Download pdf - Respire - K. a. Tucker

Transcript
  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    1/258

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    2/258

    DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipeLe Livrose seus diversos parceiros,com o objetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudosacadm icos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fimexclusivo de compra futura.

    expressamente proibida e totalmente repudivel a venda, aluguel, ou quaisqueruso comercial do presente contedo

    Sobre ns:

    OLe Livrose seus parceiros disponibilizam contedo de dominio publico epropriedade intelectual de form a totalmente gra tuita, por acreditar que oconhecimento e a educao devem ser acessveis e livres a toda e qualquer

    pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nosso site:LeLivros.siteou em

    qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.

    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando

    por dinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novonvel."

    http://lelivros.site/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.org/parceiros/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.site/http://lelivros.site/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.org/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link
  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    3/258

    K. A. Tucker

    RESPIRE

    Livro 1 da srie TEN TINY BREATHS

    Traduo de Maira Parula

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    4/258

    Para L ia e Sadie

    Que os anjos as protejam

    Para Paul

    Pelo seu apoio consta n te

    Para H eather Self

    Todas as plumas verdes e prpuras do mundo

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    5/258

    SUM RIO

    Pa ra pular o Sum rio, c lique aqui.

    Prlogo

    Fa se um: TO R P O R AG R A DV EL

    UM

    DOIS

    Fase dois: NEGAO

    T R S

    Fase t rs: R ESISTN CIA

    Q U A T R O

    CINCO

    SEIS

    Fase quatro: ACEITAO

    SETE

    OI TO

    Fase cinco: DEPENDNCIA

    N O V E

    DE Z

    ONZ E

    DOZE

    TREZE

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    6/258

    Fase seis: A BSTIN N CIA

    Q U A T O R Z E

    QUINZE

    DEZESSEIS

    Fase sete: RO M PIMENT O

    DEZESSETE

    DEZOITO

    DEZENOVE

    V IN T E

    Fase oito: RECUPERAO

    V IN T E E UM

    Fase n ove: PERD O

    V IN T E E DO IS

    Eplogo

    A gradec im en tos

    Crditos

    A A ut ora

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    7/258

    PRLOGO

    Apen as respire, min ha m e diria. Dez respira es curtin has... Pren da o ar.Sin ta -o. Am e- o. Sem pre que e u grita va e batia o p de ra iva, chorav a a lto de

    frustrao, ou ficava verde de a n siedade, ela ca lmam en te recitava as m esma s

    palavras. Toda v ez. Exa tam en te a s mesm as palavras. Ela devia ter t atuado a

    porcaria do mantra na testa. Isso no faz sentido!, eu gritava. Nunca

    entendi. Para que serve respirar curtinho? Por que no respirar fundo? Por que

    dez? Por que n o trs, cin co ou vinte ? Eu gritava e e la sim plesmen te abria um

    sorrisinho. Na poca, eu no entendia.A gora en ten do.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    8/258

    Fase um

    TORPOR AGRADVEL

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    9/258

    UM

    Um leve assobio... Meu corao palpita nos ouvidos. No ouo mais nada. Tenho certeza de que minha boca se mexe,chamando por eles...M e ?... Pai?... Mas no ouo minha voz. Pior, no ouo a voz deles. Eu me viro para a

    direita e vejo a silhueta de Jenny, mas seus braos e pernas esto estranhos, no parecem normais e ela est espremida

    contra mim. A porta do carro ao lado dela est mais prxima do que devia.Jenn y? Tenho certeza de que a

    chamo. Ela no responde. Eu me viro para a esquerda e s vejo escurido. Escuro demais para enxergar onde Billy

    est, mas sei que ele est ali, porque sinto sua mo. grande, forte e envolve meus dedos. Mas ela no se mexe... Tento

    apert-la, mas no consigo obrigar meus msculos a se flexionarem. No posso fazer nada alm de virar a cabea e

    ouvir meu corao martelar como uma bigorna no meu peito pelo que parece uma eternidade.Luzes fracas... Vozes...

    Eu os vejo. Eu os ouo. Esto ao redor, se aproximando. Abro a boca para gritar, mas no encontro energia. As

    vozes ficam mais altas, as luzes mais fortes. Um ofegar estridente arrepia meus pelos. Como uma pessoa lutando

    ela sua ltima respirao.

    Ouo estalos altos, como algum puxando os holofotes de um palco com alavancas. De repente luzes surgem de

    todos os lados, iluminando o carro com uma intensidade ofuscante.

    Para-brisa destrudo.Metal retorcido.

    Manchas escuras.

    Poas de lquido.

    Sangue. Por todo lado.

    Tudo desaparece de repente e estou caindo para trs, despencando na gua fria, afundando cada vez mais na

    escurido, ganhando velocidade medida que o peso de um oceano me engole por completo. Abro a boca e procuro ar.

    Um jato de gua fria me atinge de repente, me enchendo por dentro. A presso no peito insuportvel. Estou prestes aexplodir. No consigo respirar... No consigo respirar.R espire curtinho, ouo minha me instruir, mas no

    consigo. No consigo nem mesmo um sopro. Meu corpo est tremendo... Tremendo... Tremendo...

    A corde, querida.

    Meus olhos se abrem de repente e vejo um apoio de cabea desbotado

    diant e de mim. Preciso de um instan te para m e reorienta r, acalma r me u

    corao acelerado.

    V oc esta va ofega n do muito diz a v oz.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    10/258

    Eu me viro e v ejo uma m ulher me olhan do de c ima , a preocupa o

    estampada em seu rosto muito enrugado, os dedos envelhecidos e tortos no

    meu ombro. Meu corpo se enrosca antes que eu consiga evitar a reao

    autom tica ao seu toque.

    Ela tira a m o com um sorriso gen til.

    Desculpe, querida. A chei que devia a cordar voc.Engolindo em seco, consigo resmungar.

    O brigada.

    Ela assente e se vira para se sentar no nibus.

    Deve ter sido um pesadelo.

    respondo, recuperando minha voz calma e vazia de sempre. No

    vejo a hora de ac orda r.

    * * *

    Chegamos. Sacudo gentilm en te o brao de Livie. Ela resm unga e an inha a

    cabea na janela. No sei como consegue dormir assim, mas ela apagou e

    ronc ou baixin ho pelas ltim as se is horas. Um fio sec o e grosso de saliva esc orre

    pelo seu queixo. To atraente. Livie chamo ma is um a ve z com cert a

    impacincia. Preciso sair desta lata de sardinha. Agora.R ec ebo um a ce n o desajeitado e um n o enc he, estou dorm indo de

    beic in ho.

    O livia C leary! vocifero en quan to os passageiros vasc ulham os

    ba ga geiros in tern os e pegam se us pert en c es. V a m os. Pre c iso sa ir da qui an tes

    que eu perca a c abea! N o quero gritar, ma s n o con sigo evitar. N o me

    sinto muito bem em espaos apertados. Depois de 22 horas na droga deste

    nibus, minha vontade de puxar a janela de emergncia e saltar fora.Ela finalmente ouve minhas palavras. As plpebras de Livie se abrem,

    piscando, e olhos azuis meio embaados olham o terminal de nibus de Miami

    por um momento.

    Chegamos? ela pergunta com um bocejo, sentando-se para se

    espreguiar e ver a paisagem. Ah, olha! Uma palmeira!

    J est ou de p n o c orr edor, pegan do n ossa s m oc hila s.

    , palmeiras! Vem, anda logo. A no ser que voc queira passar mais umdia aqui den tro e volta r para M ichigan . Com isso ela resolve se m ex er.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    11/258

    Quando samos do nibus, vejo que o motorista j descarregou as malas do

    ba ga geiro. R a pida m en te en con tro n ossa s m ala s cor-de-rosa . N ossa vida , todos

    os nossos pertences reduzidos a uma mala para cada uma. Foi s o que

    conseguimos juntar na pressa de sair da casa de tio Raymond e tia Darla. No

    importa, digo a mim mesma enquanto passo o brao pelos ombros da minha

    irm n um a brao. Tem os uma outra. s isso que importa . T quente pra caramba! exclama Livie ao mesmo tempo em que eu

    sinto o suor escorrer pelas costas. o final da manh e o sol j nos queima

    como uma bola de fogo no cu. To diferente do frio de outono que deixamos

    em Grand Rapids. Ela tira o capuz vermelho, provocando uma srie de assovios

    de um grupo de meninos que andam de skate.

    J na pegao, Livie? provoco.

    Seu rosto fica cor-de-rosa e n quan to ela d um jeito de se esconder a tr s deuma pilastra de concreto, ficando parcialmente fora de vista.

    V oc sabe que n o um c am aleo, n?... A h! A quele de ca m isa v erme lha

    est vindo pra c agora. Estico o pescoo com expectativa na direo do

    grupo.

    O s olhos de Livie se a rregalam de pavor por um segundo an tes de e la

    perceber que estou s brincando.

    Para com isso, Kacey! ela sibila, batendo no meu ombro. Livie noconsegue ser o centro das atenes dos garotos, e no ajudou em nada ela ter

    se transformado numa gata no ano passado.

    Sorrio com m alcia e n quan to a ve jo ajeitan do o suter. Ela n o tem ideia do

    quanto bonita e, por mim, tudo bem, j que serei sua guardi.

    Continue sem malcia, Livie. Minha vida vai ficar muito mais fcil se voc

    continuar distrada pelos prximos, digamos, cinco anos.

    Ela revira os olhos. T udo bem , dona Sports Illustrated.

    H a! N a ve rdade, provav elmen te parte da ate n o daqueles im becis

    para m im. Dois an os de kickboxin g in ten so deixa ram m eu corpo sara do. Isso,

    alm do m eu ca belo casta n ho-a verm elhado e olhos azul-claros, cham a m uita

    ate n o indesejada.

    Livie a m inha v erso de 15 an os. O s m esm os olhos azul-claros, o me smo

    nariz fino, a mesma pele clara de irlandesa. S h uma grande diferena, e a

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    12/258

    cor do nosso cabelo. Se voc enrol-los com toalhas, vai achar que somos

    gmeas. Ela tem os cabelos pretos e brilhosos da nossa me. Tambm cinco

    centmetros mais alta do que eu, apesar de eu ser cinco anos mais velha.

    , olhando para a ge n te, qualquer um com alguma int elign cia pode ver que

    som os irm s. Ma s nossas sem elhan as te rmina m a. Livie um a n jo. Ela c ai

    em pran tos quan do crian a s choram ; pede desculpas quan do algum esbarranela; se oferece como voluntria em bibliotecas na distribuio de sopa para os

    pobres; pede desculpas pela s pessoas quan do elas fazem idiotice s. Se e la t ivesse

    idade para dirigir, pisaria no freio at para no atropelar grilos. J eu... eu no

    sou Livie. Posso ter sido ma is pare cida c om ela a n te s, ma s n o agora.

    Enquanto eu sou uma nuvem de tempestade crescendo no horizonte, ela o

    raio de sol que a atravessa.

    Kacey! Eu me viro e vejo Livie segurando a porta de um txi, suassobrancelhas arqueadas.

    De jeito ne n hum podemos paga r um t xi c om n osso dinheiro con ta do.

    Soube que catar comida no lixo no to divertido quanto dizem.

    Ela bate a porta do txi, fechando a cara.

    En to a ge n te t em que pegar outro n ibus. Ela puxa a m ala com

    irrita o pelo me io-fio.

    Fala srio. Cinco minutos em Miami e voc j est arrumando confuso?Eu ten ho um a m erreca n a c arteira para passarmos at dom ingo. Esten do a

    ca rteira para que ela possa v er.

    Livie fica vermelha.

    Desculpa, Ka ce . V oc te m razo. Estou m eio perdida.

    Suspiro e m e sint o ma l pela bron ca . Livie n o te m a person alidade de quem

    arruma confuso. claro que a gente se estranha, mas a culpa sempre

    m inha, e eu sei disso. Livie uma boa garota. Sempre foi um a boa garota.Careta, tranquila. Meus pais nunca precisaram falar nada com ela duas vezes.

    Quando eles morreram e a irm da minha me passou a nos criar, Livie se

    esforou muito para ser um a g arota a inda m elhor. Eu segui n a direo

    contrria. Difcil.

    V em , va m os por aqui. Fico de braos dados com e la e a aperto ma is

    jun to de m im en qua n to a bro um a folha de pa pel c om o en dere o. V am os ao

    ba lc o de in form a es do term in a l de n ibus. De pois de um a c on versa lon ga e

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    13/258

    complicada com o velho atrs da divisria de vidro, uma conversa com direito a

    charadas e um diagram a a lpis, onde ele c irculou trs baldea es n o ma pa da

    cidade, esta m os n um nibus urban o e toro para n o irm os para r n o Alasca .

    Fico feliz de m e sen ta r de n ovo, porque estou aca bada. A lm de um c ochilo

    de v int e m inutos no n ibus in term unicipal, n o durm o na da h 36 horas.

    Preferia v iajar e m siln cio, m as a s m os agitadas de Livie sobre o colo ac abamcom m eus plan os.

    O que foi, Livie?

    Ela hesita , fran zindo a test a.

    Livie...

    A cha que t ia Darla cham ou a polcia?

    Esten di a m o para a perta r seu joelho.

    N o se preocupe c om isso. V am os ficar bem . Eles n o vo nos achar e, seacharem, a polcia vai saber o que aconteceu.

    M as ele n o feznada, Kace. Devia estar bbado demais pra saber em que

    quarto estava.

    O lho feio para ela.

    N o feznada? Voc se esqueceu do pau duro daquele velho nojento

    en costan do n a sua coxa?

    A boc a de Livie se fra n ze com o se ela est ivesse pre st es a vom it a r. Ele no fez nada porque voc saiu correndo de l e foi pro meu quarto.

    N o defenda a quele babaca . V i os olhares de tio Ra ym on d para Livie

    conforme ela crescia no ano passado. Doce e inocente Livie. Eu esmagaria o

    saco dele se ele colocasse o p dentro do meu quarto, e ele sabia disso. Mas a

    Livie...

    Bom , s espero que n o ven ham atr s da ge n te e n os levem de volta.

    Balan o a cabea. Isso no vai acontecer. Agora eu sou sua guardi e no dou a mnima para

    n en hum a papelada jurdica idiota . V oc n o va i sair do m eu lado. A lm do

    mais, a tia Darla odeia Miami, lembra? Odeia uma meia verdade. Tia

    Darla uma crist fantica recm-convertida que passa todo seu tempo livre

    rezando e insistindo para que todo mundo reze ou saiba que deveria estar

    rezan do para e vitar o in fern o, a sfilis, a grav idez n o plan ejada. Ela t em

    certeza de que as grandes cidades so um solo frtil para o mal no mundo. Ela

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    14/258

    s viria a Miami se o prprio Jesus Cristo fizesse uma conveno aqui.

    Livie con corda com a ca bea , depois baixa a voz a um sussurro.

    Acha que o tio Raymond descobriu o que aconteceu? A gente pode ter

    problem as de ve rdade por c ausa disso.

    Dou de ombros.

    E quem se importa com ele? Parte de mim queria ter ignorado ospedidos de Livie e chamado a polcia depois da visita de tio Raymond ao

    quarto dela. Mas Livie no queria ter que lidar com relatrios policiais,

    advogados e servios de proteo infncia, e certamente teramos que falar

    com essa gente toda. Talvez at com o noticirio local. Nenhuma de ns duas

    queria isso. J tn hamos en fren ta do o basta n te depois do aciden te . Q uem sabe

    o que fariam com Livie, sendo ela menor de idade? Provavelmente a

    colocariam em um orfanato. No a deixariam comigo. Fui classificada comoinstvel por muitos relatrios profissionais para que me confiassem a vida de

    algum.

    A ssim , Liv ie e eu fizem os um ac ordo. N o o den un cia ram os se ela fic a sse

    comigo. Ontem noite por acaso foi perfeito para fugir. Tia Darla ficaria fora a

    n oite t oda em algum re tiro religioso, e assim esm aguei tr s comprim idos para

    dorm ir e joguei na ce rveja de t io R aym on d depois do jan ta r. N em ac redito que

    o idiota pegou o copo que preparei e e n treg uei a ele c om t an ta gen tileza. Eun o lhe dirigi n em dez pala vra s n os ltimos dois an os, desde que descobri que

    ele perdeu nossa heran a n uma m esa de vinte e um. s sete horas, ele esta va

    esparram ado no sof e ronc av a, o que n os deu tem po suficient e para pegar

    nossas malas, limpar a carteira dele e a caixa secreta de dinheiro de tia Darla

    embaixo da pia, e pegar um nibus noite. Talvez drog-lo e roubar o dinheiro

    deles tenham passado dos limites, mas tio Raymond tambm no devia ter sido

    um pedfilo.

    * * *

    Cen to e vin te e quat ro li o n mero do prdio em voz alta . aqui. pra

    va ler. Est va m os n a c a l ada n a fre n te do n osso n ovo la r, um prdio de

    apartamentos de trs andares na Jackson Drive com paredes de estuque e

    ja n elin ha s. um lugar bon it o, c om c ara de ca sa de praia , em bora a gen teesteja a meia hora do mar. Mas se eu respirar fundo, quase posso sentir um leve

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    15/258

    cheiro de filtro solar e algas marinhas.

    Livie passa a m o pelo cabelo preto e despent ea do.

    Onde foi mesmo que voc encontrou esse lugar?

    No www.desesperadaporumapartamento.com brinco. Depois que Livie

    entrou de rompante no meu quarto aos prantos ontem noite, eu sabia que

    precisvamos sair de Grand Rapids. Uma busca na internet levou a outra, elogo eu estava m an dan do um e-m ail ao sen horio, oferec en do a ele seis meses

    de aluguel em dinheiro. Dois anos servindo caf caro na Starbucks se foram.

    M as valia ca da gota.

    Subim os a esc ada e chegam os a um port o em form a de a rco. Ag ora que

    est va m os m ais perto, eu podia v er ra chaduras e m an chas desfiguran do as

    paredes do lado de fora.

    A foto do anncio parecia tima digo com certa preocupao enquantogiro a maaneta do porto e descubro que est trancado. A segurana boa.

    A qui. Livie a perta um a c am painha redon da ra chada direita. Ela n o

    em ite som algum, e sei que est quebrada. R eprim o um boce jo en quan to

    esperamos que algum passe por ali.

    Tr s min utos depois, coloco as m os em conc ha n a boca , prestes a gritar o

    n ome do sen horio, quan do ouo o barulho de sapat os se arra sta n do pelo

    concret o. Um hom em de m eia-idade com roupas am assadas e cara ma ltratadaaparece. Seus olhos so de tamanhos diferentes, ele praticamente careca no

    topo da cabea e juro que uma orelha maior do que a outra. Ele me lembra do

    Sloth daquele filme dos anos 1980 que meu pai nos obrigou a ver, Os Goonies. Um

    clssico, papai costumava dizer.

    Sloth coa a pana e no diz nada. Aposto que ele tem a inteligncia do seu gmeo do cinema.

    O i, eu sou Kac ey Cleary apresen to-me. Estam os procurando H arry

    Ta n n er. Som os as n ova s in quilina s. O olhar astuto dele se dem ora um poucoem mim, me avaliando. Agradeo em silncio por ter escolhido um jeans para

    cobrir a tat uagem gran de n a m in ha coxa, ca so elese atreva a mejulgar. E le se

    volt a pa ra Livie , e ta m bm se dem ora dem ais pa ra o m eu gost o.

    V ocs so irm s?

    N ossas m alas iguais nos entrega ram ? respon do ant es que consiga m e

    conter. Entre logo, antes que eles descubram a espertinha que voc pode ser, Kace.

    Por sorte, os lbios de Sloth se curvam para cima.

    http://www.desesperadaporumapartamento.com/
  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    16/258

    Pode m e c ham ar de Ta n n er. por aqui.

    Livie e eu t rocam os um olhar de c hoque. Sloth n osso novo sen horio? Com

    um tinido alto e um rangido, ele nos conduz pelo porto. Parecendo pensar

    me lhor, ele se vira para m im e esten de a m o.

    Fico petrificada, olhando aqueles dedos carnudos, e no consigo toc-los.

    Livie avana habilidosamente e segura a mo dele com um sorriso,enquanto eu recuo alguns passos, deixando claro que no encostarei na mo

    deste sujeito. O u n a m o de qualquer pessoa. L ivie sa be m e sa lvar.

    Se Ta n n er percebe, n o diz n ada e n os leva por um pt io com arbustos

    mirrados e plantas desidratadas que cercam um hibachie n ferrujado.

    Aqui a rea comum. Ele gesticula com desdm. Se quiserem fazer

    um churrasco, tomar banho de sol, relaxar, o que for, o lugar aqui. Vejo

    espinhos de t rinta ce n tm et ros de a ltura e flores seca s pelas bordas e m epergun to quanta s pessoas realme n te acham este e spao relaxan te. Podia ser

    legal, se a lgum cuidasse dele.

    Deve te r lua c heia ou coisa a ssim resmunga T an n er en quant o o

    seguim os por um a fila de porta s verm elhas esc uras. Ca da uma delas t em uma

    ja n elin ha ao la do e os tr s an da re s s o id n tic os.

    A h, sim ? Por que isso?

    V oc s so o segun do caso de a part am en to que aluguei por e- m ail estasemana. A mesma situao... Desesperados por um lugar, no querem esperar,

    paga m em din heiro. estran ho. A cho que todo mun do sem pre foge de alguma

    coisa.

    Ora, ora. E agora isso? Talvez Tanner seja mesmom ais in te ligen te do que seu

    gmeo do cinema.

    A quele a li chegou esta m an h. Ele a pon ta com o polegar ata rracado

    para o apartam en to 1D an tes de nos levar ao apartam en to seguin te c om um1C em dourado. Seu imenso molho de chaves tilinta enquanto ele procura por

    uma em particular. Agora, vou dizer a vocs o que digo a todos os meus

    inquilinos. Eu s te n ho um a re gra, m as n o pode ser quebrada: M an te n ham a

    paz! N ada de festas barulhen ta s com drogas e orgias...

    Desculpe, pode ser mais especfico... O que classificado como orgia no

    esta do da Flrida? Um m n age pode? E se tiver uma briga, porque, sabe com o

    ...

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    17/258

    Tanner fecha a cara para mim e Livie me d um soco no ombro. Depois de

    limpar a garganta, ele continua como se eu no tivesse falado.

    Sem brigas, de fam lia ou o que seja. N o te n ho pac in cia para essa

    porcaria e vou expulsar vocs mais rpido do que podem mentir para mim.

    Entenderam?

    Concordo com a cabea e mordo a lngua, reprimindo o impulso decantarolar a msica tema de Family Feudenquanto Tanner abre a porta.

    Eu mesmo limpei e pintei. No novo, mas deve servir para o que vocs

    procuram.

    O aparta m en to pequen o e pouco mobiliado, tem uma cozinha pequena de

    ladrilhos verdes e brancos no fundo. As paredes brancas s fazem destacar o

    horren do sof florido ma rrom e laran ja. Um ca rpet e v erde barat o e o leve

    cheiro de naftalina compem o visual de branco-pobre dos anos 1970. O pior:n o n ada parec ido com a foto do an nc io. Surpresa!

    Ta n n er coa a parte de tr s de sua cabea grisalha.

    N o gra n de c oisa, eu sei. Tem dois quart os ali e um ban heiro ent re os

    dois. Coloquei uma privada nova no ano passado, ento... Seu olhar torto se

    volt a pa ra m im . Se s isso...

    Ele quer o dinheiro. Com um sorriso forado, coloco a m o n o bolso da fren te da

    m ochila e t iro um e n ve lope grosso. Livie se arrisca m ais para dent ro doapartamento enquanto eu pago. Tanner a observa ir, mordendo o lbio como

    quem quer dizer alguma coisa.

    Ela parec e m uito n ova para m orar sozinha. Seus pais sabem que v ocs

    duas e st o aqui?

    Nossos pais morreram. Saiu com a brusquido que eu pretendia, ou seja,

    o recado foi dado. Cuide da sua prpria vida, Tanner.

    Ele fica plido. Ah, hum, lamento saber disso. Ficamos parados desconfortavelmente

    por trs segundos inteiros. Coloco as mos embaixo das axilas, deixando claro

    que n o ten ho a in ten o de apertar a m o de n ingum. Q uan do ele se vira e

    va i pa ra a porta , solt o um leve suspiro. Ele est louc o pa ra se liv rar de m im

    ta m bm. Por sobre o om bro, ele grita:

    A lava n deria fica n o subsolo. Eu a lim po uma vez por sem an a e espero que

    todos os inquilinos ajudem a m an t -la a rrum ada. M oro no 3F, se precisare m de

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    18/258

    alguma coisa. Ele desaparece, deixando a chave na fechadura.

    En con tro Livie in ve stigan do o arm rio de rem dios em um ban heiro feito

    para hobbits. Ten to en tra r, m as n o h e spa o suficient e para n s duas.

    Privada n ova. Chuveiro velho e n ojent o m urmuro, m eu p riscan do o

    piso de ladrilho rachado e encardido.

    V ou ficar c om esse quart o prope Livie, esprem en do-se por mim para irao quarto direita. S tem uma cmoda e uma cama de solteiro com uma

    colcha de croch pssego aberta sobre ela. Gra des pret as en feitam a n ica

    ja n ela que d pa ra o exterior do prdio.

    Tem certeza? pequeno. Sei, sem precisar olhar o outro quarto, que

    este o m en or dos dois. Livie assim . A ltrusta .

    Tenho. Est tudo bem. Gosto de espaos pequenos. Ela sorri. Est

    tentando ver o lado positivo, eu sei. Bom, quando a gente der aquelas festas que duram a noite toda, voc no

    va i c on se guir en fia r m a is de tr s c a ra s a qui de um a vez. Sa be disso, n ?

    Livie joga um travesseiro em mim.

    Engraadinha.

    Meu quarto igual, exceto por ser um pouco maior e ter uma cama de casal

    com uma colcha de tric verde e feia demais. Suspiro, meu nariz se torcendo de

    decepo. Desculpe, Livie. Este lugar n o n ada parec ido com o an nc io. O

    desgraado do Tanner e sua propaganda enganosa. Tombo a cabea de lado.

    Ser que podemos process-lo?

    Livie bufa.

    N o to ruim, K ace.

    Voc diz isso agora, mas quando brigarmos com as baratas pelo nosso

    po... Voc? Brigando? Mas que choque.

    Eu rio. Pouca s coisas ainda m e fazem rir. Uma delas L ivie t en ta n do ser

    sarcstica. Quando ela finge ser alegrinha e descolada, acaba parecendo um

    daqueles anunciantes de rdio interpretando uma verso dramtica de uma

    histria policial brega.

    Este a parta me n to um a m erda, Livie. A dmita. M as estam os aqui e o

    que podemos pagar agora. Miami cara pra cacete.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    19/258

    Sua mo desliza na minha e eu a aperto. a nica mo que consigo tocar. A

    nica que n o parece sem vida. s vezes ten ho dificuldade de solt -la.

    perfeito, Ka ce. S m eio pequen o, tem n aftalina e ve rde, m as n o

    estamos muito longe da praia! Era isso que a gente queria, n? Livie levanta

    os braos e geme. E agora?

    Bom, para comear, vamos matricular voc no colgio hoje tarde paraque seu crebro gran de n o at rofie digo, abrindo m inha m ala para esva zi-la.

    A fina l, quan do voc gan har um zilho de dlares e c urar o c n ce r, vai

    precisar m an dar dinheiro para m im. V asculho minhas roupas. Pre ciso m e

    matricular numa academia. Ento, vamos ver quantas latas de carne e creme

    de milho consigo comprar depois de uma hora vendendo meu corpo gostoso e

    suado n a e squin a. Livie balan a a cabea . s vezes ela n o gosta do m eu

    senso de humor. s vezes acho que ela se pergunta se falo srio. Eu me curvopara puxar a coberta da minha cama. E sem dvida nenhuma preciso jogar

    gua sanitria neste lugar todo de merda.

    * * *

    lavanderia do prdio no subsolo do nosso apartamento no nada

    impressionante. Painis de luzes fluorescentes lanam uma luz forte no piso deconcreto azul desbotado. O cheiro floral mascara muito mal o odor almiscarado

    no ar. As mquinas tm pelo menos quinze anos e provavelmente faro mais

    ma l do que bem s n ossas roupas. M as n o tem uma t eia de aran ha n em um

    fiapo em lugar n en hum.

    Jogo todos n ossos le n is e c obert ore s em dua s m quin as, x in ga n do o

    mundo por nos fazer dormir em roupa de cama usada. Vou comprar roupa de cama nova

    com meu primeiro pagamento, eu m e c om prom et o. Joga n do um a m ist ura de a lveja n te edetergente, abro a gua no ajuste mais quente, desejando que estivesse

    rotulado de ferva no inferno qualquer organismo vivo. Isso me faria sentir um

    pouquinho melhor.

    A s m quin a s pre cisa m de se is m oeda s por c ada la vagem . De test o pa ga r por

    m quina s de lav ar. M ais cedo, Livie e eu para m os estran hos n o shopping c om

    nossas moedas, pedindo para trocar. Eu tenho o suficiente estocado, percebo,

    enquanto deposito as moedas no local correto. A lguma m quina livre? Uma voz grave ma sculin a fala bem atr s de

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    20/258

    mim, me assustando o bastante a ponto de eu gritar e jogar as ltimas trs

    moedas para o alto. Por sorte, tenho reflexos de felino e pego duas delas em

    pleno ar. Meus olhos se fixam na ltima que cai no cho e rola para baixo da

    mquina. Caindo de quatro, mergulho para procur-la.

    M as sou len ta dem ais.

    Q ue droga! M eu rosto bat e n o cho frio en quan to espio em baixo dam quina , procuran do um c int ilar prat ea do. M eus dedos podem ca ber ali

    embaixo...

    Se eu fosse voc, no faria isso.

    A h, ? A gora estou irritada. Q uem chega de fin inho perto de uma

    mulher em uma lavanderia no poro, se no for psicopata ou estuprador?

    Ta lvez ele seja m esmo. Talvez eu devesse estar trem en do neste ex ato

    momento. Mas no estou. Eu no me assusto com facilidade e, para sersin ce ra, e stou irrita da dema is para sen tir qualquer outra c oisa. Ele que t en te

    m e a ta ca r. V ai levar o m aior susto da v ida. Por que isso? Solto ent re

    dentes, tentando continuar calma. Mantenham a paz, T an n er n os a lert ou. Sem

    dvida ele sentiu alguma coisa em mim.

    Porque estamos na lavanderia de um poro mido em Miami. Insetos

    rastejan tes de oito pat as e c oisas que deslizam e ra stejam se escon dem em

    lugare s a ssim .Eu me retraio e reprimo o tremor que toma meu corpo, imaginando minha

    m o saindo de baixo da m quina com uma m oeda e uma cobra de bn us.

    Pouca s coisas m e deixa m em pnico. O lhos m insculos e um corpo que se

    retorce uma delas.

    Engraado, tambm soube que coisas rastejantes de duaspernas andam

    por esses lugares. So chamadas de pessoas sinistras. Uma praga, pode-se dizer.

    Como estou muito abaixa da usan do um short preto m nimo, ele t alvez ten haum a lin da v iso da m inha bun da n este ex ato m om en to. Vai nessa, pervertido. Vai

    curtindo, porque s isso que voc vai conseguir. E se eu sentir qualquer coisa roarna minha pele, vou te arrebentar os

    oelhos.

    A re sposta dele foi um a garga lha da gut ural.

    Bem colocado. Q ue tal voc se levan tar? O s pelos da m inha n un ca se

    arrepiam com as palavras dele. Havia algo decididamente sexual em seu tom.

    O uo o som de m eta l con tra m eta l quando ele ac rescen ta: Esta pessoa

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    21/258

    sin istra tem uma m oeda a m ais.

    Bom, ento, voc meu tipo favorito de... comeo a dizer, tateando o

    alto da mquina enquanto me levanto para olhar o idiota cara a cara. claro

    que o vidro aberto de det ergen te est bem ali. claro que m inha m o o

    derruba. claro que ele se espalha por toda mquina e pelo cho.

    Merda! xingo, me ajoelhando de novo enquanto vejo o sabo verde epega joso va zar para todo lado. Ta n n er v ai m e despejar.

    A voz do ca ra sin ist ro fic a m a is ba ix a.

    Quanto vai me pagar para ficar de boca fechada? Passos se aproximam

    de mim.

    Por instinto, mudo de posio para conseguir deslocar sua articulao com

    um chute e deix-lo cado em agonia, como aprendi em minhas aulas de sparring.

    M inha colun a formiga en quan to um len ol bran co este n dido, cobrindo ocho na m in ha fren te. R espiran do fundo, espero pacien tem en te en quant o o

    Sin istro passa m inha esquerda e se a gac ha.

    O ar sai de meus pulmes em um suspiro e fico olhando as covinhas fundas e

    os olhos ma is azuis que j vi an is de cobalto com azul-c laro por den tro.

    Semicerro os olhos. Eles tm pontinhos turquesa? Sim! Meu Deus!O piso azul, as mquinas

    velha s e en ferr uja da s, a s pa re des, tudo em volt a de m im desa pa rec e sob a

    int en sidade do seu olhar, que a rran ca m inha ca pa prote tora de m ulher cret ina ,tirando-a do meu corpo, me deixando nua e vulnervel em segundos.

    possvel a bsorver t odo esse lquido com isso. Prec iso do dete rgen te de

    qualquer jeito diz ele com um sorriso juvenil e irnico enquanto arrasta o

    len ol para lim par o lquido derram ado.

    Pera, voc no precisa... Minha voz falha, a fraqueza nela me d

    n useas. De repen te sin to o erro que come ti ao rotul-lo de sinistro. Ele n o

    sinistro. bonito demais e legal demais. Sou a idiota que deixa moedas carempor todo lado e agora ele est limpando o detergente deste cho sujo com seus

    len is para m e a judar!

    N o con sigo form ar palav ras. N o en quan to estou boquiaberta dian te dos

    bra os m usc ulosos do N o Sin ist ro, se n tin do o ca lor se espa lha r pelo m eu

    ba ix o- ven tre . Ele vest e um a c am isa c om as m a n ga s en rola da s e os prim eiros

    bot es a bert os, ex pon do o in c io de um peit ora l in crvel.

    Est vendo alguma coisa que te interessa? pergunta ele, a provocao

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    22/258

    fazen do me us olhos se desloca rem at sua ca ra sorrident e, o san gue coran do

    meu rosto. Desgraado! Ele parece ir do Bom Samaritano Tentao do Mal a

    cada frase que sai de sua boca. Pior ainda, ele me pegou babando pelo corpo

    dele. Eu! Babando! Fico perto de corpos sarados todos os dias na academia e

    n o me abalo. M as, por algum m otivo, n o sou im une ao dele.

    A cabei de m e m udar. Para o 1D. M eu nome Tren t. Ele me olha porba ix o da quele s c lios in crivelm en t e lon gos, o ca belo c ast a n ho- doura do

    desgren hado em olduran do lin dame n te seu rosto.

    Kacey eu me esforo para dizer. Ento, esse cara o inquilino novo... nosso vizinho. Ele

    mora do outro lado da parede da minha sala! Ai!

    Kacey repete ele. Adoro a forma como seus lbios se mexem quando ele

    diz meu nome. Minha ateno fica presa ali, encarando aquela boca, os dentes

    perfeitamente retos e brancos, at que sinto meu rosto ferver com umaterceira onda de calor. Merda! Kacey Cleary no fica vermelha por ningum!

    Eu apertaria sua mo, Kacey, mas... diz Trent com um sorriso

    provocador, estendendo as palmas cobertas de detergente.

    Pronto. Isso basta. A ideia de tocar aquelas mos parece um tapa na minha

    cara, acabando com o sbito deslumbramento e me trazendo de volta

    realidade.

    Consigo raciocinar direito de novo. Respirando fundo, ergo meus escudos den ovo, para forma r uma barreira contra esta c riatura divina e n o reagir mais a

    ele. m uito m ais fc il assim. E s isso, Kacey. Uma reao. Uma reao estranha e pouco comum a

    um homem. Um homem incrivelmente gostoso, mas ningum com quem voc queira se envolver.

    Obrigada pela moeda digo com frieza, levantando-me e colocando a

    moeda n a ran hura. Ligo a m quina de lava r.

    o mnimo que posso fazer por te dar um susto. Ele est de p e enfia os

    len is na m quin a a o lado da m inha. Se T an n er reclam ar de algum a c oisa,vou dizer a ele que fui eu. Em pa rt e foi m in ha c ulpa m esm o.

    Em parte?

    Ele ri e balan a a c abea . A gora e stam os prxim os, to perto que n ossos

    om bros quase se toca m . Pert o dem ais.

    Eu me afasto alguns passos para ter algum espao, mas acabo encarando

    suas costas, e admiro como sua camisa xadrez azul se estica pelos ombros

    largos, como o jeans azul-escuro se ajusta com perfeio em sua bunda.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    23/258

    Ele para o que est fazendo e olha por sobre o ombro, os olhos brilhantes

    en ca ran do os m eus de um jeito que m e faz querer fazer c oisas para ele, c om ele,

    por ele. Seu olhar desliza descaradamente pelo meu corpo. Este sujeito uma

    cont radi o. Num segundo m eigo, n o outro ousado. Um a c on tra di o

    gostosa e perturbadora.

    Um alarme dispara na minha cabea. Prometi a Livie que as ficadas de umanoite s iam parar. E pararam. Em dois anos, no fui legal com ningum.

    gora estou aqui, no primeiro dia de n ossa n ova vida, prestes a m on ta r n este

    cara em cima da mquina de lavar.

    De repen te m eu corpo se ret rai, pouco vont ade. Respire, Kacey, ou o a voz da

    minha me n a minha cabea. Conte at dez, Kace. Respire dez vezes curtinho.Como sempre,

    seu con selho n o me ajuda porque n o faz sen tido. S o que faz sen tido sa ir

    desta arm adilha de duas pern as. E j.R ecuo at a porta.

    N o quero te r esses pen sam en tos. N o prec iso deles.

    E a, onde voc...?

    Subo a escada correndo em busca de segurana antes de ouvir Trent

    term ina r a frase. S respiro m elhor quan do estou no trreo. Eu me en costo na

    parede e fecho os olhos, recolocando aquela capa de proteo que cobre minha

    pele e recuperando o controle do meu corpo.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    24/258

    DOIS

    Um assobio...Luzes fortes...

    Sangue...

    gua correndo por cima de minha cabea. Estou me afogando.

    Ka cey, a corde! A voz de Livie me arran ca da e scurido sufocan te e me

    traz de volta a meu quarto. So trs da madrugada e estou ensopada de suor.

    Obrigada, Livie.

    De nada responde ela baixinho, deitando-se a meu lado. Livie estacostumada com meus pesadelos. Raras vezes passo uma noite sem ter um. s

    vezes a c ordo sozin ha . s vezes m eus gritos fazem Liv ie corre r pa ra o qua rt o. s

    vezes c om eo a fic a r ofega n te e ela t em de vira r um copo de gua gela da n a

    m inha c abea para m e t razer de v olta . Ela n o prec isou fazer isso esta n oite.

    Hoje est sendo uma boa noite.

    Fico quiet a e para da at ouvir sua re spira o len ta e ritm ada de n ovo e

    agradeo a Deus por no t-la tirado de mim tambm. Ele tirou todos os outros,mas deixou Livie. Prefiro pensar que ele a deixou gripada naquela noite para

    impedir que e la fosse a o me u jogo de rgbi. O s pulmes c onge stiona dos e o

    nariz escorrendo a salvaram.

    Salvaram meu nico raio de luz.

    * * *

    Lev an to ce do para m e despedir de Livie n o seu primeiro dia de aula n o novo

    colgio.

    Est com toda a papelada? pergunt o a ela. Eu a ssinei t udo como guardi

    legal de Livie e a fiz jurar que eu era , se a lgum pergunt asse.

    Se valem alguma coisa...

    Livie, s m an ter a histria e t udo vai correr tran quilamen te. Para ser

    fran ca , estou m eio preocupada. Depen der de Livie para m en tir c omo esperarque um c aste lo de cart as fique de p n um v en daval. Im possvel. Livie n o

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    25/258

    consegue mentir nem que sua vida dependa disso. E mais ou menos este o

    caso.

    O bservo minha irm term inar de comer os cereais e pegar a m ochila,

    colocando o cabelo atrs da orelha umas dez vezes. Esse um de seus muitos

    sinais. Um sinal de que ela est em pnico.

    Pen se bem , Livie. V oc pode ser quem quiser sugiro, ac arician do seusbra os en qua n to ela est in do pa ra a porta . Eu m e le m bro de en c on tra r um

    pouquinho de conforto quando nos mudamos para a casa de tia Darla e tio

    R aym on d, um a escola n ova e ge n te n ova que n o sabiam n ada de m im . Fui

    burra o ba st a n te pa ra a cre dit a r que a tr gua dos olha re s pie dosos duraria . M a s

    as n otcias se e spalham rpido em cidades pequena s e logo me vi come n do o

    almoo no banheiro ou faltando as aulas para evitar os cochichos. Agora,

    porm, estva m os a m un dos de distn cia de M ichigan. T nham os realmen teuma chan ce de recome ar.

    Livie para e se vira para m e olhar va gam en te.

    Eu sou Olivia C leary. N o estou ten ta n do ser outra pessoa.

    Eu sei. S quis dizer que ningum sabe nada do nosso passado aqui. Este

    era um de m eus pontos de n egocia o para vir para c : n o part ilhar n osso

    passado com ningum.

    Nosso passado no quem somos. Eu sou eu e voc voc, e isso queprecisam os ser lembra-me Livie. Ela vai em bora e eu sei exa tam en te n o que

    est pen san do. Eu n o sou ma is Ka ce y Clea ry. Sou um a c oncha v azia que solta

    piadas inconve n ien tes e n o sen te n ada. Sou um a impostora de Ka cey.

    * * *

    Quando procurei pelo nosso apartamento, eu no queria s uma escoladece n te para Livie; eu precisava de uma aca dem ia. N o um a a ca dem ia on de

    meninas magras feito lpis chegam empinadas com suas roupas novas de

    m alhar e ficam perto dos pesos, falan do no ce lular. Uma ac adem ia de luta .

    Foi assim que encontrei a Breaking Point.

    A Br ea kin g Poin t tem o m esm o ta m a n ho da O M alle ys em M ic higa n e

    logo me sen ti v onta de quan do en trei. com pleta, c om luzes baixas, um

    ringue de luta e doze sacos de variados tamanhos e pesos, pendurados nas vigasdo teto. O ar uma infuso do fedor familiar de suor e agressividade um

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    26/258

    subproduto da propor o 50:1 en tre hom en s e m ulheres.

    Q uan do en tro n a sala prin cipal, respiro fundo, ac olhendo a sen sa o de

    seguran a que o espa o me tra z. T rs an os an te s, depois de o hospital m e dar

    alta aps uma lon ga int ern a o depois de fisiote rapia int en siva para c orrigir

    o lado direito de m eu corpo, esmag ado pelo aciden te , en trei em uma

    ac adem ia. Pa ssav a horas l t odo dia, levan ta n do pesos, fazendo exe rcciosae rbicos, todas as c oisas que fortalec era m m eu corpo ma chuca do, m as n o

    consertaram min ha a lm a destruda.

    E en t o, um dia, um ca ra m usculoso cham ado Jeff, com m ais piercings e

    tat uagen s que um astro de rock deca den te, se a presentou a m im.

    Voc pega mesmo pesado nos exerccios disse ele. Assenti, sem

    int eresse n o rum o que a c onve rsa poderia tom ar. A t que ele m e passou seu

    carto. J experimentou a OMalleys, nessa mesma rua? Eu dou aulas dekickboxing l algumas noites por semana.

    Eu sou lutadora n at a, pelo visto. R apidam en te m e superei c om o sua aluna

    fora de srie, provavelmente porque treinava sete dias por semana, sem faltar.

    quilo aca bou se t orn an do um m ec an ism o de supera o perfeito para m im. A

    cada chute e a cada golpe, eu consigo canalizar a raiva, a frustrao e a mgoa

    de forma palpvel. Posso liberar ali, de um jeito no destrutivo, todas as

    emoes que me esforcei para enterrar.Felizmente, a Breaking Point barata e deixa que voc pague por ms, sem

    ta xa de ma trcula. T en ho dinheiro suficient e n a re serva por um m s. Sei que

    deveria gast-lo com comida, mas ficar sem malhar no uma opo para

    mim. A sociedade fica melhor comigo numa academia.

    Depois de m e m at ricular e c onhecer o lugar, deixo m eu equipam en to perto

    de um saco de areia disponvel. E sinto os olhos dos homens em mim, os olhares

    questionadores. Quem a ruiva? Ela no percebe que tipo de academia essa?Eles esto sepergunt an do se posso dar um soco que valha alguma m erda. Provave lmen te j

    esto fazendo apostas sobre quem vai me levar para o chuveiro primeiro.

    Eles que ten tem .

    Ignoro a ateno, os comentrios e as risadinhas flagrantes enquanto

    alongo os msculos, com medo de contundir alguma parte depois de faltar por

    tr s dias. Sorrio com iron ia. Babacas presunosos.

    R espiro vrias vezes para a calm ar os n ervos e m e c on cen trar n o saco, esta

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    27/258

    coisa graciosa que absorver toda minha dor, meu sofrimento e meu dio, sem

    protestar.

    E en t o desca rrego tudo.

    * * *

    Mal amanheceu quando o pior tipo de heavy metal que gente velha escuta

    explode pelo meu quarto. Meu despertador diz seis da manh. . Bem no horrio. o

    terceiro dia seguido que meu vizinho me acorda com essa barulheira.

    Mantenham a paz, resmungo enquanto jogo as cobertas sobre a cabea,

    repassando as palavras de Tanner. Imagino que manter a paz no signifique

    chutar a porta do vizinho e quebrar os aparelhos eletrnicos na parede.

    Ta m bm n o significa que n o possa have r vingan a.Pego meu iPod um dos poucos pertences, sem ser roupa, que peguei na

    correria e rolo pelas playlists. L est: Hannah Montana. Minha melhor

    am iga, Jen n y, ca rregou toda e ssa me rda a dolescen te de brin cadeira a n os atrs.

    Parece que finalmente veio a calhar. A fasto a dor que a compan ha as lem bran a s ligadas a

    isso enquanto aperto Play e coloco o volume no mximo. O som distorcido

    quica nas paredes de meu quarto. Os alto-falantes podem at estourar, mas

    va le a pen a .E en to eu dan o.

    Fe ito uma louca, m e balan o pelo quart o, agita n do os bra os, n a e spera n a

    de que e ssa pessoa odeie H an n ah M on tan a t an to quanto eu.

    O que est fazen do?! grita L ivie, in va dindo m eu quarto de pijama

    am assado com o cabelo indom ado. Ela salta at m eu iPod para aperta r o boto

    de desliga r.

    S estou ensina n do ao n osso vizinho o que ac onte ce quan do m e a cordam .Ele um grosso.

    Ela franze a testa.

    Voc o conheceu? Como sabe que um homem?

    Porque nenhuma garota pe esta merda berrando s seis da manh, Livie.

    Sei que no pode ser Trent, porque o apartamento dele fica do outro lado.

    A h. A cho que n o d para ouvir do m eu quarto. Sua testa se vin ca

    en quan to ela e xa min a a parede adjace n te. Isso me don ho. A cha m esmo? Especialmen te quando eu trabalhei at as on ze onte m

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    28/258

    n oite! Come ce i me u prim eiro turno n a Starbucks de um bairro vizinho. Eles

    estava m desesperados e eu tinha uma carta de refernc ia incrvel, graa s a

    meu antigo gerente, um filhinho da mame de 24 anos chamado Jake com uma

    queda por ruivas rabugentas. Tive a inteligncia de ser legal com ele. Acabou

    compensando.

    Com um a pausa e um dar de ombros em seguida, Livie grita Va m osdan ar! e a umen ta de n ovo o volume.

    Ns duas pulamos pelo quarto em um ataque de risos at que ouvimos uma

    ba t ida n a porta da fre n te.

    A ca ra de Liv ie perde toda a cor. Ela a ssim s la te, n o m orde. Eu? N o

    est ou preocupada. V isto me u roupo rox o e pudo e vou at l c om orgulho.

    Vamos ver o que ele tem a dizer a respeito disso.

    Minha mo est na maaneta, prestes a abrir a porta num rompante,quando Livie cochicha severamente, Espera!.

    Eu me viro, vendo Livie balanando o indicador, como minha me

    costum av a fazer quan do dav a um as bron ca s.

    Lembra, voc prometeu! O acordo foi esse. Vamos recomear aqui, n?

    Uma vida n ova? Uma nova Ka cey?

    . E da?

    Da que voc pode, por fav or, ten ta r n o ser an tipt ica? Pode ser m aiscomo a Kacey de Antes? Sabe qual, aquela que no foge de todo mundo que

    chega perto? Q uem sabe, ta lvez a gen te possa fazer a lgun s am igos por a qui.

    s tentar.

    V oc quer fazer a m izade com velhos, Livie? Se assim , a ge n te bem que

    podia te r ficado em ca sa respon di com frieza. M as a s palav ras dela m e

    atingiram como uma agulha de injeo comprida bem no corao. Partindo de

    qualquer outra pessoa, teriam escorregado pelo meu exterior de Teflon duro. Oproblema que n o sei quem a Ka cey de A n tes. N o me lembro dela. Ouvi

    dizer que se us olhos brilhava m quan do ela ria, que sua ve rso de Stairw ay to

    H ea ve n ao pian o fazia o pai chorar. A garota t inha m uitos am igos e ficav a a os

    abraos, beijos e mos dadas com o namorado sempre que podia.

    A K a cey de A n tes m orr eu qua tro a n os a tr s e s o que re st a um a

    ba gun a . Um a ba gun a que pa ssou um a n o n a re a bilita o fsic a c on se rt a n do o

    corpo destrudo, para ser liberada em seguida com uma alma destruda. Uma

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    29/258

    ba gun a cuja s n ot as m erg ulha ra m de c abe a pa ra o fun do da c la sse. Q ue

    afundou em um mundo de drogas e lcool por um ano para lidar com a perda. A

    Kacey de Depois no chora, no solta uma nica lgrima. No sei bem como

    ela c on segue. Ela n o se abre por n ada; no suporta sen tir o toque de m os,

    porque elas a lembram da m orte . N o deixa as pessoas en tra rem , porque a dor

    persegue os afetos de perto. A viso de um pian o a faz en tra r em uma n v oa devert igem . Seu n ic o a lv io esm urrar sa cos de areia giga n tes a t os n s dos

    dedos ficarem vermelhos e os ps esfolados, e seu corpo unido por incontveis

    haste s e pin os de m et al d a impresso de que vai esfarelar. C on heo bem a

    Ka ce y de Depois. Bem ou ma l, sei que e stou presa a ela.

    M as Livie m e lem bra da Ka cey de A n tes e, por Livie, eu vou ten tar t udo.

    bro um sorriso for ado. Parec e est ra n ho e desa jeit a do e, a julg ar pelo

    estreme cimen to no rosto da m inha irm , deve parece r me io am ea adortambm.

    Tudo bem. Come o a girar a m aan eta.

    Espera!

    M eu Deus, Livie! O que a gora? Suspiro, ex asperada.

    Toma. Ela me entrega seu guarda-chuva rosa de bolinhas pretas. Ele

    pode ser um assassin o em srie.

    Eu jogo a cabea para trs e rio. um som muito raro, mas autntico. E o que eu faria c om isso? Daria um cutuco n ele?

    Ela d de ombros.

    m elhor do que a m assar a ca ra dele, que o que voc v ai querer fazer.

    Tudo bem, t legal, vamos ver com o que estamos lidando. Vou janela

    ao lado da porta e puxo a cortin a fina , procura n do por um sujeito grisalho com

    um a c am iseta desbotada apertada n as banhas e m eias pretas. Uma parte

    mnima de mim torce para que seja o Trent da lavanderia. Aqueles olhosarden tes inva diram me us pen same n tos vrias vezes sem convite n os ltim os

    dias e tive dificuldade para me livrar deles. At me peguei olhando a parede que

    separava nossos apartamentos como uma maluca, imaginando o que ele

    esta ria fazendo.

    Um rabo de cavalo louro cor de palha de milho se balana de um lado a

    outro do lado de fora de nossa porta.

    Jura? bufo, m e a trapalhan do com a t ran ca.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    30/258

    A Ba rbie est a li fora . Sem brin c adeira . Um a gost oson a loura a lt a m en te

    bron zeada de 1,70m em ta m an ho n a tura l com l bios ca rn udos e olhos a zuis

    gigantescos. Fico sem fala, olhando seu short de algodo mnimo e percebendo

    como a logomarc a da P layboy fica distorcida ao ser estica da n a fren te da sua

    camiseta. No podem ser de verdade. Tm o tamanho de bales de ar quente.

    Uma fala arrastada e suave m e arran ca do me u tran se. Oi, meu nome Nora Matthews, da porta ao lado. Todo mundo me

    chama de Storm.

    Storm? Aquela do apartamento vizinho com uns bales gigantescos costurados no peito?

    Um pigarro e percebo que ainda estou encarando os peitos dela.

    Rapidamente desvio os olhos para seu rosto.

    Est tudo bem. O mdico me deu de graa uns litros extra enquanto eu

    estava dormindo. Ela brinca com uma risadinha nervosa, provocando umatosse sufocada de choque em Livie.

    Nossa nova vizinha, Nora, vulgo Storm, com peitos falsos e gigantes. Eu

    me pergun to se T an n er fez a elao discurso de n ada de orgias, ma n ten ha a paz

    quan do lhe e n treg ou as c hav es. Ela e sten de o bra o bron zea do e

    imediatamente me retraio, reprimindo o impulso de me encolher visivelmente.

    Por isso eu detesto conhece r gen te . N estes t em pos de doen a s, n o podem os

    s acenar para o outro e seguir em frente?Uma cabea morena entra no meu campo de viso e Livie avana para

    pegar a mo estendida de Storm.

    O i, eu sou a Livie. A gradeo a min ha irm em silncio por m e salvar

    ma is um a vez. Essa m in ha irm, K ace y. Somos novas em M iam i.

    Storm abre um sorriso perfeito para L ivie e se vira para m im.

    Olha, me desculpe pela msica. Ento ela sabe que eu sou a provocadora. N o

    sabia que algum tin ha se m udado para c . Eu trabalho n oite e m inha filha de5 anos me acorda cedo de manh. s o que consigo fazer para me manter

    acordada.

    ento que eu noto a vermelhido no branco de seus olhos. A culpa agora

    me apunhala por saber que h uma criana envolvida. Que droga.Detesto m e

    sen tir culpada, e spec ialmen te por estra n hos.

    Livie d um pigarro e me lana um olhar de lembre-se de no ser uma

    cretina.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    31/258

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    32/258

    test e do Mr. M agoo, porque M ia a pega pelo bra o e a puxa porta afora.

    V em conhecer m eus outros amigos. Elas desaparece m n o apartam en to

    de Storm, deixando-a sozinha comigo.

    Vocs no so daqui. uma afirmao, no uma pergunta. Espero que

    ela no se aprofunde. Esto aqui h muito tempo? Os olhos crticos de

    Storm, muito parecidos com os da filha, flutuam por nossa sala de estardespojada, parando em uma foto nossa com nossos pais emoldurada na parede.

    Livie pegou na sala de estar de tia Darla quando fugimos pela porta.

    Em silncio, censuro Livie por pendurar ali para todo mundo ver, para que

    faam perguntas, embora eu no tenha esse direito. Em algumas poucas

    ocasies, Livie bate o p. Essa foi uma delas. Se dependesse de mim, a foto

    esta ria n o quarto de L ivie, onde e u poderia e n tra r para v isitar de ve z em

    quando.Para mim, difcil ver o rosto deles.

    H a lguns dias. No ac onc hegan te?

    Storm sorri da m inha te n ta tiva de fazer gra a . Livie e eu desbrav am os a loja

    de 1,99 do bairro procura de itens de necessidade bsica. Alm disso e da foto

    de fam lia, a n ica c oisa que a cresc en ta m os foi o cheiro de alvejan te n o lugar

    da n aftalina.

    Storm concorda com a cabea, cruzando os braos como quem tentaafugentar o frio. Mas no tem frio algum. Miami quente, mesmo s seis da

    manh.

    como d para ser por enquanto, n? s o que podemos pedir diz ela

    ba ix in ho. De a lgum m odo t en ho a se n sa o de que ela est fala n do m a is do que

    s do apartamento.

    H um gritin ho de prazer n o apart am en to ao lado e Storm ri.

    Sua irm t em jeito com crian as. , a Livie te m um poder m agn tico sobre elas. Nen hum a c rian a

    consegue re sistir. Na n ossa c idade, ela t rabalhou como volunt ria n a c reche

    muitas vezes. Acho que ela ter pelo menos doze filhos. Eu me curvo para

    imitar um cochicho por trs da mo. Espere s at que ela saiba o que precisa

    fazer com os homen s para que isso ac onte a .

    Storm ri suave me n te.

    Sei que ela vai aprender logo. Ela incrvel. Quantos anos ela tem?

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    33/258

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    34/258

    Fas e dois

    NEGAO

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    35/258

    TRS

    En tro meio adorme cida n a c ozinha e en contro Livie e M ia m esin ha deja n ta r, joga n do Go Fish.

    Bom-dia! can tarola Livie.

    Bom- dia! M ia a imita.

    So oitoda m an h resmungo en quant o pego na geladeira um suco de

    laranja qualquer em que torrei meu dinheiro outro dia.

    Como foi o trabalho? pergunta Livie.

    Tomo um gole gigante direto da caixa. Uma m erda.

    Ouo um soluo agudo e vejo o dedinho de Mia apontando na minha

    direo.

    K ac ey falou palav ro! sussurra e la.

    Eu me encolho quando vejo o olhar nada impressionado de Livie.

    J t saben do, t legal? digo, procuran do um a desculpa para m im

    mesma. Terei de moderar meu linguajar, se Mia vai andar por aqui.A ca bea de M ia se in c lin a , prova velm en te con side ra n do m in ha lgic a .

    Depois, com a ateno limitada de qualquer menina de 5 anos, minha infrao

    horrenda esquecida rapidamente. Ela sorri e anuncia:

    V ocs vo toma r o brun ch com a gen te. N o caf da m an h e n o

    almoo.

    A gora m in ha vez de olha r feio pa ra Livie .

    V am os, ?Baixa n do os olhos, Livie se leva n ta e v em para o me u lado.

    Voc disse que ia tentar ela me lembra em um sussurro baixo para Mia

    no ouvir.

    Eu disse que seria gentil. No disse que ia trocar receitas de bolo com as

    vizin ha s re spon do, proc ura n do a o m xim o n o rosn ar.

    Ela revira os olhos.

    Deixa de fazer drama. A Storm gente boa. Acho que voc ia gostar dela,

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    36/258

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    37/258

    Mudo de assunto.

    Alis, como est sendo na nova escola? Eu trabalhei no turno da tarde a

    sema n a toda, en to a nica c omun icao en tre n s foi a troca de algun s

    bilhe tes n a ba n c ada da c ozin ha .

    A h... foi tudo bem . Livie em palidec e c omo se t ivesse visto um fan ta sma .

    Procura a m ochila, olhan do para tr s e v en do que M ia est distra da c om seuprprio jogo de c arta s na m esa. Chequei m eus e-m ails n a e scola ex plica e la

    ao me passar uma folha de papel.

    M inhas costas en rijec em . Sei o que est por vir.

    Q uerida O livia

    Imagino que sua irm tenha convencido voc a fugir. No entendo por

    qu, mas espero que voc esteja bem. Por favor, me mande umame n sagem para saber on de vocs esto. Vou at voc e a trago para

    casa, onde seus pais queriam que voc estivesse. Isso os deixar felizes.

    N o estou chate ada c om voc . V oc um a ovelha que foi desgarrada

    por um lobo.

    Por fav or, m e deixe t raz-la para c asa. Seu tio e e u sen tim os muito a

    sua falta.

    Com amor,

    Tia Darla

    * * *

    Meu sangue comea a ferver e o calor explode como um vulco dentro de

    mim. No pelo comentrio do lobo. No ligo para isso; ela j me chamou de

    coisas bem piores. Mas ela est usando nossos pais como uma forma de culpa,

    sabendo muito bem que m agoaria Livie.

    V oc n o respon deu, no ?

    Livie nega solene men te.

    timo digo entre dentes, amassando o papel numa bola firme. Delete

    sua cont a. A bra uma n ova. N em respon da a e la. Nem um a ve z, Livie.

    Est bem , Kacey.

    srio! Ouo o ofegar mnimo de Mia e rapidamente modero o tom.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    38/258

    N o precisam os deles n a n ossa vida.

    H uma lon ga pausa.

    Ela n o m pessoa. Ela tem boas inten es. A voz de Livie fica m ais

    ba ix a . V oc n o fac ilit ou m uit o as c oisa s pa ra ela .

    Engulo o bolo de culpa que se forma no fundo de minha garganta, lutando

    para controlar a raiva. Sei disso, Livie. Eu sei me smo. M as as boas int en es da t ia Darla n o

    funcionam para ns. Esfrego a testa com as mos. No sou idiota. No

    primeiro an o aps o aciden te, eu imprim i todo meu esforo, conc en tra o e

    pen sam en to n a cura do meu c orpo para poder a n dar de n ovo. Depois de

    receber alta, meu foco se voltou para enterrar as lembranas da minha vida

    anterior em um poo sem fundo. Foram dias insuportveis, feriados,

    an iversrios e coisas do gn ero, e ra pidam en te apren di que o lcool e a s drogas,embora possam destruir vidas, tambm tm um poder mgico: o poder de

    aliviar a dor. Ca da vez m ais, eu depen dia dessas a rm as para lidar c om a on da

    constante e dominadora de gua que crescia em minha cabea, ameaando

    me afogar.

    Isso e sexo. O sexo sem afeto, mec n ico, com qualquer estran ho com quem

    eu no me importava e que n o dava a m nima para m im. Sem expecta tivas,

    pelo m en os da min ha parte. Ca ras numa festa, n a e scola. Se e les achava mestranho depois, eu no estava nem a. Nunca deixei que chegassem perto o

    suficiente de mim para descobrir. Foi o mecanismo de superao perfeito.

    A t ia Da rla sa bia o que est a va ac on tec en do, m as n o sa bia com o lida r com

    isso. No incio, tentou me aproximar do seu sacerdote, para que ele pudesse me

    confrontar e me livrar dos meus demnios interiores. Tudo isso s podia ser

    obra dos demnios, mas quando os demnios se provaram resistentes aos

    poderes da igreja dela, acho que ela decidiu que ignorar seria o melhor caminho. s uma fase, eu a ouvi cochichando com Livie, junto com um tapinha

    reconfortante. Uma fase revoltante e autodepreciativa da qual ela no queria

    fazer part e. A partir da, ela c once n trou todo o seu foco na sobrinha in ta ct a.

    Eu lidav a bem com isso at o dia em que a cordei com L ivie bat en do na s

    minhas costas para impedir que eu me asfixiasse com meu prprio vmito, as

    lgrimas escorrendo pelo rosto dela, chorando histericamente, dizendo sem

    parar, Prom ete que n o vai m e a ban don ar! suas palavras uma faca

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    39/258

    apunhalando meu corao.

    Pare i com tudo na quela n oite . Com a bebedeira. A s drogas. O sexo ca sual.

    Com o sexo, ponto final. Desde ento, nem mesmo olhei para um homem. No

    sei bem por qu. A cho que, em m inha m en te , esta va tudo ligado. Por sorte,

    en cont rei um n ovo alvio no kickboxin g pouco tem po depois. Livie n unc a

    aprovou int eiram en te n em apoiou me u novo vcio, m as o ace itou sat isfeita emtroca das outras coisas.

    Bati a porta da geladeira, sem querer pensar na tia Darla ou na

    profundidade do meu passado autodestrutivo.

    Q ue horas o caf da m an h?

    Brunch! Mia me corrige com um suspiro alto.

    * * *

    O cheiro delicioso de bacon e caf provoca ondas de fome enquanto seguimos

    M ia at a c asa dela. Eu m e dou parabn s por tomar a deciso certa . N o

    mnimo, as omeletes que Storm est preparando me daro muita energia para

    a academia hoje.

    M eus olhos vaga m pelo apart am en to de Storm e sin to cert o assombro.

    um espelho do nosso, s que bonito. Ela en cheu a sala de alm ofadas cin za,jogada s a qui e a li, e m esin ha s de vidro cheia s de lin da s lum in ria s de crist al.

    Uma TV de te la plana est em um m vel de te ca estiloso. O ca rpete verde

    horrvel espia por baixo de um tapete creme felpudo. As paredes so cinza-

    claras, com algumas fotos espontneas de Mia, em preto e branco, penduradas.

    Enquanto nosso apartamento parece uma espelunca, o de Storm parece uma

    but ique fem in in a da m oda .

    Ten ho de a dm itir, en quan to me sent o m esa e ouo em silncio Storm ,Livie e Mia trocarem provocaes, que estou comeando a gostar de Storm,

    quer eu queira ou no. Embora ningum possa saber s de olhar para ela, Storm

    esperta e reage como se tivesse mais do que seus 23 anos. Logo se v isso. Ela

    relaxada e solta uma piada espirituosa aqui e ali naquela voz suave, mas rouca.

    Mexe muito no cabelo e ri com facilidade, e no vejo nada alm de sinceridade

    e interesse em seus olhos. Para algum to bonita, ela no me parece ftil nem

    com ego inflado. Principalmente, ela ouve. E observa. Aqueles olhos astutosapreen dem tudo. Eu a pego exa min an do a ta tuagem na m in ha c oxa , seus olhos

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    40/258

    se estreitando de leve enquanto tenho certeza de que est se fixando na

    horrenda cicatriz por baixo dela. uma cicatriz grande que no foi provocada

    por c irurgia, m as por um ca co de v idro irreg ular que v oou.

    M as ela n o pergunt a a respeito, e isso m e faz gosta r ain da m ais dela.

    A h, cara! exclama Storm a o se senta r novamen te depois de term ina r

    de limpar a mesa. Abre um bocejo e noto que seus olhos esto vermelhos e tmbolsas rox as e esc ura s. A poia da n os c otovelos, ela esfrega a c ara . Est ou louc a

    para Mia aprender a dormir sozinha. Pelo menos durante a semana eu posso

    escapulir para um cochilo no meio da manh enquanto ela est na escola.

    Ah, eu ia mesmo perguntar a voc. Posso levar a Mia ao parque aqui na

    rua? pergunta Livie como se estivesse realmente pensando nisso e se

    esquecera . De im ediat o vejo o que ela e st fazendo. Essa a L ivie. N o vou

    perd-la de vista. Nem por um segundo, prometo. Livie comea a enumeraros ite n s de seu currculo impression an te . T en ho ce rtificado em R CP,

    atestado de salva-vidas jnior, mil horas em uma creche particular. At tenho

    uma cpia impressa de m eu currculo em n osso aparta m en to, se voc quiser. E

    referncias! claro que tem, Livie. V am os volta r em , digam os, quat ro horas, se

    no tiver problema para voc.

    , ma m e! Diz sim ! M ia fica n o sof, agitan do fren eticam en te os

    bra os. Diz sim ! Sim ! Sim ! M am e, diz sim ! T udo bem , tudo bem . Ca lma . Storm ri, bat en do n o ar. claro que

    voc pode, Liv ie . V oc j pa ssou m uit o tem po c om ela , n o est ou preoc upa da

    com suas credenciais. Mas eu devia pagar a voc!

    N o. De m an eira n en hum a. Livie rejeita as palavras, e a olho de um

    jeit o in c isivo. Ela est maluca? Ela gosta de comer mortadela? Devemos mudar para carne enlatada?

    Livie ajuda M ia a c ala r os sapatos.

    Tc hau, mam e! grita M ia a cam inho da porta. Livie ev ita m e olhar n osolhos. Era c om o se ela t ivesse uma lin ha direta com m eu c rebro e pudesse ler

    m eus pen sam en tos destruidores.

    A ssim que a porta se fec ha , St orm a poia a test a n a m esa .

    Pen sei que hoje e u ia m orrer. A h, K ac ey. Eu juro, sua irm parec e um

    an jo flutuan do por aqui com asas de ce tim e um a v arinha de c on do. N unc a

    conheci ningum assim. M ia j e st a paixon ada por ela.

    A ca m ada de gelo sobre m eu cora o derr ete. De c ido que ta lvez possa

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    41/258

    tentar ser amiga de Storm Matthews, com peitos falsos e gigantescos e tudo.

    * * *

    T e v ejo depois, Livie m urmuro de c ara feia, pegan do min has coisas para ir

    trabalhar. Ka ce... H uma lon ga pausa. Livie en gole em seco e assim preen che o

    silnc io en tre n s e eu sei que alguma coisa a inc omoda.

    Ai, Livie! Jogo a cabea para trs. Fala logo. No quero chegar

    at rasada n o meu t rabalho ma ravilhoso.

    A cho que e u devia t er fica do em Gran d Ra pids.

    Isso me deixa petrificada. A raiva fasca den tro de m im ideia de m inha

    irm ma is n ova v oltar para l, sem m im. Pa re de falar m erda, Livie. Dou um t apin ha em seu na riz, fazendo-a se

    encolher. Agora mesmo. claro que voc no devia ter ficado em Grand

    Rapids.

    Mas como vamos sobreviver?

    Com dez horas de prostitui o cada uma . N o m xim o.

    Ka c ey!

    Suspiro, ficando sria. V am os pen sar num jeito.

    Posso arruma r em prego.

    V oc precisa se conce n trar n a e scola, Livie. M as... Balan o o dedo para

    ela. Se Storm t e oferec er din heiro de n ovo, ace ite.

    Ela j balan ava a c abea.

    No. No vou aceitar dinheiro para ficar com Mia. Ela divertida.

    Voc devia se divertir com gente da sua idade, Livie. Como os meninos.Sua mandbula se tensiona.

    Q uan do eles n o forem idiota s, eu fare i isso. At l, a lgum de 5 a n os faz

    m ais sen tido.

    R eprim i o riso. Este parte do problem a de L ivie. Ela inte ligen te dema is.

    Um gnio. Nunca se relacionou com crianas de sua idade. Acho que ela

    nasceu com a maturidade de algum de 25 anos. Perder meus pais s piorou o

    problema. Ela cresceu rpido demais. E voc? Nun ca t arde dema is para o son ho de Princ eton.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    42/258

    Um bufo nada atra en te e scapa de m im.

    Esse son ho morreu an os atr s para m im, Livie, e v oc sabe disso. V oc va i

    para Princeton. Eu vou me candidatar a alguma faculdade local assim que tiver

    dinheiro. E de algum jeito falsificar meu histrico para apagar dois anos de notas pavorosas.

    Livie vinca a testa, preocupada.

    Faculdade local, Kacey? Papai detestaria isso. Ela tem razo, eledet esta ria. N osso pai estudou em Princ eton . O pai deleestudou em Princeton.

    N a opin io dele, se n o for para e studar e m Princ et on , eu posso muito bem m e

    matricular numa escola que tem arcos amarelos como braso e fazer um curso

    de virar ham brgueres. M as m am e e papai m orreram e o tio R aym on d

    acabou com toda nossa herana numa mesa de jogo.

    Eu me lembro com o se fosse on te m a n oite em que descobri isso. Era m eu

    an iversrio de 19 an os e pedi nosso dinheiro a t ia Darla e a o tio R aym ond paraque pudssemos nos mudar. Eu queria me tornar guardi legal de Livie.

    En ten di que e stava acont ece n do algum a c oisa quando tia Darla n o en carou

    m eus olhos. T io R aym ond se at rapalhou com as palavra s an te s de soltar que

    n o sobrara n ada.

    Depois de quebrar cada prato na bancada da cozinha e meter meu p na

    jugula r de t io R a ym on d com t an ta for a que sua ca ra fic ou rox a, liguei pa ra a

    polcia, pronta para acusar meus tios de roubo. Livie pegou o telefone de mim edesligou antes que a chamada se completasse. No amos vencer. Eu que

    provavelmente seria presa. Embora meus pais fossem inteligentes, eles no

    planejavam morrer. Todo o dinheiro que sobrou depois que as dvidas foram

    paga s foi para tio Ra ym ond e t ia Darla cuidare m de n s. N o fundo, at que

    fiquei feliz por tio Raymond ter feito tudo que fez. Isso me deu outra desculpa

    legtima para pegar minha irm e deixar essa parte de nossa vida para trs, e

    para sempre.A ca ric ie i a s c ost a s de Livie , ten ta n do a ten ua r sua culpa .

    Pa pai ficaria feliz de estarm os em seguran a . Fim de papo.

    * * *

    N a t arde seguin te eu estava n a lava n deria quan do Storm desceu a esca da a os

    saltos, sorrindo, mas de olhos abatidos. Livie levou Mia ao parque depois daescola de novo e eu estava considerando seriamente dar um tapo em sua

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    43/258

    cabea por recusar o dinheiro.

    Tanner vai arrancar as cuecas pela cabea por causa disso aqui. Storm

    esfrega o p na mancha verde e pegajosa deixada pelo meu detergente. Baixo a

    cabea, me lembrando em silncio de voltar e limpar o cho. A imagem de

    Ta n n er usan do qualquer roupa n tim a faz a bile subir a m inha garga n ta .

    Cont inuo em siln cio, arruma n do min has roupas, a t que percebo Stormpara da ali, me olhan do. eviden te que ela quer falar comigo, ma s n o deve

    saber por on de come ar.

    H quan to tem po voc m ora a qui? pergun to por fim.

    A cho que m in ha voz a assust a , porque ela d um pulo e com e a a joga r a s

    cam isetinhas e calcinhas de M ia na m quin a.

    Ah, trs anos, eu acho. um prdio muito seguro, mas eu ainda no fiquei

    aqui em baixo n oite.Suas palavras fazem me lembrar de Trent e dos sentimentos indesejados

    que ele despertou em m im sem esforo n en hum. Esta m os aqui h v rias

    semanas e no encontrei com ele de novo desde o primeiro dia. Se eu cavasse

    bem fun do, se m e im portasse de prest ar a ten o n o que est ou ten t an do

    en te rrar, te ria uma ideia da decep o que sin to por isso te r ac on te cido. M as

    rapidamente esmago meus pensamentos com um martelo e os jogo no fundo

    poo com todos os outros sentimentos indesejados. Como so os outros moradores do prdio?

    Ela d de ombros.

    M uita ge n te e n tra e sai. A luguel barat o, en to, tem os muitos

    universitrios. Eles tm sido legais, especialmente com a Mia. A sra.

    Potterage, do terceiro andar, ajuda a cuidar dela depois da escola e quando

    estou n o trabalho. A h ela a pon ta o dedo para m im , evite o 2B como a

    peste . do Pet e P erve rtido.Jogo m in ha ca bea pa ra t r s c om um gem ido.

    In crvel. N en hum prdio c omplet o sem um m orador perve rtido.

    A h, e um ca ra n ovo se m udou para o seu lado. N o 1D.

    No consigo controlar o calor que sobe pelo meu pescoo.

    , o Trent digo despreocupadamente enquanto ligo a mquina. At

    ouvir o nome dele em voz alta excitante. Trent. Trent. Trent. Para com isso, Kace.

    Bom, no falei com esse Trent, mas eu o vi e... uma coisa. Suas

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    44/258

    sobrancelhas se arqueiam sugestivamente.

    Que timo.M inha lin da vizinha Barbie a cha T ren t um gat o. S o que ela

    precisa fazer ajeitar a blusa e o ter de joelhos. Percebo que meus dentes

    esto dolorosamente cerrados e me concentro em relaxar os msculos. Ela pode

    t-lo junto com todos os problemas que ele trouxer. Por que voc se importa, Kace?

    Fe chan do a porta da m quina com um baque e aperta n do o bot o paraligar, Storm suspira lon gam en te, sopran do a fran ja comprida da ca ra.

    V ai ficar a lgum te m po aqui? Ela olha o jorn al e a ca n et a que e u trouxe

    comigo. P ode pega r m inha roupa quan do aca bar? Quer dizer, se v oc est iver

    aqui e no for incmodo demais.

    O lho para ela de n ovo, sua pele repuxa da e as lin has arroxe adas m arc an do

    os olhos azuis bonitos e ve jo o quan to ela e st ca n sada. Um a m e jovem e

    solteira, com uma filha de 5 an os, que trabalha seis dias na sem an a, a t as tr sda m adrugada, toda n oite.

    T, no tem problema. Isso parece o que uma pessoa normal e legal

    faria, digo a mim mesma. Livie vai ficar orgulhosa.

    Te m certe za? N o quero ser inva siva.

    Noto que ela est mordendo o lbio e os ombros esto contrados, e me

    ocorre que e st n ervosa. Pedir m inha a juda parec e e xigir um a t on elada de

    coragem e ela deve estar desesperada para isso. Perceber isso me d vontadede bater a cabea n a parede. Claram en te, eu n o me esforcei muito para ser

    acessvel, como prometi a Livie. E Storm legal. Genuinamente legal.

    Ora, senhora, para mim seria uma honra lavar suas calolas digo num

    sotaque falso e arrastado do sul, pegando o jornal para me abanar.

    Sua c ara se ilumina de surpresa e ela ri. Ela a bre a boca para respon der, ma s

    n o sai na da. Eu, com sen so de humor, a c onfundi. Que droga, Livie tem razo. Eu sou uma

    antiptica de primeira.A cresc en t o ra pida m en t e:

    A lm disso, eu estou te deve n do pela sem an a passada. o mnim o que

    posso fazer depois de te fazer ouvir Hannah nas alturas... a mais suja de todas as

    arm as. Sorrio e n o um sorriso fora do. V ou cont inuar v en do a se o de

    empregos, ento posso muito bem fazer isso neste paraso.

    Ela franze o ce n ho.

    A Starbucks no est dando certo? Livie deve ter dito a ela, porque no

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    45/258

    fui eu que falei.

    Est tudo bem , m as pagam m uito ma l. Se e u quisesse v iver de latas de

    Spam e de raspar manchas azuis do po pelo resto da vida, estava tudo certo.

    Ela assente , pensan do.

    V ocs deviam ir jan tar n a m in ha ca sa esta n oite. A bro a boca para

    recusar sua c aridade, ma s, ant es que eu con siga falar, ela a crescen ta: M eusagradecimentos por Livie cuidar de Mia hoje. H algo naquele tom, uma

    m istura de c orage m fora da e a utoridade que m e faz fec har a boca . V ou

    comear a cozinhar agora. Terei terminado quando a mquina aqui acabar.

    E... Ela alterna o peso nos ps, meio hesitante, como se no tivesse

    ce rteza se devia dizer o que lhe passa pela ca bea . ... Voc sabe preparar

    drinques?

    H um... Pisco rapidam en te para a repen tina m udan a de assun to. No meio cedo para isso?

    Ela sorri, cintilando seus dentes perfeitos.

    Tipo martnis e Long Islands?

    Sirvo um a dose de te quila de m at ar proponho com desnim o.

    Bom, posso falar com meu chefe e ver se ele contrata voc, se estiver

    interessada. Sou barwoman numa boate. A grana boa. Tipo, muito boa.

    Seus olhos se a rregalam com essas ltim as palavra s. Barwoman, ?

    Ela sorri.

    E a, o que voc acha?

    Ser que posso lidar c om isso? N o digo n ada, te n ta n do m e im agin ar a trs

    de um balco de bar. O film e t erm ina comigo quebran do uma garra fa e

    ba ten do n a ca be a de um clie n te a busado.

    Mas eu preciso te avisar. Ela hesita. uma boate de adultos.Sin to o fran zido en rugar m inha t esta .

    De adultos tipo...

    Strippers.

    A h... claro.Dou uma olhada em mim mesma. , eu sou do tipo que

    fica-vestida-em-pblico.

    A s m os de St orm re je it am m in ha s pa la vras.

    No, no se preocupe. Voc no teria de fazer strip. Eu te garanto.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    46/258

    Eu? Trabalhar numa boate de strip?

    A cha que serve para m im, Storm ?

    Voc consegue ficar cercada de sexo, bebidas e um monte de dinheiro?

    Dou de ombros.

    Parece minha adolescncia, a no ser pelo dinheiro.

    Pode apren der a sorrir um pouquin ho m ais? pergunt a ela c om um risonervoso.

    A bro pa ra ela m eu m elhor sorriso falso.

    Ela assente, aprovando.

    timo. Acho que vai se dar bem no bar. Voc tem um visual que agrada a

    eles.

    Dou um risinho sarcstico.

    Que visual? O visual acabo-de-sair-de-um-nibus-de-Michigan-e-farei-qualquer-coisa-por-dinheiro-para-no-ter-de-comer-Spam?

    Os cantos de seus olhos se enrugam quando ela ri.

    Pen se nisso e me deixe falar com m eu chefe. uma gran a boa mesmo. Voc

    n un ca m ais teria de comer Spam . N unca . C om essa, ela sobe a escada aos

    saltos.

    Penso nisso. Penso nisso pela meia hora seguinte enquanto olho as roupas

    de Storm e M ia rodan do em crculos. Pen so n isso en quan to o tem po passa ecoloco as roupas n a sec adora, c ome an do duas ca rgas n ovas. Pen so n isso

    enquanto arrumo e dobro a roupa limpa em pilhas organizadas e recarrego o

    cesto, sem prestar muita ateno nas roupas mnimas da pilha de Storm. Tipo

    uma camisetinha preta que parece uma mistura de suti esportivo com

    lantejoulas e um animal selvagem mutilado. Levanto a pea. Ela serve bebidas

    ou o prprio corpo nisso? Isso explicaria seus peitos ridculos. Nossa! Talvez eu

    est eja fazen do am izade com uma stripper. Isso e squisito. Depois perc ebo queestou an alisan do a c alcinha da g arota. Isso m ais esquisito ain da.

    M e diga onde va i usar isso para que eu possa te stem unhar. Sua v oz

    grave m e a ssusta de n ovo.

    O fego enquan to vira a c abea e vejo Tren t a n dan do na m inha direo com

    um saco de roupa suja pendurado no ombro. Minha respirao para ao v-lo,

    em especial aquelas covinhas marcadas que ele mostra descaradamente. J faz

    m ais de duas sem an as que e u o en cont rei aqui, e v- lo ac en de de im ediat o um

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    47/258

    fogo dentro de mim.

    De novo na lavanderia? Quais so as chances?Respiro fundo, me obrigando a relaxar.

    Desta vez estou ma is preparada. No vou agir como uma avoada. No vou deixar que seu rosto

    bonito me desarme. No vou...

    Ora, ora. O Espreitador da Lavanderia ataca novamente.

    Tre n t sorri com iron ia en quan to seus olhos perc orrem m eu corpo, para n dopor um m om en to para a valiar a ta tuagem n a m inha coxa , an tes de voltarem

    rapidam en te ao m eu rosto. Q uan do seus olhos chega m ali, min ha pulsa o est

    ac elerada e ac ho que eu talve z prec ise t roca r de calcin ha. Mas que droga! L vamos ns

    de novo.

    Segundo round resmungo an tes que c on siga m e c on ter.

    Sua sobran ce lha se arqueia e m surpresa e n quan to ele se a proxima da

    lavadora aberta.Procuro no ficar babando pelo seu corpo delineado atravs da camiseta

    bra n ca apertada , en qua n to o vejo la rg ar um jogo de le n is bra n cos n a

    mquina.

    V oc lava m uito seus len is observo com frieza, pen san do ser um

    comen trio m uito in ocen te.

    A s m os de T re n t pa ra m por um se gun do e ele c on tin ua , rin do e

    ba la n an do a c a bea , m a s se m dizer n ada . N em prec isa . Perc ebi o que m in haobservao podia implicar e gemi, reprimindo o impulso de bater na minha

    testa, m in ha c ara fica n do ain da m ais quente . Q ualquer van tage m que eu

    pen sasse te r quan do ele en trou se dissolveu em um poo de te so a m eus ps.

    Tenho certeza de que os lenis dele esto em constante trabalho. Ele deve

    ter n am orada. A lgum como ele tem deter n am orada. O u um a srie de am igas

    para transar. Seja como for, agora quero me enfiar num buraco e me esconder

    at que ele v em bora. O que posso dizer? Miami quente sem ar-condicionado prope ele

    depois de um momento, tentando atenuar a estranheza. isso que eu me foro

    a pen sar, at que ele solta: M esm o sem roupa, e u acordo ferve n do.

    Trent dorme pelado. Minha boca seca enquanto foco sem controle em seu corpo

    de n ovo. Do outro lado da parede de m inha sala de e star t em esse deus, num a

    ca m a, deitado nu. Em bora eu julgasse impossvel, m inha pulsa o se a ce lera

    ainda m ais.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    48/258

    A bro a boc a pa ra m uda r de a ssun to, m as n o c on sig o pron un c ia r n ada

    coerente . A s palavras n adam em min ha c abea, forma n do um vozerio sem

    sentido. N o con sigo pen sar numa nica resposta rem otam en te in teligen te.

    Eu, que posso contar piadas grosseiras e esmagar o saco de qualquer arrogante

    com a melhor delas, estou perplexa. Ele acaba de transpor tranquilamente o

    m eu escudo defensivo apena s com len is e sua ima gem de pelado.E a quelas m alditas c ovinhas.

    V ejo os m sc ulos de se us om bros se m exere m en qua n to ele c oloc a

    detergen te n a m quin a. Q uem poderia imagina r que lava r roupa seria sexy?

    Quando ele se vira para mim e pisca, dou um pulo.

    Est tudo bem com voc? pergun ta ele.

    Conc ordo com a c abea e procuro soltar um som a firmat ivo, m as sai

    parec en do um gat o estran gulado e sei que estou a pon to de perder a ca bea.Ele bate a ta m pa da m quina e c oloca m oedas para lig- la, depois se vira

    para m im, curvan do-se.

    Para ser franco, vi voc passando pelo meu apartamento com a roupa

    para lavar e peguei a primeira coisa que vi na frente.

    Pera... O que ele est dizendo?Sacudo a c abea para m e livrar da nv oa m en tal. Acho

    que ele est me dizendo algo importante.

    Ele sorri e passa a mo pelo cabelo desgrenhado. Eu quero fazer isso tambm, pen so,flexion an do involun ta riame n te os dedos.Por favor, me deixe fazer isso.Na realidade,

    quero fazer todo tipo de coisas com ele. Bem ali, naquele poro sujo. Em cima

    da mquina de lavar. No cho. Em qualquer lugar. Contenho o impulso de me

    atirar n ele como um an imal selvagem . Q ue inferno, agora m esmo estou

    ofegante como um deles.

    E a, o que as pessoas fazem para se divertir por aqui? pergunta ele,

    recostando-se um pouco para me dar espao, como se pudesse ver que estouprestes a desm aiar c om sua proxim idade.

    H um... Levo um mome n to para a char minha voz. E minha intelign cia.

    En contros em lavan derias? M inhas palavras saem trm ulas. Que porcaria... Qual

    o meu problema?

    Ele ri, seu olhar deslizan do para os me us lbios. A sen sa o de seus olhos ali

    m e faz vom itar palavra s que m eu c rebro ain da n o aprovou.

    N o sei. Aca bo de m e m udar para c. A in da n o me diverti na da.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    49/258

    imeudeus, Kacey. Cale a boca! S cale a boca! Agora voc parece uma lesadae uma man!

    Com um sorriso torto, ele se en costa n a m quina e c ruza os bra os forte s.

    Depois me olha fixamente. Aquela encarada dura uma eternidade, at que o

    suor com e a a escorrer pelas m inhas costa s.

    Bom , prec isam os m udar isso, n o acha?

    Hein? reajo, o calor aquecendo minha virilha. Ele efetivamente tirouminha capa de titnio de novo. Ele a jogou em outro planeta, onde no tenho

    esperana de encontr-la. Estou nua e vulnervel e seus olhos esto cravados

    em meu ntimo.

    Seu corpo desliza pela m quina at que ele se en costa e m m im, seu quadril

    cutucan do o m eu, o bra o esten dido no can to oposto da m quina n a m inha

    fren te , rea lmen te inv adido todo o m eu espao pessoal.

    Mudar o fato de que voc no se diverte nada murmura ele. Prendo arespira o. Sin to com o se e le en fiasse a m o dent ro do me u corpo e pegasse

    meu corao batendo. Ser que ele tem alguma ideia do que faz comigo? Eu sou

    assim to na cara?

    Seu in dicador se ergue e corre pela m inha t m pora, descen do pelo me u

    rosto, e sua mo segura meu queixo. Ele roa meu lbio inferior com o polegar

    enquanto fico boquiaberta para ele. No consigo me mexer. Nem um msculo.

    Seu toque tem o poder de me paralisar. V oc t o bon ita.

    Meus nervos esto em contradio. Sentir a ponta de seus dedos em meu

    lbio t o bom , ao m esm o tem po em que aquela v oz est gritan do, No! Pare!

    Perigo!

    Voc tambm ouo-me sussurrar e de imediato xingo a traidora dentro

    de mim.

    No. Deixe. Isto. Acontecer.Ele se curva para mais perto, e ainda mais, at que seu hlito acaricia minha

    boc a . Est ou petrific a da . Juro que ele va i m e beija r.

    Juro que vou deix a r que m e beije .

    M as en t o ele e rgue o corpo, como se lem brasse de alguma coisa. Dan do

    um pigarro, diz com uma piscadela:

    A gente se v, Kacey. Ele se vira e desaparece na escada, suas pernas

    compridas subindo dois degraus de cada vez.

  • 7/25/2019 Respire - K. a. Tucker

    50/258

    -. Cl-claro gaguejo, recostan do-m e n a m quin a para m e a poiar

    enquanto minhas pernas viram gelatina. Tenho certeza de que estou a dois

    segundos de me derreter em uma poa no piso de concreto. Contenho o

    impulso de ir a tr s dele. Um... dois... trs...Luto para me livrar da tenso desagradvel

    que toma furtivamente meu corpo. Curvando-me, encosto o rosto na mquina,

    m inha pele quen te em alvio por sen tir o me ta l frio.Ele um pega dor dos bon s. Em gera l eu sou igualmen te boa em rejeit-los.

    Sendo um a m ulher num a a ca dem ia domina da por hom en s, lidei com a queles

    egoma n acos exc itados da O M alleys todo dia. Segura meu saco para mim... Me domina...

    O s com en trios eram interm inve is e n ada criativos. Ent o, quando eles

    concluram que eu devia ser lsbica porque no baixei o short para nenhum

    deles, os comentrios idiotas se multiplicaram por dez.

    N unc a tive problem as para re sistir ao ma is gostoso deles. N en hum delesrom peu esse m uro ma gistral de autopreserva o que const ru em torno de

    m im. Eu gostava de trocar golpes c om e les. Adorav a bater n os joelhos deles.

    Mas eles nunca despertaram nenhum interesse em mim, fsico ou o que fosse.

    M as T rent ... Tem algo diferen te n ele e n o preciso pen sar m uito para

    enxergar. Algo no modo como ele domina um ambiente, como olha para mim,

    como se j t ivesse iden tificado e pudesse desarm ar c ada um de m eus

    mecanismos de defesa sem esforo nenhum, como se ele visse atravs deles odesastre que espreita por trs.

    E ele quer isso.

    M erda de sedutor resm ungo ao correr para a pia. Um jat o de gua

    apaga tem porariam en te a s cham as em m eu peito. Ele fala m an so. A h, to

    manso. De um jeito muito mais sofisticado que os babacas com quem estou

    ac ostuma da a lidar. Voc t o bonita, repito, fazen do, em seguida, uma

    im itao severa e sacan a de mim m esma dizen do, V oc t am bm . Ten hocerteza de que ele diz isso para todas. Cuidado, ele vai se encontrar com Storm


Recommended