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PRINCPIOS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

rezado Prof. Nojiri,

Na ltima tera-feira (23/10), aps pegarmos o documento assinado pelo senhor para liberao da verba ao Coletivo Feminista Capitu, dirigimo-nos ao departamento financeiro. L, no entanto, nos disseram que no poderiam efetuar a liberao, visto que no possvel realizar desembolsos. A explicao dada foi que tnhamos que ter levado o documento com o pedido antes da apresentao da pea, assim como somente a faculdade poderia ter feito a compra do material utilizado pelo grupo.Alm desse problema, estamos diante de outro, ainda mais complicado. Nosso intuito era devolver o valor que havamos pedido para o grupo de Maracatu (em nosso pedido, constam o valor gasto com o material usado para confeccionar os cartazes e a bandeira, e o valor que custearia a apresentao do grupo de Maracatu), pois eles no puderam participar do evento. Entretanto, descobrimos, na tera-feira, atravs do diretor da pea, que houve um equvoco, e a apresentao no havia sido gratuita (eles esto cobrando R$ 300,00). O valor que havamos pedido ao DFB era de R$ 304,00, e nos seria muito til diante do imprevisto.A funcionria do departamento financeiro disse que poderia nos ajudar, desde que apresentssemos nota fiscal. A Cia. de Teatro disse que poderia fornecer a nota. Para tanto, todavia, teramos que reformular o pedido tambm, pois a pea no consta no anterior. No sabemos se isso possvel, sobretudo em funo da data (sua assinatura em 4 de Outubro est respaldando a possibilidade de fornecimento da verba sem que se considere reembolso...).O senhor poderia nos ajudar? Estamos sem saber o que fazer...Gratas pela ateno.Coletivo Feminista Capitu

PRINCPIOS DO DIREITO COLETIVO DO TRABALHO

Messias Pereira Donato, Cadeira n. 34* O desenvolvimento do tema requer duas observaes preliminares, voltadas para seu contedo.

A primeira delas diz respeito ao significado da expresso Direito coletivo do Trabalho. Trata-se, na realidade, de uma das divises do Direito do Trabalho e no de ramo de direito autnomo ou de tendncia a tornar-se autnomo. Da que os princpios objeto da dissertao, apesar de seu relevante nvel de especificidade, so de fato, princpios do Direito do Trabalho, relativos s relaes coletivas de trabalho.

A segunda observao est em que tais princpios especficos coexistem com os princpios gerais do Direito do Trabalho de correlao mais ntima com as relaes individuais de trabalho, com destaque para a abrangncia do Princpio de Proteo, cuja tnica se revela em doses fortes tanto nas relaes individuais como nas relaes coletivas de trabalho.

Os princpios especficos e os princpios gerais compem assim os Princpios do Direito do Trabalho.

Embasamento dos Princpios do Direito do Trabalho

Na enunciao dos Princpios do Direito do Trabalho, sejam os princpios gerais, sejam os especficos, de se terem em vista:

1. os princpios e normas relacionados com a disciplina, inseridos na Constituio da Repblica;

2. a legislao infraconstitucional,

3. os princpios pertinentes contidos em tratados internacionais de que o Pas for signatrio.

No plano da Constituio, repositrio mpar e casusta de preceitos e princpios de Direito do Trabalho, esto estes presentes, como ncora de um Estado Democrtico de Direito (art. 1), cuja atividade econmica e cuja ordem social devem ser programadas e planejadas para a obteno do bem comum, pressuposto bsico da meta principal, que o alcance da justia social (artigos 170 e 193). De contedo econmico e de contedo tico, a justia social repousa na aspirao de melhoria das condies materiais do homem, cuja fonte de riqueza est no trabalho e na promoo do trabalhador, como pessoa, como integrante de uma categoria profissional e na qualidade de cidado, participante da sociedade poltica. A dosificao da desigualdade, a busca da solidariedade dos homens do trabalho e da solidariedade com os homens do trabalho encontram-se sua raiz.

No campo jurdico, a dosificao da desigualdade e a solidariedade dos e com os homens do trabalho, em um Estado Democrtico de Direito, requerem, na esfera do Direito do Trabalho, a diversificao de centros irradiadores de poderes. Assim como o Estado devedor de prestaes, quando apregoa serem princpios fundamentais, como se l na Constituio da Repblica, a cidadania, a dignidade da pessoa humana os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, e proclama ter por objetivos, dentre outros, a reduo das desigualdades sociais e regionais, cuida de reconhecer a liberdade de associao profissional ou sindical, com atribuio s organizaes sindicais da misso de defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria. Os ncleos jurgenos passam a ter sede na atuao do Estado e na atuao das entidades sindicais.

Com vista dosificao das desigualdades por via legal, o Estado volta-se para a proteo do trabalhador e para sua promoo social; na dosificao das desigualdades por via sindical, a tnica est na solidariedade geradora da categoria e, em funo desta, na sustentao do interesse coletivo para a defesa de direitos e interesses do indivduo na condio de membro dela. Para a dosificao das desigualdades por via legal, o Estado inspira-se na valorizao social do trabalho, com vista a uma sociedade justa e solidria, em que deve primar o respeito pela dignidade do homem no trabalho. A especificidade da via sindical defende o trabalhador como componente de uma coletividade sedimentada em interesses comuns. A organizao sindical livre e independente a via de representatividade coletiva por excelncia, centrada no poder gerador de normas coletivas. Sua base jurdica firma-se no princpio da liberdade sindical e no princpio da autonomia sindical.

Princpio da liberdade sindical

O princpio da liberdade sindical, comum a empregados e empregadores, manifesta-se nos planos individual e coletivo.

No plano individual, a liberdade sindical revela-se sob trplice aspectos:

A. Liberdade de fundao de sindicato. Implica em liberdade de manter sindicato e participar de suas atividades, o que envolve a possibilidade de arregimentao. O proselitismo de sua essncia.

B. Liberdade de aderir a sindicato, o que importa na vedao de medidas discriminatrias por parte da Empresa ou do Estado e de prticas anti-sindicais, consistentes na insero em instrumentos coletivos normativos de clusulas de filiao sindical e de segurana sindical.

Como discriminaes por atos da empresa citem-se iniciativas restritivas de vantagens alcanadas pelo trabalhador, como prmios, promoo; atos que envolvem perseguio ou medida punitiva, como remoo abusiva do trabalhador, alterao de seu horrio de trabalho, medidas disciplinares desarrazoadas ou desfundamentadas, prticas de preparao e utilizao da lista negra. O emprego de lista negra consiste em ser o trabalhador congelado, tido por indesejvel, atravs de divulgao de seu nome entre empresas, seja, por exemplo, pela seleo dos que participam ativamente de greve, ou pela difuso de nomes de reclamantes colhidos nas pautas dos tribunais, para que no venham a ser contratados. Em relao a empregador, ele posto em lista negra pelo sindicato profissional, para depreci-lo junto a consumidores, a clientes, pelo fato de, por exemplo, contratar trabalhador no sindicalizado, por ser judicialmente condenada em processos de ofensa dignidade do trabalhador.

Exemplo de desvirtuamento da liberdade sindical o dos sindicatos fantasmas, sindicatos de empresa, de instituio estimulada, subvencionados ou mantidos por empresa ou grupos de empresas, sindicatos fantoches, manipulados de conformidade com os interesses de seu fundador.

No plano legal, as medidas discriminatrias dizem respeito concesso de favores ou de preferncia a empresas ou a trabalhadores sindicalizados, segundo se pode verificar do contexto dos artigos 544 e 546 da Consolidao das Leis do Trabalho, de tal vulto, que as vantagens neles contidas tornariam irresistvel quelas ou a estes deixarem de sindicalizar-se.

Embora no derrogados por preceito expresso, de se rejeitar que ainda estejam em vigor, por infringirem frontalmente o princpio de isonomia abrigado na Constituio da Repblica. Ademais, por haver ratificado a Conveno n 98, da Organizao Internacional do Trabalho, importaria em sua violao clusula que condicionasse a admisso em emprego, sua manuteno ou a despedida dele, pelo fato de o trabalhador no ser sindicalizado ou recusar a filiar-se a sindicato.

So por demais conhecidas as clusulas de interdio de filiao sindical, como a clusula open shop, restritiva do poder do sindicato e permissiva de livre contratao pelo empregador de trabalhadores sindicalizados ou no sindicalizados; ou a clusula yellow dog, que estipula o compromisso formal do trabalhador de no se filiar a sindicato.

C. Liberdade de no sindicalizar-se. Sob o regime de unicidade sindical, como ocorre no direito positivo ptrio, consiste no direito de no filiar-se a sindicato. de se pr sob indagao este aspecto da liberdade sindical, em relao aos ordenamentos jurdicos em que os instrumentos coletivos normativos tm eficcia vinculante erga omnes, com alcance de toda a categoria, ou seja, inclusive dos trabalhadores no sindicalizados. A liberdade de no sindicalizar-se em tal situao importa em admitir que o interesse do individuo prepondere sobre o interesse coletivo. Embora beneficirio das vantagens alcanadas pelo sindicato, a titularidade da liberdade de no sindicalizar-se permite ao trabalhador beneficiar-se dos efeitos positivos dos instrumentos normativos e fazer vista grossa da entidade sindical. Dentro dessa linha de entendimento, o Tribunal Superior do Trabalho reputa como ofensiva liberdade sindical, assegurada na Constituio da Repblica, a insero em instrumentos normativos de clusula que disponha sobre obrigatoriedade de contribuio assistencial para entidades sindicais por parte de trabalhadores no sindicalizados (Orientao Jurisprudencial n 17 da Seo de Dissdios Coletivos). Ao trabalhador no caso dado colher os bnus e rejeitar os nus.De par com clusulas de interdio de filiao sindical subsistem clusulas de segurana sindical sobre obrigao de filiao sindical ou de obrigao de contribuio para o sindicato, como condio de contratao exclusiva ou preferencial de trabalhadores. Tais clusulas vm sofrendo temperamentos, com vista ao resguardo da liberdade individual, dentre eles os que se referem:

1. abstinncia de sindicalizao, por invocao de motivos de conscincia e de objeo religiosa, de verificao em prticas no Egito e nos Estados Unidos;

2. abstinncia de sindicalizao, em vista de recusa de adeso do interessado por parte do sindicato, salvo se a recusa resultar de motivo mal fundado, como se d na Inglaterra.

Clusula existe que requer to s o pagamento de contribuies pelo no sindicalizado. Pela clusula union shop, o empregador livre de contratar. A restrio opera-se em relao ao trabalhador. Uma vez contratado, obriga-se o empregador a despedi-lo, se no vier a sindicalizar-se dentro de certo prazo. Esta clusula pode articular-se com a clusula de manuteno de filiao, ou seja, de obrigao do trabalhador sindicalizado de permanecer filiado ao sindicato at o termo da conveno em que tiver sido estipulada.

Existem sub-clusulas de amenizao da union shop, com o fim de limitao do nmero de despedidas que o sindicato pode exigir no curso de um ms ou de submisso das despedidas apreciao e deciso de uma comisso arbitral escolhida para o fim, como ocorre nos Estados Unidos. Pela clusula closed shop (oficina fechada) a empresa somente pode contratar trabalhadores que forem filiados ao sindicato convenente. Ressalva-se o direito de no filiao a sindicato, reconhecido aos trabalhadores j contratados, quando da celebrao da conveno coletiva

Pela clusula preferential hiring ou preferential shop, a empresa obriga-se a dar certa preferncia a trabalhadores sindicalizados

No regime de pluralidade sindical, liberdade de no sindicalizar-se acrescentam-se trs outras: a de no filiar-se a um sindicato qualquer, a de filiar-se a sindicato de sua escolha e a de filiar-se a mais de um sindicato.

A liberdade sindical no plano coletivo manifesta-se por meio da autonomia sindical.

Princpio da autonomia sindical

Na esfera da autonomia do sindicato inserem-se sua liberdade de funcionamento e sua liberdade de ao. A primeira liberdade ampara-se no princpio de autodeterminao institucional, ou seja, na potestade de estruturar-se juridicamente; a liberdade de ao sindical ancora-se no princpio de autodeterminao coletiva, cuja tnica a normatividade e nos princpios de concertao social e de autotutela.

Funcionamento do sindicato: princpio da autodeterminao institucional

O princpio da autodeterminao institucional traduz a capacitao da entidade para a produo de seu ordenamento jurdico e para auto-dirigir-se. Inserem-se neste princpio as seguintes prerrogativas:

1. poder constituinte, atravs do qual sua Assemblia Geral institucionaliza a coletividade, ao propiciar-lhe meios de autodeterminar-se. Para tanto, elabora instrumentos normativos, que estabelecem as regras de seu governo, de constituio e funcionamento de seus rgos, de sistematizao do ordenamento;

2. direito de autodirigir-se, no sentido de prover sua administrao, eleger dirigentes, gerir seu patrimnio, fixar direitos, deveres e obrigaes de seus associados, estabelecer e desenvolver se programa de ao, deliberar sobre iniciativas, condies e meios necessrios consecuo de seus fins;

3. direito de fixar contribuio para custeio do sistema confederativo da representao sindical respectiva.

Liberdade de ao sindical: escola de democracia

Dimensionado em funo de sua estrutura, de exigncia de participao ativa, efetiva e permanente dos filiados em seu funcionamento e em suas decises, do grau de representao da categoria, o sindicato uma escola de democracia inspirada no padro poltico geral Perante ela se colocam, se discutem, se maturam temas e teses, propostas e solues sobre a convivncia, a interao de interesses individuais e coletivos. Da que no plano de suas normas internas, impe-se a observncia de direitos e garantias individuais, de par com direitos e garantias prprios ao status de associado. A exemplo do que se d no campo poltico, constituem pressupostos para o exerccio da atividade sindical o reconhecimento das liberdades pblicas, como liberdade de pensamento, liberdade de difuso de opinies e idias, do direito de reunio

e de informao ao associado. Constituem garantias de franquia democrtica, por exemplo, para o associado do sindicato o direito de votar e ser votado nas eleies sindicais, de participar das decises da entidade, de vigilncia e fiscalizao de seu funcionamento, de ser por ela representado de forma lisa e legtima, de defesa com os recursos e procedimentos pertinentes.

A entidade sindical funciona e atua no meio econmico, poltico e social em que se instala. Compreende-se ser irreal pretender que ela se abstenha de atividade poltica no trato dos problemas da vida profissional. A proibio geral de exercer atividades polticas, diz a Comisso de Tcnicos na Aplicao de Convenes e Recomendaes da Organizao Internacional do Trabalho, no s incompatvel com a Conveno n 87, como impossvel faz-la respeitada na prtica. Pondera Paul Durand que os membros das profisses no podem cuidar do estudo dos problemas profissionais, desvinculando-se de suas preferncias filosficas,polticas ou religiosas. Esta dissoluo se tornaria impossvel unidade psicolgica do homem. E o seria igualmente porque, em seu sentido mais completo, as questes filosficas so questes polticas. Est em consonncia com esse entendimento a tese de que no se desejar tampouco venha a entidade sindical ser caudatria ou venha a conviver em comunho orgnica com partidos polticos.

DESLEGALILZAO, DESJUDICIALIZAO E NORMATIZAO DAS RELAES COLETIVAS DE TRABALHO

A garantia de liberdade de ao sindical est raz da deslegalizao, desjudicializao e normatizao das relaes coletivas de trabalho. Encontra ela resposta e apoio nos princpios de autodeterminao normativa, de concertao social e de autotutela.

Princpio de autodeterminao normativa

Pelo princpio de autodeterminao normativa ou do regulamento coletivo, seres coletivos - sindicatos atuam no interesse das respectivas categorias ou de parte delas e criam normas superiores s do regulamento contratual individual ou s do regulamento interno empresarial, sejam obrigacionais ou normativas. Em relao ao ordenamento jurdico do Estado, situam-se elas, em regra, em grau de hierarquia inferior s normas legais, mas so derrogatrias de leis dispositivas. Em alguns casos podem ser derrogatrias de leis de ordem pblica. Tm eficcia vinculante. Durante o prazo de sua vigncia, possuem efeitos erga omnes, de aplicao aos integrantes da categoria ou de parte dela. Em conseqncia, incidiro sobre os contratos de trabalho em vigor e sobre os contratos que sobrevierem em seu curso. Criam direitos e obrigaes para o empregador e para o empregado, independentemente de sua vontade.

Tais efeitos so imperativos. Sua derrogao pode ser prevista no prprio instrumento normativo, pode decorrer de condies mais vantajosas estipuladas no contrato de trabalho, em regulamento de empresa ou em acordo coletivo ou conveno coletiva de trabalho, comparadas com as condies estabelecidas em instrumento normativo em vigor, ou ainda em razo de grave crise econmica, avaliada pelos interessados.

Em segundo lugar, tais efeitos so de aplicao imediata, em relao ao momento de sua entrada em vigor. O efeito automtico supera o mero efeito obrigatrio, diz Krotoschin. A Consolidao das Leis do Trabalho reputa tais condies disformes como nulas, nulidade absoluta (ar. 619).

A inobservncia do instrumento normativo, seja pelos sindicatos ou da parte de empresa ou empresas convenentes, ou ainda pelo empregado, torna-os passveis de penalidades, que dele devem constar, em carter obrigatrio (art. 513, VIII, da CLT). Em relao ao empregado e empresa, consistiro elas de multas, cujo valor, para o empregado no poder exceder a metade do valor da multa que for estipulada para a empresa (art. 622 da CLT).

Princpio da concertao social

princpio prprio negociao coletiva

Consiste na interao econmica, social e jurdica do poder estatal com as categorias econmica e profissional, particularmente para a elaborao da linha mestra da poltica social.

Na esfera jurdica, o princpio manifesta-se sob trplice aspecto: na criao, na integrao e na derrogao de normas jurdicas. Nos planos econmico e social consubstancia-se na co-participao ao nvel da empresa, ao nvel de instituies e na macroeconomia, requestada pela imensa carga de responsabilidade do Estado social de direito, segundo preconizado na Constituio da Repblica.

No mbito da criao de normas, no se trata de invocar a atuao sindical como centro produtor de direito, em decorrncia do princpio de autodeterminao normativa das entidades sindicais, mas de situaes em que a atuao sindical tem servido como integradora e derrogatria de normas. No primeiro caso, ocorre quando inspira o legislador na criao de normas, pela transposio para o texto legal de vivncias oriundas de acordos ou de convenes coletivas de trabalho. Esta diretriz foi responsvel pela insero na Constituio da Repblica de vrias disposies de proteo ao trabalhador, como, por exemplo, piso salarial, estabilidade provisria, garantia sindical, acordos sobre jornada em turnos ininterruptos de revezamento, ou ainda apela converso em lei de conquista coletiva, como no caso do 13 salrio, do abono de frias.

Na rea da derrogao de normas legais, por efeito da flexibilizao da legislao do trabalho, os instrumentos coletivos normativo so passveis de abranger disposies de leis imperativas em trs situaes:

a. em caso de irredutibilidade salarial;

b. em relao durao do trabalho normal no superior a oito horas dirias e quarenta e quatro semanais;

c. no tocante jornada de trabalho realizada em turnos ininterruptos de revezamento (art. 7, VI, XIII e XIV da Constituio da Repblica).

No campo da interao econmica, os resultados so desanimadores. Reclamam o sindicatos da ausncia de poltica industrial amplamente discutida entre governo, empresrios e trabalhadores, das constantes mudanas nos setores econmico, previdencirio social e tributrio, do desinteresse na elaborao de uma legislao de sustento, em que se leve em conta a natureza tripartite dos co-participantes, das atividades econmica e social.

Sem dvida que, dentro desse contexto, a atuao do Poder Normativo da Justia do Trabalho, atravs das sentenas normativas, representa um freio ao sindical, no campo das negociaes coletivas. Contudo, em termos de adequao das negociaes coletivas realidade econmico-social do Pas, da fragilidade ou da comodidade das entidades sindicais como grupos de presso, de uma legislao mesclada de normas de origem corporativista e de normas liberais, no deixa de representar uma fonte de paternalismo, ocasionalmente indispensvel. A Constituio da Repblica, nesse passo, ameniza, para pior, a exigncia de obrigao de negociar preceituada na Consolidao das Leis do Trabalho (art. 616, caput), para estabelecer to s a participao dos sindicatos nas negociaes coletivas espontneas que houver (art. 8, III), em distanciamento do princpio da concertao social.

A Constituio da Repblica acolhe de modo amplo o direito de greve, mas a lei ordinria o regulamenta com mincias, quanto a procedimentos e quanto interferncia da Justia do Trabalho, que o torna frgil instrumento de sustentao das reivindicaes sindicais. O art. 623 da Consolidao das Leis do Trabalho faculta ao Ministrio do Trabalho, mediante representao, declarar nulas as disposies de instrumentos normativos contrrias poltica econmico-financeira do Governo ou poltica social vigente. Falta tratamento legal uniforme quanto negociao nas atividades trabalhistas privadas e na rea pblica.

Princpio de autotutela

A autotutela consiste no exerccio da ao sindical, atravs de meios e mtodos, com vista a garantir a observncia das normas negociadas pelo sindicato e integrantes do ordenamento jurdico democrtico e das normas legais que o amparam, na defesa dos direitos e interesses da categoria, sem recurso necessrios a outros centros de poder e de deciso. Manifesta-se sob trplice aspecto:

A. pela representao unitria dos trabalhadores, ao nvel das categorias e ao nvel dos locais de trabalho voltada para a criao de regras coletivas e para sua aplicao categoria ou empresa. O texto constitucional, aps a Emenda constitucional n 45, de 8.12.2004, reforou a eficcia de tais regras. Com efeito, ao dispor sobre o julgamento de dissdio coletivo de natureza econmica, estabelece que cumpre ao Tribunal do Trabalho respeitar as disposies mnimas legais de proteo ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. Isto significa que, uma vez reivindicadas as disposies mnimas convencionadas e vigentes ao ensejo das novas negociaes, mas no recepcionadas por falta de consenso entre os interessados, tero sua eficcia mantida pelo Julgador. A este vedado desprez-las ou decidi-las in pejus. -lhe facultado alter-las, nos limites do Poder Normativo, se nas novas reivindicaes o contexto de tais regras tiver sido modificado para melhor.

B. pela atuao das entidades sindicais em rgos de colaborao e conciliao de que participam.

C. pela ao direta, em especial atravs do exerccio do direito de greve.

Onde h sistema de negociao coletiva avanada, habitual fazer constar dos instrumentos coletivos normativos clusula de paz social, proibitiva de ao direta, no curso de sua vigncia.

Os acordos tripartites tm estimulado a autotuela, seja em virtude da responsabilidade que o sindicato passa a assumir, por participar das decises de polticas do Estado, seja porque a soluo judicial dos conflitos de trabalho alcana to somente os de natureza individual.

O princpio de autotutela est longe de alcanar satisfao no direito positivo ptrio. No plano institucional, encontra bice no poder normativo da Justia do Trabalho, cujas sentenas normativas invadem a rea de normatizao sindical. No campo do direito positivo, o obstculo est na ausncia de previso de rgos de representao. A participao na gesto da empresa, mesmo em carter excepcional, prevista na Constituio da Repblica, pende de lei ordinria (art. 7 XI). O nico dispositivo sobre a matria limita-se obrigatoriedade de um representante dos trabalhadores, por eles eleito, nas empresas de mais de duzentos empregados, com a finalidade de promover-lhes o entendimento com os empregadores (art. 11). No atrai a simpatia dos trabalhadores a previso legal de instituio em instrumentos normativos de comisses mistas de consulta e colaborao (art. 621/CLT). Na dcada de 60 e 70, de intensa reivindicao operria, comisses de fbrica foram criadas em Osasco, no Estado de S. Paulo, em algumas grandes empresas, s quais o regime militar ento vigente manifestou forte rejeio.

As Comisses Mistas de Conciliao Prvia, objeto da Lei n 9.958, de 12.01.2000, em nada contribuem para melhoria do nvel de tutela sindical. Ao contrrio, prejudicam-no. Passveis de ser institudas nas empresas, sua ordenao se dar pela retro-citada lei. As que vierem a ser criadas na rea do sindicato sero regidas por instrumentos normativos, o que j estava previsto no art. 621 da CLT, em relao s comisses de consulta e colaborao no plano da empresa. Agravam-se as dificuldades de sua instituio ao nvel sindical, primeiro, porque, podendo a Empresa cri-las, no ir participar de negociao com o sindicato, para que delas ele cuide. Depois, porque a Constituio da Repblica, diferentemente da CLT, no prev a obrigatoriedade de um parceiro em negociar, quando provocado a tanto pelo outro.

Instrumento de autotutela a ao direta, da qual a greve constitui modalidade mais importante. Cumpre, porm, atentar para o fato de ser o indivduo e no o sindicato o titular do direito de greve. Aos trabalhadores que cabe decidir sobre a oportunidade de seu exerccio e sobre os interesses que devam por meio dela defender. Os direitos assegurados no curso da greve so do trabalhador. Ao sindicato incumbe a tarefa de convocao da Assemblia Geral dos trabalhadores, a quem cabe decidir sobre a matria. A atribuio dessa magnitude de responsabilidades ao trabalhador conflita com sua total insegurana no emprego, por dispor o empregador do direito potestativo de despedida, aps o trmino do movimento coletivo.

Funo e pressupostos da negociao coletiva

A negociao coletiva a fonte mater dos princpios de autodeterminao normativa, de concertao social e de autotutela. Como sistema de deciso, ela um processo direcionado a entendimento de comum acordo entre os interessados. igualmente um mtodo voltado para a administrao de conflitos. Em terceiro lugar, pode assumir a feio de um direito de negociao. Sua utilizao no seio da empresa, fez dela instrumento de participao, em virtude de ter provocado a instituio de rgos menores de colaborao com o sindicato, a saber, conselhos de empresa, comisses de empresa.

Sistema de auto-composio, a negociao coletiva tambm sistema de produo normativa, por via direta, com vista a autodeterminao coletiva e autotuela, ou por efeitos indiretos, na sua funo integrativa ou derrogatria de normas, luz do princpio de concertao social Desconflita tenses e constitui procedimento para a celebrao de acordos, convenes, contratos coletivos de trabalho e para a abertura de perspectivas misso do legislador. A Constituio da Repblica abre-lhe espao para possibilitar-lhe funo derrogatria, na fixao da jornada de trabalho realizada em turnos ininterruptos de revezamento (art. 7, XIV).

Em sendo processo, a negociao coletiva passa por uma srie de fases ou etapas. A abertura das negociaes coletivas requer a fixao de sua estratgia, para se estabelecerem tticas e critrios de negociao. As tticas procedimentais so regras de conduta prprias dinmica e ao objetivo da negociao. Nas tticas de negociao autores h que fazem incluir as tticas procedimentais, como princpios procedimentais, abrangentes do dever de informao, do dever de influncia, do dever de adequao. No se trata, na realidade, de princpios especficos. Outros autores acolhem como princpios os critrios de negociao, compreendendo a negociao de boa-f e a negociao como dever de paz. Na verdade, o princpio da boa-f princpio geral de direito, seja pblico ou privado. Ele comanda os atos jurdicos em geral, seja quanto ao regime dos contratos (art. 422 do Cdigo Civil), na interpretao dos negcios jurdicos (art. 113 do Cdigo Civil), seja em matria sindical-coletiva. A prtica das negociaes encontra no princpio geral de boa-f critrio de entendimento dos direitos sob uma tica social. J a negociao como dever de paz seria quando muito dever jurdico. O dever de paz social constitui valor jurdico, cuja eficcia depende do sistema e para cuja realizao o Direito do Trabalho contribui como componente do ordenamento jurdico.

A Consolidao das Leis do Trabalho reconhece aos sindicatos e s empresas o direito negociao coletiva, passvel de recusa pela contraparte ou de malogro pelo desentendimento entre os co-partcipes do processo (art. 616). Na ocorrncia de uma ou de outra das duas situaes, a qualquer dos interessados seria facultado o ajuizamento de dissdio de natureza econmica. Ao inovar a ordenao da matria, a Constituio da Repblica cuida:

a. da hiptese de frustrao da negociao coletiva (se os interessados no desejarem ou no acordarem em recorrer a rbitros, por se tratar de mera faculdade). Subsiste o vazio da negociao levada a efeito, mas frustrada. Negociao frustrada no importa necessariamente em recusa de negociao, pois o desacordo fruto desta. Na falta de disposio expressa da Constituio da Repblica sobre como agirem os interessados, ser de se recorrer ao citado art. 616 da CLT, cujo pargrafo 2 dispe que, se malograr a negociao entabulada, facultado aos Sindicatos ou s empresas interessadas a instaurao de dissdio coletivo.

b em caso de recusa da negociao coletiva por qualquer das partes, (o apelo a rbitros, j se viu, constitui mera faculdade), facultado s partes, se se puserem de comum acordo, encontrar no Judicirio a soluo do conflito.

A Constituio ameniza a exigncia da CLT no sentido de que os parceiros, quando provocados, no podem recusar-se negociao. que, na hiptese de um deles se recusar negociao espontnea, com vista celebrao de acordo coletivo ou conveno coletiva de trabalho, a Constituio propicia-lhes a oportunidade de negociarem sobre se, no obstante a recusa, desejam ou no alcanar comum acordo para a submisso da controvrsia apreciao da Justia do Trabalho, ou seja, com vista a obter desta um comando estatal.

Ora, a tentativa de comum acordo requer negociao coletiva. Reclama provocao de interessados a outros, por meio de proposta. A provocao suscitar discusso e certo que exigir manifestao expressa ou tcita do provocado ou provocados. Na omisso destes quanto proposta ou na rejeio dela, ficar caracterizado o malogro da negociao. Recai-se, em conseqncia, na hiptese de frustrao, em que o ajuizamento do dissdio coletivo assegurado a qualquer dos interessados.Verifica-se pelo exposto que a negociao coletiva extravasa os limites da negociao coletiva espontnea direcionada celebrao de instrumentos normativos, nos limites dos quais dominam os princpios do direito coletivo do trabalho e alcana, embora como projeo dela, o prembulo da sentena normativa que, por sua vez, dela permeada. * Messias Pereira Donato professor aposentado da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, membro da Academia Iberoamericana de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social, membro da Academia Nacional de Direito do Trabalho. Venturini, Jorge L. Garcia. Politeia. Buenos Aires: Ed. Troquel, 5.ed., 1980, p. 24.

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