AÇÃO DE FORMAÇÃO
Partilha de boas práticas e experiências no grupo de informática
Reflexão Crítica
Vânia Ramos
AÇÃO DE FORMAÇÃO
Partilha de boas práticas e experiências no grupo de informática
Scratch
num Percurso Curricular Alternativo
Vânia Ramos
Professora do Grupo 550
Quadro de Escola
Sampaio, 6 de Fevereiro de 2012
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INTRODUÇÃO
Vou começar este relatório por descrever algo em que acredito e que constitui os
pilares basilares da minha atuação enquanto professora do grupo disciplinar de
informática.
Nunca, como hoje, foi possível aprender com uma variedade tão alargada de meios
nos quais se encontram a informação. Os livros, as revistas, o vídeo, o cinema, a
televisão, a fotografia, a banda desenhada, os jornais, o software e as pessoas com as
quais convivemos no dia-a-dia, entre outros, constituem os suportes aos quais podemos
recorrer para termos acesso à informação.
A educação tem, pois, obrigatoriamente, de se adaptar às necessidades das
sociedades onde está inserida. Não podemos ficar indiferentes aos novos métodos
introduzidos no ensino decorrentes do aparecimento das novas tecnologias. Contudo,
devemos manter o nosso objetivo principal enquanto educadores que é o de educar,
nunca esquecendo que as novas tecnologias desempenham o importantíssimo papel de
ferramentas auxiliares do processo ensino/aprendizagem.
É fundamental, por isso, que a escola esteja familiarizada com estas ferramentas
informáticas e saiba utilizá-las na ação educativa normal. A escola tem de oferecer aos
alunos os meios adequados para que possam ter acesso à informação e,
simultaneamente familiarizar-se com eles, possibilitando-lhes também oportunidades de
interação social.
Compete ao professor promover que os alunos efetuem trabalhos com sentido,
devidamente contextualizados, favoráveis à aprendizagem a vários níveis e que
impliquem um leque alargado de conhecimentos e competências, inclusivamente de
âmbito interdisciplinar, bem como a mobilização de recursos diversificados. Nos
projetos com recurso às novas tecnologias da informação e comunicação, não
pretendemos utilizar as tecnologias como um fim em si, mas como uma ferramenta ao
serviço de fins correspondentes a atividades úteis e significativas em termos de formação
dos alunos. Mas para o sucesso do que se acabou de referir, é necessário que o professor
tenha conhecimentos amplos na área e possa auxiliar os alunos na consecução dos seus
objetivos.
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Sendo o grupo disciplinar de informática recente, é de reforçar que a troca de
informação através da partilha de boas práticas entre os docentes do grupo reveste-se de
uma grande importância, não só para o crescimento do próprio mas também para a
promoção de atitudes de concertação educativa.
Assim, desde que iniciei a minha prática profissional, procurei sempre partilhar as
boas práticas que desenvolvo com os meus alunos e que poderão contribuir para ajudar
os colegas do grupo na sua atividade. E, tendo tomado conhecimento da ação de
formação para o grupo disciplinar de informática, tratando-se a mesma de um seminário
que privilegiou a partilha de boas práticas e experiências, não poderia deixar de
inscrever-me e dar a conhecer um projeto realizado no ano letivo 2010/2011, com a
turma de 9º ano de Percurso Curricular Alternativo, do Agrupamento de Escolas do
Castelo, Escola Básica do Castelo, em Sesimbra.
Juntos, alunos e professores, abraçaram um projeto que visou a mudança de
comportamentos e a promoção de formas inovadoras de ensino e de produção de
materiais dentro das diversas áreas do conhecimento. O projeto consistiu em preparar
uma apresentação sobre sexualidade, utilizando o Scratch, para o congresso do
GISC – Grupo de Intervenção em Saúde Comunitária, que decorreu no dia 25/05/2011
no Cineteatro Municipal João Mota, em Sesimbra, e envolveu as disciplinas de
Português, Artes e Tecnologias, Tecnologias da Informação e Comunicação, O Homem
e a Ciência e Inglês. Os alunos, de diferentes níveis de alfabetização e com diversas
carências em áreas do conhecimento básico, puderam trabalhar aspetos escolhidos do
currículo através de uma abordagem diferente, tendo a oportunidade de mostrar
algumas das suas capacidades “escondidas”, relacionadas com a sua área mais
favorável – as artes.
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Uma Boa Prática
Como é sabido, as turmas de Percurso Curricular Alternativo visam a inclusão
educativa de jovens em risco. E a turma do 9º PCA, composta por 13 alunos
(10 rapazes e 3 raparigas), com média de idades de 16 anos, não era exceção. A inclusão
dos jovens nesta turma resultou da possibilidade da escola dar resposta a estes alunos
que apresentavam problemas de insucesso escolar repetido, elevado absentismo,
problemas comportamentais e/ou desvantagens sociais. Assim, alguns dos aspetos a
melhorar que podem ser enumerados foram:
o comportamento dentro e fora da sala de aula;
o relacionamento interpessoal e de grupo;
o desenvolvimento das capacidades de compreensão e expressão oral e escrita;
a autonomia;
a ordenação de ideias e organização do discurso;
a concentração e a motivação.
Eram frequentes os conflitos interpessoais na turma pelo que ao longo dos anos
trabalhou-se a questão dos afetos com os alunos. Também a questão da exposição
pública era uma barreira.
A TMN, na pessoa da Dra. Mónica Peixoto
desenvolveu, ao longo do ano letivo 2010/2011, uma série de
iniciativas na escola com o mote da Internet Segura:
dinamizou junto dos alunos oficinas de formação de
sensibilização para as questões da segurança online e
apresentou o Scratch. E cativou os alunos para a mesma!
O Scratch é um programa inovador, desenvolvido por um grupo de investigadores
do MIT, que permite exercitar a criatividade e o raciocínio científico, lógico e
matemático, ao disponibilizar ferramentas de programação informática simplificadas,
com base nas quais podem ser desenvolvidos projetos, tais como, por exemplo, histórias
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interativas, simulações, soluções de problemas. Sob o lema “Imagina, Programa,
Partilha”, assume-se como um interface para fazer com que a programação seja atrativa
e acessível para quem se disponha a aprender a programar. Segundo os seus criadores,
foi desenhado como meio de expressão para ajudar as crianças e os jovens a expressar as
suas ideias de forma criativa.
Na escola, os alunos que integram as turmas de Percurso Curricular Alternativo são,
de certa forma, marginalizados pela maioria dos elementos da comunidade educativa.
Os próprios alunos que integram estas turmas assumem uma postura em conformidade
com a ideia de que são os piores alunos da escola, os mais mal comportados, incapazes
de participar e/ou fazer alguma coisa útil. Era altura de deitar por terra este estigma e
fazê-los adquirir confiança em si, capacidade de trabalho em grupo/pares e sentirem-se
diferentes mas pela positiva. Construírem algo que ficasse na história da escola e que os
valorizasse enquanto indivíduos sociais. Assim, surgiu a ideia de realizar um projeto
interdisciplinar que culminasse com a apresentação pública à comunidade em que os
jovens estão inseridos. A coordenadora do Núcleo de Educação para a Saúde da escola
propôs a realização de um trabalho para apresentar no congresso do GISC – Grupo de
Intervenção em Saúde Comunitária – mas algo que fosse diferente de tudo o que tinha
sido apresentado até então.
Assim, comecei logo a planear uma forma de cativar a turma PCA. Nas turmas de
Percurso Curricular Alternativo é importante que o professor pratique a diferenciação
pedagógica. Como tal, aplicam-se respostas adequadas a cada aluno, relativamente ao
seu nível de desempenho e aprendizagem, desenhando os programas que satisfaçam as
necessidades educativas no seu meio, não só superando as suas dificuldades, como
também descobrindo talentos e desenvolvendo potencialidades. Desta forma, a
intervenção tem de ser construída a partir do conhecimento dos interesses e dos saberes,
das dificuldades dos alunos e das causas que as originam e, também, das suas
expetativas.
Foi tendo esta ideia por base que questionei os alunos para aferir qual a ferramenta
informática com que mais tinham gostado de trabalhar. Para minha surpresa, a maioria,
referiu o Scratch que nem está contemplado no programa da disciplina! A partir daí foi
lançar a ideia aos outros professores do conselho de turma, aferir quais os conteúdos a
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usar na consecução do projeto e articular o trabalho a desenvolver de modo a que as
Tecnologias da Informação e Comunicação se assumissem como a disciplina central e
agregadora do projeto. E, inevitavelmente existiram mudanças na prática letiva quer dos
professores que aceitaram o desafio, quer dos alunos. Estes últimos foram divididos em
grupos/pares com tarefas específicas a desempenhar em cada uma das disciplinas
integradoras do projeto, de acordo com as suas motivações pessoais e com as áreas em
que demonstravam maior facilidade de aprendizagem.
O tema escolhido para abordar foi a sexualidade dado fazer parte do currículo da
disciplina de O Homem e a Ciência e das temáticas abordadas no congresso. Assim, os
alunos foram conduzidos a adquirir de forma diferente competências nas disciplinas de
Português, Artes e Tecnologias, Tecnologias da Informação e Comunicação, O Homem
e a Ciência e Inglês. O professor continuou a ser o principal dinamizador das estratégias
e das atividades dentro da sala de aula, conseguindo gerir as matérias curriculares a
adquirir, os saberes já realizados, as expetativas dos alunos e os tempos a disponibilizar
para tudo isto.
De seguida passo a descrever sucintamente o que foi feito em cada uma das
disciplinas:
na disciplina de O Homem e a Ciência debateram o tema da sexualidade,
colocaram questões próprias dos jovens da sua idade, assistiram a palestras e
visionaram vídeos;
na disciplina de Português, os alunos escreveram histórias em que
abordaram a sexualidade e trabalharam a língua ao nível da oralidade e da
escrita;
na disciplina de Artes e Tecnologias, desenharam bonecos articulados que
posteriormente recortaram e montaram, tendo escolhido quais os que iriam ser
as personagens da sua história;
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na disciplina de Inglês sugeriram
vários títulos para a narrativa e
elegeram o que a maioria gostava.
Todos os materiais criados foram,
posteriormente, utilizados na disciplina de
Tecnologias da Informação e Comunicação sendo que os alunos digitalizaram os
bonecos articulados em várias posições, trabalharam as imagens no Gimp, gravaram as
falas dos personagens no Audacity, pesquisaram músicas na Internet para som de fundo
da apresentação. E, por último, foi necessário montar a apresentação multimédia no
Scratch. Para tal, os vários grupos navegaram pelos projetos existentes nas galerias de
Scratch, do portal SapoKids, exploraram alguns deles, experimentaram agregar vários
blocos de código de modo a criar a animação pretendida e no final montaram, com a
minha orientação, tudo o que conseguiram criar em conjunto e que resultou na
apresentação final. Foi um trabalho cuja metodologia adotada foi, em grande parte, a
aprendizagem ativa pela descoberta, ainda que orientada pelos professores. Os alunos
assumiram a responsabilidade, ainda que para eles não tenha sido transparente, pela sua
aprendizagem.
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Pelo meio ficaram horas de trabalho conjunto em que, talvez por estarem a realizar
um trabalho que lhes dizia algo, os alunos se empenharam e colocaram de parte
divergências em prol da criação de um trabalho digno de desmoronar a ideia errada que
se possa ter destes jovens.
Alguma coisa mudou? Certamente que sim! Foi gratificante vê-los na apresentação
pública do trabalho, o brilho no olhar por ser algo deles, algo feito pelo PCA. Até
porque o próprio slogan do congresso nesse ano foi uma frase proposta por dois alunos
da turma, entre tantas outras sugeridas por alunos das escolas do concelho.
O trabalho foi reconhecido pela comunidade a que se destinava, mas não só.
Também a TMN reconheceu o que foi feito e resolveu presentear alunos e professores
com vários brindes.
O projeto continua online, está disponível a partir do seguinte endereço:
http://kids.sapo.pt/scratch/projects/VJanela/2477.
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Conclusão
A boa prática apresentada subscreve a ideia de Rodrigues (2006:39) quando este
afirma que “uma escola que acolhe as diferenças, a colaboração, a convivência é um
bom princípio para combater a exclusão social”. Na sociedade atual é imperativo que a
educação passe por uma atitude de concertação educativa sendo a sua principal função
gerir, tomar decisões e criar condições favoráveis ao desenvolvimento educacional dos
alunos e da restante comunidade escolar.
O projeto dinamizado permitiu que os alunos aprendessem competências em várias
áreas do saber, estimulou o seu raciocínio, a capacidade de trabalho em grupo, a
responsabilidade, a criatividade, a autonomia. Mais, permitiu-lhes crescer enquanto
pessoas se não veja-se a afirmação de um dos alunos da turma que passo a transcrever:
“Vou-me esforçar ao máximo, agora dou valor ao que os professores diziam. Sem
estudar não há nada a fazer, agora que compreendi isso vou-me esforçar ao máximo. Se
puderes dá um beijinho meu a todos aí no CAIJ e aos meus antigos professores… e
diz-lhes que estou muito agradecido :D”.
A boa prática descrita está disponível online como foi referido anteriormente. Os
alunos da nossa escola quando abordam a sexualidade vêm a apresentação e revêem-se
no trabalho realizado pelos colegas. É o empurrão que se precisa para desenvolver
outras boas práticas nas turmas com as características das de Percurso Curricular
Alternativo, mas não só.
Este ano letivo pretendo voltar a usar o Scratch com uma turma de 2º ciclo do
ensino básico que já demonstrou interesse pela mesma. A temática será outra, as drogas,
bem como as disciplinas envolvidas. Mas o objetivo principal mantem-se o mesmo:
proporcionar formas diferenciadas de aprendizagem aos alunos, que lhes permitam
efetivamente aprender os conteúdos que lhes queremos transmitir.
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Nesse sentido, assisti durante a ação de formação ao workshop Ws4 – Utilização
educativa do Scratch, dinamizada pela professora Teresa Marques. Durante o workshop
pude aprofundar alguns conceitos associados ao programa e relembrar outros. Fiz grupo
com uma colega do grupo disciplinar de Matemática que nunca tinha tido contacto com
o Scratch e foi enriquecedor olhar o programa pela perspetiva do professor.
Permitiu-me a percepção do tipo de dificuldades/facilidades que poderei encontrar ao
trabalhar no programa em conjunto com outro docente.
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Bibliografia
Rodrigues, D. (2006). Defender a educação inclusiva. Jornal “a Página” n.º 157.