Toledo, 12 a 14 de novembro de 2013 ENCONTRO PARANAENSE DE ECONOMIA
RENDIMENTO DO TRABALHO SEGUNDO AS POSIES NA
OCUPAO E A DESIGUALDADE DE RENDA NO PARAN
Solange de Cssia Inforzato de Souza1
Dimitri da Costa Bessa2
Rita de Cssia Garcia Margonato3
Carlos Roberto Ferreira4
rea Temtica: Populao e mercado de trabalho no Paran
Resumo
O objetivo deste artigo examinar o rendimento do trabalho no Paran segundo as posies na ocupao e mensurar o grau de progressividade dessas categorias de renda, a partir dos microdados da PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios - paraos anos de 2002 e 2011. Os dados permitiram identificar a manuteno da renda de todos os trabalhos na renda dos domiclios e a ampliao das rendas dos empregados formais, em contraste com a trajetria do trabalho na dcada de 1990. No Paran verifica-se que os rendimentos do trabalho assalariado contribuem positivamente para a queda na desigualdade da renda, e as rendas do trabalho por conta prpria e empregadores comportam-se inversamente. Os rendimentos dos empregados e domsticos, formalizados ou no, contribuem para a melhoria da distribuio da renda, mas entre os anos 2002 e 2011, aumentou-se a progressividade para os empregados com e sem carteirae reduziu-se para os domsticos com e sem carteira. Os rendimentos do trabalho essencialmente privados(empregados e trabalhador domstico) so progressivos e os essencialmente pblicos (militares e funcionrios pblicos estatutrios) so regressivos; esses ltimos contribuem para o aumento da desigualdade brasileira e do Paran.
Palavras-chave: Rendimento do trabalho. Ocupaes.Paran.
Abstract
The purpose of this article is to examine the labor income in Paran according to positions in the occupation and measure the degree of progressivity of these categories of income, using microdata from PNAD - National Household Sample Survey - of the years 2002 and 2011 .Data identify the maintenance of income of all labors in household income, expansion of revenue of formal employees, in contrast to the history of labor in the 1990s. The income from employment contributes positively to the decline of income inequality, and income from self-employment and employers behave inversely. Incomes of employees and domestic workers, formalized or not, contribute to improving the inequality of income, but between 2002 and 2011, the progressivity has increased for employees formal and informal and is reduced toformal and informal. Labor income, essentially private (domestic workers and
1 Professora associada do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina.
2 Doutorando em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina.
3 Mestre em Economia Regional pela Universidade Estadual de Londrina,
4 Professor associado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Londrina
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employees),is progressive and essentially public (military and civil servants) is regressive, the last one contributes to the increase in overall inequality and the Brazilian Paran.
Key Words: Labor income. Occupations.Paran.
Introduo
A desigualdade de renda brasileira vem sendo debatida desde a dcada de 1970,
tendo como ponto de partida a elevao dos ndices de desigualdade entre1960 e 1970. A
partir de 2001, a queda substancial da desigualdade pessoal da renda gerou um esforo de
compreenso dos fatores determinantesdesse processo por parte dos analistas, j que o
seu conhecimento permite delinear polticas pblicas para a sua sustentabilidade.
A desigualdade da renda uma das formas mais importantes de desigualdade que
se conhece,pelo menos por dois motivos: por figurar entre os objetivos definidos nas Metas
do Milnio, amplamente divulgadas, que reconhecem a ateno que a sociedade
contempornea tem dado a esse tema, e pela possibilidade precisa de sua mensurao.
Entre os principais fatores para a queda da desigualdade no perodo esto as
transferncias de renda, particularmente o crescimento das transferncias condicionadas
nos anos 2000 no Brasil, e o revigoramento do mercado de trabalho marcado, entre outras,
pela formalizao dos postos de trabalho e pela poltica de valorizao do salrio mnimo,
discutidos emHoffmann (2005);Barros et al. (2006)eIPEA (2011).
No tocante ao mercado de trabalho, a queda da desigualdade da renda do
trabalho, tanto no plano nacional quanto estadual, relatados porSouza e Ferreira (2007),
Arajo;Salvato e Souza (2008) e Cunha e Vasconcelos(2011), inspira outras questes,
como a investigao das possveis diferenas existentes entre as posies na ocupao.
Nesse sentido, o objetivo deste artigo examinar o rendimento do trabalho no Paran
segundo as diferentes posies na ocupao e mensurar o grau de progressividade dessas
categorias de renda, a partir dos microdados da PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de
Domiclios - paraos anos de 2002 e 2011.
Este artigo est dividido em trs sees alm desta introduo.A segunda
seo estabelece brevemente o panorama da desigualdade recente no Brasil e no Paran, a
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segunda indica a metodologia utilizadae a terceira analisa os resultados da pesquisa. Por
fim, as concluses so apresentadas.
1.A reduo da desigualdade de renda no Brasil e no Paran no perodo recente
Sabe-se que a ltima dcada foi marcada por transformaes que h muito no se
via no Brasil. Segundo Barros et al. (2006)o nvel da desigualdade de renda no Brasil em
2004 erao menor dosltimos 30 anos. Aos poucos, havia sinais de que o profundo abismo
social presente em nossa sociedade, no que tange a distribuio de renda e as
desigualdades sociais, dava os primeiros passos em direo a uma reduo, mas que ainda
estavamuito aqum de ser algo efetivo. Ainda assim, adesigualdade de renda no Brasil
embora um problema persistente de longa data, tem apresentado uma reduo significativa
ao longo dos anos 2000 e se tornado um rotineiro objeto de estudo.
A literatura especializada afirma que, em grande medida, a reduo da
desigualdade de renda deriva dos programas de transferncias de renda e combate
pobreza extrema, no entanto, uma parcela significativa da melhoria apresentada no cenrio
nacional pode estar relacionada recuperao do mercado de trabalho. Nesse contexto, o
momento atual de mudanas na sociedade brasileira inspira perguntas e olhares sobre qual
a importncia da renda do trabalho para a queda da desigualdade.
Hoffmann (2005) apresenta uma nota sobre qual a influncia dos programas de
transferncia de renda para a reduo das disparidades de renda na sociedade brasileira.
Conclui que apenas de 10 a 20% dessa diminuio pode ser associada a programas de
transferncia de renda, como o Bolsa Famlia. Ao decompor o ndice de Gini, para o perodo
de 2002 a 2004, o autor afirma que entre 2003 e 2004 a parcela de reduo do ndice de
Gini que pode ser atribuda aos programas oficiais de transferncia de renda foi inferior a
do total. A maior parte da diminuio da desigualdade decorreu do rendimento domiciliar per
capita, e corresponde ao rendimento do trabalho, decorrentes dos pagamentos brutos
mensais aos empregados, empregadores e conta prpria, advindos ou no do trabalho
principal.
Segundo IPEA (2011), ao longo da ltima dcada observou-se no pas
simultaneamente ampliao da renda per capita e reduo no grau de desigualdade na
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distribuio pessoal de rendimento do trabalho. Em grande medida, esse fato decorreu da
recuperao do mercado de trabalho, reduo do desemprego e crescimento do emprego
formal, em conjunto fizeram com que a participao do rendimento do trabalho se tornasse
mais expressivo na participao da renda nacional. Em nmeros, o rendimento do trabalho
apresentou uma expanso de 14,8% no total da renda nacional, no perodo de 2004 a 2010.
As estimativas apresentadas por Barros et al. (2006) mostram que a mudana
nadistribuio da renda no-derivada do trabalho foi responsvel por 36% dareduo na
desigualdade de renda per capita ocorrida entre 2001 e 2004 no Brasil . J a distribuio da
renda do trabalho correspondia a 47% da reduo recente na desigualdade derenda per
capita. Ressaltam que, apesar de a renda do trabalhoter declinado cerca de 7% no perodo,
a desigualdade em sua distribuio caiu 10%.
No aspecto regional,Souza e Ferreira (2007) ao realizar adecomposio do ndice
de Ginino perodo de 2001 a 2005, para o Brasil, regio Sul e Paran, avaliaram a
magnitude da desigualdade de renda. Concluram que houve queda na desigualdade de
renda a nvel nacional, regional e no Estado do Paran. O rendimento do trabalho principal
foi o componente commaior percentual de participao no rendimento total, ultrapassou 70%
da representatividade do rendimento total, com destaque para o Paran, no qual chegou a
representar 75% do total dos rendimentos.
Arajo, Salvato e Souza (2008) utilizam o ndice de Theil-T para explorar as
disparidades de renda na regio Sul. Concluem que o Paran foi o Estado mais desigual
enquanto o Rio Grande do Sul era o menos desigual, considerando-se dados da Pnad
de1995, 1999 e 2002-2006. Constatou-se que houve reduo desigualdade na regio, com
destaque para o estado de Santa Catarina, que representou 21,54%. Alm disso, a
distribuio de rendafoi menos desigual nos estados da regio Sul do que no Brasil como
todo, principalmente no Rio Grande do Sul.
No cenrio paranaense, Cunha e Vasconcelos (2011) afirmam que no perodo de
1995 a 2008 ocorreu uma reduo nos diferencias de salrios no Estado, porm as
disparidades intersetoriais so responsveis por uma expressiva parcela da desigualdade
salarial dos trabalhadores paranaenses.Ao utilizar o ndice de Ginipara comparar o salrio
real mdio no incio e o final do perodo, apontam uma reduo na desigualdade, pois
passam de 0,517 em 1995 para 0,431 em 2008.
A reduo da desigualdade da renda e a relevncia dos rendimentos do trabalho,
documentadas na literatura no Brasil e no Paran, leva-nos a questionar sobre a situao do
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Estado em relao s diferentes posies na ocupao, a participao e seus graus de
progressividade. Esse o intuito principal deste trabalho.
2. Procedimentos Metodolgicos
2.1 Base de Dados
As informaes usadas para anlise e discusso neste trabalho foram extradas
das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domiclios (PNAD), para os anos de 2002 e 2011.
Como cada amostra da PNAD representa uma parcela da populao, utilizou-seo fator de
expanso da amostra e os estimadores de razo cuja varivel independente a projeo da
populao residente de cada Unidade da Federao, segundo o tipo de rea (regio
metropolitana e no metropolitana de divulgao da pesquisa) (IBGE, 2002-2011).
De acordo com as notas metodolgicas do IBGE (2002-2011), considerou-se como
rendimento mensal domiciliar a soma dos rendimentos mensais dos moradores da unidade
domiciliar, exclusive os das pessoas de menos de 10 anos de idade e daquelas cuja
condio na unidade domiciliar fosse pensionista, empregado domstico ou parente do
empregado domstico. Para o clculo do rendimento domiciliar per capita, dividiu-se o
rendimento domiciliar mensal pelas pessoas consideradas em sua composio.
Ainda segundo as notas metodolgicas, os componentes do rendimento domiciliar
so os provenientes do trabalho principal e de outros trabalhos, das aposentadorias,
penses e abono de permanncia, do aluguel, da doao recebida de no morador e dos
juros de caderneta, de outras aplicaes financeiras e outros rendimentos.
O procedimento metodolgico adotado pelo IBGE implica que cada pessoa da
amostra representa um determinado nmero de pessoas da populao e os dados
individuais so fornecidos com o peso ou fator de expanso de cada indivduo. Isso permite
que os clculos sejam elaborados ponderando-se cada observao pelo respectivo peso.
Todos os clculos, neste trabalho, foram feitos considerando o peso ou fator de expanso
de cada domiclio da amostra da PNAD, analisados apenas os domiclios particulares
permanentes com declarao do rendimento domiciliar. Domiclios com rendimentos no
declarados foram excludos da anlise
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Este trabalho analisa, em especfico, a parcela referente ao rendimento de todos os
trabalhos(trabalho principal e outros trabalhos) para pessoas com 10 anos ou mais,
subdividida a partir da categoria de posio na ocupao de trabalho5, e agrupadas em 3
distintos grupos, como mostra a Tabela 1.
Tabela 1 Grupos de diviso da parcela de rendimento de todos os trabalhos
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3
Empregado Empregado c/ Carteira Assinada Empregado e trabalhador domstico
Empregador Empregado s/ Carteira Assinada Empregado militar e estatutrio
Conta Prpria Trabalhador Domstico c/ Carteira Assinada Conta Prpria e Empregador
Outros Trabalhador Domstico s/ Carteira Assinada Outros
Militar
Funcionrio Pblico Estaturio
Outros
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dicionrios da PNAD.
2.2 Decomposio do ndice de Gini
Hoffmann (1998) demonstra a Curva de Lorenz e a apresenta da seguinte maneira.
Considerando-se uma populao com n pessoas, e ix a renda do i-simo indivduo, ordena-
se os valores de maneira que
1 2... ...i nx x x x
(1)
a proporo acumulada da populao dada por,
ii
pn
(2)
e o correspondente para a renda ,
1
1 n
i i
j
xn
(3)
5 definido como ocupaocomo sendo o cargo, funo, profisso ou ofcio exercido pela pessoa no ano vigente da
pesquisa.
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em que a renda mdia, dada por,
1
1 n
i
j
xn
(4)
A Curva de Lorenz obtida pela relao entre os pares de valores de ip e i . O
ndice de Gini (ou Coeficiente de Gini) se d pelo quociente da rea entre a linha de perfeita
igualdade e a Curva de Lorenz (denominado ), e o seu valor limite (0,5), ou seja,
20,5
G
(5)
Definindo a rea entra a Curva de Lorenz e o eixo das abscissas, pode-se dizer
que a rea total do tringulo se d por, 0,5 . Com isso, pode-se reescrever a
equao (5) como,
1 2G (6)
De maneira semelhante, pode-se considerar que a renda ix composta por k
parcelas, ou seja1
k
i hi
i
x x
, e a mdia da h-sima parcela se d por,
1
1 n
h hi
i
xn
(7)
e a participao da h-sima parcela na renda total como,
h
h
(8)
Analogamente, Pyatt, Chen e Fei (1980) definiram a curva de concentraocomo
sendo a relao da proporo acumulada da parcela h em funo da variao da proporo
acumulada da populao ( ip ). Ento, do mesmo modo que para o ndice de Gini, define-se
a Razo de Concentrao da parcela h ( hC ) como sendo,
1 2h hC (9)
em que h a rea entra a curva de concentrao da h-sima parcela e os eixos
das abscissas.
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Com as equaes (8) e (9), pode-se demonstrar que,
1
k
h h
h
G G C
(10)
e como 1
1hh
, pode-se reescrever a equao (10) como,
1
k
h h
h
G G
(11)
com,
h hG C (12)
A equao (12) definida como a medida de progressividade, pois relacionando-a
com a equao (11), no caso de 0h ( hC G ), corresponder a parcelas progressivas,
ou seja, que contribuem para decrscimo do coeficiente de Gini (desconcentrando renda), e
no caso inverso, em que 0h ( hC G ), hix ser uma parcela regressiva (concentrando
renda)
3. Resultados e discusso
3.1. Rendimentos do trabalho e a relevncia na composio da renda domiciliar segundo a posio na ocupao no Paran
Os resultados da pesquisa revelam a manuteno da participao significativa da
renda derivada de todos os trabalhos no Paran e no Brasil em seu conjunto, entre 2002 e
2011, de aproximadamente 79% e 77% respectivamente (Tabela 2).
A pesquisa anterior de Ferreira e Souza(2011) til para a visualizao das
mudanas pelas quais passou o mercado de trabalho no que se refere aos rendimentos,
pois na dcada 1990, a presena da renda do trabalho na renda dos domiclios diminuiu em
virtude do aumento das rendas das transferncias contributivas. Se se considera os dados a
partir de 1981 para o Brasil, segundo os autores, a renda do trabalho principal representava
82,70% da renda dos domiclios, e em 2001 esse valor era de 74,72%. As transferncias
contributivas que representavam 9,54% em 1981sobem para 18,55% em 2001. A partir de
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2002, como mencionado, a renda de todos os trabalhos ir manter-se na composio da
renda domiciliar, de acordo com os dados desta pesquisa.
Tabela 2 Participao das categorias de trabalho do Grupo 1, em percentual, na composio do rendimento domiciliar per capita total para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregados 49,70 53,62 47,31 51,66
Empregadores 11,91 8,27 14,04 11,46
Conta Prpria 15,74 15,43 17,91 16,69
Outros 0,02 0,01 0,02 0,03
Total 77,37 77,33 79,28 79,85
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
A recuperao da economia brasileira na primeira dcada dos anos 2000 se
sintoniza com o mercado de trabalho, pela recomposio da importncia da renda advinda
de todos os trabalhos na renda dos domiclios perdida nos anos 1990, e particularmente
quando considerados os rendimentos segundo as posies na ocupao. A relao de
trabalho assalariada no Paran em termos de sua remunerao favorecida e ao mesmo
tempo os segmentos dos empregadores e conta prpria so reduzidos, como mostram os
dados nas Tabelas 2 e 3.
No Paran, tanto do ponto de vista do rendimento domiciliar per capita total quanto
do total dos rendimentos do trabalho, a posio de empregados formalizados foi importante.
Neste ltimo, 64,70% vem da posio de empregados no mercado de trabalho, sendo
43,27% empregados(inclusive domsticos) formalizados, em 2011, nmeros maiores do que
em 2002. De outro lado, a renda dos trabalhadores sem carteira representa 9,37 do
rendimento do trabalho, menor do que em 2002. Ao considerar os rendimentos dos
ocupados com carteira, militares e funcionrios pblicos estatutrios, todos formalizados,
representam 55,33% dos rendimentos do trabalho (Tabelas 4 e 5).
A unidade federativa paranaense, dentro do contexto brasileiro, formalizou o
trabalho, aproveitando-se das condies favorveis da economia brasileira, com o aumento
das ocupaes do setor industrial(POCHMANN, 2006) e manteve ataxa de desemprego
inferior a 10% a.a. na dcada. Outros elementos podem ser mencionados como o aumento
dos gastos sociais, especialmente sade e educao que historicamente demandam mo
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de obra formalizada, estmulo ao setor exportador (dados os preos das commodities),
poltica de crdito e maior atuao e fiscalizao do mercado de trabalho pelas instituies
(RAMOS, 2007).
O pas enfrentou a crise de 2008, sendo osefeitos mais severos concentrados na
indstria de transformao com reduo de produo e emprego, por conta de fatores
internos ligados deteriorao das expectativas e das restries ao crdito privado, e da
queda do comrcio mundial, que formaram os canais de transmisso da crise, segundo
(SOUZA e MANOEL, 2011).
A exemplo de outros pases, diversas medidas de carter anticclico foram
adotadas pelo governo brasileiro. A manuteno da demanda agregada realizou-se
principalmente pelareduo do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de produtos
como automveis e eletrodomsticos;ampliao de linhas de crdito para o mercado de
carros usados;preservao dos investimentos, principalmente em infraestrutura, previstos no
mbito do Programa de Acelerao do Crescimento (PAC) do governo federal.
Tabela 3 Participao das categorias de trabalho do Grupo 1, em percentual, na composio do rendimento do trabalho para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregados 64,24 69,34 59,67 64,70
Empregadores 15,39 10,69 17,71 14,35
Conta Prpria 20,35 19,96 22,59 20,91
Outros 0,03 0,02 0,03 0,04
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
Adicionalmente, o governo implementou ou ampliou medidas de cunho social que
colaboraram para sustentar a demanda e investimentos domsticos, especialmente no
setor da construo civil, mesmo em face da crise externa. Entre as principais medidas
destacam-se: os reajustes do salrio mnimo e do Programa Bolsa Famlia (PBF), a
ampliao do programa de seguro-desemprego e o pacote imobilirio. Este ltimo teve
como referncia a melhoria das condies de crdito(crescimento no volume e nos prazos
de financiamento imobilirio nos segmentos de pessoas fsicas e de pessoas jurdicas), a
iseno de IPI para materiais de construo e os programas habitacionais, tanto para o
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sistema de mercado como para os de interesse social, com destaque para o Programa
Habitacional Popular Minha Casa Minha Vida, cujo objetivo atender as necessidades
de habitao da populao de baixa renda nas reas urbanas6.
O impacto mais importante da crise internacional que ela interrompeu o vigor do
crescimento econmico, do quadro social brasileiro e do mercado de trabalho no primeiro
trimestre de 2009, mas restabeleceu-se paulatinamente normalidade,demonstrando que a
crise foi menos intensa e menos longa do que se previa no Brasil. A exemplo de outros
pases emergentes, como a China e ndia, a economia brasileira se mostrou resilient aos
choques da crise internacional e sofreu um impacto em termos de reduo do PNB e
aumento do desemprego significativamente menor que outros pases.
O emprego formal, como evento almejado do mercado de trabalho, seguiu a
trajetria de crescimento da dcada. Merece destaque os indicadores que seguiram seu
curso favorvel nos anos 2008-2010,pelos quais se percebe o restabelecimento do mercado
de trabalho e da situao social do pas: o salrio mnimo manteve-se em processo de
valorizao, os rendimentos mdios reais dos trabalhadores mantiveram crescimento
iniciado no ano de 2004. Aps a queda dos rendimentos mdios reais do trabalho at o ano
de 2004, inicia-se um perodo de melhoria que significou um crescimento de 12,2% na
dcada de 2000 como um todo (2001-2009) e um incremento de 2,5% entre 2008-
2009(SOUZA e MANOEL, 2011).
Tabela 4 Participao das categorias de trabalho do Grupo 2, em percentual, na composio do rendimento domiciliar per capita total para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregado CC 27,97 32,34 29,59 33,64
Empregado SC 9,67 8,10 8,60 6,34
D. CC 0,75 0,93 0,76 0,91
D. SC 1,36 1,34 1,37 1,14
Militar 0,44 0,34 0,14 0,15
F.Pblico estatutrio 9,50 10,57 6,84 9,48
Outros 27,67 23,71 31,97 28,19
Total 77,37 77,33 79,28 79,85
6 De acordo com o Ministrio das cidades, o Programa funciona por meio da concesso de financiamentos a
beneficirios organizados de forma associativa por Entidade Organizadora ( Associaes, Cooperativas, Sindicatos e outros ), com recursos provenientes do Oramento Geral da Unio OGU, aportados ao Fundo de Desenvolvimento Social FDS, podendo ter contrapartida complementar de estados, do Distrito Federal e dos municpios.
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Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
Tabela 5 Participao das categorias de trabalho do Grupo 2, em percentual, na composio do rendimento do trabalho para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregado CC 36,15 41,82 37,33 42,13
Empregado SC 12,50 10,47 10,85 7,94
D. CC 0,97 1,21 0,95 1,14
D. SC 1,76 1,73 1,73 1,43
Militar 0,57 0,44 0,17 0,19
F.Pblico estatutrio 12,28 13,67 8,63 11,87
Outros 35,76 30,66 40,33 35,30
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
Apesar disso, segue a persistncia da informalidade, ou seja, coexistem a
formalidade e a informalidade, aqui expressa nos dados sobre a posio na ocupao; isso
em parte condicionada pela formao histrica do mercado de trabalho brasileiro e em outra
pela prpria dinmica da econmica do pas (DEDECCA, 2005).
As informaes expostas nas Tabelas 4 e 5, tambm mostram o aumento da
participao dos funcionrios pblicos estatutrios no rendimento total domiciliar e no
rendimento do trabalho (11,87% no Paran em 2011).
Outros dados so sintetizados nas Tabelas 6 e 7. As rendas do trabalho
essencialmente privado7, bem como do trabalho essencialmente pblico aumentam no Brasil
e no Paran, mas o que singulariza o perodo esse ltimo.Estudos como o de
Dar(2011),tambm aponta que a sua participao preterida no governo FHC e
aumentada no governo Lula. As condies macroeconmicas diferentes podem explicar:
enquanto no governo FHC o estrangulamento fiscal restringia o aumento no nmero de
trabalhadores pblicos e de seus gastos, o ps 2002 a estabilidade econmica, aumento da
arrecadao e conjuntura externa favorvel facilitava a expanso dessas ocupaes e sua
participao maior na renda.
7Rendas do trabalho essencialmente privados significam que em grande parte essas rendas so advindas das
relaes salariais privadas, mas no totalmente, j que a elas se somam as rendas de trabalhadores pblicos com carteira assinada e sem carteira assinada (no estatutrios).
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Tabela 6 Participao das categorias de trabalho do Grupo 3, em percentual, na
composio do rendimento domiciliar per capita total para o Brasil e Paran, nos anos de
2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregado e trabalhador domstico 39,76 42,71 40,33 42,03
Empregado militar e estatutrio 9,94 10,91 6,98 9,63
Conta Prpria e Empregador 27,65 23,70 31,95 28,16
Outros 0,02 0,01 0,02 0,03
Total 77,37 77,33 79,28 79,85
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
Tabela 7 Participao das categorias de trabalho do Grupo 3, em percentual, na composio do rendimento do trabalho para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregado e trabalhador domstico 51,39 55,23 50,87 52,64
Empregado militar e estatutrio 12,85 14,10 8,80 12,06
Conta Prpria e Empregador 35,73 30,65 40,30 35,26
Outros 0,03 0,02 0,03 0,04
Total 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
3.1.2. O grau de progressividade da renda do trabalho
A literatura econmica do mercado de trabalho tem ressaltado, de forma geral, a
sua contribuio para a queda da desigualdade da renda no Brasil a partir de 2011, segundo
analistas como Hoffmann (2005), Soares (2010), Ferreira e Souza(2011),Bertoni Neto et al
(2011),Baptistella et al.(2009). No Paran, os estudos de Souza e Ferreira(2012) e
Arajo;Salvato e Souza (2008) confirmam a importncia do trabalho como componente
fundamental para a melhoria da desigualdade.
Este trabalho para o estado do Paran decompe a renda de todos os trabalhos
pelas posies na ocupao e verifica, em primeiro lugar, que o rendimento dos
empregados contribui positivamente para a melhoria da renda no Estado nos dois anos
analisados, enquanto para 2011, por exemplo, as categorias de empregadores e conta
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prpria so regressivas(Tabela 8). Isso significa que a relao salarialexplicitada pela
posio de empregados importante para o bem-estar da sociedade.
Grfico 1 ndice de Gini (G ) para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011.
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
Segundo a metodologia descrita na seo 3, a razo de concentrao da posio
de empregados menor do que o ndice de Gini total da renda, confirmando que o
assalariamento provoca a melhor distribuio da renda(Tabela 9). O grfico 1visualiza o
ndice de Gini total do Brasil e Paran.
Tabela 8 Progressividade ( ) das categorias de trabalho do Grupo 1, para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregados 0,043 0,024 0,081 0,079
Empregadores -0,269 -0,323 -0,307 -0,362
Conta Prpria 0,086 0,029 0,067 -0,025
Outros 0,218 0,170 0,718 0,109
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
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Tabela 9 Razo de Concentrao (C ) para as categorias de trabalho do Grupo 1, para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregados 0,544 0,505 0,455 0,388
Empregadores 0,856 0,852 0,843 0,828
Conta Prpria 0,501 0,500 0,470 0,491
Outros 0,370 0,359 -0,181 0,357
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
Em segundo lugar, a nova decomposio do rendimento do trabalho segundo a
categoria do emprego no estado, permite afirmar que os rendimentos dos empregados e
domsticos, formalizados ou no, contribuem para a melhoria da distribuio da renda.
Separadamente, a progressividade aumentou para os empregados com e sem carteira, que
reduzem a desigualdade da renda, mas reduziu-se para os domsticos com e sem carteira,
o que aumenta a desigualdade de renda. Isso refora que o rendimento dos assalariados
domsticos tema importante para a economia do trabalho.Ao fim, essas duas foras
opostas resultam na diminuio da desigualdade da renda no Paran (Tabelas 10 e 11).
Tabela 10 Progressividade ( ) das categorias de trabalho do Grupo 2, para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregado CC 0,021 0,034 0,070 0,118
Empregado SC 0,203 0,192 0,187 0,232
D. CC 0,426 0,361 0,538 0,400
D. SC 0,581 0,501 0,676 0,524
Militar -0,135 -0,148 -0,178 -0,114
F,Pblico -0,155 -0,221 -0,170 -0,243
Outros -0,067 -0,094 -0,097 -0,162
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
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Tabela 11 Razo de Concentrao (C ) para as categorias de trabalho do Grupo 2, para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregado CC 0,566 0,495 0,466 0,349
Empregado SC 0,385 0,337 0,349 0,235
D. CC 0,161 0,168 -0,002 0,066
D. SC 0,006 0,028 -0,140 -0,057
Militar 0,722 0,677 0,714 0,580
F,Pblico 0,742 0,750 0,706 0,710
Outros 0,654 0,623 0,633 0,628
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
Em terceiro lugar, a diviso dos rendimentos do trabalho em essencialmente
privados(empregados e trabalhador domstico) e essencialmente pblicos (militares e
funcionrios pblicos estatutrios) dispe que os primeiros so progressivos, isto ,
reduzem a desigualdade da renda no Brasil e no estado. Por outro lado, sob o ponto de vista
essencialmente pblico, contribuem para o aumento da desigualdade geral brasileira e do
Paran. Ao contrrio do que alguns estudiosos afirmam e em consonncia com Dar(2011),
os rendimentos dos funcionrios pblicos estatutrios so regressivos, sendo suas razes
de concentrao superiores ao ndice de Gini total da renda domiciliar (tabela 12 e 13).
Pode-se relacionar a regressividade da renda dos trabalhadores essencialmente
pblicos com a diferena de rendimentos a favor dos estatutrios, que por sua vez estaria
explicada pelo maior nvel de escolaridade, segundo os adeptos da teoria do capital
humano, ou dualidade do mercado de trabalho brasileiro e paranaense. Isso merece ser
aprofundado em outros trabalhos.
Tabela 12 Progressividade ( ) das categorias de trabalho do Grupo 3, para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregado e trabalhador domstico 0,092 0,085 0,125 0,152
Empregado militar e estatutrio -0,154 -0,218 -0,170 -0,241
Conta Prpria e Empregador -0,067 -0,094 -0,098 -0,162
Outros 0,218 0,170 0,718 0,109
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
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Tabela 13 Razo de Concentrao (C ) para as categorias de trabalho do Grupo 3, para o Brasil e Paran, nos anos de 2002 e 2011
Brasil Paran
Categorias 2002 2011 2002 2011
Empregado e trabalhador domstico 0,495 0,444 0,411 0,314
Empregado militar e estatutrio 0,741 0,748 0,706 0,707
Conta Prpria e Empregador 0,654 0,623 0,634 0,628
Outros 0,370 0,359 -0,181 0,357
Fonte: Elaborao dos autores a partir dos dados da PNAD
Consideraes Finais
O objetivo deste artigo foi analisar o rendimento do trabalho no Paran segundo as
diferentes posies na ocupao e mensurar o grau de progressividade dessas categorias
de renda, a partir dos microdados da Pnadparaos anos de 2002 e 2011.
Os resultadosautorizam afirmar que a participao dos rendimentos do trabalho
assalariado (empregados) no Paran aumentou de 2002 para 2011, em detrimento dos
rendimentos dos empregadores e trabalhadores por conta prpria. Do mesmo modo, as
rendas dos empregados com carteira e militares e funcionrios pblicos estatutrios, todos
formalizados, tambm cresceram. A interpretao a de que so indicadores favorveis
para o mercado de trabalho e para a sociedade paranaense, na medida em que essa
relao baseada no assalariamento mantm a estruturao do mercado de trabalho, a
despeito das crises pelas quais passou a economia nos anos 2000.
As rendas do trabalho essencialmente privado, bem como do trabalho
essencialmente pblico aumentam. A estabilidade de preos, o aumento da arrecadao e
conjuntura externa favorvel at 2008 facilitaram a expanso das ocupaes pblicas e sua
participao maior na renda, contrariamente ao ocorrido no perodo anterior a 2002,
conforme divulgado pela literatura econmica.
Pela decomposio dos rendimentos do trabalho no Paran tem-se que os
rendimentos do trabalho dos empregados contribuem positivamente para a queda na
desigualdade da renda, e as rendas derivadas das ocupaes por conta prpria e
empregadores comportam-se inversamente. De maneira geral, o assalariamento provoca a
melhor distribuio da renda.
Toledo, 12 a 14 de novembro de 2013 ENCONTRO PARANAENSE DE ECONOMIA
No conjunto, os rendimentos dos empregados e domsticos, formalizados ou no,
contribuem para a melhoria da distribuio da renda. No entanto, entre os anos 2002 e
2011, houve o incremento da progressividadepara os empregados com e sem carteira, o
que colabora para a melhoria da distribuio da renda, e decrscimo para os domsticos
com e sem carteira.
Os rendimentos do trabalhoessencialmente privados(empregados e trabalhador
domstico) so progressivos e os essencialmente pblicos (militares e funcionrios pblicos
estatutrios) regressivos no Paran.
Ao final, pode-se mostrar as contribuies das posies na ocupao e suas formas
de insero para a diminuio da desigualdade da renda do trabalho no Paran e, alm
disso, evidenciar as potencialidades de estudo a que esse tema remete.
Referncias
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