Textos Poéticos
PoesiaPlural 9, Raiz Ed
Meditação do Duque de Gandíasobre a morte de Isabel de Portugal
Isabel de Portugal, pintura de Ticiano
Meditação do Duque de Gandiasobre a morte de Isabel de Portugal
Nunca maisA tua face será pura limpa e viva Nem teu andar como onda fugitivaSe poderá nos passos do tempo tecer.E nunca mais darei ao tempo a minha vida. Nunca mais servirei senhor que possa morrer.A luz da tarde mostra-me os destroçosDo teu ser. Em breve a podridãoBeberá os teus olhos e os teus ossosTomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viverSempre,Porque eu amei como se fossem eternosA glória, a luz e o brilho do teu ser,Amei-te em verdade e transparênciaE nem sequer me resta a tua ausência,És um rosto de nojo e negaçãoE eu fecho os olhos para não te ver. Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
Sophia de Mello Breyner Andresen
AssuntoOlhando, com horror, o corpo desfigurado da amada morta, a imperatriz Isabel de Portugal, o Duque de Gandia promete nuna mais amar ninguém que seja mortal, confessando ter amado Isabel de Portugal como se ela (a sua beleza) fosse eterna.
Tema A efemeridade da vida.
Oralidade
1.1. Ao nível do conteúdo, a repetição da locução adverbial “Nunca mais”, no início de cada estrofe, confere ao poema um tom de lamento desesperado pela perda irremediável e definitiva. Do ponto de vista da sonoridade, confere musicalidade, toada (canto monótono) de lamento arrastado, doloroso, repetido como um choro.
1.2. Anáfora.2.1. A face e o andar.2.2. A vida.2.3. “Nem teu andar como onda fugitiva”. A comparação com a onda fugitiva sublinha o
movimento, a vida que passa rápida e breve.
Leitura do Texto
3. Nomes que referenciam a realidade crua da morte. (2ªestrofe)
destroços; podridão.4. Motivo da enorme dor provocada pela
perda. O sujeito poético confessa ter amado a mulher
agora morta como se ela e a sua beleza fossem eternas.
5. “E nem sequer me resta a tua ausência”. (v.16)
A presença do rosto morto é tão perturbante que não deixa lugar para a verdadeira ausência que é o nada. A imagem da morte impõe-se ao vazio do nada.
6. O sujeito poético faz um compromisso consigo mesmo.
“E nunca mais darei ao tempo a minha vida”; “Nunca mais servirei senhor que possa morrer”; “Nunca mais amarei quem não possa viver / Sempre”. (Decide nunca mais ligar-se a um ser humano, porque as
evidências físicas da morte, para além da ausência, causam uma profunda repulsa e dor.)
7. Estrutura formal Quatro estrofes, sendo as duas primeiras quintilhas (5
versos); a terceira oitava (8 versos) e a última monóstico (1 verso).
Os versos são longos (entre 9 e 13 sílabas), exceto o primeiro (3 sílabas- trissílabo) e o décimo segundo (2 sílabas – dissílabo).
Rima livre, combinando alguns versos brancos com rimas emparelhadas, cruzada e co uma certa insistência na rima em –er que regista 6 ocorrências.
Outras questões.1. Compara a caracterização de Isabel de Portugal antes e
depois da sua morte. A beleza pura, límpida, perfeita e luminosa de Isabel de
Portugal, enquanto viva, contrasta com a podridão e a ausência do seu corpo morto.
1.1. Identifica recursos expressivos usados nessa caracterização.
. Adjetivação – “pura limpa e viva” . Comparação – “Nem o teu andar como onda fugitiva” . Metáfora – “os destroços do teu ser” . Personificação – “Em breve a podridão /Beberá os teus olhos
e os teus ossos” /Tomando a tua mão na sua mão”. . Enumeração – “A glória, a luz e o brilho do teu ser”2. Que aspeto dessa caracterização te impressiona mais?
Porquê?3. Observa a pintura de Ticiano e identifica as características
referidas no poema que coincidem com esse retrato.
Vídeo - “Meditação do duque de Gandía sobre a morte de Isabel de Portugal”
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