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RECONHEC IMENTO , M EN S UR A Ç ÃO E D I V U L G A Ç ÃO NA C ONTA B I L I Z A Ç ÃO DO S C ONTRA TO S P LU R I ANUA I S D E

CON S T RUÇ ÃO

D I V E R G Ê N C I A S E N T R E O I A S B , O F A S B E O N O R M A T I V O P O R T U G U Ê S

A A P L I C A Ç Ã O P R Á T I C A D A S N O R M A S N A S E M P R E S A S C O N S T R U T O R A S P O R T U G U E S A S

Rui Jorg e Alfredo

L i s b o a , J a n e i r o d e 2 0 1 0

I N S T I T U T O P O L I T É C N I C O D E L I S B O A I N S T I T U T O S U P E R I O R D E C O N T A B I L I D A D E

E A D M I N I S T R A Ç Ã O D E L I S B O A

I N S T I T U T O P O L I T É C N I C O D E L I S B O A I N S T I T U T O S U P E R I O R D E C O N T A B I L I D A D E

E A D M I N I S T R A Ç Ã O D E L I S B O A

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I N S T I T U T O P O L I T É C N I C O D E L I S B O A I N S T I T U T O S U P E R I O R D E C O N T A B I L I D A D E E

A D M I N I S T R A Ç Ã O D E L I S B O A

R E CONHEC IMENTO , M EN S UR A Ç ÃO E D I V U L G A Ç ÃO NA C ONTA B I L I Z A Ç ÃO DO S C ONTRA TO S P LU R I ANUA I S D E

CON S T RUÇ ÃO

D I V E R G Ê N C I A S E N T R E O I A S B , O F A S B E O N O R M A T I V O P O R T U G U Ê S

A A P L I C A Ç Ã O P R Á T I C A D A S N O R M A S N A S E M P R E S A S C O N S T R U T O R A S P O R T U G U E S A S

Rui Jorge Alfredo

Dissertação submetida ao Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Auditoria, realizada sob a orientação científica de João Raposo Teixeira Nogueira, Mestre e Professor Adjunto do ISCAL na Área Cientifica de Contabilidade. Constituição do Júri: Presidente _______________________________ [nome] Vogal___________________________________ [nome] Vogal___________________________________ [nome]

L i s b o a , J a n e i r o d e 2 0 1 0

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II

Resumo

O IASC/IASB, desde a sua origem, procurou alcançar, através da emissão de normas

internacionais de alta qualidade, a Harmonização Contabilística Internacional. O

FASB, incentivado pelo IOSCO e pela SEC, aceitou o desafio de se juntar ao

IASC/IASB naquele desiderato, através da assinatura do Norwalk Agreement. A

consequência desta cooperação intensa materializou-se na revisão de um número

muito significativo de normas já existentes nas duas jurisdições, a par da elaboração

comum de novas normas, no âmbito do Projecto de Convergência entre as normas do

FASB e do IASB. A tal ponto que já foi anunciado (SEC e PCAOB) que, muito

provavelmente, a partir de 2014, o FASB substituirá os US GAAP’s pelos iGAAAP’s.

A CNC acompanhando esta tendência internacional, mas não descurando as directivas

da União Europeia, emitiu o novo Sistema de Normalização Contabilística (SNC), o

qual pretende alinhar o normativo nacional com o internacional.

É dentro deste cenário que a presente Dissertação discute conceitualmente os

Contratos Plurianuais de Construção no quadro da Harmonização Contabilística

Internacional, exibindo as principais divergências entre os iGAAP’s, os US GAAP’s e

os Portuguese GAAP’s. Para o efeito elegeram-se tópicos de análise considerados de

relevo relacionados com os antecedentes, os objectivos, o âmbito, as

definições/conceitos, o reconhecimento, a mensuração e as divulgações preconizadas

pelos respectivos normativos.

Para atingir esse fim, este estudo recorreu a revisão de literatura relacionada com o

tema em questão e procedeu a uma análise qualitativa dos dados que foram recolhidos

através de entrevistas e questionários às empresas ligadas ao sector da construção

português.

Esta Dissertação permitiu chegar à conclusão que as alterações contabilísticas

introduzidas pelos organismos supracitados, com implicações nas jurisdições

nacionais, levaram a progressos significativos no tratamento contabilístico dos

contratos plurianuais de construção. Melhorias que se manifestam ao nível da

comparabilidade entre as empresas construtoras, compreensibilidade por parte dos

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interessados nos demonstrativos financeiros, e, ainda, do reconhecimento, mensuração

e divulgação. Mas o desenvolvimento já alcançado revela-se ainda insuficiente para

atingir os objectivos definidos pelo IASB, especialmente quando as jurisdições

nacionais decidiram adaptar (“customize”) as iGAAP’s às suas realidades e tradições

contabilísticas.

Palavras-Chave: Harmonização Contabilística Internacional, Norwalk Agreement,

IAS 11, NCRF 19, Contratos Plurianuais de Construção, Rédito de um Contrato,

Método da Percentagem de Acabamento.

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IV

Abstract

The IASC/IASB since its foundation, has sought, through the issue of international

standards of high quality, the Global Accounting Harmonization. The FASB,

encouraged by the IOSCO and the SEC accepted the challenge of joining the

IASC/IASB on that ambition, by signing the Norwalk Agreement. The consequence

of this intensive cooperation materialized in the review of a significant number of

existing standards in both jurisdictions, together with the common development of

new standards within the Program of Convergence between the standards of the

FASB and IASB. So much has already been announced (SEC and PCAOB) that most

probably from 2014, the FASB will replace U.S. GAAP's by the iGAAP's. The CNC

accompanying this international trend, but bearing in mind the directives of the

European Union issued the new Sistema de Normalização Contabilística (SNC),

which aims to align the national normative with the international one.

It is within this context that the present Dissertation discusses conceptually the Long-

Term Construction Contracts under the Global Accounting Harmonization, showing

the main differences between the iGAAP's, the U.S. GAAP's and GAAP's Portuguese.

To this end, there were elected analysis topics considered relevant in connection with

the background, objectives, scope, definitions/concepts, recognition, measurement

and disclosures recommended by the respective norms.

To accomplish this objective, this study uses a literature review related to the topic in

question and made a qualitative analysis of the data that was collected through

interviews and questionnaires to companies linked to the Portuguese construction

sector.

This dissertation has reached the conclusion that the accounting changes introduced

by the bodies mentioned above, with implications for national jurisdictions, led to

significant progress in the accounting treatment of Long-Term Construction

Contracts. Improvements are manifested at the level of comparability between the

construction companies, understood by the stakeholders in the financial statements,

and also the recognition, measurement and disclosure. But the development has been

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achieved is even insufficient to achieve the objectives set by the IASB, especially

when national jurisdictions decided to customize the iGAAP's to their realities and

accounting traditions

Keywords: Global Accounting Harmonization, Norwalk Agreement, IAS 11,

NCFR 19, Long-Term Construction Contracts, Revenue of a Contract, Percentage-of-

Completion Method.

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VI

A minha mãe Orlanda Alfredo

e a minha noiva Márcia Coelho

por todo amor, carinho e apoio.

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VII

Agradecimentos

Esta Dissertação não representa apenas o resultado de extensas horas de estudo e

trabalho, representa também o culminar de um objectivo académico a que me propus

e que não seria possível sem o apoio de muitas pessoas que, de uma forma ou de

outra, contribuíram para a sua concretização.

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu orientador Professor Mestre Teixeira

Nogueira pela total disponibilidade apresentada desde o primeiro momento, pela sua

sincera dedicação a todos os níveis, pela sua partilha de conhecimento sem reservas e

pelo seu contagioso entusiasmo que foram cruciais nas horas mais difíceis.

A minha mãe Orlanda Alfredo e a minha noiva Márcia Coelho que mesmo a distancia

sempre estiveram ao meu lado e foram a minha inesgotável fonte de energia,

incentivo e motivação. Com certeza que o seu amor foram imprescindíveis para a

efectivação deste trabalho.

A Total E&P Angola por ter acreditado no meu potencial e ter investido na minha

formação superior e mais do que isso por me ter proporcionando toda esta experiência

de vida. Ao meu Instituto de Formação (Iprof) a quem agradeço por me proporcionar

todas as condições e fazer com que nunca me faltasse absolutamente nada. Foram

com certeza a família e os amigos que sempre necessitei.

A todos os professores da Licenciatura em Contabilidade e do Mestrado em Auditoria

que partilharam todo o seu conhecimento que com certeza foram necessários para

cada frase deste trabalho.

A todos os meus colegas do ISCAL com quem partilhei momentos inesquecíveis e

que mesmo estando longe do meu País fizeram sempre com que me sentisse em casa.

A todos os amigos que compreenderam todas as vezes que não pude estar com eles

por estar ocupado a elaborar esta Dissertação.

É a todos que dedico este trabalho.

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ÍNDICE

ÍNDICE.....................................................................................................................viii

LISTA DE ABREVIATURAS, ACRÓNIMOS E SIGLAS.......................................xi

LISTA DE TABELAS...............................................................................................xii

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................1

Objectivos da Investigação......................................................................................4

Justificação da Investigação ....................................................................................5

Metodologia Seguida...............................................................................................6

Motivações Subjacentes...........................................................................................7

Estrutura da Dissertação ..........................................................................................8

PARTE I: REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................9

1. Literatura sobre os Contratos de Construção.......................................................9

Das Jurisdições em Estudo ......................................................................................9

Casos Particulares..................................................................................................14

Nova Zelândia......................................................................................................15

Austrália...............................................................................................................16

iGAAP’s para o Sector Público ..........................................................................16

2. Conceitos relevantes para o Relato Financeiro dos Contratos de Construção...17

2.1 A Importância das Especificações do Trabalho no Reconhecimento do Rédito.....................................................................................................................19

2.2 Os Diferentes Termos de Remuneração ao Contratado...............................21

2.3 A Ponderação dos Riscos do Contrato na Formulação das Estimativas......23

2.4 Classificação dos Custos Aceites como Custos do Contrato .......................24

Os Custos Directos do Contrato ..........................................................................25

Custos Indirectos do Contrato .............................................................................27

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Outros Custos Debitáveis ao Cliente ...................................................................30

2.5 Elementos do Réditos Adoptados na Determinação do Rendimento do Contrato .................................................................................................................31

A Excepção à Regra Geral...................................................................................31

Justificação para a Excepção da Regra Geral da Realização do Rédito (Realization Rule)................................................................................................33

Composição dos Réditos do Contrato..................................................................34

Alterações na Concepção do Activo....................................................................34

Reembolso de Custos não incluídos no Contrato ................................................36

Incentivos pagos ao Contratador .........................................................................38

3. A Problemática do Reconhecimento dos réditos e custos do Contrato .............38

3.1 Método da percentagem de acabamento ......................................................38

Medindo a Fase de Acabamento Através de Medidas de Input e de Output.......40

A Importância dos Custos do Contrato na Percentagem de Acabamento ...........41

A Importância das Estimativas na Transparência dos Demonstrativos Financeiros Apresentados........................................................................................................42

Problemas Decorrentes da Aplicação do Método da Percentagem de Acabamento.............................................................................................................................43

3.2 A Problemática do Método do Contrato Completado..................................44

3.3 Reconhecimento dos Réditos e Custos do Contrato....................................47

Reconhecimento dos Contratos de Construção pelo IASB fora do âmbito da IAS 11 .........................................................................................................................49

No Âmbito do art. 19.º do CIRC e da Circular 5/90............................................52

3.4 A Problemática da Mensuração dos Réditos, Custos e Lucros do contrato.55

4. Situações Especiais no Contrato ........................................................................56

4.1 Combinação e Segmentação ........................................................................56

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4.2 Activos Adicionais, Adições e Contabilização de Contrato Opções ...........57

4.3 Empreendimentos Conjuntos e Contratos Partilhados.................................58

4.4 Perdas Esperadas num Contrato de Construção...........................................60

4.5 Informação financeira em que a divulgação é exigida.................................61

5. Conclusões da Primeira Parte da Dissertação....................................................65

PARTE II – EMPÍRICA ............................................................................................68

1. Considerações Gerais.........................................................................................68

1.1 Dificuldades e Limitações............................................................................68

2. Metodologia utilizada ........................................................................................69

2.1 Concepção do Guião de Entrevista ..............................................................69

2.2 Amostra Escolhida.......................................................................................71

3. Apresentação e Análise das Respostas Obtidas.................................................71

3.1 Caracterização da amostra ...........................................................................71

Identificação da Sociedade ..................................................................................71

Enquadramento ....................................................................................................71

3.2 Apresentação dos Resultados Obtidos.........................................................72

3.3 Análise dos resultados obtidos.....................................................................77

4. Conclusões da Segunda Parte da Dissertação....................................................81

PARTE III – CONCLUSÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURAS.....................84

ANEXO I – GUIÃO DE ENTREVISTA ...............................................................xciii

ANEXO II – RESULTADOS DA ANÁLISE GERAL DOS DADOS DO RECOLHIDOS POR GUIÃO DE ENTREVISTA....................................................cii

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LISTA DE ABREVIATURAS, ACRÓNIMOS E SIGLAS

AICPA – American Institute of Certified Public Accountants

ARB – Accounting Research Bulletin

CNC – Comissão de Normalização Contabilística

ED – Exposure Draft

DC - Directriz Contabilística

DGCI – Direcção Geral das Contribuições e Impostos

FASB – Financial Accounting Standards Board

GAAP – Generally Accepted Accounting Principles

IAS – International Accounting Standards

IASB – International Accounting Standards Board

IASC – International Accounting Standards Committee

IFRS – International Financial Reporting Standards

IRC – Imposto sobre o Rendimento Colectivo

NCRF – Norma Contabilística e de Relato Financeiro

POC – Plano Oficial de Contabilidade

SEC – Securities and Exchange Commission

SNC – Sistema de Normalização Contabilística

SOP - Statement of Position

US FASB – United States Financial Accounting Standards Board

US GAAP – United States Generally Accepted Accounting Principles

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tratamento dos Contratos de Construção IFRS vs US GAAP ..................12

Tabela 2 – Percentagem de Acabamento vs Contrato Completado.............................47

Tabela 4 – Comparação do art. 19.º do CIRC..............................................................55

Tabela 5 – Relação dos Grupos com as Hipóteses ......................................................70

Tabela 6 – Resumo do Primeiro Grupo do Guião de Entrevista..................................72

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INTRODUÇÃO

Apesar dos passos já dados rumo à convergência no processo de harmonização

contabilística internacional, constata-se que ainda existem diferenças na preparação e

apresentação das demonstrações financeiras que as empresas proporcionam aos seus

utilizadores. Diferenças que têm origens históricas bem determinadas e que explicam a

evolução divergente dos modelos ou sistemas contabilísticos. O que habitualmente se

designa por modelos contabilísticos de tipo continental (ou napoleónico) baseados na

“code law” e anglo-saxónicos baseados na “common law”, constituem a expressão

daquelas evoluções históricas diferenciadas. Claramente, a contabilidade foi e ainda é

influenciada pelas práticas e regulamentos do meio em que se insere. As influências da

economia, do estado, as características do sistema jurídico e a política fiscal, são alguns

desses exemplos. Por esta razão, cada país elaborou e continua a elaborar os seus

normativos contabilísticos, com critérios de reconhecimento, mensuração e divulgação

próprios. Isto fez e faz com que a informação e o relato financeiro se torne diferente de

jurisdição para jurisdição. Conduz a que transacções semelhantes tenham tratamentos

contabilísticos diferentes levando a disparidades na informação financeira e a problemas

de comparabilidade, compreensibilidade e incerteza para os utilizadores.

Com a globalização dos mercados económicos e financeiros, e com a evolução

tecnológica, tornou-se necessário reduzir aquelas diferenças. A informação dirigida aos

utilizadores das demonstrações financeiras, principalmente aos investidores, deixou de ser

local e precisou de se tornar global. Para as empresas de todo mundo passou a haver a

necessidade de preparar e apresentar as demonstrações financeiras com base em

princípios contabilísticos únicos, baseados numa única estrutura conceptual. Esta

necessidade torna-se cada dia mais forte e é uma das principais razões para a

normalização e harmonização contabilística internacional.

Atento a esta realidade o IASC (International Accounting Standards Committee)

comprometeu-se em estreitar estas diferenças procurando harmonizar as regulamentações,

normas contabilísticas e os procedimentos relacionados com a preparação e a apresentação

das demonstrações financeiras (IASB, 2008a). Esta harmonização tem o objectivo de

melhorar a qualidade da informação para os utilizadores e decisores, partindo da diversidade

para a comparabilidade global. Para as empresas vem reduzir os custos de preparação de

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demonstrações financeiras, muitas vezes elaboradas para diferentes finalidades, dando maior

eficiência, transparência e fluidez aos mercados financeiros. (Nogueira, 2007).

A contabilização dos contratos plurianuais de construção não se afasta desta realidade. A

referência internacional ao nível dos normativos contabilísticos são as IFRS

(International Financial Reporting Standards) emanadas pelo IASB (International

Accounting Standards Board). No caso particular dos Contratos Plurianuais de

Construção, e para a presente dissertação, a norma de referência é a International

Accounting Standard 11 - Construction Contracts (IAS 11).

Mas ainda que consideradas a referência internacional, nem todas as empresas a nível

mundial adoptaram as normas do IASB, e a actual IAS 11. Este comportamento deve-se a

uma variedade de circunstâncias como por exemplo, a necessidade de utilização dos

normativos contabilísticos nacionais na apresentação das demonstrações financeiras.

Contudo já dois grandes passos foram dados com o objectivo de atingir essa meta.

O primeiro, quando a Comissão Europeia concretizou, através de Regulamento (CE) N.º

1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho que, a partir de 2005, todas as empresas

cotadas no espaço comunitário europeu e ainda os grupos económicos que consolidam

contas, passavam a ser obrigados a utilizar as normas do IASB, com o objectivo de criar

um mercado financeiro único dentro do espaço comunitário.

O segundo passo deveu-se à grande influência das Bolsas de Valores Americanas nos

mercados financeiros, tais como o New York Stock Exchange (NYSE), National

Association of Securities Dealers Automated Quotation System (NASDAQ), a American

Exchange, e ainda a necessidade de um número significativo de empresas

internacionalizadas negociarem os seus títulos nestas bolsas. Para que isso aconteça as

empresas devem ainda estar registadas na Securities and Exchange Commission (SEC) e

prepararem um dossier anual de acordo com a FORM 20-F, ou seja, proceder a uma

reconciliação dos seus demonstrativos financeiros, preparados e apresentados de acordo

com os normativos das respectivas jurisdições, com os US GAAP (United States

Generally Accepted Accounting Principles). Reconciliações que alteravam (e alteram),

em regra, significativamente, os indicadores de desempenho e da posição financeira das

empresas, além de acarretarem custos elevados para estas.

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Este foi um dos motivos para que, em Outubro de 2002, o IASB e o US FASB (US

Financial Accounting Standards Board) assinassem o “Norwalk Agreement”. Este acordo

prevê um programa de convergência entre as normas do IASB e as normas do FASB. O

propósito é eliminar as diferenças entre as normas emitidas por estes dois organismos

criando normas internacionais únicas e de alta qualidade.

Presentemente, a SEC, já permite a dispensa da reconciliação de acordo com a FORM 20F

sob certas condições, designadamente, quando as empresas internacionais preparam contas de

acordo com as IFRS, são auditadas de acordo com parâmetros internacionais, entre outros

requisitos exigidos. Espera-se que em 2010-2011 já não hajam diferenças significativas entre

as principais normas do IASB e do FASB e prevê-se que a partir de 2014 o FASB passe a

adoptar as normas do IASB que substituirão as equivalentes normas americanas.

A nível nacional também foram dados passos importantes rumo à harmonização. Devido

ao normativo nacional não ter acompanhado todas as mudanças que aconteceram à luz

das alterações verificadas nos últimos anos, os seus princípios contabilísticos geralmente

aceites ainda em vigor já não correspondem às exigências de relato financeiro

contemporâneas. Por isso a CNC com o objectivo de alinhar o normativo contabilístico

nacional com o internacional, e levando em consideração que não se podia descurar das

características do tecido empresarial português composto maioritariamente por micro e

pequenas empresas, decidiu criar (CNC: 2003c):

“um modelo de normalização contabilística em conexão com a legislação

contabilística da União Europeia (UE) e com as International Financial Reporting

Standards (IFRS) emitidas pelo International Accounting Standard Board (IASB),

compreendendo três níveis dirigidos a grupos diferenciados de entidades

económicas mas subordinados a uma única estrutura conceptual.”

Resumidamente este novo modelo (novo SNC), com base o Projecto de linhas de

orientação para um novo modelo de normalização contabilística da CNC (CNC: 2003c),

consistirá em três níveis. Mas para os objectivos desta dissertação e relativamente à matéria

dos contratos de construção a ênfase será dada essencialmente aos dois primeiros níveis:

1. Um primeiro nível, de cariz europeu e internacional, destinado às entidades que

preparam e relatam a informação financeira em conformidade com as normas

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emanadas pelo IASB traduzidas oficialmente para a língua portuguesa. Este nível é

essencialmente dirigido às entidades económicas com maiores exigências de relato

financeiro a nível nacional e internacional (entidades com títulos negociados em

bolsa, entidades que consolidam contas, entidades estrangeiras a operar no território

português que já utilizam as IFRS ou ainda entidades nacionais que não estando

obrigadas às IFRS, optem por relatar de acordo com estas, em vez de relatarem de

acordo com as NCRF).

2. E um segundo nível, de cariz nacional, que apesar de partilhar a mesma estrutura

conceptual do primeiro, é destinado às entidades que não se enquadrem no primeiro

nível, nem seja uma entidade a que se aplique o terceiro nível (Norma Única de

Relato Financeiro – “Little Gaap”). Às entidades deste segundo nível aplica-se as

NCRF do novo SNC, que são versões modificadas (muitas vezes amputadas) da

IFRS (versão UEM). Segundo a CNC estas entidades que não aplicam o primeiro

nível, ainda assim estão conectadas a este nível, porquanto as NCRF remetem para

as IFRS sempre que existam dúvidas ou omissões nas primeiras quanto a eventos a

reconhecer, mensurar e divulgar1.

Objectivos da Investigação

É dentro do contexto apresentado que se enquadra a discussão proposta no presente

trabalho. A apresentação das divergências na contabilização dos contratos plurianuais de

construção, existentes entre o IASB, o FASB e o Normativo Português (POC e a

respectiva legislação complementar actualmente em vigor e o novo modelo que o visa

substituir, denominado Sistema de Normalização Contabilística).

O objectivo desta investigação é a partir da norma de referência, a IAS 11, analisar a

forma de contabilização dos contratos plurianuais de construção, mais especificamente o

reconhecimento e mensuração dos réditos e dos custos do contrato e ainda as divulgações

a fazer. De seguida pretende-se desenvolver um estudo comparativo com os outros

normativos relacionados com o mesmo tema, o ARB (Accounting Research Bulletin) 45 -

1 De notar que a actual IAS 8 (2005) – Alterações de Políticas Contabilísticas, Alterações de Estimativas e Erros, no que concerne à selecção de políticas contabilísticas remete para outros sistemas de normas (FASB, por exemplo), quando as IFRS do IASB são omissas relativamente às questões em causa. Em última instância remete para a literatura académica e de investigação quando os diferentes sistemas de normas são omissos. A conclusão que se pode retirar é a de que, presentemente, não existe estanquicidade entre os diferentes sistemas de normas em termos internacionais e nacionais.

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Long-Term Construction-Type Contracts e o SOP (Statement of Position) 81-1 –

Accounting for Performance of Construction-Type and Certain Production-Type

Contracts, do AICPA (American Institute of Certified Public Accountants), e a DC

(Directriz Contabilística) 3 e a NCRF (Norma Contabilística de Relato Financeiro) 19 da

CNC (Comissão de Normalização Contabilística).

Pretende-se evidenciar também a desactualização do Normativo Português em vigor,

relativamente a contabilização dos contratos plurianuais de construção, face às normas

emanadas pelo IASB, e ainda as divergências existentes entre o futuro projecto do

Sistema de Normalização Contabilística (SNC) face ao possível projecto de convergência

entre a IASB e o FASB.

Adicionalmente procurar-se-á mostrar, ainda que resumidamente, a influência existente

do normativo fiscal face ao normativo contabilístico.

Para concluir deseja-se estar em condições de emitir uma opinião sobre as divergências

encontradas e propor soluções alternativas para a superação das mesmas. Assim, a partir

do conhecimento da realidade actual, perspectiva-se a evolução futura da contabilização

dos contratos plurianuais de construção rumo à normalização e harmonização

contabilística internacional.

Justificação da Investigação

Em suma, a hipótese (ou tese) principal subjacente à presente dissertação é de que o

normativo actual português carece de ser revisto para estar em conformidade com a IAS

11, o que de certa forma já foi feito parcialmente com a próxima NCRF 19 da CNC, que

emula a primeira, com excepção de algumas cláusulas da primeira que foram eliminadas.

Mas ambas são omissas relativamente a questões que a equivalente norma americana

trata, pelo que carecem de ser novamente revistas. Revisão que, por sua vez, não pode

deixar de considerar as alterações previstas em outras normas, designadamente as

relativas ao reconhecimento do rédito (alterações prevista para a IAS 18) e as relativas às

provisões, passivos contingentes e activos contingentes (alterações previstas para a IAS

37), entre outras. Argumenta-se adicionalmente que se, por um lado, o novo SNC é uma

melhoria em relação ao POC e às Directrizes Contabilísticas da CNC, correspondendo a

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um esforço significativo no sentido da harmonização contabilística internacional em

curso, por outro lado, ao não se adoptar pura e simplesmente as “full” IFRS na sua versão

da UEM (ou até do IASB), em benefício da existência de NCRF, tal contribui para uma

situação de “speaking in tongues”2, contrariando aquele esforço de harmonização.

Assim sendo e para atender os objectivos gerais e específicos foram definidas as seguintes

hipóteses de estudo:

H1: O normativo português em vigor relativamente aos contratos de construção

carecia de ser revisto para se enquadrar com as normas internacionais, o que foi

feito com a NCRF 19 da CNC.

H2: A IAS 11 e a sua similar portuguesa, NCRF 19, são omissas relativamente a

questões que a(s) equivalente(s) norma(s) americana(s) desde há muito já trata(m),

pelo que carecem de ser revistas.

H3: As Empresas de Construção Portuguesas que usam os normativos

internacionais para reconhecer, mensurarem e divulgarem os contratos de

construção estão a fazê-lo correctamente e de acordo com estas mesmas normas.

H4: As Empresas de Construção Portuguesas que usam os normativos nacionais

(até 31/12/2009) para reconhecer, mensurarem e divulgarem os contratos de

construção estão preparadas para acolher as normas do novo Sistema de

Normalização Contabilística.

Metodologia Seguida

O tema em análise propõe a investigação de uma problema real dentro da contabilidade

internacional. Para a realização desta dissertação os dados foram recolhidos por revisão

de literatura na primeira fase e por entrevistas suportados por um guião numa segunda

fase.

A revisão de literatura foi a principal fonte de obtenção de dados que suportaram o estudo

teórico. As pesquisas foram efectuadas principalmente em obras de referência, artigos

2 Simonds, D. (2007).

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7

académicos, teses relacionadas com o tema em análise e Normas de Contabilidade

emitidas pelos organismos internacionais e nacionais. A recolha foi o mais actual possível

e todas as citações transcritas foram fiéis às palavras do autor.

A segunda forma de recolha de dados baseou-se em entrevistas a empresas ligadas ao

sector de construção Português. Estes dados serviram como complemento de estudo dos

conteúdos teóricos. As entrevistas assentaram num guião previamente elaborado, baseado

no Questionário de Conformidade das Normas do IASB de 2009, testado por um grupo

piloto. O guião incluiu perguntas fechadas, na sua maior parte de escolha múltipla,

intercaladas com perguntas abertas, do género espaços por preencher. Durante a entrevista

foram tomados apontamentos e notas e, quando foi possível, também foram gravadas em

áudio. As frases utilizadas de forma integral foram devidamente referenciadas.

Após a recolha dos dados por revisão de literatura e por entrevistas, estes foram

analisados e categorizados pelas suas características que permitiram elaborar as

conclusões da dissertação.

Motivações Subjacentes

A elaboração desta dissertação e a escolha do tema têm subjacentes três motivações

distintas.

A primeira relaciona-se com a importância dos contratos plurianuais de construção no

sector da construção, o qual, na quase totalidade dos países, representa uma parte muito

significativa do produto e do emprego.

A segunda motivação, de natureza académica, prende-se com o preenchimento do

requisito obrigatório necessário para a conclusão da formação e obtenção do grau de

Mestre em Auditoria e, neste âmbito, contribuir para a discussão relativamente a uma

melhor interpretação e aplicação do normativo sob escrutínio, equacionando cenários

futuros previsíveis e possíveis. Contribuição no contexto da adopção pela primeira vez

das NCRF do SNC (2010) e das IFRS do IASB (2006)

A última, de natureza pessoal, prende-se com o interesse evidenciado desde sempre pelo

candidato pelas actividades da construção civil e naval.

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8

Estrutura da Dissertação

A presente dissertação encontra-se estruturada em três partes distintas:

I. Referencial Teórico – A primeira parte da dissertação apresenta a forma de

contabilização dos contratos plurianuais de construção pelo IASB. Ao mesmo

tempo é apresentado um estudo comparativo com o normativo Americano e

Português relacionados com o mesmo tema. Nesta parte iremos tentar dar resposta à

primeira e segunda hipóteses anteriormente definidas.

II. Empírica – A segunda parte pretende dar resposta à terceira e quarta hipóteses

através da análise das entrevistas e uma a explanação sobre concepção do guião de

entrevistas concebido para atingir este fim. A interpretação dos dados recolhidos

através das entrevistas irão anteceder o último ponto desta parte da dissertação, que

será a apresentação e discussão dos resultados da investigação.

III. Conclusões Finais e Perspectivas Futuras – A terceira e última parte apresenta

as principais conclusões obtidas do que foi exposto nas duas primeiras partes da

dissertação. Servirá ainda para apresentar as principais limitações encontradas ao

longo da elaboração da dissertação, e apresentar perspectivas futuras que poderão

contribuir para a realização de futuros trabalhos e pesquisas dentro do tema em

escrutínio.

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9

PARTE I: REFERENCIAL TEÓRICO

Nesta primeira parte da dissertação procura-se responder às questões levantadas e

explicitadas anteriormente nos pontos intitulados “Objectivos da Investigação” e

“Justificação da Investigação”, passando em revista a literatura teórica relevante e

comparada, e evidenciando diferenças conceptuais, de metodologia e de abordagem, ao

mesmo tempo que se perspectivam evoluções previsíveis futuras em termos de

harmonização contabilística internacional e nacional. Conclusões parciais são retiradas, as

quais são posteriormente repescadas e globalizadas na terceira parte da dissertação

“Resultados da Investigação e Conclusões”.

Deixa-se para a segunda parte da dissertação – parte Empírica – a interpretação e

aplicação, em conformidade ou não, com os normativos revistos e as dificuldades que se

colocam no presente e no futuro face aos desenvolvimentos previstos da própria IAS

11/NCRF 19 e outras normas relacionadas e em curso de elaboração/revisão (IAS 18, IAS

37, entre outras, e ainda a nova estrutura conceptual).

1. Literatura sobre os Contratos de Construção

Das Jurisdições em Estudo

As principais fontes de todo referencial teórico apresentado são as normas de

contabilidade das diversas jurisdições supracitadas. Mas antes de passarmos à análise das

normas no seu conjunto achamos conveniente fazer uma investigação da evolução de

cada uma das principais normas, partindo da norma de referência a IAS 11.

O IASC, até Abril de 2001, era o organismo que procedia à elaboração, publicação e

actualização das IAS, sendo a partir daquela data substituído pela Fundação do IASC e

pelo IASB. O principal objectivo do IASB consiste na melhoria da estrutura conceptual e,

com base no interesse público e necessidades dos investidores e utilizadores, no

desenvolvimento de um único conjunto normas contabilísticas de elevada qualidade,

compreensíveis e aplicáveis internacionalmente.

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10

O IASC, em Dezembro de 1977, aprovou e publicou o Exposure Draft3 (ED) E12 –

Accounting for Construction Contracts para comentário público. O seu objectivo era

determinar o tratamento contabilístico dos réditos e custos associados aos contratos de

construção, em que a data de início e conclusão da obra tinham geralmente períodos

contabilísticos diferentes. Terminado o due process, após a votação dos membros do

IASC a favor da publicação em Maio de 1979, o IASC emitiu a primeira versão da IAS

11 – Accounting for Construction Contracts, baseada na E12. A norma teve a sua data de

publicação e entrada em vigor efectiva em 1 de Janeiro de 1980.

Doze anos depois, em Maio de 1992, devido a publicação da ED 32 (E32 – Comparability

of Financial Statements) em 1989, a IAS 11 necessitou de ser revista pela primeira vez.

Esta revisão originou a ED 42 (E42 – Construction Contracts) que foi apresentada para

debate público. Satisfeito com os resultados alcançados pela ED e após a nova norma

revista ter sido aprovada pelos membros do IASC, no dia 1 de Janeiro de 1995, a IAS 11

– Construction Contract entrou em vigor.

A revisão da IAS 10 – Events after the Reporting Period em 1999, levou a que em Maio

do mesmo ano fosse emendado o parágrafo 45 da IAS 11. Este parágrafo só se tornou

eficaz para as demonstrações financeiras anuais que cobrissem períodos que começassem

em ou após 1 de Janeiro de 2000.

Como já foi referido, o IASC, em Abril de 2001, criou o IASB que, a partir dessa data,

assumiu as responsabilidades do IASC na elaboração, publicação e actualização das

IAS/IFRS4. Determinou ainda que todas as normas e interpretações anteriormente

emitidas continuassem a ser aplicáveis na íntegra até que fossem alteradas ou retiradas.

A versão da IAS 11 que serviu de base para esta dissertação inclui ainda as alterações de

2007 resultantes das IAS 23 – Borrowing Costs e da IAS 1 – Presentation of Financial

3 Projecto para Exposição (tradução livre) – Os debates sobre as potenciais normas e as decisões da sua aprovação como projecto a ser desenvolvido ocorrem em debates públicos feitos pelo próprio IASB. Quando o “Exposure Draft” estiver terminado, e depois de ter votado nele, o IASB publicava-o para comentário público. Actualmente o IASB ainda adopta estes passos para a criação de uma nova norma (denominado due process) (IASB: 2006) 4 De acordo com a actual IAS 8 a designação de IFRS é uma designação “chapéu” podendo aplicar-se indistintamente às IFRS propriamente ditas, às IFRIC, às IAS e às SIC.

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11

Statements, e outras alterações de IAS/IFRS directamente relacionadas com o tema em

questão, emitidos até 30 de Novembro de 2008.

Tal como o IASB, o FASB tem como objectivo aumentar a comparabilidade e a qualidade

das normas utilizadas ainda que apenas ao nível dos Estados Unidos da América (EUA) e

das empresas ali cotadas. Mas, como já foi descrito, estes dois organismos,

presentemente, trabalham em cooperação, no âmbito do “Norwalk Agreement”, com o

objectivo de criar um conjunto único de normas aceites não só nos EUA, mas também em

todos os países (normas internacionais ou iGAAP’s).

As diferenças entre as normas relativas aos contratos de construção de ambas as

realidades são muitas, havendo temas tratados com mais ou menos profundidade em cada

uma das normas. O IASB possui duas importantes normas dedicadas ao tratamento do

rédito, sendo que uma delas é destinada à contabilização do rédito dos contratos de

construção (se se excluírem os réditos específicos tratados por outras normas específicas).

Já o normativo americano possui cerca de duas centenas de normas destinadas ao

tratamento do rédito sendo que algumas são destinadas a indústrias específicas (Bohosova

e Nerudova, 2009). Para o estudo apresentado, destacamos duas normas que contêm a

maior parte do “core” da contabilização dos contratos de construção ao nível das

empresas de construção americanas, a ARB 45 e a SOP 81-1.

A ARB 45 - Long-Term Construction-Type Contracts contém os princípios básicos, ainda

em vigor, da contabilização dos contratos de construção nos Estados Unidos. Foi emitida

em 1955, 25 anos antes da publicação da primeira norma sobre contratos de construção do

IASB, pelo Committee Accounting Procedure do AICPA.

Durante os anos seguintes muito poucas actualizações relevantes foram feitas. Apenas em

1981 o Accounting Stardards Division do AICAP emitiu a SOP 81-1 – Accounting for

Performance of Construction-Type and Certain Production-Type Contracts, que veio

actualizar as normas destinadas à contabilização dos contratos de construção. Esta norma

providenciou, e providencia, um guia para a aplicação dos US GAAP na contabilização dos

contratos de construção dando ênfase aos métodos de reconhecimento do rédito.

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12

Hierarquicamente as Accounting Research Bulletin (ARB) encontram-se num nível superior,

denominado “category A”, e as Statement of Position (SOP), mais abaixo, na “category B”.

A principal diferença entre os dois conjuntos de normativos (iGAAP versus US GAAP)

reside na base utilizada para a criação das normas. As IFRS são baseadas em princípios

fundamentais da contabilidade (“Principles Based Standards”), com orientações limitadas

de aplicação, enquanto as normas do FASB são baseados principalmente em regras com

orientações específicas de aplicação (“Rules Based Standards”).

Reconhecimento da Rédito, incluindo a construção de contratos Tratamento pelas IFRS Tratamento pelos US GAAP

Existem normas abrangentes para o reconhecimento do rédito.

Não existe uma norma abrangente para o reconhecimento do rédito em geral, mas a SEC proporciona requisitos de orientação.

O rédito é reconhecido quando (1), é provável que os benefícios económicos futuros fluirão para a entidade e (2) esses benefícios possam ser mensurados com fiabilidade.

O rédito é reconhecido quando é (1) ganho e (2) seja realizada ou realizável.

Se a percentagem de acabamento não pode ser estimada com fiabilidade, o uso do cost recovery method é exigido; a abordagem revenue-cost no método da percentagem de acabamento é obrigatória nos contratos de construção.

A utilização do método do contrato completado para contratos de construção em determinadas circunstâncias é necessária; São permitidas as abordagens revenue-cost e gross-profit no método da percentagem de acabamento.

Existem orientações específicas sobre os princípios de reconhecimento do rédito para indústrias seleccionadas.

São estimadas mais de duas centenas de disposições individuais de reconhecimento do rédito disponíveis para indústrias ou contratos específicos.

Projecto conjunto com o FASB pode resultar em bases conceituais completamente novas para o reconhecimento do rédito com base na “abordagem do reconhecimento de activos e passivos”.

Projecto conjunto com o IASB pode resultar em bases conceituais completamente novas para o reconhecimento do rédito com base na “abordagem do reconhecimento de activos e passivos”.

Tabela 1 – Tratamento dos Contratos de Construção IFRS vs US GAAP

(adaptação do Apêndice C de Esptein, B e Jermakowicz, E.;2008)

O Plano Oficial de Contabilidade (POC) é limitado e pouco explícito no que se refere aos

contratos de construção. Este teve a sua primeira publicação em 1976 através do D.L. n.º

44/77. Em 1986 Portugal aderiu à União Europeia (U.E) e houve a necessidade de

transpor a 4ª directiva5 e a 7ª directiva6 para o sistema contabilístico português. Esta

5 A Directiva nº 78/660/CEE do Conselho, de 25 de Julho de 1978, que estabelece os requisitos em matéria de elaboração das contas anuais de certas formas de sociedades. 6 A directiva nº 83/349/CEE do Conselho, de 13 de Julho de 1983, que define os requisitos quanto a elaboração de contas consolidadas.

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13

transposição aconteceu em duas revisões distintas ao POC. A primeira publicada em 1989

(POC/89), com revisões do capítulo 1 ao 12, transpondo a 4ª directiva, e a segunda, em

1991, alterando os capítulos 13 e 14, transpondo a 7ª directiva. O POC sofreu outras

revisões, sendo estas duas referidas as mais importantes para o contexto desta dissertação.

Neste normativo os contratos de construção são geralmente associados à produção de

existências (Capitulo 5 - Critérios de valorimetria), ou seja, a construção de um activo por

uma empresa é considerada como a produção de uma existência.

Dada a crescente necessidade da informação financeira produzida pelas empresas

portuguesas estar de acordo com as práticas internacionais, a CNC, numa tentativa de

reflectir as normas do IASB no normativo português, emitiu a DC 3 - Tratamento

Contabilístico dos Contratos de Construção, com o objectivo de colmatar as lacunas do

POC, actualizá-lo e tratar autonomamente da contabilização dos contratos de construção.

A DC 3 foi baseada na IAS 11, de 1979. Foi aprovada pelo Conselho Geral da CNC em

1991 e entrou em vigor através do Decreto Regulamentar II, nº 53, de 1992. Do POC para

a DC 3 houve com certeza uma grande evolução ao nível da contabilização dos contratos

de construção. Mas o normativo em vigor ainda continua omisso relativamente a muitas

matérias já há muito tratadas pela IAS 11. Como exemplos de algumas questões que a DC

3 é incapaz de responder, apontam-se as seguintes:

• A Combinação e a Segmentação dos Contratos de Construção;

• A construção de Activos Adicionais ou Trabalhos a mais;

• Os réditos e custos que são permitidos que sejam reconhecidos como réditos e

custos do contrato respectivamente;

• O tratamento contabilístico das instruções do cliente para alterações na obra, dos

reembolsos de custos não incluídos no preço do contrato, e dos incentivos dados

pelo cliente.

Com certeza que o objectivo da CNC com a DC 3 foi o de aproximar a realidade nacional à

internacional, baseando-se na IAS 11. Mas, na altura da sua entrada em vigor, em 1992, já a

IAS 11 que lhe serviu de base, estava a sofrer alterações ao seu conteúdo, devido à publicação

da ED 32, em 1989. Assim sendo, na altura em que a DC 3 entrou em vigor, já se encontrava

de certa forma desactualizada, pois a norma em que foi baseada, já estava a ser alterada.

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14

A CNC voltou recentemente a tentar actualizar o normativo contabilístico nacional

através do novo Sistema de Normalização Contabilística (SNC). Com este novo sistema,

que tem a sua entrada em vigor prevista para Janeiro/2010, pretende-se que o normativo

nacional esteja em sintonia com as normas internacionais de contabilidade emitidas pelo

IASB e adoptadas na União Europeia (UE).

Este novo SNC, quando entrar em vigor, trará alterações ao nível da contabilização dos

contratos de construção e grandes vantagens para as empresas que se enquadram no

primeiro nível (já referido), pois deixarão de ter uma “dupla” contabilidade, para

satisfazer as necessidades de relato internacional e nacional. As empresas construtoras do

primeiro nível utilizarão a IAS 11 no tratamento contabilístico de réditos e custos

associados a contratos de construção.

Para as entidades construtoras inseridas apenas no contexto económico nacional e sem

maiores exigências de relato financeiro europeu e internacional, foi elaborada uma

adaptação da IAS 11 (versão subscrita pela EU e traduzida para língua oficial portuguesa

publicadas no Jornal Oficial das Comunidades), mas com a dispensa da aplicação de

determinadas divulgações aí exigidas, garantindo essencialmente os critérios de

reconhecimento e mensuração. Esta adaptação da IAS 11 resultou na NCRF 19 -

Contratos de Construção. Todavia, esta NCRF 19, quer nos aspectos de relativos ao

reconhecimento e mensuração, quer nos aspectos relacionados com a divulgação, tem

ainda uma orientação para a Demonstração de Resultados, enquanto que a IAS 11 e a

tendência internacional, vão no sentido da orientação para o Balanço (Demonstração da

Posição Financeira). Tal tem implicações ao nível do reconhecimento e mensuração e das

divulgações a fazer, quer na face dos demonstrativos financeiros (Demonstração da

Posição Financeira, por exemplo), quer nas Notas.

Casos Particulares

As jurisdições em estudo acima citadas tratam particularmente da contabilização dos

contratos de construção ao nível Europeu e Americano, bem como ao nível

“Internacional”, não obstante com algumas restrições em algumas jurisdições. Em

consequência, importa observar, ainda neste capítulo, o que duas outras jurisdições,

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15

nomeadamente a da Nova Zelândia e a da Austrália7, fora daqueles contextos, e

consideradas de referência em termos internacionais, têm feito rumo à harmonização

internacional. Apresenta-se, também, o que está a ser feito internacionalmente em termos

de normalização e harmonização no sector público (iGAAP’s para o sector público),

através do International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB), e

relativamente ao tema em escrutínio.

Nova Zelândia

O Institute of Chartered Accountants da Nova Zelândia, com o objectivo de promover a

harmonização contabilística internacional ao nível da contabilização dos contratos de

construção, emitiu, através do seu Financial Reporting Standards Board (FRSB), a norma

NZ IAS (New Zealand International Accounting Standard) 11 – Construction Contracts,

em 2004. Esta norma substituiu a FRS (Financial Reporting Standard) 14 – Accounting for

Construction Contracts, que até a data era a norma efectivamente em vigor (FRSB: 2004).

Resumidamente, a NZ IAS 11 não trouxe diferenças significativas na contabilização dos

contratos de construção. Sofreu pequenas alterações, como ao nível da restrição no seu

âmbito em relação à FRS-14, fazendo com que seja aplicada especificamente a

contabilização dos contratos de construção nas demonstrações financeiras dos

empreiteiros.

Houve também a exclusão da aplicação do método do contrato completado, utilizado pela

FRS-14, para as entidades que usassem o “differential reporting”8. A NZ IAS 11 passou a

exigir que todas as entidades usem o método da percentagem de acabamento como

método de reconhecimento dos resultados.

Divulgações adicionais também são agora exigidas, como a divulgação dos métodos

utilizados para determinar o grau de acabamento dos contratos em curso (uma vez que o

método da percentagem de acabamento é agora exigido) e ainda o método foi usado para

a determinação dos réditos reconhecidos no período (Deloitte: 2003).

7 Um outro caso interessante, que não se irá tratar, é o da Alemanha, porquanto, até recentemente, impunha o Método do Contrato Completado na contabilização dos Contratos Plurianuais de Construção. 8 Países como a Nova Zelândia, usam a expressão “differential reporting” para as pequenas entidades que não estão obrigadas a usar as Normas Internacionais de Contabilidade na sua versão total, usando os chamados Little GAAP.

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Uma nota de referência bastante positiva, é que a Nova Zelândia, rumo à harmonização,

não alterou a numeração internacional, seguindo a já criada pelo IASB, incorporando

apenas a sigla NZ antes da norma.

Austrália

O Australian Accounting Standards Board (AASB) também seguiu a política de Relato

Financeiro adoptada pela Comissão Europeia, ao ter adoptado as normas do IASB para

aplicação nos períodos de relato que começaram em ou após 1 de Janeiro de 2005.

Com excepção das normas específicas para o sector sem fins lucrativos, público ou outros

sectores que são de natureza meramente interna, o AASB está a utilizar as normas do

IASB como "base", para a elaboração das suas normas. No entanto é prática usual por

parte do AASB, quando necessário, incorporar adições às normas para ampliar o seu

conteúdo com o objectivo de cobrir sectores não abrangidos pelas normas do IASB.

A Australian Accounting Standard AASB 111 - Construction Contracts emitida pelo

AASB veio substituir a AASB 1009 e a AAS (Australian Accounting Standard) 11,

anteriores normas australianas destinadas à contabilização dos contratos plurianuais de

construção. Segundo o AASB, as entidades que cumpram a AASB 111, que se tornou a

equivalente australiana da IAS 11, estarão simultaneamente em conformidade com as

normas australianas e com as normas do IASB. O Board com o intuito de promover a

comparabilidade entre os relatos financeiros das entidades australianas, não permitiu que

estas adoptassem a norma antes da sua data em vigor.

A mesma norma conta ainda com um apêndice que é destinado fundamentalmente às

entidades sem fins lucrativos, que exige, ainda que não fazendo parte da norma, que esta

seja também aplicada aos contratos de construção não comerciais e acordos semelhantes

(AASB: 2004).

iGAAP’s para o Sector Público

Além das jurisdições supra citadas, existe ainda um organismo que importa referenciar - o

International Public Sector Accounting Standards Board (IPSASB) - por ser responsável

pelas normas internacionais de contabilidade destinadas ao sector público.

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Trata-se da organização responsável por emitir9 as normas necessárias para satisfazer as

necessidades de relato contabilístico e financeiro dos governos nacionais, regionais,

locais, agências governamentais, entre outras entidades equiparadas. A sua estratégia

fundamental rumo à harmonização internacional é fazer convergir as International Public

Sector Accounting Standards (IPSAS) com as IFRS emitidas pelo IASB. Para facilitar

esta estratégia, a IPSASB desenvolve as suas orientações e normas com base nas IFRS

modificando-as para aplicação por entidades do sector público.

A IPSAS 11 - Construction Contracts, que se tornou efectiva para as demonstrações

financeiras anuais que cubram os períodos iniciados em ou após 1 de Julho de 2002, é

aplicada na contabilização dos contratos de construção a todas as empresas do sector

público desde que não sejam Government Business Enterprises, e que preparem e

apresentem demonstrações financeiras em regime contabilístico do acréscimo.

Esta norma é baseada na IAS 11 e as principais diferenças entre ambas são as seguintes

(IPSASB):

• Comentário adicional para o que está na IAS 11 e foi incluído na IPSAS 11 para

clarificar a aplicabilidade das normas de contabilização pelas entidades do sector

público.

• IPSAS 11 usa uma terminologia diferente, em certos casos, da IAS 11. Os

exemplos mais significativos são a utilização dos termos entity, revenue e statement

of financial performance na IPSAS 11. Os termos equivalentes na IAS 11 são

enterprise, income e income statement.

• IPSAS 11 inclui contratos não comerciais no âmbito da Norma.

2. Conceitos relevantes para o Relato Financeiro dos Contratos de

Construção

Como descrito na IAS 11, e também na nova NCFR 19, o objectivo destas normas é o de

“prescrever o tratamento contabilístico de réditos e custos associados a contratos de

9 O IPSASB além de emitir as normas internacionais de contabilidade destinadas ao sector público emite e promove ainda orientações e o intercâmbio de informações entre os contabilistas e aqueles que trabalham no sector público.

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construção” em que “a data em que a actividade do contrato é iniciada e a data em que a

actividade é concluída caem geralmente em períodos contabilísticos diferentes”. Devido

à característica de ocupar vários períodos contabilísticos, geralmente superiores a um ano,

os contratos de construção são designados por contratos plurianuais de construção. Para

efeitos de simplificação durante esta dissertação os contratos plurianuais de construção

serão apenas designados como contratos de construção.

Os contratos normalmente especificam metas ou objectivos. A capacidade do contratado

de atingir essas metas deve ser considerada na contabilidade dos contratos, e o seu não

cumprimento pode levar a redução de réditos ou aumento de custos10. Muitas vezes o não

cumprimento destas metas conduzem a penalidades no contrato.

O IASB e a SNC descrevem os contratos de construção como contratos especificamente

negociados para a “construção de um activo ou de uma combinação de activos que

estejam intimamente interrelacionados ou interdependentes em termos da sua concepção,

tecnologia e função ou do seu propósito ou uso final”. Os contratos podem ser negociados

para a construção de um activo único ou para a construção de um conjunto de activos, tais

como, “uma ponte, um edifício, uma barragem, um oleoduto, uma estrada, um navio ou

um túnel” (IASB: 2008b).

Os conceitos básicos sobre os contratos de construção do FASB não são muito distintos

dos do IASB e da SNC acima referidos. Já a DC 3, normativo actualmente em vigor em

Portugal11 e que foi na altura uma evolução ao normativo nacional, passou a definir os

contratos de construção como sendo aqueles que satisfaçam cumulativamente as seguintes

características (CNC: 1991):

• Respeitarem a construção de uma obra ou um conjunto de obras que constituam

um projecto único, tais como a construção de pontes, barragens, navios, edifícios e

peças complexas de equipamento;

• As datas de início e de conclusão da respectiva obra situarem-se em períodos

contabilísticos diferentes.

10 Presentemente fala-se em Rendimentos e Gastos para designar o que antigamente se intitulava como Proveitos/Réditos e Custos. Todavia, porque a IAS 11 ainda utiliza a terminologia antiga de Réditos e Custos, temo-la mantido na presente dissertação. 11 Até 31 de Dezembro de 2009.

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2.1 A Importância das Especificações do Trabalho no Reconhecimento do Rédito

As especificações descrevem o âmbito do trabalho a ser executado bem como detalhes

importantes como a quantidade e género de material a ser utilizado, o tempo necessário,

as fases do projecto, entre outros aspectos. Estas especificações são fundamentais para

estabelecer as formas de reconhecimento do rédito. Por exemplo, se o cliente fornecer

algum do material que será utilizado na construção, este não pode ser incluído nos réditos

e custos do contrato.

É fundamental identificar todas as variáveis durante as especificações evitando-se assim

erros no reconhecimento, mensuração e divulgação dos réditos e custos do contrato. De

acordo com o IASB, em primeiro lugar, é necessário identificar se um contrato de

construção, se encontra ou não, dentro do âmbito da IAS 11, e, se deve ser ou não

considerado um contrato de construção. Adicionalmente, se deve ou não, ser identificado

como uma venda de bens ou uma prestação de serviços dentro do âmbito da IAS 18.

De acordo com a IFRIC 15 Agreements for the Construction of Real Estate para que um

contrato de construção seja assim reconhecido, primeiro deve respeitar a definição de

contrato de construção disposta na IAS 11 que o descreve como (IASB: 2008b):

Um contrato de construção é contrato especificamente negociado para a

construção de um activo ou de uma combinação de activos que estejam

intimamente interrelacionados ou interdependentes em termos da sua concepção,

tecnologia e função ou do seu propósito ou uso final.

Cumprida esta exigência, o segundo passo é saber se o contratador12 (cliente) é capaz de

especificar os principais elementos estruturais do design do imóvel antes do início da

construção e/ou especificar grandes mudanças estruturais quando a construção estiver em

curso. Se as duas condições forem satisfeitas, então os custos e réditos do contrato podem

ser reconhecidos dentro do âmbito da IAS 11.

Caso contrário, ou seja, se o contrato for um contrato para construção de um activo, de

acordo com a IAS 11, mas se o contratador não tiver plena capacidade de especificar os

12 Contratador - Que contrata; pessoa ou empresa que contrata alguém para um trabalho. (Dicionários Editora, 2006)

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elementos do contrato e limitar-se apenas a especificar pequenas mudanças no design

básico, este acordo será tratado dentro do âmbito da IAS 18 do Rédito (IASB: 2008g).

Byrne e Forgeas (2008) analisam no seu artigo “Bridging the GAAP – Understanding &

Updates to IFRS” o que significa “especificar os elementos estruturais”. Afirmam que após

um longo debate, o IFRIC esclareceu que, por exemplo, a cor dos azulejos de uma casa de

banho não é uma especificação estrutural. Exemplos de especificações estruturais são

participações nas opções arquitectónicas, design geral da construção, selecção dos

projectos, selecção dos empreiteiros, entre outras.

Assim, se um contrato de construção estiver dentro do âmbito da IAS 18, a entidade

deverá distinguir se o acordo é uma prestação de serviços ou uma venda de bens. A IFRIC

15 determina nos seus parágrafos 15 e 16, respectivamente, que:

Se a entidade não está obrigada a adquirir e fornecer materiais de construção, o

acordo pode ser apenas um acordo para a prestação de serviços em conformidade

com a IAS 18.

Se a entidade está obrigada a prestar serviços em conjunto com materiais de

construção a fim de cumprir a sua obrigação contratual de entregar o imóvel para

o comprador, o acordo é um acordo para a venda de bens e os critérios para o

reconhecimento do rédito estabelecidos no n. º 14 da IAS 18 são aplicáveis.

Feita esta distinção, cabe à entidade analisar as características do contrato e determinar se

o acordo é uma prestação de serviços ou uma venda de bens, partindo do pressuposto que

o contratador não tem plena capacidade de especificar os elementos do contrato.

Quando a contabilização do contrato estiver dentro do âmbito da IAS 11, o contrato de

construção também inclui os contratos de “prestação de serviços que estejam

directamente relacionados com a construção do activo” (IASB: 2008d). Ainda dentro do

âmbito da IAS 11 encontram-se os “contratos para a destruição ou restauração de

activos e a restauração do ambiente após a demolição de activos” (IASB: 2008b).

O normativo português actualmente em vigor é omisso relativamente a este tema, e a nova

NCRF 19 não tem qualquer norma interpretativa ou nota explicativa que clarifique a quem

pertence a responsabilidade pelas especificações da obra tratada no âmbito da referida norma.

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21

Já o FASB, ao contrário do IASB, determina, logo no âmbito na SOP 81-1, que esta é

destinada à contabilização dos contratos de construção de bens ou às prestações de

serviços, em que as especificações são determinadas pelo cliente. E estas devem ser

relatadas nas demonstrações financeiras preparadas em conformidade com os princípios

contabilísticos geralmente aceites expressos na norma.

2.2 Os Diferentes Termos de Remuneração ao Contratado

Os contratos especificam os termos ou condições de pagamento e os períodos de

facturação do mesmo, que não devem ser relacionadas com o reconhecimento do rédito

do contrato13. A facturação na indústria da construção é diferente da das outras indústrias.

Na construção os termos de pagamento variam bastante de acordo com o tipo e termos do

contrato. Enquanto que em outros sectores normalmente a facturação é feita quando o

produto é entregue ao cliente e o montante da facturação é reconhecido como rédito14, nos

contratos de construção o montante e data de facturação dependem essencialmente de três

factores:

• O cumprimento de certos estágios da obra

• O montante de custos incorridos

• As estimativas para a conclusão

• Datas de pagamento pré-determinadas

Quando um contrato for considerado um contrato de construção de acordo com a IAS 11

ou de acordo com a NCRF 19, tendo em conta a remuneração do contratado15, aquele

contrato pode revestir duas formas (ou ser de dois tipos): contrato de preço fixado ou

contrato de “cost plus”.

Num contrato de preço fixado, o contratado concorda em realizar os serviços por um

montante fixado ou por uma unidade fixa de output. Embora o contrato seja por um preço

fixado, este pode ser frequentemente revisto como resultado de mudanças no decorrer da

construção. Este contrato é definido com sendo um “contrato de construção em que o

13 O reconhecimento do rédito não é realizado quando se factura, e é independente desta. 14 Todavia, o rédito somente deveria ser reconhecido de acordo como o princípio contabilístico da realização do mesmo (“estar realizado ou ser realizável e estar gerado”). 15 Contratado – diz-se daquele que trabalha sob contrato; recrutado, construtor (Dicionários Editora, 2006)

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22

contratador concorda com um preço fixado ou com uma taxa fixada por unidade de output,

que nalguns casos, está sujeito a cláusulas de custos escalonados” (IASB: 2008b).

O contrato de “cost-plus” é definido por Epstein e Jermakowicz (2008) de duas formas.

Na primeira forma do contrato de “cost plus”, o contrato “cost-without-fee”, o contratado

é reembolsado pelos custos permitidos, ou de outra forma definidos, mas não prevendo

uma remuneração, mas sim uma percentagem baseada nos custos anteriormente definidos.

Por outro lado, no contrato “cost-plus-fixed-fee”, o contratado é reembolsado pelos custos

mais uma renumeração prevista, ou seja, o preço do contrato é determinado pela soma das

despesas reembolsáveis e de uma renumeração fixada (remuneração que é, nada mais, do

que a margem de lucro).

Os contratos podem ainda ser formulados de várias formas e com inúmeras variações.

Podem apresentar-se exactamente como definidos anteriormente, ou podem conter uma

nova forma, apresentando características de um contrato de “cost-plus” ou de um contrato

de preço fixado, formando assim um novo tipo de contrato.

A IAS 11 e a NCRF 19 classifica-os apenas como contrato de preço fixado e contrato de

“cost-plus-fixed-fee”, embora não denomine este último desta forma, designando-o apenas

como contrato de “cost plus”. Mas, apesar de apenas apresentar estes dois tipos de

contratos, a norma é aplicada no reconhecimento dos réditos e custos de qualquer tipo de

variação destes dois tipos de contrato, desde que considerem todas as condições dos

parágrafos 23 e 24 da norma.

Além das formas apresentadas, o FASB, através da SOP 81-1, vai mais longe,

apresentando ainda outros dois tipos de contratos que os normativos anteriores não

apresentam. São eles:

• Os contratos “time-and-material” que são acordos para realizar todos os actos

previstos no contrato, por um preço fixo com base na taxa horária de alguma

medida das horas de trabalho necessárias (por exemplo, horas de trabalho directas)

e os custos dos materiais;

• Os contratos “unit-price” que são contratos para realizar todos os actos previstos

no contrato, por um preço fixado para cada unidade de produção.

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23

A DC 3 não se afasta muito do preconizado na IAS 11, declarando que os contratos de

construção são acordados ou por um preço previamente estabelecido (sujeito ou não a

revisão), sendo a obra realizada mediante um preço fixo global previamente estabelecido

para a empreitada. Ou a um preço obtido a partir dos custos suportados, sendo a entidade

que realiza a obra reembolsada pelos custos suportados acrescidos de uma percentagem

dos mesmos ou através de verbas fixas.

2.3 A Ponderação dos Riscos do Contrato na Formulação das Estimativas

Os contratados durante a execução da obra estão expostos aos mais variados riscos devido

ao meio envolvente do sector em que operam. Essa exposição ao risco é extremamente

importante para o relato financeiro e muitas vezes pode influenciar o reconhecimento dos

rendimentos do contrato. Por essa razão muitas vezes os contratos são sujeitos a

modificações devido às mudanças que surgem inesperadamente como a inflação ou um

aumento inesperado no preço dos materiais. Dessa forma os contratados estão sujeitos a

riscos inesperados como a alteração das condições de trabalho ou outras já citadas ao

longo do contrato.

Estes riscos podem causar relações difíceis entre o proprietário de um projecto e o

contratado. A falibilidade das previsões é uma importante fonte de risco na contabilização

dos contratos. O contratado deve ser capaz de fazer estimativas razoavelmente fiáveis

sendo este um pressuposto fundamental na contabilização do contrato.

As normas do IASB e Portuguesas não se debruçam especificamente sobre a matéria dos

riscos num contrato de construção. Apenas referem as provisões que devem ser feitas face

ao risco, ou que métodos adoptar para reconhecimento dos réditos quando as estimativas

sejam duvidosas, ou haja riscos inerentes ao contrato.

A ARB 45, pelo contrário, sugere que os riscos podem originar provisões por serem

incertos. No entanto, a mesma norma não discute a natureza desses riscos. A SOP 81-1

sugere que os riscos acrescidos do contrato (não recorrentes e não inerentes) raramente

são suficientes para colocar em causa a fiabilidade das estimativas do contrato, e faz uma

clara distinção entre os riscos acrescidos do contrato e os riscos inerentes ao negócio

(Miramontes e Rice, 2005).

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24

• Riscos acrescidos do contrato são riscos incomuns ou condições além daquelas

normalmente encontradas no tempo de actividade do contratado. Não são

considerados recorrentes, são alheios à actividade do contrato (não inerentes), e não

susceptíveis de razoáveis estimativas de probabilidade. Por exemplo, os riscos

acrescidos podem envolver acções judiciais ou governamentais, partes num contrato

não confiáveis e sobre os quais o desempenho depende, ou termos do contrato mal

definidos.

• Em contraste, os riscos inerentes ao negócio são os normalmente encontrados na

actividade do contratante, embora possam variar de contrato para contrato. Estes

riscos podem ser considerados no desenvolvimento de estimativas e na preparação

das demonstrações financeiras com base nessas estimativas.

2.4 Classificação dos Custos Aceites como Custos do Contrato

Os construtores estão inseridos num sector altamente concorrencial o que de certa forma

afecta a rentabilidade dos contratos de construção. Para que tornem os seus contratos bem

sucedidos, os contratados devem saber gerir eficazmente todos os custos do contrato.

Estando muitas vezes envolvidos em mais do que um contrato é importante que o

construtor registe os custos do contrato de forma separada, e possa gerir cada contrato de

forma única, e não tratar os custos dos contratos como um todo.

Mas este não é o único problema no reconhecimento dos custos do contrato. Além de

deverem ser imputados aos seus contratos específicos, aqueles custos devem ser

atribuídos aos seus períodos contabilísticos respectivos. Este ponto da investigação foca-

se na identificação de quais os custos que devem ser considerados custos directos do

contrato e quais os que lhe devem ser imputados.

Relativamente aos custos do contrato, a DC 3 não trouxe nenhuma evolução face ao POC,

não identificando, no seu conteúdo, que custos são permitidos num contrato de construção. O

POC por sua vez tem uma visão muito simplista na determinação dos custos do contrato.

Determina que o custo de produção do activo é a soma dos “custos das matérias primas e

outros materiais directos consumidos, da mão de obra directa, dos custos variáveis e dos

custos industriais fixos necessariamente suportados para o produzir e colocar no estado em

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25

que se encontra” (CNC: 2005)16. O POC exclui dos custos de produção os custos de

distribuição, os custos com a administração geral e os custos financeiros.

A SNC traz melhorias significativas neste campo, pois a NCRF 19 é idêntica a IAS 11.

Dessa forma o IASB, a SNC e o FASB não apresentam grandes divergências na

identificação dos custos que devem ser ou não reconhecidos como custos do contrato.

Face ao exposto, optamos por apresentar o estudo dos custos do contrato segundo a

estrutura da IAS 11 e da NCRF 19.

São definidos como fazendo parte dos custos do contrato os custos que se relacionem

directamente com o contrato específico, os custos que podem ser atribuíveis à actividade

do contrato em geral e possam ser imputados a contratos específicos, os custos que sejam

especificamente debitáveis ao cliente segundo os termos do contrato e todos os outros

custos atribuíveis a um contrato no período que vai desde a data de início do contrato até

à conclusão (IASB: 2008b).

Segundo a Estrutura Conceptual, o IASB e o SNC, os custos resultam do decurso das

actividades ordinárias (ou correntes) da empresa. Os custos do contrato podem assim ser

apresentados em três grupos como seguidamente se desenvolve.

Os Custos Directos do Contrato

O primeiro diz respeito aos custos que se relacionem directamente com o contrato

específico. São os custos directos e são alocados directamente aos custos da obra desde

que relacionados com o contrato. Estes incluem (IASB: 2008b):

• custos de mão-de-obra local, incluindo supervisão local;

• os custos de materiais usados na construção;

• a depreciação de activos fixos tangíveis utilizados no contrato;

• os custos de movimentar os activos fixos tangíveis e os materiais para e do local

do contrato;

• os custos de alugar de instalações e equipamentos;

16 Ponto 5.3.3 dos Critérios de Valorimetria.

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26

• os custos de concepção e de assistência técnica que estejam directamente

relacionados com o contrato;

• os custos estimados de rectificar e garantir os trabalhos, incluindo os custos

esperados de garantia; e

• reivindicações de terceiras partes.

A Problemática das Contingências e Provisões

As reivindicações de terceiros, caso a empresa tenha alguma obrigação legal possível para

com terceiros de os ressarcir por demoras ou erros na obra por exemplo, e as garantias

após a entrega da obra, segundo a IAS 11, devem ser divulgadas como uma contingência.

Caso esta obrigação torne provável que será necessário incorrer a um exfluxo de recursos

para a liquidar e a quantia da obrigação possa ser mensurada com suficiente fiabilidade, a

empresa deve criar provisões para as reivindicações e reconhecê-las de acordo com a IAS

37 - Provisões, Passivos Contingentes e Activos Contingentes.

No caso das garantias, a IAS 11 não define o seu tratamento contabilístico. Segundo

Costa e Alves (2008) a sua “imputação ao contrato deve ser efectuada à data de

conclusão da obra, de acordo com a probabilidade da existência de tais custos e caso

haja a possibilidade de os mesmos poderem ser razoavelmente estimados”. A maior parte

dos contratos têm disposições que permitem que os contratados mantenham uma

percentagem (muitas vezes de 5% ou 10%) por cada facturação até à conclusão da obra

ou até alguma outra condição.

A NCRF 19 ao excluir do seu conteúdo o paragrafo 45 da IAS 11, onde foi baseada, não

obriga as empresas que a adoptem que divulguem quaisquer passivos contingentes ou

activos contingentes. Como exemplos destas contingências temos custos de garantias,

reivindicações, penalidades ou possíveis perdas. Muitas vezes estas informações podem

ser significativas o bastante para pôr em causa a continuidade da obra e a continuidade da

própria empresa. Processos judiciais em que a empresa possa ter uma obrigação possível

de pagar grandes indemnizações que não foram divulgadas, são exemplos disso.

Em Portugal não existem em vigor normativos que tratem o tema das Contingências com

profundidade sendo isso uma lacuna grave e negativa para os interessados na informação

financeira do sector da construção. Não existe qualquer Directriz Contabilística que trate

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27

o assunto e o POC é extremamente pobre relativamente a este tema. Apenas no ponto 2.9

das Considerações Técnicas do POC existe uma referência quanto às provisões,

declarando-se que estas “têm por objecto reconhecer as responsabilidades cuja natureza

esteja claramente definida e que à data do balanço sejam de ocorrência provável ou

certa, mas incertas quanto ao seu valor ou data de ocorrência”. O POC determina ainda

que “o montante das provisões não pode ultrapassar as necessidades” e “não podem ter

por objecto corrigir os valores dos elementos do activo”.

A DC 3 faz uma pequena referência às provisões no seu ponto 8 declarando que “devem ser

constituídas provisões para as perdas previsíveis decorrentes da realização do contrato, no

termo de cada período contabilístico, independentemente do método adoptado” e, ainda,

para as “contingências que surjam durante o período de garantia da obra”.

O Tratamento dos Materiais Excedentários

No final do contrato, o material excedente, equipamentos, entre outros, podem ser

vendidos com o objectivo de reduzir os custos do contrato, desde que o rédito dessa venda

não esteja previsto no contrato. Este proveito da alienação, líquido de quaisquer despesas

de venda, é reconhecido como uma redução de custos e não como um aumento de

proveitos. Uma situação análoga a este exemplo foi dado por Epstein e Jermakowicz

(2006), ao argumentar que se os adiantamentos recebidos de clientes fossem investidos

pelo contratado temporariamente, em vez de estarem estagnados numa conta corrente, os

juros ganhos sobre esses investimentos poderiam ser tratados como rendimento

incidentais e utilizados na redução dos custos do contrato. Por outro lado, também pode

ser argumentado que, em vez de serem subtraídos aos custos do contrato, aqueles juros

podem ser adicionados aos réditos do contrato.

Custos Indirectos do Contrato

Este segundo grupo compreende os custos que podem ser atribuíveis à actividade do

contrato em geral e podem ser imputados a contratos específicos. Tratam-se de custos

como (IASB: 2008b):

• seguros;

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• os custos de concepção e assistência técnica que não estejam directamente

relacionados com um contrato específico; e

• gastos gerais de construção.

Este conjunto diz respeito aos custos indirectos do contrato. Para a sua imputação devem

ser usados métodos que sejam sistemáticos e racionais e sejam aplicados

consistentemente a todos os custos que tenham características semelhantes. Deverá ser

baseada no nível normal de actividade de construção.

As Bases de Imputação dos Gastos Gerais de Construção

Embora as bases de imputação dos gastos gerais de construção possam ser muitas, a base

da atribuição que parece mais racional é o rédito do contrato. Além disso, uma vez que

estes gastos são de natureza similar, imputá-los com base no montante dos réditos gerados

por cada contrato de construção iria satisfazer os critérios de consistência (Epstein e

Jermakowicz; 2008).

No que diz respeito aos gastos gerais de construção, a norma determina que incluem

custos como a preparação e processamento da folha de salários do pessoal de construção,

e ela também fazia referência (na sua anterior versão) aos custos dos empréstimos obtidos

quando o contratado adoptasse o tratamento alternativo preconizado na IAS 2317.

A Problemática do Tratamento dos Custos Relacionados com os Empréstimos Obtidos

A opção do tratamento alternativo, da anterior versão da IAS 23, foi eliminada na mais

recente revisão da IAS 11 (resultante das alterações da IAS 23 – Borrowing Costs). A

nova versão da IAS 23, revista em Março de 2007, veio definir que a entidade deverá

capitalizar os custos de empréstimos obtidos que sejam directamente atribuíveis à

aquisição, construção ou produção de um activo elegível18 como parte do custo desse

17 O tratamento alternativo para reconhecer e mensurar os juros resultantes de financiamentos a MLP à construção era o da capitalização dos juros (pelo método do empréstimos específico ou pelo método da média ponderada das taxas de juro), por contraposição ao tratamento de referência, que implicava o reconhecimento daqueles juros como gastos do período. A IAS 23 (revista em 2007), seguindo a tendência da Harmonização Contabilística Internacional de suprimir os métodos alternativos nas normas, aceita agora somente o método da capitalização como único método de reconhecimento e de mensuração. 18 Activo elegível um activo que leva necessariamente um período substancial de tempo para ficar pronto para o seu uso pretendido ou para venda. IASB [International Accounting Standards Board], 2008e; (IAS 23, ¶5).

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activo, tornando assim o que era considerado o método alternativo o único método para o

tratamento dos custos dos empréstimos obtidos.

Como descrito na própria NCRF 19, esta foi baseada na versão da IAS 11 adoptada pelo

Regulamento (CE) nº 1725/2003, da Comissão. Mas a IAS 11 adoptada pela Comissão

não contém algumas das actualizações já feitas pela IAS 11 do IASB. Uma delas diz

respeito ao tratamento dos custos relacionados com os empréstimos obtidos. Assim sendo,

existe entre as normas uma divergência quanto ao tratamento destes custos, já que a

NCRF 19 (e IAS 11 da Comissão) continuam a permitir o Tratamento de Referência de

acordo com a NCRF 10 – Custos dos Empréstimos Obtidos (e IAS 23 da Comissão).

Por sua vez a NCRF 10 é baseada na IAS 23 – Custos dos Empréstimos Obtidos,

adoptada pelo Regulamento (CE) nº 1725/2003 da Comissão (com as alterações do

Regulamento (CE) nº 2238/2004 da Comissão). Mas, esta última também não se encontra

em conformidade com a mais recente actualização da IAS 23 do IASB, publicada em

Março de 2007.

Os custos excluídos do Contrato

São excluídos dos custos de um contrato de construção os custos que não podem ser atribuídos

à actividade do contrato ou que não possam ser imputados a um contrato, tais como:

a) custos administrativos gerais quanto aos quais o reembolso não esteja

especificado no contrato;

b) custos de vender;

c) custos de pesquisa e desenvolvimento quanto aos quais o reembolso não esteja

especificado no contrato; e

d) depreciação de instalações e equipamentos ociosos que não sejam usados num

contrato particular.

No fim do contrato as instalações e equipamentos deixam de estar afectos ao mesmo.

Assim sendo, o seu valor residual19 também deverá ser retirado dos custos do contrato

por deixar de estar afecto ao contrato (IASB: 2008e).

19 Quantia estimada que uma entidade obteria correntemente pela alienação do activo, após dedução dos custos de alienação estimados (IASB: 2008c)

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A Depreciação dos Equipamentos Ociosos

Poderá haver períodos durante o contrato em que, por qualquer motivo (legal,

administrativo ou outro, excepto se constar nas cláusulas contratuais), a obra poderá ficar

suspensa por um determinado período de tempo. Durante este período, as depreciações

das instalações e equipamentos ociosos não devem ser afectas aos custos do contrato de

construção. De acordo com a IAS 16 - Property, Plant and Equipment/NCRF 7 – Activos

Fixos Tangíveis, a depreciação de uma activo não cessa quando o activo se tornar ocioso.

Assim sendo, estas depreciações deverão ser reconhecidas na demonstração de resultados

mas deverão estar fora do âmbito dos custos do contrato de construção.

Outros Custos Debitáveis ao Cliente

Existem outros custos que segundo os termos do contrato podem ser especificamente

debitáveis ao cliente sendo o contratado reembolsado. Os exemplos mais comuns da

norma são alguns custos gerais administrativos e custos de desenvolvimento.

O contrato inclui ainda os custos a si atribuíveis que vão desde a data da obtenção do

contrato até à conclusão final do contrato. São aqui incluídos, quando as condições assim

o permitirem, os custos pré-contratuais e excluídos os valores residuais dos equipamentos

e instalações no final do contrato acima referidos.

Custos Pré-Contratuais

Os custos pré-contratuais ou custos anteriores à assinatura do contrato são muitas vezes

motivo de divergências. Exemplos destes custos são custos de viagens, custos de

promoção, custos com reuniões, e quaisquer outros incorridos antes de se ganhar o

contrato e tendo como objectivo assegurar a sua obtenção, e que se prevê que venham a

ser recuperados, se o contrato for aceite.

A norma explícita que estes custos apenas serão reconhecidos e incluídos como parte dos

custos do contrato, se se relacionarem directamente com o contrato e se eles puderem ser:

• identificados separadamente

• mensurados com fiabilidade, e se

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31

• for provável que o contrato seja obtido (adjudicado)

Quando os custos incorridos para assegurar o contrato forem reconhecidos como gastos

do período em que sejam incorridos, não são incluídos nos custos do contrato quando o

contrato for obtido num período subsequente (IASB: 2008b).

Se o contrato for assegurado após a data do balanço, mas antes das demonstrações

financeiras terem sido autorizadas para emissão, e se for provável que o contrato seja

obtido, os custos separadamente identificados e mensurados com fiabilidade, podem ser

incluídos nos custos do contrato. Este acontecimento após a data do balanço dará lugar a

um ajustamento que deverá ser reconhecido de acordo com a IAS 10 – Events after the

Reporting Period (Events After the Balance Sheet Date or Subsequent Events).

2.5 Elementos do Réditos Adoptados na Determinação do Rendimento do Contrato

A Excepção à Regra Geral

O rédito e o seu reconhecimento têm sido uma das matérias mais divergentes e com maior

registo de actualizações ao longo das últimas décadas. Presentemente encontra-se em

curso uma extensa revisão deste tema, conduzida pelo IASB e pelo FASB, no âmbito do

“Norwalk Agreement” (projecto de convergência entre as IFRS’s do IASB e os SFAS do

FASB ou projecto de convergência entre os iGAAP’s e os US GAAP’s).

Nos contratos de construção o rédito do contrato é o montante total que o contratado

factura e recebe do cliente pelo trabalho executado. Segundo a IAS 18, que apresenta os

princípios gerais do reconhecimento do rédito do IASB, o rédito é definido como:

- influxo bruto de benefícios económicos durante o período proveniente do curso

das actividades ordinárias de uma empresa quando esses influxos resultarem em

aumentos de capital próprio, que não sejam aumentos relacionados com

contribuições de participantes no capital próprio.

O FASB, por sua vez, define rédito na SFAC (Statement of Financial Accounting

Concepts) nº 5 como:

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- influxos ou aumentos de activos de uma entidade ou liquidações dos seus

passivos (ou combinação de ambos) durante um período, derivados da entrega ou

produção de bens, prestação de serviços, ou outras actividades que constituam as

operações principais continuadas ou centrais da empresa.

Já o normativo nacional - POC e DC 3 - é omisso relativamente a esta definição e a DC

26, norma portuguesa actualmente em vigor para o tratamento do Rédito20, define o rédito

com base na definição do IASB.

São diversas as definições de rédito, mas todas elas apresentam, como ideia essencial, o rédito

como um influxo económico de bens e serviços gerados pela empresa. O seu reconhecimento

é, na maior parte dos casos, através do regime do acréscimo21, e em obediência aos princípios

contabilísticos da realização do rédito (“revenue recognition principle”)22 e do balanceamento

entre custos e proveitos (“matching principle”) em cada período (e no caso dos contratos de

construção, em cada contrato ou combinação de contratos).

As empresas normalmente reconhecem o rédito no ponto de venda (na entrega), seja

numa venda de bens ou numa prestação de serviços. Neste ponto as incertezas inerentes à

venda já foram dissipadas, já não existem dúvidas de que benefícios económicos fluirão

para a entidade e o preço de troca já é conhecido.

Mas os contratos plurianuais de construção são um caso particular do rédito. O seu

reconhecimento não obedece os mesmos princípios gerais de reconhecimento do rédito.

Nestes o construtor pode, por exemplo, facturar ao cliente em intervalos de tempo após

atingir diversas metas no projecto de construção. Intervalos de tempo estes que podem ser

em diferentes exercícios económicos. Nesta situação os réditos e custos são

frequentemente reconhecimentos através do método da percentagem de acabamento.

20 Até 31 de Dezembro de 2009. 21 Sob este regime os efeitos das operações e de outros acontecimentos são reconhecidos quando elas ocorrem (e não quando o dinheiro ou o seu equivalente seja recebido ou pago) sendo registadas nos livros contabilísticos e relatadas nas demonstrações financeiras dos períodos com os quais se relacionem. É o regime do acréscimo que dá lugar à chamada contabilidade patrimonial, onde surgem as contas de devedores e credores. O regime do acréscimo opõe-se ao regime de caixa. Ao primeiro pertencem os conceitos de rendimentos/proveitos e de gastos/custos. Ao segundo pertencem os conceitos de recebimentos e de pagamentos. 22 “Revenue is recognized when it is (1) earned and (2) either realized or realizable” (SFAC 5 do FASB); “Revenue is recognized when (1) it is probable that future economic benefits will flow to the entity and (2) these benefits can be measured reliably” (IAS 18 do IASB).

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33

Justificação para a Excepção da Regra Geral da Realização do Rédito

(Realization Rule)

É relativamente mais complicado a determinação dos réditos a serem reconhecidos por

uma empresa construtora do que os réditos a serem reconhecidos para a maioria das

outras empresas comerciais. Na regra geral, baseada na realização do rédito, os réditos

são geralmente reconhecidos quando o processo de venda está completo ou

substancialmente completo e a troca da propriedade do bem foi realizada. Para a maioria

das empresas, isso significa que o rédito é reconhecido quando a venda é feita.

Em algumas circunstâncias, no entanto, a realização pode ocorrer mais cedo ou mais tarde

do que no ponto de venda, como por exemplo quando bens só são produzidos mediante

determinada encomenda. Na contabilização dos contratos de construção, o rédito

geralmente é reconhecido conforme a construção progride, o que pode de certa forma ser

entendido como um incumprimento do princípio da realização do rédito.

As normas do IASB e as Normas Portuguesas não são claras sobre esta situação. Apenas

a norma do FASB, a SOP 81-1, estabelece uma analogia entre esses factores e uma

transacção de venda e sugere que o que está a ocorrer é uma venda contínua.

Na maior parte dos contratos de construção de activos, produção de bens ou prestação de

serviços em que as especificações são determinadas pelo cliente, normalmente o

contratado e o cliente possuem direitos a cumprir. O direito legal do comprador de exigir

uma performance específica do contrato, significa que o contratado, na verdade,

concordou em vender os seus direitos sobre a obra em curso conforme a obra progride.

Esta visão é consistente com os direitos legais do contratado: ele normalmente não tem

qualquer direito de propriedade sobre a obra em curso, mas tem direitos de retenção.

Além disso, o contratado tem o direito de exigir que o comprador, dependendo das

modalidades de pagamento, faça pagamentos progressivos para poder suportar a

propriedade do seu investimentos, até à data, caso estes preencham os requisitos do

contrato. O direito do comprador de apoderar-se da obra em curso por sua opção

(normalmente com penalidades), providencia evidência adicional para suportar este ponto

de vista (AICPA, 1981).

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34

Assim, a construção suporta o conceito de que o desempenho do contratado num sentido

económico é, na verdade, uma venda contínua e ao mesmo tempo uma transferência de

propriedade, que ocorre à medida que o trabalho progride.

Sob este ponto de vista, esta interpretação não é uma violação da realização do rédito,

mas sim um refinamento da regra geral para poder reconhecer os eventos que ocorrem no

âmbito de um contrato (Miramontes e Rice, 2005).

Composição dos Réditos do Contrato

Segundo a IAS 11 e a NCRF 19 o rédito do contrato deve compreender a quantia inicial

de rédito acordada no contrato mais variações no trabalho, reivindicações e pagamentos

de incentivos do contrato até ao ponto que seja provável que estas resultem em rédito e

que estejam em condições de serem fiavelmente mensurados (IASB: 2008b). Estes réditos

devem ser mensurados pelo seu justo valor recebido, ou a receber, do montante

estabelecido pelo contrato.

Muitas vezes a quantia do rédito acordada no início do contrato pode não permanecer a

mesma até ao seu desfecho. Acontece que o rédito de um contrato pode variar devido, por

exemplo, a alterações na obra, demoras na entrega, conclusão antes do prazo previsto,

entre outras situações.

A composição dos réditos aceites como réditos do contrato pelo FASB não difere

significativamente dos que são apresentados pelo IASB e pelo SNC. O POC e a DC 3, por

sua vez, são omissos quanto aos elementos que devem ser aceites como réditos do contrato.

Alterações na Concepção do Activo

Num contrato de construção inserido no âmbito da IAS 11 e da NCRF 19, um cliente

pode especificar alterações na concepção do activo ou outras alterações durante todo o

período do contrato. Estas modificações são consideradas Variações pois fazem com que

o rédito inicial do contrato varie, ou seja, que este diminua ou aumente. Mas estas só

podem ser incluídas no rédito do contrato quando seja provável que o cliente aprovará a

variação e a quantia de rédito proveniente da variação e a quantia de rédito possa ser

fiavelmente mensurada (IASB: 2008b).

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35

Os US GAAP’s definem alterações nas encomendas como as modificações feitas ao

contrato original que alteram as disposições contratuais mas sem acrescentar novas

disposições. Estas modificações podem ser feitas tanto pelo cliente como pelo contratado

e normalmente incluem mudanças na concepção, nos materiais, no prazo, entre outras.

A grande diferença entre o IASB/SNC e o FASB reside no facto de os US GAAP’s

permitirem que as modificações feitas nas encomendas possam ser contabilizadas sem

que o preço seja definido. De acordo com os US GAAP’s, a contabilização das alterações

nas encomendas sem preço definido depende das suas características e das circunstâncias

em que ocorrem. Assim,

• Com base no método do contrato completado, os custos que são imputáveis às

alterações sem preço definido devem ser diferidos como custos do contrato se for

provável que o total dos custos do contrato, incluindo os custos imputáveis às

alterações nas encomendas, sejam recuperados a partir dos réditos do contrato. A

recuperação deve ser considerada como provável se o acontecimento ou os eventos

futuros forem prováveis de ocorrer.

• Já de acordo com o método da percentagem de acabamento, as seguintes

orientações do parágrafo 62 da SOP 81-1 devem ser seguidas quando são feitas

alterações sem que o preço esteja definido:

• Os custos atribuídos às alterações de encomenda sem preço definido devem ser

tratados como custos do desempenho do contrato no período no qual os custos

são incorridos se não for provável que estes sejam recuperados através de uma

alteração no preço do contrato.

• Se for provável que os custos serão recuperados através de uma alteração no

preço do contrato, os custos devem ser diferidos (excluídos dos custos do

desempenho do contrato) até que as partes cheguem a um acordo sobre a

alteração no preço contratual, ou, em alternativa, devem ser tratados como

custos do contrato já realizados no período em que são incorridos, e os réditos

do contrato devem ser reconhecidos na medida dos custos incorridos.

• Se um ajustamento ao preço do contrato for feito num montante que exceda os

custos atribuíveis à alteração da encomenda, isto pode dar origem a um

reconhecimento, em determinadas circunstâncias. Especificamente, se o

montante do excesso pode ser estimado com fiabilidade, e se a sua realização é

provável, então, o preço do contrato original deve ser ajustado. Todavia, uma

vez que a fundamentação do montante dos réditos futuros é difícil, os réditos

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em excesso dos custos atribuíveis às alterações das encomendas sem preço

definido devem ser apenas registados em circunstâncias em que a sua

realização seja assegurada além de qualquer dúvida razoável (Epstein e

Jermakowicz, 2008).

O FASB é mais exaustivo, relativamente ao IASB, no tratamento das modificações

(variações) e menos rígido. Permite, perante as condições acima descritas, que as

modificações nas encomendas possam ser contabilizadas sem que o preço seja definido e

dependendo das características e das circunstâncias em que ocorrem.

Reembolso de Custos não incluídos no Contrato

Outras situações que podem levar a alterações no rédito do contrato são as Reivindicações

(“Claims”). As Reivindicações são quantias que o contratado procura cobrar do cliente

ou de uma outra terceira parte como reembolso de custos não incluídos no preço do

contrato (IASB: 2008b). Para explicar esta situação vejamos o exemplo de uma empresa

de construção encarregue da construção de uma barragem:

A empresa A encarregue de construir a barragem não detém know-how suficiente

para, numa primeira fase, demolir a antiga barragem. Assim sendo, subcontrata este

serviço à empresa C. A empresa A e C acordam em que a empresa C fica encarregue

pela demolição da antiga barragem e pela remoção dos destroços, num prazo de 2

semanas. Após o prazo acordado, a empresa C apenas demoliu a barragem não tento

retirados os destroços. Neste caso iremos supor que três situações poderão acontecer:

(a) A empresa A resolve aguardar mais alguns dias para que a empresa C remova os

destroços. Pelo atraso causado pela empresa C ao prazo total da obra a empresa

A poderá pedir uma reivindicação.

(b) A empresa A, para poder iniciar a obra, remove ela mesma os destroços. Neste

caso a empresa A pode pedir o reembolso pela remoção dos destroços, estando

perante uma situação de “back charge”. Nesta situação a empresa regista o “back

charge” como um montante a receber que servirá para reduzir os custos do

contrato.

(c) E a terceira e última, a empresa C contesta a decisão tanto em (a) ou (b) e torna-

se um processo judicial. Neste caso a empresa C deve registar para esta

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obrigação uma provisão no possível montante a pagar de acordo com a IAS 37, e

divulgá-la de acordo com a IAS 11.

As Reivindicações da alínea (a) e (c) e os “back charge” da alínea (b) só poderão ser

incluídas como parte do contrato, pela empresa A, após as duas condições seguintes terem

sido cumpridas (IASB: 2008b):

• as negociações tenham atingido um estágio avançado de tal forma que seja

provável que o cliente aceitará a reivindicação; e

• a quantia que seja provável ser aceite pelo cliente possa ser fiavelmente

mensurada.

O reconhecimento destas reclamações/reivindicações (“claims”) é semelhante nos US

GAAP’s. Para ambas as realidades o reconhecimento do montante dos réditos adicionais

do contrato relativos a reclamações/reivindicações (ou direitos a algo) é adequado apenas

quando as duas exigências acima expostas forem satisfeitas.

Mas, enquanto o IASB/SNC se limitam ao acima exposto, os US GAAP’s determinam

que as duas exigências acima descritas serão consideradas satisfeitas apenas quando da

existência de todas as seguintes condições (AICPA: 1981):

1. O contrato ou outra evidência constitui uma base jurídica para a reclamação; ou

um parecer jurídico foi obtido, indicando que sob as circunstâncias existe uma base

razoável para apoiar a reclamação.

2. Os custos adicionais são causados por circunstâncias imprevisíveis à data da

celebração do contrato e não são resultado de deficiências na performance do

contratado.

3. Os custos associados à reclamação são identificáveis ou de outra forma

determináveis e são razoáveis, tendo em conta o trabalho realizado.

4. As provas que suportam a reclamação são objectivas e verificáveis, e não

baseadas na opinião pessoal da gerência ou em queixas formais sem evidência.

Assim, pelos US GAAP’s, só quando forem cumpridos todos os requisitos acima descritos,

os réditos provenientes das reclamações/reivindicações devem ser reconhecidos, mas

apenas na medida em que os custos contratuais relacionados com a reclamação forem

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incorridos (incursos). Caso contrário, ou seja, quando os requisitos anteriores não forem

cumpridos, um activo contingente deve ser divulgado de acordo com os US GAAP’s.

Incentivos pagos ao Contratador

Os pagamentos de incentivos são a última forma que o cliente tem de aumentar as

quantias adicionais pagas ao contratado segundo o IASB/SNC. O FASB não se estende

muito quanto aos incentivos, limitando-se a declarar que é uma das formas de aumentar o

rédito do contrato.

Normalmente o cliente pode incentivar o contratado, por exemplo, a alcançar

determinados níveis de desempenho ou de qualidade, ou ao cumprimento antecipado do

prazo de entrega da obra, com o recurso ao pagamento de incentivos. Estes incentivos

podem ser incluídos no rédito do contrato desde que:

• o contrato esteja suficientemente adiantado e que seja provável que os níveis de

execução especificados serão atingidos ou excedidos; e

• a quantia dos pagamentos de incentivos possa ser fiavelmente mensurada.

3. A Problemática do Reconhecimento dos réditos e custos do Contrato

3.1 Método da percentagem de acabamento

Com certeza um dos pontos-chave na contabilização dos contratos de construção é o

método da percentagem de acabamento. Apesar de haver outros métodos alternativos para

o reconhecimento dos réditos e custos dos contratos de construção este é o único método

aceite pela IAS 11/NCRF 19. A anterior versão da IAS 11 admitia como métodos aceites,

além do método da percentagem de acabamento, o método do contrato completado (ou

terminado)23. No método do contrato completado os réditos e os custos do contrato são

reconhecidos apenas quando o contrato esteja cumprido ou substancialmente completado

(terminado). No decorrer da construção os custos não são reconhecidos como custos

(gastos do período). São capitalizados, isto é, reconhecidos como um activo (diferimento

dos custos). Os réditos provenientes da facturação intercalar são diferidos, isto é,

reconhecidos como um passivo e, portanto, não terão impacto nos resultados da empresa

23 Também se costuma intitular método da obra completa.

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até a conclusão do contrato. No método do contrato completado somente se reconhecem

gastos, rendimentos e resultados no último ano do contrato, ou seja, em regra, quando a

obra se encontra concluída24.

Este método deixou de ser aceite pela nova versão IAS 11, mas ainda é utilizado por

muitas empresas em países em que a sua utilização é aceite. O IASB excluiu este método

porque a sua utilização conduz a apresentação de resultados num determinado exercício

que não reflectem a real actividade desenvolvida pela empresa durante esse exercício.

Este método pode levar a resultados contabilísticos potencialmente enganadores em anos

de grandes lucros ou de grandes perdas.

Segundo, Epstein, B. e Jermakowicz, E. (2006), o pensamento mundial sobre esta

questão, ainda é bastante controverso. Por exemplo, as normas contabilísticas nacionais

do Reino Unido, da Austrália, da China e da Nova Zelândia reconhecem apenas o método

da percentagem de acabamento. Já a Alemanha, país reconhecido pela sua abordagem

conservadora e pela sua estreita ligação entre as regras contabilísticas e fiscais (seguidora

tradicional do modelo contabilístico continental ou napoleónico)25, parece ter tomado o

ponto de vista extremo ao aceitar somente o método do contrato completado, baseando a

sua escolha pelo princípio da prudência. Os países que aceitem ambos os métodos

manifestam uma clara preferência pelo método da percentagem de acabamento. Os US

GAAP´s, por exemplo, recomendam o método do contrato completado apenas quando as

estimativas são razoavelmente fiáveis segundo determinados parâmetros.

O método da percentagem de acabamento, por sua vez, é definido na IAS 11/NCRF 19

como se segue (IASB: 2008b):

O reconhecimento de rédito e de gastos com referência à fase de acabamento de um

contrato é muitas vezes referido como o método da percentagem de acabamento.

24 Em boa verdade, no método do contrato completado, relativamente aos gastos, reconhece-se um activo (existências) por contrapartida de outros activos (caixa, bancos, fornecedores); relativamente aos réditos, reconhece-se um activo (clientes) por contrapartida de um passivo (proveitos diferidos ou credores). Isto, em todos os anos anteriores ao da conclusão da obra. No último ano procede-se à transferência dos gastos e dos rendimentos/réditos diferidos para gastos e rendimentos efectivos do período e apura-se o resultado obtido com o contrato. Tem sido esta a contabilização tradicional, com orientação para a demonstração de resultados (e não para o balanço). 25 É curioso notar que, na Alemanha, a tradição de intervenção do Estado na Contabilidade sempre foi feita através do Ministério da Justiça e não do Ministério das Finanças, como ocorria (e ainda ocorre) na quase totalidade dos demais países do Continente Europeu, seguidores do modelo contabilístico referido.

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Segundo este método, o rédito contratual é balanceado com os gastos contratuais

incorridos ao atingir a fase de acabamento, resultando no relato de rédito, gastos e

lucros que possam ser atribuíveis à proporção de trabalho concluído.

O método da percentagem de acabamento apresentado pelo US GAAP’s, conceitualmente,

não se afasta do apresentado pelo IASB. O seu objectivo é reconhecer os réditos do contrato

conforme a obra avança. Para isso é necessário elaborar estimativas exactas e razoáveis que

possam medir a extensão do acabamento da obra. Para isso as empresas identificam várias

medidas e classificam-nas como medidas de “input” ou “output”.

Medindo a Fase de Acabamento Através de Medidas de Input e de Output

O método da percentagem de acabamento é determinado de várias maneiras e,

dependendo da natureza do contrato, a empresa dever usar aquele “que mensure com

fiabilidade o trabalho executado”. A norma apresenta três métodos para o cálculo da

percentagem de acabamento deixando em aberto para a utilização de outros métodos que

não estejam incluídos na norma. Os métodos são (IASB: 2008b):

• a proporção em que os custos do contrato incorridos no trabalho executado até

à data estejam para os custos estimados totais do contrato;

• levantamentos do trabalho executado; e

• conclusão de uma proporção física do trabalho contratado.

Os métodos apresentados são classificados como sendo medidas de “output” ou de

“ input”. O levantamento do trabalho executado e a conclusão de uma proporção física do

trabalho contratado são dois exemplos da medição através de uma medida de “output”. As

medidas de “output” são avaliadas em termos de resultados, tentando identificar

progressos até a conclusão do contrato através de medidas físicas. Já as medidas de

“ input” medem o progresso de um contrato em termos de esforços aplicados ao contrato,

como por exemplo, custos incorridos, horas de trabalho dispendidas dentre outros (Mirza,

Holt, e Orrell, 2007).

As medidas de “input” geralmente são consideradas mais fiáveis do que as medidas de

“output” por serem geralmente baseadas em custos históricos. O primeiro método,

referido pela IAS 11, para o cálculo da percentagem de acabamento é uma medida de

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“ input”. É o método mais utilizado para o cálculo da percentagem de acabamento e é

muitas vezes referido como método “cost-to-cost”. Este método consiste em determinar a

percentagem de acabamento através do rácio dos custos incorridos até a data sobre os

custos estimados totais do contrato.

Percentagem de acabamento =

Os custos estimados totais do contrato incluem os custos incorridos até a data e os custos

estimados para concluir o contrato.

Percentagem de acabamento =

A Importância dos Custos do Contrato na Percentagem de Acabamento

Sendo os custos totais do contrato de extrema importância para a determinação da

percentagem de acabamento do contrato, é necessário distinguir os elementos que

constituem cada um desses dois grupos distintos:

1. Os custos incorridos até a data

Incluem todos os custos já incorridos e aceites pela norma como custos do contrato.

2. Os custos estimados para concluir o contrato

São constituídos pelos custos estimados totais previstos no início do contrato

calculados com base nos preços que se espera que estejam em vigor quando estes

forem incorridos, menos os custos já incorridos até a data.

Os custos do contrato incorridos até à data devem incluir somente os custos do contrato

que reflictam o trabalho executado. Os custos relacionados com a actividade futura e os

pagamentos feitos a subcontratados por adiantamentos do trabalho executado segundo o

subcontrato devem ser excluídos dos custos do contrato incorridos até a data.

Os custos incorridos pelo contratado e relacionados com a actividade futura de contrato,

devem ser reconhecidos no balanço como um activo desde que seja provável a sua

recuperação, representando uma quantia devida pelo cliente muitas vezes classificado

como trabalho em curso (IASB: 2008b).

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Os custos estimados para concluir o contrato, outro componente do custo total, podem ser

determinados por uma variedade de formas. Por se tratarem de estimativas devem ser

revistas periodicamente, tendo principalmente em atenção às flutuações de preços e as

mudanças esperadas ou repentinas nos elementos de custos.

O método da percentagem de acabamento, calculado por qualquer uma das abordagens

referidas anteriormente, permite que o “rédito do contrato” seja “reconhecido como

rédito na demonstração dos resultados nos períodos contabilísticos em que o trabalho

seja executado. Os custos do contrato” sejam “geralmente reconhecidos como um gasto

na demonstração dos resultados nos períodos contabilísticos em que o trabalho com o

qual se relacionam seja executado” (IASB: 2008b).

Este método assenta em grande parte nos custos reconhecidos e a reconhecer durante o

contrato. Para que este método seja realmente fiável é necessário que os custos reconhecidos

e a reconhecer sejam os realmente aceites pela norma e as estimativas sejam fiáveis.

A Importância das Estimativas na Transparência dos Demonstrativos

Financeiros Apresentados

A necessidade inevitável de utilização de estimativas na mensuração dos resultados do

contrato é uma importante característica e limitação na apresentação da informação

financeira. Devido à incerteza dos resultados de qualquer actividade económica no

momento em que as decisões são tomadas, os resultados reais, muitas vezes não

correspondem às expectativas iniciais.

As estimativas são um factor indispensável na contabilização dos contratos de construção.

A complexidade e incerteza das actividades económicas raramente permitem medição

exacta dos resultados. As estimativas utilizadas devem ser constantemente revistas de

modo a reflectir as informações mais recentes disponíveis26.

26 O preconizado na IAS 8 ( 2005) – Políticas Contabilísticas, Alterações de Estimativas e Erros, deve sempre ser tido em consideração quando se alteram estimativas (tratamento prospectivo).

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Áreas críticas para a Estimativa

O método da percentagem de acabamento é aplicado numa base acumulada em cada

período contabilístico às estimativas correntes de rédito do contrato e custos do contrato

(IASB: 2008b). Quando uma estimativa é alterada, a percentagem de acabamento do

contrato do período corrente e posteriores é também alterada, por via dos custos

estimados para concluir, alterando-se assim a quantia de rédito e de gastos inicialmente

previstos de serem reconhecidos na demonstração dos resultados.

As alterações nas estimativas destes elementos são inevitáveis, à medida que a obra progride

e novos dados se tornam disponíveis. Por isso, as revisões nas estimativas destes elementos

devem ser feitas em tempo oportuno para estas poderem ser úteis à gestão no

acompanhamento dos progressos e eficiência na execução dos contratos. Regra geral, as

estimativas devem ser revistas com frequência suficientes para assegurar que as demonstrações

financeiras reflictam as melhores estimativas disponíveis no momento da emissão.

As estimativas não se relacionam com períodos anteriores e não são consideradas como

correcções de erros. Devem ser contabilizadas como alterações de estimativas contabilísticas

segundo a IAS 8 – Políticas Contabilísticas, Alterações de Estimativas e Erros (IASB:

2008b). O FASB exige que as revisões de estimativas do contrato sejam contabilizadas de

acordo com a Accounting Principles Board Opinion nº 20 – Accounting Changes.

Problemas Decorrentes da Aplicação do Método da Percentagem de

Acabamento

Conforme observado, a utilização do método da percentagem de acabamento pode

apresentar alguns inconvenientes. A principal razão é que a contabilidade deixa de ser

baseada no custo histórico e passa a ser prospectiva, ou seja, orçamental, e pode resultar

em desvios significativos entre o que foi estimado e orçamento e o que efectivamente

ocorreu, em termos de custos (gastos) e de proveitos (rendimentos) do contrato27. Alguns

27 Todavia, as IFRS’s do IASB e os SFAS do FASB, ao adoptarem cada vez mais a mensuração pelo Justo Valor em detrimento da mensuração pelo Custo Histórico, assumem abertamente a complexidade destas mensurações com base em Justos Valores de Mercado (quando existem mercados activos para os bens), ou com base em “proxy’s” dos Justos Valores de Mercado (quando não existem mercados activos), como são os Valores Presentes ou Valores Descontados utilizados nas mensurações, além do recurso acrescido a estimativas.

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outros problemas decorrentes da aplicação do método da percentagem de acabamento são

apresentados por Rodrigues, J. (2005), resumidamente:

• A utilização deste método pode originar distorções significativas nos resultados

apurados em cada exercício, caso as estimativas de custos a incorrer não sejam

fiáveis, ou caso os gestores dos projectos manipulem esses orçamentos.

• Normalmente quando os custos reais excedem os orçados é comum a ocorrência

de ocultação dos desvios negativos por parte dos gestores do projecto para continuar

a efectuar estimativas optimistas de custos a incorrer.

• As entidades muitas vezes para determinar o grau de acabamento, limitam-se a

comparar os custos incorridos com custos totais orçados desactualizados e com

grandes desfasamentos temporais.

• Os desvios são apenas reconhecidos num estágio muito avançado ou no final da

obra. Isto poderá provocar resultados incorrectos, ignorando assim o princípio da

prudência.

• Nas entidades com mais de uma obra, poderá haver a possibilidade de

transferência de custos entre obras, de forma a ocultar perdas em obras ou a

conseguir um maior reconhecimento de lucros em obras mais lucrativas

3.2 A Problemática do Método do Contrato Completado

Antes de nos debruçarmos sobre o reconhecimento dos réditos e custos do contrato de

construção, achamos melhor fazer uma análise sobre o método do contrato completado.

A IAS 11, desde a sua entrada em vigor em 1 de Janeiro de 1980, até a presente data,

apenas sofreu uma revisão realmente significativa em 1992. Ao longo daquele período

foram feitas várias emendas, muitas vezes devido a revisões de normas adjacentes à IAS

11, mas nunca com o objectivo de alterar o “core” da norma. Antes dessa revisão a norma

permitia a livre escolha entre o método da percentagem de acabamento e o método do

contrato completado para o reconhecimento do rédito do contrato. Uma das grandes

mudanças trazidas pela revisão de 1992 foi precisamente a exclusão do método do

contrato completado como método alternativo de reconhecimento dos réditos e custos nos

contratos de construção.

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Os US GAAP’s, por outro lado, ainda permitem a utilização de qualquer um dos métodos,

tal como a anterior versão da IAS 11. A ARB 45, actualmente em vigor, descreve o

método do contrato completado como:

“O método do contrato completado reconhece os réditos apenas quando o contrato estiver

concluído, ou substancialmente completo.”

Como já foi descrito, este método consiste em reconhecer os réditos e os custos do

contrato apenas quando o contrato estiver concluído ou substancialmente concluído. Este

método, que é alternativo ao método da percentagem de acabamento, é a causa de maior

divergência entre o IASB/SNC e o FASB na contabilização dos contratos de construção.

O método do contrato completado foi excluído da IAS 11 pelo IASB, mas os US

GAAP’s, assim como outras Jurisdições, mantêm-no nos seus normativos devido ao seu

carácter prudente. Os US GAAP’s, através da SOP 81-1, apresentam uma clara

preferência pelo método da percentagem de acabamento em detrimento do método do

contrato completado, mas se, e apenas se, as estimativas forem razoavelmente fiáveis e as

seguintes condições existirem (ACSEC, 1981):

1. O contrato celebrado pelas partes inclui disposições que especificam claramente

os direitos a cumprir sobre bens ou serviços a serem prestados e recebidos pelas

partes, a retribuição a ser trocada, e a forma e os termos de liquidação.

2. É esperado que o comprador satisfaça as suas obrigações ao abrigo do

contrato.

3. É esperado que o contratado desempenhe as suas obrigações contratuais.

Normalmente o método do contrato completado é utilizado nas jurisdições e normativos

em que é aceite para contratos de relativamente curto prazo, quando se sabe à partida que

os resultados das operações não variam substancialmente daqueles que seriam relatados

se fosse utilizado o método da percentagem de acabamento.

Segundo Kieso & Weygandt (2007), para os US GAAP’s, “The completed-contract

method should be used only (1) when an entity has primarily short-term contracts, or (2)

when the conditions for using the percentage-of-completion method cannot be met, or (3)

when there are inherent hazards in the contract beyond the normal, recurring business

risks. The presumption is that percentage-of-completion is better method and that the

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completed-contract method should be used only when the percentage-of-completion

method is inappropriate”.

Quando os contratos de construção não podem ser determinados com base no método da

percentagem de acabamento, dependendo da norma, o método usado deverá ser:

• Para o IASB/SNC: o “Cost recovery method” (Método do Lucro Nulo).

• Para o FASB: o Método do Contrato Completado

Uma adaptação de um quadro comparativo de Abdel-Khalik (1999) é apresentado a

seguir e permite reunir as principais diferenças entre os dois métodos:

Método Percentagem de Acabamento

Método do Contrato Completado

Definição Reconhece os réditos e custos de um contrato antes do término da obra. O reconhecimento baseia-se em medidas de input ou de output.

Reconhece os réditos e custos apenas após o contrato estar completo ou substancialmente concluído.

Critérios de Utilização

• Quando razoáveis e confiáveis estimativas podem ser feitas.

• Disposições contratuais especificam claramente os direitos das partes, a retribuição e a forma e os termos de liquidação.

• Qualquer das condições necessárias de utilização do método da percentagem de acabamento não existem.

• Há relativamente numerosos

contratos de curto prazo.

• Variação nas demonstrações pelo uso deste método em detrimento do método da percentagem de acabamento.

Contas do Balanço Utilizadas

• Construção em curso

• Clientes

• Facturação por

Conta do Contrato (Billings…)

Apresentação na Face do Balanço

• Activo Corrente,

ou

Custos de construção e lucros brutos reconhecidos no contrato de longo prazo. Saldo em dívida do já facturado. Valor facturado acumulado. Construção em Curso em excesso facturação já realizada (Billings).

Custos de construção. Saldo em dívida do já facturado. Valor facturado acumulado. Construção em Curso em excesso da facturação já realizada (Billings…).

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• Passivo Corrente

Passivos correntes

Demonstração de Resultados Réditos

Custos de construção

Lucro bruto

Facturação em excesso dos custos incorridos até à data e lucros do contrato reconhecidos. Reconhecido em cada ano baseada na percentagem de acabamento até a conclusão do activo. Custos anuais da construção incorridos no mesmo ano. Reconhecido cada ano, como a diferença entre os réditos e os custos de construção.

Facturação em excesso dos custos do contrato. Reconhecido apenas quando o contrato estiver concluído. Reconhecido apenas quando o contrato estiver concluído. Reconhecido apenas quando o contrato estiver concluído.

Tabela 2 – Percentagem de Acabamento vs Contrato Completado

(adaptação de um quadro comparativo de Abdel-Khalik, A.; 1999)

3.3 Reconhecimento dos Réditos e Custos do Contrato

Para que os réditos e custos do contrato associados a um contrato de construção sejam

reconhecidos é necessário que o desfecho do contrato de construção possa ser baseado em

estimativas fiáveis. As estimativas estão geralmente em condições de serem consideradas

fiáveis após a empresa ter aceite um contrato que estabeleça (IASB: 2008b):

• os direitos a cumprir por cada parte no que respeita ao activo a ser construído;

• a retribuição a ser trocada; e

• a maneira e os termos de liquidação.

Dessa forma, se o desfecho do contrato for fiavelmente estimado ou não, os réditos e os

custos do contrato poderão ser reconhecidos de formas distintas.

Quando o Desfecho é Estimado com Fiabilidade

Quando for provável que os benefícios económicos associados a um contrato de

construção fluirão para a empresa o desfecho de um contrato de construção é estimado

com fiabilidade se:

1. Num contrato de preço fixado (IASB: 2008b):

• o rédito do contrato pode ser mensurado com fiabilidade;

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48

• tanto os custos do contrato para o acabar, como a fase de acabamento do

contrato na data do balanço, podem ser mensurados com fiabilidade; e

• os custos de contrato atribuíveis ao contrato podem ser claramente

identificados e fiavelmente mensurados de forma que os custos reais do

contrato incorridos possam ser comparados com estimativas anteriores.

2. Num contrato de “cost plus”

• os custos do contrato atribuíveis ao contrato, quer sejam ou não

reembolsáveis, possam ser claramente identificados e fiavelmente mensurados

(IASB: 2008b).

Apenas quando cumpridos estes requisitos, dependendo do tipo de contrato, é possível

reconhecer os réditos e os custos associados ao contrato de construção como rédito e

gastos, respectivamente, com referência ao grau de acabamento da actividade do contrato,

à data do Balanço.

Quando o Desfecho Não é Estimado com Fiabilidade

Quando não for provável que os benefícios económicos associados a um contrato de

construção fluirão para a empresa, o desfecho de um contrato de construção não poderá

ser estimado com fiabilidade. Neste caso (IASB: 2008b):

• o rédito somente deve ser reconhecido até ao ponto em que seja provável que os

custos do contrato incorridos serão recuperáveis; e

• os custos do contrato devem ser reconhecidos como um gasto no período em que

sejam incorridos.

Um caso particular acontece durante as fases iniciais do contrato em que muitas vezes o

desfecho do contrato pode não estar em condições de ser estimado com fiabilidade. No

exemplo do contrato das barragens, anteriormente referido, se a empresa de construção

“A” estivesse a concorrer para ganhar o projecto, e, para isso, tivesse incorrido em custos

de uma viagem para apresentar o projecto, e, cinco meses depois, tendo sido seleccionada

para o projecto, ter incorrido num segundo custo, nomeadamente com a reunião de

apresentação detalhada do projecto ao cliente. Estamos perante um caso de custos pré-

contratuais em que de acordo com a norma, apenas o segundo custo incorrido, o da

reunião, está em condições de ser reconhecido, como custo do contrato, porque foi apenas

a partir dele que se tornou provável que o contrato fosse obtido.

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49

Neste ponto em que o desfecho do contrato não poder ser estimado com fiabilidade, por

ainda não haver na verdade um contrato assinado, mas é provável que a empresa recupere

alguns dos custos já incorridos, por haver indícios de que o contrato será fechado, segundo

a norma, o rédito do contrato será somente reconhecido até ao ponto dos custos incorridos

que se espera que sejam recuperáveis. No nosso exemplo, os réditos reconhecidos nesta

fase serão apenas os da reunião, que são aqueles que provavelmente serão reconhecidos

como custos do contrato. Os custos do contrato a serem reconhecidos serão apenas os da

reunião, sendo os custos de viagem registados como gastos de período da empresa na sua

demonstração de resultados, mas não fazendo parte dos custos do contrato.

Neste caso nenhum lucro é reconhecido, porque os réditos do contrato são somente

reconhecidos até ao ponto dos custos incorridos. Este método de reconhecimento de

réditos e custos é muitas vezes designado por método do lucro nulo28.

Reconhecimento dos Contratos de Construção pelo IASB fora do âmbito da

IAS 11

Se o acordo satisfaz a definição de um contrato de construção, mas o cliente é incapaz de

especificar os principais elementos estruturais do design do imóvel, antes ou durante

qualquer fase de construção, o reconhecimento do rédito e dos custos do contrato de

construção estão dentro do âmbito da IAS 18.

No caso de uma prestação de serviços, não estando a entidade obrigada a adquirir e

fornecer materiais de construção, o rédito do contrato é reconhecido com referência ao

grau de acabamento, quando o seu desfecho possa ser estimado com fiabilidade, ou seja

(IASB: 2008d):

• a quantia de rédito possa ser fiavelmente mensurada;

• seja provável que os benefícios económicos associados à transacção fluam para

a empresa;

• a fase de acabamento da transacção à data do balanço possa ser fiavelmente

mensurada; e

28 Esta é uma situação normal nos contratos plurianuais de prestação de serviços, tratados pela IAS 18-Rédito, como é por exemplo um contrato plurianual para fazer auditoria a uma grande empresa ou grupo económico, firmado com uma das Big Four Auditing and Assurance Companies,

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50

• os custos incorridos com a transacção e os custos para concluir a transacção

possam ser fiavelmente mensurados.

Já no caso do contrato de construção ser considerado uma venda de bens, a entidade após

verificar que o acordo não é de prestação de serviços e é um acordo para a venda de bens,

o rédito do contrato de construção é reconhecido se satisfazer as cinco seguintes

condições (IASB: 2008d):

• a empresa não retenha envolvimento continuado de gestão com grau geralmente

associado com a posse nem o controlo efectivo dos bens vendidos;

• a quantia do rédito possa ser fiavelmente mensurada;

• seja provável que os benefícios económicos associados com a transacção fluam

para a empresa; e

• os custos incorridos ou a serem incorridos referentes à transacção possam ser

fiavelmente mensurados.

Partindo do pressuposto que todas as condições anteriores estão cumpridas, a quinta condição

irá definir que método será usado no reconhecimento dos réditos do contrato de construção.

• a empresa tenha transferido para o comprador os riscos e vantagens

significativos da propriedade dos bens;

Normalmente a empresa transfere os riscos e vantagens significativos de um activo

quando há a transferência do documento legal ou há passagem da posse para o

comprador, por exemplo, nos casos de venda a retalho. Noutros casos, a transferência de

riscos e benefícios da posse ocorre num momento diferente da transferência do

documento legal ou da passagem da posse (IASB: 2008b).

Para o caso dos contratos de construção no âmbito da IAS 18, a IFRIC introduziu um novo

conceito de transferência dos riscos e vantagens significativos da propriedade dos bens para

o comprador, o “continuous transfer”. Segundo este conceito, extraído da Basis for

Conclusions on IFRIC Interpretation 15, se a entidade for transferindo para o comprador os

controlo e os riscos significativos da posse do contrato à medida que a construção avança, é

adequado reconhecer os réditos pelo método da percentagem de acabamento, ou seja, a

venda de bens pode ser reconhecida numa base contínua (continuous basis).

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51

Por outro lado, se a empresa contratada transferir para o cliente os riscos e vantagens

significativos da posse dos bens de uma única vez, na conclusão da obra, por exemplo,

então neste caso a entidade deve reconhecer o rédito de uma só vez, de acordo com a IAS

18. Desta forma, o IFRIC trás de volta para a contabilização dos contratos de construção,

ainda que de forma não explícita, o método do contrato completado, mas com outras

características, ou seja, apenas quando o cliente é incapaz de especificar os principais

elementos estruturais do design do imóvel antes e em qualquer fase de construção.

É importante que se faça esta distinção porque há diferenças significativas no

reconhecimento do rédito na IAS 11 e na IAS 18. A IAS 11 exige que os réditos e os

custos do contrato sejam reconhecidos pelo método da percentagem de acabamento. Esta

exigência deve-se ao facto deste método permitir que para os contratos de construção que

abranjam mais de um período contabilístico “o rédito do contrato seja reconhecido como

rédito na demonstração de resultados” apenas “nos períodos contabilísticos em que o

trabalho seja executado” (IASB: 2008b). Se os réditos de um contrato de construção

forem reconhecidos pela IAS 18 excluindo a prestação de serviços, sem ter em conta o

método da percentagem de acabamento, estes só seriam reconhecidos quando os critérios

de reconhecimento da venda de bens desta norma, estivessem satisfeitos. Sendo assim as

demonstrações financeiras nunca iriam reflectir o “real” valor económico gerado pela

entidade nos períodos do contrato.

Na DC 3, os resultados além de poderem ser determinados pelo método da percentagem

de acabamento, como já permitia o POC, podem também ser determinados pelo método

do contrato completado. A aplicação do método da percentagem de acabamento, ao

contrário do que se passava com o POC, passou a ser efectuada apenas se houver

possibilidades de se estabelecer estimativas fiáveis para os custos da construção.

Quando for utilizado o método da percentagem de acabamento, a entidade deve

reconhecer os réditos do contrato de acordo com o grau de acabamento da obra do

período em análise.

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52

No Âmbito do art. 19.º do CIRC e da Circular 5/90

Devido ao grande peso da fiscalidade na contabilidade em Portugal, importa analisar a

divergência existente entre a contabilidade e a fiscalidade, ao nível do reconhecimento

dos resultados nos contratos de construção. A problemática prende-se muitas vezes com a

utilização do critério fiscal na contabilização dos contratos de construção.

Ao nível fiscal, o artigo 19º do Código de IRC, Obras de Carácter Plurianual, apresenta os

princípios gerais a observar na determinação dos resultados de obras de carácter

plurianual. Este artigo vem determinar, ao nível fiscal, que os métodos aceites para a

determinação de resultados nas obras cujo ciclo de produção ou tempo de construção

sejam superiores a um ano, são o método de encerramento da obra ou o da percentagem

de acabamento. O artigo determina ainda quando é que é obrigatória a utilização do

método da percentagem de acabamento e como é calculado o grau de acabamento da

obra, e para o método do encerramento da obra, explícita quando é que a obra pode ser

considerada concluída para que possam ser reconhecidos os resultados.

Este artigo é complementado pela Circular 5/90, da Direcção-Geral dos Impostos que

prevê que o reconhecimento dos resultados deve ser feito com base no menor entre:

Grau de acabamento =

Grau de facturação =

Segundo a circular quando o grau de acabamento é superior ao grau de facturação, este

último deve ser usado no reconhecimento dos resultados do contrato. Esta possibilidade

da utilização de dois critérios, grau de acabamento e grau de facturação, para o

reconhecimento dos resultados do contrato, representa uma discrepância significativa

entre o preconizado pela Contabilidade e o preconizado pela Fiscalidade.

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53

Sobre estas duas realidades, Vieira dos Reis (1994) refere que são duas “ópticas

diametralmente opostas: enquanto a contabilística assenta no apuramento do resultado (…)

na realidade económica, a óptica fiscal baseia o referido apuramento na realidade formal”29.

A medição dos resultados a reconhecer no exercício através da facturação está em

completo desacordo com as normas internacionais de contabilidade. A IAS 11 enuncia

que “os pagamentos progressivos e os adiantamentos recebidos dos clientes não

reflectem muitas vezes o trabalho executado”. (IASB: 2008b)

Muitas empresas, como já foi referido, ao utilizar os critérios fiscais na contabilização dos

contratos de construção, violam uma das Características Qualitativas da Informação

Financeira a Relatar, referida na Estrutura Conceptual do IASB, (princípio da substância

sobre a forma) ao fazer com que a forma legal da operação prevaleça sobre a sua substância e

realidade financeira. 30 Alves (1998) afirma ainda que “o princípio da substância sobre a

forma não é atendido na posição fiscal do mesmo modo que os princípios da especialização e

da prudência não são tomados em consideração em toda a sua extensão”.

O art. 19.º do CIRC afasta-se novamente das normas internacionais de contabilidade ao

permitir, no seu número 1, a utilização do critério de encerramento da obra (método do

contrato completado), já excluído da IAS 11 desde a revisão de 1995.

Em suma, o critério contabilístico não coincide com o aplicado fiscalmente. Este último

conduz a resultados inferiores aos encontrados na aplicação dos critérios contabilísticos.

A diferença entre a quantia escriturada e a sua base de tributação gera uma diferença

temporária que deve ser tratada de acordo com as IAS 12 ou NCRF 25 - Impostos Sobre o

Rendimento, dependendo se a empresa em questão utilizará o primeiro ou segundo nível

do novo modelo de normalização contabilística da CNC.

Torna-se evidente que a utilização dos critérios fiscais para a contabilização e

consequente apresentação dos resultados nos contratos de construção, induz a

demonstrativos financeiros que não apresentam condições de comparabilidade31.

29 Vieira dos Reis, referido por Alves, G. (1998) 30 Caracteristica Qualitativa da Substancia Sobre a Forma já referida da nota de rodapé número 3 da página 18. 31 Os utentes devem ser capazes de comparar as demonstrações financeiras de uma empresa através do tempo a fim de nelas identificar tendências na posição financeira e no desempenho. Os utentes devem ser

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54

A circular regula ainda os trabalhos adicionais, as revisões de preços e os custos com

garantias.

Mas o Decreto-Lei n.º 159/ 2009, de 13 de Julho, Série I – n.º 133, com efeito a partir de

01/01/2010, vai alterar o artigo 19º do Código de IRC. Este decreto visa proceder à

adaptação do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas, que foi

aprovado pelo Decreto-Lei n.º 442 -B/88, às normas internacionais de contabilidade

adoptadas pela União Europeia e ao Sistema de Normalização Contabilística, aprovado

pelo Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho.

A partir de Janeiro de 2010, os resultados dos contratos de construção cujo ciclo de

produção ou tempo de execução sejam superiores a um ano devem ser determinados

segundo o critério da percentagem de acabamento tendo sido excluído o método do contrato

completado através do Decreto-Lei n.º 159/ 2009, de 13 de Julho Série I – n.º 133.

Comparativamente:

Art. 19.º - Obras de carácter plurianual Actualmente em Vigor Em Vigor a Partir de 01/01/2009

1 - A determinação de resultados em relação a obras cujo ciclo de produção ou tempo de construção seja superior a um ano pode ser efectuada segundo o critério de encerramento da obra ou segundo o critério da percentagem de acabamento. 2 - É obrigatória a utilização do critério da percentagem de acabamento nos seguintes casos: a) Nas obras públicas ou privadas efectuadas em regime de empreitada, quando se verifiquem facturações parciais do preço estabelecido, ainda que não tenham carácter sucessivo, e as obras realizadas tenham atingido o grau de acabamento correspondente aos montantes facturados; b) Nas obras efectuadas por conta própria vendidas fraccionadamente, à medida que forem sendo concluídas e entregues aos adquirentes, ainda que não sejam conhecidos exactamente os custos totais das mesmas. 3 - Para efeitos de aplicação do critério do encerramento da obra, esta é considerada concluída: a) Quando, estando estabelecido o preço no

1 - A determinação dos resultados de contratos de construção cujo ciclo de produção ou tempo de execução seja superior a um ano é efectuada segundo o critério da percentagem de acabamento. 2 - Para efeitos do disposto no número anterior, a percentagem de acabamento no final de cada período de tributação corresponde à proporção entre os gastos suportados até essa data e a soma desses gastos com os estimados para a conclusão do contrato.

3 - Não são dedutíveis as perdas esperadas relativas a contratos de construção correspondentes a gastos ainda não suportados.

capazes de comparar as demonstrações financeiras de diferentes empresas a fim de avaliar de forma relativa a sua posição financeira, o seu desempenho e as alterações na posição financeira.

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contrato ou sendo conhecido o preço de venda, o grau de acabamento seja igual ou superior a 95%; b) Quando, nos casos de obras públicas em regime de empreitada, tenha lugar a recepção provisória nos termos da legislação aplicável. 4 - O grau de acabamento de uma obra, para efeitos do disposto nos números anteriores, é dado pela relação entre o total dos custos já incorporados na obra e a soma desses custos com os custos estimados para completar a execução da mesma. 5 - Nos casos em que, nos termos dos números anteriores, sejam apurados resultados quanto a obras em que ainda não tenham sido suportados os custos totais necessários para o seu acabamento, pode ser considerada como receita antecipada uma parte dos proveitos correspondentes aos custos estimados a suportar. 6 - Salvo autorização prévia da Direcção-Geral dos Impostos, as empresas envolvidas em obras de carácter plurianual devem: a) Adoptar o mesmo critério de apuramento de resultados para obras de idêntica natureza; b) Manter até ao final da obra o método adoptado para o apuramento de resultados da mesma.

4 — [Revogado]. 5 — [Revogado]. 6 — [Revogado].

Tabela 3 – Comparação do art. 19.º do CIRC

(Elaboração Própria)

3.4 A Problemática da Mensuração dos Réditos, Custos e Lucros do contrato

Segundo a EC do IASB/SNC, a mensuração é o processo de determinar as quantias monetárias

pelas quais as classes das demonstrações financeiras devem ser reconhecidas e inscritas nas

demonstrações financeiras (Balanço e Demonstração de Resultados). (IASB, 2008a).

Quando os réditos do contrato são reconhecidos através do método da percentagem de

acabamento estes devem ser mensurados através da aplicação da percentagem de

acabamento ao preço do contrato mais ou menos variações, reclamações e incentivos. A

este resultado deverão ser retirados os réditos já reconhecidos previamente, para encontrar

os réditos do contrato a serem reconhecidos no período

Réditos do Período = [% Acabamento × (Preço contrato ± Variações ± Reclamações +

Incentivos)] – Rédito anteriormente reconhecido

Raciocínio idêntico será aplicado aos lucros do contrato, para cada período em análise:

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Lucros do Período = [(% Acabamento × Lucro bruto total esperados) – Lucro

anteriormente reconhecido]

Sabendo que:

Lucros bruto total esperado = (Preço contrato ± Variações ± Reclamações +

Incentivos) - Custos estimados totais do contrato

Este raciocínio é idêntico para o IASB e o FASB. No POC a valorimetria é feita ao custo

de aquisição ou ao custo de produção, sendo este último a soma dos “custos das matérias

primas e outros materiais directos consumidos, da mão de obra directa, dos custos

variáveis e dos custos industriais fixos necessariamente suportados para o produzir.”

(CNC: 2005)32. A norma, no mesmo ponto, exclui dos custos de produção os custos de

distribuição, os custos com a administração geral e os financeiros.

De acordo com o POC os trabalhos em curso de carácter plurianual, como as obras,

podem ser valorizados, no fim do exercício, pelo método da percentagem de acabamento

ou, alternativamente, mediante a manutenção dos respectivos custos até ao acabamento

(CNC: 2005)33. Há assim um uso indiferenciado de qualquer um dos métodos,

dependendo apenas do contratado, utilizando aquele que for mais conveniente.

4. Situações Especiais no Contrato

4.1 Combinação e Segmentação

Normalmente os contratos de construção são negociados para a construção de um activo

único, ou seja, tal como descreve a norma, uma ponte, um edifício, uma estrada, entre

outros. Mas estes contratos também podem ser negociados para a construção de mais do

que um activo. Voltemos ao caso da barragem e consideremos dois exemplos distintos. O

caso da construção de uma barragem, em que a empresa de construção A apresenta uma

proposta ao cliente X, e a empresa B apresenta uma proposta ao cliente Y.

(a) A primeira empresa, a empresa A, apresenta a pedido do seu cliente duas

propostas. Uma proposta para a construção de uma barragem em Lisboa e outra

para a sua manutenção durante os 5 primeiros anos, e

32 Ponto 5.3.3 dos Critérios de Valorimetria. 33 Ponto 5.3.17 dos Critérios de Valorimetria.

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(b) A segunda empresa, apresenta a pedido do seu cliente Y, duas propostas sendo a

primeira para a demolição de uma barragem antiga no Porto e a segunda para a

construção de uma nova no mesmo local, que irá possuir um melhor

aproveitamento da energia hidroeléctrica.

Assim verificamos que contratos podem ser feitos para a construção de mais do que um

activo. A problemática por detrás deste tipo de contrato é quando é que estes podem ser

agrupados em um único contrato de construção (Combinação) e quando é que estes devem

permanecer separados e serem considerados contratos de construção únicos (Segmentação).

Voltemos aos exemplos apresentados partindo do pressuposto que os contratos foram

aceites e que reúnem todas as condições para serem tratados como contratos de

construção pelas empresas contratadas. No primeiro caso, o caso da empresa A, o contrato

pode ser combinado e tratado como um único contrato se (IASB: 2008b):

• Os dois contratos forem negociados como um pacote único;

• Os contratos estiverem tão intimamente interrelacionados que sejam, com efeito,

parte de um projecto único com uma margem de lucro global; e

• Sejam executados simultaneamente ou numa sequência contínua.

No caso da empresa B, as duas propostas podem ser segmentadas e tratadas como

contratos de construção separados se (IASB: 2008b).:

• Propostas separadas forem submetidas para cada activo

• Cada activo tenha sido sujeito a negociação separada e

• Os custos e réditos de cada activo possam ser identificados.

4.2 Activos Adicionais, Adições e Contabilização de Contrato Opções

A IAS 11/NCRF 19 apresenta ainda outra hipótese de segmentação do contrato de

construção. Acontece quando há a inclusão de um activo adicional por opção do cliente.

Este activo adicional pode ser incorporado no contrato se (IASB: 2008b):

• O activo não diferir significativamente na concepção, tecnologia ou função do

activo ou activos cobertos pelo contrato original; ou

• O preço do activo for negociado tendo em atenção o preço original do contrato.

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58

Caso contrário, a construção do activo adicional deve ser tratada como um contrato de

construção separado segundo a norma. O normativo português é omisso relativamente a

estas matérias.

Já os US GAAP’s afirmam que uma adição (activo adicional) ou uma opção a um

contrato existente devem ser tratadas como um contrato de construção separado se existir

alguma das circunstâncias a seguir descriminadas, sendo as duas primeiras semelhantes às

do IASB/SNC (Epstein, Nach e Bragg, 2008):

• O produto ou serviço a ser fornecido diferir significativamente do produto ou

serviço fornecido coberto pelo contrato original;

• O preço do produto ou serviço é negociado sem ter em atenção o preço original

do contrato e envolver diferentes decisões económicas.

• Os produtos ou serviços a serem fornecidos sob a opção exercida ou alteração,

são semelhantes aqueles sob o contrato original, mas o preço do contrato e a relação

dos custos antecipados do contrato são significativamente diferentes

A SOP 81 determina que (ACSEC: 1981),

• Se a adição ou a opção não satisfazerem as condições acima expostas, os

contratos devem ser combinados.

• No entanto, se a adição ou a opção não satisfaz os critérios para a combinação,

eles devem ser tratados como alterações na encomenda.

4.3 Empreendimentos Conjuntos e Contratos Partilhados

Muitas vezes as empresas, com o objectivo de obterem contratos de construção que

seriam pouco prováveis de conseguir individualmente, formam empreendimentos

conjuntos. Dessa forma as empresas podem partilhar um contrato e agir como uma única

empresa, sem que nenhuma delas perca a sua personalidade jurídica. Estes

empreendimentos têm períodos de vida limitados normalmente até ao fim do contrato.

Por ser uma situação bastante comum nos contratos de construção, os US GAAP’s

determinam que quando surgirem acordos semelhantes, o tipo de acordo é que

determinará a natureza dos registos contabilísticos. Em cada período, cada empreendedor

deverá reconhecer a sua parte no resultado global acumulado do empreendimento

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59

conjunto menos a sua parte naquele resultado já anteriormente reconhecida como um item

de linha única semelhante ao método de equivalência patrimonial para os investimentos.

De forma similar, no balanço de cada empreendedor deve ser reconhecido um activo,

numa linha única, correspondente ao saldo do investimento (contabilizado pelo método da

equivalência patrimonial) e adiantamentos relativamente ao empreendimento conjunto.

Na maior parte dos casos, a divulgação é semelhante ao método da equivalência

patrimonial nas demonstrações financeiras condensadas do empreendimento conjunto

(Epstein, Nach e Bragg, 2008).

De acordo com as normas do IASB, os empreendimentos conjuntos são regulados pela

IAS 31 – Interests in Joint Ventures. Mas deve-se ter em consideração que os

empreendimentos conjuntos são uma matéria que deve ser separada da contabilização dos

outros tipos de investimentos. Os outros investimentos, que são regulados de acordo com

a IAS 28 - Investments in Associates, são reconhecidos de acordo com o método de

equivalência patrimonial, tendo sido excluída a contabilização dos investimentos pelo

método da consolidação proporcional.

De acordo com a IAS 31 os empreendimentos conjuntos, mesmo partilhando

características comuns com os outros tipos de investimentos, fazem parte de uma matéria

que não deve ter um tratamento contabilístico semelhante (IASB: 2008b). A razão é que

nos empreendimentos conjuntos os empreendedores podem até ter uma clara influência

significativa sobre a entidade investida, mas não tem controlo absoluto, portanto uma

consolidação completa é normalmente injustificada.

Assim, os empreendimentos conjuntos podem ser contabilizados de acordo com dois métodos

diferentes, o método da consolidação proporcional e o método da equivalência patrimonial,

ainda que não sejam na verdade consideradas alternativas para as mesmas situações.

O tratamento de referência, de acordo com a IAS 31, é o método da consolidação

proporcional que obriga o empreendedor a contabilizar a sua parte em cada um dos activos,

passivos, rendimentos e gastos da entidade conjuntamente controlada sendo combinada linha

a linha com itens semelhantes das demonstrações financeiras do empreendedor ou relatada

como linhas de itens separadas nas demonstrações financeiras do empreendedor.

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60

Na verdade, Epstein e Jermakowicz (2008), declaram que esta técnica é muito eficaz para

transmitir o verdadeiro alcance das operações de uma entidade, quando essas operações

incluem interesses em uma ou mais entidades conjuntamente controladas. E vão mais

além, dizendo que as IFRS, a este respeito, estão mais avançadas do que as normas

americanas, inglesas ou de qualquer outro país, que na melhor das hipóteses, permitem a

consolidação proporcional, mas não obrigam a este tratamento contabilístico.

Desta forma, notamos que existe ainda alguma divergência entre US GAAP’s e as normas do

IASB na definição do método a adoptar na contabilização dos empreendimentos conjuntos34.

4.4 Perdas Esperadas num Contrato de Construção

Porém, existem casos em que mesmo quando o desfecho do contrato não possa ser

fiavelmente estimado, pode ser provável que os custos totais do contrato excedam os

réditos totais do contrato. Nesse caso, qualquer excesso esperado dos custos totais do

contrato sobre o rédito total do contrato é reconhecido imediatamente como um gasto.

Assim, ao longo do contrato de construção as perdas podem ser de dois tipos:

• Perda no período corrente num contrato lucrativo

• Perdas num contrato não-lucrativo

O primeiro caso ocorre normalmente durante o período de construção. Acontece quando há

um aumento significativo nos custos estimados totais do contrato, mas esse aumento não

elimina todo o lucro do contrato. De acordo com o método da percentagem de acabamento

(e somente neste método), o aumento dos custos estimados exige um ajustamento no

período corrente do lucro bruto do contrato já reconhecido em períodos anteriores. A

34 O IASB, em 13 de Setembro de 2007, emitiu um ED (Exposure Draft), ED 9, Joint Arrangements, o qual se destina a substituir a IAS 31, Interests in Joint Ventures e a SIC 13, Jointly Controlled Entities: Nomonetary Contributions by Ventures. Trata-se de um projecto de convergência no curto prazo entre o IASB e o FASB. As principais alterações propostas são: (1) Uma entidade somente deverá reconhecer activos que de facto controla e somente reconhece passivos que são obrigações presentes. Presentemente a abordagem contabilística de acordo com a IAS 31 conduz ao reconhecimento de activos que não são controlados e ao reconhecimento de passivos que não são obrigações presentes. (2) A possibilidade de escolher métodos alternativos de contabilização das entidades controladas conjuntamente irá ser removida, melhorando a comparabilidade do relato financeiro. O IASB propõe a eliminação do método da consolidação proporcional, um método que não é oficialmente aceite pelos US GAAP’s (embora utilizado por muitas entidades construtoras e outras). Se as partes somente têm direito a uma parte no resultado das actividades do empreendimento, o seu interesse líquido deve ser reconhecido utilizando o método da equivalência patrimonial.

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empresa regista este ajustamento como uma perda no período em curso, porque é uma

alteração na estimativa contabilística. Contudo, o projecto continua a ser lucrativo.

Já no caso de perda num contrato que deixa de ser lucrativo quando concluído, os custos

estimados para o fim do período corrente indicam que na sua conclusão todo o contrato

irá resultar numa perda. Tanto no âmbito do método da percentagem de acabamento como

no método do contrato completado, a empresa deve reconhecer, no período em curso,

todas as perdas esperadas do contrato (Kieso, Weygandt e Warfield. 2007, 2009)35.

As perdas esperadas de um contrato de construção devem ser reconhecidas imediatamente

como um gasto quando for provável que os custos totais do contrato excedam o rédito total

do contrato. A quantia da perda é determinada independentemente de (IASB: 2008b):

• ter ou não ter começado o trabalho do contrato;

• a fase de acabamento da actividade do contrato; ou

• a quantia de lucros que se espere que surjam noutros contratos que não são

tratados como um contrato de construção único como os contratos combinados.

4.5 Informação financeira em que a divulgação é exigida

A IAS 11 exige as seguintes divulgações para todas as empresas que reconheçam os

custos e réditos do contrato de construção de acordo com a IAS 11 ou de acordo com a

IAS 18 (IASB: 2008b):

• a quantia do rédito do contrato reconhecida como rédito do período;

• os métodos usados para determinar o rédito do contrato reconhecido no

período; e

• os métodos usados para determinar a fase de acabamento dos contratos em

curso.

Devem ainda ser divulgadas as seguintes informações para os contratos em curso à data

do balanço (IASB: 2008b):

35 O conceito subjacente ao tratamento descrito para contratos de construção não lucrativos é o da Prudência (Conservantismo). É este princípio que justifica o reconhecimento imediato das perdas, mesmo que não se encontrem realizadas. Somente se exige para este reconhecimento que haja evidência de que uma imparidade do activo ocorreu. Tal é consistente com o hábito contabilístico de antecipar perdas previsíveis para evitar apresentação de resultados correntes e futuros sobrestimados.

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• a quantia agregada de custos incorridos e lucros reconhecidos (menos perdas

reconhecidas) até à data;

• a quantia de adiantamentos recebidos; e

• a quantia de retenções.

O IFRIC tem a intenção de permitir às entidades que contabilizem os contratos de

construção pela IAS 18, e que usem a “continuous basis” para poder reconhecer os réditos

e custos pelo método da percentagem de acabamento, que forneçam apenas parte das

divulgações exigidas pela IAS 11. (Byrne, K e Forgeas, R; 2008).

Assim, algumas divulgações, muitas vezes vistas como difíceis de fornecer pelas

entidades que emitem as demonstrações financeiras, deixarão de ser necessárias. É o caso

da informação da “quantia bruta devida por clientes” e “quantia bruta devida a clientes”

a seguir apresentadas. A IAS 11 exige que as empresas apresentem no seu balanço a

quantia bruta como calculada a seguir:

Quantia Bruta = (custos incorridos + lucros reconhecidos – perdas

reconhecidas) – facturação progressiva

Se os custos incorridos mais os lucros reconhecidos (menos as perdas reconhecidas)

excederem a facturação progressiva, a empresa deverá divulgar como um activo, a quantia

bruta devida por clientes relativa aos trabalhos do contrato para todos os contratos em

curso.

Caso contrário, ou seja, quando a facturação progressiva excede os custos incorridos mais

os lucros reconhecidos (menos as perdas reconhecidas), a empresa deverá divulgar como

um passivo, a quantia bruta devida a clientes relativa aos trabalhos do contrato para todos

os contratos em curso (IASB: 2008b).

Em termos gerais a NCRF 19 é basicamente idêntica à IAS 11, exceptuando os últimos

quatro parágrafos (¶42, 43, 44 e 45) das divulgações da IAS 11 que foram excluídas da

NCRF 19. Assim as entidades que apresentem as suas contas com base na NCRF 19 não

serão obrigadas a prestar qualquer informação sobre a quantia bruta devida por clientes e

a clientes, bem como quaisquer Passivos e Activos Contingentes relacionados com o

contrato de construção.

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De certa forma esta é uma medida que parece ir de encontro com as intenções do IFRIC

de eliminar estas divulgações para as empresas que apliquem a contabilização dos

contratos de construção e que usem a “continuous basis” de acordo com a IAS 18, já

supracitada no capítulo 3.3. De acordo com o IFRIC estas divulgações são difíceis de

fornecer pelo que devem deixar de ser necessárias para as entidades referidas.

De acordo com as práticas contabilísticas utilizadas pelas empresas em Portugal, a não

obrigatoriedade da apresentação das quantias brutas devida por clientes como activo e a

clientes como passivo, permite que as empresas difiram tais quantias. Dessa forma o

normativo português que esteve sempre assente numa apresentação de resultados

orientada para a demonstração de resultados, não progride e permite continuar esta

tendência, continuando assim a divergir da internacional, que tem uma orientação voltada

para o balanço.

A não uniformidade dos critérios acima descritos é uma problemática que não acontece só

nesta norma, e somente em Portugal. É visível em mais jurisdições ao redor do planeta,

afectando assim a nível da comparabilidade da informação financeira. Sendo o objectivo

do IASB a uniformização da apresentação da informação financeira, não nos parece que

seja uma medida sensata esta diferença entre a apresentação e divulgação da informação

financeira entre as empresas construtoras que usem as IFRS na sua totalidade (“full

IFRS”) e as que usem as normas internacionais “amputadas” ou adaptadas para as

realidades de cada País ou para as “Pequenas e Médias Empresas”, como é o caso, por

exemplo, das NCRF do novo SNC da CNC.

Acresce que o conceito de Pequena e Média Empresa não é pacífico. Uma média empresa

em Portugal, é quase de certeza uma pequena empresa em França ou na Alemanha. Por

exemplo, a nível do número de trabalhadores, segundo o 13 Code of Federal Regulations

121.802(a), nos EUA uma pequena e média empresa tem menos de 500 trabalhadores. Ao

nível europeu a Recomendação 2003/361/CE, de 6 de Maio de 2003, prevê um máximo

de 250 trabalhadores. Em Portugal, segundo o Instituto Nacional de Estatística, uma

pequena empresa tem menos de 50 trabalhadores.

Verifica-se, pois, uma falta de comparabilidade dentro do mesmo modelo contabilístico:

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64

• entre empresas do mesmo sector que usem níveis distintos de preparação e

apresentação das contas; e

• entre as empresas de países diferentes que usem as normas do mesmo nível (leia-

se segundo nível, no caso de Portugal) adaptadas à realidade contabilística de cada

país.

Deve notar-se que a norma do IASB para as PME (IFRS for SMEs) tem o

seu equivalente, em Portugal, no novo SNC, nas NCRF e na Norma Única

para as Pequenas Empresas.

A adaptação das normas do IASB à realidade de cada país (jurisdição)36 é debatida no

artigo de Simonds (2007), Speaking in tongues, que retrata o exemplo de países como o

Kuwait que estão a adoptar as IFRS com determinadas peculiaridades, procurando assim

adaptar padrões internacionais de acordo com as suas preferências. Se cada país adaptar

as normas de maneira a reflectir os seus antigos padrões contabilísticos nacionais nas

normas “adaptadas”, isto causará o aparecimento de centenas de versões das IFRS em vez

de um conjunto único de regras internacionais.

Além disso, num futuro próximo esta situação irá criar dois conjuntos de normas

financeiras que contribuirá para a criação de um dois tipos de profissionais em

contabilidade, com alguns profissionais qualificados para serem vistos como contabilistas

de PME’s, mas não para as empresas que utilizem as IFRS na sua totalidade. Esta

situação poderá mesmo ter impacto sobre o sistema educacional. Assim haverá

“pequenos” cursos para aqueles que se tornarão qualificados para o nível de trabalho em

PME’s, e um programa mais longo para aqueles que queiram atingir o domínio das

normas IFRS (Epstein e Jermakowicz, 2008).

36 Esta adaptação, simultaneamente, favorece e atenta contra a Harmonização Contabilística Internacional presentemente em curso.

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65

5. Conclusões da Primeira Parte da Dissertação

Como foi demonstrado na primeira parte desta Dissertação, a CNC atenta às novas alterações,

designadamente, às mudanças que se encontram em curso nos sistemas normativos de vários

países e com especial relevo para a União Europeia, no sentido da harmonização

contabilística internacional, preparou o Sistema de Normalização Contabilística.

Este novo sistema surgiu com o objectivo de poder dar resposta a necessidades de

preparação e apresentação da informação financeira internacionalmente comparável, que

o POC não seria capaz de responder. De entre as mais diversas normas que fazem parte

do novo SNC, consta a NCRF 19, objecto deste estudo, a qual, supostamente, emularia a

equivalente norma internacional do IASB, ou seja, a IAS 11.

Infelizmente, e apesar dos esforços da CNC, este estudo permitiu-nos demonstrar que a

aproximação desejada pela SNC aos normativos internacionais, ao nível dos contratos de

construção, não foi totalmente bem sucedida. Ao serem amputados os quatro últimos

pontos das Divulgações, as informações proporcionadas pelas empresas que divulgam as

informações financeiras relativamente aos contratos de construção de acordo com a

NCRF 19 não são comparáveis às informações financeiras elaboradas de acordo com a

IAS 11 adoptada pelo Regulamento (CE) nº 1725/2003 da Comissão para a União

Europeia, como já foi apresentado.

A NCRF 19 ao não emular completamente a IAS 11, constitui, simultaneamente, um

avanço e um retrocesso na Harmonização Contabilística Internacional. Trata-se de um

avanço porquanto melhorou significativamente os normativos até então em vigor

(POC/DC 3) alinhando-os com a norma do IASB. Porém, ao adaptar a IAS 11 à realidade

Portuguesa, enveredou-se por uma situação que, de certa forma, atenta contra a

Harmonização Contabilística Internacional.

Esta forma de proceder prejudica a comparabilidade, horizontal e vertical, uma das

características fundamentais a que deve obedecer a informação financeira relatada,

consagrada na Estrutura Conceptual do IASB (e também na do SNC e na do FASB).

Veja-se, por exemplo, o caso de duas grandes empresas equiparadas em termos de

dimensão e volume de negócios. Se a primeira está cotada, obrigatoriamente, utiliza a

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IAS 11 no reconhecimento, mensuração e divulgação. Se a segunda, não está cotada, não

é obrigada à utilização da IAS 11 (a menos que aderisse voluntariamente à sua adopção).

Utiliza a NCRF 19. Como já foi demonstrado, o reconhecimento, mensuração e relato

financeiro destas duas empresas não são comparáveis. A empresa que utiliza a IAS 11

aplica um modelo de reconhecimento, mensuração e divulgação com orientação para o

balanço. A empresa que utiliza a NCRF 19 aplica um modelo de reconhecimento,

mensuração e divulgação com orientação para a demonstração de resultados.

Ora, o modelo de reconhecimento, mensuração e divulgação com orientação para a

demonstração de resultados tem vindo a ser abandonado internacionalmente. Veja-se, por

exemplo, o que se passou com a revisão recente de algumas normas do IASB. O caso da

IAS 12 - Impostos sobre o Rendimento, é paradigmático nesta matéria, quando adoptou o

liability method para reconhecer activos e passivos por impostos diferidos, em detrimento

do método até então praticado (deferral method). Mais recentemente, pode-se assinalar

um outro caso, designadamente, o projecto da nova norma IAS 18 do Rédito, em que o

IASB e o FASB decidiram abandonar a earning process approach, e, em vez disso,

abraçaram uma abordagem de activos e passivos.

Acresce que, além da falta de comparabilidade referida, a exclusão destas quatro

cláusulas pode ainda provocar a ocorrência de riscos acrescidos para os investidores. A

não obrigatoriedade de divulgação dos activos e passivos contingentes pode, num caso

mais grave, pôr em causa a continuidade da obra e a continuidade da própria empresa.

Um exemplo ilustrativo é o apresentado no ponto 2.4 desta dissertação, que se refere a um

caso de processos judiciais pendentes, em que a empresa possa ter uma obrigação

possível de pagar grandes indemnizações, mas que não foram nem reconhecidas (e bem

porque as obrigações possíveis não são reconhecidas) nem divulgadas.

Contudo, segundo parece, a intenção da SNC era de ir ao encontro das orientações do

IFRIC ao eliminar divulgações consideradas complexas para determinadas entidades.

Mas, dessa forma o normativo português, que sempre esteve baseado no reconhecimento,

mensuração e divulgação com orientação para a demonstração de resultados, não

progride, permite continuar a adoptar esta orientação, e não se alinha com a tendência

internacional em termos de harmonização contabilística.

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De salientar, ainda, a um nível superior, a falta de comparabilidade existente entre as IAS 11

do IASB e a adoptada pelo Regulamento (CE) nº 1725/2003 da Comissão para a União

Europeia. A nova versão da IAS 11 do IASB já apresenta alterações resultantes das alterações

feitas em 2007 à IAS 1 Presentation of Financial Statements e à IAS 23 - Borrowing Costs.

Alterações estas que a versão Europeia, onde foi baseada a NCRF 19, não contém.

Por outro lado, encontramos ainda em determinados tópicos seleccionados para efeitos do

presente estudo, divergências e diferenças significativas existentes entre as normas do

IASB/SNC e os US GAAP’s. A principal divergência é no tratamento alternativo

utilizado para o reconhecimento dos réditos e custos do contrato pelas três realidades.

Enquanto os US GAAP’s, bem como outras jurisdições, ainda permitem o método do

contrato completado como método alternativo, devido ao seu carácter prudente, este foi

excluído pelo IASB e não foi incluído nas novas normas da SNC. Estas duas últimas

realidades utilizam como alternativa ao método da percentagem de acabamento com o

cost recovery method (Método do Lucro Nulo).

Existem ainda situações que não são abordadas pelas normas do IASB e SNC, bastante

comuns nos contratos de construção, e já há muito tratadas pelos US GAAP’s. É o caso

do tratamento das opções que podem ser incluídas no contrato e que podem dar origem a

construção de um activo adicional ou activos adicionais. Outras matérias apresentam

abordagens mais extensas e detalhadas nos US GAAP’s. É o caso das modificações das

encomendas (variações) e do reconhecimento do reembolso de custos não incluídos no

contrato (reinvidicações).

No tema sobre o tratamento dos empreendimentos conjuntos e contratos compartilhados,

o tratamento utilizado pelo IASB/SNC foi considerado, por alguns autores, mais

aperfeiçoado do que das normas americanas, inglesas ou de qualquer outra jurisdição. Isto

devido à opção da utilização do método de consolidação proporcional pelo IASB e SNC

no tratamento dos empreendimentos conjuntos e contratos compartilhados, ao contrário

da realidade americana que têm como tratamento de referência o método de equivalência

patrimonial (embora muitas entidades americanas, na prática, adoptem o método da

consolidação proporcional). Este é um tema presentemente em processo de estudo pelo

IASB (ED 9, Joint Arrangements).

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PARTE II – EMPÍRICA

1. Considerações Gerais

O estudo desenvolvido na primeira parte da dissertação permitiu demonstrar que apesar

dos avanços rumo à harmonização contabilística internacional já alcançados pelo

IASC/IASB, existem ainda inúmeras divergências entre os normativos nas mais diversas

jurisdições. Este estudo procura evidenciar isso mesmo, mostrando as divergências

existentes entre o IASB, o FASB e o Normativo Português (em vigor e futuro). Grande

parte destas divergências dizem respeito às práticas e regulamentos de cada País ou da

Região (Europa, por exemplo) em este está inserido.

A segunda parte deste trabalho tem como objectivo principal apresentar os elementos

recolhidos, os métodos utilizados que, em conjunto com a revisão de literatura efectuada,

irão suportar os resultados da investigação empírica.

Para proceder a essa análise foi preparado um guião, destinado a inquirir as principais

empresas de construção portuguesas. Pretende-se analisar, através das respostas

apresentadas, se:

H3: As Empresas de Construção Portuguesas que usam os normativos

internacionais para reconhecerem, mensurarem e divulgarem os contratos de

construção estão a fazê-lo correctamente e de acordo com estas mesmas normas.

H4: As Empresas de Construção Portuguesas que usam os normativos nacionais

para reconhecerem, mensurarem e divulgarem os contratos de construção estão

preparadas para acolher as normas do novo Sistema de Normalização

Contabilística.

1.1 Dificuldades e Limitações

Apesar dos esforços e vários contactos, a colaboração por parte das empresas de

construção solicitadas a participar nas entrevistas foi fraca. Muitas vezes a obtenção de

dados por entrevista foi impossível. Os Guiões de entrevistas muitas vezes tiveram que

tornar-se questionários que foram deixados nas entidades para se poderem obter alguns

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dos dados desta dissertação. As respostas adquiridas representam cerca de 14% das

empresas contactadas, sendo três obtidas por entrevistas.

2. Metodologia utilizada

2.1 Concepção do Guião de Entrevista

O Guião de entrevista foi concebido para dar resposta às hipóteses levantadas na presente

dissertação. Este guião foi baseado no Questionário de Conformidade das Normas do

IASB de 2009, com algumas modificações para se poder incorporar questões ligadas ao

normativo nacional.

O Guião apresenta um total de sessenta e seis questões e possui nove partes. Estas nove

partes foram agrupadas em dois grandes grupos. O primeiro grupo, onde constam as duas

primeiras partes do Guião, é composto por 17 questões, onde constam as informações

relativas à:

• Identificação da Entidade, onde são englobadas informações relacionadas com a

identificação da sociedade e informações como Periodicidade do Relato, Número de

Trabalhadores, Volume de Negócios e Total do Activo do Balanço, e,

• Relativas ao enquadramento, que nos permitiu obter dados relativos aos

normativos utilizados pela entidade na contabilização dos seus contratos de

construção, a posição da empresa relativamente a elaboração de contas consolidadas

e valores mobiliários à negociação.

E um segundo grupo, composto pelo resto das questões, que foi elaborado principalmente

com o objectivo de recolher os dados que irão suportar a resposta das questões

estabelecidas nas hipóteses três e quatro. Neste grupo analisámos a correcta

contabilização dos contratos de construção em áreas como:

• Combinação e Segmentação dos Contratos de Construção

• Réditos do Contrato

• Custos do Contrato

• Reconhecimento dos Réditos e Custos nos Contratos de Construção

• Mensuração dos Réditos do Contrato nos Contratos de Construção

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• Reconhecimento de perdas esperadas e Alterações nas estimativas

• Divulgações

O quadro a seguir resume os dois grandes grupos de questões do guião de entrevista, e as

hipóteses com que se encontram relacionadas.

Grupo Nº de Questões Hipóteses Relacionadas

I Composto por 17 questões de identificação e enquadramento. (aproximadamente 25% do total de questões).

Não relacionada directamente com as

hipóteses.

II Composto por 49 questões que tem como objectivo testar a hipótese. (aproximadamente 75% do total de questões).

Relacionada com a hipótese H3 e H4

Tabela 4 – Relação dos Grupos com as Hipóteses

(Elaboração Própria)

As questões do guião tiveram as mais diversas estruturas como os exemplos

demonstrados a seguir, de perguntas retiradas do Guião de Entrevista utilizado:

• Perguntas com espaços para preencher:

Designação Social Empresa XPTO Construções, S.A.

• Perguntas de escolha múltipla:

A entidade possui contratos de construção especificamente negociados para a construção de um activo ou conjunto de activos?

• Perguntas de múltipla escolha com respostas múltiplas:

A conta Construção em Curso normalmente inclui?

• E a junção de perguntas de Escolha Múltipla e Espaços por preencher, como por exemplo:

Antecipou a aplicação de alguma norma?

Se Sim identifique: Norma XY

Sim Não Não Aplicável

Sim Não Não Aplicável

a margem ganha no contrato

somatório das perdas reconhecidas

facturação progressiva

custos incorridos do contrato

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2.2 Amostra Escolhida

O universo para a selecção da amostra foi o universo das empresas de construção

portuguesas. Foram escolhidas 50 empresas para fazer parte da amostra desta dissertação.

As empresas seleccionadas foram as primeiras 50 empresas de construção constantes nas

1.000 maiores empresas de construção portuguesas não financeiras baseadas num estudo

do Jornal Público37. Neste grupo constam 3 das empresas de construção inseridas no

PSI38-20.

3. Apresentação e Análise das Respostas Obtidas

3.1 Caracterização da amostra

A partir das questões estabelecidas no Guião de Entrevista relacionadas com a

identificação da sociedade e de enquadramento foi-nos permitido caracterizar a amostra

objecto de análise.

A partir dos dados podemos concluir que a maior parte das empresas são sociedades

anónimas, e apenas metade delas usa a IAS 11 na contabilização dos seus contratos de

construção. O quadro a seguir permite identificar outras características da amostra em

análise.

Identificação da Sociedade

Número Percentual Tipo de Sociedade

Sociedades por quotas 1 14% Sociedades anónimas 6 86%

Dados das Sociedades Mínimo Máximo Número de Trabalhadores 170 13.500 Volume de Negócios 43.000 (M€) 1.291.073 (M€) Total do Activo 22.000 (M€) 3.178.037 (M€)

Enquadramento

Número Percentual Normativo Utilizado

Normativo Nacional (Circ. 5/90 e POC/DC 3) 4 57,1% Normativo Nacional e Internacional (+ IAS 11) 3 42,9%

37 A lista Público 1000 não inclui sociedades gestoras de participações sociais nem empresas do sector financeiro (bancos, seguradoras e parabancárias como sociedades de “leasing”, “factoring”, SFAC, etc.). As empresas listadas em PÚBLICO 1000 foram ordenadas pelo volume de vendas referente a 2006. 38 Portuguese Stock Index

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Obrigação de elaboração de contas consolidadas Sim 2 28,6% Não 5 71,4%

Valores mobiliários à negociação em algum mercado regulamentado Sim 2 28,6% Não 5 71,4%

Antecipou a aplicação de alguma norma? Sim (NCRF 19) 2 29% Não 5 71%

Tabela 5 – Resumo do primeiro Grupo do Guião de Entrevista

(Elaboração Própria)

3.2 Apresentação dos Resultados Obtidos

Após a caracterização das sociedades através das respostas apresentadas no primeiro

grupo do Guião de Entrevistas, passámos à análise do segundo grupo de onde

pretendemos retirar os dados necessários para dar resposta às hipóteses definidas.

De todos os resultados obtidos das entrevistas, apresentados no Anexo II, seleccionámos

aqueles que se mostraram mais relevantes para atingir os objectivos em causa.

Réditos dos Contratos

Os réditos do contrato são reconhecidos apenas se for provável que resultarão em réditos

para a entidade e forem mensurados com fiabilidade.

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Os réditos recebidos ou a receber do contrato são reconhecidos pelo Justo Valor.

14,3% das sociedades fazem-no pelo Custo Corrente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das sociedades fazem-no pelo Custo Histórico e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não respondeu

O reconhecimento das variações como réditos do contrato.

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

O reconhecimento de reivindicações como réditos do contrato.

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

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O reconhecimento dos pagamentos de incentivos como réditos do contrato.

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das entidades não aplicam

As facturações correspondentes aos pagamentos parciais do contrato, qualquer que seja o

período contabilístico em que se verifiquem, serão reconhecidas como réditos.

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das entidades não aplicam

Custos do Contrato

As entidades incluem nos custos do contrato apenas aqueles que são permitidos.

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Os custos atribuíveis à actividade contratual em geral (seguros, assistência técnica) são

imputados ao contrato correctamente.

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Os custos dos empréstimos obtidos que sejam directamente atribuíveis à aquisição,

construção ou produção de um activo elegível devem ser capitalizados (reconhecidos

como activos).

85,7% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Os custos que visam assegurar a aquisição do contrato (ex: viagens, reuniões de negócios

feitas antes do contrato ser assinado), são reconhecidos correctamente.

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Os custos para assegurar o contrato reconhecidos como gasto do período em que foram

incorridos não podem ser incluídos nos custos do contrato quando este for obtido num

período subsequente.

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

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Reconhecimento dos Réditos e Custos nos Contratos de Construção

Os réditos e os custos associados ao contrato de construção apenas são reconhecidos se o

desfecho do contrato de construção puder ser fiavelmente estimado.

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

As empresas estimam fiavelmente o desfecho de um contrato de construção negociado a

um preço fixado.

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

As empresas estimam fiavelmente o desfecho de um contrato de construção negociado

como um contrato de "cost plus".

71,4% das entidades não aplicam

Quando a empresa incorre em custos que se relacionem com uma actividade futura e a

sua recuperação seja provável, estes são reconhecidos como activo

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Ao surgir uma incerteza sobre a cobrança de valores já incluídos no rédito do contrato e

na demonstração de resultados, quando os mesmos forem considerados irrecuperáveis,

estes são reconhecidos gastos

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Os pagamentos progressivos e os adiantamentos recebidos dos clientes não reflectem

sempre o trabalho executado.

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Quando a fase de acabamento é determinada com referência aos custos do contrato

incorridos até à data não podem ser incluídos outros custos do contrato além dos que

reflectem o trabalho realizado.

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Quando o desfecho de um contrato de construção não pode ser estimado fiavelmente os

réditos e custos são reconhecidos correctamente.

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42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Quando o desfecho de um contrato de construção não pode ser estimado com fiabilidade,

as perdas esperadas são reconhecidas imediatamente como gastos.

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Quando as incertezas que impediram que o desfecho do contrato fosse fiavelmente

estimado já não existirem, são reconhecidos os réditos e custos com referência à fase de

acabamento do contrato.

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Mensuração dos Réditos do Contrato nos Contratos de Construção

Os réditos e os custos associados ao contrato de construção são reconhecidos com base:

100% das sociedades pelo Método da Percentagem de Acabamento

Quando usado o método da percentagem de acabamento, o grau ou fase de acabamento

da obra é calculado pela relação custos incorridos até à data sobre esses custos mais os

custos estimados para acabar a obra.

14,3% das sociedades não respondeu

Para efeitos do cálculo do grau de acabamento os custos incorridos a considerar são

apenas aqueles que reflictam o trabalho executado.

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Quando usado o método de contrato completado, os réditos são reconhecidos apenas

quando a obra contratada estiver concluída ou substancialmente concluída?

85,7% das entidades não aplicam

Quando a percentagem de acabamento for superior à percentagem de facturação esta

última é utilizada no reconhecimento dos resultados.

85.7% das sociedades ainda utiliza o método do contrato completado no reconhecimento dos resultados do contrato.

A conta Construção em Curso normalmente inclui a margem ganha e os custos incorridos

no contrato.

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76

100% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19 (apenas consideram os custos incorridos)

A quando da emissão de uma factura ao cliente relacionada com os pagamentos do

contrato de construção, é registada a dívida por débito na conta do mesmo, por

contrapartida de uma conta de facturação destinada ao contrato.

85,7% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Quando os réditos reconhecidos do contrato de construção (menos as perdas

reconhecidas) forem superiores à sua facturação, esta quantia líquida é reconhecida como

um activo.

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Quando a facturação do contrato de construção for superior aos réditos reconhecidos no

contrato (menos as perdas reconhecidas), esta quantia líquida é reconhecida como um

passivo.

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Devem ser constituídas provisões para perdas previsíveis decorrentes da realização do

contrato, independentemente do método utilizado.

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

São estabelecidas provisões para contingências que surjam durante o período de garantia

da obra.

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Combinação e Segmentação dos Contratos de Construção

71% das sociedades não contabilizam correctamente a combinação dos contratos de construção. Estão em desacordo com a IAS 11/NCRF 19

29% das sociedades não contabilizam correctamente a adição de um activo adicional nos contratos de construção. Estão em desacordo com a IAS 11/NCRF 19

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77

Reconhecimento de perdas esperadas e Alterações nas estimativas

Quando for provável que os custos totais do contrato excedam o rédito total do contrato é

imediatamente reconhecida uma perda esperada como um gasto.

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

Quando existirem alterações nas estimativas dos réditos e/ou custos do contrato as

alterações nas estimativas do desfecho do contrato são reconhecidas de acordo com a IAS

8.

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das entidades não aplicam

Divulgações

9.1 A empresa divulga todas as informações obrigadas pela IAS 11.

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das entidades não aplicam

9.2 A empresa divulga a nota 48 do Anexo.

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

9.3 A empresa divulga quaisquer passivos contingentes e activos contingentes de acordo

com a IAS 37.

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das entidades não aplicam

3.3 Análise dos resultados obtidos

Esta parte do trabalho tem como objectivo analisar os principais resultados apresentados

no ponto anterior. Assim sendo, verificamos que:

• Em mais de metade das entidades inquiridas, os réditos dos contratos de

construção são reconhecidos mesmo quando não for provável que resultarão em

benefícios futuros para a entidade e/ou não forem mensurados com fiabilidade. A

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maior parte das sociedades não reconhece os réditos correctamente e de acordo com

a IAS 11/NCRF 19.

• Por isso, ainda existem sociedades que não cumprem todos os requisitos para o

reconhecimento dos réditos, variações reivindicações e pagamentos de incentivos.

Sendo estes incentivos muito pouco frequentes nos contratos, tal com descrito por

alguns entrevistados e comprovado pelas respostas obtidas.

• O justo valor ainda não é utilizado por todas as empresas de construção para

medir a retribuição recebida ou a receber. O Custo Histórico e o Custo Corrente

ainda são utilizados por pelo menos quase metade das entidades inquiridas.

• Um número preocupante de 42% das sociedades, dentre as quais sociedades que

aplicam a IAS 11/NCRF 19 como norma principal, reconhecem réditos aquando das

facturações parciais dos contratos. Dessa forma ignoram a percentagem de

acabamento no reconhecimento dos réditos, embora todas as empresas inquiridas

admitissem usar o método da percentagem de acabamento no reconhecimento dos

resultados do contrato.

• Outro dado que ressalta à vista nesta análise é que 71% das sociedades inquiridas

reconhecem no contrato custos não permitidos pela IAS 11/NCRF 19. Os mais

frequentes são as depreciações/amortizações de instalações e equipamentos ociosos e

os custos de vender no caso em que o activo seja construído com esse propósito.

• Dos dados em análise talvez o mais alarmante esteja relacionado com mais de três

quartos das sociedades inquiridas que diferem os custos dos empréstimos obtidos que

sejam directamente atribuíveis à aquisição, construção ou produção de um activo

elegível. Como já foi apresentado na parte teórica existem divergências entre a IAS

11 do IASB e a IAS 11 adoptada pela União Europeia/NCRF 19 do SNC. O correcto

reconhecimento destes custos implica a sua capitalização e não o seu diferimento.

Esta percentagem permite demonstrar que a maior parte das sociedades mantém a sua

contabilização com orientação para a demonstração de resultados.

• As entidades inquiridas têm ignorado se o desfecho do contrato de construção

pode ou não ser fiavelmente estimado antes de reconhecer os réditos e custos do

contrato. Foi verificado que mais de metade das entidades não têm cumprido este

requisito. No caso das entidades que tem contratos com um preço fixado também

encontramos o mesmo problema com a mesma percentagem.

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79

• Em 42% das entidades quando o desfecho de um contrato de construção não

pode ser estimado com fiabilidade, os réditos e custos não são reconhecidos

correctamente de acordo com a IAS 11/NCRF 19, e também as perdas esperadas não

são reconhecidas imediatamente como gasto.

• Mais de três quartos das entidades não negoceiam contratos de construção de

"cost plus".

• Em 42% das sociedades, na determinação do grau de acabamento do contrato,

são incluídos outros custos, que muitas vezes não reflectem o trabalho realizado,

além dos permitidos e incorridos até à data.

• O Método da Percentagem de Acabamento é o método de reconhecimento dos

réditos e custos utilizado por todas as entidades inquiridas.

• Em quase metade das entidades são incluídos custos no cálculo do grau de

acabamento da obra que não reflectem o trabalho executado.

• Na contabilização dos contratos de construção ainda existe uma grande tendência

para o reconhecimento dos resultados pela via fiscal. No reconhecimento dos

resultados, em 85 % das sociedades inquiridas, quando a percentagem de

acabamento é superior à percentagem de facturação, esta última é utilizada no

reconhecimento dos resultados. O reconhecimento dos resultados deve ser sempre

feito pelo método da percentagem de acabamento. O determinado no art. 19.º do

CIRC e a Circular 5/90 devem ser usadas apenas para ajustar os resultados a serem

apresentados na Declaração Modelo 22 do IRC.

• A Conta de Construção em Curso, em todas as entidades inquiridas, serve apenas

para registar os custos incorridos no contrato. Esta conta de inventário é usada,

quando utilizado o método da percentagem de acabamento, para registar os custos

de construção acumulados mais os lucros reconhecidos até à data. E em nenhuma

das entidades inquiridas, incluindo as que usam o normativo internacional, e estão

cotadas em bolsa e são obrigadas a consolidar.

• Aquando da emissão de uma factura ao cliente, relacionada com os pagamentos

do contrato de construção, é registada a divida do cliente por débito na conta do

mesmo, por contrapartida de uma conta de facturação destinada ao contrato. Este é

o reconhecimento aconselhado pela IAS 11/NCRF 19. Mas, em 42,9% das

entidades, e coincidentemente todas aquelas que usam os normativos nacionais na

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contabilização dos contratos de construção, usam uma conta de proveitos como

contrapartida do débito ao cliente.

• 57,1% das sociedades não registam como activo a quantia bruta devida por

clientes nem como passivo a quantia bruta devida a clientes, relativa aos trabalhos do

contrato. Esta percentagem, na sua maioria, diz mais uma vez respeito às entidades

que usam as normas nacionais na contabilização dos contratos de construção.

• 42,9% não constituem provisões para perdas previsíveis decorrentes da

realização do contrato, independentemente do método utilizado, e 71,4% não

constituem provisões para contingências que surjam durante o período de garantia

da obra.

• Muitas vezes são ignorados alguns dos requisitos considerados obrigatórios para o

tratamento do contrato como um contrato de construção único. Por essa razão 71% das

sociedades não contabilizam correctamente a combinação dos contratos de construção.

• Situação semelhante acontece na construção de um activo adicional. As

condições para que um activo adicional seja tratado em separado não são cumpridas

em 29% das sociedades inquiridas.

• Durante os contratos, apenas 28,6% das entidades, reconhece imediatamente a

perda esperada como um gasto quando for provável que os custos totais do contrato

irão exceder o rédito total do contrato.

• Quando há necessidade de alterações nas estimativas dos réditos e/ou custos do

contrato, 42,9% das entidades não reconhecem as alterações nas estimativas de

acordo com IAS 8, e 28,6% das entidades não aplicam a IAS 8.

• Apenas 14,3% das entidades inquiridas divulgam todas as informações obrigadas

de acordo com a IAS 11.

• Apenas 28,6% das entidades inquiridas divulgam todas as informações obrigadas

de acordo com a DC 3.

• E apenas 28,6% das entidades inquiridas divulgam quaisquer passivos

contingentes e activos contingentes de acordo com a IAS 37, enquanto outras 28,6%

das sociedades não o aplicam.

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4. Conclusões da Segunda Parte da Dissertação.

Após a análise dos resultados extraídos das respostas obtidas através do Guião de

Entrevista, pretendemos estar em condições de poder responder à Terceira e à Quarta

Hipóteses, anteriormente definidas.

A Terceira Hipótese, pretende analisar se “as Empresas de Construção Portuguesas que

usam os normativos internacionais para reconhecerem, mensurarem e divulgarem os

contratos de construção estão a fazê-lo correctamente e de acordo com estas mesmas

normas”. De acordo com a análise qualitativa dos resultados, verificamos que empresas

de Construção Portuguesas inquiridas não reconhecem, mensuram e divulgam os

contratos de construção correctamente e de acordo com a IAS 11.

Inesperadamente, verificamos que existem muitas dificuldades na aplicação desta norma

do IASB pelas empresas inquiridas que a utilizam. Ainda existem empresas que aplicam a

IAS 11 e que reconhecem os réditos do contrato pelo custo histórico e não pelo seu justo

valor recebido, ou a receber. Por outro lado, as facturações recebidas do contrato ainda

são consideradas como representativas de réditos do contrato. Observa-se aqui que certos

conceitos do POC estão ainda demasiadamente enraizados em determinadas entidades

que usam a IAS 11.

A norma do IASB define no seu corpo quais os custos que são aceitos como custos num

contrato de construção. Ainda assim, as empresas reconhecem custos relacionados com a

construção cujo reembolso não esteja especificado, bem como no cálculo da fase de

acabamento são incluídos outros custos do contrato além dos que reflectem o trabalho

realizado. Este procedimento causa apresentações de demonstrativos financeiros que não

proporcionam uma imagem fidedigna da informação financeira.

Na apresentação das demonstrações financeiras por parte das empresas que utilizam a IAS

11, encontramos o que foi considerada ser uma falta crassa de interpretação da norma. É o

facto de na conta de Construção em Curso incluir apenas os custos incorridos e não serem

reconhecidos nesta mesma conta, como preconiza a IAS 11, os lucros reconhecidos.

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82

Foi verificado também que existe uma grande tendência para diferimento dos custos nas

empresas que utilizam a IAS 11, em vez da sua capitalização. Situação esta que

assumimos que seria encontrada apenas nas empresas que utilizam o normativo nacional.

Exemplos desta situação são os diferimentos dos custos dos empréstimos obtidos e dos

custos relacionados com a actividade futura.

Situação semelhante acontece na apresentação das quantias brutas devidas por cliente e

devidas a clientes. Estes valores são na maior parte dos casos diferidos, quando deveriam

ser registados como activo e passivo, respectivamente. Mais uma vez a tendência de uma

contabilidade voltada para a demonstração de resultados e não para o balanço é aqui

espelhada. Esta propensão em nada contribui para a apresentação de demonstrativos

financeiros que sejam compreensíveis pelos interessados dessas informações. Com a

apresentação da conta de diferimentos, o balanço (demonstração da posição financeira)

apresenta uma rubrica que apresenta uma teia de valores pouco explícitos e que não

apresentam a imagem verdadeira e apropriada das operações da empresa. Nalguns casos,

o incluído nos acréscimos e diferimentos, não satisfaz as definições de activo e de passivo

expressas na Estrutura Conceptual.

No caso da quarta e última hipótese, das empresas de Construção Portuguesas que usam

os normativos nacionais para reconhecerem, mensurarem e divulgarem os contratos de

construção estarem ou não preparadas para acolher as normas do novo Sistema de

Normalização Contabilística, também chegamos a uma conclusão inesperada.

Nas entrevistas que fizemos, tivemos a possibilidade de entrevistar duas empresas que

usavam os normativos nacionais na contabilização dos contratos de construção. Nenhum

dos entrevistados admitiu que a sua empresa estivesse preparada para o projecto da SNC.

Numa delas, o Responsável pela Contabilidade admitiu directamente estar mais

preocupado com a mudança que ira acontecer no Código do IVA do que com o Projecto

do SNC. Esta última empresa não aplica sequer o POC/DC 3, limitando-se apenas ao art.º

19.º do IRC e à Circular 5/90 da DGCI, no reconhecimento dos seus contratos de

construção.

Devido ao facto de a NCRF 19 ser bastante semelhante à IAS 11, e pelo Guião de

Entrevista ter sido baseado no Questionário de Conformidade das Normas do IASB de

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83

2009, mas mais especificamente a IAS 11, este Guião permitiu-nos também tirar

conclusões sobre se as empresas que utilizam os normativos nacionais estão em condições

de contabilizar os seus contratos de construção de acordo com a NCRF 19.

A maior parte das entidades inquiridas que utilizam POC/DC3 ou os critérios fiscais (art.º

19.º do IRC e Circular n.º 5/90 da DGCI) na contabilização dos contratos de construção,

pelas respostas apresentadas, não estão definitivamente alinhadas com o normativo

internacional e não se encontram preparadas para reconhecer os contratos de construção

de acordo com a NCRF 19.

A evidência disso foram as respostas às questões do Guião de Entrevista. Estas empresas

exibiram bastantes lacunas no reconhecimento, mensuração e divulgação dos resultados

do contrato de acordo com a IAS 11. Todos os erros que foram encontrados nas empresas

que usam os normativos internacionais para reconhecerem, mensurarem e divulgarem os

contratos de construção, foram também encontrados pelas empresas que usam os

normativos nacionais. Algumas destas apresentam ainda falta de conhecimento no

tratamento de várias matérias como segmentação dos contratos de construção, tratamento

das alterações de estimativas e capitalização de determinados custos. A maior parte dos

erros encontrados no Capítulo 3.3 da Parte II desta Dissertação, e no Anexo II, foram

verificados pelas entidades que usam os normativos nacionais.

Foi ainda verificado que, em Portugal, algumas das empresas têm optado apenas por

seguir o critério fiscal (art.º 19.º do IRC e Circular n.º 5/90 da DGCI) no reconhecimento

dos resultados dos contratos de construção. Esta opção não respeita a Estrutura

Conceptual do IASB/SNC, designadamente a Característica Qualitativa da Substância

Sobre a Forma.

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PARTE III – CONCLUSÕES FINAIS E PERSPECTIVAS FUTURA S

Os últimos dez anos foram anos de importantes conquistas no âmbito da Harmonização

Contabilística Internacional. Durante este período presenciámos a criação do IASB, que

substituiu o IASC, que trouxe desenvolvimentos e melhorias nas normas internacionais de

contabilidade. A adopção das normas do IASB pela União Europeia e ainda a assinatura

do Norwalk Agreement, o programa de convergência entre as normas do IASB e do

FASB. A nível nacional, e muito mais recentemente, assistimos à entrada em vigor do

Novo Sistema de Normalização Contabilística que surge como a finalidade de actualizar o

normativo contabilístico Português, alinhando-o com o internacional.

Todas essas mudanças conduziram a melhorias ao nível da contabilização dos contratos

de construção nas mais diversas jurisdições. Progressos significativos foram atingidos na

comparabilidade da informação financeira internacional entre as empresas construtoras e

uma melhoria na compreensibilidade e interpretação das demonstrações financeiras por

parte dos utilizadores interessados foi alcançada. Mas o desenvolvimento já realizado e

apresentado durante a dissertação mostra-se ainda insuficiente para atingir um dos

objectivos definidos pelo IASB, nomeadamente o de desenvolver um conjunto único de

normas de alta qualidade aceites internacionalmente.

Ao nível das normas relacionadas com os contratos de construção, nas realidades

estudadas, melhorias ainda devem ser feitas não só ao nível das normas propriamente

ditas, como também em todo o contexto que as rodeia. A nível nacional, são expectáveis

impactos com a introdução do novo SNC. Impactos ao nível de problemas que irão surgir

com a sua implementação, visando a harmonização contabilística internacional. Existem

questões que, directa e indirectamente, se prendem com o tratamento dos contratos

plurianuais de construção. Questões que afectam não só a comparabilidade entre as “full

IFRS” versus NCRF, como está espelhado na dissertação, mas que também questões

exteriores à elaboração das normas, como a formação e educação dos profissionais da

contabilidade e dos gestores das entidades para as normas, e a necessidade de eliminar as

discrepâncias com os normativos fiscais, entre outros.

Um exemplo ilustrativos no domínio da formação/educação é o facto de se passar a

utilizar vários normativos na mesma jurisdição, o que pode levar a que num futuro

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85

próximo, à criação de dois tipos de profissionais em contabilidade. Um primeiro grupo de

profissionais qualificados para serem vistos como contabilistas de PME’s, preparados

para interpretar e aplicar as NCRF, mas não qualificado para as empresas que utilizem

“ full IFRS”. E um segundo grupo preparado para interpretar e aplicar as “full IFRS” nas

entidades que estão obrigadas a este conjunto mais complexo e completo de normas

(entidades cotadas, que consolidam contas, por exemplo, do sector industrial ou do sector

financeiro). Pode mesmo acontecer que alguns profissionais ainda se qualifiquem pelo

nível menos elevado, ou seja, adquiram somente competência para interpretar e aplicar a

Norma Única para as Pequenas Empresas. Esta situação poderá mesmo ter impacto sobre

o sistema educacional. Assim haveria “pequenos” cursos para aqueles que se tornarão

qualificados para o nível de trabalho junto das PME’s, e um programa mais extenso para

aqueles que queiram atingir o domínio das normas IFRS.

Outra questão que não poderá ser ignorada, é a necessidade de colmatar as discrepâncias

existentes entre os normativos contabilísticos e os normativos fiscais, tendo que adaptar

estes últimos à nova realidade contabilística. É necessário ter em consideração que a SNC

foi baseada nas Normas Internacionais do IASB e que estas são subjacentes a um modelo

contabilístico “anglo-saxónico”. Este tipo de modelo prevê uma separação

(independência) entre a contabilidade e a fiscalidade ao contrário do modelo Português

que é baseado no modelo “continental-europeu” que apresenta uma dependência entre a

contabilidade e a fiscalidade.

Observamos também, em 1 de Janeiro de 2010, a entrada em vigor da nova norma

nacional destinada ao tratamento dos Contratos de Construção, a NCRF 19. Esta tem por

base a IAS 11 da União Europeia, mas não a reproduz na sua totalidade. O que apresentou

consequências, não evoluindo para uma orientação para o Balanço e mantendo a sua

orientação voltada para a Demonstração de Resultados. Orientação esta que já está a ser

abandonada internacionalmente nas mais recentes revisões das normas internacionais

levada a cabo pelo IASB/FASB. A opção tem sido virada pela abordagem do

reconhecimento de activos e passivos evitando assim a criação de débitos e créditos que

não satisfazem aquelas a definições de acordo com a Estrutura Conceptual.

A norma da SNC, bem como a sua similar IAS 11 da União Europeia, mostram que

necessitam ainda de actualização face às mais recentes alterações da IAS 11 do IASB.

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Referimo-nos fundamentalmente às alterações recentes na IAS 23 que eliminou o

tratamento alternativo dos custos de empréstimos obtidos e os esclarecimentos previstos

pela IFRIC 15 sobre as distinções dos contratos de construção que estarão dentro do

âmbito da NCRF 19/IAS 11 e NCRF 20/IAS 18 do Rédito.

Alterações que não deverão ficar por aqui com as profundas revisões em curso de normas

existentes e conexas com os contratos plurianuais de construção, que alterarão também a

IAS 11 do IASB. Como as alterações previstas da IAS 31 Join Ventures que irá eliminar a

opção de utilização do método de consolidação proporcional, passando a permitir

unicamente o método de equivalência patrimonial, e as alterações prevista fazer na IAS 37

que irá eliminar as expressões "provisões", "passivo contingente" e "activo contingente" da

literatura IFRS e substituí-las por um novo termo "passivos não-financeiros", que

representará, a princípio, uma mudança significativa para a contabilização das obrigações.

De referir que uma das mais importantes alterações no âmbito da IAS 11, é a alteração da

nova IAS 18 do Rédito, em que o IASB e o FASB decidiram abandonar a earning process

approach e em vez disso abraçaram uma abordagem de activos e passivos. Isto irá alterar

a forma de reconhecimento dos réditos, que irão passar a ser reconhecidos por referência

directa às alterações nos activos e passivos que surgirem ao longo do contrato da entidade

com um cliente.

No âmbito das normas destinadas ao tratamento dos contratos de construção, ainda muitas

mudanças se aproximam. Mudanças essas que alterarão as normas do IASB e FASB

dentro do âmbito do programa de convergência resultante do Norwalk Agreement. A CNC

deverá continuar a manter-se actualizada, acompanhando as alterações das normas

internacionais que se avizinham. Deverá também incorporar as evoluções já registadas e a

registar pelas similares da NCRF 19, através de alterações na norma ou pela emissão de

normas explicativas. Deve ainda estabelecer mecanismos que permitam verificar a

adequada aplicação das normas por parte das empresas, para poderem ser minimizados os

erros, e dessa forma evitar a sua má aplicação das normas e também a comparabilidade.

Com tantas alterações a ocorrer, as normas destinadas ao tratamento dos contratos de

construção têm ainda um longo caminho a percorrer, rumo à harmonização contabilística

internacional.

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XCIII

ANEXO I – GUIÃO DE ENTREVISTA

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XCIV

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XCV

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XCVI

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XCVII

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XCVIII

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XCIX

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C

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CI

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CII

ANEXO II – RESULTADOS DA ANÁLISE GERAL DOS DADOS

DO RECOLHIDOS POR GUIÃO DE ENTREVISTA

Combinação e Segmentação dos Contratos de Construção

3.1 As sociedades contabilizam correctamente a segmentação dos contratos de

construção

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

3.2 As sociedades contabilizam correctamente a combinação dos contratos de

construção

28,6% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

3.3 As sociedades contabilizam correctamente a adição de um activo adicional nos

contratos de construção

71,4% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

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CIII

Réditos dos Contratos

4.1 Os réditos do contrato incluem:

42,9% Apenas o valor inicial do contrato acordado pelas partes

57,1% O valor inicial do contrato acordado pelas partes mais outros componentes do rédito (como variações, reivindicações e incentivos)

4.2 Os réditos do contrato são reconhecidos apenas se for provável que resultarão em

réditos para a entidade e forem mensurados com fiabilidade.

42,9% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

4.3 Os réditos recebidos ou a receber do contrato são reconhecidos pelo Justo Valor.

42,9% das sociedades fazem-no correctamente pelo Justo Valor e estão de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades fazem-no pelo Custo Corrente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das sociedades fazem-no pelo Custo Histórico e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não respondeu

4.4 O reconhecimento das variações como réditos do contrato.

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

4.5 O reconhecimento de reivindicações como réditos do contrato.

71,4% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

4.6 O reconhecimento dos pagamentos de incentivos como réditos do contrato.

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das entidades não aplicam

Page 117: RECONHECIMENTO, MENSURAÇÃO E DIVULGAÇÃO NA ......comparabilidade entre as empresas construtoras, compreensibilidade por parte dos III interessados nos demonstrativos financeiros,

CIV

4.7 As facturações correspondentes aos pagamentos parciais do contrato, qualquer

que seja o período contabilístico em que se verifiquem, serão reconhecidas como

réditos.

28,6% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das entidades não aplicam

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CV

Custos do Contrato

5.1 As entidades incluem nos custos do contrato apenas aqueles que são permitidos.

28,6% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

5.2 Os custos relacionados com o contrato podem ser reduzidos por algum

rendimento inerente que não esteja incluído no rédito do contrato.

28,6% das sociedades sim

42,9% das sociedades não

28,6% das entidades não aplicam

5.3 Os custos atribuíveis à actividade contratual em geral (seguros, assistência

técnica) são imputados ao contrato correctamente.

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

5.4 Os custos dos empréstimos obtidos que sejam directamente atribuíveis à

aquisição, construção ou produção de um activo elegível devem ser capitalizados

(reconhecidos como activos).

14,3% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

85,7% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19 (diferem)

5.5 Os custos que visam assegurar a aquisição do contrato (ex: viagens, reuniões de

negócios feitas antes do contrato ser assinado), são reconhecidos correctamente.

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

5.6 Os custos para assegurar o contrato reconhecidos como gasto do período em que

foram incorridos não podem ser incluídos nos custos do contrato quando este for

obtido num período subsequente.

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

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CVI

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

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CVII

Reconhecimento dos Réditos e Custos nos Contratos de Construção

6.1 Os réditos e os custos associados ao contrato de construção apenas são

reconhecidos se o desfecho do contrato de construção puder ser fiavelmente

estimado.

42,9% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

6.2 As empresas estimam fiavelmente o desfecho de um contrato de construção

negociado a um preço fixado.

42,9% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

6.3 As empresas estimam fiavelmente o desfecho de um contrato de construção

negociado como um contrato de "cost plus".

14,3% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

71,4% das entidades não aplicam

6.4 Sempre que uma entidade tem um contrato de construção que contêm

características de um contrato de preço fixado e de um contrato de «cost plus», a

entidade deve considerar todas as condições de reconhecimento dos dois tipos de

contratos de construção, a fim de determinar quando reconhecer os réditos e custos

do contrato.

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

85,7% das entidades não aplicam

6.5 Quando a empresa incorre em custos que se relacionem com uma actividade

futura e a sua recuperação seja provável, estes são reconhecidos como activo

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

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CVIII

14,3% das entidades Não Respondeu

6.6 Ao surgir uma incerteza sobre a cobrança de valores já incluídos no rédito do

contrato e na demonstração de resultados, quando os mesmos forem considerados

irrecuperáveis, estes são reconhecidos gastos

71,4% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não respondeu

6.7 Uma base razoável tem sido utilizada para avaliar a percentagem de acabamento

(e consequente reconhecimento dos réditos) do contrato?

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

6.8 Os pagamentos progressivos e os adiantamentos recebidos dos clientes não

reflectem sempre o trabalho executado.

71,4% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

6.9 Quando a fase de acabamento é determinada com referência aos custos do

contrato incorridos até à data não podem ser incluídos outros custos do contrato além

dos que reflectem o trabalho realizado.

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

6.10 Quando o desfecho de um contrato de construção não pode ser estimado

fiavelmente os réditos e custos são reconhecidos correctamente.

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

6.11 Quando o desfecho de um contrato de construção não pode ser estimado com

fiabilidade, as perdas esperadas são reconhecidas imediatamente como gastos.

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CIX

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

6.12 Quando as incertezas que impediram que o desfecho do contrato fosse

fiavelmente estimado já não existirem, são reconhecidos os réditos e custos com

referência à fase de acabamento do contrato.

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não respondeu

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CX

Mensuração dos Réditos do Contrato nos Contratos de Construção

7.1 Os réditos e os custos associados ao contrato de construção são reconhecidos com

base:

100% das sociedades pelo Método da Percentagem de Acabamento

7.1 Quando adoptado um método para o reconhecimento dos réditos e custos do

contrato, os critérios adoptados constituem uma política contabilística que é

consistentemente aplicada.

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19/ DC3

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

7.3 Quando usado o método da percentagem de acabamento, os réditos são

reconhecidos a medida que a obra progride mediante o grau de acabamento da obra.

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19/ DC3

14,3% das sociedades não respondeu

7.4 Quando usado o método da percentagem de acabamento, o grau ou fase de

acabamento da obra é calculado pela relação custos incorridos até a data sobre esses

custos mais os custos estimados para acabar a obra.

85,7% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

14,3% das sociedades não respondeu

7.5 Para efeitos do cálculo do grau de acabamento os custos incorridos a considerar

são apenas aqueles que reflictam o trabalho executado.

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19/ DC3

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19/ DC3

7.6 Quando usado o método de contrato completado, os réditos são reconhecidos

apenas quando a obra contratada estiver concluída ou substancialmente concluída?

85,7% das entidades não aplicam

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19/DC3

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CXI

7.7 Quando no método de contrato completado a obra estiver concluída, ou

substancialmente concluída e os réditos (proveitos) já puderem ser reconhecidos, os

respectivos custos acumulados podem ser deduzidos.

85,7% das entidades não aplicam

14,3% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19/DC3

7.8 Quando a percentagem de acabamento for superior à percentagem de facturação

esta última é utilizada no reconhecimento dos resultados.

14,3% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

85.7% das sociedades ainda utiliza a percentagem de facturação no reconhecimento dos resultados do contrato.

7.10 A conta Construção em Curso normalmente inclui a margem ganha e os custos

incorridos no contrato.

100% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19 (apenas consideram os custos incorridos)

7.11 Quando da emissão de uma factura ao cliente relacionada com os pagamentos do

contrato de construção, é registada a dívida por débito na conta do mesmo, por

contrapartida de uma conta de facturação destinada ao contrato.

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

7.12 Quando os réditos reconhecidos do contrato de construção (menos as perdas

reconhecidas) forem superiores à sua facturação, esta quantia líquida é reconhecida

como um activo.

42,9% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11

7.13 Quando a facturação do contrato de construção for superior aos réditos

reconhecidos no contrato (menos as perdas reconhecidas), esta quantia líquida é

reconhecida como um passivo.

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CXII

42,9% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na DC3

57,1% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na DC3

7.14 Devem ser constituídas provisões para perdas previsíveis decorrentes da

realização do contrato, independentemente do método utilizado.

57,1% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11

7.15 São estabelecidas provisões para contingências que surjam durante o período de

garantia da obra.

28,6% das sociedades fazem-no. Estão de acordo com a IAS 11

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11

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CXIII

Reconhecimento de perdas esperadas e Alterações nas estimativas

8.1 Quando for provável que os custos totais do contrato excedam o rédito total do

contrato é imediatamente reconhecida uma perda esperada como um gasto.

28,6% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

8.2 Quando existirem alterações nas estimativas dos réditos e/ou custos do contrato

as alterações nas estimativas do desfecho do contrato são reconhecidas de acordo

com a IAS 8.

28,6% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

42,9% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/NCRF 19

28,6% das entidades não aplicam

Divulgações

9.1 A empresa divulga todas as informações obrigadas pela IAS 11.

14,3% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11

71,4% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11

14,3% das entidades não aplicam

9.2 A empresa divulga a nota 48 do Anexo.

71,4% das sociedades fazem-no correctamente.

28,6% das sociedades não o fazem correctamente.

9.3 A empresa divulga quaisquer passivos contingentes e activos contingentes de

acordo com a IAS 37.

42,9% das sociedades fazem-no correctamente e de acordo com o descrito na IAS 11/ DC3

28,6% das sociedades não o fazem correctamente e estão em desacordo com o descrito na IAS 11/ DC3

28,6% das entidades não aplicam


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