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    Aspectos fsicos da emisso sonora.A embocadura e a respirao na qualidade do som.

    por Svio ArajoProfessor de Flauta DM/IA/UNICAMP

    CONSIDERAO TCNICA PARA EXECUO MUSICAL

    Para a realizao musical, como para todas as outras manifestaesartsticas, a abordagem de diversos elementos, simultaneamente, se faz necessria

    para que se possa atingir o ponto mximo de expresso dessa arte. Para o msico,no incomum o fato de ele ter que associar elementos do teatro, da dana, atmesmo imagens em sua performance, com o objetivo de ressaltar suas qualidades eprojetar sua arte.

    A execuo de um instrumento musical, seja ele de que famlia for, envolvediferentes abordagens tcnicas para se conseguir os resultados desejados. No casoda produo do som em especial, diferentes meios so usados, dependendo doinstrumento. Por exemplo, nos instrumentos de cordas, o executante faz uso de umarco; este, ao ser friccionado contra a corda do instrumento, coloca-a em vibrao.Este evento depende da relao entre a velocidade e a presso do arco sobre a

    corda. Com os instrumentos de sopro, a produo do som d-se a partir domomento em que uma coluna de ar, dentro de um tubo, colocada em movimentoatravs da emisso de ar por parte do executante.

    No caso dos instrumentistas de cordas, a habilidade a ser desenvolvida parase obter o controle do movimento do arco, est relacionada com a capacidade doinstrumentista de colocar em ao uma srie de elementos que combinam osmovimentos do brao (msculos posteriores), do antebrao, a rotao do cotovelo,movimentos do pulso, alm da correta utilizao dos dedos polegar, indicador emnimo. J para os instrumentistas de sopro, dentre as qualidades e habilidadestcnicas necessrias para uma correta produo do som, a mais importante, sem

    dvida, o controle da respirao. Este controle exerce uma importante ao nopadro de respirao desenvolvido pelo instrumentista. Este padro constitui-se deuma inspirao curta seguida de uma expirao prolongada, que no s dependente da presso e do fluxo de ar exigidos pelo instrumento, mas tambmdepende da necessidade de ventilao dos pulmes.

    Alm da habilidade de controlar voluntariamente a respirao dentro de umpadro definido, o instrumentista deve desenvolver uma significativa capacidadepulmonar. Esta grande capacidade pulmonar importante porque, se oinstrumentista consegue trabalhar suas necessidades respiratrias a partir da poromdia de sua capacidade pulmonar, prximo ao ponto de equilbrio entre as forasque comandam seu sistema respiratrio, este msico ter um desempenho tcnico-musical mais aprimorado, com menor esforo e com maior naturalidade na emisso

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    da coluna de ar, se comparado queles que no tem esta capacidade desenvolvida.Segundo D. W. Stauffer (1968), a ao muscular ocorre com maior intensidade naporo mdia de sua esfera de ao e no nos extremos da contrao ourelaxamento.

    este o elemento principal deste tema: o controle voluntrio sobre arespirao para a emisso da coluna de ar na produo do som.

    Antes de prosseguirmos com a apresentao do objeto de estudo desteprojeto, faz-se necessrio alguns esclarecimentos sobre o funcionamento doaparelho respiratrio. O estudo do professor Johan Sundberg, The Science of theSinging Voice ser a base de referncia para estes esclarecimentos.

    FUNCIONAMENTO DO APARELHO RESPIRATRIO

    Para podermos comear a pensar e considerar a maneira pela qual o sistemarespiratrio funciona, precisamos inicialmente considerar o que realmente presso.Por presso, segundo definio do termo, entendemos o ato de comprimir ouapertar; fisicamente, significa a atuao de uma fora constante sobre umadeterminada superfcie. Consideremos o caso de um balo de borracha. Se um gscomo o ar for comprimido dentro de um balo, a presso no interior desteaumentar. Esta presso exercer uma fora na superfcie do balo, fazendo-oexpandir. Ao darmos vazo ao ar atravs da abertura do balo, a presso internaexpelir o ar de seu interior; e este fluxo de ar ser to forte e duradouro enquanto a

    presso dentro do balo for elevada.

    Esta considerao nos mostra um caso onde a presso interna maior doque a presso atmosfrica. H casos onde essa presso pode ser menor do que apresso atmosfrica: se succionamos o ar de dentro de um recipiente de paredesrgidas, a presso dentro desde recipiente reduzida e uma presso negativa gerada; ao abrirmos o recipiente, o ar entrar dentro do mesmo a uma razo que proporcional esta presso negativa.

    Para se tocar um instrumento de sopro, ou mesmo no canto ou na fala, o quese requer do aparelho respiratrio que este gere uma certa presso no ar contidonos pulmes. Esta presso obtida atravs da contrao de alguns msculos ougrupo de msculos que expandem ou comprimem os pulmes.

    Os pulmes constituem-se de uma estruturaesponjosa e que est sempre em processo de encolhimentodentro da caixa torcica. Se retirssemos os pulmes docorpo e suspendessemos ao ar livre, eles iriam encolherdrasticamente. No entanto, dentro da caixa torcica, istono ocorre devido ao vcuo que os circunda. Quandocheios, os pulmes tentam expelir o ar com uma certa fora

    que determinada pelo volume de ar em seu interior. Istosignifica que os pulmes uma estrutura elstica

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    semelhante a um balo de borracha exercem uma fora expiratria inteiramentepassiva que aumenta de acordo com a quantidade de ar inspirada.

    Outro sistema elstico que tem importante participao na gerao da

    presso do ar a caixa torcica, com dois importantes grupos musculares quecomprimem e expandem os pulmes: os dois msculos que unem as costelas,chamados msculos intercostais, e os msculos da parede abdominale o diafragma.

    Os msculos intercostais so de dois tipos:os intercostais inspiratrios e os intercostaisexpiratrios. Atravs da contrao dos msculosintercostais inspiratrios, o volume da caixatorcica aumentado; estes so os msculosusados numa respirao normal. Quando estaatividade dos intercostais inspiratrios cessa, a

    caixa torcica tende a retornar a seu estado inicial(de volume no expandido), gerando uma foraexpiratria passiva, no muscular. Por outro lado,os msculos intercostais expiratrios tem porfuno a diminuio do volume da caixa torcica;

    se os usarmos para a expirao, produzimos uma fora inspiratria passiva.

    Um msculo muito importante na respirao o diafragma quando relaxado, tem um formatoparecido com o de uma tigela invertida, com suasbordas inseridas na parte de baixo da caixa

    torcica. Quando o diafragma contrai, sua forma,ento, passa a ser plana, como a de um prato.Desta maneira, a base da caixa torcica rebaixada, fazendo com que seu volume aumente e,consequentemente, permita a expanso do volumedos pulmes. Esta ao do diafragma faz com que a presso nos pulmes decaia,permitindo assim que um fluxo de ar penetre nos pulmes, desde que as vias areasestejam livres. Como todo este evento acontece devido contrao do diafragma,conclui-se que o diafragma um msculo especfico da inspirao.

    Atravs de sua contrao, o diafragma pressiona ocontedo abdominal para baixo, o que, por sua vez,empurra a parede abdominal para fora. No entanto, odiafragma s poder voltar a sua posio original (relaxado)atravs da ao dos msculos da parede abdominal. Coma contrao destes msculos, o contedo abdominal empurrado de volta, para dentro da caixa torcica,movendo desta forma o diafragma para cima, o que acabapor provocar a diminuio do volume dos pulmes.Portanto, podemos concluir que os msculos abdominaisso msculos expiratrios.

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    Os msculos abdominais e o diafragma constituem um conjunto de msculosatravs dos quais podemos inspirar e expirar. O outro grupo de msculos, osintercostais, podem auxiliar ou at mesmo substituir o diafragma e o abdmen emsuas tarefas respiratrias.

    Podemos concluir ento que temos um conjunto de msculos expiratriosassim como foras elsticas passivas que afetam o volume pulmonar e,consequentemente, a presso do ar em seu interior. Como vimos, o diafragma e osmsculos da parede abdominal desempenham um papel de extrema importncia noato respiratrio, mas a fora passiva de retrao dos pulmes e da caixa torcica(recoil forces) so tambm relevantes. No entanto, a magnitude desta fora deretrao depende da quantidade de ar contida nos pulmes, ou do volume pulmonar(LC).

    A atividade muscular exigida para se manter uma presso de ar constante

    depende da capacidade pulmonar. Isto ocorre porque as foras elsticasdesenvolvidas pelos pulmes e pela caixa torcica elevam ou diminuem a pressodentro dos pulmes, dependendo se o volume pulmonar for maior ou menor do queo Resduo da Capacidade Funcional (FRC). Este Resduo da Capacidade Funcional um valor da capacidade pulmonar para o mecanismo respiratrio, onde as foraselsticas inspiratrias e expiratrias so iguais.

    Quando os pulmes esto cheios, comuma grande quantidade de ar, a fora expiratriapassiva grande; portanto, uma pressoelevada gerada. Entretanto, se esta presso

    do ar for demasiadamente alta para a emissoda coluna de ar desejada, esta pode serreduzida atravs de uma contrao dosmsculos inspiratrios. A necessidade destainterveno por parte dos msculos inspiratriosdiminui a medida que diminui o volume de arnos pulmes, sendo ento extinta por completonum ponto onde o volume de ar est poucoacima do Resduo da CapacidadeFuncional (FRC), onde as foras expiratriaspassivas so insuficientes para gerao da presso necessria. Deste ponto emdiante, os msculos expiratrios so ativados e exigidos cada vez mais para que sepossa compensar a crescente fora inspiratria da caixa torcica, que est sendomais e mais comprimida.

    Segundo experimentos do Dr. Beverly Bishop (1968), durante a execuo de uminstrumento de sopro, assim como no canto ou enquanto estamos rindo, o ajusterefinado da contrao da musculatura abdominal que ajuda a controlar o fluxoexpiratrio com volumes pulmonares abaixo dos nveis expiratrios normais.Durante uma respirao normal, a musculatura abdominal est inativa, mas entraimediatamente em ao quando o volume pulmonar aproxima-se de sua capacidade

    mxima durante a inspirao. Com o esvaziamento dos pulmes durante aexpirao, os msculos abdominais esto novamente inativos at que o volume

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    pulmonar atinja um nvel abaixo do volume normal de repouso, ou do Resduo daCapacidade Funcional (FRC); com o prosseguimento da expirao a partir destevolume e com a conseqente aproximao do nvel residual, a musculaturaabdominal torna-se progressivamente mais ativa at que o esforo expiratrio

    interrompido abruptamente.

    EXERCCIOS

    Inspirao e Expirao

    Exerccio 1 (inspirao)Em posio ereta, inspirar profundamente tanto quanto possvel,

    expandindo a caixa torcica atravs da contrao dos msculosintercostais e da elevao do osso esterno, e tambm da contrao dodiafragma. Expirar todo o ar dos pulmes, relaxando-se todos osmsculos utilizados para a inspirao (expirao passiva) e contraindoos msculos da parede abdominal.

    Exerccio 2 (expirao)Expirar todo o ar contido nos pulmes, comprimindo a caixa torcicaatravs da ao dos msculos da parede abdominal e dos intercostais.Inspirar relaxando-se estes msculos (inspirao passiva) e contraindo-se o diafragma, provocando assim uma expanso da parede

    abdominal, que projeta a barriga para baixo e para fora.

    Obs: Os exerccios 1 e 2 demonstram as foras elsticas de retraodo sistema respiratrio, nos momentos de expirao (exerccio 1) einspirao (exerccio 2). Essas foras elsticas so geradas com maiorou menor intensidade dependendo da quantidade de ar nos pulmes,assim como sua ao depende de uma maior ou menor contrao dosmsculos respiratrios.

    Exerccio 3 (expirao controlada)Inspirar profundamente e expirar vagarosamente todo o ar dos

    pulmes. Para tanto, manter os msculos inspiratrios contrados,relaxando-os gradativamente para se manter um fluxo de ar contnuo.

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    Para o xito deste exerccio, necessrio "brecar" a expirao pormeio dos msculos inspiratrios que, mantendo-se contrados, evitamque o volume torcico decaia rapidamente devido sua prpria foraelstica de retrao (expirao passiva). Continuando a expirar

    vagarosamente, atingiremos um ponto onde a musculatura estarrelaxada. A partir desse ponto, necessitamos "empurrar" o ar para forados pulmes. Atravs da contrao dos msculos da paredeabdominal, que empurram o diafragma para cima e para dentro dacaixa torcica, fazemos com que o ar seja expelido dos pulmes,mantendo-se assim a mesma razo de expirao.

    Exerccio 4 (inspirao forada).Em posio ereta, com a boca semi aberta, colocar a mo em posiovertical e encostar o dedo indicador junto aos lbios. Inspirarprofundamente, como demonstrado no Exerccio 1, provocando uma

    suco acompanhada de rudo grave e contnuo. Esta suco deverser a mais duradoura possvel, pois enquanto houver suco havertrabalho muscular para manter a expanso da caixa torcica. Expirartodo o ar, como visto no Exerccio 2, sem forar, deixando que tanto acaixa torcica quanto o abdmen retornem sua posio inicial derepouso.

    Obs: A repetio excessiva deste exerccio poder causar sensaescomo tonturas ou nuseas, devido a hiperventilao que provocadapela troca de gases, que acontece em propores acima dosparmetros normais, considerando-se uma respirao normal. Na

    ocorrncia destas sensaes, interromper o exerccio e sentar,permanecendo nessa posio at os sintomas cederem e s entoprosseguir, procurando no forar a suco e sim mant-lacontinuamente, mesmo no sendo em intensidade to grande.

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    Exerccios com a Bolsa de Ar

    Os exerccios com a bolsa de ar tm por objetivo:

    a) proporcionar um alto grau de relaxamento ao instrumentista, principalmente emrelao ao relaxamento da garganta e trato vocal;

    b) proporcionar um controle visual da emisso da coluna de ar, considerando-seque o instrumentista poder visualizar o ar entrando na bolsa;

    c) delimitar um padro inspiratrio em relao ao volume inspirado, visto que o arestar sendo inspirado de dentro da bolsa, independentemente do tempo(durao) da inspirao.

    Exerccio 1Segurando-se a bolsa de ar na posio horizontal, expirar todo o ar dospulmes como no Exerccio 2 (expirao). Inspirar como demonstradono Exerccio 4 (inspirao forada) e expirar dentro da bolsa, como noExerccio 3 (expirao controlada). Repetir 4 vezes e reiniciar.

    Exemplo 1

    Bolsa de Ar.Modelo brasileiro (esquerda)e modelo Alemo (direita).Ambos com 5 litros decapacidade.

    Posio correta de utilizaoda bolsa; manter a garganta omais relaxado possvel esoprar ar quente.

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    Exerccio 2Mesmo procedimento do Exerccio 1.

    Exerccio 3 (Exemplos 3, 4, 5 e 6)Mesmo procedimento do Exerccio 1, mas articulando-se o ar que est-

    se expirando com a lngua, procurando emitir um som grave a partir decada articulao. Variar a velocidade conforme os exemplos.

    Exemplo 2

    Exemplo 3

    Exemplo 4

    Exemplo 5

    Exemplo 6

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    Exerccios com Respirador (Respiron)1

    Os exerccios com o Respirontm por objetivo proporcionar um aumento na fora ena resistncia dos msculos inspiratrios. O Respironproporciona uma carga depresso constante para a inspirao. Essa carga pode ser graduada para aumentara dificuldade do exerccio, girando-se o anel regulador. O sistema de variaocontnua, ou seja, todas as posies intermedirias so possveis, proporcionandodificuldades tambm intermedirias. (Obs: No expirar dentro do aparelho.)

    Exerccio 1 Expirar todo o ar dos pulmes. Inspirar atravs do bocal, deforma que a Esfera 1 seja elevada ao topo do tubo. Manter aesfera nessa posio at que o volume pulmonar chegue seuponto mximo. Expirar.

    Exerccio 2

    Expirar todo o ar dos pulmes. Inspirar atravs do bocal, deforma que a Esfera 1 seja elevada ao topo do tubo. Aumentaro volume de inspirao de forma que a Esfera 2 tambm sejaelevada ao topo do tubo. Manter ambas as esferas nessaposio at que o volume pulmonar chegue seu pontomximo. Expirar.

    Exerccio 3Expirar todo o ar dos pulmes. Inspirar atravs do bocal, deforma que a Esfera 1 seja elevada ao topo do tubo. Aumentaro volume de inspirao de forma que a Esfera 2 tambm sejaelevada ao topo do tubo. Aumentar ainda mais o volume deinspirao para que a Esfera 3 tambm seja elevada ao topodo tubo. Manter ambas as esferas nessa posio at que ovolume pulmonar chegue seu ponto mximo. Expirar.

    1 NCS Indstria e Comrcio de Aparelhos Hospitalares Ltda. Patente UM 6400897.

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    Obs: Aps vencidas estas etapas, pode-se aumentar o grau de dificuldade dosexerccios, girando-se o anel regulador para as posies 1, 2 ou 3. Recomenda-setambm realizar os exerccios intercalando-se as posies do anel regulador, deforma a obter um aumento gradativo do volume de ar inspirado, conforme tabela de

    valores aproximados, abaixo.

    Posio doponteiro

    Esfera 1(sobre o anel)

    Esfera 2(central)

    Esfera 3(a direita)

    0 280 cm3/s 560 cm3/s 620 cm3/s1 380 cm3/s 640 cm3/s 680 cm3/s2 560 cm3/s 820 cm3/s 880 cm3/s3 740 cm3/s 1000 cm3/s 1200 cm3/s

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    A embocadura e a emisso do som na flauta

    O som a matria-prima da msica. ele o elemento responsvel pelaconduo de todos os aspectos pertinentes execuo musical at o ouvinte. Dasensao auditiva criada por este fenmeno, o ouvinte pode perceber e apreciartoda a expresso de uma frase musical, toda a musicalidade do intrprete e tambmo contedo do discurso musical de um compositor, elementos estes perpetuadospelas notas musicais. Atravs de nuanas na sonoridade, o instrumentista capazde transmitir estas caractersticas musicais aos ouvintes. Esta propriedadeespecfica do som, que confere maior pureza e riqueza sonoridade, dada pelotimbre. Este elemento da sonoridade capaz de distinguir sons de mesma altura eintensidade, que so resultados de uma maior ou menor quantidade de harmnicoscoexistentes ao som fundamental.

    Dada a complexidade do som como elemento principal do evento musical,somente atravs de um controle apurado da emisso da coluna de ar oinstrumentista poder alcanar este nvel de realizao musical.

    A produo do som na flauta no somente afetada pelo corretofuncionamento do aparelho respiratrio, mas tambm por uma correta embocadura.Muitos so os fatores que afetam a produo do som no instrumento, desdeaspectos psicolgicos outros de natureza fsica. Na realidade, nada pode serseparado, uma vez que todos estes elementos interagem e exercem uma certa

    influncia uns nos outros.

    As principais funes da embocadura naflauta so dirigir o fluxo de ar para dentro doinstrumento e controlar seu tamanho e formato,

    que so determinados proporcionalmente pelotamanho e formatos da embocadura em si. A

    embocadura da flauta no consiste apenas na colocao dos lbios no bocal doinstrumento; depende tambm de vrias outras partes da face prximas aos lbios:o maxilar, os msculos da face, a lngua, o palato, etc. Podemos dizer que umaembocadura correta aquela que no modifica a aparncia de nosso rosto,mantendo-o em sua forma natural e relaxada. Por ser a flauta um instrumento deembocadura livre, no introduzimos nenhuma parte do instrumento entre os lbios,como nos casos do obo, da clarineta ou o fagote, entre outros, que, por meio depalhetas ou boquilhas, fazem com que o ar seja dirigido diretamente dentro doinstrumento.

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    A razo pela qual devemos sempre manter nossa embocadura relaxada quenecessitamos de flexibilidade nos lbios para produzir grandes saltos e mudanasde registro, bem como para promover alteraes no timbre e correes na afinao.Alm disso, tal relaxamento inibe a fadiga dos msculos da face, o que nos permite

    tocar por horas seguidas. No entanto, essa posio relaxada da face no deveinterferir no trabalho dos msculos que devero entrar em ao para formar o orifcioda embocadura, ou o espao entre os lbios por onde ser emitida a coluna de ar.Toda a tcnica de respirao do instrumentista depende do controle da abertura doslbios, assim como o consumo de ar: frases longas tornam-se impossveis de seremexecutadas com um orifcio muito largo, alm de colaborar para uma grandediferena de volume e qualidade do som entre os registros graves e agudos.

    No captulo sobre o Funcionamento do Aparelho Respiratrio vimos quepresso significa a atuao de uma fora constante sobre uma determinadasuperfcie. Diferentemente de outros instrumentos de sopro que utilizam bocais

    diretamente nos lbios, ou palhetas e boquilhas inseridas entre os lbios e que por sis determinam a vazo e, consequentemente, a presso da coluna de ar, osflautistas dependem exclusivamente de seus lbios para estabelecer estapropriedade. Como podemos utilizar diferentes formatos e tamanhos para o orifcioda embocadura, podemos, portanto, estabelecer diferentes tamanhos da coluna dear, assim como podemos ter diferenas significativas em sua velocidade. Estes doisltimos parmetros so os principais para se produzir as nuanas de sonoridade,fundamentais para se ter uma execuo expressiva no instrumento.2

    Uma outra caracterstica da flauta e que afetada especificamente pelaembocadura diz respeito freqncia do som. Esta aumenta (sobe)

    proporcionalmente ao aumento da presso da coluna de ar e, consequentemente,diminui (abaixa) na mesma razo da diminuio dessa presso. Portanto, seutilizarmos as tcnicas de respirao para produzirmos uma presso de ar constantedentro dos pulmes, bastar ao instrumentista desenvolver a habilidade deaumentar e diminuir a abertura do orifcio entre os lbios para gerar a pressonecessria na coluna de ar para as diferentes notas da tessitura do instrumento.Entretanto, como a alterao do tamanho do orifcio tambm altera o tamanho dacoluna de ar, faz-se necessrio uma atuao conjunta dos lbios e do aparelhorespiratrio para gerar as diferentes presses sem alterar a qualidade do som.

    Outra questo importantena produo do som, e que temefeito direto em sua qualidade, quanto poro do bocal quedeve ser coberta pelo lbioinferior. impossvel especificar

    2 Estas afirmaes podem ser comprovadas pelos princpios fundamentais estabelecidos porTheobald Boehm em seu The Flute and Flute Playing. Segundo Boehm, 1) a fora, assim como, adensidade e clareza de uma nota fundamental proporcional ao volume de ar colocado emmovimento; 2) as vibraes podem ser efetuadas atravs de uma simples contrao da embocadura;e 3) toda e qualquer alterao no tamanho da coluna de ar tem uma grande influncia na emisso e

    afinao das notas. Em 1847, Theobald Boehm concluiu que o tubo cnico da flauta no se adaptavaestes princpios e desenvolveu um novo modelo, com tubo cilndrico, por este apresentar um maiorequilbrio e perfeio para a coluna de ar em vibrao.

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    quanto o bocal deve ser coberto, uma vez que cada flauta possui uma caractersticadiferente, com bocais de tamanhos e formatos diferentes. Podemos somenteafirmar que no devemos cobrir demasiadamente o bocal pois isso causaria um somde pouca densidade e sem projeo. Como regra geral, poderamos cobrir 1/3 do

    bocal para as notas mais graves e chegar a pouco mais da metade do bocal sendocoberto pelo lbio para as notas mais agudas (conforme ilustrao). Estaobservao de extrema importncia pois o posicionamento incorreto do lbio nobocal pode prejudicar no s a emisso do som, a intensidade e o timbre, mastambm a afinao dos intervalos. Alm disso, a partir da correta posio do lbioem relao ao bocal que o instrumentista pode realizar uma das tarefas mais difceisno que diz respeito produo do som e sua expressividade.

    Conforme vimos, a presso dacoluna de ar est diretamenterelacionada afinao de uma

    determinada nota e tambm suaintensidade. E, no caso da flauta, essa uma grandeza proporcional, ou seja,quanto maior a presso na coluna de ar,mais intenso e mais agudo o som evice-versa. Considerando-se estapropriedade e levando-se em conta umaparticularidade do instrumento no quediz respeito sua construo, nos deparamos com um grave problema. A flauta, demaneira geral, tem uma grande tendncia de ter suas notas agudas muito altas emrelao freqncia desejada e, em contrapartida, suas notas mais graves tm

    tendncia de serem mais baixas. Alm disso, algumas notas em particular tmtendncias opostas em relao tessitura em que esto: ou seja, podemos ter umadeterminada nota na regio aguda e que soar baixa; e o oposto tambm acontececom notas dos registros mdio e grave.

    Com a correta colocao do lbio sobre o bocal,podemos mov-lo para frente ou para trs, dependendodo tipo de ajuste necessrio que uma determinada notaexige. Tambm, cobrindo-se pouco mais de 1/3 dobocal, possvel deslocar o lbio superior para frente oupara trs, com o propsito de alterar o ngulo deincidncia da coluna de ar na parede do bocal, ou seja,dirigindo a coluna de ar mais para dentro ou mais para

    fora do instrumento, dependendo da necessidade em se corrigir a emisso da notaou outros fatores como sua intensidade. Por exemplo, uma nota aguda como o G5,que exige uma presso na coluna de ar relativamente grande, mas que por natureza uma nota cuja tendncia de afinao ser muito alta. Portanto no pode sertocada com uma embocadura normal. Devemos projetar o lbio superior para afrente, cobrindo pouco mais da metade do bocal e manter o lbio inferior somente 1/3 do bocal (ver ilustrao: como o lbio inferior est sendo coberto pelo lbiosuperior, no podemos v-lo). Com esse tipo de ajuste, temos ento a coluna de ar

    direcionada mais para dentro do bocal, o que provoca a diminuio da freqncia danota (abaixando-a). Entretanto, precisamos compensar a queda na presso da

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    coluna do ar motivada pelo fato de que o orifcio entre os lbios est maior do que onecessrio. Para tanto, utilizando-se as tcnicas de respirao e os conceitos sobreo Funcionamento do Aparelho Respiratrio, provocamos uma presso maior no ardos pulmes e geramos uma coluna de ar maior, mas com menor velocidade em

    sua emisso.Concluindo, necessrio enfatizar um ponto muito importante para a

    execuo musical: em relao aos aspectos de controle da coluna de ar eembocadura, devemos sempre dar muita importncia s respectivas partes de nossocorpo que atuam para esse controle e deix-las em harmonia, mesmo sendoalgumas muito distantes uma das outras. Durante a execuo, devemos sempreprocurar por uma sensao agradvel e confortvel, de um relaxamento natural, esensaes como liberdade, alegria e entusiasmo. No devemos entender estasexplicaes como tpicos meramente mecnicos e presumir que pela sua simples ecorreta aplicao, automaticamente asseguramos uma qualidade tcnica e musical

    correta no instrumento. A expressividade est alm de todo e qualquer conceitotcnico. Devemos manter uma postura atenta, aberta e sensvel para atingirmos ocerne da execuo musical e ouvir aquilo que tanto a msica quanto o prprioinstrumento tem a nos dizer. Desta forma, mantemos estes elementos unificados edeixamos que eles nos guiem atravs do universo da msica.

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