Transcript
Page 1: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADEMulher

A notável Maria da Penha, que deu nome à Lei 11.340, que pune com mais rigor quem pratica violência contra a Mulher.

Uma justa homenagem da

Legião da Boa Vontade — instituição

brasileira com status consultivo

geral no Ecosoc (ONU) — àquelas

que batalham e contribuem, em todas

as épocas, para um mundo melhor.

P a i v a N e t t o e s c r e v e “ o M i l ê N i o d a s M u l h e r e s ”

Publicação especial da LBV dirigida aos participantes da 53a Comissão do Status da Mulher da ONUSede das Nações Unidas • Nova York • Estados Unidos • de 2 a 13 de março de 2009

Março de 2009

A força da

na HumanidadeMulher

Page 2: Revista Boa Vontade Mulher
Page 3: Revista Boa Vontade Mulher
Page 4: Revista Boa Vontade Mulher

4 | BOA VONTADE MULHER

Phot

os.co

m

Mulheresdas

O Milênio

“A Mulher, o lado mais formoso da Humanidade, singulariza o alicerce de todas as grandes realizações. Aquilo que fisicamente nos constitui é gerado em seu ventre (...). Nossos primeiros passos no desenvolvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzir pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV praticamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto.”

Page 5: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 5

*1 Praça Alziro Zarur — Iniciativa de Paiva Netto que contou com a colaboração do Casal Legionário Noys e Haroldo Rocha, atual-mente em Portugal.

João

Pre

da

José de Paiva Netto, jornalista, radialista, escritor, compositor e poeta. É diretor-presidente da Legião da Boa Vontade (LBV), membro efetivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI),

da Associação Brasileira de Imprensa Internacional (ABI Inter), da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e da

International Federation of Journalists (IFJ).

Numa justa homenagem ao ente humano, que dentre tantas virtudes possui o dom de trazer-nos à vida, separei trechos do

meu livro O Capital de Deus, Editora Elevação. Antes de transcrevê-los, quero destacar que há muitas formas de ser mãe, como escrevi no Correio Braziliense, em 1987: mesmo quando não seja pela feição carnal, porquanto há outras sublimes maneiras de o ser, inclusive dar à luz grandes realizações em prol da Humanidade. Espero que apreciem.

É notável a sensibilidade feminina também para com os assuntos transcendentais. Mirando as perspectivas dos próximos anos, em que, por força do instinto de subsistir, as consciências poderão mostrar-se mais fecundas a tudo o que diz respei-to à ascensão moral e espiritual, convidei — nas diversas oportunidades em que me dirigi ao povo, naqueles dois dias, no Templo da Boa Vontade, na sede do ParlaMundi da LBV e na Praça Alziro Zarur*1, em Brasília/DF (Brasil), em frente ao Conjunto Ecumênico da Boa Vontade — os que

me privilegiaram com seu apreço, em 2000, a dar boas-vindas ao Milênio das Mulheres.

Com atenção assisti, àquela altura, à entrevista concedida à Boa Vontade TV pela saudosa escritora Heloneida Studart (1932-2007), que dissertou sobre o relevante papel que elas vêm assumindo no âmbito da melhoria da qualidade de vida:

“O feminismo tem sido sem-pre o mesmo, mas enriquecido de novas reivindicações. Existe uma ala dele, principalmente no Primeiro Mundo, que agora está engajada na luta contra a pobreza, um fenômeno crescen-te, ao contrário do que se podia antes imaginar, que atinge, de maneira muito dura e cruel, as mulheres, muito mais do que os homens. Elas trabalham em casa e fora de casa e têm de assistir, de viva-voz, olho no olho, todas as carências de sua família (...). Fica cuidando do filho doente que não tem remédio, preocupa-se por não poder dar vitamina às crianças e não ter como comprar frutas, vê mais vezes a conta da luz que está atrasada...

“A ONU tem uma estatística mostrando que a mu-lher pobre trabalha mais que o homem, porque atua em várias frentes: no lar, na rua, na empresa, enfim, estão ativas em grande quantidade de tempo por dia. Em geral, quando saem para o emprego, já têm duas ou três horas de serviço executadas no próprio lar e, ao

Heloneida Studart

Divu

lgaçã

o

vista Parcial do histórico “BeM-viNdo, aNo 2000!” Em frente ao Conjunto Ecumênico da LBV, em Brasília/DF, ocorreu o grandioso Congresso que contou com a presença, segundo informações oficiais, de cerca de 200 mil pessoas, de todas as partes do Brasil e do exterior, para saudar a chegada do ano 2000. Sob a liderança de Paiva Netto, o povo presente reuniu-se pela Paz mundial.

Arqu

ivo B

V

Mulheresdas

O Milênio

Page 6: Revista Boa Vontade Mulher

6 | BOA VONTADE MULHER

*2 Pedagogia do Afeto — Trata-se de um dos segmentos da proposta educacional (formada também pela Pedagogia do Cidadão Ecumênico) criada por Paiva Netto, cuja metodologia é aplicada com sucesso na rede de ensino e nos programas socioeducacionais desenvolvidos pela Legião da Boa Vontade, no Brasil e no exterior. Ambos “fundamentam-se nos valores nascidos do Amor Fraterno, trazidos à Terra por diversos luminares, destacadamente Jesus, o Cristo Ecumênico, o Divino Estadista”, como afirma Paiva Netto. Na Pedagogia do Afeto, o enfoque é sobre as crianças de até 10 anos de idade, aliando sentimento ao desenvolvimento cognitivo dos pequeninos, de forma que carinho e afeto permeiem todo o conhecimento e os ambientes de suas vidas, inclusive o escolar. A Pedagogia do Cidadão Ecumênico é direcionada à educação de ado-lescentes e adultos, dispondo o indivíduo a viver a Cidadania Ecumênica, firmada no exercício pleno da Solidariedade planetária.*3 Globalização do Amor Fraterno — Publicada em português, francês, inglês, espanhol, italiano, alemão e esperanto, a revista foi es-pecialmente encaminhada por Paiva Netto à reunião do High-Level Segment 2007, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc) — no qual a LBV possui status consultivo geral —, realizada no Palais des Nations, escritório central da ONU em Genebra (Suíça). Foi recebida com muito entusiasmo pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, quando de sua visita ao estande da Legião da Boa Vontade no evento. O secretário referendou seu apoio à LBV ao assinar a capa da revista e ratificou votos de muito sucesso para todas as ações empreendidas pela Instituição.

Algumas das educadoras das escolas da Legião da Boa Vontade

voltarem para casa, ainda têm tarefas a cumprir. O aumento dos espaços de lazer para elas, com a diminuição da carga trabalhista, é uma reivindi-

cação do chamado novo feminismo”.Touché, cara Heloneida.

A Mulher e a estabilidade do mundoNão há como impedir — consoante ainda hoje

alguns de forma simulada gostariam — a destacada e frutífera participação delas nos vários setores da so-cie dade para que o progresso alcance pleno êxito em magnífica cruzada de resgate da cidadania, conforme o exposto pela dra. Heloneida. Adesão que natural-mente inclui os que gerenciam as ações polí tico-go ver-namentais, em que é essencial o alento renovador da Espiritualidade Ecumênica, sem o que a eficiência per-manecerá aquém dos anseios populares.

A Mulher, o lado mais formoso da Humanidade, singulariza o alicerce de todas as grandes realiza-ções. Aquilo que fisicamente nos constitui é gerado em seu ventre (...). Componentes do gênero feminino se traduzem em elemento preponderante para a sobrevivência das boas causas. Organizações estáveis con-tam com mulheres estáveis. (...) O meu fito aqui é ressaltar quanto é primacial

para a evolução humana e a segurança do mundo a missão da Mulher (...). Nossos primeiros passos no desenvolvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzir pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV praticamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto*2.

Há muito que aprender com o próximoEm Globalização do Amor Fraterno*3, mensa-

gem endereçada à ONU, em 2007, ponderei:

Nunca como agora se fez tão indispensável unir os esforços de ambientalistas e seus detratores, como também trabalhadores, empresários, econo-mistas, o pessoal da mídia, sindicalistas, políticos,

militares, advogados, cien-tistas, religiosos, céticos, ateus, filósofos, sociólo-

gos, antropólogos, artistas, esportistas, professores, médicos, estudantes, do-nas de casa, chefes de família, barbeiros, ma-nicures, taxistas, var-redores de rua e demais segmentos da sociedade,

na luta contra a fome e pela conservação da vida no Planeta. O assunto tornou-se

dramático, e suas perspectivas, trágicas. Pelos mesmos motivos,

urge o fortalecimento de um ecume-

Page 7: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 7

*4 A Mulher no conSerto das nações — Na língua portuguesa, em linhas gerais, conCerto (com cê) significa espetáculo musical, acordo (inclusive político), harmonia. Já conSerto (com ésse) quer dizer reforma, reparo, restauro. Daí Paiva Netto, no início desse seu documento, ter explicado: “Antes de tudo, devo esclarecê-los sobre a palavra ‘conSerto’ grafada com ‘S’ no título deste artigo. Não se trata de erro ou dis-tração no emprego do vocábulo em português. É ‘conSerto’ mesmo, porquanto, da forma que se encontra o mundo a pré-abrasar-se com o aquecimento global, é melhor que os gêneros confraternizem, unam forças e realizem o conSerto urgente do que ameaça quebrar-se, porque, do contrário, poderemos acabar nuclear ou climaticamente cozidos numa panela fenomenal: o Planeta que habitamos. (...) Isto sem falar no ameaçador bioterrorismo”.

nismo que supere barreiras, aplaque ódios, promova a troca de experiências que instiguem a criatividade global, corroborando o valor da cooperação sócio-humanitária das parcerias, como, por exemplo, nas cooperativas populares em que as mulheres têm grande desempenho, destacado o fato de que são frontalmente contra o desperdício. Há muito que aprender uns com os outros. O roteiro diverso comprovadamente é o da violência, da brutalidade, das guerras, que invadiram os lares em todo o orbe. Resumindo: cada vez que suplantarmos arrogância e preconceito, existirá sempre o que absorver de

justo e bom com todos os com-ponentes desta ampla “Arca de Noé”, que é o mundo globali-zado de hoje.

A escritora e filósofa france-sa Simone de Beauvoir (1908-1986) foi feliz ao inspiradamen-te concluir:

“— Não há uma polegada no meu caminho que não passe pelo caminho do outro”.

(...)

O milagre das donas de casaNão há melhor financista do que a mãe de famí-

lia, a dona de casa, que tem de cuidar do seu muitas vezes minúsculo orçamento, realizando verdadeiros milagres, dos quais somos todos testemunhas, desde o mais influente ministro da Fazenda ao cidadão mais

simples. Sobretudo no campo da Economia, que não pode ser pega no grave crime de esquecer o espírito de Solidariedade, a ação da Mulher é basilar.

Mohammad Ali Jinnah (1876-1948), jurista e político,

fundador do Paquistão, em discurso que fez em 1944 na Muslim University Union, salientou:

“— Nenhuma nação poderá surgir à altura de sua glória a menos que as mulheres estejam lado a lado com os governos”.

A Alma da HumanidadePara finalizar, apresento-lhes um pequeno trecho

de outra página — “A Mulher no conSerto*4 das nações” — que igualmente enviei à ONU, em nova oportunidade, e que foi traduzida por ela em seus seis idiomas oficiais, por ocasião da “51a Sessão do Status da Mulher”, em 2007, na sede das Nações Unidas, em Nova York. O evento sempre tem a presença da LBV, que leva a sua palavra de Paz às delegações do mundo, como ocorre novamente este ano:

O papel da Mulher é tão importante, que, mesmo com todas as obstruções da cultura machista, nenhuma organização que queira sobreviver — seja ela religiosa, política, filosófica, científica, empresarial ou familiar — pode abrir mão de seu apoio. Ora, a Mulher, bafejada pelo Sopro Divino, é a Alma de tudo, é a Alma da Hu-manidade, é a boa raiz, a base das civilizações, a defesa da existência humana. Qual mãe deseja ver seu filho morto na guerra? Ai de nós, os homens, se não fossem as mulheres esclarecidas, inspiradas, iluminadas!

Estas nossas afirmativas encontram ressonância nas do educador norte-americano Charles McIver (1860-1906), que dizia:

“— O caminho mais eco-nômico, fácil e certo para a educação universal é educar as mulheres, aquelas que se tornarão as mães e professoras de gerações futuras”.

Simone de Beauvoir

Arqu

ivo B

V

Mohammad Ali Jinnah

Arqu

ivo B

V

Charles McIver

Arqu

ivo B

V

Page 8: Revista Boa Vontade Mulher

8 | BOA VONTADE MULHER

Lei Maria da PenhaTodos os dias, temos a extraordinária oportunidade

para progredir moral, social e espiritualmente, aproxi-mando a época em que viveremos numa sociedade real-mente solidária. Contudo, 2009 logo trouxe em seu bojo fatos que em nada enriquecem a trajetória humana.

A continuação das guerras, da pobreza e outros absurdos tais como a violência contra a Mulher persistem a desafiar tantos idealistas que se dedicam ao bem comum.

Dados estarrecedoresA Agência Brasil divulgou, conforme dados da

Fundação Perseu Abramo, que a cada 15 segundos uma mulher é espancada em nosso país: “De acordo com a ministra da Secretaria Especial de Políti-

cas para as Mulheres, Nilcéa Freire, as violências contra as mulheres vão desde o físico até o psicológico, dentro e fora de casa. (…) Em entrevista ao pro-grama ‘Bom Dia Ministro’, a ministra disse que não há como afirmar se a violência contra

as mulheres aumentou. Assinalou, entretanto, que o número de denúncias cresceu e deve ser cada vez maior. De acordo com ela, isso se deve à resposta das mulheres à Lei Maria da Penha e às campanhas de incentivo ao relato de agressões. De acordo com a ministra, é preciso conscientizar a sociedade de que a violência contra a mulher não é um problema de mulheres. Para Nil-céa, outra campanha — Homens pelo Fim da Violência — tem o objetivo de conscientizar a população masculina e arrecadar assinaturas de homens que não aceitam a violência contra a

mulher. ‘Não adianta imaginar que vamos enfrentar a violência contra as mulheres sem a colaboração dos homens. Sem que os homens entendam que a violência contra as mulheres os prejudica, preju-dica suas famílias, os seus filhos. É preciso que eles atuem ativamente. Então, precisamos não só da solidariedade dos homens, precisamos que eles atuem ativamente’”.

De fato, porque dignificar a Mulher valoriza o Homem, dignificar o Homem valoriza a Mulher.

Contra a impunidadeUm avanço no que diz respeito a banir do nosso

meio a impunidade dos agressores foi a indenização obtida por Maria da Penha Maia Fernandes, 63, que dá o nome à lei que pune com mais rigor quem pratica violência contra a Mulher. Foi sancionada pelo presidente Lula, em 2006. Teve como relatora na Câmara Federal a dra. Jandira Feghali, atualmente secretária de Cultura do município do Rio de Janeiro. Matéria de Kamila Fernandes, da Agência Folha, de 13/3/2008, resume a luta dessa brasileira: “(...) Em 2001, a cearense conseguiu uma vitória na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Orga-nização dos Estados Americanos), que determinou que o Estado do Ceará pagasse uma indenização de US$

20 mil por não ter punido judicialmente o homem que a agredia e que até tentou matá-la: seu ex-marido. (...) O valor da indenização não chega nem a cobrir as despesas médicas que Maria da Penha teve depois das tentativas de homicídio. ‘Mas o significado vai muito além disso,

Rica

rdo

Leon

i/O G

lobo

Jandira FeghaliNilcéa Freire

Antô

nio C

ruz/A

br

Dignificar a Mulher valoriza o Homem, dignificar o Homem valoriza a Mulher.

Verdade seja dita, homem al gum pouco realiza de verdadeiramente proveitoso em favor da Paz se não contar, de uma forma ou de outra, com a inspiração feminina. Realmente, pois, “se você

educar um homem, educa um indivíduo; mas se educar uma mulher, educa uma família”. Exato, McIver.

(...)

Page 9: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 9

A batalhadora Maria da Penha, que dá nome à lei que pune com rigor a violência contra a Mulher, é homenageada pelas crianças da LBV.

“O papel da Mulher é tão importante, que, mesmo com todas as obstruções

da cultura machista, nenhuma organização que queira sobreviver — seja ela religiosa, política, filosófica, científica, empresarial ou familiar —

pode abrir mão de seu apoio.”

Paiva Netto

tem uma dimensão internacional contra a impunidade’, afirmou ela à Folha”.

Cidadania solidária já

Em minha obra Reflexões da Alma, da Editora Elevação, comento que — o estágio de

fragilidade moral do mundo é tão avançado que, para acabar com a violência, só existe uma medicina forte: a da escalada da Fraternidade Solidária, aliada à Justiça, na Educação. Por isso, ecumenicamente espiritualizar o ensino é um poderoso antídoto con-

tra a agressividade. Por falar na “Senhora de Olhos Vendados”, aqui um ilustrativo pensamento do ensaísta francês Luc de Cla-piers, Marquês de Vauvenar-gues (1715-1747): “Não pode ser justo quem não é huma-

no”. Por conseguinte, também não pode ser feliz. Pedro Apóstolo, em sua Primeira Epístola (4:8), pregava, dizendo: “Tende, antes de tudo, ardente Caridade uns para com os outros, porque o Amor cobre uma

multidão de pecados”. Renovar é — com ardente Solidariedade, ou seja, com paixão e compai-xão, Boa Vontade e Fé Realizan-te — sacudir as almas, despertar os espíritos, iluminando sua consciência, sem conduzir os indivíduos ao derramamento de sangue, à dor ou à morte. Quase dois milênios depois, Gandhi (1869-1948), o ícone indiano da filosofia da não-violência, gênio inspirador do grande Martin Luther King Jr. (1929-1968), declarou: “Quando o Homem chega à plenitude do Amor, neutraliza o ódio de milhões”. E, como fez o próprio Mahatma, indica ao povo o caminho da libertação.

P.S. — Quando falo sobre Amor, não o confun-do com a aceitação covarde do que é aé-tico. Pelo contrário, o exercício do Amor exige o sentimento perfeito de Justiça. Ter Caridade não sig-nifica complacência com comportamentos criminosos impunes que envergonham uma sociedade que se preze.

Luc de Clapiers

Arqu

ivo B

V

Arqu

ivo B

VAr

quivo

BV

Gandhi

Arqu

ivo B

V

Arqu

ivo B

V

Pedro Apóstolo Martin Luther King Jr.

Phot

os.co

m

Page 10: Revista Boa Vontade Mulher

Ao leitor

4 Mensagem de Paiva Netto 11 Mulher na visão da ONU 14 Anne Frank 15 Asha-Rose Migiro 16 Bibi Ferreira 17 Cecília Meireles

e d i ç ã o e s p e c i a l

BOA VONTADE é uma publicação das IBVs, editada pela Editora Elevação. Registrada sob o no 18166 no livro “B” do 9º Cartório de Registro de Títulos e Documentos de São Paulo.

DiRetoR e eDitoR-ReSPoNSável: Francisco de Assis Periotto - MTE/DRTE/RJ 19.916 JP

CooRDeNADoR GeRAl: Gerdeilson Botelho

equiPe elevAção: Adriana Rocha, Adriane Schirmer, Aline Portel, Alexandre Rueda, Aneliése de Oliveira, Carolina Dutra, Charles Viana, Cida Linares, Daniel Guimarães, Danilo Parmegiani, Enaildo Viana, Felipe Duarte, Jefferson Rodrigues, Jéssica Botelho, Josué Bertolin, Leila Marco, Letícia Rio, Luci Teixeira, Maria Aparecida da Silva, Maria Corina Rocha, Natália Lombardi, Neuza Alves, Patrícia Maria, Paula Suelí, Raquel Bertolin, Rodrigo de Oliveira, Rosana Bertolin, Sarah Jane, Silvana Bosso, Silvia Ligieri, Thaís Afonso, Valéria Nagy, Walter Periotto e Wanderly Albieri Baptista.

PRojeto GRáFiCo: Helen Winkler • DiAGRAMAção: Felipe Tonin

Foto De CAPA: Leis & Letras/Genilson de Lima

iMPReSSão: Mundial Artes Gráficas

eNDeReço PARA CoRReSPoNDêNCiA: Rua Doraci, 90 • Bom Retiro • CEP 01134-050 • São Paulo/SP Tel.: (11) 3358-6871 • Caixa Postal 13.833-9 • CEP 01216-970 Internet: www.boavontade.com / E-mail: [email protected]

A revista BOA VONTADE Mulher não se responsabiliza por conceitos e opiniões em seus artigos assinados.

Fechamento: 24/2/2009

Revista apolítica e apartidária da espiritualidade ecumênica

edição disponível também em inglês e espanhol

Esta edição especial é uma singela ho-menagem da Legião da Boa Vontade (LBV) a todas as mulheres, as anônimas e as que se destacam nos diversos campos de atuação do gênero humano. Elas que, cada dia mais, dividem com os homens desde as tarefas do lar até as decisões mais importantes para a Humanidade.

A Alma feminina, aqui representada nas biografias de mulheres excepcionais, mostra-se capaz de contribuir para a solução de graves problemas que hoje afligem os povos. Fome, guerras, mudanças climáticas e tantos outros desafios exigem competência, carinho, cora-gem, força de trabalho, determinação e Amor, aspectos marcantes do Ser feminino.

Como exalta o jornalista Paiva Netto, diretor-presidente da LBV, em sua mensagem especial intitulada “Milênio das Mulheres”:

“A Mulher, o lado mais formoso da Hu-manidade, singulariza o alicerce de todas as grandes realizações. Aquilo que fisicamente nos constitui é gerado em seu ventre (...). Com-ponentes do gênero feminino se traduzem em elemento preponderante para a sobrevivência das boas causas. Organizações estáveis contam com mulheres estáveis. (...) O meu fito aqui é ressaltar quanto é primacial para a evolução humana e a segurança do mundo a missão da Mulher (...). Nossos primeiros passos no desen-volvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzir pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV praticamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto”.

A revista abre espaço também para séria re-flexão a respeito da violência doméstica contra a mulher e o compartilhamento igualitário de direitos e responsabilidades entre os gêneros. Outro destaque é a reportagem que ilustra as várias vertentes trabalhadas pela LBV para criar oportunidades de inclusão para mulheres que vivem nos bolsões de pobreza do Brasil.

Boa leitura!

BOA VONTADEMulher

BOA VONTADEMulher

18 Eleanor Roosevelt21 Gabriela Mistral24 Irena Sendler 25 Maria Barroso26 Madre Teresa de Calcutá 28 Maria Luiza Viotti 29 Maria Quitéria 30 Maurren Maggi 31 Shirin Ebadi 32 Tomie Ohtake 33 Wangari Maathai 35 Social — LBV: Equação do Amor

42 Especial — Violência doméstica contra a Mulher

BOA VONTADEMulher

Maria da Penha, que deu nome à lei que pune com mais rigor quem pratica violência contra a Mulher.

Uma justa homenagem da

Legião da Boa Vontade — instituição

brasileira com status consultivo

geral no Ecosoc (ONU) — àquelas

que batalham e contribuem, em todas

as épocas, para um mundo melhor.

P A I V A N E T T O E S C R E V E “ O M I L Ê N I O D A S M U L H E R E S ”

Publicação especial da LBV dirigida aos participantes da 53a Comissão do Status da Mulher da ONU

A força da

na HumanidadeMulher

Page 11: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 11

ONUadriana Rocha e danilo parmegiani

De Nova York/EUA

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU

A 53ª sessão da Comissão so-bre o Status da Mulher (em inglês, CSW), que ocorre

entre os dias 2 e 13 de março, reú-ne representantes dos países mem-bros e de entidades das Nações Unidas (ONU) e de organizações não-governamentais associadas ao Conselho Econômico e Social (Ecosoc). Em pauta, a divisão igualitária de responsabilidades entre mulheres e homens, incluin-do cuidados no contexto do HIV/aids.

A Legião da Boa Vontade (LBV), que participa ativamente desses encontros da ONU, oferece sua experiência nos assuntos em debate. As ações em-preendidas para valorizar as mulheres e as meninas proporcionam suporte psicológico, jurídico, alimentar e social, e ainda contribuem para a harmonia familiar ao transmitir-lhes valores universais e conscientizá-las da importância de vivenciá-los.

Daí por que a Instituição também atua com suas Campanhas de Valorização da Vida, divulgando na mídia e em palestras nas escolas e nas comunidades carentes informações sobre uma série de questões,

como drogas, aids e doenças sexual-mente transmissíveis (DSTs). É do diretor-presidente da LBV, José de Paiva Netto, o pensamento: “Aids — o vírus do preconceito agride mais que a doença”, pois, apesar de passados cerca de 30 anos do início da epidemia, a falta de informação e, por conseguinte, o preconceito ainda são os desafios mais fortes que se impõem no trato do problema.

Vale relembrar aqui a importante contribuição do encontro de 2008.

Logo na abertura da 52ª reunião, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, deu o tom das discussões que direcionariam a CSW: “Há uma ver-dade universal, aplicável a todos os países, culturas e comunidades: a violência contra a mulher nunca é aceitável, perdoável ou tolerável”. Com essa ideia, sintetizou o espírito da campanha global, lançada naquela ocasião, no intento de pôr fim à violência contra as mulheres, ato que o secretário qualificou como flagelo. Isso porque uma em cada três mulheres no mundo é submetida a maus-tratos, sexo forçado ou abusos em algum momento na vida, conforme dados divulgados por Ban Ki-moon.

Mulherna visão da

C O M I S S ã O S O B R E O S T A T U S d A M U L h E R d A O N U

Adria

na R

ocha

Page 12: Revista Boa Vontade Mulher

12 | BOA VONTADE MULHER

Ela enalteceu a parti-cipação da LBV nas con-

ferências da ONU, dizendo que o amor está presente nas ações da Instituição. “Eu sei que há um grande coração na Legião da Boa Vontade, um coração de ouro. Como a LBV está focada em Deus, e não restrita a apenas uma crença, ela abraça a todos. (...) Deus é o que cura, o que transforma, o que faz a diferença. E, no final, é o Amor que prevalece. Se a mulher sabe que tem esse tipo de amor, então pode se encontrar e voltar a ser quem realmente é e superar qualquer situação, sentin do-se completa, única e ligada ao Criador.”

Mensagem de destaqueA LBV, conforme destaca a sra. Getz, leva em suas

participações a fraterna tese de proteção dos Direitos Humanos e Espirituais. Em 2008, a segunda edição da revista Globalização do Amor Fraterno chamou novamente a atenção de expressões nacionais e internacionais por seu conteúdo, que traz recomen-dações de boas práticas, constantes do artigo Oito Objetivos do Milênio — Responsabilidade de todos os de bom senso, de autoria do jornalista, radialista e escritor Paiva Netto, dirigente da Instituição, com uma abordagem de cidadania ecumênica.

A dra. Monica Sharma, diretora de Formação de Lideranças e Capacidades nas Nações Unidas, convidou a LBV a apresentar sua experiência numa reunião com membros de delegações da ONU que atuam na luta pela Paz em áreas de conflitos no

A Legião da Boa Vontade promove diversas Campanhas de Valorização da Vida. Exemplo disso foi a marcha promovida pela Instituição, sob o slogan criado por Paiva Netto, que mobilizou 200 mil pessoas no Rio

de Janeiro/RJ, Brasil, em 1o de dezembro de 1996.

A mobilização se estenderá até 2015 — mesmo ano estipulado para o cumprimento dos oito Obje-tivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) —, agindo em três frentes: a) promoção de iniciativas em âmbito global; b) priorização de programas a favor das mulheres dentro das Nações Unidas; e c) incentivo de colaborações com governos e entidades nacionais.

A campanha objetiva mobilizar a opinião pú-blica e os órgãos de decisão, em plano mundial, para assegurar a prevenção e a erradicação dessa violência. O tema é frequentemente realçado como debate prioritário nos encontros ocorridos na sede

do organismo internacional, em Nova York.

Coração de ouroA norte-americana Sharon

Hamilton-Getz desenvolve um trabalho de voluntariado e responsabilidade social ao ex-

pandir os conceitos da música e da arte para o resgate de mulheres e crianças. A presidente e fundadora do World Harmony Council and Forum & Harmony Glow Centered Business (Projeto Harmonia e Paz Mundial) ressaltou à BOA VONTADE que sua experiência de viajar pelo mundo a fez ver que elas precisam de voz: “Onde há uma mulher, geralmente, há uma criança. A maioria delas está sofrendo porque não recebe o devido cuidado. Se não há boas condições, a família inteira é prejudicada”.

“Aids — o vírus do

preconceito agride mais que a doença.”

Paiva Netto

Arqu

ivo B

V

Sharon Hamilton-Getz

Adria

na R

ocha

Page 13: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 13

Desde 1994, a LBV tem trabalhado em par-ceria com a Organiza-ção das Nações Unidas (ONU), por intermédio do Departamento de Informação Pública (DPI). Em 1999, tor-nou-se a primeira organização da sociedade civil brasileira a conquistar na ONU o status consultivo geral no Conselho Econômico e Social (Ecosoc) e, em 2000, passou a inte-grar a Conferência das ONGs com Relações Consultivas para as Nações Unidas (Congo), em Viena, na Áustria.

Um dos mais importantes desafios globais firmados em 2000, durante a Cúpula do Milênio, conhecido como os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), reuniu 191 países membros para a definição de um con-junto de metas a serem alcançadas até 2015, a fim de melhorar a qualidade de vida da Humanidade e buscar a sustentabilidade do nosso orbe. A LBV tem apoiado amplamente essa campanha mundial por meio de suas ações socioeducacionais, que já têm quase 60 anos, e pela articulação de outros atores sociais, promovendo encontros e disseminando informações em dezenas de cidades brasileiras, da América Latina e da Europa.

Além do papel de mobilizar a sociedade civil em torno dos Objetivos do Milênio, desde 2006 a LBV atua na sede da ONU, em Nova York, também como vice-presidente do Comitê de Espiritualidade, Valores e Interesses Globais, grupo ligado à Congo. O intuito é contribuir para um debate aberto e prático sobre a importância da Espiritualidade no desenvolvimento global, bandeira defendida pela Legião da Boa Vontade desde suas origens, na década de 1940. Assim, vários seminários e eventos têm atraído a atenção de autoridades mundiais para o assunto.

LBV

LBV NA ONUBreve histórico

Leia na página 35 desta publicaçãoo resumo do trabalho da LBV direcionado

às mulheres

Oriente Médio. Esse trabalho também foi destacado pela diretora-executiva da Organização de Mulheres para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, June Zeitlin, que na ocasião atuou como mediadora das discussões entre as ONGs. A seu pedido, a LBV redi-giu um texto com recomendações, como contribuição da sociedade civil.

Foi reparando no compro-misso da Legião da Boa Von-tade com a criatura humana, respeitando-a por completo, que a sra. Aparna Mehrotra, personalidade de destaque nos assuntos relacionados ao gênero feminino nas Nações Unidas, comentou: “Existe uma razão para sermos denominados Seres Humanos, não seres geradores, seres mães ou seres pais. É a humanidade o que nos distingue, os valo-res mais elevados do Amor e da compaixão. Então, uma atividade como essa, que se dedica ao aumento da quantidade de amor e compaixão em todos os aspectos das nossas vidas e para todas as pessoas, pode melhorar as circunstâncias em que nós e as nossas crianças vivemos nas nossas vidas”.

No Brasil, a dra. Monica Sharma mostrou-se impressionada na visita que fez ao Instituto de Educação da LBV, na cidade de São Paulo/SP, em outu-bro de 2008: “Adorei estar com as crianças da Legião da Boa Von tade. A LBV são os Direitos Humanos na prática; é a expressão da Solidariedade. (...) Tanto nas crianças como nos professores, há um tipo de educação e estímulo, Amor e crescimento. A gente percebe isso nos olhos deles, nos sorrisos. Vemos bebês, jovens, que amadurecerão e servirão a Hu-manidade. (...) A aprendizagem sobre religiões diferentes, sobre respeitar a diversidade, sobre acessar o Amor no Cristo como uma maneira de conhecer o Amor em si”.

Elias

Pau

lo

Aparna Mehrotra

Adria

na R

ocha

Page 14: Revista Boa Vontade Mulher

Anne FrankUm diário que não se calaFoi vivendo num esconderijo com a família e

amigos que a jovem judia Anneliese Marie Frank, ou Anne Frank (1929-1945), redigiu

um dos relatos mais comoventes do Holocausto. “Cerca de dez anos depois do fim da guerra, vai parecer esquisito quando se disser como nós judeus vivemos, comemos e conversamos aqui”, escreveu em seu diário durante a Segunda Guerra Mun-dial.

A família de Anne, as-sim como muitas outras, teve de fugir de Frankfurt quando a perseguição an-tissemita aumentou na Alemanha nazista. Che-garam a Amsterdã (Holan-da) em 1933. Inteligente, a menina já chamava a atenção pela curiosidade e liderança na escola.

Quando Anne Frank completou 13 anos, ga-nhou um caderno enca-pado com tecido xadrez vermelho e verde. Nele, naquela mesma semana, começou a registrar a ocupa ção nazista na Holanda. Nesse tempo a família foi obrigada a se esconder nos fundos de um arma-zém, onde o pai da menina trabalhava. Anne passava boa parte do tempo dedicando-se a escrever o diário e a fazer atividades de disciplinas da escola.

Após o “Anexo Secreto” ser descoberto, em

agosto de 1944, o grupo foi mandado para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Tempos depois, Anne e a irmã, Margot, três anos mais velha, foram separadas dos pais, Otto e Edith, e transferidas para Bergen-Belsen, perto de Hannover (Alemanha), onde morreram por inanição e tifo. O pai, único da família a sobreviver ao Holocausto, com a ajuda de

Miep Gies, sua antiga secretária, que se tornou protetora dos Frank du-rante os 25 meses que passaram no esconderijo, cuidou de espalhar a his-tória narrada pela filha. A obra foi lançada em 1947 e traduzida para dezenas de idiomas. Gies, que ainda reside em Amster-dã, completou 100 anos.

Anne morreu pouco antes de completar 16 anos, mas seu relato até hoje é considerado por muitos uma das obras de maior impacto do século 20. “Todo mundo tem

dentro de si um fragmento de boas notícias. A boa notícia é que você não sabe quão extraordinário você pode ser! O quanto você pode amar! O que você pode executar! E qual é o potencial! (...) Que maravilha é ninguém precisar esperar um único mo-mento para melhorar o mundo”, observou a jovem escritora judia.

in memoriam

14 | BOA VONTADE MULHER

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Asha-Rose Migiro

Arqu

ivo B

V

Natália lombardi

Page 15: Revista Boa Vontade Mulher

Anne Frank

BOA VONTADE MULHER | 15

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Asha-Rose MigiroA ilustre

vice-secretária-geral da ONU

A vice-secretária-geral da ONU, Asha-Rose Mi-giro (na foto, em 2007,

com Amanda Vieira, Sol-dadinho de Deus, como são carinhosamente chamadas as crianças na Legião da Boa Vontade), foi uma pioneira ao defender causas nobres em seu país de origem. Em 1997, inte-grou a comissão pela reforma constitucional da Tanzânia.

A doutora em Direito pela Universidade de Konstanz, Alemanha, foi a primeira mu-lher a ocupar o cargo de mi-nistra de Relações Exteriores e Cooperação Internacional, em 2006, desde que o país africano se tornou independente, em 1961. An-tes, foi ministra por cinco anos para o Desenvolvimento da Comunidade, Gênero e Crianças.

Ela já trabalhou com o atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, quando ambos desem-penharam o cargo de ministro de Relações Exteriores de seus res-pectivos Estados. Para ele, a dra. Migiro é uma “líder altamente respeitada, que tem defendido a causa dos países em desenvolvimento

ao longo dos anos”. Pouco antes de assumir o posto nas Nações Unidas, ela presidiu o Conselho de Ministros da Conferência In-ternacional dos Grandes Lagos, que resultou no Pacto sobre Segurança, Estabilidade e De-senvolvimento na região.

Durante a 51ª sessão da Comissão sobre o Status da Mulher, a dra. Migiro ressaltou à revista BOA VONTADE: “O Amor e o entendimento são muito importantes para possibilitar que as crianças vivam mais felizes e possam concentrar-se em coisas que realmente representem um

avanço para elas. Uma vez que a criança recebe amor, ela está sendo encorajada, aprende a amar e, assim, cria condições para uma atmosfera de Paz para todos”. Ela também reconheceu o esforço da Legião da Boa Vontade no combate à violência e à discriminação: “As organizações da sociedade civil são parceiras fundamentais para atingir a igualdade de gênero. Por

isso, congratulo-me com a LBV por conseguir agir diretamente em defesa da mulher”.

Adria

na R

ocha

“As organizações da sociedade civil são

parceiras fundamentais para atingir a igualdade

de gênero. Por isso, congratulo-me com a LBV por conseguir agir

diretamente em defesa da mulher.”

Felipe duarte

Page 16: Revista Boa Vontade Mulher

16 | BOA VONTADE MULHER

Dama do teatrocarolina dutra

Atriz, cantora, diretora e compositora, Abigail Izquierdo Ferreira, conhecida por Bibi Ferreira, nasceu no Rio de Janeiro em 1922. Filha do ator

brasileiro Procópio Ferreira e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi não poderia ter outro caminho senão o das artes e, desde cedo, mostrava talento. O pai, em carta a um amigo, já pressentia o destino da menina: “Não quero mais morrer! Nasceu a primavera da minha vida. Ganhei uma filhinha de nome Abigail, a quem chamarei de Bibi. Ela vai cantar, representar e fazer muitas coisas bonitas em um palco”.

Com a separação dos pais, Bibi foi morar com a mãe. Ao seu lado, a pequena dança-rina estreou aos 3 anos em Santiago, no Chile. Quando voltou ao Brasil, entrou para o Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Nem por isso as coisas seriam mais fáceis para ela. Aos 9 anos, teve a matrícula negada em um colégio pelo fato de ser filha de ator, à época um preconceito comum contra quem pertencia ao meio artístico.

Bibi cresceu e começou a moldar seu caminho. Montou uma companhia de teatro, em 1944, por onde passaram importantes artistas. A carreira profissional, no entanto, ganharia maior projeção a partir de 1946, quando veio a oportunidade de substituir uma bone-ca que desaparecera pouco antes do início da peça Manhãs de sol. Para ela, estar em um palco é algo úni-co. “É o momento da criação. Da comunhão. É muito bonita esta comunhão palco e plateia. É o momento em que, através de vocês, eu me encontro com Deus.”

A contribuição de Bibi para a dramaturgia toca as pessoas por gerações. Um exemplo marcante de sucesso: em 1983, ela estrelou Piaf, a Vida de uma Estrela da Canção. O espetáculo teve enorme reper-cussão, com ótima aceitação do público e da crítica. A bela atuação da atriz lhe rendeu diversos prêmios, e a peça permaneceu seis anos em cartaz.

Depois de Piaf, a atriz seguiu para Portugal, onde dirigiu peças por quatro anos. No Brasil, durante a década de 1990, dirigiu o aclamado Sua Excelência, o Candidato. Entre os grandes nomes que estiveram sob a direção de Bibi estão Maria Bethânia, Clara Nunes,

Marília Pêra, Marco Nanini, Paulo Gracindo, Baden Powell, Elizeth Cardoso e Ítalo Rossi.

Mesmo com tantas realizações, que fizeram dela um ícone da cultura brasileira, a notável artista poderia escolher o descanso: “Mas eu adoro desafios. Não acho a

mínima graça em fazer algo que vou superar com facilidade”.

A identificação com as ações sociais é outra carac-terística dessa artista. Em certa ocasião, manifestou o seu apoio à Legião da Boa Vontade: “O que a LBV faz é tão importante, tão sério, um ato de dedicação, de humanidade e de uma beleza tão grande, que, quando falo na LBV, sempre fico muito emocionada. Ela impõe respeito. E você só tem admiração por aquilo que res-peita. Tenho uma grande admiração e a convicção de que a LBV vai continuar a crescer ainda mais, porque ela é constantemente um ato de bondade”.

Bibi Ferreira

“Vivo para a arte e é ela que mantém o vigor de

minha alma.”Bibi Ferreira

Divu

lgaçã

o

Cecília MeirelesMulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Page 17: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 17

Bibi Ferreira Cecília MeirelesDom de transformar

a vida em poesiasarah Jane

Sinônimo de cultura e referên-cia na arte literária, Cecília Benevides de Carvalho Mei-

reles (1901-1964) dedicou a vida à Educação. A única sobrevivente dos quatro filhos de Carlos Alberto de Carvalho Meireles e Matilde Be-nevides, nasceu em 7 de novembro de 1901, no Rio de Janeiro/RJ. O pai faleceu meses antes do seu nasci-mento, e a mãe, antes de a menina completar 3 anos. Foi criada pela avó materna, Jacinta.

Os muitos percalços, porém, não a abateram, pelo contrário: “(…) Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratem-pos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a morte que docemente aprendi essas relações entre o efêmero e o eterno. (...) A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o funda-mento da minha personalidade”.

O gosto pelos estudos foi uma cons-tante em sua vida. Tanto que na Escola Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, recebeu de Olavo Bilac — inspetor escolar que se tornou grande poeta brasileiro e autor do Hino à Bandeira Nacional — uma medalha de ouro por fazer o curso com distinção e louvor. Cedo conheceu a poesia: aos 9 anos, escreveu o primeiro poema e, aos 16, lançou Espectros, o primeiro livro. Tempos depois,

a obra de Cecília inspirou o filme Os Inconfidentes, de 1972, com base em parte no seu livro O Romanceiro da Inconfidência, publicado em 1953, após dez anos de pesquisa. Seguiu com o magistério e especializações em Literatura, Educação e Folclore. Lecionou em universidades do Brasil e dos Estados Unidos e foi conferen-cista internacional.

Tantas atividades não a impedi-ram, todavia, de dedicar-se a outra importante área de sua vida: a ma-ternidade. As três filhas vieram do primeiro casamento: Maria Elvira, Maria Mathilde e Maria Fernan-

da; esta última se tornou artista teatral consagrada. Com as crianças, a infância virou um dos temas favoritos da escri-tora. Além de livros para este público, Cecília criou a primeira biblioteca infan-til no Brasil e continuou trabalhando pela qualidade na Educação.

Suas poesias foram traduzidas para idiomas diversos, como espanhol, fran-

cês, italiano, inglês, alemão, húngaro, indiano e urdu, e musicadas por compositores consagrados, a exemplo de Camargo Guarnieri, Francisco Mignone, Lamartine Babo, Norman Frazer, Fagner, entre outros. Hoje, Cecília Meireles dá nome a ruas, escolas, salas culturais e bibliotecas e, por suas notáveis contribuições, deixa uma marca preciosa na História brasileira.

“A noção ou o sentimento da transitoriedade

de tudo é o fundamento da minha

personalidade.”Cecília Meireles

in memoriam

Arqu

ivo B

V

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Page 18: Revista Boa Vontade Mulher

18 | BOA VONTADE

Eleanor

Eleanorin memoriam

Eleanor Roosevelt liderou ativistas dos direitos civis e políticos do mundo inteiro. Juntos, puderam transformar o sonho de uma declaração universal em realidade. Na foto de 1949, a primeira-dama dos EUA mostra o pôster em espanhol. Ela foi fotografada também com as versões em inglês e francês.

Roosevelt

Roosevelt

UN P

hoto

Page 19: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 19

Porta-voz das multidões

alexandre Rueda

Nascida em Nova York e descendente de imi-grantes dos Países Baixos, Anna Eleanor Roosevelt (1884-1962) foi uma humanista, di-

plomata, destacada ativista social e dos Direitos Hu-manos, defensora das garantias e reconhecimento da

juventude, dos afro-americanos, das mulheres, dos pobres, das minorias. Também foi embai-xadora na Organização das Nações Unidas (ONU) entre 1945 e 1952, representando seu país, por nomeação do presiden-te Harry Truman (1884-1972),

sucessor de seu marido, Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), na presidência dos EUA.

Teve uma infância marcadamente infeliz e difícil, o que lhe moldaria a integridade de caráter. Com a perda prematura da mãe, aos 8 anos, passou a viver com a avó materna. Dois anos mais tarde, perderia o pai. Com 15 anos é mandada à Inglaterra para estudar em Allenswood, uma escola no subúrbio de Londres. Este seria um marco na vida da menina Eleanor. Na escola, a diretora — mulher enérgica e erudita, ligada a círculos literá-rios, artísticos e políticos — teve grande interesse pela tímida e solitária garota órfã. O retorno à

Roosevelt

Roosevelt

alta sociedade de Nova York se daria aos 18 anos. Em 1905, veio o casamento com Roosevelt, um primo distante, com quem teve seis filhos.

O matrimônio sofreria grande provação em 1921, quando, de férias no Canadá, Franklin contraiu po-liomielite, que o deixou com grande dificuldade de movimento, sobretudo das pernas, afastando-o da vida política. A mãe dele recomendou o caminho da aposentadoria. Mas, contando com o encorajamen-to inabalável de sua devotada mulher, como braço direito, retornou à política mais forte do que antes. No decorrer dos acontecimentos, por necessidade, Eleanor teve de superar a timidez, e para tanto foi treinada a exercer o papel de oradora.

Em 1939, por conta da discriminação, a cantora negra Marian Anderson (1897-1993) fora impedi-da de apresentar um concerto para seleto grupo de mulheres da aristocracia norte-americana, no Cons-

titution Hall, em Washington (D.C.). Tal afronta repercutiu em todo o mundo. A primeira-dama interveio e conseguiu que se transferisse a apre-sentação para o Lincoln Memorial, a céu aberto e para enorme público. No Domingo de Páscoa, 9 de abril, de pé na escadaria do monumento histórico, perante mais de 75 mil pessoas de todas as etnias — sem contar a audiência nacional de rádio, que contabilizava milhões

Com inconfundível

personalidade e

determinação, apesar de

todas as dificuldades, ela não

se intimidou e desenvolveu

sua caminhada de tal forma

que se tornou a porta-voz de

multidões engajadas na luta

pelos Direitos Humanos.

Franklin Roosevelt

Arqu

ivo B

V

Page 20: Revista Boa Vontade Mulher

20 | BOA VONTADE MULHER

de ouvintes — vieram as primeiras palavras de Marian por meio da músi-ca: “O meu país eu canto” (“My Country ‘Tis of Thee”). O estrondo de aplausos irrompeu da multidão e, naquele dia, sua voz não foi calada pelo preconceito.

Independentemente da etnia, a senhora Roosevelt recebia todos na Casa Branca. Entretanto, sabia que suas ações poderiam provocar o descontentamento de apoiadores políticos de seu marido e, mesmo assim, preferiu colocar a política de lado e seguir a própria consciência, que seria a marca de sua trajetória.

Um dos conselheiros da confiança do presidente Roosevelt, Rexford Tugwell (1891-1979), descreveu as tentativas da esposa para influenciar o marido na política do New Deal: “Ninguém que tenha visto Eleanor Roosevelt sentar-se encarando o marido e, sustentando seus olhos firmes, dizer a ele: ‘Franklin, eu acho que você deveria...’ ou: ‘Franklin, certamente você não irá...’ nunca se esquecerá da experiência... Seria impossível dizer com que frequência ou em que medida processos governamentais americanos tomaram novas direções por conta de sua determi-nação”*.

A morte do marido e os novos rumosSua atuação também foi muito importante durante

a Segunda Guerra Mundial. Eleanor foi pioneira na defesa de causas polí-

ticas e sociais de maneira independente e desembaraçada, sem ficar na sombra do marido

ou do legado do tio, o também presidente Theodore Roosevelt (1858-1919). Depois da morte do mari-do, viria ainda a ser delegada dos EUA na ONU, continuando ativa no cenário político internacional, na defesa das causas sociais, principalmente as rela-cionadas às mulheres. Nas Nações Unidas, presidiu o comitê que aprovou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, feito que levou o então pre-sidente norte-ame ricano, Harry Truman, a chamá-la de primeira-dama do mundo.

Tudo isso demonstrou a grande capacidade de Ele-anor de prosseguir sua carreira política e como ativista social, indo muito além das incumbências de primeira--dama. Ademais, quando deixou a Casa Branca, em 1945, as fronteiras para as sucessoras já tinham sido desbastadas. Assim, com inconfundível personalida-de e determinação, apesar de todas as dificuldades, ela não se intimidou e desenvolveu sua caminhada de tal forma que se tornou a porta-voz de multidões engajadas na luta pelos Direitos Humanos.

Marian Anderson, no Lincoln Memorial, na capital dos EUA, Washington.

“Ninguém que tenha visto Eleanor Roosevelt sentar-se encarando o marido e, sustentando seus

olhos firmes, dizer a ele: ‘Franklin, eu acho que você deveria...’ ou: ‘Franklin, certamente você não irá...’ nunca se esquecerá da experiência...

Seria impossível dizer com que frequência ou em que medida processos governamentais

americanos tomaram novas direções por conta de sua determinação.”

Rexford TugwellUm dos conselheiros da confiança

do presidente Roosevelt

* Rexford Tugwell, “Remarks”, Roosevelt Day Dinner Journal, Americans for Democratic Action, 31 de janeiro de 1963.

Arqu

ivo B

V

thom

as D

. Mca

voy

Page 21: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 21

Gabriela MistralPrimeira latino-americana

a ganhar o Nobel de Literatura

Escritos encantadores com Alma de poeta. Em resumo, esta é a característica que elevou Gabriela Mistral ao patamar de uma das mais

consagradas poetisas de todos os tempos. Lucila Godoy y Alcayaga — nome de batismo desta educa-dora, escritora, diplomata e feminista — nasceu no dia 7 de abril de 1889, na cidade de Vicuña (Chile). O pseudônimo Gabriela foi adotado em homenagem ao poeta italiano Gabriele D’Annunzio, e o Mistral veio de Frederic Mistral, um poeta provençal, o qual ela admirava bastante.

Gabriela diplomou-se professora aos 18 anos e lecionou no ensino básico e fundamental durante longo período. Nessa época, transferiu-se para o povoado de La Cantera, onde se apaixonou por um modesto empregado da estrada de ferro, a quem endereçou seus primeiros versos. Mais tarde, o ra-paz viria a se suicidar. Com o coração brutalmente ferido, aprendeu a transformar as tragédias da vida — que não foram poucas, a exemplo do abandono do pai aos 3 anos — em poemas, cantando versos de um amor sublimado a seus leitores.

Em 1945, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Foi a primeira vez que a América Latina conquistou a honraria — atualmente, representando a região, são cinco os ganhadores na categoria. Contudo, Mistral continua a ser a única mulher sul-americana premiada com a láurea. Sua poesia foi traduzida para diversos idiomas e influenciou o trabalho de muitos escritores latino-americanos, inclusive do também chileno Pablo Neruda e do mexicano Octavio

in memoriam

Arqu

ivo B

V

Page 22: Revista Boa Vontade Mulher

22 | BOA VONTADE MULHER

Sua poesia foi traduzida para diversos idiomas e influenciou o trabalho de muitos escritores latino-americanos

Toda a natureza é um anelo de serviço.Serve a nuvem, serve o vento, serve o mar.Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu; onde

houver um erro para corrigir, corrige-o tu; onde houver uma tarefa que todos recusam, aceita-a tu.

Sê quem tira a pedra do caminho, o ódio dos corações e as dificuldades dos problemas.

Há alegria de ser sincero e de ser justo; há, porém, mais que isso, a formosa, a imensa alegria de servir.

Como seria triste o mundo se tudo já estivesse feito, se não houvesse uma roseira para plantar, uma iniciativa para tomar!

Não te seduzam as obras fáceis. É belo fazer tudo o que os outros se recusam a executar.

Não cometas, porém, o erro de pensar que só tem merecimento o executar as grandes obras; há pequenos préstimos que são bons serviços: enfeitar uma mesa; arrumar uns livros, pentear uma criança.

Aquele critica; este destrói: sê tu quem serve.O servir não é próprio de seres inferiores. Deus, que nos

dá o fruto e a luz, serve. Poderia chamar-se: O Servidor.E tem Seus olhos fixos em nossas mãos; pergunta

todos os dias: Serviste hoje? A quem?À árvore, ao teu Amigo, à tua Mãe?

Paz, ambos ganhadores do Nobel de Literatura, respectivamente, em 1971 e 1990.

Por vinte anos, a partir de 1933, atuou como consulesa de seu país, em Lisboa, Madri, Nápoles, Los Angeles, entre outras cidades. Também esteve no Brasil nos anos 1940, guardando sempre em seu coração uma ternura comovente tanto pela terra como pela gente brasileira.

O ano de 1923 foi marcante na vida de Gabriela como educadora: depois de desempenhar importante papel no sistema educacional chileno e de publicar seu primeiro livro de poesias (Desolación), recebeu o convite do governo do México para elaborar um plano de reforma educacional do país. A partir da exposição de sua obra pelo mundo e da projeção internacional, a diplomata chegou a atuar na antiga Liga das Nações, em Genebra, Suíça, e em diversas instituições de ensino superior na Europa e na Amé-rica Latina, além de ter sido membro honorário de várias sociedades culturais no Chile, Estados Uni-dos, Espanha e Cuba. Lecionou Literatura Espanho-la na Columbia University, na Middlebury College e na Vassar College, nos EUA, e na Universidad de Puerto Rico, em Porto Rico.

Além de prêmios, a pensadora chilena recebeu inú-meras homenagens pelo legado literário e intelectual. Sua memória é cultuada até hoje. Exemplo disso foi a referência a ela feita pelo escritor Paiva Netto em artigo publicado em centenas de jornais, sites e revistas, no Brasil e no exterior, e divulgado em milhares de emis-soras de rádio e TV. Na matéria, intitulada “Gabriela Mistral, Renan e Eça de Queiroz”, o jornalista reproduz trecho de um dos mais notáveis poemas de Mistral, no qual ela confere um sentido especial ao ato de servir, publicado na revista BOA VONTADE, em 1957. “Toda a natureza é um anelo de serviço. (...) O servir não é próprio de seres inferiores. Deus, que nos dá o fruto e a luz, serve. Poderia chamar-se: O Servidor”.

Gabriela Mistral faleceu em 10 de janeiro de 1957, em Nova York (EUA), e foi sepultada em Montegran-de, no Chile, conforme desejou. Seu espírito de humanidade continua vivo, enchendo de vitalidade sua obra. [A.R.]

A revista BOA VONTADE no 9, de março de 1957, prestou homenagem à querida Mistral, detalhando sua biografia e reproduzindo o poema abaixo.

O prazer de servirGabriela Mistral

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Page 23: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 23

Ingrid Betancourt

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Templo daBoa Vontadeé aclamado pelo povo como uma das Sete Maravilhas de Brasília/DF - Brasil

Com o apoio das Mulheres, o diretor-presidente da LBV, José de Paiva Netto, fundou o Templo da Boa Vontade (TBV). Aclamado pelo povo como uma das Sete Maravilhas de Brasília/DF, Brasil, desde que foi inaugurado, em 21/10/1989, já recebeu mais de 19 milhões de peregrinos e turistas. Segundo dados oficiais da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Distrito Federal (SDET), é o monumento mais visitado da capital do País. Ao lado do ParlaMundi e de sua sede administrativa, o Templo da Paz forma o Conjunto Ecumênico da Legião da Boa Vontade.

Visite! SGAS 915 – Lotes 75/76 – Brasília/DF – Brasil

I n f o r m a ç õ e s : ( + 5 5 61 ) 3 24 5 - 10 7 0 • w w w . t b v . c o m . b r

Page 24: Revista Boa Vontade Mulher

24 | BOA VONTADE MULHER

Coragem e Fraternidadealine portel

Muitos ainda desconhecem a história de he-roísmo de Irena Sendler, um exemplo de coragem da alma feminina firmada em obje-

tivos de Paz. Nascida em 1910, na Polônia, a enfer-meira católica trabalhava em serviços sociais, mesmo antes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), com famílias pobres. Em 1942, durante o Holocausto, com o estabelecimento do Gueto de Varsóvia, pôs em risco a própria vida ao unir-se ao Conselho para Ajuda aos Judeus, provendo alimentação, roupas e cuidados médicos aos confinados.

Infiltrando-se no departamento do gabinete sani-tário, destinado ao controle de doenças contagiosas, Irena e outros colaboradores reunidos por ela entra-vam em contato com as famílias e propunham levar as crianças para fora do gueto, a lugares seguros. Dessa forma, conseguiu retirar dali, sem autorização, mais de 2.500 crian-ças. Ela as recolhia em ambulâncias, como se fossem vítimas de tifo, em sacos de alimentos, cestos de lixo, caixas de ferramentas e até mesmo em casacos, a fim de não levantar suspeitas.

Irena arquivou os dados pessoais

de cada resgatado: nome verdadeiro, a família a que pertencia, e a família e local aos quais era destinado. Enterrou essas informações em recipientes de vidro no jardim da casa de uma amiga.

Em 1943, Irena foi presa e torturada, mas não revelou a identidade e o destino das crianças. Na prisão, encontrou uma pequena estampa de Jesus com a inscrição: “Jesus, em Vós confio”, o que lhe renovou as forças. Foi então condenada à morte, mas, no caminho para a execução, um soldado a deixou fugir, subornado pelo movimento de re-sistência Zegota. Ela prosseguiu com suas ações humanitárias até o fim da guerra. Morreu em maio de 2008, aos 98 anos de idade.

O primeiro reconhecimento pelos atos de he-roísmo dela ocorreu na Polônia, em 1965, quando

recebeu o título de Justa entre as Nações, do Memorial Israelen-se do Holocausto. Em 2007, foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz. “A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infân-cia. Fui educada na crença de que uma pessoa necessi-tada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionali-dade”, afirmou Irena, que surpreendeu pela incansável consciência do dever huma-nitário de que todo esforço ainda não é o suficiente.

in memoriamIrena Sendler

“Cada criança salva com minha ajuda é uma justificativa para minha

existência na Terra.”Irena Sendler

Divu

lgaçã

o

Maria BarrosoMulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Page 25: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 25

Irena Sendler Arqu

ivo F

unda

ção

Pro

Dign

itate

Maria BarrosoEm defesa dos

Direitos Humanosleonardo Mattiuzzo

Maria de Jesus Simões Barroso Soares — nas-cida em 2 de maio de

1925, em Fuzeta (Portugal) — licenciou-se em Ciências Histó-rico-Filosóficas pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde conhe-ceu Mário Soares, com quem se casou em 1949 e teve dois filhos: Isabel e João Barroso Soares. Ao terminar a faculdade, na década de 1950, começou a cursar Arte Dramática no Conser-vatório Nacional Português, tendo representado, durante quatro anos, no Teatro Nacional. No entanto, por suas posições políticas como membro da Oposição Democrática ao regime de Salazar, foi impedida de atuar, sendo demitida logo após.

Se não bastasse isso, embora com habilidade e com-petência para a licenciatura, foi proibida, também, de exercer a profissão de professora, mesmo em escolas privadas, durante o regime.

Passados alguns anos, em 1969, candidatou-se a deputada pelo mesmo partido que defendera no tempo de juventude. Foi eleita pelos distritos de Santarém, Porto e Algarve, mantendo sempre grande presença, sobretudo na vida cultural, por meio da divulgação da poesia portuguesa e estrangeira.

De 1986 a 1996, período em que Mário Soares exerceu a presidência da República Portuguesa, em dois mandatos consecutivos, ela desenvolveu atividades de apoio às áreas de Cultura, Educação e

família, infância, Solidariedade social, dimensão feminina, saú-de, integração de deficientes e prevenção da violência.

Lançou, em terras lusitanas, o debate e a reflexão acerca da violência, denunciando, então, de forma veemente, todas as situa-ções em que os Direitos Humanos eram desprezados, defendendo e auxiliando as causas de vítimas da guerra, fome, racismo, xenofobia; das mulheres e crianças maltra-tadas; preocupou-se de maneira singular com o povo timorense.

Das muitas instituições que fundou ou ajudou a criar, se destacam a Associação para o Estudo e Pre-venção da Violência (APEV), Emergência Infantil, a Fundação Pro Dignitate e a Fundação Aristides de Sousa Mendes.

Em 28 de julho de 1997, assumiu a presidência da Cruz Vermelha portuguesa, a qual dirigiu até 2003.

Suas atividades têm continuado no mesmo ritmo, em âmbito nacional e internacional, e graças a este labor ininterrupto granjeou a simpatia da sociedade civil portuguesa e brasileira, como protagonista hu-manitária em áreas essenciais.

Sobre programas socioeducacionais mantidos pela LBV de Portugal, certa vez comentou: “Conheço muito bem a LBV! Aliás, quando estive no Porto, du-rante a visita do então presidente brasileiro Sarney, tive ocasião de me inteirar melhor sobre a Legião da Boa Vontade”.

O estadista português Mário Soares e Edson Arantes do Nascimento, Pelé, recebem das mãos do jornalista Paiva Netto a Comenda da Ordem do Mérito da Fraternidade Ecumênica, no ParlaMundi da LBV, em Brasília (1997).

Leila

Mar

co

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Page 26: Revista Boa Vontade Mulher

26 | BOA VONTADE MULHER

Madre Teresa de CalcutáDi

vulga

ção/

Edito

ra R

oca

O anjo bom dos doentesNa pequena cidade de Skopje, hoje capital

da República da Macedônia, um belo país montanhoso nos Bálcãs, nascia em 27 de

agosto de 1910 aquela que ganharia admiração não somente nos bairros miseráveis e nas ruas mais tristes da Índia milenar, mas também no mundo inteiro, tornando-se uma das grandes heroínas da Humanidade. Seu nome: Agnes Gonxha Bojaxhiu, mais tarde, conhecida pelos pobres do corpo e da Alma como Madre Teresa de Calcutá, nome esco-lhido numa singela homenagem a outro exemplo abnegado de mulher — Teresa D’Ávila, religiosa espanhola do século 16.

Aos 18 anos, surge-lhe o pensamento da consagração total a Deus na vida. Obtendo o

consentimento dos pais, viajou para a Irlanda e, por indicação do sacer-

dote que a orientava, logo entrou, em 29 de setembro de 1928, para a ordem religiosa Casa

Mãe das Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, em

Rathfarnham, perto de Dublin (Irlanda).

A miséria material e espiritual de tanta gente tocava o seu coração. Tomou uma decisão e foi de mu-

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres MulheresMulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Page 27: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 27

dança para a longínqua Índia, para viver no convento do mesmo nome, em Darjeelin. Madre Teresa, porém, sentia um desejo enorme de trabalhar nas ruas, onde entendia ser mais útil na ajuda aos necessitados. Coordenou colaboradores com os mesmos ideais, reuniu suas energias e foi à luta. Fundou, em Calcutá, um centro de atendimento para Irmãos portadores de hanseníase, demonstrando que empreenderia grandes esforços em prol dos doentes. Esse trabalho assistencial começou depois que o governo indiano doou um terreno nas redondezas de Asansol, no qual foi criada a Shanti Nagar (Cidade da Paz).

Em 1948, cria a Ordem das Missionárias da Ca-ridade, tornando-se cidadã indiana. Já com 85 anos, teve forças suficientes para criar, em Nova York, o primeiro centro para vítimas da aids. Dedicava-se também a ensinar as crianças a ler e escrever.

Madre Teresa recebeu, em 1971, o Prêmio João XXIII para a Paz. Em 1979 foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz. O dinheiro dessas premiações foi sempre destinado à construção de novos centros de assistência. E assim se multiplicariam suas obras de Amor e desprendimento por diversos países, nas quais mais de três mil freiras trabalhavam como Missionárias da Caridade.

Nessa época, os problemas de saúde física come-çaram a se agravar, em consequência da sua vida de serviços árduos. Por várias vezes esteve à beira da morte. Anos mais tarde, em uma dessas ocasiões,

Madre Teresa de CalcutáO anjo bom dos doentes

in memoriam

irani Maria

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

embora desenganada pelos médicos, voltou à labuta após ter tido a visão de um anjo que lhe informara que a tarefa ainda não havia terminado. Viveu mais dois anos, vindo a falecer em 1997, na velha Índia, onde lutou por quase toda a existência.

HomenagemPor ocasião da inauguração do Parlamento Mun-

dial da Fraternidade Ecumênica, o ParlaMundi da LBV, em Brasília/DF, Brasil, no Natal de Jesus, em 1994, Madre Teresa manifestou, por meio de bela carta, seu apoio à criação daquele Fórum, destinado a valorizar a Vida Humana e Espiritual: “Prezado sr. José de Paiva Netto, confio-lhe minhas preces por todos. Que as bênçãos de Deus estejam com vocês da Legião da Boa Vontade, e que muitas pessoas conheçam o Amor de Jesus através do Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica e do TBV e mantenham viva a Boa Nova de Seu Amor no mundo, amando uns aos outros como Ele nos amou. Que Deus os abençoe”.

Ainda a respeito desta grande missionária, José de Paiva Netto, dirigente da Legião da Boa Vontade, fez questão de exaltar a humildade e a dedicação dela aos mais carentes, com a inclusão da serena imagem do rosto dela no painel A Evolução da Humanidade, exposto no TBV, monumento ao lado do ParlaMundi, para que sua presença fique eter-namente viva nos corações de Boa Vontade.

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Page 28: Revista Boa Vontade Mulher

Maria Luiza ViottiGarra e talento na diplomacia

Com admirável carreira na área de políti-ca externa — em que atua há mais de 30 anos —, a embaixadora do Brasil nas Nações

Unidas Maria Luiza Ribeiro Viotti vem demons-trando as conquistas do País nos interesses comuns com as Nações Unidas, compartilhando suas boas práticas igualmente com outras nações.

Nascida em Belo Horizonte/MG, em 27 de março de 1954, iniciou a carreira diplomática em 1976, quando ingressou no Ministério das Relações Exteriores para prestar serviço na área de divisão de operações de promoção comercial. Nela, pôde colaborar para a expansão das relações comerciais entre Brasil e China e com países africanos.

O primeiro cargo nas Nações Unidas veio em mea dos da década de 1980, como primeira-secretá-ria da Missão Brasileira junto à organização. De volta ao País de origem, passou a exercer diversas fun-ções no Ministério das Relações Exteriores. Tendo como marca a defesa das causas brasileiras no cenário internacional, Viotti novamente foi designada para trabalhar na ONU, em 1999.

Nas conferências de que par-ticipa, a embaixadora tem res-saltado os compromissos sociais, econômicos e políticos do governo brasileiro para o estabelecimento de uma vida mais digna a todos os seus cidadãos. Em recente entrevis-

ta à Rádio ONU, ela comentou os êxitos obtidos na agenda dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM): “O Brasil já alcançou a primeira meta, que é a redução da fome e da pobreza. Essa conquista foi muito valorizada no exame do Brasil pelo Conselho de Direitos Humanos. Temos feito progressos também na área de saúde, de combate a doenças como HIV/Aids, tuberculose e malária, na área de combate à violência contra a mulher e do combate ao racismo”.

Desde o início da carreira, a sra. Maria Luiza Viotti tem se destacado na defesa das mais variadas bandeiras para o fortalecimento, ainda maior, da po-lítica externa brasileira. Suas lutas passam pela busca de estratégias para a Paz e pelo desenvolvimento de Guiné-Bissau, bem como pelo esclarecimento

dos benefícios do etanol como al-ternativa sustentável para a questão do uso equilibrado dos recursos energéticos. Atualmente, uma das prioridades da diplomata é trabalhar pela ampliação do número de mem-bros permanentes no Conselho de Segurança da ONU, fazendo com que o Brasil também tenha assento cativo no órgão.

Por tudo isso, a sra. Viotti é peça importante na apresen-tação cada vez mais ampliada da riqueza natural, da cultura e das boas realizações do Brasil. [F.D.]

UN P

hoto

/Eva

n Sc

hneid

er

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

28 | BOA VONTADE MULHER

Page 29: Revista Boa Vontade Mulher

Maria Luiza ViottiMulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

BOA VONTADE MULHER | 29

nagens prosseguiram no Rio de Janeiro, onde ela foi recebida pelo imperador D. Pedro I, que a condecorou com a Imperial Ordem do Cruzeiro. Maria Quitéria aproveitou a ocasião e solicitou

ao imperador uma carta para pedir o perdão do pai.

Meses depois de retornar à fazenda de Serra da Agulha, ela se casou com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição. A partir de então, Maria Qui-téria levou uma vida muito pobre até seu falecimento, em 1853.

Tempos mais tarde, em reconhecimento aos feitos da heroína da Independência, o nome de Maria Quitéria foi gravado em uma medalha mi-litar e em comenda na Câmara Municipal de Salvador. Por determinação ministerial, a imagem dela está em todos os

quartéis, estabelecimentos e repartições militares do País. Por decreto presidencial de 28 de junho de 1996, foi reconhecida como Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. [S.J.]

Maria QuitériaHeroína da

Independência do Brasil

Desde muito jovem, a baiana Maria Quitéria de Jesus (1792-1853), conhecida como a Joana D’Arc brasileira, demonstrou habi-

lidades para servir ao exército. A filha de Gonçalo Alves de Almeida e Joana Ma-ria de Jesus teve a vocação re-provada pelo pai e pela segunda madrasta. Imbuída do ideal de liberdade e com a certeza de que lutaria na principal guerra da Indepen dência do Brasil, assim considerada pelos historiadores (travada em Salvador), fugiu de casa, emprestou do cunhado a farda e o sobrenome (soldado Medeiros) e alistou-se nas for-ças de defesa da Bahia para lutar contra as tropas portuguesas.

O disfarce não durou muito. Uma semana depois foi desco-berta, contudo, manteve a posi-ção dentro do efetivo, graças à sua coragem, habilidades como soldado e bravura em combate, que chamaram a atenção dos militares. Desse modo, prosseguiu na luta até que o conflito fosse vencido pelos brasileiros.

Após a vitória, quando o exército libertador entrou na capital baiana, a heroína da Indepen-dência foi ovacionada pela população. As home-

in memoriam

Arqu

ivo B

V

Page 30: Revista Boa Vontade Mulher

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Brasileira de ouro

A paulista de São Carlos Maurren Maggi, 32, conquistou o lugar mais alto no pódio de diversas competições, o respeito das adversárias e o cora-

ção dos torcedores brasileiros. Foi a primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro em esportes individuais para o atletismo do Brasil em olimpíadas. Com uma trajetória marcada pela superação, ficou conhecida em 1999, depois de estabelecer o recorde sul-americano no salto em distância, com 7,26 m, na Colômbia, e o ouro na mesma categoria nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg (Canadá).

A partir daí, a atleta passou por um período difícil na carreira. Na Olimpíada de Sydney, em 2000, ficou com o 25º lugar, por causa de uma lesão durante uma prova. Três anos depois, em razão de dopping, foi suspensa do Pan-americano de Santo Domingo e, em 2004, proibida de ir à Olimpíada de Atenas. Enquanto esteve afastada, teve a filha Sofia. “Sempre cogitei a ideia de não retornar”, disse na época. Contudo, por acre-ditar na força transformadora do esporte em sua vida, Maurren decidiu voltar em 2006.

Com eficiência e técnica, trabalhou muito e mostrou a si mesma e ao público que é possível superar situações desfavoráveis e dar a volta por cima. Recomeçou a carreira e conquistou a medalha de ouro no Pan-americano

do Rio, em 2007, com a marca de 6,84 m. O melhor para a saltadora ainda estava por vir: a Olimpíada de Pequim, no ano passado. Ao iniciar a prova, pediu ao público o acompanhamento de palmas ritmadas e logo no primeiro salto, de uma série de seis, registrou a incrível marca de 7,04 m, garantindo a medalha de ouro.

A conquista de tornar-se a melhor do mundo no salto em distância, depois de ter pensado em parar, coroou a atleta e marcou a memória dos torcedo-res ali presentes e de milhões de brasileiros que

acompanhavam pela TV a emoção de Maurren. No lugar mais alto do pódio, segurando a medalha de ouro, dedicou a vitória à filha, Sofia.

No entanto, não são apenas essas as conquistas que incrementam o currículo de Maurren. O apoio às causas sociais

também faz dela uma campeã. No ano de 2007, por exemplo, participou da

Campanha Natal Permanente da LBV — Jesus, o Pão Nosso de cada

dia!, convidando a população a se unir pelos menos favorecidos, pessoas atendidas durante o ano pela Instituição. “Se cada

um fizesse a sua parte, teríamos um Brasil e um mundo muito melhor para se viver. Eu estou fazendo a minha parte”, declarou.

aneliése de oliveira

Maurren MaggiDi

vulga

ção

Arqu

ivo B

V

30 | BOA VONTADE MULHER

Princesa IsabelForça e

sensibilidadealexandre Rueda

Uma das grandes figuras da História do Brasil, herdeira da Coroa, segunda filha do Impe-rador D. Pedro II (1825-1891) — o primo-

gênito D. Afonso morreu, deixando-lhe a coroa —, Isabel Cristina Leopoldina de Bragança (1846-1921) nasceu no Paço de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, Rio de Ja neiro/RJ, em 29 de julho de 1846. Do casamento com o Conde d’Eu, em 1864, vieram seus três filhos.

A princesa Isabel ocupou a regência imperial por três vezes, o que a inclui no distinto grupo de mulheres, em todo o mundo, que exerceram o poder no século 19. Foi a primeira mulher chefe de Es-tado em solo americano, isso em uma época na qual a educação da elite enfatizava a subordinação ao marido, e a mulher era preparada para exercer as funções de filha, mãe e esposa dedicada. No entan-to, Isabel, sem se eximir das funções atinentes às mulheres, concomitantemente, assumiu a autoridade máxima no Brasil Império.

Na revista BOA VONTADE, edição no 215, o veterano jornalista Mario de Morais narrou um dos fatos que a tornaram uma das mulheres mais notáveis da História brasileira.

Em fevereiro de 1871, D. Pedro II, enfermo, viajou para a Europa, deixando, pela primeira vez, a princesa Isabel, sua sucessora direta, como regente do Império. É nesse período que é assinada, a 28 de setembro, a Lei do Ventre Livre. A partir dessa data, filho de escravo não seria mais escravo. Em 1885, foi aprovada a Lei Saraiva-Cotejipe ou Lei do Sexagenário, que beneficiava os negros com mais

de 65 anos. A 30 de junho de 1887, cada

vez mais doente, D. Pedro II viajou para a Europa, a fim de procurar tratamento. Mulher de muita coragem e decisão, a princesa era partidária de ideias modernas como o voto feminino e a reforma agrária. O principal problema que ela enfrentava, no entanto, era a abolição da escravatura. Haviam sido feitas diversas tentativas para acabar

com a escravidão, mas o Ministério de Cotejipe abortava todas elas.

Não tendo outro jeito, Isabel substituiu o Gabi-nete. O novo ministério, batizado como “Gabinete da Abolição”, era presidido pelo Conselheiro João Alfredo, a quem a princesa solicitou que cuidasse, o mais urgente possível, de abolir a escravatura no

in memoriam

Foi a primeira mulher chefe de Estado em solo americano, isso em uma época em que a educação da elite enfatizava a subordinação ao marido, e a mulher era preparada para exercer as funções de filha, mãe e esposa dedicada.

Arqu

ivo B

V

Foi a primeira mulher chefe de Estado em solo americano, isso em uma

época em que a educação da elite enfatizava a

subordinação ao marido, e a mulher era preparada para exercer as funções de filha, mãe e esposa dedicada.

Page 31: Revista Boa Vontade Mulher

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Maurren Maggi Shirin EbadiPrimeira muçulmana agraciada

com o Nobel da PazHamadã é considerada a mais

antiga cidade persa. A sua rica cultura explica por que

é ainda hoje uma das províncias mais importantes do Irã, antiga Pérsia. Foi nessa cidade milenar, que atualmente conta com cerca de meio milhão de habitantes, que nasceu, em 1947, uma grande personalidade iraniana: a jurista Shirin Ebadi, figura de destaque nos esforços pela democracia e pelos Direitos Humanos. Os traços de sua personalidade desde cedo revelaram a influência do pai: Mohammad Ali Ebadi foi um pioneiro conferencista ao tratar de direito comercial, além de autor consagrado.

A família, de muçulmanos praticantes, muito cedo mudou-se para a capital, Teerã. Ebadi graduou-se em Direito em 1965 e, três anos e meio depois, entrou para o Departamento de Justiça. Em 1969, exerceu oficialmente a função de juíza, enquanto continuava os estudos para o doutorado, obtido um ano depois.

Primeira mulher a ocupar o cargo de juíza no Irã, presidiu em 1975 a corte legislativa do país. Porém, teve de deixar o posto por causa da Re-volução Iraniana de 1979. “Tornaram-me uma escrivã na mesma corte que um dia presidi. Todos nós protestamos. Como resultado, promoveram todas as ex-juízas para o posto de ‘experts’. Não consegui tolerar mais a situação, e eles aceitaram meu pedido de aposentadoria antecipada.”

Depois de anos confinada em casa, finalmente conseguiu sua licença para advogar novamente, em 1992. Continuou sendo per-seguida: teve o escritório arrom-bado e arquivos, documentos e computadores confiscados. Ebadi abraçou a função de defender oprimidos e, a partir daí, a história se desenrola aos olhos de todos. Fez a defesa de casos difí ceis, que ganharam fama além das frontei-ras do Irã. Famílias das vítimas de assassinatos, casos de abuso infantil e refugiados do regime contaram com sua representação legal.

No período em que esteve afastada, escreveu muitos livros. Também ganhou diversos prêmios, entre eles o Nobel da Paz de 2003, o primeiro conce-dido a uma muçulmana, por sua luta pela igualdade de direitos para mulheres e crianças, principalmente, e por reformas políticas no Irã.

A jurista, que diz ter passado a infância em uma “família cheia de bondade e amor”, identifica-se com as propostas da Legião da Boa Vontade para a construção de um mundo melhor a partir da vivên-cia do Amor Fraterno e do respeito às diferenças. Durante evento promovido pela ONU, ao conhecer a revista Sociedade Solidária, afirmou: “Meus votos de que a LBV contribua para que o povo brasileiro possa viver em Paz, livre do medo e da intimidação que os caminhos da violência impõem”. [N.L.]

Divu

lgaçã

o

BOA VONTADE MULHER | 31

Page 32: Revista Boa Vontade Mulher

A fama e a carreira consagrada nunca

modificaram o desafio a que Tomie Ohtake se propõe: o

eterno reinventar.

Tomie Ohtake Wangari MaathaiDama das artes plásticas

Jéssica Botelho

A arte de Tomie Ohtake ultrapassa meio século de reconhecimento e aplausos da crítica e do público, o que lhe rende hoje o título de

dama das artes plásticas brasileiras. Dona de estilo ímpar, traduzido em sua capacidade de construir a obra e a vida, ela nasceu em 1913, na cidade de Kyoto (Japão). Quando criança, tomou contato com a escrita oriental, indispensável para se expressar com clareza, usando caracteres e ideogramas. Para a menina, da caligrafia ao desenho foi um passo natural.

Em 1936, com 23 anos, imigrou para o Brasil e fixou-se na cidade de São Paulo. O interesse pela arte vinha desde a adolescência, mas o desejo de tornar-se artista se confirmou ao visitar uma expo-sição do artista plástico japonês Keisuke Sugano, em 1952, com quem, aliás, teve algumas aulas.

No começo da carreira, Tomie retratava paisa-gens, principalmente aquelas próxi-mas de onde morava. Pouco depois trocou a arte figurativa pela abstrata, o que marcaria seu estilo. A primeira exposição individual, em 1957, teve lugar no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM).

Desde a década de 1960, quan-do se naturalizou brasileira, au-mentou a participação de sua obra nos principais espaços de arte nacionais e internacionais. Esteve presente em cinco edi-ções da Bienal Internacional de São Paulo, fez cerca de 50

exposições individuais e 85 coletivas, no Brasil e no exterior. Recebeu, ainda, numerosos e signifi-cativos prêmios em quatro décadas de atividade.

Em 2000, a relevância de Tomie no cenário brasi-leiro reafirmava-se nas obras de grandes dimensões para espaços públicos, como imensos vitrais e es-culturas com até 40 metros de comprimento.

Outro marcante fato de sua trajetória é a inaugura ção, em 2001, do Instituto Tomie Ohtake. Sediado em São Paulo, tem como missão difundir, por meio de exposições, oficinas e cursos, as gran-des transformações ocorridas desde os anos 1950 nas artes plásticas, na arquitetura, no design, com reflexão sobre elas, e apresentar as mais novas ten-dências estéticas do mundo.

A fama e a carreira consagrada nunca modificaram o desafio a que Tomie Ohtake se propõe: o eterno reinventar. Essa incomum capacidade de inovação

da artista permeia diferentes fases de sua pin-tura e composições de gravura e escultura; atualmente, expande sua produção tridimensional. Com isso, vem encantando o público até hoje.

32 | BOA VONTADE MULHER

Divu

lgaçã

o

Page 33: Revista Boa Vontade Mulher

Tomie Ohtake Wangari Maathai Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

BOA VONTADE MULHER | 33

Divu

lgaçã

o

Pela sustentabilidade, democracia e Paz

A árvore tornou-se no Quê nia um símbolo da luta pela democracia, pela Paz e preservação da cultura africana. Isso graças ao trabalho de

Wangari Maathai, eleita a “Mulher do Ano”, em 1983. Nascida no distrito de Nyeri dessa nação, no dia 1o de abril de 1940, transformou em realidade o que parecia utopia para o povo queniano: melho-rar sua qualidade de vida. Passando a infância em contato direto com a Natureza, ao longo do tempo percebeu a destruição da diversidade biológica e a diminuição da capacidade das florestas para con-servar água, por causa da má administração dos recursos e da invasão de áreas verdes por plantações comerciais, dificultando, desse modo, a sobrevivên-cia em seu país.

Formada em Ciências Biológicas pela Mount St. Scholastica College, em Kansas (EUA), e mestre pela Universidade de Pittsburgh, Wangari foi a pri-meira mulher do Centro-Leste da África a buscar doutoramento, obtendo o diploma de Ph.D., em 1971, pela Universidade de Nairóbi. E foi nela que lecionou Anatomia Veterinária, sendo, em 1976, chefe do departamento dessa matéria — cargo nunca antes ocupado por alguém do sexo feminino.

Ainda em 1976 começou a atuar fortemente no Conselho Nacional de Mulheres do Quênia. A partir desse trabalho iniciou, em 1977, o Green Belt Movement (Movimento Cinturão Verde). As

Josué Bertolin

Page 34: Revista Boa Vontade Mulher

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

34 | BOA VONTADE MULHER

mulheres, responsáveis por suprir as necessidades básicas de suas famílias, eram as primeiras a per-ceber os estragos ambientais, enfrentando imensas dificuldades em cumprir suas funções sociais por causa da escassez de alimentos. Ao perceber isso, a “Mulher do Mundo”, de 1989, não se intimidou diante do desafio de mudar a história dos acon-tecimentos, levando-a a ser, em 2004, a primeira africana a receber o Prêmio Nobel da Paz, por sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, de-mocracia e Paz.

Em quase 30 anos de trabalho, Wangari Maathai e o Green Belt Movement não apenas ajudaram as mulheres de seu povo a plantar 30 milhões de árvores — que proporcionaram combustível, ali-mentos, abrigo, emprego e melhoria do solo e das bacias hidrográficas, reduzindo, assim, a pobreza, resolvendo problemas ambientais e atendendo às ca-rências fundamentais das famílias —, mas também

se mostraram capazes de transformar o pensamento de inferioridade arraigado na população, levantando a autoestima dos compatriotas.

O Green Belt Movement zela pela herança cul-tural africana, por isso busca manter as tradições, respeita a biodiversidade de cada local e colabora para preservar as sementes nativas e plantas me-dicinais.

Em 2002, membros desse movimento, organi-zações da sociedade civil e o povo queniano foram capazes de instituir uma transição pacífica para um governo democrático. Nesse mesmo ano, a pro-fessora Wangari foi eleita para o Parlamento com esmagadores 98% dos votos. Em seguida, nomeada ministra-assistente do Meio Ambiente, Recursos Na-turais e Vida Selvagem, do 9o Parlamento do Quênia, cargo que exerceu até 2007. À militância pacífica pela recupe ração das florestas, ela aliou a luta para pôr fim à dívida externa dos países pobres.

Divu

lgaçã

oEm quase 30 anos de trabalho, Wangari Maathai e o Green Belt Movement não apenas ajudaram as mulheres de seu povo a plantar 30 milhões de árvores — que proporcionaram combustível, alimentos, abrigo, emprego e melhoria do solo e das bacias hidrográficas, reduzindo, assim, a pobreza, resolvendo problemas ambientais e atendendo às carências fundamentais das famílias —, mas também se mostraram capazes de transformar o pensamento de inferioridade arraigado na população, levantando a autoestima dos compatriotas.

Page 35: Revista Boa Vontade Mulher

* Suelí Periotto é conferencista, pedagoga pós-graduada em Gestão Escolar e Metodologia das Ciências Humanas e docente do Instituto de Educação José de Paiva Netto.

BOA VONTADE MULHER | 35

Equação Amordo

São em sua maioria bem jovens. Olhares sim-ples, mas expressivos, cheios daquela luz de quem traz em si o dom da vida. O grupo

está reunido para algo especial: no estúdio da Su-per Rede Boa Vontade de Rádio (que gentilmente cedeu o espaço), elas gravam uma música, cuja letra e melodia foram compostas por elas, durante o Curso de Gestantes do Programa Cidadão-Bebê, desenvolvido pela Legião da Boa Vontade em seu Centro Comunitário, na capital paulista.

A iniciativa, que possui articulação em todo o Brasil e no exterior, destina-se à orientação e

Educação EcumênicaEmpoderamento da Mulher

Solidariedade++

Clay

ton

Ferre

ira

Suelí Periotto*, supervisora educacional da LBV

Andr

é Fe

rnan

des

LBV

suelí periotto

Page 36: Revista Boa Vontade Mulher

36 | BOA VONTADE MULHER

LBVapoio às mulheres desde o período gestacional até o primeiro ano de vida do bebê, a fim de promover uma gravidez saudável e combater a mortalidade infantil.

A canção“Você veio de repente/ Como um sol a brilhar

em minha vida/ Espero o melhor para você e para o seu futuro”, cantarolam as futuras mamães. E completam: “Filho querido, que tenha muita saú-de/ Quero ser uma boa mãe/ Às vezes tenho medo de ter meu bebê/ Mas que Deus me dê forças para

cuidar de você./ Sua chegada mudou para melhor/ As nossas vidas/ Sua família o espera com amor, carinho e dedicação”.

A singela canção, resultado da atividade de mu-sicoterapia, expressa bem as dificuldades vencidas e a consciência que adquiriram ao longo dos 11 encontros de que participaram na primeira jornada do programa, em que foram aprendendo temas pertinentes à gravidez e à criança, bem como ao bem-estar físico, emocional e espiritual delas. “Nós realizamos uma sensibilização sonora, de acolhi-mento para esses bebês que virão ao mundo. Vejam

Belém/PA São Paulo/SP

Rio de Janeiro/RJVoluntária norte-americana (E) em atividade da LBV em São Paulo/SP

Joíls

on N

ogue

iraDa

niel T

revis

an

Arqu

ivo B

VAm

icucc

i Gall

o

59 anos

Page 37: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 37

“Eu vejo, dentro de todas essas atividades da Legião da Boa Vontade, uma que, como jornalista, me parece a principal: a LBV debate os problemas nacionais e internacionais, tenta conscientizar o cidadão para os seus deveres. (...) Tomara que isso se multiplique.”

Carlos ChagasJornalista, professor universitário, comentarista de rádio

e TV e articulista de destacados jornais brasileiros.

que, depois que os bebês nascerem, vão continuar tomando contato com esse trabalho pela música”, comenta a estagiária Juliana Alves Lima, que atuou como voluntária na iniciativa.

A assistente social Iara Pereira da Silva explica: “O curso tem por finalidade fazer com que a crian-ça encontre um lar com muito amor, compreensão, harmonia, de modo que as pessoas possam sempre receber uma nova vida com satisfação”.

Ela conta que são formadas diversas turmas ao longo do ano e, na primeira fase do Cidadão-Bebê, gestantes do quarto ou quinto mês, em situação de vulnerabilidade ou risco social, fazem suas ins-crições, passando a participar de palestras sobre temas como “A fecundação e o desenvolvimento do feto”; “A importância da alimentação na gravidez”; “Planejamento familiar”; “Depressão na gestação e pós-parto: como evitar”; “Dicas e cuidados com o bebê”; e “A importância da amamentação”, as-suntos que são enriquecidos com a Espiritualidade Ecumênica, importante diferencial da ação.

Palestras e dinâmicas educativasOs encontros no ambiente da LBV são iniciados

com uma prece ecumênica. Em seguida, é feita a sessão de musicoterapia com a abordagem de uma das temáticas citadas acima, por meio de palestra

ou de dinâmica. As gestantes recebem cestas de alimentos e o enxoval para o nenê.

O nascimento da criança assinala o término da primeira fase. A assistente social e uma enfermeira vão até a casa da nova mamãe para ver como os dois estão passando. Nesta visita, é entregue um calendário a ela para que ingresse na segunda etapa: o “grupo de mães”, quando os assuntos tratados estarão mais relacionados ao bem-estar da criança, como evitar acidentes domésticos, cuidados com a alimentação, e trabalhar, também, a autoestima da mãe para que possa dar o melhor de si ao filho. “Fazemos um controle da vacinação da criança, por meio do cartão dela, e efetuamos a pesagem e a medição mês a mês, orientando a mãe a procurar o pediatra sempre”, complementa Iara.

E os resultados são positivos, a exemplo do que conta a nova mamãe Lucimara Aparecida Costa: “Estou bastante feliz, gostei de fazer o curso, aprendi muita coisa e tudo o que aprendi aqui levo para casa”.

Teresina/PI

Erine

u Fe

rnan

des Do

ming

os Ta

deu/

Palác

io do

Plan

alto

Page 38: Revista Boa Vontade Mulher

38 | BOA VONTADE MULHER

“A nossa comunidade, num contexto geral, perdeu aquela característica de mendicante. Muitos buscaram o que tinham

de buscar e cresceram, se desenvolveram. Olho todo esse trabalho e fico encantada, agradecida a Jesus, ao Irmão

Paiva Netto e à nossa querida LBV.”Eunice Terra

Atendida pela LBV

Um dos programas promovidos pela LBV dos

Estados Unidos é o Jardim da Boa Vontade e da Paz,

realizado em salas de aula de escolas públicas norte-americanas (fotos

à esquerda e acima, com as revistas Globalização do Amor Fraterno e Paz para o Milênio, publicações da LBV encaminhadas à ONU). A

Jovem Legionária Mariana Malaman (à esq.) é uma das voluntárias que aplicam a atividade, cujo objetivo é formar um olhar crítico e pensar

maneiras de expandir a Cultura de Paz.

A assistente social Iara conclui: “A gente busca sempre tratar as pessoas com o máximo carinho para que se tenha no dia-a-dia a concretização dos ideais da LBV”.

Programa gera emprego e renda Em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, a Insti-

tuição vem implementando projetos que visam criar cooperativas e associações para dar oportunidades de emprego em comunidades menos favorecidas.

Entre as histórias de sucesso está a da Asso-ciação de Mulheres Artesãs “Sra. Sebastiana da Silva Terra”, no bairro Maria Casagrande, por onde passaram muitas mulheres de histórias diferentes, que, por meio do programa de convivência da LBV, se uniram para encontrar formas de gerar renda. A

associação prestava serviços a gráficas da região, confeccionando sacolas para lojas, caixas e outros produtos de papel cartonado. O crescimento da demanda fez com que a LBV, em parceria com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), realizasse cursos para a melhoria da qualidade de serviço e sobre procedi-mentos legais.

A cooperativa cresceu e, após aumentar o qua-dro de participantes, foi aberta uma empresa em seu lugar: a AB Fomm Comércio e Confecções de Embalagens. “A nossa comunidade, num contexto geral, perdeu aquela característica de mendicante. Muitos buscaram o que tinham de buscar e cresce-ram, se desenvolveram. Olho todo esse trabalho e fico encantada, agradecida a Jesus, ao Irmão Paiva

Estados Unidos

Arqu

ivo B

V

Conc

eição

de A

lbuqu

erqu

e

Adela

r Per

eira

Page 39: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 39

Netto e à nossa querida LBV”, conta Eunice da Silva Terra, que era a coordenadora da associação e agora responde pela empresa. Hoje, a AB Fomm faz parte do mercado de trabalho e mudou a realidade de dezenas de famílias.

As ações da LBV buscam criar uma consciência espiritualizada e preparada para enfrentar os gran-des desafios do milênio, fundamentadas no Novo Mandamento de Jesus, o Cristo Ecumênico: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos” (Evangelho, segundo João, 13:34 e 35). “Nós encontramos na LBV a valorização do Ser Humano e de seu

Espírito eterno para que cada um tirasse de si o maior potencial e o colocasse a serviço da comunidade

e de si próprio. A LBV acreditou no nosso desejo e conseguimos chegar até aqui”, conta Eunice, emocionada.

Senhora vence depressão e vontade de suicidar-se

Eunice da Silva Terra explica que “a LBV se tornou uma ponte na qual essas mulheres traba-lham, melhoram sua capacidade, sua condição espiritual e, depois, vão em busca de outras opor-tunidades”.

Para ela, a grande contribuição oferecida pela LBV é levar o equilíbrio emocional a essa gente. “Nós tivemos o caso de uma senhora de 61 anos, que veio para cá com uma série de problemas familiares, sobrevivente de uma quarta tentativa

Cuiabá/MTBuenos Aires/ArgentinaPorto/Portugal

Uberlândia/MG Goiânia/GO

Arqu

ivo B

V

Pedr

o Re

isJo

ão P

reda

Foto

s: Ar

quivo

BV

Foto

s: Ar

quivo

BV

Page 40: Revista Boa Vontade Mulher

La Paz/BolíviaBelo Horizonte/MG

Montevidéu/Uruguai

de suicídio. Estava muito deprimida, em situação lastimável, mas em três dias já cantarolava as músicas que ouvimos na Super Rede Boa Vontade de Rádio. Ela foi melhorando até que conseguiu uma colocação de trabalho; saiu daqui outra pessoa. E isso tem acontecido com ou-tras pessoas com problemas financeiros, conjugais, que passando por aqui se transfor-mam. A gente fica com saudades, mas o objetivo é servir e seguir.”

Chefes de família“Não há melhor financista do que a mãe de

família, a dona de casa, que tem de cuidar do seu muitas vezes minúsculo orçamento, realizan-do verdadeiros milagres, dos quais somos todos testemunhas, desde o mais influente ministro da Fazenda ao cidadão mais simples.” Estas palavras do diretor-presidente da LBV, José de Paiva Netto, em sua mensagem (página 4 desta edição), resumem bem a importância de elaborar ações voltadas para esse público crescente. Estudo do Instituto Brasi-leiro de Geo grafia e Estatística (IBGE) aponta que

o número de mulheres chefes de família cresceu 79% entre 1996 e 2006 no Brasil.

Em Porto Alegre/RS,

o grupo de mulheres tem criado tam-bém alternativas de geração de

renda e contribuído para dar a essas batalhadoras um res-

paldo emocional, aju dan do- -as no exercício pleno de sua cidadania. Lá a LBV tem uma experiência enriquece-dora, em que carinho e So-lidariedade são as ferramen-

tas principais. Atividades em grupo — dinâmicas, palestras

e oficinas de trabalhos manuais — e atendimentos individuais são

desenvolvidos.As narrativas dessas mulheres falam por si.

Laura Gonçalves, do bairro Santa Tereza, diz que aprendeu “na LBV a trabalhar com Boa Vontade”, de maneira bem natural, enquanto participa dos cur-sos de pintura e de pano de prato. “Além de aprender coisas que têm ajudado a sustentar minha família, me sinto bem nas atividades, como a oração que fazemos antes do encontro. Isso me ajuda, me faz ter vontade de vencer a cada dia, pois tenho dois filhos com problemas de saúde. Sempre me levanto alegre, sabendo que vou à LBV”, conclui.

O poder da preceOutra proposta do Centro Comunitário e Educa-

cional é ensinar a reciclar coisas que iriam para o lixo e transformá-las em materiais que podem ser

Arqu

ivo B

V

Arqu

ivo B

V

Arqu

ivo B

V

Arqu

ivo B

V

Arqu

ivo B

V

Page 41: Revista Boa Vontade Mulher

Olinda/PEManaus/AM

comercializados. Maria Alce-dina do Nascimento, do bairro Sarandi, em Porto Alegre, co-menta esse serviço: “Há alguns anos participo do programa da LBV e aprendo. O curso de que mais gosto é o de reciclagem. Já tive muitos problemas de depressão, mas depois de vir todas as semanas aqui, eu e mi-nha família estamos melhores, graças a Deus e às orações que nós sempre fazemos antes das aulas”.

Multiplicando o raio de ação

Nas cidades do Rio de Janei-ro, São Paulo, Brasília, Curitiba e Belém, enquanto milhares de alunos estudam nas escolas da LBV, suas mães se esforçam para ganhar o pão de cada dia. Nesses centros educacionais, o envolvimento dos familiares é forte, multiplicando o raio de ação da Obra.

No coração da região amazônica, em Belém/PA, a Escola de Educação Infantil Jesus, mantida pela Legião da Boa Vontade, recebe diariamente cem alunos que vivem em situação de risco so-cial. São meninos e meninas de 3 a 6 anos, que permanecem em período integral, num ambiente permeado pelos princípios éticos e espirituais da

Obra, que visam à formação de uma sociedade verdadeiramente solidária. Lá, a Pedagogia do Afeto, inovadora proposta do educador José de Paiva Netto, é também aplicada com êxi-to, desenvolvendo Cérebro e Coração.

No universo escolar, a LBV faz um trabalho socioeduca-cional com as famílias, rela-cionado ao contexto social em que vivem. Todos os meses, as atividades reúnem os pais dos estudantes para discutir a importância da participação da família na escola, a Educação Infantil, a escola na comunidade,

higiene bucal, educação preventiva odontológica, entre outros assuntos.

Segundo a diretora da escola da LBV, Margari-da Martins, os efeitos desse trabalho de extensão são muito positivos, principalmente, para as mães. Por isso, os profissionais da área pedagógica têm levado essas temáticas também para escolas comu-nitárias e associações de bairros, ampliando para milhares os bons resultados.

Ao desenvolver as potencialidades individuais e coletivas dessas crianças, a Obra confirma o que o próprio povo cunhou: “A LBV nasceu para amar e ser amada”. (grifos nossos)

“Há alguns anos participo do programa da LBV e aprendo.

O curso de que mais gosto é o de reciclagem. Já tive muitos

problemas de depressão, mas depois de vir todas as semanas aqui, eu e minha família estamos melhores, graças a Deus e às orações

que nós sempre fazemos antes das aulas.”

Maria Alcedina do NascimentoAtendida pela LBV

Arqu

ivo B

V

Arqu

ivo B

V

Clay

ton

Ferre

ira

Page 42: Revista Boa Vontade Mulher

42 | BOA VONTADE MULHER

mulherViolência doméstica contra a

E s P E c i A L

Phot

os.co

m

Page 43: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 43

mulherViolência doméstica contra a

Sandra Fernandez, socióloga, Nova York/EUA

Arqu

ivo B

V

Na pré-história, o ho-mem habitava ca-vernas, caçava para

sobreviver, comunicava-se por grunhidos e gestos. So-ciedade primitiva. Século 21: avança a globalização, veículos híbridos, satélites, internet, reprodução huma-na assistida... A lista do visí-vel progresso tecnológico é extensa e não há tempo nem

espaço para listar 10% de todas as conquistas.Os dois momentos extremos da Humanida-

de, descritos acima e completamente diferentes nas posturas e nos costumes, estão separados por milênios. A violência pode ser caracterizada como uma das mais antigas manifestações sociais, não raro, um aspecto crescente no campo coletivo e individual, so-bretudo com a conivência estatal e a influên cia cultural. Uma das formas mais recorrentes é a praticada contra o gênero fe-minino, realidade antiga que, mesmo com a modernidade dos costumes e o desenvolvimento tecnológico, tornou-se comum, independentemente de forma de governo, costumes religiosos, lín-gua, cultura, poder aquisitivo ou grau de instrução.

Um estudo realizado em diversos países, reunido pelas Nações Unidas, mostra que o número de cri-mes praticados contra a mulher, a criança e o idoso equivale ao da violência gerada por guerras. A cada 16 segundos uma mulher é agredida pelo parceiro e 70% dos casos de assassinato de mulheres têm como autores os cônjuges.

Em 1993, na cidade de Viena, Áustria, durante a Conferência das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos, um importante passo foi dado para ajudar na solução desse conflito. A agressão contra as mu-lheres passou a ser reconhecida como uma violação dos direitos. A partir daí, governo e sociedade civil

organizada têm trabalhado para eliminar esse mal com leis mais severas.

Durante a Convenção Interamericana para Preve-nir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida também como a Convenção de Belém do Pará, realizada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1994, definiu esse tipo de violência como “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada”.

Diferentes culturasO núcleo das relações de afeto, composto por

pessoas que convivem em um mesmo espaço físi-co, é muito complexo de ser observado. Difere por localização (Ocidente, Oriente, Oriente Médio),

forma de governo, herança cultural (so-ciedade patriarcal), religião, grau de

instrução, região (cidade/campo) e outros aspectos. A propósito disso,

abro parênteses para explicar que a nossa concepção de violência doméstica é ocidental, isto é, quando há o exercício do po-der no âmbito familiar, de um sobre o outro, utilizando-se de

agressões sistemáticas explícitas ou veladas. Assim, vale destacar

a questão de localidade e herança cultural para entendermos que muitos

hábitos geradores de violência doméstica estão diretamente ligados a esses dois conceitos. Não podemos esquecer que devemos procurar olhar o outro com os olhos do outro, pois o que para cer-tas sociedades é considerado natural para outras é crime, conforme os costumes locais. Por exemplo, para os tradicionalistas a figura patriarcal define o que é certo ou errado e a forma de punição, e todos os que estão sujeitos a essas regras de convivência aceitam esse processo com a naturalidade de quem foi criado sob tal conjunto de valores culturais. Assim, para eles determinada conduta não é crime, mas, ao mesmo tempo, é inadmissível para quem tem uma maior liberdade de expressão. Isso não

A cada 16 segundos uma

mulher é agredida pelo parceiro e 70% dos casos

de assassinato de mulheres têm como autores os

cônjuges.

Page 44: Revista Boa Vontade Mulher

44 | BOA VONTADE MULHER

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Relatora da Lei Maria da Penha no Senado

A senadora brasileira lúcia vânia é reconhecida na política por ser a primeira mulher a representar o Estado de Goiás na Câmara dos Deputados; também

foi a primeira goiana a ocupar uma vaga no Senado e a presidir a Comissão de As-suntos Sociais, sendo eleita por unanimidade. Nascida na pequena Cumari, Lúcia Vânia é formada em Jornalis-mo. Elegeu-se por três vezes deputada federal e, para o Senado, obteve mais de um milhão de votos para exercer

o cargo no período de 2003 a 2011.Atuante na área social, a senadora foi presidente

da Comissão de Assuntos Sociais e está à frente da Organização das Voluntárias de Goiás, entre outras participações.

Empenhou-se em diversas áreas pela valoriza-ção da mulher. A senadora foi relatora da Lei Maria da Penha na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Para ela, a iniciativa encoraja as mulheres a denunciarem casos de violência doméstica, familiar e outras, “garantindo uma rede de proteção social para aten dê-las”. Ela atribui a esta lei o aumento das denúncias e do indiciamento e condenação de agressores no Brasil no último ano.

significa que uma sociedade seja melhor que outra. Os conflitos existem. O que difere é o olhar, o viés utilizado para observá-los, sem esquecer que deve-mos nos respeitar mutuamente, porque, conforme nos ensina o jornalista e escritor Paiva Netto, somos todos Seres Humanos e Espirituais.

Lei Maria da PenhaUma discussão ganhou evidência no cenário bra-

sileiro: a Lei 11.340, de 2006, chamada Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir e prevenir a

violência doméstica e familiar e prevê punições mais rígidas contra o infrator com pena de reclusão. O Brasil faz parte das estatísticas que apontam que, na América Latina e no Caribe, esse tipo de crime atinge de 25% a 50% da população feminina. A decisão de criar essa lei, por parte do governo brasileiro, contri-bui para a ampliação do debate e estimula mudanças nos países envolvidos nessa pesquisa.

A Secretaria Especial de Políticas para as Mu-lheres divulgou, em janeiro de 2009, levantamento segundo o qual o número de denúncias pelo 180 — número da central de atendimento à mulher — subiu de 204.978 de janeiro a dezembro de 2007 para 269.977 no mesmo período do ano passado, o que representa um aumento de 32%. Desses relatos regis-trados pela central, quatro resultaram em homicídio. Outra pesquisa, realizada pelo Ibope e pela Themis (Assessoria Jurídica de Estudos de Gênero), aponta que a maioria das denúncias é feita por mulheres que sofrem agressões diariamente. Uma parte delas (17%) informa que a agressão é semanal.

Nos Estados Unidos, por dia quatro mulheres morrem em razão da violência doméstica, segundo a National Organization for Women (NOW). Tra ta-se de crimes cometidos por cônjuge ou namorado, totalizando 1.400 assassinatos por ano, de acordo com o FBI. A organização estima que, anualmente, de 2 a 4 milhões de mulheres de todas as etnias e classes sofrem com a violência doméstica nos EUA. Desse total, 170 mil necessitam de hospita-lização ou de atendimento emergencial.

Ciclos da violênciaA psiquiatra norte-americana Lenore Walker

ganhou notoriedade na década de 1970 com sua tese sobre os ciclos da violência doméstica, que ajudou a definir como funciona a agressão, de modo sistemático, na esfera familiar.

Na maioria dos casos de violência doméstica contra a mulher, o ciclo começa pela fase da tensão, em que se acumula uma série de conflitos, repletos de insultos e ameaças. É um sofrimento que pode durar semanas, uma forma de agressão mental, emo-cional, como que enviando mensagens de que o pior está por vir. Em seguida, vem a fase da ação brutal,

Wald

emir

Rodr

igues

/Agê

ncia

Sena

do

Page 45: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 45

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

A cearense Maria da Penha Maia Fernandes é uma das guerreiras que desenham, no Brasil, a trajetória das conquistas femininas. Biofarmacêutica aposentada, hoje atua na Associação de Parentes e Amigos de Vítimas de Violência (APAVV), dando exemplo de coragem e como símbolo vivo da luta contra a violên-cia doméstica.

Em agosto de 2006, foi sancionada a Lei 11.340, que leva seu nome, a qual coíbe e previne a violência doméstica e familiar contra a mulher, além de introduzir mudanças no Código Penal, no Código de Processo Penal e na Lei de Execuções Penais. “Antes muitas mulheres queriam sair da violência doméstica e não tinham mecanismos para isso. Temos o direito de viver sem violência”, afirmou Maria da Penha.

O drama vivido por essa mulher ganhou notoriedade in-ternacional em 1994 com o lançamento de Sobrevivi, posso contar, livro escrito pela própria Maria da Penha, no qual relata sua história de luta por justiça e contra a opressão que recebia do marido. Em 1983, ela sofreu duas tentati-vas de homicídio premeditadas por parte do seu esposo, Marco Antonio Heredia viveros, colombiano naturalizado brasileiro, economista e professor universitário.

Viveros ficou em liberdade por 19 anos, período em que o processo permaneceu suspenso em razão de recursos da defesa. Quando o livro de Maria da Penha chegou às mãos de um membro do Centro pela Justiça e pelo Direito Inter-

Uma luta justa e urgenteMaria da Penhanacional (Cejil), em 1997, o caso ganhou novo rumo. O órgão, por meio do Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), levou o fato à Organização dos Estados Americanos (OEA). No ano seguinte, a Comissão de Direitos Humanos da OEA iniciou investigações sobre o caso e so-bre o atendimento a mulheres vítimas da violência doméstica no Brasil. Em 2002, duas reuniões foram realizadas na OEA, resultando na prisão do agressor.

Para a mulher que inspirou a criação da Lei, todo esse esforço, no entanto, não

alcançará o objetivo maior se o teor dela não for conhecido pela sociedade. Por isso, defende maior participação da mídia e agradece aos que divulgam esses princípios, como fez ao tomar conhecimento do artigo “Lei Maria da Penha”, do jornalista Paiva Netto, publicado no mês de janeiro em centenas de jornais, revistas e sites do País. (Leia o texto na p. 8) “Agradeço a ele pela matéria, gostei demais. Desperta em cada mulher que tem uma vida de violência, ou que não conhece nada sobre a lei, a vontade de se inteirar sobre o assunto. Se a família é saudável, certamente conhece quem precisa desse conhecimento. Paiva Netto é uma referência; sei que a Legião da Boa Vontade é um local em que as pes-soas trabalham para o Bem. (...) Acho que nossos espíritos são irmãos, no íntimo nós que trabalhamos pela questão da Paz, do bom viver da Humanidade, entendemos o que o outro faz e admiramos suas ações”, declarou.

Regina do Nascimento e Valéria Nagy

em que toda a tensão acumulada na primeira fase se revela em descarga descontrolada. O agressor atinge a vítima com toda a sorte de maus-tratos: empurrões, socos e pontapés. Pode valer-se de objetos como garrafa, pau, ferro ou o que encontrar pela frente. Depois, inicia-se a última fase, a da lua-de-mel ou da reconciliação, uma tranquilidade doentia, em que o parceiro pede perdão e promete mudar a conduta, ou age como se nada houvesse ocorrido. No caso do

homem, mostra-se mais atento, carinhoso, presen-teia a mulher, fazendo-a acreditar que o que passou não se repetirá. Porém, uma vez reconquistada a confiança da parceira, todo o processo recomeça.

Segundo a dra. Walker, esse ciclo de violência pode tornar-se vicioso, estendendo-se por anos a fio, sem perspectiva de interrupção. Não raro, termina em tragédia, com uma lesão grave ou até o assas-sinato da mulher.

Leis

& Le

tras/G

enils

on d

e Lim

a

Page 46: Revista Boa Vontade Mulher

46 | BOA VONTADE MULHER

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Entre os pesquisadores existe o

consenso segundo o qual a mulher tem muita dificuldade em reconhecer a existência de ciclos

de violência em sua vida na esfera doméstica e resiste a admitir

que “o seu príncipe virou sapo”.

Entre os pesquisadores existe o consenso segundo o qual a mulher tem muita dificuldade em reconhecer a existência de ciclos de violência em sua vida na es-fera doméstica e resiste a admitir que “o seu príncipe virou sapo”. Pode parecer irônico, mas o inverso do descrito na fábula infantil ilustra bem quão difícil é o rompimento do imaginário, isto é, admitir que fez escolhas erradas e assistir a um profundo e belo sentimento reduzir-se a ofensas e dor. Muitas mulhe-

res entronizam a máxima “ruim com ele, pior sem ele”. Como pagar o aluguel? Como educar sozinha os filhos? São questionamentos difíceis de responder e de julgar. Acima de qualquer outro sentimento, há a legítima preocupação com os filhos, o que a faz perpetuar essa turbulência de conflitos.

Pela análise dos números da violência doméstica contra a mulher, é possível observar que

essa prática não vê cor, etnia ou classe social. Está presente em todos os

segmentos sociais, na casa do rico, do professor, do médico, do executivo etc., desmistifi-cando assim a ideia de que apenas o pobre embriagado é violento.

Luz no fim do túnelDiante do desafio de tratar

de tema tão delicado e urgente, percebi que não há outra saída senão

despertar todos para a consciência de uma cidadania plena. Um caminho apon-

tado pela Legião da Boa Vontade é a valorização da mulher por meio de campanhas e programas de inclusão, promovendo “Educação e Cultura com Es-piritualidade, para que haja Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos, na formação do Cidadão Ecumênico”, lema este da Instituição que sinaliza um novo horizonte. Uma pessoa instruída com base no conceito de cidadania plena não aceitará formas de convivência que excluam a harmonia, o entendimento e a facilitação do diálogo.

É necessário e urgente todo esforço da sociedade para abolir e erradicar do cotidiano qualquer tipo de violência. No caso em que a vítima é a mulher, os esforços são mais urgentes, pois ela é um agente educador de gerações, que atua diretamente na ma-nutenção da ordem social.

No seu livro Em Pauta, p. 58, Paiva Netto ressalta: “O papel da Mulher é tão importante, que, mesmo com todas as obstruções da cultura machista, nenhuma or-ganização que queira sobreviver — seja ela religiosa, política, filosófica, científica, empresarial ou familiar — pode abrir mão do seu apoio. Ora, a Mulher, bafejada

Phot

os.co

m

Page 47: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 47

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Relatora da Lei Maria da Penha na Câmara dos Deputados

Nascida em Curitiba/PR, jandira Feghali é médica formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atual secretária de Cultura do Rio de Janeiro/RJ, ela ingressou na política em 1981, à frente da Secre-taria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói/RJ e, posteriormente, elegeu-se deputada estadual e federal. Em sua car-reira, presidiu a Comissão Especial do Ano da Mulher na Câmara dos Deputados. Foi relatora da Lei Maria

da Penha, sancionada em 7 de agosto de 2006. Feghali comemorou a iniciativa ao dizer

que o Brasil “foi o primeiro governo que, de fato, concretizou medidas

em defesa das mulheres e que colocou em prática uma polí-

tica de gênero clamada há tantos anos”.

Certa vez, enquan-to discursava em uma audiên c ia públ ica na Assembleia Legislativa do Rio, uma mulher se

pronunciou: “Sou esposa de um traficante. Se eu o

denunciar significa uma dela-ção, e serei assassinada quando

retornar”. Isso a fez perceber outra realidade. “Casos concretos como esse

nos permitiram perceber o tamanho, a abrangência, a complexidade do tema, que exigia de nós respostas abrangentes, complexas e amplas para que fosse elaborada esta lei”, completa.

Por sua atuação como parlamentar, recebeu meda-lhas e condecorações, entre elas a Medalha Tiradentes, da Assembleia Legislativa do Rio.

Contra a violência doméstica, um caminho

apontado pela Legião da Boa Vontade é a valorização da mulher por meio

de campanhas e programas de inclusão, promovendo “Educação e Cultura com

Espiritualidade, para que haja Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos, na

formação do Cidadão Ecumênico”, lema este da Instituição que sinaliza um

novo horizonte.pelo Sopro Divino, é a Alma de tudo, é a Alma da Humanidade, é a boa raiz, a base das civilizações, a de-fesa da existência humana. Qual mãe deseja ver seu filho morto na guerra? Ai de nós, os homens, se não fossem as mulheres esclarecidas, inspiradas, iluminadas!”.

Repararam que o autor concede à célula-mãe família o status de organização? Na família está o início da cadeia dos laços que tecem a sociedade. Um lar violento provoca anomalias. Devemos pen-sar nisso. Eis o desafio.

Divu

lgaçã

o

Foto

s: Ar

quivo

BV

Page 48: Revista Boa Vontade Mulher

48 | BOA VONTADE MULHER

Autora de A Lei Maria da Penha na Justiça, livro no qual aborda a efetividade da Lei 11.340/2006, a dra. Maria Berenice Dias se tornou uma das autoridades brasileiras mais atuantes na luta contra a violência doméstica. A advogada, que foi a primeira desembar-gadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, conta à BOA VONTADE o que mudou desde a imple-mentação da lei.

Ocupando hoje a vice-presidência nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam), a dra. Berenice afirma que, apesar da violência, muitas mulheres vítimas de maus-tratos apostam na relação de afeto e acreditam na mudança de conduta do parceiro e na manutenção da estrutura familiar, mesmo que isso signifique “pagar um preço muito alto com sua integridade física e psíquica”.

Além deste agravante, diversos estudos apontam problemas de aprendizagem por parte de crianças e adolescentes acostumados a presenciar cenas de agressão no lar; por consequência, repetem mais de ano e podem abandonar a escola cedo, além de apresentarem maior tendência a repetir, na vida adulta, o mal exemplo no lar. “Eles reproduzem um modelo que vivenciam em casa. Terão problemas no colégio, compor-tamentais, envolvimento com drogas e até tentativas de suicídio”, adverte a dra. Berenice.

A advogada diz não concordar com a postura de algumas mães que preferem não denunciar o agressor, no caso, o marido, por se achar “presa” a ele, pai de seus filhos. Para a dra. Berenice, permitir que eles vivam em um ambiente hostil também é, de certo

Consciência para a Pazmodo, um tipo de violência. E faz um apelo: “Não se deixem bater, denunciem. Há que se tomar consciência disso; (...) a cada 15 segundos uma mulher é vítima da violência doméstica”.

Entre as atitudes, esclarece a especialista em Direi-to de Família, “a lei determinou que se tomassem 42 providências, tanto governamentais como não-go ver-namentais, nas esferas federal, estadual e municipal. Agora, a mulher registra a ocorrência e, em 48 horas, a delegacia encaminha o caso para o juiz especiali-zado”. Ela explica, ainda, que com a criação dessas instâncias não apenas se determina a prisão do agressor, mas também que haja o acompanhamento psicológico, tendo em vista a sua reabilitação.

A dra. Berenice ressalta a importância de casar as ações punitivas da Lei com políticas que previnam situa-ções de agressão no lar. Inspirada pela premissa da LBV de valorizar o Ser Humano e seu Espírito eterno para que se diminuam os altos índices de violência moral e física,

a advogada afirma: “As pessoas estão perdendo o seu referencial porque não existe uma política

ética e uma sociedade comprometida com a Educação. (...) Se não fossem os segmentos atentos a essas questões, com Solidariedade e comprometimento social, como faz a Legião da Boa Vontade, certamente estaríamos em

situação muito mais difícil”. Ao tér-mino da entrevista, a dra. Berenice autografou um exemplar da obra A Lei Maria da Penha na Justiça para o dirigente da LBV, com esta mensagem: “Caríssimo mestre Paiva Netto, obrigada pelo teu belo exemplo de so-lidariedade. Um abraço!”. [N.L.]

Para especialista em Direito de Família, a violência no lar é a “maior chaga da sociedade”.

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Dra. Maria Berenice Dias com a edição no 223 da revista BOA VONTADE

Char

les V

iana

Page 49: Revista Boa Vontade Mulher

BOA VONTADE MULHER | 49

Senadora fala da organização feminina para a igualdade de gêneros e pela Paz

fraternaPor uma sociedade

Biografia — Formada em Direito e Pedagogia pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Serys Slhessarenko é mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e possui curso de Método e Técnicas de Pesquisas em Ciências Sociais pela Fundação Getulio Vargas/RJ.

Embora tenha nascido em Cruz Alta/RS, foi em Cuiabá/MT que construiu a vida profissional e familiar. Mudou-se para a capital mato-grossense em 1966, ano em que se casou. Lá criou os quatro filhos e quatro netos. Vinte e quatro anos depois, elegeu-se pela primeira vez deputada estadual no Mato Grosso, tendo sido reeleita por duas vezes consecutivas para o mesmo cargo. Em 2002, começa a participação como senadora, atuando fortemente em questões ambientais e na melhoria da qualidade de vida das mulheres.

Consciência para a Paz

Para a parlamentar Serys Slhessarenko, é preciso o entendimento de que, apesar de a igualdade entre homens e mulheres estar

determinada na Constituição brasileira e em leis in-ternacionais, ela “não será dada de presente, tem de ser conquistada”. A opinião é fruto da experiência de quem não encontrou caminhos fáceis até chegar ao atual cargo de segunda vice-presidente do Senado Federal. Eleita no dia 3 de fevereiro, a senadora se tornou a primeira mulher a representar o Estado do Mato Grosso em tão elevado posto.

Serys ressalta a contribuição da organização feminina no Congresso Nacional nesse sentido e cita projetos votados pelo Senado e pela Câmara, a exemplo da Lei Maria da Penha. E explica o moti-vo do empenho: “Costumo dizer que parece que a única coisa democrática no Planeta é a violência contra a mulher. Porque ocorre em países desenvol-

vidos e pobres, com quem é da classe alta, média ou da camada popular; todas sofrem”.

À frente do Conselho Nacional da Mulher Cidadã no Senado, ela tem trabalhado pelo fim da discrimina-ção e da violência contra o gênero feminino. Segundo a senadora, nesses dois anos em que a Lei Maria da Penha está em vigor, evitou-se o que era comum ante-riormente, ou seja, o agressor pagar pelos maus-tratos com penas alternativas: “Agora é crime mesmo! Sujeito até a prisão”. Além disso, ela lembra que em alguns Estados diminuiu pela metade a reincidência desse tipo de violência. “Isso porque é costumeiro a mulher, dentro desse processo, estar sujeita a sofrer a segunda, a terceira agressão”, comenta.

Mesmo com esses progressos, a parlamentar lamenta que ainda não haja o número necessário de abrigos, delegacias e juizados especializados em todo o

Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres Mulheres

Arqu

ivo B

V

leila Marco

Page 50: Revista Boa Vontade Mulher

50 | BOA VONTADE MULHER

* Conserto e concerto — Na língua portuguesa, em linhas gerais, “conCerto” significa espetáculo musical, acordo (inclusive político), harmonia, enquanto “conSerto” quer dizer reforma, reparo, restauro.

A senadora Serys Slhessarenko, que há muito acom-panha o trabalho da LBV e de seu dirigente, comentou a repercussão do artigo do jornalista Paiva Netto “A Mulher no conSerto* das nações”, encaminhado por ocasião da 51ª Sessão do Status da Mulher, ocorrida de 26 de fevereiro a 9 de março de 2007, na sede das Nações Unidas, em Nova York/EUA. O documento foi tão bem recebido pelos participantes da reunião que a ONU traduziu o trabalho para os seis idiomas oficiais do órgão. Nele o autor faz uma homenagem à Alma feminina, ressaltando o papel essencial das mulheres para a sobrevivência dos povos.

Ao recordar o texto, disse: “Eu diria que a sensibilida-de do professor, do educador — porque é um educador maior — Paiva Netto é relevante, pois é uma pessoa de conhecimento internacional, extremamente respeitada, por conseguinte, com credibilidade para falar de muitos assuntos. E esse da mulher, a forma como se posiciona, a visão que tem dessa questão, que ela precisa participar do conserto com ‘s’, no sentido de consertar o mundo, a sociedade, em nível mundial, é muito importante”.

Para a parlamentar, é preciso que o texto seja ainda mais divulgado; e explica: “A postura dele é de grande valor para o Planeta. Que continue escrevendo mais artigos, demonstrando essa sensibilidade para o mundo, por meio de órgãos como a ONU, o próprio Congresso Nacional, para divulgarmos esse material, repercutir no plenário, nos nossos Estados. É de pessoas com a credibilidade dele que precisamos para a mudança de mentalidade, para que as pessoas acreditem real-mente naquilo que está sendo dito, porque precisamos construir a Paz”.

Mulher respeitada e agente de mudança

País. No entanto, afirma que existe uma quantidade razoável deles nas cidades maiores, onde “a Justiça dá um bom apoio à questão”. Houve mudanças em termos da lei, o que impede agora, por exemplo, que a mulher retire a denúncia feita. “Se uma mulher chegar ao pronto-socorro machucada, o médico é obrigado também a informar como isso aconteceu e encaminhar o registro para a delegacia”, explica.

Não esconder a violência sofridaPara a senadora, é bom ter cautela, mas não medo

de denunciar, pois muitas vidas seriam poupadas se, na primeira ameaça, fosse levado o fato às autorida-des competentes. “Você tem de buscar ajuda também na família, levar alguém junto para que se inteire. É o tipo de coisa que não pode ser escondida, pois, se o fizer, estará fadada a sofrer a segunda, a terceira, a quarta, sei lá quantas violências”, argumenta.

Serys também não acredita na validade do dito popu-lar: “Em briga de marido e mulher, ninguém deve meter a colher”. Ela entende que as autoridades, principalmen-te, precisam se inteirar do assunto e tomar providências para coibir tal atitude. “Quantos vizinhos poderiam ter salvado vidas de mulheres que estavam gritando, pedin-do socorro. ‘Ah, mas eu não vou.’ E, quando silenciam, às vezes é tarde, ela está muito ferida, machucada, ou até foi assassinada. Uma pancada bem forte na porta, chamar a polícia, faz parar rapidinho. Temos de ter esse sentimento de Solidariedade, de generosidade, deixar de lado essa história de que não temos nada com isso; temos tudo com a construção da Paz”, defende.

Segundo ela, certamente a pior violência é aquela que ocorre dentro da casa, sendo mais prejudicial do que a discriminação no trabalho, no meio social, porque está escondida na aparente relação afetiva de um lar. “Porque lá estão nossos filhos e filhas, nossos menini-nhos, que crescem vendo o pai, o padrasto, alguém que mora no local agredir e acham que é normal. Poderão fazer o mesmo com a namorada, a esposa, a irmã, até com a própria mãe, porque pensam que a mulher é um objeto, uma coisa que não merece respeito. (...) A gente só quer a igualdade, homens e mulheres construindo a sociedade com Fraternidade, sabendo que todas nós somos gente, temos os mesmos sentimentos, desejos, sonhos, direitos, absolutamente iguais”, declarou.

Arqu

ivo B

V

Page 51: Revista Boa Vontade Mulher

Colaborando com a LBV, você ajuda a construir o futuro do seu país!

Visite, apaixone-se e ajude a LBV!

SeDe CeNtRAl: Rua Sérgio Tomás, 740 • Bom Retiro • São Paulo • Brasil • CEP 01131-010 • Tel.: (+5511) 3225-4500 • www.lbv.org • www.boavontade.com / lBv DA ARGeNtiNA: Av. Boedo, 1942 • Boedo • Buenos Aires CP C1239AAW • Tel.: (+5411) 4925-5000 • www.lbv.org.ar / lBv DA BolíviA: Calle Asunta Bozo, 520 • Zona Alto Obrajes (sector A) • Casilla de Correo 5951 • Tel.: (+5912) 273-3759 • www.lbv.org.bo / lBv DoS eStADoS uNiDoS: 20 Calumet Street, 1st floor • Newark/NJ • Zip Code 07105 • Tel.: (+1973) 344-5338 • www.legionofgoodwill.org / lBv Do PARAGuAi: Calle Curupayty, 1452 c/ Mayor Bullo Cerro Corá • Ciudad de Lambaré • Tel.: (+59521) 921-100/03 • www.lbv.org.py / lBv De PoRtuGAl: Rua Alexandre Herculano, 355 • Freguesia da Sé • Porto • CP 4000-055 • Tel.: (+35122) 208-6494 • www.lbv.pt / lBv Do uRuGuAi: Av. Agraciada, 2328 • Aguada • Montevideo • CP 11800 • Tel.: (+5982) 924-2790 • www.lbv.org.uy

Banco do BrasilAgência: 3344-8Conta: 205.010-2

Banco BradescoAgência: 0292-5 Conta: 92.830-5

Banco itaúAgência: 0237

Conta: 73.700-2

Page 52: Revista Boa Vontade Mulher

52 | BOA VONTADE MULHER