Relações
Estigma e preconceito como
expressões das relações na
escola
Adriana Tessaro WillMestre em Educação – UEM
Pedagoga da Rede Estadual de Ensino
“O agir sem reflexão, de forma aparentemente imediata perante alguém marca o preconceito”
(CROCHIK, 1995)
Preconceito do latim prejudicium
(julgamento ou decisão anterior, um precedente
ou um prejuízo).
Preconceito do latim prejudicium
(julgamento ou decisão anterior, um precedente
ou um prejuízo).
O termo estigma surgiu na Grécia Antiga, para se referir aos sinais do corpo que os gregos
interpretavam como ‘algo mau’ daquela pessoa. Assim negativamente marcada, a pessoa deveria ser evitada,
especialmente em lugares públicos.
Do grego stigma (cicatriz, marca,
sinal).
Do grego stigma (cicatriz, marca,
sinal).
“(...) os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escravo, um
criminoso ou traidor – uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada,
especialmente em lugares públicos”
(GOFFMAN, 1980)
Ou seja, a pessoa estigmatizada era
colocada à margem da sociedade.
Ou seja, a pessoa estigmatizada era
colocada à margem da sociedade.
Atualmente, estigma é a evidência que se faz a qualquer marca diferencial de uma pessoa, reduzindo-a socialmente a esse sinal. Estigmatizar é colocar um
rótulo em alguém.
Sanção normalizadora (qualquer traço que fuja dos
padrões “normais”, pode levar um grupo social a discriminar, rejeitar ou excluir uma pessoa
ou grupo.)
Sanção normalizadora (qualquer traço que fuja dos
padrões “normais”, pode levar um grupo social a discriminar, rejeitar ou excluir uma pessoa
ou grupo.)
A definição de estigma está apoiada na cultura, no tempo e na sociedade, podendo variar entre as regiões
e os períodos históricos. Assim, o atributo que desqualifica, que é percebido como estigma em um
dado contexto social pode não o ser em outro.
A formação do pensamento preconceituoso, estigmatizante, estereotipado, estabelece uma relação
vertical de superioridade-inferioridade em que se considera o homem melhor do que a mulher, o branco
superior ao negro, o rico melhor do que o pobre, o sulista como superior ao nordestino e o homossexual
inferior ao heterossexual.
O pensamento através de clichês, que fragmenta o mundo em bom e mau, perfeito e imperfeito, útil e inútil provém da própria realidade que se organiza de forma
binária, classificatória, esquemática, ou seja, da mesma forma que o funcionamento dos processos de
produção.
(CROCHÍK, 1995)
“(...) a classe burguesa produz preconceitos em muito maior medida que todas as classes sociais conhecidas
até hoje. Isso não é apenas conseqüência de suas maiores possibilidades técnicas, mas também de seus esforços ideológicos hegemônicos: a classe burguesa
aspira a universalizar sua ideologia.”
(HELLER,1989)
A escola não pode ser compreendida fora do contexto social e econômico em que está inserida. Sendo
assim, podemos dizer que o papel que vem desempenhando ao longo do tempo é o de atender,
predominantemente, aos interesses da classe dominante, do capital, ajudando na reprodução da
ordem estabelecida.
Portanto, a escola transforma-se, nestas condições, em uma “engrenagem” do sistema que tende a
referendar as diferenças sociais, mesmo quando dá a ilusão de valorizar a democratização.
A escola dissimula uma verdadeira violência simbólica. Essa violência é a arma ideológica dos
dominantes sobre a classe dominada, por meio da inculcação dos modos de pensar, agir e sentir de um
determinado grupo.
(BOURDIEU e PASSERON, 1982)
O processo de individualizar questões políticas e educacionais é mais um engodo da sociedade
capitalista para universalizar sua ideologia.
Que se desvela no currículo
Que se desvela no currículo
Collares e Moysés (1996) afirmam que “em uma sociedade que prega a igualdade entre os homens e
que se funda na desigualdade, crer em mitos e preconceitos que coloquem nas pessoas a
responsabilidade por sua desigualdade é essencial para a manutenção desse sistema”.
“A sociedade passa a delegar para o indivíduo a responsabilidade de seus atos. Se isto, por um lado,
aponta para autonomia, de outro lado, encobre as próprias condições sociais que não a permitem. O
indivíduo passa a ser responsabilizado pelo seu estado de minoridade, deixando-se de pensar o que impede a
sua maioridade”.(CROCHÍK, 1995)
“Para os professores, as causas de as crianças não aprenderem na escola são externas à instituição
escolar, devendo ser buscadas na criança, e em sua família” (MOYSÉS, 2001)
Em 2004, realizou-se uma pesquisa em uma escola pública municipal onde encontrou-se duas crianças de
3ª série do Ensino Fundamental que, segundo os membros da escola, sofriam de negligência familiar. Constatou-se em sala de aula, o estabelecimento de
relações preconceituosas da professora para com estes alunos, uma vez que os mesmos recebiam tratamento
diferenciado, tanto no aspecto pedagógico quanto humano. Esses alunos porque não pertenciam ao
modelo nuclear de família eram estigmatizados como “aqueles que não são capazes de aprender”.
Constatou-se que a relação pedagógica entre a professora e esses alunos estava marcada pela
denominada “profecia auto-realizadora”, em que a professora faz uma previsão de fracasso, de insucesso dos alunos desde o início do ano letivo, constatando,
mais tarde, que não aprendem devido às suas dificuldades de aprendizagem.
“A Juli tem tudo pra ser uma prostituta, pois é constantemente largada pela mãe, que não trabalha fora e
também não cuida da filha, pois manda-a pra creche no período da tarde”.
“ tem aluno aqui que tem tudo pra ser um marginal, principalmente aqueles que a família não está nem aí”. (referindo-se a Diogo, que segundo a escola, é filho de
alcoólatra).
Estigmas: preguiçoso, monte, mal educado, traste, marginal, mal amado, plasta, balão
humano.
A ausência de conhecimento da realidade social, de reflexão, de análise histórica dos fatos, gera
preconceitos de diversas ordens.
E que caminho seguir para tentar romper e superar com o preconceito e estigmas que dele advém
??
→ Compreendendo as relações existentes na sociedade como um todo e na escola, em particular;
→ Adotando um método, enquanto referencial teórico-metodológico que leve à análise e à compreensão
histórica da prática social.
* BOURDIEU, Pierre e PASSERON, Jean-Claude. A reprodução - elementos para uma teoria do sistema de ensino. 2. ed. Trad. Reynaldo Bairão. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1982.
* CROCHIK, José Leon. Preconceito: indivíduo e cultura. São Paulo: Robe, 1995.
* GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
* HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 3. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989.
COLLARES, Cecília A. L.; MOYSÉS, M. Aparecida . Preconceito no ٭cotidiano escolar: ensino e medicalização. São Paulo: Cortez, 1996.
MOYSÉS, Maria Aparecida Affonso. A institucionalização invisível: crianças٭que não-aprendem-na-escola. Campinas, SP: Mercado de Letras; São Paulo:
Fapesp, 2001.
REFERÊNCIAS