09 a 11 de dezembro de 2015 Auditório da Universidade UNIT
Aracaju – SE
PUBLIC SLAUGHTER OF IMPACT ON THE RIO JACARÉ IN LAGARTO∕SE: A VISION OF
ENVIRONMENTAL PROBLEMS
Andréia Reis Fontes 1, Marília Barbosa dos Santos
2, Haiane Pessoa da Silva
3, Ariovaldo Antônio Tadeu Lucas
4
Márcia Eliane Silva Carvalho 5.
1 Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão/SE, Brasil,
[email protected] 2 Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão/SE, Brasil,
[email protected] 3 Mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão/SE, Brasil,
[email protected] 4 Professor do Departamento de Engenharia Agronômica da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão/SE, Brasil,
[email protected] 5 Professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão/SE, Brasil,
Resumo
Os corpos d’água vêm sofrendo alterações de várias naturezas, especialmente nas últimas décadas, na medida em que a
sociedade aumenta seu desenvolvimento tecnológico. O crescimento da população em ritmo frenético e os efeitos decorrentes
disto (lançamentos de efluentes, descarte inadequado do lixo, retirada da vegetação, entre outros), concomitantemente à
ausência de planejamento, são condições básicas na deterioração dos recursos hídricos, tanto na sua parte superficial quanto
subterrânea. Nessa perspectiva, a finalidade principal do presente trabalho é analisar os impactos decorrentes do lançamento
de resíduos do matadouro público no Rio Jacaré em Lagarto/SE. Para tanto, necessita-se descrever o processo de geração e de
descarte dos resíduos produzidos pelo matadouro público local; e verificar como a poluição do rio Jacaré, em Lagarto/SE,
afeta a população ribeirinha. A metodologia da pesquisa é de natureza quali-quantitativa, tendo em vista que o trabalho foi
desenvolvido com base no levantamento bibliográfico e na realização de entrevistas semiestruturadas com membros da
comunidade e com funcionários do matadouro público municipal, visando perceber a ação dos agentes que põem em risco a
manutenção dos recursos hídricos, neste caso, o rio Jacaré, que tem papel importante para o abastecimento do município de
Lagarto. Portanto, a partir da análise no entorno do Rio Jacaré foi possível perceber o processo de contaminação no qual está
exposto, gerando uma clara insatisfação dos moradores da área. Os resultados apontaram que a ação antrópica tem
contribuído bastante para a degradação da riqueza hídrica do rio Jacaré, deixando claro a necessidade da revitalização do
curso fluvial, bem como a restituição da sua flora. É perceptível a relevância de ações que busquem minimizar os danos
futuros, soluções que amenizem as agressões impiedosas aos recursos naturais, ou caso contrário, em um futuro próximo
esses já não mais existirão.
Palavras-chave: Meio Ambiente, Qualidade hídrica, Resíduos.
1. INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos a questão ambiental vem se tornando peça principal nos debates da sociedade contemporânea.
Falar em desenvolvimento econômico parece ir de encontro à conservação do meio ambiente. É um jogo de incontáveis
interesses econômicos que favorece a uma minoria de pessoas que explora incessantemente os recursos naturais, gerando
danos irreparáveis às biocenoses, que corresponde à fauna e a flora de uma região, e aos recursos hídricos [1].
A água exerce uma função essencial à vida nos mais diversos ecossistemas. Há uma ideia de que ela é infinitamente
abundante e sua renovação natural; no entanto, ocupando 71% da superfície do planeta, 97% deste total se constituem águas
salgadas, 2.07% são águas doces em geleiras e calotas polares (água em estado sólido) e apenas 0.63% restam de água doce
não totalmente aproveitada por questões de inviabilidade técnica, econômica, financeira e de sustentabilidade ambiental.
Além disso, os aspectos quali-quantitativos dos rios brasileiros têm respondido às mudanças abruptas impostas pela ação
humana, por meio de seu uso demasiado e sem planejamento [2] [3].
Nessa perspectiva, um dos mais relevantes rios da hidrografia lagartense, o rio Jacaré, responsável por abastecer boa
parte do município, vem sofrendo um processo de degradação acentuado. A qualidade do recurso é comprometida pelo
despejo dos resíduos líquidos e semilíquidos provenientes do matadouro público municipal. Por isso, é relevante analisar tal
questão por ser uma temática complexa, que envolve desafios, ideologias e desenvolvimento. Diante disso, requer cuidados
em sua compreensão, a fim de entender o contexto que o cerca.
Por essas questões, é evidente a importância que os recursos hídricos exercem sobre as várias atividades no sistema
produtivo, colocando-se como agente principal para a realização destas. Melhorar a gestão desse recurso, integrando e
otimizando os usos múltiplos, alocando de forma flexível a água para os diferentes usuários e investindo em saneamento
público (coleta e tratamento de esgotos e destino correto para os resíduos sólidos e líquidos) é uma das formas mais
relevantes de desenvolvimento econômico, social e ambiental, pois melhora a qualidade de vida, promove a geração de
empregos e renda e amplia a capacidade de abastecimento de água para usos múltiplos, além do estímulo à economia [4].
2.1 Objetivo Geral
Analisar os impactos decorrentes do lançamento de resíduos do matadouro público no Rio Jacaré em
Lagarto/SE.
2.2 Objetivos Específicos
Descrever o processo de geração e de descarte dos resíduos produzidos pelo matadouro público local;
Verificar como a poluição do rio Jacaré, em Lagarto/SE, afeta a população ribeirinha.
3. MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo compreende o município de Lagarto, localizado no território Centro Sul do estado de Sergipe (Figura
01), juntamente com os municípios de Poço Verde, Riachão do Dantas, Simão Dias e Tobias Barreto. Possui uma população
de 102.257 habitantes, uma área territorial de 969.577 km² e a densidade demográfica corresponde a 97.84 hab/km² [5].
Figura 01: Localização Geográfica do município de Lagarto-SE.
Digitalização: Hunaldo Lima. Elaboração: Almir Júnior.
O município está situado numa altitude de 160 m, o relevo corresponde a superfície pediplanada com serras residuais
e tabuleiros costeiros. O clima é semiárido e sub-úmido à seco e a vegetação abarca a caatinga arbórea e arbustiva e matas
secundárias. A hidrografia compreende o rio Piauí, rio Piauitinga, rio Jacaré, rio do Machado e rio do Urubu [6].
Para a concretização dos objetivos propostos pela presente pesquisa realizou-se inicialmente levantamento
bibliográfico. Dentre os instrumentos de pesquisa utilizados, cabe mencionar a utilização de entrevistas semiestruturadas com
64 moradores da área no entorno do rio Jacaré e entrevistas realizadas com 04 funcionários do matadouro público municipal,
visando perceber a ação dos agentes que põem em risco a manutenção do rio Jacaré, relevante para o abastecimento
municipal. As entrevistas foram transcritas e seu conteúdo foi analisado.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 A produção e o descarte de resíduos pelo matadouro público de Lagarto/SE
O matadouro público municipal de Lagarto está situado no povoado Queiroz, a 2 km da sede do município. Este foi
construído na gestão do ex-prefeito Artur Reis, substituindo o antigo, que funcionava onde hoje corresponde a Regional de
Saúde da cidade. Seu funcionamento se dá durante as quartas, sextas, sábados e domingos. Os animais trazidos para o
abatimento são advindos, principalmente, de povoados de Lagarto e municípios circunvizinhos, como Simão Dias, Salgado e
Poço Verde.
O matadouro pertence ao município de Lagarto e possui um administrador, escolhido pela prefeitura. Este, por sua
vez, contrata pessoas para que façam o abate dos animais trazidos e cobram cerca de R$ 40.00 por cabeça. A quantidade
semanal é em torno de 300 animais trazidos para abatimento, o que leva a receita municipal a atingir por volta de R$ 55.000
mensais. Os animais são abatidos num local chamado tronco, distante do curral, onde ficam os outros animais. O abatimento,
que antes se dava através de marretadas, hoje se dá através de uma pistola, buscando causar menos sofrimento ao animal.
Para que o processo aconteça, cerca de 50 pessoas trabalham no local. Após o abatimento, os funcionários iniciam o processo
de retirada das partes que não apresentam valor econômico (Figura 02).
Figura 02: Tratamento dos animais abatidos.
Fonte: Próprio autor, 2015.
Trata-se de um processo bastante rudimentar, pois a carne que deveria passar por um processo de resfriamento de 14
horas, é depositada in natura em caminhões de transporte, os quais também não possuem um sistema de refrigeração, como
observado na Figura 03. Importante ressaltar que a carne abatida segue para os municípios vizinhos, onde é comercializada
nas feiras livres.
Figura 03: Transporte da carne in natura.
Fonte: Próprio autor, 2015.
Os dejetos são colocados no tanque de armazenamento a céu aberto, como mostra a Figura 04.
Figura 04: Separação das partes inutilizáveis dos animais abatidos.
Fonte: Próprio autor, 2015.
Em seguida, a parte mais sólida é retirada e depositada numa caçamba e o seu destino final é o lixo. A parte
semilíquida, constituída por sangue e fezes, é canalizada até o riacho Macuna que deságua no rio Jacaré (Figura 05).
Figura 05: Trecho de encontro do riacho Macuna com o rio Jacaré.
Fonte: Próprio autor, 2015.
Devido a inúmeras polêmicas sobre a contaminação efusiva do rio, as diversas pesquisas acadêmicas sobre a
temática, bem como a reclamação dos moradores locais, no último ano o Ministério Público exigiu a construção de tanques,
como uma medida mitigadora do problema. A estrutura dos reservatórios foi construída com o consentimento do órgão
público, deixando claro que o órgão tem conhecimento que os mesmos possuem tal estrutura.
4.2 Rio Jacaré e a comunidade: o que dizem os ribeirinhos?
O rio Jacaré (Figura 06), situado no povoado Queiroz, no município de Lagarto, é um afluente do rio Piauí que
deságua na Barragem Dionísio Machado, importante reservatório para o município, pois grande parte da distribuição feita
pela Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) advém desta, após passar pelo processo de tratamento. Os rios que
compõem a hidrografia local não seriam suficientes para o abastecimento, tanto que o Sistema Integrado da Bacia do Rio
Piauitinga, na qual o rio Jacaré faz parte, que engloba os municípios sergipanos de Lagarto, Simão Dias e Riachão do Dantas,
tem a capacidade atual de Produção de cerca de 144 L/s, insuficiente frente a demanda necessária à região. De acordo com
os residentes na área pesquisada, o único rio existente no povoado é o Jacaré, embora tenha a presença de dois riachos
importantes, o Macuna e o Santo Faceiro.
Figura 06: Rio Jacaré.
Fonte: Próprio autor, 2015.
Com a ação das chuvas o mau cheiro é sentido em muitos trechos do rio, especialmente na área em que ocorre o
encontro do riacho Macuna com o rio Jacaré, levando o odor num maior alcance. A cor da água, na maior parte do curso
fluvial é escura, isso se dá tanto pela contaminação resultante dos resíduos trazidos pelo matadouro, quanto pela petrologia
que acompanha o percurso do rio. Quando ocorrem precipitações, a tonalidade se torna ainda mais escura.
A água não é potável, portanto não é utilizada diretamente para o consumo dos moradores. Outra parte dos
entrevistados nem souberam responder essa questão, pois só o fato de conhecer as condições nas quais o curso fluvial está
exposto, já é o suficiente para dispensar a utilização da água do rio. Um dos entrevistados ressalvou que “ninguém é doido de
beber água desse rio, pois saúde nem o dinheiro compra”.
Os moradores mostraram certa insatisfação no tocante ao uso do rio para diversas atividades, pois até para a pesca é
inviável, já que o chorume proveniente dos resíduos do abate dos animais tem matado muitos peixes. O lazer é praticado
principalmente por jovens, embora muitos pais não gostem da ideia, devido à contaminação do rio. A dessedentação dos
animais é a atividade mais realizada, porém, até para a fauna seu uso não é adequado, devido à insalubridade. Durante a
entrevista, um dos moradores afirmou que “o rio está tão poluído que ninguém come peixe, e quase não existem porque
muitos morrem com a contaminação, e até pra dar água aos bichos é ruim”.
Há quem diga que a implantação do matadouro na região trouxe como vantagem o aumento da circulação de pessoas,
contribuindo de certo modo para dinamizar a vida no povoado. Em contrapartida, para a maioria dos entrevistados a chegada
do matadouro representa uma desvantagem, principalmente porque ele é responsável pela contaminação e a produção de mau
cheiro, tornando o ambiente impróprio para o lazer das famílias, como ocorria no passado.
Apesar do destino dos resíduos estarem tão evidentes, boa parte dos entrevistados não tem conhecimento real do caso.
Enquanto alguns afirmam ter um reservatório no próprio estabelecimento de abate, outros acreditam que a parte sem valor é
levado para outras cidades ou até mesmo são enterradas.
A mata ciliar tem papel fundamental na proteção da pedologia local. Apesar disto, é evidente a ausência desta, como é
mostrado na Figura 07, o que facilita o processo de erosão do solo, levando ao aparecimento, em algumas áreas, de
voçorocas, que comprova esse processo erosivo acelerado.
Figura 07: Mata ciliar no entorno do Rio.
Fonte: Próprio autor, 2015.
Quando questionados sobre a preservação do rio, 86% dos entrevistados afirmaram que não desenvolvem nenhuma
ação nesse sentido, enquanto que 14% afirmaram proteger o rio, especialmente no ato de não jogar lixo e não desmatar a área
(Gráfico 01).
Gráfico 01: Moradores que protegem o rio.
Fonte: Próprio autor, 2015.
Conforme apresenta o Gráfico 02, cerca de 86% dos entrevistados afirmaram não perceber qualquer ação do orgão
público em função da proteção dos recursos hídricos. Neste sentido, fica clara a falta de atuação de um órgão tão importante,
como é a prefeitura, no sentido de incentivar a população quanto a preservação do rio e dos aspectos que o complementam,
como a mata ciliar.
Gráfico 02: Percepção sobre as ações da Prefeitura para proteger o rio.
Fonte: Próprio autor, 2015.
A grande maioria dos entrevistados destina os resíduos domiciliares ao lixão municipal. As pessoas juntam o lixo e o
leva até meados da Rodovia Lourival Baptista, local por onde passa o carro de coleta dos resíduos da cidade de Lagarto.
Estes, são jogados a céu aberto, no povoado Santo Antônio, aumentando o risco de contaminações por roedores, objetos
hospitalares, vidros e tantos outros objetos. A observação do Gráfico 03 permite ainda identificar que a queima do lixo
também é uma prática recorrente na comunidade investigada.
Gráfico 03 – Destino do lixo no povoado Queiroz.
Fonte: Próprio autor, 2015.
5. CONCLUSÕES
Por conseguinte, sabe-se que ao longo dos últimos anos diversos problemas de cunho ambiental têm colocado em
xeque os recursos naturais, além dos riscos de irreversibilidade que estão sujeitos. Por isso, é perceptível a relevância de
ações que busquem minimizar os danos futuros. Nesta perspectiva, verifica-se que a ação antrópica tem contribuído bastante
para a degradação da riqueza hídrica na área em estudo, deixando clara a necessidade da revitalização do rio e dos riachos
que o englobam, bem como a restituição da sua flora. E acima de tudo, uma consciência nova por parte das pessoas, pois só
assim será possível conciliar crescimento econômico com sustentabilidade.
Entende-se que o manejo adequado da água pode conduzir a excelentes resultados nas atividades produtivas, porém,
seu mau uso provoca a degeneração do meio físico natural. Ainda mais, num mundo de avanços científicos e tecnológicos é
tarefa mais que difícil a de retirar da natureza apenas o necessário, visando garantir a qualidade de vida das próximas
gerações, mantendo a conservação dos recursos naturais. Logo, uma das metas para a preservação da disponibilidade e da
qualidade dos recursos hídricos consiste em se estabelecer critérios de uso adequado em todas essas atividades.
Assim, a análise do rio Jacaré permitiu identificar seu processo de degradação ambiental e seu importante papel para o
abastecimento do município e de áreas circunvizinhas. Por isso, a inserção de ações, sejam públicas ou privadas, é uma
ferramenta indispensável na busca pela conservação do curso fluvial, bem como a sensibilização das populações do seu
entorno.
REFERÊNCIAS
[1] VITAL, P. S. et al. Recursos Hídricos, Agricultura Irrigada e Meio Ambiente. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.4, n.3.
Campina Grande, PB, DEAg/UFPB. p.465-473, 2000.
[2] MAIA NETO, R. F. Água para o desenvolvimento sustentável. A Água em Revista, Belo Horizonte, n.9, p.21-32, 1997.
[3] BHATIA, R.; BATHIA, M. Water and poverty alleviation: the role of investments and policy interventions. In: RoGeRs, P. P. et al. (ed.) Water
crisis: myth or reality? London: Fundación Marcelino Botín, taylor & Francis, 2006. p.197-220.
[4] LIMA, A. S.; FONTES, A. L. A bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gestão. São Cristóvão: UFS, 2005.
[5] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=280350&search=sergipe|lagarto. Acesso em: 13 de Agosto de 2015.
[6] SERGIPE, Observatório de Sergipe. Disponível em:
http://www.observatorio.se.gov.br/images/especiais/Perfis_Municipais/Centro_Sul_Sergipano/Simao_Dias.pdf. Acesso em: 30 de Novembro de
2014.