Maceió - AL, 14 a 17 de agosto de 2016
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural
PROMOÇÃO DO EXTRATIVISMO COMUNITÁRIO DO COCO BABAÇU E
ABORDAGEM INTEGRADA DO DESENVOLVIMENTO RURAL -ESTUDO DE
CASO DE DOIS GRUPOS DE MULHERES RURAIS EM COTRIGUAÇU- MT
Suzanne SCAGLIA - Instituto Centro de Vida- [email protected]
Elisangela SODRÉ- Instituto Centro de Vida – [email protected]
Vinicius SILGUEIRO - Instituto Centro de Vida- [email protected]
Grupo de Pesquisa 6: Agropecuária, Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
RESUMO
O presente artigo retrata as dinâmicas que grupos extrativistas do noroeste mato-grossense
vêm construindo para garantir a melhoria da qualidade de vida nas comunidades de um
assentamento da reforma agrária que passa por inúmeras adversidades, sendo as mais graves a
redução da floresta amazônica e a pecuarização. A partir da intervenção do Instituto Centro de
Vida com uma abordagem participativa voltada para conservação dos recursos naturais e
melhoria da governança socioambiental local, iniciou-se a construção de uma nova cadeia
socioprodutiva, a partir do extrativismo comunitário do babaçu. A inciativa favoreceu o
fortalecimento organizacional nas comunidades, e contribuiu para o desenvolvimento
sustentável local. A análise dos impactos da intervenção e dos seus gargalos demostra a
pertinência do modelo desenvolvido mas aponta no entanto para a necessidade de integra-lo a
um trabalho multiator e multiescalar para fortalecer a governança da cadeia de valor desse
produto da sociobodiversidade em uma escala regional.
Palavras chaves: extrativismo – desenvolvimento sustentável – cadeias socioprodutivas -
mapeamento de recursos naturais
ABSTRACT
This article studies the dynamics that extractive groups of northwestern Mato Grosso are
building to ensure livelihood improvement in 2 communities of a settlement of the agrarian
reform that goes through numerous adversities, the most severe of which are the reduction of
the Amazon rainforest and the cattle ranching expansion. Since the beginning of the
intervention of the Instituto Centro de Vida with a participatory approach toward conservation
of natural and improving local environmental resources governance, began the construction of
a new socio-productive chain of values of babassu extractivism. The initiative favored
communities organizational strengthening processes, and contributed to the local sustainable
development. The analysis of the impact of the intervention and its bottlenecks demonstrates
the relevance of the model developed but points out however the needs of a better integration
within a multi-actor and multiscale approach to strengthen the sociobiodiversity value chain
governance on a regional scale.
Key words: extractivism-– sustainable development – social and productive chains of values-
natural resources mapping
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1. CONTEXTO:
a. A agricultura familiar no Projeto de Assentamento Nova Cotriguaçu e
seus impactos ambientais
Cotriguaçu, município emancipado em 1991, está localizado na região Noroeste do Mato
Grosso e apresenta uma área de 9.460km², com uma população estimada de 14.983 habitantes
(56% rural), segundo dados do IBGE 2010, e Índice de Desenvolvimento Humano de 0,721
(PNUD 2000). A região Noroeste do Mato Grosso, ainda pouco ocupada, é considerada a
última grande fronteira florestal do estado, com 85 mil km2 de cobertura florestal, seja 80% da
região, e possui grande importância para a conservação da biodiversidade (TITO, 2011). No
entanto, representa uma região extremamente ameaçada, inserida no chamado arco do
desmatamento que concentra 50% da perda de floresta tropical entre os anos de 2000 e 2005.
O desmatamento no Noroeste até 2012 afetou aproximadamente 19.618 Km2, (INPE,2012),
sendo que 11% ocorreu nos 12 assentamentos de reforma agrária que cobrem 3% do
território.
Figura 1: Mapa Cotriguaçu e arco do desmatamento (ICV, 2016)
O assentamento Nova Cotriguaçu, fundado pelo Instituto Nacional da Colonização e Reforma
Agraria – INCRA em 1994, possui uma área de 99.988 ha, com 1479 lotes de até 4 módulos
fiscais, sendo 54,7% de sua área desmatada (ICV, 2015).
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A agricultura familiar do município, e em particular nas comunidades do PA Nova
Cotriguaçu, enfrenta uma série de dificuldades decorrentes do fracasso do modelo de
colonização na região.
Na ausência de assistência técnica, de infraestruturas como estradas, energia, condições de
armazenamento e transporte adequadas para escoar a produção, e ainda devido à distância dos
centros de consumo, as famílias de agricultores assentados viram suas safras se perder ou
ficaram na dependência de atravessadores comprando suas colheitas a preços muito baixos,
não compensando o trabalho do plantio.
Assim, num contexto de forte pressão do crescimento do rebanho bovino, com 242 mil
cabeças no município (INDEA, 2010), e 191% de aumento entre 2003 e 2010 (RAMOS F.,
2011), muitas famílias deixaram de plantar e se renderam à criação extensiva de gado de corte
e/ou de leite como principal atividade, caracterizando um fenômeno de pecuarização da
produção familiar.
As atividades de pecuária, que hoje se destacam por um baixo nível tecnológico e um
processo de degradação dos recursos naturais (solo, água e floresta), reforçado pelo costume
generalizado de uso de herbicidas e queimadas para limpezas de pasto, representam um
modelo de desenvolvimento altamente insustentável do ponto de vista ambiental e
socioeconômico. Por ser exigentes em espaço, incentivam a abertura de mais áreas com
desmatamento e queimadas para implantação de pastos, provocam a sub utilização da mão de
obra familiar, além da baixa produtividade da terra (lotação média 2,3 cabeças /há), e da
pouca renda resultante, em particular devido aos preços baixos do leite e dos bezerros, que
não sustentam o produtor (RAMOS, F., 2010).
Essa situação contribui diretamente na escolha da abertura de novas áreas de floresta, e
desencadeia uma série de problemas como a degradação ambiental, a falta de segurança
alimentar e nutricional das famílias, e a meio prazo, o êxodo rural ou o deslocamento das
famílias assentadas para outras regiões. Uma tendência preocupante que está sendo observada
é o arrendamento das terras ou a revenda de lotes adjacentes por agricultores indo embora
para proprietários mais capitalizados que estão formando assim pequenas fazendas dentro do
assentamento.
Amais, segundo o estudo Ricardo Mello (2013) a região do PA Nova Cotriguaçu veio sendo
ocupada através de um processo de ondas sucessivas de imigração de populações oriundas
principalmente de Mato Grosso do Sul e Paraná nos anos 90, e do Rondônia nos anos 2000.
Essas correntes migratórias diversas, juntamente com características físicas do meio levaram a
definição dos grandes processos de uso da terra atual, e, na ausência de movimentos sociais,
contribuiram para a pouca organização do setor da agricultura familiar localmente. Isso se
traduz no Assentamento Nova Cotriguaçu nas dificuldades para a organização comunitária, e
a situação de desmobilização das associações de produtores.
A falta de capacidade de gerar renda, os problemas familiares, principalmente envelhecimento
da família e o desejo dos filhos de mudança para a cidade, e a concentração grande de
pecuária na região provocam o abandono das terras pelas famílias de moradores, em uma
dinâmica de êxodo que resulta no esvaziamento demográfico e num processo de concentração
fundiária ilegal por não agricultores familiares no assentamento (Mello, R. 2013)
Enfim, a falta de identidade da população junto com o local, e a ausência de conhecimentos
sobre os recursos naturais e seus usos, em particular dos produtos florestais não madeireiros
como o coco babaçu (Orbignya sp.), contribui para reforçar a desvalorização da floresta em
pé frente a pressão do avanço da pecuária; assim o valor de uma área de floresta nativa
costuma ser apenas a metade do valor da mesma superfície de pasto formado.
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b. O Instituto Centro de Vida e sua atuação na região
O Instituto Centro de Vida é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIP) fundada em 14 de abril de 1991. A sua missão é construir soluções compartilhadas
para o uso sustentável da terra e dos recursos naturais.
Frente aos desafios da gestão territorial do Noroeste de Mato Grosso, onde 4 municípios
figuram na lista de do Ministério do Meio Ambiente dos 43 municípios considerados
prioritários para ação de Controle e Prevenção do Desmatamento, o ICV resolveu buscar
parcerias institucionais desde 2008 a fim de implementar um conjunto articulado de ações
visando conter de forma sustentável o desmatamento e a degradação florestal, com o intuito
de desenvolver um projeto-piloto de Redução das Emissões ligadas ao Desmatamento e à
Degradação Florestal - REDD+, em Cotriguaçu. (ICV, 2010)
Em 2011 se deu início ao projeto Cotriguaçu Sempre Verde que foi desenvolvido junto dos
diversos setores da sociedade local, com objetivo de traçar uma nova trajetória de
desenvolvimento socioeconômico e ambiental, e de promover ações que conciliam o
desenvolvimento econômico da produção agropecuária, florestal e de base familiar com a
contínua redução do desmatamento, da degradação florestal e a preservação dos recursos
naturais. O projeto desenvolveu uma abordagem inclusiva que integra todos os segmentos da
sociedade em diferentes níveis, desde ações voltadas à governança municipal até promoção de
boas práticas de gestão das atividades agropecuárias na propriedade individual, procurando
assim gerar um modelo de intervenção que sirva de referência e possa ser ampliado aos
demais municípios da região (ICV, 2010).
Esse trabalho apresenta um recorte das ações visando o fortalecimento da governança
socioambiental e das cadeias socioprodutivas sustentáveis em 4 comunidades do sul do PA
Nova Cotriguaçu, numa análise da estratégia de intervenção e dos seus impactos, entre 2011 e
2016.
2. PROMOÇÃO DA CADEIA EXTRATIVISTA DO BABAÇU NA
CONSTRUÇÃO DE UMA TRAJETÓRIA DO DESENVOLVIMENTO LOCAL
SUSTENTÁVEL
a. Abordagem metodológica para o fortalecimento da governança
socioambiental comunitária no PA Nova Cotriguaçu
A assessoria do projeto Cotriguaçu Sempre Verde à gestão social e ambiental dos recursos
naturais visou o fortalecimento de associações comunitárias de agricultura familiar e de
grupos de mulheres rurais do PA Nova Cotriguaçu.
As ações foram guiadas por princípios de promoção da ação comunitária e da organização
social entendida como “cooperação consciente para o enfrentamento de problemas e
objetivos comuns (SOUZA, M.L de, 1999)”, “processo mediante o qual distintos grupos se
articulam para levar a cabo ações planejadas por eles, que tem como objetivos não só o
desenvolvimento dos meios e recursos produtivos que se encontram a sua disposição mas
também conseguir um maior grau de controle de seu processo de trabalho, da distribuição
dos bens matérias produzidos, da prestação de serviços, que via instituições governamentais,
de direito, lhes cabem.” (PINTO, 1980)
Assim as ações iniciaram por um diagnóstico socioambiental participativo que visou
estabelecer dinâmicas de mobilização social, e através de análises (SWOT) das fortalezas,
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fraquezas, oportunidades e ameaças da realidade das comunidades, permitiu o
(re)conhecimento do problema, das suas causas e consequências nas suas dimensões
produtivas, econômicas, sociais, ambientais e políticas (BEZERRA PIRES, A.H. 2008).
Os resultados dos diagnósticos auxiliaram um planejamento estratégico comunitário com a
construção de uma visão local do desenvolvimento sustentável, e a criação coletiva de
soluções e trajetórias alternativas para alcançar uma produção sustentável. Esse processo
procurou despertar dinâmicas favoráveis à autodeterminação e ao protagonismo das famílias,
e evidenciar a importância do fortalecimento da governança socioambiental local para
efetivação dos direitos e dos processos de controle social inerentes ao desenvolvimento da
agricultura familiar na região.
Também se deu uma atenção particular à inclusão dos jovens e das mulheres rurais nos
espaços de discussões, pautando a importância da sua participação nos processos de decisão
comunitária e na esfera pública em geral, e o reconhecimento do valor do seu trabalho,
geralmente deixado invisível ou até mesmo considerado como improdutivo quando não é
integrado às dinâmicas mercantis e que não contribui diretamente para geração de renda na
unidade de produção familiar (MOURÃO, P.). Assim, procurou-se promover a igualdade de
gênero, a inclusão dos jovens e a ampliação dos seus espaços de atuação. Paradoxalmente,
significou inclusive apoiar a formação de grupos de mulheres e de jovens rurais quando se
revelou necessária a construção de espaços de maior protagonismo juvenil e autonomia das
mulheres para o reconhecimento das suas necessidades, limitações e demandas específicas,
almejando no entanto a melhoria da sua participação nos espaços mistos também
(SILIPRANDI, E. 2009).
Com a identificação das demandas que surgem nos planejamentos, os grupos passam a
receber a partir de 2012 uma assessoria pautada na construção de capacidades locais e
embasada na educação popular, entendida como processo emancipatório de construção
coletiva do conhecimento a partir da valorização dos sujeitos e dos saberes locais (FREIRE,
P. 1996). Se deu através da realização de oficinas comunitárias, capacitações técnicas,
formação de lideranças, e sempre que possível, da promoção da troca de conhecimentos entre
agricultores em visitas de intercâmbio e em eventos de socialização como encontros locais, e
regionais ou ainda articulação para participação em redes estaduais e nacionais.
Já os conteúdos trabalhados se ampararam num esforço constante de conscientização
ambiental visando a qualificação do debate comunitário sobre dinâmicas de degradação dos
recursos naturais, e na adoção de boas práticas agropecuárias pelos produtores envolvidos. Na
abordagem da construção de soluções técnicas de produção, se destacou sempre a
vulgarização dos princípios da agroecologia, em particular no que se refere à intensificação,
diversificação e integração dos sistemas de produção na propriedade e em particular à
produção de alimentos, ao manejo integrado dos agroecossistemas, à redução do uso de
agrotóxicos, à valorização dos recursos naturais como estratégia do seu manejo sustentável e
da sua regeneração, e enfim à agroecologia entendida como modelo de construção social para
um desenvolvimento integrado e sustentável da agricultura familiar (ALTIERI, M.2004).
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Figura 2: estratégia de fortalecimento comunitário para redução do desmatamento (ICV,
2014)
b. Incentivos do projeto Cotriguaçu Sempre Verde para o desenvolvimento
do extrativismo comunitário sustentável do babaçu junto de 2 grupos de
mulheres rurais do PA Nova Cotriguaçu
Na região de Cotriguaçu, a palmeira Babaçu é nativa, e ocorre com grande frequência,
chegando a representar a metade das palmeiras do sub-bosque em áreas preservadas de mata
primária (até 46 babaçus adultos/hectare). Apresenta abundante regeneração natural nas áreas
de pastagens abertas, onde é geralmente considerada pelos produtores como uma praga, e por
isso muitas vezes destruída com uso de herbicidas ou roçagem manual.
No entanto, esse olhar mudou quando através de uma capacitação sobre o aproveitamento do
coco babaçu, as mulheres rurais das comunidades de Santa Clara e Ouro Verde perceberam as
potencialidades que esse recurso oferece, desde a fabricação de farinha de mesocarpo para
Visão do
Desenvolvimento
comunitário
Melhor acesso
à informação
Construção de
pautas e
reinvidicação
socioambientais
Melhor gestão
financeira
Melhor comunicação
interna com os sócios
e externa com outros
atores do território
Articulação política
Formação de
novas lideranças
Desenvolvimento do
patrimonio da associação,
Aquisição de material e
equipamento
Diagnóstico da Associação
e Planejamento estratégico
Projetos produtivos e de
comercialização
Participação
efetiva dos
sócios
Sustentabilidade
da associação
Capacitações
Identificação de demandas em
desenvolvimento organizacional
Geração de renda e emprego /
Fortalecimento economia local
Controle
social
efetivo no
território
Redução do desmatamento
Concientização
ambiental
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consumo humano ou produção de ração animal, produção de óleo, geração de energia através
do carvão ou ainda artesanato, para citar apenas alguns exemplos.
Assim, a partir de 2012 os grupos Mulheres da Paz (12 mulheres da comunidade de Santa
Clara) e o grupo Mulheres Unidas (15 mulheres da comunidade de Ouro Verde do Norte)
passaram a desenvolver atividades de extrativismo e beneficiamento do coco, como forma de
responder a seus objetivos de desenvolver autonomia e geração de renda através da agregação
de valor local, e à venda dos seus produtos com preço justo.
Nesse contexto, as atividades de beneficiamento do coco, mesmo que artesanais e numa
escala ainda pequena, representaram uma oportunidade animadora de diversificar a economia
da família, valorizando tanto a mão de obra das mulheres como a conservação do próprio
recurso natural nas pastagens, e ainda favoreceram a integração dos sistemas de produção
com a fabricação de ração animal alternativa (criação de pequenos animais e suplementação
para o gado). Contribuiu também diretamente para melhoria da segurança alimentar e
nutricional das famílias com o uso do óleo extraído da amêndoa e da farinha de mesocarpo na
preparação de pães, bolos, bolachas e mingaus. Além disso, as técnicas de transformação, em
particular do óleo e dos derivados do mesocarpo (farinha, bolacha, ração), viabilizam a
conservação e o transporte da produção, condições necessárias para a sua inserção no
mercado.
Para fortalecer essas inciativas, o Projeto Cotriguaçu Sempre Verde ofereceu assessoria
técnicas aos 2 grupos, no intuito de qualificar os seus processos de produção, visando criar as
condições de viabilidade econômica dos empreendimentos, e a integração dessas atividades
nos processos de melhoria da gestão socioambiental comunitária.
Incentivos Objetivos
Téc
nic
o e
pro
du
tivo
02 capacitações de
aproveitamento do coco
babaçu (40 pessoas)
Conhecer os potenciais usos e técnicas de
beneficiamento do coco babaçu.
02 oficinas de
mapeamento participativo
das áreas de coleta (40
pessoas)
Identificar o potencial produtivo dos
babaçuais, e as necessidades de manejo, e
capacitar os grupos para melhorar a coleta.
02 capacitações de boas
práticas de fabricação de
alimentos (35 pessoas)
Conhecer as exigências sanitárias, e os
procedimentos de trabalho coletivo na
fabricação e manipulação de alimentos e
construir regras para as etapas da produção.
Org
a
niz
aci
on
al
ren
ci
al
02 capacitações de
associativismo (30
pessoas)
Fortalecer e qualificar a gestão das
associações.
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Tabela 1: Principais incentivos do projeto Cotriguaçu Sempre Verde aos grupos
extrativistas do PA Nova Cotriguaçu, entre 2012 e 2016
c. Mapeamento participativo dos babaçuais:
Dentro da abordagem de assessoria e incentivo aos aspectos técnicos e produtivos da cadeia
socioprodutiva do coco babaçu nas comunidades Santa Clara e Ouro Verde do Norte, foi
realizado um trabalho de mapeamento participativo das áreas de coleta junto com os grupos
de mulheres e jovens das comunidades.
O trabalho objetivou coletar e constituir informações sobre o potencial produtivo dos
babaçuais, identificar necessidades de manejo do recurso e capacitar os grupos para melhorar
a coleta baseado nas informações coletadas. Segundo Mendonça et al. (2014), entre outros
aspectos, é importante mapear as áreas de ocorrência dos babaçuais e determinar a densidade
das populações, avaliar as características biométricas, o potencial de produção de frutos
nessas populações, estudar o ciclo fenológico da espécie em questão para determinar as
características de desenvolvimento e o período ideal de colheita dos frutos maduros.
Para isso, fez-se necessária um processo de capacitação para uso das ferramentas de
geotecnologias. As geotecnologias podem ser definidas como um conjunto de tecnologias
para coleta, processamento, análise e disponibilização de informações espaciais (ROSA,
01curso de
empreendedorismo rural
(15 pessoas)
Melhorar a gestão administrativa a
valorização dos produtos e geração de renda. O
rgan
izaci
on
al
e
ger
enci
al
Assessoria para
regularização fiscal,
tributária, sanitária e
ambiental
Permitir que as associações cumprem as
exigências e requisitos necessários para
acessar políticas públicas, responder editais, e
acessar mercados formais
Assessoria para
elaboração de pequenos
projetos
Captar recursos para aquisição de
equipamentos de processamento e construção
de unidades de beneficiamento adequadas
Soci
o-
polí
tico
01 oficinas de formação
de lideranças (35 pessoas)
Identificar e formar lideranças para o
protagonismo no desenvolvimento local.
01curso de formação em
Agroecologia (20
pessoas)
Formar conhecedores e multiplicadores de
práticas agroecológicas.
Fort
ale
cim
ento
d
o
cap
ital
hu
man
o e
soci
al
03 Intercâmbios regionais
com grupos extrativistas e
01Encontro nacional
Trocar e nivelar experiências sobre
organização socioprodutiva, gestão de
empreendimento e acesso a políticas
públicas.
02 Encontros de Saberes e
Sabores
(400 pessoas cada)
Apresentação do trabalho com atores locais
(secretarias e conselhos municipais, escolas,
cooperativa,..)
Divulgação e venda dos produtos
Conscientização da população para
preservação dos recursos naturais, e em
particular contra a derrubada e queima dos
babaçuais nas comunidades
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2005). Fazem parte desse conjunto os Sistemas de Informações Geográficas (SIG), o
Sensoriamento Remoto e os Sistemas de Navegação Global por Satélite, sendo cada dia mais
acessíveis e utilizadas quando o “onde” é uma informação essencial para alcançar
determinado objetivo.
Assim, foram utilizados aparelhos de GPS (Global Positioning System) para o levantamento
das coordenadas geográficas associadas aos limites das áreas de coleta de babaçu, o cálculo da
área e a posterior determinação do número de indivíduos, via inventários in loco, permite
estimar a densidade dos mesmos por hectare (ALECHANDRE et al., 2007).
Em uma primeira etapa do mapeamento participativo, foram impressos mapas das
comunidades e realizado um exercício para que os participantes apontassem, a localização
aproximada das áreas de babaçu onde realizam a coleta. Esse exercício subsidiou a escolha
pelas agricultoras de quais áreas seriam utilizadas para a parte prática da oficina, de ida a
campo e levantamento das coordenadas geográficas e dados produtivos dos babaçuais.
Já nas áreas de coleta, as agricultoras registraram as coordenadas geográficas nos limites das
áreas, adotando como referência a presença de cercas, estradas, benfeitorias, para contribuir
com a identificação dos limites babaçuais. Ao mesmo tempo que alguns iam coletando os
pontos com GPS, outros seguiam registrando os dados produtivos das áreas, contendo
informações como: número de palmeiras adultas e jovens (pindovas), idade aproximada do
babaçual, dificuldade de acesso à área, distância da estrada mais próxima, entre outras.
Após a coleta, os dados foram lançados no software QGIS, o que permitiu a delimitação das
áreas dos babaçuais e espacialização das informações produtivas. Essas informações
produtivas foram trabalhadas com os grupos visando caracterizar cada área e seu potencial,
bem como traçar estratégias de logística de acesso as áreas e transporte da produção.
Área
(ha)
Densidade
(palmeira
/ha)
Cachos/
Palmeira
(média)
Peso
cacho
médio
(kg)
Regeneração
(Pindovas
/há)
Idade
(anos)
Produção
de frutos
(Kg/ano)
Potencial
produtivo
farinha
(kg/ano)
Potencial
produtivo
de óleo
(L/ano)
1 2,07 14 2 30 5 N/I 900 306 72
2 5,02 7 2 30 0 N/I 2100 714 168
3 9,23 7 3.5 30 0 8 1860 632 149
4 4,32 12 3.5 30 10 7 1590 541 127
5 2,06 16 3.5 30 19 8 1020 347 82
6 2,96 19 3.5 30 4 6 1680 571 134
7 0,48 112 3.5 30 0 6 1620 551 130
Tabela 2: Principais dados coletados e cálculos sobre o potencial produtivo das áreas de coleta
de coco babaçu na comunidade Ouro Verde do Norte
Um segundo momento do processo de mapeamento participativo foi a realização de uma
capacitação específica para utilização do software QGIS com jovens integrantes dos grupos
que trabalham com o babaçu. O objetivo foi trabalhar os dados coletados em campo e
produzir os mapas das áreas de coleta de babaçu nas comunidades. A atividade possibilitou
que os jovens pudessem se apropriar mais dessa tecnologia e que elaborassem os próprios
mapas dos babaçuais.
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O mapeamento de espécies florestais na Amazônia com o uso de imagens de satélites ainda é
pouco difundido em razão das dificuldades de segregação das espécies frente à composição
muito heterogênea da floresta (THALES, 2001; SANTO & GRAÇA, 2009) e do alto custo de
aquisição das imagens. Por isso, o mapeamento in loco de populações de espécies que
crescem em áreas abertas e de fácil acesso, como é o caso do babaçu em áreas de pastagens ao
longo de estradas na Amazônia, é viável, embora demande maior tempo para a sua realização.
Fig.3: Mapa das áreas de coleta de coco babaçu na comunidade Ouro Verde do Norte, PA
Nova Cotriguaçu, Cotriguaçu – MT.
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3. RESULTADOS DA INTERVENÇÃO: UMA NOVA TRAJETÓRIA ESTÁ
SENDO CONSTRUÍDA
a. Desenvolvimento econômico local e Desenvolvimento sustentável:
conceitos e dimensões
O desenvolvimento econômico local e regional é, segundo a GTZ (2007), “uma estratégia de
promoção de economias locais e regionais, cujo principal objetivo é de criar subsídios que
contribuam com condições estruturais para os negócios em uma determinada localidade,
removendo os obstáculos administrativos, melhorando a competitividade da região para
atrair novos investidores e fortalecendo as empresas e os ciclos comerciais no nível local,
permitindo as partes interessadas de uma região empreender iniciativas para promover,
conjuntamente, o desenvolvimento econômico de sua região, estabelecendo vínculos entre os
setores privado e público e os grupos de interesse da sociedade civil.”
Já, na sua acepção geral, o conceito de desenvolvimento sustentável, como definido em 1987
pela Sra. Brundtland, Comissária das Nações Unidas, é “um modo de desenvolvimento que
responde às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de responder as suas».
Capiberibe (2005) define o desenvolvimento sustentável como « um desenvolvimento
econômico que permite a existência de uma sociedade eqüitativa em relação aos seus
componentes humanos e que, no mesmo tempo, respeita o meio ambiente e instaura uma
gestão dos recursos naturais a fim de assegurar a perenidade deles ».
Nos campos do desenvolvimento agrícola, Landais (1998) soube adaptar o conteúdo do
conceito de sustentabilidade. Esta adaptação transforma nomeadamente os desafios
ambientais ligados ao ecossistema na manutenção das funcionalidades para a reprodução dos
usos agrícolas, como pode vê-lo na figura abaixo.
Fig 4. Dimensões da sustentabilidade da atividade agrícola (adaptação de SCAGLIA, 2005.)
REPRODUZÍVEL
Relação ecológica
RENTÁVEL
VIÁVEL
Relação social
TRANSMISSÍVEL
SUSTENTÁVEL
Inserção ao
mercado
Ligação entre a atividade agrícola, os
recursos naturais e o meio ambiente
Transmissão duma
geração para outra
Qualidade de vida e Inserção à
rede de relações não mercantis
Relação econômica
Relação intergeracional
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É nessa perspectiva que analisamos agora o potencial da cadeia socioprodutiva do coco
Babaçu e seus impactos na configuração de uma nova trajetória de desenvolvimento local
sustentável.
b. Construção da cadeia socioprodutiva do coco babaçu, iniciativas de
desenvolvimento local e seus impactos ambientais, sociais e econômicos
As intervenções do projeto Cotriguaçu Sempre Verde no PA Nova Cotriguaçu (2011-2016)
condicionaram a aparição de uma nova uma cadeia produtiva local a partir do extrativismo do
coco Babaçu, onde a cadeia pode ser entendida como o “conjunto de sucessivos tratamentos
pelos quais um produto passa [...] até sua venda a um consumidor final, [...] na qual cada
tratamento representa um elo.”(Pinto et.al).
Fig 5: Fluxograma da cadeia atual do coco Babaçu no PA Nova Cotriguaçu
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Incipiente em 2011, essa cadeia envolve hoje 2 grupos comunitários, aproximadamente 30
famílias, nas etapas de coleta, processamento e comercialização dos produtos, realizadas de
forma coletiva e ainda artesanal, sendo que os dois grupos têm vocação de trabalhar
subprodutos diferentes, um mais direcionado para o óleo da amêndoa, e o outro para a farinha
de mesocarpo e seus derivados.
Hoje, a renda obtida diretamente graças à agregação de valor e à comercialização dos
produtos do babaçu ainda é considerada como pouca frente à demanda de trabalho, e as
capacidades de gestão coletiva do grupo do empreendimento ainda representam importantes
gargalos para fortalecimento econômico das iniciativas.
No entanto nas duas comunidades envolvidas nessa cadeia, o extrativismo do coco babaçu se
mostrou um motor importante para a mobilização e organização comunitária em prol do
desenvolvimento econômico local, e em particular ganhou o apoio das 2 associações locais
que se dedicaram à mobilização de recursos humanos e financeiros para o fortalecimento das
inciativas.
Nesse processo, os grupos de mulheres que deram início ao trabalho se empoderaram e
conquistarem papéis e respeito dentro das associações, sendo reconhecidas como lideranças
comunitárias e inclusive se tornando parte da diretoria das associações.
Amais, os grupos conseguiram captar recursos através da aprovação de 4 pequenos projetos
socioambientais. Esses projetos visam principalmente a adoção de tecnologias para melhorar
o processamento, facilitando o trabalho e visando o aumento de escala da produção. Assim,
foram adquiridos equipamentos como despolpadeira, cortadeira, prensa hidráulica, carretinha
para transporte etc., e materiais de construção para a estruturação de 2 agroindústrias
comunitárias adequadas para beneficiamento do babaçu, com a contribuição solidária da mão
de obra comunitária.
Outro resultado muito importante que decorreu do processo de mapeamento participativo, foi
que os grupos desenvolveram uma apreciação dos babaçuais na paisagem, e um conhecimento
mais fino do recurso (observação da fenologia e das subespécies das palmeiras). Entenderam
o seu grande potencial produtivo e econômico (valor da produção avaliada de R$ 1.500 a
25.000,00/ha/ano em função da área levantada). Amais, a variabilidade de produção e de
facilidade de acesso entre as áreas deixou clara a importância de adotar práticas de manejo
dos babaçuais para constituir áreas mais produtivas em coco, sem que haja concorrência com
as gramíneas do pasto.
Amais, o acesso às áreas privadas com GPS e fichas de levantamento também provocou uma
situação de resistência de alguns donos, com medo que isso possa constituir um antecedente
para possível fiscalização e autuação em caso de destruição futura dos babaçuais. Outros
despertaram um interesse econômico, querendo cobrar porcentagem encima da produção dos
grupos extrativistas, enquanto cediam de graça até agora os frutos coletados pelas mulheres.
Assim apareceu a necessidade de conversar com donos de áreas e a importância de construir
acordos coletivos sobre acesso e gestão do recurso natural.
Enfim, através da formação e do reconhecimento de lideranças, pode observar que houve uma
nítida mudança na participação e na abordagem da governança socioambiental local.
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Durante a realização de reuniões e eventos locais como Encontros de saberes e sabores
sediados nas comunidades do PA Nova Cotriguaçu, a chamada das lideranças para
conscientização ambiental e preservação dos babaçuais se tornou um tema cada vez mais
marcante, com o pedido repetido da cessação das práticas de queimadas e de destruição dos
babaçuais. A partir de 2014, lideranças comunitárias passaram a ocupar vagas de conselheiros
representando o assentamento nos conselhos municipais de meio ambiente e de segurança
alimentar, e no Conselho do Parque Nacional do Juruena. A participação nesses espaços de
articulação como outros atores e tomadores de decisão é fundamental para a inclusão da pauta
e o reconhecimento da importância da valorização do coco babaçu na região.
Um resultado interessante dessa articulação, foi a possibilidade de incidência em políticas
públicas como a elaboração de uma lei municipal de extrativismo graças a criação de um
grupo de trabalho no conselho municipal de meio ambiente, ou ainda em 2016 a inserção pela
Secretaria Municipal de Educação dos derivados do babaçu (bolachas e farinha para mingau)
nas chamadas públicas do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
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Figura 6: Linha do tempo da estruturação da cadeia do babaçu no PA Nova Cotriguaçu, a
partir dos incentivos do projeto Cotriguaçu Sempre Verde (caixas de bordas quadradas) e dos
seus impactos (caixas de bordas redondas)
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4. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: DESAFIOS FUTUROS E CONSOLIDAÇÃO
DA NOVA TRAJETÓRIA
a. Obstáculos e recomendações para o fortalecimento da cadeia de valor do
babaçu
Os resultados da intervenção apresentados acima vem confirmar a análise de Almeida et al.
(2012), de que “o fortalecimento das cadeias de valor de produtos da sociobiodiversidade
representa grande oportunidade para impulsionar o desenvolvimento econômico local, a
partir de ações que integrem produção sustentável e geração de renda, aliando conservação
da biodiversidade e empoderamento social das populações extrativistas.”
No entanto, na trajetória dos grupos extrativistas se destacam vários obstáculos limitando que
o potencial local possa ser de fato aproveitado.
Em primeiro lugar, existem dificuldades internas dos grupos em organizarem seu trabalho de
forma eficiente na realização da coleta, transporte, processamento, estocagem e
comercialização, provocando em particular picos de demandas de mão de obra ao longo do
ano, e gargalos impedindo que o trabalho ganhe escala. Amais, a falta inicial de tesouraria
complicou a aquisição dos equipamentos, embalagens ou indumentárias, fazendo que muitas
vezes as compras sejam adiadas ou realizadas de forma oportunista e não planejada.
Isso é reforçado pela falta de regularização fundiária na região: os grupos tiveram muita
dificuldade em conseguir recursos para aquisição de material de construção já que a grande
maioria dos financiadores exigem documentação dos terrenos onde as associações estão
estruturando as unidades beneficiamento coletivo para apoiar as obras.
Assim, conseguiram em primeiro lugar adquirir equipamentos e tecnologias para o
processamento, para depois, e de forma fracionada, conseguir adquirir materiais para
construção da infraestrutura e instalação dos equipamentos de forma adequada, o que atrasa o
desenvolvimento da inciativa, e acaba frustrando muitas das famílias envolvidas.
Outra fonte de desmotivação e de obstáculos são as dificuldades encontradas para a
regularização fiscal, sanitária e ambiental necessária à formalização dos empreendimentos,
sendo que existe uma enorme carência das associações em termo de orientação e assistência
dos órgãos públicos reguladores, ausentes das comunidades, e pouco sensibilizados à
realidade local dos grupos.
A estruturação das cadeias, principalmente na perspectiva atual de um ganho de escala graças
à industrialização dos processos, necessita também que os grupos desenvolvam estratégias de
marketing e de comercialização dos seus produtos para facilitar a aceitação dos produtos pelo
mercado e a conquista de novos clientes, identificando as demandas e especificidades do
mercado almejado. No caso da produção de ração, a comercialização informal suscitou até
denúncias de lojas agropecuárias sentindo uma possível concorrência com a venda dos seus
próprios produtos.
Para conseguir acessar mercados formais, ainda é preciso superar dificuldades de
homogeneização da produção, de padronização da qualidade, e garantir a oferta de produtos
em frequência e quantidade regulares. Enfim os grupos devem se qualificar para procurar
compradores e negociar preços justos, ou até procurar obter selo socioambiental que facilite o
acesso a mercados de nicho valorizando a qualidade dos produtos.
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Também deve ser promovida na região a adoção de práticas adequadas de manejo dos
babaçuais. A manutenção de 80 palmeiras adultas e 80 pindovas por hectare em pastagens
(MAPA, 2010), e o desbaste das palmeiras improdutivas, permitem o estabelecimento de
sistemas silvopastoris altamente produtivos e pode aumentar de forma significativa a
produção de uma área, passando de 1,6 toneladas de coco/hectare/ano observados hoje no
levantamento para 7,5 toneladas de coco/hectare/ano (Pinto et. al, 2010) Por fim, é necessário
estabelecer tanto acordos coletivos comunitários como um quadro legal municipal para evitar
potenciais conflitos em relação ao acesso às áreas de coleta e facilitar o licenciamento
ambiental da atividade.
Nesse sentido, o mapeamento de espécies florestais permite rastrear a origem dos produtos,
confere maior transparência ao manejo realizado, facilita as vistorias de órgãos ambientais
e/ou instituições certificadoras e subsidia a elaboração de estimativas confiáveis da produção
de óleos, cascas, sementes, frutos e outros produtos florestais (ALECHANDRE et al., 2007).
Fig 7: Foto de uma área de coleta em sistema silvopastoril (PA Nova Cotriguaçu, 2015)
Nas recomendações para fortalecer essa cadeia, ainda podemos frisar a necessidade de
desenvolver a valorização dos outros subprodutos como carvão e artesanato, e de integrá-la
mais ao sistema produtivo local para valorizar seu grande potencial de uso na suplementação
animal e de produção nos sistemas silvopastoris.
b. Pertinência do modelo de intervenção e necessidade de uma abordagem
multiatores para fortalecer a governança da cadeia socioprodutiva
A abordagem multidispilinar sistêmica e integrada da intervenção do projeto Cotriguaçu
Sempre Verde permitiu discutir e criar condições de melhoria nas diferentes dimensões da
sustentabilidade das iniciativas comunitárias de extrativismo do coco Babaçu no PA Nova
Cotriguaçu. Visou em particular a participação das populações nos processos de planejamento
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e gestão, e a criação de capacidades locais para garantir maior autonomia e mudança perene
através de uma intervenção privilegiando o nível local.
No entanto, o impacto do trabalho realizado junto com as comunidades para a estruturação da
cadeia socioprodutiva do babaçu muitas vezes se esbarrou em dificuldades e obstáculos
exteriores ao sistema local, de ordem legais, institucionais ou mercadológicos.
Assim fez se óbvia a necessidade de trabalhar mais com os gestores públicos de forma
multiescalar, em particular para favorecer a implementação do Plano Nacional de Promoção
da Cadeias dos Produtos da Sociobiodiversidade (PNPSB), focando na solução dos gargalos,
e na consolidação de arranjos locais. Deve se garantir a assistência técnica aos grupos
qualificando os aspectos técnicoprodutivos e gerenciais, a facilitação dos processos
administrativos e burocráticos de regularização dos empreendimentos, e o acesso a
financiamentos adequados.
Como lembra Almeida (2012), ao considerar a governança das cadeias de valor de produtos
da sociobiodiversidade, “devemos ter em mente a importância dos mecanismos de condução
dos diferentes atores envolvidos. Estes espaços de articulação são fundamentais para a
promoção de sinergias multi-institucionais, principalmente se considerarmos que o primeiro
elo das cadeias de valor de produtos da sociobiodiversidade são os Povos e Comunidades
Tradicionais e Agricultores Familiares, que possuem seus modos de vida e necessitam ser
respeitados e compreendidos pelos demais elos da cadeia.”
Só assim, será possível potencializar os impactos da intervenção discutida no
desenvolvimento sustentável, e considerar sua replicação numa escala regional com outros
grupos comunitários.
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