Solange Tavares Rubim de Pinho
2006
PERFIL DE MORBIDADE PSIQUIPERFIL DE MORBIDADE PSIQUIÁÁTRICA DO TRICA DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEIADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI
CONSIDERACONSIDERAÇÇÕESÕES INICIAISINICIAIS
Figura 1 – Nas GradesFotografia: Eloi CorreaFonte: A Tarde, SSA
A violência juvenil é um relevante problema de saúde pública, quando se consideram seus impactos nos índices de morbidade e mortalidade, além do elevado custo produzido pela assistência às vítimas e aos jovens infratores.
■ 25% das pessoas no mundo transtornos mentais nas duas últimasdécadas12% das doenças em geral transtornos psiquiátricos10% a 20% prevalência de transtornos mentais de comportamento
em crianças e adolescentes Fonte: OMS, 2002
DADOS EPIDEMIOLDADOS EPIDEMIOLÓÓGICOS DOS GICOS DOS TRANSTORNOS PSIQUITRANSTORNOS PSIQUIÁÁTRICOSTRICOS
Os orçamentos destinados à saúde mental, na maior parte dos países, representam menos de 1% dos gastos totais em saúde
Mais de 90% dos países não têm políticas de saúde mental voltadas para crianças e adolescentes
Fonte: OMS, 2002
DADOS EPIDEMIOLDADOS EPIDEMIOLÓÓGICOS DOS GICOS DOS TRANSTORNOS PSIQUITRANSTORNOS PSIQUIÁÁTRICOSTRICOS
12,5% ▬ PORTADORES DE UMA OU MAIS PATOLOGIAS PSIQUIÁTRICAS
7% transtornos de conduta5,2% transtornos de ansiedade1,5% transtornos de hiperatividade
Universo estudado: 1.251 indivíduos entre 7 e 14 anos (Fleitlich, Taubaté-SP, 2003)
Figura 2 – Ilustração de Caco GalhardoFonte: Fleitlich e colaboradores, 2003
Figura 3 – Nas GradesFoto: Xando P.Fonte: A Tarde, Salvador, 18.12.2003
PERFIL DE MORBIDADE PSIQUIÁTRICA DO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI
Existe associação entre comportamento infrator e transtorno psiquiátrico na adolescência?
ESPECÍFICOS
Descrever as características da população estudadaIdentificar associações entre os transtornos psiquiátricos e os tipos dedelito cometidos pelos adolescentes institucionalizados Estabelecer associações entre fatores psicossociais específicos e ostranstornos psiquiátricos identificados na pesquisa
OBJETIVOSOBJETIVOS
GERAL
Descrever o perfil de morbidade psiquiátrica dos adolescentes em conflito com a lei, que cumprem medidas de privação de liberdade na Casa de Acolhimento ao Menor (CAM), em Salvador/ Bahia
É um estudo pioneiro no Brasil
Sistematiza as doenças psiquiátricas que atingem o universo populacional estudado
Estimula a prevenção primária, secundária e terciária em saúdemental infanto-juvenil
Oferece ao Estado dados para subsidiar a reformulação de políticassociais para o menor
Abre discussão e fornece dados iniciais para a criação de um núcleode estudos e pesquisas em psiquiatria forense
IMPORTÂNCIA DA PESQUISAIMPORTÂNCIA DA PESQUISA
ESTUDO DELINEAMENTO POPULAÇÃO INSTRUMENTO TRANSTORNOS MAIS PREVALENTES
Doreleijers, Holanda (2000)
Corte transversal,DSM–III-R
N = 108 • Privação de liberdade• Amostra de diferentesinstituições correcionais
RavenCAS JJAI
Garland, EUA (2001)
Corte transversalDSM - IV
N = 1.618• Estudo comparativo de 5 setores, incluindo aJustiça Juvenil
DISC
Shelton, EUA (2001)
Corte transversal DSM-IV
N = 312 • Privação de liberdade• Amostra aleatória de 15instituições correcionais
DISCCJ - SAS
Vreugdenhil, Holanda (2004)
Corte transversalDSM-IV
N = 204 indivíduos • Privação de liberdade• Amostra de 6 centros de
detenção
DISC
Andrade, Brasil (2004)
Corte transversalDSM-IV
N = 116Amostra de jovens em liberdade assistida na Ilha do Governador/RJ
K-SADS - PL T. de condutaT. relacionados ao
abuso de substânciasT. depressivos
Abram, EUA(2003)
Corte transversalDSM-III-R
N = 1.172 Amostra randômica de jovens em conflito com a lei
DISC T. por uso de substância + TDAH
T. por uso de subst. + T. de conduta
Transtornos de comportamento diruptivo (T. de conduta)
Transtornos relacionados ao abuso de substâncias
Transtornos de déficit de atenção (T. hipercinéticos)
ALGUNS ESTUDOS REVISADOSALGUNS ESTUDOS REVISADOS
CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO
TRANSTORNOS DE CONDUTA
Padrão repetitivo e persistente, em decorrência do qual os direitos básicos dos outros e as regras sociais são violados; os sintomas permanecem por pelo menos seis meses
● Fuga da casa dos pais; maltrato; mentira; culpa os outros por seus erros● Furto de objetos de valor significativo sem confrontar a vítima, dentro ou fora de casa (ex., furto em loja,
roubo com arrombamento, falsificação).
PARA A CID-10 BASTA QUE OCORRA UMA VEZ● Uso de arma que pode causar dano físico sério aos outros (p.ex., bastão, tijolo, garrafa quebrada, faca,
revólver)● Manifestação de crueldade física para com pessoas (p. ex., amarra, corta ou queima uma vítima)● Destruição deliberada da propriedade alheia● Crime envolvendo confronto com a vítima (roubo de bolsa, extorsão etc)
TRANSTORNOSPOR
USO NOCIVO DESUBST.
PSICOATIVA
Deve haver evidência clara de que o uso da substância foi responsável ou contribuiu para o dano físico ou psicológico, podendo levar a uma incapacidade ou ter conseqüências adversas para os relacionamentos interpessoais.
O padrão de uso tem persistido por pelo menos um mês ou tem ocorrido repetidamente dentro de um período de 12 meses.
TRANSTORNOSHIPERCINÉTICOS
Hiperatividade. Pelo menos três dos seguintes sintomas ter persistido por pelo menos seis meses:● com freqüência mexe inquietamente as mãos e pés; corre excessivamente; é barulhento; levanta do lugar
na sala de aula ou em outras situações nas quais o esperado é permanecer sentado; exibe padrão de atividade motora excessiva que não é substancialmente modificado por contexto social.
Impulsividade. Pelo menos um dos seguintes sintomas deve ter persistido por pelo menos seis meses:● com freqüência responde sem pensar; interrompe ou se impõe aos outros; falha em aguardar sua vez; fala
excessivamente sem o devido respeito às restrições sociais.Desatenção. Pelo menos seis dos seguintes sintomas durante seis meses;
● falha em manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas;● falha em prestar atenção em detalhes ou comete erros por descuido;parece não ouvir o que lhe está sendo
dito;● comprometimento na organização de tarefas ;● perde coisas necessárias facilmente distraído por estímulos externos.
FATORES DE RISCO PARA COMPORTAMENTO INFRATOR
a) desorganização ou inexistência de um grupo FAMILIAR;
b) condições impróprias ou inadequadas da personalidade dos pais, decorrendo daí a ausência de AFETO e de autoridade;
c) renda familiar insuficiente, modesta ou mesmo vil;
d) desemprego, SUBEMPREGO com rentabilidade deficiente;
e) falta de INSTRUÇÃO e de qualificação profissional dos membros da família;
f) moradia ou habitação inadequada e condições à proliferação do VÍCIO em todas as escalas.Figura 5 e 6 - Cartaz do filme Cidade de Deus.
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br
Advertiram que os maiores índices de delito foram identificados entre jovens, provenientes de famílias socioeconomicamente desfavorecidas.
SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA E CRIMINALIDADE
Numa coorte foi acompanhada do nascimento aos 21 anos na Nova Zelândia uma população de 1.265 crianças.
Os autores concluíram que a associação crime e desvantagem socioeconômica não foi estatisticamente significante.
A susceptibilidade ao crime decorre da combinação de múltiplos fatores: constitucional, relação familiar, vivências emocionais, sociais e outros.
Fergusson D, e col. How does childhood economic disadvantage lead to crime? J Chid Psychol Psychiatry 2004.
Figura 4 - Fotografia de José
Fonte: A Tarde, Salvador, 20.01.2003
Bordin( 1996 ) realizou um estudo de corte transversal em 1.651 indivíduos entre 16 a 24 anos e concluiu:
-A partir dos 15 anos em adolescente do sexo masculino o melhor fator preditivo para o transtorno de conduta anti-social éa saúde mental dos pais.
- Para a população feminina a partir dos 15 anos abuso sexual e condutas anti-social dos pais, são fatores preditivos para este diagnóstico.
FATORES DE RISCO POR DISTÚRBIO DE CONDUTA
Brasil = 39.578 jovens infratores -13.489 estão cumprindo medidas
socioeducativas em regime fechado. Fonte:SDCA (2004)
MORBIDADE PSIQUIMORBIDADE PSIQUIÁÁTRICA ENTRE TRICA ENTRE ADOLESCENTES EM ADOLESCENTES EM
CONFLITO COM A LEI NA CASA DE ACOLHIMENTO CONFLITO COM A LEI NA CASA DE ACOLHIMENTO AO MENORAO MENOR
Figura 8 - Fotografia de Xando P.
Fonte: A Tarde, Salvador, 24 abril 2004. p. 3 Local
PERFIL DE MORBIDADE PSIQUIÁTRICA E FATORES DE RISCO PARA O COMPORTAMENTO
INFRATOR - CAM/ BA
Este é um estudo desenvolvido na Casa de Acolhimento ao Menor, Salvador/BA, uma instituição vinculada à Secretaria do Trabalho e Ação Social. Na ocasião da avaliação, encontravam-se em regime de privação de liberdade 290 jovens infratores.
Foi realizado um processo de avaliação psiquiátrica, baseado em entrevista semi-estruturada e realização de exames dos menores, tendo como referência para o diagnóstico a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento (CID-10).
DELINEAMENTO DA PESQUISADELINEAMENTO DA PESQUISA
Estudo descritivo, censitário, de corte transversal
Período da coleta de dados: outubro de 2002 a abril de 2003
APROVADO PELA COMISSÃO DE ÉTICA EM PESQUISAS DO HOSPITAL JULIANO MOREIRA
Autorizado pelo Juizado da Infância e da Adolescência de Salvador/BA
POPULAÇÃO ESTUDADA290 jovens infratores em privação de liberdade na CAM/BAIdade: 12 a 21 anos
T. de conduta
• T. hipercinéticos
• Esquizofrenia
• T. uso nocivo de subst. psicoativa
• Outros t. psicóticos
• Retardo mental
• Estados ansiosos
• Estados depressivos
• T. mentais orgânicos
DEFINIDEFINIÇÇÃO DE VARIÃO DE VARIÁÁVEISVEISVARIÁVEIS DEPENDENTES
Figura 9 – Ilustração de Caco GalhardoFonte: Fleitlich e colaboradores, 2003
CID-10
VARIVARIÁÁVEIS INDEPENDENTESVEIS INDEPENDENTESSEXOIDADEPROCEDÊNCIAESCOLARIDADE
fundamental incompleto ou analfabetofundamental completomédio incompletomédio completo
RENDA FAMILIARmenor que 1 salário mínimoentre 1 e 3 salários mínimosmais de 3 salários mínimos
TIPOS DE DELITOHomicídio = AssassinatoFurto = Ato de subtrair coisas alheias sem ameaçaRoubo = Ato de subtrair coisas alheias com violênciaEstupro = Ato de forçar o outro à relação sexual
Maus-tratos na infância: chute, mordida, soco, queimadura ousufocamento provocado pelos responsáveis
Abuso sexual: exposição à nudez, ameaça de ter relações sexuais, toque em partes íntimas do corpo do menor, estupro
Problemas de saúde física e/ou psiquiátrica em um ou ambos os genitores:fazem uso nocivo de substância psicoativa ou apresentam transtorno psicóticopor, pelo menos, seis meses
Pais e/ou parentes de 1º grau assassinados
Prostituição na família
Número de entradas na CAM, idade por ocasião do primeiro delito
Atendimentos em serviços de psiquiatria ou psicologia, antecedendo a internação na CAM
VARIVARIÁÁVEIS PSICOSSOCIAISVEIS PSICOSSOCIAIS
UTILIZADO O PROGRAMA ESTATÍSTICO STATISTICAL PACKAGE FOR THE SOCIAL SCIENCES (SPSS, 1998)
ANANÁÁLISE DOS DADOSLISE DOS DADOS
Fig.10 – Martha Pawlowna Schidrowitz.
Técnica: Xilogravura.
Fonte:Cultura, 59, v.6, 2002
- Foi estimada a prevalência de cada um dos transtornos psiquiátricos identificados.
- Como medida de associação, para comparação das variáveis, foram calculadas as RP com respectivos IC a 95%.
Figura 11– Percentual de adolescentes com e sem transtorno psiquiátrico – CAM/BA, 2003
N - 290
75,2%
24,8%
Com Distúrbio Sem Distúrbio
RESULTADOSRESULTADOS
Tabela 1 – Distribuição dos transtornos psiquiátricos −isolados e em comorbidade − e ausência de doença.
CAM – Salvador/BA, 2003
Transtorno psiquiátrico N %
Isolado 114 39,31
Em comorbidade 104 35,86
Ausência 72 24,83
N = 290 jovens
Tabela 2 - Características dos 290 adolescentes estudados.CAM/BA, 2003
VARIÁVEL %Sexo
MasculinoFeminino
Idade12 a 15 anos incompletos15 a 18 anos incompletos18 anos ou mais
89,3 10,7
13,464,122,4
EscolaridadeFundamental incompleto ou analfabetoFundamental completoMédio incompletoMédio completo
95,10,73,50,7
Renda familiarMenor 1 salário1 a 3 saláriosMaior 3 saláriosNão sabia
67,624,8
1,46,2
ProcedênciaSalvadorInterior da BahiaOutros Estados
5442,93,1
Tabela 3 – Distribuição dos transtornos psiquiátricos isolados na população estudada. CAM/BA, 2003
Categoria diagnóstica N %
T. de conduta 43 14,814,8
T. hipercinéticos 02 0,7
T. uso nocivo de substância psicoativa 15 5,25,2
Outros t. psicóticos 14 4,8
Esquizofrenia 05 1,7
Retardo mental 20 6,96,9
Estados ansiosos 07 2,4
Estados depressivos 03 1,0
T. mentais orgânicos 05 1,7
Tabela 4 - Distribuição dos transtornos psiquiátricos isolados e em comorbidade na população da CAM/BA, 2003
Categoria diagnóstica N %T. de conduta 114 39,339,3
T. hipercinéticos 33 11,411,4
Esquizofrenia 7 2,4
T. uso nocivo subst. psicoativa 81 27,927,9
Outros t. psicóticos 21 7,2
Retardo mental 34 11,711,7
Estados ansiosos 16 5,5
Estados depressivos 16 5,5
T. mentais orgânicos (TMO) 10 3,4
N = 290 jovens
Tabela 5 – Razões de prevalência por tipo de delito e de transtorno psiquiátrico. CAM/BA, 2003
Nota: Foram desconsiderados os valores menores ou iguais a 1. RP= razão de prevalência; IC = intervalo de confiança; T. = transtornos; subst. = substância; TMO = transtornos mentais orgânicos.# RP estatisticamente significativo.
DelitoTranstorno
HomicídioRP - IC
RouboRP- IC
FurtoRP- IC
T. conduta 1,72 (1,096 1,72 (1,096 −− 2,713)#2,713)# 1,31 (1,076 1,31 (1,076 −−1,596)#1,596)# −
T. hipercinéticos − 1,30 (1,0211,30 (1,021−−1,663)#1,663)# −
T. uso nocivo subst. psicoativa 1,53 (0,963 − 2,421) 1,11 (0,893 − 1,369) −
Outros t. psicóticos − − −
Esquizofrenia 1,41 (0,428 − 4,665) − −
Retardo mental − − 1,28 (0,623 − 2,613)
Estados ansiosos − − −
Estados depressivos − 1,46 (1,128 1,46 (1,128 −−1,893)#1,893)# 1,21 (0,42 −3,456)
TMO − − −
Tabela 6 – Razões de prevalência dos transtornos psiquiátricos de acordo com a exposição a fatores psicossociais, numa
amostra de 100 internos. CAM/BA, 2003
Maus-tratos Criminalidade Prostituição Abuso sexual Assassinato
RP- IC RP- IC RP- IC RP- IC RP- IC
T. conduta 1,97 (1,3631,97 (1,363−−2,844)#2,844)# 2,03 (1,3452,03 (1,345−−3,071) # 3,071) # 2,78(0,801−9,659) 1,58(1,1191,58(1,119−−2,230) #2,230) # 2,23(1,2502,23(1,250−−3,962) #3,962) #
T. hipercinéticos 1,03(0,655−1,612) 1,63(1,0671,63(1,067−−2,479) #2,479) # 2,28(0,661−7,841) 1,59(1,1321,59(1,132−−2,234)#2,234)# 2,18(1,2342,18(1,234−−3,838) #3,838) #
T. por uso nocivo de subst. psicoativa 1,03(0,655−1,612) 1,63(1,0671,63(1,067−−2,479) #2,479) # 2,28(0,661−7,841) 1,59(1,1321,59(1,132−−2,234) #2,234) # 2,18(1,2342,18(1,234−−3,838) #3,838) #
Outros t. psicóticos 3,79(0,964−14,952) - - - -
Esquizofrenia 1,38(0,602−3,143) - - - -
Retardo mental - - - 1,28(0,703−2,226) 1,12(0,346−3,618)
Estados ansiosos 1,56(0,856−2,861) 1,14(0,18−3,125) - - -
Estados depressivos - 1,14(0,418−3,125) 3,01(0,485−18,561) - -
TMO - - - - -
F. psicossoc.
Transtorno
Nota: RP = razão de prevalência; IC = intervalo de confiança; F. psicossoc. = Fatores psicossociais;T. = transtornos; subst. = substância; TMO = transtornos mentais orgânicos.
# RP estatisticamente significativa.
Idade: 8 a 17 anos
Média: 14,3 (± 2,2)
Moda: 15 anos
Mediana: 15 anos
IDADE POR OCASIÃO DO PRIMEIRO DELITO CAM / BA, 2003
Figura 12 - Disponível em: http://images.google.com.br/
Figura 13 – Percentual de entradas na CAM/BA
70%
30%
Percentual de 1 entrada na CAM
Percentual de mais de uma entrada na CAM
DEMONSTRATIVO DA REINCIDÊNCIA DA INTERNAÇÃO NA CAM/BA, 2003
N = 100
Levando em consideração a prevalência dos transtornos, observa-se uma assistência pouco expressiva dos serviços públicos de saúde mental aos jovens
Figura 14 – Freqüência dos internos que tiveram atendimento prévio em serviço de saúde mental
N = 100
FREQÜÊNCIA DE ATENDIMENTO PRÉVIO CAM/BA, 2003
15%
85%
sim não
GÊNERO ♂♂ 89,3%
• Os estudos revisados demonstraram maior envolvimento de jovens do sexo masculino com a Justiça • Foi identificado apenas um trabalho com população jovem, exclusivamente feminina, em conflito com a lei – estudo de caso-controle de Dixon e col. (2004), na Austrália• Fatores que propiciam o comportamento agressivo no gênero masculino:
Biológicos – Psicológicos – Sócio-culturais
DISCUSSÃODISCUSSÃO
. CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS REVISADOS
. Diversidade de instrumentos e referências diagnósticas
. Variabilidade da população e do contexto no qual se processaram os estudos
OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA
IDADE
64,1% entre 15 e 18 anos incompletos, faixa registrada nas pesquisas sobre o adolescente em conflito com a lei
• Transgressão como resposta à negação dos direitos e à falta de oportunidade
GRAU DE ESCOLARIDADE
95,1 % - curso fundamental incompleto ou analfabetos• Bahia – baixo índice de escolaridade (MP do RGS, 2002)• Os estudos internacionais que fundamentaram esta tese adotaram diferentes classificações para determinar o grau de escolaridade e detectaram também baixo nível de escolaridade nessa população específica.
Figura 15 – Fotografia de Xando
Fonte: A Tarde, Salvador, 16 de julho de 2004
RENDA FAMILIAR
67,6% tinham renda média menor que 1 salário mínimo• Fergunson (2004), Nova Zelândia – Estudo longitudinal com 1265 indivíduos, apenas encontrou associação significativa quando combinado: renda familiar, fatores biológicos e psicológicos• Adolescentes em conflito com a lei, até mesmo em países desenvolvidos, pertenciam a famílias de baixa renda
PROCEDÊNCIA54% dos internos eram procedentes de Salvador
• Elgar e col. (2003), no País de Gales – os jovens de procedência urbana apresentavam maior índice de alterações comportamentais • Inexistência, no Brasil, de pesquisas que tratem dessa questão
PERFIL DE MORBIDADE PSIQUIÁTRICA
CAM – 75,2% de indivíduos com transtorno psiquiátrico• Shelton – 74% com pelo menos 1 diagnóstico • Doreleijers – 75% com pelo menos 1 diagnóstico• Vreugdenhil – 90% com pelo menos 1 diagnóstico• Dixon – 93% de portadores de transtorno psiquiátrico
TRANSTORNOS ISOLADOS MAIS PREVALENTES
T. de conduta = 14,8%
Retardo mental = 6,9%
T. por uso de subst. psicoativa = 5,2%
Outros t. psicóticos = 4,8%
• O retardo mental, apesar de ter sido pouco referido nas investigações revisadas, apresentou a segunda maior prevalência entre os transtornos isolados.• Em alguns estudos internacionais, o retardo mental e os outros t. psicóticos, são acolhidos de imediato pelo setor saúde.
TRANSTORNOS EM COMORBIDADE
CAM = 35,86%
. Abram e col. (2003)
. Doreleijers e col. (2000)
. Vreugdenhil e col. (2004)
. Apesar das diferenças culturais e metodológicas, os estudos confirmaram uma prevalência de dois ou mais transtornos entre jovens envolvidos com a Justiça
TRANSTORNOS ISOLADOS E EM COMORBIDADE
11ºº -- T. de conduta = 39,3% T. de conduta = 39,3% ● Nos estudos revisados, os índices variaram entre 40% e 75%,
demonstrando que, além das diferenças geográficas e metodológicas, esta éuma patologia de difícil categorização
22ºº -- T. por uso nocivo de substânciaT. por uso nocivo de substância = 27,9%= 27,9%● Nos estudos internacionais, os índices variaram de 30% a 50% ● Causas: poder aquisitivo, medidas de segurança a que estavam submetidas
as populações e aspectos metodológicos diferenciados
33ºº -- Retardo mental = 11,7% Retardo mental = 11,7% A maior parte dos estudos não apontou esse tipo de patologia ● Fatores correlacionados:
. Número elevado de intercorrências obstétricas
. Casos de prematuridade
. Abandono afetivo no período neonatal, comprometendo odesenvolvimento cognitivo, emocional e físico da criança
44ºº Transtornos hipercinTranstornos hipercinééticos ticos CAM = 11, 4%CAM = 11, 4%
. As taxas encontradas nos estudos internacionais variaram de 8% a 55%
. Fatores correlacionados:. Diferenças culturais e metodológicas. Critérios pouco apurados para diagnóstico
RELAÇÃO TIPO DE DELITO E TIPO DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO
Apesar de alguns trabalhos apontarem para a relação entre homicídio e esquizofrenia na adolescência, o presente estudo só detectou dois esquizofrênicos homicidas, não sendo possível estabelecer associação entre esse transtorno e homicídio
Figura 16 – J.A., (18 anos )Fonte: Arquivo SRP
“Um bicho foi colocado no meu café e hoje anda no meu corpo. Por isso matei aquele homem.”
Cabe registrar que os estados depressivos se mostraram associados ao delito roubo, mas grande parte dos jovens nesse estado fazia uso de drogas
RELAÇÃO TIPO DE DELITO E TIPO DE TRANSTORNO PSIQUIÁTRICO.
. Bassarath (2001) e Palomba (2003) defenderam a idéia de que os portadores de transtorno de conduta podem cometer atos delituosos diversos. As pesquisas de Josef e Silva (2003) também ratificaram os achados desta investigação
Figura 18 - J.R. (18 anos) , I.D. -T. abuso de drogas
RELAÇÃO TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS E FATORES PSICOSSOCIAIS
Figura 19 - Xando. A Tarde, Salvador, 18.12.2003.
Os resultados encontrados no presente estudo
reafirmaram as pesquisas de Bassarath (2001) e
Andrade (2004), ao revelarem que maus-tratos,
abuso sexual e criminalidade na família trazem conseqüências
negativas para o comportamento do
adolescente
1. Foram observadas correlações entre comportamento infrator e transtorno psiquiátrico na adolescência (Transtornos de conduta –peso relevante do fator social)
2. Foi demonstrada a necessidade de maior especificação das categorias nosológicas, especialmente transtorno de conduta e transtorno hipercinético
3. A Saúde deve atuar junto à Justiça, possibilitando o diagnóstico precoce e a assistência em unidades psiquiátricas especializadas para adolescentes quando psicóticos. e priorizando as medidas socioeducativas a céu aberto
4. Os Centros de Atendimento Psicossocial (Caps), direcionados para crianças e adolescentes, devem contemplar unidades especiais para:
- Tratamento de menores usuários de álcool e drogas- Prevenção e tratamento de transtornos de conduta- Tratamento de alterações comportamentais em pacientes com retardo mental e transtornos mentais orgânicos
5. A escola deve ser estimulada como espaço para crescimento e ressignificação dos conteúdos de vida destes indivíduos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS I
CONSIDERAÇÕES FINAIS II
Figura 20 – Ilustração de Caco Galhardo
Fonte: Fleitlich e colaboradores, 2003
6. Definir critérios para criação de um projeto sociopolítico-pedagógico, extinguindo-se o modelo correcional repressivo.
7. Garantir, nos orçamentos públicos, os recursos necessários para a execução e a efetivação das medidas socio-educativas.
8. Identificar jovens em situação de risco social, mapear e elaborar estratégias para intervenções em prevenção primária.
9. Preparar os profissionais de saúde para identificar precocemente os transtornos mentais e encaminhar para a rede assistencial.
10. Implantar, fortalecer e divulgar os serviços de saúde mental comunitários para crianças e adolescentes.
Figura 21 – Mãe com bebêTécnica: MistaFonte: Graça Ramos, 1996.
O MEU GURIQuando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentarJá foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar[...] Olha aí, ai o meu guri, olha aí
[...] Chega suado e veloz do batenteE traz sempre um presente pra me
encabularTanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar[...]Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá...[...] Olha aí, ai o meu guri, olha aí
[...] Chega estampado, manchete, retratoCom venda nos olhos, legenda e as
iniciais...[...]O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro arDesde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava láOlha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Chico Buarque de Holanda (1981)