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PREPARAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS DE POLIETILENO DE BAIXA DENSIDADE COM NANOPARTÍCULAS DE

DIÓXIDO DE TITÂNIO ANATASE A PARTIR DE SUSPENSÕES COLOIDAIS

Paulo R. A. Bernardo1*, Antonio J. F. de Carvalho2, Luiz A. Pessan3

1* Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, Universidade Federal de São Carlos – PPG-

CEM/UFSCar, São Carlos-SP – [email protected] 2 Universidade Federal de São Carlos - UFSCar, Campus de Sorocaba, Sorocaba-SP – [email protected]

3 Universidade Federal de São Carlos – DEMa/UFSCar, São Carlos-SP – [email protected]

O objetivo do trabalho foi o estudo e preparação de nanocompósitos de polietileno de baixa densidade (LDPE) com

nanopartículas de dióxido de titânio (TiO2) anatase. Uma nova técnica foi proposta e testada para a obtenção de

nanocompósitos poliméricos de TiO2, baseada no uso do processo de spray drying para produzir um nanocompósito

com elevado teor de nanopartículas. O processo consistiu nas etapas de obtenção de nanopartículas de TiO2 anatase,

através do processo sol-gel; obtenção de misturas estáveis de polímero hidrossolúvel poli(álcool vinílico) (PVOH) e

TiO2; spray drying da suspensão aquosa TiO2/PVOH; e incorporação do pó concentrado de TiO2/PVOH em matriz de

LDPE. Filmes de nanocompósitos de TiO2/PVOH/LDPE foram obtidos, realizando a caracterização mecânica e

correlação com as propriedades de fotodegradação. Os resultados obtidos demonstram que o processo de spray drying é

uma maneira inovadora de se obter um nanocompósito com elevado teor de nanopartículas de TiO2 isoladas e

encapsuladas, além dos nanocompósitos apresentarem potencial para acelerar a fotodegradação.

Palavras-chave: Nanocompósitos poliméricos, dióxido de titânio, sol-gel, spray drying, fotodegradação.

Preparation of low-density polyethylene nanocomposites with anatase titanium dioxide from colloidal suspensions

The objective of this work was the preparation and study of low-density polyethylene nanocomposites with anatase

form of titanium dioxide nanoparticles. A new technique was proposed and tested to obtaining TiO2 polymer

nanocomposites, based on the use of the spray drying process to produce a nanocomposite with high nanoparticles

content. The process consisted in obtaining TiO2 nanoparticles, through the sol-gel process; obtaining stable mixtures of

polymer hydrosoluble poli(vinyl alcohol) PVOH and TiO2; spray drying of TiO2/PVOH aqueous suspension;

incorporation TiO2/PVOH concentrated powder in LDPE matrix. Films of TiO2/PVOH/LDPE nanocomposites were

obtained, accomplishing the characterization and correlation with the photodegradation properties. The results showed

that the process of spray drying is an innovative way to obtain a nanocomposite with high TiO2 nanoparticles content,

isolated and encapsulated; besides the nanocomposites show potential to accelerate the photodegradation.

Keywords: Polymer nanocomposites, titanium dioxide, sol-gel, spray drying, photodegradation. Introdução

Nanopartículas de dióxido de titânio (TiO2) tem atraído um interesse especial, pois, devido a sua

capacidade de absorver a radiação ultravioleta (UV), podem ser empregadas tanto para proteger a

matriz polimérica quanto para acelerar a sua fotodegradação. A obtenção de nanocompósitos que

aliam as características dos polímeros para a aplicação na indústria de embalagens com as

características particulares do TiO2 representa um campo novo de estudo da ciência e engenharia de

materiais, principalmente quando estudamos as propriedades de fotodegradação, devido à

necessidade de redução da poluição ambiental ocasionada pelas embalagens plásticas em geral.

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O TiO2 possui três fases polimórficas: rutilo, anatase e bruquita. A fase rutilo tem estrutura

cristalina tetragonal e é formada em altas temperaturas (>1000 °C). A fase anatase tem estrutura

cristalina tetragonal e é formada a partir de baixas temperaturas (cerca de 450 °C). A fase bruquita

tem estrutura cristalina ortorrômbica (geralmente instável e de baixo interesse para aplicações

industriais). Por ser um material inorgânico atóxico, absorvedor de radiação ultravioleta (UV) e de

ação anti-microbial, o TiO2 está sendo utilizado em diversas aplicações da indústria, tais como:

tintas e pigmentos [1], filmes fotocatalíticos para purificação de ambientes e tratamento de água [2],

sensores de gás, protetores de corrosão e camadas ópticas, células solares (Gratzel cell) [3], em

dielétricos de elevadas constantes e altas resistências elétricas, na decomposição do gás carbônico e

na geração de gás hidrogênio [4].

Nanocompósitos de TiO2 mostram uma propriedade especial que é a capacidade de absorver a

radiação ultravioleta (UV). Tal propriedade pode ser usada de duas formas interessantes: na

proteção contra a degradação (desde que as partículas de TiO2 sejam revestidas; normalmente por

dióxido de silício SiO2 e uma camada de material orgânico como, por exemplo, glicóis; o TiO2

utilizado deve estar em sua fase rutilo [5]), pois as partículas de TiO2 irão absorver raios UV, mas

sem ocorrer o processo de fotodegradação acima descrito devido ao isolamento e o não contato com

traços de água e com o próprio polímero; ou na fotodegradação da matriz (utilizando TiO2 sem

revestimento, que irá interagir com a radiação UV produzindo radicais livres que degradam as

cadeias poliméricas; o TiO2 utilizado deve estar em sua fase anatase [6]).

O desenvolvimento de métodos adequados para a produção de partículas de TiO2 tem ligação com

diversos estudos desenvolvidos na área de cerâmicas. Normalmente, os ceramistas buscam a

obtenção final de pós de TiO2 para as mais diversas aplicações, como por exemplo, para obtenção

de filmes finos de TiO2 preparados por diversos métodos [4], tais como sol-gel [7,8], condensação a

gás inerte [9], evaporação por plasma [10], pirólise spray ultrasônico [11], deposição química a

vapor [12] e processo aerosol [13].

Métodos de síntese química têm sido utilizados para preparação de pós nanométricos, como o

método Pechini, onde se obtém uma polimerização pela reação de poliesterificação entre o citrato

de titânio e o etileno glicol e posterior pirólise do polímero, obtendo partículas de TiO2 na fase

anatase de tamanho médio de 21 nm [4]. Quando temos a necessidade de preparar nanocompósitos

onde o processo de mistura das partes pode ser realizado em solução, procedimentos de obtenção de

nanopartículas de TiO2 em solução passam a ser interessantes, tais como o método sol-gel, através

da hidrólise de alquil titanatos [14] ou através da hidrólise do tetracloreto de titânio (TiCl4) [2].

Existem vantagens do processo de mistura em solução por apresentar um custo relativamente baixo

e não necessitar de aparelhagem sofisticada para a sua realização.

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Independente do método utilizado, o desafio do processo de obtenção de nanopartículas de TiO2

está na necessidade de se controlar o tamanho de partícula obtido. Além disso, para aplicações

específicas de fotodegradação, a fase anatase do TiO2 representa um requisito a ser garantido. Suas

propriedades tornam-se superiores se apresentarem alta área superficial, tamanho de partículas em

escala nanométrica, alta homogeneidade e composição química estável [4]. A necessidade de se

obter a correta dispersão e homogeneização do TiO2 em um nanocompósito polimérico representa

um dos principais desafios tanto das pesquisas quanto dos processos de fabricação, pois as

nanopartículas apresentam uma forte tendência de se aglomerar durante o processamento.

Nanocompósitos de polímero/TiO2 tem aplicação potencial nos campos da óptica e na indústria de

embalagens, com ênfase para produtos agro-químicos, de limpeza, farmacêuticos, higiene pessoal,

cosméticos, alimentos e bebidas e geral.

No presente trabalho, uma nova técnica foi proposta e testada para a obtenção de nanocompósitos

de TiO2 anatase em matrizes poliméricas. Esta técnica baseou-se no uso do processo de spray

drying para produzir um nanocompósito com elevado teor de nanopartículas. O processo consistiu

nas seguintes etapas: obtenção de nanopartículas de TiO2 anatase, através do processo sol-gel;

obtenção de misturas estáveis de polímero hidrossolúvel poli(álcool vinílico) (PVOH) e TiO2; spray

drying da suspensão aquosa de TiO2/PVOH; e incorporação do pó concentrado de TiO2/PVOH

obtido em matriz de polietileno de baixa densidade (LDPE). Filmes de nanocompósitos de LDPE

com o pó concentrado de TiO2/PVOH foram obtidos, com o propósito de realizar a caracterização e

correlação com as propriedades de fotodegradação (quando expostos à radiação UV), por

intermédio das propriedades mecânicas obtidas.

Experimental

Obtenção de nanopartículas de TiO2 anatase através do processo sol-gel

As nanopartículas de TiO2 foram preparadas pelo método sol-gel, através da hidrólise do tetra-n-

butil titanato fornecido pela Du-Pont (Tyzor) [14]. Nesse processo, 60 mL do tetra-n-butil titanato e

60 mL de 2-propanol foram adicionados lentamente (por 15 minutos) à 600 mL de água destilada

(misturada anteriormente à 4 mL de ácido nítrico 70%) sob alta agitação em misturador magnético.

A solução resultante foi agitada por 2 horas à temperatura ambiente. O óxido obtido em solução foi

submetido ao processo de peptização, que consiste no aquecimento sob agitação a 80 °C por 4

horas. Ao final, o aquecimento foi retirado e a solução obtida continuou sob agitação por mais 12

horas.

Caracterização das nanopartículas de TiO2 anatase

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As nanopartículas de TiO2 contidas na suspensão coloidal obtida pelo processo sol-gel tiveram seu

diâmetro médio determinado pela técnica de espalhamento de luz (dynamic light scattering DLS)

através do equipamento Microtac. A suspensão foi caracterizada pela técnica de gravimetria para

obter a concentração em massa de nanopartículas de TiO2 por mililitros de solução. A suspensão de

nanopartículas foi seca em estufa à vácuo à 100 °C por 24 horas e as partículas de TiO2 obtidas

foram maceradas em ágata e submetidas à técnica de Difração de Raios-X (X-Ray Diffraction

XRD), para a determinação das formas cristalinas de TiO2 obtidas. Também foi realizada a análise

da morfologia dessas partículas através da técnica de Microscopia Eletrônica de Varredura

(Scanning Electron Microscopy SEM) em um microscópio Philips XL-30.

Obtenção de misturas estáveis de PVOH e TiO2

Foi realizada a mistura da suspensão coloidal de TiO2 com uma solução aquosa de poli(álcool

vinílico) (PVOH; Mw~10.000; densidade de 1,269 g/cm3; 80% hidrolisado; Sigma-Aldrich). A

solução aquosa de PVOH foi preparada na mesma concentração em peso das nanopartículas de

TiO2 obtidas anteriormente (conforme o item 3.1), resultando em uma proporção 1:1 em massa de

nanopartículas de TiO2 e PVOH dissolvido. Tal solução final apresentou-se levemente azulada e

mais turva que a suspensão original de TiO2. Filmes foram produzidos com a solução obtida,

verificando transparência e a não observação de nenhum tipo de aglomerado.

Spray drying da suspensão aquosa de TiO2/PVOH

A suspensão aquosa de TiO2/PVOH foi atomizada através da utilização do processo de spray

drying, por meio do equipamento Mini Spray Dryer B-190 Büchi. As condições de preparação

foram: fluxo de gás no processo de spray de 400 L/h, temperatura do fluxo de ar de 128 °C,

temperatura de equilíbrio do sistema de 100 °C. Durante o processo, a água foi removida por

evaporação gerando partículas do nanocompósito TiO2/PVOH, com elevada concentração de

nanopartículas.

Caracterização do pó concentrado de TiO2/PVOH

O pó concentrado TiO2/PVOH foi caracterizado pela técnica de Microscopia Eletrônica de

Varredura (Scanning Electron Microscopy SEM) em um microscópio Philips XL-30 FEG e

microanálise de raios-X feita através de um detector de berílio EDX Oxford, durante a Microscopia

Eletrônica de Varredura. Também foi utilizada a Análise Termogravimétrica (Termogravimetric

Analysis TGA) em um analisador Shimatzu TGA-50, com aquecimento de 250C até 700

0C à uma

taxa de 100C/min sob atmosfera de nitrogênio.

Incorporação do pó concentrado de TiO2/PVOH em matriz de LDPE e produção de filmes

Foi realizada a incorporação do pó concentrado de TiO2/PVOH em LDPE (BF0323HC; Braskem;

IF 0,32 g/10min; densidade 0,923 g/cm3; específico para extrusão de filmes tubulares) através da

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mistura no estado fundido. As proporções de mistura utilizadas foram de 1, 3 e 5% em peso de

nanopartículas de TiO2 (2, 6 e 10% de concentrado TiO2/PVOH). Os materiais foram secos em

estufa à vácuo antes de processados, para eliminar qualquer resíduo de umidade: a resina de LDPE

a 80 °C durante 24 horas e o pó concentrado de TiO2/PVOH em uma rampa de resfriamento, de 80

°C a temperatura ambiente, durante 24 horas. O processamento foi realizado em uma mini-estrusora

de rosca-dupla (B&P; 19 mm de diâmetro; L/D de 25), a 100 rpm, com perfil de temperatura: T1

igual a 180 °C, T2 igual a 200 °C, T3 igual a 200 °C, T4 igual a 200°C e T5 igual a 200 °C. Os

materiais obtidos foram cortados em forma de grânulos.

As misturas obtidas foram secas em estufa à vácuo a 80 °C durante 24 horas e filmes com

aproximadamente 50 µm de espessura foram processados em uma mini-estrusora monorosca de

laboratório com aparato para preparação de filmes tubulares (condições de processamento: rotação

da rosca: 70 rpm; perfil de temperatura: T1 igual a 180 °C, T2 igual a 200 °C e T3 igual a 210 °C).

Além disso, os filmes obtidos foram cortados em tiras, utilizando uma prensa circular manual e uma

ferramenta com 4 laminas em faca formando um desenho retangular, medindo 20 por 100 mm, de

modo que o comprimento das tiras estivesse paralelo ao sentido da saída do material do molde de

filmes tubulares, obtendo amostras finais para a caracterização.

Caracterização dos filmes de LDPE com TiO2

Com o objetivo de verificar a dispersão das nanopartículas na matriz polimérica, grânulos da

composição de LDPE com 6% em peso PVOH/TiO2 (3% em peso de TiO2 anatase), obtidos após o

processamento na mini-estrusora de rosca-dupla e secagem em estufa à vácuo a 80 °C durante 24

horas, foram prensados a 200 °C com um molde metálico, obtendo amostras em forma de disco

com 3 mm de espessura, que foram submetidas a preparação de amostras para Microscopia

Eletrônica de Transmissão (Transmission Electron Microscopy TEM).

As amostras em forma de tiras foram submetidas à fotodegradação por raios ultravioleta (UV) de

maneira acelerada por exposição à luz UV em laboratório, através de uma lâmpada de descarga de

alta intensidade (vapor de mercúrio; 250 W) previamente preparada e instalada em uma caixa

metálica. As tiras foram posicionadas internamente na caixa metálica, na parede oposta à lâmpada,

e fixas sob fita adesiva. Um termohigrômetro foi utilizado para registrar a umidade relativa do ar de

cada ensaio, que variou entre 40 e 70%. Foram realizados ensaios a 0, 3, 6, 12 e 24 minutos. Devido

ao aumento de temperatura dentro do aparato (aproximadamente 50 °C com 6 minutos de

funcionamento) e a geração de ozônio, o ensaio foi realizado em capela, além de se adotar o

seguinte procedimento: para os ensaios com tempo até 6 minutos, o funcionamento foi contínuo;

para os ensaios com tempo acima de 6 minutos, foi necessário desligar a lâmpada a cada 6 minutos

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e abrir a tampa de proteção durante 3 minutos para permitir o resfriamento da câmara e liberar a

saída do ozônio.

Ensaios de resistência mecânica sob tração

As amostras em forma de tiras foram submetidas a ensaios mecânicos de tração, buscando atender a

norma ASTM D882-00 [15]. Porém, existem diferenças com relação às condições definidas na

norma e as realizadas, devido às medidas das tiras obtidas, a velocidade de deformação, a distância

entre garras e o número de amostras. Os ensaios foram realizados em um equipamento INSTRON

modelo 5569, com célula de carga de 500 N, distância entre garras de 60 mm, 5 amostras por

composição, garras pneumáticas superiores rugosas e inferiores lisas (para evitar o

escorregamento), velocidade de deformação de 5 mm/min até 0,2% de deformação (para detecção

do módulo elástico) e 50 mm/min no restante do ensaio. Portanto, os dados apresentados neste

trabalho só poderão ser comparados com outros dados da literatura ou outros trabalhos se as

condições forem as mesmas aqui colocadas.

Resultados e Discussão

Teor de sólidos e pH das suspensões de nanopartículas de TiO2

Três amostras (A, B e C) de suspensões coloidais de nanopartículas de TiO2 foram preparadas pelo

método sol-gel, apresentando característica transparente, levemente azulada e pouco turva, com pH

igual a 2. As suspensões coloidais ainda se mantém estáveis por mais de 12 meses. Através da

técnica de gravimetria, determinou-se a concentração em massa de nanopartículas de TiO2 por

mililitros de suspensão obtida que foi de aproximadamente 0,025 g de TiO2/mL (ou 25 g/L) para as

três suspensões.

Tamanho médio das nanopartículas de TiO2 por espalhamento de luz

A Tabela 1 apresenta o tamanho médio das nanopartículas de TiO2 determinado pela técnica de

espalhamento de luz (dynamic light scattering DLS). Os resultados obtidos para as amostras A, B e

C foram muito próximos, demonstrando que o método sol-gel proporciona um controle adequado

do tamanho médio das nanopartículas de TiO2. A amostra A apresentou resultado de tamanho

médio de partículas um pouco inferior que as amostras B e C.

Tabela 1 – Diâmetro medido determinado pela técnica de espalhamento de luz (dynamic light scattering DLS - volume).

AMOSTRA DLS - VOLUME

A (4h peptização) 17,38 nm

B (4h peptização) 23,79 nm

C (4h peptização) 24,31 nm

D (8h peptização) 29,76 nm

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As amostras A, B e C foram testadas realizando a mistura com a solução de 25 g/L de PVOH e não

apresentaram problemas de precipitação. Tal suspensão final apresentou-se levemente azulada e

mais turva que a suspensão original de TiO2. Nos experimentos realizados para dominar a técnica

de obtenção de nanopartículas de TiO2 pelo processo sol-gel, foi realizado um procedimento onde

uma amostra foi submetida a 8 horas de peptização a 80 °C. Essa amostra, identificada aqui como

Amostra D, apresentou resultados diferentes das amostras iniciais, com tamanhos médios de

nanopartículas maiores. Quando misturada com a solução de 25 g/L de PVOH a suspensão final

tornou-se totalmente turva, causando precipitação.

Difração de raios-X das nanopartículas de TiO2

O difratrograma obtido por difração de raios-X indicou os diversos picos relativos à fase anatase,

com especial atenção aos dois picos de difração a 2θ nos ângulos de 25° e 48° que são

característicos dos planos (101) e (200) do TiO2 anatase. A detecção da fase anatase é importante,

pois permite a correlação das propriedades de fotodegradação dos filmes caracterizados com as

diferentes nanopartículas utilizadas.

Microscopia eletrônica de varredura das nanopartículas de TiO2 e do pó concentrado TiO2/PVOH

A Figura 2.1 mostra a imagem obtida por microscopia eletrônica de varredura, observando que o

TiO2 apresenta a formação de uma morfologia peculiar, em formato de “cesta”, de diversos

tamanhos, mas respeitando certo padrão de morfologia. Estudos mais aprofundados desse tipo de

morfologia e as possíveis implicações no uso desse material seriam interessantes.

A Figura 2.2 mostra a micrografia (SEM) do pó concentrado de TiO2/PVOH após atomização por

spray drying. Pode ser observado que o pó obtido é bastante fino e apresenta formas esféricas. Além

disso, pode ser observada a formação de uma morfologia característica do dióxido de titânio seco

observado quando a solução coloidal é evaporada sem a presença de PVOH. A microanálise de

Raios-X realizada indicou a presença de titânio, oxigênio e carbono.

Figura 2 – 2.1 - Micrografia (SEM) das nanopartículas de TiO2 obtidas pelo processo sol-gel (4000x - escala = 5 µm); 2.2 - Micrografia (SEM) do pó

concentrado de TiO2/PVOH após atomização por spray drying (5000x - escala = 5 µm).

2.1 2.2

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Análise termogravimétrica do pó concentrado de TiO2/PVOH obtido pelo processo de spray drying

Observou-se a perda de massa para o pó concentrado de TiO2/PVOH a 600°C em torno de 50%.

Também observou-se a máxima perda de massa a 310°C para o pó concentrado de TiO2/PVOH e

aproximadamente 450 °C, correlacionada à degradação das cadeias poliméricas. Esses resultados

indicam que o concentrado é composto aproximadamente de 50% de partículas de TiO2 e 50% de

PVOH.

Estudo da fotodegradação acelerada por exposição em UV: caracterização mecânica

Os filmes de LDPE com 2, 6 e 10% em peso do concentrado de PVOH/TiO2 apresentam tensões de

ruptura e de escoamento abaixo dos valores obtidos para os filmes de LDPE puro. As tensões de

ruptura e escoamento apresentam tendência de diminuição com o aumento do tempo de exposição

em UV, porém os resultados mais significativos foram detectados na análise do módulo elástico. A

Figura 3 apresenta o comportamento do módulo elástico em função do tempo de fotodegradação. O

módulo dos filmes de LDPE com 2, 6 e 10% em peso do concentrado de PVOH/TiO2 são

relativamente próximos, mas inferiores aos valores detectados nos filmes de LDPE puro. Percebe-se

a tendência de diminuição do módulo para os filmes de LDPE com 2, 6 e 10% em peso do

concentrado de PVOH/TiO2, com o aumento do tempo de exposição em lâmpada UV. O desvio

padrão médio dos valores de módulo elástico foi de 20 MPa.

Figura 3 – Módulo elástico em função do tempo de fotodegradação para os filmes MB1 (LDPE puro) MB8 (LDPE + 2%wt PVOH/TiO2), MB9

(LDPE + 6%wt PVOH/TiO2) e MB10 (LDPE + 10%wt PVOH/TiO2).

Analisando os dados de módulo elástico, percebem-se os efeitos da fotodegradação que as

nanopartículas oferecem. Os filmes apresentam sensível diminuição dessa propriedade com o

aumento do tempo de exposição de 0 a 12 minutos, o que indica o potencial do concentrado

TiO2/PVOH para acelerar os efeitos da fotodegradação na matriz de LDPE.

Módulo (MPa) - variação da %wt de PVOH/TiO2 spray drying

100

120

140

160

180

200

220

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Tempo de Exposição em UV

Módulo Elástico (MPa)

MB1 MB8 MB9 MB10

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Microscopia eletrônica de transmissão dos nanocompósitos de LDPE com 3% em peso de TiO2

Conforme a Figura 4, percebe-se a formação de grande aglomerados de PVOH/TiO2. Visualizando

esses aglomerados, é possível identificar nanopartículas densas (pontos escuros) totalmente

dispersos e encapsulados em um material de diferente densidade (região clara), provavelmente o

PVOH. Assim, pode-se afirmar que o PVOH foi um bom agente de estabilização, evitando a

aglomeração do TiO2.

Figura 4 – Micrografias (TEM) da composição MB9 (LDPE + 3%wt PVOH/TiO2 spray drying) (88000x - escala = 1 µm).

Conclusões

A preparação de nanopartículas de TiO2 pelo processo sol-gel foi eficiente e permitiu a obtenção de

suspensões de nanopartículas com tamanho médio controlado e na fase anatase, requerida para

aplicações onde a fotodegradação é necessária. Além disso, foi possível obter misturas estáveis do

polímero hidrossolúvel PVOH com as suspensões de nanopartículas de TiO2.

O processo de spray drying se demonstrou uma maneira inovadora de se obter nanopartículas de

TiO2 isoladas e encapsuladas. Assim, foi possível obter um pó concentrado de TiO2 disperso em

PVOH que já pode ser considerado um nanocompósito. Tal concentrado possui aproximadamente

50% em peso de nanopartículas de TiO2 e 50% de PVOH e pode ser utilizado na incorporação das

mais diversas matrizes poliméricas.

As análises de TEM indicam que o PVOH evita de forma eficiente a aglomeração das

nanopartículas de TiO2. Além disso, mostram que a mistura no estado fundido na estrusora de

rosca-dupla não aplicaram cisalhamento suficiente para levar a completa dispersão das

nanopartículas de TiO2 na matriz polimérica. Neste caso, é recomendável o uso de uma estrusora

100 nm

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com perfil de rosca de alto cisalhamento, que possibilite a dispersão do pó concentrado de

TiO2/PVOH na matriz polimérica.

Os filmes com o pó concentrado de TiO2/PVOH apresentam potencial para acelerar os efeitos da

fotodegradação na matriz de LDPE, tornando a técnica desenvolvida bastante promissora para esse

tipo de aplicação. O estudo da fotodegradação aqui realizado atende a necessidade inicial do

trabalho de comparar as propriedades de fotodegradação entre os filmes produzidos, pois todas as

amostras passaram pelas mesmas condições e métodos. Porém, a continuidade desse estudo,

utilizando tempos de exposição mais longos, além de realizar ensaios padronizados de fotodegração

artificial e ao ar livre seguindo normas, poderá permitir a comparação das informações obtidas com

outros estudos da área fotodegradação e envelhecimento.

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