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Redes Sociais para o Desenvolvimento Sustentável Local: uma Análise Qualitativa e Quantitativa de sua Governança

Autoria: Lívia Garcez de Oliveira Padilha, Jorge Renato de Souza Verschoore Filho

Resumo Este artigo se insere no contexto de redes sociais formadas em prol do desenvolvimento sustentável local. Seu objetivo principal é estabelecer e analisar construtos que caracterizam a governança de redes sociais em quatro Fóruns Locais de Agenda 21 no RS. O artigo teve como base a teoria sobre desenvolvimento sustentável local, redes sociais e governança. Foram adotados métodos qualitativos e quantitativos na análise de quatro redes sociais. A pesquisa demonstrou que os cinco construtos estabelecidos, objetivos comuns, alinhamento, envolvimento, densidade e centralização, podem facilitar o alcance dos resultados pretendidos pelas redes sociais e contribuir para o desenvolvimento sustentável local.

 

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1. Introdução

Em uma sociedade com relações econômicas, sociais e ambientais evidentes e interconectadas tem-se a opção de um percurso de desenvolvimento com foco na sustentabilidade, cujo pressuposto é considerar estas três esferas sociais como igualmente relevantes. Porém, as iniciativas para que o caminho da sustentabilidade seja possível encontram diversas dificuldades, uma vez que a cooperação entre as nações, ou até mesmo entre pessoas, é demasiada complexa para que seja facilmente articulada. Apesar deste quadro de problemas, não devem ser desconsideradas as boas práticas de sustentabilidade em escala local, que dependem da capacidade de atores locais ou regionais (JACOBI, 2005).

A fragilidade da coordenação e de consenso entre os atores sociais limita as ações conjuntas, deixando o caminho da sustentabilidade inviável e, muitas vezes, impossível. Este cenário revela as fragilidades da estrutura de governança atual, mostrando os limites desta abordagem, que continua a lidar com sintomas individuais e não com as suas inter-relações. Portanto, entende-se que, quando uma rede constitui-se com um propósito comum, como é o desenvolvimento sustentável local, ela passa a ter mais força do que se todos os membros deste grupo tentassem atingir objetivos separadamente. Nesta lógica, a ação individual tem poucas condições de promover o propósito comum (OLSON, 1999), especialmente nas questões que envolvem interesse contrastante como os relacionados com a sustentabilidade.

As contribuições dos estudos de Sachs (1986) que deram origem ao termo desenvolvimento sustentável e diversas iniciativas internacionais de reunião e proposição de ações culminaram na proposta da Agenda 21. Esta iniciativa foi resultado da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) e organiza uma série de diretrizes na busca por um caminho sustentável, aliando temas diversos e que convergem em uma Agenda para o século XXI. Para a Agenda 21, existe a necessidade de uma forma de governança que abranja esta problemática, visto que um “componente de cooperação” (JACOBI, 2003, p. 202), pode estar justamente na interação entre diferentes atores sociais, em seus conhecimentos e nas prováveis soluções para as dificuldades.

O tema do desenvolvimento sustentável é emergente e ainda não consolidado. Por conseguinte, este artigo pretende contribuir com o tema incorporando a lógica de redes. Tendo em vista que as interações em uma sociedade em rede (CASTELLS, 2009) e o conhecimento sobre redes que se desenvolveu recentemente (WATTS, 2009; BARABÁSI, 2009) possibilitam o imaginário de construção de uma rede global em torno do desenvolvimento sustentável. Neste contexto, a governança das redes sociais torna-se um tema relevante. Ela é entendida como um conjunto de processos que auxiliam as redes a serem formas estáveis de coordenação (NEWIG et al, 2010). Este artigo investiga como se caracteriza a governança de redes sociais na busca pelo desenvolvimento sustentável local. Seu objetivo principal é estabelecer e analisar os construtos que caracterizam a governança de redes sociais estabelecidas por meio dos Fóruns Locais da Agenda 21.

Para atingir o objetivo proposto, o artigo está organizado em seis seções, juntamente com sua introdução. Na seção dois, a seguir, há a contextualização dos temas de pesquisa, em especial, do desenvolvimento sustentável local, das redes sociais e da governança. Na seção três, são apresentados e discutidos os cinco construtos estabelecidos com base na teoria. Na sequência, são detalhados os aspectos metodológicos do artigo, onde estão indicadas as técnicas de coleta e de análise de dados qualitativos e quantitativos, em cada uma das etapas da investigação. Na quinta seção, os resultados da pesquisa são discutidos com ênfase na análise de cada um dos construtos. Ao final, na seção seis, são apresentadas as considerações finais, no que tange às implicações e às limitações do estudo.

 

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2. Governança de Redes e Desenvolvimento Sustentável Local

Conforme avança a economia mundial, suas interações com a dimensão social e ambiental tornam-se mais evidentes para a sociedade. E se, por muito tempo a atenção esteve focalizada predominantemente na eficiência econômica, pode-se dizer que hoje o olhar é mais amplo. Há décadas estudos abordam a questão da ação coletiva, desde a teoria da tragédia dos comuns (HARDIN, 1968), até a teoria da lógica da ação coletiva (OLSON, 1999). Ostrom (1990) possui uma visão mais otimista da prática de governança de bens comuns, como a água, que salienta em sua teoria do governo dos iguais. Desde o ano de 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano tornou claro que seria preciso qualificar o desenvolvimento econômico de forma a diferenciar as práticas correntes de degradação ambiental de novos procedimentos, mais condizentes com a nova percepção da finitude dos recursos naturais (BURSZTYN, 2006). Como resultado desta conferência surgiu a Agenda 21 Global, construída com a contribuição de governos e instituições da sociedade civil de 179 países e sustentada na ideia da ação coletiva. Nela, cada país signatário ficou responsável por desenvolver a sua própria Agenda 21 Nacional, e esta agenda realizaria projetos localmente.

Paralelamente, os avanços no conhecimento sobre as redes e o surgimento de diversas redes sociais e organizacionais despertaram para o aprofundamento da compreensão sobre da governança de redes. Em sua essência e definição mais simples, rede é um conjunto de atores ligados por relações ou laços de tipos específicos (BARABÁSI, 2009), podendo ser estudada em três níveis fundamentais: os atores, as conexões e a rede como um todo (TODEVA, 2006). Até recentemente, acreditava-se que as redes não diferiam entre elas significativamente. Esta suposição era de que as redes eram somente uma resposta às falhas de mercado e hierarquias e, como tal, eram similares em sua forma (WILLIAMSON, 1991). Outros estudos demonstraram que as redes podem ser entendidas como um modo distinto de coordenação (POWELL, 1990), mas poucos abordaram como elas são governadas (PROVAN et al., 2007).

Neste sentido, alguns autores ressaltam que mesmo quando a governança de redes é discutida na literatura, em geral, ela é abordada em termos de atividades específicas realizadas para uma determinada rede, ao invés de serem estudados em uma forma comparativa. Em outras palavras “(...) parece haver certa relutância entre os que estudam redes em discutir os mecanismos formais de controle. Pois a suposição comum é de que como as redes são acordos de colaboração, a governança, que implica hierarquia e controle, é inapropriada” (KENIS; PROVAN, 2006, p. 230). Opostamente, a governança de redes se distingue do tradicional comando e controle, propondo mecanismos que facilitam a realização dos seus propósitos. Ela pode ser definida como a coordenação das relações interdependentes entre atores, ou seja, o conjunto de processos que tornam as redes organismos perenes (NEWIG et al., 2010).

Estudos nacionais e internacionais têm contribuído com a compreensão da governança de redes interorganizacionais. Provan e Kenis (2008), por exemplo, afirmam que as redes podem ser governadas de três maneiras: autogovernança, governança a partir de um líder e governança a partir de uma entidade administrativa. Em outro estudo, Provan e Sydow (2008) propuseram os critérios de estrutura, processos e resultados para orientar a análise das redes e relações interorganizacionais. No Brasil, o estudo de Antunes et al. (2010) apresenta caminhos para a análise das governança em redes entre pequenas empresas. Já a pesquisa de Suzigan et al. (2007), por sua vez, trouxe contribuições para entender a governança em arranjos locais de produção. Tais contribuições formam a base para avançar na compreensão da governança de redes sociais e para o estabelecimento de construtos de análise, os quais serão discutidos na próxima seção.

 

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3. Construtos de Governança de Redes Sociais Tendo como alicerce os estudos nacionais e internacionais no âmbito das relações

interorganizacionais, percebe-se a necessidade de aprofundar o conhecimento da governança nas redes sociais. Em obras de administração, identificam-se elementos que caracterizam a governança de redes interorganizacionais, assim, entende-se que estes podem subsidiar a estruturação dos construtos propostos para a governança de redes sociais. Ainda que tenham enfoques diferentes, elas proporcionam o embasamento teórico necessário aos construtos.

As redes sociais voltadas ao desenvolvimento sustentável local orientam-se para um bem comum, com um comprometimento coletivo (SCHERER-WARREN, 1996). Este comprometimento se estabelece através da ação coletiva, a qual demanda articulações de diversos e multifacetados atores sociais, definindo objetivos comuns e reduzindo atritos e conflitos, considerando as características complexas e heterogêneas da sociedade (JACOBI, 2003). Para Santos (2011), uma das ameaças enfrentadas, hoje, diz respeito à questão ecológica, e seguindo a noção de tripé da sustentabilidade, uma interconexão entre diferentes atores de esferas sociais é necessária para o desenvolvimento sustentável local. Em consonância com Shirky (2010), o objetivo comum é uma espécie de promessa, é o “porquê básico” que leva à união dos atores e às contribuições para o grupo. Já Olson (1999) vincula o objetivo ao benefício coletivo, ou seja, aquele que os membros de um grupo pretendem alcançar mediante a sua inserção na rede. Assim, faz-se possível conceber que os objetivos comuns que são compartilhados entre os atores de uma rede social são essenciais para a sua formação e facilitam a sua governança (BALESTRIN; VERSCHOORE, 2008).

Um segundo construto relevante para a governança de redes sociais é a densidade (TODEVA, 2006), o qual descreve o nível geral de ligações entre todos seus atores de uma rede (SCOTT, 2000). A densidade torna possível identificar a coesão da rede no que concerne às relações entre os seus participantes. Em um ponto de vista quantitativo, a densidade de uma rede pode variar entre zero e um, ou seja, em uma rede inteiramente coesa, na qual todos os atores estão conectados, a densidade terá grau um, isto é, há total interação (WASSERMAN; FAUST, 1994). Para a governança a densidade é significativa, pois, como ressalta Coleman (1988), em grupos cujos membros demonstrem coesão, a capacidade de realizar seus propósitos é maior do que em grupos com baixa densidade de conexões.

Outro construto que complementa a governança de redes sociais é a centralização (SCOTT, 2000). De acordo com Wasserman e Faust (1994), quanto maior a centralização, maior será a probabilidade de existir poucos atores predominantes, tornando os demais atores periféricos. Desta forma, a centralização de uma rede permite observar o quão homogêneos ou heterogêneos são os graus de centralidade dos atores. Em conformidade com Castells (2009), os atores de uma rede podem ter relevâncias diferentes, tanto os mais centrais, quanto os mais periféricos, pois ambos possuem aspectos diversos sobre o que ocorre nela. Destaca-se ainda que a centralidade de um ator é medida considerando várias perspectivas, como a de grau (degree), a de proximidade (closeness) e a de intermediação (betweness) (SCOTT, 2000; HANNEMAN; RIDDLE, 2005).

Entre os construtos presentes na governança de redes sociais, encontra-se também o alinhamento. Para Shirky (2010), governar a colaboração em rede é naturalmente difícil, independentemente de seus objetivos. Por isso, o alinhamento é tão relevante, visto que se os atores possuem objetivos comuns, eles devem seguir as decisões tomadas coletivamente (BALESTRIN; VERSCHOORE, 2008). O alinhamento é, portanto, um dos desafios da governança de redes sociais, uma vez que os integrantes de uma rede podem estar envolvidos, mas nem sempre isto significa que estejam atuando conforme os princípios da rede. Pode-se

 

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vincular o alinhamento à posição estrutural de um ator na rede, pois quanto mais periférico o atores estiver, menor a probabilidade de estar alinhando suas atividades às da rede. Assim sendo, quanto maior proximidade, mais perto estará o ator dos demais, pois segundo Freeman (1979) este tipo de medida estrutural é adequada quando medidas baseadas em independência e eficiência são desejadas.

Por fim, além dos construtos já discutidos, pode ser destacado o envolvimento, ou seja, a integração dos atores nas decisões e nas ações da rede. Balestrin e Verschoore (2008) afirmam que a possibilidade de uma rede realizar os seus objetivos comuns está ligada à capacidade de seus integrantes estabelecerem conexões entre si, já que o envolvimento é a base de qualquer ação coletiva (BARABÁSI, 2009). Para Shirky (2011, p. 171), “cada indivíduo tem motivações diferentes para fazer coisas, e essas motivações geram diferentes lógicas de participação”. Nas redes, as motivações podem ser intrínsecas, nas quais a própria atividade é a recompensa, ou extrínsecas, nas quais a recompensa é externa à atividade. Neste sentido, um indicativo significativo do envolvimento dos atores na rede é dado pela força dos seus laços (GRANOVETTER, 1973). Pode-se afirmar que quanto maior o envolvimento dos atores nas rotinas de decisões e de ações da rede, mais fortes se tornarão os laços entre eles.

No Quadro 1, são sintetizados os cinco construtos estabelecidos, com suas respectivas descrições e referências teóricas, com o intuito de orientar as análises dos resultados do artigo.

CONSTRUTO DESCRIÇÃO REFERÊNCIAS

Objetivos Comuns

Fundamentais para a formação das redes e atraem potenciais participantes. Facilitam ações coordenadas e são compartilhados entre os atores.

OLSON (1999); BALESTRIN; VERSCHOORE (2008);

SHIRKY (2010, 2011).

Densidade

Nível de coesão de uma rede. Proporção das ligações existentes na rede sobre o total de ligações possíveis. Pode ser relacionada com a força dos laços dos atores.

WASSERMAN; FAUST (1994); SCOTT (2000);

TODEVA (2006).

Centralização Mostra como a centralidade dos atores é distribuída na rede. Varia entre redes altamente centralizadas e redes descentralizadas.

WASSERMAN; FAUST (1994); SCOTT (2000);

HANNEMAN; RIDDLE (2005); CASTELLS (2009).

Alinhamento

Manter as decisões tomadas na rede, estando em sintonia com os valores da rede para agir no planejamento e na execução das ações decididas no grupo. Relaciona-se com a proximidade dos atores em relação aos demais na rede.

FREEMAN (1979); BALESTRIN; VERSCHOORE (2008);

SHIRKY (2010).

Envolvimento Participação dos atores nas decisões e nas ações da rede. Deriva de motivações intrínsecas e extrínsecas dos integrantes da rede.

GRANOVETTER (1973); BALESTRIN; VERSCHOORE (2008);

BARABÁSI (2009); SHIRKY (2011).

Quadro 1. Síntese dos Construtos estabelecidos

Após serem compilados e discutidos os aspectos referentes a cada um dos construtos estabelecidos e de seus respectivos referenciais teóricos, torna-se possível analisar a governança de redes sociais. Para tanto, a próxima seção descreve os métodos adotados neste estudo, bem como os procedimentos utilizados nas coletas e nas análises dos dados empíricos.

 

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4. Métodos e Procedimentos

A pesquisa realizada adotou uma ênfase exploratória, combinando métodos qualitativos e quantitativos complementarmente. O objeto de estudo foi a Agenda 21 e campo empírico de foco se constituiu em quatro Fóruns de Agenda 21 Locais, estabelecidos nos municípios de São Lourenço do Sul, Gravataí, Ijuí e Vacaria, todos localizados no Rio Grande do Sul. A seleção destes fóruns tomou como requisito o fato de terem sido escolhidos como sedes dos quatro Encontros Estaduais de Agendas 21 Locais, nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010 respectivamente. Dada a complexidade dos procedimentos metodológicos qualitativos e quantitativos, a coleta e a análise dos dados ocorreram em duas fases.

Na primeira fase, quantitativa, foi utilizado o método da Análise de Redes Sociais (ARS). A ARS tem origem nas correntes teóricas da sociologia estrutural (FREEMAN, 1996) e possibilita analisar atores que se encontram imersos em redes que proporcionam oportunidades e geram restrições às ações dos envolvidos (KENIS; OERLEMANS, 2008). De acordo com Mizruchi (2006), a ARS é, em tese, aplicável a qualquer assunto empírico, e tem se destacado como um eficiente instrumento para estudos a respeito de interação entre as pessoas (BORGATTI et al., 2009).

Para a realização da ARS foram coletados dados secundários constantes nos documentos disponibilizados pelos quatro fóruns selecionados. Neste sentido, o primeiro passo foi verificar quais eram os representantes envolvidos nos Fóruns da Agenda 21 Locais. A partir de então, todas as atas de reuniões e listas de presenças dos encontros foram reunidas e os nomes dos participantes foram digitados e qualificados como representantes do Estado, do Mercado e da Sociedade Civil. Verificou-se que, em todos os Fóruns, existia um número elevado nas listas de representantes, mas que, nas reuniões, apareciam poucos. Assim, foram selecionados aqueles que tivessem participado de, no mínimo, 10% das reuniões do Fórum, por entender-se que estes estariam, de fato, participando do Fórum. Ao final, nos quatro Fóruns, chegou-se a seguinte relação de total de representantes que participaram de, pelo menos, 10% das reuniões: São Lourenço do Sul (33 de 107 ao todo), Gravataí (42 de 75 ao todo), Ijuí (68 de 195 ao todo) e Vacaria (38 de 81 ao todo).

Estes dados foram então organizados em uma matriz quadrada e analisados com o uso do software UCINET. Na análise, foi adotado o método apresentado por Wasserman e Faust (1994) para a análise de redes através da participação em eventos. No UCINET, diversas medições foram feitas para, posteriormente, serem analisadas, como a divisão das redes em diferentes facções, as medidas de centralidade de grau, proximidade e intermediação, as medidas de centralização da rede como um todo, o grau de força dos laços entre os participantes, dentre outras análises. Os primeiros resultados da ARS apontaram os representantes do Estado, Mercado e Sociedade Civil mais centrais e mais periféricos de cada Fórum. Tais resultados foram utilizados na identificação dos entrevistados da fase qualitativa.

Na segunda fase, qualitativa, os dados foram coletados por meio de entrevistas, documentos e observações. As entrevistas foram realizadas individualmente e foi adotado um roteiro semi-estruturado. A seleção dos respondentes foi feita a partir dos resultados da ARS, adotando-se os critérios da participação e centralidade na rede social dos Fóruns e do equilíbrio entre Estado, Mercado e Sociedade Civil. No total, foram realizadas dezesseis entrevistas com os participantes dos Fóruns e uma com um funcionário do Ministério do Meio Ambiente envolvido diretamente com o Programa de Agenda 21 Nacional. As entrevistas ocorreram nas sedes dos Fóruns ou em locais estabelecidos pelos respondentes, no período de abril a julho de 2011, e foram gravadas para futura transcrição.

 

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Em paralelo, foram coletados documentos e realizadas observações. As observações permitiram que as atividades dos atores na rede social fossem acompanhadas, já que as entrevistas e as narrativas só as acessam por meio de relatos (FLICK, 2009). Ocorreram quatro observações das reuniões dos Fóruns, três no Fórum de Ijuí e uma no Fórum de Vacaria. Nos outros dois fóruns, as observações não foram possíveis devido à interrupção das atividades no período de coleta. Outra fonte de dados se constituiu nos documentos que foram disponibilizados no transcorrer dos contatos com os fóruns. Foi dado acesso às atas, listas de presenças das reuniões e às legislações sobre os fóruns estudados e sobre a Agenda 21.

Para análise dos dados qualitativos, a técnica utilizada foi a da análise de conteúdo, definida por Bardin (2008) como um conjunto de técnicas de análise de comunicação que envolve procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens. Na sequência das análises, foi feita uma triangulação dos dados explorados na fase quantitativa, combinando-os com trechos de entrevistas, extratos de documentação e com as próprias observações. A triangulação dos dados possibilitou uma análise aprofundada dos construtos de governança, mesclando as evidências empíricas quantitativas e qualitativas. Os resultados encontrados serão analisados em detalhe na próxima seção.

5. Apresentação dos Resultados

Ao longo da pesquisa, procurou-se embasamento teórico e prático para estabelecer e

analisar os construtos relevantes para a governança de redes sociais, uma vez que se trata de um tema ainda emergente. Nesta seção, são apresentados os principais resultados que se referem aos cinco construtos estabelecidos com base na literatura discutida anteriormente. Foram utilizados para a análise dos resultados os dados coletados durante as observações dos encontros, as informações disponíveis nos documentos disponibilizados pelos Fóruns, as afirmações feitas pelos entrevistados e os dados da ARS realizada. Cabe salientar que os construtos serão analisados em uma ordem cujo principal objetivo é facilitar o entendimento e não por importância ou qualquer outro critério.

Os resultados encontrados na pesquisa reforçaram a proposição teórica de que não basta reunir pessoas em uma rede social para que uma autogovernança venha a emergir e que, sem esforços, a rede se torne organizada (SHIRKY, 2010). Tendo em vista esta questão, observa-se a dificuldade em se tentar reunir membros de organizações governamentais, não governamentais e empresários. Ao enfrentar tais dilemas, surgem os objetivos comuns, considerados fundamentais para a instauração de uma rede social. No sentido de coordenar esforços para equacionar tais questões, como as que permeiam o desenvolvimento sustentável nos municípios, os Fóruns analisados estabeleceram objetivos comuns. Este aspecto foi considerado relevante no que tange ao propósito que conduza à união dos atores e às contribuições para a rede (OLSON, 1999). No decorrer das entrevistas, ao ser questionado sobre os objetivos, um respondente avaliou que “objetivo comum é aquilo que a gente sabe que é o melhor para o município, a questão da água, do comércio, dos resíduos, tudo envolvido (E4)”. Foi citado também que os objetivos comuns “tem que ter um indicador pra ter um rumo, pra ter um norte” (E14), pois desta forma, bem definidos e com metas e indicadores a serem seguidos, se tornam mais relevantes para a organização da governança de uma rede social. Os resultados apontaram que os objetivos poderiam ser relacionados com a alta ou baixa interação entre os setores envolvidos nas redes dos Fóruns estudados. Já que as conexões entre atores de setores diferentes apresentaram configurações distintas entre si. A comparação entre duas redes sociais apresentada na Figura 1 mostra como os participantes de

 

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diferentes esferas sociais interagem, considerando os atores do Estado representados pelos círculos amarelos, os da Sociedade Civil pelos vermelhos e, os do Mercado pelos azuis.

Figura 1. Redes com maior (Vacaria) e menor (Gravataí) interação entre os setores Fonte: Elaboradas pelos autores por meio dos softwares UCINET e NETDRAW Com base na teoria sobre redes, quanto mais vinculados os atores estiverem entre si,

maior a chance deles trabalharem coletivamente em prol de objetivos comuns (BALESTRIN; VERSCHOORE, 2008). As duas iniciativas de fóruns de AG21L comparadas na Figura 1 auxiliam a visualizar as diferenças de interação entre os atores do Estado, Sociedade Civil e Mercado. Apesar da diferença quanto à interação entre setores, nota-se que, nas duas redes, a divisão entre eles mantém-se com uma maior participação do Estado e da Sociedade Civil e menor do Mercado. Desse modo, as evidências da ARS demonstram como a interação pode facilitar ou dificultar a definição de objetivos comuns e se tornar um desafio para a governança da rede social.

O segundo construto analisado foi o alinhamento. No âmbito de um Fórum Local, os atores são considerados alinhados à rede se tomarem decisões que coadunam com as dos demais atores, compartilhando valores e facilitando a execução de ações coletivas. Nesta perspectiva, foi perguntado aos respondentes se eles levavam os valores do Fórum para as suas instituições e como viam as ações dos outros atores. Os resultados evidenciaram a importância deste construto. Nas palavras de dois respondentes: “Pelo que eu vejo, elas tentam levar.” (E2); “Com certeza [...], até porque as pessoas que vêm nas reuniões são pessoas bem comprometidas, são sempre os mesmos” (E10).

As evidências qualitativas podem ser complementadas análise quantitativa, a qual foi feita utilizando-se uma característica referente à estrutura da rede intitulada centralidade de proximidade (closeness), a qual indica quão perto um ator está dos demais, se considerada a posição estrutural de todos os outros atores da rede (SCOTT, 2000). Nesta medida, o ator mais central é aquele que possui, em média, os caminhos mais curtos em relação aos demais atores (WASSERMAN; FAUST, 1994). A ARS indicou, assim, os atores mais próximos e mais distantes dos demais atores da rede representados graficamente na Figura 2.

 

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Figura 2. Redes com menor (São Lourenço do Sul) e maior (Ijuí) centralidades de proximidade Fonte: Elaborada pelos autores por meio dos softwares UCINET e NETDRAW Os resultados representados na Figura 2 apontam que atores com baixo índice de

centralidade de proximidade estão bem conectados com os demais. Tal construto pode ser avaliado juntamente com o grau de centralização de proximidade das redes. Nas redes da Figura 2, cujos índices (São Lourenço do Sul 32,23% e Ijuí 41,30% respectivamente) mostram que dependendo do posicionamento dos atores, eles se localizam mais ou menos favoráveis para o recebimento de informações e para o alinhamento com os valores rede. Nos resultados encontrados, há evidencias de que muitos atores periféricos representam um sinal de que a rede não está bem alinhada. Este achado reforça os pressupostos teóricos de que quanto menor a centralidade de proximidade mais fácil se torna o alinhamento das ações da rede e, em decorrência de sua governança (SHIRKY, 2010).

Para uma rede social ativa é necessária uma participação de seus atores nas decisões e nas ações coletivas. Nesta pesquisa, a união entre a participação e motivação deu origem ao construto envolvimento. Parte-se do princípio de que uma rede social dinâmica consegue instigar seus participantes para que estes se envolvam constantemente. As evidências qualitativas mostraram o envolvimento nas redes sociais ocorre mais frequentemente por meio de motivações intrínsecas, do que por motivações extrínsecas. Conforme afirmou um dos entrevistados, “no início, tu tem uma euforia, eu acho que acontece com todos os Fóruns” (E11). Não obstante, medidas de governança com o objetivo de manter a motivação também se mostraram relevantes, inclusive porque, nos Fóruns “[...] cada um tem sua atividade profissional, é trabalho voluntário. Mas eu vejo como em qualquer entidade, normalmente as pessoas participam mas não carregam o piano sozinhas” (E7). Ainda com base nos resultados obtidos, verificou-se que, em algumas situações, tais como as tarefas rotineiras, a motivação extrínseca viabiliza a sua realização. Todavia, em ações relevantes para a rede, quando não há a possibilidade de remuneração financeira para os integrantes, cabe à governança encontrar nos laços sociais da rede formas envolvimento através de motivações intrínsecas. A ARS complementa o construto, indicando a força dos laços na rede. A força da conexão entre os atores pode indicar o seu envolvimento nas rotinas de decisões e de ações da rede. Além disso, a análise quantitativa da centralidade de intermediação em uma rede demonstra o quanto um ator pode agir como ponte entre atores fracamente conectados. Nas duas iniciativas de Fóruns de AG21L, representados graficamente na Figura 3, foram destacados os atores com um elevado índice de centralidade de intermediação (betweness).

 

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Figura 3. Laços fortes e laços fracos nas redes de Vacaria e de São Lourenço do Sul Fonte: Elaborada pelos autores por meio dos softwares UCINET e NETDRAW Os resultados apresentados na Figura 3 evidenciam a relevância do construto

envolvimento. À medida que a rede fortalece seus laços, mais envolvidos e menos dependentes de atores-pontes os participantes se tornam (GRANOVETTER, 1973). Assim, pode se afirmar que a estrutura da rede social do fórum local de Vacaria, a primeira à esquerda na Figura 3, é menos favorável ao envolvimento e dificulta à governança da rede, já que a dependência de atores-pontes é maior. Já a estrutura da rede social do fórum local de São Lourenço do Sul, a segunda à direita na Figura 3, é mais favorável o envolvimento e facilita a sua governança.

Nas iniciativas de Fóruns de AG21L abrangidas pelo estudo, também foi observada a quantidade de laços existentes entre os atores. A conectividade da rede é evidenciada através da densidade das conexões entre os seus atores (SCOTT, 2000). De acordo com o embasamento teórico deste estudo, a maior ou menor densidade de uma rede social pode facilitar e dificultar a coordenação de ações conjuntas (COLEMAN, 1988). A densidade, portanto, qualifica-se como um elemento importante da governança das redes sociais. Os Fóruns de AG21L com maior e menor densidade são comparados na Figura 4.

             Figura 4. Redes com maior (Gravataí) e menor (Vacaria) densidade Fonte: Elaborada pelos autores por meio dos softwares UCINET e NETDRAW

Os resultados da ARS, apresentados em formato circular, demonstram a rede social mais densamente conectada (Gravataí, a primeira à esquerda) e a rede com menor densidade de conexões (Vacaria, a segunda à direita). Estes resultados quantitativos, combinados com as evidências qualitativas coletadas nas entrevistas e observações realizadas, demonstram que

 

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uma configuração mais coesa da rede social facilita a sua Governança, corroborando os pressupostos teóricos sobre a questão (TODEVA, 2006). Quando questionados sobre a importância da densidade das relações nos Fóruns alguns entrevistados afirmaram: “Eu acho que havia uma coesão bem forte, foi uma lição pras pessoas que estavam ali participando. Mas hoje, acho que não há mais” (E17); “O maior contato que se tem realmente é com o pessoal da instituição, que já tem o seu grupo e que se encontram semanalmente” (E15).

Com base nos relatos dos entrevistados, notou-se que os contatos que se estabelecem ou que algum dia foram estabelecidos restringiam-se a poucos atores. Assim, ficou evidenciado que, diferentemente de uma rede de propagação viral, o importante para as redes sociais em questão é ter uma densidade elevada. Muitas delas não possuíam esta característica e, como observado nos encontros dos Fóruns, às vezes, os atores sequer conversavam entre si. Portanto, é impreterível para as redes com tal perfil procurar adensar suas relações internas (COLEMAN, 1988), caso desejem viabilizar ações em conjunto dentro da própria rede e governá-la com maior facilidade. Não obstante, além do adensamento interno, os dados qualitativos evidenciam que à medida que a rede social evolui, pode-se ampliar o número de conexões e estender a rede por meio de laços fracos. Os laços fracos possibilitam acessar novas e diferentes informações, descobrir oportunidades e promover inovações (GRANOVETTER, 1973). De fato, conforme destaca um respondente: “o Fórum está muito restrito, é um grupinho e tal. E o resto da sociedade? Nós precisamos fortalecer essa rede” (E6). Avalia-se que, após um período de maturação, com o adensamento dos laços fortes entre si, as ações de conexão externas são positivas para os Fóruns de AG21L.

Outro aspecto da governança de redes sociais centra-se no construto intitulado centralização. O fulcro da centralização está em mostrar em que medida a alta ou a baixa centralidade de atores em uma rede social facilita a sua governança. Este construto foi analisado mediante um conjunto de evidências encontradas nas análises qualitativas e quantitativas. No que tange à análise quantitativa da centralização, foi enfatizada a medida centralidade de grau dos atores. A Figura 5 apresenta a representação gráfica da comparação entre a centralização dos fóruns de São Lourenço do Sul e Vacaria.

Figura 5. Redes com maior (São Lourenço do Sul) e menor (Vacaria) centralização Fonte: Elaborada pelos autores por meio dos softwares UCINET e NETDRAW A partir dos resultados expressados na Figura 5, pode-se afirmar que os Fóruns de

AG21L no Rio Grande do Sul são centralizados. Os poucos atores que foram realçados na Figura 5 possuem os maiores índices de centralidade de grau na rede. Estes atores executam funções rotineiras nas redes e estiveram inseridos nas atividades de coordenação do seu Fórum. Além dos resultados da ARS, as evidências qualitativas ratificam esta característica de centralização dos fóruns: “Efetivamente, é muito centrada em algumas pessoas” (E16) e [...]

 

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poucas pessoas têm muitas responsabilidades no Fórum. “Essas pessoas estão envolvidas e fazem acontecer, mas se sobrecarregam” (E2). A centralização também foi observada nos documentos disponibilizados, como nas atas de reuniões, nos quais se percebe que a coordenação dos Fóruns, normalmente, está sob o encargo de poucos participantes. De acordo com os pressupostos teóricos, a governança centralizada pode ser prejudicial para as redes (CASTELLS, 2009). Isto ocorre porque as redes muito centralizadas acabam por suprimir a a participação dos atores em decisões estratégicas para a rede, e concentrar em demasia as obrigações em alguns atores, levando-as a problemas de sobrecarga e da alta possibilidade de descontinuidade do trabalho (SHIRKY, 2010). Assim, torna-se um desafio presente à governança dos Fóruns de AG21L estabelecer medidas de descentralização, distribuindo as atividades entre grupos maiores de atores.

 

CONSTRUTO/ DESCRIÇÃO PRINCIPAIS RESULTADOS EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS

Obj

etiv

os c

omun

s Fundamentais para a formação das redes e atraem potenciais participantes. Facilitam ações coordenadas e são compartilhados entre todos os atores.

Objetivos comuns claramente definidos auxiliam a governança das redes. Quanto melhor forem estabelecidos objetivos, as metas, e os indicadores, mais envolvidos serão os seus participantes.

“O objetivo comum é aquilo que a gente sabe que é o melhor para o município, a questão da água, do comércio, dos resíduos, tudo envolvido (E4)”. “Tem que ter um indicador pra ter um rumo, pra ter um norte” (E14).

Alin

ham

ento

Manter as decisões tomadas na rede, estando em sintonia com os valores da rede para agir no planejamento e na execução das ações decididas no grupo. Relaciona-se com a proximidade dos atores em relação aos demais na rede.

Atores podem ser considerados alinhados à sua rede se compartilham valores e executam as ações propostas em suas próprias instituições. Há dificuldade de governança em redes com atores pouco alinhados aos demais.

“Com certeza [...], até porque as pessoas que vêm nas reuniões são pessoas bem comprometidas, são sempre os mesmos” (E10). “Pelo que eu vejo, elas tentam levar” (E2).

Env

olvi

men

to

Interação dos atores nas decisões e nas ações da rede, deriva de motivações intrínsecas e extrínsecas dos integrantes da rede.

O envolvimento completo é muito difícil de ser obtido e, por isso, cabe à governança estabelecer diferentes estilos de envolvimento para os atores. A governança deverá focar no envolvimento por meio de motivações intrínsecas.

“No início, tu tem uma euforia, eu acho que acontece com todos os Fóruns” (E11). “[...] cada um tem sua atividade profissional, e ali é trabalho voluntário. Mas eu vejo como em qualquer entidade, normalmente as pessoas participam, mas não carregam o piano sozinhas” (E7).

continua

 

13

 

Den

sida

de

Nível de conectividade de uma rede. Proporção das ligações existentes na rede sobre o total de ligações possíveis. Pode ser relacionada com a força dos laços dos atores.

Uma configuração mais coesa pode refletir em uma melhor articulação interna. À medida que o grupo se fortalece e tem uma densidade elevada, poderá ampliar a rede de relacionamentos (obtendo mais laços fracos).

“Eu acho que havia uma coesão bem forte, foi uma lição pras pessoas que estavam ali participando. Mas hoje, acho que não há mais” (E17). “O Fórum está muito restrito, é um grupinho e tal. E o resto da sociedade? Nós precisamos fortalecer essa rede” (E6). “O maior contato que se tem realmente é com o pessoal da instituição” (E15).

Cen

tral

izaç

ão

Mostra como a centralidade dos atores é distribuída na rede. Varia entre redes altamente centralizadas e redes descentralizadas.

Os Fóruns configuram-se de maneira padrão (uma parcela de participantes centrais e um grupo periférico). Uma governança muito centralizada pode ser prejudicial para as redes, diferentemente de estruturas mais descentralizadas e mais densamente conectadas.

“Poucas pessoas têm muitas responsabilidades no Fórum. Essas pessoas estão envolvidas e fazem acontecer, mas se sobrecarregam” (E2). “Efetivamente é muito centrada em algumas pessoas” (E16).

Quadro 2. Síntese da análise dos construtos de governança de redes sociais. Finaliza-se esta seção com a apresentação do Quadro 2 que sintetiza as considerações

sobre os construtos analisados ao longo do artigo, juntamente com os principais resultados e as suas evidências empíricas. Tais resultados avançam no sentido do desenvolvimento de uma moldura de análise da governança de redes sociais, tendo como base as redes estabelecidas por meio dos Fóruns Locais da Agenda 21. Estes avanços se somam ao conjunto de estudos que se dedicam à compreensão de estruturas tão versáteis e ao mesmo tempo tão complexas como são as redes sociais. Na sequência, são apresentadas as considerações finais deste artigo, assim como suas contribuições, implicações e sugestões de estudos futuros.

6. Considerações Finais

Os problemas eminentes das crises econômica, social e ambiental, suscitam questões

sobre a possibilidade de resolução destas questões e também sobre o pouco tempo disponível para que atitudes sejam tomadas em nível global. A ênfase do artigo, no entanto, esteve no nível local, com os estudos de quatro redes sociais nos municípios de São Lourenço do Sul, Gravataí, Ijuí e Vacaria. Na análise dos dados das etapas quantitativa e qualitativa, cinco construtos da governança de redes sociais foram estabelecidos. Os resultados de sua análise foram compilados em um quadro que sintetizou alguns dos principais resultados e evidências empíricas. A síntese apresentada no quadro final contribui no sentido de propor construtos que facilitam a governança das redes sociais, o que poderá vir a ser utilizado pelos próprios Fóruns de Agenda 21 e instituições interessadas na melhoria deste tipo de governança. Não obstante, o instrumental analítico adotado permite que os construtos sejam acompanhados longitudinalmente, mensurando a evolução de construtos como a centralidade e a densidade das redes sociais.

 

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Ao final, destaca-se que esta análise das redes sociais para o desenvolvimento sustentável local contribuiu para o avanço do debate teórico sobre a governança. Foram estabelecidos construtos teóricos e validados por meio de variadas evidências. Sem embargo, não de limitou a estudar os construtos de governança “em termos de atividades específicas realizadas para uma determinada rede” (PROVAN; KENIS, 2008, p. 231), mas ao invés disso, foram discutidos de maneira comparativa em quatro iniciativas locais. A análise comparativa realizada neste artigo oportuniza, portanto, novos elementos para compreender o fenômeno das redes sociais e para estimular futuros estudos e proposições de melhorias para a governança dos Fóruns de Agenda 21 Locais.

Para concluir, sugere-se que novos estudos semelhantes sejam realizados em Fóruns de Agenda 21 Locais em outros estados brasileiros. Os resultados deste estudo poderiam então ser comparados em uma perspectiva nacional. Sugere-se também que, a aplicabilidade destes construtos seja analisada em redes sociais com escopos distintos, como nas redes sociais digitais. Não obstante, esperam-se pesquisas com ênfase na forma de avaliação da governança das redes, com indicadores e comparações de resultados de múltiplas análises. Referências Bibliográficas

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