PROJETO MIGRATÓRIO: UMA COMPREENSÃO INTERDISCIPLINAR DO TEMA – SCHUTTE, Giorgio Romano; MAZER, Roberta de
Morais.
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ISSN 2316-266X, n.3, v. 20, p. 174-190
PROJETO MIGRATÓRIO: UMA COMPREENSÃO
INTERDISCIPLINAR DO TEMA
SCHUTTE, Giorgio Romano
Professor do Programa de pós graduação em Ciências Humanas e Sociais da UFABC
MAZER, Roberta de Morais
Estudante de mestrado no Programa de pós graduação em Ciências Humanas e Sociais da UFABC
RESUMO Diversas teorias foram usadas para explicar o “fenômeno” da migração que podemos observar
atualmente. A existência de um corpo teórico fragmentado, voltado a determinadas disciplinas, torna
mais difícil a compreensão dos processos migratórios e de sua complexidade. As novas modalidades
migratórias demandam, no cenário da globalização, a reavaliação de paradigmas para a compreensão
das migrações. Com isso, a incorporação de novas dimensões explicativas torna-se imprescindível.O
conceito de projeto migratório visa conciliar as análises que se voltam às ações individuais, aquelas que
enfatizam os fatores estruturais e as redes sociais, considerando fatores objetivos e subjetivos numa
relação dialética que possibilita a constante mudança e adaptação do projeto a novas informações e
acontecimentos; conciliando, então, as teorias e visões de diversas disciplinas que se voltaram para o
tema.
Palavras-chave: migração, projeto migratório, interdisciplinaridade.
ABSTRACT Several theories were used to explain the migration “phenomenon” observed currently. The existence of
a fragmented theoretical body, oriented to some disciplines, makes more difficult the comprehension of
the migratory process and it’s complexity. The new migratory modalities demand, in the globalizated
scenario, the revaluation of paradigms for migration comprehension. Thus, the incorporation of new
explanatory dimensions becomes indispensable. The concept of migratory project aims to reconcile the
analyzes who turn to individual actions, those that emphasize structural factors and social networks,
considering objective and subjective factors in a dialectical relationship thet enables changing and
adapting the project to new information and events; reconciling, then, theories and visions from various
disciplines who have turned to the subject.
Key-words: migration, migration project, interdisciplinarity.
INTRODUÇÃO
A migração não se apresenta como um fenômeno recente: os deslocamentos
populacionais em busca de melhores condições de vida e/ou trabalho. Não apenas as migrações
internas como as internacionais se mostram importantes para a compreensão da formação das
sociedades, de suas identidades e sua constituição como nação (Siqueira, 2006). No caso
brasileiro aquela ainda é importante para o desenvolvimento econômico do país, sendo que a
tríade crescimento, migração e trabalho está no centro da estrutura nacional (Dedecca, 2013).
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1.1. Por que partir
Em geral, migrar representa um rompimento com um quotidiano conhecido em troca de
um novo espaço geográfico, social e cultural, um novo emprego e, algumas vezes, uma nova
profissão. Essa decisão afeta não apenas aquele que parte, mas também sua família nuclear e
ampliada, descendentes e dependentes. Isso faz com que a escolha de migrar não seja
individual, e sim coletiva.
As motivações econômicas geralmente são encontradas entre pessoas oriundas de países
mais pobres ou menos desenvolvidos e classes sociais desfavorecidas. Entre elas geralmente
estão a falta ou insegurança de emprego; insuficiência de recursos naturais; baixas expectativas
em relação a um futuro promissor para si e seus descendentes. Esses movimentos migratórios
são classificados como emigração econômica, mas raramente os migrantes possuem apenas um
único tipo de motivação (Rocha-Trindade, 1995).
A emigração política envolve desajustes entre um sistema político e sua aceitação por
seus cidadãos. Quando essas situações atingem determinado grau de gravidade, por exemplo o
risco de perder a vida, a comunidade internacional tende a reconhecer o status de exilado
político àqueles que o solicitam (idem).
Os motivos étnicos, considerando-se étnico como ascendência comum, vêm à tona
quando, por qualquer motivo, a inclusão de minorias étnicas e culturais em sociedades
maioritárias de origens diferentes, como língua, religião, organização social, código de valores,
entre outros, acaba por motivar o menor grupo a mudar de país (idem).
De forma emergencial o conceito de refugiado aplica-se a pessoas que encontram-se em
situação de total privação de recursos, sendo que nem mesmo sua sobrevivência pode ser
garantida. Esse conceito não se aplica a grupos que passaram por uma grande catástrofe
climática, como terremotos, erupções vulcânicas e outros (idem).
A emigração de especialistas envolve o recrutamento de determinados perfis
profissionais disponíveis em um país e em reduzido número em outro. Geralmente esse
fenômeno é conhecido como braindrain. Esse tipo de movimento só pode ser considerado
como um fluxo migratório quando envolve um número significativo de pessoas que possuem
expectativas de se estabelecer definitivamente no local de destino ou com duração
indeterminada (idem).
Várias outras situações podem gerar fluxos migratórios, como determinados grupos de
idosos que buscam outros países e busca de determinadas características climáticas e sociais ou
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estudantes que visam obter qualificação, especialmente de ensino superior e pós-graduação, em
outros locais (idem).
1.2 A PERSPECTIVA DE EQUILÍBRIO
O modelo de equilíbrio se baseia na perspectiva neoclássica da economia e, assim, parte
do princípio de que os deslocamentos populacionais são resultado da distribuição desigual da
terra, trabalho, capital e recursos humanos e, através da migração, essas diferenças poderiam
ser minimizadas. Ao eliminar-se a diferença desses fatores entre regiões geográficas a
imigração cessaria. Os fluxos migratórios, portanto, seriam resultado da soma de diversas ações
individuais realizadas a partir da avaliação racional dos custos e benefícios do deslocamento. A
partir dessa perspectiva temos teorias como a Neoclássica1, Mercado Dual de Trabalho2,
Microeconômica3, Capital Humano4, entre outras (Dutra, 2013).
As teorias que buscam explicar a migração através do modelo de atração-repulsão
percebem as pessoas como indivíduos racionais que possui informações suficientes para fazer a
escolha mais adequada a partir das condições econômicas da região de origem e de destino.
Assim, para maximizar suas vantagens, escolhas são feitas em função de determinadas
“pressões”: fatores de repulsão que “empurram” as pessoas de seu local de origem e fatores de
atração que os “trazem” a outros países. A decisão migratória recai, então, sobre a positividade
de se concretizar o desejo de melhores condições de trabalho e renda. Essas teorias estão
intimamente ligadas às teorias do mercado de trabalho (Siqueira, 2006).
E. G. Ravenstein dedicou-se aos estudos das migrações na Ingleterra e no País de Gales.
Seus principais artigos foram publicados em 1876 na Geographical Magazine e dois no Journal
of the Statistical Society, respectivamente em 1885 e 1889. Eles estabeleceram algumas “Leis
de Migração” que explicavam esse fenômeno por algumas variáveis que hoje denominamos
como fatores de atração e repulsão (pull-push). O autor buscava regularidades nos fluxos
migratórios e, a partir delas, é que as Leis foram estabelecidas. Elas refletiam, na verdade, a
necessidade de expansão do capitalismo de um excedente populacional, capaz de responder
imediatamente à dinâmica do capitalismo (Pacheco e Patarra, 1997).
De forma simplificada, essas leis estabeleciam que 1) a maioria dos migrantes
desloca-se na menor distância possível; 2) aqueles que se deslocam para longe buscam grandes
1 Siqueira, 2006; Dutra, 2013; Soares, 2005. 2 Siqueira, 2006; Rocha-Trindade, 1995; Dutra, 2013; Soares, 2005. 3 Rocha-Trindade, 1995. 4 Rocha-Trindade, 1995; Dutra, 2013.
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centros de comércio e/ou indústria; 3) as movimentações populacionais dão origem a correntes
migratórias; 4) os habitantes de áreas rurais buscam cidades contígua, que passam por um
crescimento, enquanto os lugares que ficam vagos por eles são preenchidos por migrantes
oriundos de locais mais distantes, fazendo com que o crescimento urbano se estenda, passo a
passo, até lugares remotos; 5) o processo de dispersão é inverso ao de absorção; 6) cada
corrente migratória produz uma contracorrente compensatória; 7) a população rural busca a
migração como solução mais do que a urbana; 8) os movimentos de curta distância são
constituídos, em sua maior parte, por mulheres; 9) a evolução dos meios de transporte e a
expansão industrial levam ao aumento dos fluxos migratórios e 10) condições como leis
opressivas, impostos caros, clima pouco atrativo, meios sociais adversos e pressões diversas
(como tráfico de escravos, deportações, etc) produzem correntes migratórias, mas nenhuma
delas se torna tão volumosa quanto as correntes de pessoas que buscam melhorar suas
condições materiais de vida. A simples comparação dos aspectos positivos e negativos não seria
suficiente para a decisão de migrar, mas também pelos obstáculos existentes entre origem e
destino, como distância a ser percorrida, barreiras físicas, leis, custos envolvidos, entre outros
(Rocha-Trindade, 1995).
A perspectiva de equilíbrio foi, comumente, reduzida à teoria neoclássica combinada
aos modelos pull-push. O problema dessas teorias é o pressuposto do migrante que define
individual e racionalmente, a partir de um conhecimento perfeito de todas as informações, sua
entrada no mercado de migração global em busca da maximização das vantagens, valorizando a
ação individual e, assim, ignorando que as ações são socialmente orientadas. “O ato de migrar
não é somente uma decisão individual, os migrantes devem ser considerados como indivíduos,
mas participantes de um grupo social que direciona a construção do projeto de migrar.
(Siqueira, 2006, p. 30)”. Assim, nessa crítica, outros fatores tão importantes quanto a ação
individual não são considerados, além de haver uma lógica causa/consequência de tipo
determinista (Boyer, 2005).
Migrants and potential migrants respond not only to changing onditions in the
environment and migration decisions are not merely based on economic
calculations, but also on other kinds of considerations. Potential migrants
have only limited information and migration decisions are based on partially
distorted views of conditions at the potential destinations ando f a future at the
place of origin. A migration decision is neither an exclusively individual affair
nor a completely voluntary act, but often a collective and strongly conditioned
or constrained decision (Malmberg, 1997, p. 30)
As explicações que se centram no indivíduo não se mostram eficazes na intermediação
das motivações individuais com as estruturas sociais. Além disso, algumas críticas com foco
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microeconômico afirmam que a decisão de migrar é feita a partir da renda esperada e não da
real diferença entre salários. Por isso a expectativa seria um fator importante na decisão
racional (Siqueira, 2006).
1.3 A PERSPECTIVA HISTÓRICO-ESTRUTURAL
A perspectiva histórico-estrutural tem sido constantemente polarizada às perspectivas
de equilíbrio, que foram apresentadas até aqui. A oposição entre elas resulta num conflito entre
duas visões de mundo diferentes e, também, num debate sobre as mudanças operadas nos
padrões migratórios em escala internacional.
Críticas são feitas a essa perspectiva teórica [do equilíbrio], pois, além de
enfatizar explicações individualizantes, que não se apresentam a uma análise
sociológica mais ampla, quando colocada diante dos fatos históricos e dos
dados empíricos, percebe-se sua fragilidade. A população mais pobre
geralmente não forma as primeiras levas de migrantes. Além disso, dados
empíricos de pesquisas recentes têm confirmado que os primeiros migrantes
são pequenos proprietários, trabalhadores com alguma especialização
(Siqueira, 2006, p. 29).
Além disso, vertentes que seguem o esquema teórico weberiano, afirmam que as
perspectivas de equilíbrio não consideram que toda ação individual é socialmente orientada,
agindo tanto em função dos princípios econômicos individuais quanto das expectativas da
coletividade em que se inserem (idem).
A perspectiva histórico-estrutural encontra-se em uma série de modelos diferentes sobre
as migrações. Entre eles estão a teoria da dependência, da acumulação global, o quadro
“centro-periferia”, incluindo as teorias da nova divisão internacional do trabalho e as redes
sociais. Ela parte do princípio que os movimentos das pessoas ao redor do globo só podem ser
analisados no contexto da história, das transformações sociais que ocorrem em determinada
formação social e da mudança socioeconômica. A perspectiva histórico-estrutural enfatiza o
papel das estruturas sociais, econômicas e políticas que determinam as migrações: o
desenvolvimento de um mercado de trabalho de tipo capitalista, a divisão regional e
internacional do trabalho, o desenvolvimento das economias coloniais Portanto essa
perspectiva parte do pressuposto que a explicação para os movimentos migratórios devem ser
buscados nas pressões e contrapressões internas e externas ligadas à dinâmica da economia
internacional e processos de desenvolvimento desigual. “Desse modo, as migrações são
consideradas como um processo macro-social, ligado aos fenômenos de classe, processo em
que a unidade de análise são as próprias correntes migratórias e não os efeitos agregados de
decisões individuais. (Rocha-Trindade, 1995, p. 83)”.
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1.4 MOBILIDADE DO CAPITAL E MOBILIDADE DOS TRABALHADORES
A principal autora dessa visão é Saskia Sassen (1988)5. Para a autora, o uso de trabalho
estrangeiro, seja ele escravo ou imigrante, têm sido uma tendência nas economias industriais,
pois o rápido desenvolvimento industrial gera necessidade de grande quantidade de
trabalhadores, enquanto a queda nos lucros faz com que seja preciso trabalho barato em países
centrais. Nessas economias os trabalhos com baixos salários tendem a pertencerem a setores
com turnos, equipamento obsoleto e insegurança: se torna necessário uma força de trabalho
impotente, o que torna o migrante um trabalhador desejável. Trabalhadores migrantes requerem
menos serviços sociais, geralmente ocupam vagas vazias, sua presença não faz com que seja
gasto mais capital público ou privado (os custos com desemprego, saúde pública e
impossibilidade de trabalhar podem ser exportados), seu baixo consumo não pressiona a
produção local e a oferta de serviços, produzem mais do que consomem e podem ser
repatriados quando não são mais necessários ou sua saúde física ou mental os impede de
trabalhar. Além disso, o status de estrangeiro, a falta de familiaridade com o sindicato e a
frequente segregação que sofrem tornam o trabalhador imigrante dependente de seus
empregadores. Assim, o estrangeiro não é um trabalhador desejável necessariamente por
“custar menos” que um nativo, mas sim por ser impotente, reduzindo a pressão em alguns
setores em busca da modernização do mesmo.
Após a década de 1960 houve um crescimento nos investimentos nos países em
desenvolvimento, a média anual de crescimento desses países aumentou durante a década de
1970. No entanto, esses investimentos não foram feitos de forma aleatória e nem em todos os
países, mas, sim, foi possível observar a existência de um grau de concentração tanto na origem
quanto no destino do investimento dos países desenvolvidos naqueles em desenvolvimento. A
partir de meados da década de 1970 alguns países buscavam, como estratégia de
desenvolvimento, a industrialização direcionada à exportação. Países com mercados internos
limitados e muita mão de obra barata desejavam atrair investimentos para produção para
exportação, já que contavam com abundante mão de obra barata.
5 Para Patarra (2006) a contribuição de Sassen tem sido “absolutamente necessária na compreensão da
problemática, mas não se constitui como teoria de migração internacional; trata-se da compreensão dos efeitos e
implicações das transformações da sociedade global sobre os intensos deslocamentos de contingentes
populacionais que estão modificando a geografia do mundo.” (idem, p. 10). No entanto autores como Siqueira
(2006) e Margolis (1994) tratam as contribuições da autora como se fosse uma teoria que busca explicar as
correntes migratórias contemporâneas.
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Essa forma de industrialização pela qual passaram esses países incorporou, geralmente
massivamente, novos segmentos da população no trabalho assalariado generalizando relações
de mercado e introduzindo formas modernas de produção, transformando rapidamente as
estruturas sociais e gerando uma quebra de estruturas tradicionais de trabalho e contribuindo
para a formação de “piscinas de migrantes”6.
A penetração no que viria a ser a periferia assumia a forma de introdução de
novas linhas de produção, em particular no setor agrícola. O consequente
abandono de culturas de subsistência e o ocasional translado de populações
acarretavam nas estruturas sociais modificações de várias ordens. (Furtado,
1980,p. 77)
Portanto, muitas mulheres que até então não possuíam trabalho e/ou renda própria se inserem
no mercado de trabalho, e isso ocorre de forma muito diferente da evolução observada nos
países industrializados fazendo com que elas se distanciassem de sua comunidade de origem.
Isso coloca a mulher numa posição vulnerável devido à forma de contratação e demissão nessas
novas zonas industriais e a ruptura de formas de trabalho tradicionais junto da ocidentalização
dessas mulheres: aqui vemos condições para a formação de um fornecimento de migração
feminina. Quando elas se veem desempregadas, já que dificilmente os trabalhadores
conseguem manter um emprego a longo prazo nessas fábricas, e afastadas de suas culturas,
existem poucas opções. A presença massiva do estrangeiro, então, facilita a emergência da
migração como opção viável, independente da origem, destino e características desses
investimentos.
A generalização das relações de mercado historicamente levou à dissolução das
estruturas de trabalho tradicionais e promoveu a migração laboral. A expansão das indústrias
exportadoras e da agricultura, inseparavelmente relacionadas ao investimento externo dos
países industrializados mobilizou novos segmentos da sociedade à migração regional e
internacional. Os investimentos estrangeiros, que geralmente vão dos países mais
desenvolvidos em direção aos menos, promovendo a emigração através de: incorporação de
novos segmentos da sociedade que romperam com estruturas tradicionais e se inseriram no
trabalho assalariado, criando um abastecimento de trabalhadores migrantes; a feminização da
nova força de trabalho industrial e seu impacto nas oportunidades masculinas; consolidação de
ligações objetivas e ideológicas com os países altamente industrializados onde os investimentos
foram gerados e o destino de sua produção.
6 A autora usa o conceito “pool ofmigrants”.
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1.5. AS REDES SOCIAIS
Um dos problemas das teorias estruturais é que, especificados os fatores que
influenciam nas diferenças salariais, as estruturas de emprego, desenvolvimento nos países
emissores e receptores, os fatores que animam os indivíduos a migrar não são considerados. Por
isso elas são menos eficazes na identificação dos fatores que afetam individualmente a decisão
de migrar e suas variáveis, acreditando que as decisões são consequências da estrutura do
sistema global. Nesse sentido, a análise das redes sociais7 busca reconciliar as análises macro e
micro dos fluxos migratórios já que as ações sociais são resultado de constantes negociações,
manipulações, escolhas e decisões do indivíduo frente a uma realidade que, através de normas,
oferece algumas possibilidades e interpretações (Rocha-Trindade, 1995). “Aplicadas aos
fenômenos migratórios, aposta-se que as redes fornecem contextos sociais de referência para o
indivíduo que deseja emigrar, tornando-se assim um instrumento valioso para estudar a ação
social, já que elas são capazes de condicionar comportamentos. (Truzzi, 2008, p. 208)”.
As redes sociais permitem aos migrantes reduzirem os custos envolvidos na migração. É
através delas que as informações circulam e é possível obter assistência que permite a redução
do custo financeiro e a incerteza do recém chegado. Dessa forma um fluxo migratório pode se
perpetuar em um destino específico.
As redes fornecem informações, indicam meios que auxiliam o processo de
migração e atenuam as dificuldades no país de destino. A migração
internacional pressupõe ir ao encontro de uma sociedade, geralmente com
língua, costumes e valores diferentes. Significa um empreendimento de
muitos riscos. Esses riscos são amenizados por intermédio das redes sociais
(Siqueira, 2006, p. 38).
O conceito de redes sociais não se trata de um conceito novo, mas a partir da década de
1970 elas passaram a chamar atenção de diversos investigadores das migrações. Ele permite o
estudo de determinadas estruturas relacionais, como a posição de um ator na estrutura da rede e
como isso interfere no comportamento do mesmo. As posições determinam, ainda, as
oportunidades que se apresentam e a facilidade no acesso aos recursos dos outros atores da
rede. Partindo da ideia de que fatores estruturais estabelecem as condições nas quais decisões
de grupo e individuais são tomadas, as redes sociais fornecem essa estrutura, mas ao nível
micro as decisões são influenciadas pela participação nas redes e no acesso a recursos,
informações e assistência. Quando essas redes se desenvolvem elas estimulam correntes
migratórias, efetuando a ligação entre dois países diferentes e entre migrantes e não migrantes,
o que permite explicar a persistência de um fluxo mesmo após o término das condições
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estruturais que deram início a ele (Sasaki e Assis, 2000). Ao mesmo tempo que as relações de
reciprocidade das redes intermediam a inserção do migrante no trabalho, as condições
estruturais do exercício do trabalho na sociedade receptora também condicionarão as relações
entre seus membros (Dornelas, 2001).
A rede é o conjunto de pessoas entre as quais as relações interpessoais, de amizade,
parentesco, camaradagem ou apadrinhamento, permite esperar do outro confiança e fidelidade.
É no âmbito da rede que se mostra possível formular o projeto migratório e, através dela,
mobilizar as estratégias e os recursos necessários para sua concretização. Sob esse ponto de
vista podemos afirmar que o projeto é familiar, já que seus membros participam da mesma rede
(Dornelas, 2001).
A teia de relações sociais interligadas, mantida por um conjunto de
expectativas mútuas e de comportamentos determinados, que apoia o
movimento de pessoas, bens e informações, que une migrantes e
não-migrantes, que liga comunidades de origem a lugares específicos das
sociedade de destino, constitui a rede migratória. (Soares, 2005).
A perspectiva das redes permite uma análise, independentemente de sua direção ou
persistência, que considera as estruturas econômicas, sociais e políticas na história de ambas as
sociedades. É através dessa perspectiva que podemos, ainda, explicar a forma que alguns locais
de origem se vinculam a determinados destinos. Bons exemplos disso são os programas
GuestWorker, realizado na Europa nos anos 1940 e 1950, e o programa Bracero, que buscou
levar trabalhadores mexicanos aos Estado Unidos do México durante a Segunda Guerra
Mundial, momento de escassez de mão de obra no país, e que, mesmo após encerrado o
programa, continua a haver imigração de mexicanos.
1.6. TRANSNACIONALISMO
Em Nação e Consciência Nacional (1989), Benedict Anderson observa como dentro de
algumas nações uma espécie de “sub-nacionalismos” (ibidem, p. 11) têm existido, ameaçando a
existência delas. Para o autor, a nação nada mais é do que uma comunidade política imaginada
de forma limitada e soberana. Ela é imaginada pois nem mesmo na menor delas todos seus
cidadãos conhecem todos seus compatriotas e, no entanto, a ideia de uma “comunhão” é
compartilhada por todos. A nação é limitada pois, independentemente do número de pessoas
por ela abarcadas, possui fronteiras finitas, para além das quais estão outras nações. É a partir
das ideias de Anderson que Hall (2003) questiona onde começam e terminam as fronteiras de
7Vertambém TILLY, Charles.Migration in Modern European History. In: MCNEILL, W. H. e ADAMS, R. S.(orgs). Human migration, patterns and policies.Indiana University Press, 1978.
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uma nação, considerando que todas vivem historicamente próximas de seus vizinhos e alguns
de seus cidadãos vivem em outros países.
No atual contexto internacional, espaços e comunidades apresentam cada vez mais um
caráter transnacional, ou seja, diversas estratégias de contato e interação são desenvolvidas,
permitindo a existência de vínculos entre dois locais distintos e, com isso, provocando
mudanças sociais em ambos (Dutra, 2013). Glick-Schiller, Basch e Blanc-Szanton (1992)
propõem a adoção da transnacionalização como uma forma analítica de compreensão da
migração. Observando brevemente os estudos sobre migração feitos até então, e através de
estudos realizados nos Estados Unidos com grupos de caribenhos, haitianos e filipinos, as
autoras percebem que comumente os imigrantes são vistos como pessoas que abandonaram
definitivamente seus locais de origem, rompendo com antigos hábitos e padrões e se
comprometendo com o aprendizado de uma nova língua e cultura. Sob essa perspectiva, o
migrante pode ser rapidamente assimilado ou aculturado pela sociedade de destino,
obscurecendo ligações com seu lar, seu local de origem e familiares. Apesar de haver na
literatura existente algumas caracterizações que apontavam no sentido da transnacionalização,
os estudos estavam focados na inserção do imigrante na sociedade receptora, não fornecendo
nova abordagem ao estudo. Além disso, o processo de reestruturação e reconfiguração do
capital global afetou a migração internacional e seus laços com a comunidade de origem, e os
desenvolvimentos tecnológicos de comunicação e transporte facilitam esse contato.
Ao contrário das pesquisas que revisam, as autoras concluem que os migrantes mantêm
diversas ligações entre local de destino e de origem. Assim, eles passam a ser chamados de
transmigrantes: pessoas que mantém relações familiares, econômicas, sociais, organizacionais,
religiosas e políticas com seu espaço natal, colocando em relação espaços locais e globais. A
visão dos migrantes como assimilados pela sociedade receptora levou a uma perspectiva que os
classificava como temporários ou permanentes. Para as autoras essas categorias não levam em
consideração que as relações com a sociedade local e a de origem são mantidas
concomitantemente.
These connections have enabled immigrants during their years abroad to have
children cared for by kin at home, to continue as actors in key Family
decisions, to visit at regular intervals, and to purchase property and build
homes and businesses in their countries of origin, even as they bought homes
and created businesses in their countries of settlement. (Glick-Schiller, Basch
e Blanc-Szaton, 1995, p. 53).
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Para Dutra (2013), o transnacionalismo se define como o processo através do qual os
migrantes criam campos sociais que atravessam as fronteiras de suas nações, por meio de
atividades quotidianas sociais, econômicas, culturais e políticas.
1.8 PROJETO MIGRATÓRIO
Essa breve apresentação de algumas teorias que estudam os fluxos migratórios mostra
que cada uma delas voltou-se a uma dimensão explicativa ou a uma escala da análise, de forma
que a complexidade desses movimentos não é considerada em sua totalidade. A decisão de
migrar é parte de uma série de fatores que não seguem exclusivamente a lógica de causa e
consequência, mas são, também, historicamente marcados no grupo social e na região
considerada quanto pela história da migração em si (Boyer, 2005).
No contexto da globalização e da reestruturação produtiva as migrações internacionais
têm crescente importância, mostrando as novas modalidades de movimentação populacional
(Patarra, 2006). No caso brasileiro, as mudanças pelas quais passaram as migrações no país, em
relação a origens, destinos, grupos envolvidos, duração, tipos, entre outros, exigem a revisão de
algumas perspectivas teóricas até então utilizadas no estudo desse objeto (Menezes, 2012).
As novas mobilidades migratórias demandam, no cenário da globalização a
necessidade de reavaliação dos paradigmas para o conhecimento e o
entendimento das migrações internacionais no mundo, e a incorporação de
novas dimensões explicativas torna-se imprescindível, assim como a própria
definição do fenômeno migratório deve ser revista (Patarra, 2006).
O conceito de projeto refere-se a uma conduta organizada intencionalmente de forma
que finalidades específicas sejam atingidas; através do estabelecimento de objetivos e fins é
possível que os meios sejam estruturados para que aqueles possam ser alcançados. Ele enfatiza,
de um lado, o papel dos elementos contextuais na elaboração de um projeto, e, por outro, a
consciência de sua construção e o caráter ativo do ator sobre a realidade. A ação deliberada
resulta do planejamento, do estabelecimento de um objetivo e de imagina-lo sendo realizado,
além da intenção de concretiza-lo independente se tratar de um projeto vago ou detalhado.
Enquanto antecipação no futuro de uma trajetória e biografia específicas, ele se caracteriza
como parte de um continuum que permite sua constante redefinição em função do contexto em
que se insere e das estratégias sociais e individuais (Velho, 2003).
Os projetos, então, operam em um campo de possibilidades, dimensão sociocultural que
proporciona espaço para sua formulação e implementação que é compartilhada por universos
específicos. Eles são construídos a partir das experiências socioculturais, de vivências e
interações, circunscrito histórica e culturalmente na própria noção de indivíduo e no repertório
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de preocupações centrais ou dominantes. “Sua matéria-prima é cultural e, em alguma medida,
tem de ‘fazer sentido’, num processo de interação com os contemporâneos, mesmo que seja
rejeitado. (Velho, 2004, p. 27)”.
A cada momento existe uma seleção de coisas que se mostram relevantes para o ator
enquanto outras não incitam nenhum tipo de preocupação. Tudo isso é biograficamente
determinado, isto é, sua atual situação apresenta uma história específica, é a sedimentação de
suas experiências subjetivas anteriores. Por isso um projeto apenas individual, sem referência a
outro ou ao social, não se mostra possível. Portanto, a racionalidade envolvida em um projeto
está ligada a determinadas experiências culturais: ela envolve algum tipo de cálculo e
planejamento culturalmente situada de riscos e perdas envolvidos (idem).
O projeto é o instrumento básico de negociação da realidade com outros
atores, indivíduos ou coletivos. Assim ele existe, fundamentalmente, como
meio de comunicação, como maneira de expressar, articular interesses,
objetivos, sentimentos, aspirações para o mundo (Velho, 2003, p. 103).
A noção de projeto busca dar conta da “margem relativa de escolha” (Velho, 2004) que
os indivíduos e/ou grupos possuem em um determinado momento histórico de uma sociedade
ao mesmo tempo que a escolha racional é vista como um elemento significativo aos processos
de mudança (idem); o mundo social se mostra, assim, estruturante e, ao mesmo tempo,
estruturado pelas ações dos sujeitos, fazendo com que a objetividade e a subjetividade estejam
em uma relação dialética (Amorin, 2012). Dessa forma temos a visão de que “seja capaz
reconhecê-lo [o migrante] como um sujeito portador de projetos e realizador de escolhas dentro
dos espaços que articula no processo migratório. (Xavier, 2012)”.
O projeto migratório, assim, é construído a partir do momento que o migrante decide
deixar seu local de origem e, também, ao longo de toda a trajetória migratória. Esse conceito
permite que seja privilegiada uma análise dinâmica da migração, que se funde ao continuum
temporal.
Assim, há um deslocamento do olhar da migração para os sujeitos dessa ação
– os migrantes – enquanto sujeitos que, embora condicionados por condições
estruturais, econômicas, sociais, políticas e culturais, também, atuam sobre
essas condições, significando-as, atribuindo-lhes significados a partir de seus
projetos de vida individuais e familiares (Menezes, 2012, p. 35).
No momento de sua partida, o migrante dispõe de um certo número de informações e
conhecimentos sobre as possibilidades do local de destino, informações, geralmente, parciais,
que permitem a formulação de um projeto a partir de um conjunto de fatores. A partir disso, ele
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é levado ao encontro de outros, que dispõem, talvez, de informações diferentes e, assim, o
projeto “inicial” é modificado, em uma constante relação dinâmica. As condições no momento
da chegada – o migrante possui alguém que o receberá?, ele enfrentará um período de
desemprego?, etc – participam, igualmente, da redefinição desse projeto, bem como as diversas
informações que o migrante obtém ao longo de sua experiência e da leitura individual da
realidade na sociedade de origem e de destino (Velho, 2004).
As características apresentadas fazem com que o projeto migratório não possa ser
reduzidos apenas ao indivíduo: esse se insere em um grupo, maior ou menor. Considerando que
todo o grupo está envolvido, o projeto migratório faz sentido através das escalas: individual,
que envolve as próprias aspirações, a posição ocupada no grupo familiar e social e sua relação
com os espaços; o grupo de migrantes, com o qual se mantém relações mais ou menos fortes de
acordo com a proximidade social e que fornece uma rede social onde circulam informações,
bens e auxílios; o grupo familiar, tanto aqueles que partem quanto os que ficam, sendo esses
atores fundamentais do projeto formulado na partida e têm sua importância reduzida já que
ficam a distância; o grupo social é aquele que situa o migrante, lhe fornecendo códigos e é,
também, o grupo eu coloca sua identidade e unidade em jogo através dessa experiência, mas, ao
mesmo tempo, se abre a novas oportunidades. É através do diálogo e do confronto desses
diferentes grupos que o projeto migratório é constituído, por isso não podemos pensar na
existência de um projeto único que é impermeável a outros, mas sim uma negociação
permanente marcada por diversos interesses. Esse conceito permite, ainda, ter em conta os
efeitos do local de partida e de chegada, isto é, inserir na análise todos os lugares afetados pela
rota migração. (Boyer, 2005).
A ideia de projeto se coloca a partir do momento em que podemos entende-lo
como uma forma de negociação do migrante com a realidade e com o campo
de possibilidades que a ele se apresenta – seus constrangimentos, suas
limitações, suas potencialidades – “existindo como meio de comunicação,
como maneira de expressar, articular interesses, objetivos, sentimentos,
aspirações para o mundo (Velho, 2003). (Xavier, 2010, p. 151).
1.9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversas teorias foram usadas para explicar o “fenômeno” da migração que podemos
observar atualmente (Sasaki e Assis, 1995). A existência de um corpo teórico fragmentado,
voltado a determinadas disciplinas, torna mais difícil a compreensão dos processos migratórios
e de sua complexidade. As novas modalidades migratórias demandam, no cenário da
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globalização, a reavaliação de paradigmas para a compreensão das migrações. Com isso, a
incorporação de novas dimensões explicativas torna-se imprescindível (Patarra, 2005).
Autores que defendem a ideia de cenários do tipo empurra-puxa e teorias do equilíbrio
geralmente enfatizam respostas individualistas às migrações, enquanto aqueles que se
debruçam sobre as teorias histórico-estruturais apontam para um processo macroeconômico e
investimentos entre países. Abordagens diversas não são mutuamente excludentes, e diferentes
perspectivas são relevantes, embora em diferentes níveis de análise. Fatores estruturais
apontam em direção de fluxos migratórios de larga escala entre nações e diferentes partes do
mundo, enquanto fatores empurra-puxa e análises de redes sociais são úteis para explicar quais
indivíduos migram, a distância que eles viajam e seus destinos específicos (Margolis, 1994).
Dessa forma, o conceito de projeto migratório visa conciliar as análises que se voltam às
ações individuais, aquelas que enfatizam os fatores estruturais e as redes sociais, considerando
fatores objetivos e subjetivos numa relação dialética que possibilita a constante mudança e
adaptação do projeto a novas informações e acontecimentos.
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maiúscula a inicial da primeira palavra e a inicial de substantivos próprios). Tradutor (no
caso de obra originalmente escrita em outra língua). Edição (exceto em se tratando de 1ª
edição). Cidade: Editora, ano.
Livro com até 3 autores devem ter todos citados. Livros com + de 3 autores admitem
referência a um dos autores e a expressão “et alii” ou “e outros”, em geral na ordem
estabelecida pela ficha catalográfica do livro.
b) Capítulos de livros: SOBRENOME DO AUTOR, Nome. Título do capítulo em letra
comum sem aspas, termo In ou Em, dois pontos, SOBRENOME DO ORGANIZADOR OU
EDITOR DO LIVRO, Nome do Organizador ou Editor do Livro, entre parênteses a palavra
organizador (org.) ou editor (ed.), Título do livro em itálico. Tradutor. Edição. Cidade de
publicação: Editora, ano, páginas inicial-final do capítulo. (Nota: Organizador é aquele que
participou da confecção da obra, indicando tratar-se de obra coletiva, já o Editor é aquele
que recolheu textos diversos, aleatórios, publicando-os).
c) Artigos em periódicos: SOBRENOME DO AUTOR, Nome. Título do artigo sem aspas.
Termo In ou Em, dois pontos, Título do periódico em itálico, Volume, número. Cidade:
Editora, mês e ano, páginas inicial e final do artigo
d) Artigos em Congresso: SOBRENOME DO AUTOR, Nome. Título do artigo sem aspas. In:
NOME E NÙMERO DO CONGRESSO (em caixa alta), data e local em que foi realizado.
Título da publicação em itálico. Organizador. Cidade: editora, data, páginas inicial e final
do artigo.
e) Legislação: PAÍS, Norma jurídica em itálico – descrever todo preâmbulo. Ou: ENTE
FEDERATIVO (no caso de Lei Estadual ou Municipal), Norma jurídica em itálico –
descrever todo preâmbulo. Ou: NORMA JURÍDICA – preâmbulo In: (Referência da obra
fonte).
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f) Artigos na internet: SOBRENOME DO AUTOR, Nome. Título do artigo sem aspas. Termo
In ou Em, dois pontos, Nome do site, se houver, seguido da expressão “Disponível em”,
endereço eletrônico, data do acesso.
g) Filmes: PRODUTOR DO FILME. Título do filme em itálico. Diretor. Ficha técnica, com
nomes do roteirista, do produtor executivo e de outros que se pretenda destacar. Elenco
principal. Produção: País. Distribuidora. Ano da realização.