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Page 1: Plano diretor/Artigo Correio 11/11/16

Qual a diferença entre morarnuma cidade e viver numa ci-dade?

Pressionado por Movimen-tos Sociais que há meses argu-mentam sobre a necessidadede maior prazo para discutircom profundidade o Plano Di-retor, o prefeito Jonas Donizet-te finalmente cedeu e esten-deu o prazo para 2017. Embo-ra tenha sido dado um passoimportante na direção de abrirespaço para a participação dasociedade, a simples prorroga-ção de nada valerá, se a meto-dologia de trabalho até aquiempregada não for profunda-mente revista. Preocupa-nostambém, a afirmação do sr.Prefeito de que estaria “prontopara apresentar” um projetode lei à Câmara Municipal.Não foi o que transpareceunos eventos recentes nosquais foram apresentadas pro-postas ainda incipientes e con-teúdos obrigatórios para umPlano Diretor, incompletos.

O processo de elaboraçãodo Plano Diretor (PD), comovem sendo conduzido, sofrecríticas desde 2014 quandoconstituiu-se o Fórum Cida-dão pelo Plano Diretor Partici-pativo, aberto à participação eque congrega cidadãos e maisde 20 entidades que vêm discu-tindo no meio social as deman-das da Cidade, o processo deelaboração, e o conteúdo doPlano Diretor que uma metró-pole do porte de Campinasmerece.

Há diversos exemplos bem-sucedidos de elaboração deplanos diretores, a metodolo-gia que vislumbramos passa

pelo estabelecimento de al-guns princípios básicos, a sa-ber:

1- Transparência no tratode informações e documentosque subsidiam as discussões aserem conduzidas. É funda-mental que sejam disponibili-zados na internet os textos, da-dos e mapas com os quais aPMC vem trabalhando interna-mente. Tratam-se de docu-mentos públicos aos quais to-dos têm direito ao livre acesso;

2- Adoção de meios para in-formar e sensibilizar o cidadãosobre a importância do seu en-volvimento. O secretário Fer-nando Pupo declarou que 80%da população não tomou co-nhecimento do processo atéaqui. Trata-se de um númeropreocupante que por si só des-legitima todo o processo em-pregado;

3 – Adoção de processo deformação e capacitação da so-ciedade civil, de modo a forta-lecê-la para que a votação naCâmara incorpore e respeite opactuado durante o processoparticipativo a ser efetivado;

4- Definição de uma agen-da clara e consistente que con-sidere prazos legais de convo-

cação e dê à Sociedade tempohábil para leitura, discussõesprévias e questionamentosque levem à tomada de posi-ção com base nos fatos e da-dos disponibilizados;

5- Atendimento aos precei-tos federais que tratam do pro-cesso de elaboração, aprova-ção, conteúdo mínimo e poste-rior monitoramento do PlanoDiretor, a saber: Estatuto da Ci-dade (10.257/01); Lei de Aces-so à Informação (12.527/11);Estatuto da Metrópole(13.089/15); Resolução nº25/05 e Resolução Recomenda-da nº 34/05, do Conselho dasCidades. Além da própriaConstituição Federal, em espe-cial quanto a seus artigos 5º e37˚;

6- Desenvolvimento conco-mitante da nova legislação deUso e Ocupação do Solo de for-ma que a autoaplicabilidadedos instrumentos do Estatutoda Cidade adotados no PlanoDiretor seja de fato asseguradaaos municípies, sem a necessi-dade de regulamentação poste-rior;

7- Que a elaboração se en-cerre em um processo claro depactuação social conduzido

conforme define o Art. 10º daResolução nº 25/05: “A propos-ta do plano diretor a ser sub-metida à Câmara Municipaldeve ser aprovada em umaconferência ou evento simi-lar”.

Ademais, é importante cha-mar a atenção para a Lei Orgâ-nica de Campinas no que tratado Plano Diretor, em especialpara os Art. 42, 174, 198 e 268.

Transparência, acesso à in-formação e uma metodologiaque: complemente o atualdiagnóstico; envolva a popula-ção; defina tempo hábil parapropor, contrapropor, discutire pactuar, são preceitos para aparticipação da sociedade e éo que nós cidadãos de Campi-nas vemos como única formade elaborarmos um Plano Dire-tor que reflita a complexidadesocioeconômica da Metrópolee sirva aos seus cidadãos.

Reconhecemos o empenhoda equipe técnica da Seplanque está claramente subdi-mensionada para a tarefa derevisão do Plano Diretor e daLUOS. Nosso futuro dependede um planejamento feitocom método, seriedade e pro-fundidade que contemple a di-versidade cultural e dos inte-resses que perfazem a socieda-de campineira, e isso exigirámais cabeças para pensar, dia-logar e, finalmente, pactuar otexto jurídico do Projeto deLei.

É imprescindível que o Pla-no Diretor tenha o DNA do ci-dadão campineiro. Queremosuma Campinas onde possa-mos viver e criar nossos filhoscom qualidade, não queremosapenas uma cidade para mo-rar.

Donald J. Trump foi eleito opresidente dos Estados Uni-dos de forma inesperada pelagrande maioria – talvez atépor ele mesmo. Seus discursosalegando fraude nas eleições,desde antes da votação e du-rante o dia, prenunciam a suaexpectativa de não vencer.Agora que ganhou, pode serque tenha que lidar com a res-ponsabilidade por ter vencido.

Principalmente nas elei-

ções para o poder legislativono Brasil, em especial para ve-reador, é recorrente a figurado candidato que não quer ga-nhar. Participa do pleito eleito-ral na esperança de se projetarpoliticamente a ponto de con-seguir algum cargo junto aoseleitos. Lógica semelhante pa-recia ser a seguida pelo entãocandidato republicano DonaldTrump.

Trump, se derrotado, sairiamais fortalecido. Além de po-der manter sua posição de in-justiçado, penalizado por “falara verdade” (o que não é verda-de, pois estudos demonstra-ram que mentiu mais na cam-

panha que a oponente demo-crata) em um mundo hipócri-ta, já teria renovado sua ima-gem comercial, que vinha emdecadência. Originalmente em-presário do ramo da constru-ção, de uns tempos para cátem mantido negócios no setorbaseados no licenciamento desua marca. Construções nemsempre bem-sucedidas levamo seu nome na esperança deatrair compradores. E quandofracassavam, o ônus era sem-pre dos empreendedores, nun-ca das Organizações Trump.

Por outro lado, eleito presi-dente, Trump não poderá dele-gar o fracasso para os outros.

Terá que assumir o encargo desuas contradições, de seu dis-curso isolacionista (“AmericaFirst”) em um mundo globali-zado, de suas colocações pre-conceituosas em um mundo li-beral, de sua visão de mercadoque oscila entre o liberalismoe o protecionismo.

Um artigo do New York Ti-mes é preciso: Donald Trumpé eleito presidente em incrívelrepúdio ao establishment. Pa-ra aqueles que suspeitavam deuma onda conservadora naAmérica Latina, as eleiçõesamericanas são mais uma de-monstração inequívoca deque essa onda se alastra pelo

mundo, na esteira da insatisfa-ção com a persistente criseeconômica e os malefícios daglobalização.

O chamado “trumpismo”funcionou bem na oposição.Mas esse discurso de negaçãocostuma ser antipropositivo.Como lidar com a necessidadede elaborar propostas? Agora éesperar se as bravatas deTrump levarão a medidas fir-mes no sentido de uma nova“Doutrina Bush”, capaz de de-sestabilizar o já não tão equili-brado sistema internacional,ou se Trump gerenciará seu go-verno como administra seusnegócios: com muito marke-ting e, na verdade, delegaçãode poderes a pessoas mais ha-bilitadas.

Trump estava preparado pa-ra perder. Como ganhador, te-rá que lidar com duas possibili-dades: a bolha ideológica ou o

pragmatismo político. A bolhaideológica que o elegeu, nãose sustentará contrariando osditames de um mundo liberale globalizado. Suas convicçõessão a desglobalização, a recu-sa ao multilateralismo e a reto-mada do isolacionismo ameri-cano.

O mais provável é queTrump se paute mais, a partirde agora, pela realpolitik, pelopragmatismo político, e mode-re, senão seus discursos, massuas práticas. Se, no entanto,as intimidações do próximopresidente americano foremcumpridas, ele se aproximarámais do ônus da vitória, tendoque lidar, afinal, com a descon-fiança natural do seu povo eda população mundial.

Opinião

Escola sempre foi lugar deaprender. Espaço para atransmissão do conhecimen-to. Templo do saber, ondeinfância e juventude pas-sam os melhores anos daexistência.

Mas como o mundo é di-nâmico, as coisas mudamde forma drástica, os episó-dios de violência na escolatornaram-se comuns. Pode-se mencionar a incivilidade,sintoma de que as regras decivilidade — conviver emharmonia — foram quebra-das. Também o bullying,agressão entre colegas, ma-nifestação sob a forma deameaças e humilhaçõesconstantes, sem que a víti-ma seja capaz de se defen-der. Nesse teatro macabro,há três personagens: o agres-sor, a vítima e o espectador.Por fim, os comportamen-tos antissociais. A delinquên-cia da depredação, do van-dalismo, do dano inclemen-te causado à coisa pública,aquela cujo dono é o povo.

Cinco vertentes preten-dem explicar a origem daviolência na escola. A primei-ra se funda na própria natu-reza humana. O ser humanoé violento, porque aprendeua ser assim na própria evolu-ção, para poder sobreviver.Exatamente porque o ho-mem é violento e agressivo,que a sociedade procura ca-nalizar esse instinto subme-tendo-o a controle pela edu-cação, pela moral e pela reli-gião. A segunda associa aviolência a fatores de risco,assim como desestrutura-ção familiar, ausência dopai, relações familiares nãoafetuosas, violência intrafa-miliar. Tudo isso transmitemodelos violentos como for-ma de resolver conflitos.

Um terceiro eixo residena percepção da sociedadee do sistema educativo so-bre o que significa violência.Violência é um conceito so-cial e admite níveis de tole-rância ou intolerância a cer-tos comportamentos. De-pende também do lugar on-de eles acontecem. Gritar, fa-lar alto, provocar balbúrdia,desafiar, lutar, são ações to-leráveis num ambiente, masintoleráveis na escola.

A quarta vertente explicaa violência como diretamen-te relacionada ao clima e àorganização da escola. Hámenos violência quando asregras são claras e justas, acoesão da equipe é consis-tente, as expectativas de pro-fessores e alunos são mescla-

das por um sentimento depertencimento à comunida-de escolar. Aqui funciona amediação de conflitos paramodificar as lógicas deação.

Finalmente, a quinta ex-plicação diz com a universa-lização do ensino e a chega-da à escola de novo público,já consciente de que o diplo-ma não garantirá êxito pro-fissional nem estudar signifi-ca ascender socialmente.Certos jovens escolheriamser maus alunos, reivindi-cando para si um estigmanegativo, desencadeador derevolta sem objeto.

Ninguém se ilude com apossibilidade de eliminaçãoda violência na escola. Toda-via, é válida a tentativa deadministrar agressividade econflito pela palavra e nãopela violência. Controla-se aagressividade mediante in-centivo a brincadeiras, a dra-matização, a jogos e outrastáticas de integração. Simul-taneamente, deve-se identifi-car os fatores de risco e for-talecer os fatores de prote-ção, atuando junto à famí-lia.

Nas escolas em que se re-conhece a pluralidade de sig-nificados do termo violên-cia, deve-se estimular a par-ticipação da comunidade.Por isso o sucesso do proje-to "Escola da Família", quecompletou 13 anos em2016. A mudança do climaescolar vem mediante coo-peração mútua, o trabalhoem comum, o compartilha-mento, o diálogo, a percep-ção de que há muitas for-mas de ver as coisas e quetodos os pontos de vista de-vem ser acatados e discuti-dos. O respeito à diversida-de, o exercício do autocon-trole, a valorização da refle-xão, o pensamento crítico eo respeito às ideias. É urgen-te desenvolver a empatia,com a capacidade de se colo-car cognitiva e sentimental-mente no lugar do outro.

Enfim, como a educaçãoé direito de todos e dever doEstado e da família, com acolaboração da sociedade,todos são chamados a coibira violência na escola, mácu-la que pode contaminar a so-ciedade e torná-la maisagressiva do que já é. Aceitoideias e, principalmente, tra-balho da lucidez para o ade-quado trato desse fenôme-no preocupante.

EUA

Violência naescola

Trump e o ônus da vitória

Editor: Rui Motta [email protected] - Editora-assistente: Milene Moreto [email protected] - Correio do Leitor [email protected]

renato nalini

Planejando CampinasJOSÉ[email protected]

� � José Furtado é coordenador doObservatório Cidadão Campinas QueQueremos

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charge

� � José Renato Nalini é secretário deEducação do Estado de São Paulo

PLANO DIRETOR

� � Ricardo Luigi é professor universitário ediretor do Centro de Estudos em Geopolíticae Relações Internacionais

“Gostem ou não gostem, eu sou candidato em2018”Deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pegando carona no estilo polêmico e fanfarrão de Donald [email protected]

A2 CORREIO POPULARA2Campinas, sexta-feira, 11 de novembro de 2016