PEDRO HENRIQUE MEDEIROS DE AZEVEDO
SEGURANÇA NOS TRABALHOS EM ALTURA EM
CONFORMIDADE COM A NR-35 – NA CONSTRUÇÃO E
MANUTENÇÃO DAS TORRES EÓLICAS NA REGIÃO DE
JOÃO CÂMARA/RN.
NATAL-RN
2017
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Pedro Henrique Medeiros de Azevedo
Segurança nos trabalhos em altura em conformidade com a NR-35 – Na construção e
manutenção das torres eólicas na região de João Câmara/RN.
Trabalho de Conclusão de Curso na
modalidade Artigo Científico, submetido ao
Departamento de Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como parte dos requisitos necessários para
obtenção do Título de Bacharel em Engenharia
Civil.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida
Natal-RN
2017
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede
Azevedo, Pedro Henrique Medeiros de.
Segurança nos trabalhos em altura em conformidade com a NR-
35 - na construção e manutenção das torres eólicas na região de
João Câmara/RN / Pedro Henrique Medeiros de Azevedo. - 2017. 17 f.: il.
Artigo Científico (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia
Civil. Natal, RN, 2017.
Orientador: Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida.
1. Parques eólicos - TCC. 2. Segurança do trabalho em altura
- NR-35 - TCC. 3. João Câmara/RN - TCC. I. Almeida, Marcos
Lacerda. II. Título.
RN/UF/BCZM CDU 621.548
Pedro Henrique Medeiros de Azevedo
Segurança nos trabalhos em altura em conformidade com a NR-35 – Na construção e
manutenção das torres eólicas na região de João Câmara/RN.
Trabalho de conclusão de curso na modalidade
Artigo Científico, submetido ao Departamento
de Engenharia Civil da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte como parte dos
requisitos necessários para obtenção do título
de Bacharel em Engenharia Civil.
Aprovado em 24 de 11 de 2017:
___________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida – Orientador
___________________________________________________
Prof. Dr. Leonardo Flamarion Marques Chaves - Examinador interno
___________________________________________________
Profa. Dra. Sônia Maria Machado Prado - Examinador externo
Natal-RN
2017
RESUMO
Com o crescimento aquecido das usinas eólicas nos últimos anos, principalmente na
região nordeste do Brasil, surge uma série de fatores que colocam em risco a segurança dos
trabalhadores em seus serviços em grandes alturas, que mesmo possuindo experiência em
campo, acabam se deparando com situações atípicas como ventos, atividades em altura por
muito tempo, o isolamento, confinamento e entre outros, gerando possíveis acidentes. O
trabalho em altura causa em média 600 mortes por ano no Brasil, quando não tão grave,
causam sequelas irreversíveis. Esses acidentes podem estar relacionados a uma capacitação
ineficiente ou até inexistente. Este trabalho tem por objetivo analisar esses fatores por meio de
checklist embasado na NR-35, que é uma norma que estabelece os requisitos mínimos de
proteção para o trabalho em altura, envolvendo o planejamento, a organização e a execução,
de forma a garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores envolvidos direta ou
indiretamente com esta atividade, em um parque eólico situado na região de João Câmara/RN,
cidade que detém o maior número de aerogeradores instalados no Brasil. Inicia-se o artigo
mostrando todo potencial brasileiro no campo eólico e todo seu crescimento de um tempo
atrás para os dias atuais. Logo em seguida aborda-se toda a problemática, mostrando dados de
acidentes em todo mundo e também informações retiradas In Situ. Por se tratar, ainda, de um
campo relativamente novo na construção civil, é evidente que se possuem diversas incertezas
quanto à origem dos problemas. Para isso a análise dos resultados com especialistas na área é
exposto ao fim desse artigo, com possíveis soluções para amenizar o problema.
Palavras-chave: Parques Eólicos. Segurança do trabalho em altura. NR-35. João Câmara/RN.
ABSTRACT
Due to the heated growth of wind power plants in the recent years, mainly in the
Brazilian northeast, there are several factors that endanger workers’ safety in their services at
great heights. Even for the experienced workers, atypical situations such as heavy winds,
height activities for a long time, isolation and confinement, might cause possible accidents.
Working at heights causes an average of 600 deaths per year in Brazil, and if it is not too
severe, it might cause irreversible sequels. These accidents may be related to inefficient or
non-existent professional training. This paper aims to analyze these factors through a checklist
based on the NR-35, which is a standard that establishes protection requirements for working
at heights. It involves planning, organization and execution procedures, in order to guarantee
safety and health for the workers directly or indirectly related to this activities. The research
was developed in a wind farm located in the region of João Câmara/RN, a city that holds the
biggest number of wind turbines installed in Brazil. The wind energy potential in Brazil is
shown in the article, and all the growth that has occurred in the recent years. Afterwards, the
whole issue is presented, showing accident data across the world and also information
collected in situ. Because it is still a relatively new field in civil construction, it is clear that
there are several uncertainties about the origin of the problems. This paper brings a discussion
among experts in the field, with possible solutions for the issue.
Keywords. Wind Farms. Work safety at heights. NR-35. João Câmara/RN.
5
Pedro Henrique Medeiros de Azevedo, graduando em Engenharia Civil, UFRN
Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida, Departamento de Engenharia Civil da UFRN
1- INTRODUÇÃO
A energia eólica vem crescendo de forma muito rápida em âmbito mundial e
principalmente no setor energético brasileiro. Hoje, o Brasil está na 5ª posição no ranking
mundial e o maior da América Latina de capacidade instalada no setor eólico. Em 2015, o
Brasil assinou um compromisso internacional na COP 21, de aumentar em 33% o uso de
fontes renováveis até o ano de 2030. (Global Wind Energy Council GWEC, 2016).
O nordeste do Brasil está na liderança na produção, sendo o Rio Grande do Norte o
maior produtor em todo o Brasil no ano de 2016. As usinas potiguares produziram 1.206 MW
médios no período, número que representa um aumento de 50% em relação a 2015. Isso se
explica pela grande quantidade de vento que é ofertado na região. (CCE - Câmara de
Comercialização de Energia Elétrica, 2017).
O cenário brasileiro é bastante propício ao setor eólico e algumas características
conspiram para isso, como as propriedades dos ventos que possuem direção
predominantemente uniforme durante o ano e constantes em todas as estações do ano, com
isso tornando bem mais rentável e produtiva do que em relação a uma usina européia por
exemplo, onde seus ventos não possuem propriedades tão boas e também a redução dos
custos devido às políticas de leilões de energia, tornando, hoje, uma das energias mais baratas
do país. (PORTAL BRASIL, 2017)
Esse crescimento acaba potencializando uma série de fatores em detrimento do setor
de segurança do trabalho, principalmente no trabalho em altura realizado nos parques, seja
durante a construção de uma torre, durante sua manutenção ou até mesmo no eventual resgate
de um trabalhador.
Um trabalho em altura abrange atividades realizadas a partir de 2,00m de altura. No
caso do setor eólico, os profissionais são submetidos à altura de até 130 metros. O nível de
conhecimento do trabalhador em relação à complexidade do problema está longe de ser o
ideal. A não realização das análise de risco ou até uma precária análise que não prevê as
diversas medidas de segurança coletiva e individual, ou, ainda, o uso inadequado de EPC
(equipamento de proteção coletiva), como sinalização de segurança, proteção de partes
móveis de máquinas e equipamentos, corrimãos e de EPI (equipamento de proteção
individual), como capacete, óculos, luvas, cintos, talabartes, assim como a falta de norma e
regulamentação específica na área faz, com que o risco de acidente aumente
consideravelmente.
________________
6
Este artigo visa estudar e demonstrar a complexidade, os perigos inerentes atribuídos a
um profissional da área, e por meio de um checklist, embasado na NR-35, verificar junto a.
um parque eólico situado na região de João Câmara/RN, a qual possui o maior número de
aerogeradores do Brasil, todas as ações realizadas em campo na prevenção contra essa
problemática e ao final, mostrar toda a origem do problema e elaborar, por meio de análises,
soluções que aumentem a prevenção.
2- REVISÃO DE LITERATURA OU ESTADO DA ARTE
2.1 – RISCOS ENVOLVIDOS NO TRABALHO EM UM PARQUE EÓLICO
Os trabalhadores de um parque eólico estão expostos à diversos riscos no seu ambiente
de trabalho, sendo o principal a queda de pessoas e cargas em alturas elevadas, que acabam se
intensificando pelo exercício dessas funções em ambientes enclausurados, cujo lugares não
são projetados para permanência continua de humanos, possui meios limitados de entrada e
saída, no qual a ventilação é insuficiente para remover contaminantes, assim, também,
prejudicando o abastecimento de oxigênio para o operário.
A fase de construção pode ser considerada a fase mais complicada e perigosa no ciclo
de vida de um aerogerador, principalmente na execução de elementos como a fundação, peças
de transição e a montagem da turbina. Os principais riscos em que estão submetidos os
trabalhadores nessas fase, são a movimentação manual das cargas e também pelos guindastes
principalmente na suspenção das peças, em até 130 metros de altura, encaixe da nacele,
compartimento que abriga os componentes essenciais para a geração de energia, e das pás dos
rotores, com cerca de 65 metros de comprimento, riscos ergonômicos como resultado de
trabalhos repetitivos e pesados, junto com a fadiga em subir escadas e/ou trabalhar em
espaços confinados, efeitos de clima, como ventos, raios, chuvas, ondas, por motivos
organizacional, como a pressão do fator tempo exercida pelos engenheiros, falta de
equipamentos de segurança suficientes para todos e até exposição ao ruído e vibrações
excessivas. (TEXEIRA, Ana; COSTA, Silvia, 2014)
Na fase de manutenção, o número de funcionários cai e chega a cerca de 2
funcionários para cada 20 a 30 aerogeradores. Esses são responsáveis por atividades como
limpeza das lâminas, substituição de componentes e reparação de unidades no controle
elétrico. Na manutenção da nacele, há alguns riscos associados às partes móveis, partes
quentes que podem causar queimaduras no operário e cabos de alta tensão. O acesso dessa
7
parte da turbina se dá por uma escada de até 80 metros de altura, ou em algumas torres mais
modernas, por meio de elevadores. (TEXEIRA, Ana; COSTA, Silvia, 2014).
2.2 – DADOS ESTATÍSTICOS
De acordo com o Ministério de Trabalho e Emprego (MTE), 20% a 40% dos acidentes
de trabalho no Brasil estão relacionados ao trabalho em altura, sendo a principal causa de
mortes na indústria no país. Considerando-se que no ano de 2013, segundo o Anuário
Estatístico da Previdência Social, o Brasil registrou 2797 óbitos. Com isso, pelo menos 559
destes óbitos, equivalente a 20% do total, teriam sido ocasionados por quedas em trabalho em
altura, podendo esse número ser superior, considerando que foram registrados apenas
trabalhadores de carteira assinada. (FEITEN, 2015)
As principais causas de quedas em altura estão ligadas diretamente, principalmente, se
não for precedida de uma análise de risco ou se a mesma for deficiente ao não prever todas as
medidas de proteções coletivas e individuais necessárias, ou também, o uso e seleção
inadequado de EPC’S e EPI’S ao tipo de atividade, treinamento incompleto sobre zona livre
de queda e fator de queda, noções de primeiros socorros e resgate muito aquém do necessário,
síndrome de suspensão inerte, e priorização do EPI como solução para redução de riscos.
(FEITEN, 2015)
2.3 – NR-35
A Norma Regulamentadora (NR-35) estabelece os requisitos mínimos de segurança ao
trabalhador envolvido direta e indiretamente em trabalho em altura, tudo isso, envolvendo o
planejamento, execução e a organização. A não aplicação correta da NR 35 pode ser
relacionada à falta de informação ou até a resistência em mudar os hábitos que já estariam
bastante arraigados, principalmente quando o trabalhador está acostumado a lidar com a
altura, fazendo com que ele não perceba a iminência ao risco e acaba deixando de realizar os
procedimentos de segurança. Por isso a importância, também, da fiscalização. (FEITEN,
2015)
Responsabilidades de acordo com NR-35(2012):
Cabe ao empregador:
a) Garantir a implementação das medidas de proteção estabelecidas nesta Norma;
b) Assegurar a realização da Análise de Risco - AR e, quando aplicável, a emissão
da Permissão de Trabalho - PT;
8
c) Desenvolver procedimento operacional para as atividades rotineiras de trabalho
em altura;
d) Assegurar a realização de avaliação prévia das condições no local do trabalho em
altura;
e) Adotar as providências necessárias para acompanhar o cumprimento das medidas
de proteção estabelecidas nesta Norma pelas empresas contratadas;
f) Garantir aos trabalhadores informações atualizadas sobre os riscos e as medidas
de controle;
g) Garantir que qualquer trabalho em altura só se inicie depois de adotadas as
medidas de proteção definidas nesta Norma;
h) Assegurar a suspensão dos trabalhos em altura quando verificar situação ou
condição de risco não prevista;
i) Estabelecer uma sistemática de autorização dos trabalhadores para trabalho em
altura;
j) Assegurar que todo trabalho em altura seja realizado sob supervisão;
k) Assegurar a organização e o arquivamento da documentação prevista nesta
Norma;
Cabe aos trabalhadores:
a) Cumprir as disposições legais e regulamentares sobre trabalho em altura.
b) Colaborar com o empregador na implementação das disposições contidas nesta
Norma;
c) Interromper suas atividades exercendo o direito de recusa, sempre que
constatarem evidências de riscos graves.
d) Zelar pela sua segurança e saúde e a de outras pessoas.
2.4 – ACIDENTES REGISTRADOS
A tabela 1 inclui todos os casos documentados de acidentes e incidentes relacionados
às turbinas eólicas em todo o mundo que podem ser encontrados e confirmados através de
relatórios de imprensa ou lançamentos de informações oficiais até 30 de setembro de 2017.
9
Os dados da tabela não são totalmente abrangentes, acredita-se que pode ser apenas a
"ponta do iceberg" em termos de números de acidentes e sua frequência. (CAITHNESS
WINDFARM INFORMATION FORUM, 2017)
Quadro 1 – Número total de acidentes em parques eólicos no mundo. Até setembro de 2017.
Número total de acidentes: 2159
* Até 30 de setembro de 2017 apenas
Ano Antes
de
2000 00 01 02 03
04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 * 17
Nº. 109 30 17 70 66 60 71 83 125 131 131 120 170 168 174 164 153 164 153
Tabela 1 - Casos documentados de acidentes e incidentes relacionados às turbinas eólicas.
Até 30 de setembro de 2017
Fonte: disponível em: http://www.caithnesswindfarms.co.uk/AccidentStatistics.htm
Fonte: disponível em: http://www.caithnesswindfarms.co.uk/AccidentStatistics.htm
10
Quadro 2 – Número de acidentes fatais em parques eólicos no mundo. Até setembro de 2017.
Número de acidentes fatais: 136
* Até 30 de setembro de 2017 apenas
3- MATERIAS E MÉTODOS - METODOLOGIA
3.1 – CIDADE DE JOÃO CÂMARA/RN
Para um trabalho mais aprofundado no tema, foi realizada uma visita à cidade de
João Câmara no estado do Rio Grande do Norte. De acordo com o CERNE (Centro de
Estratégias em Recursos Naturais e Energia) essa cidade foi bastante beneficiada com o
surgimento da energia eólica. De acordo com o IBGE, ela obteve um crescimento de cerca de
90% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2008 e 2012. João Câmara é a cidade que possui o
maior acervo de aerogeradores no Brasil. No ano de 2016 possuía cerca de 305 turbinas
eólicas, com capacidade de gerar 576MW de energia. A economia e seu comércio local
sofreram uma enorme ampliação, também gerando alto lucros aos produtores rurais, que antes
possuíam terras que pouco produziam e agora são arrendadas para a construção de novos
parques, chegando a ganhar, segundo fontes locais, cerca de R$ 2000,00/mês de royalties, por
cada torre instalada em sua terra. (CERNE, 2016)
3.2 – PARQUE CABEÇO VERMELHO
Foi realizada uma visita ao Parque Cabeço Vermelho, localizado entre as cidades de
João Câmara e Jandaíra, no estado do Rio Grande do Norte. Administrada pela empresa
espanhola GESTAMP, o parque ainda está na fase de execução e possui construção prevista
de 21 aerogeradores, cuja altura chega próximo a 120 metros. A empresa espanhola TSK,
contratada pela multinacional GESTAMP, tem como responsabilidade a parte executiva da
obra, como também, a parte de segurança do trabalho, foco deste trabalho.
Ano Antes
de
2000 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 * 17
Nº. 24 3 0 1 4 4 4 5 5 11 8 8 15 16 4 2 7 6 9
Fonte: disponível em: http://www.caithnesswindfarms.co.uk/AccidentStatistics.htm
11
3.3 – CHECKLIST NR-35
Para uma melhor obtenção de resultados e afim de obter uma discussão mais
aprofundada, foi realizada uma entrevista com um dos técnicos de segurança responsáveis
pela obra, com o apoio de um checklist embasado na NR-35, ajudando a observar melhor
vários pontos que buscam auxiliar a segurança do trabalhador.
4- RESULTADOS
Primeiramente foi constatado no que se diz respeito à execução, que a empresa
estabelece anteriormente a qualquer trabalho em altura, um sistema de autorização para a
realização daquela tarefa, onde é feita uma APR (Análise Preliminar de Risco) que se trata de
uma técnica de avaliação prévia de riscos existentes na execução de uma determinada
atividade, baseando-se num detalhamento minucioso de cada etapa da atividade assim como
seus riscos. Também é realizado uma PT (Permissão de Trabalho), a qual trata-se de uma
ferramenta de prevenção, controle e de autorização para a execução das atividades. A APR é
umas das etapas para poder conseguir a PT, ou seja, uma é complementar a outra. A PT é
aprovada pelo responsável que concede a autorização da permissão e é disponibilizada no
local da execução da atividade. Ao final, é encerrada e arquivada afim de permitir sua
rastreabilidade, caso necessário. Ela possui validade limitada à duração da atividade, restrita
ao turno de trabalho, podendo ser revalidada pelo responsável. Quando prestes a subir na
torre, o trabalhador é submetido a uma avaliação de saúde, feita por um técnico de
enfermagem, que verifica a pressão arterial do trabalhador. Qualquer anormalidade
encontrada, o operário é suspenso das atividades até normalizar o seu estado de saúde. Mesmo
quando não há algo visível ou aparente ao seu superior em seu estado de saúde, o trabalhador
tem total direito de recusa, sempre que constatar evidências que coloque a sua segurança e
saúde em risco, como também a de terceiros. A cada 6 meses os trabalhadores são submetidos
a exames médicos para manutenção da sua saúde, como exames de eletrocardiograma,
eletroencefalograma e acuidade visual, a qual trata-se de uma patologia em que olho
reconhece dois pontos muito próximos um do outro, tornando a visão incômoda e com
dificuldade de enxergar formas e contornos dos objetos.
A realização do trabalho em altura dentro dos aerogeradores é controlado para que os
trabalhadores não ultrapassem o tempo de duas horas enclausurados e sempre operado por
dois operários ao mesmo tempo, pois em caso de emergência, há a possibilidade de um pronto
atendimento ao operário em perigo, tendo com eles rádios transmissores para comunicação
12
com pessoas no solo. Eles são submetidos a treinamento teórico e prático para trabalho em
altura com carga horária de 40 horas/aula, quando na NR-35 estabelece um mínimo de 8
horas/aula. A norma também estabelece um treinamento periódico bienal aos trabalhadores.
Porém no Parque Cabeço Vermelho, eles são submetidos a uma reciclagem anual. Uma
empresa terceirizada com instrutores qualificados, é a responsável por ministrar o curso de
treinamento. Foi optado pela terceirização desse serviço com a prerrogativa de melhor
controle na qualidade do curso oferecido aos seus colaboradores. Ao término do treinamento é
emitido o certificado contendo o nome do trabalhador, conteúdo programático, carga horária,
data, local da realização do treinamento, nome e qualificação dos instrutores e assinatura do
responsável. Esse certificado é entregue ao trabalhador e um cópia é arquivada na empresa,
sempre mantendo a capacitação atualizada no registro do trabalhador.
Foi acompanhado, a montagem de uma torre eólica durante a visita, que em apenas
uma dia e meio tem sua montagem concluída, dependendo do operador do guindaste. Foi
constatado, a realização de análise de riscos no locais em que os serviços serão executados e
nos seus entornos. São feitas análises em relação às condições meteorológicas, como a
medição do vento no local, quando, por exemplo, em dias com ventos fortes o trabalho é
suspenso. Por isso a preferência em trabalhos noturnos, cujo vento possui menor intensidade.
Ocorre também, o isolamento total do entorno, podendo passar apenas pessoas autorizadas e
com os EPI’S devidos e os carros são sempre postos em rota de fuga para maior rapidez em
Figura 1 – Estrutura interna
de uma torre eólica
Foto: Autor
13
qualquer emergência. O parque é auxiliado por duas ambulâncias equipadas com rádios
transmissores e socorristas devidamente treinados para resgate em altura e estão sempre em
prontidão nas montagens das torres.
Figura 2 – Ambulância acompanhando a montagem
de uma pá do rotor do aerogerador.
Foto: Autor
Figura 3 – Ambulância fazendo ronda pelo canteiro de obra.
Foto: Autor
14
Os EPI’S, acessórios e sistemas de ancoragem são inspecionados rotineiramente antes
do início dos trabalhos, quando apresentam problemas, degradação, deformações ou outros.
Eles são prontamente descartados e inutilizados. O cinto de segurança usado pelos
trabalhadores é do tipo paraquedista e dotado de dispositivo para conexão de sistema de
ancoragem, sendo que operários permanecem conectados a esse sistema durante todo o
período de exposição ao risco de queda. Este ponto de ancoragem é selecionado por
profissional habilitado e feito com cabos de aço para uma resistência máxima e inspecionado
antes da sua utilização.
5- DISCUSSÃO
Tendo em vista os resultados obtidos embasados na NR-35, no Parque Cabeço
Vermelho em João Câmara/RN, mostra que o cuidado com a segurança nesse canteiro de obra
é realizado com grande maestria. Durante a visita, ficou totalmente claro a grande
preocupação com a segurança de seus operários e também de terceiros, por parte da TSK e
Gestamp. Prevista para o fim desse ano de 2017, a obra, que possui 6 meses de inicialização,
não possuía nenhum tipo de acidente registrado. Informações retiradas da entrevista com o
técnico de segurança da TSK, mostra que em 6 anos de empresa, ele não presenciou, ou
soube, de nenhum acidente grave registrado na empresa. Pode-se dizer que isso se deve ao
fato da empresa cumprir, às vezes até além, todos os quesitos da NR-35. Foram constatados
também, procedimentos para rápida ação em casos de emergências, como a utilização de duas
ambulâncias com socorristas capacitados em resgate em altura e com uso de rádios
Figura 4 – Isolamento no entorno da área em que está sendo
executada tarefas que possuam algum risco.
Foto: Autor
15
comunicadores, como também carros postos sempre em sentido de fuga ou estacionados de ré,
mostrando uma responsabilidade em qualquer caso de urgência que ocorra no canteiro.
De acordo com Alexandre Nakashato, gerente de Treinamento da Capital Safety, de
Curitiba/PR, o ponto crucial para esses tipos de acidentes, é o treinamento ineficaz realizado,
que tem como objetivo apenas conseguir o certificado para seus funcionários por mera
formalidade e quando isso acontece, a segurança é vista apenas como despesa e não se
consideram as possíveis consequências que um acidente causa. O instrutor é responsável em
passar as informações e procedimentos corretos para seus alunos em treinamento. Por isso a
importância desse instrutor ser bem capacitado, com experiência e domínio nas técnicas,
normas e equipamentos. Também é necessário um local de treinamento que possibilite ao
profissional colocar em prática todas as técnicas aprendidas na teoria, contando com uma
infraestrutura adequada, com apoio de equipamentos de boa qualidade e dentro das normas
vigentes. Elton Renan Fagundes, consultor e especialista na área de trabalho em altura e
resgate, afirma que mesmo sabendo que o treinamento de capacitação em uma empresa pode
ser falho, ele concorda que o trabalhador estando muito acostumado com a altura faz com que
não preste a atenção devida e tenha menor cuidado nos procedimentos, aumentando as
chances de acidentes, mesmo sendo um trabalhador bem treinado, por isso sendo essencial
uma fiscalização rigorosa às tarefas em altura. (FEITEN,2015)
Com foco em obter o melhor treinamento para o seus operários, a empresa contrata
uma equipe terceirizada, com instrutores muito bem qualificados, com a finalidade de
ministrar o treinamento com um curso de 40 horas/aula, muito superior ao mínimo exigido
pela NR-35, que conta com 8 horas/aula apenas. Possui cursos de reciclagem de ano em ano,
ao invés de dois em dois anos previsto na norma, algo muito importante para contribuir em
uma atualização necessária em manejos de equipamentos como também na sua teoria e evitar
a criação de vícios que prejudiquem a atenção quanto a iminência do risco.
6- CONCLUSÃO
Este presente artigo teve por objetivo, demonstrar alguns pontos que afligem os
especialistas a respeito da segurança do trabalho em altura e expor procedimentos vistos na
prática. Com o auxílio da NR-35, norma regulamentadora do trabalho em altura e resgate e
com uma visita ao Parque Cabeço Vermelho, na cidade de João Câmara no estado do Rio
grande do Norte, foram realizados levantamentos junto à norma, dos procedimentos
16
realizados pelas empresas que administram o canteiro da obra, a respeito da segurança em
altura dos seus operários.
Especialistas demonstram uma grande preocupação quanto à capacitação dos
trabalhadores que exercem trabalho em altura, e afirmam que os treinamentos estão muito
aquém do necessário, pela dificuldade de se encontrar instrutores bem capacitados e
treinamentos que realmente mostrem a realidade de um procedimento em altura.
(FEITEN,2015). Também são colocadas em pauta, problemáticas relacionadas à fiscalização
das tarefas realizadas. Será que elas estão sendo supervisionadas por pessoas capacitadas?
Será que os operários estão sendo bem ancorados? Será que eles estão utilizando os
procedimentos corretos? A solução para estas perguntas é possível apenas com a fiscalização,
auditoria, treinamento adequado, atualizações, exames médicos periódicos e aumento no
comprometimento dos gestores com a segurança.
Indo na contramão do que os especialistas indicam, as empresas citadas neste artigo,
possuem uma responsabilidade rigorosa quanto ao assunto e tratam o treinamento não apenas
com uma mera formalidade ou obrigação, mas sim como uma forma de prevenção real de
acidentes, como mostram os resultados citados neste artigo.
Por fim, conclui-se que o problema é mais complexo do que todos imaginam, o
problema não está apenas na eficiência de treinamento de um operário, mas sim num conjunto
de medidas. Um funcionário bem treinado, por exemplo, poderá cometer algum erro que pode
causar danos a sua vida e a de terceiros, apenas por ter esquecido, ou mesmo porque não
estava com vontade de realizar um determinado procedimento de segurança. Deve-se mudar
esse comportamento e assimilar a cultura da prevenção, aplicando de maneira adequada a NR-
35, uma ferramenta de extrema importância na prevenção de acidentes.
7- REFERÊNCIAS
PINHEIRO, M.T.G. Um modelo para análise de riscos em usinas eólicas utilizando a
técnica fuzzy ahp. Rio de janeiro, 2014. Disponível em:
<http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10010056.pdf> Acesso em:
25.abr.2017.365saúde.
Riscos de segurança de um parque eólico. Disponível em:
<http://www.365saude.com.br/pt-public-health-safety/pt-environmental-
ealth/1009071439.html> Acesso em: 25.abr.2017.
17
TEXEIRA, Ana; COSTA, Silvia. Segurança e saúde no setor da energia eólica. Cidade do
Porto, 2014. Disponível em: <https://pt.slideshare.net/Luafonso/seguranca-e-saude-no-setor-
da-energia-eólica> Acesso em: 27.abr.2017
Honeywellsafety. Soluções de Proteção em Altura para o Segmento Eólico. São Paulo,
2013. Disponível em:
<http://www.honeywellsafety.com/Supplementary/Documents_and_Downloads/Fall_Protecti
on/4294986586/1046.aspx> Acesso em: 27.abr.2017
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<http://www.revistaplaneta.com.br/vento-a-favor/> Acesso em: 27.abr.2017.
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<http://www.sistemaambiente.net/CIPA/Marcio_F_Batista_NR_35%20_TRABALHO_EM_
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<http://www.federacaodosestivadores.org.br/painel/lateral/NR-35 (Trabalho em Altura).pdf>.
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