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III Workshop Desafios e Perspectivas da Inclusão Digital na Sociedade da Informação: Elementos para uma Estratégia AbrangenteBrasília, 14/15 de dezembro de 2009Anais do Evento

Pedro Demo

Consultor do IBICT

Inclusão Digital e Aprendizagem

Resumo: A inclusão digital mais promissora é aquela feita pela aprendizagem. As estratégias em curso- laboratório de informática; distribuição de computadores; cursinhos de digitalização; cursos a distância mal feitos e consumismo digital-, não funcionam mais. Os principais pontos da aprendizagem são, primeiramente, a figura do professor, seguido da figura do aluno e, por terceiro, da matéria pedagogia que prepara para o aprender. O curso de Pedagogia ainda não chegou à era digital, continuando ainda inserido no modelo de uma universidade de ensino e pesquisa, cujo enfoque também deveria mudar. Há ainda o desafio das escolas de tempo integral que também repetem as experiências falidas das escolas de tempo comum. Cursos de Pedagogia tecnologicamente corretos demandam jogos eletrônicos com pesquisa e discussão on-line, com etapas do tipo “scaffolding” de Vygotsky, motivação e autonomia, a Wikipédia para aprender a fazer textos discutíveis e a serem discutidos. Os maiores desafios dessa nova aprendizagem são: preparar o professor que ao voltar para a escola não dê mais aula, mas motive o aluno a aprender, usar a Internet para pesquisar e não para cópia e inserir na aprendizagem Algumas boas idéias são: - computador/ Internet na escola; lanhouses públicas com algum cuidado pedagógico, web 2 e exercício de autonomia. Os riscos existem e são: coisa pobre para pobre, programa de compra de computadores e não de educação e tecnologias novas para reempacotar a velharia. É preciso, portanto, incluir a Pedagogia na sociedade do conhecimento, destacando: a cidadania que sabe pensar, comentar, refletir; o aprendizado incessante; chance no mercado com habilidade digital e qualidade de vida para que as pessoas melhorem suas vidas. (resumo acrescentado)

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[A hipótese do trabalho é a de que a inclusão digital é mais duradoura se estiver dentro de um ambiente de aprendizado, com a chance de ficar para a vida toda. As estratégias que não funcionam mais são:

Laboratório de informática dentro da escola, onde nem o professor e nem o aluno aprendem. A segunda é a distribuição de computadores pelas escolas e sempre se imagina que quando se compra tantos computadores,] alguém está levando alguma coisa. A gente não sabe bem se é um programa de educação ou se é um programa de compra.

A terceira é a dos cursinhos de digitalização. Nós comentamos muito isso no Brasil porque o Brasil gosta de cursos pequenos, cursos rápidos de um dia ou dois dias, mas que não ficam na vida das pessoas, não tem na verdade maior importância. No computador existe um problema conhecido por todos nós. Se você aprende um monte de comandos e não usa, daí dois ou três meses já esqueceu todos. Você vai precisar ficar fazendo cursinho de digitalização a vida toda, quando na verdade você não usa o computador para o que é importante, que seria, na minha hipótese, continuar aprendendo, continuar lendo, continuar trabalhando, pesquisando e coisas do gênero.

A quarta é a dos cursos a distância mal feitos. Cursos a distância hoje em dia estão consolidados; por mais que a gente critique eles vieram para ficar. Por isso que eu costumo dizer que é melhor fazer bem, porque eles vão ficar, mas muitos são mal feitos, e se são mal feitos usa-se a tecnologia para coisas inauditas. Em primeiro lugar, para aperfeiçoar uma aula instrucionista, aula copiada para o aluno copiar, e que fica mais bem copiada ainda quando é feita digitalmente. Então nós usamos muitas vezes toda essa parafernália para coisas muito duvidosas.

A quinta estratégia é o consumismo digital. Nós badalamos muito no Brasil que a população, em grande proporção, já é proprietária de celular. Não é tão chegada a Internet ainda por óbvias razões, mas isso aí tem uma pinta de consumismo; nós empurramos o gosto do mercado para que todo mundo compre os “bagulhos” eletrônicos, mas não se sabe bem porque e não tem uma grande finalidade em termos de aprendizagem.

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Eu acho então que a inclusão digital mais promissora é através da aprendizagem. Primeiro a aprendizagem do professor. Aí nós estamos extremamente atrasados: a grande maioria dos professores das escolas públicas não tem traquejo com o computador, com a Internet, muito menos saberia discutir como é que isso seria utilizado para aprender e menos ainda ele o faz em sua vida. Está completamente fora dessa jogada, que é um problema mundial na verdade, mas aqui talvez um pouco mais exacerbado, e no terceiro mundo de um modo geral. Nos Estados Unidos os alunos dizem que o professor deles está desconectado, é o desconected teacher, é o professor que está no mundo da lua para eles, que está fora do mundo digital, que não sabe mexer com computador, que não sabe lidar com blog, com Wikipédia, com essas coisas feitas na Web 2.0.

Na verdade, diria eu temos tudo para fazer. Nós temos que começar do zero, como preparar o professor que vai para escola pública e já sabe aprender com o computador, que já sabe fazer o aluno a aprender com o computador. Se conseguíssemos mudar isso faríamos uma inclusão digital, aparentemente mais lenta, mas na verdade muito mais profunda e muito mais rápida. Em segundo lugar, a aprendizagem do aluno; aí existe uma diferença muito grande porque o aluno, como é da nova geração, ele anda mais que o professor, então é mais fácil encontrar o aluno que já mexe no computador, já tem alguma expectativa, já quer alguma coisa, do que o professor. Mas ainda não temos os ambientes adequados, existe muita reação porque, claro, toda novidade sofre resistência, tem muito professor ainda que proíbe o aluno a trabalhar na

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Internet, e também existem razões para isso, não quero negar, porque todo mundo copia tudo na Internet e também é uma tecnologia muito avançada. Como copiar as coisas, como conseguir um texto feito, como pagar alguns centavos e os textos já vêm prontos, inclusive teses de doutorado e assim por diante.

É claro que há que ter cuidado, mas um dos grandes desafios que temos é como usar a Internet para pesquisar. Não sei se vocês já viram mas na última [revista] Veja tem nas páginas amarelas o Jimmy Wales, dono da Wikipedia, ele diz lá que a grande pretensão dele é que a Internet seja a plataforma de pesquisa. Hoje não é isso, hoje é muito mais a plataforma de diversão, de distração e sobretudo de plágio. Mas é claro que temos uma grande oportunidade, se as escolas, se os professores conseguissem convencer os alunos de que a Internet é uma grande chance de pesquisar, o que também implicaria em mudar a didática, mudar a noção do que é estar na escola: não é de ficar escutando aula, ficar copiando conteúdo, transmitindo conteúdo, mas produzindo seus conteúdos, algo como o colega citou com muita veemência que é muito importante hoje, se trabalharmos bem o ambiente da Internet.

A pedagogia em terceiro lugar, que também está no mundo da Lua pode-se dizer assim. Porque é um curso extremamente importante, talvez o mais importante da universidade, porque é aí que trabalhamos a questão do aprender. Quando se quer discutir o aprender nós olhamos para o pedagogo, para o professor, para aquelas pessoas que estão interessadas nisso, que cuidam disso, que trabalham nesses ambientes e que na verdade não chegaram ainda a era digital. Então seria muito importante trabalhar com o Ministério da Educação para que os cursos de pedagogia sejam pedagogicamente corretos e também tecnologicamente corretos. Os professores ficam algum tempo brigando com pedagogia nas licenciaturas, mas também de um modo arcaico, modo antigo, sempre baseado na aula que é um modelo mais propriamente ibérico, pode-se dizer assim muito ligado a uma universidade de ensino. Eu acho que nós temos que acabar com esse modelo. A universidade de ensino e pesquisa, a universidade que é de ensino é no fundo uma universidade reduzida, ela não é propriamente necessária. Ela serve apenas para repassar conteúdos, sobretudo que estão disponíveis hoje de maneira superabundante em muitos lugares, então não precisaríamos dessa instituição.

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Uma referência importante são as escolas de tempo integral, desde que fossem tecnologicamente corretas. Nós temos interessados no IBICT por essa idéia. A escola em tempo integral significa um grande salto. Aqui no Distrito Federal, segundo se mostra na propaganda na televisão, há 200 escolas em tempo integral. Não sei se vocês olharam mas é muito engraçado, porque diz assim: de manhã você estuda o currículo e de tarde você faz o reforço. A escola mesmo reconhece que aquilo que ela fez de manhã não valeu muito porque tem que reforçar à tarde. É uma proposta completamente arcaica, fora do tempo, mas que nós poderíamos colocar num bom lugar.

Uma escola de tempo integral tem que ser uma escola de aprendizagem de manhã, de tarde e em todo tempo, e não repetir na escola de tempo integral o modelo falido da escola comum. Nas experiências que temos tentado fazer em Campo Grande [Mato Grosso do Sul], por exemplo, e agora uma que estamos tentando abrir em Porto Grande no Maranhão, há um outro formato curricular, que é de tempo de estudo, já não é mais aula, aula é proibido, agora é tempo de estudo, tempo de participação. O professor tem que montar isso previamente, fazer que o aluno monte seu texto. Na verdade o grande desafio é que o aluno produza seu texto desde a primeira hora ao se alfabetizar.

Eu acho que a gente tem uma grande chance. A gente pode argumentar assim: uma escola em tempo integral não tem porque não ter uma tecnologia dentro, não ter computador aluno por aluno. Que é uma idéia já bastante desenvolvida, e se a gente reler aqui o livro “ao ponto” [?] eu diria que em 2005, quando lançou aquele computadorzinho, que eles chamam de XO, era

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uma idéia extremamente interessante. Hoje está decaída, as empresas tomaram e desvirtuaram. Quer dizer o computadorzinho que a Positivo quer vender pra gente já não tem nada a ver com o que ele propôs um dia. Porque era um computador que quando ligado dentro do ambiente que ele tinha, se comunicava com os computadores ao lado. Ele já tinha até desenvolvido um software chamado TANTAN, que era para fazer tambor, fazer percussão, e se você liga um aos outros vira uma orquestra. Quer dizer, para a criançada é interessante, é motivador, e também a idéia de que o computador tivesse teclas bem pequeninhas que só crianças pudessem usar, para que o adulto não se metesse a roubar esse computador, porque lá em Campo Grande já roubaram 70 computadores em uma escola. Foi bem pensado, a gente dizia que não era bem uma proposta tecnológica, era proposta para a educação, por isso ele custava 100 dólares, mas ele queria produzir 100 milhões desses computadores. Acho que é uma idéia interessante, mas a escola em tempo integral não agarrou, porque simplesmente passa-se para o tempo integral o “besteirol” que se fazia em tempo menor. Lá, no fundo, é a mesma escola.

Curso de pedagogia pedagógica e tecnologicamente corretos

Isto também é um belo desafio, reformatar o que já havia dentro dela, a questão tecnológica, que já seja formatada curricularmente dentro de um ambiente tecnológico. E os ambientes virtuais de aprendizagem, acho também é uma coisa que o IBICT poderia ajudar a desenvolver melhor. O que é o ambiente virtual de aprendizagem? Qual seria sua qualidade? Que software seria interessante para fazer isso?

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Vou dar aqui dois exemplos que são relatados na literatura e que são convincentes e principalmente comprovados: primeiro são os bons jogos eletrônicos. Alguns dizem que é o melhor ambiente de aprendizagem que temos hoje, o jogo eletrônico. Não o jogo eletrônico pedagógico ou o brinquedo pedagógico que só o pedagogo gosta. Engraçado, eu não suporto. Então tem que ser jogo como se faz no comércio, realmente com time, que tem todas aquelas coisas interessantes, e colocar aqui em termos de aprendizagem, por exemplo, montar regras e cenários. Eu tenho o Avatar, você pode deixar o Avatar bem interessante, criar alguma coisa, pesquisar, discutir on-line, porque os bons jogos eletrônicos são cada vez mais difíceis, mais desafiadores, demoram um mês para jogar, a turma chega a desanimar de tão difícil que é. Então é preciso discutir, precisa pesquisar, precisa montar grupos de discussão, e assim por diante.

Scaffolding, que é um aproveitamento superinteressante e atualizado, na teoria, quem só se interessou nisso foi Vygotsky, ou na “zona de desenvolvimento proximal”, isso que se fala às vezes muito vagamente nas escolas e tem uma aplicação muito concreta, porque o jogo tem etapas, para passar para etapa dois tem que vencer a etapa um. Vygotsky imaginava que um dos papéis importantes do professor era fazer esse scaffolding, pular do andaime; um prédio se constrói através dos andaimes, o de baixo sustenta o de cima e assim vai. Então o professor é este sustentador. A zona de desenvolvimento proximal significa quê o aluno poderia fazer com o apoio do professor para além daquilo que ele faz sozinho. Você parte do aluno para tirar o aluno daí, ao contrário da nossa teoria do sim, que parte do aluno e fica aí. Isso apareceu no Ideb ao ser definida que a alfabetização se dá em três anos. Nenhuma criança precisa de três anos, você não administra hoje isso, toda criança se alfabetiza no ano que sobra se pegar um bom scaffolding. Se você não pegar o aluno da cultura dele, do dia-a-dia dele, ele fica nisso. Porque aí você faz no fundo uma coisa pobre para o pobre. Precisa sair daí. Essa idéia do Vygotsky está no videogame, e o videogame puxa pra cima inapelavelmente. Se você quiser cumprir o jogo tem que ralar mais, tem que ralar pra cima. E o jogo é um bom problema. Há toda essa discussão de que o aluno aprende melhor quando a gente estrutura o currículo como problematização. A gente dá para o aluno os problemas que ele vai enfrentar. O jogo é isso. É um belo problema. Por isso é que se diz que ele é o melhor ambiente de aprendizagem.

Segundo é a Wikipedia, também é uma experiência muito interessante, também muito problemática, mas vamos ficar aqui para o lado mais interessante. Então, milhões de pessoas experimentam num ambiente de aprendizagem sensacional, “wikitando” texto, fazendo textos e aprendendo coisas que normalmente nós não aprendemos na universidade, nas escolas, onde tudo é fechado, onde tudo é ligado ao argumento de autoridade. Na Wikipedia só vale a autoridade do argumento, o contrário, porque se o texto é livre ele só fica de pé se tiver alguma coisa que interesse a quem ler. Não adianta ser autoridade, ele vale pela qualidade que tem. É uma pedagogia fantástica. Você aprender a fazer textos discutíveis e você aprender a ser discutido. Aquilo que você apresenta é para os outros discutirem, não é como na escola que o professor fala e o aluno copia e ainda tem que devolver copiado na prova. Lá é o contrário. A Wikipedia mostrou coisas extremamente

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interessantes, a condição coletiva, essa base na autoridade do argumento, quer dizer, o argumento é que vale. E o argumento tão bem feito que não possa ser final. Fundamento sem fundo, como dizem alguns metodólogos. Tem que fazer um fundamento tão perfeito que possa ser refeito, tão bem feito que continue sendo aberto, livre para outras idéias, como ele diz muito bem, uma idéia não pode ser propriedade. Ninguém tem propriamente uma idéia própria, a idéia vem de outras idéias e vai produzir outras idéias, então porque se apropriar disto? Deveria ficar aberto.

Desafios maiores

Eu acho que o maior desafio é a questão do professor, preparar o professor, acho que nós deveríamos caminhar nisso. Desenvolver idéias nisso, acabar com os cursinhos pequenos, acabar com as semanas pedagógicas, porque, de novo, isso é instrucionista. Os professores vêm para semana pedagógica, sem falar que vem os interessados, aqueles que já não são problema, os desinteressados nunca vêm, aí escuta um monte de conferências, volta para escola e continuam dando a mesma aula. Nós temos que quebrar esse ciclo. Que esse professor que venha fazer o curso conosco não volte para a escola e dê a mesma aula, ou de preferência não dê mais aula, cuide que o aluno aprenda, cuide que o aluno escreva, cuide que o aluno pense, cuide que o aluno faça o próprio texto e assim por diante. Mas agora isso tem um preço, o professor precisa fazer texto. Não sei se vocês vão concordar comigo, o grande plágio nacional se chama aula. Aula copiada, feita para o aluno copiar. Esse é o grande plágio, porque é o plágio dos plágios de professor. Tem aí uma grande

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obra a ser feita, uma grande resistência também, porque não há coisa que o professor mais goste do que sua aulinha.

Precisa aos poucos desenvolver isso, mas claro que também tem o outro lado. Os estudantes estão cada vez mais contra a aula, aliás isso no Youtube, se quiserem ver, tem um videozinho feito pelos estudantes de 2º grau dos Estados Unidos, tem paródias de aulas. Ele começa com “The vision”. Os vídeos não estão muito bem feitos, eles mostram paródias do que eles vêem em nossas aulas. Eles ridicularizam o professor. O professor que fala sozinho, o professor que é autoridade, o professor que manda, o professor que dá nota, o professor que não é discutível, o professor que não desce ao nível do aluno para conversar com ele, para fazê-lo também autor. A Internet para pesquisa também é um grande desafio porque a gente está acostumado a copiar.

O grande desafio também é a escola pública. O grande medidor aqui seria como entrar na escola pública. Como conseguir que a escola pública venha para esse lado, porque aí são 90% dos alunos brasileiros. Na escola particular do ensino fundamental são 10%, é residual. O grande pulo do gato está na escola pública, aí que se daria a grande inclusão digital e ficaria para a vida. Isso dentro da aprendizagem e ações para a vida toda, noções do só, do tempinho, noções do que chamamos de evento.

Algumas outras boas idéias. Por exemplo, aqui no Distrito Federal o Governo paga a metade do computador que o professor quer comprar. Acho que isso é uma boa idéia porque o professor tendo um computador em casa, isso não

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garante nada, mas teria pelo menos a expectativa de que o filho vai usar. Agora eu não sei se ele vai usar para aprender, mas já é uma coisa interessante colocar o professor no mundo do computador, da Internet. Então eu achei que essa foi uma idéia que nós poderíamos trabalhar melhor e promover.

Moodle e similares nas escolas: o currículo seja organizado no ambiente virtual, pelo menos algumas coisas como é na UNB; eu peguei um tempo aqui que estava só começando, hoje já é mais comum. Aí eu já acho que é uma chance interessante porque o aluno precisa de computador pra isso, o professor precisa de computador pra isso, precisa de Internet, então isso já entra na vida do professor e já não vai sair mais disso, e o aluno também.

Lanhouses públicas, isso também poderia ser uma idéia interessante. Claro que não apenas para a gandaia, digamos assim, a lanhouse tem muita má fama, porque lá tem de tudo, mas lanhouse pública significa também lanhouse com algum cuidado pedagógico. O que queríamos fazer no Maranhão, mas não conseguimos realizar, era uma lanhouse que tivesse metade dos computadores dedicados a cursos e metade dedicados a gente que quisesse fazer jogos mais sofisticados. Nós poderíamos arrumar melhor; a pessoa que quer jogar vai jogar jogos bons, e tem que selecionar gente que quer fazer software pronto e possa se profissionalizar. Então poderia ser uma lanhouse um pouco diferente, quer dizer, não é só para brincadeira, não estou condenando, mas esta com recursos públicos é que poderia ter uma outra idéia. E como no Brasil os alunos aprendem pessimamente, o reforço é preciso em todo canto, então podia se imaginar uma boa proposta, por exemplo, de matemática, de língua portuguesa, que são as coisas mais deficitárias nas escolas e o aluno poderia passar a tarde fazendo isso.

Exercício de autoria

Acho que o IBICT também poderia ajudar nisso, nós poderíamos fazer uma Wikipedia, tipo Wikipedia, porque é outra coisa, mas usando wiki, fazer algo. Por exemplo, como é que a gente monta uma escola em tempo integral tecnologicamente correta? Montar uma discussão onde todo mundo poderia colaborar fazendo textos, fazendo currículo, fazendo montagens, fazendo motivação, e coisas do gênero. Então como seria o curso de pedagogia alternativa? Que não seja a pedagogia de hoje, mas a pedagogia tecnologicamente correta e pedagogicamente correta.

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Os riscos

O grande risco que eu acho é que nós podemos fazer de toda essa parafernália tecnológica uma coisa pobre para o pobre. Fazer uma inclusão marginal. Na época que eu estive em Campo Grande eu tentei convencer o Prefeito de que ele precisava comprar computador um-a-um. Pelo menos para o primeiro ano; resolveu começar pelo primeiro ano. Por que computadores? Computadores como? Aí eu fui falar com as empresas e veio a Positivo com uma porcaria, e eu disse: “não, porcaria não!”. Mas eu cansei de escutar: o que esse cara quer dando computador sofisticado para criança? Pra quê? Mas é que eles acham que criança só se diverte no computador, só brinca no computador, estraga o computador, então pra quê computador? E foi uma luta, mas conseguimos afinal convencer o Prefeito de que o computador tem que ser bom. Sobretudo se você quer trabalhar em ambientes virtuais de aprendizagem, com certo peso para lidar com imagem, vídeo, com movimento, então não pode ser uma porcaria, tem que ter grande memória, tem que ter software interno adequado. Então não se pode fazer coisa pobre para o pobre, porque senão na escola particular temos um ambiente e na escola pública temos outro ambiente.

Programa de compra em nome da educação, tem que evitar isso. Tem muita gente que quer vender computador, mas a gente tem que descobrir ainda pra quê que serve o computador em termos de aprendizagem.

Tecnologias novas para velharias

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Usar velharias para enfeitar aulas instrucionistas, estou criticando aqui a aula instrucionista, quer dizer a aula de quem nunca produz nada e dá aula. Então tem muita gente que enfeita esta aula, porque fica mais bonitinha, é claro, se aparece no PowerPoint, se aparece vídeo, mas é o mesmo instrucionismo.

Incluindo a sociedade intensiva do conhecimento

Este na verdade é o grande desafio. As pessoas precisam entrar nessa sociedade, principalmente a escola. Acho que aí estão os absurdos inomináveis, uma escola que não faz parte da sociedade do conhecimento. Uma escola do século passado, uma escola retrógrada, uma escola completamente desatualizada.

Habilidades do século XXI

Conversar sobre isso, ainda existe muito besteirol em torno disso, assim como tem também Web 2.0, que é um jargão, um modismo, e logo vem web 3, web 4, e sobretudo há os equipamentos que a gente tem que comprar para andar junto com essas tecnologias.

Cidadania que está a pensar

Acho que esse é na verdade um grande insight da Wikipedia, quer dizer, os editores aprendem a pensar e lá vai ficando claro que quem sabe pensar não precisa gritar, não precisa agredir, não precisa dar pontapé, precisa argumentar. Acho que esse foi o grande achado da Wikipedia. O bom texto é o texto que argumenta bem e argumenta tão bem que pode ser modificado.

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Veja, totalmente diferente da nossa Academia, que tem os textos sagrados, tem os livros sagrados, e assim por diante. Então eu acho que esse tipo de pensar é o que temos que cultivar, o cidadão que sabe refletir, sabe agir, sabe colocar bons argumentos.

Aprendizagem incessante

Acho que esse também é um recado importante, nós continuamos aprendendo a vida toda. Sempre foi assim, mas agora ficou mais claro. Nós sempre temos que nos atualizar, sempre temos coisas pela frente. Aí também entra todo tema da chance de mercado, para ter chance de mercado sem domínio digital, não dá! É fatal. É preciso habilidade digital, mas o mais importante nem é isso, o mais importante é qualidade de vida. Que a pessoa possa melhorar sua vida, melhorar sua motivação, melhorar sua inserção na sociedade também aprendendo digitalmente.

Vou deixar uns dados aqui pra quem quiser, eu tenho um site, e nesse site fico alimentando com textos, geralmente em torno de aprendizagem, que é o que tem mais indicado e também indicação de novas tecnologias de aprendizagem.

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