Faculdade de Cincias da Educao e da Sade FACES
Curso de Psicologia Matutino
Possibilidades de Avaliao Psicolgica do Transtorno de
Personalidade Anti-social: alcances e limitaes
PATRCIA COROA DO COUTO
Braslia
Dezembro/2009
ii
PATRCIA COROA DO COUTO
Possibilidades de Avaliao Psicolgica do Transtorno de
Personalidade Anti-social: alcances e limitaes
Monografia apresentada ao
Centro Universitrio de Braslia
UniCEUB, como requisito bsico
para a obteno do grau de
Psiclogo da Faculdade de
Cincias da Educao e da Sade
FACES.
Professor-Orientador: Frederico
G. Ocampo Abreu
Braslia, dezembro/2009.
iii
Faculdade de Cincias da Educao e da Sade FACES
Curso de Psicologia Matutino
Esta monografia foi aprovada pela
comisso examinadora composta por:
_______________________________
Frederico G. Ocampo Abreu
_______________________________
Otvio de Abreu Leite
_______________________________
Carlene M. Dias Tenrio
A meno final obtida foi:
_____________________
Braslia, dezembro/2009.
iii
Dedico este trabalho minha me,
por seu interesse pelas contribuies dele
e cuja trajetria familiar me serviu de inspirao.
iv
AGRADECIMENTOS
Sendo este o ponto convergente de anos buscando um objetivo, h muito o que
agradecer e muitos a quem agradecer.
s velhas amigas-irms e aos novos amigos conquistados pelo caminho,
agradeo pela ternura de estarem ao meu lado sempre e de fazerem da minha trajetria
acadmica to prazerosa e inesquecvel.
Aos professores, por sua paixo, sempre objeto de minha admirao, e por assim
me apresentarem um mundo de possibilidades.
minha famlia, absolutamente, por tudo.
banca examinadora, pela ateno dispensada a este trabalho, em tempos
conhecidamente difceis.
Por fim, sou grata ao professor Frederico Abreu, que ajudou a tornar essa
jornada mais leve, demonstrando prontido, pacincia e, principalmente, confiana em
mim.
v
Eles sabem a letra, mas no a msica*
*Kiehl, Hare, McDonald & Brink, 1999, citados por Morana, Stone & Abdalla-Filho, 2006, referindo-se a
psicopatas. [Traduo livre]
vi
SUMRIO
Resumo....................................................................................................................... ...................vii
Introduo................................................................................................................... ..................08
Captulo I Psicopatia...................................................................................................................10
1.1. Histrico do conceito, DSM e CID-10...................................................................................10
1.2. Perverso e perspectiva psicanaltica......................................................................................14
1.3. Caractersticas e sintomas.......................................................................................................18
Captulo II Avaliao Psicolgica..............................................................................................22
2.1. Psicodiagnstico........................................................................................................ .............23
2.2. Entrevista Clnica...................................................................................................................25
2.3. Testagem Psicolgica.............................................................................................................29
Captulo III Alcances e limitaes da avaliao do
Transtorno de Personalidade Anti-social ................................................................................... 31
3.1. Hare PCL-R ....................................................................................................................... 32
3.2. MMPI e MMPI-2 ............................................................................................................... 34
3.2.1. Sobre o uso conjunto do MMPI e o PCL-R.....................................................................39
3.3. Testes do Mtodo Projetivo........40
3.3.1. TAT..41
3.3.2. Rorschach.............................................................................................................................43
3.4 Outros instrumentos.....45
Consideraes Finais.49
Referncias........................52
vii
RESUMO
Com o objetivo de promover uma discusso acerca de sua aplicabilidade, limitaes e
contribuies, so apresentados alguns dos instrumentos mais usualmente encontrados
na literatura, no que concerne avaliao do transtorno de personalidade anti-social.
Traa-se, primeiramente, um panorama sobre a conceituao do transtorno, suas
caractersticas e sintomas, apresentando-se, a seguir, constituintes da avaliao
psicolgica, realizando um recorte para o psicodiagnstico e testagem psicolgica. Por
fim, uma breve anlise de cada instrumento aqui selecionado d suporte discusso
sobre sua utilizao. A adaptao apropriada ao contexto brasileiro e as divergncias de
adequao quanto aos mtodos utilizados na avaliao da personalidade, bem como a
escassez de instrumentos validados no Brasil, constituem um desafio para a prtica do
psicodiagnstico. Portanto, a eficcia da avaliao psicolgica pode, assim, ser mais
facilmente alcanada quando se utiliza uma composio de meios e fontes mltiplas de
obteno de informaes, incluindo a observao, os diversos instrumentos de
avaliao, as entrevistas com familiares, o histrico clnico e demais possibilidade de
obteno de dados.
Palavras-chave: transtorno de personalidade anti-social; psicopatia; avaliao de
personalidade; psicodiagnstico.
8
A prtica de avaliao psicolgica de transtornos de personalidade e, mais
especificamente, do transtorno de personalidade anti-social, abrange diversos aspectos e
possibilidades de tcnicas, instrumentos, mtodos, bem como de abordagens em que
esses se fundamentam.
Entretanto, a diversidade deste tipo de avaliao apresenta dificuldades que
podem trazer limitaes, restringindo seu uso. Isso pode ser observado quando se
considera os objetivos especficos da cada avaliao, a questo da confiabilidade,
preciso e especificidade dos instrumentos, a subjetividade qual as interpretaes dos
dados esto suscetveis, a experincia requerida para utilizao de alguns instrumentos
mais complexos e, ainda, as variveis do contexto em que o examinando est inserido.
Assim, traa-se, primeiramente, um panorama sobre a conceituao do
transtorno, suas caractersticas e sintomas, apresentando-se, a seguir, constituintes da
avaliao psicolgica, realizando um recorte para o psicodiagnstico e testagem
psicolgica. Por fim, uma breve anlise de cada instrumento aqui selecionado d suporte
discusso sobre sua utilizao.
Dessa maneira, o objetivo deste trabalho expor alguns dos instrumentos mais
usualmente encontrados na literatura, no que concerne avaliao do transtorno de
personalidade anti-social, promovendo uma discusso acerca de sua aplicabilidade,
abrangncias e limitaes.
Justifica-se a relevncia e pertinncia deste trabalho pelas divergncias de
adequao quanto aos mtodos utilizados na avaliao da personalidade constiturem
um desafio para a prtica do psicodiagnstico. Acrescentam-se a isso os problemas
relativos escassez de instrumentos validados no Brasil, bem como a adaptao
apropriada ao contexto brasileiro (Nunes, Nunes & Hutz, 2006).
9
A eficcia da avaliao psicolgica pode, assim, ser mais facilmente alcanada
quando se utiliza uma composio de meios e fontes mltiplas de obteno de
informaes, incluindo a entrevista (Nunes, et al., 2006). Para isso, os critrios da
avaliao psicolgica devem estar claros ao profissional avaliador, incluindo as
implicaes das perspectivas tericas que os norteiam e, sobretudo, o processo
integrado das etapas (Cunha, 2002; Pasquali, 2001).
O captulo I deste trabalho dedicado discusso acerca do histrico do
conceito de psicopatia, aqui compreendido como transtorno de personalidade anti-
social, abordando as diversas acepes do termo, da perspectiva psicanaltica e
correlao entre perverso e psicopatia, bem como da caracterizao e semiologia do
transtorno.
O captulo II enfoca a prtica da avaliao psicolgica clnica, destacando o
processo psicodiagnstico. A entrevista clnica e a testagem psicolgica, caracterizadas
como etapas fundamentais deste processo, so ento brevemente descritas e analisadas.
No captulo III so consideradas algumas das tcnicas mais exploradas e mais
presentes na literatura de avaliao do transtorno de personalidade anti-social: o PCL-R,
o MMPI, o TAT, o Rorschach e outros instrumentos (HTP e inventrios), bem como o
uso combinado de alguns deles. A partir disso, discutem-se algumas implicaes de sua
utilizao, concernentes aos alcances e limitaes.
10
CAPTULO I
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI-SOCIAL
1.1. Histrico do conceito, DSM e CID-10
Ao longo da histria, o conceito de psicopatia sofreu modificaes, adaptadas ao
contexto em que surgiam, buscando uma melhor compreenso e definio do fenmeno,
que aqui denominado transtorno de personalidade anti-social. Holmes (1997) introduz
um panorama histrico acerca desse conceito, mencionando o termo insanidade sem
delrio (p.311), referido por Pinel em 1806, para os indivduos que apresentavam
comportamentos inapropriados, sem ter, porm, outros sintomas tradicionalmente
associados ao comportamento anormal.
Shine (2002), por sua vez, faz aluso s contribuies das escolas de psiquiatria
francesa, alem e anglo-saxnica. O autor cita a histria que Pinel descreveu, em 1809,
de um filho nico que, mimado por uma me permissiva, manifestava comportamentos
impulsivos e desordenados. Tambm menciona Esquirol que, dando continuidade ao
trabalho de Pinel, apontou para a possibilidade de a conduta levar a atos criminosos.
Magnan (1835/1916, citado por Shine, 2002) introduziu a idia de desequilbrio mental,
baseando-se na concepo neurolgica de uma falta de harmonia entre diferentes
centros nervosos, o que poderia levar a um estado de desequilbrio mais grave. Alm
disso, Kraepelin (1856/1925, citado por Shine, 2002), que desenvolveu um trabalho
com nfase nas leses e m formaes neurolgicas, criou o termo personalidade
11
psicoptica, em 1904. No entanto, foi Schneider (1923, citado por Shine, 2002) que
difundiu tal termo, compreendendo que a inteligncia e a estrutura orgnica no eram
afetadas pelo distrbio e definiu que as personalidades psicopticas eram aquelas
anormais que sofrem por sua anormalidade ou, por ela, fazem sofrer a sociedade
(p.15). Para Kahn (1931, citado por Shine, 2002) as personalidades psicopticas
apresentariam desordens de personalidade no classificadas como doenas mentais e
teriam uma condio comum, o desajustamento social. Em 1835, Prichard (citado por
Shine, 2002) cunhou o termo insanidade moral, indicando uma alterao mental em que
o poder de autocontrole estaria prejudicado.
A 10 edio da Classificao Internacional de Doenas (CID-10), da
Organizao Mundial de Sade (OMS, 1993), refere-se ao transtorno de personalidade
anti-social, caracterizado por indiferena aos sentimentos alheios, atitude persistente de
irresponsabilidade e desrespeito por normas sociais, incapacidade de manter
relacionamentos, baixa tolerncia frustrao e baixo limiar para descarga de
agressividade. H, tambm, uma tendncia a culpar os outros e a oferecer
racionalizaes para explicar um comportamento que entra em conflito com as normas
sociais. Alm disso, conforme a CID-10, o comportamento no facilmente modificado
pela adversidade experenciada.
Segundo Kernberg (1995a), antes da introduo do termo distrbio socioptico
da personalidade, pelo Manual Diagnstico e Estatstico dos Transtornos Mentais
(DSM-I), utilizava-se o termo personalidade socioptica, que enfatizava os aspectos
socialmente mal-adaptativos. Em 1968, a expresso foi alterada para personalidade anti-
social, no DSM-II. Elaborou-se, assim, uma definio mais precisa que, conforme o
autor, foi baseada na obra de Handerson (1939) e Cleckley (1941):
12
Esse termo restrito a indivduos que so basicamente no socializados
e cujos padres de comportamento fazem com que repetidamente
entrem em conflitos com a sociedade. Trata-se de indivduos incapazes
de fidelidade significativa com pessoas, grupos ou valores sociais. So
excessivamente egostas, insensveis, irresponsveis, impulsivos e
incapazes de sentir culpa ou aprender com a experincia e com a
punio. Sua tolerncia frustrao baixa. Tendem a queixar-se dos
outros, ou verbalizar racionalizaes plausveis para seus
comportamentos. Uma simples histria de crimes ou transgresses de
ordem social no o suficiente para justificar este diagnstico. (p.74)
Kernberg (1995a) afirma que o DSM-III manteve o termo personalidade anti-
social, apenas acrescentando a palavra transtorno, por se tratar de uma definio
significativa. Entretanto, Hare (1985a, 1986, citado por Beck & Freeman, 1993) aponta
para a questo de o DSM-III realar o comportamento delinquente ou criminoso,
negligenciando outros traos de personalidade do transtorno. Tal alerta feito tambm
por Holmes (1997), quando descreve os critrios diagnsticos do DSM-IV. Este autor
pontua a relevncia de observar comportamentos criminosos ou delinquentes, sem, no
entanto, torn-los determinantes para o diagnstico.
Henriques (2009), em seu estudo sobre a evoluo do conceito de psicopatia, faz
uma ressalva importante, a de que no sculo XIX, a expresso psicopatia no estava
ligada personalidade anti-social especificamente. Possua um sentindo abrangente,
indicando doenas mentais de um modo geral. Exemplifica a ampla acepo do termo,
citando o uso que Freud faz da expresso, em 1905 ou 1906, em seu artigo Personagens
psicopticos no palco. O autor confere psiquiatria anglo-saxnica moderna e,
principalmente, a Cleckley (1941) a determinao da psicopatia como uma
13
personalidade anti-social. Em seu artigo, Henriques enumera as principais
caractersticas do psicopata, descritas por Clekley em The Mask of Sanity. A ver:
1. Aparncia sedutora e boa inteligncia
2. Ausncia de delrios e de outras alteraes patolgicas do
pensamento
3. Ausncia de nervosidade ou manifestaes psiconeurticas
4. No confiabilidade
5. Desprezo para com a verdade e insinceridade
6. Falta de remorso ou culpa
7. Conduta anti-social no motivada pelas contingncias
8. Julgamento pobre e falha em aprender atravs da experincia
9. Egocentrismo patolgico e incapacidade para amar
10. Pobreza geral na maioria das reaes afetivas
11. Perda especfica de insight (compreenso interna)
12. No reatividade afetiva nas relaes interpessoais em geral
13. Comportamento extravagante e inconveniente, algumas vezes sob a
ao de
bebidas, outras no
14. Suicdio raramente praticado
15. Vida sexual impessoal, trivial e mal integrada
16. Falha em seguir qualquer plano de vida. (Cleckley, 1988, citado
por Henriques, 2009, p.289)
O DSM - IV (APA, 2002), que fornece a classificao atual, apresenta como
caracterstica essencial do transtorno de personalidade anti-social o padro global de
14
desrespeito e violao dos direitos alheios (p.656), que inicia na infncia ou comeo da
adolescncia e continua na idade adulta. O manual tambm cita como critrios o
fracasso em conformar-se com as normas sociais, a tendncia a enganar, a
impulsividade, a irresponsabilidade com a prpria segurana ou a de outros e com o
trabalho e a ausncia de remorso. Alm disso, para assim ser diagnosticado, o indivduo
deve ter apresentado sintomas do Transtorno da Conduta at os 15 anos de idade.
Embora o termo psicopatia possa implicar acepes diversas, o presente trabalho
refere-se ao transtorno de personalidade anti-social, como descrito pela 4 edio do
Manual Diagnstico Estatstico dos Transtornos Mentais (DSM IV), da Associao
Psiquitrica Americana (APA, 2002). Ademais, os diferentes termos psicopatia,
sociopatia, personalidade anti-social, personalidade associal e personalidade dissocial
so tomados como sinnimos e utilizados de acordo com a meno de cada autor.
1.2. Perverso e perspectiva psicanaltica
Para uma melhor compreenso do termo perverso, Queiroz (2004) traz uma
descrio etimolgica da palavra, que vem do latim (perversio) e pode indicar o que
est ligado s avessas, o que est fora de ordem, desordenado, desregrado, contrrio ao
que deve ser, defeituoso, vicioso (p.77). O verbo, tambm em latim, pervertere,
significa perverter, corromper, destruir subverter (p.77).
Ao discutir a perverso pela perspectiva da Psicanlise, Queiroz (2004) ressalta
as contribuies de Peixoto Jr. (1999) e Calligaris (1986), que estenderam esse conceito
para o campo social, dissociando-o da categoria de desvio sexual. Peixoto Jr. (1999)
15
sugere um processo de metamorfose entre a perverso sexual e social e formas de
distingui-las. Conclui seu trabalho ratificando a urgncia de um esclarecimento terico
do domnio social. Consoante Queiroz (2004), Freud j ampliara o estudo da perverso
ao desenvolver uma teoria do social, onde elucida a perverso no limite entre o
individual e o social.
Fenichel (2005) utiliza os termos perverses e neuroses impulsivas,
compreendendo que h diferenas estruturais entre os modos de experienciao das
impulsividades, sendo a impulsividade psicoptica, instintiva e egossintnica. Isso quer
dizer que as atitudes do indivduo psicopata no o perturbam e apresentam
irresistibilidade caracterstica, por causa da intolerncia a tenses.
O problema da correlao entre psicopatia e perverso abordado por Henriques
(2009), que pontua as diferenas entre o diagnstico psiquitrico, o qual abordaria a
psicopatia como sndrome clnica, e o diagnstico psicanaltico, que teria uma
perspectiva estrutural. Segundo esse autor, a psicanlise compreende a perverso como
uma estruturao subjetiva, isto , como uma das sadas possveis do complexo de
dipo, uma tomada de posio frente ameaa de castrao (p.9). O autor alude ainda
ao pressuposto psicanaltico de que h uma unidade psicopatolgica fundamental entre
a psicopatia e as parafilias em torno da estrutura perversa (p.10), a qual baseada no
modelo do fetichismo, de renegao da ausncia do pnis na me, com o objetivo de
reprimir a angstia da castrao. Pode-se ver a ratificao dessa posio por Julien
(2002), quando afirma ser o fetichismo o paradigma de toda perverso (p.108).
Na obra Alguns tipos de carter encontrados no trabalho psicanaltico, Freud
(1916) denominou trs tipos de carter, dos quais destacado, no presente trabalho, o
tipo criminosos em consequncia de um sentimento de culpa. Estes indivduos sofrem
de um sentimento de culpa anterior ao e, com a realizao de uma m ao, esse
16
sentimento abrandado. Nesse estudo, Freud distingue estes criminosos daqueles que
praticam crimes sem qualquer sentimento de culpa: que, ou no desenvolveram
quaisquer inibies morais, ou, em seu conflito com a sociedade, consideram sua ao
justificada (p.376). Ao fazer tal distino no intuito de excetuar o segundo tipo de
criminoso mencionado, Freud contribuiu para a abertura de um novo campo de pesquisa
sobre os indivduos criminosos que no apresentam sentimento de culpa, uma das
caractersticas mais marcantes da picopatia (Shine, 2002). Mais tarde, em Tipos
libidinais, Freud (1931) tambm marca sua contribuio ao descrever o tipo narcsico:
No existe tenso entre o ego e o superego. (...) O principal interesse
do indivduo se dirige para a autopreservao; independente e no se
abre intimidao. Seu ego possui uma grande quantidade de
agressividade sua disposio, qual tambm se manifesta na presteza
atividade. (...) As pessoas pertencentes a esse tipo so especialmente
apropriadas a assumirem o papel de lderes e a darem um novo
estmulo ao desenvolvimento cultural ou a danificarem o estado de
coisas estabelecido. (p.226)
Uma explicao oferecida por alguns tericos que utilizam a abordagem
estrutural de Freud personalidade, na qual se sugere que o superego no se desenvolve
adequadamente em indivduos com o transtorno de personalidade anti-social. Dessa
forma, no h um superego adequado para restringir a impulsividade e o hedonismo
caractersticos e tornar possveis sentimentos como ansiedade e culpa. Essa
irregularidade no superego , supostamente, produto de uma falha de identificao com
figuras parentais adequadas, as quais no estavam disponveis (Fenichel, 1945, citado
por Holmes, 1997). Nesse sentido, o superego pode ser compreendido como uma
representao interna do temor da castrao ou da perda do amor relacionadas s figuras
17
parentais. Deve ocorrer uma internalizao das exigncias externas, o perigo passa a
ameaar a partir de dentro, como uma representao interna da ameaa de perda de
proteo e punio. Caberia ao superego institudo deliberar sobre quais impulsos sero
permitidos e quais sero reprimidos (Fenichel, 2005).
Friedlander (1945, citada por Shine, 2002) tambm defende a ideia de um
superego deficitrio, afirmando que o indivduo com carter anti-social possui um
cdigo moral falho, em que a satisfao dos seus instintos tem maior poder no
julgamento do que certo e do que errado.
Kernberg (1995b) discorre sobre os nveis de patologia do superego, afirmando
que o nvel mais extremo encontra-se em indivduos com o transtorno de personalidade
anti-social. Segundo o autor, o que caracteriza essa patologia no superego a falta de
compreenso, por parte desses indivduos, de que as exigncias morais representam um
autntico sistema de moralidade que outras pessoas internalizaram (p.237), apesar de
compreenderem o que deve ser feito para seguir essas regras morais. Dessa forma, os
indivduos com o transtorno percebem as exigncias morais do ambiente como um
sistema de alerta, convencionalmente aceito, a ser explorado pelos corruptos (como
eles) e obedecido pelos ingnuos e pelos fingidos (p.237).
Outra pontuao psicanaltica se baseia na ideia de que o indivduo com esse
transtorno est fixado em um estgio inicial do desenvolvimento psicossexual, por no
ter tido satisfeitas, pelas figuras parentais, suas necessidades de amor, apoio e aceitao.
Shine (2002) prope uma discusso acerca da localizao temporal do ponto de fixao
da libido fase oral, anal ou flica referindo a alguns tericos da psiquiatria e
psicanlise que defendem ideias distintas. Conforme sugere o autor, a posio poderia
ser definida como fase pr-genital, se tal falta de especificidade no fosse um problema.
18
1.3. Caractersticas e sintomas
Beck & Freeman (1993) afirmam que h na literatura uma distino entre
psicopatia primria e secundria. A primeira refere-se a um indivduo com aparente
ausncia de culpa sobre seu comportamento ilegal ou imoral e, por isso, compreendido
como no tendo conscincia moral. A segunda distingue um indivduo que manifesta os
mesmos comportamentos, porm apresenta sentimento de culpa e temor pelas
conseqncias de seus atos; no entanto, devido ao seu fraco controle dos impulsos, no
deixar de ter comportamentos anti-sociais.
Na mesma linha de raciocnio, Holmes (1997) destaca que a diferenciao entre
transtorno de personalidade anti-social primrio e secundrio baseia-se no processo
responsvel pelos baixos nveis de ansiedade. Em ambos os casos, o transtorno tem
escassez de ansiedade como caracterstica comum. Entretanto, no tipo primrio,
considera-se que o indivduo incapaz de desenvolver ansiedade; enquanto que no tipo
secundrio, ele tem a capacidade de desenvolver ansiedade, mas aprende a evit-la.
Ballone & Moura (2008) mencionam, em seu trabalho, a tipologia desenvolvida
por Blackburn (1998) para os subtipos de psicopatas. Conforme os autores, Balckburn
tambm distingue dois tipos de psicopatas, que compartilham um alto grau de
impulsividade: um Tipo Primrio, caracterizado por uma adequada socializao e uma
total falta de perturbaes emocionais, e um Tipo Secundrio, caracterizado pelo
isolamento social e traos neurticos. Para ele, os psicopatas primrios so
caracterizados por maior extroverso, autoconfiana e baixo nvel de ansiedade;
enquanto que os psicopatas secundrios apresentam ansiedade, isolamento social, mau
19
humor e baixa auto-estima. Todavia, ambos os tipos compartilham traos de
impulsividade, hostilidade e agressividade.
Holmes (1997) discorre sobre sintomas caractersticos do transtorno de
personalidade anti-social, como sintomas motores, cognitivos e de humor. A
impulsividade e a busca de sensaes so os sintomas motores indicados pelo autor,
observando que o indivduo com esse transtorno sente-se atrado pela transgresso e por
atividades perigosas, visando apenas diverso.
Ao discorrer sobre os sintomas cognitivos do transtorno, Holmes (1997) ressalta
a inteligncia e as boas habilidades verbais e sociais, alm da capacidade de racionalizar
seus atos inadequados de maneira a imprimir-lhes aparncia justificvel. Acrescenta a
isso o fato de a punio no surtir efeito nesses indivduos, que costumam reincidir no
comportamento punido quando no convencem de sua inocncia, utilizando suas
habilidades verbais e sociais, para evitar serem punidos.
Entre os sintomas do terceiro tipo (de humor), est o que o autor considera o
mais significativo, a ausncia de ansiedade ou de culpa. O indivduo com o transtorno
no manifesta qualquer tipo de remorso e no possui o constrangimento tipicamente
suprido pela ansiedade (p.309), da o seu carter impulsivo. Outro sintoma de humor
indicado pelo autor o hedonismo, o que faz com que as pessoas com o transtorno de
personalidade anti-social estejam sempre procurando meios de satisfazer os seus
prprios desejos, buscando o seu prazer e no se importando em prejudicar outros a sua
volta para isso. O terceiro sintoma descrito a superficialidade de sentimentos e
ausncia de apegos emocionais a outros. Os indivduos com o transtorno podem at
falar de sentimentos de apego a outra pessoa, porm no os demonstram em seu
comportamento.
20
H na literatura uma subtipologia desenvolvida por Millon (1998, citado por
Ballone & Moura, 2008), com o intuito de extinguir as incongruncias acerca das
diversas consideraes sobre os subtipos de psicopatas, e de maneira a enfatizar a
presena de elementos comuns a todos os subtipos um marcado egocentrismo e um
profundo desprezo pelos sentimentos e necessidades alheias (Ballone & Moura, 2008).
Essa subtipologia, adaptada pelos autores por motivos didticos, proposta em cinco
tipos: psicopata carente de princpios, psicopata malvolo, psicopata dissimulado,
psicopata ambicioso e psicopata explosivo.
O primeiro subtipo caracteriza-se principalmente pela irresponsabilidade social,
violao s regras (sem receio de punio) e explorao de outros para seu benefcio
prprio. Este tipo possui uma forte autovalorizao e indiferena em relao ao bem-
estar alheio. Por essas razes, diz-se que no existe, nesses indivduos, o superego.
No segundo subtipo uma condensao dos subtipos malvolo, tirnico e
malfico destacam-se os traos vingativos e hostis. So os mais cruis e destrutivos.
Segundo Ballone & Moura (2008), tais indivduos psicopatas tm um qu de
paranoicos, pois esto sempre a desconfiar dos bons sentimentos alheios, acreditando
que sero enganados e trados. Por causa dessa postura ressentida, travam uma luta
contra a sociedade, sem, no entanto, perder suas habilidades oportunistas de selecionar
as vtimas mais vulnerveis.
O psicopata dissimulado manifesta comportamentos falsos e manipuladores,
com grande excitao pelo jogo da seduo e tendncia mentira e conspirao.
Quando confrontados, sua reao pode variar de uma vingana calculista a uma
exploso agressiva.
O subtipo psicopata ambicioso experimenta sentimentos de vazio e privao de
amor, apoio ou gratificaes materiais. Dessa forma, busca compensar-se por meio de
21
transgresses e usurpao de bens de outros, obtendo, no entanto, maior prazer em
tomar do que em ter. Sua motivao advm de cimes, inveja e ambio, sem nunca
experimentar plena satisfao. Portanto, a despeito do xito que possa obter, segue
sentindo-se no realizado e desolado.
O quinto subtipo, o psicopata explosivo agrega inconstncia, frias sbitas e
imprevisveis ataques de hostilidade e beligerncia, sem alguma provocao aparente.
So frustrados com a vida e diferenciam-se dos outros subtipos por no disfararem
suas atitudes com sutileza e afabilidade.
Assim, compreende-se que o conceito de transtorno de personalidade anti-social
tem acompanhado a evoluo das teorias e prticas clnicas, sob diversos enfoques e
nomenclaturas. Tambm os traos identificadores de uma personalidade psicoptica
constituem o foco de vrios instrumentos da avaliao psicolgica. Sobre esta falaremos
no captulo a seguir. Os instrumentos sero abordados no captulo III.
22
CAPTULO II
AVALIAO PSICOLGICA
A avaliao psicolgica constitui-se como uma das funes do psiclogo e
abrange vrios recursos e abordagens utilizveis pelos profissionais da rea, tendo os
seus alicerces fundados no final do sculo XIX e incio do sculo XX. Durante este
sculo, as correntes de pensamento exerciam influncia sobre as estratgias de
avaliao, de acordo com os aspectos do psiquismo que lhes serviam de fundamento,
como o comportamento, o afeto e a cognio (Cunha, 2002).
De acordo com Pasquali (2001), a avaliao psicolgica profissional deve ser
baseada na observao, seguindo critrios cientficos de confiabilidade e validade, alm
de subsidiar inferncias, que partem de um processo de teste de hipteses. Essa
avaliao deve formar um processo integrado, com uso de tcnicas adequadas a cada
caso. A primeira etapa do processo a identificao de necessidades, comportamentos e
processos pscicolgicos, por meio de entrevistas, observao, testes psicomtricos e
tcnicas intuitivas. A segunda etapa a integrao das descries e escores, onde se
realiza uma classificao. A inferncia de hipteses, baseada na interpretao, a
terceira etapa proposta. A interveno, por meio de orientao psicolgica, terapia ou
outros programas de interveno, se caracteriza como a quarta etapa. Por fim, o autor
acrescenta a etapa de monitorao das anteriores, fazendo uso de observao e
entrevista.
Cunha (2002) aponta para a questo da abrangncia semntica da expresso
estratgias de avaliao, esclarecendo que pode se referir a enfoques tericos,
23
metodologia utilizada pelo psiclogo como os mtodos qualitativos e psicomtricos
e, ainda, especificamente s medidas de sintomas ou de sndromes. As estratgias de
avaliao usadas na atualidade possuem um objetivo definido, buscando respostas aos
problemas encontrados. Como exemplo de avaliao psicolgica para fins clnicos, a
autora menciona o psicodiagnstico, observando que este enfoca a existncia ou no de
psicopatologia (p.22) e destaca a testagem como um dos recursos de avaliao.
2.1. Psicodiagnstico
O termo vem do grego diagnstiks, que significa discernimento, faculdade de
conhecer, de ver atravs de (Ancona-Lopez, 1984, p.1). Segundo Ancona-Lopez, o uso
do termo diagnstico psicolgico varia de acordo com suas diferentes concepes e
estruturas, podendo ser encontradas expresses como psicodiagnstico, diagnstico da
personalidade, estudo de caso e avaliao psicolgca.
Ancona-Lopez (1984) faz uma distino das prticas de psicologia clnica e de
psicodiagnstico, alegando que enquanto a primeira tem por objetivo o alvio do
sofrimento psquico do paciente, o segundo visa organizar os elementos presentes no
estudo psicolgico, de forma a obter uma compreenso do cliente a fim de ajud-lo
(p.11).
O psicodiagnstico caracterizado por Ocampo, Arzeno & Picollo (2003) como
uma situao bipessoal (psiclogo-paciente), com durao limitada, que objetiva uma
compreenso e descrio profunda e completa da personalidade do paciente, podendo a
investigao ser focalizada em um aspecto particular, dependendo da indicao. Alm
24
disso, o processo psicodiagnstico utliliza certas tcnicas para abordar aspectos
passados, presentes e futuros da personalidade do cliente. Segundo o enfoque das
autoras, tal processo se divide nos seguintes passos: primeiro contato e entrevista inicial
com o paciente; aplicao de testes e tcnicas projetivas (previamente selecionados de
acordo com o caso); encerramento do processo (entrevista de devoluo ao paciente) e
informe para o profissional que encaminhou o caso, quando necessrio.
Considerando o estudo de Cunha (2002), trata-se de um processo cientfico, que
se limita no tempo e se baseia em um contrato de trabalho entre psiclogo e paciente, e
deve partir de um levantamento prvio de hipteses. Nesse processo, so utilizados
testes e tcnicas, com objetivos delimitados de acordo com a demanda da consulta, que
podem ser de classificao simples ou nosolgica, descrio, diagnstico diferencial,
avaliao compreensiva, entendimento dinmico, preveno, prognstico e percia
forense.
A autora prope as etapas de um modelo psicolgico clnico que,
resumidamente, assim se apresentam:
a) levantamento de perguntas relacionadas com os motivos da
consulta e definio das hipteses iniciais e dos objetivos do exame;
b) planejamento, seleo e utilizao de instrumentos de exame
psicolgico;
c) levantamento quantitativo e qualitativo dos dados;
d) integrao de dados e informaes e formulao de inferncias
pela integrao dos dados, tendo como pontos de referncia as
hipteses iniciais e os objetivos do exame;
e) comunicao de resultados, orientao sobre o caso e
encerramento do processo. (p.31)
25
Alm do diagnstico em si, as possveis finalidades de um psicodiagnstico so
propostas por Arzeno (1995) como avaliao do tratamento, meio de comunicao e na
investigao. O uso do psicodiagnstico com fins de avaliao do tratamento se
constitui em uma nova aplicao da mesma bateria de testes aplicados anteriormente
(re-testes), com o objetivo de constatar avanos teraputicos, planejar uma alta ou at
mesmo de descobrir o motivo de um impasse no tratamento (p.8). No caso do uso do
psicodiagnstico como meio de comunicao, a autora defende a ideia de que, ao
introduzir modificaes no atendimento a pacientes que tm dificuldade em se
comunicar espontaneamente, pode-se despertar entusiasmo e, assim, favorecer a
comunicao e a tomada de insight. Por fim, o uso na ivestigao possui dois objetivos
dinstintos. Um deles seria a criao de novos instrumentos e, o outro, o planejamento de
investigao de uma patologia, algum problema educacional, forense etc.
2.2. Entrevista Clnica
Apesar de o processo psicodiagnstico se fundamentar em etapas, como visto
anteriormente, no se pode dizer que tais passos constam de uma forma fixa e esttica.
A entrevista inicial, que se refere primeira etapa diagnstica, no necessariamente
nica, tampouco acontece obrigatoriamente no incio do processo (Arzeno, 1995). Para
Arzeno, isso depende de diversas razes. Quando os objetivos da entrevista inicial no
foram atingidos no tempo delimitado, uma nova entrevista se faz necessria; ou, ainda,
quando o estado emocional do paciente impossibilita um clima adequado, necessrio
26
um segundo encontro, quando o paciente geralmente est com menores nveis de
ansiedade e tenso e se torna mais colaborador.
Santiago (1984) alerta para a importncia de um marco referencial na entrevista
inicial, com vistas constncia das variveis referentes aos objetivos e ao papel do
psiclogo, ao lugar e horrio das entrevistas, bem como durao do trabalho e aos
honorrios. Dessa maneira, pode-se evitar que essas variveis interfiram no contexto da
relao, causando reaes de hostilidade, de ansiedade confusional, entre outras.
Para Santiago (1984), a entrevista inicial, por ser o primeiro contato entre
psiclogo e paciente, uma situao desconhecida, a qual pode ocasionar apreenso e
ideias preconcebidas sobre o psiclogo e sobre o paciente. A ausncia total de tais ideias
no seria possvel, segundo a autora. Entretanto, necessrio refletir sobre elas, visando
objetividade do trabalho. Alm disso, postula que o psiclogo deve se envolver no
processo diagnstico e que a reao emocional que o paciente provoca no psiclogo,
isto , o impacto afetivo, prov ideias sobre os tipos de vnculos que o paciente
estabelece.
Tavares (2002) define entrevista clnica como:
(...) um conjunto de tcnicas de investigao, de tempo delimitado,
dirigido por um entrevistador treinado, que utiliza conhecimentos
psicolgicos, em uma relao profissional, com o objetivo de descrever
e avaliar aspectos pessoais, relacionais ou sistmicos (indivduo, casal,
famlia, rede social), em um processo que visa a fazer recomendaes,
encaminhamentos ou propor algum tipo de interveno em benefcio
das pessoas entrevistadas. (p.45)
O autor afirma que a finalidade comum a todos os tipos de entrevistas clnica a
descrio e avaliao. No entanto, os objetivos instrumentais podem variar de acordo
27
com cada modalidade de entrevista. Neste trabalho, cabe citar duas das modalidades
descritas: a anamnese, que tem por finalidade o levantamento detalhado da histria do
desenvolvimento da pessoa, e a entrevista de devoluo, a qual objetiva comunicar
pessoa o resultado da avaliao e lhe permitir expressar-se em relao s concluses e
recomendaes do avaliador.
Adrados (1980) acrescenta a essas modalidades, a entrevista psicossocial, capaz
de orientar o entrevistador quanto ao grau de maturidade do paciente, o tnus da sua
afetividade, seu envolvimento com a problemtica e sua capacidade de discernir a
respeito desta; e a entrevista preparatria para a aplicao de testes, sucinta e de carter
explicativo.
Ao apreciar algumas consideraes gerais concernentes entrevista, Adrados
(1980) refere-se ao ambiente, o qual deve ser agradvel, confortvel, tranquilo,
reservado e livre de interrupes. Tambm a distncia pessoal deve ser mantida, a fim
de respeitar a rea de privacidade do paciente. Outro ponto levantado pela autora o
rapport, de extrema importncia no primeiro contato com o paciente e que, para ser bem
estabelecido, deve respeitar o nvel cultural, social e emocional do entrevistado.
Ocampo & Arzeno (2003) afirmam que a entrevista inicial deve ser semidirigida
por dois motivos. O primeiro para que o paciente tenha liberdade de se expressar, de
expor suas queixas como preferir e possa optar por onde comear. O segundo para que
o entrevistador possa intervir: quando o entrevistado no sabe como comear ou
continuar; para assinalar situaes de bloqueio ou para questionar sobre aspectos que o
entrevistado no mencionou espontaneamente; sobre contradies ou verbalizaes
ambguas. Desse modo, torna-se possvel um conhecimento mais profundo acerca do
paciente, sem que o psiclogo se perca, ele prprio, no emaranhado da mente do
paciente (Adrados, 1980, p.42).
28
Arzeno (1995) prope um guia para se orientar quanto s informaes que
devem ser coletadas nas entrevistas (tanto na inicial, como nas posteriores), recordando
um esquema freudiano:
1. Herana e constituio (ou seja, a histria dos seus antepassados);
2. Histria prvia do sujeito (seja ela real ou fantasiada);
3. Situao desencadeante (individual e familiar). (p.42)
A mesma autora observa que o psiclogo dispe de alguns recursos para registro
de todos os aspectos que julgar necessrio registrar, como a comunicao verbal e a
comunicao no-verbal, a qual tem valor inestimvel por se tratar de um discurso do
inconsciente.
Ao final de uma entrevista, apropriado fazer uma reflexo sobre os seus
objetivos, a fim de verificar se foram atingidos (Adrados, 1980). Arzeno (1995) cita tais
objetivos, aqui apresentados de forma resumida:
uma imagem do conflito central e seus derivados;
uma histria de vida do paciente e da situao desencadeadora;
alguma hiptese inicial sobre o motivo profundo do conflito;
uma estratgia para usar determinados instrumentos diagnsticos seguindo
uma determinada ordem.
Arzeno (1995) faz uma interessante pontuao acerca da atitude do psiclogo,
afirmando que deve ser ao mesmo tempo plstica, aberta, permevel e concretamente
precisa e centralizada em um objetivo que no podemos ignorar ou perder de vista em
momento algum (p.34).
29
2.3. Testagem Psicolgica
Os testes psicolgicos so ferramentas que foram desenvolvidas a partir da
necessidade de medir as diferenas individuais e as reaes de um indivduo perante
diferentes situaes, da necessidade de avaliao na educao como o caso dos
testes Binet, de inteligncia bem como da necessidade de identificar deficincias
intelectuais (Anastasi & Urbina, 2000).
Anastasi & Urbina (2000) salientam que o emprego dos testes psicolgicos na
atualidade est relacionado com a soluo de diversos problemas prticos, porm os
testes tambm atendem a funes importantes na pesquisa bsica. Esses testes podem
divergir, entre outros aspectos, quanto ao modo de aplicao individual e de grupo
e, tambm, quanto aos aspectos do comportamento que avaliam testes de habilidades e
de personalidade. Conforme as autoras, um teste psicolgico essencialmente uma
medida objetiva e padronizada de uma amostra do comportamento (p.18). Considera-se
o teste como uma medida objetiva, visto que a meta afastar-se do julgamento subjetivo
do examinador, mesmo que a objetividade perfeita seja impossvel.
A padronizao dos testes consiste em uma uniformidade de procedimento,
materiais, limites de tempo, instrues, demonstraes etc. A norma outro quesito
importante da padronizao, pois permite a comparao do escore de um indivduo com
o desempenho normal ou mdio e o posicionamento desse indivduo com referncia
amostra normativa. No caso dos testes de personalidade, a norma corresponde ao
desempenho de pessoas tpicas ou na mdia (Anastasi & Urbina, 2000).
Ainda de acordo com as autoras supracitadas, outras duas caractersticas so
fundamentais nos testes psicolgicos: a fidedignidade e a validade. A fidedignidade de
30
um teste significa a consistncia de escores obtidos pelos mesmos indivduos, quando
retestados com o mesmo teste em momentos diferentes, por diferentes avaliadores ou
sob outra condio relevante de testagem. A validade concerne ao grau em que o teste
de fato mede o que se prope a medir e, mais precisamente, o quanto se sabe sobre o
que o teste mede.
A avaliao da personalidade a rea da testagem psicolgica mais relevante
para o presente trabalho. Trata-se de compor e interpretar as medidas de caractersticas
da personalidade, como estados emocionais, relaes interpessoais, motivaes,
interesses e atitudes. As escalas, os inventrios de auto-relato e alguns dos instrumentos
de mtodo projetivo so exemplos da testagem de personalidade destacados neste
trabalho e abordados no prximo captulo.
31
CAPTULO III
O USO DE INSTRUMENOS DE AVALIAO PSICOLGICA NO
PSICODIAGNSTICO DO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI-
SOCIAL
O presente captulo destina-se a discorrer brevemente sobre algumas das
tcnicas mais exploradas e mais presentes na literatura de avaliao do transtorno de
personalidade anti-social, considerando suas contribuies para a finalidade
psicodiagnstica, bem como as adversidades e limitaes implicadas no uso de tais
tcnicas.
relevante salientar que a utilizao de instrumentos padronizados auxilia na
avaliao psicolgica na medida em que diminui a valorizao de cunho pessoal, por
parte do avaliador, de determinados elementos investigados, em detrimento de outros
(Abdalla-Filho, 2004). Todavia, essa afirmao no pretende reduzir a importncia de
uma avaliao clnica no sistematizada; pelo contrrio, esta pode oferecer subsdios
essenciais na construo de um diagnstico clnico.
Obviamente, a utilizao de instrumentos de avaliao psicolgica requer tica e
postura profissional durante todo o processo, seja qual for sua finalidade. Sobretudo,
considera-se que uma utilizao inadequada pode acarretar prejuzos imediatos e futuros
para o indivduo avaliado (Ambiel, 2006).
32
3.1. Hare PCL-R (Psychopathy Checklist Revised)
Trata-se de uma escala de pontuao desenvolvida por Robert Hare (1991,
citado por Morana, 2003) e validada no Brasil por Morana (2003), para avaliao de
psicopatia em populaes forenses. Segundo Abdalla-Filho (2004), um instrumento
que revela a tendncia s prticas criminais caracterizadas pela reincidncia.
A checklist contm 20 itens, sendo cada item quantificado em uma escala de
zero a dois pontos, de acordo com a verificao da aplicabilidade de determinado trao
ao indivduo, totalizando 40 pontos. Utiliza-se uma entrevista semi-estruturada para
verificar o grau em que o indivduo se enquadra no conceito de psicopatia, e fontes
adjacentes de informao. Alm disso, h dois fatores estruturais que permeiam os 20
itens, porm no so descriminados em todos os aspectos considerados: a) o Fator 1,
definido pelas caractersticas de personalidade que constituem o perfil psicoptico e b) o
Fator 2, relacionados aos comportamentos socialmente desviantes (Morana, 2003;
Abdalla-Filho, 2004).
Observam-se, a seguir, os 20 itens que compem a escala, juntamente com os
fatores a que esto relacionados, em parnteses:
1. Loquacidade/charme superficial (1); 2. Auto-estima inflada (1); 3.
Necessidade de estimulao/tendncia ao tdio (2); 4. Mentira
patolgica (1); 5. Controlador/manipulador (1); 6. Falta de remorso ou
culpa (1); 7. Afeto superficial (1); 8. Insensibilidade/falta de empatia
(1); 9. Estilo de vida parasitrio (2); 10. Frgil controle
comportamental (2); 11. Comportamento sexual promscuo; 12.
Problemas comportamentais precoces (2); 13. Falta de metas realsticas
33
em longo prazo (2); 14. Impulsividade (2); 15. Irresponsabilidade (2);
16. Falha em assumir responsabilidade; 17. Muitos relacionamentos
conjugais de curta durao; 18. Delinqncia juvenil (2); 19.
Revogao de liberdade condicional (2); 20. Versatilidade criminal
(Abdalla-Filho, 2004).
Apesar de o ponto de corte no ser rigidamente estabelecido, conforme salienta
Abdalla-Filho (2004), um escore acima de 30 pontos caracterizaria um psicopata tpico.
Em seu trabalho de traduo e validao da escala no Brasil, Morana (2003) concluiu
que o ponto de corte na padronizao brasileira de 23. importante ressaltar que,
ainda de acordo com a autora mencionada, independentemente do ponto de corte, um
escore elevado indica probabilidade de reincidncia criminal.
Destaque-se que o PCL-R no um teste, tampouco destinado ao diagnstico da
psicopatia, mas um instrumento para verificao de traos da personalidade e
comportamentos do indivduo que indiquem a condio de psicopatia. Por isso,
constitui-se em um instrumento apropriado para a utilizao em contexto forense, como
de fato o (Morana, 2003).
Para Abdalla-Filho (2004), o PCL-R tem a dupla funo de diagnstico e de
prognstico, pois tambm avalia a probabilidade de recidiva. Consoante o autor,
compreende-se que a escala identifique a existncia de personalidade transtornada e no
de doena mental. Assim, conclui que, numa avaliao pericial, a associao entre
transtorno mental e comportamento violento no pode ser negligenciada, mas tambm
no deve ser superestimada.
Morana (2003) tambm atenta para o uso do PCL-R como instrumento para
seleo dos criminosos com maior probabilidade de reincidir, visando no prejudicar a
reabilitao daqueles com menor potencial de reincidncia em crime. Assim, ressalta
34
que no o tipo de crime que define tal probabilidade, e sim a personalidade do
criminoso.
Conclui-se que, apesar de amplamente utilizado no processo de identificao da
psicopatia em diversos pases atualmente, o uso mais adequado do PCL-R na avaliao
da psicopatia enquanto instrumento para prtica forense, visto que pode identificar
traos caractersticos do transtorno de personalidade anti-social, porm no apropriado
como ferramenta nica para um diagnstico clnico de psicopatia. Ademais, a escala
voltada para a verificao do potencial de reincidncia criminal, e no para a avaliao
clnica, com vistas a um psicodiagnstico objetivo.
3.2. MMPI e MMPI-2 (Inventrio Multifsico de Personalidade de Minnesota)
Considerado um dos testes mais empregados na avaliao objetiva e
psicomtrica da personalidade (Villar, 1967; Anastasi & Urbina, 2000; Folino &
Mendicoa 2006; Cunha, 2002), o MMPI (Hathaway & McKinley, 1943, citados por
Anastasi & Urbina, 2000) suscitou uma verso reconstituda, o MMPI-2 (Butcher,
Dahlstrom, Graham, Tellegen & Keammer, 1989, citados por Anastasi & Urbina, 2000),
ambos utilizados para medir o nvel de desajustamento emocional e identificao de
psicopatologia apresentada, bem como para avaliar a atitude do examinando frente
testagem. No Brasil, o acesso ao inventrio restrito ao MMPI (Cunha, 2002).
O MMPI um inventrio de auto-relato e compreende 566 itens, que descrevem
sentimentos, atitudes, sintomas fsicos e emocionais e experincias anteriores da vida,
para os quais o examinando assinala certo ou errado, conforme sua concordncia
35
com o item. composto por 14 escalas, sendo 10 clnicas e quatro de validade. J o
MMPI-2 contm, alm das escalas clnicas e de validade, 15 de contedo e 18
suplementares. As 10 escalas clnicas, listadas abaixo, so comuns ao MMPI e MMPI-2
e permitem avaliar as diferentes dimenses de personalidade de um indivduo, alm de
obter informaes sobre provvel patologia:
1. Hs hipocondria;
2. D depresso;
3. Hy histeria;
4. Pd desvio psicoptico;
5. Mf masculinidade-feminilidade;
6. Pa paranoia;
7. Pt psicastenia;
8. Sc esquizofrenia;
9. Ma mania e
10. Si introverso social.
As escalas de validade, tambm comuns s duas verses do inventrio, refletem os
nveis de descuido, m interpretao, simulao, dissimulao, tendncia de respostas e
atitudes do examinando, e so divididas em escalas de: mentira (L); infrequncia (F) e
correo (K). A partir da anlise, em conjunto, das escalas com pontuaes mais
elevadas, obtm-se um perfil de personalidade que, quando avaliado juntamente ao
contexto geral do caso, permite o levantamento de hipteses diagnsticas (Anastasi &
Urbina, 2000; Appolinrio, Meirelles, Coutinho & Pvoa, 2001; Cunha, 2002; Folino &
Mendicoa, 2006). Os maiores escores conjugados de mentira (L), infrequncia (F) e
correo (K) representam a atitude do sujeito frente ao teste. Assim, se o sujeito,
36
deliberadamente ou no, transmitir uma imagem favorvel ou desfavorvel de si
mesmo, isso pode ser detectado (Cunha, 2002).
Em 1946, Wiener e Harmon (Wiener, 1963, citado por Cunha, 2002) criaram as
escalas bvias e sutis, a fim de obter maior preciso nos dados fornecidos pelas escalas
clnicas, ao que determinaram como bvios, os itens facilmente detectados como
indicadores de perturbao emocional e sutis, aqueles mais difceis de detectar como
indicadores de perturbao. No desenvolvimento das escalas bvias e sutis, houve xito
apenas com as escalas 2 (D), 4(Pd), 6 (Pa) e 9 (Ma) (Jimnez & Snchez, 2001). A
finalidade das escalas desenvolvidas por Wiener e Harmon era a de averiguar os efeitos
de tendncias conscientes ou inconscientes do examinando para a apresentao de uma
determinada imagem de si mesmo. Como exemplos, pode-se mencionar a apresentao
de uma imagem positiva, resultado de defensividade deliberada ou de negao da
psicopatologia, e a tentativa de apresentar uma imagem negativa, decorrente de exagero
ou simulao de psicopatologia (Cunha, 2002).
Jimnez & Snchez (2001) realizaram uma pesquisa sobre as contribuies de
tais subescalas, a fim de verificar se as mesmas podem, de fato, oferecer informao
acerca do fingimento positivo ou negativo realizado pelo sujeito. A amostra utilizada foi
de grupos de sujeitos normais e grupos de sujeitos clnicos (com diagnsticos diversos),
que responderam a prova sendo sinceros consigo mesmos; grupos de sujeitos instrudos
a darem uma boa imagem de si mesmos; grupos cuja instruo foi a de passar uma m
imagem de si mesmos e grupos que responderam aos itens de modo diverso e
aleatoriamente. Os pesquisadores chegaram concluso de que, com relao escala 4,
de desvio psicoptico (Pd), as escalas bvias podem identificar sujeitos que apresentam
fingimento negativo, enquanto as escalas sutis parecem no detectar qualquer tipo de
fingimento.
37
Assim, ao considerar uma avaliao psicolgica voltada para o psicodiagnstico
de transtorno de personalidade anti-social, a validade e confiabilidade do protocolo
MMPI pode ser discutvel. Ora, se um indivduo com esse transtorno encontra-se em um
contexto forense de avaliao psicolgica e est atento diminuio de sua
imputabilidade, caso seja verificada alguma perturbao de sua sade mental, no seria
raro ocorrer simulao em suas respostas ao inventrio, ou seja, um fingimento
negativo. Neste caso, se as escalas que tm o objetivo de verificar essa simulao
parecem no cumprir completamente seu propsito, qual seria a validade de um
psicodiagnstico que se baseou em um protocolo MMPI? Esta uma questo polmica
e seus fundamentos so amplamente pesquisados.
Cunha (2002), entretanto, alerta para o fato de que alguns pesquisadores
chegaram concluso de que as escalas bvias so mais suscetveis simulao
proposital do que as escalas sutis e acrescenta que as informaes obtidas por meio
dessas escalas podem ser complementadas por uma outra escala acrescentada ao MMPI,
a de dissimulao (Walters, White & Greene, 1988, citados por Cunha, 2002). No
obstante, a autora ressalta a utilizao das escalas bvias e sutis como fonte de
informao extra, no trabalho clnico.
Ao presente trabalho, interessa a discusso acerca da escala 4, citada
anteriormente, correspondente ao desvio psicoptico (Pd), alm da anlise de
combinaes relevantes desta escala com outras, uma vez que certas escalas podem ter
efeito excitante ou inibitrio sobre tendncias e comportamentos associados elevao
da escala 4.
Conforme Cunha (2002), a concepo atual a de que a escala 4 avalia o nvel
de ajustamento social. Folino & Mendicoa (2006) explanam que as pontuaes elevadas
correspondem tendncia a manifestao de condutas anti-sociais, revolta contra
38
figuras de autoridade, relaes familiares conflituosas, tendncia a culpar os demais por
seus problemas e antecedentes de dificuldade com a escola ou com o trabalho. Alm
disso, a elevao da escala 4 indica maior probabilidade de impulsividade, tendncia
gratificao imediata dos impulsos, irresponsabilidade, impacincia, baixa tolerncia
frustrao e conduta de risco. Cunha (2002) afirma que os indivduos com elevao
nessa escala apresentam, geralmente, caractersticas associais e amorais, mostrando um
padro de comportamento repetitivo e persistente, de natureza anti-social (p.467).
Nesse sentido, Cunha (2002) ressalta que esses indivduos muitas vezes causam boa
impresso inicial, capazes de manter um relacionamento aparentemente adequado, at
se depararem com uma situao que ponha prova seu sentido de responsabilidade e
considerao pelos demais, revelando sua imaturidade, egocentrismo e instabilidade
emocional. A autora conclui que os aspectos destacados na escala associam-se com
delinquncia ou propenso a esta.
A combinao de tal escala com outras, de carter inibitrio, como a 1, de
hipocondria (Hs), a 7, relacionada psicastenia (Pt), isto , um padro neurtico, e
sobretudo a 2, que refere depresso (D), a probabilidade de delinquncia diminui, por
causa da presena de ansiedade e culpa. A combinao com a escala 2 (D) resulta em
comportamentos anti-sociais menos manifestos e disfarados. J a combinao com a
escala 9, relativa mania (Ma), aumenta a propenso comportamentos impulsivos e
atuadores (Cunha, 2002). Nesse sentido, imprescindvel apreciar todas as informaes
do perfil do examinando, quando se deseja levantar alguma hiptese diagnstica.
Villar (1967) manifesta seu descontentamento pelo MMPI, alegando que um
grande nmero de itens est mais orientado para o diagnstico psiquitrico do que para
o psicodiagnstico. Entretanto, isto apenas quer dizer que h grande probabilidade de o
inventrio falhar quando aplicado em sujeitos normais, o que no desfalca sua
39
relevncia para os propsitos aqui apresentados, ou seja, servir como instrumento de
avaliao do transtorno de personalidade anti-social, ainda que sua funo se restrinja
ao fornecimento de subsdios para o psicodiagnstico.
De acordo com Cunha (2002), o MMPI-2 apresenta melhor qualidade
psicomtrica e mais recursos numa avaliao psicolgica. Entretanto, o fato de haver
mais de 10.000 pesquisas com o MMPI parece ser um dos aspectos compensatrios para
suas limitaes. Tal observao pode indicar que, se o MMPI cumpre seus propsitos de
maneira at aqui considerada eficiente, a adaptao e validao do MMPI-2 para o
Brasil, poderia ampliar a abrangncia dos aspectos avaliados, bem como a
especificidade da anlise das escalas, proporcionando um meio mais apurado de
avaliao.
3.2.1. Sobre o uso conjunto do MMPI e o PCL-R
Uma pesquisa realizada por Folino & Mendicoa (2006), com vistas a analisar a
validade do PCL-R, utilizando o MMPI-2 como parmetro, resultou na concluso, por
parte dos pesquisadores, de que o uso conjunto dos dois instrumentos pode fornecer
informaes complementares. Isto quer dizer que, ao estudar um caso, o profissional
clnico pode relacionar os dados obtidos com ambos os instrumentos, proporcionando
uma heurstica interessante.
Folino & Mendicoa (2006) apresentam alguns argumentos para tal concluso. Se
o sujeito responder o inventrio com relevante sinceridade e sem muita influncia de
desejabilidade social, os resultados sero compatveis com sua avaliao clnica por
40
meio do PCL-R, o que confere maior segurana ao diagnstico, prognstico e
planejamento teraputico.
Por outro lado, se o sujeito avaliado responder o MMPI distorcendo a verdade,
de modo a apresentar um determinado perfil, este se apresentar incongruente com a
avaliao feita com o PCL-R, os dados obtidos por meio dos dois instrumentos sero
contraditrios. Desse modo, o profissional avaliador pode observar a necessidade de
uma investigao mais ampla, objetivando a obteno de maiores informaes, para a
realizao de um diagnstico diferencial. Contudo, o novo dado incorporado pode
sustentar a identificao do padro tpico do transtorno de personalidade anti-social, de
mentiras e manipulao (Folino & Mendicoa, 2006).
3.3. Testes do Mtodo Projetivo
A expresso mtodos projetivos, segundo Anzieu (1979), foi criada por Frank
em 1939, para designar uma investigao dinmica e holstica da personalidade, a qual,
por permitir liberdade de resposta da pessoa avaliada a partir da atividade que lhe
proposta, explora suas associaes reveladoras, aquilo que espontaneamente vem
conscincia, seus conflitos profundos. Os testes projetivos possibilitam trazer
superfcie o que est escondido no interior, desvendando aspectos da estrutura de
personalidade, atravs de seu protocolo de respostas, alm de favorecer a descarga dos
pontos vulnerveis e indesejados do sujeito, seus impulsos e emoes. O tempo de
aplicao de um teste projetivo, em geral, tambm no limitado. Dentro do mtodo
projetivo, distinguem-se das tcnicas projetivas, que permitem liberdade de respostas,
41
porm com material definido e padronizado, as tcnicas expressivas, as quais
possibilitam total liberdade, inclusive quanto ao material proposto. Alguns testes que
utilizam esse mtodo sero apresentados a seguir, juntamente com a apreciao de seus
alcances e limitaes para a avaliao psicolgica.
3.3.1. TAT (Teste de Apercepo Temtica)
Criado por Murray, em 1943, este teste composto por 31 lminas, das quais 30
possuem imagens e uma em branco. Do total de lminas para cada sujeito avaliado, 11
so universais e nove variam de acordo com o sexo e a faixa etria, totalizando 20
lminas. As imagens so constitudas por desenhos, fotografias, reprodues de quadros
ou de gravuras e cada uma delas explora questes especficas. solicitado ao sujeito
que conte uma histria com comeo, meio e fim sobre cada lmina apresentada,
estimulando-o a falar sobre o que pensam e sentem os personagens, acontecimentos
antecedentes e desfecho. Concernente lmina em branco, pede-se ao sujeito para
imaginar uma imagem e contar uma histria a partir dela (Cunha, 2002; Anzieu, 1979).
Por meio do relato das histrias do sujeito avaliado, espera-se extrair
informaes acerca de sua experincia, com aspectos perceptivos, mnmicos,
imaginativos e emocionais. No entanto, pode ocorrer uma fuga de conflitos, negao ou
defesa, o que no necessariamente constitui os aspectos essenciais da vida do sujeito
(Freitas, 2002).
A anlise dos dados disntingue-se entre anlise formal e anlise de contedo. A
anlise formal baseia-se em aspectos como cooperao durante a aplicao, percepo,
coerncia, conciso, riqueza de detalhes, grau de realidade, tendncia s descries ou
42
s interpretaes, ente outros. Na anlise de contedo, fundamental identificar o heri
nas histrias relatadas, pois este o personagem com quem o sujeito de identifica. A
partir disso, realiza-se uma anlise sobre: a) as motivaes, tendncias, fatores internos
e necessidades do heri; b) foras do ambiente que exercem influncia sobre ele; c)
desenvolvimento e desfecho da histria; d) temas das histrias e d) interesses e
sentimentos. Em seguida, elabora-se a sntese dos resultados, a fim de traduzir de a
dinmica da personalidade do sujeito testado. Para isso, necessrio avaliar a
consistncia entre os contedos e os contedos mais frequentes. Alm disso, para a
preciso e abrangncia das concluses, essencial conhecer a histria pessoal do caso.
Deve-se, tambm, observar a conduta do sujeito durante a aplicao do teste, visando
obter informaes significativas por meio da anlise conjunta (Anzieu, 1979; Cunha,
2002).
Segundo Freitas (2002), quando se considera critrios diagnsticos especficos,
as informaes obtidas por meio do TAT so um tanto vagas. Entretanto, esse teste
pode contribuir para um diagnstico diferencial, fornecendo subsdios bsicos sobre a
dinmica da personalidade do indivduo testado. Isto pode ser verificado em um caso
apresentado por Shine (2002) sobre um homem de 28 anos, avaliado por solicitao de
uma equipe mdica. As informaes obtidas sobre o sujeito, por meio da histria que
contou sobre uma lmina com a imagem de uma mulher nua e um homem em p
prximo a ela, permitiram a identificao de elementos caractersticos do transtorno de
personalidade anti-social: desconsiderao pela figura do outro; ausncia de sentimento
de culpa (por um assassinato); o heri no sofre nenhuma consequncia pelo crime que
cometeu; indiferena pelo fato de um inocente levar a culpa e provocao ao
examinador, no terminando a histria, quando isso lhe foi solicitado.
43
O TAT pode caracterizar-se, portanto, em uma tcnica valiosa para obteno de
informaes no processo de avaliao psicolgica do transtorno de personalidade anti-
social. Por ser uma tcnica projetiva, a manipulao de resultados torna-se virtualmente
invivel, podendo ocorrer, entretanto, uma negao ou mascaramento dos contedos
reais do sujeito.
No entanto, importante ressaltar que se trata de uma tcnica complexa, que
requer muita prtica, por parte do avaliador, para se conseguir anlises de maior
confiabilidade. Alm disso, no deve ser utilizado com a finalidade de um diagnstico
especfico, mas sim como contribuio para um diagnstico diferencial.
3.3.2. Rorschach
O desenvolvimento desta tcnica complexa e sofisticada se deu por meio de anos
de observaes, estudos e pesquisas, cabendo ao psiquiatra Rorschach, em 1917, iniciar
o uso sistemtico de manchas de tinta com seus pacientes psiquitricos. Seus estudos
foram continuados por outros profissionais, sofrendo algumas adaptaes ao longo da
histria (Cunha, 2002).
O teste consiste em apresentar ao sujeito 10 lminas, uma a uma, com manchas
de tinta escassamente estruturadas, das quais cinco so cromticas e cinco acromticas,
solicitando que o examinando verbalize sobre o que v nelas. Assim, realiza-se uma
interpretao dos dados obtidos, levando em considerao aspectos quantitativos e
qualitativos, com o objetivo de obter uma amostra comportamental do sujeito, que
44
permita inferncias sobre o funcionamento e estrutura de sua personalidade (Cunha,
2002).
Cunha (2002) salienta que h uma grande quantidade de dados fornecidos por
meio da aplicao do Rorschach, os quais permitem uma descrio geral da
personalidade e levantamento de hipteses diagnsticas. Todavia, a explorao
descritiva de tais dados seria uma tarefa demasiada extensa, o que no o propsito
deste trabalho. A autora, ento, pontua algumas das possibilidades de explorao das
caractersticas de personalidade que a anlise dos dados oferece: tipos de vivncias,
organizao da experincia perceptual, estratgias para o manejo de problema e recursos
de controle interior.
Para Adrados (1980), esse teste oferece dados sobre a estrutura dinmica da
personalidade em estudo, sendo possvel detectar caractersticas de personalidade
pontuadas pela corrente psicanaltica e relacionadas ao transtorno de personalidade anti-
social:
1) A fraqueza ou debilidade do ego e do superego.
2) O egocentrismo e maturidade afetiva.
3) A forte instabilidade.
4) A baixa capacidade de crtica;
5) A ausncia de conflito.
6) A ausncia de angstia e de culpa. (p.186)
Apesar de sua popularidade e ampla utilizao, Cunha (2002) alerta para o fato
de que concluses baseadas unicamente no Rorschach podem apresentar discordncias
com diagnsticos clnicos, calcados em observaes prolongadas (p.342). Portanto,
faz-se necessrio o conhecimento da histria do sujeito avaliado, para uma mais elevada
45
preciso diagnstica. No obstante, as informaes obtidas pela utilizao dessa tcnica
so de extrema importncia na avaliao de personalidade.
Por ser tratar de uma tcnica de alta complexidade, com uma grande quantidade
de tempo despendida em uma interpretao aprofundada e realizao de laudo rico em
detalhes, a administrao adequada imprescindvel na garantia de qualidade cientfica
dos resultados. Portanto, esse teste requer especializao, constante estudo e atualizao
(Anzieu, 1979; Cunha, 2002).
Como tcnica projetiva, o Rorschach tem potencialidade para neutralizar
tentativas de distoro e mentira, caracterizadoras do padro manipulativo e
dissimulado do comportamento do indivduo com o transtorno de personalidade anti-
social. Por esse motivo, constitui-se em uma contribuio valiosa para o diagnstico do
transtorno de personalidade anti-social.
3.4. Outros instrumentos
Nota-se que alguns instrumentos podem auxiliar no processo psicodiagnstico
do transtorno de personalidade anti-social, no sentido de fornecer informaes extras e
teis que, analisadas e interpretadas em conjunto com outros instrumentos,
proporcionam maior solidez ao diagnstico. De acordo com Bartholomeu, Nunes &
Machado (2008), o Inventrio de Habilidades Sociais (IHS), com itens que descrevem
situaes de interao social, e a Escala Fatorial de Socializao (EFS), composta por
itens de auto-relato que avaliam a socializao, so exemplos de instrumentos que
possuem aplicabilidade relevante no diagnstico clnico, visto que o transtorno de
46
personalidade anti-social pode afetar significativamente as habilidades sociais e os
indivduos com esse transtorno apresentam baixos escores de socializao. Tambm o
Inventrio de Empatia (IE), que se diferencia do IHS, por medir exclusivamente os
componentes cognitivos, afetivos e comportamentais da empatia, pode ser considerado
um instrumento auxiliar, avaliando deficincias de empatia relacionadas ao transtorno
(Falcone, et al., 2008).
Alm das adversidades envolvidas na testagem psicolgica em geral, o uso de
inventrios de personalidade envolve dificuldades especiais, sobretudo no que concerne
simulao da imagem transmitida pelo examinando. Outro problema encontrado o
da especificidade situacional dos itens, alm da possibilidade de ocorrer variaes de
respostas caracterizadas por uma rea comportamental de no-teste, isto , a incerteza
sobre se o instrumento verifica apenas o que se pretende verificar, eliminando outras
variveis (Anastasi & Urbina, 2000).
Nesse sentido, o teste HTP (House-Tree-Person) pode ser tambm considerado
til para auxiliar uma avaliao psicolgica com esse fim, por permitir interpretaes
acerca dos traos de personalidade do sujeito.
Trata-se de uma tcnica expressiva do mtodo projetivo, criada por Buck em
1948, que consiste em duas fases, uma grfica e outra, verbal. Na fase grfica,
solicitado ao sujeito que desenhe uma casa, uma rvore e uma pessoa, sendo entregues
uma folha de papel em branco, lpis e borracha, para cada um desses itens. A fase
verbal pode ter um procedimento mais estruturado, com interrogatrio sobre os
desenhos, ou mais aberto, estimulando o sujeito falar sobre estes ou at mesmo contar
uma histria utilizando os trs (Freitas & Cunha, 2002).
O HTP um teste de fcil aplicao e muito econmico quanto ao material
utilizado. Apesar disso, como afirma Cunha (2002), a falta de pesquisa sobre este teste
47
uma desvantagem que o limita a um instrumento coadjuvante na avaliao da
personalidade.
Os instrumentos de avaliao aqui apresentados no abarcam a totalidade de
possibilidades. Constituem apenas os mais relevantes para o propsito deste trabalho,
bem como os mais frequentemente encontrados na literatura. Muitas combinaes so
possveis, dependendo de cada caso e dos objetivos da avaliao, e se mostram mais
eficazes do que usos isolados de instrumentos. O conhecimento das abrangncias e
limitaes de cada um tambm pode tornar seu uso mais eficaz, propiciando um
psicodiagnstico mais confivel.
O DSM-IV (APA, 2002) justifica a convenincia de vrias fontes de dados, bem
como a considerao do contexto scio-econmico do sujeito avaliado:
(...) Uma vez que o engodo e a manipulao so aspectos centrais do
Transtorno da Personalidade Anti-social, pode ser de especial utilidade
integrar as informaes adquiridas pela avaliao clnica sistemtica
com informaes coletadas a partir de fontes colaterais. (...) Foram
levantadas consideraes de que o diagnstico poderia ser aplicado
incorretamente, em alguns casos, em contextos nos quais um
comportamento aparentemente anti-social pode fazer parte de uma
estratgia protetora de sobrevivncia. Ao avaliar os traos anti-sociais,
importante considerar o contexto scioeconmico no qual os
comportamentos ocorrem (APA, 2002, p.656).
Dadas as caractersticas dos indivduos com o transtorno de personalidade anti-
social, a aplicao dos instrumentos de avaliao psicolgica, juntamente com
informaes obtidas por meio de outras fontes, torna-se mais relevante porque dificulta
a manipulao deliberada de respostas e fornecem elementos diagnsticos
48
complementares (Morana, Stone & Abdalla-Filho, 2006). A aplicao de instrumentos,
no entanto, acaba por apresentar uma limitao inerente ao seu propsito, o de conhecer
a personalidade do sujeito examinado, pois sua eficcia depende da vontade do
examinando se deixar conhecer, caracterizando um obstculo ao desenvolvimento do
rapport. A mediao que a testagem psicolgica proporciona na relao avaliador-
avaliado pode romper a mscara atrs da qual o examinando se esconde e facilitar sua
cooperao. Este um dos desafios na avaliao psicolgica do transtorno de
personalidade anti-social, como pontua Shine (2002).
49
CONSIDERAES FINAIS
O conceito de transtorno de personalidade anti-social tem acompanhado a
evoluo das teorias e prticas clnicas, sob diversos enfoques e nomenclaturas.
Tambm os traos identificadores de uma personalidade psicoptica constituem o foco
de vrios instrumentos da avaliao psicolgica. O egocentrismo, a no-confiabilidade,
a insensibilidade, a ausncia de remorso, a insinceridade, a pobreza na formao de
insight so elementos complicadores na avaliao que tem por finalidade o
psicodiagnstico desse transtorno. Alm disso, superficialidade e pobreza nas reaes
afetivas constituem uma barreira no estabelecimento do rapport este de fundamental
importncia para um processo eficiente de avaliao.
A avaliao da personalidade a rea da testagem psicolgica mais relevante
para o presente trabalho. Trata-se de compor e interpretar as medidas de caractersticas
da personalidade, como estados emocionais, relaes interpessoais, motivaes,
interesses e atitudes. As escalas, os inventrios de auto-relato e alguns dos instrumentos
de mtodo projetivo so exemplos da testagem de personalidade destacados neste
trabalho.
Independentemente de sua finalidade, a utilizao de instrumentos de avaliao
psicolgica exige postura profissional e tica, especialmente visto que uma utilizao
inadequada pode acarretar prejuzos imediatos e futuros para o indivduo avaliado.
Considerando as especificidades de cada instrumento aqui destacado, ressalta-se
que a ampla variedade de finalidades est relacionada s caractersticas de cada um
deles, o que acaba por limitar uma preciso diagnstica apoiada em apenas um
instrumento.
50
Embora, os instrumentos de avaliao aqui apresentados estejam longe de
esgotar a totalidade de possibilidades, foram considerados apenas alguns dos mais
relevantes e dos mais frequentemente apresentados como objetos de pesquisa.
importante destacar que as possveis combinaes de vrios instrumentos no
desenvolvimento do processo integrado de psicodiagnstico se revelam mais confiveis
do que a utilizao isolada de apenas um instrumento. Alm disso, o conhecimento das
abrangncias e limitaes de cada um tambm pode tornar seu uso mais eficaz.
Holmes (1997) faz uma leitura interessante sobre o transtorno de personalidade
anti-social, que auxilia a compreenso da problemtica social acerca desse transtorno. O
autor ressalta que na maioria dos outros transtornos os problemas so vividos pelas
prprias pessoas que tm o transtorno, enquanto que no caso do transtorno de
personalidade anti-social, os problemas so vividos pelas pessoas que esto ao seu
redor. Os indivduos com este transtorno so descritos pelo autor como os mais
interpessoalmente destrutivos e emocionalmente prejudiciais em nossa sociedade
(p.309). Isso reafirmado por Henriques (2009) quando diz que a psicopatia
certamente uma das anomalias da personalidade que apresenta consequncias sociais
mais graves (p. 15).
Isso leva a uma considerao importante sobre o transtorno. Por mais que a
maioria dos transtornos de personalidade atinja, de certa forma, as pessoas que
convivem com o indivduo perturbado, o transtorno de personalidade anti-social pode,
mais do que atingir intensamente as pessoas ao seu redor, ser quase um sofrimento
exclusivo destas pessoas. Isso quer dizer que, embora no haja sofrimento propriamente
dito para o psicopata, as aes direcionadas a esse transtorno (avaliaes psicolgicas,
psicoterapia, pesquisas etc.) tm maior eficcia ao visar proteo, orientao e bem-
estar das pessoas sua volta. Isso se comprova pela quantidade de pesquisas voltadas
51
para o contexto forense que, mais frequentemente, tm por objetivo a melhora da
qualidade de vida do ambiente. Por isso, o psicodiagnstico do transtorno de
personalidade anti-social est menos voltado para finalidades teraputicas.
Visto que a grande questo social acerca do transtorno de personalidade anti-
social remete s consequncias do comportamento amoral desses indivduos, e que essa
amoralidade est relacionada sua tendncia a racionalizar os aspectos afetivos das
relaes sociais, o processo integrado de avaliao psicolgica desse transtorno permite
compreender que tais indivduos sabem a letra, mas no a msica (Kiehl; Hare;
McDonald & Brink, 1999, citados por Morana, et al.,, 2006, traduo livre).
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