PERCEÇÕES E INTENÇÕES NA UTILIZAÇÃO DAS TIC POR
EDUCADORES E PROFESSORES NA SUA FORMAÇÃO INICIAL E
NA FUTURA PRÁTICA PROFISSIONAL
Rita Brito
Instituto Superior de Ciências Educativas [email protected]
Resumo:
A discussão em torno da utilização do computador evoluiu de “devemos ou não utilizar o computador em educação?” para “como podemos melhorar a utilização do computador na educação?”. No entanto, são vários os estudos concluem que os computadores ainda não são utilizados eficazmente para e com as crianças (Dawson, 2008; Tezci, 2011). A investigação refere a adoção das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) no ambiente educativo depende dos sentimentos dos profissionais, competências e atitudes perante as TIC. Ou seja, educadores/professores que têm atitudes positivas relativamente às TIC e que as compreendem como uma ferramenta útil na aprendizagem vão, obviamente, integrá-las na sala mais facilmente que outros professores
Porque é que o computador continua a não ser utilizado como uma ferramenta do educador no ensino e aprendizagem? De modo a responder a esta questão foi desenvolvido um estudo que contemplará 3 fases, onde na primeira fase será aplicado um questionário aos alunos da licenciatura em Educação Básica antes da lecionação da Unidade Curricular (UC) “TIC aplicadas à educação”, a segunda fase consta da aplicação do mesmo questionário aos mesmos alunos após o final da UC e numa terceira fase serão selecionados alguns alunos que responderam a ambos os questionários e será feito um período de observação na sua futura prática profissional. Nesta comunicação apresentaremos dados referentes à primeira fase do estudo.
Palavras-chave: Tecnologias de informação e comunicação, formação, professores.
Introdução
A importância do computador em educação tem sido já largamente investigada. As
conclusões dos estudos respeitantes a esta temática revelam que crianças que utilizem o
computador regularmente em sala têm maiores ganhos desenvolvimentais relativos à
inteligência, competências não verbais, conhecimento estrutural, memória de longo prazo,
destreza manual, competências verbais, resolução de problemas, abstração e competências
conceptuais relativamente a outras crianças sem experiência de utilização do computador na
sala (Haugland, 1992; Nir-Gal & Klein, 2004). No entanto “o problema da integração das
tecnologias de informação e comunicação (TIC) na escola continua muito longe de estar
resolvido” (Costa, 2010, s/p), persistindo a integração da tecnologia no curriculum da escola
como um processo complexo, não tendo sido ainda alcançada a integração dos
computadores no ensino e aprendizagem (Dawson, 2008; Papanastasiou & Angeli, 2008;
Tezci, 2011).
Segundo vários investigadores existe uma lacuna entre o que os professores aprendem na
sua formação inicial relativamente às TIC e como eles as utilizam na sua prática profissional
(Ottenbreit-Leftwich, Glazewski, Newby, & Ertmer, 2010; Pope, Hare, & Howard, 2002).
Watt (1980) refere que as perceções e atitudes têm um papel fundamental na maneira de
como os professores lidam com as TIC na sala. Veen (1993) diz-nos que uma
implementação efetiva das TIC depende se os seus utilizadores têm uma atitude positiva
perante as mesmas. O mesmo autor diz que as escolas apenas conseguem encorajar a
utilização das TIC e que a verdadeira adoção depende acima de tudo dos sentimentos dos
professores, competências e atitudes face às TIC. Isto significa que os professores que têm
atitudes positivas relativamente às TIC e que as compreendem como uma ferramenta útil na
aprendizagem vão, obviamente, integrá-las na sala mais facilmente que outros professores
(Becker & Riel, 2000; Sandholtz, Ringstaff, & Dwyer, 1997). Infelizmente a investigação
indica (Brush, 1998; Cuban, 2000; Ely, 1995; Hunt & Bohlin, 1995) que as reformas
relativas à tecnologia falharam porque as perceções, as competências e as atitudes dos
professores nunca são tidas em consideração.
Perante isto, o objetivo do nosso estudo centra-se na verificação das perceções e intenções
na utilização das TIC por futuros educadores de infância e professores do 1º Ciclo nas suas
práticas profissionais.
De seguida apresentaremos a contextualização teórica deste tema, a metodologia utilizada,
analisaremos os resultados e terminaremos com algumas conclusões.
Antes de apresentarmos o marco teórico explicamos alguns termos utilizados neste artigo. O
termo perceções designa o efeito de perceber. O termo atitude é sinónimo de intenção, ou
seja, o resultado da vontade de praticar algo ou de ter algum comportamento. O termo
opinião refere-se a um juízo formado sobre alguma coisa. Ao longo deste artigo utilizamos o
termo docentes para profissionais que já detêm a habilitação e o termo aluno para futuros
docentes.
1. Contextualização
Atualmente verifica-se a presença de computadores nas escolas devido ao largo
investimento feito pelo Ministério da Educação nas últimas décadas, nomeadamente, e
segundo informação do Plano Tecnológico de Educação (ME, s/d), em 2010 o objetivo seria
que as escolas tivessem 2 alunos por cada computador com ligação à internet e a certificação
de 90% dos docentes com competências TIC. Para além disso os planos de estudos das
instituições de formação inicial de educadores de infância e de professores do 1º Ciclo têm
também sido atualizados, verificando-se a introdução de, pelo menos, uma unidade
curricular (UC) relacionada com TIC nos últimos anos (Brito & Madrid, 2011).
No entanto, o computador, só por si, não contribui significativamente para as aprendizagens
das crianças. Esta utilização só se torna numa aprendizagem importante para as crianças
quando os educadores/professores o utilizam corretamente a nível pedagógico e é integrado
no ambiente de aprendizagem destas e no seu currículo (Gialamas &, Nikolopoulou, 2009),
passando este a ser mais uma ferramenta, equiparada aos livros, jogos, pinturas, entre outros.
O papel do educador/professor na integração do computador no ensino e na aprendizagem é
de extrema importância e as reformas educativas deveriam ter em conta os conhecimentos
destes profissionais, as suas competências, opiniões e atitudes (Cuban, 2000).
Para a integração do computador em ambiente educativo é necessário que o
educador/professor tenha boas perceções sobre o mesmo e que tenha a intenção prévia de o
utilizar. As opiniões de alunos e educadores/professores são essenciais para a integração das
TIC no ambiente educativo, sendo as opiniões positivas fundamentais, na medida em que
influenciam as suas práticas com TIC (Sime & Priestley, 2005). As suas opiniões e
intenções predizem a integração (ou não) dos computadores na sua prática, enquanto que
uma integração com sucesso dependerá de outros fatores como as suas competências e a
formação. Essa formação deve ser providenciada contextualmente e socialmente situada
num ambiente escolar, ao invés de ser um curso autónomo. Este pode ajudar na construção
de conhecimentos básicos, mas inibe a necessária transferência de competências, ou seja,
colocar em prática o que se aprendeu. As “práticas de campo” de alunos relativas à
tecnologia têm um impacto positivo nas suas atitudes em relação à utilização do computador
nas suas práticas profissionais de futuro (Ertmer, 2005; Dexter and Riedel, 2003; Schrum,
1999). À medida que os alunos experienciam a integração das TIC durante estas práticas,
tornam-se mais confiantes na aplicação destas na sua futura profissão (Stulmann, 1998).
As opiniões influenciam as intenções e estas, por sua vez, influenciam o comportamento
(Dillon & Gayford, 1997; Ma, Anderson, & Streith, 2005). Ou seja, a intenção de um
professor utilizar o computador na sua prática profissional pode ser prevista pela sua
perceção da utilidade do computador. De modo a poder explicar a relação entre opiniões-
intenções-comportamento, quanto mais favoráveis forem as opiniões dos professores, maior
será a probabilidade de realizar o comportamento em questão (Ajzen, 2005). As opiniões
dos professores estão interligadas às suas anteriores experiências com computadores, assim
como as opiniões e atitudes positivas podem ser correlacionadas com o nível da sua anterior
experiência com o computador. Os professores que se sentem confiantes nas suas
competências de utilização do computador vão ver essa mesma utilização do computador na
educação de uma forma positiva. As opiniões dos professores sobre as suas competências na
utilização do computador têm mostrado predizer a integração do computador na sua prática
profissional (Wozney, Venkatesh, & Abrami, 2006). Uma fraca eficácia e falta de
competências na utilização do computador constituem os principais obstáculos na integração
e uso do computador na educação (Kumar & Kumar, 2003; Paraskeva, Bouta, & Papagianni,
2008; Yildirim, 2000).
Referindo-nos às opiniões de educadores de infância, investigações neste campo (Chen &
Chang, 2006; Tsitouridou & Vryzas, 2003, 2004) constataram que estas são modeladas pelos
seus conhecimentos e experiências com o computador, nomeadamente com a utilização
deste em casa juntamente com formação de qualidade que os educadores tenham tido
durante a sua prática profissional. Os educadores com experiência na utilização do
computador e que tenham recebido formação tendem a expressar opiniões positivas ligadas
à confiança na utilização do computador. Os educadores que têm computador em casa
estavam mais propensos a avaliar a sua confiança em níveis mais elevados (Chen & Chang,
2006). Angeli (2004) no seu estudo referencia que embora os futuros educadores de infância
se apropriem da tecnologia no seu papel de estudantes (e.g. trabalhos, preparar atividades),
ainda resistem em vê-la como uma ferramenta na sua prática profissional diária e expressam
pouco desejo de utilizar o computador com as crianças na futura prática profissional (Laffey,
2004).
Como pudemos verificar, as atitudes e as crenças relativas à integração da tecnologia têm
sido estudadas por vários investigadores (Abbott & Farris, 2000; Ertmer, 1999; Pope, Hare
& Howard, 2002; Swain, 2006; Tezci, 2011), mas poucos fazem o acompanhamento desde
que os alunos estão em formação inicial até à sua prática profissional. Para além disso, a
investigação tem-se centrado mais nas valências do 1º Ciclo e no ensino secundário (e.g.,
Choy, Wong & Gao, 2008; Jimoyiannis & Komis, 2007; Kiridis, Drossos, & Tsakiridou,
2006), tendo sido dada pouca relevância a alunos em formação inicial de educação de
infância ou já na prática profissional (Angeli, 2004; Kiridis, Tsakiridou, Kaskalis, & Golia,
2004; Laffey, 2004; Tsitouridou & Vryzas, 2001). Este tipo de investigação também é
importante no sentido do desenvolvimento de programas de formação de professores.
Reportando-nos ao caso português e segundo dois estudos efetuados com amplitude nacional
visando conhecer qual a formação ministrada aos alunos de licenciatura de formação inicial
de professores, verificou-se que apesar destas instituições possuírem os recursos humanos e
físicos para trabalharem neste campo, as TIC desempenhavam aqui um papel moderado,
direcionando-se as competências dos alunos mais para um nível técnico, nomeadamente na
utilização de processadores de texto e correio eletrónico. Em relação à integração das TIC
nas práticas profissionais, os alunos mostravam algumas fraquezas (Matos, 2004; Ponte &
Serrazina, 1998).
Perante isto, o objetivo do nosso estudo centra-se na verificação das opiniões, e intenções na
utilização das TIC por futuros educadores de infância e professores do 1º Ciclo nas suas
práticas profissionais. Apresentaremos o plano de investigação no ponto seguinte.
2. Metodologia
Esta investigação segue uma abordagem exploratória de caráter descritivo e interpretativo
(Bogdan & Biklen, 1994).
O estudo que se encontra em desenvolvimento irá dividir-se em 3 fases: numa primeira fase será distribuído um questionário aos alunos do 2º ano da licenciatura em Ensino Básico
anteriormente à lecionação da UC “TIC aplicadas à educação”, de modo verificar as suas
opiniões, competências, perceções e atitudes face ao computador e à sua utilização em
educação; numa segunda fase os mesmos alunos irão responder ao mesmo questionário no
final dessa UC com o objetivo de verificar se as suas opiniões se mantêm após essa
lecionação; na terceira fase serão selecionados alguns alunos que responderam a ambos os
questionários e serão feitas observações na sua prática profissional de modo a averiguar se
as suas intenções referidas anteriormente no questionário se mantêm, e se não se mantêm
qual o motivo. Neste artigo apresentaremos dados referentes à primeira fase do estudo.
2.1 Participantes
Neste estudo participaram 36 alunos (n=36) do 2º ano da licenciatura do Ensino básico de
uma instituição de ensino superior do concelho de Lisboa, sendo que 27.8% (10) tem menos
de 22 anos, 38.9% (14) tem entre 22 a 25 anos, 8.3% (3) tem entre 26 a 29 anos, 8.3% (3)
tem 30 a 35 anos e 16.7% (6) têm mais de 36 anos. Relativamente aos estudos futuros,
verifica-se que 69.4% (25) quer seguir educação pré-escolar, 13.9 % (5) quer seguir estudos
de 1º Ciclo e 16.7% (6) quer seguir ambas as valências.
2.2 Instrumento de recolha de dados
Como forma de recolha de dados foi utilizado um questionário. Foram feitas pesquisas de
modo a utilizar um questionário já validado pela investigação, no entanto não foi encontrado
nenhum que fosse ao encontro de todos os nossos objetivos, tendo sido encontrados dois
questionários em duas investigações semelhantes a esta (Nikolopoulou K. & Gialamas V.,
2009; Redmond P., Albion P., Maroulis J., 2005). Foi pedida a autorização aos autores dos
mesmos para a sua aplicação, embora com algumas alterações. Ambos os questionários
foram analisados, tendo sido escolhidas algumas perguntas dos mesmos. Visto os
questionários estarem escritos na língua inglesa foi necessário obter uma versão portuguesa
dos mesmos, adotando-se para isso o método de tradução-retroversão (Hill & Hill, 2008).
Posteriormente o questionário foi disponibilizado a outros investigadores na área de
tecnologias educativas, tendo sido feito um aprofundamento da análise ao instrumento. Por
fim foi realizado um pré-teste ao instrumento através da aplicação a uma amostra de alunos
(estudantes de mestrado em educação pré-escolar). Foram tecidas poucas apreciações ao
questionário, no entanto este ainda sofreu algumas alterações.
Assim, o questionário é composto por 5 partes. A PARTE 1 diz respeito aos dados
demográficos da amostra.
Com a PARTE 2 quisemos perceber a experiência na utilização das TIC pelos inquiridos,
nomeadamente que dispositivos usam, há quanto tempo utilizam o computador e durante
quanto tempo o usam diariamente. Ainda dentro da PARTE 2 foram apresentadas aos
inquiridos várias ferramentas/suportes tecnológicos de modo a verificarmos, com uma escala
de Likert de 5 graus (1 - Nenhuma experiência; 5 - Expert), qual a experiência de utilização
destes.
Com a PARTE 3 do questionário quisemos averiguar o nível de confiança dos alunos na
utilização das TIC em ambiente educativo, sendo para isso apresentadas várias afirmações
contendo uma escala de Likert de 5 pontos (1 - Concordo totalmente; 5 - Discordo
totalmente) de modo aos inquiridos poderem selecionar o seu nível de concordância
relativamente às mesmas.
A PARTE 4 teve o intuito de verificar as atitudes dos inquiridos perante a utilização do
computador na educação. Para tal foram-lhes apresentadas várias afirmações contendo uma
escala de Likert de 5 níveis (igual à anterior) de modo a verificarmos o nível de
concordância para cada afirmação.
Finalmente, na PARTE 5 voltámos a apresentar as ferramentas/suportes apresentados na
PARTE 2 e questionámos os inquiridos sobre qual a frequência que pretendem fazer na sua
prática profissional das mesmas, apresentando uma escala de Likert com 5 valores (1 –
Nunca; 5 - Mais do que diariamente).
Os dados foram analisados pelo programa SPSS Statistics, versão 20.0.
3. Apresentação e análise de resultados
Iremos então apresentar os dados relativos à perceção e intenção dos futuros educadores e
professores na utilização do computador nas suas futuras práticas profissionais, detendo-nos
na atual experiência que a amostra tem no que concerne à utilização das TIC e em várias
ferramentas/suportes tecnológicos, qual a sua confiança e atitudes perante as TIC e qual a
frequência de utilização que pretendem fazer com várias ferramentas/suportes
tecnológicos na sua futura prática profissional.
Experiência na utilização das TIC
Do resultado da análise das respostas dos inquiridos relativamente à sua experiência na
utilização das TIC verificamos que o dispositivo mais utilizado é o computador, pois a
totalidade da amostra possui pelo menos um (100%, 36), de seguida o telemóvel (47.2%, 17)
e o leitor de MP3 (63.9%, 23). Os dispositivos menos utilizados são a máquina fotográfica
(66,70%) e a máquina de filmar (66,70%).
Relativamente à utilização do computador 80.6% (29) da amostra referiu utilizá-lo há mais
de 5 anos. No que concerne ao tempo diários de utilização, nota-se alguma aproximação
entre os resultados, sendo que 33.3% (12) utiliza-o entre 1 a 2 horas e 25% (9) utiliza
durante mais de 4 horas. No GRÁFICO 1 podemos visualizar a informação completa:
Gráfico 1: Tempo de utilização do computador diariamente
No que concerne ao nível de experiência relativamente à utilização de várias ferramentas ou
suportes tecnológicos, os inquiridos afirmam ser expert (22.2%) na utilização das redes
sociais e 41,7% refere muita experiência nas mesmas. Verifica-se igualmente muita
experiência na utilização de programas de processamento de texto (ex: Word®) (58%) e
programas de apresentação (ex: Powerpoint®) (56%). As ferramentas que a amostra refere
não ter nenhuma experiência serão os sistemas de gestão de referências bibliográficas (Ex:
Mendeley; Zotero) (61,1%) e aplicações para criar páginas web (61,1%). Apresentando
pouca experiência verifica-se o correio eletrónico (55,6%), os programas para publicação
online de imagens (Ex: Flickr.com) (50%), programas de publicação online de ficheiros de
som (Ex. podcast) (52,8%), sistemas de gestão e sincronização de contactos (Ex: Plaxo) e
aplicações de gestão de ficheiros (Ex: Cloud, Dropbox). A TABELA 1 apresenta em
pormenor a informação referida.
TABELA 1: Experiência na utilização das seguintes ferramentas/suportes tecnológicos
33,30% 22,20%
8,30% 25%
1-2 Horas 2-3 Horas 3-4 Horas
Mais de 4 horas
Confiança na utilização das TIC
A PARTE 3 do questionário consiste na apresentação de afirmações relacionadas com a
confiança dos inquiridos na utilização do computador em ambiente educativo (TABELA
2). Verificamos que a maioria da amostra concorda em como consegue resolver a maior
parte das dificuldades com que se deparam com o uso do computador (80.60%), pois os
programas baseados em Windows® não lhes causam problemas (72.20%) e o
computador torna-os muito mais produtivos (72.20%). São muito competentes na
utilização da internet e aplicações em geral (66.70%), referindo que é muito fácil
trabalhar com o computador (61.10%) e inclusivamente aprendem a trabalhar
rapidamente com novo software (61.10%). Consideram-se utilizadores experientes e
seguros (58.30%) e muito confiantes nas suas capacidades para usar o computador
(63.90%).
Os inquiridos discordam totalmente que é muito frustrante trabalhar com o computador
(54.30%), que os computadores são demasiado complicados (41.70%) e que têm
problemas quando tentam usar o computador (47.20%). Discordam totalmente quando
se refere que não têm a certeza do que podem fazer com o computador (41.70%) e que
quando usam o computador têm receio de pressionar a tecla errada e danificar algo
(38.90%).
Discordam que se sentem inseguros quanto às suas capacidades para usar o computador
(75%), que acham confuso trabalhar com este (44.40%) e que é muito difícil conseguir
que o computador faça o que querem que ele faça (55.06%). Discordam igualmente que
não se consideram muito competentes no uso do computador (44.40%) e que às vezes
quando utilizam o computador parece que as coisas acontecem sem saberem porquê
(44.40%). No entanto 50% referiram incerteza perante a afirmação de não se sentirem
bem a trabalhar com o computador.
.
Atitudes perante a utilização das TIC
Relativamente à PARTE 4 do questionário que diz respeito à opinião dos inquiridos
sobre a integração e utilização do computador no ambiente educativo, através da
TABELA 3 podemos verificar que os inquiridos estão interessados em integrar as TIC na
sua prática diária (58.30%) e concordam que este uso e integração na educação é
necessário (63.90%), sendo o computador complementar mas não “essencial” a todo o
processo educativo (47.20%). Os futuros professores concordam que a utilização do
computador promove a participação ativa das crianças no processo de aprendizagem
(75%) e é útil para a sua melhoria (77.80%), motivando-as igualmente para este
processo (66.70%). São da opinião que o computador ajuda as crianças a entenderem os
conceitos de uma forma mais efetiva (52.80%) e não bloqueiam a imaginação e
criatividade da criança (55.60%). Concordam, no entanto, que a utilização do
computador pelas crianças favorece a sua isolação social (52.80%). O computador é
uma ferramenta valiosa para os professores (61.10%) e estes pretendem utilizá-lo com
as crianças na sua futura prática profissional (77.20%), pois são da opinião que é
importante a familiarização das crianças com a tecnologia (77.80%) e esta também os
irá auxiliar a ensinar de forma mais eficaz (47.20%).
Discordam que o uso dos computadores pelas crianças seja mais prejudicial do que
benéfico (63.90%), que o computador não favorece a aprendizagem dos alunos porque
não é de fácil utilização (63.90%) e discordam totalmente que o computador seja apenas
útil para a realização de jogos (47.20%).
Referem também que o computador não os deixa nervosos (58.30%), muito pelo
contrário, sentem-me confortáveis com a ideia de o utilizar como ferramenta no ensino e
na aprendizagem (69.40%), não sendo esta última uma ideia que os assuste (47.20%),
entusiasmando-os poderem utilizar o computador nas suas práticas (63.90%) e caso
alguma coisa corra mal tentarão resolver a situação (36.10%).
Os inquiridos não são céticos sobre o uso das TIC nas suas práticas de ensino (44.40%)
e são da opinião de que não há diminuição do papel do professor (58.30%) nem este é
afetado (66.70%), não conseguindo fazer tão bem o que o computador faz (58.30%).
São da opinião de que o computador não torna a aprendizagem mecânica (58.30%) e
gostavam de utilizá-lo nas suas futuras práticas com as crianças (63.90%).
Utilização do computador pelo professor para /com as crianças
Por fim, a PARTE 5 diz respeito à futura utilização do computador para e com as
crianças pelo professor. Questionámos os inquiridos sobre quanto tempo esperam
utilizar o computador para/com as crianças diariamente e 38.90% referiu que espera
utilizar entre 20 a 30 minutos o computador (GRÁFICO 2).
Gráfico 2: tempo de utilização diária estimado das TIC pelos futuros professores
Voltámos a apresentar as mesmas ferramentas e suportes tecnológicos relativos à
PARTE 2 do questionário, mas questionámos os inquiridos sobre a frequência de
utilização (para e com as crianças) que pretendem fazer com estes quando estiverem na
sua prática profissional (TABELA 4). Os inquiridos tencionam nunca utilizar as redes
sociais (Ex: Facebook) (41.7%), jogar jogos de computador (Ex: FIFA, Solitária)
(41.7%), referem que nunca irão utilizar linguagens de programação (Ex: Logo,
Scratch) (55.6%), programas para publicação online de imagens (Ex: Flickr.com)
(47.7%) e sistemas de gestão e sincronização de contactos (Ex: Plaxo) (50%). As
ferramentas que terão utilização mensal serão a folha de cálculo (ex: Excel®) (50%), as
bases de dados (Ex. access) (50%) e os sistemas de posicionamento global (GPS)
(52.8%). No que concerne a utilização diária consideram que irão utilizar aplicações
para digitalizar ficheiros (41.7%) CD’s educacionais (50%) e consulta de gramáticas,
dicionários ou prontuários em suporte digital (41.7%).
25% 38,90%
30,60% 2,80%
Entre 10 a 20 min Entre 20 a 30 min
Entre 30 min e 1 Hora Mais de 2 Horas
4. Conclusões
A integração efetiva e com sucesso das TIC na educação depende de alguns fatores
como a experiência, a confiança, as perceções e atitudes. As perceções influenciam as
intenções e por sua vez estas influenciam o comportamento (Tezci, 2011).
As atitudes perante a utilização do computador têm um papel muito importante no
comportamento dos alunos/docentes. No seu estudo Khine (2001) refere-nos uma
correlação significativa entre as atitudes perante os computadores e a utilização destes
na educação. Gülbahar (2008) verificou igualmente uma correlação positiva entre as
experiências dos alunos com computadores, as suas atitudes em relação a estes e a sua
confiança em utilizar o computador na sala de aula.
O conhecimento pessoal e a experiência com as TIC têm também um papel relevante
na integração da tecnologia na educação e nas suas atitudes. Vários estudos
confirmaram igualmente correlação entre experiências e atitudes (Gülbahar 2008;
Roussos 2007).
Outro fator importante na integração das TIC na educação é a confiança, tendo sido
encontradas correlações entre experiência e confiança na utilização das TIC e
evidenciando-se que o desenvolvimento da confiança depende, em parte, de ter
experiências positivas com o computador (Li & Kirkup, 2007).
Em termos gerais, os resultados indicam-nos que, relativamente à experiência na
utilização das TIC todos os inquiridos têm computador e utilizam-no diariamente,
considerando-se moderadamente experientes em várias ferramentas/suportes
tecnológicos. Sentem-se muito confiantes na utilização diária que fazem do computador
e na sua atitude perante a utilização deste na futura prática profissional. Pensam utilizar
o computador de futuro, tanto com as crianças como para uso profissional e pretendem
que essa utilização seja diária.
Através dos resultados evidenciam-se favoravelmente todos os fatores referidos na
bibliografia. De modo a verificarmos se esses comportamentos se concretizam teremos
de aguardar pela terceira fase do estudo.
Recordamos que este questionário foi preenchido antes da lecionação da unidade
curricular (UC) de TIC aplicadas à educação. Posteriormente ao término dessa UC o
questionário será preenchido de novo pelos mesmos alunos e após a sua
profissionalização iremos aos seus locais de prática de modo a verificar se as suas
perceções e intenções influenciaram realmente o seu comportamento. Em caso negativo,
qual o motivo de não adoção do comportamento referido.
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