POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO
SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA
IMPLEMENTAÇÃO
RELATÓRIO DO SEMINÁRIO
Salvador
2015
SEMINÁRIO: POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA IMPLEMENTAÇÃO| 1
REALIZAÇÃO
Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento (MAASA)
Escola Politécnica/Universidade Federal da Bahia
Ministério Público do Estado da Bahia
Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária e Ambiental/Seção Bahia (ABES/BA)
Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e
Meio Ambiente do Estado da Bahia (SINDAE)
Empresa Júnior de Engenharia Sanitária
e Ambiental da UFBA (ESA Jr.)
SEMINÁRIO: POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA IMPLEMENTAÇÃO| 2
Comissão Organizadora
Luiz Roberto Santos Moraes (Coord.)
Danilo Gonçalves dos Santos Sobrinho
Eratóstenes de Almeida Fraga Lima
Fernando de Almeida Dultra
Francisco Chagas Filho
Gabriela Vieira de Toledo Lisboa Ataíde
Patrícia Campos Borja
Rogério Santos Saad
Sérgio Luiz Gomes
Tereza Rosana Orrico Batista
Relatoria
Patrícia Campos Borja (Coord.)
Ângela Patrícia Deiró Damasceno
Francisco Chagas Filho
Maria Teresa Chenaud Sá de Oliveira
Apoio
Albert Tiago Porto Gomes
Carlos Alberto Santos Lima Filho
Lenon Sol de Souza Marques
SEMINÁRIO: POLÍTICA E PLANEJAMENTO DO SANEAMENTO BÁSICO NA BAHIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA IMPLEMENTAÇÃO| 3
Sumário
Resumo Executivo ........................................................................................................................................ 1
1. Introdução ............................................................................................................................................. 3
2. Conferência de Abertura - Exclusão e Desigualdade do Acesso ao Saneamento Básico na Bahia ..... 4
3. Mesa Redonda 1 - Estado, Política Pública e Saneamento Básico na Bahia ........................................ 5
3.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes .............................................................................. 5
3.2 Propostas e desafios............................................................................................................................ 9
4. Mesa Redonda 2 - Planejamento na área de saneamento básico: o Plansab, o Plano Estadual de
Saneamento Básico e os desafios para a universalização. .......................................................................... 10
4.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ............................................................................ 11
4.2 Propostas e desafios ......................................................................................................................... 13
5. Mesa Redonda 3 – O papel institucional na elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico:
interesses, conflitos e perspectivas para o atendimento da sociedade ........................................................ 14
5.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ............................................................................ 14
5.2 Propostas e desafios.......................................................................................................................... 18
6. Mesas Redondas 4 - Experiências de Elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico no
Estado da Bahia: dificuldades apresentadas, desafios e perspectivas e 5 - Abordagens metodológicas na
Elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico............................................................... 19
6.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ........................................................................... 20
6.2 Propostas e desafios ......................................................................................................................... 22
7. Mesa Redonda 6 - Controle Social de Planos Municipais de Saneamento Básico: Realidade e
Perspectivas ................................................................................................................................................ 24
7.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes ............................................................................ 24
7.2 Propostas e desafios ......................................................................................................................... 28
8. Conclusão ........................................................................................................................................... 29
Apêndice A – Lista de participantes ........................................................................................................... 31
Resumo Executivo
Com objetivo de realizar amplo debate e formular proposições para equacionamento da grave
situação do deficit de saneamento básico no território baiano, o Seminário Política e
Planejamento do Saneamento Básico na Bahia: Desafios e Perspectivas da Implementação congregou, na Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), nos dias 16 e 17 de
julho de 2015, cerca de 300 pessoas compreendendo professores, pesquisadores, promotores de
justiça, auditores, dirigentes e servidores de órgãos públicos federais, estaduais e municipais
responsáveis pela implementação das políticas de saneamento básico, além de parlamentares,
consultores, profissionais e estudantes que atuam na área.
Com transmissão ao vivo pela web e audiência de cerca de 4.000 pessoas, o Seminário foi fruto
de parceria entre o Mestrado em Meio Ambiente, Águas e Saneamento da Escola Politécnica da
Universidade Federal da Bahia (MAASA/EP/UFBA), o Ministério Público do Estado da Bahia
(MPBA), a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental-Seção Bahia
(ABES/BA), o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente no Estado da
Bahia (SINDAE/BA) e a Empresa Júnior de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFBA (ESA
JR.).
Por meio de palestras, apresentações, mesas redondas e profícuos debates, o evento possibilitou
visualizar o cenário de implementação das políticas de saneamento básico no Brasil e na Bahia,
ressaltando o quanto as causas e as consequências do elevado deficit setorial impactam
diretamente o meio ambiente e as populações dos municípios baianos, em especial as mais
pauperizadas.
Com ênfase, o Seminário evidenciou a crítica situação do deficit de elaboração dos Planos
Municipais de Saneamento Básico (PMSB) no estado da Bahia, mostrando o desafio que
representa a efetivação das políticas estruturantes da área e apresentando estratégias para
otimizar os investimentos públicos.
Integraram as mesas de apresentação e debates representantes do Ministério das Cidades
(MCidades), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), do Ministério Público do Estado da
Bahia (MPBA), da Caixa Econômica Federal (CAIXA), União dos Municípios da Bahia (UPB),
secretarias municipais, docentes da UFBA e da Unicamp, personalidades do meio acadêmico e
empresas de consultoria com experiência na elaboração dos PMSB.
Dentre os aspectos abordados nos debates e mesas redondas do Seminário destacam-se:
A implementação de políticas públicas relativas ao saneamento básico carecem de ações
objetivas e diligentes que se traduzam em resultados positivos e consistentes na direção da
universalização do acesso aos serviços. Registra-se que, na atualidade, os processos ocorrem em
ritmo aquém do razoável ao passo que o deficit setorial se agrava de forma assustadora,
denunciando crise de efetividade. Constata-se que a situação decorre de uma conjugação de
fatores de diversas ordens, que vão da morosidade na consolidação de instrumentos legais até a
atribuição de responsabilidades institucionais, passando pela definição de competências, pela
racionalização dos meios e processos metodológicos de consecução e pela necessária interface
com as políticas de desenvolvimento urbano, de saúde e de meio ambiente.
Historicamente, a ausência significativa de coleta e o tratamento inadequado de contribuições
sanitárias (em mais de 70% dos municípios baianos) resulta em poluição e contaminação de
mananciais hídricos, com desastrosas consequências ao meio ambiente e à saúde coletiva.
Entretanto, ressalta-se que a questão sanitária é mais ampla e que o saneamento básico, enquanto
serviço público essencial, também se estende e requer políticas efetivas e integradas para o
abastecimento de água, o esgotamento sanitário, a drenagem e manejo de águas pluviais uranas e
a limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.
Ressalta-se que após quase 20 anos de descaso institucional, a partir do ano 2003 o saneamento
básico no Brasil passou a despertar atenção positiva do Governo Federal, com destaque na
promulgação da Lei nº 11.445/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento
básico e para a política federal de saneamento básico, e aprovação, em 2013, do Plano Nacional
de Saneamento Básico (Plansab), bem como a retomada progressiva dos investimentos públicos
correspondentes e a promulgação da Lei nº 12.305/2010 que institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos.
O Seminário atingiu seu objetivo de discutir a temática, avaliar a situação em seu conjunto,
registrar e destacar as questões decorrentes e associadas e apresentar proposições de ajustes e
adequações nos processos em curso, como estratégia de superação, visando remover entraves e
viabilizar a efetiva implementação das políticas públicas de saneamento básico no Estado da
Bahia. De forma oportuna discutiu-se o panorama de incertezas que se delineia no plano
institucional, com a indefinição de agentes promotores e a confusão dos papéis das organizações
condutoras, atentando inclusive à necessária integração com as políticas de desenvolvimento
urbano, saúde e meio ambiente, sob o espectro ameaçador da redução do protagonismo do
aparelho do Estado, no vácuo da deficiência do planejamento público em escala estadual.
As instituições organizadoras do Seminário, signatárias do presente documento, entendem que os
debates possibilitaram melhor compreensão da situação como um todo, condição que hoje se
configura como um “ciclo vicioso” de questões de ordem política, socioeconômica, institucional,
e metodológica-operacional, aspectos que se retroalimentam em todos os processos, refletindo
ausência de diálogo e de convergência entre as políticas públicas.
Dentre as conclusões e recomendações do Seminário, destaca-se a premente necessidade de
elaboração do Plano Estadual de Saneamento Básico (PESB) e a viabilização dos Planos
Municipais de Saneamento Básico (PMSB). Nesse cenário, torna-se imprescindível estabelecer
mudanças estratégicas que possibilitem a efetiva integração dos órgãos responsáveis pela
implementação das políticas, nas esferas federal, estadual e municipal, superando os entraves e
convergindo a um “ciclo virtuoso” de soluções que possibilite efetivar a política de saneamento
básico, universalizando serviços de qualidade para as populações.
O presente Relatório visa apresentar de forma sucinta os debates ocorridos ao longo do
Seminário, na conferência de abertura e nas seis mesas redondas.
Introdução
Com o objetivo de discutir e analisar criticamente a grave situação do deficit de saneamento
básico no Estado da Bahia, as causas e consequências do cenário em que se encontram os
municípios baianos, em especial as populações carentes e ainda não atendidas, o Seminário
Política e Planejamento do Saneamento Básico na Bahia: desafios e perspectivas da
implementação proporcionou um amplo debate com a sociedade, tanto de especialistas da área,
quanto de representantes de instituições públicas responsáveis pela implementação da política de
saneamento básico.
Saneamento, Saúde e Ambiente são três áreas associadas pela própria natureza de suas múltiplas
interfaces. A cada R$ 1,00 investido em saneamento básico o País economiza, em média, R$
4,00 em saúde. Mas de que saúde estamos nos referindo? A grande maioria dos investimentos
públicos em saúde tem o foco na doença, nas ações médicas curativas. A medicina preventiva,
além de receber apenas uma pequena parcela de investimentos públicos, o faz dissociada das
políticas de saneamento básico e de meio ambiente.
Como então deveriam as políticas de saneamento básico, saúde e meio ambiente interagir para
solucionar problemas coletivos? Que estratégias seriam necessárias para otimizar os
investimentos públicos nessas áreas afins e indissociáveis?
A história recente do saneamento básico tem evidenciado uma mudança de percurso marcado
pela quase ausência da ação do Estado brasileiro. Com o colapso do Plano Nacional de
Saneamento (Planasa) da década de 70 e o fracasso da tentativa de privatização dos serviços nos
anos 90, a partir do ano de 2003, o Brasil passou a contar com um marco legal, com destaque
para a Lei Nacional de Saneamento Básico de 2007, com a retomada dos investimentos via PAC
Saneamento e, no final de 2013, com a aprovação do Plano Nacional de Saneamento Básico
(Plansab).
Entretanto, em termos objetivos, denota-se em todo o País que ações e resultados consistentes na
direção da almejada “universalização” do saneamento básico ocorrem em ritmo bastante aquém
do razoável, ao passo que o déficit da área se amplia, denunciando a crise de efetividade na
política pública da área. Tal situação decorre da conjugação de fatores de diversas ordens, que
vão desde a regulamentação de instrumentos legais até a atribuição de responsabilidades
institucionais, passando pela definição de competências e pela racionalização dos meios e
procedimentos metodológicos. A quem atribuir a responsabilidade pela baixa efetividade na
implementação da política de saneamento básico?
No Estado da Bahia, o panorama de incertezas no saneamento básico se amplifica na indefinição
de agentes promotores e na confusão dos papéis entre as instituições públicas da área, na falta da
necessária interface com as políticas de saúde e meio ambiente, tudo isso sob o espectro da
redução do protagonismo do aparelho estatal, no vácuo da visível deficiência do planejamento
público.
Nesse contexto, o Seminário Política e Planejamento do Saneamento Básico na Bahia:
desafios e perspectivas da implementação representou uma oportunidade de, reunindo
academia, órgãos públicos e sociedade, analisar criticamente o cenário que se apresenta, na
perspectiva de propor estratégias e encaminhamentos objetivos que possam indicar novos
horizontes, visando salvaguardar o meio ambiente, a saúde coletiva e o direito ao saneamento
básico.
Conferência de Abertura - Exclusão e Desigualdade do Acesso ao Saneamento Básico na
Bahia
A Conferência de abertura foi proferida pelo Prof. Luiz Roberto Santos Moraes, PhD, Professor
Titular em Saneamento e Participante Especial do Mestrado em Meio Ambiente, Águas e
Saneamento da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia.
O Prof. Moraes ao considerar o saneamento básico como um direito social e integrante de
políticas sociais ressaltou que no Brasil esse direito não está assegurado. Destacou que as
desigualdades e a exclusão do acesso aos serviços são resultantes do modo de produção
capitalista, da concepção de Estado e das políticas públicas implementadas. Citou Frigotto
(2010), que no âmbito do embate ideológico e político, considera que a “exclusão social”
expressa, o diagnóstico e a denúncia de um conjunto amplo, diverso e complexo de realidades
em cuja base está a perda parcial ou total de direitos econômicos, socioculturais e subjetivos.
Prof. Moraes defendeu que o saneamento básico deve ser garantido a todos, já que se constitui
em uma medida de saúde pública, de proteção ambiental, de infraestrutura urbana e de cidadania,
noções que estão incorporadas na Lei Nacional de Saneamento Básico e também na Constituição
do Estado da Bahia e na Lei Estadual de Saneamento Básico. Ao trazer a noção de saneamento
básico em uma perspectiva mais ampla, o professor se articula com a construção de Souza e
Freitas (2006), que fazem uma importante contraposição entre a visão do saneamento na
perspectiva da prevenção doenças, por um lado e da promoção à saúde, por outro. Na primeira, o
saneamento é visto como uma ação de engenharia no espaço físico e voltada para impedir a
transmissão de doenças por meio da garantia da salubridade ambiental, sendo a saúde entendida
como a ausência de doenças. Na perspectiva da promoção da saúde, o saneamento é uma ação
multidimensional que ocorre em um espaço dinâmico, não apenas físico-natural, mas também
social, cultural, político e econômico, sendo a saúde mais que ausência de enfermidade,
incluindo a qualidade de vida e seus determinantes sociais. O professor destacou que o
saneamento promocional é participativo, adaptativo e intersetorial e visa o empoderamento dos
sujeitos, enquanto que o saneamento para a prevenção de enfermidades é tecnicista, instrumental
e envolve ações intersetoriais restritas ao projeto. Assim, o saneamento promocional seria uma
abordagem mais compatível à universalização dos serviços.
Sobre esse ponto Prof. Moraes fez uma discussão sobre a limitação do conceito de
universalização presente na Lei Nacional de Saneamento Básico. Em sua avaliação, o conceito é
restritivo já que considera a universalização como “a ampliação progressiva do acesso de todos
os domicílios ocupados ao saneamento básico” (art. 3º, Inciso III). Para ele, ao contrário, a
universalização significa o direito de todos os brasileiros a uma ação ou serviço sem qualquer
barreira, seja legal, econômica, física ou cultural, sem discriminações ou preconceitos. Prof.
Moraes também pontuou que o princípio da equidade não foi explicitamente contemplado na Lei
Nacional. Para o professor, a ideia de equidade ultrapassa os limites da igualdade e se aproxima
da noção de justiça social. Nesse sentido, equidade no saneamento significa que todo cidadão
tem direito ao acesso à água limpa, a serviços públicos de saneamento básico de qualidade e ao
ambiente saudável. Para o professor apesar da unanimidade do discurso da equidade, a
desigualdade persiste, demonstrando que outras lógicas estão orientando a formulação e
implementação das políticas públicas.
Ao abordar o conceito de integralidade, Prof. Moraes pontuou que é necessário reforçar as ações
intersetoriais no campo do saneamento básico. A integração não se daria apenas entre as
componentes, mas, sobretudo, entre políticas sociais como as de renda, emprego, educação,
moradia, saneamento básico e saúde. Ele considera que a integralidade pode ser garantida na
formulação e implementação das políticas públicas, no processo de elaboração e implementação
dos planos de saneamento básico e no exercício do controle social.
O professor fez uma breve referência sobre as relações entre as ações de saneamento e a saúde,
destacando estudos que demostraram tais relações. Citando Heller e Nascimento (2005), ele
relacionou os aspectos relevantes para a promoção das ações de saneamento básico: diálogo com
a população, durante a concepção das soluções tecnológicas; diálogo entre gestores e população;
avaliação do serviço; ações intersetoriais, sobretudo com a área de saúde; vigilância
epidemiológica; participação popular e o controle social; e política tarifária inclusiva.
Prof. Moraes fez referência aos deficits de saneamento no País e na Bahia, alertando quanto às
desigualdades regionais, entre os estados brasileiros, entre as áreas urbanas e rurais e entre os
municípios baianos. Explicitou a desigualdade do acesso aos serviços em relação indicadores
sociais como renda, índices de alfabetização e PIB per capita.
O professor finalizou concordando com o historiador Eric Hobsbawm, para o qual a questão
central do século XXI relaciona-se à promoção da distribuição da riqueza por meio de um Estado
radicalmente democrático. Tal Estado seria garantido por meio do combate ao ideário neoliberal
e pela construção de sociedades fundadas nos valores e princípios da igualdade, solidariedade e a
generosidade humana, colocando-se a ciência, a técnica e os processos educativos a serviço da
dilatação da vida para todos os seres humanos.
Mesa Redonda 1 - Estado, Política Pública e Saneamento Básico na Bahia
Coordenador
Eng. Sanit. Amb. Eratóstenes de Almeida Fraga Lima
Debatedores
Prof. Dr. Renato Dagnino – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
Eng. Civ. Abelardo de Oliveira Filho - ex-Secretário da Secretaria Nacional de Saneamento
Ambiental-SNSA/MCidades e ex-Presidente da Embasa
Eng. Civ. Raimundo Freitas - representante do Secretário da Secretaria de Infraestrutura Hídrica
e Saneamento-SIHS
Prof. Dr. Luiz Roberto Santos Moraes - MAASA/EP/UFBA
3.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes
O Engenheiro Civil Abelardo de Oliveira Filho, ex-secretário da Secretaria Nacional de
Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades e ex-presidente da Empresa Baiana de Águas
e Saneamento S/A, realizou uma exposição sobre A Política de Saneamento Básico no Brasil e
na Bahia (1988-2014).
O Eng. Abelardo destacou a responsabilidade constitucional dos municípios quanto à prestação
dos serviços e assinalou a omissão da Carta Magna quanto à prestação de serviços em Regiões
Metropolitanas, ponto que está na ordem do dia diante da complexidade e emergência de
soluções para prestação de serviços nessas regiões e as controvérsias que vêm sendo geradas
sobre a titularidade dos serviços. A partir daí ele fez uma breve abordagem sobre a história
recente da política de saneamento durante o período do presidente Fernando Henrique Cardoso,
destacando os esforços do governo para a privatização dos serviços, em conformidade com a
Reforma do Estado Brasileiro e às políticas do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional. O Eng. Abelardo destacou que esse período foi marcado por intensas
manifestações da sociedade, as quais contribuíram para evitar o avanço do projeto de
privatização. Ao abordar o período de 2003 a 2010, do governo do Presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, ele o considerou como uma “nova página na história do saneamento básico no País”,
em face da retomada dos investimentos, com financiamento das empresas públicas, da aprovação
da Lei de Consórcios Públicos e de sua regulamentação, da aprovação da Lei Nacional de
Saneamento Básico e de sua regulamentação, da aprovação da Política Nacional de Resíduos
Sólidos e de seu decreto regulamentador, e do lançamento em 2007 do PAC, com investimentos
da ordem de R$ 40 bilhões para o saneamento básico. No período do governo Dilma Rousseff
foram destacados os investimentos previstos para o PAC 2 de R$ 55 bilhões, até 2014, o
lançamento do Programa Nacional Água para Todos, a aprovação do Plano Nacional de
Saneamento Básico com investimentos estimados de R$ 508,45 bilhões, o julgamento, em 2013,
pelo Supremo Tribunal Federal das ADI 1842-RJ e 2077-BA sobre o regime jurídico-
constitucional da prestação dos serviços públicos em regiões metropolitanas e o
compartilhamento da titularidade entre municípios e estado, e a aprovação pelo Congresso
Nacional do Estatuto das Metrópoles, que define a gestão compartilhada dos serviços.
Ao abordar a política estadual de saneamento, o Eng. Abelardo fez referência à Constituição
Estadual de 1989, ressaltando as emendas constitucionais do ano de 1999 e a Lei no 7.483/1999,
que visavam transferir a titularidade dos serviços do município para o estado, como mecanismo
para facilitar o processo de privatização da Empresa Baiana de Águas e Saneamento S/A
(Embasa), o que foi fortemente questionado por intensas mobilizações sociais. Ao se referir ao
período mais recente, o engenheiro destacou a retomada da capacidade de investimentos da
Embasa, a partir de 2007, e os esforços para instituir o marco legal do saneamento na Bahia, com
destaque para a aprovação da Lei Estadual no 11.172/2008, para a criação da Agência
Reguladora de Saneamento Básico do estado da Bahia (Lei no 12.602/2012), para a revogação da
Lei no 7.483/1999 que autorizava a privatização da Embasa (Lei n
o 12.810/2013), para a
aprovação da Política Estadual de Resíduos Sólidos (Lei no 12.932/2014), e para a criação da
Entidade Metropolitana da RMS (Lei Complementar no 41/2014). Apesar de ressaltar a
importância da Lei Estadual, o Eng. Abelardo chamou a atenção sobre a falta da sua
regulamentação e destacando a não regulamentação, como previsto na Lei, do Sistema Estadual
de Saneamento Básico e do Sistema Estadual de Informações em Saneamento Básico.
O engenheiro se referiu à fragilidade do controle social da política de saneamento básico na
Bahia, principalmente após a última reforma administrativa que ao criar a Secretaria de
Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS), promoveu o afastamento da instância de controle
social, a Câmara Técnica de Saneamento Básico do Conselho Estadual das Cidades, vinculada à
Secretaria de Desenvolvimento Urbano e órgão com a atribuição de formular a Política e o Plano
Estadual de Saneamento Básico (art. 229 da Constituição do Estado da Bahia). Apesar das
fragilidades da política estadual, o engenheiro destacou os investimentos e ações realizadas em
saneamento básico na Bahia por meio do PAC Saneamento e do Programa Água para Todos,
envolvendo cerca de R$ 7 bilhões, entre os anos de 2007 a 2015.
O Eng. Raimundo Freitas, representante da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento do
Estado da Bahia (SIHS), abordou em sua intervenção as iniciativas do governo estadual no
campo do saneamento básico. Destacou os avanços no Brasil com a Lei Nacional e retomada dos
investimentos e na Bahia fez referência aos investimentos recentes e aos esforços da Sedur na
construção do decreto regulamentador da Lei Estadual de Saneamento Básico. Destacou que
apesar desses esforços o processo foi paralisado e a Lei ainda não foi regulamentada. Tal
paralisação foi justificada pela reforma administrativa e a previsão de revisão da Lei já em
andamento. O engenheiro esclareceu que em janeiro de 2015 foi iniciada a estruturação da
Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento, que se encontra em fase de construção. O
Eng. Raimundo reconheceu o problema da distribuição das competências do saneamento básico
em duas Secretarias e informou que a equipe tem tentado reverter essa situação junto aos
gestores das duas secretarias de governo. Informou ainda sobre a elaboração do Plano de
Segurança Hídrica do Estado da Bahia e também fez referência à necessidade de superar a
concepção de projetos de sistemas de esgotamento sanitário com uma única alternativa
tecnológica, principalmente na área rural. Ao observar a necessidade da definição de modelos de
gestão para o saneamento rural, para garantir a efetividade dos projetos para a melhoria da
qualidade de vida da população, ressaltou a necessidade da busca do fortalecimento da Central
de Associações para a Manutenção de Sistemas Autossustentáveis de Saneamento (I e II, com
sede em Seabra e Jacobina, respectivamente) com a aplicação de recursos e o devido
acompanhamento. Chamou a atenção sobre a resistência ao processo de planejamento, em face
da priorização das obras. Avaliou que a SIHS é nova e por isso tem enfrentado dificuldades por
esta condição. Destacou a previsão de que até final de 2015 a Secretaria esteja com seu
planejamento e previsão orçamentária para aplicação em 2016.
O Prof. Renato Dagnino da Unicamp avaliou que as questões colocadas quanto às injustiças
sociais, às desigualdades econômicas e ao saneamento têm relações com o modo de produção
capitalista, cabendo ao Estado a função de manter e reproduzir as relações sociais desse modo de
produção. Busca-se, na perspectiva do professor, a manutenção do contrato social que permite a
exploração da classe trabalhadora e a manutenção da classe capitalista que detém a propriedade
privada dos meios de produção. Segundo ele, é essa relação desigual e antagônica que determina
a injustiça social e as inequidades. No entanto, o professor considera que é necessário fazer
avançar as políticas públicas, o que implica em reconhecer os limites do planejamento e a
influência dos atores sociais no ciclo das referidas políticas, influência essa que se dá de forma
desigual com forte concentração de poder do capital sobre o trabalho. Para o professor uma das
maneiras para se avançar é o pensamento estratégico e a atuação da esquerda, que deve
desmistificar o planejamento, já que não existe planejamento acima dos interesses das classes
sociais. Prof. Dagnino defende que o Estado não deve planejar e sim resolver problemas por
meio de um processo de conscientização e empoderamento para fazer com que as políticas
públicas sejam mais participativas, democráticas e, portanto, mais justas e menos desiguais. As
tecnologias sociais e a economia solidária na visão do professor poderiam produzir processos
mais justos. No campo do saneamento, o professor acredita que o déficit de ações e serviços
públicos de saneamento básico, que tem origem política, social, econômica, não pode ser
solucionado apenas com tecnologias brasileiras, devendo-se rever a formação dos engenheiros a
qual tem sido voltada para atender aos interesses das empresas. O professor concluiu pontuando
que a produção coletiva dos meios de produção e a autogestão é uma alternativa para a
sociedade.
O Prof. Luiz Moraes fez uma exposição sobre o Saneamento básico na Bahia: desafios da
política, planejamento e controle social. Inicialmente, o professor definiu as políticas públicas,
como ações governamentais dirigidas para resolver determinadas necessidades públicas, cujo
conteúdo depende da concepção de Estado e das relações deste com o capital e a sociedade. Ao
se reportar à política de saneamento básico no Brasil, o Prof. Moraes ressaltou os avanços
ocorridos com a Lei Nacional de Saneamento Básico de 2007, destacando a delimitação das
funções de gestão da prestação dos serviços (planejamento, regulação, prestação e fiscalização,
com o controle social transversal a todas essas funções). Destacou que todos os municípios
brasileiros devem elaborar seus planos de saneamento básico, com participação e controle social,
com conteúdo mínimo atendendo a referida Lei.
Ao tratar sobre a política de saneamento na Bahia, referiu-se às definições da Constituição do
Estado de 1989 e da Lei Estadual de Saneamento Básico (Lei no 11.172/2008), que estabelecem
o direito de todos aos serviços públicos de saneamento básico, entendidos como uma medida de
saúde pública. Ele destacou a luta contra a privatização da Embasa nos anos 90 e os esforços do
governo estadual para retirar a titularidade dos municípios na prestação dos serviços públicos de
saneamento básico, que não obtiveram êxito, tendo-se inclusive a recente revogação da Lei que
autorizava a privatização da Embasa.
Prof. Moraes, ao se referir à Lei no 11.172/2008, destacou que a mesma ainda não foi
regulamentada, sendo necessária a completa instituição do Sistema Estadual de Saneamento
Básico, que é constituído pelos órgãos e entidades do Poder Executivo Estadual, um órgão
Superior, deliberativo, o Conselho Estadual das Cidades; um órgão coordenador, a Secretaria de
Desenvolvimento Urbano (Sedur); e os órgãos executores, e, ainda pelo Sistema Estadual de
Informações em Saneamento Básico. O professor também chamou atenção que a elaboração do
plano estadual de saneamento básico previsto na Lei não aconteceu até o presente, bem como os
planos regionais, e pouco foi realizado para o apoio técnico e financeiro para elaboração dos
planos municipais de saneamento básico conforme estabelecido na referida Lei. Ao se referir à
Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa), Prof. Moraes destacou
que até o momento a Agência não foi estruturada para realizar a regulação e fiscalização da
prestação de serviços públicos de saneamento básico delegados no Estado. Tais fatos, para o
professor, demostram a pouca prioridade dada aos aspectos institucionais do saneamento básico
pelo governo estadual.
O professor abordou sobre os desafios da prestação dos serviços nas regiões metropolitanas, a
partir do Acórdão do STF do julgamento da ADI no 1.842/1998-RJ, em 2013, que decidiu sobre
a titularidade dos serviços em regiões metropolitanas e aglomerados urbanos, a qual deverá se
dar por meio de um órgão colegiado com participação dos municípios pertinentes e do próprio
Estado, sem que haja concentração do poder decisório nas mãos de qualquer ente. Para Prof.
Moraes, o Acórdão abriu espaço para a criação da Entidade Metropolitana da Região
Metropolitana de Salvador (RMS), em 2014, de caráter deliberativo e normativo, que tem a
função de organizar, planejar e a executar funções públicas de interesse comum aos Municípios
da RMS, por meio de uma estrutura de governança composta por um Colegiado Metropolitano,
um Comitê Técnico, um Conselho Participativo e uma Secretária-Geral da Entidade. A sua Lei
de criação (Lei Complementar no 41/2014) estabelece a elaboração do plano setorial
metropolitano de saneamento básico, integrante do Sistema de Planejamento Metropolitano e
cria o Fundo de Universalização do Saneamento Básico da Região Metropolitana de Salvador
(FUSAN), cujos recursos deverão ser aplicados em programas e projetos de saneamento básico
de interesse metropolitano ou de Município da RMS, integrados ou não a projetos de habitação
popular ou de melhoria das condições habitacionais.
Para finalizar, o Prof. Moraes fez referência à reforma administrativa realizada pelo Governo do
Estado da Bahia que promoveu um retrocesso para o campo do saneamento básico. Essa
avaliação foi sustentada pela fragmentação da atuação do governo do Estado com a criação da
Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS), que passou a assumir as atribuições da
Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) quanto ao abastecimento de água e esgotamento
sanitário, cabendo à Superintendência de Planejamento e Gestão Territorial da Sedur a
responsabilidade sobre as ações dos resíduos sólidos. A competência sobre as ações para o
manejo e drenagem das águas pluviais, antes de responsabilidade da Sedur, não foram definidas,
assim como as relacionadas ao saneamento rural. Para ele, a referida reforma resultou na
fragmentação dos componentes do saneamento básico ferindo o princípio da integralidade
previsto no inciso II do art. 8º da Lei Estadual no 11.172/2008 e no inciso II do art. 2º da Lei
Federal no 11.445/2007. Também enfatizou a contradição quanto ao controle social, já que a
instância para o seu exercício estabelecida em Lei, o ConCidades/BA e sua Câmara Técnica de
Saneamento Básico encontra-se na estrutura organizacional da Sedur e não da Sihs.
3.2 Propostas e desafios
Os participantes da mesa apresentaram um conjunto de propostas e desafios que estão sistematizados a seguir:
Quanto à sociedade e as políticas públicas
Construção de uma sociedade voltada à promoção da justiça social, da economia solidária,
da tecnologia social e da autogestão.
Planejamento do Estado na perspectiva da resolução de problemas e na formulação,
implementação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas, com uso de
metodologias de planejamento que permitam a participação democrática da sociedade.
Adoção do pensamento estratégico como meio de construir uma sociedade mais justa,
cabendo à Universidade e aos segmentos progressistas da sociedade o engajamento nas
lutas sociais em direção à justiça.
Avançar no exercício da participação e controle social, promovendo o fortalecimento das
instâncias de controle social.
Quanto aos aspectos políticos e institucionais de saneamento básico
Reconhecimento por parte do Poder Público da sua responsabilidade na garantia do direito
à população das ações e serviços públicos de saneamento básico.
Luta permanente pela redefinição do papel do Estado nas políticas públicas, com controle
do fundo público para garantir os múltiplos direitos e necessidades humanas, incluindo as
ações e serviços públicos de saneamento básico.
Promover a avaliação das diferentes formas de privatização dos serviços públicos de
saneamento básico e o impacto na conquista da universalização.
Estabelecimento de uma efetiva coordenação institucional da política de saneamento
básico do governo federal, integrando e compatibilizando as políticas dos diferentes
componentes do saneamento básico.
Promover a colaboração dos governos federal e estadual com os municípios visando
implementar instrumentos de regulação, fiscalização e controle social.
Garantir a implementação da pública estadual de saneamento básico.
Regulamentar as Leis nos
11.172/2008 e 12.932/2014.
Elaborar e implementar de forma participativa o Plano Estadual de Saneamento Básico da
Bahia, com enfoque estratégico, bem como acompanhar a implementação do Plansab.
Estruturar a SIHS e a Agersa, ampliando, via concurso público, e qualificando os seus
quadros, bem como os demais órgãos do Estado da Bahia relacionados ao saneamento
básico.
Quanto aos recursos para universalização do saneamento básico
Instituir, por meio de Lei Complementar, os fundos de universalização do saneamento
básico como instrumentos de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios.
Viabilizar diversas fontes de recursos, utilizadas de modo articulado, sem qualquer
restrição ou contingenciamento do crédito ao setor público, envolvendo o financiamento e,
principalmente, recursos do Orçamento Geral da União (OGU).
Ampliar os atuais recursos públicos de investimentos e alocá-los de forma responsável,
visando maior impacto social, qualificando o gasto público.
Melhorar a capacidade financeira dos prestadores de serviços e fazer uso da economia de
escala.
Quanto à promoção e prioridades de ações
Adoção de práticas de saneamento básico de forma multidimensional, transversal e
intersetorial, na perspectiva do desenvolvimento sustentável, bem como considerando os
impactos das mudanças climáticas nos sistemas de saneamento básico, adotando-se
soluções técnicas e tecnologias apropriadas à realidade local, tendo como referência as
tecnologias sociais.
Implantar a garantia da salubridade, habitabilidade, mobilidade e regularização fundiária
para atender à população localizada em áreas inadequadas à moradia, visando a sua
permanência ou realocação por meio de ações integradas de saneamento, habitação e
inclusão social.
Integrar as ações de saneamento básico em seus quatro componentes e integrar as políticas
de desenvolvimento urbano, com ênfase em habitação e uso e ocupação do solo, de saúde e
de meio ambiente com a política de saneamento básico.
Fazer o gerenciamento integrado das águas urbanas envolvendo todas as interfaces de
planejamento e gestão, desenvolvendo ações articuladas para a execução de forma
integrada dos serviços públicos de saneamento básico.
Promover a racionalização e eficiência energética em sistema de saneamento básico.
Realizar o planejamento de curto, médio e longo prazos e reduzir o ciclo de execução das
obras/sistemas.
Quanto ao saneamento rural
Promoção do saneamento rural, conforme o Programa Nacional de Saneamento Rural,
previsto no Plansab, priorizando o atendimento do Semiárido brasileiro, da Amazônia
Legal, da bacia do rio São Francisco, das comunidades indígenas, de remanescente de
quilombos, de reservas extrativistas, de áreas de assentamento da reforma agrária e de
populações ribeirinhas, dentre outras.
Definição de modelos de gestão para o saneamento rural, ressaltando a necessidade de
fortalecer o modelo Central de Associações para a Manutenção de Sistemas
Autossustentáveis de Saneamento, com aplicação de recursos e o devido acompanhamento.
Rever as atribuições institucionais estabelecidas pelo novo governo da Bahia para a área de
gestão dos recursos hídricos.
Mesa Redonda 2 - Planejamento na área de saneamento básico: o Plansab, o Plano
Estadual de Saneamento Básico e os desafios para a universalização.
Coordenador
Prof. MSc. Renavan Andrade Sobrinho – Presidente da ABES/BA
Debatedores
Eng. Civ. Alexandre de Araújo Godeiro Carlos – SNSA/MCidades
Enga. Civ. Patrícia Valéria Vaz Areal – Densp/Funasa
Eng. Civ. Raimundo Freitas – representante do Superintendente de Saneamento da Secretaria de
Infraestrutura Hídrica e Saneamento-SIHS
Bel. Karinny V. Peixoto de Oliveira Guedes – Coordenadora da Câmara Temática de
Saneamento do Ministério Público do Estado da Bahia
4.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes
O representante do Ministério das Cidades, Eng. Alexandre Godeiro, durante sua exposição fez
uma retrospectiva histórica do processo participativo de elaboração do Plano Nacional de
Saneamento Básico (Plansab), destacando o seu início em 2008 com a formalização do “Pacto
pelo Saneamento Básico” e as diversas reuniões, encontros e audiências públicas, além da
consulta pública, a aprovação pelos principais conselhos nacionais relacionados com o
saneamento básico e, por fim, a aprovação do Plano por decreto presidencial em 2013.
O Eng. Alexandre destacou que o processo recente de estruturação da ação do Estado no campo
do saneamento básico, começa com a Constituição Brasileira de 1988, passa pelo Estatuto das
Cidades e o marco legal, chegando à aprovação do Plansab em 2013. Foi ressaltado que no
Plansab há o reconhecimento dos desafios para a universalização do acesso aos serviços, dentre
eles o tratamento das diferentes realidades quanto aos aspectos históricos e culturais que exigem
uma abordagem específica na definição das ações e projetos. Considerou-se que os desafios são
mais amplos nas regiões Norte e Nordeste, e, principalmente, para a população não branca, em
face da precariedade das condições de saneamento básico.
Foi apresentado o deficit dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário e manejo
de resíduos sólidos, entre as regiões brasileiras e estados, e destacadas as metas a serem atingidas
pelo Plansab até 2033, com investimentos da ordem de R$ 508,45 bilhões. Evidenciou-se que a
região Nordeste irá demorar mais para atingir as metas da universalização dos serviços.
Foi informado sobre a criação do Grupo de Trabalho Interinstitucional de Acompanhamento da
Implementação do Plano Nacional de Saneamento Básico (GTI-Plansab), responsável pelo
acompanhamento da implementação, pelo monitoramento, avaliação e revisão do Plansab. O
Grupo é composto por entes do Governo Federal, órgãos colegiados como o Conselho Nacional
das Cidades, representação dos trabalhadores, do Poder Público Municipal, do Poder Público
Estadual, de Organizações Não Governamentais, do Movimento Popular, de Entidades
Profissionais, Acadêmicas e de Pesquisa, e, por fim, por segmentos do Empresariado.
Esclareceu-se que o monitoramento e a avaliação do Plansab vêm sendo realizados segundo
cinco dimensões: Cenário, Metas, Indicadores auxiliares, Macrodiretrizes e estratégias, e
Programas. Para que tal avaliação seja feita, o Eng. Alexandre observou que será necessário
dispor de um sistema de indicadores e metodologias capazes de aferir os avanços do acesso aos
serviços, da salubridade ambiental e o desempenho dos prestadores e da gestão dos serviços.
O representante do Ministério das Cidades apresentou os programas de investimentos previstos
no PPA 2016-2019, envolvendo o Programa de Saneamento Básico, que prevê a execução de
medidas estruturais e estruturantes; Programa Gestão de Riscos e Respostas a Desastres, que visa
apoiar a redução do risco de desastres naturais em municípios críticos a partir de planejamento e
de execução de obras; Programa Segurança Alimentar, que busca ampliar o acesso à água; e Programa Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas, que objetiva promover ações
de saúde e saneamento para áreas indígenas.
O Eng. Alexandre também se referiu aos investimentos realizados entre 2007 a 2014 pelo
governo federal, envolvendo PAC I e II, no total de R$ 94,9 bilhões, sendo que 93% destes já
foram contratados, embora apenas 44% tenham sido executados. Foi destacado que entre 2007 e
2015 o Ministério das Cidades selecionou 2.935 ações, totalizando R$ 86,1 bilhões, sendo que
R$ 35,6 bilhões foram executados. Sobre o estado da Bahia foi informado que os investimentos
chegaram a R$ 5,6 bilhões, 41% para esgotamento sanitário, 28% para abastecimento de água e
apenas 0,1% para a elaboração de planos municipais de saneamento básico.
O representante da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento do Estado da Bahia
(SIHS), Eng. Raimundo Freitas, informou sobre a criação da Secretaria em dezembro de 2014,
que tem por finalidade fomentar, acompanhar e executar estudos e projetos de infraestrutura
hídrica, bem como formular e executar a política estadual de saneamento básico. Também
apresentou o organograma da Secretaria, destacando-se a Superintendência de Saneamento e
suas diretorias de Saneamento Urbano e Saneamento Rural. A Companhia de Infraestrutura
Hídrica e de Saneamento da Bahia (CERB), a Empresa Baiana de Águas e Saneamento S/A
(Embasa) e a Agência Reguladora de Saneamento Básico do Estado da Bahia (Agersa), estão
ligadas à SIHS.
Foi informado que a Secretaria pretende retomar a elaboração do Termo de Referência para a
contratação de empresa, via licitação, para a elaboração do Plano Estadual de Saneamento
Básico. Sobre esse ponto esclareceu que durante o governo Jaques Wagner foi iniciado e criado
Grupo de Trabalho para a elaboração do Plano (GT-PESB), que realizou 5 oficinas entre 2013 a
2014.
Sobre o apoio do governo do Estado aos municípios para a elaboração dos planos municipais de
saneamento básico, o Eng. Raimundo destacou que durante o governo Jaques Wagner foram
realizadas oficinas de capacitação para gestores e técnicos públicos e membros de Organização
da Sociedade Civil, envolvendo os 27 territórios de identidade do Estado e contaram com 1.200
participantes. Foi informado que a SIHS pretende elaborar o Plano Regional de Saneamento
Básico do Território de Identidade do Litoral Sul, envolvendo 26 municípios.
A Eng. Patrícia Areal, representante da Funasa-Bsb, fez sua apresentação destacando a
responsabilidade do Ministério da Saúde, por meio da Fundação, quanto à implementação do
Programa de Saneamento Rural, previsto pelo Plansab, em atendimento às diretrizes da Lei
Nacional de Saneamento Básico e com vistas a enfrentar os deficits dos serviços na área rural.
Destacou-se que a diversidade da realidade das áreas rurais representa um grande desafio para a
universalização do saneamento básico, devido às diferenças geográficas, aos conflitos pela posse
da terra, à economia diversificada, à precariedade das condições de vida, às questões ambientais,
o que exige a adoção de um conceito ampliado sobre o “rural”, para além da definição político-
administrativa, sobre o controle social, e a compreensão das características e necessidades das
comunidades rurais nas diferentes regiões brasileiras, integração e interface com outras políticas
públicas e programas de governo, a articulação com os estados e municípios e com sociedade
civil organizada.
A Enga. Patrícia fez referência à população rural, que chega a 30 milhões de pessoas,
concentrada em 10 Estados, incluindo a Bahia que tem a maior população rural do Brasil. Para o
enfrentamento dos deficits, foi observado que a Funasa está elaborando o Programa Nacional de
Saneamento Rural objetivando promover o desenvolvimento de ações de saneamento básico em
áreas rurais, visando à universalização do acesso, por meio de estratégias que garantam a
equidade, a integralidade, a intersetorialidade, a sustentabilidade dos serviços implantados e a
participação social. O Programa envolve três eixos: Tecnologia; Gestão, operação e manutenção
dos serviços; e Educação e mobilização social. Pretende-se atingir até 2033 as metas previstas no
Plansab, sendo 80% de cobertura para o abastecimento de água, 69% para a destinação dos
esgotos e 70% para a coleta dos resíduos sólidos domésticos. O Programa encontra-se em fase de
elaboração pela Universidade Federal de Minas Gerais por meio do Termo de Execução
Descentralizada.
A promotora pública, Bel. Karinny Guedes, representando o Ministério Público do Estado da
Bahia, destacou que a falta de uma política pública de saneamento básico provoca danos ao meio
ambiente, à saúde pública e fere outros direitos do cidadão. Assim, para a Promotora, o
estabelecimento de uma política pública de saneamento básico – entendida como um conjunto de
ações e normas - é essencial para a alteração da realidade atual, sendo a sua formulação um
dever do Poder Público, em especial, do titular do serviço. A omissão quanto a esta
responsabilidade demanda do Ministério Público a adoção de medidas extrajudiciais e/ou
judiciais para fazer cumprir as disposições legais e garantir correta prestação de serviços
públicos. A promotora Karinny chamou a atenção que cabe ao MP a instauração de inquéritos
civis para que seja assegurada a implementação da política pública de saneamento básico, além
da celebração de termos de compromisso de ajustamento de conduta, o ingresso de ações civis
públicas, e, por fim, a mobilização da sociedade para conscientização do problema e participação
no controle social. A promotora esclareceu que dentre as ações que o MP tem desenvolvido
destaca-se: a exigência dos planos de saneamento básico; a regulação e a fiscalização dos
serviços; a verificação da validade dos contratos de prestação serviços, considerando a existência
de plano de saneamento básico, de estudo de viabilidade técnica e econômica do contrato, de
normas legais de regulação dos serviços editadas pelo município, e de entidade de regulação dos
serviços.
A promotora Karinny abordou sobre as responsabilidades dos entes federados em relação ao
saneamento básico, a partir das quais o MP guia as suas ações, destacando que a titularidade dos
serviços é dos municípios, exceto em regiões metropolitanas e aglomerados urbanos, o
financiamento e apoio técnico é atribuição do estado e o financiamento atribuição da União.
Por fim, a mesa concluiu que é preciso uma revisão dos indicadores estabelecidos para
atendimento do saneamento básico no Norte e Nordeste; a elaboração do Plano de Saneamento
Básico da Bahia; a superação da falta de recursos e limites de atuação com os planos municipais
de saneamento; a superação do déficit na elaboração dos planos municipais; a necessidade de
maior alocação de recursos para ampliação e qualificação dos quadros técnicos nas esferas
municipal, estadual e federal; o diálogo entre o titular do serviço e a empresa
delegatária/concessionária quando não há plano municipal de saneamento básico; e a redefinição
de prioridades para viabilizar a elaboração dos planos municipais de saneamento básico,
evitando gastos de recursos públicos.
4.2 Propostas e desafios
Os palestrantes apresentaram um conjunto de desafios e propostas.
Quanto aos desafios:
Ausência de capacidade técnica e financeira dos municípios para elaboração dos planos
de saneamento básico.
Dificuldade de estabelecimento e funcionamento de consórcios públicos.
Falta de conscientização do titular do serviço público quanto às suas competências,
especialmente, de planejamento, regulação e formulador de política pública.
Ausência de destinação de dotação orçamentária para implementação de política de
saneamento básico.
Universalização do saneamento rural.
Controle social.
Compreensão sobre as características e as necessidades das comunidades rurais nas
diferentes regiões brasileiras.
Integração e interface com outras políticas públicas e programas de governo.
Articulação com os estados e municípios e com sociedade civil organizada para
implementar as ações de saneamento básico.
Quanto às propostas:
Articulação e compatibilidade de agendas entre as coordenações técnicas da Funasa.
Necessidade de organização da Funasa visando uma nova estratégia de atuação,
sustentada em ações estruturais e estruturantes.
Articulação institucional no nível central e das Superintendências Estaduais da Funasa.
Levantamento da memória institucional da Funasa quanto às ações já desenvolvidas em
áreas rurais voltadas à sustentabilidade.
Apoiar a implementação de estruturas de gestão permanentes voltadas aos sistemas rurais
de saneamento básico.
Garantir autonomia às comunidades para gestão dos sistemas de saneamento básico.
Reconhecer e respeitar a organização social já existente nas comunidades, quando da
implementação das ações de saneamento básico.
Garantir Planos Municipais de Saneamento Básico compatíveis às realidades das áreas
rurais, conforme necessidades e anseios da população.
Buscar parceiros na União, Estados e Municípios para ampliar e consolidar as ações da
Funasa na área rural.
Mesa Redonda 3 – O papel institucional na elaboração de Planos Municipais de
Saneamento Básico: interesses, conflitos e perspectivas para o atendimento da sociedade
Coordenador
Eng. Sanit. Amb. Rogério Santos Saad
Debatedores
Eng. Civ. Alexandre de Araújo Godeiro Carlos – SNSA/MCidades
Enga. Civ. Patrícia Valéria Vaz Areal – DENSP/Funasa
Enga. Civ. Sandra Maria Pinheiro de Assis – Representante da Gerência de Governo da Filial
Salvador da Caixa Econômica Federal
Profa. Dra. Patrícia Campos Borja – DEA/EP/UFBA
Exmo. Sr. Eng. Civ. Humberto Santa Cruz – Representante da UPB e Prefeito do Município de
Luís Eduardo Magalhães
5.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes
Inicialmente, o representante do Ministério das Cidades, Eng. Alexandre Godeiro, fez referência
às exigências da Lei Nacional de Saneamento Básico para que todos os municípios brasileiros
formulem a política e elaborem o plano de saneamento básico, sendo este último a condição
necessária para a validade dos contratos de delegação dos serviços e para acessar recursos do
governo federal. O Engenheiro destacou a importância dos planos municipais de saneamento
básico, se articulando com o conceito de plano elaborado por Orlando Jr. (2013), para quem o
plano é um pacto socioterritorial entre os agentes políticos, econômicos e sociais para a gestão
do saneamento ambiental, envolvendo a construção do diagnóstico, definição de princípios e
diretrizes, e estabelecimento de prioridades e metas. Apesar da importância desse instrumento de
planejamento, foi informado de que, segundo o IBGE, em 2011, apenas 11% (609) dos
municípios brasileiros declararam possuir Plano, destes, apenas 261 abrangiam os quatro
componentes. Esse indicador é mais baixo na região Nordeste (5,4%). Destacou-se que cerca de
28,2% dos municípios brasileiros declararam dispor de uma política municipal de saneamento
básico, sendo que apenas em 17,3% destes era instituída por lei. Revelou-se que a regulação dos
serviços ainda é um desafio, já que 73% dos municípios não dispunham de qualquer norma,
embora seja necessária para a validação dos contratos de prestação dos serviços. Quanto à
adoção de mecanismos de controle social, observou-se que 56,0% dos municípios brasileiros não
adotaram qualquer mecanismo de controle e, entre os que adotaram, os mais usuais foram
debates e audiências públicas (62,4%), conferências das cidades (41,0%), órgãos colegiados
(24,1%) e consultas públicas (22,7%).
O Eng. Alexandre informou aos presentes sobre os esforços do governo federal para apoiar os
municípios na elaboração dos planos de saneamento básico, com destinação de R$
55.118.368,29, permitindo o financiamento de 71 planos, sendo que até o momento apenas 12
(11%) foram concluídos. Ele finalizou destacando uma série de desafios para a universalização
dos serviços, que serão indicados conjuntamente no próximo item.
A representante da Funasa-Bsb, Enga. Patrícia Areal, apresentou o histórico da atuação da
Fundação no apoio à elaboração de PMSB, que se iniciou em 2006. No total, incluindo entre
2012 e 2014, 699 municípios que foram contemplados com capacitações presenciais, foram
investidos R$ 136.708.065,55. Segundo a engenheira, a atuação da Fundação tem buscado
enfrentar a baixa qualificação técnica dos quadros municipais e para isso seu programa de
capacitação atingiu 2.000 técnicos municipais, por meio de Convênio com a Associação
Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (ASSEMAE), contemplando 1.032
municípios. A Enga. Patrícia observou que a partir de 2013 a Funasa mudou de metodologia de
financiamento para planos municipais de saneamento básico (PMSB), passando a desenvolver
parcerias para a elaboração de planos para um conjunto de municípios, sendo que a primeira
experiência ocorreu com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais
(CREA/MG), contemplando 100 municípios. A partir daí a Fundação deflagra um processo
diferenciado de “capacitação em serviço” de quadros municipais e as superintendências estaduais
passam a identificar potenciais entidades para atuar em conjunto com a Funasa na capacitação de
municípios de cada estado. A capacitação tem sido realizada por meio de Termo de Execução
Descentralizada ou convênios entre a Funasa e entidades afins, sendo realizada em módulos, nos
quais os participantes são capacitados para elaboração dos Produtos do Termo de Referência
elaborado pela Funasa. Ao término de cada módulo e continuidade no módulo subsequente,
espera-se a elaboração e apresentação dos produtos parciais e, por último, o PMSB concluído.
Estão sendo formalizadas parcerias com 16 estados, envolvendo 937 municípios, sendo que 600
já estão em andamento. Os estados mais contemplados são Minas Gerais (150), Maranhão (165)
e Mato Grosso e Goiás (125). A Enga. Patrícia observou que dentre os planos financiados pela
Funasa em todas as categorias, apenas 10,2% estão com produtos aprovados e 26,2% estão em
execução.
Entre os conflitos identificados para o cumprimento do processo de elaboração dos Planos, a
Enga. Patrícia destacou: falta de cultura de planejar; transição nos mandatos eletivos;
dificuldades dos municípios em dotar-se de estrutura técnico-administrativa, gerencial, forte e
eficaz; dificuldade dos gestores municipais em nomear membros para formação dos comitês,
face a escassez de quadros qualificados; dificuldade em sensibilizar/mobilizar a sociedade;
escassez de empresas no mercado com qualificação comprovada e equipe técnica capaz de
auxiliar/assessorar o município; planos municipais prontos vendidos a baixo custo por empresas
de consultoria; municípios desistem da elaboração por achar o Termo de Referência complexo e
declinam do recurso por achar “insuficiente”; expectativa de prorrogação por parte do Governo
Federal do prazo estabelecido para elaboração de PMSB.
A Enga. Sandra de Assis, da Gerência de Governo da Filial Salvador da Caixa Econômica
Federal, esclareceu aos presentes que a Caixa é um banco federal regido por normas e metas que
tem que atender e que é submetido aos órgãos de controle. Falou também sobre os
procedimentos adotados pela Caixa para acompanhar os contratos firmados para a elaboração de
PMSB selecionados pelo Ministério das Cidades. A engenheira destacou que a Caixa dispõe de
um conjunto de normas que devem ser atendidas para que a instituição possa aprovar os produtos
previstos no processo de elaboração dos planos para que as parcelas do financiamento possam
ser disponibilizadas e se o produto entregue está consistente com o que foi contratado. Na análise
são considerados a conformidade, a compatibilidade e a funcionalidade. Relatou que na Bahia 9
municípios estão em fase de entrega dos produtos e que a maioria deles apresenta problema no
terceiro produto (Prognóstico).
A Profa. Patrícia Borja, da UFBA, teceu considerações sobre as dificuldades e oportunidades
para a elaboração dos planos municipais de saneamento básico a partir de quatro perspectivas:
política; institucional; técnica; e social.
A professora destacou que embora a dimensão política esteja longe da governabilidade imediata,
é imprescindível considerá-la para desvelar as relações entre o modelo de desenvolvimento, as
políticas públicas e os instrumentos de planejamento. Assim, pontuou a ascensão do ideário
neoliberal e a fragilização das políticas sociais, o que inclui a de saneamento.
Ela fez referência à ampliação das competências municipais com a Constituição Federal de 1988
que não vieram acompanhadas da capacidade de dar respostas efetivas às questões locais, o que
tem determinado dificuldades tanto em termos da capacidade de investimentos, como condição
institucional-gerencial, influenciando na elaboração dos PMSB. Também foi ressaltado o legado
do Planasa que determinou o afastamento do poder local das intervenções de saneamento básico,
implicando em dificuldades concretas para avançar nos PMSB. O patrimonialismo, a
descontinuidade administrativa, as práticas clientelistas e a corrupção formam também
considerados como elementos que influenciam na elaboração dos planos.
Ao destacar os limites do planejamento como meio de romper uma estrutura social excludente e
desigual, a Profa. Patrícia Borja ressaltou que a capacidade dos PMSB de orientar a ação pública
depende da ação política da sociedade. Assim, a valorização da dimensão política do
planejamento via participação social pode se constituir em uma ação pedagógica para a
apropriação da agenda do saneamento básico pelos sujeitos sociais, ampliando a conscientização
quanto às lutas do saneamento básico. Ela ressaltou que tal valorização poderia ocorrer pela
inclusão das instâncias de controle social na tarefa de elaboração dos planos.
Outra dificuldade apontada pela professora foi a complexidade das ações de saneamento básico
que são multidimensionais exigindo atuação intersetorial em um Poder Público organizado de
forma setorial.
Na dimensão institucional a Profa. Patrícia observou que apesar dos esforços para a capacitação
na elaboração de planos, por parte do Ministério das Cidades e da Funasa, deve-se reconhecer
que estes são ainda marginais e insuficientes para fazer avançar o processo de planejamento nos
municípios. A professora sugeriu a realização de uma campanha nacional sobre o planejamento
em saneamento básico, por meio de um esforço interministerial e sob a condução do MCidades.
A Profa. Patrícia destacou a baixa capacidade técnica, financeira, gerencial e de poder político
para a formulação da política e elaboração dos PMSB por parte dos municípios e as dificuldades
destes para a elaboração de projetos de captação de recursos; o atendimento dos requisitos e
exigências dos órgãos financiadores para acessar os recursos; a realização de licitações e
contratações; e para acompanhar o processo de elaboração dos planos. Soma-se a isso, a
descontinuidade administrativa, as práticas clientelistas e a falta de prioridade política para o
saneamento básico, além da descrença no planejamento.
A professora observou que diante da possibilidade da prorrogação do prazo para a elaboração do
PMSA, seria importante não apenas tratar dos prazos, mas também de estratégias para ampliar as
possibilidades de avanços.
Em relação à dimensão técnica, a Profa. Patrícia destacou a falta da própria prática de
planejamento por todos os atores evolvidos e a carência de profissionais qualificados, tanto nas
prefeituras, como nos órgãos do Governo Federal e Governo Estadual, dos financiadores, dos
prestadores de serviços, das empresas consultoras. Outro ponto destacado foi a dificuldade de
acesso à informação, principalmente dos prestadores de serviços. A complexidade do campo do
saneamento básico foi outro ponto destacado, já que envolve quatro componentes, novos
paradigmas tecnológicos, intersetorialidade, integralidade, tipos de prestador de serviços, lógica
de financiamento, regulação, fiscalização, participação e controle social, o que dificulta o
planejamento das ações, se feito da forma tradicional.
A professora considerou que as metodologias para a elaboração dos planos ainda carecem de
avanços e adequações a cada realidade, não podendo ser homogêneas. Assim, considerou que os
TR devem ser repensados quanto à aplicabilidade às diferentes realidades institucionais, técnicas,
econômicas, sociais, demográficas, condições de saneamento e tipo de prestador de serviço. A
Profa. Patrícia também observou que a prática da elaboração de planos em “batelada” deve ser
cuidadosamente avaliada, isso por que tal prática pode levar a construção de peças meramente
cartoriais, não se constituindo em um real debruçar sobre as realidades locais.
Na dimensão social, a professora ressaltou que é necessário definir estratégias para apoiar os
municípios com deficits maiores, sob pena da inadimplência provocar dificuldades no avanço do
processo de universalização e fez referência às debilidades dos movimentos socais e dos
processos participativos quando da elaboração dos planos. As debilidades foram atribuídas ao
recuo da esquerda e dos movimentos sociais na última década, à falta de conhecimento e
capacitação para participar dos processos de elaboração dos PMSB e aos prazos exíguos de
elaboração, que reduzem a participação efetiva a uma mobilização burocrática. Ela apresentou
algumas propostas que estão apresentadas no item 4.2.
O representante da UPB e prefeito do município Luís Eduardo Magalhães, Eng. Humberto Santa
Cruz, iniciou a sua fala colocando que a Constituição Federal de 1988 retirou receitas e
aumentou as atribuições dos municípios, apresentando em seguida um histórico sobre as
dificuldades que enfrentou para o processo de elaboração do PMSB em seu município, mostrou
as ações e produtos realizados e teceu críticas à forma de fiscalização da Caixa como um
elemento que poderia e deveria facilitar e orientar o processo de forma mais clara, deixando
claro que a “Caixa não tem pessoal capacitado para acompanhar o processo de elaboração do
PMSB”.
Durante o debate foi destacada a necessidade da adequação das exigências de conteúdo do plano
de saneamento básico à realidade de cada município. Também houve questionamento sobre os
indicadores utilizados para o monitoramento e avaliação do processo de participação social da
elaboração dos planos, que foram considerados inadequados e susceptíveis a análises
diferenciadas por cada técnico. Outra questão levantada foi a necessidade de o Ministério das
Cidades realizar um melhor acompanhamento do processo de elaboração dos planos
acompanhados pela Caixa Econômica Federal, em face dos problemas que vêm sendo
enfrentados pelos municípios quanto à forma de análise desta instituição financeira que tem se
mostrado incompatível com as características de uma ação de planejamento. Destacou-se a
necessidade de adotar ações para apoiar os municípios para que eles tenham seus PMSB
elaborados em curto prazo.
Dentre as sugestões realizadas destacam-se a de instituir nos municípios uma zona ou área de
proteção das águas, como meio de garantir a preservação dos mananciais e a realização de
videoconferência entre MCidades, Caixa e UPB/Prefeitura de Luís Eduardo Magalhães visando
resolver os impasses existentes na elaboração do PMSB e aprovação dos produtos.
5.2 Propostas e desafios
Foram apontados como desafios:
Descontinuidade política e técnica nos municípios.
Garantia da efetiva participação e controle social nos processos de elaboração dos planos.
Hierarquização das necessidades.
Articulação com os demais planos (diretor, habitação etc.).
Existência de dados e informações.
Elaboração da documentação necessária para a aprovação dos planos.
Efetividade das ações do plano após elaboração e aprovação.
Das propostas apresentadas destacam-se:
Incrementar os processos de elaboração de PMSB com forte apoio do governo federal e
dos governos estaduais.
Instituir mecanismos normativos para que as instâncias de controle social sejam o lócus
privilegiado dos processos de elaboração dos PMSB. Com isso, atende-se ao Decreto no
8.211/2014 que veda o acesso aos recursos federais e de órgãos da União àqueles
municípios que não instituírem, por meio de legislação específica, o controle social
realizado por órgão colegiado, qualificando tal colegiado, e estabelecendo os caminhos
para a elaboração dos planos.
Promover uma ampla campanha para a elaboração de PMSB participativos, com
coordenação do MCidades, por meio de grupo de trabalho instituído por Decreto, com a
participação da Funasa, do MMA, do MI, MPOG e MS. Tal campanha envolveria
processos de capacitação presencial e a distância, assessoria técnica aos municípios por
meio das instâncias de controle social, financiamento de planos, elaboração e
disseminação de material didático, adoção de ações específicas para a capacitação dos
movimentos sociais, com realização de oficinas como as do PEAMSS.
Capacitação dos técnicos dos governos federal e estadual, com foco naqueles que
participam na fiscalização e no acompanhamento dos processos elaboração de Planos.
Instituir um ambiente web específico e colaborativo para disponibilizar material didático,
vídeo aula, peças técnicas, normas, legislação aplicada, formas de financiamento, relato
de experiências exitosas, fóruns de discussão, e rede de contatos de atores que podem
qualificar a ação: órgãos públicos, ONG, movimentos sociais, grupos de pesquisa de
universidades etc.
Promover um processo de discussão sobre os instrumentos normativos, a exemplo dos
TR, e considerar a incorporação de novas variáveis para possíveis revisões, superando o
tratamento homogêneo da realidade, de forma a alavancar os processos de elaboração dos
planos sem abrir mão da qualidade dos mesmos.
Realizar avaliação qualitativa dos planos elaborados com o apoio financeiro da Funasa.
Integrar o PMSB com os planos de bacia hidrográfica, diretor de desenvolvimento
urbano/municipal, de gerenciamento de resíduos sólidos, de segurança da água e demais
planos estratégicos para o saneamento básico municipal.
Exigir a instituição de instância/colegiado de controle social municipal na elaboração,
revisão e avaliação dos PMSB.
Promover PMSB compatíveis com a real realidade dos municípios, de forma a torná-los
orientadores das ações municipais com vistas à universalização.
Promover o aperfeiçoamento e a adequação da capacidade de gestão dos municípios.
Definição por parte dos municípios de responsáveis pela implementação,
acompanhamento e avaliação dos PMSB.
Compatibilizar os PMSB com os PPA dos municípios.
Incentivar o controle social no processo de elaboração dos planos.
Cobrar dos governos Federal e Estadual a implementação dos sistemas de informação de
saneamento e resíduos.
Mesas Redondas 4 e 5
Mesa Redonda 4 - Experiências de Elaboração de Planos Municipais de Saneamento Básico no
Estado da Bahia: dificuldades apresentadas, desafios e perspectivas
Coordenador
Enga. Sanit. Amb. MP Cristiane Sandes Tosta - Ministério Público do Estado da Bahia
Debatedores
Enga. Civ. Jacilene Rodrigues da Silva Costa – Superintendente da Suest-BA/Funasa
Eng. Sanit. Amb. MP Fernando de Almeida Dultra - Cosmos Engenharia Ltda.
Eng. Civ. MSc. Geraldo Leite Botelho - Saneando Projetos Engenharia e Consultoria
Mesas Redondas 5 - Abordagens metodológicas na Elaboração de Planos Municipais de
Saneamento Básico
Coordenador
Prof. Dr. Luiz Roberto Santos Moraes (MAASA/EP/UFBA)
Debatedores
Eng. Sanit. Amb. Bruno Lopes Assis – NICT/Suest-BA/Funasa
Eng. Sanit. Amb. Danilo Gonçalves dos Santos Sobrinho - Cosmos Engenharia Ltda.
Enga. Sanit. Amb. MSc. Gabriela de Toledo Ataíde – Saneando Projetos Engenharia e
Consultoria
Eng. Civ. Sanit. MSc. Sérgio Luiz Gomes – Consultor
Cabe registrar a ausência de representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da
Bahia (CREA-BA) na Mesa Redonda 4, causando estranhamento aos presentes e implicando em
prejuízos ao debate sobre o Programa Sanear Mais Bahia, de sua responsabilidade, o qual tem
sido objeto de questionamentos em relação às suas metas, objetivos, metodologia e
gerenciamento.
6.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes
Considerando as temáticas tratadas nas Mesas 4 e 5 e verificando a complementariedade entre os
pontos centrais tratados, a relatoria optou por apresentá-las de forma conjunta.
A partir da exposição dos palestrantes foi possível destacar os seguintes pontos mais relevantes:
Os Termos de Referência adotados pela Funasa e MCidades para a elaboração dos planos
municipais de saneamento básico, francamente utilizados como documentos-base à
aferição e à aprovação dos produtos contratados apresentam um significativo grau de
incompatibilidade com as disposições estabelecidas nos convênios e termos de
cooperação celebrados, em especial no que diz respeito ao prazo e custos estimados que
tem se mostrado completamente equivocados e discrepantes da experiência prática .
As limitações para a elaboração dos planos envolvem os prazos disponíveis, os recursos
disponibilizados via convênios e contratos, insuficiência de recursos humanos, nível de
organização social, apoio político-administrativo por parte dos municípios.
Entre os anos 2009 e 2012, a Superintendência Estadual da Bahia (Suest/BA) da Funasa,
celebrou convênios com 33 municípios baianos e com 01 consórcio intermunicipal (três
municípios) visando à elaboração de PMSB. Em 2013, a Fundação firmou Termo de
Cooperação com o CREA/BA para a execução do Programa Sanear Mais Bahia,
objetivando atender 50 municípios com população de até 50 mil habitantes. Os convênios
celebrados totalizaram cerca de R$ 6,94 milhões (56% já liberados) e o Termo de
Cooperação corresponde a R$ 6,89 milhões, 60% dos quais já repassados. Dos
municípios conveniados apenas 3 apresentam seus PMSB concluídos e 23 encontram-se
em processo de elaboração; 4 foram cancelados e os 3 estão paralisados. Com relação ao
Programa Sanear Mais Bahia, os trabalhos foram iniciados em 2014, em 24 municípios
dos 50, e tem enfrentado dificuldades em sua execução, estando o CREA/BA e a Funasa
promovendo avaliações sobre o andamento do referido Termo de Cooperação. A
expectativa da Suest/BA é a conclusão dos PMSB em todos os 50 municípios do
Programa, bem como a entrega, até o ano 2016, dos planos correspondentes a 11 dos 24
convênios que estão em desenvolvimento, inclusive o que foi celebrado com o consórcio
intermunicipal.
Em 2011 o MCidades firmou 13 convênios com municípios baianos visando à elaboração
de PMSB, destes 3 foram cancelados e os demais ainda estão em processo de elaboração,
o investimento previsto é da ordem de R$ 7,5 milhões.
A apreciação dos produtos tem ocorrido de forma burocrática a partir de um conjunto de
itens de aferição ou check-list, o que impõe uma avaliação que desconsidera as realidades
e determinantes locais, dificultando o andamento dos processos.
A baixa celeridade da equipe técnica das instituições financiadoras / fiscalizadoras na
análise dos produtos entregues, da posterior solicitação de ajustes, da aprovação de
relatórios, do pagamento de faturas, impõe dificuldades importantes para a conclusão dos
planos.
As dificuldades já citadas de análise e pagamento dos produtos previstos no processo de
elaboração dos PMSB implicam em: atraso da realização de atividades; descontinuidade
do processo de participação social; e no retardamento no cumprimento da função social
dos serviços públicos de saneamento básico a serem prestados
As dificuldades na obtenção de dados junto aos prestadores de serviços e a incompletude
dos mesmos têm interferido no processo de elaboração dos PMSB. Dados como as
características e situação dos sistemas, intervenções implantadas, a condição de operação
e projeção dos serviços são de difícil obtenção. Por outro lado, tem se constatado
inconsistências dos dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS).
Tais dificuldades têm repercutido negativamente na qualidade dos diagnósticos e dos
demais produtos dos PMSB.
As dificuldades institucionais e de gestão dos municípios vêm influenciando na obtenção
de dados primários necessários à elaboração do diagnóstico situacional e das etapas
consecutivas dos planos. Os Comitês Executivos não têm dado respostas satisfatórias
para enfrentar essa questão.
Os Comitês de Coordenação e Executivo formados nos municípios para a elaboração dos
PMSB têm tido, em sua maioria, atuação insuficiente, tanto do ponto de vista qualitativo
como quantitativo, levando a um baixo grau de envolvimento e contribuição,
contrariando o que preconiza os TR. Registra-se que essa situação leva as empresas
contratadas para a elaboração dos planos a extrapolarem suas funções, ao assumirem
atribuições reservadas aos Comitês em prol do desenvolvimento dos trabalhos. Importa
realçar que essa condição desvirtua o conceito de ação participativa, em movimento
contrário ao desejável exercício do controle social das ações e serviços públicos de
saneamento básico.
A inconsistência na implementação dos Planos de Mobilização Social elaborados e a
baixa eficácia dos mesmos têm sido uma realidade, contrariando as disposições
metodológicas dos TR, os quais preconizam a participação ampla da sociedade
beneficiária nas diversas etapas da elaboração dos PMSB, desde o diagnóstico à validação
do relatório final.
O desestímulo, desinteresse e receio de empresas de consultoria em participar de
licitações tem sido outro fator complicador do processo de elaboração de PMSB. Essa
situação vem sendo determinada pelas diversas dificuldades já apontadas, aliado a pouca
abertura da Funasa e da Caixa em considerar a possibilidade de ajustes das estratégias
metodológicas vigente, assim como aos escopos e aos valores dos convênios, em favor de
justa adequação para a viabilização dos processos.
Há uma reduzida compreensão das administrações municipais quanto a real importância e
o significado social, político e administrativo dos PMSB e de seu papel como instrumento
essencial à promoção da saúde da população e à proteção ambiental.
Com relação ao Programa Sanear Mais Bahia resultante do Termo de Cooperação no
012/2013, firmado entre a Funasa e o Crea/BA, afirmou-se: o Programa, como foi
estabelecido, se mostrou inadequado e inconsistente, verificando-se uma flagrante
impossibilidade de sua continuidade, o que resultou na interrupção do processo e no
impasse quanto ao seu desenvolvimento, implicando, até agora, em prejuízos aos 50
municípios baianos contemplados pela iniciativa.
A estrutura gerencial montada para realizar o Programa Sanear Mais Bahia citado não foi
capaz de, diante dos imensos desafios que se apresentavam pela forma como foi
concebido, promover as avaliações e medidas necessárias para, com o devido apoio
político, institucional e técnico, propor as alternativas existentes para a consecução dos
seus objetivos, quais sejam, a elaboração dos 50 PMSB nos municípios baianos.
A iminência do encerramento do prazo para a elaboração dos PMSB impõe um repensar
sobre as ações implementadas pelas instituições para a elaboração dos planos, diante do
panorama de baixa efetividade dos convênios e contratos celebrados, conforme
evidenciaram os dados apresentados durante o Seminário.
Há a necessidade premente da concepção de um “modelo conceitual estratégico” de
elaboração de PMSB que propicie reverter a situação de baixa efetividade dos convênios
e termos de cooperação.
Há a necessidade óbvia e urgente de participação efetiva do governo estadual nos
processos de elaboração dos PMSB, com o engajamento objetivo e contundente das
secretarias de Estado afins, notadamente a SIHS e a Sedur, além da Embasa e a Cerb,
inclusive conforme preconiza a Lei Estadual de Saneamento Básico no 11.172/2008.
Apesar da autonomia das diferentes equipes em desenvolver suas metodologias para
elaboração dos PMSB, se mostra importante para o sucesso da aplicação das mesmas que
seja considerado na sua definição as características relacionadas ao perfil da população e
dos gestores, aos prazos e custos previstos para o processo, além dos princípios
fundamentais das políticas públicas da área. Essa estratégia aumenta a probabilidade de
se obter efetividade na elaboração dos PMSB.
6.2 Propostas e desafios
A seguir apresenta-se uma síntese propositiva com os desafios e as perspectivas sobre os temas
debatidos, a partir da compilação das proposições dos palestrantes e das manifestações dos
debatedores:
Alertar as instituições responsáveis pela gestão do saneamento básico no País quanto à
premente e necessária revisão dos processos relativos à elaboração de PMSB em face da
baixa efetividade dos contratos, convênios e termos de cooperação. Tal consideração se
sustenta na necessidade de se garantir os avanços para a universalização dos serviços, o
que impõe maior atenção para com o deficit de atendimento que tem penalizado a
sociedade e o meio ambiente.
Promover a avaliação dos termos de referência utilizados como documentos-base para a
elaboração dos PMSB financiados pelo governo federal e também das normas de seleção
e acompanhamento, de forma a realizar adequações que considerem as distintas
realidades dos municípios brasileiros.
Garantir que o estado da Bahia, por meio da Secretaria de Infraestrutura Hídrica e
Saneamento (SIHS), da Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) e da Secretaria
Estadual de Saúde (Sesab) assumam suas atribuições no campo do saneamento básico
não só quanto aos planos municipais de saneamento básico como também ao plano
estadual. Com relação aos planos municipais é urgente a necessidade do engajamento
imediato dos órgãos competentes (Superintendência de Saneamento, Embasa, Cerb,
Agersa etc.) para apoiar técnica e financeiramente os municípios, para equacionar os
conflitos e impasses estabelecidos e para enfrentar a questão da baixa eficiência dos
processos de elaboração no estado da Bahia, o que inclui a realização de intermediações
entre os órgãos da União e os gestores municipais. No contexto da política estadual, faz-
se necessário a garantia da elaboração do Plano Estadual de Saneamento Básico,
instrumento de fundamental importância para constituir o esteio legítimo e apropriado
para a implementação da política pública de saneamento básico estadual com vistas à
universalização.
Promover a definição do escopo do PMSB com mais clareza com relação à componente
manejo de resíduos sólidos uma vez que existe a recomendação formal da elaboração dos
Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) de forma
implícita à elaboração do PMSB, o que impõe a necessidade de se ampliar o conteúdo do
PMSB de forma que explicite o conteúdo mínimo do PMGRIS estabelecido no art.19 da
Lei no 12.305/2010 e no Decreto n
o 7.404/2010.
Responsabilizar, por meio de norma a ser editada, os prestadores dos serviços públicos de
saneamento básico e os órgãos públicos estaduais e federais quando do atraso no
fornecimento do conjunto de dados e informações necessárias para a elaboração do
PMSB e do PMGIRS, com vistas a garantir o atendimento dos cronogramas de execução
dos Planos, conforme exigências dos órgãos financiadores. Tal responsabilização se
justifica pela demora na disponibilização dos dados e informações, o que tem implicando
em atrasos, principalmente na elaboração dos diagnósticos situacionais e operacionais.
Esses atrasos vêm sendo assumidos pelas empresas contratadas, onerando sobremaneira
os custos para a elaboração dos planos e trazendo prejuízos que têm interferido na
participação destas em processos licitatórios. Observa-se que tais informações devem ser
devidamente validadas antes de seu fornecimento, em especial as do SNIS que têm
apresentado importantes inconsistências.
Estimular, quando da elaboração de planos de abastecimento de água e esgotamento
sanitário com apoio financeiro dos prestadores desses serviços, notadamente a Embasa,
que sejam contemplados todos os componentes do saneamento básico, de forma a elevar
o número de municípios com PMSB, como também possibilitar a desejada integração das
ações.
Realizar ações para garantir que as administrações municipais possam viabilizar a
elaboração efetiva dos PMSB, a exemplo: da instauração de um Núcleo Técnico local,
composto por profissionais capacitados, secretaria executiva e apoio, para possibilitar o
desenvolvimento das atividades durante todo o processo de elaboração do plano; da
disponibilização de espaço físico devidamente equipado para a realização das atividades
do Núcleo; da garantia da logística para, dentre outras competências, produzir a coleta e
sistematização, em todo o município, do conjunto de dados primários e informações
sociais necessárias.
Promover a criação ou o fortalecimento das instâncias colegiadas de controle social, para
além das demandas e ações de saneamento básico, conforme exigências da legislação, as
quais podem contar com o Núcleo Técnico ou compô-lo, sendo necessária a definição de
atribuições objetivas, principalmente as relacionadas à elaboração dos PMSB.
Instaurar um programa de capacitação dos Núcleos Técnicos no âmbito da SHIS,
suficientemente amplo e com capacidade de dialogar com as diferentes realidades dos
municípios do estado da Bahia, devendo contar com um escopo que contemple os
aspectos metodológicos da elaboração de PMSB.
Promover processos de elaboração de PMSB considerando a aderência ao estabelecido na
Lei no 11.445/2007, Decreto n
o 7.217/2010 e Resolução Recomendada n
o 75/2009 do
ConCidades, mas também as realidades locais, observando:
O caráter progressivo da elaboração, noção constante na Lei Nacional do
Saneamento Básico, com vistas ao alcance da universalização, também
progressiva, do acesso aos serviços públicos de saneamento básico.
A previsão de ações emergenciais e contingenciais no desenvolvimento dos
PMSB, em especial quanto à segurança hídrica e manejo das águas de chuva.
A integração dos componentes do saneamento básico entre si e com as diretrizes
do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano/Municipal, do Plano Municipal de
Habitação de Interesse Social, do Plano Municipal de Saúde, do Plano municipal
de Meio Ambiente, dentre outros, e da lei de uso e ocupação do solo.
Adoção de tecnologias apropriadas, em especial as de esgotamento sanitário, a
exemplo das fossas sépticas seguidas de poços absorventes; rede coletora
simplificada e ramais condominiais; irrigação subsuperficial de canteiros
longitudinais; unidades compactas de tratamento de efluentes (tipo Dafa e FAN),
dentre outras.
Avaliação apropriada para a definição das alternativas de modelo de gestão para o
manejo dos resíduos sólidos, observando-se as realidades locais, devendo-se
considerar a pertinência ou não da gestão consorciada intermunicipal do ponto de
vista econômico, institucional e ambiental.
A adoção de soluções graduais e progressivas, devidamente operadas e mantidas,
admitindo-se, após análise técnica consistente, a utilização provisória de
estruturas e dispositivos de drenagem de águas pluviais para o lançamento de
efluentes sanitários, conforme previsto no PEMAPES.
A implementação de programas, cursos e oficinas de educação sanitária e
ambiental às comunidades visando garantir a participação efetiva nos processos.
A consideração do reuso das águas residuais, a partir dos efluentes sanitários
tratados.
A previsão, quando for o caso, da implantação de bacias de retenção/detenção de
águas pluviais para o controle dos deflúvios excepcionais, reduzindo a
possibilidade da ocorrência de alagamentos e inundações ribeirinhas.
A consideração da detenção de deflúvios pluviais em seu sítio (lotes, cisternas,
terraços, praças urbanas etc.) por meio da previsão de tanques de acumulação e/ou
trincheiras filtrantes, dentre outros dispositivos compatíveis com a finalidade.
Implementar um programa-piloto de aplicação/utilização de metodologias inovadoras (a
definir) de elaboração dos PMSB orientando/conscientizando os beneficiários à
participação/contribuição objetiva aos métodos alternativos propostos.
Mesa Redonda 6 - Controle Social de Planos Municipais de Saneamento Básico: Realidade
e Perspectivas
Coordenação
Danillo Libarino Assunção - SINDAE
Debatedores
Profa. Dra. Maria Elisabete Pereira dos Santos – NPGA/EA/UFBA
Maria Consuelo Bonfim Brandão - Téc. Assuntos Educacionais - SESAM/SUEST-BA/Funasa
Bel. Fernanda Aguiar - Secretária de Meio Ambiente do Município de Luís Eduardo Magalhães
Socióloga MSc. Ângela Patrícia Deiró Damasceno - Consultora
7.1 Aspectos principais abordados pelos palestrantes
A primeira apresentação, intitulada “Participação e Controle Social”, ofereceu um amplo e
variado significado de conceitos relacionados à participação social, sustentado por renomados
autores, sendo destacadas as diferentes dimensões dos mesmos, sobretudo a política. “Ao se
pensar na prática da construção coletiva, a participação tem um significado político muito claro”,
explicou a Profa. Maria Elisabete Santos.
Foi esclarecido que a participação parte de conceitos estruturantes como os de democracia,
Estado, sociedade civil e esfera pública, sendo necessário compreender os diferentes significados
que esta pode assumir, para os distintos segmentos sociais. A professora chamou a atenção para
o fato de que a generalização dos “conceitos” pode levá-los à perda de seus reais significados.
Mostrou que, de uma forma geral, a participação é interação, é ação social, porém não é neutra.
O que vai conferir o real sentido a uma ação de participação social é o projeto político no qual
esta estará inserida, pois tal projeto, com base em um conjunto de crenças, interesses e
concepções de mundo, é que orientará a ação política dos diferentes sujeitos que nele atuarão.
Continuando sua exposição, a professora levou os participantes a refletir sobre o real potencial
desses processos, nos quais, interesses, não necessariamente “coletivos”, podem ser viabilizados
e legitimados. Prossegue questionando: “em uma sociedade dividida, fragmentada, a esfera
pública resulta da soma dos interesses públicos? Ou privados?” “Como qualificar de forma
adequada interesses públicos e privados?” A Profa. Maria Elisabete lembrou aos presentes o
caráter histórico dessas relações, considerando as práticas autoritárias e conservadoras enraizadas
no âmbito do Estado e da sociedade, e como estas continuam intocadas. Para ela, fora da arena
política, não é possível ir muito longe, no sentido de fortalecer identidades coletivas de caráter
cívico. Na sua avaliação, ganha importância a educação política, que visa à participação do
cidadão, não deixando o poder decisório à tecnocracia.
Dessa forma, defende que a partir do objetivo da participação, do contexto sociopolítico e
regional, da representatividade dos participantes e, sobretudo, do “projeto político” aí inserido, a
participação e o controle social poderão ter como resultado, em suas palavras: “(...) a
conservação, o aprimoramento ou a transformação da sociedade”, contribuindo, ou não, para o
processo de aprofundamento da democracia, que envolve “partilha de poder” visando ao
interesse público.
A partir da exposição e da análise por ela desenvolvida, foram apontados, por fim, os principais
desafios a serem enfrentados, para uma efetiva participação e controle social nas políticas
públicas em geral, e na construção dos PMSB em particular, que serão apresentados a seguir.
Ressalta-se que, dentre os desafios mencionados, pela Profa. Maria Elisabete, ganha destaque o
da “radicalização da democracia”, compreendido como um processo longo, cheio de avanços e
recuos e que depende, fundamentalmente, da capacidade do exercício da cidadania ativa.
A segunda debatedora, a técnica Maria Consuelo Brandão da Funasa, iniciou sua fala mostrando
um panorama geral da participação e do controle social no âmbito da Constituição Federal de
1988 e da Lei no 11.445/2007, destacando o art. 9º, inciso V, que trata do tema. Partindo de uma
ótica institucional, apresentou as ferramentas, visando à operacionalização do controle social nos
municípios em que a Funasa atua. Assim, elencou os itens que constam dos Termos de
Referência (TR) da Funasa para contratação dos PMSB. A técnica Maria Consuelo destacou os
produtos exigidos nos contratos firmados com esta instituição, detalhando aqueles relacionados à
participação e o controle social como, por exemplo, o Plano de Mobilização Social. Sobre esse
último, comentou que, “o plano de mobilização, por si só, não garante o controle social”.
Na continuação, apresentou uma breve síntese dos Grupos de Trabalho formados nos municípios
pelos Comitês de Coordenação e Executivos, enumerando a diversidade dos seus representantes
em cada um deles, cujas funções são de coordenação, apoio técnico e informacional aos seus
membros.
Com base nas experiências vivenciadas pela Funasa, no acompanhamento da implementação dos
PMSB em municípios, a técnica Maria Consuelo finalizou apontando os principais desafios da
realidade no cenário atual da sua instituição, bem como as possíveis perspectivas que, como aqui
já mencionado, são apresentados a seguir.
A terceira debatedora, a Bel. Fernanda Aguiar, secretária de Meio Ambiente do Município de
Luís Eduardo Magalhães, relatou sua vivência nos últimos sete anos à frente da Secretaria,
chamando a atenção para o fato de que ela não tinha qualquer experiência anterior no campo da
política pública. Nomeada para ocupar uma Secretaria Municipal e ciente da imagem negativa do
Poder Público frente à população local, percebeu a necessidade de “(...) um maior
aperfeiçoamento técnico, que permitisse compreender melhor o significado da política pública e
seus fundamentos”. Essa demanda pessoal levou-a, inicialmente, a buscar de um curso de
Especialização em Participação Social. Por meio de uma apresentação espontânea, exemplifica
alguns obstáculos à viabilização de ações, na área do saneamento básico, utilizando como
recurso analítico o exemplo, por ela vivenciado, no então lixão municipal. Na atualidade, afirma
que, por meio do incentivo à formação de uma associação de catadores, a coleta seletiva é feita
em 100% do Município. Para ela, essa experiência mostrou a importância do “(...) apoio aos
menos favorecidos em ações que fortaleçam suas competências”. A secretária Fernanda Aguiar
destacou seu apoio à “(...) educação e capacitação de todos”, numa realidade local onde existem
ainda muitos analfabetos. Além disso, defendeu uma maior aproximação do Poder Municipal
com a população, para a viabilização de ações sob responsabilidade do município
principalmente, objetivando a “(...) criação de laços de confiança”, tão importantes, no seu
entender, para uma real participação social. Por isso, salienta a “importância do gestor público
expressar para a população todas as questões municipais de forma verdadeira”. A secretária
concluiu sua fala, apresentando a experiência de implantação da coleta seletiva de resíduos
sólidos municipal.
A Socióloga Ângela Damasceno, última palestrante da mesa, mostrou outro ângulo de
abordagem, tendo como eixo articulador a experiência empírica, ou a “realidade vivida” na
operacionalização da participação e do controle social, quando da implementação de PMSB.
Diferentes questionamentos são colocados aos presentes, indicando, uma série de possíveis
descompassos: entre “(...) expectativas de universalização de atendimento versus universalização
da mobilização 'versus quantidade de recursos para divulgação/mobilização”; ou entre o direito,
instituindo a participação social e a capacidade dos participantes em exercê-lo; ou ainda, entre o
modelo adotado para a seleção de membros dos conselhos e comitês e a sua legitimidade. Diante
disso, perguntou também: “(...) onde está o poder de decisão no processo de elaboração dos
PMSB?”
Partindo dessas indagações e frente a uma crise de compromisso e confiança pública em
processos participativos, a Socióloga Ângela Damasceno, observou a necessidade de inserir, no
escopo dos Planos de Mobilização Social, ações para uma formação continuada em saneamento
básico, além de um plano de educação ambiental crítica.
Com relação aos indicadores de participação e controle social, ela fez uma crítica sobre a
“adoção de fotos e listas de presença, “tidos como dados quantitativos insuficientes” para
indicar, fielmente, esse processo. Afirmou ainda que essa prática, tão comumente utilizada, é
presença constante em relatórios sobre implementação de políticas públicas que preconizam a
participação social, o que também vem ocorrendo no caso de PMSB. É preciso e possível, incluir
outros indicadores de participação social.
A palestrante narrou então a investigação realizada por ela, durante o Seminário, tendo os
próprios participantes como alvo da sua experiência. O resultado ou “produto” final da sua
pesquisa evidenciou como “um simples convite” a “participação”, considerando a voluntariedade
dos participantes, pode ser entendido de várias maneiras, levando todos aqueles que aceitaram
participar da sua investigação a distintas reações, comportamentos e ou conclusões sobre o que
lhes foi solicitado. Comprovou por meio desse exemplo que uma mobilização visando à
participação exige, não só técnicas e métodos, mas um nivelamento de compreensão e
conhecimento por parte dos atores envolvidos, sobre o contexto no qual esta se dará. Considerou,
ainda, em suas palavras, “(...) as restrições impostas, pela própria história social e política do
Brasil, a esta prática”.
Com base nesse relato, sinalizou também a importância, quando da adoção de ações visando
processos participativos, da necessária atenção com relação ao “tempo a ser disponibilizado aos
participantes para construção de consensos”; “ao acesso à informação”; ao cuidado na utilização
do instrumento de “comunicação”, observando a adequação, tanto na sua forma, quanto no seu
conteúdo; e a necessidade de uma “capacitação prévia” dos envolvidos, questões estas que
podem contribuir para aperfeiçoar os processos participativos.
O tema dessa mesa redonda, Participação e Controle Social de Planos Municipais de Saneamento
Básico, perpassa todo o conteúdo das apresentações das mesas antecedentes, sendo um tema,
pela sua centralidade, decisivo para a implementação das ações dos PMSB.
Do debate apresentado pelos membros da Mesa Redonda 6 e pelos participantes do Seminário
emergiram algumas ideias consensuais. Uma delas diz respeito à necessidade da capacitação para
a participação social, para ampliação do conhecimento e da informação dos cidadãos e dos
responsáveis pela implementação dos PMSB (gestores municipais). Outra ideia consensual
refere-se à forma de seleção dos integrantes para a composição dos Comitês e Conselhos
municipais, de maneira a possibilitar uma maior legitimidade na sua composição.
A partir de princípios e elementos considerados como essenciais para o controle social com um
justo equilíbrio dos representantes, expresso na pluralidade de interesses, pode-se verificar a
qualidade dessas instâncias na construção e definição do interesse comum e no controle das
ações sobre sua coordenação e execução. Esse, por si só, já é um dado relevante.
Sabe-se ainda que as leis, embora sejam um importantíssimo instrumento de defesa dos direitos
sociais e políticos conquistados, elas em si não garantem esses espaços públicos.
São também conhecidas posturas de gestores municipais que ignoram essas instâncias
participativas ou as deliberações nelas ocorridas, entendendo sua existência e funcionamento,
apenas, como um requisito a ser cumprido para o recebimento de recursos federais.
Experiências sobre processos participativos relatados durante os dois dias do Seminário sugerem
que governos, em suas diferentes esferas, não são inclinados a entregar o poder de decisão às
pessoas ou grupos, ao menos, para aqueles que já dispõem de tal poder. Isso também foi
explicitado por uma das debatedoras, quando esta destacou a difícil, porém necessária, “partilha
de poder” em efetivos processos participativos. Por isso, a afirmação utilizada “radicalizar a
democracia” indica que somente pela forma de participação direta é possível conferir poder a
grupos sociais que têm pouca influência sobre o processo de formulação de políticas públicas.
A popularidade que ganhou, em diferentes esferas de governo, a adoção de processos
participativos não reflete, no entanto, a confluência de visões sobre qual o grau - mínimo ou
máximo, que os participantes devem assumir nesse processo. Ao contrário, diferem bastante - a
participação pode ser, por exemplo, apenas no grau mínimo da simples “informação”- tanto no
que se refere à influência sobre decisões, quanto ao perfil de cidadãos ou grupos que interferem
efetivamente nos processos. Essa “indefinição” posta de forma clara faz com que seja muito
importante, como aqui também foi discutido, diferenciar os diversos conceitos e graus atribuídos
à participação e ao controle social, bem como, avaliar os critérios da sua qualidade, expressa em
tradicionais indicadores (fotos, lista de presença etc.) quantitativos que pouco refletem sobre a
sua efetividade.
Pôde-se perceber também como foi mais fácil gerar motivação quando a participação visa à
solução de problemas concretos, como foi o caso do exemplo do lixão e a formação de catadores
para coleta seletiva no município de Luís Eduardo Magalhães na Bahia. O sucesso na resolução
“daquele problema” deu credibilidade às pessoas quanto à importância da ação política, já que as
frustrações sociais abalam à confiança mútua.
Mas, qual será a probabilidade de que as pessoas apoiem processos participativos com questões
menos concretas em foco? Esse questionamento surge em razão dos PMSB, uma questão
abstrata, demandarem um planejamento de longo prazo, nos quais, os retornos aos participantes
são menos imediatos. Qual será a motivação, aos olhos das pessoas, para participar nesses casos?
Arrisca-se, por exemplo, como um caminho, a já referida, também de forma exaustiva neste
Seminário, capacitação e a educação ambiental. Dessa forma, por meio de um maior
conhecimento da realidade, poderá surgir a possibilidade de mudança de percepção sobre os
reais problemas que as pessoas enfrentam, levando ao reconhecimento da ligação de tais
problemas com questões maiores e de mais longo prazo, ganhando assim motivação para
continuar participando, além de adquirir uma nova atitude de integrante no processo de
implementação de PMSB.
7.2 Propostas e desafios
Neste item, como já mencionado, serão elencados os principais “desafios da realidade”,
destacados pelas integrantes da mesa redonda, relativos ao controle social e à participação
identificados quando da implementação dos PMSB, seguido das possíveis “perspectivas”,
também por elas indicadas.
Foram considerados como desafios:
Entender o “convite” do Estado à participação pública e deixar claro os reais significados
(conceitos) da “participação e controle social” adotados quando da elaboração dos
PMSB.
Compreender de forma mais ampla e crítica todo o contexto no qual está inserida uma
política pública, inclusive considerando os cenários diferenciados presentes nas muitas
regiões do País.
Refletir sobre quais são mesmos os interesses aos quais os PMSB atendem, considerando
“quem” define o conteúdo da política pública.
Promover a sustentabilidade das ações de saneamento básico e da saúde de forma
compartilhada.
Dificuldade em nomear membros para os Comitês por falta de quadros qualificados,
disponíveis e comprometidos.
Forma restrita da participação social, limitando-se a processos de consulta e legitimação.
Deficiência da formulação e implementação de políticas públicas e programas efetivos
para responderem às reais demandas sociais.
Imagem negativa do Poder Público frente à população e descrédito por parte da
população em relação ao PMSB, considerado como “documento de gaveta”.
Arena de disputa entre atores sociais com interesses distintos.
Carência de participação das instâncias colegiadas e dos movimentos sociais.
Insuficiência de processos de capacitação e formação em políticas públicas e planos de
saneamento básico.
Insuficiente formação dos profissionais e gestores que conduzem os processos das
políticas públicas nos municípios.
Importância do gestor público expressar questões municipais, de interesse geral, de uma
forma clara e verdadeira.
Insuficiente quantidade de recursos financeiros disponíveis para divulgação e
mobilização social.
Existência de comitês como instâncias constituídas por “decreto”, o que fragiliza o
processo de participação social.
Falta de integração das políticas de saneamento básico com outras políticas relacionadas
e programas já existentes.
Adoção de fotos e listas de presença como indicadores importantes de participação e
controle social sem que estes sejam de fato representativos da qualidade da participação.
Incertezas sobre a legitimidade na composição dos conselhos.
Foram consideradas como perspectivas:
Compreender que a participação substantiva e o efetivo controle social implicam em
radicalizar a democracia.
Ampliação da eficiência e eficácia dos espaços de gestão compartilhada, de forma a
garantir processos participativos adequados.
Dar continuidade às reuniões, conferências e divulgação nos setores de mobilização
social definidos para o processo de elaboração de PMSB.
Adotar programa de capacitação dos membros dos comitês executivo e de coordenação.
Compatibilizar os cronogramas propostos pelos órgãos financiadores dos PMSB com o
tempo suficiente para sua elaboração, considerando a premissa do controle social.
Observar que a participação deve ter uma relação direta com a possibilidade de acesso à
informação devidamente qualificada.
Qualificar as organizações sociais autônomas.
Formulação do Plano de Mobilização Social, de forma que cumpra o seu real objetivo de
promover a participação social, constituindo-se como um instrumento orientador dos
PMSB.
Revisão no modelo de composição dos comitês, com indicação democrática dos seus
representantes.
Adoção de equipes multidisciplinares, em substituição às multifuncionais.
Adoção de uma comunicação utilizando linguagem ajustada à realidade local.
Introdução de um plano específico de “comunicação” nos produtos a serem analisados
pelos agentes contratantes.
Definição de indicadores de participação social, pautados na representatividade, no
debate, no dado qualitativo, entre outros.
Conclusão
O Seminário atingiu seu objetivo de discutir a política e o planejamento do saneamento
básico na Bahia, avaliar a situação em seu conjunto, registrar e destacar as questões
decorrentes e associadas e apresentar proposições de ajustes e adequações nos processos em
curso, como estratégia de superação, visando remover entraves e viabilizar a efetiva
implementação das políticas públicas de saneamento básico no estado da Bahia. As
apresentações realizadas e a rica discussão com os participantes deixou patente o panorama
de incertezas que se delineia no plano institucional, com a indefinição de agentes promotores
e a confusão dos papéis das organizações condutoras, atentando inclusive à necessária
integração com as políticas de desenvolvimento urbano, saúde e meio ambiente, sob o
espectro ameaçador da redução do protagonismo do aparelho do Estado, no vácuo da notória
deficiência do planejamento público em escala estadual.
As instituições/entidades organizadoras do Seminário, signatárias do presente documento,
entendem que os debates possibilitaram melhor compreensão da situação como um todo,
condição que hoje se configura como um “ciclo vicioso” de questões de ordem política,
socioeconômica, institucional e metodológica-operacional, aspectos que se retroalimentam
em todos os processos, refletindo ausência de diálogo e de convergência entre as políticas
públicas.
Dentre as conclusões e as propostas do Seminário, apresentadas neste Relatório, destaca-se a
premente necessidade de elaboração do Plano Estadual de Saneamento Básico (PESB) e a
viabilização dos Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB), realizados em sintonia
com as diretrizes nacionais para o saneamento básico (Lei no 11.445/2007) e da Política
Estadual de Saneamento Básico (Lei no 11.172/2008), bem como a consolidação de estrutura
institucional capaz de fazer frente aos desafios do saneamento básico. Nesse cenário, torna-se
imprescindível estabelecer mudanças estratégicas que possibilitem a efetiva integração dos
órgãos responsáveis pela implementação das políticas, nas esferas federal, estadual e
municipal, superando os entraves e convergindo a um “ciclo virtuoso” de soluções que
possibilite efetivar a política de saneamento básico, universalizando serviços de qualidade
para as populações e contribuindo para a melhoria da salubridade ambiental, devendo ser
lembrado que o prazo para elaboração, de forma participativa, dos PMSB no País, vence em
31/12/2015, segundo o Decreto no 8.211/2014.
É esperado que as instituições da área de saneamento básico e entidades da sociedade civil
interessadas na questão procurem realizar uma reflexão sobre os desafios colocados no
presente Relatório e como superá-los, bem como abracem e implementem as propostas
oriundas do Seminário, visando contribuir para a universalização das ações e serviços
públicos de saneamento básico nos municípios baianos e para o desenvolvimento
institucional da área de saneamento básico na Bahia e no Brasil.
Apêndice A – Lista de participantes
N NOME INSTITUIÇÃO
1 Abelardo de Oliveira Filho EMBASA
2 Adriano Braga dos Santos UFBA
3 Alba V. Amaral Figueredo UESB
4 Albert Tiago Porto Gomes UFBA
5 Alessandra Almeida da Silva Lima CERB
6 Alexandre Godeiro Araújo SNSA/MCIDADES
7 Alexandre Lemos da Costa MINISTÉRIO PÚBLICO
8 Alexsandro dos Santos Reis
9 Alfredo Pinto CERB
10 Alice Carolina Teixeira Silva FEEA
11 Aline Almeida de Jesus Magalhães UFBA/ESA
12 Aline Coelho Nogueira UFBA / PRONENG
13 Aline Linhares Loureiro FUNASA
14 Ana Julia Dantas Pitangueira UFBA
15 Ana Lucia Lage UFBA
16 Ana Lucia Lopes de Oliveira IFBA
17 Ana Maria S. Mendes de Castro SESAB/DIVISA
18 Andrea Marchesini GEOHIDRO
19 Andreia C. Andrade de Siqueira UFBA
20 Anésio Miranda Fernandes SIHS
21 Angela Santana dos Santos EMBASA
22 Angela Patrícia Deiró Damasceno UFBA
23 Antonia Suelly de Jesus Pereira EMBASA
24 Átila Caldas UFBA
25 Aylton Garrido Avarez AUTÔNOMO
26 Barbara de Souza Daltro de Castro PREF.MUN.PEDRO ALEXANDRE
27 Bruno Espinheira da Costa Bomfim UFBA
28 Bruno Lopes de Assis FUNASA
29 Caio de Oliveira WWT
30 Camila Calmon Coata UFBA
31 Camila Moura UNIFACS
32 Camila Oliveira Ribeiro Neiva AGERSA
33 Camila Sampaio Rangoni INEMA
34 Camilo Abeu Simões UPB
35 Carlane Oliveira da Silva UFBA
36 Carlos Alberto Santos Lima Filho Poeta
37 Carlos Alberto da Silva PREF. SERRINHA
38 Carlos Fernando G. de Abreu SIHS
39 Carlos Roberto de C. Heleno GEOHIDRO
40 Carlos Vasconcelos de Souza Filho UFBA
41 Carlos Vicente da Silva Filho SINDEC-PMS
42 Caroline Barros Lima UFBA
43 Cássio Marcelo Silva Castro PMS/SUCOM
44 Christiane Leal Monteiro UCSAL
45 Claudia Sento Sé SOCIOLOGA
46 Claudio Conceição dos Reis UFBA
47 Cornelia Bresslau de Almeida INEMA/DIRUC
48 Cristiane Sandes Tosta MPBA
49 Cristina Seixas Graça MPBA
50 Cristina Vieira Machado EMBASA
51 Daniela Nascimento da Silva FUNASA
52 Daniela Oliveira Moura Lopes CERB
53 Daniela Reitermaier HYDROS
54 Daniele Barreto Lago EMBASA
55 Danielle Sodré da Silva FIEB
56 Danillo Libarino Assunção SINDAE
57 Danilo Gonçalves dos Santos Sobrinho GRS/UFBA
58 Danilo Sales de Queiroz Silva UFBA
59 Davi de Oliveira Pereira FTC-SSA
60 Davi Luan N. da Silva FUNASA
61 Deraldo Conceição Nunes CONCIDADES
62 Diego Lima Medeiros UFBA
63 Diogo Lima Medeiros UFBA
64 Ednaira Porto de Souza UFRB/ESA
65 Edson Antonio de Jesus Silva Mandato do VER.SILVIO HUMBERTO
66 Edson de Jesus Gomes P.M TEODORO SAMPAIO
67 Eduardo Ribeiro Cardoso ARSAL
68 Eduardo Cardoso Garrido SEBRAE/BA
69 Efigenio de Cardoso MUN.ITAETE
70 Elaine Rodrigues FORUM PRO CIDADANIA
71 Elio Campos Muniz SIHS
72 Eliseu Melo Carvalho Lacerda UFRB
73 Eratóstenes A. F Lima UFBA/ECOLOGIA
74 Evanildo P. Lima EMBASA
75 Fernando de Almeida Dultra Cosmos Engenharia
76 Fernanda Barbosa Sodré UFBA
77 Fernanda Aguiar Prefeitura do Município Luís Eduardo Magalhães
78 Fernanda Barretto Maia Santos AREA 1
79 Fernanda Carneiro Campos Sacramento UFBA
80 Fernanda Carolina Brito Pereira UFBA
81 Fernando Wilson Medrado Moura P.M. São Felipe
82 Francisco Chagas Filho
83 Francisco Ramon Alves do Nascimento IFBA
84 Francislei S. A. Santos IFBA
85 Frederico Augusto Miranda da Silva MORINGA CONSULT
86 Gabriel da Silva Rangel UFBA
87 Gabriela Vieira de Toledo Lisboa Ataíde Saneando
88 Gabriel R.B. Ferreira UFBA
89 Gabriela F.S. Passos UFBA
90 Gabriela Marques de Oliveira Vieira CENTRAL SEABRA
91 Gama Rossi UFBA
92 George Dantas Leal CONSÓRCIO PORTAL DO SERTÃO
93 Geraldo de Senna Luz SIHS
94 Geraldo Leite Botelho SANEANDO
95 Gileno da Silva Figueiredo SESP SÃO FELIPE
96 Giselle Maria de Brito UFRB
97 Givaldo Rodrigues dos Santos Lopes P.M. CURAÇÁ
98 Gliomario Catarine Alves Conceição UFBA
99 Golde Maria Stifelman EMBASA
100 Gesmar Julio Marques Maia UFBA
101 Helen Silva Castro Santos PRONENG
102 Hélio M. Lima
103 Henrique Diolino Araújo dos Santos UFBA
104 Hilda Maria Ribeiro Dias EMBASA
105 Humberto Santa Cruz Prefeito de Luís Eduardo Magalhães
106 Iamara Santana Santos MPBA
107 Indira Calhau Martins ENG. CIVIL
108 Irla Gabriella Andrade Sanches AGERSA
109 Irlande Oliveira Moreira de Jesus EMBASA
110 Israel Henrique R. Rios UFBA
111 Itana Barreto TORRE EMPREEND. RURAL E CONSTRUÇÃO
112 Ivan Euler Pereira de Paiva SECIS/PMS
113 Ivanildo Santana Lima AREA 1
114 Jacilene Rodrigues da Silva Costa FUNASA
115 Jackline G. Santos SEC-SAÚDE-MUTUÍPE
116 Jameson Machado Gusmão UFBA
117 Jamile Costa dos Santos UNIFACS
118 Jamille Carvalho R. de Souza SAAE - CATU
119 Jaqueline Teixeira Miranda PRONING
120 Jean Marcelo de Amorim A. Ramos SAAE-CURAÇÁ
121 Jefferson Cerqueira Viana
122 Jessica da Cunha Santos UFBA
123 Jilma Santiago COMAMA
124 Joana Sofia Moreira da Silva UNIJORGE/INEMA
125 Joanice N. Santos EMBASA
126 João Antonio UFBA
127 João Gabriel Santana da Luz
128 João Machado Gonçalves PREFEITURA
129 João Paulo Ribeiro SEMA
130 João Resch Leal PMS / SECIS
131 Joice Campos Pereira ACMON
132 Jonatan Onis Pessoa UEFES
133 Jonatas F. A Sodré UFBA
134 Jorge Rudal da Conceição SEMMADS
135 José Augusto Saraiva Peixoto SECIS/PMS
136 Jose Carlos B. Nascimento SIHS
137 Jose Mattos ARCO
138 Jose Moreira Filho HISH
139 Jose Rodrigues da Silva SEC.AGRICUL. DE IBOTIRAMA
140 José Vicente SANEAR
141 Jossy Mara Simões Cardoso UFOB
142 Juarez A. S. Guerreiro UFBA
143 Júlia Cardoso Sant`Ana INEMA
144 Juliana Fernandes Machado PREF.MUN. POJUCA
145 Juliana Lopes Soares UFBA
146 Juliane F.S de Araújo UFBA
147 Jusenilza Araújo Gusmão CERB
148 Juvenal Bispo de Souza PREF.MUN. SÃO FELIPE
149 Karla Guimarães de Menezes Barreto EMBASA
150 Katiene de Souza Silva EMBASA
151 Kelly Rosane Oliveira
152 Karinny V. Peixoto de Oliveira Guedes MPBA
153 Lafayette Dantas da Luz UFBA/DEA
154 Laís Ventin Monteiro Sampaio UFBA
155 Larissa Navarro Moraes ARSAL
156 Larissa S.F. Barbosa FUNASA
157 Larissa Sá de Oliveira AGERSA
158 Laysa Chistiane Deiró de Lima Gonçalves CODEVASF
159 Lenon Sol de Souza Marques AMBIENTE SUSTENTAVÉL
160 Letícia Silva de Jesus UFBA
161 Leyva Naiara S. ALmeida P.M. DE VALENÇA
162 Lilian Mascarenhas UEFS
163 Lilian Moor Brandão SIHS
164 Lindemberg P. de Mello CERB
165 Lis Correia Barreto UFRB
166 Lívia Duca de Lima SANEANDO
167 Lourenço Sipriano de Sá SAAE-CURAÇÁ
168 Luana Tavares Silva UFBA
169 Luane Borges Machado CONDER
170 Lucas de Oliveira Câmara UFBA
171 Lucas Ventin Monteiro Sampaio INEMA
172 Lucas Virgens dos Santos UFBA
173 Luciana Alencar Cerqueira UFRB
174 Luciana de A.N França FUNASA
175 Luciano Mattos Queiroz UFBA
176 Luís Fernandes Santos
177 Luis Fernando Lima Silva UFBA
178 Luís Gabriel R. de Carvalho UFBA
179 Luiz Jorge Ribeiro de Lima AUDITORIA-MS
180 Luiz Roberto Santos Moraes UFBA
181 Luiz Antônio Souza Teles EMBASA
182 Luiza de Andrade Berndt FUNASA
183 Luliana Santos Reis UNIFACS
184 Macelo Assis FUNASA
185 Marcela Lima Ferreira SANEANDO
186 Marcello Pereira Monteiro PREF.MUN.EUCLIDES DA CUNHA
187 Marcia Jurema Trocoli CONDER
188 Marco Teixeira RK ENGENHARIA
189 Maria Beatriz Meira UFBA
190 Maria Carolina Amorim Peixoto Tosta
191 Maria Clara Lima de Almeida UNIFACS
192 Maria Consuelo Bomfim Brandão FUNASA
193 Maria Cristina Passos Presídio SESAB-DIVISA
194 Maria Elisabete Pereira dos Santos UFBA
195 Maria das Graças de Castro Reis FUNASA
196 Maria de Fátima Barreto da Silva LIMPURB
197 Maria Del Carmen ALBA
198 Maria Eduarda Andrade UFBA
199 Maria Emília Santana FUNASA
200 Maria Nascimento S. Paz APAE APALBA
201 Maria Teresa Chenaud Sá de Oliveira EMBASA / SETUR
202 Maria Valéria Ferreira EMBASA
203 Mariana Gomes Lixa da Silva UFBA
204 Mariha R. Alonso CAMAÇARI/SEDUR
205 Marijane de S. Santos PREF. DE MUTUÍPE
206 Mariluce Domingos Sousa Santos UFBA
207 Marion Cunha Dias Ferreira IFBA
208 Martha Schaer CERB
209 Matheus do Nascimento Santos AREA 1
210 Matheus Henrique Ceuta Passos UFBA
211 Matheus Loureiro Souza UCSAL
212 Matheus Magalhães Gonçalves da Silva UFBA
213 Mauro Moreira Borges SEMAB-EUNÁPOLIS
214 Mayana Mendes FUNASA
215 Meiriane Santos de Lima
216 Miliza Lenita Lopes PREF. MUN. ITABERABA
217 Miquéias Reis da Conceição UFBA
218 Monique de Souza M. Santos UFBA
219 Mozart Santos Estrela CÂMARA DOS VEREADORES DE SALVADOR
220 Nabucodonozor Pires dos Santos COMPDEC
221 Nadja de Carvalho PREFEITURA MUNICIPAL DE SERRINHA
222 Nadja Maida IFBA
223 Naiah Caroline Rodrigues de Souza UFBA/MAASA
224 Naiara Souza de Almeida P.M. VALENÇA
225 Nara Ribeiro Costa Albuquerque Pitanga UFBA
226 Nefretiry Brenda Dantas B UFBA
227 Nicola Khoury Neto NTS
228 Nilson Roque L . Farias INEMA
229 Paloma de Santana França Zacarias UFBA
230 Patrícia Campos Borja UFBA
231 Patrícia Valéria Vaz Areal Funasa
232 Patrícia dos Santos Silva INBEC
233 Patrícia Léa Sampaio UNIJORGE
234 Patrícia Viana Farias de Lima AGERSA
235 Paula Cristina S. Ribeiro SESAB/DIVISA
236 Paulo César Braga UNIJORGE
237 Paulo Roberto Almeida da Silva UFBA
238 Paulo Sérgio de Souza GOV. DO ESTADO da BAHIA/SHIS
239 Pedro Gonçalves N. Neto GEOPOÇOS
240 Pérola de Souza Veiga ENG- AUTÔNOMA
241 Polianna S. Amorim UFBA/PRONENG
242 Quize Maia da Costa CONDER
243 Rafaela Barbosa Fonseca UNEB
244 Rafaela Soares de L. Pinheiro UFBA
245 Raimundo de Freitas Neves SIHS
246 Raisa Gonçalves Ribeiro UFBA
247 Ramon Santos Ferreira AGERSA
248 Ravine T. Galliza UFBA
249 Rebeca Gonçalves de Jesus Santos UFBA
250 Rejane de Almeida Santana Consultora
251 Renata da Silva Freire PREFEITURA DE POJUCA
252 Renato Dagnino Unicamp
253 Renavan Andrade Sobrinho ABES/BA
254 Ricardo José de Castro Maia UFBA
255 Rilda Francelina Mendes Bloisi ARSAL/P.M.S
256 Roberto Cezar Souza Ribeiro INEMA / AREA 1
257 Rodrigo A.M. RIBEIRA DO POMBAL
258 Rodrigo Antonio Matos SEMMA- RP
259 Rodrigo Saldanha da Silva
260 Rogério Santos Saad Consultor
261 Rogério Santos ENG. CIVIL
262 Roméria Carneiro de Campos Sacramento UFBA
263 Roney Souza Costa UFBA
264 Rosiene dos Santos Soares NÃO
265 Rosilei Nascimento de Santana UFBA
266 Saara de Carvalho Boteon UFBA
267 Sabrina Vazquez SIHS
268 Sandra Alves Teixeira FUNASA
269 Sandra Denise Pereira CAIXA
270 Sandra Maria P. de Assis CAIXA
271 Selma São Bernardo Santana ICS/ UFBA / EEMBA
272 Sérgio Luiz Gomes Consultor
273 Sérgio Mateus Pessoa Portela UFBA
274 Sérgio Oliveira Pinto de Assis EMBASA/SIHS
275 Silvana Neuza Pereira Canário SEMA
276 Silvia Leticia Gomes de Melo Castro EEMBA
277 Simone Ribeiro de Souza CONSULPLAN
278 Simone Sousa Simões SIMÕES C SENA ENGENHARIA
279 Sônia Mendes Botêlho SMS
280 Tania Chagas de Araujo Silva FUNASA
281 Tatiane Francisca dos Santos PREFEITURA DE CATU
282 Tereza Rosana Orrico Batista Consultora
283 Thaís Vasconcelos S. de Almeida UFBA
284 Thiago Figueiredo de Oliveira UNIJORGE
285 Thiago Queiroz Guimarães
286 Thiago Santos SEC.MEIO AMBIENTE
287 Tiago Botelho SANEANDO
288 Tiago Rosário da Silva UFBA
289 Tônia Maria D. Vasconcelos SIHS
290 Ubirajara Machado Levi Neto UNIFACS
291 Ubrajara M. Levi Neto UNIFACS
292 Vanessa de L. Vieira P.M.Camaçari / SEDUR
293 Vanessa B. Ramos INEMA
294 Vanessa Britto Silveira Cardoso ABES/BA
295 Vanessa Coppieters
296 Vicky Britto FUNASA
297 Victor Moreira da Silva Vidal UFBA
298 Vilma Santos Pesqueira SINDAE/EMBASA
299 Vinícius Frazão Barreto Alves FUNASA
300 Vinicius Teixeira Brito UFBA
301 Vinnie Estevam Porto FAMEC
302 Virginia Cardoso Lima
303 Vitor Marcel Melo Souza UNIFACS
304 Vitor Pessoa Silva UFBA
305 Viviane Santos de Oliveira SAAE
306 Viviane Silva Vasconcelos EMBASA
307 Wellington José dos Santos CDS COSTA DO DESCOBRIMENTO
308 Winsto Oliveira Santos UFBA
309 Braz INEMA
310 Santos Matos ASS. SÃO JUDAS
311 Ysis Teresa Silva Guimarães
312 Zaide Moreira de Souza FTC
313 Zenite da S. Carvalho Leal FTC
314 Zilda de Jesus Miranda EMBASA