CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAQUARA – UNIARA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
SARAH MASCARENHAS
PRÁTICAS DO JORNALISMO COLABORATIVO:
Análise comparativa no processo de produção da notícia no Jornal do Brasil e no site
Overmundo
ARARAQUARA
2011
SARAH MASCARENHAS
PRÁTICAS DO JORNALISMO COLABORATIVO:
Análise comparativa no processo de produção da notícia no Jornal do Brasil e no site
Overmundo
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao
Centro Universitário de Araraquara como requisito
para obtenção do título de bacharel em Comunicação
Social - Habilitação em Jornalismo sob orientação
do Prof. Dr. Francisco Belda.
ARARAQUARA
2011
Sarah Mascarenhas
PRÁTICAS DO JORNALISMO COLABORATIVO:
ANÁLISE COMPARATIVA DO PROCESSO DE INTERAÇÃO NA PRODUÇÃO
DE NOTÍCIAS NO “JORNAL DO BRASIL” E NO SITE “OVERMUNDO”- como
ocorre o processo de produção da notícia no jornalismo colaborativo considerando o
conceito de web 2.0. /Sarah Mascarenhas, Araraquara, 2011, 117 p.
Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado ao Centro Universitário
de Araraquara/UNIARA. Área de Concentração: Comunicação Social – Habilitação
em Jornalismo
Orientador: Francisco Belda
1. Jornalismo. 2. Colaboratividade. 3. Produção de notícia. 4. Ciberespaço.
TERMO DE APROVAÇÃO
SARAH MASCARENHAS
PRÁTICAS DO JORNALISMO COLABORATIVO:
ANÁLISE COMPARATIVA DO PROCESSO DE INTERAÇÂO NA PRODUÇÃO
DE NOTÍCIAS NO “JORNAL DO BRASIL” E NO SITE “OVERMUNDO”
MONOGRAFIA PARA CONCLUSÃO DO CURSO DE JORNALISMO DA
UNIARA
Comissão Julgadora
Presidente e Orientador ......................................................
2º Examinador ....................................................................
3º Examinador ....................................................................
Araraquara, ___ de ____ de 2011.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho com imenso sentimento de gratidão primeiramente à minha avó Yvonne
Primerano Mascarenhas, que me proporcionou a oportunidade de realizar o sonho de estudar
Jornalismo;
À memória de meus pais Sylvio e Helena, que me deram a vida;
À meus irmãos Caleb, Maria e Priscila, companheiros para todas as horas;
E, finalmente dedico este trabalho à minha filha Letícia, que sempre me dá amor.
AGRADECIMENTOS
Agradeço profundamente toda minha família, em especial à minha filha, seu pai Sidney, tia
Yvone, tia Mônica, tia Rosa, vó Marucha, Benê, Rute, Cris, Célia, Bete, Cida, Rosana, Laise,
Karina, Sr. Sidney (vô) e todas as pessoas que ao longo destes quatro anos cuidaram da
pequena Letícia para que eu concluísse este curso. Obrigada.
“Tudo indica que o êxito do processo de produção colaborativa de informações depende da
capacidade do projeto conquistar a adesão dos participantes mais do que de financiamentos
e receitas, segundo Jeff Jarvis, o organizador do workshop em Nova Iorque.”
(Carlos Castilho, 2011)
MASCARENHAS, S. Práticas do Jornalismo Colaborativo: Análise comparativa no processo
de produção da notícia no Jornal do Brasil e no site Overmundo. Trabalho de conclusão do
curso em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo do Centro Universitário de
Araraquara – UNIARA, 2011.
RESUMO: Esta monografia tem como meta estudar como acontece a participação de
internautas no processo de produção de notícias no jornalismo online, considerando o novo
modelo da web 2.0, que valoriza a interação com o usuário, privilegiando a colaboratividade
entre os emissores de notícia e seus receptores. Os veículos analisados foram o Jornal do
Brasil e o site Overmundo. Como funcionam estas colaborações, e a partir de quais critérios
ocorrem publicações de usuário/leitor? Qual é o papel do jornalista no contexto onde a
informação é levada de todos para todos e por todos? Quais relações se estabelecem entre
leitor e jornalistas? Essas são algumas das questões que o trabalho procurar esclarecer.
Palavras-chave: Jornalismo colaborativo; Jornal do Brasil; Overmundo.
MASCARENHAS, S. Collaborative Practice of Journalism: Comparative analysis in the
process of news production in the Jornal do Brazil and Overmundo site. Final Examination in
course of Social Communication - Journalism at the University Center of Araraquara -
UNIARA, 2011.
ABSTRACT: This monograph aims to study how the participation of Internet users happens
in the process of news production in on line journalism, considering the new model of Web
2.0, which values the interaction with the user, focusing on collaboratively between news
outlets and their receptors. Vehicles are analyzed Jornal do Brasil and Overmundo site. How
do these collaborations, the criteria which occur from the publications of user/reader? What is
the role of journalists in the context where information is taken from everyone for all and for
all? What relationships are established between reader and journalists? These are some of the
questions seek to clarify the work?
Keywords: Citizen journalism; Jornal do Brasil; Overmundo.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 4.2.1. – Gráficos de Frequência de publicação colaborativa nos sites Jornal do
Brasil (Leitor Repórter) e Overmundo (seção Overblog – edição colaborativa). .................... 35
Ilustração 4.2.2. – Gráfico de acesso (pageviews e visitas) nos sites Jornal do Brasil e
Overmundo ............................................................................................................................... 35
Ilustração 4.2.3. – Gráficos de Respostas de enquetes realizadas em redes sociais com
colaboradores (baseado na enquete feita com internautas). ..................................................... 36
Ilustração 4.2.3.1. – Gráficos de perguntas sobre arquivos. ................................................. 36
Ilustração 4.2.3.2. – Gráficos de perguntas sobre frequência. .............................................. 36
Ilustração 4.2.3.3. – Gráficos de perguntas sobre tipo de notícia. ........................................ 37
Ilustração 4.2.4. – Marcação de veículos pelos colaboradores ................................................. 37
Ilustração 4.2.5. – Perfil do usuário Overmundo nos textos selecionados ............................... 38
Ilustração 4.2.6. – Frequência de submissão ............................................................................ 38
SUMÁRIO
RESUMO: .................................................................................................................................. 8
ABSTRACT: .............................................................................................................................. 9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................... 10
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11
1.1.Apresentação da Pesquisa ............................................................................................... 11
1.2.Problematização da pesquisa .......................................................................................... 13
1.3.Justificativa do estudo .................................................................................................... 15
1.4.Objetivos ......................................................................................................................... 16
1.5.Método de pesquisa ........................................................................................................ 17
1.5.1. Corpus de pesquisa ................................................................................................ 20
a) Overmundo ............................................................................................................. 20
b) Jornal do Brasil ...................................................................................................... 22
1.5.2. Seleção de período e textos de amostragem ........................................................... 23
1.5.3. Forma de organização dos resultados..................................................................... 23
2. A COMPOSIÇÃO DA NOTÍCIA NO JORNALISMO COLABORATIVO DIGITAL . 26
2.1.Conceitos e teorias de referência .................................................................................... 26
2.2.Novas formas de interação e colaboração ...................................................................... 27
3. RELATO DA PESQUISA ............................................................................................... 31
3.1.Detalhamento dos processos de coleta de dados ............................................................ 31
4. DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................................... 34
4.1.Mapeamento dos instrumentos de colaboração .............................................................. 34
4.2.Gráficos estatísticos de prevalência das situações estudadas ......................................... 34
4.3.Tabela comparativa conforme parâmetros de aferição ................................................... 38
4.4.Análise crítica e comentários sobre exemplos significativos do corpus ........................ 40
4.4.1. Seleção de período e textos de amostragem ........................................................... 40
4.4.2. Overmundo – Seção Overblog ............................................................................... 44
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................................................................ 62
6. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 63
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 64
8. ANEXOS .......................................................................................................................... 67
8.1. Relatórios de e-mails de contato .................................................................................... 67
8.2.Transcrição das entrevistas realizadas ............................................................................ 72
8.2.Fac simile de corpus de pesquisas .................................................................................. 95
8.3 Apêndices ..................................................................................................................... 107
11
1. INTRODUÇÃO
1.1. Apresentação da Pesquisa
Este trabalho propõe um estudo sobre novas tendências do jornalismo na internet a
partir da análise comparativa do processo de produção de notícias em dois veículos: o Jornal
do Brasil e a plataforma Overmundo. Com isso, busca-se contribuir para a compreensão do
que hoje é conhecido por jornalismo colaborativo, identificando suas características
principais, o modo como o jornalista profissional interfere na elaboração da notícia e também
de que maneira o usuário pode contribuir nesse processo.
A colaboração de leitores na produção de conteúdo noticioso tem se tornado uma
prática cada vez mais comum, principalmente quando se trata do envio de imagens, seja em
vídeo ou foto, para as redações, colaborando com a construção da reportagem que será
publicada. De alguns anos para cá, foi possível identificar em inúmeros portais de conteúdo a
preocupação em estabelecer uma conexão maior com o internauta, abrindo espaços para que
ele colabore com o conteúdo publicado. A maior parte destes espaços do leitor tem nomes
bem óbvios como Espaço do Leitor, Leitor Repórter e Eu repórter. Porém, o que acontece é
uma tentativa de manter o internauta navegando no portal.
Para se entender a emergência do jornalismo colaborativo, é necessária uma
contextualização sobre como o surgimento e o desenvolvimento da internet influenciou a
forma de se produzir notícias, facilitando a busca por conteúdos, aproximando contatos e
fontes de informação até então distantes, agilizando a dinâmica do processo jornalístico
através de uma comunicação instantânea e global, diversificando os meios de interatividade
com o leitor, permitindo atualizações constantes de conteúdo, entre várias outras formas de
inovação.
No Brasil, as primeiras experiências com a Internet foram feitas em 1991, sob
administração da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Como
nos EUA, a rede havia sido inserida a priori nas universidades, pareceu natural aos gestores da
época que sua expansão devesse acontecer através das redes de pesquisa já existentes. É
importante ressaltar que, desde seu surgimento, a internet já demonstrava potencial como um
12
espaço democrático de comunicação, sem que houvesse um proprietário. Ou seja, um meio de
comunicação que existisse para todos, que fosse ocupado por todos e cuja manutenção
também dependesse de todos, e não de uma empresa ou um governo.
Em 1994 as atividades comerciais já começam a surgir na web e, a partir de 1995, suas
atividades passaram a ser gerenciadas pelo Comitê Gestor da Internet (CGI), criado pelos
Ministérios das Comunicações (MiniCom) e da Ciência e Tecnologia (MCT) para ser o
responsável por gerenciar a utilização dos domínios - endereços eletrônicos para alocação de
conteúdo na rede.
Na medida em que a rede passou a ser mais acessível à população brasileira, ela
passou a ser também um elemento provocador de transformações sociais. A possibilidade de
constituir-se, em tese, como uma fonte infinita de informação faz da internet um meio de
comunicação diferenciado.
Há pelo menos dez anos, alguns autores já alertavam para a necessidade de se cuidar
de efeitos indesejados de um possível crescimento descontrolado da rede. Segundo Faggion
(2001, p. 1), a internet “é uma fonte quase inesgotável de conhecimento e pesquisa, [que]
experimenta a expansão em alta velocidade, de maneira desordenada”.
Ferrari (2003), Lemos (2003), Brambilla (2010) e outros pesquisadores concordam
que a forma de utilização desta nova ferramenta de conexão entre as pessoas estava sendo mal
aproveitada. Era preciso ir além de ser uma ferramenta agregadora de conteúdo, pois o
usuário passou a ter opção de criar um caminho de acesso direto à informação de seu
interesse. A potencialidade de alcance e abrangência levava a um cenário propício para
grandes transformações na forma de se produzir e difundir o conteúdo noticioso.
O avanço tecnológico cada vez mais acelerado trouxe, no início do novo milênio, o
conceito de Web 2.0, um novo estágio de desenvolvimento da rede, no qual ferramentas de
autoração e edição passam a ser disponibilizadas e utilizadas online, tornando a participação
do internauta cada vez mais ativa e difundida. Conforme define Gustavo Freitas1, esse novo
movimento caracteriza-se por “desenvolver aplicativos que aproveitem a capacidade da
1Fonte: http://novonarede.com.br/blog/index.php/2010/03/o-que-web-2-0-vamos-descobrir-agora/. Acesso em:
18/05/2011.
13
Internet para se tornarem melhores conforme são utilizados pelas pessoas, usando para isso a
inteligência coletiva”.
Algumas ferramentas surgidas em torno do conceito de Web 2.0 são blogs, Wikipedia,
Twitter, Facebook, entre outros. Todas elas proporcionam um ambiente em que usuários
podem tirar o máximo de proveito dos softwares disponíveis na rede.
Com isso, iniciou-se um intenso processo de apropriação do espaço cibernético pelos
usuários, tendo por consequência o surgimento de uma “cibercultura”, conforme conceituada
pelo filósofo Pierre Levy (1999, p. 30). Para ele, um mundo novo passou a ser construído a
partir da esfera digital com sua própria linguagem, símbolos e códigos, o que caracteriza uma
nova cultura, com novas formas de relacionamento.
Esses novos modos de intercâmbio comunicacional acabaram por influenciar,
diretamente a maneira de se produzir notícias e a própria função social dos jornais. Esta
transformação ocorre devido à facilidade de uso de sistemas colaborativos de produção e da
possibilidade de escolha, pelo usuário, das informações a serem consumidas. Nesse sentido, o
jornalismo digital tem como principais características permitir que o leitor trace seu próprio
caminho até a notícia, indique leituras a amigos, comente os fatos relatados pelos veículos de
massa e tenha acesso aos arquivos já publicados.
A fase que o mercado jornalístico hoje vivencia pode ser considerada um degrau rumo
à promoção de espaços mais democráticos, onde o leitor torna-se produtor e ao mesmo tempo
consumidor de conteúdo, como classifica Penido (2010, p. 167). As formas dessa interação
entre jornalista e leitor constituem um dos pilares do assunto a ser tratado nesta pesquisa.
1.2. Problematização da pesquisa
O problema central que motivou este trabalho foi compreender como ocorre a
participação de leitores na produção de conteúdo em veículos de comunicação que destinam
algum espaço para ocorrência do que hoje é conhecido como jornalismo colaborativo. O
contexto da Web 2.0 considera a valorização da interação entre usuários nessa modalidade
emergente de comunicação. A pesquisa questiona, por exemplo, de que forma os veículos que
abrem espaço para essa colaboração, criam regras, fazem revisões, apuram informações e
difundem conteúdos.
14
A abordagem deste problema de estudo foi feita por meio de uma revisão bibliográfica
sobre jornalismo digital e cibercultura, acrescida de uma análise comparativa entre espaços
existentes em dois veículos que propiciam esta troca com o leitor, levando em conta critérios
de noticiabilidade e valor noticioso, os filtros utilizados para seleção de conteúdos, aferições
estatísticas sobre a participação dos usuários, meios e canais disponíveis para esta nova
modalidade, através da submissão e uso de fotos, textos e vídeos, bem como uma análise
crítica do conteúdo a partir de contraste entre exemplos dos sites e contribuições recolhidas da
bibliografia e de entrevistas realizadas com jornalistas responsáveis pelas publicações.
O corpus de estudo é composto por conteúdos publicados pelo espaço “Leitor
Repórter” do Jornal do Brasil, veículo de comunicação tradicional que atualmente só
disponibiliza versão digital de suas edições, e pelo espaço de edição colaborativa “Overblog”,
no site Overmundo, uma plataforma online de produção de conteúdo.
A escolha destes sites como objeto de estudo se justifica pela adoção de um sistema
colaborativo de produção de notícias e dos procedimentos estabelecidos por esses veículos
para a publicação de textos jornalísticos. Outra razão para esta escolha foi o vínculo que o
leitor cadastrado é capaz de criar com ambos os veículos, favorecendo sua participação ativa e
permanente no processo de composição das publicações.
No site Overmundo, os temas preferenciais de conteúdo são aqueles relacionados à
diversidade cultural brasileira. Já o Jornal do Brasil trata de questões mais cotidianas sobre
buracos, faróis quebrados, pontes, alagamentos e outros temas da rotina comum à vida do
cidadão carioca.
Estabelecendo uma comparação entre estes dois veículos, foi possível analisar como
um veículo tradicional de massa, em sua nova plataforma, se relaciona com os leitores
repórteres, em oposição a um site especializado, com nicho de público mais específico.
Para a análise, foi estabelecido um período delimitado de publicação dos textos pelos
veículos, além de uma pesquisa de campo para a observação in loco, com o objetivo de
conhecer a rotina das redações em ambos os casos. Também foram realizadas entrevistas com
jornalistas e enquete com internautas para um melhor conhecimento da visão de cada
participante do processo, o usuário produtor e o jornalista, que passa a atuar como “filtro”.
15
A partir do reconhecimento das regras estabelecidas por ambos os veículos sobre
como o leitor pode atuar, buscou-se comparar o resultado qualitativo da publicação, a
frequência com que ele submete textos ou imagens para o veículo, de que maneira estas
publicações alteram a audiência de um veículo tradicional comparado ao acesso de um site
especializado em divulgar a diversidade cultural brasileira e, por fim, quais as semelhanças
que podem caracterizar os conteúdos publicados como produtos de um jornalismo
colaborativo.
1.3. Justificativa do estudo
Uma das justificativas para este estudo refere-se às implicações que a emergência e o
desenvolvimento do jornalismo colaborativo trazem no contexto do mercado jornalístico, que
sofre constantes transformações a partir da presença e avanço das novas tecnologias. O
usuário está cada vez mais seletivo em relação aos conteúdos acessados na grande rede de
computadores, levando veículos de comunicação a repensarem seu papel social e as formas
com que interagem com o leitor.
“A terceira transformação na mídia de massa – que estamos presenciando agora –
envolve uma transição para a produção, armazenagem e distribuição de informação e
entretenimento estruturada em computadores” (DIZZARD JR., 2000, p. 54).
Assim, muitos jornais, canais de televisão e emissoras de rádio que ocupam seu
domínio virtual têm proposto espaços específicos para a participação do leitor. No entanto,
estes espaços ainda são muito diferentes entre si e parece não haver uma proposta clara por
parte dos veículos sobre como exatamente atrair o leitor.
A princípio, o jornalismo surge para fazer uma mediação crítica da informação a ser
difundida na sociedade. Se o avanço tecnológico vem alterando a forma como os cidadãos
buscam a informação e formam grupos para discutir problemas sociais, é preciso estar atento
em relação à maneira pela qual acontece esta ocupação do espaço digital. Questões éticas e a
ocorrência de crimes digitais ainda estão sendo discutidas por governantes, pesquisadores,
desenvolvedores, sociólogos entre outros cidadãos interessados na ocupação do ciberespaço.
Como atuar no mercado em pleno processo de transformação? Como estabelecer
valores éticos para a produção colaborativa de conteúdo informacional? Como selecionar
16
conteúdos válidos diante da abundância de informações? Qual deve ser, enfim, o papel do
jornalista na sociedade da informação? Estas são questões importantes para orientar os novos
profissionais e para as quais esta pesquisa procura contribuir, identificando formas em que se
apresenta o jornalismo colaborativo e novas funções executadas pelo jornalista diante da
apropriação pelo usuário das novas tecnologias de informação e comunicação.
De qualquer modo, é notável como as tecnologias de comunicação têm evoluído de
maneira intensa e, com isso, a forma de produzir notícias nas redações também vai se
transformando, se adaptando a estas novas possibilidades. Nesta mesma linha segue o avanço
nos estudos sobre o jornalismo produzido na internet e sobre a interferência do cidadão
comum nas publicações. Apesar de as referências teóricas serem ainda escassas, essa
discussão já tem sido bastante repercutida em sites e blogs com foco em comunicação e
tecnologia. Esta monografia poderá, portanto, contribuir como base para estudos futuros.
1.4. Objetivos
O objetivo central desta pesquisa foi realizar uma análise comparativa entre dois
veículos online e verificar como ocorre atualmente a produção de conteúdo no jornalismo
colaborativo através da observação de processos e ferramentas utilizadas para produção de
notícia por meio da participação de leitores.
Busca-se reconhecer, com isso, de que forma o jornalista atua na filtragem, apuração e
intervenção sobre este conteúdo, seja através de correções ou da adequação da notícia à linha
editorial do veículo.
Os aspectos teóricos deste estudo procuram refletir sobre novos tipos de jornalismo
que emergem atualmente. Na prática, a realização de uma análise comparativa entre dois
veículos com características diferentes procura criar condições para verificar até que ponto
essas manifestações colaborativas constituem-se. Estas iniciativas podem surgir como um
fenômeno de marketing, para atrair ou manter leitores, ou podem ser consideradas,
prioritariamente, como instrumentos de consolidação de uma comunicação mais democrática.
Considerados esses objetivos gerais, a pesquisa empreendida lançou algumas questões
específicas respondidas nesse trabalho, a saber:
Quais as características de uma produção jornalística colaborativa?
17
Como ocorre a colaboração do leitor com os veículos analisados?
Quais relações se estabelecem entre o jornalista e o leitor no espaço de notícias
produzidas pelo usuário?
Que critérios são utilizados por veículos de jornalismo colaborativo na seleção de
conteúdo do leitor?
Pelo fato de abordar um aspecto novo do jornalismo digital e que continua em
constante transformação, este estudo pode, a partir dessas questões, contribuir para
compreensão deste momento transitório em que os veículos mais consolidados que têm maior
abrangência, começam a propor neste espaço em contraposição a uma mídia especializada que
trata a produção da notícia como uma forma de contribuir para a democratização da
comunicação.
1.5. Método de pesquisa
O método de pesquisa utilizado neste trabalho envolveu estudos documentais,
bibliográficos, trabalho de campo, ações e observações participativas inspiradas em
netnografia, além de uma análise de conteúdo baseada na comparação entre textos
colaborativos publicados pelo Jornal do Brasil e pelo site Overmundo.
Para fundamentar essa análise comparativa sobre os veículos que compõem o corpus
de estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica dirigida que garantiu o embasamento
teórico e atribuição de critérios e parâmetros adequados para o tratamento do assunto. Além
disso, foi realizada, ao longo do primeiro semestre de 2011, uma leitura sistemática do
conteúdo online dos veículos mencionados para seleção de textos que seriam analisados.
Durante a pesquisa foram feitas duas visitas às redações dos veículos sediadas na
cidade do Rio de Janeiro para a realização de entrevistas e obtenção de informações mais
detalhadas sobre o funcionamento dos espaços colaborativos em ambos, além de organizar
enquete para que usuários de internet respondessem sobre a sua participação em veículos que
aceitam textos externos.
Para que a pesquisa tivesse ainda um componente ativo e participante, também foram
submetidos para os veículos estudados, dois textos próprios da autora para publicação, como
forma de vivenciar a rotina e o fluxo de moderação em uma situação real exemplar.
18
De modo geral, sempre que buscamos em algum livro para saber sobre determinado
assunto, estamos realizando uma pesquisa bibliográfica. Porém, como método de pesquisa, ela
deve ser executada de maneira sistematizada e planejada. Por definição, este tipo de
metodologia pode ser caracterizado como:
A busca por informações bibliográficas, seleção de documentos que se relacionam
com o problema de pesquisa (livros, verbetes de enciclopédia, artigos de revistas,
trabalhos de congressos, teses etc.) e o respectivo fichamento das referências para
que sejam posteriormente utilizadas (na identificação do material referenciado ou na
bibliografia final). (MACEDO, 1987, p. 89)
Esta atividade metodológica pode ser também entendida como parte do planejamento
da pesquisa, vislumbrando a busca por documentos relevantes para o levantamento de uma
base de dados bibliográficos consistente.
Como complemento à pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental é geralmente
realizada a partir da consulta e análise de documentos originais tais como: documentos
institucionais conservados em arquivos; documentos institucionais de uso restrito;
documentos pessoais, como cartas e e-mails; fotografias, vídeos, gravações; leis, projetos,
regulamentos, registros de cartório; catálogos, listas, convites, peças de comunicação;
instrumentos de comunicação institucionais (todas estas informações estão disponíveis no
arquivo digital do Jornal).
A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença
essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica
se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre
determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem
ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com
os objetos da pesquisa. (GIL, 1999, p. 57)
Além desses métodos convencionais, o presente estudo utilizou-se de alguns
instrumentos de captação e análise de dados inspirados na netnografia. Este é um método
razoavelmente novo que surge da adequação ou adaptação do método conhecido como
etnografia. A etnografia estuda comportamentos, sob o aspecto da cultura em determinadas
comunidades. O pesquisador atua como observador participante, sempre buscando um limite
de distanciamento do objeto de estudo. Já na netnografia, tais práticas ocorrem em uma
plataforma digital, necessidade de fazer parte de fóruns, listas de discussões e comunidades
virtuais onde se discute o foco de estudo.
19
A netnografia é utilizada para estudos da internet através de interpretação e
investigação do comportamento cultural em comunidades online. Para Hine (2000) apud
AMARAL (et al., 2008, p.37), ela é “a transposição dessa metodologia [a etnografia] para o
estudo das práticas comunicacionais mediadas por computador”. O autor argumenta que a
maior parte dos objetos de estudos nesta área está atualmente localizada no próprio
ciberespaço.
Outro componente metodológico deste trabalho é a entrevista como método de
pesquisa, que é bastante conhecida e muito utilizada em diferentes situações. Para o
jornalismo - seja impresso, online, televisivo ou radiofônico - é a maneira mais comum de se
obter informações das fontes através da coleta verbal de informações. Para a realização de
uma entrevista é necessária a elaboração de perguntas que auxiliem na captação de dados que
o jornalista deseja saber a respeito de determinado assunto. Enquetes e questionários mais
abrangentes também podem ser entendidos como variações da modalidade metodológica da
entrevista.
Esses métodos foram associados entre si na busca dos resultados do presente estudo.
Às pesquisas bibliográficas e documentais somaram-se relatórios enviados pelos veículos
referentes ao processo de submissão e publicação de textos, como forma de dar suporte para a
criação dos gráficos e tabelas. As entrevistas contribuíram para a compreensão sobre como
são selecionadas as ocorrências enviadas por usuários, para a coleta de informação sobre a
estrutura dos veículos e para ampliar a perspectiva sobre o perfil do leitor/produtor,
caracterizado como novo agente do processo comunicacional estudado.
Os documentos e relatórios fornecidos pelas equipes dos veículos foram de suma
importância, pois garantiram a manutenção de dados quantitativos reais sobre a contribuição
do leitor e a utilização dos mecanismos propostos por cada um dos canais escolhidos. Com
este material reunido, foi possível organizar a forma de apresentação dos resultados finais.
Os gráficos demonstraram, através de dados estatísticos, o volume de colaborações
dos leitores em períodos determinados de análise. Para cada parâmetro de comparação foi
gerado um gráfico para cada espaço colaborativo.
As atividades inspiradas em netnografia envolveram o envio de textos diretamente
para os veículos, a observação dos comentários em textos publicados por internautas e
também auxiliaram a entender como se relacionam os autores dos textos, leitores e editores
20
em ambos os veículos. As redes sociais também foram analisadas como meios alternativos de
difusão de peças deste novo jornalismo. Por elas, é possível acessar e difundir conteúdos
produzidos colaborativamente, além de aproximar leitores e autores.
Essas abordagens metodológicas envolveram aspectos quantitativos e qualitativos.
Foram observados, por exemplo, os critérios de noticiabilidade, negatividade, personalização,
composição, clareza, ambiguidade e estilo, que são critérios que correspondem ao aspecto
qualitativo da pesquisa.
No quesito quantitativo, os critérios referem-se à frequência com que os leitores
colaboram com a publicação, que tipos de arquivos são enviados e quantos colaboradores
contribuem no período da análise. Para demonstração destes resultados foram criados gráficos
ilustrativos e uma tabela comparativa dos resultados verificados em cada veículo.
1.5.1. Corpus de pesquisa
A seguir, são apresentados detalhes sobre os dois veículos que compõem o corpus de
estudo, como forma de justificar os critérios contrastivos que basearam a escolha para o
presente trabalho.
a) Overmundo
O Overmundo2 surgido em março de 2006, é um site colaborativo financiado pela
Petrobras através da lei de incentivo à Cultura, chancelado pelo Ministério da Cultura (MinC).
O site é pioneiro em ter suas publicações 100% enviadas por usuários que não
necessariamente tenham o jornalismo como profissão. O que estimulou seu surgimento foi a
possibilidade de divulgar a diversidade cultural do país, que, na maior parte das vezes, não
alcança espaço nos grandes veículos noticiosos.
2Fonte: http://www.overmundo.com.br/. Acesso em: 18/05/2011.
21
O site é dividido em quatro seções: Overblog, Agenda, Banco de Cultura e Guia. Seu
foco é tratar da diversidade cultural e, para isso, foi dividido em editorias. A editoria Agenda
agrega conteúdos de programação cultural de qualquer lugar do país, identificadas como
manifestações folclóricas, exposições e shows musicais regionalizados. Na editoria Guia os
colaboradores podem dar dicas de espaços culturais, bares e similares. No Banco de Cultura
são encontrados produtos culturais, como músicas, remixes de composições, obras de arte
visual, entre outros. A seção comporta arquivos para download e streaming.
Para colaborar com os conteúdos publicados, o usuário deve registrar-se no site.
Quando ele efetua seu cadastro pode começar a participar, escolhendo qual tipo de publicação
quer fazer.
No caso do Overblog, o usuário tem a opção de publicar diretamente seu texto ou
submetê-lo à edição colaborativa. Quando ele opta por fazer uma publicação nestes moldes,
seu texto é automaticamente encaminhado à uma fila de edição por 48 horas. Nesta fila de
edição seu texto poderá receber comentários de outros usuários cadastrados na plataforma.
Passadas as 48 horas, será direcionado para a fila de votação, onde passará mais 48 horas para
ser votado e ocupar (ou não) um espaço de destaque na página inicial do site.
Para garantir um mínimo de controle na publicação, foi criado o Observatório do
Overmundo, espaço em que a equipe do site pode exercer algum tipo de filtro sobre as
publicações e funcionalidades do sistema, mantendo os usuários sempre bem informados
quanto às mudanças que ocorrem.
Considerando esses aspectos do fluxo colaborativo, é possível levantar algumas
questões sobre a maneira com que são produzidas as notícias no site:
Usuários que optam por participar da edição colaborativa utilizam a plataforma da
maneira como é proposta?
Em que parte do processo ocorre a intervenção de um profissional responsável?
Como funcionam as campanhas de votação para os textos?
As filas de edição são realmente utilizadas?
Vale destacar, ainda, que o Overmundo adota softwares livres em sua composição
técnica. Com isso, o sistema desenvolvido para o site pode ser reaproveitado e distribuído
dentro dos termos de autoria prescrito pelo Creative Commons (livre para uso não comercial)
e seu código está protegido pela licença FLOSS (Free Libre Open Source Software).
22
b) Jornal do Brasil
Em 2011, o Jornal do Brasil completou 120 anos de história, marcada sempre de
peculiaridades e pioneirismo desde sua fundação, em 1891. De acordo com informações
institucionais extraídas de seu site, logo nos primeiros anos o jornal lançou sua proposta
editorial focada nas reivindicações populares.
Passou por interrupções e crises, mas até hoje preza pela qualidade em sua publicação.
Inovou pela sua estrutura empresarial, parque gráfico e pela distribuição, que no século XIX
era feita em carroças.
Na década de 1950 passou por uma reforma gráfica que revolucionou o mercado. Em
1970 foi reconhecido como o primeiro jornal a fazer uma cobertura cotidiana do movimento
sindical, na greve dos metalúrgicos na região do ABC paulista. Para dar continuidade à
existência do jornal com mais uma ação pioneira de tentar resolver a perda do número de
assinantes do mercado de impressos, o Jornal do Brasil foi o primeiro que passou a ser e
manter só a publicação digital, encerrando a produção impressa em 2010.
A edição online mantém a divisão em editorias e criou novas seções para o leitor
interagir mais com suas edições. As editorias são: Brasil, Internacional, Cidade, Economia,
Esportes, Caderno B, Programa, Domingo, JB Premium (seção de assinantes) e Leitor
Repórter.
O Jornal do Brasil tem uma maneira bem simples de receber a publicação de seus
leitores. No site www.jb.com.br, existe o espaço Leitor Repórter, em que qualquer pessoa pode
enviar um texto comentando, opinando, criticando ou sugerindo temas relevantes para a linha
editorial do Jornal. O interessado acessa o espaço do Leitor Repórter, insere o texto sem criar
um vínculo de usuário e fica aguardando pela moderação. As regras são simples e claras: o
texto deve conter entre 2.700 e 3.300 caracteres e o assunto deve ser de interesse dos leitores
do Jornal do Brasil.
O texto passa por um filtro jornalístico, que pode realizar apuração e uma revisão de
erros ortográficos e gramaticais antes da publicação, para não sofrerem repúdio dos leitores.
23
1.5.2. Seleção de período e textos de amostragem
O período para análise foi determinado a partir do cronograma estabelecido pelo
regulamento da disciplina de Projetos Experimentais, conforme designação das datas de
bancas de qualificação. Sendo assim, a coleta de conteúdo foi realizada a partir da segunda
semana do mês de julho do ano 2011. O material de amostragem selecionado pela pesquisa
tem espaço bem determinado dentro de ambos os veículos.
No Overmundo foram analisados os textos disponíveis na seção Overblog, que permite
ao usuário cadastrado encaminhar textos para os mecanismos específicos de edição e votação
colaborativa. Já no JB, foram selecionados para análise textos publicados no espaço Leitor
Repórter, seção destinada à contribuição dos leitores.
1.5.3. Forma de organização dos resultados
Para apresentação dos resultados relativos aos instrumentos de colaboratividade
explorados pelos veículos, foi criada uma tabela que apresenta de forma ilustrativa como
ocorrem as colaborações feitas pelo usuário. Esta tabela não tem caráter qualitativo e sim
demonstrativo.
Outra maneira de organizar e apresentar os resultados foi a criação de uma figura das
páginas analisadas, com seus textos originais, por meio da técnica “print screen”, como forma
de compará-los qualitativamente quanto ao seu conteúdo. O contraste entre as produções
publicadas em cada veículo foi feito desta maneira.
Tabela 1 – Tabela Comparativa de instrumentos
Nesta tabela foi feita uma comparação mais ampliada em relação aos instrumentos
utilizados por ambos os veículos estudados. Esta tarefa auxilia na visualização da forma como
são conduzidas as publicações feitas por leitores, seja num veículo de mídia tradicional como
em veículos de caráter mais independente e alternativo.
24
Gráfico 1 – Frequência de publicação colaborativa no mês de Julho de 2011 nos sites Jornal
do Brasil (Leitor Repórter) e Overmundo (seção Overblog – edição colaborativa)
A partir do relatório, que contêm a frequência de publicação de conteúdos enviados
por leitores durante o mês de julho, foi desenvolvido um gráfico simples de número de textos
submetidos por dias do mês. Este gráfico auxiliou a entender se esta é uma simples tendência
ou é fato que o leitor busca maior interação com os veículos de comunicação, contribuindo
assim para as ações em favor da democratização da comunicação.
Gráfico 2 – Gráfico de acesso (pageviews e visitas) no mês de Julho de 2011 nos sites Jornal
do Brasil e Overmundo
A partir do relatório, que contém a frequência de publicação de conteúdos enviados
por leitores durante o mês de julho, será desenvolvido um gráfico simples de número de
textos submetidos por dias do mês. Este gráfico auxiliará a entender se esta é uma simples
tendência ou é fato que o leitor busca maior interação com os veículos de comunicação,
contribuindo assim para as ações em favor da democratização da comunicação.
Gráfico 3 – Respostas de enquetes realizadas em redes sociais com colaboradores.
Com a proposta de entender o que motiva o usuário da internet a colaborar com um
jornal online. Foi criada uma enquete simples, de múltipla escolha para usuários que
costumam contribuir para algum site que disponibiliza espaço para o internauta publicar seus
textos, imagens ou vídeo. Os usuários que responderam a esta enquete foram estimulados a
respondê-la através das redes sociais, grupos de e-mail, fórum. Sendo assim são contatos da
autora. Alguns que interagem presencialmente (pessoas conhecidas da autora) e outras que
esta interação ocorre apenas no espaço virtual. Portanto com um perfil de agentes culturais,
músicos, artistas visuais, produtores de eventos. É importante ressaltar que para ter um corpus
de respostas mais expressivo foram convidados a responder, pessoas que não tem o menor
interesse em ser um colaborado com qualquer tipo de veículo de comunicação.
Gráfico 4 - Perfil do usuário Overmundo nos textos selecionados.
25
Para conseguir compreender melhor a plataforma colaborativa de divulgação cultural,
a autora acessou o perfil dos usuários, autores dos textos selecionados. Na página de cada um
é possível obter informações fornecidas pelos mesmo, além de ter acesso a todos as
contribuições feitas desde de sua inscrição. Quando necessário foi utilizado também
mecanismos de busca como Google e a rede social Facebook. É importante observar que para
o Jornal do Brasil não foi possível adotar o mesmo procedimento, pois como não há qualquer
tipo de relação estabelecida entre o veículo com o leito. Quando o internauta quer enviar um
texto para o Leitor Repórter, é solicitado apenas o nome, e-mail e o relato. Para o leitor final
só é disponibilizado o nome do autor e seu conteúdo, ou seja, não há informações suficientes
para refinamento na pesquisa.
Análise – Trechos analisados
Foram analisados de forma qualitativa, levando em conta as características de um texto
jornalístico e regras estabelecidas pelos veículos. Os trechos de publicações dos veículos
escolhidos foram copiados nesta publicação de monografia e seguem em anexo o texto
completo com sua respectiva figura capturada do site.
26
2. A COMPOSIÇÃO DA NOTÍCIA NO JORNALISMO COLABORATIVO
DIGITAL
O Jornalismo Digital tem como uma de suas características marcantes a atualização
constante da notícia. Comparado aos veículos impressos, a Internet trouxe maior agilidade nas
redações, pois o “deadline é pra já”.
Por outro lado, trouxe uma independência nas relações com as gráficas e distribuidoras
por exemplo. (FERRARI, 2003, p.35) Outra consequência desta constante atualização é a
geração de uma memória. Na Internet é possível acessar artigos arquivados, o site torna-se um
grande banco de dados virtual. Assim também é possível traçar o caminho de acesso à
informação pelo próprio leitor.
A hipertextualidade é, sem dúvida, outro elemento valioso no jornalismo online e
pode ser garantida com a inserção de links que encaminham a novos artigos, vídeos,
entrevistas em áudio, até mesmo para um arquivo de textos já publicados. É notável
que todos os elementos descritos aqui tenham uma relação entre si para compor o
que hoje conhecemos como jornalismo online, jornalismo digital, ciberjornalismo,
jornalismo cidadão entre outros termos usados. FERRARI (2007, p.86)
A interatividade hoje é encontrada em ferramentas que permitem o compartilhamento
do conteúdo, por exemplo, a possibilidade de enviar por e-mail ou publicar um link nas redes
sociais.
2.1. Conceitos e teorias de referência
Essa nova forma de jornalismo colaborativo pode ser contextualizada como um
movimento mais recente dentre as etapas históricas da evolução do jornalismo na internet,
conforme proposto por Mielniczuk (apud Jardim, 2004, p.13). O autor sugere três gerações
constituintes desta evolução: a primeira, caracterizada pela transposição de conteúdos do
impresso para o digital a partir de 1994; a segunda, pelo surgimento de portais de conteúdo e
novos veículos online que não existiam antes da internet em forma impressa, por volta de
1998; e a terceira a partir de 2001, com características de hipertextualidade, memória,
multimidiabilidade.
27
Para uma caracterização mais precisa das formas desse novo modo interativo de
jornalismo, vale fazer uma revisão dos principais conceitos a ele relacionados, a partir das
ideias de colaboração, interação e participação.
O jornalismo online é uma nova modalidade jornalística, que surgiu através desta
nova mídia, a internet, há aproximadamente duas décadas e que tem como principais
elementos a interatividade, a memória, a multimidiabilidade, a atualização constante,
a hipertextualidade e a personalização. (FERRARI, 2003, p.81)
Estudiosos já classificaram que, quando há intervenção do usuário na produção,
obtenção e difusão da notícia, pode ser chamado de jornalismo participativo, colaborativo,
jornalismo open source, jornalismo cidadão, webjornalismo participativo. Neste estudo adota-
se o termo jornalismo colaborativo e justifica-se o uso deste termo por entender que o leitor
passa a contribuir com o veículo espontaneamente e por haver um filtro antes da publicação,
seja por parte do veículo, seja através de uma equipe jornalística (um editor), ou a própria
rede de colaboradores.
Lemos defende que a internet não pode ser considerada uma nova mídia, mas tem a
compreensão de que “as novas tecnologias digitais geram processos de comunicação que
conectam usuário a usuário, gerando um fluxo que, virtualmente coloca todos em contato com
todos”. (LEMOS, 2002, p.35).
Além disso, outro fato de destaque na história do jornalismo na internet foi o
surgimento dos portais que, diferente dos sites, são um aglomerado de informações e serviços
que podem ser adquiridos online, segundo Barbosa (2004, apud Jardim, 2007). Desta maneira
entende-se colaboração e participação a possibilidade que qualquer cidadão tem de interagir
com veículos de comunicação, através da produção de textos que podem ou não ter
característica de notícia.
2.2. Novas formas de interação e colaboração
Muitos jornais, canais de televisão e emissoras de rádio que ocupam seu domínio
virtual, têm proposto espaços específicos para a colaboração do leitor. A princípio o
jornalismo surge para fazer uma mediação crítica da informação que é difundida pela
sociedade. Se o avanço tecnológico vem alterando a forma como os cidadãos buscam a
28
informação, e se formam grupos para discutir problemas sociais, é preciso estar atento na
maneira em que acontece esta ocupação do espaço digital.
Heródoto Barbeiro no artigo “Protágoras volta com tudo” cita Protágoras, um
ateniense que defendia a ideia de que não havia sequer uma verdade absoluta, pois o que tinha
real valor era o pensamento único, o que cada indivíduo pensava a respeito das coisas do
mundo o que resultava numa verdade relativa a um homem ou grupos sociais.
A comunicação está sob novo paradigma, trocou o esquema de poucas redes
emissoras e milhões de receptores por um novo, em que milhões são emissores ao
mesmo tempo receptores, e todos falam uns com os outros por meio do trânsito de
tudo que pode ser digitalizado: sons, imagens, textos, arquivos, enfim, tudo que
pode carregar a informação e o conhecimento. (BARBEIRO, 2010, p. 10)
Até agora são poucos os estudos formais que abordam explicitamente a questão da
colaboratividade no jornalismo digital. É nítida a presença de uma discussão sobre o
desenvolvimento do Jornalismo Online e pesquisadores como Brambilla (2010, p.126)
entendem esta interação entre redação e leitor como a quebra de um paradigma entre os
detentores da informação e o conteúdo produzido por um cidadão que não domina as técnicas
jornalísticas. E ainda defende que se tratando de um espaço jornalístico torna-se indispensável
a necessidade de haver o filtro da redação.
Para a autora, o processo de apuração, checagem de fatos e adequamento da linguagem
para o bom entendimento do leitor, é o que diferencia o jornalismo colaborativo do conteúdo
produzido colaborativamente. Tal conteúdo pode ser encontrado em blogs, redes sociais,
plataformas de vídeo como youtube, vimeo, além das ferramentas que arquivam e publicam
imagens.
Além disso, os textos encontrados em espaços destinados para o cidadão comum
publicar notícias, geralmente não dão grande lugar de destaque em seus veículos,
principalmente os de abrangência ampla. O conteúdo encontrado trata temas da localidade,
que muitas vezes não interessa como notícia para além de onde está. Esta afirmação foi
exposta por ambos os editores que são objetos desta pesquisa: Paulo Marcio Vaz, do Jornal do
Brasil e Viktor Chagas, do Overmundo.
Ainda uma novidade sem delimitações precisas, as iniciativas encontradas na internet
para colaboração criam suas regras conforme a necessidade e a resposta do colaborador. Os
sites disponibilizam espécies de fóruns para dúvidas e sugestões.
29
Viktor Chagas, coordenador do site Overmundo, contou em entrevista que a
plataforma já sofreu inúmeras mudanças conforme o comportamento dos usuários
cadastrados. Paulo Marcio Vaz, editor do Jornal do Brasil também destacou esta questão
quando relatava a mudança de coordenação do Brasil Wiki para o JB Wiki, nova plataforma
colaborativa lançada em agosto de 2011 pelo Jornal do Brasil, que tem o objetivo de ser um
jornal feito 100% por leitores. O editor contou que alguns colaboradores reclamavam por
mudanças em regras e funcionalidades e em outros casos, os mesmos puderam ajudar a trazer
melhorias no sistema da plataforma.
Mesmo os profissionais entrevistados e os autores pesquisados apontam o crescimento
desta prática e sugerem a valorização deste espaço, considerando o leitor como um
termômetro para suas publicações.
A internet propicia um espaço mais democrático segundo Lemos (2007). Através desta
perspectiva fica sugestionada a importância da abertura de espaços para o cidadão comum ter
voz. O jornalismo colaborativo passa a ser encarado como uma modalidade e não mais uma
tendência, adquirindo características próprias com seus conteúdos, referenciando o local, seja
denunciado situações precárias de ruas, acidentes, até divulgação de artistas e produtos
culturais e eventos.
Para Paulo Marcio Vaz, o jornalismo colaborativo vai se fixar como modalidade e
abrirá espaço para criar novas relações entre os leitores e os veículos. Em entrevista realizada
no mês de julho de 2011 na redação do Jornal do Brasil, Paulo apresentou o espaço
colaborativo já existente no site, O Leitor Repórter, e indicou que seu futuro é tornar-se um
espaço de diálogo do leitor, correspondente às antigas seções “carta do leitor” comumente
encontradas em revistas e jornais.
O Jornal do Brasil lançou em agosto do ano 2011 uma nova ferramenta baseada em
modelo de sites wiki, como a Wikipédia, onde já existem três mil cadastrados, com perfis
mais variados. Esta plataforma é chamada JB Wiki. Paulo contou que esta novidade surgiu a
partir da ideia “vamos dar um jornal à nossos leitores”. Baseada na interação dos leitores com
o site, lançaram este jornal feito 100% por usuários. Paulo ainda frisou que esta é mais uma
iniciativa pioneira do JB.
Foi publicado por Carlos Castilho (2011) no site Observatório da Imprensa, um artigo
falando sobre a modalidade “Jornalismo Colaborativo”. O texto aborda o crescimento desta
30
prática e os problemas que crescem progressivamente com ela. O texto elenca os principais
veículos que utilizam a colaboratividade como principal orientação de sua publicação e
aponta as preocupações com investimentos neste sentido. O mais interessante do texto foram
os comentários posteriores. Nestes, um leitor que se identificou como André João, questionou
que o jornalismo não existiria sem a colaboração do leitor, pois o jornalismo sempre contou
com esta contribuição para a produção de uma reportagem, e que na verdade esta nova
modalidade é redundante e argumenta que jornalismo feito somente por um autor é literatura,
ou ficção. Para uma reportagem, a apuração conta muito com a colaboração do leitor e por
isso sempre foi colaborativo.
31
3. RELATO DA PESQUISA
3.1. Detalhamento dos processos de coleta de dados
Foi realizada a pesquisa bibliográfica através de leitura de livros sobre o tema, artigos
acadêmicos, reportagens em sites especializados, revistas de comunicação e tecnologia. Sendo
assim, ficou nítida a preocupação dos profissionais da comunicação em relação ao
empoderamento por parte dos usuários, das ferramentas de produção de conteúdo. A leitura de
artigos sobre o assunto foi constante na pesquisa.
Em contato com ambos os veículos, foram realizadas entrevistas e feitas solicitações
de relatórios, documentos que relatem os índices de colaboratividade por parte dos usuários.
No caso da plataforma Overmundo, foram analisados os critérios de utilização da fila de
edição e a maneira com que os usuários promovem seus textos para que alcancem o número
de pontos para ser destaque na página inicial do Overmundo. Outros dados levantados
abordaram as mudanças de regras que aconteceram ao longo de cinco anos de existência e
como o usuário pode sugerir modificações de uso. No Jornal do Brasil também houve
entrevista e solicitação de relatório, porém o critério de publicação no espaço Leitor Repórter
passa pelo crivo da redação e nitidamente o volume de textos publicados é menor. Neste
espaço não há só texto, mas algumas vezes a notícia é apenas uma foto com título e legenda.
Foi enviado para os veículos o mesmo texto, como teste para verificar detalhes como a
demora de publicação, qual tipo de cadastro é solicitado ao usuário e relevância do assunto.
No Overmundo não foi realizada campanha de divulgação do texto, e em 48 horas não foi
atingida a pontuação necessária para o texto ser colocado em destaque. No Jornal do Brasil o
texto não chegou a ser publicado e, na oportunidade de diálogo com o editor, foi questionada
a razão pela qual ainda não havia ocorrido a publicação. A explicação foi que naquele dia
houve uma grande reunião da equipe de redação e não haviam realizado as atualizações no
espaço Leitor Repórter.
O envio de texto para ambos os veículos também é uma estratégia que possibilita fazer
uma comparação mais prática entre os dois veículos, já que um é um jornal consolidado e
outro é uma plataforma colaborativa de produção de conteúdo, não especificamente noticioso,
o que permite uma atuação de observador participante em ambos os casos.
32
Além disso, foi realizada uma visita à redação do JB e a sede do Overmundo no Rio de
Janeiro. Esta visita aconteceu durante o mês de julho de 2011, nos dias 14 e 15
respectivamente na sede do Instituto Overmundo e redação do Jornal do Brasil.
As entrevistas também foram ferramentas muito utilizadas na coleta de dados, seja por
telefone, comentários, e-mail, redes sociais ou qualquer outra via disponível. Para levantar
informações como a periodicidade de checagem para moderação das publicações no Jornal do
Brasil, o editor online Paulo Márcio Vaz foi acionado por um telefonema, e contou
sucintamente sobre o funcionamento se prontificando a conversar mais para contribuir com a
pesquisa. Já num contato via e-mail, a diretora executiva da plataforma Overmundo, se
colocou a disposição para entrevistas e ainda encaminhou o contato do coordenador editorial
Viktor Chagas.
Outra forma de entrevista apropriada para a pesquisa foi a realização de enquetes nas
redes sociais com usuários que costumam colaborar em portais de notícias, realizando
perguntas rápidas como: “Você costuma colaborar em portais de notícias?”, ou também como:
“Quando teve oportunidade de fotografar ou filmar um fato importante como uma enchente,
tomou a iniciativa de encaminhar para um jornal de grande circulação?”, para também ter uma
perspectiva do colaborador como produtor da notícia.
No mês de julho de 2011, houve a visita à ambos os veículos para uma entrevista
presencial. Não foi estabelecido um roteiro fechado de perguntas para a ocasião. Os
questionamentos foram direcionados pelas questões que a autora buscou responder na
presente pesquisa. As entrevistas duraram de 30 a 50 minutos e podem ser conferidas na
íntegra nos anexos.
O período estipulado para análise foi de uma semana durante o mês de julho do ano
2011. Nesta etapa foram analisados os conteúdos publicados no espaço colaborativo Leitor
Repórter do JB e na seção Overblog/Edição Colaborativa do site Overmundo.
Segundo informação colhida por telefone no dia 16 de maio de 2011, com o editor do
Jornal do Brasil, Paulo Marcio Vaz, o espaço do leitor é verificado no mínimo quatro vezes ao
dia, sendo uma pela manhã, duas ao longo da tarde e a última checagem acontece no começo
da noite, para evitar o acúmulo de textos na fila de moderação.
A moderação é realizada por todos os repórteres da equipe do jornal e eles são
instruídos a fazer uma leitura sob o aspecto da veracidade do fato e se segue os princípios
33
éticos - afinal essa seção é responsabilidade do jornal e qualquer ofensa ou informação
publicada errada, o jornal é que prestará contas sobre a questão - porém erros ortográficos não
são levados em consideração. O editor Vaz contou: “Se o leitor escrever cachorro com x vai
ficar com x, mesmo sabendo que receberemos reclamações dos leitores pelos erros, pois não
nos responsabilizamos por estes”.
Já no Overmundo, se o colaborador optar por colaborar através da fila de edição,
demora no mínimo quatro dias para seu texto estar na página inicial do blog, isso se o texto
alcançar a meta estabelecida pelo site - de atingir 80 pontos. Os pontos são como o botão
“curtir” do Facebook, em que cada clique vale um ponto e para votar o usuário deve ser
cadastrado no site. O colaborador tem a opção de realizar a publicação diretamente também
(neste caso a disponibilização do texto é automática). Na edição colaborativa hoje é incomum
encontrar textos divulgando atividades culturais por exemplo. No entanto, é bem comum
encontrar textos apresentando projetos contemplados em editais de financiamento, a vida e
obra de artistas regionais pouco conhecidos, textos que podem ser reconhecidos como
matérias que não são do cotidiano e não têm a pressa do conhecido hardnews.
Ao entrar em contato com a equipe do JB, o editor online Paulo informou ainda que o
jornal está para lançar uma nova ferramenta de colaboratividade voltada para os leitores. É
chamado JB Wiki, que será uma publicação feita inteiramente por leitores, onde a moderação
continuará existindo, mas de uma maneira bem mais atenuada. A intervenção do jornalista
será no âmbito ético e editorial, não garantindo desta forma a isenção de erros de ortografia na
publicação. Nesta plataforma será designado ao leitor mais responsabilidade sobre o conteúdo
publicado, ou seja, o jornal não se responsabiliza por possíveis ou futuros problemas de
discriminação, calúnia, difamação. Diferente do que acontece no espaço Leitor Repórter que
exige, algumas vezes, a apuração do fato por parte da equipe do JB.
Todo material levantado contribuiu para a pesquisa no sentido de compreender o que
os profissionais da área da comunicação estão discutindo sobre o novo papel do jornalista na
sociedade.
34
4. DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS
4.1. Mapeamento dos instrumentos de colaboração
Apuração – Ato de checar fatos e fontes relatados nos textos enviados pelos leitores.
Comentários – Espaço disponível para que outros leitores comentem o texto publicado.
Correção Gramatical – Ocorrência de revisão e correção de erros gramaticais.
Correção Ortográfica – Ocorrência de revisão e correção de erros ortográficos.
Envio de foto – Se é possível enviar arquivos de foto.
Envio de texto - Se é possível enviar arquivos de texto.
Envio de vídeo - Se é possível enviar arquivos de vídeo.
Fila de Edição – No site Overmundo, quando o usuário opta por publicar na edição
colaborativa, seu texto é submetido a uma fila de edição. Nesta fila outros usuários comentam
sobre o texto na pretensão de complementá-lo, corrigí-lo e, ainda, sugerir outras fontes ou
alterações.
Fila de Votação – A fila de votação também é uma ferramenta de publicação no site
Overmundo. Após o texto ficar disponível para outro usuário editá-lo, é automaticamente
encaminhado para a fila de votação. Lá deve atingir o mínimo de overpontos estabelecido
pelas regras da plataforma para ocupar espaço de destaque na página inicial.
Mínimo de caracteres – Alguns sistemas não aceitam textos com número de caracteres
ilimitados. O Jornal do Brasil exige que os textos tenham de 2.700 a 3.300 caracteres,
enquanto no Overmundo esta regra não existe.
Mínimo de pontos – Para alcançar espaço de destaque na página inicial é necessário atingir o
mínimo de 80 pontos.
4.2. Gráficos estatísticos de prevalência das situações estudadas
35
Ilustração 4.2.1. – Gráficos de Frequência de publicação colaborativa nos sites Jornal do Brasil
(Leitor Repórter) e Overmundo (seção Overblog – edição colaborativa).3
Ilustração 4.2.2. – Gráfico de acesso (pageviews e visitas) nos sites Jornal do Brasil e Overmundo4
3 Fonte: Elaboração da autora. 4 Fonte: Elaboração da autora.
36
Ilustração 4.2.3. – Gráficos de Respostas de enquetes realizadas em redes sociais com colaboradores
(baseado na enquete feita com internautas).
Ilustração 4.2.3.1. – Gráficos de perguntas sobre arquivos. 5
Ilustração 4.2.3.2. – Gráficos de perguntas sobre frequência. 6
5 Fonte: Elaboração da autora 6 Fonte: Elaboração da autora
37
Ilustração 4.2.3.3. – Gráficos de perguntas sobre tipo de notícia. 7
Ilustração 4.2.4. – Marcação de veículos pelos colaboradores 8
7 Fonte: Elaboração da autora. 8 Fonte: Elaboração da autora.
38
Ilustração 4.2.5. – Perfil do usuário Overmundo nos textos selecionados 9
Ilustração 4.2.6. – Frequência de submissão10
4.3. Tabela comparativa conforme parâmetros de aferição
Instrumento
colaborativo Jornal do Brasil Overmundo
Apuração
SIM Obs.: Ocorre quando o
texto demonstra falhas
de relato graves.
SIM Obs.: Nunca ocorre
apuração. NÃO NÃO
Comentários
SIM
São permitidos.
SIM
São permitidos.
NÃO NÃO
9 Fonte: Elaboração da autora. 10 Fonte: Elaboração da autora.
39
Correção
Gramatical
SIM
Não ocorre.
SIM
Não Ocorre.
NÃO NÃO
Correção
Ortográfica
SIM
Não Ocorre.
SIM
Não Ocorre.
NÃO NÃO
Envio de foto
SIM É permitido enviar foto
apenas ou inseri-la nos
texto.
SIM Podem ser inseridas nos
textos, nunca sozinhas. NÃO NÃO
Envio de texto
SIM
É permitido.
SIM
É permitido.
NÃO NÃO
Envio de vídeo
SIM
SIM É permitido, sempre
junto aos textos. NÃO NÃO
Fila de Edição
SIM Arquivos ficam
organizados por data
para aprovação e
publicação.
SIM O texto submetido fica
por 48 horas para receber
sugestões e correções por
meio de comentários.
NÃO NÃO
Fila de Votação
SIM
Não existe este
instrumento.
SIM O texto submetido fica
por 48 horas para receber
votos dos leitores, para
votar é preciso ser
cadastrado.
NÃO NÃO
Mínimo de
caracteres
SIM
2.700 a 3.300
SIM Não é exigido mínimo de
caracteres. NÃO NÃO
Mínimo de
pontos
SIM
Não existe.
SIM É necessário atingir o
mínimo de 80 pontos
para obter destaque na
pagina inicial.
NÃO NÃO
40
4.4. Análise crítica e comentários sobre exemplos significativos do corpus
4.4.1. Seleção de período e textos de amostragem
Acidente com capotamento, em Santa Rosa, Niterói
Leitor Repórter - 11/07/2011 às 20h39 - Cesar Coelho Cunha
Eram cerca de 19:10 do dia 11 de julho, quando dois carros colidiram no cruzamento
das ruas Gen. Pereira da Silva e Santos Dumont, entre Santa Rosa e Icaraí, Niterói.
Um dos veículos ignorou o risco de cruzamento e bateu com o que entrava na Pereira
da Silva.
A batida foi forte o suficiente para fazer um deles capotar. Ninguém ficou ferido, pois
os motoristas e passageiros usavam cintos e, por sorte, não houve também envolvimento de
transeuntes, já que o outro veículo subiu na calçada, havendo grande movimento de
estudantes na região. O atendimento dos bombeiros foi imediato, ficando o local sob vigília
policial, com cordão de isolamento para os serviços periciais.
Análise:
O fato descrito no texto acima pode ser considerado notícia, porém devido às
circunstâncias não ganha muito destaque como fato. Não houve feridos, o atendimento foi
imediato, os motoristas e passageiros seguiam as regras de segurança quanto ao uso do cinto
de segurança. É claro que não é correto olhar para isso com banalidade.
O texto não tem características como o lead. É bem direto, por isso não conta muitos
detalhes. É nítido o tom de indignação. Provavelmente trata-se de um morador do bairro
indignado com a imprudência dos motoristas.
O Jornal do Brasil não tem regras para publicação, apenas que os textos tenham 3.300
caracteres. O leitor repórter também conseguiu fotografar o local do acidente. Este tipo de
situação é muito bem-vindo na redação do Jornal do Brasil, como disse Paulo Marcio Vaz seu
41
editor. Ele relatou que o que acontece muitas vezes é não haver repórter suficiente para cobrir
notícias factuais.
Clima de insegurança no Centro do Rio assusta pedestres
Leitor Repórter - 11/07/2011 às 14h37 - Dione David de Carvalho
Meu nome é Dione, sou assessora do Desembargador Alexandre Câmara e, ao sair do
Tribunal, na última sexta-feira, às 19h, estava em frente à Igreja São José, no Centro, quando
apareceram mais de dez crianças e adolescentes, nitidamente com o propósito de cometer
furtos e roubos, já que passavam entre os grupos de pessoas de forma rápida e observadora.
Uma amiga e eu avistamos o grupo, esperamos, mas um deles, muito pequeno, deu a
volta por trás de mim e arrancou meu cordão.
Eu sei que isso acontece no Centro a todo momento, mas não poderia deixar de
registrar minha resignação, já que estamos em total abandono. Não é possível que nenhum
policial tenha visto aquele grupo de menores rondando pelo bairro! Simplesmente não temos a
quem recorrer.
Não tinha policiamento por perto, e logo na hora que a maioria das pessoas está saindo
do trabalho. As pessoas simplesmente ficaram correndo, tentando se proteger da forma que
podiam, segurando seus pertences, e isso numa rua muito movimentada.
Depois do assalto, indo para a estação das barcas, nos deparamos, nas escadarias da
Alerj, com um grupo de adultos, todos com garrafas na mão. Um deles avistou uma moça e já
se preparava para assaltá-la quando um homem que estava próximo gritou para que ela
tomasse cuidado e o sujeito retornou.
Não tem para quem pedir socorro, além de o local estar muito mal iluminado. Não sei
se caberia ao Tribunal fazer a segurança do local, mas que se tentasse junto à policia maior
segurança.
É o segundo assalto que sofro esse ano. O primeiro foi às 18h em frente ao antigo
prédio da PGE. Pelo amor de Deus! Não posso ter de andar por menos de dez minutos entre o
42
trabalho e as barcas, morrendo de medo de ser abordada e segurando minha bolsa do jeito que
posso, e quase correndo pela rua. É um apelo que faço. O policial que fica próximo às barcas
diz que trabalha sozinho por ali! É inconcebível ficarmos nesse abandono!
Análise:
A questão abordada é muito relevante e, pelo relato, fica claro que é necessário trazer
este problema mais visível para o governo e autoridades responsáveis. A maneira como o
texto foi relatado, desde o início, nota-se que não é um texto jornalístico. Sim um texto de
uma cidadã comum reivindicando seu direito de ir e vir com segurança pelas vias públicas da
cidade do Rio de Janeiro.
Quanto às regras, não extrapola os 3.300 caracteres e contém vários erros de
ortografia, que o Jornal não se responsabiliza, mantendo os erros ao publicá-los. Não contém
imagem.
Alunos de jornalismo lançam documentário 'Narradores do Açú'
Leitor Repórter - 15/07/2011 às 19h24 - Autor: Alunos da Faculdade de Filosofia de Campos
Um documentário feito por alunos de jornalismo da Faculdade de Filosofia de Campos
mostra a vida dos moradores de São João da Barra que tiveram suas casas desapropriadas para
construção do Complexo Portuário do Açú, do empresário Eike Batista.
O documentário é narrado pelos próprios moradores que foram forçados a deixar suas
casas e histórias para trás sem nenhuma garantia de vida melhor. O vídeo já foi comentado em
diversos sites e blogs da região e já teve mais de 240 visualizações em apenas 1 dia de
postagem no youtube.
"Narradores do Açú" http://www.youtube.com/watch?v=RA9h2AKGlSc
Confiram, pois muitos já se emocionaram com os depoimentos.
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• Comentários: 1 comentário
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Aline Machado, Campos dos Goytacazes 22/07/11 13:15
É um documentário realmente incrível e mostra com clareza a realidade daqueles moradores
do 5° Distrito de São João da Barra. Realmente vale a pena conferir o vídeo e se emocionar
com os depoimentos.
Análise:
Sem dúvida é uma iniciativa interessante do ponto de vista social, histórico e até
mesmo jornalístico. Poderíamos pensar que é um release, um texto de assessoria de imprensa.
Vale mais como uma nota do trabalho realizado por um grupo de estudantes do que uma
notícia propriamente dita.
Contém poucos erros de acentuação e ortografia, por outro lado também não excede o
limite de caracteres proposto pelo veículo. Utiliza elementos do jornalismo online,
disponibilizando link para assistir o vídeo. Ocorreu interação através de comentário. Outro
ponto valorizado pelos editores é o envio de fotos. Este texto assim como os outros contém
foto enviada pelo leitor.
Pavuna: Moradores intrigados com obra da prefeitura
Leitor Repórter - 17/07/2011 às 09h53 - Autor: Alberto Martins
A comunidade do conjunto residencial Engenheiro Rubens Paiva no bairro da Pavuna,
Zona Norte do Rio, onde está localizada a penúltima estação do metrô da linha 2, está
assistindo com tristeza ao início das obras para construção de uma creche que acabará com o
seu maior espaço para a prática de futebol.
O mais estranho é que a comunidade não entende por que construir uma creche a
menos de 180 metros de uma outra em funcionamento, e numa região onde existem pelo
menos outras três creches num raio de 500 metros.
A área escolhida para a obra pertence aos proprietários das unidades habitacionais, e
não ao estado ou a prefeitura, e foi o que “sobrou” no entorno do conjunto após a implantação
44
do Pólo Industrial da Pavuna, empreendimento muito bem vindo à região, embora tenha
eliminado os últimos espaços livres para a prática de futebol em campos de dimensões como o
que ora vai desaparecer.
Embora a comunidade tenha feito contato com as autoridades sobre a possibilidade de
manterem a área como está - e que existe há mais de 40 anos - e terem se colocado à
disposição para encontrar outras formas de ocupar o espaço com serviços públicos das quais a
região carece, não lograram serem ouvidos.
Análise:
Como Paulo Marcio Vaz, do Jornal do Brasil havia alertado, e a autora desta pesquisa
já havia observado nas publicações da seção Leitor Repórter, este texto é mais um depoimento
sobre situações que são relevantes apenas à comunidade específica de um bairro ou região da
cidade. Uma denúncia importante, porém, sem dados oficiais que comprovem o descaso com
as reais necessidades da população. O texto é um pouco confuso, com orações muita extensas,
mas acaba cumprindo a função de alertar sobre um problema.
O colaborador enviou texto com fotografia, porém não houve mais repercussão do
assunto nos dias seguintes no site.
4.4.2. Overmundo – Seção Overblog – período de amostragem 12 a 19 de julho
de 2011
Sobre a Semana Cultural BR x DE – SiebenGiebelHof
Tony Teófilo• Salvador, BA 14/7/2011 •1•0
Em poucas linhas é impossível descrever por completo a participação na Semana
Cultural Brasil-Alemanha SiebenGiebelHof, em Drenkow, Parchim, na Alemanha
(www.semanacultural.de).
A comitiva brasileira de dez representantes da Companhia Rheluz e do Núcleo Pensar
Filmes (BA) (www.pensarfilmes.com) foi muito bem recebida e auxiliada durante os vinte dias
da viagem, que teve uma programação mista, com tour em diferentes cidades, museus e
45
história política, além de aulas de introdução à língua alemã até a Semana Cultural
propriamente dita.
SiebenGiebelHof é uma pequena fazenda localizada entre Berlim e Hamburgo que se
dedica à produção de derivados do leite, como queijos, iogurte e quarker e fazem pães
selecionados e salsichões. (www.siebengiebelhof.de)
A Semana Cultural foi realizada ao fiel estilo woodstock, no meio da fazenda rodeada
de barracas de camping dos participantes que chegaram de toda parte da Alemanha. Cerca de
cinqüenta pessoas de todas as gerações, mas, com predominância de moças e rapazes entre 15
e 25 anos de idade. Nós, brasileiros, também ajudávamos em tudo. Na montagem das
instalações, na preparação das salas dos workshops, na montagem das barracas dos
participantes que chegavam, e ainda fizemos a preparação do palco a céu aberto. Nossas
refeições coletivas aconteciam no Café 7, no meio da fazenda, onde acontecem
concertos/shows esporadicamente e onde fazíamos o nosso happy hour. Houve as oficinas de
Teatro de Improvisação, com Chady Seubert (www.chadyseubert.de); de Forumtheater, com
Mirella Galbiatti e Aki Krishnamurthy (Buenos Aires x Berlim); da técnica de canto
Obertonesang, com Jan Heinke (www.overtone.cc/profile/janheinke); de Música
Experimental, com Andreas Delor (www.andreas-delor.com); de Dança Moderna, com
Simone Erbeck (Munique); de Grafite/Hip Hop, com Benson & Mardy (Berlim); e percussão
indiana de Tabla, com Debasish Bhattacharjee (Índia).
A comunicação entre os participantes durante as oficinas não era tão simples. As
pessoas utilizavam a língua que melhor lhe servia alemão, português, espanhol, inglesa. Mas,
acabavam sempre se entendendo, e teve o esforço e exercício de cada um em aprender um
pouco da língua do outro, sobretudo, alemão x português, como haveria de ser.
Eu participei do workshop Obertonesang, que é uma técnica impressionante de
(re)conhecimento de possibilidades de canto utilizando “apenas” a língua. E fiz ainda o
worksohop de Música Experimental onde tocamos instrumentos de grande efeito sonoro com
“madeira, pedras, Luri, rombos, flautas simples, gongos, barras de ferro forjado, simples
instrumentos de cordas, etc - instrumentos para a paisagem (ex: Steine, Luren,
Schwirrhölzer)”. É fundamentalmente música do tipo para meditação e exige muita imersão,
abstração e improvisação. Preparamos dois concertos: 1) apresentação para o final da Semana
Cultural iniciada com meditação e intercalada como o que chamaram de south america music;
e, 2) fizemos uma espécie de cerimônia dentro da floresta para as pessoas que morreram
46
naquele lugar, só com os músicos aprendizes. Fui o único brasileiro nesta oficina e o
professor-maestro Andreas Delor falava pouco inglês e não entendia nada em português, mas,
fui bem auxiliado pelo inglês de meus colegas.
Além das oficinas e apresentação pública do resultado destas, houve alguns shows
durante a Semana de atrações como o grupo de rock Sherbet Kontrabass que toca as músicas
de cunho político da antiga banda alemã Ton Steine Scherben, o grupo de inglesas Oh My
Darling (www.ohmydarling.ca) que tocam country apenas com instrumentos de corda, e a
Banda Tropical de Hamburgo (www.tropis-hh.net) que fez show com músicas brasileiras do
forró ao samba. Nós, brasileiros, em homenagem ao período junino, apresentamos uma típica
quadrilha junina na abertura da Semana Cultural que envolveu pouco a pouco os alemães na
dança.
O realizador do evento e intercâmbio, Jorge Grigat, que nos convidou e abrigou o
nosso grupo de brasileiros, dizia que, além da possibilidade de compartilhar culturas
diferentes que tem desafios sociais semelhantes, propõe uma reflexão sobre a dificuldade
ainda de envolver jovens em projetos culturais como esse.
O Núcleo Pensar Filmes cobriu o intercâmbio e está preparando um documentário
sobre a participação brasileira. A nossa ida para a Semana Cultural SiebenGiebelHof contou
ainda com o apoio da Secretaria Estadual de Cultura da Bahia e do Instituto de Radiodifusão
do Estado da Bahia – IRDEB.
Análise:
O texto lembra muito um relato de blogueiro, que conta uma experiência e às vezes
perde o foco com impressões pessoais e menos descrições sobre os fatos vividos durante a
Semana Cultural BR na Alemanha.
A Companhia Rheluz e o Núcleo Pensar são agentes da Rede Pintadas, uma rede de
associações religiosas, sociais artísticas que fomentam o desenvolvimento sustentável de sua
cidade foram para Alemanha representar a cultura brasileira em um evento sobre o tema. A
primeira é um grupo de teatro, o segundo é um ponto de cultura, ligados a Rede Pintadas que
faz parte do Programa Pintadas. Nada disso consta no texto. A autora desta pesquisa realizou
47
um levantamento para checar a cobertura citada no texto e o que fazem estes representantes.
Também não foi encontrada nenhuma notícia que desse continuidade a referida cobertura.
O assunto é relevante no sentido de poder se tornar uma notícia, mas da forma como
foi escrito não pode ser considerado jornalístico. Não há nenhuma característica adequada a
este tipo de texto.
As filas de edição e votação não tiveram comentários. Vale lembrar que existe a
possibilidade de publicar conteúdo diretamente, ou seja, é uma opção do colaborador.
Considerando a votação, não atingiu os pontos necessários para ter destaque na página
inicial do site Overmundo.
Audiência Pública sobre o AI-5 Digital
Pontão Ganesha • Florianópolis, SC - 13/7/2011
As polêmicas que rondam o Projeto de Lei 84/99 – conhecido como AI-5 Digital, não
são recentes. Em 2008, quando ainda era senador por Minas Gerais, Eduardo Azeredo foi
relator e defensor do PL, que começava sua trajetória pela Câmara e Senado. Já naquela
época, o texto provocou agitação e desconfiança, ao propor maior controle e punições severas
– consideradas severas demais, na verdade – aos “crimes da internet”.
E as polêmicas continuam. O mesmo Azeredo, hoje cumprindo mandato como
deputado, aproveitou as ações que em junho tiraram do ar algumas páginas do governo, e
reapresentou o projeto à Câmara.
Não é segredo que o governo federal está empenhado em aprovar, rapidamente, uma
lei que permita punir os crimes na internet, e a nova proposta de Azeredo traz algumas
mudanças em relação ao texto original, mas não o suficiente para contentar os que se
posicionam de forma contrária à sua aprovação.
Em entrevista concedida ao portal Rede Brasil Atual, João Carlos Caribé, reconhecido
oponente da proposta, foi enfático: “O projeto não melhorou a ponto de se tornar aceitável. A
essência da matéria continua a mesma e há questões problemáticas, que pouco ajudariam no
combate a crimes. A questão mais polêmica é a guarda dos logs (os dados de endereçamento
eletrônico da origem, hora, data e a referência GMT da conexão) por três anos. Isto é um
48
absurdo, acarreta um custo significativo e serve de alerta para o criminoso se prevenir,
dificultando uma eventual investigação”, explica Caribé.
Em palestra no FISL12, o sociólogo Sérgio Amadeu lembrou que se a internet é uma
rede de comunicação, é, também, uma rede de controle, já que para acessar uma página pela
rede, a máquina de qualquer usuário precisa ser reconhecida na rede. “Entretanto, essa rede de
controle foi pensada para não ser uma rede de controle político-cultural e pessoal. Por isso ela
não exige que as pessoas se identifiquem. O anonimato é a garantia da liberdade, da não-
vigilância, da defesa da privacidade e dos direitos fundamentais do indivíduo”, explicou. E,
caso surja a pergunta: “Mas e os ilegais?”, a resposta de Amadeu está na ponta da língua:
“Ora, os ilegais devem ser perseguidos com ordem judicial, inclusive. Como acontece na vida
fora da internet”, acrescenta.
O FUTURO DO AI-5 DIGITAL
A votação aconteceria no dia 29 de junho (primeiro dia do FISL12), mas a Comissão
de Ciência e Tecnologia propôs um adiamento até 10 de agosto, depois, portanto, do recesso
parlamentar que ocorre no meio do ano. O objetivo é aprofundar o debate através de uma
audiência pública, agendada para quarta-feira, dia 13 de julho, a partir das 9h30. É mais um
capítulo nessa confusa história, mas desta vez o público poderá acompanhar, em tempo real, e
participar da discussão por meio de chat ou Twitter, enviando sugestões, perguntas e críticas
aos deputados.
Para participar, os interessados devem efetuar cadastro no site e-Democracia. As
discussões prometem ser polêmicas.
O debate foi proposto pelos deputados Sandro Alex (PPS-PR), Emiliano José (PT-
BA), Fernando Francischini (PSDB-PR) e Manuela d’Ávila (PCdoB-RS), e tem como
convidados:
- Sérgio Amadeu da Silveira, sociólogo e professor o professor da Universidade Federal do
ABC;
- Guilherme Varella, advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec);
49
- Carlos Affonso Pereira Souza, professor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio
Vargas (FGV);
- Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV;
- Marcos Vinícius Ferreira Mazoni , presidente do Serviço Federal de Processamento de
Dados (Serpro);
- Demétrius Gonzaga de Oliveira, chefe do Núcleo de Combate aos Cibercrimes;
- Vanessa Fusco Nogueira Simões, coordenadora da Promotoria de Combate aos Crimes
Cibernéticos do Ministério Público de Minas Gerais,;
- Carlos Eduardo Miguel Sobral, chefe da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos da
Polícia Federal;
- Patrícia Peck Pinheiro, advogada;
- Marcelo Lau , diretor-executivo da Data Security;
- Fábio Furtado Ramos, diretor da Axur Information Security;
- Fernando Botelho, desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais;
- Demi Getschko, conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil;
- Raphael Mandarino Junior, chefe do Departamento de Segurança da Informação e
Comunicações do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
- Roberto Mayer, vice-presidente de Relações Públicas da Associação das Empresas
Brasileiras de Tecnologia da Informação;
- Antonio Neto, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e
Tecnologia da Informação de São Paulo.
Análise:
Texto publicado originalmente no site do Pontão de Cultura Digital Ganesha, no
endereço: http://www.ganesha.org.br/index.php?mod=pagina&id=12087
50
Aqui neste exemplo encontramos uma notícia. O autor preocupou-se em realizar uma
pesquisa, conversar com pessoas envolvidas na questão de aprovação do projeto de lei, para
trazer um histórico deste projeto que já está em tramitação por no mínimo 12 anos.
Segundo a proposta de estar na edição colaborativa, não houve manifestações via
comentários. Alcançou também um voto apenas e se mantém no banco de colaboração no
perfil do autor.
WILLIAM BLANCO DE ABRUNHOSA TRINDADE, GRANDE BILLY
Abílio Neto • Recife, PE 12/7/2011
Aos 87 anos, o Billy Blanco disse adeus nesse 08/07 próximo passado. A música
brasileira fica mais pobre. Nascido em Belém/PA em 08/06/24 é mais um da década de 20 que
vai embora. Compositor, poeta e violonista, começou a vida artística fazendo parte do
conjunto "Os Gaviões do Samba" que se apresentava no Cassino Marajó em Belém.
Mudou-se para São Paulo em 1946 para estudar arquitetura na Mackenzie, mas
diplomou-se como arquiteto em 1950 pela então Universidade do Rio de Janeiro.
Sua ida para o Rio lhe proporcionou gravar as primeiras músicas, o que não tinha
conseguido em São Paulo. Daí por diante, freqüentando o meio musical, conheceu Dolores
Duran que o apresentou aos vários cartazes da década de 50, como Lúcio Alves, Dick Farney,
Silvio Caldas, Isaura Garcia, Elizete Cardoso, Radamés Gnattalli, João Gilberto e a dois
compositores famosos – Armando Cavalcanti e Klécius Caldas, oficiais do Exército, que
muito o ajudaram lançando Billy Blanco no mercado musical.
Exerceu a profissão de arquiteto paralelamente à vida artística como compositor,
instrumentista e cantor. Estou teoria e harmonia musical com Aída Gnatalli e depois com
Célia Vaz. Foi amigo de todos os bambas da música brasileira, em especial de Radamés e
Tom.
Na década de 50 já fez muito sucesso compondo Prece de um Sambista, Estatutos da
Gafieira, Teresa da Praia (com Tom),Esse Rio que Eu Amo,Mocinho Bonito,Lágrima
Flor,Viva Meu Samba, A Banca do Distinto,Pistom de Gafieira,Camelô e Samba Triste (com
51
Baden). Teve mais de 300 músicas gravadas.Sua grande influência foi Noel Rosa e Vadico. É
um nome que está acima de qualquer rótulo musical.
Ao chegar no quarto ano de arquitetura da Universidade do Brasil,Billy ficou sabendo
que deveria estar ali como colega de turma, um rapaz que também era compositor chamado
Antonio Carlos Jobim, que havia trancado a matrícula ainda no primeiro ano.
Naquele tempo Jobim pediu ao padrasto – Dr. Celso Frota Pessoa – que alugasse um
piano para ele, no que foi atendido, quando iniciou a carreira de um dos mais consagrados
músicos e compositores do Brasil. Billy perguntou onde encontraria o ex-colega (quase). Tom
tocava na noite no bar Posto Cinco que ficava na Av. Atlântica e foi lá conhecê-lo. Tom e
Billy tornaram-se parceiros em várias canções. Freqüentavam, com Radamés e Garoto, no
Morro da Viúva, a casa do Dr. Raul Marques de Azevedo que possuía o primeiro aparelho de
alta fidelidade da cidade e a quem Tom apelidou de “Seu Vitrola”.
Billy era um cronista musical: falava de amor, desilusão ou exaltava as belas coisas da
vida ou das cidades onde viveu. Nada escapava ao que o rodeava ou tinha conhecimento
como por exemplo a construção de Brasília. Era um profeta musical porque a sua música
"Não Vou Pra Brasília" é um retrato fiel do que ocorre hoje na capital do Brasil: lugar de
"ganhar" grana!
Esta música que foi gravada em 1957 pelo conjunto "Os Cariocas" chegou a ser
censurada no governo democrático de Juscelino Kubitscheck. Ela revela todo humor e
irreverência que Billy imprimia em algumas de suas composições.
Em 1996, Billy gravou esta música ao vivo no Vinícius Bar, no Rio de Janeiro, com o
luxuoso acompanhamento do violão de Célia Vaz. Saiu no CD chamado "Billy Blanco
Informal". É uma raridade. Então, curtam Billy Blanco cantando, aos 72 anos, de sua autoria,
o samba NÃO VOU PRA BRASÍLIA. Espero que gostem.
Boa audição!
Análise:
Seguindo o critério “notícia” o texto tem o apelo da morte de um sambista que fez
parcerias com grandes nomes da música brasileira, como Tom Jobim e Dolores Duran. Como
52
valor noticioso, segue a proposta editorial do site. Trata de um artista que contribui muito para
o reconhecimento e obras produzidas num período.
A publicação disponibiliza link para audição, característica própria do jornalismo
online. Porém como nos casos anteriores não houve ocorrência de comentários e apenas um
voto.
Documentário une leis de incentivo ao crowdfunding
Rafael Queres • Rio de Janeiro, RJ 11/7/2011
Bons ventos começam a soprar nas terras brasileiras e os novos empreendedores estão
aproveitando para zarpar em outros rumos. Desde o início de 2011, as plataformas de
crowdfunding eclodiram a todo vapor no cenário nacional. O chamado financiamento
colaborativo já se firmou como mais uma oportunidade promissora para muitos realizadores
que, graças ao modelo, começam a tirar seus projetos da gaveta. Ao pé da letra, crowdfunding
significa “financiamento da multidão”, algo que nos lembra a popular “vaquinha” que os
amigos sempre fizeram para ajudar algum parente ou amigo a transformar seu sonho em
realidade. No entanto, com as novas ferramentas e tecnologias da comunicação, essa dinâmica
ficou bem mais organizada, simples e funcional.
O documentário "Eu Maior" é um exemplo que parece abrir novas janelas para
produtores audiovisuais independentes. No início de 2010, antes mesmo do surgimento das
plataformas de crowdfundingno Brasil, a Catalizadora Audiovisual, produtora do filme, criou
um site exclusivo para a buscar seus apoiadores diretamente na multidão. Enquadrado na Lei
do Audiovisual, o filme assume a tendência internacional do novo modelo de captação e
agrega um diferencial pouco convencional para os padrões do mercado brasileiro. Após ter
aprovado o seu orçamento, o projeto começou a buscar patrocínio de pessoas jurídicas. Até
aqui, nada demais. Mas poucos sabem que a própria lei acena para a possibilidade de
investimentos de pessoas físicas, que da mesma maneira também podem lançar mão da
renúncia fiscal.
Com orçamento total estimado em R$ 550 mil, “Eu Maior” espera captar R$ 200 mil
através das cotas de investimento de pessoas físicas. A Agência Nacional do Cinema (Ancine)
abriu uma conta de captação especial para o montante arrecadado de pessoas físicas, limitado
53
a 40% do orçamento total. Desde novembro do ano passado, os recursos provenientes dos
apoiadores já somam R$ 92,7 mil. Para dar dinâmica à proposta, cada cota de patrocínio de
pessoas físicas pode ser comprada por R$ 100,00. Conforme a Lei do Audiovisual, o
patrocinador pode ter o Imposto de Renda restituído em até 6% do que deve ao Leão.
Plataformas brasileiras
No Brasil, o financiamento colaborativo tem se firmado como alternativa viável aos
pequenos projetos. Além de ter pautado diversos cadernos na imprensa é extensa a
documentação quefóruns e blogs especializados estão desenvolvendo para introduzir o
modelo na cultura empresarial brasileira.
Através das plataformas, o projeto criativo se lança antes mesmo de ser executado,
tendo tempo para fortalecer a sua rede de relacionamento com o público. O projeto pode ser
uma proposta a começar do zero ou pode ser o desenvolvimento de uma etapa específica.
Nessa aposta, o que vai garantir o sucesso de uma empreitada é o impacto que provoca na
sociedade. Quanto maior a relevância do projeto, maior a chance de alcançar novos fãs e
entusiastas. Simples? Nem tanto. Para dar uma outra perspectiva sobre o sucesso ou não de
um projeto, Rafael Zatti, uma das vozes que se destaca na matéria do crowdfunding, avaliou
algumas empreitadas que não atingiram a meta de captação no prazo estipulado. Vale à pena
conferir.
O dono do projeto, ao mesmo tempo em que minimiza os riscos de ter sua ideia
inacessível, falida ou guardada na gaveta, pode avaliar o seu desempenho junto aos
apoiadores ou, se for o caso, reposicionar a estratégia no decorrer da sua campanha.
Resumidamente, em linhas gerais, o modelo do crowdfunding é um meio de promoção e de
fomento; num único pontapé o projeto angaria fundos para sua execução e é promovido por
fãs, amigos, ativistas e entusiastas.
Além das novas ferramentas de comunicação, outro ponto básico que diferencia o
crowdfunding da tradicional “vaquinha” é uma regra geral: quem participa do financiamento
colaborativo é recompensado por isso. Essa relação de troca celebrada entre o dono do projeto
e os apoiadores não deve ser confundida com uma venda indireta já que a recompensa criativa
nem sempre é um produto ou serviço. Pode ser feita uma referência do patrocinador nos
54
créditos de um filme, dedicatórias, cartas, livros autografados, camisetas, adesivos, broches,
etc. Para cada faixa de doação há uma recompensa criativa específica.
O responsável pelo relacionamento com os apoiadores mantém constante diálogo com
o público e o uso das mídias sociais para isso é parte fundamental do processo de
comunicação. Fundamental mesmo. Com elas, o público-alvo das iniciativas é ativado e, a
partir de então, o boca-a-boca cumpre a sua missão.
Iniciativas surgidas nas plataformas já são rotina frequente nas rodas de discussão.
Queremos, Catarse, Movere, Incentivador, Senso Incomum, Benfeitoria, Multidão, Waca
Waca e Embolacha são algumas opções para o projeto nascente, essas marcas já estão na boca
dos novos empreendedores. No total, há aproximadamente 12 plataformas em funcionamento.
O Vakinha não entra na lista porque, como vimos acima, no modelo da “vaquinha” não há
qualquer necessidade das recompensas.
A estratégia do documentário
Em meados de 2009, “Eu Maior” era uma apenas uma ideia. Mas a proposta conseguiu
apoio de um empresário que se identificou com o projeto. Com o recurso investido por ele, foi
possível dar início às pesquisas. Nessa época, a Catalizadora Audiovisual já tinha um objetivo
claro, definido na sua sinopse: realizar um documentário que “visa trazer uma reflexão
contemporânea sobre o autoconhecimento e busca da felicidade, questões essenciais e
universais, numa época de grandes transformações e desafios”.
Quando a própria equipe da produtora criou um site para o filme, antes mesmo das
filmagens a intenção era proporcionar um pequeno “tour” às empresas afins com a iniciativa.
Mas do crowdfundingnasceu uma grande oportunidade. O coprodutor de "Eu Maior", o
engenheiro e consultor André Melman, com base no que verificou a partir da participação
popular no sistema de doações às campanhas políticas de Barack Obama, nos Estados Unidos,
e de Marina Silva, no Brasil, partiu para o chamado benchmarking.
Durante o processo, Melman pesquisou mais alguns cases de sucesso aplicados à
indústria cinematográfica. Foi então que chegou aos filmes "The Cosmonaut", coprodução
entre Espanha e Rússia, e "Just Do It". Depois de avaliar essas experiências, o site do filme
55
“Eu Maior” já podia contar com a nova inspiração nos negócios a partir das contribuições do
público.
Atraindo grande atenção para as causas que desperta, trechos do documentário
começaram a circular nas mídias sociais logo após as entrevistas. Em tom de conversa, são
registrados momentos particulares e reflexões de pensadores, ativistas, poetas, cientistas,
professores e espiritualistas. Entre os ilustres convidados do filme estão Leonardo Boff,
Marcelo Yuka, Sônica Café, Monja Coen e Prem Baba. A equipe pretende filmar 30
entrevistas até o fim de 2011.
De maneira independente, a produtora conseguiu o apoio da rede Cinemark para a
exibição de suas duas sessões de pré-estreia até o final do ano (conforme o seu projeto
inicial). Quando o site do documentário agregou a inspiração trazida pelo novo modelo de
financiamento colaborativo, possibilitando ao público a isenção fiscal como diferencial da
proposta, a rede de cinemas também se tornou patrocinadora do filme. Desde então, vários
outros grandes players vieram a figurar entre os apoiadores e patrocinadores do documentário.
A equipe, formada por André Melman (co-produtor), Fernando Schultz (co-diretor e
produtor), Paulo Schultz (co-diretor e produtor), Marcos Schultz (co-produtor) e Felipe
Cordeiro (Assistente de Produção), por conta do esforço de divulgação feito pelos produtores
e assessores, ganhou adesão de blogueiros, sites eprofissionais atuantes em clínicas médicas,
praticantes demeditação, ativistas, professores e outros produtores interessados no modelo de
negócio. Além dessa rede de apoios, o filme também ganhou destaque na mídia tradicional,
principalmente por conta do material publicado por jornais e revistas.
Modelos similares
No mercado brasileiro, até onde essa pesquisa conseguiu checar, a empresa foi a
primeira a se “aventurar” nessa empreitada, aliando incentivos fiscais ao crowdfunding, de
modo organizado e com o suporte da internet. Outro mecanismo de financiamento similar,
envolvendo a renúncia fiscal de pessoas físicas, foi encontrado no “Eu faço cultura”,
programa da Caixa Econômica Federal. Mas essa iniciativa é focada nos funcionários da
instituição, que aplicam o parte do Imposto de Renda devido em projetos culturais através da
Lei Rouanet. Vale destacar ainda que, no Brasil, a maioria das iniciativas de pessoas físicas
56
no mecenato cultural, envolvendo renúncia fiscal, parte especialmente de grandes
empresários, como Eike Batista, por exemplo.
Expectativas de projeção no mercado
Até agora, a equipe não pode contar com a possibilidade de realizar viagens
internacionais. Mas tais planos não estão totalmente fora da rota do documentário. Ainda há a
intenção de filmar personalidades como Marcelo Gleiser e Paulo Coelho.
Com o filme pronto até o final de 2011, a expectativa é que o lançamento não demore
para acontecer, ainda nesse ano. Aproveitando a rede de parceiros e apoiadores (e o calor do
boca-a-boca), o filme pretende ser lançado em todas as janelas possíveis, primeiro no cinema,
e depois na TV e em home video. Por fim, o filme será distribuído gratuitamente na Internet.
Desafios sustentáveis?
Além dos percalços que afligem a todo produtor independente no Brasil, um dos
grandes desafios enfrentados foi o processo de amadurecimento da ideia, trazida pelo
crowdfunding, dentro da própria equipe. Superada essa etapa, uma outra dificuldade foi a
burocracia para que tudo corresse dentro das normas legais. Emitir centenas de boletos e
comprovantes de captação e checar e transmitir esses dados para os órgãos fiscalizadores pode
ser exaustivo. Aguardar a liberação da conta de movimentação para começar aplicar os
recursos no filme também pode parecer uma tortura. Mas esse é o preço do pioneirismo, não
existe fórmula para o sucesso. O segredo é a persistência.
Vale dizer que investir no filme e receber incentivo fiscal é uma opção dos apoiadores.
Muitos desses incentivos financeiros são dados por profissionais liberais, autônomos e
anônimos. Esse ponto é sempre frisado pela equipe de produção, que reverterá todo lucro
decorrente da exploração comercial do filme à Associação Dobem, instituição sem fins
lucrativos que utilizará os recursos no cumprimento de sua missão: promover
desenvolvimento humano integral.
• Comentários +comentar
Após ser alertado pelo coprodutor do filme, André Melman, gostaria de fazer uma correção.
Não há uma conta específica para patrocínio de pessoas físicas e outra para pessoas jurídicas;
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a conta de captação é uma só. A informação do terceiro parágrafo do texto, portanto, deve ser
entendida da seguinte maneira: A Agência Nacional do Cinema (Ancine) limitou a 40% do
orçamento total o montante arrecadado de pessoas físicas
Rafael Queres• Rio de Janeiro, RJ 12/7/2011 19:50 1 pessoa achou útil • sua opinião
Na verdade Rafael, não existe este limite de 40% também.
A equipe de produção que determinou uma meta de R$200 mil para patrocínio de PFs,
atualmente com cerca de R$100 mil já captados.
Andre Melman São Paulo, SP 14/7/2011 11:38 sua opinião
O lançamento comercial em cinema está previsto somente para 2012, provavelmente no
primeiro semestre.
Andre Melman• São Paulo, SP 14/7/2011 11:49 sua opinião
Análise:
O autor é Jornalista profissional e trabalha com mídias sociais. Neste texto utiliza
vários recursos característicos do jornalismo impresso (box) e também do jornalismo digital
(links). Conta sobre o documentário, suas estratégias de financiamento e explica ao leitor o
que é o financiamento colaborativo. Expõe ao leitor comum quais são os mecanismos
existentes no Brasil para financiamento de projetos culturais, seja através de editais ou de leis
que garantem uma certa renúncia fiscal por parte de quem financia ou investe em cultura.
O autor do texto, via comentários, foi capaz de inserir uma errata sobre uma
informação incorreta. Houve também uma discussão através de comentários sobre outros
pontos expostos na reportagem. Como na maior parte dos casos dos textos, recebeu apenas
um voto. Este texto por ter recebido mais interações pode ser analisado como um texto de
jornalismo colaborativo.
Na fé, na arte e na luta
1 Jorge Riba• Recife, PE 16/7/2011
58
Quando as profundas águas do sagrado se encontram com as águas da cultura de um
povo e, essas com as do sonho de mudar a história de sua gente, surge uma intensa e
estrondosa pororoca, provocando transformações, como a carreira de Jorge Riba.
Por OSWALDO FAUSTINO
Poeta, músico, compositor, rodante em terreiro de candomblé, militante do Movimento
Negro Unificado (MNU) e marceneiro, o pernambucano Jorge Riba, como todo filho de
Ogun, não perde a oportunidade de se envolver numa boa guerra. Apesar da calma aparente, o
desassossego é sua marca principal. Aos 46 anos, depois de lançar seu CD Meu Recado, e de
conquistar um expressivo espaço no mundo do samba, do maracatu e demais manifestações
afro-brasileiras de Pernambuco, ele parte para outros estados na ânsia de reavivar a cultura e o
orgulho de ser negro em todo o Nordeste brasileiro.
Ainda menino, aos 7 anos, teve sua iniciação no candomblé. Ali, junto aos atabaques,
nasceu sua intimidade com os instrumentos de percussão. Aos 11 anos, porém, uma madrinha
de seu irmão resolveu presenteá-lo com um violão. "O interessante é que o presente seria para
o afilhado, Jairson, mas ela decidiu dálo a mim, talvez por acreditar que eu aproveitaria
melhor." Intuitivo, Jorge, em pouco tempo, foi explorando as possibilidades do instrumento,
tornando-se um músico autodidata. "Eu considero que a minha introdução no mundo artístico
se dá simultânea à compreensão real da força da minha negritude. Isso aconteceu aos 16 anos,
quando li O Quilombismo, de Abdias do Nascimento. Ambas as portas se abriram ao mesmo
tempo. Entendi que o fazer arte, para mim, não poderia ser apartado de minha atuação
política, sob orientação dos professores Inaldete Pinheiro e Edvaldo Ramos e do Ogã Jorge
Morais", confessa o artista militante. Nessa mesma época, ele começou a ganhar o pão,
tocando em barzinhos. Assim, o ariano recifense Jorge José de Oliveira Ribeiro, nascido na
Boa Vista e criado no Morro da Conceição e na praia do Rio Doce, se tornou Jorge Riba.
Como Abdias - pensador e ativista, artista plástico, ator e diretor teatral que jamais se
apartou da mais profunda relação com sua religiosidade - Jorge Riba foi desenvolvendo seu
dom artístico sem trair suas raízes. Manteve-se no terreiro onde, aos 26 anos, começou a
incorporar e também participou, com outros ativistas, da fundação do MNU de Pernambuco.
59
"EU CONSIDERO QUE A MINHA INTRODUÇÃO NO MUNDO ARTÍSTICO SE
DÁ SIMULTÂNEA À COMPREENSÃO REAL DA FORÇA DA MINHA NEGRITUDE.
AOS 16 ANOS, QUANDO LI O QUILOMBISMO, DE ABDIAS DO NASCIMENTO"
MADEIRA DE LEI
Dona Alzira Ribeiro, da velha guarda da escola de samba Gigante do Samba, do bairro
da Água Fria - a verde e branco, antiga Garotos do Céu, fundada em 1942 e a maior campeã
da história do carnaval de Recife - tinha no menino Jorge um devotado fã que se orgulhava de
ver a mãe nos ensaios e desfiles. Só aos 12 anos, ele saiu na escola de samba Unidos da Vila,
da praia do Rio Doce, pela primeira vez, na ala de frigideiras. É mais ou menos nesse tempo
que também aprendeu o ofício de marceneiro. Trabalhando com a madeira - ele hoje atua
numa molduraria - aprendeu também as técnicas da fabricação de instrumentos musicais.
"Não chego a ser um lutier, mas faço bons instrumentos de percussão, como bombo, surdo,
zabumba, alfaia de maracatu, e também ensino a garotada, em oficinas culturais, a tocálos e a
construí-los. É o empoderamento através da musicalização", afirma Jorge, que também se
dedica à arte-educação, desenvolvendo um trabalho com formação musical para crianças,
através da ONG internacional Plan.
Aos 17 anos, mudou-se para a cidade de Salvador, onde conheceu profundamente os
blocos de afoxé. "Antes disso, eu já estava envolvido na luta pela revitalização dos maracatus.
Era ritmista do bloco Leão Coroado, um dos mais fiéis às tradições afro-pernambucanas. E
tentávamos fazer um candomblé de rua. Havia certa rejeição por parte de muitas pessoas",
conta Jorge. Segundo ele, um grupo de balé afro, liderado pelo Mestre Zumbi da Bahia e por
Ubiracy de Castro, montou o Ilê de África, cujo cortejo contou com a participação de diversos
integrantes do movimento negro. "Aí, o próprio MNU de Recife criou o Axé Nagô. Ambos,
porém, tiveram vida curta", lamenta.
Ao retornar de Salvador, nos anos 80, Jorge fez-se o maior incentivador para a criação
de novos afoxés em sua terra natal. Com o Tata Raminho de Oxossi, ele criou a Ará Odé, que
hoje é administrado por Raminho e mãe Lu de Oxalá e se tornou um ponto de cultura.
SANTERIA CUBANO-PERNAMBUCANA
60
Samba, samba-reggae, afoxé da melhor qualidade, muita arte e cultura, mas sem se
descuidar do sagrado. Com essa preocupação, um grupo de ativistas do qual Jorge fazia parte
agitou muito em favor da realização de um intercâmbio entre artistas, pesquisadores e
religiosos pernambucanos e cubanos, que resultou numa visita, com oficinas culturais, a
Santiago de Cuba e na vinda, em 2008, de uma comitiva de mais de 60 pessoas a Recife e
Olinda, com festival, palestras, wokshops e rituais. Confirmou-se, então, uma profunda
identidade entre as manifestações religiosas e artísticas de ambos os países.
Mas é no samba, ao qual se dedica há mais de 30 anos, que o grande público
reconhece Jorge Riba, sócio-fundador do Movimento dos Compositores de Samba de
Pernambuco e da Mesa de Samba Autoral, iniciativa totalmente comprometida com a
preservação dessa manifestação musical. "Ninguém imagina a minha emoção ao me ver lado
a lado, com os personagens mais respeitados no mundo do samba da minha terra, como Belo
X e Manézinho de Gigante, entre outros, que sempre admirei desde menino, quando minha
mãe me levava na Casa Amarela, onde as escolas de samba são mais fortes. E hoje ganhei a
notoriedade de sentar com eles como parceiros." Emoção após emoção. Da Mesa de Samba
Autoral, ao lançamento de Meu Recado, seu primeiro CD independente, indicado para o 22º
Prêmio da Música Brasileira. Um trabalho que apresenta um leque diversificado de estilos,
como o samba de roda, o samba-reggae, a bossa nova, o samba maxixado, o partido alto e por
aí afora. "O momento, em Recife, é muito bom para o samba autoral. Tem muita gente
criando e pouco espaço para se apresentar, disputado a tapa. Não estou na onda de ficar
brigando por espaço. Vou a João Pessoa, a Aracaju, onde tem um grande produtor, Pedro
Neto. Vou a Maceió, com a ajuda de irmãos de santo que querem me levar pra lá. Vou
conquistando outros espaços, Nordeste afora", garante.
A principal herança que Jorge Riba quer deixar às três filhas - Apilly, Monalisa e
Yasmin Luanda - e ao filho Ejigbo, que em março lhe deu o primeiro neto, Inã Ôni, é a
identidade e o orgulho afrobrasileiros e a consciência da necessidade do empoderamento
sociocultural. "Tenho certeza de que eles farão bom uso dessa herança. Principalmente o meu
netinho, cujo nome africano significa 'Senhor do Fogo'. Filho de Xangô, ele é o fogo que
prepara a matéria, é o fogo que vai perpetuar a nossa história e a nossa resistência", conclui
Leia a matéria no site da Raça Brasil: http://racabrasil.uol.com.br/cultura-
gente/155/artigo219365-1.asp
61
Análise:
Este texto foi escrito por Oswaldo Faustino e publicado por Jorge Riba. A matéria trata do
lançamento do novo álbum de Jorge Riba. Oswaldo Filho é um jornalista há mais de 30 anos e
já atuou como repórter em rádio, TV, revistas e vários jornais, como Folha de S.Paulo e O
Estado de S. Paulo, e como editor de Cultura do Diário Popular. O fato de não ser escrito pelo
usuário do site Overmundo é um diferencial dos outros textos analisados e por ser escrito por
um jornalista deve ser considerado como um texto jornalístico. Analisando a pontuação e
comentários, a reportagem não obteve mais do que um voto e nenhum comentário.
62
5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
As entrevistas esclarecem o objetivo e linha editorial dos veículos, além de demonstrar
o panorama histórico desta prática e estabelecer espaços e regras para que o leitor/usuário
colabore na produção de conteúdo das edições publicadas. Adicionalmente a esta ação, foi
solicitado um relatório de submissão e aprovação dos textos produzidos pelos internautas.
Os relatórios sobre as atividades do site auxiliam na criação de gráficos ilustrativos
para uma melhor visualização e comparação entre os veículos selecionados.
Houve uma dificuldade em estabelecer bem um parâmetro de comparação entre os
dois veículos. A situação ideal para uma análise comparativa seria utilizando o JB Wiki e o
Overblog, pelo caráter de somente publicarem conteúdo de colaboradores cadastrados. Ainda
assim, a linha editorial do Overmundo se restringe à diversidade cultural e o JB Wiki tem
como objetivo ser um jornal construído 100% por colaboradores, com as tradicionais editorias
de política, economia, cotidiano, esporte e charges. Portanto, ainda é válida considerando o
fato deste espaço Leitor Repórter ter sido o impulso para a criação de um espaço designado
para o colaborador ter seu próprio jornal. O Leitor Repórter tem como principal tema, abordar
assuntos da cidade do Rio de Janeiro e seu entorno. A linguagem é bem mais simples e pelo
fato de permitir o envio de fotos sem texto se diferencia do Overblog, que tem característica
de divulgar ações culturais de diferentes lugares do país.
O jornalismo colaborativo aparentemente caminha para se configurar como uma
modalidade jornalística, assim como as modalidades do impresso, rádio, televisão e o
jornalismo digital. O leitor tem a oportunidade de participar da difusão da informação na
sociedade e esta prática tem sido cada vez mais valorizada. Hoje é difícil encontrar um
veículo de comunicação que não esteja presente nas redes sociais e disponibilize espaços de
colaboração do leitor.
63
6. CONCLUSÃO
Por meio de referencial teórico e análises expostas, o presente trabalho indicou uma
forte contribuição para a discussão sobre a colaboratividade no jornalismo. A discussão sobre
suas características como modalidade jornalística ainda não tem definições, porém indicam
que o leitor tem papel fundamental na edição das publicações, seja como um espectador que
orienta quais serão as notícias mais importantes, seja enviando uma reportagem que a redação
não estava apta para cobrir naquele momento e informar a sociedade a respeito. A partir
destes resultados, a comunicação pode ser avaliada como uma trilha rumo à democratização,
transpondo as barreiras entre o emissor e o receptor da informação.
Apesar dos veículos de comunicação e da mídia (de maneira geral) não demonstrarem
um interesse tão grande em aproximar o usuário da redação, é clara a tendência de
plataformas que seguem os princípios conhecidos popularmente como “wiki”. Ao que tudo
indica neste presente estudo, as principais discussões sobre o que é o jornalismo colaborativo
precisam ser analisadas sob a perspectiva da ética e do engajamento proposto pelos espaços
que recebem abertamente a contribuição do leitor. Projetos como o JB Wiki e o Overmundo
são cada vez mais encontrados e o jornalismo não é o resultado final nas publicações e sim o
meio de propagação de notícias que não têm exposição nos grandes veículos de comunicação.
E o que se encontra na maior parte das vezes são depoimentos mal apurados se intitulando de
notícia ou informação de utilidade pública.
De acordo com os objetos analisados, a colaboratividade é valorizada nas localidades e
não como um grande espectro de informações a ser transmitidas para o maior número de
pessoas possível. Diante de tanta globalização e meios de informação, apresenta-se a
necessidade de possuir uma estrutura mais dialógica, onde o receptor tenha voz para
estabelecer uma relação mais concreta com seu emissor.
64
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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metodológico da pesquisa em comunicação digital. Famecos/PUC-RS, 2008. Disponível
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Globo, 2010.
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do Sul – UFRGS 2008. Disponível em: www6.ufrgs.br/limc/PDFs/Ana_4.pdf Acesso em: 10
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%2F%2Fwww.puc-
campinas.edu.br%2Fpesquisa%2Fic%2Fpic2009%2Fresumos%2F%257BAC18151A-8B29-4242-
A609-5D6A78717AE4%257D.pdf&ei=Nbq2TpKYEue-2gWcmqnZAg&usg=AFQjCNFovkK-
0diHUUIe39ykjbd6YJrvRw Acesso em: 10 jan. 2011.
67
8. ANEXOS
8.1. Relatórios de e-mails de contato
De: *Viktor Chagas [email protected]
Horário do remetente: *Enviado às 20:31 (GMT-03:00). Horário atual no local de
envio: 12:53.
Para: *Sarah Mascarenhas <[email protected]>
Data: *25 de julho de 2011 20:31
Assunto: *Re: Agradecimento pela visita e atenção
Oi, Sarah, Vamos lá:
Eu busquei no nosso BD dados referentes ao mês de Junho e não de Julho, já que o mês de
Julho ainda não terminou e os números seriam incompletos para fins comparativos quaisquer.
É importante ressaltar que junho-julho, assim como novembro-dezembro-janeiro apresentam
tradicional baixas em todas as estatísticas referentes à publicações e acessos não só do
Overmundo, mas de outros sites também.
Sobre nossas publicações, não é possível, neste momento, isolar os conteúdos que circulam
pela edição colaborativa apenas. Por isso, o que temos é o seguinte panorama:
Foram publicados 160 conteúdos no Overblog, 422 no Banco de Cultura, 26 no Guia e 149 na
Agenda (somente em junho/2011). 280 colaborações receberam votos no Overblog, 1331 no
Banco, 21 no Guia e 81 na Agenda.
Temos atualmente 57.029 usuários (entre ativos e inativos) e 2.778 cidades no Brasil com ao
menos um usuário cadastrado.
Também em Junho foram 485.407 visitas, 441.797 visitantes únicos e 687.685 pageviews, dos
quais 207.544 estiveram concentrados no Overblog.
68
Como eu disse a você, nós tínhamos a prática de produzir relatórios completos mensalmente,
mas infelizmente a escassez de tempo não nos tem permitido tocar esta demanda. Por isso, e
também para elucidar o comparativo com uma época em que tivemos - também conforme eu
disse a você - números em escala bastante mais elevada (numa era, digamos, "pré-
Facebook"), envio um desses relatórios (de junho de 2008).
Bjos e boa sorte.
--
Atenciosamente,
De: *Paulo Marcio Vaz [email protected]
Horário do remetente: *Enviado às 18:33 (GMT-03:00). Horário atual no local de
envio: 12:52.
Para: *[email protected]
Data: *19 de setembro de 2011 18:33
Leitor-repórter JB
Relatório - julho/2011
Posts enviados por leitores - 96
Post publicados na seção específica - 15
Posts que geraram reportagens produzidas pelo JB - 0
Obs: Apesar de ser uma seção que incentiva leitores a postarem suas "reportagens", a grande
maioria dos leitores ainda usa o leitor-repórter como se fosse uma seção de cartas, opinando
69
sobre o desempenho de políticos e fazendo comentários genéricos sobre diversos temas do dia
a dia.
De: Sarah Mascarenhas [email protected]
Horário do remetente: Enviado às 16:28 (GMT-02:00). Horário atual no local de envio:
11:09.
Para: Paulo Marcio Vaz <[email protected]>,
"\"Viktor Chagas\"" <[email protected]>
Data: 31 de outubro de 2011 16:28
Assunto: informações complementares
Enviado por gmail.com
Boa Tarde Viktor e Paulo
Estou entrando em contato que por um descuido meu, solicitei as informações de vocês, sobre
o Overblog e Leitor Repórter, porém esqueci de padronizar. Ambos me enviaram ótimas
informações porém cada qual com seus dados, então criei alguns itens, se puderem me
responder. Estou na reta final, tenho prazo para montagem e entrega destes gráficos até
sextafeira dia 4 de novembro, então se puderem me responder rápido ficarei muito grata e
garanto que esta é a última vez que incomodo vocês. Mais uma vez, agradeço por toda
atenção dispensada.
Dados do mês de julho de 2011
Quanto a colaboração:
Textos Submetidos:
Textos Publicados:
Textos Apurados:
Textos Votados ou replicados(botão tweet):
Quanto ao acesso/visitas/pageviews:
Números de usuários e/ou assinantes:
Número de acessos:
Cidades abrangidas:
Visitas ao site todo:
Visitas especificas no espaço Overblog e/ou Leitor Repórter:
70
Pageview do site:
Pageview do espaço colaborativo (Overblog - Leitor Repórter):
Acho que é isso, dia 11 envio o texto final pra vcs, que já estará revisado e formatado segundo
as regras da ABNT.
abraços e de novo, obrigada
--
Oi, Sarah,
Te peço desculpas, mas desta vez estou com a corda no pescoço com as atividades do
Overmundo e não posso parar para produzir esses dados até sexta. Se você puder aguardar até
segunda ou terça, acho que consigo fazê-los com mais tranquilidade. Adianta?
Bjo.
--Atenciosamente,
--
Em 31 de outubro de 2011 16:28, Sarah Mascarenhas <[email protected]> escreveu:
Adianta claro Viktor! Eu dou um jeito aqui
--
Em 2 de novembro de 2011 20:14, Viktor Chagas <[email protected]> escreveu:
Oi Paulo, só pra lembrar que é sobre este email que te perguntei ontem.
abraço grande
---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Sarah Mascarenhas <[email protected]>
Data: 31 de outubro de 2011 16:28
Assunto: informações complementares
Para: Paulo Marcio Vaz <[email protected]>, "\"Viktor Chagas\""
--
71
Ola, Sarah.
Seguem os numeros.
Quanto ao item "cidades abrangidas", não sei se entendi bem, mas talvez voce se refira as
cidades de onde os leitores enviam seus textos.
Tivemos textos de Niteroi, Rio, Sao Paulo, Belo Horizonte e Curitiba
Nao entendi o que voce quis dizer com "numero de acessos"
Esotu a disposicao
Bjs
Paulo Marcio / Jornal do Brasil
Textos Submetidos: 96
Textos Publicados: 15
Textos Apurados: 20
Textos Votados ou replicados(botão tweet): 7
Quanto ao acesso/visitas/pageviews:
Números de usuários e/ou assinantes: 12 mil assinantes
Visitas ao site todo: 4.753.779
Visitas especificas no espaço Overblog e/ou Leitor Repórter: 3.503
Pageview do site: 8.258.305
Pageview do espaço colaborativo (Overblog - Leitor Repórter): 4.327
--
Em 6 de novembro de 2011 13:09, Sarah Mascarenhas <[email protected]> escreveu:
Está suficiente Paulo, muito obrigada! Eu precisava ter os dados mais padronizados para
conseguir criar os gráficos, fui usando o itens que você e o Viktor, do Overmundo, já haviam
me
passado.
abração
--
Em 7 de novembro de 2011 11:40, Paulo Marcio Vaz <[email protected]>
escreveu:
Olá, Sarah, Tudo bom?
Seguem os dados solicitados.
72
Textos Submetidos: 580 colaborações
Textos Publicados: o mesmo
Textos Apurados: não se aplica
Textos Votados ou replicados (botão tweet): não se aplica (medimos apenas os votos dados)
Quanto ao acesso/visitas/pageviews:
Números de usuários e/ou assinantes: 57.505 usuários (entre ativos e inativos)
Número de acessos: não se aplica
Cidades abrangidas: 2.521 cidades
Visitas ao site todo: 385.648 visitas
Visitas especificas no espaço Overblog e/ou Leitor Repórter: 128.819 visitas
Pageview do site: 550.544 pageviews
Pageview do espaço colaborativo (Overblog - Leitor Repórter): 147.971 pageviews
--Atenciosamente,
8.2. Transcrição das entrevistas realizadas
Segue abaixo a transcrição da entrevista realizada com Paulo Marcio Vaz, editor do
Jornal do Brasil em 15 de julho de 2011 no Jornal do Brasil:
Paulo Marcio Vaz: A gente tem hoje dois canais colaborativos: um é o “Leitor Repórter”
tradicional que já existia e outro é um produto que a gente comprou no ano passado que é o
“Brasil Wiki”, que virou JB Wiki, que é no que a gente vai apostar a partir de agora. O Leitor
Repórter, eu acredito, não posso afirmar, mas pra gente formar como leitor repórter vai
praticamente (não que vá acabar), mas vai ficar uma coisa muito exorbitante. Já está ficando
pra gente.
O Leitor Repórter já é aquela coisa assim, já hoje, tradicional na internet que você está nos
lugares vê alguma coisa e manda uma foto, manda uma notícia. O que a gente tem aqui
73
(mostrando na tela) é o nosso canal Leitor Repórter, ele é meio separado do que é notícia de
tempo real. O que o Leitor Repórter não entra direto na notícia, a gente tem que primeiro
avaliar se aquilo é válido, bom ou não é. Aqui é nosso “admin”, onde a gente vê o que o
Leitor Repórter está mandando pra gente.
Sarah Mascarenhas: Nossa, o pessoal manda bastante!
Paulo Marcio Vaz: Não, não é mandar. Aquilo ali é noticia do tempo real, o Leitor Repórter
está aqui, mas manda. Você pode ver que a maioria das coisas está com uma bolinha
vermelha, porque o cara está reclamando do DAE (Departamento de Água e Esgoto), mas aí é
aquela reclamação sem prova, sem documento, sem nada. Só aquele desabafo, que é mais
para uma seção de cartas do que para uma seção Leitor Repórter. Ele não tirou fotos de
nenhum bueiro aberto, ou empregados achando ele para abrir a água, não é nada disso. Ele
está dizendo que está sem água há não sei quanto tempo. Tudo bem. Isso daí até já é uma
notícia. Mas a maioria é gratuita, ofensa gratuita para o DAE, atacando o diretor, dizendo que
o cara é isso, é aquilo.
Então o que está em verde aqui é o que a gente achou bacana: “Capotamento em Niterói”. O
cara tirou a foto. A foto é legal, legal de Leitor. Claro que não tem tantos detalhes. É uma
notícia de tempo real. A internet também é bem isso, né? Relata o que está acontecendo no
momento. Então o cara flagrou o acidente, tirou uma foto e mandou pra gente. Assim que a
gente aceita, ela já vai direto para a página do Leitor Repórter. Essa foi a última que a gente
aceitou. Foi no dia 11, no começo desta semana.
Sarah Mascarenhas: Estava bem devagar mesmo a página do Leitor Repórter, por quê?
Paulo Marcio Vaz: Então, aqui a gente está com muito pouca gente trabalhando, também
tem isso. Então a gente está priorizando muito mais as notícias de tempo real do que o espaço
Leitor Repórter, infelizmente. Então, aconteceu alguma coisa grave em Niterói e ninguém
mandou nada em uma hora, aí a gente manda alguém para lá. Não sei se você ficou sabendo o
que aconteceu em Niterói há uns dois meses: Estourou um filtro de esgoto, inundou um bairro
inteiro de esgoto, meio metro de cocô pelo bairro inteiro, era cocô para tudo quanto é lado. A
gente não tinha ninguém lá e um leitor mandou, então saiu do Leitor Repórter e foi para a
capa. O cara mandou com fotos legais, créditos das imagens, tudo. Então é o que acontece.
Então não vem muita coisa realmente que vale a pena a gente destacar como notícia. Pinguim
em Ipanema. O cara flagrou uma foto até que interessante, uma foto de um pinguim que foi
74
achado na praia e tal. Já foi para o ar, mas já saiu. Porque a hierarquia do tempo é que manda.
A notícia mais nova é a que vai para a página, aí eu posso controlar. Se a notícia foi muito
boa, eu tiro ela de lá e coloco na página do JB online. Como eu fiz com Niterói, mas
geralmente são textos que não atraem e coisas não muito boas.
Já o JB WIKI que é este novo produto que a gente vai fazer, é um jornal inteiro, completo,
online como esse aqui (mostrando o JB), só que inteiramente feito por leitor e moderado por
jornalistas. Para você ter noção, ele está aqui, mas ele está todo desconfigurado (mostrando a
página na tela). O que a gente tá fazendo? A gente está reformulando. Como o JB Wiki era de
uma outra empresa, era o Brasil Wiki. E ele não tem a configuração visual do JB. Então é por
isso que a gente ainda não está divulgando esse produto. A gente vai reformular esse mês e
deixar com a nossa cara. E ele já veio com três mil assinantes. É o que a gente chama de Wiki
Repórter. Então quando o cara se cadastra, ele tem um contrato no qual se responsabiliza pela
veracidade das informações que manda e por qualquer problema que o texto dele possa causar
com isso. Então ele manda reportagem, manda artigo, crônica, desenho, charge, tudo que um
jornal precisa. É 100% feito pelos leitores e nós aqui moderamos isso. A gente procura evitar
cortar o máximo, censurar, né? Quase nada, a única coisa que a gente não permite é ofensa
pessoal, acusação sem prova ou alguma coisa que a gente perceba que é jogada de marketing,
que o cara quer divulgar um produto, pois aí é área comercial. Fora isso a gente aceita tudo. E
desses três mil, a grande maioria já entendeu como é o espírito da coisa e manda coisas boas.
Mandam boas matérias ou bons comentários. Eles mesmos mandam as notícias e eles mesmos
comentam as notícias uns dos outros. É uma rede social, só que fazendo um jornal inteiro.
Sarah Mascarenhas: E o perfil dos colaboradores?
Paulo Marcio Vaz: Ah, tem de tudo: de advogado a gari. É que a internet hoje, se você
arranja um celular, e a gente estava falando disso ontem, o perfil do nosso leitor, do JB
impresso era um, tinha muita gente idosa que lia, da época da ditadura que lia JB. Hoje não,
90% dos nossos leitores têm até 45 anos. 70% têm até 35. Então é uma galera muito jovem. E
tem muita gente humilde que hoje tem um celular melhor que o meu, que tem de certa forma,
uma maneira de mandar notícia. Então estes 3.000 ainda são da fase antiga do Brasil Wiki.
Porque a gente não fez propaganda do JB Wiki ainda. Então é uma questão de a gente colocar
isso mais evidente no ar e aí a gente vai arrebatar muito mais gente.
Sarah Mascarenhas: E a relação com esses três mil?
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Paulo Marcio Vaz: Eles migraram junto porque a plataforma passa a ser comandada pela
gente.
Sarah Mascarenhas: Houve uma comunicação sobre esta mudança? Como foi?
Paulo Marcio Vaz: A gente já participa o nosso leitor. Eles já sabem que é uma direção nova.
Os e-mails já vêm direto pra gente querendo saber de alguma coisa: o que vai mudar, o que é
que não vai mudar, se a gente pode ajudar, reclamam “porque antigamente eu fazia isso, hoje
eu não faço mais”. A gente também estava aprendendo a usar.
Já houve repercussão disso no congresso. Uma vez um Wiki Repórter mandou uma matéria
sobre aquele deputado Jean Willis, acusando ele de racista porque defendia os gays, mas
atacava quem não era, enfim, essas polêmicas. E o Jean leu e ficou indignado, ligou pra gente
e pediu para tirar a notícia do ar. Aí eu disse: “Eu não vou tirar a notícia do ar. Você está
maluco? Por quê?”. “Porque está denegrindo a minha imagem.” Aí eu fui checar. E tudo o que
o cara dizia, ele mencionava um artigo que o Jean Willis tinha escrito no site do PSol e estava
tudo lá. Aí eu disse: “esse cara está mais correto que muito jornalista”. Tudo o que ele
escreveu ali era verdade. O cara estava corretíssimo. Nada do que ele escreveu era mentira.
Então o que é que eu vou fazer? “Você me desculpe. Você se cadastra lá no JB Wiki e manda
sua resposta”. Aí ele mandou. A gente abriu uma exceção para ele, porque ele mandou como
anônimo e a gente não aceita anônimo, pois todo mundo tem que se identificar, mas gente já
sabia que era ele. A gente explicou para o Wiki-Repórter: “sobre o Wiki Repórter Jean Willis,
essa matéria é dele”. Ele se cadastrou como anônimo porque não sabia como se cadastrar. Deu
uma polêmica, aumentou a audiência do site naquele dia, e às vezes uma noticia como essa de
um leitor pode acabar com o JB Wiki.
Então esse é um produto muito novo ainda, que nenhum jornal tem, que é um jornal dentro do
jornal. Um jornal independente dos leitores. E o Leitor Repórter vai acabar sendo um espaço
da carta do leitor. Como a internet está evoluindo muito rápido, eu acredito que isso, o JB
Wiki seja a evolução do espaço Leitor Repórter. Uma maneira de você propiciar ao leitor
mandar reportagem, o que ele já faz, só que ao invés de ser só um espacinho ali no jornal, vai
ser um jornal inteiro, mediado por jornalista. A palavra final é nossa. Se você envia uma
matéria que não burla nenhuma lei, código de ética, nenhuma ofensa, a gente vai divulgar.
Sarah: E quanto à apuração?
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Paulo Marcio Vaz: Tudo com o leitor. Tudo o que ele manda é apuração dele. Se for uma
coisa muito legal, a gente pode partir dessa apuração e fazer uma nossa e dar um destaque a
partir dele, só que isso ainda não aconteceu.
Pena que está fora do ar porque você ia ver que tem coisas muito bacanas, tem charge, tudo. É
um jornal completo.
Sarah Mascarenhas: Voltando ao Leitor Repórter, surgiu junto com a versão online?
Paulo Marcio Vaz: O JB foi o primeiro jornal online no Brasil. Ele já tinha essa questão do
Leitor Repórter, mas a gente tinha outros canais, tipo as cartas do leitor no impresso. Por isso
que a gente está pensando no JB Wiki, porque a gente não tem no online uma seção de cartas.
Nossa seção de cartas acabou que virou o Leitor Repórter. Isso que eu estou te falando.
Sarah Mascarenhas: Percebi que são mais notícias locais, né?
Paulo Marcio Vaz: Acho que isso é uma coisa comum nessa modalidade dentre os jornais. O
cara que mais denuncia o poste que caiu na rua dele, o buraco que não foi tapado pela light, é
o que tem muito aqui. O pinguim que ele achou na praia. Então vira uma coisa muito local ao
contrário do JB Wiki, que a proposta é muito “mande a sua cara, sua reportagem”. Mande seu
comentário, sua charge, sua fotografia, sua resenha de filme, um vídeo do artista que você
gosta do youtube. Então você já dá ao leitor uma moral maior. Porque a falha da sua rua, ou o
poste que caiu, o cara fez tudo. Tem o cara que ele mesmo faz um artigo enorme sobre a
Dilma. É um advogado, mas acaba se sentindo um pouco jornalista. A gente não quer
substituir o jornalista por esse cara aí. Não é isso! A gente só está dando o que a internet está
pedindo. A internet pede isso: que os caras colaborem. E se os caras colaboram mesmo, então
da um jornal para eles! Mediado pela gente, obviamente. Mediado por jornalista. Não vai
deixar também a deriva. Tanto que foi uma ideia que o Zé Miguel teve quando ele trabalhava
aqui. Ele que faz o Brasil Wiki, é uma coisa dele e que depois ele vendeu pra gente. Então eu
acho que o Leitor Repórter vai virar espaço de carta mesmo e o espaço de colaboração do
leitor será o JB Wiki mesmo.
Sarah Mascarenhas: Dados: quantas pessoas trabalham aqui?
Paulo Marcio Vaz: 70 pessoas
Sarah Mascarenhas: Quantas ficam focadas para o espaço Leitor Repórter? Quem gerencia?
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Paulo Marcio Vaz: É rodízio de equipe, não tem ninguém específico para isso. A gente tem o
Borges que cuida dos comentários feitos relacionados à notícia. Os comentários são
moderados ao longo do site. É possível comentar todas as notícias. Cada uma tem seu espaço
para comentar. (Paulo lê um exemplo de comentário que foi moderado, contendo muitas
palavras de baixo calão).
No JB não é permitido ofensa, agressão verbal a partir de comentários (mostrando a tela de
moderação dos comentários). O que está em verdinho é que foi revisado e liberado. O que
está em vermelho é o que ele não leu ainda ou não foi aprovado (mostra comentário
reprovado com xingamentos e palavrões). Isso é uma política nossa, porque outros jornais não
fazem isso.
Sarah Mascarenhas: E no JB Wiki vai ser o mesmo esquema de rodízio e moderação de
comentários?
Paulo Marcio Vaz: Vai o mesmo sistema. A gente vai orientar o pessoal do que pode e o que
não pode. A política do JB Wiki é um pouco mais liberal do que os comentários. Inicialmente
o Zé Miguel disse pra gente: “A ideia então é não censurar nada, deixar passar tudo. Menos
ofensa pessoal, palavrão e acusação sem provas”. Agora uma opinião mais forte do cara é a
opinião dele e está assinada por ele. E ele se responsabilizou por aquilo quando fez o cadastro.
A gente tem o IP da pessoa, sabemos de qual computador partiu. Então se tiver um processo
judicial e a gente for obrigado a identificar a pessoa, a gente tem como fazer isso. Então tem
todo esse cuidado.
A gente não corrige nada de gramática. Nem tem como. A gente revisa ortografia nas
reportagens para ficar com cara de reportagem. Mas comentários não. Eles vão do jeito que
foram postados.
Sarah Mascarenhas: o JB Wiki vai para o ar em um mês então?
Paulo Marcio Vaz PMV: Eu espero que isso. Definimos isso ontem em reunião. A gente está
contratando uma pessoa para cuidar disso, porque tecnologia a gente sozinha não vai
conseguir resolver. Acho que vai até ser a pessoa que ajudou o Zé Miguel, que a gente vai
contratar para fazer virar e acho que vai ser mais uma inovação nossa. Dentre as coisas que a
gente fez na internet.
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A gente já mudou de novo. A gente já tinha feito o JB digital, que era a acumulação do
impresso no online. Mas não é isso ainda.
Sarah Mascarenhas: Você está trabalhando no JB há quanto tempo?
Paulo Marcio Vaz: Estou aqui desde 2007. Eu já era do impresso e aprendi esse negócio há
pouco tempo (pouquíssimo tempo).
Então a gente tinha o JB digital que eram as matérias para assinantes. Era como se fossem
dois jornais separados. Ficavam aqui em formato de um ícone de jornal impresso separado. Aí
o cara abria e parecia um impresso. Mas não deu certo. Não é isso o que o pessoal quer. Então
agora as matérias premium para assinantes, estão misturadas aqui, ele não sabe qual é. Agora
ele assina, ele coloca a senha, e fica uma semana aberta. Então ele não precisa ficar colocando
senha para abrir cada matéria. Até recebemos reclamações de assinantes.
Sarah Mascarenhas: A seção Leitor Repórter é aberta?
Paulo Marcio Vaz: Sim, a seção Leitor Repórter é aberta. E essa prática fez aumentar muito
os acessos.
Sarah Mascarenhas: Qual é o número de assinantes atualmente?
Paulo Marcio Vaz: Número de assinantes 12 mil. Isso eu estou falando “em off”, tá?
Sarah Mascarenhas: Como é financiado o JB?
Paulo Marcio Vaz: Têm muitas formas de financiar o jornal, como anúncios. A gente faz
muito evento. Evento na ONU que foi patrocinado, eventos na ABL, a gente montou casa na
FLIP, lançamos livros, organizamos palestras, exposições de fotos... tudo isso com patrocínio.
Então existem várias maneiras, assinaturas, enfim, tem que se descobrir. Ainda é uma coisa
nova até pra gente. A gente era impresso. Mesmo a gente tendo sido pioneiro na internet,
então a gente ainda está descobrindo esses canais. E está sendo bastante legal! Mesmo a gente
tendo sido pioneiro na internet, o JB impresso era o grande produto do JB. Muita gente aqui
que ainda é no impresso, ainda estava fazendo títulos aqui como se fossem impresso e não dá.
“Ai, como é lindo”. Ai como é lindo o quê? Se você coloca no impresso, tem uma foto e tal.
Porque o cara entra pelo Google, então ele só vê o título da matéria, enquanto no impresso
você tem a foto. Alguns repórteres ainda argumentam que estão acostumados com textos
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conceituais, mas estão aprendendo, então tem este tipo de coisa também. E agora a gente está
trazendo o leitor mais para dentro do jornal através do JB Wiki.
O Leitor Repórter tende a virar uma grande seção de cartas. E tem seu valor, tem muito seu
valor. Mas acho que na internet, o leitor está querendo aparecer, está querendo ter voz, e, pelo
antigo Brasil Wiki, a gente vê que tem muita gente escrevendo coisa legal. A ideia é a gente
não ter nenhum tipo de restrição. Quem quiser entrar, que entre e mande suas notícias, sempre
com moderação. A gente não abre mão desta moderação, até porque eles não são jornalistas.
Ontem, em reunião, eu levei a sugestão de abrir este espaço para estudantes. Não é totalmente
livre porque é mediado pelos jornalistas.
No JB Wiki a política é a mesma: não são tolerados ofensas, agressões verbais, acusações sem
provas, ataques pessoais.
Sarah Mascarenhas: O que é o jornalismo colaborativo?
Paulo Marcio Vaz: Eu acho que ainda não se define muito não. Acho que a gente ainda está
meio que buscando o que é isso. Mas acho que é uma coisa inevitável, que o leitor hoje tem
muito mais influência, não só mandando matéria, não. Por exemplo, hoje a gente tem aqui as
notícias do tempo real e a gente consegue ver quantos acessos tem cada matéria. Então o leitor
me mostra o que está sendo acessado naquele minuto, naquele momento. Então isso já uma
colaboração do leitor, porque é ele quem está dizendo para mim o que eu coloco na capa. Se
eu coloco a notícia de um ator que não teve acesso nenhum, eu tiro da capa em meia hora. O
leitor que manda em mim hoje. Ele é meu termômetro hoje. O que tem que ter aqui é
sensibilidade para perceber o que está indo ou não.
O jornalismo colaborativo é muito mais do que o leitor mandar uma opinião, uma notícia. É
ele mandando o feeling dele sobre o que está no ar, sobre a notícia. Ele te ajuda a mudar o
jornal, mudar a primeira página em tempo real. Ele é quase um pequeno editor junto com o
jornalista.
Paulo contou um caso de dois irmãos que se cadastraram. Eles tinham uma briga de
família e começaram a trocar ofensas através da plataforma. Paulo contou que este foi o
primeiro caso de expulsão de cadastrados do JB Wiki. Os usuários foram avisados que o JB
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Wiki não era um espaço de brigas e que ambos seriam excluídos caso não se comportassem
de acordo com as regras do espaço.
Além disso, ao longo da entrevista ele mostrava como era e como estão dispostas hoje
as notícias no site e o espaço para assinantes. Durante a conversa, questionei sobre como os
usuários poderiam se relacionar para além do espaço dos comentários. Ele disse que não
pensaram nisso, mas é uma possibilidade futura.
A entrevista foi finalizada com a solicitação de relatório de submissão e aprovação de
textos.
Segue abaixo a transcrição da entrevista realizada com Viktor Chagas, coordenador de
projetos de comunicação do site Overmundo em 14 de julho de 2011, na sede do Instituto
Overmundo no Rio de Janeiro:
Sarah Mascarenhas: Ah então eu vou fazer uma pergunta básica aqui. O Overmundo é uma
plataforma colaborativa que tem a proposta de abordar temas da diversidade cultural
brasileira. Quantos jornalistas trabalham aqui?
Viktor Chagas: Depende. Você quer saber quantos jornalistas trabalham no Instituto
Overmundo, no site Overmundo, ou quantos jornalistas estão focados na editoria?
Sarah Mascarenhas: Eu acho que o meu trabalho vai mais de encontro com o site, porque é
a plataforma onde o usuário tem mais acesso e interação.
Viktor Chagas: Deixa só eu explicar o contexto porque aí de repente a gente acrescenta
alguma coisa no trabalho que você está fazendo. No fundo, você está conhecendo a sede do
Instituto Overmundo. O Instituto, diferentemente do que acontece na maioria do Estado, ele é
uma iniciativa privada do próprio site. Então a gente disponibiliza, inaugura, estreia o site em
2006, quando a gente parte de uma empresa que era organizada pelos quatro idealizadores do
site (o Ermano, Ronaldo... você conhece? Que são amigos, Alexandre, José Marcelo).
Sarah Mascarenhas: Conheço por nome só.
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Viktor Chagas: Então a estrutura que a gente tinha, no fundo, era de um projeto patrocinado
pela Petrobras desde o início e tocado por outra empresa. Acontece que esse projeto deu
origem a esse Instituto e hoje o que a gente faz, no fundo, é focar o projeto Overmundo como
um dos projetos alocados dentro do Instituto Overmundo. A gente tem outros projetos
também tocados pela gente e a maior parte da equipe do Instituto toca vários projetos ao
mesmo tempo. Aqui quem está diretamente relacionado de maneira mais restrita ao site sou
eu, que estou na equipe desde o início, entrei como estagiário em 2006 e em seguida
fiquei/sou da equipe editorial original do site, o único remanescente. E enfim, hoje eu atuo
como coordenador editorial do site e tenho uma estrutura montada pra editoria do site, que
posso dizer pra vocês que é uma das melhores. Agora, é claro que tem toda uma estrutura de
background, e aí, por exemplo, a ONU também é, e é de onde a gente tira a diretoria do
Instituto Overmundo. A ONU junto com a Marri, que é nossa gerente administrativa fez
muitos projetos na captação de recursos.
Sarah Mascarenhas: Prestação de contas?
Viktor Chagas: Prestação de contas e etc; É sempre um alívio quando a gente estava ali
conversando com a ONU, quando é na parte de economia da cultura, tocando pesquisas
relacionadas à economia da cultura, a modelo de negócios abertos, a gente lançou e teve
várias publicações, inclusive no próprio site, pesquisas sobre música, cadeia produtiva. Então
essa área de pesquisas a gente toca, e enfim, sobre o site especificamente a gente sempre
teve... a gente tem ainda o Filipe que é o nosso coordenador de Tecnologia e
Desenvolvimento tanto do site, quanto de outros projetos também. Mas nossa estrutura é uma
estrutura muito resolvida, a gente já teve variações então, por exemplo, quando eu comecei,
aliás quando a gente começou com o projeto era uma equipe de quatro editores, editoriais,
estagiários etc. O que acontece é que nós temos assim: fico num misto de aproveitar uma
ideologia, iniciar o que a gente já tinha começado, porque as idéias quando a gente começou a
trabalhar no projeto era uma equipe meio “kamikaze” que a qualquer momento ia se dissolver
mas também por uma percepção contrária à essa visão de que no fundo a gente acredita ter
sempre alguém ali animando a comunidade e assim a equipe foi enxugando cada vez mais.
Hoje a gente considera que tem um papel cada vez mais importante, inclusive no sentido de
pensar, planejar como as coisas vão se dar, numa dinâmica editorial por exemplo, para
aproveitar a relação do site com outros projetos que a gente toca e que no fundo procuram
fazer uma espécie de canal de realimentação. Então hoje, por exemplo, eu sou um dos
gestores que, com a Cristiane Costa, professor da UFRJ, atua na revista Overmundo. E a ideia
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da revista é exatamente a gente contar com a revista, que é uma revista digital hoje, mas que
também tem a perspectiva de ser uma revista impressa. E junto com o site ainda, montar uma
espécie de circuito colaborativo de publicação. Diferente de outros veículos, foca
principalmente no site, porque o site continua sendo a nossa porta de entrada e a revista que é
o complemento do site. Dentro dessa perspectiva, o papel de uma editoria é muito importante,
pois a gente está nesse momento reestruturando toda uma dinâmica que a gente já tinha no
site que é de para conversar com o colaborador, para contratar e encomendar colaborações
bacanas que foquem em assuntos..., e também lidamos com descobertas do próprio site, de
muita gente falando sobre cinema e pouca gente falando sobre drogas. Muita gente falando
sobre Rio e São Paulo e pouca gente falando sobre o Acre e o Amapá. Então temos que focar
nesses pontos de descobertas e tentar atrair gente para falar sobre isso, tanto na revista quanto
no site. Agora, a nossa porta de entrada é, e continua sendo o site. O site não vai pra revista,
não é isso, mas nós vamos montar projetos paralelos que possam sempre atingir outros níveis
e voltar para o site.
Sarah Mascarenhas: Fazendo essa conexão? Eu percebi isso, na verdade, na revista ficou
bem clara a proposta. Eu achei a revista...
Viktor Chagas: Você achou o PDF? Tem aplicativo para Ipad também que é um pouco
diferente.
Sarah Mascarenhas: De mão também?
Não. Ainda não está assim.
Sarah Mascarenhas: Mas o Ipad é muito caro, não dá. Ainda não. Só tenho o PDF e baixei
aqui, obrigada. Mas, nessa perspectiva de trabalho desde 2006, e financiado pela Petrobras,
como que você mantém toda essa equipe hoje? Financeiramente mesmo?
Viktor Chagas: Então, a Petrobras financia o projeto Overmundo, o site Overmundo, Dentro
desses vários outros projetos que a gente abriga nesse guarda-chuva do Instituto Overmundo,
a gente tem financiadores, patrocinadores e modelos de estruturas e tratamentos diferentes de
cada um. Então por exemplo, dentro do que está na minha alçada, o site é financiado pela
Petrobras, a revista digital é patrocinada por um prêmio de cultura que a gente ganhou no ano
passado e, como eu falei: a perspectiva de a gente ter uma revista impressa é porque a gente
foi contemplada também, ainda não temos a liberação da verba, mas fomos contemplados por
um edital de lançamento, então a revista impressa vem a partir desse recurso. E os projetos de
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pesquisa têm, cada um, a sua fonte diferente. Dentro do projeto da revista temos também a
possibilidade de experimentar pelo menos um modelo de recaptação de publicidade. Então,
poder vender páginas da revista com anunciantes que possam tornar o projeto sustentável para
além das seis primeiras edições, embora a gente não tenha começado efetivamente esses
pensamentos, a ideia é sustentar essas edições para além das seis primeiras é a meta que a
gente propõe com a era da publicidade, de explorar essa publicidade. Eu diria que a Petrobras
cobre a parte principal que a gente tem atuando hoje dentro do site, que é custear uma equipe
ultra reduzida, ela não cobre, por exemplo, sequer todos os nossos custos editoriais, mas cobre
a manutenção do próprio site. E você vê oficialmente era intenção que a gente pudesse custear
a contagem de um escritório, uma sede etc.
Sarah Mascarenhas: Mas não foi via edital? Foi uma parceria?
Viktor Chagas: Não foi por edital. Na verdade foi uma espécie de um convite da própria
Petrobras para que esses quatro pensassem num projeto que inicialmente tinha um objetivo na
verdade de ser uma plataforma que pudesse escoar as exposições premiadas pelo edital que é
estrutural. Então a ideia era a gente estar aqui, trabalhar para a pesquisa, produção de DVD,
capa de CD, trabalho de mapeamento e a capa, a tiragem desses produtos vai toda para o
mercado. Então a ideia da Petrobras era criar uma janela possível para armazenar esses
produtos depois do período de produção, efetivamente de venda e circulação e tal para que
vocês possam continuar tendo acesso a isso. A ideia era um pouco essa. Eles fizeram o
convite e no fundo a ideia começou a ganhar, a gente passou a pensar em cima disso e tentar
traduzir tudo isso por meio de uma experiência de jornalismo colaborativo, e que pudesse
abranger não só os produtos da própria Petrobras mas outros vários, a ponto de, na prática,
efetivamente, produtos da Petrobras nunca terem sido a nossa grande... nunca terem
constituído de maneira decisiva a nossa grande vitrine, ou seja, nós nunca tivemos no
Overmundo 50% só de produtos da Petrobras, sempre foi muito mais aberto do que isso. Na
verdade, os produtos são até a minoria porque pouquíssima gente decide colocar e a gente
nunca colocou isso para a Petrobras como uma imposição, porque como as pessoas conduzem
seus projetos, elas decidem colocar o resultado final no Overmundo. Algumas já me pediram
e isso não é ruim, nunca foi na verdade a grande maioria.
Sarah Mascarenhas: Você quer dizer que os outros projetos culturais financiados pela
Petrobras não estão abraçados dentro da produção de conteúdo do Overmundo, porque na
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verdade não é um veículo de comunicação da Petrobras para difusão de projetos que a
Petrobras financia, não é?
Viktor Chagas: Isso. E o que eu estou tentando te explicar é que na verdade foi exatamente
essa a ideia inicial.
Sarah Mascarenhas: Ah, tá. Entendi. Isso eu não tinha entendido. Mas aí teria que ter um
compromisso das pessoas que estão selecionando...?
Viktor Chagas: Sim, mas nunca foi no caso, até porque nós nunca queremos impor essa
condição ao edital da Petrobras Cultural. Não temos possibilidade para isso, nem esse poder
de decisão de edital e nem talvez a sua vocação. A vocação sempre foi de fato ser um projeto
generalista e abrangente, que tenha capacidade para divulgar não só produtos da Petrobras.
Sarah Mascarenhas: É, legal também. Aí eu tenho duas perguntas: quantos usuários você já
tem hoje? Você tem uma ideia de que tipo de usuário, qual o perfil do usuário que está
cadastrado no Overmundo? E a segunda pergunta é relacionada a essa questão de ter essa
perspectiva de ter sido uma vitrine dos projetos da Petrobras. De certa forma, os projetos nem
têm conhecimento desses projetos que seria a vitrine e talvez nesse sentido até para o site
ganhar visibilidade maior, ou pudesse ser um “ah tá bom, você fechou um contrato comigo e a
gente tem essa ferramenta que a gente já financia, se vocês quiserem entrar em contato,
busque mais informações com...”. Entendeu a pergunta?
Viktor Chagas: Então, eu entendi, mas eu acho que não sei se posso te responder isso,
porque no fundo isso não passa pela gente.
Sarah Mascarenhas: Não, mas é ideológico assim.
Acho que falta ainda por parte desses projetos e também por parte da gente tomar rumo de
processo de divulgação mais ampla do site. Acontece que a gente sempre apostou desde o
início na divulgação do boca a boca, porque ele nunca fez parte de qualquer esquema de
divulgação, ainda que na época do lançamento do site, alguns outros projetos a gente tenha
configurado como uma questão natural mesmo, a gente nunca fez questão de trabalhar tão
proximamente com esse modelo na verdade. Não vou te dizer que a gente nunca teve, a gente
teve no início aqui no site, justamente para falar do lançamento, mas a gente mesmo nunca
teve a preocupação de cultivar uma assessoria de imprensa com a gente e em nenhum
momento eu te diria que o papel do lançamento em si, que foi quando a gente teve mais
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visibilidade na imprensa, que foi decisivo para divulgação do site, muito pelo contrário, foi
decisivo o boca a boca viral das redes. Por exemplo, um blogueiro conhecendo e manda um
texto pra gente e foi tudo pela rede. O grande lance da estratégia na verdade, foi a estratégia
inicial de a gente ter uma base de 28 colaboradores contratados, que é isso o que a gente tem
no site e que possibilitou que esses 8 colaboradores contratados, cada um deles se empenhasse
com três, cinco materiais e essa rede pudesse ir se abrindo. Então essa rede foi formada de
fato a partir desses 28 colaboradores iniciais. Agora a outra pergunta que você fez: quantos
são hoje? São 40 mil, 45 mil, 50 mil, eu não estou acompanhando de cabeça agora, mas está
entre 40 e 50 mil. O perfil é muito difícil de te responder por vários motivos, dentre eles o fato
de cada uma das seções do site ter uma seção completamente diferente da outra. Então a gente
tem um perfil talvez mais claramente definido para a seção do Overblog, a seção em que você
publica e produz artigos mais longos, mais elaborados, com um tom mais de reportagem,
artigo jornalístico e etc. Então essas que têm um pouco mais a cara de participação de quem é
jornalista, de quem é produtor cultural, animador e tal e está interessado em atuar numa
produção, divulgar seu trabalho, ou comentar o trabalho dos outros, enfim. Então tem um
pouco mais dessa cara mesmo. Agora as outras seções eu não sei se a gente tem um perfil tão
possível assim, eu diria que o banco de cultura a gente tem vários segmentos, várias
linguagens diferentes para produção: audiovisual, música etc. Mas é uma seção muito
curiosamente, e a gente sempre fala isso aqui dentro, que foi inesperadamente tomada por
uma participação muito mais entusiástica muito mais exclusiva com os poetas do Overmundo.
A gente descobriu de maneira bem curiosa, porque a seção do banco de cultura foi projetada
para receber obras completas, clipes, álbuns inteiros, longas etc. e aos pouquinhos a gente foi
vendo que as pessoas tinham mais interesse em publicar e consumir, talvez bem dividido, ao
invés de um álbum inteiro, uma faixa, ao invés de um longa, um curta, ou um trailer, um
clipe, ao invés de um livro inteiro, um conto ou uma poesia, né? E de fato a gente percebeu
que o espaço da poesia era um espaço meio vago na internet na época que a gente surgiu, não
se tinha um grande site de poesia, e acho que até hoje não se tem. Então o modelo meio que
acabou ocupando espaços no banco de cultura. E no fundo, é uma produção de poesia, mas é
também uma produção de poesia amadora, por questão de espaço mesmo para publicar, e
acharam no Overmundo esse espaço. Ainda teve caso de grande resistência, em todos os
sentidos, inclusive no sentido de demarcação de um território, por exemplo, a gente nunca
tinha visto uma seção de poesia num bloco de cultura. E a gente se viu de alguma maneira
obrigado a abrir e criar a seção, para que as pessoas pudessem ter ali o seu espaço de
conversação.
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Sarah Mascarenhas: Interessante. E no Overblog, já que você falou que se trata de textos
que têm caráter mais jornalístico e de reportagens, para vocês aqui no site Overmundo, o que
é jornalismo colaborativo de fato?
Viktor Chagas: Eu digo pelo seguinte... Acabei de dar um curso sobre jornalismo cidadão,
porque sou professor de graduação, e passei uma papelada de leitura para os alunos, eles até
comentaram que era super legal, e na última aula todos os alunos questionaram: mas então, o
que é jornalismo cidadão? E a resposta é claramente essa: não sei se tem uma resposta. No
fundo, tentar definir isso passa por uma série de aspectos, mas nenhum deles é definível,
determinante. E esse foi o nome da minha dissertação de mestrado é: Por que é cidadão o
jornalista cidadão? O que afinal de contas é esse cidadão que pratica jornalismo cidadão ou
jornalismo colaborativo ou participativo, eu já comento mais ou menos o que eu entendo por
essa diferença, mas o que torna ele mais cidadão ou colaborador do que um jornalista
efetivamente, por exemplo...
Sarah Mascarenhas: Comunicador social?
Viktor Chagas: É. E aí você pode cair em várias análises diferentes, a mais rasa delas é a
lógica do diploma. Se você parar, por exemplo, para pensar se neste tipo de seção: só é
jornalista quem tem diploma, quem não tem diploma não é jornalista, você está excluindo
todo um trabalho suficientemente embasado e bastante mais aprofundado do que um jornalista
diplomado seria capaz de realizar numa comunidade... feito por um cara que não tem diploma,
não tem o curso de jornalismo, porque um cara que não tem diploma, na maioria das vezes,
não tem acesso à faculdade, ou ainda que tenha diploma, mas que não tenha diploma na maior
parte das vezes na área de jornalismo e ainda assim tem muito mais entrada naquele meio do
que um jornalista seria capaz de ter. Então definir pelo diploma, por exemplo, você exclui
toda essa lógica de trabalho do jornalismo comunitário, da comunicação comunitária. Você
definir pela lógica da preocupação cidadã e a participação física e engajamento político do
cara e etc. você também está excluindo toda a lógica do cara que está tentando simplesmente
se auto-promover, e esse cara também é, muitas vezes, jornalista colaborativo. Na prática ele
está dando a conhecimento público uma atividade que ele desempenha e que outras pessoas
não teriam condições de fazer, porque afinal de contas, nenhum jornalista chegou até ele.
Então eu não vou me estender muito mais sobre isso, mas eu acho que tem um monte de
nuance possível para a gente pensar sobre isso. Eu ia falar sobre a diferença de cada uma das
terminologias, mas só na prática assim, ele vem a ser a ideia de um jornalismo colaborativo
87
diferente da ideia de um jornalismo participativo, ela prevê uma dinâmica de engajamento
numa plataforma comum, numa instrução coletiva de conhecimento, de informação, de
veiculação de informação etc. A ideia de um jornalismo participativo tem muito mais apego a
uma dinâmica própria do jornalismo tradicional que é a defesa de interesses privados juntos
com interesses públicos, onde existe interesse do público muito mais que interesse público e
no fundo, se converte na prática muito mais como um trabalho jornalístico efetivamente com
a participação em alguns momentos de leitores e cidadãos comuns, por exemplo, o que a
Globo.com ou o globoonline, o ig, CNN. Eu tenho em vista tudo, o que esses portais estão
oferecendo no mundo é exatamente essa ferramenta de jornalismo participativo, você ali ou
simplesmente comenta uma notícia de um jornalista conceituado e informado, ou você até tem
a possibilidade de enviar conteúdo. Em alguns casos, por exemplo, no site da Globo.com você
pode enviar conteúdo direto, mas ele passa por todo aquele filtro editorial e ele só chega à
produto final depois de modelado, editado e traduzido de uma forma do padrão de qualidade
deles. A mostra do jornalismo colaborativo é um pouquinho diferente, ela respeita os estilos
particulares, por exemplo, a gente sempre procurou prestar atenção no processo editorial do
Overmundo, e é isso. Eles podem até comentar, fazer sugestões, edição ou fila de edição no
caso, mas eles não podem necessariamente interferir no produto final. Eles podem comentar,
sugerir, a ferramenta é uma ferramenta pensada para ser autoral, em respeito ao estilo de cada
um dos autores e não apenas colaboradores. Então esse é o sentido: sentido de que todos com
seus estilos particulares estão moldando uma plataforma comum.
Sarah Mascarenhas: Tentando agora responder por mim mesma, o conceito que há de fato é
a colaboração, interação e a participação. Você não quer falar um pouquinho disso para mim?
Viktor Chagas: Em que base você diz?
Sarah Mascarenhas: Com base, pensando em falar em fluxos, tem uma definição mais clara
de um ruído percorrendo um caminho e coisa e tal, quando a gente fala em fluxo de
informação a gente pensa no caminho no qual a informação vai percorrer (de onde a gente
tirou, a fonte de informação) até a difusão para o grande público, para chegar no receptor, no
caso. Se eu tenho jornalismo participativo, ele tem muito mais caráter de ser aberto, dentro de
um grande veículo de uma forma “marqueteira” digamos assim, estou usando as minhas
palavras mesmo, mas eu concordo bastante com sua posição. Mas o jornalismo colaborativo,
por exemplo, no Overmundo, me fala o que... porque você pode ou não, a equipe do
Overmundo pode estar interagindo com quem está colocando um texto lá. Eu acho até que o
88
diferencial do Overmundo é esse vínculo que você pode estabelecer entre os usuários
cadastrados e entre a equipe que está ali dentro. Como que se dá essas relações e que
provavelmente deve ter sido o que forma a fila de edição? Queria que você detalhasse mais o
momento de chegar a essa fila de edição e diferenciar a interação, participação e a
colaboração como conceito.
Viktor Chagas: Essa é uma questão só, mas vamos lá. Bom, primeiro, como a gente chegou
nesse modelo na verdade... A gente chegou nesse modelo por causa de uma pesquisa sobre o
que se produzia lá fora em outros meios semelhantes que também tinham caráter colaborativo,
recolhendo e pensando de cada um deles o que a gente achava que podia aproveitar melhor e,
de fato, o Overmundo é exatamente esse mosaico de outras experiências. No início quando a
gente lançou o site, uma das coisas que a gente ouviu muito e hoje em dia, se você pesquisar
no Google por exemplo, você vai achar relatos sobre esse tipo de discussão e tal é, que as
pessoas classificaram o Overmundo como um clone do Dig, principalmente porque quando a
gente lançou o site, o botão de rotação era muito semelhante ao botão do Dig. Então eles
enxergavam a gente como uma simples cópia do Dig. Mas o Overmundo em relação ao Dig
tem muito menos elementos copiados do que em relação a outros websites. O que se tem de
copiado do Dig é a lógica do botãozinho, que é uma experiência de usabilidade testada em
outro site e, de fato, apropriada pelas pessoas, que absorvem muito rapidamente a ideia de
uma rotação coletiva a partir de um botãozinho de formato quadradinho, disposto lá no início
da chamada da colaboração. Agora, por exemplo, diferentemente do Dig, o Overmundo não
publicava links como o Dig faz, que publica só a chamadinha e o link para dizer alguma coisa,
ou quando ele se preocupa em publicar conteúdos inteiros, o Overmundo não organizava as
suas colaborações, porque elas são exclusivamente do tempo como diz o site. No Dig, se você
entra na interface dele, você vê como uma colaboração com mais votos está embaixo de uma
com menos votos porque é também questão de ação do tempo ou data. A gente tema
preocupação que é de fato equilibrar a lógica dessa ação com a lógica do tempo, para garantir,
ao mesmo tempo, que o destaque fosse aquilo que é mais votado pela comunidade, mas
também o que é mais recente, então tem duas lógicas do tempo aí. E a gente tem teve toda
uma preocupação desde o iniciozinho aí também em comparação com outros sites para tentar
conter spams, relação de direito autoral etc., criar mecanismos de moderação positiva
também, pensar na lógica do carma que a gente passou a ter e abandonou e a partir de um
determinado momento... O carma era exatamente o que media o nível de capacitação de cada
usuário, então, por exemplo, quanto mais você publicasse, postasse e comentasse, mais sua
89
popularidade aumentava e isso tornava mais definido para a comunidade e, decidir ganhar
também a partir de um momento pensando em vários modelos. Essa é grande vantagem: a
gente acumula certas experiências justamente por ter testado alguns tipos de modelos. Então,
no momento, por exemplo, a gente deixou a atuação para um conselho editorial formado pelas
pessoas do site que são, por exemplo, a lógica do carma passa a funcionar um pouquinho
também para isso, quanto mais carma ele tivesse, poderia apresentar ao conselho e o conselho
que tem que decidir o que faria, o que planejaria para isso.
Sarah Mascarenhas: É um contato ainda maior com os cadastrados, os usuários da
plataforma?
Viktor Chagas: Isso. Agora um grande problema na verdade é a maneira de destratar esses
modelos que a gente vem testando, desde especificamente o carma, conselho etc. que a coisa
toda começava a misturar um pouquinho a experiência colaborativa em si com a experiência
de um game.
Sarah Mascarenhas: Tipo um modelo de RPG?
Viktor Chagas: Não, nem tanto RPG, mas talvez um game muito mais de físico, assim
porque o objetivo é acumular pontos e aí as pessoas passaram a, por exemplo, a gente vê hoje
em dia que ainda sub-existe, mas está bem menor o nível pra gente que a partir de um
determinado momento fez questão de cortar todos esses vínculos, mas as pessoas passaram a
comentar na colaboração, ao invés de fazer comentários bacanas e sugerir coisas positivas,
argumentativas e tal, passaram a comentar tipo: “gostei” ou “votei” ou “voltei para votar”, só
para acumular dados. Então o objetivo aí era meio que uma corrida e, a partir disso, que a
gente foi começando a repensar várias dinâmicas do nosso próprio site, por exemplo, quando
a gente lançou o site, a gente sempre teve essa lógica da fila de edição, da fila de colaboração,
principalmente porque a gente sabia que tinha de explicar e não só corrigir, mas a gente
sempre teve essa lógica de se ter um intervalo no mínimo de 48 horas, que é um intervalo de
uma fila de edição. Hoje em dia é um pouquinho diferente, mas a gente tinha bem essa lógica
e aí muita gente reclamava: “ah, para publicar no Overmundo eu tenho que ter no mínimo 48
horas e se eu quero publicar uma coisa sobre um evento amanhã, eu não posso e tal”, mas isso
acontecia justamente porque a lógica era você poder publicar alguma coisa que pudesse passar
pelo crivo da comunidade. Só que quando a gente lançou o site, a gente não tinha nenhum tipo
de restrição às publicações, o cara podia publicar uma coisa, publicar outra, e outra, deixar
como uma fila. Aí quando a gente foi começando a perceber os efeitos de mecanismos de
90
carma, dessa corrida por ponto, a gente começou a pensar em limites também para isso,
porque afinal de contas o cara resolvia postar ao invés de um livro de poesias, cinquenta
poesias na fila de uma vez só, para ele ganhar mais ponto entendeu? Então a gente começou a
criar limitações para isso também. Hoje você só pode mandar uma coisa de cada vez em cada
seção. Em todo esse projeto de experimentação e tal, no fundo era como um meio de grandes
paradas, desde que você está efetivamente como jornalista aqui dentro, na esfera do
planejamento editorial é essa a ideia de fato afinal, no sentido de planejar como que a coisa
vai funcionar, planejar para que esse espaço coletivo possa ser aproveitado da melhor maneira
possível pela coletividade. Então a gente tem muito medo da função da reportagem, embora
eu já tenha publicado algumas coisas no site, a gente tem muito medo da função de editor,
embora eu tenha comentado, anotado, embora a gente, por exemplo, nos momentos em que o
site tem pouca votação, como nos últimos meios a gente tem tido, a gente tem um poder de
votação bem definido de alguma maneira, porque a gente emerge de acordo com o que a gente
entende que pode ocultar, colocar em destaque e etc. ou um voto mais qualificado, então a
gente atua como editor, mas a gente atua como editor tanto quanto os outros usuários
poderiam atuar, a gente atua como repórter tanto quanto os usuários poderiam atuar, ou a
grande diferença no fundo está na etapa do planejamento, na etapa de como a gente vai
moderar essa comunidade.
Sarah Mascarenhas: E a questão da apuração?
Viktor Chagas: A questão da apuração?
Sarah Mascarenhas: Por exemplo, no Jornal do Brasil tem o Leitor Repórter, não se
estabelece nenhum vínculo, passa por um crivo editorial razoável ali, agora tem perspectivas
de lançar um outro projeto, quando eles entendem que os textos que são enviados são mais de
caráter local? Então por exemplo, está lá há um mês um texto de um cara que parou numa
vaga de deficiente físico, tem a foto, uma matéria, um textozinho curto e, quando eles sentem
a necessidade de apurar o fato verdadeiro, eles vão e apuram o fato, mas eles não fazem uma
revisão gramatical e ortografia dos textos publicados, só quando eles acham que a coisa é
muito verdadeira, vão lá procurar o fato, que é o papel do jornalista. Então o que seria, não
existe essa proporção aqui?
Viktor Chagas: Não. Eu vou te explicar como a coisa funciona aqui. Primeiro o lance da fila
de edição que eu acabei esbarrando, a gente foi pensando por meio das experiências dos sites,
portais, o próprio orkut e vários sites do gênero e um dos que talvez, como a gente observou
91
na época, mas que tiveram uma influência bastante decisiva na formulação do projeto inicial
do Overmundo foi o Croshi. O Croshi é que introduziu essa lógica da edição coletiva, ou o
que eles chamam de uma fila de edição ou fila de rotação, e a lógica desse processo na
verdade e que hoje no site está um pouquinho diferente, porque hoje a fila de edição do site é
opcional, ela não é obrigatória, compulsória para quem publica. O cara pode optar por
publicar direto ou passar pela fila de edição. Isso atendendo a essa demanda de “precisamos
de um processo de publicação mais rápido, mais ágil e tal”, mas um pouco contrariando não
só as expectativas, mas os próprios ideais da ferramenta como foi pensada inicialmente. A
ideia de uma edição colaborativa é justamente a ideia de você poder submeter a um filtro
coletivo essas reportagens que, por exemplo, são mal apuradas. Então assim, a ideia é você ter
um controle difuso da própria comunidade, da mesma maneira como acontece na Wikipedia,
ou de uma maneira diferente, mas com um mecanismo semelhante. Até a Wikipedia tem uma
informação confiável na maior parte das vezes em relação inclusive às enciclopédias
tradicionais, porque ali, da mesma maneira que você pode postar qualquer porcaria, postar
qualquer coisa e informação que não tenha sentido, que não proceda, um outro cara também
pode observar aquilo ali e tirar aquilo do ar rapidamente, ou colocar um aviso “oh isso aqui é
imparcial” etc. Então esse tipo de controle difuso acaba funcionando na maior parte das vezes
tão bem quanto um controle centralizado. É também um mecanismo de controle. Então no
Overmundo a gente tem também um mecanismo de controle. A gente tem uma ferramenta de
alerta colaborativa que qualquer pessoa pode alertar, a gente já passou por várias experiências,
vários modelos diferentes dessa mesma ferramenta, elas já funcionaram de maneira diferente
ao longo do tempo, mas hoje a ferramenta que a gente tem é um botão de alerta, em que
qualquer pessoa pode alertar, a gente recebe imediatamente o alerta e a pessoa que alertou diz
“isso aqui viola os direitos, ou isso aqui não tem nada a ver com a proposta editorial do site.
Sarah Mascarenhas: A pauta é errada. Não é verdadeira...
Viktor Chagas: Ali a gente recebe esse alerta, avalia e retira ou rejeita o alerta. Então assim,
essa é a forma que a gente tem hoje e é encarada, por exemplo, por alguns usuários com uma
forma de “dedo duro”, então eles não alertam porque eles acham que aquilo ali é ruim, é ruim
alertar porque você está dedurando o cara. Mas no momento em que isso atinge diretamente
os interesses deles, eles alertam. No momento em que eles se sentem ofendidos, no momento
em que o direito deles é violado, no momento em que a informação que eles postaram e que
está sendo contrariada ou coisa assim, aí eles alertam. Mas enfim, então eu acho que assim, no
fundo no fundo a gente atua com essa espécie de mecanismo de controle difuso, coletivo, que
92
acaba ajudando na experiência final do Overmundo, então a gente não tem um processo,
primeiro de tudo a gente não faz correção ortográfica, revisão etc. de absolutamente nada. No
início o site fazia, mas aos pouquinhos a gente foi percebendo que as próprias pessoas que
eram revisadas não gostavam disso, elas reclamavam quando a gente mexia no texto delas, a
gente passou então a comentar, fazer sugestões para que elas revisassem, mas aí a gente
percebeu também que elas se sentiam ofendidas porque ficava um comentário ali dizendo:
“você errou, corrija isso e aquilo”.
Sarah Mascarenhas: E ficava assim “legal”, né?
Viktor Chagas: Ou pior: “quem é você para me dizer isso?” porque não reconheciam na
gente alguém da equipe editorial. A gente atuou como um autor qualquer, né? Então assim
hoje, por exemplo, nem esse processo de revisão a partir dos comentários a gente faz, a não
ser que a gente note que tem uma reportagem muito bem elaborada, mas com um erro absurdo
ali no meio que não faz nenhum sentido para aquela questão, aquele caso, ou um erro de
informação muito grave. Aí nesses casos a gente faz uma sugestão de edição e aí por isso a
gente procura também diferenciar o que é comentário e o que é sugestão de edição.
Comentário é um comentário diferente, ele entra a partir de qualquer momento e segue, sei lá,
construindo coletivamente aquela discussão e a sugestão de edição não. A sugestão de edição
só funciona durante o período de edição colaborativa. Então depois desse período, depois das
48 horas, 48 primeiras horas de edição e se o cara tiver ocupado pela edição, hoje ele pode
optar por enviar direto, as sugestões de edição ficam ali e o cara pode acatar ou não. Depois
desse tempo elas somem e aí ficam só os comentários e a própria publicação. Então por isso
também a gente diferenciou esses dois momentos. E aí, bom, só fechando isso, quando a gente
sai do site para um complemento editorializado, uma newsletter, uma revista ou coisas do
tipo, aí sim, nesses casos, a gente entra em contato com os caras, a gente se aproxima no
sentido de buscar apurar aquilo ali melhor, ver se de fato a informação procede, ver se de fato
o cara tem algo a acrescentar àquela reportagem. A gente muitas vezes percebe que as
publicações no Overmundo algumas são muito elaboradas, com textos muito longos etc., mas
a grande maioria eu diria que na verdade são resumos de reportagens, elas são como sugestões
de pauta, que estão esperando um jornalista chegar, pegar e falar: “puta, isso aqui é muito
bacana”, ou fazer uma reportagem sobre isso.
Sarah Mascarenhas: Mas acaba acontecendo como numa agência de notícias?
93
Viktor Chagas: Exatamente. É o que a gente, em vários momentos, ao longo desses cinco
anos, chegou a pensar em constituir.
Sarah Mascarenhas: Bacana! Eu acho que está bom. Eu só queria te perguntar uma coisa
mesmo, em questão de dados, como está a colaboração nos últimos seis meses? Tem que
mandar algum documento discutido para poder... eu queria que você falasse comparando a
colaboratividade entre os dois veículos e aí estes são dados importantes para eu estar
formulando isso...
Viktor Chagas: Tá. Então deixa eu te explicar: a gente tinha uma prática de relatórios
mensais até nos início, eu acho que até no início de 2010, tá? De acompanhamento, de
tráfego, publicação etc. Hoje a gente não tem mais essa prática seqüencial, a gente só está
acompanhando a partir de demandas específicas à medida que a gente tem que prestar contas
para a Petrobras, por exemplo, a gente faz um apanhado e circula. E uma outra questão que eu
acho que influencia diretamente na tua análise também, especialmente sobre dados é, a gente
passou a partir de, acho que também no início de 2010, por um processo de repensar um
pouquinho qual que é a finalidade do site. E estamos passando por esse processo até hoje. É
uma série de descrições sobre o que, afinal de contas a gente conseguiu atingir e o que a gente
não conseguiu e quer atingir. Então, por exemplo, pensar que o Overmundo surgiu em 2006
num outro contexto, num outro cenário na internet brasileira, é pensar que hoje a gente pode
já ter alcançado algumas dessas metas que a gente tinha lá no início, por exemplo, a meta de
você abrir espaço para qualquer pessoa publicar, aí você me diz: “Ah, eu estou comparando o
Jornal do Brasil e estou comparando o Overmundo”. Na na época que o Overmundo surgiu
em 2006, nem essas ferramentas existiam, né? Que avaliasse a meta do Jornal do Brasil, o
Globo, ou sei lá o que. Por quê? Não tinha chegado aqui ainda embora estivesse engatinhando
lá fora, o twitter não existia, o youtube surgiu no mesmo ano também, então todas essas
ferramentas, essas plataformas colaborativas que abrem espaço também para a alta
comunicação surgiram muito depois da gente.
Sarah Mascarenhas: Vocês foram pioneiros?
Viktor Chagas: É. O que significa que hoje, por exemplo, em alguma medida, essa meta de
abrir espaço para essas pessoas auto-publicarem foi alcançada, ainda que não propriamente,
exclusivamente pelo Overmundo. Mas hoje qualquer pessoa pode abrir um blog e tem
conhecimento sobre isso. Em 2006 o blog já existia, né? Mas não tinha ainda um sistema e a
dinâmica do que é criar um blog...
94
Sarah Mascarenhas: E era um outro formato, né? Um diário, aquela coisa mais adolescente
de agenda e contar para todo mundo. Eu acho que até hoje, o blog tem um outro caráter, né?
Viktor Chagas: Então, mas eu estou dizendo isso exatamente por essa questão de que hoje
você tem janelas diferentes, né? Seja através de uma plataforma de blog ou como é hoje o
Wikipedia. Você pode a partir de uma ferramenta de um blog fazer um site. Ou a partir de
redes sociais, que se desenvolveram de maneira mais voltada seja para o social, seja para o
acesso à informação. Uma ferramenta como twitter, por exemplo, é altamente informacional.
Então, assim, se partir dessa meta, de alguma maneira ela foi alcançada, ainda que não
exclusivamente pelo próprio Overmundo. Isso significa que isso levou a gente a pensar um
pouco no nosso papel. Então essa é um pouco da discussão que a gente tem tido, e tem tido
entre outras coisas, em função também dos próprios dados de acesso e publicação e etc. que a
gente vê o crescimento muito grande de 2006 para 2007, o crescimento é muito grande porque
vai de zero a muito mais, mas tivemos um crescimento bastante acelerado de 2007 a 2009. De
2009 para 2010 a gente também apresentou. De 2010 para 2011 a gente caiu um pouquinho.
Então a lógica um pouco é essa.
Sarah Mascarenhas: Pensando nesses números, sabemos que é bom também, né? Porque
esses dados têm uma série de fatores que levam ao crescimento, querendo ou não ele agrega
pessoas, não pensando nos números.
Viktor Chagas: Isso, você tem uma série de fatores no final das contas. Primeiro você tem
outros sites que dividem a atenção do usuário. Tem muita gente que hoje fica o dia inteiro no
Facebook, o dia inteiro no Twitter. Então esse tipo de experiência a gente não consegue
replicar. No Overmundo, a experiência do Overmundo é uma experiência que, por natureza
tem um ritmo mais lento. Tem um ritmo lento de publicação, aquela coisa das 48 horas, mas
não só as 48 horas, há coisas de você buscar, produzir, buscar textos elaborados, publicar
coisas bacanas e etc. Então isso já impõe um ritmo um pouco mais lento. Mesmo no início a
gente falava “a gente nunca trabalhou com a lógica do furo jornalístico”, então para essas
ferramentas, por exemplo, de rede social, a gente perde um pouco isso. E também tem a coisa
de a gente não ter mais a novidade. Então você, de 2006, 2007, 2008, não era nada de
novidade. Hoje não é a grande novidade. Então essa etapa de classificação a gente
desconsidera porque..
Sarah Mascarenhas: Para não perder o caráter até, né?
95
Viktor Chagas: Eu acho que é isso, por exemplo, a revista tem ajudado muito a gente, no
sentido de reaproximar pessoas bacanas interessadas em produzir pautas altamente elaboradas
e circular essas pautas sobre assuntos de nicho, assuntos de descobertas para a mídia e etc.
Mas enfim, então estou falando isso tudo, no fundo para te falar, primeiro de tudo, explicar
um pouquinho essa queda, contextualizar um pouquinho ela, e segundo, para te falar também
que a gente hoje não produz dados de maneira sistemática, tal como a gente produzia antes.
Então é uma prática que a gente deixou de fazer especialmente por conta da redução da
equipe, então a gente não tem mais recursos humanos hoje para aplicar um relatório desse
nível, ainda que esteja na nossa gama, né? Isso significa que eu vou produzir os dados de
acordo com o que você me pedir, certo?
Sarah Mascarenhas: Por um determinado período?
Viktor Chagas: Isso. Aí ele fala o que você quer que a gente discute e eu falo. “Ah eu quero
o número de visitas”, eu falo “de repente o meio eletrônico faz mais sentido para o trabalho
que vai ser analisado e tal. E a gente discute um pouquinho esses dados, você me pede e eu
produzo os dados para você.
Sarah Mascarenhas: Ok. Fala sua formação para mim?
Viktor Chagas: Minha formação? Eu sou jornalista, meu mestrado e agora doutorado em
andamento são em história.
Sarah Mascarenhas: Legal, obrigada!
8.2. Fac simile de corpus de pesquisas
96
OVERMUNDO - OVERBLOG11:
11 Fonte: www.overmundo.com.br. Acesso em 14/07/2011
97
OVERMUNDO - OVERBLOG12:
12 Fonte: www.overmundo.com.br. Acesso em 13/07/2011
98
OVERMUNDO - OVERBLOG13:
13 Fonte: www.overmundo.com.br. Acesso em 12/07/2011
99
OVERMUNDO - OVERBLOG14:
14 Fonte: www.overmundo.com.br. Acesso em 11/07/2011
100
OVERMUNDO - OVERBLOG15:
15 Fonte: www.overmundo.com.br. Acesso em 13/07/2011
105
BRASILWIKI20:
20 Fonte: www.brasilwiki.com.br. Acesso em 11/07/2011
106
PÁGINA PRINCIPAL OVERMUNDO21:
21 Fonte: www.overmundo.com.br Acesso em 11/07/2011
107
8.3 Apêndices
Análise de conteúdo por meio de tabelas elaboradas pela autora:
108
109
110
111
112
113
114
Gráficos de prevalência da situação estudada elaborados pela autora:
Dados obtidos pelos sites estudados
Quanto à colaboração Jornal do Brasil Overmundo
Submissões 96 580
Publicações – Leitor Repórter/Overblog 15 160
Apurações 20 0
Votadas ou Retweets 7 280
0
100
200
300
400
500
600
700
Submissões Publicações – Leitor Repórter/Overblog
Apurações Votadas ou Retweets
Quanto à colaboração
Jornal do Brasil
115
Dados obtidos pelos sites estudados
Quanto aos usuários e cidades Jornal do Brasil Overmundo
Usuários/Assinantes 12000 57505
Cidades Abrangidas 5 2521
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
70000
Usuários/Assinantes Cidades Abrangidas
Sobre Cadastro e Abrangência Usuários e cidades abrangidas
Jornal do Brasil
Overmundo
116
Dados obtidos pelos sites estudados
Quanto ao acesso Jornal do Brasil Overmundo
Visitas - espaços analisados 3503 441797
Visitas total 4753779 485407
Pageviews - espaços analisados 8258305 687685
Pageviews total 4327 207544
0
1000000
2000000
3000000
4000000
5000000
6000000
7000000
8000000
9000000
Visitas - espaços analisados
Visitas total Pageviews - espaços analisados
Pageviews total
Dados de acesso Visitas e Pegviews
Jornal do Brasil
Overmundo