Revista Eletrônica Parlatorium – ISSN 1983-7437
FAMINAS-BH – Faculdade de Minas
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Editores
Profa. Dra. Patrícia Alves Maia Guidine
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Revista Eletrônica Parlatorium
Nº 8 – Julho – Dezembro de 2014
ARTIGOS PUBLICADOS NESTE VOLUME
(em ordem alfabética de título):
A CONTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR PARA A
REALIZAÇÃO DOS ESTÁGIOS CURRICULARES DA GRADUAÇÃO EM
FARMÁCIA
Maria Betânia Freitas Marques, Taízia Dutra Silva, Adriana Nascimento de Souza
A EFICÁCIA DO MESILATO DE IMATINIBE NO TRATAMENTO DE
LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA
Anna Luiza Tolentino, Emerson Ferreira, Fernanda Buecker, Karine Silvestre
ANÁLISE DE OPINIÕES ENTRE MÉDICOS E ESTUDANTES DE DIREITO
SOBRE A EUTANÁSIA
Lorena de Souza Pereira, Suelen Silva Franca, Dalton Dittz Júnior
APLICABILIDADE DA NANOTECNOLOGIA EM DERMOCOSMÉTICOS EM
FARMÁCIA COMUNITÁRIA BELO HORIZONTE-MG
Maria Beatriz de Miranda Almeida; Alberto Diego Costa Jorge; Aline Soares Cirino;
Andréa Cec í l i o De Oliveira; Roberta Cristina Abreu; Cássia Aparecida De Oliveira
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LEISHMANIOSE VISCERAL EM BELO
HORIZONTE/MG NO PERÍODO DE 1994 A 2013
Caroline Alves de Araújo, Daniela Camargos Costa
AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A DENGUE NA
POPULAÇÃO ADSCRITA A UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE NA REGIÃO
DE VENDA NOVA, EM BELO HORIZONTE-MG
Rodolfo Neiva de Sousa, Pablo Martins Chaves, Giovana Sousa Silva, Thais S. Damiani,
Ricardo Alexandre de Souza
EDUCAÇÃO EM SAÚDE: ATIVIDADE LÚDICA NO ENSINO DA
ASCARIDÍASE
Ingrid Caroline Silva Dias, Lorena de Souza Pereira, Daniela Camargos Costa
ESTRATÉGIAS DA GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA PARA O ENSINO DE
CIÊNCIAS EM UMA ESCOLA PÚBLICA NA CIDADE DE BELO HORIZONTE-
MG
Cláudia Maria Correia Borges Rech, Laressa Lima Amâncio; Raphaela Dias Fernandes;
Vanessa Oliveira Patrocínio; Maria Betânia de Freitas Marques
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE INOVAÇÃO DE FORMAS
FARMACÊUTICAS SÓLIDAS ORAIS
Sulaimy Gabriele Silva Ponciano; Débora Rodrigues de Souza Costa; Gláucia Fernandes
de Souza; Priscila dos Reis Lima; Thaís Caroline Guerra; Thatianne Francielle Gonçalves
da Silva; Maria Betânia de Freitas Marques, Dalton Dittz
HIV/AIDS: UM BREVE HISTÓRICO, SEUS TRATAMENTOS E INOVAÇÕES
João Paulo Bambirra Duarte, Gabriela Maíra Pereira de Assis, Sheyla Moura Carvalho,
Fernando Henrique Mendes, Karine Silvestre Ferreira
MEDICINA NUCLEAR: O USO DO RADIOFÁRMACO DE TECNÉCIO-99M
NO DIAGNÓSTICO DE DOENÇAS CARDÍACAS
Thaysa Hellen Peres, Sieila de Oliveira Perdigão, Gustavo Carvalho Scarabelli, Mônica
Paiva Schettini
OS AVANÇOS DAS PESQUISAS BIOMÉDICAS NO AUXÍLIO DO
DIAGNÓSTICO PRECOCE DA HANSENÍASE
Gislaine Souza dos Santos; Daniela Camargos Costa
PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO BELOHORIZONTINA SOBRE IRRADIAÇÃO
DE ALIMENTOS
Evelin Pinheiro Viana, Camila Mariana Souza e Silva,Natália Andrade Celestino, Camila
Henriques Coelho
PESQUISA DE MICRO-ORGANISMOS EM DIFERENTES PONTOS
AMOSTRADOS NA FACULDADE DE MINAS DE BELO HORIZONTE
(FAMINAS-BH)
Adão Rogerio da Silva, Dayseanne Rodrigues Tomaz; Luciana Rocha Brandão
CONHECIMENTO DA TOXOPLASMOSE NA POPULAÇÃO QUE TEM
GATOS COMO ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
Gabriela Lorrayne Vilas Bôas Neves da Silva; Daniela Camargos
UMA REVISÃO SOBRE HEMOFILIAS, SUAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL
Marcos Antônio de Paula, Jéssica Ferraz Ribeiro, João Paulo Bambirra Duarte, Karine
Silvestre Ferreira
USUCAPIÃO FAMILIAR: ENSAIOS SOBRE UM DESACERTO
Patrícia de Moura Rocha; Frederico Oliveira Freitas; Ana Priscila Ferreira Ramos
A CONTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA INTERDISCIPLINAR PARA A REALIZAÇÃO
DOS ESTÁGIOS CURRICULARES DA GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA
Maria Betânia Freitas Marques1*, Taízia Dutra Silva1, Adriana Nascimento de Souza1
1 Faculdade de Minas
*e-mail: [email protected]
RESUMO
A interdisciplinaridade é uma prática do conhecimento que propicia integração com diferentes disciplinas, com
diferentes alunos e docentes, o encontro de cada abordagem das unidades de ensino na constituição da sabedoria
real, articulando teoria e prática. No cenário da aprendizagem as práticas profissionais podem ser vivenciadas por
meio dos estágios curriculares que proporcionam condições de treinamento e requerem habilidades exclusivas de
coletividade e interdisciplinaridade. Assim os autores desse trabalho propõem a implantação da prática da
interdisciplinaridade entre as unidades de ensino do curso de graduação em Farmácia para a realização dos estágios
curriculares. Em cada período do curso Trabalhos Interdisciplinares Supervisionados, de cunho obrigatório são
delineados e desenvolvidos acerca de um tema central e projetados para a inserção dos discentes no campo de
estágio. A prática interdisciplinar foi bem sucedida e contribuiu positivamente para as atividades desenvolvidas
nos estágios curriculares.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Estágio curricular de Farmácia, Educação Farmacêutica
ABSTRACT
Interdisciplinarity is a practical knowledge that provides integration with different disciplines with different
students and teachers, the meeting of each approach of teaching units in the constitution of real wisdom, linking
theory and practice. In the learning scenario professional practices can be experienced through internships that
provide training conditions and require unique skills of community and interdisciplinarity. So the authors of this
study propose the implementation of the practice of interdisciplinary teaching units of the undergraduate course in
Pharmacy for the realization of internships. In each period of the course Work Interdisciplinary Supervised,
mandatory nature are designed and developed on a central theme and designed for the insertion of the students in
the training field. Interdisciplinary practice was successful and contributed positively to the activities developed
in internships.
Key-words: Interdisciplinarity, Traineeship in Pharmacy, Pharmaceutical Education
INTRODUÇÃO
A interdisciplinaridade é uma prática do conhecimento que propicia integração com diferentes
disciplinas, com diferentes alunos e docentes, o encontro de cada abordagem das unidades de
ensino na constituição da sabedoria real, articulando teoria e prática. Ela abrange aspectos
visíveis e invisíveis do ensino, da pesquisa e da extensão, numa aproximação paralela e ao
mesmo tempo entrelaçada das palavras e figuras que vão sendo correlacionadas (FAZENDA,
CASADEI, 2012).
O termo interdisciplinaridade significa, também, uma relação de reciprocidade, de mutualidade,
que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema do conhecimento, ou
seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para uma concepção unitária de ser
humano. A interdisciplinaridade propõe a partir de uma coordenação geral a integração de
objetivos, atividades, procedimentos e planejamentos (FAZENDA, 2000; CARDOSO, et al.,
2008).
Essa prática surge em decorrência da diversidade de várias disciplinas, aproveitando sua
identidade individual e sua aplicação direta, que são aceitas como enriquecimento e
complementaridade de aquisições e concepções coletivas. A interdisciplinaridade se caracteriza
pela intensidade das trocas entre os especialistas e pelo grau de integração das disciplinas na
prática profissional (FAVARÃO, ARAÚJO, 2004; JAPIASSU, 2011).
A interdisciplinaridade pressupõe atitudes de abertura, livres de preconceito, onde todo o
conhecimento é igualmente importante, assim como a anulação do conhecimento individual
frente ao saber universal. Destacam-se aspectos como atitudes coerentes, sendo que é na
opinião crítica ao outro que fundamenta-se a opinião particular, supondo uma postura única,
engajada e comprometida frente aos fatos da realidade educacional e pedagógica (FAZENDA,
CASADEI, 2012).
As categorias favoráveis à interdisciplinaridade e à autonomia constituem referências para
pensar e agir frente a problemas complexos, estruturantes e emergentes, na contemporaneidade.
Nesse contexto é desejável e necessário superar o paradigma disciplinar convencional
individualista que, em muitos campos de conhecimento e de formação, representa a
conservação de modelos acostumados e apenas reprodutores do processo de ensino.
No cenário da aprendizagem as práticas profissionais podem ser vivenciadas por meio dos
estágios curriculares que proporcionam condições de treinamento e requerem habilidades
exclusivas de coletividade, interdisciplinaridade e em muitos ambientes senso
multiprofissional. A realização obrigatória do estágio permite a transição acadêmico-
profissional e contempla a mobilidade do discente diante das possíveis áreas de atuação.
O estágio curricular descrito pelas Diretrizes Nacionais Curriculares (DNC) do curso de
graduação em Farmácia, RE nº 02/2002 do Conselho Nacional de Educação (CNE), deve atingir
no mínimo 20% da carga horária total do curso podendo ser realizado na Instituição de Ensino
Superior e/ou fora dela, em instituição/empresa credenciada, com orientação docente e
supervisão local (BRASIL, 2002).
De acordo com essa normatização a formação do Farmacêutico tem por objetivo dotar o
profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício de seis competências e habilidades
gerais e trinta e uma competências e habilidades específicas que garantam a formação
generalista, humanista, crítica e reflexiva do egresso, o que pode se tornar um desafio diante da
carga horária mínima exigida, ou seja, quatro mil horas (BRASIL, 2002).
A fim de otimizar o processo de ensino-aprendizagem a prática interdisciplinar têm se tornado
uma ferramenta determinadora da aplicação dos conteúdos abordados nas unidades de ensino
de modo a valorizar a atividade do estágio em melhor aproveitamento possibilitando
rendimento ótimo ao discente.
Diante desse cenário os autores desse trabalho propõem a implantação da prática da
interdisciplinaridade entre as unidades de ensino do curso de graduação em Farmácia para a
realização dos estágios curriculares.
METODOLOGIA
Foi desenvolvida uma pesquisa de caráter exploratório conforme descrito por Gil (2002) por
meio do estudo de um caso real em educação Farmacêutica, assim para fins de exemplificação
foi adotada a matriz curricular do curso de graduação em Farmácia da Faculdade de Minas,
FAMINAS-BH, como modelo de sistematização das unidades de ensino.
A partir das unidades de ensino organizadas na modalidade seriada semestral, o Núcleo Docente
Estruturante (NDE) do curso definiu temas a serem abordados nos trabalhos interdisciplinares
a serem desenvolvidos em equipe durante o semestre letivo. Cada equipe escolhe um sub-tema
relacionado, desenvolve as atividades inerentes e apresenta um produto didático avaliativo a
uma banca avaliadora.
Para definição do tema a ser abordado em cada período do curso alguns critérios são
observados. Os temas devem contemplar as unidades de ensino correspondentes e o eixo
temático da formação do farmacêutico a ser praticado no estágio curricular apropriado com
possibilidade de apresentação do produto didático final do trabalho interdisciplinar às pessoas
que usufruem dos serviços daquele ambiente de trabalho ou até mesmo aos profissionais.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A matriz curricular do curso de bacharelado em Farmácia da FAMINAS-BH foi estruturada a
partir das DNC 02/2002 do CNE bem como do Modelo Referencial de Ensino para uma
Formação Farmacêutica com Qualidade, documento elaborado pelo Conselho Federal de
Farmácia (CFF) e publicado no ano de 2008 (BRASIL, 2002; CONSELHO..., 2008).
Dentre as metodologias de ensino adotadas no curso a maior contribuição para a prática
interdisciplinar deve-se à realização do Trabalho Interdisciplinar Supervisionado (TIS) do
primeiro ao oitavo período como atividade avaliativa, portanto, compulsória. O TIS é uma
atividade institucionalizada conduzido em equipe sob orientação docente. O trabalho se inicia
no começo do semestre letivo e é finalizado na forma de apresentação para a comunidade
acadêmica ou e/ou profissionais no fim do semestre.
Em cada período é adotado um tema central que contempla a magnitude da etapa de formação
farmacêutica dos discentes por meio da complexidade das unidades de ensino abordadas, a
saber, Atuação profissional, Educação em saúde, Estudo de caso real em bioética, Pesquisa
quantitativa em saúde, Atenção Farmacêutica em distúrbios menores, Inovação em saúde,
Desenvolvimento farmacotécnico de produto para uso externo e Formas Farmacêuticas
alternativas. O delineamento dos temas e a condução do trabalho foram determinados NDE do
curso de Farmácia com aprovação pelo Conselho Superior de Ensino da FAMINAS-BH. Cabe
ao colegiado do curso o acompanhamento da atividade na forma de orientação devidamente
documentada, assim as equipe de trabalho junto ao docente orientador definem o sub-tema a
ser abordado.
Na estrutura curricular do curso unidades de ensino dos períodos iniciais como Biologia Geral
(citologia, histologia e embriologia), Anatomia, Genética, Química Geral e Inorgânica,
Química Orgânica, Química Analítica, Fisiologia, Bioquímica, Microbiologia, importantes
para a fundamentação das Ciências Farmacêuticas e essenciais para a prática profissional se
comunicam por meio dos temas Atuação Profissional (1º período) e Promoção em saúde (2º
período).
Os temas do 3º e 4º períodos, Estudo de caso real em bioética e Pesquisa quantitativa em saúde,
respectivamente, compartilham disciplinas que transitam entre o ciclo básico e o início do ciclo
médio do curso, como Ética, Legislação e Deontologia, Imunologia, Bioquímica,
Farmacologia, Farmacobotânica e Estatística.
Ao iniciar o 5º período o TIS é discorrido com o tema Atenção Farmacêutica em distúrbios
menores, cujo planejamento é dedicado para treinar o discente que será inserido nos estágios
curriculares que iniciarão no semestre posterior. Nesse contexto as unidades de ensino
Assistência e Atenção Farmacêutica, Garantia de Qualidade em Farmácia, Farmacognosia,
Fisiopatologia e Farmacoterapia compartilham fundamentos para a prática assistencialista em
Farmácia Clínica nos ambientes de Drogaria e Saúde Pública. O produto apresentado nesse
momento trata-se de uma cartilha educativa sobre a Atenção Farmacêutica em algum distúrbio
menor e que deve ser aplicada em campo.
Em continuidade à formação do egresso, o TIS do 6º período aborda Inovação em saúde cujo
produto final de apresentação é a proposta de um artigo científico, original ou de revisão, no
qual o discente se aproxima da escrita técnica e da importância da divulgação da pesquisa para
a evolução da ciência. Unidades de ensino como Parasitologia, Bioquímica clínica, Assim,
todos os manuscritos são elaborados de acordo com as normas de uma revista científica da área
e são submetidos para a publicação.
Os temas Desenvolvimento farmacotécnico de produto para uso externo e Formas
Farmacêuticas alternativas, 7º e 8º período, respectivamente, aprimoram a capacidade
inovadora e técnica dos discentes, pois ocorre a proposta de produtos farmacêuticos a nível
magistral e industrial, que são embasados por Farmacotécnica, Controle de Qualidade e
Tecnologia Farmacêutica e relacionam diretamente a inserção do discente no campo da
indústria farmacêutica e indiretamente nos campos das análises clínicas, toxicológicas e de
alimentos.
Vale ressaltar que as unidades de ensino Português, Sócio antropologia, Políticas de Saúde,
Psicologia e Empreendedorismo, cujo eixo estruturante é as Ciências Humanas e Sociais, são
abordados de modo transversal ao longo da matriz e que independe do período em curso, ou
seja, em todos os TIS deve haver produção textual, aprimoramento gramatical, estudo do
homem como objeto principal do meio, organização e execução das práticas de promoção à
saúde e gestão, princípios essenciais para a prática do profissional da área de saúde.
Os Docentes são a ferramenta principal em todo o processo, pois com o apoio da coordenação
do curso contribuem de modo significativo para o entendimento das práticas interdisciplinares
o que treina o discente desde os anos iniciais do curso até o momento da inserção no campo de
estágio, que se inicia a partir do 6º período.
A prática da interdisciplinaridade por meio da execução do TIS agrega não só aspectos técnicos
aos discentes, mas valores importantes do trabalho em equipe, já que grupos são formados para
a execução das atividades e, com isso proporcionam habilidades coletivas como a administração
de conflitos, a comunicação, a pro-atividade, a capacidade de inovação e a confiança recíproca,
fundamentais no ambiente do estágio e posteriormente no cotidiano profissional.
Nota-se que os discentes treinados por meio dessa prática interdisciplinar apresentam facilidade
no desenrolar das atividades executadas nos ambientes de estágio, o que pode ser verificado por
meio de depoimentos dos discentes, dos docentes das aulas de estágio e dos profissionais
preceptores do campo, o que indica a contribuição positiva do TIS para a realização dos estágios
curriculares.
CONCLUSÃO
A organização do currículo do bacharel em Farmácia deve propiciar a prática interdisciplinar
objetivando o perfil do egresso. A perspectiva da educação continuada deve ser concebida como
uma realidade dinâmica, flexível, propiciando a integração teoria e prática, o diálogo entre as
diferentes ciências e saberes, e as atividades facilitadoras da construção de competências. Para
que isso ocorra a organização do currículo deve contemplar os princípios da flexibilização e
principalmente da interdisciplinaridade inerentes ao ambiente profissional cotidiano. A
execução de trabalhos interdisciplinares é uma técnica de aprendizagem efetiva para devida
contextualização da prática do discente de Farmácia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Resolução nº 2 de 19 de fevereiro de 2002. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais
do Curso de Graduação em Farmácia. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação
Superior. Diário Oficial da União, Brasília, 4 de março de 2002. Seção 1, p. 9.
CARDOSO, F. S., et al. Interdisciplinaridade: fatos a considerar. R. B. E. C. T., v. 1, n. 1,
2008.
CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Modelo Referencial de Ensino para uma
Formação Farmacêutica com Qualidade. Brasília, 2008, 113 p.
FAVARÃO, N. R. L.; ARAÚJO. C. S. A. Importância da Interdisciplinaridade no Ensino
Superior. Revista da Educação, v.4, n. 2, p.103-115, 2004.
FAZENDA, I. C. A. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. 6. ed. Campinas:
Papirus. 2000.
FAZENDA, I. C. A.; CASADEI, S., R. Natureza e interdisciplinaridade: reflexões para a
educação básica. Interdisciplinaridade, v. 1, n. 2, p. 43-71, 2012.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
JAPIASSU, H. Ciências: questões impertinentes. São Paulo: Ed. Ideias & Letras, p. 51, 2011.
1
A EFICÁCIA DO MESILATO DE IMATINIBE NO TRATAMENTO DE LEUCEMIA
MIELÓIDE CRÔNICA
THE EFFECTIVENESS OF THE TREATMENT IMATINB MESYLATE CHRONIC
MYELOID LEUKEMIA
Anna Luiza TOLENTINO¹, Emerson FERREIRA¹, Fernanda BUECKER¹, Karine
SILVESTRE²
¹Curso de Biomedicina – FAMINAS – Belo Horizonte- MG
Email: [email protected]
²Faculdade de Minas –FAMINAS–Belo Horizonte- MG
Email: [email protected]
Resumo:
A leucemia mielóide crônica (LMC) é uma neoplasia da medula óssea, que transforma a célula progenitora
hematopoiética normal em maligna, caracterizada pela presença do cromossomo philadelphia (Ph), que resulta
da translocação recíproca entre os braços longos dos cromossomos 9q34 e 22q11, gerando a proteína híbrida
BCR-ABL, com atividade aumentada de tirosina quinase. O principal objetivo deste trabalho é descrever a
leucemia mielóide crônica e suas terapias inovadoras. O diagnóstico da leucemia mielóide crônica é feito com
base na análise e interpretação do hemograma do paciente, imunofenotipagem, citometria de fluxo e mielograma.
Dentre as opções terapêuticas estão a hidroxiureia, o interferon-a, o transplante de medula óssea e o mesilato de
imatinibe, sendo esta última a terapêutica a que tem demonstrado a melhor eficácia e por apresentar respostas
duradouras. Conclui- se, portanto com este trabalho que o mesilato de imatinebe produz respostas
consideravelmente positivas, mas que necessita de um controle rigoroso, pois, os efeitos em longo prazo ainda
não são totalmente elucidados.
Palavras-Chave
Leucemia mielóide crônica, mesilato de imatinibe, eficácia do glivec e tratamento da leucemia mielóide crônica
Abstract
Chronic myeloid leukemia (CML) is a bone marrow malignancy, which turns normal hematopoietic progenitor
cell malignancy characterized by the presence of the Philadelphia chromosome (Ph) resulting from the reciprocal
translocation between the long arms of chromosomes 9q34 and 22q11, generating the BCR-ABL hybrid protein
with increased tyrosine kinase activity. The aim of this study is to describe chronic myeloid leukemia and its
inovadoras.O diagnosis therapies of chronic myeloid leukemia is based on the analysis and interpretation of the
patient's blood count, immunophenotyping, flow cytometry and bone marrow. Among the therapeutic options are
hydroxyurea, interferon-a, bone marrow transplantation and imatinib mesylate, the latter being a therapy which
has shown the best efficacy and provide long-lasting responses. If so we concluded with this work that mesylate
imatinebe produces pretty positive responses, but that requires a strict control because the long-term effects are
not yet fully elucidated.
KEYWORDS
Chronic myeloid leukemia, imatinib mesylate, effectiveness of glivec and treatment of chronic myeloid leukemia
2
1 Introdução
Câncer é o nome dado a um conjunto de doenças que têm como característica principal o
crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se
para outras regiões do corpo, dando origem a metástase. A divisão rápida e desordenada
destas células determinam a formação de tumores ou neoplasias malignas. Entretanto, um
tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam
vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de
vida. A doença pode ocorrer em qualquer tecido do corpo. Os tipos de câncer são divididos
nas seguintes categorias: carcinomas, sarcomas, leucemias, linfomas, mielomas e os tumores
do sistema nervoso central (INCA, 2013).
A Leucemia é uma doença maligna que acomete os leucócitos e se origina de alterações
genéticas adquiridas, produzidas na medula óssea. As Leucemias são divididas nas categorias
mielóide ou mielocítica (quando se origina nos leucócitos, como granulócitos e monócitos) e
linfóide ou linfocítica (cuja origem se dá nos linfócitos). Em relação ao tipo de célula
envolvida no desenvolvimento da doença, elas são subdivididas nas formas aguda ou crônica.
Assim, existem quatro tipos principais de leucemia: Leucemia mielóide aguda (LMA),
leucemia mielóide crônica (LMC), leucemia linfóide aguda (LLA) e leucemia linfóide crônica
(LLC) (ABRALE, 2012).
O objetivo do tratamento da leucemia mieloide crônica é a eliminação das células que contêm
o cromossomo Ph, e uma completa remissão (ABRALE, 2012).
Anterior ao desenvolvimento dos inibidores da tirosino quinase, as opções terapêuticas eram o
transplante de medula óssea (TMO), e considerada a única abordagem terapêutica curativa, o
interferon-a, e a hidroxiuréia, historicamente utilizados no tratamento da LMC. A hidroxiureia
é utilizada como terapêutica de escolha para pacientes refratários ou intolerantes ao
interferon-a embora apresente alta toxicidade (LEE, 2008).
A quimioterapia foi um dos principais tratamentos para pacientes com LMC, mas é indicada
com menos frequência, agora que os inibidores da tirosina quinase estão disponíveis
(ABRALE, 2012).
Recentemente o tratamento com mesilato de imatinibe via oral representa uma nova
expectativa de para os pacientes, pois apresenta uma alta taxa de remissão da doença e tem
3
apresentado efeitos adversos mínimos e bem tolerados, sendo os mais frequentes: cefaleia,
náuseas/vômitos e diarréia (ALVARENGA, 2010).
Outro inibidor da tirosina quinase e o desatinibe chamado de segunda linha, utilizado em
pacientes resistentes ou intolerantes ao mesilato de imatinibe (ABRALE, 2012).
Os objetivos deste trabalho são descrever os aspectos gerais da leucemia mielóide crônica,
avaliar a eficácia do tratamento atual comparando com outras terapias e descrever os métodos
de diagnósticos da leucemia mielóide crônica.
3 Metodologia
A metodologia utilizada no presente trabalho, para a pesquisa de artigos, seguiu critérios de
inclusão restritos como: leucemia mielóide crônica, mesilato de imatinibe, eficácia do glivec e
tratamento da leucemia mielóide crônica em português. As bases de dados utilizadas foram
PubMed (Medline), Scielo e Instituto Nacional do Câncer (INCA).
4 Desenvolvimento
A Leucemia Mielóide Crônica (LMC) é uma doença mieloproliferativa crônica clonal, que se
caracteriza pelo aparecimento de células granulocíticas jovens no sangue circulante,
esplenomegalia e presença do cromossomo Philadelphia (Ph), resultante da translocação entre
os braços longos dos cromossomos 9q34 e 22q11, gerando a proteína híbrida BCR-ABL, com
elevada atividade de tirosino quinase que é responsável pela oncogênese inicial da LMC
(ABREU, 2009).
A proteína BCR-ABL se apresenta em praticamente todos os pacientes com LMC. O resultado
da atividade elevada de tirosino quinase, induz a medula óssea a proliferar um clone de
células mielóides malignas e inibidores da apoptose constantemente, resultando no excesso
destas células. A descoberta dessas alterações moleculares possibilitou o desenvolvimento das
terapias e métodos para monitorização da doença. Em condições normais, o gene BCR
4
expresso no cromossomo 22 codifica uma proteína com função relacionada à regulação do
ciclo celular, enquanto o gene ABL expresso no cromossomo 9 codifica a proteína tirosino
quinase (ANDRADE, 2008); (ABREU, 2009).
A LMC representa 20% das leucemias e sua incidência é de 1 a 2/100.000 habitantes. Embora
a idade média de aparecimento da doença seja entre 50 a 60 anos, a LMC pode acometer
todas as faixas etárias. Ela é dividida em três fases: a crônica, a acelerada e por último a fase
blástica, que se não tratada, resultará na morte do paciente (CASTRO, 2012).
O aparecimento dos sintomas na LMC se deve ao fato da substituição das células sadias pelas
células doentes na medula óssea. Sendo assim, os pacientes apresentam queda de plaquetas e
de células sanguíneas, os sintomas relatados em geral são mal-estar, cansaço, palidez (devido
a anemia), sudorese, perda de peso, desconforto no hipocôndrio esquerdo, devido ao aumento
do baço e do fígado (hepatoesplenomegalia), anemia, e intolerância a altas temperaturas.
Cerca de 20 a 40% dos pacientes são assintomáticos. A doença é frequentemente descoberta
durante exames clínicos periódicos, como exames de sangue (hemograma, eritrograma e
leucograma). Nestes exames é possível observar a presença de células granulocíticas imaturas
como mieloblasto, promielócito, mielócito, metamielócito, eritroblastos e núcleos ou
fragmentos de megacariócitos no sangue periférico, além do discreto aumento de monócitos.
A maioria dos pacientes apresentam também basofilia e eosinofilia (BORTOLHEIRO, 2008).
O diagnóstico da leucemia mielóide crônica é feito com base na análise e interpretação do
hemograma do paciente, que visa avaliar o grau de alteração das células sanguíneas. Outro
exame que auxilia no diagnóstico da LMC é a imunofenotipagem, capaz de detectar antígenos
de superfície, citoplasmáticos e nucleares, expressos por células leucêmicas. Este exame é útil
na caracterização das leucemias, pois identifica e reconhece os subtipos de leucemia pelos
parâmetros morfológicos das células. A imunofenotipagem eleva para 99% o percentual de
casos corretamente classificados, permitindo identificar a linhagem celular e os diferentes
estágios de maturação da célula. Recentemente o método citogenético de citometria de fluxo
tem sido utilizado para se diagnosticar leucemias, por que analisa uma quantidade maior de
células em menor tempo. Esta metodologia é útil na análise das linhagens e da maturação das
células leucêmicas, pois permite determinar múltiplos antígenos co-expressos em uma única
célula. (HAMERSCHLAK, 2012)
Como diagnóstico, também pode ser utilizado o mielograma que consiste na aspiração do
líquido da medula óssea e permite identificar o tipo de célula que está invadindo o tecido de
5
forma anormal, impedindo a fabricação de outros elementos do sangue. É importante biopsiar
a medula óssea ao diagnóstico para avaliar a presença de fibrose, que é pouco frequente nessa
fase, mas pode surgir com a progressão da doença. A reticulina está aumentada em 40% dos
pacientes ao diagnóstico e, geralmente, está relacionada à hiperplasia megacariocítica,
acentuada esplenomegalia e maior intensidade de anemia (BORTOLHEIRO, 2008).
Até o ano 2000 o principal tratamento para LMC era o transplante de medula óssea, além da
utilização de hidroxiuréia e interferon-α. Entretanto essas opções apresentavam restrições
quanto à eficácia e a tolerabilidade dos pacientes ao mecanismo de ação dessas fármacos. Nos
últimos anos, novas fármacos que visam se ligar e destruir partes específicas das células
cancerosas foram sintetizadas e têm se tornado uma opção de tratamento padrão para muitas
pessoas com câncer. Essas fármacos que inibem a proteína BCR-ABL, são conhecidas como
inibidores da tirosino quinase e se tornaram o tratamento padrão para a LMC (ABRALE,
2012).
A partir de 2001, foi disponibilizado no Brasil o mesilato de imatinibe (Glivec®, Novartis) –
comprimido de uso oral – para o tratamento de pacientes com LMC, resistentes, refratários ou
intolerantes ao IFN-α. Este foi o primeiro inibidor sintetizado, e hoje em dia no Brasil, o
Glivec, é o fármaco mais específico e efetivo utilizado na terapia da LMC, apresentando
resposta em nível hematológico, citogenético e molecular, sendo reconhecido como
tratamento de primeira linha para pacientes com LMC, BCR-ABL positivo (DOBBIN, 2002).
O mesilato de imatinibe é uma molécula que inibe fortemente a atividade da tirosina quinase
(TK) BCR-ABL, além de eventos celulares mediados pela ativação desses receptores, também
inibe seletivamente a proliferação e induz a apoptose em linhagens celulares BCR-ABL
positivas bem como em células leucêmicas novas de pacientes com LMC cromossomo
Philadelphia (Ph) positivo. Este fármaco age inibindo a sinalização e a proliferação de células
guiadas pelo fator de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) desregulado, e pela
atividade da ABL quinase (NOVARTIS, 2013).
Geralmente, o imatinibe é bem tolerado, no entanto, casos clínicos de hipotireoidismo foram
relatados em pacientes que estão recebendo reposição com levotiroxina durante tratamento
com Glivec®. Quando Glivec® é combinado com esquemas de quimioterapia de alta dose,
tem sido observada toxicidade hepática transitória na forma de elevação de transaminase e
hiperbilirrubinemia, foram relatadas também ocorrências de retenção hídrica grave (derrame
pleural, edema, edema pulmonar, ascite, edema superficial) em aproximadamente 2,5% dos
6
pacientes com leucemia mieloide crônica recém-diagnosticada que tomaram Glivec®. Além
disso, pacientes em tratamento com mesilato de imatinibe podem apresentar mal estar,
cefaléia, aumento de peso, fraqueza, tontura, calafrios, diarreia, câimbras, ansiedade, fadiga,
hiperlacrimação, insônia, anorexia, desidratação, depressão, diminuição da libido, tontura,
sonolência, alterações no paladar, vertigem, confusão mental, hematomas, taquicardias, e até
convulsões, feridas cutâneas ou hemorragias (NOVARTIS, 2013).
Portanto deve-se fazer o acompanhamento adequado dos pacientes em tratamento com este
fármaco, pois o tratamento é diário e em longo prazo. A dosagem diária do imatinibe varia de
acordo com a fase em que o paciente se apresenta. Usualmente, o medicamento - comprimido
de uso oral - possui três dosagens principais: 400mg/dia, para pacientes em fase crônica; e
600mg/dia a 800mg/dia, para pacientes em fase acelerada ou blástica, respectivamente
(SANTOS, 2008).
Vários outros inibidores da tirosino quinase foram desenvolvidos como o Dasatinibe
(Sprycel®) e o Nilotinibe (Tasigna®), no Brasil eles são indicados àqueles pacientes que não
respondem ao tratamento com mesilato de imatinibe (Glivec®), quando ocorre recidiva da
doença ou quando são intolerantes ao tratamento com Glivec® (INCA, 2012).
5 Discussão
Antigamente os pacientes diagnosticados com leucemia mielóide crônica eram tratados com
hidroxiuréia, bussulfano, interferon-α ou transplante de medula óssea, o transplante era o
único método capaz de mudar o curso natural da doença. Dados de instituições brasileiras
mostram que a sobrevida global em cinco anos era de 59% desses pacientes. Após o
desenvolvimento e aplicação dos fármacos inibidores da tirosino quinase nos pacientes com
LMC, a sobrevida aumentou para 90% (CASTRO, 2012); (HAMERSCHLAK, 2012).
Os resultados do estudo internacional randomizado de interferon versus sti571(IRIS)
demonstraram que os pacientes tratados com mesilato de imatinibe alcançaram a resposta
hematológica completa em 92% dos casos em três meses, 96% em doze meses e 98% em
sessenta meses. No que se refere à resposta citogenética completa, desaparecimento do
7
cromossomo Filadélfia pelo uso desse inibidor da tirosino quinase, a resposta ocorreu em 69%
em doze meses e 87% em sessenta meses. Quanto aos efeitos adversos reportados pelo estudo
IRIS, 4% dos pacientes descontinuaram o tratamento com imatinibe, sendo que os efeitos grau
3 e 4 mais frequentes foram a neutropenia, plaquetopenia, anemia e elevação das enzimas
hepáticas (ALVARENGA, 2010).
Sendo assim, o mesilato de imatinibe foi definido como terapia de primeira linha para os
pacientes com LMC, e hoje ela é distribuída no Sistema Único de Saúde (SUS). Dados da
Associação Brasileira de Linfomas e Leucemias (ABRALE) mostraram que a introdução dos
inibidores da tirosino quinase melhorou a qualidade de vida dos pacientes brasileiros, que
ainda necessitam ser mais informados e mais controlados com exames laboratoriais
periódicos, especialmente os citogenéticos e os moleculares (HAMERSCHLAK, 2012).
6 Conclusão
A Leucemia Mielóide Crônica foi a primeira neoplasia hematológica a ter sua raiz genética
desvendada, e, sem sombra de dúvida, também foi a primeira a possuir um medicamento de
tamanha eficácia, se comparado aos utilizados anteriormente. Por intermédio de estudos e
pesquisas, pôde-se perceber que o mesilato de imatinibe apresenta ação comprovada no que
diz respeito à terapêutica. Quando comparado com os regimes baseados em IFN-α e
hidroxiuréia, o imatinibe apresenta um alto nível de eficácia, associado com um número
menor de reações adversas e baixa toxicidade, estes números são melhores que quaisquer
resultados relatados com transplantes. Comprovadamente, este induz altas taxas de resposta
hematológica, citogenética e molecular, com um índice elevado de sobrevida total. Entretanto
existem algumas questões que só poderão ser respondidas com o tempo, uma vez que seus
efeitos em longo prazo não são conhecidos. O desenvolvimento de resistência, devido a
mutação e a possibilidade de desenvolver uma segunda neoplasia. Assim torna-se pertinente o
acompanhamento dos pacientes portadores de LMC desde o diagnóstico até o tratamento, para
que seja escolhido o melhor fármaco inibidor da tirosina quinase e não haja abandono do
tratamento. Apesar das considerações, os pacientes com diagnóstico de LMC, que utilizam o
mesilato de imatinibe tem exelentes resultados, quando comparados a outros tratamentos,
tornando o tratamento de primeira linha em todo o mundo.
8
Referências
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em 24 de out. 2013.
ANÁLISE DE OPINIÕES ENTRE MÉDICOS E ESTUDANTES DE DIREITO SOBRE
A EUTANÁSIA
ANALYSIS BETWEEN PHYSICIANS AND OPINIONS OF LAW STUDENTS ON
EUTHANASIA
Lorena de Souza PEREIRA1
Suelen Silva FRANCA1
Dalton Dittz JÚNIOR2
1Faculdade de Minas, Faminas-BH, Acadêmicas do Curo de Biomedicina
Email: [email protected]; [email protected]
2Faculdade de Minas, Faminas-BH, Orientador do Trabalho, Docente
Email: [email protected]
Resumo
A Eutanásia é a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira controlada e assistida
por um especialista. Aplicada desde a antiguidade, ela é enquadrada em muitas legislações atuais e éticas
médicas mundiais, visando atenuar os sofrimentos do enfermo e de seus familiares, sendo inevitável sua morte
do ponto de vista médico. Paralelamente a eutanásia existem outros conceitos que possui igual importância e
devem ser citados, como: a distanásia, ortotanásia e a mistanásia. No Brasil o atual Código Penal não especifica
o crime da eutanásia. O médico que tira a vida do seu paciente por compaixão comete o homicídio simples,
tipificado no artigo 121, sujeito a pena de 6 a 20 anos de reclusão. Independentemente da forma de eutanásia, ela
é considerada um assunto controverso, onde estão relacionados temas como religião, ética, exercício da profissão
médica e questões legais, tendo sempre em conta o valor da vida humana. Faz-se necessária uma reflexão a cerca
do tema e maior esclarecimento à comunidade leiga e científica sobre esse procedimento.
Palavras-chave: Eutanásia. Opinião pública. Médico. Direito.
Abstract
Euthanasia is the practice by which shortens the life of an incurably ill controlled and assisted by an expert way.
Applied since ancient times, it is framed in many current laws and medical ethics worldwide, to mitigate the
sufferings of the sick and their families, her death from a medical standpoint is inevitable. Alongside euthanasia
there are other concepts that have equal importance and should be cited as: dysthanasia orthotanasia and
mistanásia. In Brazil the current Criminal Code does not specify the crime of euthanasia. The doctor who takes
the life of your patient with compassion commit simple murder, typified in Article 121, subject to punishment
from 6 to 20 years imprisonment. Whatever form of euthanasia, it is considered a controversial subject, where
related topics such as religion, ethics, the medical practice and legal issues are, always taking into account the
value of human life. It is necessary to reflect about the subject and more information to the lay and scientific
community about this procedure.
Key words: Euthanasia. Public opinion. Doctor. Right.
1. Introdução
A Eutanásia é a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de maneira
controlada e assistida por um especialista. Aplicada desde a antiguidade, ela é enquadrada em
muitas legislações atuais e éticas médicas mundiais, visando atenuar os sofrimentos do
enfermo e de seus familiares, sendo inevitável sua morte do ponto de vista médico
(GOETTEN, 2013). Atualmente, a eutanásia é classificada quanto ao modo de atuação do
agente (eutanásia ativa e passiva); quanto a intenção que levou o agente a praticar tal ato
(eutanásia direta e indireta ou de duplo efeito) e quanto a vontade do paciente (eutanásia
voluntária ou involuntária); quanto a finalidade do agente (eutanásia econômica, libertadora e
eliminadora) dentre outras classificações que não são muito utilizadas (TORRES, 2001;
VILLAS-BÔAS, 2008). A primeira consta no ato deliberado de provocar a morte sem
sofrimento do paciente, sendo a eutanásia ativa o ato de provocar a morte e a eutanásia
passiva consiste em provocar a morte através da omissão de tratamentos indispensáveis para a
manutenção da vida por fins misericordiosos, a morte do paciente ocorre, dentro de uma
situação de terminalidade, porque não se inicia uma ação médica, com o objetivo de minorar o
sofrimento. A eutanásia de duplo efeito é quando a morte é acelerada como uma consequência
indireta e/ou direta das ações médicas que são executadas visando o alívio do sofrimento de
um paciente terminal. Já a eutanásia voluntária, também chamada de suicídio assistido, ocorre
quando o próprio paciente solicita a sua morte, visto que esta é inevitável, em contrapartida, a
eutanásia involuntária consiste na decisão da sociedade ou de familiares em por fim a vida de
uma pessoa que sofre, sem que esta exprima sua vontade (VILLAS-BÔAS, 2008; HORTA).
Paralelamente a eutanásia existem outros conceitos que possui igual importância e devem ser
citados, como: a distanásia, ortotanásia e a mistanásia. Distanásia é a morte depois do tempo,
ou seja, a morte é considerada um inimigo a ser vencido, o paciente terminal recebe os
tratamentos mais modernos para manter a vida a qualquer custo. A ortotanásia é a morte no
seu tempo certo (morte natural), o tratamento do paciente terminal é interrompido (ou nem é
iniciado) sendo que este recebe somente medicamentos paliativos objetivando uma morte
tranquila e sem dor ao lado de seus familiares, a ortotanásia se opõe a distanásia e a eutanásia.
Se por um lado a eutanásia visa a morte tranquila e sem dor do individuo em estado terminal,
a mistanásia é a morte miserável antes do seu tempo, com dor e sofrimento. A mistanásia
também chamada de eutanásia social ocorre quando um paciente com alguma comorbidade
deixa de ser tratado e morra antes da hora, vivendo com dores e sofrimentos em princípio
evitáveis mas, que devido a falta de infraestrutura e precárias condições de serviços médicos o
indivíduo vai a óbito (VILLAS-BÔAS, 2008; MARTIN).
A mistanásia pode ser classificada em: mistanásia por omissão, sendo esta o não atendimento
de pacientes no local e momento correto, levando-o a uma morte dolorosa; mistanásia por
imperícia, é quando o médico deixa de diagnosticar determinada enfermidade que poderia ser
ter sido tratada levando a cura do paciente porque se descuidou da sua atualização, levando o
indivíduo a ter uma morte sofrida e precoce; mistanásia por imprudência, consiste no ato
médico de prescrever tratamentos paliativos inadequados a pacientes sem realizar devidos
exames, visto que, não quer perder tempo com mesmo levando o paciente a sofrimento
desnecessário e por fim, mistanásia por negligência, quando o médico descuida do seu
paciente terminal ou crônico devido a preguiça e/ou cansaço, levando este a uma morte
miserável (VILLAS-BÔAS, 2008; MARTIN).
No Brasil o atual Código Penal não especifica o crime da eutanásia. O médico que tira a vida
do seu paciente por compaixão comete o homicídio simples, tipificado no artigo 121, sujeito a
pena de 6 a 20 anos de reclusão, ferindo ainda o princípio da inviolabilidade do direito à vida
assegurada pela Constituição Federal (BRASIL, 1988).
Independentemente da forma de eutanásia, ela é considerada um assunto controverso, onde
estão relacionados temas como religião, ética, exercício da profissão médica e questões legais,
tendo sempre em conta o valor da vida humana.
2. Objetivo
Sendo a eutanásia um tema polêmico e de grande repercussão tanto no âmbito científico como
no social, a finalidade da pesquisa é abordar e analisar as opiniões de indivíduos pertencentes
às áreas de formação em saúde (médicos) e humana (direito).
3. Material e Métodos
Um questionário (Figura 1), contendo 4 (quatro) questões qualitativas com respostas
dicotômicas (sim ou não), foi aplicado a 40 (quarenta) médicos atuantes em hospitais de
médio porte da cidade de Belo Horizonte e 40 (quarenta) estudantes de direito divididos entre
7º e 9º período da Faculdade de Minas – FAMINAS/BH. Os dados foram quantificados e
tabulados para posterior análise.
Figura 1 – Questionário aplicado para médicos e alunos de Direito.
PESQUISA DE OPINIÃO
Prezado entrevistado,
Este questionário tem como objetivo a obtenção de opiniões a respeito do tema Eutanásia,
com a finalidade de análise e compilação de dados para a formulação de artigo para fins de
publicação. A participação na pesquisa é voluntária e o consentimento à sua participação
pode ser retirado a qualquer momento. Os dados obtidos nesta pesquisa serão expressos
somente através das respostas dos profissionais, não havendo divulgação de qualquer
informação pessoal e nem o uso de imagens. Este questionário não trará ao participante
qualquer tipo de exposição ou risco.
Por favor, leia o texto abaixo e responda as perguntas que se seguem.
A Eutanásia é enquadrada em muitas legislações atuais e éticas médicas mundiais,
consistindo na prática da morte, visando atenuar os sofrimentos do enfermo e de seus
familiares, haja vista a sua inevitável morte, sua situação incurável do ponto de vista médico.
()
1. Você é a favor do uso da Eutanásia como forma de aliviar o sofrimento de um doente?
( ) Sim ( ) Não
2. Você considera que o médico sempre deve prolongar a vida do paciente, independente da
sua situação clínica, até ocorrer uma morte natual?
( ) Sim ( ) Não
3. Caberia ao médico a decisão de eutanásia no paciente?
( ) Sim ( ) Não
4. Você consideraria a Eutanásia um crime quando realizada em comum acordo entre
médicos, paciente e familiares?
( ) Sim ( )Não
4. Resultados e Discussão
A partir dos questionários obtidos, foram computadas as respostas, expressas em termos
absolutos, dadas pelos médicos e pelos estudantes de Direito, que são mostrados na Figura 2.
Figura 2 – Respostas obtidas entre médicos e estudantes de Direito.
Questões
Médicos Estudantes de Direito
SIM NÃO SIM NÃO
1. Você é a favor do uso da Eutanásia
como forma de aliviar o sofrimento de
um doente? 25 15 21 19
2. Você considera que o médico sempre
deve prolongar a vida do paciente,
independente da sua situação clínica,
até ocorrer uma morte natural?
15 25 17 23
3. Caberia ao médico a decisão de
Eutanásia no paciente? 21 19 1 39
4. Você consideraria a Eutanásia um
crime quando realizada em comum
acordo entre médicos, paciente e
familiares?
17 23 13 27
De acordo com a Figura 3A, 62% dos médicos são a favor da prática da eutanásia como
método para abreviar sofrimento do paciente terminal enquanto que 52% dos estudantes de
Direito compartilham da mesma opinião (Figura 3B). Embora não exista grande diferença
entre as opiniões dos dois grupos analisados, a classe médica parece expressar uma opinião
diferente daquela instituída pelo juramento médico (Juramento de Hipócrates), no qual é
jurado não dar, por comprazer nenhum remédio mortal ou conselho que induza a perda
(CREMESP). Entre os estudantes de Direto, parece não haver um consenso tão claro quanto
no grupo dos médicos quanto à opinião sobre a prática da Eutanásia.
Figura 3 – Opiniões sobre a prática da Eutanásia como forma de alívio do sofrimento do
paciente.
Dentre os médicos entrevistados, 62% dos médicos acreditam que não cabe a eles o
prolongamento da vida do paciente (Figura 4A). Em hipótese, acredita-se que, devido aos
médicos estarem presentes o tempo todo com o paciente terminal, vendo seu sofrimento e de
seus familiares, eles acabam por aceitar a morte do paciente como uma forma de aliviar o seu
sofrimento, uma morte misericordiosa e sem dor. Em contrapartida, 38% médicos são a favor
do prolongamento da vida do paciente, reforçando que, indiferente de seu estado de saúde,
deve-se manter a vida até que ocorra a morte natural, o que corrobora com os princípios éticos
da profissão médica, que tem como premissa lutar pela vida e utilizar todos os recursos
disponíveis para promover o prolongamento da vida até que esta não seja mais possível e a
morte seja inevitável. Entre os estudantes de Direito, Figura 4B, 58% também concordam que
o médico não deve prolongar a vida do paciente. Pressupõe-se que esta opinião é devida a
uma visão voltada para o sentimentalismo, visando o bem estar do paciente e sua
tranquilidade em momento terminal.
Figura 4 – Opiniões sobre a obrigação do médico em prolongar a vida do paciente,
independente da sua condição clínica.
Quando questionados sobre a responsabilidade do médico em decidir quando da realização da
Eutanásia, 52% dos médicos entrevistados (Figura 5A) acreditam que caberia tomar essa
decisão. Era esperado que um número maior de médicos não assumisse, exclusivamente, a
62%38%
Médicos
Sim
Não
52%48%
Estudantes de Direito
Sim
Não
38%62%
Médicos
Sim
Não
42%58%
Estudantes de Direito
Sim
Não
A B
b
B
B
B
A B
b
B
B
B
responsabilidade dessa escolha, a qual poderia ser compartilhada com a família e o próprio
paciente (quando em condições) para a tomada dessa decisão. De maneira significativa, 98%
estudantes de Direito apresentarem-se contra a decisão da eutanásia ser tomada pelos médicos
(Figura 5B). Em hipótese, esse dado pode ser explicado pelo fato de que os estudantes de
Direito tendem a considerar, principalmente, os aspectos legais e sociais de maneira mais
expressiva do que os aspectos clínicos, considerado, principalmente, pela classe médica.
Figura 5 – Opiniões sobre a responsabilidade exclusiva do médico para a decisão da
realização da Eutanásia.
Na análise das opiniões a Eutanásia não deveria ser considerada um crime, quanto da
participação do médico, paciente e família mostrou que 58% dos médicos concordam com
essa condição enquanto que 42% ainda consideram esse procedimento um crime (Figura 6A).
Dentre os estudantes de Direito, um maior percentual dos entrevistados, 68%, não consideram
um crime a Eutanásia nessas condições. É importante ressaltar que, no Brasil, o atual Código
Penal não especifica o crime da Eutanásia. O médico que tira a vida do seu paciente por
compaixão comete o homicídio simples tipificado no artigo 121, sujeito a pena de 6 a 20 anos
de reclusão, ferindo ainda o princípio da inviolabilidade do direito à vida assegurada pela
Constituição Federal (BRASIL, 1988).
Figura 6 – Opiniões sobre a Eutanásia como um crime mesmo quando em concordância entre
médico, paciente e familiares.
52%48%
Médicos
Sim
Não
2%
98%
Estudantes de Direito
Sim
Não
A B
b
B
B
B
5. Conclusão
Considerando os dados obtidos na pesquisa realizada, observou-se que Eutanásia, embora seja
uma prática antiga, ainda é um tema polêmico e de grande divergência de opiniões entre os
grupos analisados. Faz-se necessária uma reflexão a cerca do tema e maior esclarecimento à
comunidade leiga e científica sobre esse procedimento. Ainda, é de grande importância a
existência de uma legislação com a finalidade de definir a realização desse procedimento
médico bem como estipular possíveis penas legais tanto quando da autorização ou proibição
da Eutanásia.
Referências
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Vida e Morte. Psicologia: Reflexão e Crítica, Rio de Janeiro, v. 16, n. 03, p. 475-482, out.
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42%58%
Médicos
Sim
Não
32%
68%
Estudantes de Direito
Sim
Não
A B
b
B
B
B
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Disponível em:
. Acesso em:
25 jun. 2014.
1
APLICABILIDADE DA NANOTECNOLOGIA EM DERMOCOSMÉTICOS EM
FARMÁCIA COMUNITÁRIA BELO HORIZONTE-MG
Maria Beatriz de Miranda ALMEIDA 1 ; Alberto Diego Costa JORGE 1 ; Aline Soares
CIRINO 1 ; Andréa Cecílio de OLIVEIRA'; Roberta Cristina ABREU 1 Professora
Orientadora Cássia Aparecida de OLIVEIRA 1
1Faculdade de Minas, FAMINAS-BH,
E-mail: [email protected]
RESUMO A nanotecnologia é um campo científico multidisciplinar que tem avançado rapidamente nos últimos ano s,
encontrando aplicações nas mais diversas áreas, desde setores de e n e r g i a e e l e t r ô n i c a até a indústria
farmacêutica . Considerando a necessidade de orientações sobre a aplicação de nanotecnologia na farmácia
comunitária, o objetivo deste estudo foi fazer um levantamento bibliográfico para discutir a importância e
aplicabilidade da nanotecnologia em produto s fam1acêuticos e cosméticos de uso tópico e possívei s orien-
tações na dispensação de produtos dermocosméticos em farmácia comunitária. Conclui-se que esta tecno-
logia possui um custo mais elevado se comparado a um me smo produto sem a nanopartícula, mas, quando
se considera a efetividade do tratamento final, os benefícios decorrentes e a seguridade, justificam o inves-
timento.
PALAVRAS-CHAVE: Nanotecnologia. Dermocosméticos. Ciclodextrinas. Nanopartícula
Abstract
Nanokchnology is a multidisciplinary scicntific ficld that has advanccd rapidl y in r.:ccnt y.:ars. tinding
applications in severa! areas, from the energy nnd electronics to phnrma ceutical s. Considering the need of
the application uf nanoteclmolugy in the community pharmacy. lhe aim of lhis sludy was lo rcview lhe
literature to discuss the importance and applicability of nanotechnology in pharrnaceutical and cosrnetic
top1cal and possible guidclincs in thc dispcnsation ofskin cosmetics in communily pharmacy. Wc concludc
that thi s tcchnology ha s a higher cost compared to the same product without lhe nanoparticlc, but when
considering lhe effectivcness of the final trealment , the benetits and security, justify tht! investment. KEYWORDS: Nanolechnolugy. Dermocosmetics. Cyclodt!xlrins. Nanoparticle.
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1 Introdução
A pele é um órgão que reveste a superfície corporal e encontra-se organizada em três
camadas: epiderme, derme e hipoderme. A permeabilidade da pele é um dos fatores
que impedem uma maior difusão da via cutânea na administração de medicamentos
dermatológicos, pois, a penetração de um fám1aco, condicionada em grande parte
por suas características físico-químicas, viabiliza a absorção capilar (LIMA, 200 L).
A epiderme é a camada mais externa da pele e é dividida em subcamadas, no sentido
do meio externo para mais interno, têm-se estrato córneo, camada granulosa, camada
Espinosa e camada basal; sendo esta camada responsável pela proliferação celular e
suprimento de células para demais camadas. Possui tipos celulares mais diferenciados
como os melanócitos (células produtoras de melanina que confere pigmentação à pe-
le), células de Langerhans(células móveis e dentrídicas responsáveis pela imunovigi-
lância cutânea) e células de Merkel (células que possuem função neuroendócrina)
(MELDAU, 2004).
A derme constitui a camada intermediária da pele e é constituída de tecido conjuntivo,
possui superfície externa irregular, podendo ser observadas saliências, denominadas
papilas dérmicas, as quais são acompanhadas pelas reentrâncias correspondentes da
epiderme. Estas aumentam a área de contato entre duas camadas da pele, através da
junção de fibrilas especiais de colágeno, auxiliando na fixação da derme à epiderme,
além de facilitar a nutrição das células da epiderme, pelos vasos sanguíneos presente na
derme reticular. A junção dermo- epidérmica toma-se mais retilínea com o envelheci-
mento, o que também contribui para a flacidez observada neste processo (SAMPAIO,
2001).
A segunda camada da derme é mais espessa, formada por tecido conjuntivo denso .
Possui fibroblastos que produzem fibras de colágeno e elastina, responsáveis, em par-
te, pela elasticidade da pele. Encontram-se também nesta camada, vasos sanguíneos,
nervos, folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas (EDISON, 2002).
A hipoderme é a camada mais interna da pele constituída por tecido conjuntivo frouxo
e adiposo. Este tecido apresenta funções como: reserva energética, isolamento térmico,
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modela à superfície corporal, absorção de choques e preenchimento (MELDAU, 2004).
A permeação cutânea pode ser alterada por métodos físicos (iontoforese, ultrassom e
massagem); químicos (substâncias carreadoras, promotores químicos) e biológicos
(enzimas). Os promotores químicos, como por exemplo lecitinas de soja, polialcoois,
dimetilsufóxido, materiais microparticulados (lipossomas, nanopartíiculas, micropartí-
culas); conseguem alterar significativamente a penetração de substâncias através da
epiderme. Estes devem ser seguros, não tóxicos, farmacologicamente inertes, não irri-
tantes e não alergênicos. Além disso, o tecido deve retomar sua integridade normal e
propriedades de barreira quando o promotor for removido (CORNELIO, 2007).
O setor de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos tem mostrado grande
expansão no mercado mundial e é considerado um bom foco de investimento. O Brasil
possui ainda grande potencial de crescimento tendo como características: ser fonte de
princípios ativos e insumos (principalmente os de origem natural), propiciar oportuni-
dade para o uso de novas tecnologias com intuito de aumentar produtividade e eficá-
cia dos produtos, apresentar constante aumento do consumo e de avanços na área regu-
latória (BENTLEY, 2008).
Considerando a necessidade da aplicação de nanotecnologia na farmácia comunitária,
o objetivo deste estudo foi fazer um levantamento bibliográfico para discutir a impor-
tância e aplicabilidade da nanotecnologia em produtos farmacêuticos e cosméticos de
uso tópico e possíveis orientações na dispensação de produtos dermocosméticos em
farmácia comunitária.
2 Material e Métodos Este estudo consiste em uma pesquisa bibliográfica, onde, foi realizada uma análise
teórica embasada em livros, artigos, revistas especializadas e sites. Visando buscar
informações sobre a nanotecnologia aplicada em dermocosméticos, para evidenciar o
panorama da nanotecnologia e verificar as principais aplicações e as vantagens que são
capazes de oferecer aos produtos que utilizam essa tecnologia, e então relacioná-las
com possíveis orientações de dispensação em fam1ácia comunitária.
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A pesquisa bibliográfica teve como finalidade o conhecimento das distintas formas de contribuição científica que se realizam sobre detem1inado fenômeno ou assunto. Os produtos cosméticos contendo nanotecnologia são bons representantes da tendência
tecnológica que continuam crescendo na área da beleza.
3 Resultado e Discussão A nanotecnologia é um campo científico multidisciplinar que tem avançado rapida-
mente nos últimos anos, encontrando aplicações nas mais diversas áreas, desde seto-
res de energia e eletrônica até a indústria farmacêutica. O princípio dessa nova ciên-
cia é que os materiais na escala nanométrica podem apresentar propriedades químicas,
físico-químicas e comportamentais diferentes daquelas apresentadas em escalas mai-
ores. Essas propriedades dos nanomateriais já estão sendo exploradas industrialmente
com a fabricação de novos cosméticos, medicamentos, tintas, catalisadores, revesti-
mentos, tecidos (BERGMANN, 2008).
Embora o conceito de sistemas de liberação de fármacos não seja novo, um grande
progresso tem sido alcançado em virtude das tecnologias tratamento de várias de do-
enças (RIEUX, 2006).
As nanopartículas apresentam aplicações potenciais na administração de substâncias
terapêuticas como objetivo de aumentar a eficiência do transporte de fám1acos, me-
lhorarem os perfis de liberação e proteger o ativo de possíveis danos como a oxidação
pela luz (MONTAS SER, 2000).
Em geral, são caracterizadas por possuir uma alta superfície de contato e um grande
número de partículas por unidade de peso. Para a formação de nano partículas, a
área de superfície por unidade de peso da partícula aumenta 10² vezes quando a partí-
cula é reduzida de 1µm para 10nm e o número de partículas por peso aumenta 106
vezes. Com isso, as propriedades originais do material bruto, como, por exemplo,
a temperatura de fusão e a solubilidade, também se modificam (MONTASSER,
2000).
As nanopartículas poliméricas são sistemas utilizados para encapsulamento de fárma-
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cos e liberação controlada que pode apresentar estruturas e formas diferenciadas: mi-
croesfera, microcápsula simples, microcápsula simples irregular , microcápsula de duas
paredes, microcápsulas com vários núcleos e agrupamento de microcápsulas (CAR-
VALHO, 20 12).
Os lipossomas são vesículas microscópicas formadas por uma ou ma1s camadas con-
cêntricas de lipídeos, que se organizam espontaneamente em meio aquoso. Ampla-
mente utilizados na indústria cosmética e farmacêutica. Devido à sua flexibilidade es-
trutural, os lipossomas podem encapsular materiais hidrofóbicos, hidrofílicos e anfifili-
cos, de acordo com a sua composição lipídica. Essas esferas orgânicas são capazes
de conduzir agentes ativos a camadas profundas da epiderme, conferindo aos ativos
alto poder de hidratação e nutrição da pele. Entre várias outras substâncias, os lipos-
somas são notadamente, veículos para vitaminas e fármacos de ação tópica, como anti-
inflamatórios e antifúngicos (BETINA, 2012) .
As nanocápulas possuem suas dimensões reduzidas, as quais permitem mator penetra-
ção dos ingredientes ativos na pele (BETINA, 20 12).
A utilização de micro e nanopartículas em cosméticos permitem a proteção, o trans-
porte e a liberação dos ativos para uma camada específica da pele. Além disso, os
ativos podem ser liberados de maneira gradativa, prolongando seu período
de ação. As nanopartículas, embora mais finas que um fio de cabelo, protegem o
material envolvido e mantém suas propriedades intactas, diminuindo, assim, os riscos
de degradação e perda de eficiência causados pela exposição ao sol e ao calor (SAN-
TOS, 2013).
Com base nas características decorrentes do tamanho diminuto, as nanopartículas con-
tendo substâncias ativas são utilizadas com a intenção de melhorar sua funcionalida-
de, como, por exemplo, melhorar a disponibilidade ou estabilidade quando comparada
com o mesmo material na forma molecular (MONTAS SER, 2000).
3.1 Aplicabilidade da Nanotecnologia Diferentes aplicações terapêuticas das nanopartículas têm sido estudadas, principal-
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mente para administração pelas vias parenteral, oral e tópica. Dentre as vantagens da
utilização de nanopartículas incluem a liberação controlada e/ou prolongada da subs-
tância nelas encapsuladas, a redução de efeitos adversos associados à substância, a pro-
teção de compostos da inativação antes de atingirem o local de ação, o aumento da
penetração intracelular e o aumento da atividade farmacológica (STYLlOS, 2005).
Muitos ativos naturais pesquisados ultimamente são compostos instáveis, podendo so-
frer reações que levam à diminuição ou perda de eficácia e até mesmo a degradação
do produto. Por isso, novas tecnologias vêm sendo propostas para melhorar o de-
sempenho dos produtos cosméticos e sua aceitação pelo consumidor. Uma alternativa
para aumentar a estabilidade e, ainda, permitir a liberação controlada é o encapsula-
mento das substâncias ativas através de técnicas que envolvem a nanotecnologia
(BERGMANN, 2008).
Adicionalmente, a nanoencapsulação de princípios ativos com propriedades antioxidan-
tes, os quais são muito utilizados em produtos dennocosméticos , pode aumentar a
sua atividade e prolongar a liberação dos mesmos, aumentando assim a sua eficácia . A
nanotecnologia também tem sido utilizada no desenvolvimento de formulações cosmé-
ticas mais estáveis, mais eficazes e com sensorial cosmético diferenciado (BENTLEY,
2008) .
3.1.1 Aplicabilidade das Ciclodextrinas As propriedades das ciclodextrinas constituem uma motivação crescente para a des-
coberta de novas aplicações, somadas às diversas utilizações já desenvolvidas nas
indústrias farmacêuticas, químicas, de alimentos, cosméticos, dentre outras (SANTOS ,
2011).
A microencapsulação é o processo pelo qua1s pequenas quantidades de líquidos, sóli-
dos ou gases são cobertas com material que se constitui em barreira para o ambiente
e/ou reações químicas, como aquecimento, oxidações e outras. As Ciclodextrinas
(CD's) são oligossacarídeos cíclicos formados por moléculas de D-glicose unida através
de ligações glicosídicas obtidas a partir da degradação enzimática do amido. A encap-
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sulação e o controle de aromas e fragrâncias têm revolucionado as indústrias de fra-
grâncias e alimentos (SANTOS, 2011).
De acordo com Tubiano e Lacourse, citados por Cardello e Celestino ( 1996) o bom
agente encapsulante deve apresentar as seguintes propriedades: estabilidade em emul-
são, boa capacidade de fom1ação de película, baixa higroscopicidade , baixa viscosi-
dade, gosto suave, ausência de aroma e baixo custo. As ciclodextrinas apresentam as
seguintes vantagens no que diz respeito à encapsulação molecular: podem encapsular
grande número de compostos; apresentam modificações vantajosas nas propriedades
físicas e químicas das moléculas encapsuladas e o método utilizado é barato e simples.
A indústria de cosméticos e a indústria farmacêutica utilizam a formação de comple-
xos de ciclodextrinas com o objetivo de melhorar as características do produto final
(solubilidade, estabilidade e fotoestabilidade), assim como para facilitar a absorção
e liberação dos princípios farmacologicamente ativos (MONTAS SER, 2000).
3.1.2 Nanotecnologia em Produtos com Vitamina C Tópica A vitamina C é um poderoso antioxidante, do mesmo modo que aumenta a resistência
do organismo às infecções, protege a pele contra a ação dos radicais livres . A vita-
mina C possui a função de estimular a formação do colágeno (fibra que compõe
80% da derme e garante a firmeza da pele) (STEINER, 2006).
Como a vitamina C é uma molécula facilmente oxidável e que necessita de maior
índice de permeação cutânea, uma forma de minimizar estas dificuldades a indústria
farmacêutica e cosmética têm utilizado a nanotecnologia . Ela pode ser encapsulada
em Lipossomas, Talasferas, Nanosferas, Glicoesferas, sendo diferenciadas pelo tama-
nho e pela constituição da partícula. Essas diferenças são importantes, pois quanto
menor o tamanho da partícula, maior será o índice da permeação da Vitamina C. Ge-
ralmente as farmácias de manipulação têm a disposição as Talaspheres de Vitamina C,
que é uma forma esférica, composta de uma cobertura orgânica, que em contato com
a pele sofre ação de enzimas, as quais degradam essa cobertura gradativamente e vai
liberar lentamente a vitamina C na pele.
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As outras fonnas nanoparticuladas disponíveis no mercado (microcápsulas, glicosferas,
etc) atuam de forma semelhante, mas com diferenças, quanto ao teor de vitamina C
disponível sendo a que oferece melhor disponibilidade é a Nanoesfera, por se tratar de
uma esfera flexível (OLIVEIRA, 2011).
3.3 Mercado de Nanocosmético e Nanotecnologia O mercado global vem passando por períodos de grandes competições científicas e tec-
nológicas, principalmente após a nanociência e a nanotecnologia terem sido reconhecidas
como uma tendência chave na ciência e tecnologia do século XXI, o que tem ocasionado
um aumento nos recursos humanos e financeiros na indústria mundial. A National Science
Fundation estima que a nanotecnologia alcance um impacto na economia global de cerca
de 1 trilhão de dólares até 2015, requerendo aproximadamente dois milhões de trabalhado-
res (RAMOS et ai, 2008).
O MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e inovação) lançou em agosto de 2013 um
programa que prevê o investimento de R$ 450 milhões em dois anos para estimular a liga-
ção entre universidade e empresa na área da nanotecnologia. A ideia é permitir que em-
presas possam desenvolver produtos com estruturas complexas da ordem de milionésimos
de milímetro a escala dos átomos e moléculas (GARCIA, 2013).
Foi criado o Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologias (SisNano) (Brasília,
2013) e de acordo com este documento, o SisNano deve "estruturar a governabilidade"
para as nanotecnologias; desenvolver um programa de mobilização de empresas instaladas
no Brasil e de apoio às suas atividades. Dos recursos já empenhados no programa do
MCTI, R$ 150 milhões são para o ano fiscal de 2013, e outros R$ 300 milhões para o de
2014. Dos recursos deste ano, R$ 38,7 milhões serão distribuídos para o SisNano (Siste-
ma Nacional de Laboratórios em Nanotecnologia), que reúne 26 centros de pesquisa es-
palhados pelo país. A Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) receberá mais R$ 30
milhões e o restante será distribuído entre entidades diversas. Em 2014, a recém-criada
Embrapii (Empresa Brasileira para Pesquisa e Inovação Industrial) deve receber R$ 30
milhões (GARCIA, 20 13).
O Brasil tem interesse estratégico em três outros mercados os qua1s são: produtos far-
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macêuticos, químicos e cosméticos, seja pelas dimensões e demanda de seu mercado in-
terno (setor quimiofarmacêutico ), seja pela existência de grandes grupos empresariais na-
cionais (setores químico e de petróleo e gás natural) ou ainda pela sua mega biodiversidade
(setor farmacêutico e de higiene e cosméticos). Nesses mercados, a nanotecnologia e a
nanociência podem contribuir com importantes inovações a serem incorporadas durante
as próximas décadas (ABDI, 20 l 0).
De acordo com um levantamento feito na base de dados Web of Science, o número de publicações incluindo concomitantemente o radical "nano" e a palavra "skin" aumentou
12 vezes da década de 1990 para a década de 2000, sendo que só no ano de 20 12 foram
mais de mil artigos publicados envolvendo o tema. Jw1tamente com o investimento de al-
gumas empresas nessas tecnologias, o surgimento de indústrias brasileiras que nano encap-
sulam ativos para fornecimento ao mercado cosmético possibilitou um maior acesso à
nanotecnologia até mesmo por indústrias cosméticas de menor porte. Esse crescimento
impulsiona o mercado e faz com que cresçam também os investimentos em testes de eficá-
cia e segurança dos produtos, fortalecendo o mercado de nano cosmético no Brasil e no
mundo (DAUDT, 2013).
3.4 Farmácias Comunitárias e Dermocosméticos Atualmente, a nanotecnologia voltada para dermocosmético tem como foco, sobretudo, os
produtos destinados à aplicação na pele do rosto e do corpo, com ação antienvelhecimento
e de fotoproteção (BENTLEY, 2008).
Na farmácia comunitária são dispensados vários medicamentos que possuem sistema na-
noestruturados, particularmente utilizando ciclodextrinas e lipossomas. A escolha do tipo
de nanopartícula a ser utilizada como sistema de liberação controlada recairá, principal-
mente, sobre sua biodegradabilidade, biocompatibilidade , compatibilidade física e química
com a droga, e a via de administração a ser utilizada . Os sistemas de liberação controlada
de fármacos apresentam várias vantagens em relação aos sistemas convencionais, tais co-
mo maior controle da liberação do princípio ativo, contribuição para minimizar a possibili-
dade de alcançar doses tóxicas ou subterapêuticas; utilização de menor quantidade do prin-
cípio ativo, resultando em menor custo; maior intervalo de administração; melhor aceitação
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do tratamento pelo paciente; possibilidade de direcionamento do princípio ativo para seu
alvo específico. Dentre as desvantagens que devem ser monitoradas e contornadas durante
o desenvolvimento desses sistemas são a possível toxicidade dos produtos da sua biode-
gradação, e custo mais elevado, dependendo do material e do processo utilizado . Este, no
entanto, pode ser compensado pela redução das doses necessárias (BERGMANN, 2008).
As nanoestruturas são verdadeiros reservatórios que controlam a profundidade de pene-
tração do cosmético na pele e a velocidade com que o ativo será liberado, concentra-
ções dos ativos liberadas gradualmente não vão atingir limites tóxicos e permitem um
fornecimento constante às diferentes camadas da pele. A consequência dessa forma de
ação é mais eficácia com menores doses (BENTLEY, 2008).
No entanto a farmácia comunitária possui um papel importante para as distribuições
destes medicamentos com esta nanotecnologia e é imprescindível que os conswnido-
res recebam todas as orientações correspondente no que diz respeito aos benefícios na
utilização dos mesmos.
4 Conclusão Como a nanotecnologia vem crescendo muito nas últimas décadas e consequentemente
conquistando mais espaço no mercado, observam-se mais estudos e regulamentações .
As tendências de mercado com esta nova tecnologia pelas indústrias cosméticas estão
em pleno crescimento o que permite a chegada ao mercado de produtos com melhor
sensorial e maior efetividade. Logo, a dispensação de dermocosméticos, que utilizam a
nanotecnologia , em farmácias comunitárias está sendo mais frequentes, por apresenta-
rem os seguintes benefícios: controle da liberação do princípio ativo, diminuição do
efeito tóxico e doses subterapêuticas; utilização de menor quantidade do princípio ati-
vo, maior intervalo de administração; melhor aceitação do tratamento pelo paciente;
possibilidade de direcionamento do princípio ativo para seu alvo específico. Como
estes produtos normalmente possuem um custo mais elevado faz-se necessário prestar
maiores esclarecimentos aos consumidores informando que deve ser considerado o
tratamento final e não somente o custo inicial e que os benefícios e maior segurança,
11
justificam o investimento.
5 Referências Bibliográficas Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Estudo Prospectivo Nanotec-
nologia ABDI. Série Cadernos da Indústria Volume
XX. Disponível em: < http://www.abdi.com.br
/Estudo/Estudo%20Prospectivo%20de%20Nanotecnologia.pdf > Acesso:
out 2013.
http://www.abdi.com.br/http://www.abdi.com.br/
lO
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BENTLEY, Maria Vitória; Portal do envelhecimento. Beleza fundamentada Grupo de
pesquisadores em conjunto com empresas prepara nanocosméticos com aplicações varia-
das . Programa Equipamentos Multiusuários- USP. Pesquisa Fapesp- Edição Impressa
146- Abril 2008 Disponível em: . Acesso: out 2013.
BERGMANN, Bartira Rossi; A Nanotecnologia: da Saúde para além do Determinismo
Tecnológico. On-line version ISSN 2317-6660.Cienc. Cult. vol.60 no.2 São Paulo 2008.
Disponível em:< http://cienciaecultura.bvs.br/scielo > .Acesso em: out 2013.
CARVALHO, Cláudia. Nanotecnologia em cosméticos. Cosmetics & Toiletries, vol. 24,
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