Planejamento de
Equipamentos de Lazer
Luiz Wilson Pina
Graduado em Ciências Econômicas,
com Especialização e Mestrado em
Lazer pela Universidade
Estadual de Campinas – UNICAMP.
E-mail: [email protected]
Dedicatória
Para Sandra Seixas
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Sumário
Apresentação 5
Capítulo I – Introdução 8
Capítulo II – Território, cidade e cultura – os conteúdos
do planejamento 15
1. Território, urbanização, urbanismo e a cidade 15
2. Cultura – alguns significados para analisar o tema 31
3. Espaço – noções para pensar o lazer 42
Capítulo III – O Planejamento de Equipamentos de Lazer 52
1. Planejamento 52
1.1 – Significados e fundamentos 52
1.2 - Noções complementares: Plano, Programa e
Projeto; Processo 65
2. O Planejamento em Lazer 70
3. Equipamentos de Lazer 78
3.1 – Introdução – Conceitos 78
3.1.1 – De Equipamentos de Lazer 78
3.1.2 – A importância dos Conceitos
Específicos 82
3.1.3 – Novos Conceitos 89
3.2 – Classificação 93
3.3 – Outra Classificação – Os Equipamentos (ou
instalações) Culturais 102
Capítulo IV – Fundamentos de um Processo de
Planejamento de Equipamentos de Lazer 106
1. Introdução 106
2. Concepção 107
3. Indicações gerais para o processo de
Planejamento 111
4. Ideias específicas para a Concepção do
Equipamento 117
5. A Programação – As Atividades e Eventos, os
Serviços do Equipamento 120
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Capítulo V – Processo geral para Planejamento dos
Equipamentos de Lazer 122
1. Concepção 122
2. Elaboração de Projetos 126
3. Construção – execução de obras 137
4. Início de funcionamento operacional 138
Capítulo VI – Observações gerais para embasamento
técnico do Processo 143
1. Observações gerais 143
2. Recomendações técnicas para o Processo de
Planejamento, prévias à implantação de
Equipamentos de Lazer 145
3. Algumas recomendações relativas às instalações 160
4. Conclusão – o que propor para o futuro 163
Anexo – O estudo de caso do Sesc Santos 165
Referências bibliográficas 195
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Apresentação
Esta obra é resultado direto da associação de duas atividades
desenvolvidas simultaneamente, a profissional, no setor de
planejamento do Serviço Social do Comércio de São Paulo
(Sesc-SP) e postenormente no do Rio de Janeiro (Sesc-Rio), e
a acadêmica, com a realização do mestrado em Lazer na
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a docência
em várias universidades e em diferentes cursos de graduação e
especialização em lazer, turismo e hotelaria. É resultante
também dos muitos anos de experiência profissional no
planejamento de equipamentos de lazer, atuando no Sesc-SP e
no Sesc-RJ, e de permanente estudo acadêmico e autodidata
sobre o assunto, pesquisando referências nacionais e sobretudo
internacionais a respeito do tema em foco. Agrega uma grande
quantidade de contribuições técnicas de inúmeros profissionais
de primeira qualidade e de variados campos do conhecimento,
como os engenheiros do Sesc-SP e os arquitetos dos escritórios
que elaboraram os projetos da ampla rede de grandes
equipamentos socioculturais que essa organização implantou
nas últimas décadas na capital do estado de São Paulo, na
região metropolitana e em várias cidades do interior. Incorpora
igualmente o conhecimento e as experiências dos quadros
técnicos, gerenciais e administrativos do Sesc-SP, profissionais
de alta qualidade e aprimorada qualificação. O texto pode
portanto ser lido como o produto de uma ação coletiva a médio
e longo prazo.
A obra foi parcialmente estruturada sobre a dissertação de
mestrado apresentada na UNICAMP em 1998, acrescida das
inúmeras experiências, observações, constatações e
ponderações efetivadas no planejamento das unidades
operacionais do Sesc-SP, trabalho no qual a entidade adotou e
adota ainda um processo semelhante ao proposto no presente
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texto, e do estudo das referências técnicas sobre o assunto.
Evidentemente a metodologia sugerida difere dos
procedimentos adotados pelo Sesc, pois se trata do produto de
estudos e reflexões do autor sobre o tema, incluindo ainda a
pesquisa bibliográfica de obras pertinentes ao assunto, poucas
mas consistentes, como a de Coronio e Muret e a do professor
Robert Soubrier da Universidade do Québec em Trois-
Rivières, Canadá.
A classificação dos equipamentos de lazer foi embasada no
livro de Renato Requixa, Sugestão de Diretrizes para uma
Política Nacional de Lazer, editado em 1980 pela Biblioteca
Científica do Sesc de São Paulo, complementada pelas
informações do Dicionário crítico do lazer, organizado por
Christianne Luce Gomes, no verbete “equipamentos de lazer”,
referência igualmente adotada neste trabalho. Foi feita uma
síntese dessas informações, modificadas, complementadas e
acrescidas pelo autor desta obra, com base na referida
dissertação de mestrado apresentada em 1998, e nos estudos
posteriores sobre o assunto.
Sugere-se neste trabalho um processo para o planejamento, em
quatro etapas – concepção; elaboração de projetos;
construção e execução de obras; e início de funcionamento
operacional – de equipamentos para o lazer, multivariados,
multifuncionais e polivalentes, que apresentem uma variada
oferta de atividades e serviços para os seus frequentadores e
usuários. Esse processo foi formatado e detalhado para
equipamentos de médio e grande porte e capacidade de
atendimento, mas é também aplicável, de modo simplificado e
sintetizado, aos equipamentos de dimensões mais reduzidas,
como academias de ginástica médias e pequenas, buffets e casas
de festas, instalações específicas isoladas, como ginásios de
esporte e conjuntos aquáticos, implantados em escolas ou
clubes como complemento dos seus serviços, ou como
equipamentos individualizados.
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Pretende-se com essa publicação incentivar o debate no Brasil
sobre esse tema, bem pouco estudado ainda no país, podendo-
se a médio prazo construir um quadro metodológico de
aplicação viável à realidade sociocultural e adequada à
progressiva implantação de equipamentos de lazer que se
observa em grande número de municípios brasileiros.
Planejando-se os equipamentos de lazer no Brasil com mais
rigor e cuidado, com critérios técnicos bem estudados e
elaborando projetos de qualidade, os cidadãos poderão usufruir
de melhores serviços e terão melhores benefícios oriundos da
aplicação dos recursos financeiros gerados pelo impostos que
pagam ao governo em suas três instâncias. E o setor privado e
o terceiro setor, quando investirem na área, poderão contribuir
igualmente para a melhoria da qualidade de vida da população
brasileira, além de obterem maior eficiência no atendimento
aos seus respectivos públicos e usuários.
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Capítulo I - Introdução
Em 29 de Junho de 2002, na pequena cidade de Spruce Grove,
na província de Alberta, no Canadá, foi inaugurado um centro
de lazer, denominado Tri Leisure Centre, resultado da ação
conjunta de três municípios locais, o mesmo Spruce Grove,
Town of Stony Plain and Parkland County. O Tri Leisure
Centre é composto por duas áreas para hóquei sobre o gelo, um
centro aquático com espelho d’água de 25 metros de
comprimento, um ginásio coberto com piso de madeira, dois
campos para futebol, fitness centre com equipamentos no
estado da arte, pista coberta para corrida e caminhada, salas de
reunião, e as instalações complementares de infra-estrutura,
complexo construído com um custo total de $28 milhões de
dólares canadenses.
Tal proposta é digna de admiração por vários motivos:
primeiro, por ser uma iniciativa conjunta de três municípios,
que concordaram em sediar o centro de lazer em um deles;
segundo, pelo processo adotado, que se iniciou em 1996,
quando as três comunidades receberam os Jogos de Verão de
Alberta, e a partir desse evento, aplicaram uma pesquisa de
interesses entre os seus moradores em 1997, constituíram o
Grupo de Trabalho Tri Municipal em 1998, o qual concluiu
o planejamento e o estudo de viabilidade em 1999, obteve os
recursos necessários e coordenou os projetos consequentes em
2000, e supervisionou a construção em 2001 e 2002, quando
iniciou o seu funcionamento. E terceiro, pela ampla
programação oferecida para a população dos três municípios,
que totalizavam 52.824 habitantes em 2001, observando-se
ainda que mais de 30.000 pessoas visitaram o novo
equipamento de lazer no fim-de-semana de sua inauguração.
Todas essas informações podem ser obtidas no portal oficial
(<http://www.trileisure.com>).
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Um empreendimento de finalidade pública como esse,
reunindo três comunidades próximas mas administrativamente
independentes, evidencia, além da importância que os seus
habitantes atribuem à sua qualidade de vida, também o domínio
de instrumentos técnicos de gestão, planejamento e
programação nas áreas do lazer e do esporte. O Centro de Lazer
foi cuidadosamente planejado, de acordo com os interesses
manifestados pelas comunidades, e desenhado conforme os
requisitos técnicos informados no seu plano diretor. Em
consequência desse domínio técnico e profissional a construção
foi realizada em pouco mais de um ano, e o centro foi aberto
com a sua programação elaborada para o curto, o médio e o
longo prazo, com uma agenda de eventos já definida e
negociada com os interessados.
Esta já é uma tradição no Canadá, talvez o país mais avançado
no campo do lazer, ao qual se associam as atividades
esportivas, fator cultural presente na construção de sua
cidadania e na qualificação dos seus critérios de bem-estar.
A estrutura social, política e econômica que corresponde às
demandas de lazer e de esporte de sua população produz
variáveis que são consideradas e analisadas na fundamentação
teórica construída por estudos e pesquisas a longo prazo,
produzidos pelas universidades canadenses, e também pelas
instituições públicas das províncias e das municipalidades, que
preparam planos de ação, planos diretores para os novos
equipamentos e instalações, estudos de viabilidade e de
desenvolvimento sustentável, sempre com base no quadro
teórico desenvolvido por pesquisadores e estudiosos do lazer.
A qualidade dessa produção pode também ser verificada no
portal específico http://lin.ca (lin significa leisure information
network), facilmente acessível, com centenas de documentos
completos de consulta livre.
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O empreendimento das cidades canadenses evidencia uma
preocupação coletiva (da população e das comunidades) e
administrativa (dos poderes públicos) com os processos de
ocupação do território, atitudes que refletem uma postura
nacional. A qual atualmente se tornou global. Todos devemos
analisar e avaliar cuidadosamente, antes de qualquer iniciativa,
as formas de uso e ocupação do nosso território, que é
solicitado e exigido para múltiplas funções, biológico-naturais,
sociais, culturais, psicológicas, dos indivíduos, dos grupos e
das coletividades.
Como lembra Braudel:
As civilizações (seja qual for o seu tamanho, tanto as
grandes como as medíocres) sempre podem localizar-se
num mapa. Uma parte essencial de sua realidade
depende das restrições ou das vantagens de sua
localização geográfica. Naturalmente, essa localização
foi adaptada pelo homem desde há séculos, ou mesmo,
muitas vezes, desde há milênios. Não há paisagem que
não traga a marca desse trabalho contínuo, aperfeiçoado
ao longo de gerações - em suma, capitalizado. (1989, p.
31).
Completa o mesmo historiador: “Falar de civilização é falar de
espaços, terras, relevos, climas, vegetações, espécies animais,
vantagens dadas ou adquiridas” (1989, p. 31).
Esse “palco em que se representam essas peças de teatro
intermináveis” (Braudel, 1989, p. 32), é objeto de ocupações
especializadas, como uma grande área de uma planta industrial,
por exemplo, ou em sobreposição de funções - a praça central
da cidade, com a igreja matriz, a feira de artesanato do
domingo, as crianças brincando, etc., e evolui sob duas
influências simultâneas: o crescimento demográfico e a
urbanização da humanidade, e a contínua criação de outras