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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO ESPECIALIZAO EM DIREITO AMBIENTAL RODRIGO SANTOS JUNGES

BIOPIRATARIA

BIOPIRACY

Rodrigo Santos Junges Av: TUIUIU, 699, C16 Q13, CPA IV 1 Etapa. 78058-000 Cuiab MT Brasil [email protected] 65 92072260 / 65 3023 8723 Cuiab 2011

RODRIGO SANTOS JUNGES

BIOPIRATARIABIOPIRACY

Trabalho apresentado ao Curso de Direito Ambiental da UNOPAR - Universidade Norte do Paran, para a disciplina Estrutura Poltico Ambiental Brasileira. Prof. Luis Miguel Luzio dos Santos Prof. Luiz Fernando Soares da Sivla Prof. Rita de Cssia Resquetti Tarifa Espolador; Prof. Tais E. de Oliveira Lima

Cuiab 2011

O mundo um lugar perigoso de se viver, no por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer. Albert Einstein

RESUMO DISCUSSO DOS ACONTECIMENTOS RECENTES EM RELAO OS VRIOS CASOS DE BIOPIRATARIA E TRANSFERNCIA DE CONHECIMENTO TRADICIONAL. DISCORRE SOBRE AS LEGISLAES QUE AMPARAM A DEFESA DO CONTEDO GENTICO A FAVOR DOS POVOS INDIGENAS E DE ANTIGOS QUILOMBOS OU ASSENTAMENTOS, QUANTO LESO DE SEU DIREITO DE PARTICIPAO EM LUCROS OBTIDOS COM PATENTES DE ESPCIMES VEGETAIS E ANIMAIS ASSIM COMO MICRORGANISMOS PERTENCENTES AO MATERIAL GENTICO COLETADO NA PLATAFORMA CONTINENTAL BRASILIEIRA. APRESENTA ORGOS GOVENVAMENTAIS QUE REGULAM O SETOR E A SUA PARTICIPAO PARA VIABILIZAR A PESQUISA NO TERRITRIO NACIONAL E INTERNACIONAL. PALAVRAS-CHAVE: Biopirataria, Amaznia, Biodiversidade, MP 2.186-16/2001, Material Gentico. ABSTRACT DISCUSSION OF RECENT DEVELOPMENTS REGARDING THE VARIOUS CASES OF TRANSFER BIOPIRACY AND TRADITIONAL KNOLEDGE. DISCUSSES THE LAWS THAT SUPPORT THE DEFENCE OF THE CONTENT OF THE GENE FOR INDIGENOUS PEOPLES AND SETTLEMENTS AND FORMED QUILOMBOS OR, AS TO THE INJURY OF YOUR RIGHT TO PARTICIPATE IN PROFITS OF PATENTS OBTAINED FROM PLANT AND ANIMAL SPECIMENS AS MICROORGANISMS BELONGING TO GENETIC MATERIAL COLLECTED IN BRAZILIAN CONTINENTAL SHELF. GOVERNING BODIES THAT PRESENTS THE SECTOR AND ITS CONTRIBUTION TO RESEARCH MAKERS FOR THE TERRITORY IN NATIONAL AND INTERNATIONAL MATTERS. KEY-WORDS: Biopiracy, Amazon, Biodiversity, MP 2.186-16/2001, Genetic Materials.

SUMRIO:

1.

Introduo

2.

Desenvolvimento

3.

Concluso

4.

Referncias

Bibliogrficas.

1. IntroduoA biopirataria consiste no ato da retirada ilegal de material gentico, espcies de seres vivos, plantas ou microorganismos com a explorao do conhecimento tradicional de comunidades de uma nao para a explorao comercial em outra, sem pagamento de patente ou participao no lucro. Essa atividade se caracteriza principalmente pelo envio ilegal de animais, plantas e microorganismos, para o exterior, e procuram o controle exclusivo do monoplio sobre estes recursos e conhecimentos. O termo biopirataria, ainda no tem uma definio padro, mas se baseia no relatrio final da CIPR, [AMAZONLINK]. O Brasil, por possuir uma enorme biodiversidade, alvo constante da biopirataria. Segundo a organizao no governamental, Rede Nacional de Combate ao Trfico de Animais Silvestres (RENCTAS), aproximadamente, 38 milhes de animais da Amaznia, mata Atlntica, das plancies inundadas do Pantanal e da regio semirida do Nordeste so capturados e vendidos ilegalmente, o que rende cerca de 1 bilho de dlares por ano [RENCTAS]. A exemplo de retirada ilegal de material gentico, pode-se citar duas plantas da regio amaznica, como o Aa e o cupuau, o primeiro em disputa da sua patente entre a Unio Europia e os EUA, e a segunda, alimento tradicional dos indgenas que foi registrado por uma empresa japonesa e detm os direitos mundiais sobre a fruta e seus derivados. A copaba tambm j foi patenteada por outros pases como Frana e EUA, [AMAZONLINK]. Alguns pases adotaram uma forma de proteger seu patrimnio cultural. A China coleta informaes sobre usos, tradies e costumes nas reas de medicina e agricultura e sugere s comunidades que solicitem patentes para os conhecimentos mais inovadores. A ndia, que quase perdeu a turmrica, quer compilar em uma base de dados todo o conhecimento tradicional disponvel. A Venezuela catalogou em um portal mais de 15 mil referncias. Enquanto isso, o Brasil espera encontrar uma forma de combater a biopirataria durante a COP-10 (CARVALHO, 2010)

Na era da biotecnologia e da engenharia gentica, multiplicam-se as oportunidades de registrar marcas e patentes em mbito internacional. Casos como o do nosso Cupuau, Aa, Copaba e tantos outros patenteados e comercializados no mercado mundial, causando impactos negativos tanto para as comunidades tradicionais que querem comercializar seus produtos, quanto para as propostas de polticas pblicas pautadas no desenvolvimento sustentvel da regio Amaznica. 1 A partir da verso atual da Medida Provisria que a de n 2.186-16 de 2001. regulamentada pelo Decreto n 3.945 de 2001 (modificado pelo Decreto n 4.946/03), o acesso e a remessa do patrimnio gentico bem como o acesso ao Conhecimento Tradicional Associado existente no Pas passou a depender de autorizao do Conselho de Gesto do Patrimnio Gentico, ficando sujeito repartio de benefcios, nos termos e nas condies legalmente estabelecidos; preservou-se o intercmbio e a difuso de componente do patrimnio gentico e do conhecimento tradicional associado praticado entre as comunidades indgenas e entre as comunidades locais, desde que em seu prprio benefcio e baseados na prtica costumeira. Esta legislao no se aplica ao patrimnio gentico humano. Com o credenciamento do IBAMA para emisso de autorizaes de acesso ao patrimnio gentico para pesquisa cientfica, conforme Deliberao n 40 do CGEN, o CGEN passou a deliberar sobre processos que envolvem acesso ao patrimnio gentico para fins de bioprospeco e desenvolvimento tecnolgico, acesso ao conhecimento tradicional associado para quaisquer finalidade, e credenciamento de instituio fiel depositria [CGEN].

2. DesenvolvimentoMuitos autores comentam que a historia da biopirataria, no Brasil, surgiu com a sua prpria descoberta, quando os portugueses obtiveram o segredo da extrao do pigmento vermelho do pau-brasil, subtraindo conhecimentos tradicionais dos povos

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Biopirataria no Brasil: ataque a nossa biodiversidade - http://www.gsf.org.br/?q=node/37.

indgenas nativos. Posteriormente, noticia-se o caso do ingls Henry Wickham, que levou, em 1876, sementes da rvore da seringueira para as colnias Britnicas na Malsia, que acabou se tornando o principal exportador de ltex e dando fim economia amaznica de explorao da borracha (GOMES, 2006).

Recentemente, o IBAMA lanou uma campanha de conscientizao sobre os efeitos danosos da biopirataria. O animal adotado como smbolo da campanha a r Phyllomedusa oreades, de colorao predominantemente verde, encontrada somente no Planalto Central, que traz em sua pele um princpio ativo com potencial para o combate ao Trypanossoma cruzi, parasita causador da doena de Chagas. Ela foi escolhida como forma de denncia simblica devido ao seu patenteamento no exterior. Em diversos sites especializados, em temas ambientais, h ainda a meno a outra espcie de r, o "sapo verde", Phyllomedusa bicolor, que a maior espcie do gnero da famlia Hylidae, e ocorre na Amaznia e no no Planalto Central, mas tambm objeto de biopirataria.2 Os objetivos dos direitos de propriedade intelectual, cercado dos bens comuns, esto sendo universalizados por meio dos tratados sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com o Comrcio, da Organizao Mundial do Comrcio (OMC), e de certas interpretaes da Conveno sobre Biodiversidade. Corporaes utilizam-se dos direitos de propriedade intelectual e pirateiam o conhecimento indgena e a biodiversidade das comunidades. A biodiversidade um capital natural para que as sociedades sejam livres.

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O Controle e a Represso da Biopirataria no Brasil (http://www.ejef.tjmg.jus.br/home/files/publicacoes/artigos/controle_biopirataria.pdf).

Valendo-se da carncia social e econmica das comunidades pessoas que conhecem os mistrios das riquezas naturais - orientam a explorao e o trfico de matria-prima (folhas, sementes, insetos). Os estados brasileiros que mais exportam plantas medicinais so: Paran, Bahia, Maranho, Amazonas, Par e Mato Grosso. Dentre as espcies mais procuradas esto o cumaru, o guaran, a ipecacuanha, o barbatimo, o ip-roxo, a espinheira-santa, a faveira, a carqueja, o absinto selvagem, a babosa. Algumas dessas espcies encontram-se ameaadas de extino.3

O que torna mais grave esta a questo da biopirataria no Brasil o avano crescente da biotecnologia nos pases do primeiro mundo frente a um pas que realiza baixos investimentos nos setores de educao, ensino e pesquisa. Dois enfoques so complementares ao estudo da biopirataria no Brasil, primeiro aes clandestinas de retirada de recursos de nossa biodiversidade. Associando-se a esses atos uma pilhagem promovida no contato direto com comunidades locais que detm conhecimento sobre propriedades de plantas ou animais. E o segundo trata de outra face da biopirataria, repleta de ambigidades e zonas de sombras, relacionada maneira pela qual o Brasil, por meio de seus poderes pblicos, trata essa questo de regulao ao acesso biodiversidade. Embates esses ocorrem principalmente nos planos poltico e institucional, caracterizando prejuzos ao patrimnio gentico do pas, algumas vezes sob abrigo oficial ou oficioso. Um marco para o bem da humanidade e benefcio de cada nao detentora ocorreu quando a Rio 92 aprovou a Conveno sobre Diversidade Biolgica, sendo um reconhecimento de carter estratgico dos recursos de biodiversidade e da necessidade de regular o seu uso. A partir da, o Brasil deveria demonstrar um maior interesse em elaborar a legislao nacional, dada sua privilegiada biodiversidade. Uma3

http://www.anbio.org.br/bio/biodiver_not145.htm

lei adequada seria o primeiro passo para estancar a sangria da biopirataria. A primeira proposta para regulamentar o acesso aos recursos genticos data de 1995, iniciativa que partiu da ento Senadora Marina Silva por meio de um projeto de lei. Esse projeto foi debatido em vrios foros, e subsidiou e ainda tem subsidiado a regulamentao da matria, nacional e internacionalmente. Em 1998 foi aprovado no Senado, na forma do substitutivo do Senador Osmar Dias [PL306/95]. A legislao brasileira para proteo de seu patrimnio gentico ruim, e em decorrncia disso as pesquisas no Brasil sofrem pela confuso entre a cincia e a biopirataria, nossos cientistas ficam impedidos em seus projetos pela precria legislao, que trata o pesquisador como um infrator e cede o livre acesso s nossas florestas, aos turistas estrangeiros que roubam nossa matria prima e o conhecimento da populao nativa.

O Poder Pblico necessita implantar polticas de combate biopirataria no Brasil, e assim protegendo a biodiversidade brasileira da ao dos caadores de genes. Necessita-se de investimentos na realizao de pesquisas, proporcionando o desenvolvimento de novos produtos atravs da utilizao de recursos naturais encontrados no pas.

Pesquisadores que se empenham trabalhando com a biodiversidade brasileira, sofrem com os problemas causados com o endurecimento do governo nas regras contra a biopirataria, pois assim sendo, todos so suspeitos de enriquecimento ilcito em cima do patrimnio biolgico nacional. Passaram uma rasteira na cincia brasileira. No momento de maior avano da biologia molecular, o Brasil ficou para trs.4Com a Medida Provisria 2.18616/2001, ocorreu-se o ponto crtico, onde regulamentou o acesso aos recursos genticos da biodiversidade nacional.

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Miguel Trefaut Rodrigues, da Universidade de So Paulo (USP).

Reconhecendo os problemas da MP 2.186-16/2001, o governo compromete-se em substituir, porm, o projeto, por discrdias nos ministrios, encontra-se parado. Os biopiratas, agindo margem da lei, no se sentem incomodados pela MP 2.186-16. Em contraparte os cientistas incomodam-se, e muito. Um pesquisador no pode aproximar-se de uma folha ou um inseto sem autorizao do governo. No entanto muito mais fcil conseguir autorizao para a derrubada da mata em 20% para os estados do Norte. Nossos pesquisadores no podem trabalhar com a biodiversidade da Amaznia, pois essa atividade tornou-se suspeita. Essa MP criminalizou a pesquisa. No entanto, na aplicabilidade da lei, ainda no se encontra um nico caso comprovado de biopirataria. O pas, na falta de um incentivo pesquisa e aos pesquisadores brasileiros, perde economicamente nos lucros de um princpio ativo que, como no caso do veneno da jararaca (Bothrops jararaca), tornou-se um remdio contra a hipertenso, que um mal do sculo e afeta grande parte da populao mundial. Um laboratrio levou a pesquisa sobre o veneno da jararaca adiante, assim a frmula do Captopril (remdio para hipertensos) existe hoje, caso esse estudo tivesse parado no Brasil com a falta de fomento acadmico, estaria engavetado em uma universidade. Uma patente tanto nacional, quanto estrangeira, sobre um produto da biodiversidade no implica que a lei tenha sido violada. O bilogo Thomas Lovejoy, diz: A pior forma de biopirataria a destruio da floresta.

Na natureza so produzidas molculas fantsticas que inspiram a indstria farmacutica. No entanto, no h trivialidade ao encontrar essas molculas e transform-las em um produto, h sim, pesquisa, organizao e muito investimento. A Medida Provisria 2.186-16/2001 no tornou-se Lei, entretanto o artigo 62 da Constituio Federal que trata das Medidas Provisrias em seus pargrafos 3 e 11, diz: 3 As medidas provisrias, ressalvado o disposto nos 11 e 12 perdero eficcia, desde a edio, se no forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogvel, nos termos do 7, uma vez por igual perodo, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relaes jurdicas delas

decorrentes. (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001). 11 No editado o decreto legislativo a que se refere o 3 at sessenta dias aps a rejeio ou perda de eficcia de medida provisria, as relaes jurdicas constitudas e decorrentes de atos praticados durante sua vigncia conservar-se por ela regidas. (Includo pela Emenda Constitucional n 32, de 2001). Faz-se necessrio projetar polticas pblicas expressas e consensuais, identificando mudanas a curto, mdio e longo prazo, as responsabilidades, os atores e os recursos que as tornem possveis. No suficiente somente uma abertura por parte das instituies para reconhecer, compreender e aplicar de maneira criativa os mltiplos ensinamentos que derivam de uma viso cosmolgica dos povos. Fala-se de sistemas de valores a serem descobertos e compreendidos positivamente e sem preconceitos. Mudar de sistema essencial para permitir acesso, desenvolver produtos e processos e gerar benefcios que possam ser repartidos, voltando para o esprito da Conveno sobre a Diversidade Biolgica que tem sido perdido na regulamentao

criada pelo CGEN. Mudar agora essencial, pois a biodiversidade est ameaada, tanto por mudanas no uso da terra como pelas mudanas climticas cada vez mais evidentes.5 O esforo institucional no ser suficiente se o conjunto da sociedade deixar de assumir este desafio e o torn-lo realidade. No o suficiente que nos convoquem de tempos em tempos para votar, nem que nos convidem a fazer parte de instncias ou organismos onde nossa voz no pode ser ouvida, diluindo-se em um mar burocracia. A exposio da legislao falha pode ser visto de forma clara em um caso de acusao de biopirataria a uma empresa de cosmticos brasileira. OAB, MP e MPF do Par investigam acusao de que a empresa Natura teria usado indevidamente conhecimentos tradicionais na produo do perfume de priprioca, raiz vendida no comrcio popular do Par. A empresa garante que cumpriu a legislao; o caso expe a fragilidade da regulamentao sobre acesso a conhecimentos e repartio de benefcios a comunidades tradicionais.6 H cerca de seis anos, a empresa de cosmticos Natura realizou uma filmagem com vendedoras de ervas e razes do mercado Ver-o-Peso, em Belm do Par, que gerou uma polmica em torno das regras da MP 2.186-16, que regulamentam o processamento comercial de produtos a partir de recursos genticos e conhecimentos detidos por comunidades tradicionais. A filmagem foi para promover o perfume Priprioca que a empresa produz, extrado da raiz de uma planta na regio de Belm do Par. O filme gravava o depoimento das vendedoras, informando sobre o processamento rudimentar da extrao do perfume da raiz. Segundo as feirantes, a Natura teria utilizado seus conhecimentos para elaborar produtos a base da raiz, principalmente o perfume de5 6

http://www.bancoamazonia.com.br/bancoamazonia2/revista/edicao_05/c&d_vol_v_pote_ouro_fim_arco-ir.pdf Acusao de biopirataria contra Natura expe legislao falha, Verena Glass, Reprter Brasil.

Priprioca seis delas haviam assinado um termo de cesso de imagens com a empresa. A Natura responde: Ns reconhecemos que tivemos acesso ao patrimnio gentico da priprioca na comunidade Boa Vista, e estamos fazendo repartio de beneficio com esta comunidade que, alis, uma das fornecedoras de priprioca para a Natura. No caso do conhecimento tradicional, estamos com dificuldade porque se trata de um conhecimento difuso. A legislao manda repartir benefcios quando h acesso a recursos genticos e a conhecimentos tradicionais associados, ou seja, nos casos em que possvel detectar a fonte, diz Egydio, explicando que a priprioca processada por inmeras comunidades e empresas. 7 A legislao que versa sobre o tema uma medida provisria, promulgada em 2001, reconhece as comunidades como portadoras do direito a parte dos lucros advindos de produtos elaborados com materiais ou conhecimentos tradicionalmente utilizados ou desenvolvidos por elas, garantindo tambm uma obrigatoriedade de anuncia prvia para utilizao do patrimnio cultural.

A legislao no trata o tema de forma adequada. Por exemplo, o problema da co-titularidade dos recursos ou conhecimentos no resolvido, ou seja, os casos onde vrias comunidades detm o patrimnio em questo. A empresa Natura estaria esperando do rgo uma definio sobre como remunerar o acesso ao conhecimento difuso, uma vez que as informaes sobre a priprioca teriam sido colhidas em vrios lugares, inclusive na literatura e em centros de pesquisa.(VLEZ, CGEN).

A falta de aes eficientes pautadas pela primazia, impele as possibilidades do povo tirar proveito de sua riqueza, novas polticas imitam modelos antigos tpicos do regime militar que olham o povo com desconfiana e no como parceiro. A idia simples e a viso clara, basta dar as mos e colaborarmos entre si,7

http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=605

muitos pases j fizeram isso, agora a vez de olhar a pessoa inteligente e estudada e pesquisadores como parceiros e no cair na parania americana de terrorismo, isto ao que todos podem ver ocorre apenas em pases ricos, o que no o nosso caso. O povo e o governo so instituies que concorrem entre si enquanto deveriam ser parceiros. A Falta de orientao desenvolvimentista em prol da valorizao do cidado, com um governo literalmente considerando que seu povo no tem direito ser feliz, quando grande parte da populao no partilha do aumento do PIB brasileiro do ltimo sculo, seja com limitaes quanto ao acesso educao laica e pblica e de boa qualidade, seja com o fato de no conseguir fazer a reforma tributria e poltica, o que nos obriga a pagar a maior carga tributria do Mundo, e ter uma administrao falha com leis e decretos revelia de um bom suporte tcnico e constitucional por pessoas imperitas, cuja anlise prvia de impactos de aprovaes de projetos de lei s existe no papel, A vergonhosa situao, implica em vrias fontes de desordem, com medidas sempre emergenciais e improvisadas, como a MP 2.186-16, que atrasou a pesquisa cientfica em pelo menos 10 anos, s agora comea a haver consenso junto aos rgos administrativos competentes como o CGEN, que acabam por ter a obrigao de remendar uma MP ruim, e que oficialmente nunca chegou e ser votada, mas por falta de esforo acaba assumindo status de LEI. A biopirataria, hoje no fruto apenas da falta de fiscalizao e da legislao. Resulta tambm da postura equivocada do governo sobre a utilizao e conservao do gigantesco patrimnio natural do pas - como florestas, gua e solo impedindo assim, que a nossa sociedade alavanque com eficcia para um desenvolvimento que proporcione gerao de emprego, renda e melhoria da qualidade de vida para todos. Por fora de manifestaes organizadas dos cientistas, atualmente est em estudo a substituio da MP 2186-16/2001 por um novo marco legal. Por ora, temos a Orientao Tcnica CGEN n. 06, segundo a qual todas as pesquisas que utilizam a biodiversidade para fins de testes e perspectiva de aplicao industrial, e que antes eram classificadas como bioprospeco e/ou desenvolvimento tecnolgico, seguindo regras mais rgidas, passaram a ser classificadas como pesquisa cientfica.

Tambm existe o indicativo de que as autorizaes de acesso e coleta passem a ser aprovadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), o que me parece bastante adequado. Os processos seriam analisados sob a tica da construo do conhecimento cientfico e julgados, quanto sua relevncia tcnico-cientfica e qualificao dos pesquisadores, dentro de rgidos critrios reconhecidos pela comunidade cientfica nacional e internacional. Essa anlise, inclusive, poderia ser simultnea anlise para a concesso de recursos financeiros, evitando-se duplicao de esforos. No entanto, penso que a participao do Ministrio do Meio Ambiente na avaliao do impacto ambiental de um projeto de pesquisa ou do desenvolvimento de um produto a partir da biodiversidade brasileira de suma importncia. Mecanismos geis, que garantam essa conversa entre o Ministrio da Cincia e Tecnologia e o Ministrio do Meio Ambiente, devem ser intensamente discutidos para o bem da cincia e da biodiversidade nacional [Stela M. K. Rates].

3. Concluses

Amaznia, pulmo do mundo, frase muito dita em todos os meios de comunicao. pulmo do mundo, no no sentido comum do termo, mas sim como a que absorve substncias trazidas como poeira e partculas, da frica e Atlntico. A Amaznia tem a maior biodiversidade do planeta, mas apenas 10 % dela so conhecidas pela cincia. [BEGUOCI, 2009]. Para que toda essa biodiversidade se mantenha em p, viva, e seja til humanidade, necessita-se conhecer, estudar e produzir, a partir de seus princpios ativos, incentivando a pesquisa, propiciando um ambiente acadmico ativo aos nossos pesquisadores, e sim, tambm criando parcerias com outros pases com melhores condies de prosseguir o andamento dessas pesquisas, parcerias essas com lucros financeiros para nosso pas.

6. Bibliografia

[MALTICHIK], Roberto. Grupo de Inteligncia do Ibama e AGU Comea Ofenciva contra Extrao Ilegal de Material Gentico. Disponvel em:

http://oglobo.globo.com/pais/mat/2010/11/06/grupo-de-inteligencia-do-ibama-agucomeca-ofensiva-contra-extracao-ilegal-de-material-genetico-922964733.asp. em: 20/08/2011. [BEGUOCI], Leandro. Biodiversidade o Tesouro Escondido na Selva. Disponvel em: http://veja.abril.com.br/especiais/amazonia/tesouro-escondido-na-selva-p-072.html. Acesso em: 29/08/2011. Acesso

[CAPIBERIBE], Janete, BAGLIONE, Marcelo, SILVA & SHIVA, , Marina Silva Vandana. Biopirataria. Disponvel em:

http://ambientes.ambientebrasil.com.br/biotecnologia/artigos_de_biotecnologia/biopirata ria.html. Acesso em:29/09/2011.

[FRANCISCO], Wagner de Cerqueira e. Biopirataria no Brasil. Disponvel em: http://www.brasilescola.com/brasil/biopirataria-no-brasil.htm. Acesso em 30/09/2011. [CARVALHO], Ana Paula. Biodiversidade e Biopirataria, publicado em: 21/10/2010, disponvel em: http://sustentabilidade.ogerente.com.br/biodiversidade-biopirataria-

preservacao/. Acesso em: 29/09/2011. [GOMES], Rodrigo Carneiro. O Controle e a Represso da Biopirataria no Brasil . Disponvel em:(http://www.ejef.tjmg.jus.br/home/files/publicacoes/artigos/controle_biopirataria.pdf. Acesso em: 28/09/2011.

[GSF] Biopirataria no Brasil: ataque a nossa biodiversidade. Publicado em: 05/01/2010. Disponvel em: http://www.gsf.org.br/?q=node/37. Acesso em: 29/09/2011.

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