum Ponta Oca

Totalmente jaquetada (JHP), com massa nominal de 15.6 g (240 gr) com velocidade de até

427 m/s (1400 ft/s), ambos com velocidade de até 427 m/s (1400 ft/s).

Nível III (7,62 mm, 5,56 mm)

Oferece proteção contra o 7.62x 57mm, em configuração totalmente encamisada

(FMJ), de massa nominal de 9.6 g (148 gr), com velocidade de até 838 m/s (2750 ft/s).

Page 50: Padronização de Coletes

50

Nível IV (7,62 mm, 5,56 mm e .30)

Constituindo o maior nível para coletes pessoais, agrega, além da proteção aos calibres

previstos para o nível anterior, resistência balística ao calibre .30, todos em configuração

“armour piercing” (AP), ou seja, penetrante, e a velocidades máximas de até 869 m/s (2850

ft/s). Ocorre que, para total eficiência contra projéteis penetrantes, necessária se faz a

utilização de uma placa de cerâmica, inserida em compartimento na parte anterior dos painéis.

Para o caso dos coletes de Nível III, o maior, onde os projéteis são de rifles ou fuzis de

alta potência, além do painel balístico, dentro da funda do colete, do lado externo, coloca-se

uma placa de cerâmica balística ou de compostos especiais, com a finalidade de fragmentar o

projétil e formar um cone de fratura na placa cerâmica, aumentando a área de impacto sobre o

painel balístico de tecidos conseguindo, desta forma, deter o projétil e manter um trauma ou

deformação dentro do limite estabelecido.

Page 51: Padronização de Coletes

51

TABELA 2 - Níveis de proteção (NIJ 0101.4)

Nível de

Proteção Tipo de Munição Massa Nominal Velocidade

Profundidade

Máxima

I

22 caliber LR LRN 2.6 g

40 gr

329 m/s

1080 ft/s 44 mm

1,73 in

380 ACP FMU RN 6.2 g

95 gr

322 m/s

1055 ft/s

II-A

9 MM FMJ RN 8.0 g

124 gr

341 m/s

1120 ft/s 44 mm

1,73 in

40 S&W FMJ 11.7 g

180 gr

322 m/s

1055 ft/s

II

9 MM FMJ RN 8.0 g

124 gr

367 m/s

1205 ft/s 44 mm

1,73 in 357 Magnum JSP

10.2 g

158 gr

436 m/s

1430 ft/s

III-A

9 MM FMJ RN 8.2 g

124 gr

436 m/s

1430 ft/s 44 mm

1,73 in

44 Magnum SJHP 15.6 g

240 gr

436 m/s

1430 ft/s

III 7.62 mm

NATO FMJ

9.6 g

148 gr

847 m/s

2780 ft/s

44 mm

1,73 in

IV 30 caliber M2 AP 10.8 g

166 gr

878 m/s

2880 ft/s

44 mm

1,73 in

Fonte: NIJ (http://www.nlectc.org/pdffiles/0101.04RevA.pdf)

A área de proteção, em todos os tamanhos e níveis fabricados, está localizada a partir

de 7,6 cm (cerca de 3 polegadas) de qualquer extremidade do painel balístico e a pelo menos

5 cm (2 polegadas) de outro tiro, significando que o fabricante não garante as propriedades

Page 52: Padronização de Coletes

52

balísticas do colete no caso de impactos de projéteis em sua área periférica ou na hipótese de

múltiplos projéteis concentrados.

3.9.2 Testes para homologação dos coletes correcionais

Relativamente a tal assunto, o National Institute of Justice, dos EUA, em setembro de

2000, publicou a Padronização NIJ 0115.00, na qual estipula um nível mínimo de resistência

dos coletes quando impactados por objetos pérfuro-cortantes, tendo divididos tais objetos em

duas categorias, baseado contra qual tipo de ameaça se busca a proteção:

1ª Classe (lâminas afiadas) - entendidas como aquelas de alta qualidade, produzidas

em série e que representam a ameaça mais comum aos policiais;

2ª Classe (lâminas artesanais) - aquelas armas brancas improvisadas, geralmente

encontradas em estabelecimentos penitenciários e constituídas de materiais de qualidade

inferior, afiados em concreto ou outras superfícies ásperas. (SAGPBA, p. 43)

Dentro de cada uma destas duas categorias há três níveis de proteção, baseados na

energia, expressa em Joules (J), que é exercida sobre o painel no momento do ataque. Um

joule é equivalente a uma libra-pé, ou seja, a quantidade de energia empregada para elevar o

peso de uma libra a altura de um pé:

a) O Nível 1 indica um colete de baixo nível de proteção, dissimulado, capaz de

resistir a golpes de até 24 Joules de energia;

b) O Nível 2 se caracteriza por ser um colete geralmente satisfatório para uso

contínuo, podendo ser utilizado de forma dissimulada ou sobre o uniforme,

protegendo contra golpes de até 33 Joules de energia;

Page 53: Padronização de Coletes

53

c) Por sua vez, o colete correcional de Nível 3 é uma armadura de proteção de alto

nível, recomendado para uso em situações de alto risco, suportando até 43 Joules

de energia.

A simbologia escolhida pela norma para identificar que este colete foi homologado de

acordo com a norma NIJ 0115.00 é o triângulo eqüilátero de lado de 1” (25,4 mm) pintado de

verde e com o número “2”, na cor branca, inserido no seu contexto.

Os testes para homologação de coletes resistentes a agressões com objetos perfurantes

são realizados com a utilização de um objeto perfurante padronizado conhecido como Spike

(furador de gelo), escolhido por ser muito comum nos Estados Unidos e pelo fato de que sua

ponta é extremamente fina.

O colete é apoiado sobre uma base composta de espumas de borracha, espumas de

polietileno e de borracha densa, com o objetivo de simular a resistência a um golpe perfurante

contra um torso humano.

Para ser enquadrado no Nível 2 de proteção, por exemplo, o furador de gelo deve ser

fixado em um suporte de massa padronizada, pesando 1,918 kg (um quilo, novecentos e

dezoito gramas), o qual cai, em queda livre, sobre o colete, de uma altura de 1,70 m (um

metro e setenta centímetros), gerando uma energia de cerca de 33 J (trinta e três Joules),

prevista pela norma NIJ 0.115, simulando, assim, a energia que seria gerada quando do golpe

desferido por um agressor.

Estes tipos de coletes devem resistir à penetração do furador de gelo em quedas tanto

na perpendicular como com inclinação de 45º (quarenta e cinco graus). São aceitáveis para

aprovação do colete, ocorrências de penetração do estilete em até 7 mm (sete milímetros) de

profundidade, pois ferimentos causados por penetrações nessa profundidade não são

considerados graves ou letais. (SAGPBA, p. 44)

Page 54: Padronização de Coletes

54

3.10 Identificando o nível de proteção adequado

O primeiro passo para a identificação do nível de proteção apropriado é o

estabelecimento do grau de ameaça a que os policiais estão expostos, uma vez que, para cada

tipo de munição, existe um nível de proteção adequado e a escolha deste nível deve estar

perfeitamente amoldada ao conforto e vestibilidade do equipamento, pois o peso e o tamanho

do colete são geralmente proporcionais ao nível de proteção balística que provê.

O grau de ameaça depende de muitos fatores: calibre, configuração e peso do projétil e

velocidade da munição. Assim, o colete que detém um projétil específico a uma determinada

velocidade de impacto pode não deter um projétil do mesmo calibre a uma velocidade mais

alta ou de uma configuração diferente.

Assim, a escolha do nível de resistência do colete balístico a ser utilizado pelos

policiais requer a identificação das ameaças a que eles estão normalmente expostos, bem

como depende da seleção do material ou combinação de materiais que resistirão àquela

ameaça, determinando, assim, a quantidade de camadas de material balístico necessário para

evitar a penetração e os danos do chamado “trauma fechado”.

O peso final do colete também deve ser considerado um fator muito relevante, na

medida em que, aliando proteção, conforto e mobilidade, será mais fácil motivar os policiais

quanto a sua utilização em tempo integral.

Mesmo que haja uma variedade grande de possibilidades em termos de combinação de

número de camadas, foram estabelecidos, como já estudados, seis variáveis de coletes,

classificados conforme o nível de proteção que oferecem, para os calibres menores até

projéteis de fuzil com configuração penetrante.

Nesse passo, todos os órgãos policiais deveriam revisar periodicamente o indicativo de

ameaça armada a que seus profissionais estão expostos, baseando-se nos calibres das armas

utilizadas pela população em geral e das armas comumente apreendidas em poder dos

Page 55: Padronização de Coletes

55

delinqüentes, sendo que, de tais dados, como já antes referido, dependerá a escolha do nível

de proteção do colete balístico. Ainda, deve ser levando em conta o calibre das armas de fogo

regulares, utilizadas pelas Corporações, devido à incidência de casos em que o policial foi

atingido com um disparo oriundo da sua própria arma.

Nos EUA, um relatório do FBI demonstrou que, no período de 1980 a 1999, dos 1058

(mil e cinqüenta e oito) policiais que foram mortos em serviço, 163(cento e sessenta e três) o

foram pelas suas próprias armas, ou seja, uma média de um em cada seis policiais. Tal estudo

constatou, também, um declínio dramático no número de policiais mortos com as próprias

armas a partir do ano de 1990, pois, enquanto na década de 80 a média anual de policiais

mortos com disparos provenientes das suas armas de serviço era de 11(onze) policiais, a partir

de 1990 este número caiu para cinco. (SAGPBA, p. 32)

Esta diminuição foi atribuída a vários fatores, dentre os quais: maior utilização dos

coletes, treinamento policial com vistas a técnicas de retenção da arma e o aparecimento de

coldres projetados com níveis de segurança que dificultam a sua retirada furtiva.

Os coletes balísticos são tanto mais pesados e incômodos quanto maior for o nível de

proteção que eles oferecem. Sendo assim, não é sensato se adotar um colete nível IV para toda

e qualquer força policial, eis que um policial empregado no policiamento a pé não conseguiria

envergar, por seis horas, um colete que pesa em torno de dez quilos.

Especificamente no que diz respeito à Brigada Militar, com base em dados estatísticos

fornecidos pela 3ª Seção do Estado-Maior, no ano de 2006 e de janeiro a setembro de 2007,

foram apreendidas 838(oitocentas e trinta e oito) armas de fogo, divididas nos seguintes tipos:

Page 56: Padronização de Coletes

56

TABELA 3 - Armas de fogo apreendidas pela BM

Jan 2006 a Set 2007

Tipo Quantidade

REVÓLVER 543

PISTOLA 87

CARABINA 25

GARRUCHA 17

RIFLE 15

FUZIL 2

ESPINGARDA 149

TOTAL 838

Fonte: PM 3

GRÁFICO 1 - Armas de fogo apreendidas pela BM

Jan 2006 a Set 2007

Destas, 149(cento e quarenta e nove) são espingardas e, por serem de alma lisa e sua

munição ser constituída de múltiplos projéteis, com exceção do projétil singular, comumente

Page 57: Padronização de Coletes

57

chamado de “balote”, não são consideradas nos testes de resistência balística, haja vista as

baixas velocidades que desenvolvem e seu baixo coeficiente de penetração.

Assim, relevante apenas a análise sobre as armas de fogo raiadas, modificando nossa

base de dados para 689(seiscentas e oitenta e nove) armas a serem consideradas para a

determinação do nível de proteção balística adequado para os policiais-militares do Estado do

Rio Grande do Sul, distribuídas da seguinte forma:

TABELA 4 -Armas de fogo raiadas apreendidas pela BM

Jan 2006 a Set 2007

Tipo Quantidade

REVÓLVER 543

PISTOLA 87

CARABINA 25

GARRUCHA 17

RIFLE 15

FUZIL 2

TOTAL 689

Fonte: PM 3

Constata-se, portanto, que as armas curtas, entendidas como os revólveres, pistolas e

garruchas, representam 647(seiscentas e quarenta e sete) ou 93%(noventa e três pontos

percentuais) do total de armas apreendidas no período, enquanto as armas longas representam

apenas 40(quarenta) armas ( 7%).

Passando para a verificação dos calibres das armas de fogo apreendidas, temos o

seguinte resultado:

Page 58: Padronização de Coletes

58

TABELA 5 - Armas de fogo raiadas, por calibre, apreendidas pela BM

Jan 2006 a Set 2007

Calibre Quantidade %

.38 SPL 362 52,54

.32 S&W 129 18,72

.22 LR 100 14,51

.380 ACP 36 5,22

7,65 mm 19 2,76

6,35 mm 13 1,89

.40 S&W 8 1,16

.30 5 0,73

.44 S&W 5 0,73

9 mm 4 0,58

.357 Magnum 2 0,29

.45 ACP 2 0,29

7,62 mm 2 0,29

.38 CURTO 1 0,15

22-20 1 0,15

Fonte: PM 3

GRÁFICO 2 - Armas de fogo raiadas, por calibre, apreendidas pela BM

Jan 2006 a Set 2007

Page 59: Padronização de Coletes

59

Verifica-se, com base na tabela e no gráfico acima, que os calibres mais incidentes nas

armas de fogo apreendidas pela Corporação, são o .38 Special(362 – 52,54%), seguido pelo

.32 S&W (129 – 18,72%), pelo .22 Long Rifle(100 - 14,51), e pelo .380 ACP (36 – 5,22),

resultado este que indicaria, se levarmos em conta apenas o fator de risco a que nossos

policiais estão expostos, a escolha da proteção balística do colete de nível II, que suporta

disparos até do calibre .357 Magnum.

Entre aqueles calibres que justificariam um nível de proteção maior estão o .30 e o

7,62x57 mm, porém, somando-se a incidência de apreensão destas armas, temos sete

unidades, ou 1%(um ponto percentual) da quantidade total de armas de fogo raiadas, resultado

que não se mostra acentuado a fim de justificar a utilização de um colete balístico de nível

superior.

3.11 Prazo de validade dos coletes

Um dos aspectos mais discutidos com relação aos coletes balísticos é, sem qualquer

sombra de dúvida, quanto a sua expectativa de vida útil, eis que não há entre os fabricantes

uma posição padronizada a respeito da durabilidade dos painéis, sendo estipulados, em âmbito

mundial, prazos de validade que vão de cinco a dez anos.

No Brasil, a comercialização deste produto é controlada pelo Exército Brasileiro, que

regula a matéria através da Portaria nº 18 - D Log, de 19 de dezembro de 2006, a qual aprova

as normas reguladoras da avaliação técnica, fabricação, aquisição, importação e destruição de

coletes à prova de balas.

De acordo com a citada portaria, o prazo de validade do colete será determinado pelo

fabricante:

Art. 18. Os fabricantes de coletes à prova de balas determinarão o prazo de validade

dos mesmos, sendo este improrrogável.

Page 60: Padronização de Coletes

60

Complementando tal dispositivo, é previsto, também na Portaria nº 18 -DLog, que os

coletes vencidos não poderão ser utilizados (art. 35), tampouco revalidados(art. 49):

Art. 35. Os coletes à prova de balas com prazo de validade expirado não poderão ser

utilizados, devendo ser destruídos.

Parágrafo único. O prazo de validade do colete deve estar conforme o indicado no

testemunho de prova, encaminhado para o CAEx para realização da avaliação

técnica.

............................................................................................................................. ...........

Art. 49. Não será autorizado o recondicionamento ou a reutilização do colete à prova

de balas com prazo de validade expirado.

Com relação ao prazo de validade do material balístico, não obstante o órgão

controlador tenha deixado ao arbítrio do fabricante a sua estipulação, segundo informações

retiradas dos sites dos quatro maiores fabricantes nacionais, a Taurus Blindagens, a

Companhia Brasileira de Cartuchos – CBC, a Stopower e a Rontan, fixam aquela em cinco

anos, variando apenas no tocante ao seu termo inicial, já que a Taurus, em seu último

catálogo, explicita que tal prazo começa a fluir “a partir da data da efetiva utilização do

colete” (2007, p. 11), enquanto a Stopower cita em seu site institucional que a garantia seria

“a contar da data de entrega e desde que sejam manuseados, utilizados e conservados

adequadamente.”

Assim, mesmo diante da impossibilidade legal da utilização de um colete fora do

prazo estipulado, temos que os termos de vida útil anunciados pelos fabricantes serviriam

mais como uma referência e não devem ser encarados de forma absoluta, pois a matéria-prima

dos coletes (as fibras), por si só, não se degradam, ficando a durabilidade dos painéis

condicionada muito mais às formas de utilização e acondicionamento do que propriamente ao

mero decurso de tempo. (SAGPBA, p. 61)

Em um dos poucos artigos acerca do assunto, ROSA (2007), assevera que:

Page 61: Padronização de Coletes

61

Os fabricantes, em geral, motivam a fixação dos tais “prazos de validade” no fato de

que os avanços tecnológicos que transcorrem nesse período levam à produção de

novos e mais eficientes materiais balísticos que devem fazer frente com melhores

resultados às novas armas e munições que são desenvolvidas ano a ano. Por sua vez,

os fabricantes das fibras Twaron (Accordis) e Kevlar (Du Pont), estipulam como

prazo de validade o período de dez anos, enquanto a Honeywell, fabricante da

Spectra, não possui posição concreta a respeito, considerando que a vida útil de tal

fibra ainda pode ser considerada indeterminada, eis que ainda é muito recente a sua

utilização em painéis balísticos. (p.48)

Assim, um colete fabricado há dez anos e que nunca tenha sido utilizado, certamente

estará com todas as suas propriedades balísticas, enquanto um colete de dois ou três anos,

regularmente utilizado, pode estar com sua vida útil comprometida.

Por tal razão, devemos atentar para as recomendações de uso, limpeza e

armazenamento feitas pelos fabricantes, dentre as quais podemos citar: (ROSA, p. 48)

a) Ajuste adequado ao corpo do policial, deixando um intervalo de cerca de dois

dedos entre o tórax e o colete;

b) Evitar a exposição prolongada aos raios solares (leia-se porta-malas e assentos das

viaturas);

c) Caso sejam umedecidos, os painéis devem ser secados à sombra e na posição

vertical (em cabides), tal qual o acondicionamento, a fim de se evitar dobras que

comprometam os painéis; e

d) A não-utilização de agentes químicos ou abrasivos na limpeza dos painéis.

3.12 Critérios técnicos para aquisição de coletes balísticos

À primeira vista, a compra de coletes pode parecer um processo relativamente simples.

Porém, inúmeras são as complicações que às vezes surgem e que fazem com que isso se torne

complexo.

Page 62: Padronização de Coletes

62

Dois dos problemas principais que afetam o processo de compra são a obtenção de

informações objetivas por parte dos vendedores e a tendência para superdimensionamento das

necessidades de cada Corporação.

A meta de um vendedor é persuadir o comprador que o produto oferecido por ele é o

melhor disponível no mercado e, às vezes, ele sugerirá que um departamento inclua

exigências no edital a fim de que as especificações só se adéqüem aos coletes por ele

oferecidos. Também, alguns fabricantes usam pseudotestes que demonstram que o produto

deles é superior ao oferecido pelos concorrentes.

Por estas razões os departamentos de logísticas devem ser cautelosos nestas práticas,

fundamentando suas decisões de compra em critérios técnicos das especificações dos painéis,

pois este deve ser o foco principal de um programa de aquisição de coletes, uma vez que é

neste aspecto que o departamento delineia o desempenho de proteção que espera do produto,

assim como suas preferências de tipo, desenho e configuração.

Dentre os principais critérios técnicos podemos citar os seguintes:

A) Especificar o desempenho balístico requerido, além do tipo de colete apropriado,

que devem estar conformes com a norma NIJ 0101.04 (a partir de 19 Dez 07) e, se for o caso

de coletes correcionais, a norma NIJ 0115.00. Tais informações asseguram que o colete

ordenado provê um nível de desempenho comprovado, exigência estas previstas,

respectivamente, nos art. 8º e 9º da Portaria nº 18 - D Log, de 19 de dezembro de 2006;

B) As informações que devam constar nos painéis protetores é outro ponto crítico,

uma vez que aquelas alertam o portador para as limitações de proteção do equipamento, bem

como demonstram que a unidade individual está em conformidade com o art. 15 da Portaria nº

18 - D Log, de 19 de dezembro de 2006;

C) Especificar uma configuração particular quanto aos painéis balísticos, exigindo que

eles ofereçam proteção total, ou seja, frontal, dorsal e lateral, com uma sobreposição do painel

Page 63: Padronização de Coletes

63

dianteiro sob o traseiro de, no mínimo, uma polegada, e preferenciamente de duas polegadas.

Isso se faz extremamente importante, pois, comumente, os fabricantes usam painéis protetores

idênticos em mais de uma configuração ou modelo de colete;

D) As opções de ajuste do equipamento se tornam essenciais, pois identificam as

características de desenho que farão com que o colete seja o mais confortável possível para o

usuário. Porém, esta cláusula pode não ser aplicada no caso de coletes táticos;

E) Deve ser evitado, ainda, que o colete contenha qualquer componente de metal,

objetivando reduzir riscos de ricochetes ou, ainda, que aquele se quebre quando do impacto e

seus pedaços se tornem projéteis secundários;

F) No caso de coletes do tipo dissimulado, cada Corporação deve escolher uma cor de

capa de forma que o colete não seja facilmente visível sob o uniforme do policial, bem como

solicitar que aqueles venham acompanhados de, no mínimo, duas capas, permitindo o rodízio

para que uma seja lavada enquanto a outra permanece em uso;

G) Não se deve incluir qualquer especificação que induza o edital para apenas um

modelo de um único fabricante. Da mesma forma, não se recomenda ditar a gramatura do

material balístico, seu peso máximo, tampouco o número de camadas que deve conter,

restringindo-se, apenas, a especificar o nível de proteção exigido e, de acordo com o critério

técnico de cada compra, o material balístico mais adequado;

H) Itens adicionais podem também ser exigidos, como por exemplo, espaço para a

inscrição do número de patrimônio, designativo da Unidade, nome do policial, etc;

I) Recomendável, ainda, que se exija do fabricante um teste de resistência dos coletes,

por amostragem, a cada dois anos de uso;

J) Por fim, deve ser incluída, no respectivo edital, uma cláusula que especifique as

condições sob qual o adquirente pode rescindir o contrato firmado, ante o descumprimento de

uma obrigação por parte do fabricante.

Page 64: Padronização de Coletes

64

3.13 Situação atual na Brigada Militar

Como já exposto em tópico anterior, em termos mundiais, a utilização dos coletes

balísticos de alta tecnologia tem uma estória recente, eis que apenas no início da década de

70, com a descoberta das propriedades balísticas das fibras de Aramida, possibilitou-se a

fabricação de coletes de uso pessoal dotados de excelentes propriedades balísticas e que

poderiam ser tecidos em painéis de baixo peso, contribuindo, assim, para a disseminação

deste equipamento junto aos organismos militares e policiais.

Por sua vez, segundo informações do Centro de Material Bélico - CMB - fez a

primeira aquisição de coletes balísticos no ano de 1988, oportunidade em que foram

comprados 36(trinta e seis) coletes Nível II, do tipo ostensivo.

Ainda segundo informações do CMB, atualmente a Corporação possui em sua carga,

de acordo com o tipo, as seguintes quantidades de coletes:

TABELA 6 - Carga de coletes da BM

Tipo Quantidade

Ostensivo 852

Dissimulado 4615

Tático 0

TOTAL 5467

Fonte: CMB (2007)

Analisando a tabela acima, conclui-se que não houve, ao longo dos anos, uma

padronização quanto ao tipo de colete adequado às atividades da Brigada Militar, resultando

na utilização, por parte dos nossos efetivos operacionais, tanto dos coletes ostensivos quanto

dos dissimulados.

Page 65: Padronização de Coletes

65

Entretanto, na maioria das vezes, os coletes dissimulados terminam por serem

utilizados sob a forma ostensiva, já que seus painéis balísticos acabam inseridos numa capa

externa, diferente daquela fornecida pelo fabricante, adquirida individualmente pelos

policiais-militares, denominada “capa tática” ou colete tático.

Na Brigada Militar, conforme previsto na Nota de Instrução Operacional nº 17, de 12

de setembro de 2006, a utilização do colete de proteção balística é obrigatória para todos os

policiais-militares em serviço, sendo que os coletes ostensivos, com capas lisas e na mesma

cor do Uniforme 4º, constituem o tipo de colete previsto no inciso IX do art. 12 do

Regulamento de Uniformes e Apresentação Pessoal da Brigada Militar - RUBM - (Decreto

Estadual nº 43430, de 29 de outubro de 2004):

Art.12 - São peças complementares, aquelas que entram ou não, na composição dos

uniformes previstos nos capítulos III e IV deste Regulamento.

..................................................................................................

IX - CAPA PARA COLETE BALÍSTICO:

a) descrição: confeccionada em tecido na cor cinza BM liso, com velcro da mesma

cor para fixação de tarjeta de identificação no lado direito do peito, contendo o posto

ou graduação e nome de guerra do servidor, com a inscrição - BRIGADA MILITAR

- nas costas;

b) posse: obrigatório para militares estaduais em serviço de policiamento ostensivo; c) uso: com o uniforme operacional, em serviço de policiamento.

A inserção do colete tático, ou “capa tática”, no policiamento ostensivo ordinário da

Brigada Militar, deu-se em meados da década de 90, oportunidade em que a Corporação

adquiriu um considerável lote de coletes balísticos do tipo ostensivo.

Ocorre que, conforme a TABELA 6 - Carga de Coletes da BM, a quantidade de

coletes colocada à disposição das Unidades nunca possibilitou que fosse cada policial-militar

tivesse o seu colete balístico próprio, fazendo com que o mesmo equipamento fosse utilizado

de forma coletiva, com conseqüências desfavoráveis tanto no aspecto da higiene pessoal

(sudorese, odores oriundos da nicotina, capas externas sujas) quanto no aspecto da proteção,

Page 66: Padronização de Coletes

66

haja vista que, por vezes, os tamanhos disponíveis não se ajustavam à compleição física dos

PM.

Estes dois fatores iniciais contribuíram, então, para que, por iniciativa própria, os PM

adquirissem, junto a fornecedores privados, capas externas dos painéis, geralmente na cor

preta, às quais começaram a ser agregados, posteriormente, os mais diversos bolsos para

acondicionamento de rádios comunicadores, facas, lanternas, carregadores, telefones

celulares, entre outros, além de um coldre para arma de porte.

Ademais, mesmo as aquisições posteriores, de coletes dissimulados, fornecidos com

capa externa suplementar, a fim de possibilitar a sua devida lavagem, não alteraram o quadro

já estabelecido, haja vista que, na maioria dos casos, os painéis balísticos daqueles eram

retirados das capas originais e utilizados dentro da capa tática adquirida pelos policiais-

militares.

Necessário ressaltar que o RUBM não prevê a utilização do colete tático, mas, sim, a

capa de colete para Controle de Distúrbios Civis – CDC -, a qual é confeccionada na cor

preta, contando com a agregação de porta materiais, estando prevista no Art. 12 daquele

mesmo artigo, no inciso X:

.............................................................................................

X- CAPA DE COLETE PARA CDC:

a) descrição: confeccionada em tecido na cor preta com porta materiais, para CDC,

com a inscrição BRIGADA MILITAR nas costas;

b) posse: obrigatório para militares estaduais em atividades de CDC;

c) uso: com o uniforme operacional do OPM, em atividades de CDC.”

Corroborando os motivos que levaram à adoção, por parte da tropa, da capa tática de

colete, podemos citar uma monografia, elaborada em 2006, pelo Cap Alexandre Brite, por

ocasião do Curso Avançado de Administração Policial Militar – CAAPM -, com o tema

“Capa de colete de proteção balística no policiamento ostensivo da Brigada Militar: Qual a

mais adequada?”, tendo sido aplicada uma pesquisa qualitativa em 101(cento e um) PM,

Page 67: Padronização de Coletes

67

lotados em quatro batalhões operacionais de Porto Alegre, da qual retiramos as seguintes

conclusões (2006, p. 41):

TABELA 7 – Pesquisa sobre capas de coletes

Aspecto Capa

ostensiva

Capa

dissimulada

Capa

tática

Higiene 14 PM – 15% 10 PM – 11% 75 PM – 74%

Facilidade de vestir 07 PM – 8% 06 PM – 7% 87 PM – 86%

Ajuste ao corpo 11 PM – 12% 25 PM – 26% 64 PM – 63%

Conforto 16 PM – 17% 14 PM – 15% 69 PM – 70%

Facilidade de

movimentos 27 PM – 28% 28 PM – 29% 44 PM – 45%

Fonte: Brite, 2006

Analisando os dados constantes da tabela acima, verificamos que, no universo de

policiais-militares pesquisados, nos cinco aspectos referidos (higiene, facilidade de vestir,

ajuste ao corpo, conforto e facilidade de movimentos), o colete tático foi considerado o mais

adequado ao policiamento ostensivo. Mesmo repetindo seu favoritismo no aspecto da

facilidade de movimentos, nota-se que a vantagem do colete tático em relação aos demais não

se mostra tão grande quando comparado aos demais aspectos analisados.

O colete tático, na opinião dos policiais-militares, proporcionaria um maior conforto

quando comparado aos demais, pois o peso do equipamento, antes concentrado na linha da

cintura, seria distribuído, de uma forma mais equilibrada, sobre os ombros. Com respeito a

isso, infelizmente, não obtivemos êxito na localização de qualquer estudo médico específico

acerca das conseqüências físicas e orgânicas oriundas do peso do equipamento e do

Page 68: Padronização de Coletes

68

armamento policial quando transportado das duas maneiras, no cinto de serviço ou na capa

tática.

O certo é que a capa tática, possibilitando o acondicionamento de uma variedade de

materiais superior a do cinto, induz a que o policial transporte consigo equipamentos além de

suas necessidades imediatas, resultando-lhe maior peso e fadiga corporal, sendo que alguns

dos utensílios têm utilidade discutível e outros cuja utilização, nas atividades rotineiras de

policiamento ostensivo, estaria limitada a situações excepcionais.

Na conclusão da monografia analisada, o Oficial afirma que tanto os coletes

dissimulados quanto os ostensivos não proporcionam um ajuste adequado ao corpo do

usuário, referindo, especificamente ao ostensivo, que aplicaria “peso sobre o cinturão do

policial, causando-lhe transtornos físicos, além do que deveria ser mais leve em sua

constituição”. Por sua vez, considera o colete dissimulado mais anatômico e leve, entretanto,

teria as desvantagens de ser complicado para vestir e desvestir, além do fato de ter dificultada

a manutenção de sua limpeza, eis que é fornecido com apenas uma capa, na cor branca, por

isso fácil de sujar, tornando difícil seu uso rotineiro.

4. METODOLOGIA DA PESQUISA

4.1 Caracterização do estudo

O presente estudo assenta-se no paradigma naturalista e se caracteriza como uma

pesquisa exploratória, envolvendo levantamento bibliográfico e documental, visando

proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Enquadra-se

também como descritiva, pois tem como objetivo primordial a descrição das características de

determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis.

Page 69: Padronização de Coletes

69

4.2 Coleta de dados

Preliminarmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e as áreas de

estudo, visando construir parâmetro teórico de análise para o início dos trabalhos.

Os dados relativos ao armamento apreendido em posse dos delinqüentes foram obtidos

através de questionamentos feitos à 3ª Seção do Estado-Maior da Brigada Militar e, por sua

vez, o Centro de Material Bélico disponibilizou aqueles referentes à carga de coletes

balísticos da Corporação.

O referencial teórico foi aprofundado durante todo o período da pesquisa,

constituindo-se em material descritivo, explicitando os conhecimentos técnicos compilados.

Tivemos oportunidade, por fim, de assistir palestras proferidas por um funcionário da

Du Pont, que produz o fio de Kevlar, bem como da Companhia Brasileira de Cartuchos -

CBC, maior fabricante de coletes do país.

5. ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados está fundamentada no levantamento documental e bibliográfico

realizado, confrontados nas várias reuniões dos integrantes da comissão e enriquecida pelas

palestras a nós ministradas, que estruturam e fundamentam a resposta ao problema de

pesquisa, objeto deste trabalho.

5.1 Discussão

QP 1 – Qual o nível de proteção balística que um colete deve apresentar em razão do grau de

ameaça a que os policiais-militares da Corporação estão expostos?

Page 70: Padronização de Coletes

70

Verificamos que o primeiro passo para a identificação do nível de proteção apropriado

é o estabelecimento do grau de ameaça a que os policiais estão expostos, devendo tal escolha

estar perfeitamente amoldada ao conforto e vestibilidade do equipamento, pois o peso e o

tamanho do colete são geralmente proporcionais ao nível de proteção balística que oferece.

Desta forma, de acordo com o calibre das armas de fogo utilizadas pela população

gaúcha em geral, bem como das armas comumente apreendidas pela Brigada Militar em poder

dos delinqüentes, verificamos que a maior incidência é de armas curtas de calibres permitidos,

sobressaindo-se o calibre. 38 SPL para os revólveres e o calibre .380 ACP para as pistolas

semi-automáticas.

Também deve ser levado em conta, como já ressaltado, o maior calibre das armas de

fogo regularmente utilizadas pela Corporação, no caso o .40 S&W, devido à incidência de

casos em que o policial foi atingido com um disparo oriundo da sua própria arma.

Seja qual for o critério que resolvamos seguir, o grau de proteção adequado recai no

colete de nível II, que oferece resistência balística contra os calibres .22 Long Rifle,.32 S&W,

.32 ACP, .38 Special, .380 ACP, 9 mm Parabellum e .357 Magnum.

Mister ressaltar, ainda, que os painéis balísticos devem oferecer proteção frontal,

dorsal e lateral, mediante a sobreposição do painel dianteiro sobre o traseiro, objetivando

resguardar o policial dos disparos de arma de fogo, seja de que direção se originem.

QP 2 – Quais os requisitos mínimos de conforto que devem apresentar os coletes balísticos?

Conforme já exposto no referencial teórico, o conforto é um fator preponderante

quando da escolha do tipo de colete mais adequado a uma atividade que exija o seu uso em

tempo integral, devendo este aspecto ser considerado sob o ponto de vista da mobilidade e da

distribuição de peso.

Page 71: Padronização de Coletes

71

Porém, com base nos itens de conforto que devem ser observados, temos que a

Corporação não tem tido uma maior preocupação em individualizar, o máximo possível, a

aquisição deste equipamento em conformidade com a compleição física de seus integrantes,

uma vez que os processos de aquisição de coletes balísticos ficam adstritos aos tamanhos

impostos pelos fabricantes, decorrendo disso que alguns policiais utilizem um colete não

adequado ao seu tipo físico, o que contribui, sobremaneira, como fator desmotivante para o

uso contínuo, quando em serviço, de tal equipamento.

Assim sendo, se de um lado compreendemos a dificuldade da aquisição de coletes

personalizados para o universo de policiais-militares da Corporação, de outra sorte nos

posicionamos no sentido de que seja exigida dos fabricantes a disponibilização de, no

mínimo, seis tamanhos diferentes de coletes: PP(pequeno-pequeno), P(pequeno), M(médio)

G(grande), GG(grande-grande) e XGG(extra-grande-grande), cujas proporções seriam

determinadas de acordo com os dados métricos do efetivo que já são utilizados para a

confecção dos fardamentos operacionais.

QP 3 – Dos materiais balísticos atualmente empregados, qual o mais adequado às

necessidades da Brigada Militar?

Constatamos, no referencial teórico, que tanto as fibras de Aramida, quanto o

polietileno, alcançaram níveis de desenvolvimento técnológico muito semelhantes,

apresentando, quando confrontados, ínfimas vantagens e desvantagens, embora o primeiro se

trate de um tecido e o segundo de um polímero.

Assim, o lógico seria que o setor logístico da Corporação, quando dos processos de

aquisição de coletes de uso pessoal, não especificasse o material balístico do qual devem ser

constituídos os painéis, tampouco estipule seu peso máximo e o número de camadas que deve

conter, a fim de que o edital não induzisse a determinado tipo de colete de determinado

Page 72: Padronização de Coletes

72

fabricante, restringindo-se, apenas, a explicitar o nível de proteção exigido, de acordo com a

NIJ 0101.4.

Porém, dentro da realidade brasileira, em que os organismos governamentais definem

a aquisição de equipamentos baseados, quase que unicamente, no menor preço, mister que,

quando da elaboração dos respectivos editais, o órgão encarregado, dentro de critérios

técnicos anteriormente definidos, estabeleça o tipo de material balístico que mais se adeqúa às

suas necessidades.

QP 4 – Qual o tipo de colete tecnicamente apropriado para a utilização rotineira pelos

policiais-militares em serviço?

Conforme explicitado nos dados fornecidos pelo Centro de Material Bélico, a Brigada

Militar possui, em carga, tanto coletes balísticos ostensivos quanto dissimulados, embora uma

minoria do nosso efetivo utilize estes últimos na forma original, preferindo o

acondicionamento dos seus painéis numa capa externa, conhecida como colete tático.

Definido como um tipo específico, o colete tático destina-se àqueles efetivos

empregados em ações extraordinárias, que demandem a posse, por parte do policial, de

materiais, armamentos e munições cujas características de utilização se amoldem às possíveis

situações de enfrentamento.

Na prática, se pode constatar um desvirtuamento na destinação deste tipo de colete,

haja vista que passou a ser utilizado rotineiramente pelo efetivo em todas as modalidades de

policiamento ostensivo, não ficando restrito à ações especiais de adentramento ou de

enfrentamento com delinqüentes, a exemplo de países mais avançados na área doutrinária de

técnica e tática policiais.

O colete dissimulado, por sua vez, apresenta-se o mais adequado para o exercício das

atividades de policiamento ostensivo, tendo em vista que sua utilização, sob a parte superior

Page 73: Padronização de Coletes

73

do uniforme, não é transparecida ao oponente, tendo a vantagem de não desviar o foco da

agressão para áreas não protegidas, como a cabeça, pélvis e membros inferiores.

Não obstante, nas atividades de guarda de estabelecimentos correcionais, o colete

multi-ameaça demonstra ser o mais apropriado, em razão de que reúne todas as características

de um colete balístico e de um colete correcional, garantindo, simultaneamente, resistência a

projéteis de arma de fogo e oferecendo proteção adicional contra ataques com armas ou

objetos pontiagudos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1 Conclusões da pesquisa

A partir dos dados coletados, analisados e discutidos, fundamentados em

conhecimentos e pesquisas produzidas por órgãos governamentais, especialistas em

engenharia mecânica, especialistas no desenvolvimento de fibras avançadas, além de técnicos

em polícia militar, chegamos às seguintes conclusões:

- O colete balístico se constitui, efetivamente, num equipamento extremamente eficaz

no que concerne à proteção individual dos nossos profissionais, haja vista que a atividade

policial se caracteriza como uma das profissões em que o risco de vida é mais presente,

tornada imperativa a utilização daquele de forma contínua, reduzindo, em catorze vezes, a

probabilidade da ocorrência de óbitos de policiais em serviço e minimizando os traumas

decorrentes das lesões por projéteis de armas de fogo ou objetos pontiagudos.

- O desenvolvimento tecnológico de materiais com propriedades de resistência

balística, como as fibras de Aramida e o polietileno, permitiu o desenvolvimento de coletes

Page 74: Padronização de Coletes

74

balísticos com baixo peso, flexíveis, com um grau considerável de conforto e vestibilidade,

que possibilitam o seu uso, pelo policial, em tempo integral;

- Todos os fabricantes nacionais de coletes seguem as normas técnicas adotadas pelo

Institute National of Justice - NIJ, dos EUA, atualmente a NIJ 0101.4, publicada no ano de

2000, que especifica padrões mínimos de desempenho balístico, processos de manufatura e as

informações que devem estar registradas nos painéis, requisitos estes que foram corroborados

pelo Exército Brasileiro, órgão que tem a atribuição legal de controle sobre esse tipo de

material;

- Segundo levantamento procedido com base nas características das armas de fogo

comumente apreendidas em poder da população e de delinqüentes em geral, dos seis níveis de

proteção balística previstos pelo NIJ, para as atividades normais de policiamento ostensivo

concluímos que o Nível II se constitui naquele que oferece a melhor relação peso-proteção. Já

para as atividades de guarda em estabelecimentos correcionais, o colete multi-ameaça, de

Nível 2, se apresenta como o mais adequado;

- Concernente ao tipo de colete mais adequado às atividades de policiamento

ostensivo, nos posicionamos no sentido da utilização do colete dissimulado, em configuração

que ofereça total proteção ao usuário (frontal, dorsal e lateral), fundamentando nossa posição

no fato de que este predomina na carga da Corporação, não apresentando as principais

desvantagens dos coletes ostensivos e táticos, ou seja, o transparecimento da sua utilização ao

oponente e o bloqueio da transpiração corporal, já que é sobreposto a, no mínimo, duas vestes

(a camiseta e a gandola).

- Também, é de bom vislumbre ressaltar que o colete tático traz claros prejuízos à

mobilidade e riscos de que os materiais nele agregados, se atingidos por um disparo de arma

de fogo, se transformem em projéteis secundários ou favoreçam ricochetes, além do fato de

que retiram a identidade visual e a unifomidade dos policiais-militares. Por fim, como a

Page 75: Padronização de Coletes

75

prática nos demonstra, induz os policiais a transportarem consigo equipamentos e outros

utensílios que dificilmente terão utilidade nas ações normais de policiamento, maximizando

os efeitos da fadiga corporal.

6.2 Limitações do estudo

Provavelmente, por ser um equipamento de proteção individual adotado há poucos

anos por nossas polícias, não havendo ainda, portanto, alicerçada uma doutrina policial a

respeito, enfrentou-se a escassez de referencial teórico sobre o tema, o que foi suprido por

artigos, normatizações e pesquisas aplicadas em países estrangeiros, principalmente nos

Estados Unidos, material este acessado através de sites da rede mundial de computadores

(Internet).

Também, inexistem normas técnicas brasileiras sobre coletes de uso pessoal, sendo

que todas as empresas nacionais fabricantes de coletes balísticos, inclusive por uma

regulamentação do Exército Brasileiro, a Portaria nº 18 - D Log, de 19 de dezembro de 2006,

seguem as especificações ditadas pelo National Institute of Justice, dos EUA.

6.3 Sugestões

Face ao que já foi amplamente analisado neste estudo, sugerimos que as futuras

aquisições de coletes balísticos, por parte da Brigada Militar, não sejam norteadas pelo menor

custo, mas, sim, pela qualidade técnica dos produtos concorrentes, os quais devem atender

plenamente as exigências do respectivo edital.

Com relação a tal aspecto, arrolamos alguns critérios técnicos que julgamos

importantes integrarem todos os processos de aquisição deste tipo de equipamento:

Page 76: Padronização de Coletes

76

- Especificar o desempenho balístico requerido, além do tipo de colete apropriado, no

caso o dissimulado para as atividades de policiamento, que deve estar conforme com a norma

NIJ 0101.04 (a partir de 19 Dez 07), e os coletes multi-ameça, para a guarda de

estabelecimentos correcionais, segundo a norma NIJ 0115.00;

- Os painéis devem conter todas as informações previstas no 15 da Portaria nº 18 - D

Log, de 19 de dezembro de 2006;

- Especificar uma configuração particular quanto aos painéis balísticos, exigindo que

eles ofereçam proteção total, ou seja, frontal, dorsal e lateral, com uma sobreposição do painel

dianteiro sob o traseiro de duas polegadas.

- Individualizar, o máximo possível, a confecção do colete balístico, a fim de que cada

policial utilize um equipamento que tenha sido fabricado para o seu porte físico e medidas

corporais, fazendo com que o colete seja o mais confortável possível para o usuário, eis que a

largura e o comprimento de um painel pode variar de três a cinco centímetros no mesmo

tamanho, entre marcas diferentes;

- Estabelecer que, no caso do colete dissimulado, este venha acompanhado de, no

mínimo, duas capas externas, entendidas como aquelas que acondicionam em seu interior os

painéis balísticos, permitindo, assim, o rodízio para que uma seja lavada enquanto a outra

permanece em uso;

- Exigir que tais capas externas sejam confeccionadas em fibras de tecido sintético,

como o Dri-Fit® ou CoolMax®, haja vista que estes permitem uma transferência de umidade

maior entre o corpo do usuário e o ambiente, absorvendo o suor três vezes mais rápido do que

o algodão, fazendo com que a transpiração evapore facilmente, minimizando

consideravelmente os efeitos do calor e da sensação de desconforto de uma veste úmida sobre

a pele;

Page 77: Padronização de Coletes

77

- Exigir itens adicionais gravados nos painéis, como por exemplo, espaço para a

inscrição do número de patrimônio, designativo da Unidade, nome do policial, etc;

- Estabelecer que o fabricante do equipamento realize um teste de resistência dos

coletes fornecidos, por amostragem, no mínimo a cada dois anos de uso, a fim de detectar

eventuais defeitos;

- Por fim, deve ser incluída, no respectivo edital, uma cláusula que especifique as

condições sob qual o adquirente pode rescindir o contrato firmado, ante o descumprimento de

uma obrigação por parte do fabricante.

Page 78: Padronização de Coletes

78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAHÃO, José Roberto. Revista Magnum, Edição nº 12. Periódico. Editora Magnum. São

Paulo, 1988, p. 18-22.

ROSA, Régis Rocha da. Revista Proteger, Edição nº 54. Periódico. Editora Sicurezza Ltda.

São Paulo, 2007, p. 40-48.

SILVA, Alexandre Brite da. Uso adequado da capa de colete de proteção balística no

policiamento ostensivo da Brigada Militar. Porto Alegre, CAAPM, Academia de Polícia

Militar, 2006.

GOMES, Martin Luiz Gomes. Uso do Colete à Prova de Balas. UNIDADE, Revista de

Assuntos Técnicos de Polícia Militar, nº 15, Ano X; Porto Alegre, 1992, p 25-29.

UNITED STATES OF AMERICA. National Institute of Justice. SELECTION AND

APLICATION GUIDE TO PERSONAL BODY ARMOR. Traduzido por Taurus Blindagens.

(Título em Português: Guia para seleção e aplicação do colete balístico pessoal). – São Paulo:

Escolas Profissionais Salesianas, 2005.

PAIXÃO, Rodrigo Victor da. Artigo acessado em 29 Set 07 -

http://www.selfdefense.com.br/artigos/protecaobalistica.htm.

LESSER, J. ALAN, Polymer Science and Engineering Department, University of

Massachusetts, Amherst, MA 01003, 2001. Disponível em

http://www.policeone.com/policeone/data/images/upload/PostTreatmentPBO.pdf.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego, Norma Regulamentadora 6 (NR 6). Trata dos

Equipamentos de Proteção Individual - EPI, que devem ser utilizados pelo trabalhador,

destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho.

Page 79: Padronização de Coletes

79

BRASIL. Ministério da Defesa, Portaria nº 18 - D LOG, de 19 de dezembro de 2006. Aprova

as Normas Reguladoras da Avaliação Técnica, Fabricação, Aquisição, Importação e

Destruição de Coletes à Prova de Balas, e dá providências.

BRASIL. Decreto Estadual nº 43430, de 29 de outubro de 2004. Aprova o Regulamento de

Uniformes da Brigada Militar.

BRIGADA MILITAR. Nota de Instrução Operacional nº 17, de 12 de setembro de 2006.

Estabelece padrões de procedimentos para utilização de armas de fogo por Militares

Estaduais.

TAURUS BLINDAGENS. Coletes Balísticos Taurus. [Mandirituba, PR, 2006]. Catálogo.

COMPANHIA BRASILEIRA DE CARTUCHOS. Coletes CBC. [Ribeirão Pires, SP, 2006].

Catálogo.

STOPOWER COLETES. [Curitiba, PR, 2006]. Catálogo.

__________Disponível em http://www.nlectc.org/txtfiles/BodyArmorStd/, acessado em 15

Set 07.

__________Disponível em http://www.nlectc.org/pdffiles/0101.04RevA.pdf, acessado em 21

Set 07.

__________Disponível em http://www.toyobo.co.jp/e/seihin/kc/pbo/menu/fra_menu_en.htm,

acessado em 10 Set 07.

__________Disponível em http://www.latimes.com, acessado em 20 Out 07.

__________Disponível em http://www.policeone.com/zylon, acessado em 07 Out 07.

__________Disponível em http://www.stopower.com.br, acessado em 11 Out 07.

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__________Disponível em http://inventors.about.com/library/inventors, acessado em 02 Set

07.

__________Disponível em http://www.eriding.net/media/photos/history/romans, acessado em

20 Out 07.

.

Page 80: Padronização de Coletes

80

ANEXOS

1- PORTARIA Nº 18 - D LOG, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Page 81: Padronização de Coletes

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MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO

DEPARTAMENTO LOGÍSTICO

(D Log 2000)

PORTARIA Nº 18 - D LOG, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Aprova as Normas Reguladoras da

Avaliação Técnica, Fabricação,

Aquisição, Importação e Destruição de

Coletes à Prova de Balas, e dá

providências.

O CHEFE DO DEPARTAMENTO LOGÍSTICO, no uso das atribuições constantes do

inciso XVI do art. 3° e inciso IX do art. 11, tudo do Regulamento do Departamento Logístico

(R 128) aprovado pela Portaria n° 201, de 2 de maio de 2001, e de acordo com o inciso I do

art. 50 do Decreto n° 5.123, de 1° de julho de 2004, e por proposta da Diretoria de

Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC), resolve:

Art. 1° Aprovar as Normas Reguladoras da Avaliação Técnica, Fabricação, Aquisição,

Importação e Destruição de Coletes à Prova de Balas, que com esta baixa.

Art. 2o Determinar que esta Portaria entre em vigor na data de sua publicação.

Art. 3o Revogar a Portaria n° 22-D Log, de 23 de dezembro de 2002.

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NORMAS REGULADORAS DA AVALIAÇÃO TÉCNICA, FABRICAÇÃO,

AQUISIÇÃO, IMPORTAÇÃO E DESTRUIÇÃO DE COLETES À PROVA DE BALAS

ÍNDICE

CAPÍTULO I DA FINALIDADE .......................................................................... 1°

CAPÍTULO II DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES ........................................ 2° ao 7°

CAPÍTULO III DA AVALIAÇÃO TÉCNICA ....................................................... 8° ao 14

CAPÍTULO IV DA FABRICAÇÃO ....................................................................... 15 ao 21

CAPÍTULO V DA AQUISIÇÃO E DA IMPORTAÇÃO ....................................... 22 ao 34

CAPÍTULO VI DA DESTRUIÇÃO ........................................................................ 35 ao 42

CAPÍTULO VII DAS DISPOSIÇÕES GERAIS ..................................................... 43 ao 51

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CAPÍTULO I

DA FINALIDADE

Art. 1º As presentes normas regulam os procedimentos para a fabricação, avaliação técnica,

aquisição, importação e destruição de coletes à prova de balas, estabelecendo providências

que deverão ser observados no exercício das referidas atividades.

CAPÍTULO II

DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 2º Coletes à prova de balas são produtos controlados pelo Exército, relacionados sob os

números de ordem 1090 e 1100 e incluídos na Categoria de Controle nº “3” e “5”,

respectivamente.

Art. 3º Os coletes à prova de balas são testados e classificados quanto ao nível de proteção

segundo a Norma “NIJ” Standard 0101.04, do Instituto Nacional de Justiça dos Estados

Unidos da América.

Art. 4º Os coletes à prova de balas são classificados quanto ao grau de restrição, conforme

art. 18 do Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados (R-105), em:

I - uso permitido: os coletes à prova de balas que possuem níveis de proteção I, II-A, II e

III-A; e

II - uso restrito: os coletes à prova de balas que possuem níveis de proteção III e IV.

Art 5º Coletes multiameaça, destinados a proteger contra agressões com objetos

perfurocortantes, são produtos controlados pelo Exército e considerados como de uso

permitido, independente do nível de proteção.

Parágrafo único. Os coletes de proteção do tipo multiameaça são classificados em níveis I, II e

III e são testados conforme Norma “NIJ” Standard 0115.01, do Instituto Nacional de Justiça

dos Estados Unidos da América.

Art. 6º O colete pode ser fabricado utilizando-se material que se destina à proteção contra

multiameaça e com material que se destina à prova de balas.

§ 1º Qualquer vestimenta que utilize material balístico (terno, blazer, camisa, calça, casaco,

etc) e ofereça proteção contra disparos de projéteis, será considerada como colete à prova de

balas e tratada como tal.

§ 2º Se a vestimenta oferecer proteção contra agressões com objetos perfurocortantes será

classificada como colete multiameaça.

Art. 7º Os coletes quando destinados ao uso feminino deverão ser adequados à proteção do

busto e serão apostilados aos respectivos Títulos de Registro dos fabricantes, indicando a

expressão: "uso feminino".

CAPÍTULO III

DA AVALIAÇÃO TÉCNICA

Art. 8° Os fabricantes de coletes à prova de balas deverão submeter os novos coletes à

avaliação técnica no Centro de Avaliações do Exército (CAEx), baseando-se na Norma “NIJ”

Standard 0101.04, do Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos da América, devendo

neste caso, serem executados todos os testes previstos naquela Norma.

§1º Caso o fabricante deseje, poderá solicitar a avaliação técnica baseando-se na Norma “NIJ”

Standard 0101.03, do mesmo Instituto.

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84

§2º A partir de doze meses da publicação desta Portaria apenas a Norma “NIJ” Standard

0101.04 será utilizada para avaliação técnica de coletes à prova de balas.

Art. 9° Os fabricantes de coletes multiameaça deverão submeter todos os seus produtos à

avaliação técnica no CAEx, baseando-se na Norma “NIJ” Standard 0115.01, do Instituto

Nacional de Justiça dos Estados Unidos da América.

Art. 10. O colete que for do tipo multiameaça e à prova de balas, deverá ser submetido à

avaliação técnica no CAEx, baseando-se na Norma “NIJ” Standard 0115.01, para proteção

contra objetos perfurocortantes, e na Norma “NIJ” Standard 0101.04, para proteção contra

balas, ambas do Instituto Nacional de Justiça dos Estados Unidos da América.

Parágrafo único. No caso previsto no caput, o Relatório Técnico Experimental (ReTEx)

deverá registrar os níveis de proteção contra as duas ameaças, uma relacionada ao colete

multiameaça e outra ao colete à prova de balas.

Art. 11. Para colete que possuir protetores pélvicos, glúteos ou laterais, essas proteções

deverão ser submetidas aos testes previstos nas normas citadas.

§1º Os protetores pélvicos e glúteos deverão ser avaliados independentemente do colete,

gerando um ReTEx específico.

§2º Se forem testados isoladamente, os protetores pélvicos e glúteos poderão ser fabricados

com qualquer tipo de material.

§3º Os protetores pélvicos e/ou glúteos, quando incorporados ao colete, devem possuir, no

mínimo, o mesmo nível de proteção deste.

§4º Nos casos em que os coletes à prova de balas possuírem níveis de proteção III ou IV, os

protetores pélvicos e/ou glúteos deverão possuir, no mínimo, nível de proteção III-A.

Art.12. As placas balísticas destinadas a proverem nível de proteção desejado, poderão ser

testadas e comercializadas separadamente dos coletes, observadas as dimensões mínimas

previstas nas Normas “NIJ” Standard 0101.04.

§1º Para fins de aplicação desta Portaria, o colete nível III deverá apresentar a seguinte

composição:

I - placa balística nível III e tecido balístico nível III-A; ou

II - placa balística e tecido balístico que, atuando em conjunto, produzam o nível de proteção

III.

§2º Placas balísticas somente serão autorizadas para prover proteções de níveis III e IV da

Norma “NIJ” Standard 0101.04.

§3º Os coletes que possuírem nível de proteção decorrente do conjunto da placa balística e

painel balístico não poderão ser comercializados sem a respectiva placa.

§4º A placa balística deve ter uma etiqueta que a identifique de forma a reconhecer que a

mesma atua em conjunto com o painel balístico.

Art. 13. Quando o colete se destinar ao uso feminino, o mesmo deve ser testado de modo

específico para este fim, conforme prescreve a Norma “NIJ” Standard 0101.04.

Art. 14. O Departamento Logístico poderá, a qualquer momento, solicitar aos fabricantes de

coletes à prova de balas amostras aleatórias representativas dos coletes em produção, com a

finalidade de verificar a conformidade do produto com suas especificações e/ou normas

técnicas.

Page 85: Padronização de Coletes

85

Parágrafo único. No caso de ficar constatada a não-conformidade do produto, será solicitada

nova avaliação técnica e, a critério do Exército Brasileiro, serão adotadas as providências de

acordo com as exigências do § 3º do art. 57 e do art. 247, do Dec. 3.665 de 2000 (R-105).

CAPÍTULO IV

DA FABRICAÇÃO

Art. 15. Os coletes são constituídos de painel balístico, envolto em um invólucro, e este

conjunto inserido na capa do colete.

§1º Tanto o painel balístico quanto a capa do colete devem possuir etiquetas de modo a serem

identificados de maneira clara e durável.

I - A etiqueta do painel balístico conterá os seguintes dados:

a) nome, logomarca e identificação do fabricante;

b) nível de proteção do colete;

c) alerta ao usuário para verificar o tipo de proteção fornecida pelo painel balístico;

d) tamanho;

e) data de fabricação;

f) número de lote;

g) designação de modelo ou estilo que identifique e diferencie o painel para os fins a que foi

fabricado;

h) expressão “superfície de impacto” ou “superfície vestida”;

i) instruções de manuseio para o material balístico;

j) para os tipos I a III-A, a identificação deve ser impressa em caracteres 1.5 vezes maior que

os caracteres do resto da etiqueta, informando que o colete não foi projetado para proteger o

usuário de fogo de armas longas, e se for o caso, que o colete não foi projetado para proteger

o usuário de instrumentos perfurocortantes;

l) certificado de concordância com a “NIJ” Standard 0101.04; e

m) validade.

II - A etiqueta do colete deverá conter os seguintes dados:

a) nome, logomarca e identificação do fabricante;

b) declaração informando ao usuário a necessidade de verificar os painéis balísticos para

determinar o tipo de proteção fornecida;

c) tamanho;

d) data de fabricação;

e) designação de modelo ou estilo que identifique ou diferencie o painel para os fins a que foi

fabricado;

f) instruções de manuseio para o material balístico;

g) certificado de concordância com a “NIJ” Standard 0101.04;

h) validade; e

i) material de fabricação.

Art. 16. O fabricante deverá enviar para a Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados

(DFPC), os dados referentes aos coletes à prova de balas, vendidos e entregues para pessoas

físicas e jurídicas, para fim de cadastro no Sistema de Controle Fabril de Armas (SICOFA),

de acordo com diretrizes específicas da DFPC.

Parágrafo único. Os coletes à prova de balas devem ser identificados, para fim de cadastro no

SICOFA, com o nome do fabricante, nível de proteção, tamanho, número de série, número do

lote, modelo, tipo, validade e material de fabricação.

Page 86: Padronização de Coletes

86

Art. 17. O Comando do Exército não autorizará a fabricação de coletes à prova de balas de

qualquer nível, tipo e modelo, com base no critério da “similaridade”.

Art. 18. Os fabricantes de coletes à prova de balas determinarão o prazo de validade dos

mesmos, sendo este improrrogável.

Art. 19. Os coletes que forem constituídos de tecido balístico não mais fabricado, deverão ser

retirados da apostila ao Título de Registro do respectivo fabricante e seu ReTEx recolhido à

DFPC.

Art. 20. A nomenclatura que identifica um colete à prova de balas e que deverá constar no

ReTEx e na apostila ao Título de Registro da empresa deve possuir, no mínimo, as seguintes

informações:

I - nível de proteção;

II - tipo de fio (aramida ou polietileno);

III - fabricante do fio;

IV - peso do fio (em dTex ou Denier);

V - gramatura do tecido (fio de aramida) ou do compósito (fio de polietileno);

VI - número de camadas;

VII - nome comercial do tecido (fio de aramida) ou do compósito (fio de polietileno); e

VIII - o fabricante do tecido (fio de aramida) ou do compósito (fio de polietileno).

Art. 21. A nomenclatura que identifica uma placa balística e que deverá constar no ReTEx e

na apostila ao Título de Registro da empresa deve possuir, no mínimo, as seguintes

informações:

I - material da placa;

II - gramatura da placa; e

III - o fabricante da placa.

CAPÍTULO V

DA AQUISIÇÃO E IMPORTAÇÃO

Art. 22. Os coletes à prova de balas de uso permitido podem ser adquiridos no comércio

especializado, por órgãos de segurança pública e empresas especializadas de segurança

privada, por integrantes dos órgãos de segurança pública e Forças Armadas, guardas

municipais e demais pessoas listadas no art. 6º da Lei 10.826 de 2003.

Art. 23. A aquisição de coletes à prova de balas, apenas de uso permitido, pelo público em

geral, deverá ser realizada em estabelecimentos comerciais especializados, sob as seguintes

condições:

I - os adquirentes deverão ser maiores de vinte e um anos e serem alertados, por ocasião da

compra, de que poderão vir a ser responsabilizados por quaisquer ocorrências irregulares

previstas no art. 238 do R-105; e

II - os adquirentes deverão ter autorização prévia da Secretaria de Segurança Publica da

Unidade da Federação onde residem, a quem caberá registrá-lo.

Art. 24. Os estabelecimentos comerciais especializados deverão remeter, mensalmente, aos

órgãos de Segurança Pública da Unidade da Federação onde estiverem situados, a relação dos

coletes à prova de balas de uso permitido vendidos ao público em geral, constando o nome

completo, endereço e identificação dos adquirentes.

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Art. 25. As Regiões Militares, por intermédio de seus Serviços de Fiscalização de Produtos

Controlados, apostilarão aos Certificados de Registro dos estabelecimentos comerciais

especializados a autorização para o comércio de coletes a prova de balas de uso permitido.

Art. 26. Os coletes à prova de balas só poderão ser retirados dos estabelecimentos comerciais

pelos compradores, após o recebimento, pelo vendedor, da autorização dada pelo órgão de

Segurança Pública estadual responsável.

Art. 27. Os coletes à prova de balas de uso permitido ou restrito poderão ser adquiridos

diretamente na indústria, com autorização prévia do Comando do Exército, por:

I - órgãos de segurança pública constantes do art. 144 da Constituição Federal de 1988;

II - empresas especializadas de segurança privada, somente de uso permitido, desde que com

parecer favorável do Departamento de Polícia Federal (DPF); e

III - outros órgãos públicos e privados, a critério da DFPC, mediante autorização prévia.

Art. 28. Excepcionalmente, o Departamento Logístico (D Log) poderá autorizar a aquisição

individual, diretamente na indústria, de colete à prova de balas de uso permitido ou restrito,

por parte dos membros da Magistratura e do Ministério Público, da União, dos Estados e do

Distrito Federal, desde que o requeiram por intermédio da Região Militar, em cuja

circunscrição estiverem sediados.

Art. 29. O Departamento Logístico (D Log) poderá autorizar a aquisição individual para uso

particular, diretamente na indústria, de colete à prova de balas, de uso permitido ou restrito,

para os integrantes dos órgãos de segurança pública e das Forças Armadas, de acordo com o

art. 150 do R-105.

Art. 30. Ao participarem de licitações que envolvam produtos controlados pelo Exército, as

pessoas jurídicas deverão apresentar o correspondente Título de Registro (TR) ou Certificado

de Registro (CR), emitido pelo Exército, o ReTEx do produto ofertado e a apostila do mesmo.

Art. 31. Poderão ser importados os coletes à prova de balas:

I - de uso permitido ou restrito para os órgãos de segurança pública, membros da Magistratura

e do Ministério Público, da União, dos Estados e do Distrito Federal, e integrantes dos órgãos

de segurança pública e das Forças Armadas; e

II - de uso permitido para as empresas privadas especializadas em serviço de vigilância e

transporte de valores.

Art. 32. Somente será autorizada a importação de coletes à prova de balas, em caráter

excepcional, quando a indústria nacional não tiver condições de atender à especificação

técnica e/ou demanda desejada.

Parágrafo único. Não serão autorizadas importações de coletes usados ou recondicionados.

Art. 33. No caso de importação de coletes, poderão ser aceitos testes realizados em

laboratórios estrangeiros, quando não houver possibilidade da realização dos testes no CAEx,

dentro das seguintes condições:

I - o laboratório deverá ser de renome internacional ou ser reconhecido pelo CAEx; e

II - os laudos dos testes realizados nos laboratórios estrangeiros, com a respectiva tradução

juramentada, serão submetidos ao CAEx para verificação do cumprimento das Normas “NIJ”

Standard 0101.04.

Page 88: Padronização de Coletes

88

Art. 34. A comercialização de coletes à prova de balas aprovados em Relatório Técnico

Experimental (ReTEx), que recebam acréscimo de até 10% (dez por cento) do número de

camadas, para cada tipo de tecido componente, será objeto de apostilamento ao TR do

fabricante, desde que isto não implique em mudança do nível de proteção.

CAPÍTULO VI

DA DESTRUIÇÃO

Art. 35. Os coletes à prova de balas com prazo de validade expirado não poderão ser

utilizados, devendo ser destruídos.

Parágrafo único. O prazo de validade do colete deve estar conforme o indicado no testemunho

de prova, encaminhado para o CAEx para realização da avaliação técnica.

Art. 36. A destruição do colete à prova de balas poderá ser feita por picotamento ou, no caso

do colete ser fabricado apenas em aramida, por incineração.

Art. 37. No caso de um colete à prova de balas ser alvejado por um disparo, o mesmo não

poderá ser reutilizado, devendo ser destruído.

Art. 38. A destruição dos coletes com prazo de validade expirado pertencentes às empresas

especializadas de segurança privada e ao cidadão comum deverá ser regulada pelo

Departamento de Polícia Federal, observadas as prescrições contidas nos art. 34, 35, 36 e 37

das presentes Normas.

Art. 39. A destruição dos coletes com prazo de validade expirado pertencentes aos órgãos de

segurança pública, à Marinha do Brasil e à Força Aérea Brasileira, seus integrantes e aos

membros da Magistratura e do Ministério Público, da União, dos Estados e do Distrito

Federal deverá ser regulada pelos próprios órgãos, observadas as prescrições contidas nos art.

34, 35, 36 e 37 das presentes Normas.

Art. 40. A destruição dos coletes com prazo de validade expirado pertencentes ao Exército

deverá obedecer aos seguintes preceitos:

I - as Organizações Militares com coletes vencidos providenciarão o recolhimento dos

mesmos ao Órgão Provedor (B Sup/D Sup) da Região Militar de vinculação para fim de

destruição.

II - o Comando da Região Militar deverá nomear uma comissão composta por três integrantes,

sendo, pelo menos, dois oficiais, para supervisionar a destruição dos coletes;

III - a comissão deverá elaborar um termo de destruição com os dados dos coletes destruídos;

IV - os dados que deverão constar do termo são os seguintes: fabricante, modelo, nível de

proteção e número de série; e

V - os Órgãos Provedores (B Sup/D Sup) que realizarem a destruição deverão comunicar à

Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados, no prazo de 60 (sessenta) dias, os dados

dos coletes destruídos.

Art. 41. No caso do colete com prazo de validade expirado pertencente a integrantes do

Exército, a destruição deverá seguir o seguinte procedimento:

I - os proprietários deverão encaminhar os coletes vencidos para os Órgão Provedores do

Exército (B Sup/D Su);

Page 89: Padronização de Coletes

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II - os Órgãos Provedores deverão nomear uma comissão composta de três integrantes, sendo,

pelo menos, dois oficiais, para realizar a supervisão da destruição dos coletes;

III - a comissão deverá elaborar um termo de destruição com os dados dos coletes destruídos;

IV - os dados que deverão constar do termo são os seguintes: fabricante, modelo, nível de

proteção e número de série; e

V - os Órgãos Provedores (B Sup/D Sup) deverão comunicar à Diretoria de Fiscalização

de Produtos Controlados, no prazo de 60 (sessenta) dias, os dados dos coletes destruídos.

Art. 42. As despesas decorrentes da destruição correrão por conta do interessado.

CAPÍTULO VII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 43. A DFPC poderá fornecer, mediante solicitação dos interessados ou por iniciativa

própria, uma relação atualizada de fabricantes de coletes à prova de balas e seus produtos

homologados.

Art. 44. Caso haja dúvidas sobre especificações de coletes à prova de balas, os interessados

poderão consultar a DFPC sobre dados de caráter técnico ou administrativo.

Art. 45. O exercício de qualquer atividade com coletes à prova de balas em desacordo com o

disposto nestas Normas, sujeitará o infrator às penalidades previstas no art. 247 do R-105.

Art. 46. Em casos de roubo, furto ou extravio, o detentor do colete à prova de balas deverá

informar imediatamente a ocorrência e os dados do produto às autoridades policiais.

Art. 47. A transferência de coletes à prova de balas, no caso do proprietário ser pessoa física,

deverá ser comunicada ao órgão que autorizou a aquisição.

Art. 48. As empresas privadas, especializadas em serviço de vigilância e transporte de valores,

poderão transferir os coletes à prova de balas de sua propriedade, para pessoas físicas ou

jurídicas habilitadas, desde que autorizadas previamente pelo Departamento da Policia

Federal.

Art. 49. Não será autorizado o recondicionamento ou a reutilização do colete à prova de balas

com prazo de validade expirado.

Art. 50. Os coletes que são produzidos com materiais não mais fabricados comercialmente

deverão ser retirados das respectivas apostilas aos títulos de registros das empresas, e os

ReTEx correspondentes a esses produtos deverão ser devolvidos à DFPC.

Art. 51. Os casos não previstos nestas normas serão solucionados pelo Chefe do

Departamento Logístico.


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