Perfis: TwinPeaks, Mozart eGonzaguinhaNa 12, 13 eIS
Kleinübing trabalhadesperdiçando 70milhõesem propaganda
FLORIANÓPOLIS, 29 DE MAIO A 12 DE JUNHO· CURSO DE JORNALISMO DA UFSC • ANO IX, N: 2
Aumentamcasos de AIDS
no EstadoNa página 10
A ENTREVISTACOM CLÓVIS ROSSIESTÁ NA CENTRAL
o registroda greve estána 2,3 e 16
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
ZEBO
***Melhor
Peça GráficaI, "e 11/ SetUniversitárioMaio 88
Setembro 89Setembro 90
Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, editado em 29 de maiode 91Arte: FrankCopydesks: Jornalistasprofessores Gastão Cassel,Gilka Girardello e RicardoBarretoDiagramadores(as): AdrianaMartorano, Angelita Correa,Fernanda Medeiros, JoãoPaulo Miller, Marta Scherer,Nilva Bianco, Simone FritscheEditores assistentes: EmersonGasperin, Fernando Moskorz, Marta Moritz, Marcelode Andrade, Nilva BiancoEditor e supervisor: professorRicardo Barreto (MTb 2708RS)Fotografia: Deise Freitas, Pedro Melo, Sara Caprário, Terezinha Silva, Victor CarlsonLaboratório fotográfico: Deise Freitas, Pedro MeloMontagem: MarinhoTextos: Alexandre Gonçalves, Ana Cláudia Menezes,Ana Carine Montero, Geraldo Hoffmann, Mônica Linhares, Nelson Lorenz, azias Alves Jr., Pedro Santos, RafaelMasseli, Rogério Mosimann,Sara Caprário, Silvânia Siebert, Terezinha Silva, VictorCarlsonAcabamento e impressão: Impre farRedação: UFSC-CCE-COM,Curso de Jornalismo, Trindade, CEP 88049, Florianópolis, SCTelefones: (0482) 31-9215,31-9490Telefax: (0482) 33-4069Distribuição gratuitaCirculação dirigida
João Pessoa parou.Foi geral, -
Criciúma tem desemprego: parouFoi uma greve parcial em San
ta Catarina, onde houve paralisação, principalmente dos servidores públicos e professores estaduais e federais, previdenciários e bancários, que protestavam contra a política econômicado governo.Para chegar a esta greve a
Central Unica dos Trabalhadores (CUT), discutiu muito durante o ano com as categorias.Campanha publicitária, conversas com sindicatos, organizaçãode passeatas, shows e tantas outras coisas que envolvem uma
greve geral.A CUT na terça-feira, dia 21,
já considerava a greve como vitoriosa. Ineir Mittmann - presidente da CUT em Santa Catarina afirma que "mais de 90%da população na terça-feira jásabia da greve e o que ela estavacombatendo: o arrocho, a situação de miséria da população, ossalários que valem 1/4 desdequando o Collor assumiu e os6 milhões de trabalhadores de
sempre&ados" .
Criciuma parou - O primeirodia de greve foi o mais expressivoem adesões. Blumenau, Caçador, Concórdia, Jaraguá do Sul,Imbituba e Chapecó paralisaramquase que totalmente as atividades nas escolas federais, estaduais e municipais. Descanso,Itapiranga, Anchieta, Remelândia, Caxambu do Sul, Aguas deChapecó e Quilombo decretaram ponto facultativo, segundoa CUT. Ern La�es o Banco doBrasil foi invadido por agricultores.
GREVE NACIONAL
nor que seja, onde não tenha sido mostrada a angústia".João Pessoa (PB) foi a capital
que obteve maior êxito na grevegeral. Os trens e ônibus não circularam. Os funcionários da saúde, educação, construção civil eferroviários paralisaram 100%.Só o comércio funcionou, parcialmente.
Com a greve dos transportesem São Paulo, indústrias, comércio e bancos abriram suas portascom menos funcionários. O trânsito ficou tumultuado devido aosconstantes congestionamentos.No ABC, principal base daCUT, não houve greve e até os
movimentos de protestos que tinham sido programados fracassaram, devido as sucessivas paralisações salariais da categoria."Eu não posso agir como um ditador diante dos trabalhadores:tenho de me submeter às decisões deles", disse Vicente Pauloda Silva, presidente do Sindicatodos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema..Ministério em greve - Mesmo
sem fazer um balanço das paralisações, o Ministro do Trabalho,Antônio RO$ério Magri, afirmou que "não houve nenhumagreve no país, mas, sim, um con
Junto de Incidentes violentos patrocinados pela CUT", esquecendoa longa greve em seu próprio ministério. Sobre a situaçãoda prefeita de São Paulo, LuizaErundina, o ministro disse apenas que "ela não fez o menor
esforço para evitar a greve". Umrelatório das Delegacias Regionais indica, de acordo com Magri, que a paralisação' ocorreuapenas nos transportes coletivosde São Paulo, Rio e Bahia, Estados onde foram registradosmaiores índices de violência.
No Rio de Janeiro apenas os
ferroviários paralisaram totalmente, os metroviários pararamparcialmente, mas o metrô nãodeixou de funcionar. O comandode greve reconhece que a paralisação foi parcial. O Banco doBrasil e a Caixa Econômica Federal fecharam algumas agências
na capital carioca. O gove-rnadorLeonel Brizola não quis dar declarações sobre o movimento.Os organizadores da greve em
Porto Alegre formaram um "piquetâo" para fazer passeatas pelas principais ruas da cidade,obrigando lojas a fecharem. Incidentes sem gravidades envolveram grevistas e a polícia militardo estado. O comando da grevegeral informou que grandes indústrias da região metropolitanafuncionaram normalmente.
taduais paralisaram suas atividades, São Miguel d'Oeste man
teve a greve entre 60% dos previdenciários e 70% dos professores. Em Concórdia a Embrapa, Escola Técnica FederalAgropecuária, Associação Catarinense de Criadores de Suínos- ACCS e 85% dos professoresestaduais.Alguns incidentes marcaram a
greve no estado, com duas pes-
Para o monopólio de comunicações a greve foi um fracassototal, resultando apenas em violência e depredação. Mas os dirigentes sindicais acreditam que os
protestos serviram de demonstração da revolta dos trabalhadores, conseguindo ocupar manchete de jornais e algunsminutosdos telejornais. Para Luiz InácioLula da Silva, presidente do PT,"qualquer resultado será umalerta para o governo".
SII'II Cllp,ã,io
soas presas em Joinville, um- deles membro do Sindicato dosEmpregados na Indústria MetalMecânica, Em Rio do Sul a polícia utilizou gás lacrimogêneo,para desafazer um piquete formado em frente ao terminal deônibus. Em Criciúma um motorista de ônibus foi atingido poruma pedrada.
Parcialmesmo,foi a coberturada imprensaA greve geral convocada pela
Central Unica dos Trabalhadores (CUT), com apoio das CGTs(Central e Confederação Geraldos Trabalhadores) conseguiuapenas uma adesão parcial emtodo o país. Com objetivo deprotestar contra a política econômica recessiva e o desemprego,os dirigentes sindicais encerram
a greve com um balanço negativo, segundo a imprensa nacional. E o governo, que não acre
ditava no sucesso da paralisação,ganha tempo para uma tentativade entendimento nacional.Para Jair Meneguelli, presi
dente da CUT, os objetivos dagreve foram alcançados. Durante entrevista coletiva disse quenão importa o número de trabalhadores parados, mas o fato deque "não houve cidade, por me-
"Criciúma foi um sucesso",comentário geral entre os mem
bros da CUT. Com paralisaçãototal da cidade, apenas 5% dafrota de ônibus operou.No segundo dia de greve mui
tas categorias voltaram a trabalhar, poucos municípios mantiveram sua adesão: em Chapecó80% dos professores permaneceram parados, Blumenau aFURB e 80% dos professores es-
MAIO 91 ZERO2
Silviinill Siebert
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
GREVE NA ILHA
Está tudo ótimo no Brasil Novo
"Eu tô passando fome. O queeu vou fazer? Roubar eu não
posso. se não a polícia me prende! "desabafa a aposentada Maria de Lurdes Fanas, que não parava de apitar e gritar palavrasde ordem nos dois dias de manifestações da Greve Geral, convocada pela Central Unica dosTrabalhadores (CUT) e pelasduas centrais Gerais dos trabalhadores (CGTs) para os dias 22e 23 de maio.
E a polícia prendeu. Mas. nenhum dos 12 detidos estava rou
bando. Todos participavam daGreve Geral, em protesto contraa política econômica do governoCollor, o arrocho salarial, e a privatização das universidades e es
tatais em geral, pela melhoria no
ensino público e pela reformaagrária urgente.As manifestações no primeiro
dia da Greve começaram porvolta das 10:00 hs. da manhã.Cerca de mil pessoas, entre professores, bancários, comerciários, funcionários da Sunah,APAE, Fundação Hospitalar e
estudantes saíram do largo da catedral em passeata pelo centrode Florianópolis. O chamado"arrastão" tinha como objetivoconvencer o comércio a fecharsuas portas.
Os comerciantes que tinhamaberto suas lojas fecharam com
medo de depredação. Quem ar
riscou ficar com as portas abertas. como uma panificadora na
rua Tenente Silveira. foi vítimade piquetes e acabou fechando.Os piqueteiros gritavam "Fecha!Fecha�" e os mais exaltados batiam nas portas das lojas e hancos. Nas Casas Coelho chegarama danificar o letreiro.Diante de tanta convicção dos
grevistas, restou aos comerciantes fechar suas portas. enquantoa passeata seguia com rumo cer
to: o terminal urbano de Floria
nópolis, onde alguns poucos policiais só observavam.
RepressãoNo terminal, os manifestantes
sentam-se no chão e impedema saída dos ônihus. A propostado comando da greve é só um
ato temporário para sensibilizaros motoristas e cobradores a aderirem a greve. O policiamentoaumenta, os policiais fazem uma
corrente , mas, continuam só ohservando. O clima é tenso. Osmotoristas pareciam mio se sen
sibilizar com o chamado à adesáo. "Se der pra trabalhar, nóstrabalha" disse um motorista da
empresa Transol. Chega reforçoda polícia militar e o contingentede. policiais alcança cerca de 200."E born o pessoal sair no máximo em cinco minutos, se não
complica", diz um sindicalista.
Não existe arrocho, inflação, desemprego em massa ...
Presidente fez beicinho mas uma minoria parou
Estudante não-grevista: presoA polícia não deu nem cinco
minutos, partiu para cima dosmanifcstantes que se defendiamdos cacetetes com mastros debandeiras de cano PVc. A violênciafoigrande, quem não quena sair fOI sendo empurrado e
espancado. Os policiais apreenderam a Kombi do som e logo
. possibilitaram a saída dos ônihus.A violência ainda não havia
terminado. Agora, já na PraçaXV. a polícia enfrenta os grevistas que respondem com pedras.Várias pessoas foram pre-
ldeli tentou mobilizar ...
sas. Testemunhas afirmam quea polícia prendeu urn estudanteque estava num bar no local daconfusão.O saldo final foram doze pre
sos e duas pessoas no hospital:uma com hemorragia nos testí-
MAIO 91 ZERO3
. ..mas como Rita: foram presas
culos e outra com suspeitas defraturas nas costelas.
Menor presoEntre os detidos estavam o
vereador do PC do B João Guizoni, Rita Gonçalves, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação, um estudante de apenas 14 anos e nove
sindicalistas: O estudante foi solto ainda no local, por ordem dosecretário de Segurança PúblicaSidney Pacheco, graças a intervençáo do advogado ClementeMannes da CUT e da vereadoraClair Castilhos (PSDB). As ou-
tras pessos presas foram levadasao 1': DP (centro) e soltas porvolta das 16:00 horas.
,
"A polícia me 'enforcouquando me prendeu" foi só o
que o menino Alexandre conse
guiu dizer. "Não queremos violência", afirmou Sidnev Pacheco. "Só queremos assegurar o direno para quem quer trabalhare l?ara quem quer voltar para ca
sa.
concluiu o secretário. Apóso tumulto. os grevistas voltaramao largo da catedral.Fora do centro, alguns colé
gios pararam e "a universidadefederal ficou quase toda paralisada, só com algumas aulas nos
centros sócio-econômico e tecnológico". diz Paulo Corso. doDiretório Central dos Estudantes.
No período da tarde. houvemais passeatas. sem nenhumtranstorno. O comércio funciomau normalmente. exceto nos
momentos da passeata. quandoas portas fechavam. Ao anoitecer. houve nova concentração no
largo da catedral. O clima era
de scontraido , pessoas dançando. vendedores de chocolate nas
escadarias e até um grupo folclonco tez uma apre se nt açâo deBoi-de-mamão.
CalmariaO segundo dia da zreve , foi
IIIa rca cit)" por ofensas do coman
do de zreve aos meios de cornu
nação �pela repetição, por partedos grevistas de que a greve estava sendo vitoriosa em todo o
Brasil. "A greve cumpre e cum
priu seus objetivos" avaliou Jorge Lorenzetti, membro da executiva nacional da CUT.Cerca de KOO pessoas partici
param da passeata pela munhâ.A todo momento estou ravam
"rojões" e a Kombi do som pediu aos mauitestantes que ide ntificassem o baderneiro. Era Fabrizio S .. II anos. jornaleiro. Aoser perguntado sobre por CJ.u0 faWI aquilo. respondeu: "E paraassustar esses vazabundos. deviatü tudo trabalhando". A manifestaçáo seguiu sem o
.. rerrorista" e foi para o terminal. Destavez, os manifestnntes ficaram dooutro lado da rua.
O vereador João Guizoni (PCdo B) avaliou o movimento co
mo "forte, dentro das expectativa- do comando. quanto a polícia. a gente pode esperar tudo.ainda mais num país autoritáriocomo esse". Varios represenranres de partidos discursaram na
catedral. "Os dois dias mio terminam hoje, Seio o início de uma
grande jornada para devolver O·Brasil pra gente" proclamouDc lmun Ferreira, membro daexecutiva nacional da CUT.
Rogério Mósimann
r
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
DESPERDíCIO,
Kleinübing adota estilo Collorse. Por um decreto de 29 deabril, Berea passou a ter a última palavra sobre toda a mídia governamental, inclusiveo poder de selecionar e con
tratar agências de publicidade. O mesmo decreto também lhe impõe o dever de colher e prestar informações deinteresse da comunidade.
�Santa Catarina l,1ffuma a casa, fazeconi
e vaiembusca de um futuro melh(l�»:·:·,..w;_·· --'-_-;-:«.,:.):.'-.-,,-:-:<,:,_, - ,.
:,.':i� : :::,:,!,�; .. :�::'���w :"·��'::��{w::::�:: .. _.:
Governador nãopechinchou nahora de pagar
Santa CEitarina arruma a casa, fEiz ecoticmiafJ.vaiem busca de um futUff) mgthor.
Um "pedido de informação" aprovado pela Assembléia Legislativa, no dia 29 deabril, está incomodando o governador Vilson Kleinübing.Os deputados da oposiçãoquerem saber quanto o governo do Estado gastou com
propaganda entre 15 de mar
ço e 28 de abril. Cálculos ex
tra-oficiais, baseados nas tabelas de preços dos meios decomunicação, indicam que o
Palácio Santa Catarina já despejou cerca de Cr$ 70 milhõesem oito jornais, quatro emissoras de TV e duas agênciasde publicidade. E dinheirosuficiente para pagar o saláriode dois mil professores.Até agora, a obra mais visí
vel do governo que se diz em"estado de trabalho" é a publicidade oficial. Em um mêse meio, foram oito anúnciospublicados nos quatro principais jornais catarinenses(Diário Catarinense, A Notícia, O Estado e Jornal de Santa Catarina), um nos quatromaiores diários do centro doPaís e três vinhetas, de trintasegundos cada, veiculadasdezenas de vezes nas �atroemissoras locais de TV tKBS,RCE, Barriga Verde e TV OEstado). Sem contar com as
manchetes quase diárias a favor do governo e um eficienteesquema de rádio montadono Palácio, que chega a em
placar em média 132 boletinspor dia (mais da metade ao
vivo) em 83 das 93 emissorasexistentes no Estado.Os gastos exagerados com
mídia eram visíveis desde os
Mas só quer responder à Assembléia, no final de maio,quanto o governo já gastoucom propaganda. Para despachar o repórter que insistiudurante duas semanas atrásdesses números, chuta "unsCr$ 30 milhões". Sequer informa que o orçamento assu
miu a pasta. O ex-secretáriode Comunicação Social, NeryClito Vieira, garante que deixou em caixa Cr$ 36 milhões,de um orçamento de Cr$ 76milhões para 1991. Kleinü
bing diz que vai enviar umprojeto de lei à Assembléiapara fixar o novo orçamentoao gabinete de divulgação"porque a verba acabou".
Governo catarínense torrou 70 milhões em propaganda
primeiros dias do atual governo, mas só foram notados pela oposição no dia 19 de abril,quando a Folha de São Paulo,O Estado de São Paulo, OGlobo e o Jornal do Brasilestamparam um anúncio depágina quase inteira sobre o
Plano de Modernização doGoverno, com o título "SantaCatarina arruma a casa, fazeconomia e vai em busca deum futuro melhor". O deputado Arnaldo Schmitt(PMDB) pôs a boca no trombone na Assembléia: "Sócom o dinheiro gasto na publicação do anúncio na Folha(Cr$ 7,2 milhões), o governopoderia pagar a insalubridadede 412 enfermeiras". Nosquatro jornais, juntos, a peçacustou algo em torno de Cr$20 milhões.
ra o serviço. Há oito agênciaspré-qualificadas ainda 'pelogoverno do PMDB: MPM,Granméta, RL, SC, Quadra,Artplan Sul, Propague e ExaPropaganda. Pelo menos trêsdeveriam receber uma "carta-confite", para execução demídia até o valor de Cr$ 7,9milhões para serviços acimadesse valor, deveria haver tomada de preços ou licitações.
O governador Vilson Kleinübing irrita-se com o quechama de "modismo de co
brar quanto o governo gastacom propaganda". Diz �uelançou mão desse tipo de ' divulgação" - limitada pelaConstituição Estadual - para desfazer a "imagem debandido" com que teria sidopintado após a aprovação emregime de urgência e sançãoapressada do PMG. "O aminCIO em jornais do centro doPaís tem o objetivo de atrairinvestimentos para Santa Catarina", defende-se. Um diadepois de receber o "pedidode informação" da Assembléia, Kleinübing decretou o
fim da "carta-convite" àsagências e prometeu incluiras despesas com publicidadenos balancetes mensais quecontinuará publicando nos
jornais.
"Jogo da Verdade" - OChefe do Gabinete de Comunicação Social, EugênioBerea Filho, resiste a cum
prir uma palavra que escre
veu no primeiro anúnciodeste governo: transparência. "Só publicamos os balancetes, que é promessa decampanha, e fizemos uma divulgação do PMG", esquiva-
amoço com 150 empresáriosno Hotel Castelmar. Entre os
convidados, um editorialistada Gazeta mercantil encantou-se com o PMG, que definiu como "O exemplo deSanta Catarina", no editoriale sábado, 27, que também viroumatéria paga na imprensabarriga verde.O almoço foi organizado
pelo presidente da Associação dos Dirigentes Brasileiros de Vendas - ADBV/SC,Roberto Costa, dono da Propague, agência que, juntocom a Artplan Sul, de PauloRoberto Bornhausen - filhode ex-senador Jorge Bornhausen (PFL), abocanhouboa parte dos Cr$ 200 milhões gastos pela União porSanta Catarina na campanhaeleitoral de 1990. Estas duasempresas também estariamrachando a conta publicitáriado governo, denuncia o donode uma agência habilitada pa-
O mistério que ainda en
volve os negócios de propaganda do governo lança duvidas sobre o título de um anúncio veiculado no dia 19 deabril nos jornais locais: "Ojogo da verdade já come
çou". Parece ter razão o líderdo PFL, Júlio Garcia, paraquem "este governo tem divulgado apenas o que faz".
Pro-paganda em cima de propaganda. E, como diz AldousHuxley, no livro
.
AdmirávelMundo Novo " "os maiorestriunfos da propaganda foram obtidos não fazendo coisa alguma, mas deixando defazê-Ia. A verdade é grande,mas ainda maior, de um ponto de vista prático, é o silênciosobre a verdade".
A denúncia do deputadomereceu uma nota de pé dapágina no jornal O Estado,longe do destaque dado, emmarço, às notícias sobre a
campanha publicitária do final do governo do PMDB,que custou Cr$ 90 milhões.
J
O anúncio do PMG ganhouum elogioso editorial do Jornal do Brasil: "Um exemplodo que pode e precisa ser feito para recolocar o Brasil nos.trilhos ql1e levam ao PrimeiroMundo no século' XXI estásendo dado pelo governadorVilson Kleinübing" , escreveu
o editorialista, no dia 23 deabril. O editorial virou anúncio nos quatro jornais catarinenses. Um elogio page.
Entre Amigos - Dois diasdepois do elogio do JB, Kleinübing partic_ipou de um
1I •••0 seu "jogo da verdade"••• de todo Pais••.Anunciando em jornais...
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
CONTRASTES
o Governoarruma a casa
através da imprensae não economiza em cooptação
Imprensa é amordaçadaGoverno trocacoberturasporpublicidadeA história se repete e, aqui,
até com coincidência de nomes.
'Conta o jornalista Moacir Pereira, num texto inédito, que durante a gestão do governadorAntônio Carlos Konder Reis(1975-1979), o governo do Estado teve "participação direta" noprocesso que levou o MDB' a denunciar o amordaçamento daimprensa catarinense.Konder Reis criou a Dicesc
Companhia de Divulgação doEstado de Santa Catarina, quecentralizou todas as verbas publicitárias dosÓrgãos e das em
presas públicas. Passou a com
PEar eSP31ç_o nos jornais, televi:soes e rádios que, em troca, so
divulgavam notícias da Arena.
Segundo o colunista, a linha editorial de alguns desses veículosera ditada por jornalistas contratados pelo Palácio.Lê-se no texto de Pereira:Os jornais tidos como impar
ciais passaram a sofrer pressõesdiretas e indiretas do sistema governamental. Cinco jornalistasde Porto Alegre foram obrigados a solicitar demissão do Jornal de Santa Catarina e da TV
Coligadas, porque, segundo al
guns depoimentos, eram profissionais e apresentavam os fatose noticies com a imparcialidadeexigível e desejável. Os dois veículos - de uma mesmo grupo -
não queriam este tipo de matéria. O jornal e a TV foram, namesma época, adquiridos peloSr. Paulo Roberto Bornhausen,primo-irmão do governadorKonder Reis, em duvidosa operação comercial, e que levou o
MDB a contestara saída. Paralelamente, os mesmo veiculos co
meçaram a se fixar em notíciasexclusives da Arena e do governo, a ponto de se posicionaremem editoriais. Começaram a per-
der o crédito perante a opiniãopública, que denomina o jornalde 'Diário Oficiar.O governo Konder Reis ainda
conseguiu acabar com "o melhor
programa de radiojornalismo atéentão produzido em Santa Catarina", o Linha de Frente que vei
culava os debates da AssembléiaLegistativa. "Como a bancadada Arena era menos atuante quea do MDB, o programa pegou",escreve Moacir. A Rádio SantaCatarina decidiu extingui-lo depois de uma briga Que o governador comprou com os deputadosda oposição, ao inteferir diretamente no Legislativo. O dono darádio, Arldo Carvalho, 2� su
plente de deputado federal, demitiu três jornalistas - dois com
imunidade sindical - e foi premiado com uma cadeira no Congresso Nacional, através de ma
nobra política conduzida porKonder Reis. "O governadornão atendia aos repórteres, deuapenas uma entrevista formal.Os secretários evitavam os jornalistas", diz ainda Moacir.
. Apesar das pressões e do partidarismo que tomou conta daimprensa, havia veículos quecontinuavam divulgando os fatos "com imparcialidade e independência", ressalva Pereira, notexto "Aspectos da RealidadePolítica de Santa Catarina",apresentado num curso sobre"análise catarinense", promovido pelo Regional Sul IV daCNBB, em Lages, em 1978. Naplatéia, estava um professor universitário de nome FernandoMarcondes de Mattos.Dois anos antes, a Assembléia
Legislativa formara uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar as atividades da Dicesc. Konder Reis recusou-se várias vezes a fornecer os documentos requisitados pela CPI e,diante da insistência dos deputados da oposição, extinguiu a
empresa. As 169 folhas do relatóno foram para o arquivo, destino de quase todas a CPls dacorrupção.
A enxurrada de anúncios continuou abastecendo os caixas dosmeios de comunicação duranteos governos de Jorge Bornhausen (1979-1982) e de EsperidiãoAmin (1982-86). Basta folhearos jornais da época para conferir. Pedro Ivo Campos-PMDBtentou conter essa sangria de re
cursos públicos a partir de 1987e se deu mal com a imprensa.Até Kleinübing já disse aos jornalistas que cobrem o Palácio:"A pressao dos patrões de vocêspor mais verbas publicitárias égrande". Mas não reclama da cobertura que vem sendo dada a
seu governo.Quem reclama desta cobertu
ra é o presidente do diretório doPMDB de Florianópolis, NeryClito Vieira, que acusa a imprensa local de "parcialidade, por tomar como verdade única a ver
são do novo governo". O PMDBtambém promete entrar com
uma ação popular na justiça paraque o governo Kleinübing devolva aos cofres públicos o dinheirojá gasto em publicidade inconstitucional. O PT apresentou projeto de lei na Assembléia pararegulamentar a propaganda ofi-cial. .
O desfecho dessa história ainda é desconhecido, mas algunsnomes não são novos na cena.
O professor Marcondes de Mattos, que viu Moacir Pereira fazeras denúncias de pressões, no curso da CNBB em Lages, é hojesecretário da Fazenda e Planejamento. Tem a chave do cofre.Konder Reis é vice-governador.A extinta Dicesc agora é o Gabinete de Comunicação Social,mandado por Eugênio Berea,que já trabalhou pafa o ex-secre
tário de Agricultura de Amin,Vilson Kleinübing, e agora dá a
última palavra sobre os gastos dogoverno com publicidade. Masesquece da transparência. com
a cumplicidade da "grande" imprensa.
Textos:Geraldo Hoffmann
Marginalizados reclamamdo preconceitocontra seu estilo de vidaIndigentes sãoconfundidoscom aidéticos
A Aids, também chamada SIDA, está solta. Fantasma substituto do tifo, da tuberculose, docâncer, a doença estimula resistências e preconceitos. No cen
tro de Florianópolis, na esquinada Rua Conselheiro Mafra com
a Rua Trajano, vive um grupode pessoas que se autodenominam "hippies" e que são considerados como "aidéticos" pelospopulares que os conhecem. Vivem do dinheiro que esmolame das gorjetas em troca de vigilância de automóveis que estacionam por ali."Em comum", diz Carlos, um
dos integrantes do grupo "nóstemos o alcoolismo e a amizade". Entre nós não há maldade,dormimos juntos sem ninguémabusar de ninguém e quandochega alguém novo querendo sa
canagem nós fechamos o cerco
pro cara". Carlos é natural deItajaí, tem 27 anos e desde no
vembro, quando chegou em Florianópolis, trabalha à noite, cuidando dos carros no estacionamenta do restaurante Lagoa's naBeira-Mar. "Logo no início",conta "quando cheguei, estavasentado na porta do mercado, e
do meu lado estavam a Xuxa e
o marido dela, o Jefe; eu nãotinha dinheiro nem cigarro. AXuxa fazia o maior escândalo,que é o J'eito dela, eu chegueinela e pe i um cigarro". A Xuxaou "Polaca", como também échamada, não tinha cigarro, masrapidamente conseguiu um, oferecendo-o para Carlos que a partir daí se integrou ao grupo.Xuxa é uma mulher magra,
bem magra, cabelos curtos de pivete e um jeito italiano de se ex
pressar, não no sota9ue mas no
exagero dos gestos. 'Mora" na
esquina da Conselheiro junto
com o marido Jefe ou "Cachorrão". "Cachorrão do meu marido" como ela o chama, para festejo dos amigos. Xuxa até teria·onde morar. A mãe dela desceo morro todos os dias para trazer-lhe roupas limpas e pedir-lheque vá dormir em casa, coisa queXuxa se nega a fazer, confirmao grupo. Jefe, diminutivo de Jeferson, tem traços de índio no
rosto e o cabelo comprido de um
marrom oleoso. Um sorrisofranco, cheio de dentes come
mora todas as façanhas da sua
sempre presente e ciumenta mu
lher. O casal diz estar com tuberculose. Não tratam a doençaporque, segundo eles, não têmonde fazê-lo. "Nem hospitaisnem igrejas querem cuidar dagente", diz Jefe. E assim eles ficam na rua pedindo dinheiro par� comprar cachaça. "Ontem",disse Jefe, "com o grupo todobebemos nove litros de purinha".
Amigos Legais - Tem aindaum casal que convive com o grupo, mas mora em uma casa abandonada na Rua Trajano. Este ca
sai- ele alto, quase dois metrosde altura, cabelos crespos caindonos ombros; ela, pequena e frágio - trabalha com artesanatoe tem uma filha de seis mesesde idade. Ficam ali com o grupop�)fque são seus amigos, comodizem os dOIS: "entre nós, nósnos cuidamos". Carlos concordae acrescenta dando o exemplodo "Menino".
O "Menino", como eles o chamam, tem 27 anos, está com
Aids, e os "hippies" dividem o
que têm com ele. Baixinho, muito magro, feridas abertas escon
dem a pele branca. Foi estuprado por desconhecidos duas ve
zes, a última vez faz pouco tem
po, conta Carlos, que com penalembra-se de Vera. Ela tambémera integrante do grupo e mor
reu, três semanas atrás vitimadade Aids. Talvez tenham sido es
tes últimos casos que fizeramuma policial de trânsito se referiraos '.'hippies:: como um "grupode aidéticos . As pessoas que,esquivando-se, passam por elesde longe e transitam pelo PontoChic também se referem a elescomo um grupo de "aidéticos",o que é contestado pelos "hippies". "No nosso grupo tem detudo, tem tuberculose, tem aidético, tem cara que se pica e tem
cara são como eu, que já fiz exame para Aids, c não deu nada"diz Carlos, o rapaz loiro, fortee bonito que há seis meses, depassagem pela capital, acabouachando um trabalho: cuidar doscarros da Beira-Mar. - Comprei a praça de um cara, e agoraé minha, é de lá que tiro meus
trocos e também uns amigos legais".
Ana Carine Montero
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
BRASIL NOVO".
; com o barulho que o motor!:! da"Ais de Ouro" vai fazen� diii o.
:oS•t�
A sobrevivência que vem. da lamaEmPalhoçaapesca do berbigãoajuda na rends
Roseli e Fátima Dutra, cunhadas e comadres de 30 anosde idade, vão sair mais um
dia para chafurdar na lamaonde vive o berbigão. Elas fazem parte de um grupo decerca de 30 mulheres que so
brevivem, assim como suas
mães e avós sobreviviam, tirando berbigão nosyântanosda Ponte do Imaruí, município de Palhoça. Nos dias emque a maré é favorável seguem rumo ao mar com baIaios, baldes e sacos nas mãos
para buscar na lama negra o
produto que, vendido, ajudanas despesas da casa, porquea gente tem que se VIrar dojeito que pode, explica Roseli, pra não morrer de fome.As duas estão há poucos meses nesta vida de mulher doberbigão. Vida danada quedepende da direção do vento,pois quanto sopra o vento sulamaré enche e aí só se mergulhar pra tirar berbigão. Antesde partir, elas pedem a menina Kelly, 10 anos de idade,filha de Roseli - que leve o
irmão para a escola, e cuidebem da priminha Karina, de2 anos.
Na saída de casa encon
tram o Negão sentado pr�gui,çosamente numa cadeira a
beira da rua - bermuda, peito nu e uma "Dorilda" tatuada no braço direito, ele bebecalmamente seu chimarrão e
provoca as mulheres: o ventosul tá chegando, maré cheianão vai dá nada, e Fátima,vai trabalhar Negão em vez
de rogar praga pra nós, e elesorri maroto, tô doente, e
Roseli, cara amarrada, tu tássempre doente, e seguemadiante. na rua pequena e es
treita que vai desembocar numa outra, paralela ao mar.
Ali, avistam José Paulo Machado, o Dinho, que já vailonge com seus passos largos,levando nas costas o balaioe o rodo - uma espécie degarfo gigante fechado nos lados, que ele usa para tirarberbigão. Dinho volta a cabeça quando escuta o assobiode Fátima 9,ue grita "já iassem nós, é?' , e torna a virarpara frente e caminhar, en
quanto elas correm pra te alcançar, meu amigo Dinho,hoje a maré tá baixa e tu vaisficar rodeado de mulher, e ele
Dona Maurina colhe berbigão há nove anos mas apesar da dureza do trabalho é dali que sai seu dinheiro
ri porque hoje tá bom e a ma
ré vai baixar ainda mais. Entram n'água, caminham maiscinco minutos até chegar -
já com água acima dos joelhos - onde está encorada a
lancha-baleeira "Ais de Ouro". As mulheres se acomo
dam na proa do barco e Dinho, de pé, liga omotor barulhento, rompe esse silênciode mar, segu_ra firme o leme
Quando sopra o vento
sul, a maré sobe e
complica o trabalho
e conduz a baleeira.O rumo é o Rio da Palhoça
- aquele lado de mangues e
lodaçais onde desembocamalguns rios do município -,um dos lugares onde o berbigão é mais farto. No trajeto
de 20 minutos a conversa ésobre a vida de quem depende do mar: a maré que tá baixa, graças a Deus, o vento,e o berbigão que vai ser graúdo. São quase oito horas e o
sol aparece entre as nuvens.
Sua luz, quase horizontal,forma uma faixa dourada na
superfície calma do mar, onde cardumes de manjuvas pulam fora d'água, assustados
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Dinho conduz a baleeiraolhando sempre para frenteaté que escuta: "olha lá, Dinho, não é a Dona Maurina?", e é a Roseli quem aponta para a direita de Dinho e
ele então desvia o olhar na
direção indicada: não sei, se
tiver de chapéu é porque éela", e Roseli: "será que elanão quer ir juntó?". Dinhofaz sinal para Dona Maurina,mas ela não vai, não, vai ficarpor ali mesmo onde já come
çou o trabalho, de cavucar a
lama, à procura de berbigão,porque Dona Maurina Salazar começa a trabalhar cedinho, que é a hora que o solnão tá muito quente, "minhafilha, pois já estou com 66anos de vida, nove nesta vidade mulher do berbigão". Elatem cabelo comprido e com
pletamente branco, as unhasamarelas, curtas e estragadas, olha só, mostra ela, detanto mexer na lama, e temcalos nas mãos "vê só", porcausa do rodo, tão pesado,minha filha, e sente dor aquiÓ, na cana do braço, de tantopegar e descascar berbigão",mas continua a trabalhar porque é viúva, recebe 30 milcruzeiros mensais como aposentada e pensionista, e o dinheiro do berbigão ajuda nas
despesas, "já deu até praconstruir uma casinha de ma
terial", diz orgulhosa DonaMaurina, que pega berbigãosempre sozinha, sua primaajuda a descascar e o filho vaibuscar na praia os sacos
cheios de berbigão que elatraz do mar, porque o bichinho é pesado, duro de lidar,mas continua pegando bichograúdo, pois não gosta deberbigão de proa que é esse
muito pequeno, "quando eu
boto o rodo é na certa, e émesmo", diz Roseli, eu nun
ca vi coisa igual, ela não vaiatrás do berbigão, o berbigãoé que vai atras dela, e DonaMaurina cavuca na lama e
quando tem que se abaixarmuito n'água do mar ela estica uma das pernas para equilibrar seu corpo balofo, e épor isso que não pára de tra
balhar, se parar vou engordartanto, tanto, e fica lá com o
corpo curvado até que a águado mar bata em seu peito;chapéu de palha na cabeça,o balde amarrado no pulso e
o barco amarrado na cinturade pneu dos seus 81 quilos depeso, ela vai se transformando num pontinho perdido no
meio domar àmedida em que
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
DEADLINE'" DESCAMISADO
a baleeira do Dinho se aproxima do Rio da Palhoça.Dinho desce da "Ais de
Ouro", procura o melhor lugar para deixar a âncora, enquanto Roseli e Fátima tirambalaios e baldes, descem n'água e começam o trabalhoporque "a maré tá baixa épreciso aproveitar, diz Ro�eli. Elas não têm rodo: inclinam o corpo até ficarem como nariz muito próximo d'água, mergulham as mãos e
trazem à tona a lama e o ber-
.big�oi sacodem as mãos paralava- o e Jogam no balde.
Uma semana inteirade cata pode render180 Kg de marisco
Voltam a mergulhar as mãose a remexer na lama, repetemos mesmos gestos muitas e
muitas vezes, baixam e levantam o corpo, e é por isso quea Roseli já está com a colunacheia de desvios, andam deum lado para o outro, pisando firme na lama à procurade malhas de berbigão, levantam o corpo para torcer a blusa molhada, e tornam a se
curvar, vêem o rosto refletidona água escura, sentem um
cheiro podre, que é esse cheiro de lama remexida, esse
cheiro da lama dos mangues,porque "pobre é assim mes
mo, e se eu nascer pobre na
próxima encarnação eu me
mato", reclama Roseli, e Fátima: "acho que a maré tá su
bindo, não tá, Dinho?", e Dinho afastado delas, levanta a
cabeça, "tá começando o
vento sul, e são só nove horas", e ele volta a ficar em
silêncio e a enterrar o rodona lama, "assim Ó, afunda os
dentes do rodo, vai puxandodevagarinho com algumas sa
cudidelas, levanta e balançao rodo para lavar o berbigãoe pronto, é só jogar no balaio". Dinho, 37 anos, é um
dos poucos homens da Pontedo Imaruí que vive exclusivamente da pesca do berbigão,e está há nove anos nesta lutana lama, diabo de homemforte, dizem dele, que já tirou180 quilos de berbigão em
uma semana, que quando a
maré está boa volta do mar
com 40 quilos em um só dia,esse homem de olhar e sorrisodebochados, pele curtida pelo sol e barba.Iarta que esconde as cicatrizes do rosto e doqueixo provocadas por um
acidente no fim do ano passado, quando a hélice do motorda "Ais de Ouro" enrolou na
manga de sua camisa, "pobreDinho, quase perdeu o braçoou o pescoço, lamenta Roseli.
Como boa parte daqueles
É preciso curvar-se para remexer a lama...
... antes de baixar o pesado rodo ...
... e ver o resultado da pesca
que tiram berbigão na Pontedo Imaruí, Dinho vende o
produto para Seu Jorge, essehomem que compra o berbigão a 200 cruzeiros o quilopara revender lá na feira deSão Paulo a mil ou 1500. equando aumenta o preço ésóem 20 ou 30 cruzeiros. Desdeque a Associação das Mulheres do Berbigão - que tinhacomo principal objetivo con
seguir bons preços para o produto - se desmantelou hámais de um ano porque as
próprias mulheres foram se
desinteressando, que não se
tem um bom comprador parao berbigão. O melhor negócio, então, é vender avulsopor 300 cruzeiros o quilo, como faz Dona Ma�rina - que
vende. p�ra uma peixaria de
Forquilhinhas ou em sua própna casa - ou como Roselie Fátima que entregam cerca
de 12 quilos por semana paraumamulher de Campinas quefaz salgadinhos para bar.Com 300 cruzeiros Roselicomprá meio quilo de pó decafé. Ela e Fátima ainda ajudam Cida (mulher do Dinho), a descascar o berbigãoque o marido traz do mar, erecebem 50 cruzeiros por quilo de berbigão descascado.Para alguém como Fátima,que descasca 10 quilos porvez, são 500 cruzeiros a maisem sua renda de mulher doberbigão. Descascando berbigão durante uma semanaela faz 2 mil cruzeiros e paga
MAIO 91 ZERO7
! uma das várias prestações da� colcha que comprou de um
� vendedor ambulante.Depois de tirar pouco mais
de meio balaio de berbigão,Roseli e Fátima param parafazer o lanche: um pão de trigo com margarina e um cigarro para rebater. "Não querum pão, Dinho?". não, elenão quer nada, só um goleda água que trouxe consigo,e volta ao trabalho já com
água pela cintura, pois o vento sui chega devagar, "a marétá subindo", diz Roseli, sentada no fundo da beleeira, e
Cotação do berbigãoé baixa: entre Cr$ 50e Cr$ 300 o quiloFátima: "até parece praga deurubu", e Roseli: "é coisa doNegão", lembrando o que o
negro tatuado tinha previsto,e Dinho, vocês desanimammuito rápido, não pode ser
assim, porque o Dinho nãoé assim, não, continua cavu
cando na lama, resignado,pois essa é sua única fonte derenda, e dela dependem quatro filhos, e além do mais elegosta de tirar berbigão, faz
ce�ca d� 89 mil cruzeiros pormes e ' nao precIso receberordens de ninguém, trabalhopra mim mesmo".Sentadas no fundo da "Ais
de Ouro", Roseli e Fátimaolham desanimadas o poucoberbigão que pegaram, "issoaí não dá nem dois quilos",diz Roseli, e Fátima sonhadora, "ah! um radinho de pilha pra escutar uma música"epinho debochado, "da pró:xtma vez vou trazer uma televisão pra vocês", enquantocoloca na baleeira os sete sa
cos de berbigão que pegou -
cerca de 20 quilos - porquesão 10 e meia, a maré subiumuito, as ondas estão fortese assim é impossível continuar o trabalho.No caminho de volta, silên
cio. Dinho conduz o barco,fuma um cigarro, olha parafrente; Roseli, cabeça baixa,olha para as unhas do péamareladas de tanto pisar nàlama, e Fátima olha para o
mar e para a cunhada e ri triste. A "Ais de Ouro" segueadiante furando as ondas. Nachegada, Dinho amarra a baleeira a uma estaca e os trêscomeçam a descarregar o barco. Roseli e Fátima seguempara casa encontram o Negão que oiha com desdém para o balaio de berbigão e rigozador, "eu não disse queo vento sul tava chegando?,agora só daqui a três dias, queé o tempo que o vento sui levapara passar".
Terezinha Si/tia
Debate quente dia 7
"Denuncie todos os tipos deviolência e defenda seus direitos" pede o Fórum PermanenteContra a Violência e a Impunidade no Campo e Cidade. A primeira atividade do Fórum seráum debate dia 7 de junho na Fecesc, com Helio Bicudo - quediscutirá a violência urbana e
questionará a pena de morte.Frei Sérgio, também falará, sobre o incidente da praça da Matriz em Porto Alegre, ano passado, quando trabalhadores sem
terra foram espancados pela polícia militar. Junto com o debateserá lançado o livro Vidas em
Risco, dossiê sobre a situaçãodos meninos (as) de rua e o ex
termínio de crianças no país.O Fórum foi criado, em Flo
rianópolis, no dia 22 de abril.Tem a intenção de ser supra-partidário e reúne desde representantes da Pastoral Universitária,Movimento dos Meninos e Meninas de Rua, movimento dasMulheres Negras, até o Nuca,Núcleo Castor de estudos existencialistas. Estão sendo criadosfóruns semelhantes em várias cidades, no país para defender osdireitos das pessoas que soframalgum tipo de agressão, Em Santa Catanna a imciativa foi do deputado Vilson Santim (PT).O Fórum não vai se limitar a
denunciar casos de violênciatambém fazem parte das atividades programadas a mobilizaçãoem apoio de quem estiver sendoagredido, incluindo defesa jurídica, praticada em parte por advogados da OAB.
Set internacionalo professor João Brito de Al
meida, coordenador do Curso deJornalismo da Famecos, de Porto Alegre, avisa que a quarta edição doSet Universitárioassumedimensão internacional. É quea partir deste ano, além dos 12cursos de comunicação da regiãoSul, entram na competição re
presentantes de universidadesargentinas, chilenas e uruguaias,o que certamente elevará a qualidade do festival de laboratorios.Com mais fôlego, o evento mar
cado para realização entre 8 e
10 Go:! outubro convida desdeagora não só alunos (para inscreverem seus trabalhos) como todos professores da área, para os
trabalhos de extensão previstosna programação. As novidadessão con�e9..üêncja direta do prêmio Opinião Publica, conferidopelo Conselho Regional de Relações Públicas de São Paulo ao
regular e estimulante evento daPUC-RS. O Curso de Jornalismo da UFSC vai estar lá.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Como está o relacionamento da Folha com o Sindicato dosJornalistas de São Paulo?CR - Na raiz das divergências da Folha com o Sindicatoestá a questão da obrigatoriedade do diploma. Todos os sindicatos e escolas de comunicação têm tomado uma posição queeu acho muito corporativa que é a de defender a obrigatoriedade do diploma. A Folha sempre foi agressivamente con
tra. Com isso, acabou havendo uma colisão frontal entre estasduas posições.O Jornal da Tarde abriu um concurso de reportagem paraestudantes de jornalismo. A Folha faz alguma coisa para diminuir a distância entre a faculdade e o veículo de comunicação?A Folha discrimins profissionais saídos das escolas de Jornalismo?CR - Não, não tem nenhuma discriminação. A Folha estabeleceu um critério de admissão exclusivamente através de concurso. Candidata-se quem quer e o currículo é analisado. Aavaliação independe do tipo de diploma que ele carrega ou
da faculdade que ele fez. Não há nenhum veto a estudantesde Jornalismo.Os profissionais formados em faculdades de comunicação quevão trabalhar na Folha estão preparados?
CR - Eu tenho dificuldade para responder porque eu nãotenho caIJJo de chefia, não comando ninguém, graças a Deus(risos). E difícil julgar. O que eu sinto, muito empiricamente,é que o nível é baixo, mas você percebe que não é só dequem vem da faculdade de Jornalismo. De modo geral, as
pessoas que chegam nas redações de jornal têm um nívelde preparação inadequado e acabam tendo a necessidade decompletar a formação naprática. Aspessoas, seja de faculdadede Jornalismo, Economia ou Administração, chegam às redações com um déficit de informação muito sensívelSeria um problema de cultura geral?CR - De cultura geral, sim, mas fundamentalmente da decadência do sistema educacional brasileiro como um todo, tantopúblico como o privado. Eu, pessoalmente, acho que a coisado Jornalismo, no fundo, émuito simples. São, basicamente,duas exigências: uma, saber escrever, que eu acho que vocênão aprende na faculdade, mas no antigo primário, a nãoser com casos excepcionais de autodidatas. A outra, é bomsenso, sentido comum. Estas são as duas únicas qualidades
. básicas para o jornalista, e é óbvio que não é na faculdadeque vai se aprender.
.
A Folha pretende fazer campanha contra a pena de morte?E em relação ao plebiscito, qual é a posição?CR - Até onde eu sei, campanha não. O jornal tem tomadoposição clara contra a pena de morte, mas não creio quevá se engajar em alguma campanha. Mas não sei qual é a
posição da Folha em relação ao plebiscito.Na cobertura que você fez em Jerusalém da Guerra do Golfo,você afirmou que lá, apesar de toda a situação de conflito,hámais informação do que aquinoBrasil. Como isto épossível?
CR - Como Israel é um país formado basicamente por imigrantes judeus, europeus e norte-americanos, eles trouxeramuma idéia de um tipo de relacior:amento entre o poder ea mídia diferente do que você vê no Brasil. A .mentalidadebásica é a de que o servidor público, seja ele o primeiroministro (no caso de Israel), que é a figura politicamenteprincipal, deve satisfações ao público. O jornalista é apenaso intermediário entre autoridades e público, portanto temdireito ao acesso a todo tipo de informação, ressalvadas as
questões de segurança nacional. No Brasil, os ocupantes decargos públicos, do Presidente da República para baixo,acham quesão donos das informações como pessoas físicas.A ex-ministra da Economia, por exemplo, não sabe de determinadas coisas, porque é a pessoa física Zélia Maria Cardosode Mello, mas porque é a ministra da Economia, ganha dasociedade para trabalhar em favor desta sociedade. Mas elanão tem esta mentalidade. Ela acha que tem aquelas informações, porque ela é Zélia Maria Cardoso deMello e eventualmente não deve satisfações à sociedade. Dá informações a
quem ela acha que deve dar, e não indiscriminadamente, a
qualquer veiculo de comunicação ou a qualquer jornalista,inclusive àqueles que são críticos em relação à gestão dela.Em Israel, funciona ao contrário. Tem um sistema organizadissimo de porta-vozes, desde a repartição de trânsito atéo primeiro-ministro, que você pode consultar por telefoneou pessoalmente. Em geral, eles respondem às suasperguntas.Quando não podem por razões estratégicas, dizem que não
podem. Em vez de tentareventualmente desviar, como acon
teceu freqüentemente no Brasil no caso dos congelamentos,quando desviavam o jornalista da pista certa. Nestes países,o poderpúblico sente necessidade e obrigação de dar satisfação à sociedade. No Brasil, não.Como se portou a Imprensa brasileira na cobertura da Guerrado Golfo?CR - Não seiporque eu não via (risos) o resultado publicadonos jornais. Eu não via nem o meu, quanto mais o dos companheiros que estavam lá. Mesmo quando voltei: eu não tenhoo hábito de rever jornais velhos porque eles envelhecem rsptdamente. É difícil analisàr, eu não sei exatamente o que a
Imprensa brasileira publicou, ou o que a televisão brasileiradivulgou porque eu não via. Eu não tive tempo depois ou
paciência na volta, de ver e comparar. Eu sei o que eu mandava, mas também não sei se tudo o que eu mandava saía exatamente como vinha, ou se por problemas de espaço, sofria
Como você vê o relacionamento da Imprensa brasileira com
o governo Collor e vice-versa?Clovis Rossi - Generalizar é diiicil porque cada veículode com unicsção tem um tipo de relacionamento diferentecom o governo. Infelizmente, ::/. maioria tem um comportamentoaté certoponto condesceudetrte com ogoverno:muitopouco crítico, tradição da msici parte da Imprensa brasileira Do lado dogoverno, existe um tipo de comportamentocoronelistico, tradicional, do político que acha que a Imprensa está aí para fazer propaganda do governo e nãopara supervisionar e vigiar o seu comportamento.Por que justamente agora em que temos uma Constituiçâoque permite uma maior liberdade de Imprensa e de organização, os veículos de comunicação se comportam de maneiradiferente a da época pós-64, onde havia uma Imprensa maiscrtticu?CR - É uma boa pergunta, mas a resposta é complicada.Eu acho que a combatividade da Imprensa no período ditatorial veio muito tarde, quando o próprio regime já estava esgotado. E parte da causa desta demora em reagir foi conseqüência óbvia dos instrumentos ditatoriais, da censura prévia,que impediam qualquer tentativa demanifestação crítica, principalmente da Imprensa escrita e da televisão em relação ao
governo militar. A Imprensa demorou muito para reagir e
quando o fez, era o momento em que o próprio regime jáse abria a partir da gestão Geisel. Também reagiu tarde, porque a maioria dos veículos apoiou o golpe e porque noBrasiJhá um vínculo poderoso entre os governos estaduais e a Imprensa regional. São vincutos que se dão ou pela publicidadeofidaI nestes veiculos ou pele concessão de canais de televisãoou de rádio para pessoas que já têm jornais. Há uma vellistredição de condcsccndcttcis: o medo de perder smincios oubeneficios leva a Imprensa a se comportar de maneira acríticaem relação a quulqu-r governo.A Folha de São Pau;o '1Jo está se aproveitando demais doepisódio do processo que o governo Collor move contra elapara fazer disto uma estratégia de marketing?CR - Poderia até SI'( pensar na utilização como marketingse os demais veículos estivessem dando ao processo a atençãoque eu acho que ele merece. Como só a Folha trata desteassunto, se estivesse fazendo marketing, estaria fazendo paraos seus próprios leitores, o que não é uma grande estratégia.Para a Folha, o que está em jogo é, fundamentalmente, a
questão da liberdade de imprensa e, mais do que isso, as
relações entre Imprensa independente epoder: uma Imprensa
algum corte, ou se o título era rigorosamente fiel ao texto.Qual foi a sua cobertura mais importante?CR - Eu sempre acho que a próxima será a mais importante.Raramente eu fico satisfeito com o que foi feito, acho atéque se não houvesse prazo de fechamento do jornal eu acabaria nunca entregando um textoporque ia tentar sempremelhorá-Ia.Fico sempre com aquela sensação de que na próxima vezvou corrigir este ou aquele defeito. Mas eu gostei de algumascoisas que eu fiz, principalmente no exterior, como por exemplo, a cobertura da transição do autoritarismo para a democmcis na Espanha, a Revolução dos Cravos em Portugal etodo o processo de democrátização na América Latina, especialmente Uruguai e Argentina. Mas, mesmo assim, sempreachando que davapara fazermelhor. Acho que todo jornalistapensa assim, principalmente aquele que trabalha em jornaldiário.
o que eu planejo- realmente, se for possível, se puder acertarcom a Folha é passar uma temporada no extenor por algunsanos, para ver o mundo funcionando e aprender um poucomais. Quem sabe, encaixar uma cobertura esportiva regular,mas também cobrindo assuntos políticos e econômicos.
Nestes onze anos de Folha de S. Paulo, você recebeu propostasde mudança para algum outro veículo?CN - Uma só, quando eu voltei de Buenos Aires, da TVGlobo. Não aceitei. A televisão não conseguiu até agora mefascinar.
A decepção com a política é inevitável para o jornalista queatua nests área?CR - No fundo, você se decepciona um pouco diariamente,mas no dia seguinte você está de novo trabalhando normalmente. Eu, pelo menos, não levo para casa ou para o fígadoesta idéia: "Nunca mais vou falar com esta pessoa, nuncamais vou fazer isso". Eu fico, às vezes, irritado, mas no diaseguinte acabo esquecendo e volto a trabalhar como se fossea primeira vez com aquele assunto. Não é inevitável a decepção, mas é uma questão de você não se colocar numa posiçãode palmatória do mundo, achando que os outros não estãocertos e que (J único certo é você.
O que está acontecendo com o Jornal do Brasil?.
CR - Eu tenho algumas informações, mas eu preferia nãofalar, porque eu não sei se elas são verídicas ou não, emboravenham de dentro do Jamal do Brasil. Seria um pouco levianose eu me mànifestasse sem ter absoluta segurança do querealmente está acontecendo nesta última etapa de uma criseque já dura anos.
Na palestra, você falou da crise de idéias e de lideranças que.
se abate sobre o país. O que a oposição está fazendo parareverter este quadro?CR - Nada, rigorosamente nada. A oposição parece tãotonta quanto ogoverno. OLula ainda brincou outro dia dizendo que é difícil fazer funcionar o governo paralelo porqueo governo real não funcionava. Tanto quanto o governo, a
oposição parece perdida, atônita, incapaz de unir algumaspropostas básicas. A meu ver, equivocadamente, as grandeslideranças oposicionistas já estão jogandopara a eleição presidencial de 94 imaginando que qualquer atitude que algumdeles tomarhoje vai intluencisr, eventualmente, a suaperspectiva presidencisl. E um equívoco porque neste país não é
A América Latina continua sendo o continente mais perigosopara os jornalistas?CR - Eu tenho a impressão de que o Libsno era, não agoraporque houve uma pausa ou talvez uma interrupção definitivada guerra civil, o país mais perigoso. Na América Latina onível de conflitos se reduziu bastante com a redemocratizaçãode quase todos os países. Hoje, você tem conflitos na Colômbia, graves, inclusive envolvendo jornalistas, e na América
.
Central, basicamente em EI Salvador. Mas caiu bastante a
violência contra jornalistas nesta área do mundo. Tenho a
impressão de que no Oriente Médio é bem mais complicadopara se trabalhar do que na América Latina.
Você já enfrentou algum problema de perseguição política nas
suas coberturas?CR - Eu tive muitos incidentes deste tipo' na Argentina.Perseguição política, pressão psicológica, tIpOS de roubo visivelmentepraticadospelos serviços de inteligência, porque nãoroubavam todo o dinheiro, deixavam sempre algum. Na Argentina, por exemplo, eu tinha retirado do banco numa sextafeira um quantia equivslente a 100milhões de pesos antigos,que valia mais de 2 mil dólares na época. Na segunda-feira,quando fui pegar o dinheiro para pagar umas contas, tinhamroubado 55 milhões de pesos e deixado 45 milhões. Evidenteque um ladrão comum, tendo no mesmo bolo de dinheirotoda esta quantia, não vai deixar para a vítima 45 e levarsó 55. No Chile, também, eu tive problemas com o governoPinochet. Na América Central, não tanto porparte do governo, masporparte dopróprio conflito. Você estánuma situaçãode guerra civil, no meio da linha de fogo entre guertilhu e
exército e fica sujeito a chuvas e trovoadas. Eu peguei duasou três situações complicadas de ficar no fogo cruzado entreos dois lados.
Imprensa está acrítica em
relação a todos os governos. Hávínculos poderosos entre' eles
Não existe oposição atuante noBrasil: eles não se reúnem paradiscutir propostas conjuntasPor que a Folha, assim como outros veículos brasileiros, não
contrata serviços de agências internacionais do TerceiroMun-®?
,
CR - Honestamente, eu não sei te responder. E uma mera
suposição, mas para cobrir o Oriente Médio, por exemplo,não adianta contratar serviços de agências do Terceiro Mundoporque quem tem fotógrafos em grande quantidade e qualidade naquela área são as grandes agências internacionais defotografia: a Gamma, a Sula, etc. E para cobrir o TerceiroMundo, é mais fácil, mais barato e mais garantido mandarum fotógrafo 'próprio do que contratar uma agência permanente de fotografia. Para cobrir o Primeiro Mundo, émelhorcontratar os já estabelecidos e que tenham enviados especiaisnas áreas mais quentes do planeta, como as agências internacionais de fotografia.
independente dá poder, capaz de noticiar tudo o que sejabom ou ruim em relação a ele sem temer represáliaspoliciais.Como foi o caso da invasão do jornal pela Polícia Federalno ano passado, ou, disfarçada depolicial, quando na verdadese trata de pura coerção sobre o jornal.Qual é a avaliação que os jornalistas da Folha e a cúpulado jornal fazem das últimas reformas?CR - Da cúpula do jornal eu não sei porque faz algumtempo que eu não converso sobre isso com eles. O processoque o governo federalmove contra o jornalmobiliza demaisas energias e as f!0nvers_as,çirl!"':. demais em torno dÍ!so ..Domeu ponto de vista, a ideie e otuns, mas a execuçao eindsestámuito complicada, principalmente na definição dos assuntos que vão em cada caderno, como o Brasil, por exemplo.Eu, pessoalmente, faço um crítica interna sistematlcamente:considero imperdoável que não exista um caderno diário deesportes. Parece que há um problema industrial que eu desconheço em detalhes, mas acho que a grande deficiência nareforma da Folha é esta.
Qual é o próximo passo da reforma no jornal?CR - Honestamente, eu não sei. Não tenho, pelo menos,participado de nenhuma discussão sobre os próximos passos.Qual é sua opinião sobre a carta enviada pelo Sindicato dosJornalistas de São Paulo à Folha, apoiando a "Carta abertaao Presidente da República" e queso mesmo tempo afirmaque o jornalmantém um regime repressiro contra seus jornalistas e critica o sistema de notas, usado como avaliação?CR - Eu não acho que haja grandes problemas de relacionamento interno. A questão .Ievs-ited« da avaliação é apenasuma questão de método. Todo mundo é avaliado permanentemente em qualquer empresa, inclusive os chefes e oprópriodono do jornal.Apesar de não receberem notas, estão sendo avaliados pelosresultadoseconômico-financeiros que o jornalproduz ou deixade produzir. Se a Folha começar a dar prejuízo It perderleitores, isto já funciona como avaliação de desempenho e
alguma providência será tomada. Não vejo porque fazer umcavalo de batalha em tomo deste sistema de avaliação. Euacho que não é o sistema perfeito, está longe disso, mas l!!'um sistema como outro qualquer, como seria com qualquerempresa privada ou até pública. A não ser que se caia no
nepotismo, afilhados políticos, o que seria muito pior.
possível fazer planejamento, quanto mais político. Basta vero exemplo do Collor nas eleições de 89, quando. ninguémo conhecia e acabou gahando. Os caciquespolíticos, de modogeral, se posicionam em função de 94 muito mais do queem função de 91. Eles evitam sentar na mesma mesa e discutirpropostas conjuntas. Embora todos, Btizols, Ouercis, Lula,Covas, se digam de oposição ao governo federal, nenhumdeles sentam juntos, e, isoladamente, parecem pouco numerosos no plano parlamentar para ter alguma influência. Nãoexiste oposição atuante no Brasil, hoje,Com oprocesso movido contra lJ Folhã pelogoverno, apublicidade oficial diminuiu no jornal?CR - A Folha de S. Paulo sempre teve um percentual depublicidade oficial baixíssimo. Sendo assim, isto não chegoua afetar as finanças do jornal.Como está o clima entre os jornalistas da Folha?CR - É um clima de alguma apreensão em relação ao desenlace da coisa. Fundamentalmente porque o proce§so gira emtorno de uma questão essencialmente política. E óbivo quevocê, às vezes, se flagra policiando a tua semântica para evitarum novo processo, ou o agravamento do processo já em andamento. Eu acho que atéhoje não chegou a interterirnoproduto final, mas sempre fica no inconsciente de cada um essedrama de ter que lidar com as palavras de uma forma quese imaginava desnecessária num sistema democrático.
E as agências de notícias?CR - Mas tem no TerceiroMundo alguma que seja independente e capacitada? Não sei...
Como você vê a diferença entre a sua cobertura na AméricaLatina e 8 das agências internacionais?CR - A diferença essencial é de que eu vou, evidentemente,com olho e background nosso, imaginando o que o leitorbrasileiro gostaria de ver para poder comparar o que acontecelá fora e aqui. As agências vêem com olho de estrangeiro;não há brasileiros trabalhando para a UPI ou a France Presseem Beirute ou em Jerusalém. Esta diferença é fundamental.A outra coisa que eu acho, é que o bom jornalista brasileirotem nível internacional, podendo competir com jornalistasestrangeiros sem passar vergonha. Sendo ssim, é muito melhorter alguém do próprio jornal dando a visão do que está acontecendo no mundo, do que se fiar nos serviços das agências.Não que estes serviços sejam ruins, mas é que é outro tipode mentalidade com que eles encaram as coisas. Por estadiferença essencial: eles serem estrangeiros, e nós, nacionais.
Você ainda pensa em abandonar a reportagem política e se
dedicar à reportagem de turismo?CR - Agora eu tenho a idéia de .ser cronista. esportivo, d_efazer muito esporte; fazer no sentido de cobrir, porque !laotenho fôlego para praticar. Nã_o dá realmente para faz_er IStO.Foi uma brincsdeirs que eu fiz com o pessoal da reviste Im
prensa (referindo-se à entrevista d_ada em abril de 89, de quese dedicaria à reportagem de turismo ou esportiva). Agora,
Qual i o mais importsnte jornal brasileiro?CR - Folha de São PauloDestaque um jornalista?eR - Jânio de FreitasQual seu programa de TVpreferido?CR - Sou viciado em tele-jornais. Especialmente o do SBT.Aliás, eu acabo vendo pouco por causa do horário incom-patível com omeu.'
,
Cite um livro interessanteCR - De Beirute a Jerusalém, do jornalista americano Thomas Friedmann, que viveu 11 anos entre estas duas cidadescc:mo correspondente do t=» York Times. É um livro excepcionsl, especislmente para jornalistas.
'9
Entrevist.: Ana Cláudia Menezes
MAIO 91 ZERO
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Na última década, foram registradosmais de 16 mil casos de AIDS em todoo Brasil. Até 1990, cerca de oito mil pessoas morreram da doença, correspondendo a um total de 48% do númerodeindivíduos que a manifestararn.Uma triste realidade, para um país
que, pela imensa quantidade de pessoascontaminadas ocupa a terceira colocaçãono ranking mundial, depois dos EstadosUnidos e do Continente Africano.Atualmente, existem 1622 mulheres e
14641 homens com a doença, concentrados, principalmente, na região de SãoPaulo, que conta sozinha com 42% dapopulação infectada do país.Em Santa Catarina, existem 216 doen
tes de Aids, divididos num número de177 casos masculinos e 39 femininos,compondo uma proporção de 'luatro homens para cada mulher. O numero dedoentes duplica a cada ano, colocandoo Estado no nono lugar em incidênciade casos no país. Para grande parte dos
'
profissionais de Saúde, as causas básicasdo constante aumento de doentes no Estado são as campanhas de prevenção ineficientes, a falta de informação e as precárias condições de vida da população.Elma Fior da Cruz, coordenadora dosassuntos de Aids, na Secretaria Estadualda Saúde, explica que as pessoas nãotêm consciência de que podem se contaminar."As campanhas de prevenção só serão
eficientes quando conscientizarem o povo de que o perigo da contaminação égeral, e não restrito apenas aos homosse�uais, prostitutas e usuários de drogas.E preciso apagar da cabeça das pessoasque somente certos grupos estão sujeitosa se infectarem", alerta.Drogados - Para Mariete Silveira,
médica do hospital Nereu Ramos, o problema está na descontinuidade e na desvirtuação das campanhas de prevenção."O que existe é a proliferaçao da imagem do aidético corno indivíduo doente,o que acaba incapacitando as pessoas deenxergarem outras, aparentemente sau
dáveis, como portadores do vírus".Um outro fator que está ligado intima
mente ao aumento do número de doentes de Aids é o expressivo número deusuários de drogas no Estado, que equivalem a 30% do total de pessoas contaminadas pelo HIV."Enquanto diminui progressivamente
o número de casos de homossexuais e
prostitutas com Aids, aumenta, principalmente em Santa Catarina, a contaminação pelo uso de drogas injetáveis. Noresto do país esses numeros equivalema 17% do total dos doentes, mas, aguino Estado, atingem praticamente 30%constituindo o maior foco de disseminação da doença. O que existe é uma
epidemia de uso de drogas injetáveis,agravada pela falta de um serviço estadual para a recuperação de toxicômano.Em 86 e 87, quando começou o surtode Aids em Santa Catarina, muitos usuários de drogas, com medo de se infectarem, procuraram apoio para tentar largar a dependência, e não encontraram.Sem encaminhamento e tratamento,continuaram usando drogas e acabaramadquirindo a doença" explica Elma,Tratamento caro - O aumento do nú
mero de casos traz. também, consequên-
VíRUS ASSASSINO
Casos duplicam a cada ano em SCProporção é dequatro homenspara cada mulher
A foto premiada de Lamas: colhida no hospital Emílio Ribas
cias bastante desanimadoras. A falta deleitos nos hospitais e a incapacidade decustear o tratamento dos pacientes constituem problemas sérios que devem ser
resolvidos. .
A Aids é a doença crônica mais cara
de ser tratada. Só o tratamento com o
AZT, remédio capaz de deter temporariamente a disseminação do vírus, custamensalmente cerca de Cr$ 80 mil. Ospacientes acham que o medicamento deveria ser financiado pelo governo federal. O governo acha que não. E entreos médicos não há consenso.
"Existem dois lados: Se ocorresse, ofinanciamento do tratamento pelo governo deveria ter um nível bastanteabrangente, que atendesse a toda pc;>pulação carente. Porém, essa atitude acar
retaria um dispêndio de capital muitogrande, que poderia, por outro lado, serdestinado às campanhas de prevenção,visando diminuir a incidência de casos" ,
explica Mariete Silveira, que consideradifícil manter uma posição.Omissão de hospitais - Para Elma,
a dificuldade de se trabalhar com o paciente de Aids é grande, não somente
pelo alto custo, mas, pela sólida estrutura de atendimento que ele exige. "Talvez, por isso, nem todos os hospitaisaceitem os pacientes de Aids. O hospitalNereu Ramos, de Florianópolis, recebeo fluxo da incompetência de outros, quese negam, às vezes por real falta de estrutura, a tratar com pacientes tão caros"explica. Com 14 aidéticos internados, ohospital sofre pela falta de leitos e medicamentos. "E muito difícil se conseguiruma vaga aqui. Tem, pelo menos, umas50 pessoas na fila. Mas, o atendimentoé muito bom. Eles cuidam da gente."diz um paciente de Aids internado no
hospital.Ineficaz no apoio financeiro, o Minis
tério da Saúde deixou de oferecer mesmo o apoio informative. "Antes do �ovemo Collor ainda existia uma iniciativapor parte do Ministério da Saúde em
atualizar e esclarecer dúvidas eventuaissobre a doença. Hoje, a dificuldade dese conseguir informações é muito grande", afirma Elma.Dessa forma, os hospitais, médicos e
pacientes esperam soluções que possamresolver os problemas cada vez mais latentes, agravados pelo aumento constante do número de casos de doentes deAids no Estado.
� Aidéticosacusam, governode omissãoAs verdades sobre a Aids vêm mudando
constantemente. Os homossexuais deixaramde pertencer ao principal grupo de risco paradar lugar às pessoas que se contaminaram através do sangue, por transfusões e uso de drogas.São estes os responsáveis pelo maior índicede crescimento da doença. Também mudoua maneira com que é encarada a doença. Hoje,a Aids é vista com mais naturalidade, emborao preconceito ainda exista, principalmente, nascamadas mais desinformadas da população. Ospróprios doentes alteraram a sua maneira de
reagir a presença do vírus. Diferente dos anos
oitenta, quando muitos se suicidaram pela simples constatação de estarem contaminados, hoje eles descobrem -que é possível conviver coma doença e aproveitar a vida da mesma forma
que as outras pessoas, apenas com mais cuidado.Rosângela Corrêa foi contaminada numa ro
da de viciados em drogas. Há quatro anos estácom a doença e é uma das mais antigas pacientes do Hospital Nereu Ramos. "Eu era dependente da cocaína. Ouvia falar sobre Aids, mas,pensava que ela estava muito distante de mim.Eu sabia do perigo de compartilhar uma seringa com várias pessoas, mas, na hora achavaque não tinha problema. Você nunca imaginaque os outros podem ter o vírus. Eu confiavae acabei me contaminando". Aos poucos Ro
sângela começou a se envolver em um trabalhode informação, contra a discriminação e o preconceito que eram muito grandes.Ela fala que sua família the deu muito apoio.
"No começo, foi um choque. Mas isso passoue o que conta agora é o carinho que eu recebodeles". Ela têm dois filhos. A mais nova tinhacinco meses quando fiz o teste e por pouconão foi contaminada. "Seus amigos antigos su
miram "Não considero "aqueles" como meus
amigos. Eles só queriam saber da cocaína".AZT sem validade - "O Ministério da Saúde,há algum tempo, comprou AZT para ser distribuído nos Estados, mas, com a demora da distribuição, os medicamentos acabaram perdendo a validade. Foi tudo jogado fora" denuncia.Hoje, Rosângela é muito consciente. Trabalhacomo voluntária na diretoria -do Grupo de
Apoio e Prevenção da Aids (GAPA), e procura preencher o seu tempo com atividades produtivas.Vilson, internado há um mês no hospital
Nereu Ramos, também está contaminado. Eleé caminhoneiro e diz que pegou a doença na
farra", quando viajava para o Nordeste. "Tinha muita febre e achei que estava com dengue. No exame anti-HIV confirmei a suspeita."Minha mulher chorou muito e disse que se
não tivesse jeito, morreria comigo" diz orgulhoso e ciente de ser um privilegiado em rece
ber tanto apoio da família.José .
outro paciente do Nereu Ramos, não-acredita na cura. "Isto aqui é um corredor damorte. As pessoas querem me iludir, mas, eusei que é um caminho sem volta. Eu não tenhodinheiro para pagar o remédio. Os únicos queconseguem viver com Aids são os mais ricos".
Texto.:M6nlca Linha,..
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Um rapaz encosta no ouvido do outro e resmunga:- Conhece a piada do não
e nem eu?O outro rapaz quase não
entende direito e ingenuamente responde que não. Ogozador abre um sorriso:-Nemeu.Essa piada retrata bem o
que acontece nas repartiçõespúblicas de Santa Catarina,mas com uma pequena diferença: entre o primeiro nãoaté o fatal "nem eu", vocêpassa por 13 salas, fala com17 funcionários, aparece no
local qua�ro dias seguid?s, e
a conclusao que se tem e quea recepcionista e o diretor sabem exatamente a mesma
coisa: nada.O Detran; Departamento
de Trânsito, é o órgão res
ponsável pela emissão demultas por alta velocidade,estacionamento proibido e
principalmente pela blitz. Ascobranças aumentam, coincidentemente, quando a Polícia Militar, Polícia Civil, funcionários do próprio Detrane grande parte dos servidoresdo estado ficam com saláriosatrasados.Durante o verão.principal
mente nos meses de janeiroe fevereiro, as PolíciasMilitare Civil desencadearam uma
operação com o "objetivo deregularizar os documentos irregulares" - carteira de mo
torista e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Eles preparavam o "bote" na cabeceirada ponte Colombo Salles e na
Beira-Mar Norte, prendendoo veículo caso o documentonão estivesse em dia. Alémdisso, você poderia recebermultas por alta velocidade oupor estar embriagado.Na verdade, o que aconte
cia era mais ou menos assim:você saía numa sexta-feira,tomava algumas, se divertia.Depois, cansado e louco prachegar em casa, pegava o car
ro e ia embora. Passava pormilhares de buracos e se con
seguisse esticar a quarta era
lucro, já que a quantidade delombadas não deixa o carro
respirar nem um pouquinho.Aí quando alcançava a BeiraMar, onde as lombadas aindahão se instalaram, você acelerava. Quando chegava aos
100 quilômetros, o guardinhaabria um sorriso sádico e pedia gentilmente para você parar: "pára o carro aí, pára".
BLITZ
Quando seu carro vira um circoPiada sem graçaprolonga II ressaca
do motorista
Ele anotava sua placa, se
aproximava para sentir o seu'bafo e pedia os documentos.Isso às três e meia da manhã.Voltava meia hora depois e
dizia que "lamentavelmenteseus documentos estavam irregulares", ou seja, estavaatrasado dez dias. Educadamente ele mandava você sair,porque o carro ficaria retidono Detran. Até aí tudo bem,perto do sofrimento que viriadepois. Ah! Se você pensouque eles te levariam em casa,com certeza você não conhece a polícia ou ainda acreditaem papai noel. Eles tambémfaziam uma ficha com tudoque você tinha no carro, paraconferir na devolução. Só queessa ficha tem a mesma validade que promessas de políticos em campanha eleitoral.No outro dia, coincidente
mente um sábado, dia que
não funcionam os bancos, você acorda cedo, leva umas
broncas do pai e se manda para o Detran. Chega lá, pergunta para a recepcionista como resolver o seu problema.Ela the atende mal e fala quevocê precisa tirar xerox disso,daquilo, pagar isso, assinarum monte de papel, compraruma ficha e falar com o seu
Vicente. você anota tudo,corre para a sala do homem.Espera um tempão, já quetem um monte de gente na
frente. Na sua vez, ele pedelicença para tomar um café,"mas ja volta". Quando eleescuta suas explicações, lamenta o fato e manda vocêfalar com a exatoria, no cen
tro da cidade, que só abre na
segunda-feira.Nessa hora seu sábado e
domingo J'á foram pro pau.Na segun a-feira, você acor
da cedo de novo, vai até essaexatoria. Lá, eles examinamseus dados no computador e
mandam você de volta parao Detran. Novamente a re
cepcionista:- Já pagaste o banco? Já tiraste os xerox? - Então vaifalar com seu Vicente.
Ele dessa vez já tomou o
café e examina o seu caso.
"Documentos irregulares, diri�indo em alta velocidade e
bebado". Nessa hora, seu paidá aquela olhadiha. "Dá 45mil cruzeiros". .
Seu pai já prepara o cheque, mas você ainda quer fazer aquela moral:- Bêbado? Alta volocidade?Esses caras estão malucos.Chama eles aqui, chama! Ochefão nem te dá bola.Aí para descontrair, seu
pai puxa um papo profissional, e como você não trabalha, tem que ficar quieto.
- Ah, o senhor é engenheiro. Trabalha na Celesc.
- Trabalho. Sou eletricista.
- Eu estou precisando co
locar uns interruptores lá em
casa.
Posso falar com o senhor?,pergunta o chefão.
- Pode. Liga pra esse número e pede para me chamar.
Mas quanto é mesmo a multa,seu Vicente?
- Não, deixa pra lá. Nãoprecisa pagar não! Como eu
ajudei o senhor agora, esperopela sua ajuda mais tarde.
Pronto, seu carro está livre. Você confere a ficha comos objetos do carro e vê quenão falta nada. Tá tudo ali:chave de roda, estepe, trancado carro , ... Só falta o porreteque você carregava no carro ,
a chave de fenda, a mangueirinha para tirar combustível.a 'iadeira de praia, o plásticoque tinha no vidro e fica sur
preso por seu carro estar gastando tanto, pois na sexta eleestava com o tanque pela metade e na segunda, depois dealguns quilômetros, você ficasem combustível, isso porqueele ficou parado sábado e domingo. Ou não?
RafaelMasseli
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
Victor Carlson
Cenário de estréia desafiante para um repórter genuíno
Quatro calouros vão à
luta. E cumprem a pautaEu começava a ficar inquieto com a demora da apresentação do boi
demamão no encerramento doprimeiro dia da greve geral, quando comeceia pensar na atuação dos calouros de jornalismo em busca de fotografias,dados e entrevistas para fazerem as suas reportagens. Era a primeira vez
que faziam reportagens desse porte. Estavam um pouco perdidos no início,mas, cheios de garra e empenho na realização de seus trabalhos.Uma delas era Sara Caprario, 18 anos, que fazia para o Zero a cobertura
necionel da greve. Estava sempre com um ar de calma e de quem não
quer nada com nada, porém, permanecia atenta ao que acontecia em sua
volta. Durante a passeata, acompanhava a comissão de frente para sabero que estava acontecendo. O único momento que a deixou nervosa foino instante em que a confusão do terminal dispersou:e multidão, e elase viu quase atropelada. Para realizar a sua matéria, Sara foi obrigadaa correr atrás dos dados fornecidos pela assessoria de imprensa da CUTe do Sindicato dos Bancários.Já Fabrizio Luciani, apesar de admitir que estcve nervoso e tenso em
certos momentos, mostrava-se bastante entusiasmado e corria no meio daconfusão atrás do melhor momento, sem se preocupar em se proteger.Nos momentos de calma, batia papo com diversos tipos de pessoas buscandoinformação e opinião.
'
Rogério Mosimann, 17 anos, csteve discreto e pensativo durante o diatodo. Quieto, observava e anotava o que acontecia, pois era dele a cobertura
municipal da greve para o jornal Zero. Sentiu-se nervoso ao cobrir, pelaprimeira vez, um confronto com a polícia, contudo, após os primeiros incidentes, ficou mais calmo. Relatava o que via e procurava manter distânciada brigada de choque. Ainda assim, notava o clima tenso no rosto de cada
policialmilitar. Procurava chegarperto dos incidentes, indo atrás da polícia,manifestantes e pessoas agredidas para suas entrevistas.
Meninas em perigoPara o Fabrizio, o fotógrafo se sente protegido pela presença da máquina
e passa a circular com mais liberdade no meio da manifestação.Adriane Canan, 18 anos, e Cristiane Miranda, 20, contudo, tiveram pro
blemas com a polícia, tendo que correr e proteger a câmera dos policiais,o que deixou as duas nervosas e amedrontadas.As luzes da cidade iam sendo ligadas e a noite chegava em Florianópolis.
A apresentação alcançava sua terceira parte com a entrada da Bernunça.Ao meu lado, além do Rogério, estava a Silvânia Siebert, descontraídae batendo palmas ao ritmo da música. Ela reclamava de ter passado a
manhã na assessoria de imprensa da CUT, fazendo a cobertura estadualda greve. com pouca informação e longe da agitação. Silvânia se sentiuum tanto desestimulada, mas estava confiante na experiência adquirida.Assim como todos os calouros, Rogério achou que "foi altas aventuras",
completando "acho que é um trabalho realizador estar em contato com
a notícia". "Valeu a experiência, deu pra ver como é um pique de redaçãode um jornal, onde te mandam trabalhar e você tem que dar o máximo
para conseguir o objetivo" diz Cristiane. Preocupada com isso, Adrianeficou grande parte do tempo incomodada com o que estava escrevendo,sentindo a responsabilidade. Gastão Cassel, professor do Curso de Jornalismo, diz que "eles fizeram um excelente trabalho de cobertura, de fotose textos", Valci Zsneletto, também protessors do curso, confirma' "receberam excelentes informações e, apesar de ainda não terem costume, fizeramum excelente trebelho'".Gastão diz que "não hánadamelhor do que estarpresente em um aconteci
mento para aprender o jornalismo. Por melhor que sejam o curso e os
protessores, só se aprende o verdadeiro jornalismo indo pra rua, convivendocom profissionais e a notícia ao vivo".Para Ricardo Jacques, 22, da terceira fase, a turma deste ano estápegando
com mais garra o jornalismo e mostrando serviço. Gastão completa dizendoque "essa turma que estcve na greve vai lange",O boi de mamão chegava ao fim e nem se imaginava que naquela mesma
praça a manhã tinha sido tão agitada. Agora, todos os personegens e atores
misturavam-se com o público para dançar num momento de contreterni
zação. Enquanto isso, eu, a Silvânia e o Rogério nos separávamosmarcandoencontro para o outro dia da greve quando a turma de "focas", novatos,na gíria do vocabulário jornalístico, começaria mais um dia de experiênciase emoções.
VER PARA CRER
ses, hotéis, lanchonetes. Umapureza que serve como um biombo a esconder o tráfico de coceina, as negociatás financeiras e
todo cenário perverso que se
possa imaginar. ,
O detetive insuspeito - E justamente o excesso de ambigüidades que nos revela umpossívelrompante moralista do idealizador de Twin Peaks. O herói dasérie, talvez o único, é o detetiveDale Cooper (Kyle MacLachlan) do "insuspeito" FBI. Tãoinsuspeito quanto o departamento de investigações a que pertence, Cooper é oprotótipo dopolicial incortuptivel e leal até a
�morte. Mas com uma imprevi
� sivel excentricidade. Ele não sail• da linha nem mesmo quando a
� sensualperspicazAudreyHorne.: (Sherilyn Fenn) o aguarda sob� as cobertas, num quarto do hotel
de seu pai.Lynch, um contumaz explora
dor das deformidades físicas e
psicológicas do ser humano,criou vários enigmas na trama.
Desvendar a morte de LauraPalmer acaba se tornandomenos
importante do que revelar os segredos ocultos dos habitantes deTwin Peaks. Diz o crítico Ricardo largman, da Isto É Senhor,que a série "é um dos maisperfeitos, instigantes, perturbadores e
festejados trabalhos já reslizedos pela tevê americana. E uma
combinação exata de um thrillerpolicial e uma trama tolhetines-ca".É possível interpreter Twin
Peaks como um manifesto inquisidor de um cineasta consagrado,obcecado com a idéia de instigara sociedade a voltar os olhos sabre si mesma. Não é a toa quea série atingiu tanto sucesso nosEstados Unidos, sendo vista pormais de 40 milhões de pessoasa cada episódio. A trama cons
truída por Lynch foi perfeita. Earrasadora.
Retrato ambígüodeumasociedade perversaLaura Palmer não morreu,
quem morreu foi a sociedademoderna. Laura simplesmente"escapou" dessa sociedade em
avançado estado de putrefação,morrendo. Forçando um poucoa bsrts, não há nada que impeçauma leitura moralista de TwinPeaks, a novela-série que está todos os domingos a partir das 10da noite na tela da Globo. Issoporque deixou de ser importantesaber quem de fatomatou LauraPalmer. Na verdade, o que importa agora é saber o que vairestar dos habitantes de TwinPeaks, cada qual com suaparcelade responsabilidade no ssssssinio.Passados oito episódios desde
14 de sbtil, dia em que a Globofinalmente resolveu oferecer alga excepcional em sua programação de enlatados, Twin Peaksainda está longe da conclusão.A menos que a emissora decidaabreviar suas 33 horas de duração. O que não é improvável caso se considere duas coisas: a játradicional falta de respeito pelopúblico e, a acolhida pouco calorosa da série por este público.A badalaçãomaioratéaqui ficoumesmopor conta da crítica, quase toda unânime em ressaltar a
qualidade da obra.
Twin Peeks é mais uma reali
zação bem sucedida do múltiploartista David Lynch, cineasta
múltiplo, de talento reconhecidotambém como cartunista, artistaplástico e músico. No cinema,ele amplia sua atuação. A últimanovidade em sua bem sucedidacsrreirs de diretor, roteirista e
produtorde seuspróprios filmes,é a faceta de compositor de trilhasonora. Foi dele, em parceriacom o não menos festejado Angelo Badalamenti que surgiramalgumas das composições envolventes e tristes de Twin Peaks.Omérito é de Badalamenti, masLynch participe com a música e
le tras de "The Nigh tingale ","Into the Night" e "Falling".Morte aos inocentes - A vir
tual leitura moralista se deve
principalmente ao inquietanteenfoque de Lynch. É a idéia de
que todo homem nasce bom,a sociedade é que o torna mau.
Ele conduz a trama por um fio
prmanentemente ambígüo. Acidadezinha do interior dos Estados Unidos é ao mesmo tempotranqüila e fatal. Seus habitantesparecem pessoas honestas queroubam, trapaceiam e até ma
tam se a situsçâo exigir. Todosguardam muitos mistérios, alguns comuns outros inusitados.Além dessas características, a
MAIO 91 ZERO12
MacLachlan: excêntrico algoz
Lynch: análise corrosiva
ambição generalizada e desmedida formam o elo em torno doqual todos se unem.
Nesse ambiente desenhadopor Lynch e por sua filha Jennifer, os inocentes não têm vez.
O cineasta sempre usou de muitos símbolos para expressar suasopiniões em seus filmes. Foi assim em O Homem Elefante, Veludo Azul e Coração Selvagem.Em Twin Peaks, a maioria deseus habitantes vive do corte e
transporte de madeira. A impressão é de que a única coisacssencislmentcpurs na cidade éa madeira, que reveste tudo: ca- Nelson Lorenz
Livro desvenda personagemQuem não ficar satisfeito só com o enredo de Twin Peaks, vai ter em
breve a oportunidade de examinar detidamente O Diário de Lanra Palmer.O livro foi escrito pOT Jennifer Lynch, filha do autor da série, e está sendolançado pela Editora Globo, com 215 páginas por Cr$ 1.800,00. Ele funcionacomo um complemento da trama, e.nbora terna sido originalmente a basepara a construção dos personagens CLJdc < F yrç'1 e, Twin Peaks.Através do Diário Secreto de Laura Palmei é mais fácil percorrer o
universo dos personagens que nos acostumamos a ver ru tela da tevê. Avantagem é que o livro não se choca com o enredo do ilme. Ele relataa vida de Laura Palmer no período entre 12 e 17 anos - quando foi assassinada.Jennifer Lynch se revela tão criativa e inclinada ao mórbido e U L "1'0
quanto o pai. "O Diário secreto de Laura Palmer" foi escrito por ela aos22 anos. Agora, Jennifer se prepara para dirigir seu próprio filme, BoxingHelena. Não fugindo ao estilo do pai, o roteiro conta a história de um
.
amante possessivo que chega ao irracionalismo de decepar braços e pernasda namorada para trancafiá-la numa caixa de papelão.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
o seu jeito de denunciar injustiçasderam-lhe a fama de "cantor-rancor".Mas ele não se intimida e se transformanuma dás vozes que protestaram commais rigor contra a ditadura. As letrascruas iam direto ao assunto, às vezesnum tom zombeteiro. Mas o molequeGonzaguinha, como era chamado peloscadernos culturais, não parava de repetir: "Não sou revoltado, nem amargurado, nem agressivo. Sou consciente".
1945-1991
Talvez este estado de consciência foio que fez mudar o rumo do seu gênerode "canção protesto" para um estilomais ameno e -intimista. Também os
tempos começavam a ser outros, a ditadura já não recorria à censura e os fãsjá buscavam novas tendênciasmusicais,mais românticos. Ele mesmo reconheceu em fins dos anos 70 que a músicanão faz revolução: "nosso poder é o
de encantar, informar, alegrar. E, emdeterminados momentos, formar. Podemos fazer política sem ser políticos".Mestre dos desejos - Sem cair na
onda do rock e evitar influência dobaião do pai, Gonzaguinha suavizouseu estilo de compor e começou a con
quistar os corações femininos. Livra-sedo título de "cantor-rancor" trocandoo pelo de "mestre dos desejos". Dascentenas de pessoas que iam aos seus Não cobrava shows de siDdfcatos, Ia onde o povo estava. Morreu numa estrada da vida
Ocantor e compositor LuizGonzaga Júnior, que morreuem acidente de carro no interior do Paraná, dia 29 de
abril, certamente será menos lembradopelas suas molecagens no morro SãoCarlos, ou pelo curso de Ciências Políticas em que se formou no Rio de Janeiro. O filho do rei do baião Luiz Gonzaga, falecido há dois anos, deixa saudades por suamaneira pessoal de compor,interpretar e lutar. Ele deixa 17 LPsgravados, onde o gênero "canção deprotesto" faz parceria com o intimismoestilo que adotou em meados da décadade 70.
Desde que desceu o morro em 1967,Gonzaguinha se impôs no cenário musical levando na bagagem as agruras davida miserável das favelas cariocas. Engaja-se no Movimento Artístico Universitário (MAU), onde também atuavam Ivan Lins e Aldir Blanc. No primeiro festival universitário em que participa, em 1968, já dava para sentir oque seria aquele moço franzino e áspero no seu modo de lidar com as pessoas:concorreu com a música "Pobreza porPobreza". Perdeu. No ano seguinteconquistou o primeiro lugar com "Otrem", regravada no LP Gonzaguinhada Vida.
Cantor rancor - Em 1973, lança o
primeiro disco, Luiz Gonzaga Júnior.Experimenta a fama sobretudo com osucesso "Comportamento geral" e o
seu nome começa a freqüentar os fichários da Censura. Gonzaguinha seria então convidado a dar explicações aos órgãos de segurança SObre o significadodas letras "tão mal-humoradas" de"Comportamento geral": "Você deverezar pelo bem do patrão/E esquecerque está desempregadolVocê deveaprender a baixar a cabeçalE dizer sempre muito obrigado/São palavras queainda te deixam dizer/Por ser homembem disciplinado" ( ... )
Música popularperdeu um
genuíno galo de
briga. Que não
perdeu a ternura
MAIO 91 ZERO13
shows, ele CflI11eçOU a ter um públicomultiplicado aos milhares. O fim dacensura e a força da telenovela FeijãoMaravilha, que incluía na sua trilha so
nora a marchinha "Preto que satisfaz",contribuíram nesse mudança.Um dos fundadores da Sombrás, res
ponsável por uma virada no direito au
toral nos anos 70 com a fundação doEcad, Gonzaguinha arrisca-se e cria se
lo próprio, oMoleque. Para ele a figurado empresário era dispensável, porquesó atrapalhava.
Na virada dos anos 70 para 80, os
sucessos de Gonzaguinha tomam contado país. A voz grave de Maria Bethâniapuxava para todos os brasileiros o "Explode coração" e "Grito de alerta".Gonzaguinha começava a conquistarpúblicos diversificados. Chegaram a
confundi-lo com um pós-tropicalista,influenciado por Milton Nascimento naharmonia elaborada e na vocalizaçãoaguda. Isso era perceptível nas músicas"Minha amada doidivana" e "Romântico do Caribe". Mas não passava de
2 uma aparência. Gonzaguinha foi capazf de cair no gosto de muitos artistas, des� de o pesadão Agnaldo Timóteo (Grito
de alerta) até a refinada Elis Regina"Eu apenas queria que você soubesse".
Mudanças - Os-sucessos aumentavam cada vez mais. Em 1980, lançao LP De volta ao começo, tendo como
ponto alto a música "Sangrando", gravada simultaneamente por Simone. Odisco vende mais de 150 mil cópias. Masseu maior sucesso de vendagem seriamesmo "Caminhos do coração", comcerca de 200 mil cópias vendidas. Oque era muita coisa para quem já haviaconvivido com o estigma do cantor rancoroso. O samba "O que é, o que é"foi uma da músicas mais populares de1982, ano de lançamento do LP.
Mas o sucesso foi breve. Logo suas
músicas saíram das paradas de sucessos
e seu trabalho se restringiu ao seu público cativo. Outros estilos musicais as
cendiam e novos nomes como Cazuza,Marina, entre outros, começavam a
mudar o gosto do público. Com exce
ção do samba "E", do LP Coraçõesmarginais, sua obra já não era mais referência. Prova disso são os discos Grávida e Olho de lince (Trabalho de Parto), lançados respectivamente em 1984e 1985. Os dois juntos não venderammais de lO()'mil cópias.
Ultimamente Gonzaguinha faziashows pelo país (morreu na véspera desua atuação no TAC, em Florianópolis)e se ocupava do futuro museu LuizGonzaga, Rei do Baião. Gonzaguinhamorreu deixando saudades naquelesque com ele lutaram contra a ditadura;deixou saudade pelo sucesso de; suasmúsicas "Preto que satisfaz" e "E" nasnovelas da "Globo. Quem se lembrarde "Feijão Maravilha" e de "Vale Tudo", certamente sentirá falta dos versosdo moleque do morro de São Carlos.E os que aprenderam a vê-lo como "opsicanalista dos dese jos da classe médiabrasileira", igualmente vão lembrar desuas letras quando se confrontaremcom dúvidas e incertezas existenciais.
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
LaZerLoucuras de uma Primavera
(Mijou en Msi, 1h50, cores) -
Talvez o filme mais divertido exibido nesta mostra. Realizado em89, por Louis Malle, tem no
elenco Michel Piccoli, MiouMiou e Michel Duchaussoy. Ahistória se passa no interior daFrança, durante as manifestáções de maio de 68. A matriarcade uma família, que tem em Milou (interpretado pelo ator Michel Piccoli) a figura mais séria,morre deixando um rico testamento. Com a notícia, os familiares se juntam na casa de cam
po, em meio ao velório, para disputar a herança. Há cenas me
moráveis. De 8 a 16 de junho.
• ARTE
Pintura virafax e pára noCruz e Sousa
o Palácio Cruz e Sousa exibeaté o dia 20 de junho, 75 fac-símiles de obras-primas doMuseuAlbertina de Viena, na Austria.Na elaboração destes fac-símilesutilizou-se uma técnica tão perfeita que só um exímio especialista em obras gráficas poderiaidentificar os originais. Váriasépocas gloriosas das artes sãomostradas nesta exposição, através de Dürer, Rafaelo Santi, Michelangelo, Rubens, Rembrandt, Degas, Fragonard, Renoir e dois mestres austríacos dofim do século: Gustavov Klint eEgan Schiele, compreendendoum período de 1471 até 1918."As Cores do Personagem"
do artista ilhéu Hermínio Menezes Neto fica em exposição atéo dia 14 de junho, na Galeriade Artes da UFSC.Ao todo são 70 trabalhos ex
pressionistas, entre pinturas em
acrílico, óleo, pastel e esculturas. A Galeria de Artes fica no
Prédio do Centro de Convivência e está aberta de 2� a 6� feira,das 9 às 19 horas.
• TEATRO
Burguês Fidalgocontinua noteatro da UFSC
o Teatro da UFSC apresentaa pe�a O Burguês FiáaJgo, deMoliere, até o dia 10 de julho,sempre às 21 horas. A direçãogeral é de Carmem Fossari e a
adaptação, da obra Le Bourgeots Gentilhomme, é do GrupoPesquisa Teatro Novo. IngressosCr$ 1 mil (antecipados no Frango e Fritas, Ponto de Vista, Bruneti Discos, Grão e Departamento Artístico e Cultural) e Cr$2 mil (no local). Informações pelo fone: 31-9348.
Anil Cláudill Menezes
• CINEMA
Os lobos dançamcom The Doorsem FlorianópolisA entrada do filme Dança com
Lobos, nos cines Carlitos e Itaguaçu, e de The Doors, no SãoJosé, prometem agitar o circuitocinematográfico da cidade.Além deles, a mostra de filmesfranceses continua no CIC atéo final de junho. Adiantamos algumas das obras exibidas no co
meço de junho, mas, o horárioda programação deve ser checa-do pelo fone: 34-2166. '
Taxi Blues (lh50, cores) - Estefilme, produção realizada com
apoio do francês Marin Karmitz,retrata o submundo de Moscou,uma espécie de versão moscovitade TsxiDriver, segundo o críticoAmir Labaki. Do diretor e roteirista russo Pavel Longuine, o filme foi premiado como a melhordireção no Festival de Cannes,no ano passado. Conta a históriade dois homens: o motorista detáxi Schlikov (interpretado porPiotr Zatchenko) e o saxofonistaLiocha (o ator PIOtr Mamonov).Indagado sobre o porquê de terescolhido um motorista e um sa-
. xofonista para atuarem no seu
filme, Pavel Longuine, de 41anos, explicou:' "Saxofone em
lembra tnsteza ( ... )O saxofonista parece comigo
e meus amigos, no sentido em
que ficamos muito tempo na
clandestinidade cultural ( ... ) Taxistas são fenômenos típicos dascidades grandes. São iguais em
Moscou, Paris, Tóquio ou NovaYork ( ... )". Até o dia 2 de junho.Nouvelle Vague (lh30, cores)
- Com Alain Delon e Dorniziana Giordano, este é o últimofilme do diretor franco-suíçoJean-Luc Godard exibido nos cinemas brasileiros. É a históriada Raoul e Elena, um casal quese ama, masm não tem nenhumtipo de contato físico. O filmeé recheado de citações literáriase não possui uma linearidadenarrativa. Só vendo mesmo parapoder comprovar. De 1 � a 9 deJunho.Les Enfants du Paradis (2h "a
da, preto e branco) - O filmeé dividido em duas partes: LeBoulevard du Crime e L 'hommeBlanc e foi escolhido como o
mais importante realizado na
França. Dirigido por MarcelCarné entre 1943 e 1945, o roteiro leva a assinatura do poetafrancês Jacques Prévert. A primeira parte será exibida nos dias4, 5 e 8 e a segunda nos dias6 e 7.
Acordes delinqüentes:a/� pesadelo
dos vizinhos
Pode não parecer, mas, Florianópolis tem undereround.Mais é diferente do que existeem cidades como São Paulo e
Porto Alegre, por exemplo.Aqui, as bandas de garagem en
frentam dois problemas: nãoexiste gravadora independente e
os lugares alternativos para apre-sentação se restringem a alguns ta", diz Cristiano, que não es- cionada ao Festival de Músicasbares da Lagoa da Conceição e conde uma certa influência da- Inéditas de Palhoça, onde, devi-aos inconstantes festivais que daísta, "mas, sem nenhuma ido- do a um mal entendido, não pu-acontecem em escolas e bairros. latria". deram tocar. "E que disseramAlém disso, a má qualidade dos Seguindo um caminho total- pra gente que ia ter um contra-estúdios da cidade não permite mente oposto ao da S.R.M.P., baixista lá, para nos acornpa-que as bandas possam gravar a banda·UX, do Kobrasol, busca nhar, mas, quando chegamos nosuas "demos" e divulgar seu tra- fazer um pop rock, ou, como diz local do festival não tinha bai-balho. o tecladista Renato, "uma mistu- xista nenhum, e então nós deci-Mas, mesmo com tantas ad- ra da melancolia do Legião Ur- dimas que não iríamos tocar na-
versidades, algumas bandas con- bana com o "punch" do Ira!, re- quele festival", lembra Renato.seguem r e allzar verdadeiras conhecendo a falta de virtuosis- Ainda sem nenhuma frustra-proezas. Este é o caso da S.R. mo instrumental, mas, estamos ção e sem um estilo definido, ou-M.P (Subversive Reek Mute melhorando". tra banda de garagem está ten-Pertubation) de Capoeiras, que Essa melhora é notada através tando ganhar espaço no "circuitojá teve músicas suas incluídas em das fitas caseiras que Vitor (vo- das festinhas". Descendente deduas coletâneas, uma na Ingla- cal e guitarra), Púnior (bateria) uma série de outras bandas, aterra e outra na Alemanha. A e Renato vêm gravando desde banda Cartel já possui o princi-inclusão nas coletâneas é, segun- que decidiram levar adiante a pal: um som compacto e consis-do o vocalista Cristiano, "resul- banda. tente. Trabalhando apenas emtado direto da troca de fitas e A falta de apoio da família é covers de Lou Read, Rarnones,informações que a gente vem fa- apontada por Renato corno o Sex Pistols, entre outros, Mau-zendo com pessoas de diversos r.rincipal problema da banda. rício (voz e guitarra solo), Andrépaíses, como Estados Unidos, 'Nós pretendemos gravar no (guitarra e vocal), Melchior (bai-Japão, Grécia, Singapura. Bul- mês de julho, caso a gente arran- xo) e Manalo (bateria) preten-gária, além da Inglaterra e da je dinheiro para alugar o estúdio dem, ern breve, mostrar suas
Alemanha. e instrumentos melhores que os próprias músicas. Já existe, algu-Head Danger - Formada em 88, utilizados hoje", diz o tecladista. mas músicas e algumas letras.a partir de urna outra banda, a Um dos destaques da banda feitas, principalmente , por Mau-S.R.M.P. tem um estilo muito UX são as letras de Vitor. Em rício, �ue só agora foi colocadopessoal. Partindo do "death-co- uma delas, "Um Homem", ele corno 'front-man". ja que nasre" (metal ultra-rápido), a ban- diz: "enquanto ele vive/eu penso bandas anteriores ele fazia ape-da, hoje, realiza um som mais que estou sofrendo/miséria não nas solos de guitarra. Um exern-
aberto, misturando diversas ten- tem limites/um dia aprendere- pia de seus versos: "estou andan-dências do metal mais sujo com mos". Além desta letra, sobre do em cima das minhas menti-um pouco do peso do rock indus- um catador de papel, destacam- ras".trial. O fato de não tocarem em se ainda "Trigal com Corvos",público não preocupa tanto, já "Sonhos de Pedra" e "Pouso do A banda Cartel é o que podeque três integrantes da banda, Albatroz". se chamar de uma típica bandaCristiano, Argerniro (guitarra e Frustração - Apesar da banda de garagem. Três caixas amplifi-baixo) e Helder (bateria), acham ter apenas um ano, os integran- cadoras, o contrabaixo mais ba-que a música que fazem "não é tes do UX já acumulam algumas rato do mercado , três peças deacessíve!" o bastante para se,r frustrações. Uma delas está rela- bateria, microfones adaptados,mostrada em público ou em ra- guitarras estridentes, e estádios, pois .�om certeza poucos
� (<2::pronta a banda de rock de gara-en�endeTlam sua prop<?sta. -z ./ gem. Agora, é só acrescentar unsAlém do som pesado, r?p�do e �
'.
(5'três acordes, algumas palavras e
sUJ�; o vocal. graye e, ass.usta- está feito o rock de garagem, pa-dor de ,Cnstlano e uma gr��de � ra o desespero dos vizinhos ...caractertstica da S.R.M.P. As
J!]I'
letras falam da realidade de uma �maneira subjetiva e individualis-
ee-e
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Alexandre GOliÇalves
MAIO 91 ZERO ))
14
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
�99 ANOS SEM AMADEUS
o gênio admirado porHaydnInfluenciadopor Bach, morreucom 35 anos
Na busca da riqueza do- espírito humano através da arte, o
compositor austríaco WolfgangAmadeus Mozart figura entre os
seus mais nobres expoentes. Oirreverente "revolucionário" damúsica clássica completa em dezembro 200 anos de sua morte,e ao longo deste ano serão realizadas comemorações em todo o
mundo. Em Florianópolis, os
eventos em homenagem a eleiniciaram no dia 7 de maio, coma apresentação no Centro Integrado de Cultura (CIC) do showVox Mozart. Mas é no segundosemestre que está programada a
maior parte dos eventos.A contribuição de Mozart pa
ra a música clássica é semelhanteao impacto dos iluministas paraa ciência. Ele "inovou os princípios da harmonia, até então vi
gentes", diz o maestro José Acácia Santana do Coral da Universidade Federal de Santa Catarina. O compositor austríaco, ao
contrário do compasso usual,buscou formular outros tipos demelodias usando- como recursos
dissonâncias, tempos prolongados e transições de ritmos.O uso de maior número de re
cursos não significa necessariamente que a música seja complicada. Ao contrário. De acordocom críticos, Mozart consegueelaborar uma obra de melodiassimples e de extrema suavidade.Memória prodigiosa - A carreirade Wolfgang Amadeus Mozartse mostrava promissora. Em1765, aos nove anos de idade,escreveria a sua primeira sinfonia, arrancando aplausos dascortes. Tinha capacidade de
compor em qualquer tipo de gênero musical erudito: serenatas,concertos, sonatas, fantasias,óperas e o que viesse.Mas o lance mais surpreen
dente de seu gênio aconteceriadurante uma VIagem à Itália em
1770. Na Basílica de São Pedro,ele escutaria a "Miserere ". A
partitura dessa música sagradaera um segredo guardado a sete
chaves pela Igreja. Mozart, queficou irnpressionado com a can
ção proibida, transcrevena todaa partitura de memória. O Papa
ficou impressionado. Mas, em
vez de condená-lo, como serianormal na época da inquisição,preferiu dar uma medalha ao
menino prodígio.A genialidade de Mozart, que
impressionou muitas pessoasnainfância, trouxe-lhe muitos InI
migos. Isso ficou latente quandoo imperador tinha encomendadouma ópera -La Flints Semplice(A Falsa Simplória). Outros músicos da corte conseguiram con
vencer o monarca a não montar
a peça. . . . .
Após um InICIO bnlhante na
música, Mozart, aos vinte anos,vai assumindo a condição de miserável. Não consegue ter estabilidade financeira como compositor. Por ser irreverente e sem
pre disposto a modificar os padrões musicais, freqüentementeentraria em choque com os maisconservadores. E o caso do arce
bispo de Salsburgo , sua cidadenatal, que the ofereceu um em
prego na orquestra da igreja. Oreligioso não the dava liberdade
para compor. Além disso, Mozart ocupa apenas uma_posiçãomodesta na orquestra. Enjoadodo trabalho, pede demissão. Umnobre da corte do bispo dá um
pontapé em Mozart que o levaescada abaixo. Nesta epoca Mozart não consegue mais nada, a
não ser alguns trocados com au
las particulares de música.Seu consolo foram as mulhe
res. Ele se envolveu com inúmeras alunas. Apaixonou-se poruma linda cantora de ópera de16 anos, Aloysa Weber. Mas no
final de tudo acaba ficando com
a irmã dela, a cantora Konstanze , com quem se casouern 1782depois de uma fuga.
Esse episódio o inspira a es
crever a ópera O Rapto do Serralha, preferida de SigmundFreud, que a assobiava no intervalo das sessões em sua c1ínia psiquiátrica. A música foi um suces
so, mas Mozart mais uma vez foitapeado: o empresário do teatroembolsou todos os lucros.Foi só com a ópera Don Gio
vanni que Mozart consegue algoestável. O imperador, por causada grande aclamação públicacom a obra, the deu um empregomodesto na corte. Don Giovanni, uma de suas principaisobras, é a história de um jovemgalã italiano. Para se casar com
a mulher por quem se apaixonouperdidamente, Giovanni mata o
pai dela. Os dois vivem juntosaté que um dia o personagemabandona-a para voltar à antigavida de conquistador de menininhas. O espírito do pai sai dotúmulo para vingar-se do galã.Morte aos 35 - Na corte, Mozart não é bem sucedido. Porcausa da inveja dos músicos quetinham influência sobre o imperadar, ele ganhava um saláriobaixo. Entre esses rivais estavaAntônio Salieri - músico principal da corte e o maestro vilãode Mozart. Nesse momento desua vida, ele sofre com a pobreza. Para complicar o quadro, ele
Mito galanteador não é falso: acabou casando com a cunhada
tem problemas de insuficiênciarenal. Para piorar ainda mais a
situação, Mozart é tapeado outravez nos negócios. Foi o caso daópera A Flauta Mágica. A óperachegou a ser apresentada 200 ve
zes consecutivas num teatro -
o maior recorde até então na história do entretenimento. No en
tanto, os lucros ficariam com um
astuto empresário.Nesses últimos meses de sua
vida, durante uma noite em queestava trabalhando nas partituras de A Flauta Mágica, um es
tranho mascarado, com trajes escuros, aparece em sua casa para
encomendar-lhe um requiém.Mozart perguntou para quemera. O estranho recusou se identificar. Talvez fosse Antônio Salieri, o arqui-rival da vida de Mozart, tal como foi sugerido no filme Amadeus (84), de Milos Forman.
O requiém não chegou a ser
concluído por ele. Mozart morreria em 5 de dezembro de 1791,provavelmente de tifo, aos 35anos de idade. Foi enterrado nu
ma vala comum.'
Ozias Alves Jr
Eventos só em agostoFlorianópolis também vai homenagear a obra de Mozart na come
moração dos 200 anos de sua morte. Em agosto, ainda sem datadefinida está programada uma exposição de painéis fotogrãficcs sobrea vida e obra do compositor, organizada pela Embaixada da Austria,no saguão da Reitoria da UFSC.Durante a exposição haverá recitais. Se você é músico clássico e
deseja se apresentar durante o evento, basta se inscrever no Departamento Artístico e Cultural da UFSC pelo telefone 31-9348 com ClóvisWerner, seu diretor de promoções e intercãmbio.Mas não é só. Dois outros eventos estão programados. Na segunda
quinzena de setembro a Pró-Música promove (no CIC ou TAC)a ópera Missa da Coroação, composta por Mozart. O evento vaiter a participação dos corais da Pró-Música e a orquestra de Câmarade Blumenau. E a escola de música da Univesidade do Estado deSanta Catarina (Udesc) programou uma apresentação de seus alunos- músicos e do Coral. O local é o Centro de Artes da instituiçãomas as datas ainda não estão definidas.
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MAIO 91 ZERO15
Uma produçãofértil iniciadana infânciaWolfgang Amadeus Mozart rece
beu sua primeira educação musical dopai, o violinista e compositor LeopoldMozart (1719-1787). Aos cinco anos,
já estava compondo minuetos. Em1762, seu pai levou ele e sua irmã Maria Anna ("Nannerl") a Munique,Viena e Pressburg, onde fizeram exibições de virtuosidade ao cravo.
No ano seguinte, os Mozart iniciaram grande tournée européia, que incluiu visitas a Paris, onde Wolfgangteve publicadas quatro sonatas paraviolino, e Londres, onde conheceu (efoi influenciado por) Johann ChristianBach. Após uma segunda visita a Viena, apresentando em Roma.Em Viena, Wolfgang conhecera
Haydn, uma das matrizes de seu estiloe um dos raríssimos músicos que admirou sua genialidade enquanto Mozartainda estava vivo. Mais tarde, Amadeus dedicou-lhe seis magníficos quartetos de cordas - os QuartetosHaydn.Entre 1773 e 1777, à parte breves
visitas a Viena e Munique, onde escre
veu La Finta Giardiniera (estreada em1775), Mozart passou a maior partedo seu tempo em Salzburgo, trabalhando dois anos para o arcebispo dacidade.Tomado de impaciência, Mozart de
cidiu fixar-se em Viena como professor independente, compositor e con
certista. Ali se casou contra os conselhos do pai com a cantora ConstanzeWeber (1782) e tornou-se maçom(1784), o que the valeria alguma ajuda, mais tarde, quando esteve quasena miséria. A partir de 1787, conseguiu uma posição nominal como com
positor da corte.O período de Viena assistiu à com
posição de grande número das suas
melhores obras: as óperas O Raptodo Setrslbo (1782), As Bodas de Fígaro (1786), Don Giovanni (1787), CosiFan Tutte (1790), A Flauta Mágica(1791), La Clemenza di Tito (1791),e as sinfonias Haffner (1782), Linz(1783), Praga (1786) e Júpiter (1788).Excesso de trabalho e problemas financeiros contribuíram provavelmente para sua morte prematura, talvezde tifo. Uma última obra, o Réquiem.foi completada após sua morte pelodiscípulo Süssmayr.Mozart foi mestre em quase todos
os gêneros; sua produção febril resultou menos em inovações formais doque na criação de sucessivas obras-primas que consolidaram o estilo clássicode composição - na sinfonia, no con
certo (especialmente para piano) ouna música de cãmara. Escreveu muitamúsica de igreja, incluindo 18 missas(entre as quais a imponente Missa em
d6 menor, inacabada), litanias, motetos e a cantata maçõnica MauerioheTrauermisik (1785).lua música orquestral incluiu cerca
de 50 sinfonias; mais de 40 concertos,entre os quais 25 para piano e outros
para trompa, violino e clarinete; serenatas comHaffner (1756) e a PeguenoSerão Musical (Eine Kleine Nstchtmusik, (1787) e divertimenti. Sua vas
ta produção de música de câmara inclui sete quintetos para .cordas, 23quartetos para cordas; quintetos com
piano, clarinete e trompa; quartetocom piano, .oboé e flauta, tnos com
piano, e sonatas para piano e violino.
Dicionário deMúsica Zahar
,.(
Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina
FOTO-CHOQUE
Sindicalistas x PMs: um confronto que resultaria em violência
Esse comerciante e
seu fiel leão dechácara defendeucom
porrete seu direitode ficar aberto
Depois de um diacansativo de
mobilização, a
pausa para o showe alguma alegria Esse passeio de Rita resultou em sua prisão
FOTO-=-o Zero quer estimular a fotografia, jornalística ou não.
Pois agora este espaço estágarantido para fotógrafos amadores ou profissionais. Esta página é dos estudantes, jornalistasou de qualquer leitor que apresente um trabalho de qualidadeque mereça publicação. Se você tem uma foto ou ensaio interessante envie seu material para nossa redação citando no
envelope Página de Fotografia. Acrescente dados pessoais,informações sobre o tema e circunstâncias da foto (ou ensaio),inclusive técnicas, além de telefone para contato. Feito. Estaé a receita para a próxima página de foto do Zero. Revele-se.
Enquanto a fé buscava novos
fiéis, a descrença' se acumulava'
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Acervo: Biblioteca Pública de Santa Catarina