RISCOS E ALTERNATIVAS PARA O ABASTECIMENTO DE ÁGUA
EM UMA REFINARIA DE PETRÓLEO
ESTUDO DE CASO: REFINARIA DUQUE DE CAXIAS - REDUC
André Rotstein Schor
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM
ENGENHARIA CIVIL
Aprovada por:
_________________________________________
Prof. José Paulo Soares de Azevedo, Ph.D.
_________________________________________
Prof. Paulo Canedo de Magalhães, Ph.D.
_________________________________________
Prof. José Antônio Fontes Santiago, D.Sc.
_________________________________________
Prof. Alexandre Salem Szklo, D.Sc.
_________________________________________
Prof. Airton Bodstein de Barros, D.Sc.
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
MARÇO DE 2006
ii
SCHOR, ANDRÉ ROTSTEIN
Riscos e Alternativas para o
Abastecimento de Água em uma Refinaria
de Petróleo. Estudo de Caso: Refinaria
Duque de Caxias - REDUC [Rio de
Janeiro] 2006
X. 102 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ,
M.Sc. Engenharia Civil, 2006)
Dissertação - Universidade Federal do
Rio de Janeiro, COPPE
1. Riscos e alternativas para o
abastecimento de água
I. COPPE/UFRJ II. Título (série)
iii
À minha família.
iv
AGRADECIMENTOS
Aos professores Paulo Canedo de Magalhães e José Paulo Soares de Azevedo, pela
orientação e ajuda na escolha e aprovação do tema desta dissertação.
A Roberto da Silva Amorim, pelas discussões, sugestões e auxílio na revisão da
dissertação.
A Fábio Augusto Parreira Reis e a Thais Murce Mendes da Silva, que me deram a
primeira oportunidade de trabalhar na área ambiental da Petrobras.
Aos colegas da Petrobras Distribuidora, que me permitiram continuar com o estudo em
2004, em especial Paulo César Toledo Meirelles e Pedro Henrique Salgado Chrispim.
Aos colegas Bruno Moczydlower, Jander Duarte Campos, Luiz Paulo Canedo de
Magalhães e Eduardo dos Santos Pimenta, pelas discussões, idéias e apoio durante o
curso.
Aos professores do curso de mestrado da Área de Recursos Hídricos e do Programa de
Planejamento Energético da COPPE, pelos ensinamentos e conhecimentos transmitidos.
À Refinaria Duque de Caxias – REDUC, na pessoa de Antônio Carlos da Silva Lopes,
por possibilitar o desenvolvimento do estudo de caso aqui apresentado.
Finalmente, às minhas queridas Taísis Passos Bloomfield, Julia Bloomfield Coelho e
Isadora Bloomfield Coelho, pela paciência e pelo carinho.
v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
RISCOS E ALTERNATIVAS PARA O ABASTECIMENTO DE ÁGUA EM UMA
REFINARIA DE PETRÓLEO. ESTUDO DE CASO: REFINARIA DUQUE DE
CAXIAS - REDUC
André Rotstein Schor
Março/2006
Orientadores: Paulo Canedo de Magalhães
José Paulo Soares de Azevedo
Programa: Engenharia Civil
Nesta dissertação pretende-se levantar o histórico de uso de água na Refinaria
Duque de Caxias – REDUC, apresentar a disponibilidade hídrica da instalação em
estudo e identificar alternativas complementares ao abastecimento de água da refinaria,
quais sejam: a regularização da vazão e a manutenção da qualidade da água no
reservatório do rio Saracuruna, corpo hídrico responsável por cerca de 83% da água
consumida pela REDUC, e, portanto, extremamente estratégico; a racionalização do uso
da água no processamento do petróleo; o uso de águas pluviais; a reciclagem de efluente
industrial; o reúso de esgoto sanitário municipal; a dessanilização de água do mar; a
captação e uso de águas subterrâneas; e o crédito de água.
Esta dissertação busca apresentar a importância da inclusão da água - recurso
fundamental para o refino de petróleo - no planejamento estratégico da REDUC com
vistas à sustentabilidade.
vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
WATER SUPPLY RISKS AND ALTERNATIVES IN AN OIL REFINERY
CASE OF STUDY: REFINARY DUQUE DE CAXIAS - REDUC
André Rotstein Schor
March/2006
Advisors: Paulo Canedo de Magalhães
José Paulo Soares de Azevedo
Department : Civil Engineering
The purpose of this dissertation is to show the water supply history of the
Refinery Duque de Caxias – REDUC, to present its water supply and to identify
complementary alternatives for its water supply, such as: regularization and
maintenance of the water flow and quality in the reservoir of the river Saracuruna,
responsible for approximately 83% of the water consumed by REDUC, and, therefore,
extremely strategic; water rationalization projects for the oil processing; rain water use;
industrial effluent recycling; domestic wastewater reuse; seawater desalinization;
groundwater use; and water credits.
This dissertation has the objective of including water management – essential
resource for an oil refinery - in REDUC’s strategic planning, looking after the
sustentability.
vii
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1 A Situação dos Recursos Hídricos no Mundo.................................................. 1 1.2 A Situação dos Recursos Hídricos no Brasil .................................................. 10
2 OBJETIVO ........................................................................................................... 17
3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO .......................................................................... 18
4 FONTES DE INFORMAÇÃO ............................................................................ 19
5 O CONSUMO DE ÁGUA EM UMA REFINARIA DE PETRÓLEO............. 20
5.1 O Benchmarking Internacional....................................................................... 20 5.2 O Consumo de Água na REDUC ................................................................... 23
6 AS PRINCIPAIS AMEAÇAS À ESTABILIDADE HÍDRICA DA REDUC.. 27
6.1 O Crescimento Econômico da Baixada Fluminense ...................................... 27 6.2 O Crescimento Econômico de Duque de Caxias............................................ 29
7 RACIONALIZAÇÃO DE DEMANDA POR ÁGUA........................................ 32
7.1 A Demanda da REDUC.................................................................................. 32 7.2 Racionalização do Uso de Água..................................................................... 33 7.3 Reciclagem de Efluentes Industriais .............................................................. 36 7.4 Reúso de Esgoto Doméstico das Comunidades Vizinhas .............................. 49 7.5 Dessalinização da Água da Baía da Guanabara ............................................. 59 7.6 Captação e Uso de Água Subterrânea ............................................................ 64
8 RACIONALIZAÇÃO DE OFERTA DE ÁGUA............................................... 65
8.1 O Rio Guandu e a Região Metropolitana do Rio de Janeiro .......................... 65 8.2 A Disponibilidade de Água no Rio Saracuruna ............................................. 74 8.3 Aumento da Disponibilidade pelo Aumento da Regularização da Vazão do Rio Saracuruna ........................................................................................................... 79 8.4 Rio Saracuruna: A Regularização da Vazão e a Manutenção da Qualidade da Água 81 8.5 Uso de Águas Pluviais.................................................................................... 83
9 O CRÉDITO DE ÁGUA ...................................................................................... 91
10 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .......................................................... 94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 97
viii
Apêndice Siglas e Acrônimos
ix
SIGLAS E ACRÔNIMOS
ABES Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
ANA Agência Nacional de Águas
BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
CEDAE Companhia Estadual de Águas e Esgotos
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente
COPPE Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
CSN Companhia Siderúrgica Nacional
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DoE Departamento de Energia dos Estados Unidos
DQO Demanda Química de Oxigênio
ED Eletrodiálise
EDR Eletrodiálise Reversa
ETA Estação de Tratamento de Água
ETDI Estação de Tratamento de Despejos Industriais
ETE Estação de Tratamento de Esgoto / Efluente
FBDS Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
FCC Fábrica Carioca de Catalisadores
FEEMA Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
Furnas Furnas Centrais Elétricas S/A
IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
LABHID/COPPE/ Laboratório de Hidrologia e Estudos de Meio Ambiente da UFRJ COPPE/UFRJ
Light Light Serviços de Eletricidade S.A.
LUBNOR Lubrificantes e Derivados de Petróleo no Nordeste - CE
MBR Membrane Biologic Reactor
OD Oxigênio Dissolvido
OR Osmose Reversa
PETROBRAS Petróleo Brasileiro S.A
pH Potencial de Hidrogênio
PNMA Política Nacional de Meio Ambiente
PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
x
RECAP Refinaria de Capuava – SP
REDUC Refinaria Duque de Caxias – RJ
REFAP Refinaria Alberto Pasqualini – RS
REGAP Reginaria Gabriel Passos – MG
REMAN Refinaria Isaac Sabbá – AM
REPAR Refinaria Presidente Getúlio Vargas - PR
REPLAN Refinaria de Paulínia – SP
REVAP Refinaria Henrique Lage – SP
RF Resíduo Filtrável
RLAM Refinaria Landulpho Alves – BA
RNF Resíduo Não Filtrável
RPBC Refinaria Presidente Bernardes / Cubatão - SP
RMRJ Região Metropolitana do Rio de Janeiro
RT Resíduo Total
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SAI Social Accountability International
SDT Sólidos Dissolvidos Totais
SERLA Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas (RJ)
UNFCCC Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas
UFC Unidade Formadora de Colônias
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UHE Usina Hidrelétrica
USDI Departamento do Interior dos Estados Unidos UTE Usina Termelétrica VOC Compostos Orgânicos Voláteis WWI World Watch Institute
1
1 INTRODUÇÃO
1.1 A Situação dos Recursos Hídricos no Mundo
A água é um recurso essencial para a vida e sempre esteve diretamente ligada ao
desenvolvimento humano. Quando o homem primitivo deixou de ser nômade e passou a
se estabelecer em determinadas regiões, a água foi um dos fatores limitantes para sua
escolha, afinal, onde não há água não há vida e onde não há água não há agricultura e,
portanto, não há comida. Foi a partir daquela escolha que esse recurso passou a ter um
novo uso, a irrigação, iniciando um processo de novos desenvolvimentos e de usos
múltiplos.
Com o passar dos séculos, seu uso ganhou complexidade e tecnologia, passando a ser
cada vez mais importante para o desenvolvimento humano. Todavia, apesar da sua
importância, devido à sua grande disponibilidade em diversas regiões do Planeta,
imaginava-se que se tratava de um bem infinito, e, portanto, não havia a preocupação
com a sua conservação.
De fato, 77% da superfície terrestre são compostas por este recurso mineral
(REBOUÇAS, 2002). Entretanto, o que não era de conhecimento da população naquela
época, e até hoje ainda por muitos, é a forma como este insumo estava distribuído, e que
a água doce não era tão abundante como se imaginava.
Somente 2,5% de toda a água presente na Terra estão na forma doce, sendo os 97,5%
restantes, água salgada distribuída pelos mares e oceanos. Contudo, não é toda a água
doce que está facilmente disponível para o homem. Dos 2,5%, somente 0,3% está nos
rios e lagos, estando o restante da água doce sob a forma de geleiras nos territórios
Ártico e Antártico e debaixo do solo (SHIKLOMANOV apud TUNDISI, 2003). À luz
destas informações, pode-se entender o porquê da importância do uso racional desse
bem coletivo.
2
Além de escassa, a água não está distribuída no Planeta em consonância com a
distribuição da população, ou seja, a sua distribuição não é homogênea. A Tabela 1,
abaixo, apresenta a forma como este recurso está presente nos continentes.
Tabela 1 Distribuição do suprimento renovável de água por continente
Região Média anual: drenagem (km3)
Porcentagem da drenagem global
Porcentagem da População global
África 4.225 11 11
Ásia 14.215 37 64
Europa 2.129 5 10
América do Norte 5.960 15 8
América do Sul 10.380 27 6
Oceania 1.965 5 1
Mundo 38.874 100 100
Fonte: Adaptado de L’VOVICH, apud TUNDISI (2003).
A Ásia e a Europa são os continentes onde a distribuição da população se mostra mais
crítica. Quando combinamos a esta informação fatores de mau planejamento e gestão
dos recursos hídricos, tais como o desperdício, a poluição e a degradação de
mananciais, o problema se agrava ainda mais. O uso excessivo e sem um planejamento
prévio das águas subterrâneas, o lançamento de despejos domésticos e industriais em
mananciais causando contaminações e a urbanização desordenada em regiões de matas
ciliares contribuem para que países de diversos continentes se encontrem, atualmente,
em situação de escassez de água. A Tabela 2, a seguir, apresenta alguns exemplos de
países com escassez de água, o que significa dizer que o suprimento de água destes
países é menor que 1.000 m3 por pessoa por ano (TUNDISI, 2003).
3
Tabela 2 Países com escassez de água
Região/país Suprimento de
águas renováveis (m3/pessoa)
População (milhões)
Tempo de duplicação da
população (anos) África
Argélia 730 26,0 27
Botsuana 710 1,4 23
Burundi 620 5,8 21
Cabo Verde 500 0,4 21
Djibuti 750 0,4 24
Egito 30 55,7 28
Quênia 560 26,2 19
Líbia 160 4,5 23
Mauritânia 190 2,1 25
Ruanda 820 7,7 20
Tunísia 450 8,4 33
Oriente Médio
Bahrein 0 0,5 29
Israel 330 5,2 45
Jordânia 190 3,6 20
Kuait 0 1,4 23
Qatar 40 0,5 28
Arábia Saudita 140 16,1 20
Síria 550 13,7 18
Emirados Árabes 120 2,5 25
Iêmen 240 10,4 20
Outros
Barbados 170 0,3 102
Bélgica 840 10,0 347
Hungria 580 10,3 N.D.
Malta 80 0,4 92
Holanda 660 15,2 147
Singapura 210 2,8 51
População total 231,5
N.D. – Não Disponível
Fonte: POSTEL apud TUNDISI (2003)
4
Através da análise da Tabela 2, pode-se concluir que é fundamental e imprescindível
uma ação rápida e eficaz na tentativa de melhora das condições dos países em situação
crítica, e para evitar que novos países passem a fazer parte deste grupo.
Em 1992, Falkernmark estabeleceu uma classificação dos problemas relacionados ao
gerenciamento dos recursos hídricos, associados à competição pelo uso da água. Para
isso, Falkenmark criou uma unidade anual de fluxo, equivalente a um volume de um
milhão de metros cúbicos de água por ano, e a relacionou com o número de
consumidores e os problemas associados, conforme tabela abaixo (MIERZWA, 2002).
Tabela 3 Classificação dos problemas associados à competição pela água
Código Relação entre No de
Consumidores por Unidade de Fluxo
Problemas Associados ao Gerenciamento Hídrico
1 < 100 Sem problemas ou problemas limitados
2 100 – 600 Problemas gerais de gerenciamento
3 600 – 1.000 Grande pressão sobre os recursos hídricos
4 1.000 – 2.000 Escassez crônica de água
5 > 2.000 Além do limite de disponibilidade
Fonte: MIERZWA (2002).
Da tabela acima pode-se concluir que o que Falkenmark sugeriu é que quanto maior a
disponibilidade de água, menores os problemas associados ao gerenciamento hídrico.
Outro aspecto importante é que quanto menor a demanda, menores os problemas
associados ao gerenciamento hídrico. Trata-se de uma observação lógica e que sempre
existiu no mundo da economia, na lei de Oferta x Demanda.
A água, por ser um fator limitante para o desenvolvimento econômico de um país e de
uma região, pode resultar no subdesenvolvimento, quando escassa. Poucos países
encontraram uma saída para o desenvolvimento, mesmo sendo obrigados a conviver
com quantidades baixíssimas de água. Holanda e Israel são exemplos de sucesso, em
um grupo de países em que a maioria, infelizmente, não atingiu o mesmo resultado.
5
Mierzwa apresenta em seu trabalho de 2002 uma correlação entre o nível de riqueza das
diversas nações do Planeta e a disponibilidade hídrica por habitante daquelas nações,
dados apresentados no relatório anual do Banco Mundial. A tabela abaixo apresenta
dados interessantes.
Tabela 4 Relação entre o nível de receitas das nações e a disponibilidade de
recursos hídricos
Tipo de Economia Disponibilidade de Água (m³/hab.ano)
Economias com baixo nível de receita 4.119,63
Economias com nível médio-baixo de receitas 11.452,37
Economias com nível médio-alto de receitas 22.381,93
Economias com nível alto de receita 9.354,91
Brasil(1) 30.184,58 (1) Valor referente ao ano de 2025. Os demais valores referem-se ao ano de 1995.
Fonte: WORLD RESOURCES INSTITUTE (1998-1999) apud MIERZWA (2002).
Através da análise da tabela acima, nota-se que países com menor nível de receita
normalmente apresentam uma disponibilidade hídrica reduzida. Contudo é importante
alertar que a disponibilidade hídrica não é o único fator que leva uma determinada
nação a níveis elevados de desenvolvimento. Entretanto, sem sombra de dúvidas, trata-
se de um fator que influencia tal desenvolvimento, e que terá um peso cada vez maior
no futuro.
Quando se considera a principal forma de uso de água no planeta, a irrigação, é que se
percebe como a falta deste insumo pode provocar a fome e o subdesenvolvimento de
uma região. Segundo Mancuso (2003), 65% de toda água consumida no Planeta têm
como principal uso a irrigação, 25% tem como usuário o sistema industrial, e os
restantes 10% são consumidos no meio urbano. Segundo Tundisi (2003), na Ásia, essa
proporção é ainda maior, já que naquele continente, 85% da água consumida têm como
principal usuário o sistema de irrigação. Já na África, o percentual referente à
agricultura sobe para 88%. Ou seja, nas regiões onde se encontra a maior parte dos
países em situação de escassez de água é onde o uso de água é mais voltado para
6
agricultura. A dependência hídrica daqueles países, devido ao grande consumo pela
irrigação pode estar contribuindo ainda mais para a escassez.
Quando se analisa a Tabela 1, nota-se que 48% da drenagem global encontram-se nos
continentes africano e asiático, onde o desenvolvimento econômico e o saneamento
básico são menores, quando comparado com América do Norte e Europa, e onde há o
maior uso na irrigação. Já nas regiões onde o consumo de água pelas indústrias é maior,
como América do Norte e Europa, a quantidade de países em condição crítica é menor.
Isto mostra que a agricultura ainda é uma consumidora de água não eficiente e
altamente “exploratória”.
Ao se considerar nesta análise o fator população, e, por conseguinte, a disponibilidade
hídrica por pessoa, os dados ainda são mais preocupantes. Uma família canadense
consome cerca de 350 litros de água por dia, enquanto que uma família da África
consome, em média, 20 litros por dia. No Brasil, o consumo médio per capta é de 200
litros por dia (TUNDISI, 2003). Segundo um estudo realizado pela McGill University
(TUNDISI, 2003), uma pessoa necessita de no mínimo 30 litros de água por dia para
beber, cozinhar e para a sua higiene pessoal. A partir desta informação, chega-se à triste
constatação e comprovação da situação crítica que se encontram os países africanos,
onde a irrigação ainda é a principal consumidora de água.
No ano 2000, 1,1 bilhão de pessoas do Planeta tinham uma disponibilidade de água
inferior a 20 litros por pessoa, por dia, a uma distância de até 1 quilômetro da moradia.
Além disso, no mesmo ano, 40% da população mundial não dispunham de instalações
sanitárias adequadas, seja uma rede coletora de esgoto, fossas sépticas ou, até mesmo,
latrinas. Quando se reduz o universo de pesquisa para a região rural, o acesso a sistemas
de esgoto sanitário se reduz ainda mais, uma vez que naquele ano, somente 40% desta
população possuíam rede instalada (WWI, 2004). Segundo o Comitê de
Desenvolvimento, parceria entre Banco Mundial e Fundo Monetário internacional, a
cada minuto, seis crianças morrem em países em desenvolvimento em todo o mundo por
doenças causadas por falta de saneamento básico. Isto se deve ao fato de, atualmente,
1,1 bilhão de pessoas não terem acesso a água tratada e 2,4 bilhões de pessoas não
7
serem atendidas com saneamento básico adequado (DEVELOPMENT COMMITTEE,
2003).
Um conceito interessante que vem sendo utilizado pela comunidade científica
internacional é o de produtividade hídrica, que significa, basicamente, uma correlação
entre o Produto Interno Bruto – PIB de um determinado país, com o seu consumo de
água. Essa grandeza mostra de forma direta, mas não sendo a única a ser analisada, a
eficiência hídrica de cada país. É importante frisar que ela não pode ser a única
analisada pelo fato de poder ocorrer em uma determinada região do planeta uma
abundância tão grande de água, que, mesmo com uma ineficiência no consumo, a
produtividade hídrica continua elevada. Contudo, trata-se de uma comparação
interessante para o estudo aqui apresentado.
0 10 20 30 40 50
AlemanhaFrança
EspanhaAustrália
BrasilEstados Unidos
África do SulRússiaMéxico
IndonésiaChinaPeruÍndiaEgito
Bangladesh
PIB por metro cúbico de consumo
Figura 1 Produtividade Hídrica de Economias Nacionais (Fonte: WWI, 2004)
Os Estados Unidos, por exemplo, tiveram a sua produtividade hídrica aumentada em 2,6
vezes nos últimos 40 anos. No entanto, aquele país vem degradando cada vez mais seus
mananciais. Isto só comprova que esta grandeza não pode ser analisada sozinha para se
avaliar a eficiência hídrica de um país. A China é outro exemplo triste do descaso com
os recursos hídricos. País onde habitam 21% da população mundial, a China possui
apenas 7% da água doce do planeta. A sua população, assim como a brasileira, está mal
8
distribuída pelo território quando comparada com a distribuição hídrica, favorecendo
casos de estresse hídrico. A irrigação exploratória e predatória daquele país faz com que
em diversos dias do ano o Rio Amarelo seque antes do deságüe no mar, e que o lençol
freático, em algumas regiões do país, caia a uma taxa de até 1,5 metros por ano (WWI,
2004).
Entretanto, novamente os países africanos e asiáticos apresentam, em sua maioria, uma
produtividade hídrica baixa. Até mesmo países com o PIB elevado, como a própria
China, possuem uma produtividade hídrica reduzida. O significado, basicamente, pode
ser resumido a ineficiência na agricultura e má gestão dos recursos hídricos. Melhorias
no sistema de irrigação, como o exemplo dos sistemas por gotejamento ou de
microirrigação adotados em Israel, Chipre, Jordânia, China, Estados Unidos e, até
mesmo, no Brasil, são formas de aumentar a eficiência em volume de água distribuída
nos campos em 30-70%, aumentar a produção em até 90% e até triplicar a
produtividade hídrica (WWI, 2004).
Medidas e políticas que reduzam as perdas na distribuição de água em municípios
também contribuem para o aumento da produtividade hídrica. Ações simples como a
instalação de hidrômetros em residências e indústrias podem favorecer a redução do
consumo, uma vez que ao se medir e se cobrar exatamente pela água consumida, o
consumidor tende a racionalizar o seu uso.
À luz destas informações, pode-se observar a importância que deve ser dada ao uso
racional da água, à busca contínua por otimizações de processo e por novas fontes de
abastecimento, além, é claro, da importância da elaboração de políticas e leis que
propiciem a minimização do uso e dos desperdícios de água.
Para que o Mundo evolua de forma a garantir o abastecimento adequado de água a toda
a população do Planeta, é fundamental promover a gestão adequada deste recurso
renovável e a proteção dos mananciais. Quando se analisa as bacias hidrográficas
internacionais, este argumento ganha mais força. Segundo Tundisi (2003), atualmente
há 200 bacias internacionais com conflitos, como por exemplo: (a) bacia do Rio Jordão,
entre Jordânia e Israel, (b) bacia do Rio Nilo, entre Egito e Sudão, (c) rios do sul
9
asiático, resultando em conflitos entre Índia, Bangladesh e Nepal e (d) bacia do Rio
Colorado, nos Estados Unidos, resultando em problemas internos naquele país, afetando
até o México. Muitos deles gerados pelos usos múltiplos tendo como resultado
enchentes ou secas, perdas excessivas e poluição. Sem a elaboração de Comitês
Internacionais que possam legislar para o bem de todos, os conflitos tendem a aumentar
cada vez mais, e os mananciais tendem a ter suas qualidades e quantidades afetadas.
Somente a partir da adoção de uma política internacional que vise à racionalização do
uso da água e através da conscientização da população é que o Homem poderá evitar
que a crise já existente em diversas regiões se transforme em uma guerra pela água.
10
1.2 A Situação dos Recursos Hídricos no Brasil
No Brasil, assim com no Mundo, a preocupação com os recursos hídricos existe, porém,
deveria ser maior. Muito embora seja um dos países com a maior disponibilidade
hídrica do Planeta – segundo Tundisi (2003), o Brasil é o 25º país com a maior
disponibilidade hídrica por habitante – a distribuição de água doce no Brasil é
extremamente desigual. No Brasil estão 12% de toda água doce disponível no Mundo e
53% da água doce da América do Sul (REBOUÇAS apud TUNDISI, 2003), entretanto,
a distribuição da água em relação à distribuição da população é extremamente desigual.
A Tabela 5, abaixo, apresenta esta desigualdade.
Tabela 5 Disponibilidade hídrica por Estado no Brasil
Estados Potencial Hídrico
(km3/ano)
Potencial Hídrico
(%)
Disponibilidade Hídrica
([m3/hab]/ano)
População (%)
Rondônia 150,2 2,7 115.538 0,8
Acre 154,0 2,7 351.123 0,3
Amazonas 1.848,3 32,9 773.000 1,5
Roraima 372,3 6,6 1.506.488 0,2
Pará 1.124,7 20,0 204.491 3,5
Amapá 196 3,5 516.525 0,2
Tocantins 122,8 2,2 116.952 0,7
Maranhão 84,7 1,5 16.226 3,3
Piauí 24,8 0,4 9.185 1,7
Ceará 15,5 0,3 2.279 4,3
R. Grande do
Norte 4,3 0,1 1.654 1,6
Paraíba 4,6 0,1 1.394 2,1
Pernambuco 9,4 0,2 1.270 4,7
Alagoas 4,4 0,1 1.692 1,7
Fonte: Adaptado de TUNDISI (2003).
11
Tabela 5 Disponibilidade hídrica por Estado no Brasil (continuação)
Estados Potencial Hídrico
(km3/ano)
Potencial Hídrico
(%)
Disponibilidade Hídrica
([m3/hab]/ano)
População (%)
Sergipe 2,6 <0,1 1.625 1,0
Bahia 35,9 0,6 2.872 8,0
Minas Gerais 193,9 3,5 11.611 10,6
Espírito Santo 18,8 0,3 6.714 1,8
Rio de Janeiro 29,6 0,5 2.189 8,5
São Paulo 91,9 1,6 2.209 21,7
Paraná 113,4 2,0 12.600 5,7
Santa Catarina 62,0 1,1 12.653 3,1
R. Grande do
Sul 190,0 3,4 19.792 6,1
Mato Grosso do
Sul 69,7 1,2 36.684 1,3
Mato Grosso 522,3 9,3 237.409 1,4
Goiás 283,9 5,1 63.089 3,0
Distrito Federal 2,8 <0,1 1.555 1,2
Brasil 5.610,0 100,0 35.732 100,0
Fonte: Adaptado de TUNDISI (2003).
Estados como o Pará e a Amazônia dispõem de 52,9% da água doce, e têm que
abastecer apenas 5% da população brasileira. Já o Rio de Janeiro e São Paulo, onde se
encontram 30,2% da população brasileira, dispõem apenas de 2,1% da água doce. Estes
dados consideram apenas o fator “quantidade”. Se for considerada ainda a falta de
responsabilidade e de comprometimento desta mesma população fluminense e
paulistana com seus rios e lagos, e for atribuída à quantidade de água disponível a
qualidade considerada potável e/ou tratável, os números ficam mais alarmantes.
Quando as informações apresentadas na Tabela 5 são confrontadas com a Tabela 6, a
seguir, constata-se que com uma pequena melhora na eficiência da irrigação brasileira
pode-se elevar significativamente a disponibilidade hídrica da região, já que 64,7% da
água consumida no Brasil destinam-se para a irrigação (TUNDISI, 2003). É importante
12
entender que nem toda a água que não atinge as raízes das plantas são simplesmente
perdidas. Uma parcela pode infiltrar pelo solo e recarregar o lençol freático. No entanto,
uma grande parcela é evaporada.
Tabela 6 Eficiência da irrigação
Região / Estado Eficiência da Irrigação1 (%)
Brasil 62,3
Nordeste 65,8
Maranhão 61,5
Piauí 61,1
Ceará 64,7
Rio Grande do Norte 71,3
Paraíba 70,8
Pernambuco 64,6
Alagoas 66,1
Sergipe 68,5
Bahia 67,5
Fonte: CRISTOFIDIS apud TUNDISI (2003)
Analisando a situação do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e
Sergipe, todos estados com uma disponibilidade hídrica abaixo de 1.700 (m3/hab)/ano,
pode-se concluir com tranqüilidade que se a irrigação fosse mais eficiente, a
disponibilidade hídrica sofreria um incremento. O estado pernambucano é o melhor
exemplo a ser estudado. Com uma disponibilidade hídrica igual a 1.270 (m3/hab)/ano, e
com o seu processo de irrigação com uma eficiência de 64,6%, trata-se do estado
brasileiro com a menor disponibilidade hídrica.
A situação dos recursos dos recursos hídricos no Brasil não é a mesma em todas as
regiões. Focando na Região Sudeste, onde se encontra a refinaria a ser estudada ao
longo desta dissertação, apesar da disponibilidade de água ser suficiente, atualmente,
para o desenvolvimento econômico, trata-se de uma região que vem tendo um
13
crescimento populacional ano após ano, uma ampliação do seu parque industrial e uma
intensificação da agricultura. Todos estes fatores combinados contribuem para a
degradação dos corpos hídricos, aumentando a poluição nos rios e lagos, e elevando os
custos de tratamento de água, o que não favorece o desenvolvimento econômico. Ou
seja, apesar da água disponível na Região Sudeste ser suficiente, hoje, para o
desenvolvimento econômico, caso não se implementem práticas, políticas e gestões que
propiciem o crescimento econômico e social sem causar uma degradação ambiental,
poder-se-á atingir um ponto de poluição que comprometa a evolução do
desenvolvimento.
Estes dados, combinados com a situação do saneamento básico na região, mostram que
ainda há muito espaço para melhorias. A Região Sudeste ainda é a região com a melhor
condição de saneamento básico do País, no entanto, ainda deve receber investimentos.
Em 2000, 6,47% desta região não eram abastecidas adequadamente por água, e 29,55%
da mesma região não tinham seus esgotos coletados (HESPANHOL apud TUNDISI,
2003). O déficit apresentado acima pode ser complementado pela taxa de mortalidade
por doenças infecciosas e parasitárias, associadas à falta de saneamento básico. Em
1995, a taxa da Região Sudeste de 26,58 mortes por 100.000 habitantes só perdia para o
Centro-Oeste, com uma taxa igual a 29,62 mortes por 100.000 habitantes
(MINISTÉRIO DA SAÚDE apud TUNDISI, 2003).
A indústria tem um papel importante para a implementação de práticas que visem à
otimização e melhoria do uso dos recursos hídricos. Muito embora o consumo médio
industrial do Brasil responda por 13,9% de toda a água consumida no País, na Bacia do
Atlântico Leste, este número passa para, aproximadamente, 48,6%. É nesta bacia
hidrográfica que se encontra o Rio Paraíba do Sul, responsável por uma parcela
considerável da vazão do Rio Guandu, uma das fontes de abastecimento da Refinaria
Duque de Caxias – REDUC (TUNDISI, 2003).
Muitas indústrias brasileiras não apresentam boas práticas de meio ambiente, e não se
preocupam em gerenciar adequadamente seus resíduos e seus efluentes, contribuindo
1 Entende-se como eficiência da irrigação o percentual da água utilizada em sistemas agrícolas que efetivamente chegam às raízes das plantas, e, portanto, contribuem para o desenvolvimento do recurso vegetal, uma vez que parte da água utilizada não se infiltra, permanecendo sobre o solo, e outra parte é evaporada.
14
para a poluição de rios. A população que vive a jusante de uma indústria poluidora sofre
com o abastecimento de água e pode ser contaminada por doenças de veiculação
hídrica.
A REDUC é uma indústria certificada pela norma ISO 14.001, e, portanto, possui o seu
Sistema de Gestão Ambiental certificado por uma organização internacional. Dentre
outros fatores, a certificação ambiental mostra a preocupação da empresa com a
preservação do meio ambiente, o que inclui, principalmente, a gestão de resíduos
industriais, a gestão de recursos hídricos e a gestão de emissões atmosféricas. Diversas
outras indústrias brasileiras e fluminenses já entenderam a importância de se garantir a
preservação ambiental, e têm apresentado práticas positivas para a garantia da qualidade
e quantidade dos recursos naturais para as gerações futuras, contribuindo para o
desenvolvimento sustentável.
Esta dissertação de mestrado irá apresentar a situação atual da REDUC no tocante ao
abastecimento de água, e irá estudar fontes alternativas e complementares para o
abastecimento de água daquela refinaria, com o objetivo não de determinar a fonte com
a melhor condição custo-benefício, mas sim, simplesmente mostrar que há outras
formas de abastecimento que devem ser consideradas no planejamento estratégico da
REDUC, principalmente quando se considera a ampliação da refinaria visando ao
aumento da qualidade e da produção de produtos. Talvez hoje, algumas das formas de
abastecimento apresentadas a seguir não sejam consideradas economicamente viáveis.
No entanto, a avaliação de viabilidade está diretamente ligada à disponibilidade hídrica
no Rio Saracuruna e no Rio Guandu, fontes de abastecimento da refinaria. Logicamente,
a refinaria deverá consumir, preferencialmente, das fontes existentes e daquelas que
apresentarem a melhor qualidade no menor custo, ou melhor, a qualidade mais
adequada no menor custo. Contudo, é importante lembrar de analisar a disponibilidade
hídrica fluminense, combinada com o crescimento populacional do estado, e,
principalmente de duas regiões importantes: a Região Metropolitana do Rio de Janeiro –
RMRJ, principal consumidora da água do Rio Guandu, e do município de Duque de
Caxias, vizinho da REDUC e cidade que apresenta hoje o maior desenvolvimento
econômico do Estado do Rio de Janeiro.
15
Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei 9.433 de 1997, em uma situação
de escassez, o consumo primeiro e principal é o humano, seguido pela dessedentação de
animais. Basicamente, isso significa que se uma situação de escassez for decretada no
Rio de Janeiro, como quase ocorreu há três anos devido à situação crítica dos
reservatórios do Rio Paraíba do Sul, o setor industrial não será prioridade. Daí a
importância para uma indústria do porte da REDUC possuir no seu planejamento
estratégico fontes alternativas e complementares de abastecimento de água.
A indústria brasileira, e nesse universo se inclui a REDUC, tem um papel fundamental
para garantir o desenvolvimento econômico e evitar a poluição e o aumento de casos de
doenças de veiculação hídrica. Prática como o reúso de água, a ser discutido nos
capítulos seguintes, pode favorecer a melhoria nas condições de saneamento básico de
forma impressionante. Quando uma indústria coleta o esgoto doméstico de um
município próximo, ou do próprio município onde se encontra, trata esse esgoto e o
utiliza no interior da sua instalação para fins industriais, a indústria contribui em dois
aspectos para a preservação ambiental: utiliza água de pior qualidade liberando a de
melhor qualidade para usos mais nobres e reduz os casos de doenças associadas ao
saneamento básico no município de onde o esgoto foi coletado e tratado.
A partir da instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), Lei no 9.433
de 1997, o reúso passou a ser mais interessante e necessário para uma indústria que
queira produzir com mais eficiência. Focando na REDUC, estudo de caso escolhido,
através da tabela abaixo, serão abordados exemplos de ameaça ao status quo, que
sustentam a necessidade de investimentos em racionalização e reúso de água.
Tabela 7 Principais impactos de fundamentos da PNRH
Fundamento da PNRH Exemplos de ameaças ao status quo A água é um bem de domínio público A exclusividade do gerenciamento e utilização de
mananciais construídos, como a represa de Saracuruna, passa a ser questionada uma vez que não há água de domínio privado no Brasil.
Fonte: Adaptado de COLLARES, 2003.
16
Tabela 7 Principais impactos de fundamentos da PNRH (continuação) Fundamento da PNRH Exemplos de ameaças ao status quo
A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico
Ao lhe ser atribuído valor econômico, a água deve passar a ser objeto de atenção especial na avaliação dos investimentos nacionais. A composição de índices econômicos estará sujeita ao custo da água que deverá ser diferenciado e de tendência crescente em função da disponibilidade local.
Em situação de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais
Regiões com população crescente e recursos hídricos limitados, como o município de Duque de Caxias, poderão estabelecer uma redistribuição dos usos da água, impactando de forma desfavorável o uso industrial, no caso, a REDUC.
A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas
No caso específico da REDUC e do Saracuruna, a água daquele manancial é utilizado, quase que unicamente, para fins industriais.
A bacia hidrográfica é a unidade territorial básica
Fonte: Adaptado de COLLARES, 2003.
A outorga dos direitos de uso de recursos hídricos é um importante instrumento de
gestão, e deve ser considerada no planejamento estratégico de indústrias. A má gestão
dos recursos hídricos no Brasil e o mau uso deste bem escasso podem levar a situações
de escassez, o que passará a regulamentar os mecanismos de outorga.
A expectativa é que o setor industrial, preocupado com a manutenção da sua outorga e,
por conseguinte, do seu regime de produção, exija do poder público a preservação dos
recursos hídricos, instituindo políticas que favoreçam a preservação ambiental,
principalmente através da manutenção das matas ciliares e do tratamento de esgotos
sanitários municipais antes do despejo em corpos hídricos. Com isso, estará sendo
garantida a disponibilidade hídrica, tanto em quantidade como em qualidade, para o
setor industrial e para a população de uma forma geral.
Conforme se pode constatar através da análise da tabela 7, a outorga é renovável e
revogável. Assim sendo, é importante para a empresa que possui a concessão de direito
do uso de recursos hídricos de um determinado manancial que não só se preocupe com a
qualidade da água captada, mas também atente para a situação dos mananciais
próximos, já que em uma situação de escassez em uma região próxima, a sua outorga
poderá ser revogada, temporariamente ou indefinidamente, para se garantir o
abastecimento da população agora carente deste bem renovável.
17
2 OBJETIVO
O objetivo desta dissertação é a qualificação dos riscos existentes para o abastecimento
futuro de água em uma refinaria de petróleo, utilizando como estudo de caso a Refinaria
Duque de Caxias – REDUC. Através desta análise, serão apresentadas formas
alternativas e complementares de abastecimento de água para a refinaria estudada, sem
a preocupação com a definição de qual alternativa é a melhor e qual a alternativa possui
o menor custo associado. O objetivo é apresentar um conjunto de alternativas para que a
própria refinaria possa estudá-las para cada cenário futuro de abastecimento de água.
18
3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Não estão incluídos no objetivo desta dissertação os seguintes tópicos:
a) apresentar um estudo de viabilidade técnico-econômica para cada alternativa apresentada no trabalho;
b) definir a melhor solução para a refinaria; c) apresentar detalhadamente os processos industriais da REDUC que consomem
água e que geram efluentes;
d) apontar melhorias de processo;
e) avaliar o sistema de gestão de água da refinaria.
19
4 FONTES DE INFORMAÇÃO
O presente estudo teve como fontes de informação livros, revistas e artigos técnicos de disponibilidade pública, da área de gestão de recursos hídricos, contemplando os tópicos abordados nesta dissertação. A pesquisa também foi realizada dentro do Sistema Petrobras, através de entrevista com técnicos da empresa e da análise de documentos internos da companhia, elaborados por seu corpo técnico ou por empresas e instituições contratadas para tal. O autor buscou também documentos elaborados por instituições públicas, tais como a CEDAE, para garantir que os dados utilizados fossem os mesmos daqueles utilizados pelo Poder Público, garantindo confiabilidade ao estudo. A internet também serviu de base de consulta para o avanço do desenvolvimento deste documento, sempre tendo como critério a pesquisa em portais oficiais e com credibilidade reconhecida. Este trabalho é uma pesquisa exploratória, que pretende apresentar uma visão geral sobre o assunto, sem elaborar e testar teorias e sem o compromisso de esgotar o assunto.
20
5 O CONSUMO DE ÁGUA EM UMA REFINARIA DE PETRÓLEO
5.1 O Benchmarking Internacional
Toda empresa ou indústria que tenha como parte integrante de sua estratégia o aumento
da sua eficiência com o respeito ao meio ambiente, deve sempre buscar a melhoria
contínua. É primordial para o sucesso da indústria que ela conheça os desenvolvimentos
e inovações realizados por seus parceiros, concorrentes ou, até mesmo, por empresas
que não estão diretamente ligadas a ela. “O Benchmarking Ambiental é uma ferramenta
de gestão que atualiza e ao mesmo tempo aprimora o processo técnico-gerencial por ser
uma ação de melhoria contínua, e, por fim, um saudável exercício empresarial que
troca, soma, reconhece, gera vínculos e integra setores, e principalmente, cria o hábito
das relações” (LAVORATO, 2004). É por este motivo que é importante se conhecer o
benchmarking internacional referente ao consumo de água em refinarias de petróleo.
A Tabela abaixo apresenta a distribuição do consumo de água em uma indústria, por
atividade. A partir da avaliação abaixo, pode-se notar que em uma refinaria de petróleo,
grande parte da água não tem contato com o produto final.
Tabela 8 Distribuição do consumo de água na indústria por atividade
Distribuição do Consumo de Água (%)
Indústria Resfriamento sem contato
Processos e Atividades
Afins
Uso Sanitário e Outros
Carne enlatada 42 46 12
Abatimento e limpeza de aves 12 77 12
Laticínios 53 27 19
Frutas e vegetais enlatados 19 67 13
Frutas e vegetais congelados 19 72 8
Moagem de milho úmido 36 63 1
Açúcar de cana-de-açúcar 31 67 2
Fonte: Van der LEEDEN, TROISE e TODD (1990) apud MIERZWA (2002).
21
Tabela 8 Distribuição do consumo de água na indústria por atividade (continuação) Distribuição do Consumo de Água (%)
Indústria Resfriamento sem contato
Processos e Atividades
Afins
Uso Sanitário e Outros
Bebidas maltadas 72 13 15
Indústria têxtil 57 37 6
Serrarias 58 36 6
Fábricas de celulose e papel 18 80 2
Cloro e Álcalis 85 14 1
Gases industriais 86 13 1
Pigmentos inorgânicos 41 58 1
Produtos químicos inorgânicos 83 16 1
Materiais plásticos e resinas 93 7 +
Borracha sintética 83 17 +
Fibras de celulose sintéticas 69 30 1
Fibras orgânicas não celulósicas 94 6 +
Tintas e pigmentos 79 17 4
Produtos químicos orgânicos 91 9 1
Fertilizantes nitrogenados 92 8 +
Fertilizantes fosfatados 71 28 1
Negro de fumo 57 38 6
Refinaria de petróleo 95 5 +
Pneus 81 16 3
Cimento 82 17 1
Aço 56 43 1
Fundição de ferro e aço 34 58 8
Cobre primário 52 46 2
Alumínio primário 72 26 2
Automóveis 28 69 3 + Valor inferior a 0,5% do volume total de água consumido.
Fonte: Van der LEEDEN, TROISE e TODD (1990) apud MIERZWA (2002).
22
No Brasil, assim como no mundo, a água em uma refinaria é usada, principalmente, na
etapa de dessalgação e no sistema de resfriamento. Em ambas as formas de uso, a água é
utilizada em grandes quantidades, ocorrendo perdas por evaporação e contaminação,
seja pelo processo no qual a água foi empregada ou pela adição de produtos químicos
que têm como objetivo aumentar o número de ciclos de uso de água antes de um
descarte ou purga.
As unidades de resfriamento são responsáveis por aproximadamente 48% da água
consumida em uma refinaria de petróleo. Outros 20% da água são utilizados pelas
caldeiras, ficando o restante dividido entre o sistema de combate a incêndio, água
potável e outros usos industriais (HILL, 2003). É por esse alto consumo que as torres de
resfriamento são sempre as primeiras a serem contempladas em processo de reúso de
água, conforme será abordado no capítulo 7.
Um parâmetro de fundamental importância para a comparação entre a eficiência
produtiva de refinarias, levando-se em conta o consumo de água, é o Indicador de
Consumo de Água – ICA. Este indicador é calculado pela razão entre o m³ de água
consumida e o m³ de petróleo processado. Segundo Amorim (2005), o ICA padrão
adotado pelas refinarias de petróleo da Petrobras é igual a 0,9, preferencialmente na
faixa entre 0,7 e 1,2.
23
5.2 O Consumo de Água na REDUC
A Refinaria de Duque de Caxias foi fundada em 1961, com o objetivo de abastecer os
estados do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e parte de Minas Gerais com derivados de
petróleo.
Com o passar dos anos, a REDUC passou por ampliações, otimizações e melhorias
visando, basicamente, aumentar a sua produção e a sua eficiência2. Atualmente, com
uma capacidade de processamento igual a 242 mil barris de petróleo por dia
(38.478m³/dia), o que garante a posição de terceira maior refinaria de petróleo do País, é
na REDUC que desembocam o oleoduto e o gasoduto que escoam boa parte do petróleo
e derivados da Bacia de Campos, principal região produtora do País. Localizada às
margens da Baía de Guanabara, a REDUC recebe petróleo importado com facilidade,
misturado com o nacional para garantir a produção de mais de 52 produtos para a
comercialização. Para que isso seja possível, a refinaria, através das ampliações e
otimizações realizadas no passado, e ainda em curso, é considerada a mais complexa do
país. Atualmente, a REDUC conta com processos de dessalgação, fracionamento,
craqueamento catalítico (FCC), polimerização e alquilação, reforma, extração a
solvente, hidrotratamento (HDT), produção de parafinas, produção de asfalto, produção
de lubrificantes e óleos básicos, acabamento de produtos e diversas atividades
auxiliares.
Para garantir o processamento do petróleo e seus derivados, e abastecer três estados da
região sudeste com produtos essenciais para o desenvolvimento econômico, a REDUC
necessita de água. Das três fontes de abastecimento de água que a refinaria dispunha, a
água do mar utilizada no passado para abastecer o sistema aberto de refrigeração vem
sendo cada vez menos utilizada. Com a finalidade de reduzir os riscos de vazamentos e
contaminações que possam resultar em impactos ambientais, a refinaria fechou o
circuito, e substituiu a água do mar por água doce. A substituição, apesar de
contraditória quando se pensa em ampliar as fontes de abastecimento, foi necessária por
razões técnicas, já que sistemas fechados de refrigeração são mais suscetíveis a
corrosões e incrustações, além, é claro, pelo motivo de se reduzir os riscos de poluição
24
ambiental. No atual momento, as únicas fontes de abastecimento de água daquela
refinaria é o Rio Guandu e o reservatório do Rio Saracuruna, como pode ser consultado
na tabela 9, abaixo.
Tabela 9 Consumo de água nas refinarias da Petrobras em 2004
Unidade
instalada
Bacia de captação Capacidade
instalada1 (m³/dia)
Consumo de
água2 (m3/dia)
ICA
REMAN Negro – AM 7.300 3.261 0,45
RLAM São Francisco – BA 53.050 27.791 0,69
REGAP Paraopeba – MG 24.000 22.425 1,06
REDUC Saracuruna+Guandu –RJ 43.850 41.342* 1,19
REVAP Paraíba do Sul – SP 40.000 21.239 0,56
REPLAN Piracicaba – SP 58.000 39.421 0,69
RPBC Baixada Santista – SP 27.000 27.276 1,14
RECAP Alto Tietê – SP 8.500 6.385 0,87
REPAR Paraná – PR 30.000 16.091 0,57
REFAP Sinos – RS 30.000 13.759 0,80
* Consumo de água da REDUC igual a 478 l/s.
Fonte: (1) PETROBRAS (2005) e ANP (2004); (2) AMORIM, 2005.
A partir dos dados apresentados na tabela acima, pode-se obter o Índice de Consumo de
Água (ICA) da REDUC de 1,19 m³ de água para cada m³ de petróleo processado.
Quanto menor o ICA, melhor é a ecoeficiência da refinaria e menor é a necessidade de
água para o processamento do petróleo, ou seja, mais sustentável é a refinaria.
Comparando com as demais refinarias do Sistema Petrobras, pode-se notar que a
REDUC ainda tem um longo caminho a percorrer para reduzir o consumo de água e
aumentar a sua eficiência. A REPLAN e a RLAM, por exemplo, que são as duas
maiores refinarias da Petrobras, possuem um ICA cerca de 30% inferior que o da
REDUC. Isso mostra que mesmo com um grande processamento é possível obter uma
eficiência maior. Projetos como os propostos no capítulo 7 têm como objetivo reduzir o
ICA da REDUC.
2 Entende-se como eficiência a melhoria do processo de refino, buscando ampliar o número de produtos produzidos e a redução de custos operacionais.
25
No entanto, cabe informar que para cada tipo de insumo que chega a uma refinaria, e
para cada produto que se busca produzir, há processos de refino distintos, que podem
consumir menos ou mais água. Ou seja, não existe um ICA ótimo, mas sim, um ICA
ótimo para cada tipo de refinaria, ou para cada refinaria. Isso significa que enm todas as
refinarias podem atingir um ICA como o da REMAN, por exemplo.
Outro indicador interessante de se considerar nesta avaliação de eficiência é a razão
entre a geração de efluente e a quantidade de óleo processado. A REDUC lança os seus
efluentes tratados, e em conformidade com a legislação ambiental, no Rio Iguaçu. A
tabela 10 apresenta tal comparativo entre as refinarias da Petrobras.
Tabela 10 Geração de efluentes nas refinarias da Petrobras, em 2004
Refinaria Início da
atividade
Processado
(m3)
Processado
(m3/d)
Efluentes
(m3/d)
Efluente/
Óleo
LUBNOR 1966 246.934 675 678 1,00
REMAN 1957 2.652.280 7.247 3.287 0,45
RECAP 1954 2.686.103 7.339 2.194 0,30
REPAR 1977 10.332.116 28.230 8.852 0,31
REFAP 1968 6.294.743 17.199 6.546 0,38
REVAP 1980 13.881.204 37.927 10.276 0,27
REGAP 1968 7.742.972 21.156 9.483 0,45
RLAM 1950 14.741.313 40.277 15.989 0,40
RPBC 1955 8.757.032 23.926 21.381 0,89
REDUC 1961 12.715.271 34.741 25.285 0,73
REPLAN 1972 22.543.884 55799 13.745 0,25
Fonte: PETROBRAS, ANP e AMORIM, 2005
Nesse indicador, assim como com o ICA, a REDUC possui o terceiro pior resultado,
gerando uma quantidade de efluente ainda grande para o volume de óleo processado.
Através desses dois indicadores, percebe-se a importância de investimentos em projetos
de racionalização do uso da água, uso de águas pluviais, reúso de efluentes industriais e
de esgoto sanitário.
26
Todo o efluente, depois de tratado, é despejado no rio Iguaçu, rio de vazão de até 26,8
m³/s. A FEEMA, de 1999 a 2001 realizou uma campanha de monitoramento daquele rio
em três pontos: um a montante do local de lançamento dos efluentes da REDUC, outro
a jusante do local de lançamento, e um último ponto a jusante da confluência com o rio
Sarapuí. Segundo BIDONE apud COLLARES (2004), algumas das altas concentrações
encontradas no rio são características de poluição causada por despejos sanitários não
tratados.
A tabela abaixo apresenta um comparativo entre a qualidade da água do rio Guandu, do
Saracuruna e do rio Iguaçu, sendo os dois primeiros, rios de captação, e o último rio, de
despejo e diluição.
Tabela 11 Qualidade da água em mananciais importantes para a REDUC
PARÂMETROS Rio Guandu (Reduc-RJ)
Rio Saracuruna (Reduc-RJ)
Rio Iguaçu (RJ)
pH 6,5 – 6,8 5,4 – 7,2 6,3 – 7,7 O.D. (mg/L) N.D. 0,1 – 6,6 < 0,1 – 2,0 DBO5,20 (mg/L) N.D. 2,0 – 110 4,0 – 60 DQO (mg/L) N.D. 10 – 120 20 – 500 Nitrato (mg N/L) 4 – 10 0,01 – 0,6 0,01 – 0,25 Nitrito (mg N/L) N.D. 0,001 – 0,05 0,002 – 0,01 Amônia (mg N/L) N.D. 0,3 – 4,6 0,70 – 19,0 Kjeldahl (mg N/L) N.D. 0,5 – 3,5 2 – 17 Fósforo Total (mg P/L) N.D. 0,1 – 1,1 0,40 – 3,40 R.F. (mg/L) 75 – 128 42 – 8690 230 – 14000 R.N.F. (mg/L) 10 – 39 2 – 50 3,6 – 250 R.T (mg/L) N.D. N.D. N.D. Turbidez (NTU) 8 – 69 5 – 20 N.D. Cloreto (mg Cl/L) 1,9 – 5,2 7 – 1000 120 – 5240 Condutividade N.D. 60 – 1600 90 – 16300 Ferro (mg/L) 0,27 – 1,59 1,1 – 20 0,65 – 3,5 Manganês (mg Mn/L) N.D. 0,08 – 0,3 0,11 – 0,25 Fenóis (mg/L) N.D. 0,001 – 0,004 < 0,001 – 0,01 Sílica (mg/L) 1,8 – 4,8 1,2 – 3,25 N.D. Q7,10 (m3/s) * 130 0,481* 2,58 N.D. – Não Disponível
* Q7,10 – Parâmetro quantitativo, mantido na tabela.
Fonte: COLLARES (2004) e CANEDO DE MAGALHÃES* (2004-A).
27
6 AS PRINCIPAIS AMEAÇAS À ESTABILIDADE HÍDRICA DA REDUC
6.1 O Crescimento Econômico da Baixada Fluminense
A Baixada Fluminense é formada pelos municípios de Duque de Caxias, Nilópolis,
Mesquita, São João do Meriti, Itaguaí, Paracambi, Seropédica, Japeri, Nova Iguaçu,
Queimados e Belfort Roxo.
Com uma população pouco superior a três milhões de habitantes, a Baixada Fluminense
possui um consumo de água médio de aproximadamente 230 (litros/hab)/dia e um
índice de perdas em faturamento próximo a 56,7%, sejam perdas por ligações
clandestinas, por vazamentos e por inadimplência em pagamentos (CEDAE – Relatório
VI e VII – 2004).
Na década de 90, alguns desses municípios apresentaram um potencial de atração
populacional considerável, como por exemplo Itaguaí, Seropédica, Japeri, Nova Iguaçu,
Queimados e Belfort Roxo. Os demais municípios apresentaram um crescimento
populacional muito baixo, com destaque para Nilópolis que apresentou perda de
população.
Como cerca de 884 mil domicílios, a Baixada Fluminense possui 78,5% das suas
residências abastecidas pela rede geral de abastecimento de água. O consumo total
estimado para aquela região, da parcela abastecida pela CEDAE, é de 135 milhões de
m³ de água por ano, ou 371 mil m³ de água por dia. O consumo total, incluindo a água
aduzida pela concessionária de serviços públicos e pela água captada de outras fontes, é
de 473 mil m³ de água por dia (CEDAE – Relatório VII – 2004).
Segundo JORDÃO, em seu livro Tratamento de Esgotos Domésticos, uma residência
produz entre 120 e 150 litros de esgoto por pessoa por dia, dependendo do grau de
urbanização da região. Considerando essa produção, e tendo conhecimento de que a
população da Baixada Fluminense é de cerca de três milhões de pessoa, a geração média
de esgoto daquela região é de 360 a 450 mil m³ por dia.
28
O crescimento populacional da Baixada pode impactar a REDUC sob vários aspectos,
quais sejam:
O consumo de água crescerá, aumentando assim a disputa pelo insumo,
reduzindo a oferta de água na região;
Pelo fato de o tratamento do esgoto gerado na região não ser de 100% do
volume gerado, aumentará o volume de esgoto lançado sem tratamento nos
mananciais da região, incluindo aqueles utilizados pela REDUC como fonte de
abastecimento;
Redução futura da outorga da REDUC, uma vez que a população da Baixada
precisará de mais água, e segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos, a
prioridade é sempre para o abastecimento público.
29
6.2 O Crescimento Econômico de Duque de Caxias
A partir do século XVI, com a doação de Sesmarias da Capitania do Rio de Janeiro, a
ocupação da região correspondente ao município de Duque de Caxias começou a
crescer, trazendo consigo as primeiras atividades econômicas. A agricultura com o
cultivo da cana-de-açúcar, milho, feijão e arroz foi a responsável pelo crescimento da
região até o fortalecimento da mineração no centro-sul do Brasil. Apesar de não possuir
jazidas de minérios que propiciassem o seu desenvolvimento, Duque de Caxias era uma
rota obrigatória entre a região de minas e a Baía de Guanabara, de onde os recursos
seguiam viagem de navio. O transporte fluvial foi muito utilizado naquela época, assim
como o terrestre, resultando em um extraordinário desenvolvimento, que persistiu
mesmo com a decadência da mineração, continuando até o século XIX.
A urbanização não planejada da região resultou em desmatamentos excessivos das
margens dos rios, obstruiu corpos hídricos e causou transbordamentos, o que, no futuro,
favoreceu o surgimento de diversos problemas sócio-ambientais, como por exemplo, as
epidemias, afastando os senhores de terra e interrompendo o crescimento econômico.
Com a inauguração da estrada de ferro, em 1886, Duque de Caxias voltou a apresentar
um crescimento, passando de uma população de 800 habitantes em 1910, para 100 mil
habitantes na década de 1940.
O município de Duque de Caxias foi criado em 1943, e desde o início do povoamento
na região, vem apresentando um grande crescimento demográfico e econômico.
Com a construção da REDUC, em 1961, o desenvolvimento da indústria química e
petroquímica foi fortemente estimulado, assim como o da atividade comercial. Este
aquecimento econômico se dá até os dias atuais, o que pode ser comprovado pelo
recente investimento na ampliação do Parque Industrial, através da construção da
TermoRio e da Rio Polímeros. Hoje, são diversas as indústrias instaladas na região,
muitas delas ligadas ao setor de petróleo. Com a ampliação da refinaria da Petrobras,
30
Duque de Caxias sofrerá um incremento ainda maior na arrecadação de ICMS,
alavancando ainda mais o seu crescimento econômico.
Atualmente, este município com uma área de 468,37 km² (10% da RMRJ) e uma
população, no Censo 2000, igual a 775.456 habitantes (7,2% da RMRJ), essencialmente
urbana, é o município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro com a maior taxa de
crescimento econômico. Nos últimos quatro anos, seu PIB cresceu 41,6%, enquanto que
o PIB brasileiro cresceu 6,8% (PREFEITURA DE DUQUE DE CAXIAS, 2005).
Segundo o TCE-RJ, de 2000 a 2003, a população de Duque de Caxias cresceu 4,3%,
alcançando 808.614 pessoas.
O crescimento econômico, somado ao crescimento populacional e do Parque Industrial,
terá como conseqüência um aumento do consumo de água na região, podendo levar a
REDUC a ter que buscar fontes alternativas e complementares de abastecimento de
água para que seja viabilizado o projeto de ampliação de suas plantas industriais.
No ano 2000, 69% dos domicílios de Duque de Caxias contavam com rede de
distribuição de água, 27,9% captavam água de poços ou nascentes e 2,7% tinham outras
formas de acesso, como por exemplo cacimbas. Já a rede coletora de esgoto sanitário
atingia 57,1% dos domicílios, sendo 20,9% ligados a fossas sépticas, 4,3% ligados a
fossas rudimentares, 13,2% ligados a uma vala e 3,5% lançados diretamente em corpo
receptor. A rede coletora do município conduz o esgoto a uma ETE, onde o mesmo
passa por um tratamento primário (TCE-RJ, 2004).
O TCE-RJ ainda avaliou a situação da coleta de lixo no município, quando, em 2000,
cerca de 88,9% dos domicílios eram contemplados por tal rede, 3,6% tinham seu lixo
lançado em terrenos baldios e 6,8% o queimavam. As 730 toneladas por dia geradas
naquela ocasião eram dispostas em 4 lixões, 4 vazadouros em áreas alagadas, 4 aterros
controlados, 4 aterros sanitários e 4 aterros de resíduos especiais.
Dos noventa e um municípios fluminenses, Duque de Caxias apresentou, em 2000, um
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-Municipal) de 0,753, ocupando a
52ª posição no estado.
31
Esse município, onde se encontra a refinaria em estudo, possui um consumo de água da
CEDAE de aproximadamente 84 mil m³ por dia, o que equivale a um consumo médio
de 224 (litros/hab)/dia. Como esse consumo representa somente 69% da água
consumida na cidade, pode-se estimar que o volume total de água consumida é de 122
mil m³ por dia.
Considerando a produção média de uma residência, comentada no capítulo anterior, e
tendo conhecimento de que a população de Duque de Caxias é de cerca de 800 mil
pessoas, a geração média de esgoto daquela região é de 97 a 122 mil m³ por dia.
Conforme citado acima, apenas 57,1% do esgoto gerado são coletados por uma rede da
CEDAE. Tanto o volume coletado quanto o volume não coletado são potenciais
recursos para a refinaria, conforme aprofundado na seção 7.4.
32
7 RACIONALIZAÇÃO DE DEMANDA POR ÁGUA
7.1 A Demanda da REDUC
A água bruta da REDUC tem como origem dois mananciais: o rio Saracuruna e o rio
Guandu, sendo o primeiro o manancial principal devido às suas melhores condições,
principalmente quanto à salinidade.
A vazão máxima de captação do rio Guandu é de 1,0 m³/s. Já no rio Saracuruna, a
captação contínua é de aproximadamente 400 l/s (0,4 m³/s). A REDUC utiliza a adutora
do Guandu como complementação à água do Saracuruna.
Conforme é apresentado na tabela 9, a vazão média de água consumida pela REDUC é
de 478 l/s. Neste caso, a refinaria precisou apenas de, aproximadamente, 78 l/s
provenientes do rio Guandú, sendo o restante oriundo do manancial mais próximo, o
Saracuruna.
Depois de captada a água, parte deste insumo é utilizado pela rede de combate a
incêndio, sem a necessidade de tratamento. O restante da água passa por etapas de
clarificação e cloração para o atendimento das especificações técnicas impostas pela
área industrial da refinaria, quais sejam: sistemas de resfriamento, de serviço e de
processo.
Ainda, uma pequena parcela da água é filtrada em filtros de areia e clorada para se
atingir o padrão de potabilidade, enquanto que outra parte passa por desmineralizadores.
Já o efluente gerado pela refinaria é conduzido para a Estação de Tratamento de
Despejos Industriais, composta por separadores água-óleo do tipo API, flotador a ar
induzido e lagoas aeradas.
33
7.2 Racionalização do Uso de Água
O uso racional da água através da eliminação de desperdícios, otimizações de unidades
visando à redução do consumo de água e o reúso de correntes internas com ou sem
tratamento devem ser as primeiras ações adotadas por qualquer empreendedor,
independente da escassez ou abundância de água na sua região.
A racionalização da água está completamente em conformidade com o artigo 225 da
Constituição Federal de 1988, onde está escrito: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
A Lei no 9.433, de 1997, também exige que a água seja sempre preservada. “...assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos.”
A sustentabilidade deve ser sempre perseguida e seguida para que se possa garantir às
gerações futuras o mesmo conforto e recursos da geração atual. Portanto, a REDUC
deve buscar ações de racionalização do uso de água antes de investir em ações de reúso
e reciclagem de efluentes e de uso de águas pluviais. Apesar da refinaria estar hoje em
uma condição hídrica confortável, deve-se ter em mente que a REDUC poderá vir a
sofrer uma concorrência futura pela água com a Região Metropolitana do Rio de Janeiro
e com o Município de Duque de Caxias.
O uso prioritário da água em situações de escassez, conforme a Política Nacional de
Recursos Hídricos, deve ser sempre lembrado. O panorama atual da refinaria não é
eterno, e conhecendo os padrões de consumo e de desperdício de muitas indústrias
brasileiras, assim como conhecendo o desperdício de água da população fluminense, é
importante a prevenção. Assim como a racionalização do uso de água proporcionará
uma redução no consumo, e com isto, haverá uma diminuição dos gastos da refinaria
com a captação, transporte e tratamento de água para consumo.
34
A primeira etapa para a implantação de um projeto de racionalização consiste na
identificação das fontes de consumo de água e vapor de todas as unidades de processo
da refinaria. Assim como é preciso se identificar as fontes geradoras de efluentes. A
segunda etapa consiste no estudo de formas de se eliminar o desperdício de água em
cada uma das unidades em estudo.
A partir de tais identificações, devem ser buscadas formas de reutilização interna,
priorizando as alternativas que não necessitem de investimentos. Ou seja, deverão ser
priorizados os reúsos diretos, para, em uma etapa posterior, se buscar investir em
pequenas unidades de tratamento para se garantir a reciclagem de algumas correntes
hídricas.
Estas ações garantirão uma redução nos investimentos para a implantação de uma
Estação de Reciclagem de Água no final do processo, já que a sua vazão será reduzida
por ações de reúso e reciclagem de correntes internas.
Uma comprovação da possibilidade de se aumentar o parque de refino sem,
necessariamente, se aumentar o consumo de água é a própria REPLAN. Em 2003,
segundo Amorim (2005), aquela refinaria recebeu o prêmio Ação pelas Águas,
concedido pelo Consórcio das Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, em virtude
da implantação de um projeto de racionalização do uso de água, garantindo uma
redução de 300m³/h (38% de redução) no lançamento de efluente no corpo receptor.
Ou seja, a racionalização é possível, é interessante, é importante e deve sempre ser
realizada, quando necessário. A racionalização do uso de água contribui para a redução
do consumo de água e da geração de efluentes, garantindo a sustentabilidade do
processo de refino, assim como o respeito ao meio ambiente.
35
Figura 2 A racionalização e as demais práticas de gestão
A racionalização deve ser sempre a primeira etapa a ser adotada na busca pela
sustentabilidade hídrica. Esgotadas as possibilidades de racionalização, passa-se para as
etapas seguintes, sempre buscando manter a ordem apresentada na figura acima.
Reciclagem e Reúso
Tratamento
Disposição
Racionalização do Uso
36
7.3 Reciclagem de Efluentes Industriais
Assim como o uso de águas pluviais, o reúso de água, apesar de parecer uma tecnologia
do novo milênio, já é praticado pela humanidade há alguns séculos. Pelo fato de poder
ser reutilizada de forma indireta e não planejada, o reúso de água sempre esteve
presente nos centros de aglomeração humana onde o despejo dos dejetos era
direcionado para um rio, que, por sua vez, servia de insumo para uma comunidade a
jusante.
Nos dias de hoje, em alguns países onde a escassez de água já é uma realidade (vide
Tabela 2), a implantação de programas de reúso de água é prática comum e necessária.
No estado da Califórnia, nos Estados Unidos, são oferecidos financiamentos para a
implementação de projetos de captação de água de chuva (TOMAZ, 2003). Na Flórida,
por exemplo, existe regulamentação para irrigação de áreas de acesso público e de
culturas não destinadas ao consumo humano, e para descargas de vasos sanitários. O
Arizona também possui a sua regulamentação para o reúso de água (MANCUSO,
2002).
No Brasil, devido à visão equivocada de abundância deste recurso, o reúso de água
começa a, lentamente, adentrar no planejamento estratégico e no sistema de gestão
ambiental de indústrias brasileiras. Principalmente, com a criação da Política Nacional
de Recursos Hídricos – PNRH, Lei no 9.433 de 1997, com a instituição dos
instrumentos de gestão dos recursos hídricos Outorga de Direito de Uso e Cobrança
pelo Uso da Água, e, com criação dos Comitês e Agências de Bacia Hidrográfica com
suas fórmulas de cobrança, a indústria passa a ser duplamente contemplada, tanto na
captação da água quanto na diluição do efluente industrial gerado.
Segundo a Resolução no 54 de 28 de novembro de 2005, do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos – CNRH, o reúso direto não-potável de água é apresentado nas
seguintes modalidades (artigo 3º):
37
“I – Reúso para fins urbanos: utilização de água de reúso para fins de
irrigação paisagística, lavagem de logradouros públicos e veículos,
desobstrução de tubulações, construção civil, edificações, combate a
incêndio, dentro da área urbana;
II – Reúso para fins agrícolas e florestais: utilização de água de reúso para a
produção agrícola e cultivo de florestas plantadas;
III – Reúso para fins ambientais: utilização de água de reúso para a
implantação de projetos de recuperação do meio ambiente;
IV – Reúso para fins industriais: utilização de água de reúso em processos,
atividades e operações industriais; e
V – Reúso na aqüicultura: utilização de água de reúso para a criação de
animais ou cultivo de vegetais aquáticos.”
Segundo essa resolução, a gestão dos projetos caberá aos Comitês de Bacias
Hidrográficas e aos órgãos gestores de recursos hídricos.
Neste panorama, a implantação de um projeto de reúso de água passa a ser cada vez
mais interessante para a indústria, tanto técnica quanto economicamente, principalmente
quando se considera a preocupação do Governo Federal em legislar o assunto. Para que
haja uma boa compreensão das formas de Reúso de Água, e, assim, o capítulo em
questão possa ter a sua evolução, seguem algumas das definições encontradas na
literatura, e apresentadas de forma resumida por Pedro Mancuso, na sua obra Reúso de
Água (MANCUSO, 2002).
“Lavrador Filho (1987):
a) Reúso de Água: é o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma
ou mais vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades
de outros usos benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou indireto,
bem como decorrer de ações planejadas ou não planejadas;
b) Reúso planejado de água: ocorre quando o reúso é resultado de uma ação
consciente, adiante do ponto de descarga do efluente a ser usado de forma
38
direta ou indireta. Este tipo de reúso também pode ser chamado de reúso
intencional de água;
c) Reúso indireto não planejado de água: ocorre quando a água, já utilizada
uma ou mais vezes em alguma atividade humana, é descarregada no meio
ambiente e novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de
maneira não intencional e não controlada;
d) Reúso indireto planejado de água: ocorre quando os efluentes, depois de
convenientemente tratados, são descarregados de forma planejada nos
corpos d’água superficiais ou subterrâneos, para serem utilizados a jusante
em sua forma diluída e de maneira controlada, no intuito de algum uso
benéfico;
e) Reúso direto planejado de água: ocorre quando os efluentes, após
devidamente tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de
descarga até o local do reúso (não são descarregados no meio ambiente); e
f) Reciclagem de água: é o reúso interno de água, antes de sua descarga em
um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição, para servir
como fonte suplementar de abastecimento do uso original. É um caso
particular de reúso direto.”
“Westerhoff (1984):
a) Reúso potável direto: quando o esgoto recuperado, por meio de tratamento
avançado, é diretamente reutilizado no sistema de água potável;
b) Reúso potável indireto: caso em que o esgoto, após tratamento, é disposto
na coleção de águas superficiais ou subterrâneas para diluição, purificação
natural e subseqüente captação, tratamento e finalmente utilizado como
água potável; e
39
c) Reúso não potável: caso em que o esgoto, após tratamento, é utilizado para
fins não potáveis, tais como agricultura, indústria, recreação, manutenção
de vazão, aqüicultura e recarga de aqüíferos subterrâneos.”
A partir das definições acima, e visando criar uma padronização de conceitos, o capítulo
em questão se propõe a apresentar à REDUC uma alternativa especial de reúso
planejado direto de água para fins não-potáveis, ou seja, uma alternativa de reciclagem
de efluente industrial para fins não-potáveis. Esta alternativa está em conformidade
com a Resolução no 54 de 2005 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos – CNRH.
Em todo o projeto de reciclagem de água um importante conhecimento técnico precisa
ser considerado: na reciclagem há a concentração de certos contaminantes (aqueles não
removidos pelo sistema de tratamento). Assim sendo, é primordial que se inclua no
empreendimento uma etapa de purga para o uso, como o consumo direto do volume
purgado por um outro processo industrial, ou purga para o despejo final. Em ambos os
casos, buscando-se garantir a qualidade da água que circula pelos processos que estarão
reutilizando-a e conhecendo cada especificação para o insumo circulante, deve-se
calcular a concentração máxima de cada poluente para que os equipamentos e processos
industriais que se beneficiarão do reúso não sejam impactados. Deverá ser realizado um
estudo técnico-econômico para se conhecer o ponto ótimo entre os investimentos com a
implantação de tratamentos adicionais aos da Estação de Tratamento de Efluentes
necessários para a adequação do efluente à legislação e a quantidade de ciclos que a
água poderá realizar no interior da área industrial da refinaria. A partir destes
conhecimentos, poderá se prever uma purga contínua ou por batelada da água
circulante, a qual será substituída por um novo insumo proveniente da Concessionária
de Serviços Públicos, de reservatórios subterrâneos ou do reservatório de águas
pluviais.
Quando se menciona as formas de purga como sendo purga para uso e purga para
despejo final, o que se quer dizer é que a água expurgada do sistema poderá ser tanto
utilizada internamente para um consumidor menos exigente como também poderá ser
descartada como efluente para o corpo hídrico receptor.
40
Entende-se por consumidor menos exigente, um consumidor que aceite a água
expurgada para o consumo, água esta indevida e sem qualidade para os sistemas
industriais. Alguns exemplos que podem ser dados para esse tipo de usuário são:
sistemas de irrigação de áreas verdes, sistemas de limpeza de área industrial e de
limpeza de pisos, sistemas de descarga de vasos sanitários, além de sistemas de combate
a incêndio.
Na medida do possível, a refinaria, assim como qualquer empresa que busque implantar
um projeto de racionalização e reúso de água, deve buscar reaproveitar a purga de água,
já que, desta forma, ela estará trazendo mais dois resultados positivos no caráter
ambiental. O primeiro, reduzindo o descarte de água em um corpo receptor, chegando
cada vez mais perto do objetivo buscado por muitos, o “zero discharge”. O segundo,
reduzindo a necessidade de aporte de água na refinaria, diminuindo os gastos com a
aquisição deste insumo, tratamento e recalque.
Quando se pensa nas formas de tratamento do efluente industrial para se atingir a
qualidade para o reúso, é importante que se entenda que não há uma qualidade definida
e padronizada, já que depende do futuro consumidor e de quantas vezes se deseja
reciclar um litro d’água antes da purga, uma vez que quanto maior a necessidade de
ciclos antes da purga, melhor deverá ser a qualidade e eficiência do tratamento. Tal
decisão deverá também ser pensada com o conhecimento da situação dos recursos
hídricos da região onde se encontra a refinaria.
Logicamente, para regiões com escassez de água, o que atualmente não é o caso do
município de Duque de Caxias, o número de ciclos deverá ser maior, já que a água
passa a ser um bem finito e escasso. Por outro lado, em uma região com abundância
deste recurso mineral não há a necessidade de altos investimentos na qualidade e na
eficiência do tratamento. O importante é se garantir que a água passe por mais de um
reciclo antes do descarte, já que a cada novo reciclo a refinaria estará contribuindo para
o desenvolvimento sustentável.
Assim como não há uma qualidade pré-estabelecida para a água de reúso ou reciclo, não
existe uma tecnologia ideal, mas sim, diversas operações unitárias de tratamento, cada
41
uma com a sua vantagem técnica e econômica. Portanto, depois de se definir o usuário
da água reciclada, é importante que se levantem as possíveis formas de tratamento do
efluente industrial para se atingir a qualidade desejada. A partir do conhecimento das
formas de tratamento, a refinaria deverá estudar as suas possibilidades, considerando o
capital disponível, a área existente para a construção da planta, os custos operacionais
de cada tecnologia proposta, o tempo de tratamento do efluente, as facilidades
operacionais de cada rota, dentre outros parâmetros.
Na dissertação de Collares, em 2004, o autor aponta um diagrama de Reciclagem e
Reúso de Água desenvolvido pela prestadora de serviço Veolia-USFilters para a
indústria de petróleo. O diagrama, o qual pode ser visto abaixo, é uma proposta daquela
empresa, não sendo a única, entretanto, podendo servir de exemplo para a discussão em
questão e para o entendimento do leitor.
Figura 3 Fluxograma de uma forma de tratamento de esgoto em refinaria de
petróleo (Fonte: COLLARES, 2004)
Para cada uma das etapas apresentadas, segundo Collares, existe ao menos uma
tecnologia adequada, conforme poderá ser observado abaixo:
H
Disposição/ Recuperação
Torre de resfriamento Processo/Fabricação
Água de incêndio Utilidades
Pré-tratamento p/ desmineralização Manipulação
de Sólidos
Recuperação de
Óleo
Concentrador Salmora
Desmineralização
Tratamento Terciário
Remoção Inorgânica
Tratamento Biológico
Alimentação da Caldeira
Remoção de Óleo e Graxa
Esgoto
A B C D
E
F
G
I
42
A. Remoção de óleo e graxa: Separadores API, Filtro Shell, Separador de
Precipitação Contínua, Ultrafiltros Poliméricos, Microfiltro Cerâmico, Flotação
Ar Dissolvido, Flotação Ar Induzido;
B. Remoção inorgânica: Clarificador de contato de sólidos, Separador Lamella,
Separador Polimérico, Precipitação, Oxidação/Redução;
C. Tratamento biológico: Estripagem Ar/Vapor, Tratamento Anaeróbico, Filtro
Biológico, Biodiscos rotativos, Lodos Ativados, Sistema de Tratamento de
Efluentes PACT®, Nitrificação/Denitrificação, Ultrafiltração Polimérica,
Adsorção com carvão ativo, Sistema de remoção Clerify®, Reator Biológico
com Membrana – MBR (combina o tratamento biológico [C] com o tratamento
terciário [D]);
D. Tratamento terciário: Filtração de meios múltiplos, Filtração ascendente,
Filtração com carvão ativo, Filtração de areia por gravidade, Filtração
polimérica, Filtração cerâmica, Ultrafiltração, Clarificador por adsorção,
Filtração com cartuchos;
E. Pré-tratamento para desmineralização: Troca iônica seletiva, Abrandamento,
Adsorvedores poliméricos, Desinfecção, Remoção desinfetante, Antiscalants,
Modificação de pH, Radiação Ultravioleta, Degaseificação;
F. Desmineralização: Osmose Reversa, Troca Iônica, Evaporação, Deionização
Contínua, Nanofiltração, eletrodiálise inversa;
G. Concentração da salmora: Recompressão Mecânica, Cristalizador Evaporador,
Concentrador de Salmora, Circulação Forçada;
H. Manipulação de sólidos: Adensamento por gravidade, Filtro de Correia, Filtro
Prensa, Secador de Lodo, Sistema de regeneração de ar úmido.
Porém, para que se atinja a qualidade desejada, deverá ser prevista uma seqüência de
operações unitárias, cada uma com o seu objetivo definido de remoção de um
determinado contaminante e de preparação e enquadramento do efluente para a etapa de
tratamento seguinte.
43
Pelo fato de existir mais de uma forma de se atingir a especificação técnica necessária, é
fácil concluir que cada uma terá os seus custos de investimento e de operação. Esta
dissertação não se propõe a definir a tecnologia mais adequada para a REDUC e nem se
propõe a apresentar uma memória de cálculo específica para um projeto, já que o
objetivo da mesma é a apresentação de alternativas à refinaria para que, em uma etapa
futura, a mesma, se interessada, possa aprofundar o assunto através da contratação de
empresas especializadas.
Todavia, é importante que se apresentem as aplicações práticas das principais
tecnologias citadas anteriormente para a REDUC.
Tabela 12 Tecnologias de tratamento de água e efluentes nas refinarias da Petrobras
Tecnologias de tratamento
Remoção específica Aplicação
Clarificação Remoção de turbidez Torres de resfriamento Filtração Remoção de sólidos
suspensos Potabilização, dentre outras
Cloração (desinfecção) Microorganismos patogênicos
Água potável
Adsorção com carvão ativado
Compostos orgânicos refratários
Proteção das cadeias de troca iônica, de membranas de osmose reversa e remoção de DQO em lodo ativado
Desmineralização Íons metálicos, Sólidos totais dissolvidos
Geração de vapor
Microfiltração Partículas até 0,1 μm Pré-tratamento para osmose reversa
Ultrafiltração Partículas até 0,01 μm Torres de resfriamento e diversos Nanofiltração Partículas até 0,001 μm - Osmose reversa Partículas até 0,0001 μm Geração de vapor de baixa e
média pressão Eletrodiálise Íons metálicos, SDT - Eletrodeionização Íons metálicos, SDT - Retificação(stripping) Amônia, gás sulfídrico,
VOCs, CO2 Pré-tratamento p/ETDI e recuperação de enxofre
Separação por gravidade Óleo e graxa Tratamento de efluente final e recuperação de óleo
Fonte: Adaptado de COLLARES (2004).
44
Tabela 12 Tecnologias de tratamento de água e efluentes nas refinarias da Petrobras
(continuação)
Tecnologias de tratamento
Remoção específica Aplicação
Flotação Remoção de óleo e sólidos suspensos
Pré-tratamento p/sistema biológico
Centrifugação Separação de lodo Reúso de água Lagoas de estabilização Matéria orgânica Tratamento de efluente Filtros biológicos Matéria Orgânica Tratamento do efluente Lodos Ativados Matéria Orgânica Tratamento do efluente Recarbonatação Fósforo - Ozonização Demanda Química de
Oxigênio -
Fonte: Adaptado de COLLARES (2004).
Apesar do foco desta dissertação não ser a apresentação da melhor tecnologia para a
REDUC, vale ressaltar que um projeto de reúso e de reciclo de água deve considerar
também tratamentos de efluentes descentralizados, visando à redução dos
investimentos. Com isso, é primordial que a equipe responsável pelo projeto de reúso
tenha total conhecimento das unidades de processo da REDUC, sabendo as
características dos efluentes gerados por cada uma delas e as especificações das águas
consumidas. A questão aqui abordada é que muitas vezes um efluente de processo pode
ter a qualidade ideal para ser reutilizado, sem tratamento, por outro processo industrial
da refinaria. Esta análise é importante, uma vez que contribui para a redução dos gastos
que seriam feitos para uma estação de tratamento única.
Uma excelente ferramenta para otimizações do reúso de água é a “water pinch”, que
trabalha a questão como transferência de massa, possibilitando o uso direto ou
misturado de correntes de água da refinaria, sem a necessidade de tratamentos (PERES
apud AMORIM, 2005).
Entretanto, não se pode deixar de considerar que a cada novo ciclo de água no interior
da refinaria, ocorre a promoção de perdas por evaporação, principalmente nas unidades
de resfriamento. A evaporação contribui para a concentração de algumas substâncias
não voláteis, tais como sais. Isto significa que certos parâmetros que já são difíceis de
serem tratados na atualidade, tais como cloreto e sílica, tenderão a se concentrar a cada
45
ciclo de água, fazendo com que a água de purga descartada seja cada vez mais difícil de
ser enquadrada nos critérios estabelecidos pelos órgãos ambientais. A elevação dos
teores de sal dificulta o tratamento do efluente nas estações de tratamento, sendo
necessária a instalação de unidades de remoção de sais para que se garanta a
possibilidade do uso industrial ou mesmo o lançamento no corpo receptor. Tais
unidades de tratamento, apesar de terem seus custos reduzidos ano a ano, ainda são
consideradas caras (vide seção 7.5). Entretanto, nestes casos, pode-se utilizar a água
com teores elevados de sais para processos industriais que permitam tal qualidade,
como por exemplo, pressurização de redes de combate a incêndio. Contudo, tal uso sem
tratamento pode acarretar, no médio e longo prazo, a corrosão interna das unidades
assim como a deposição de sólidos nas tubulações. Por ser um processo crítico para a
manutenção da segurança na refinaria, técnicos da Petrobras receiam que tal utilização
possa afetar o bom funcionamento dos sistemas de combate a incêndio (AMORIM,
2005).
Não são somente os sais, os contaminantes que preocupam quando se recicla o efluente
industrial de uma refinaria. Foi justamente por isso que a Petrobras implantou o Projeto
de Pesquisa intitulado Reúso de Efluentes de Refinarias. O projeto consiste no estudo de
diversas tecnologias modernas localizadas na Refinaria Gabriel Passos - REGAP, em
Minas Gerais. Todas as unidades visam à remoção de sólidos suspensos, a remoção de
carga orgânica e de íons através das seguintes tecnologias: (i) ultrafiltração com
tratamento terciário por carvão ativado ou osmose inversa; (ii) ultrafiltração no
tratamento secundário por biorreatores a membrana, biorreatores, eletrodiálise inversa e
osmose inversa; (iii) polimento através da remoção de íons.
O projeto coordenado pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo
Miguez de Mello – CENPES visa, principalmente, ao reúso de água em torres de
resfriamento, já que tal usuário responde pela maior parte da água consumida em uma
refinaria de petróleo. Para se garantir a qualidade da água a ser utilizada em
resfriadores, é importante que se atinjam padrões reduzidos de contaminantes, tais como
sais, sendo importante a preocupação com o número de ciclos de água na refinaria.
Quando se remove os sais do efluente deve-se ter em mente a destinação final adequada
de tal resíduo para aterros licenciados por órgão ambientais competentes, ou para outras
46
rotas de destinação final, sempre com a garantia do licenciamento ambiental, conforme
exige a Política Nacional de Meio Ambiente, lei no 6.938 de 1981.
Outro ponto importante do reúso é que a outorga do direito de uso. Assim como no
aproveitamento de águas pluviais, a reciclagem interna de água não é enquadrada nas
leis de outorga. Principalmente no caso da reciclagem de água, a água tratada e
consumida internamente já foi outorgada no momento da captação no manancial.
Assim, principalmente em situações de escassez, onde a outorga do direito de uso
poderá ser revogada permanentemente ou temporariamente, projetos de reúso de água
são cada vez mais relevantes e estratégicos.
A reciclagem de efluentes industriais propicia ainda a redução da responsabilidade legal
da indústria, uma vez que há a redução parcial ou total do despejo de efluentes em
corpos hídricos. Outro aspecto que deve ser sempre considerado é a melhoria da
imagem corporativa da empresa, já que a mesma deixa de gerar efluentes na quantidade
que o fazia antes da implantação do programa de reúso.
A REDUC gera 25.285 m³/dia (aproximadamente 0,3 m³/s) de efluente industrial
tratado e consome 41.342 m³/dia (aproximadamente 0,5 m³/s) de água (PETROBRAS,
2005), proveniente dos rios Saracuruna e Guandu. Portanto, se a refinaria implantar um
programa de reúso de água e aperfeiçoar a sua estação de tratamento de modo a permitir
que o efluente tratado possa ser totalmente reutilizado no sistema de resfriamento
daquela instalação, ela terá um potencial máximo de reaproveitamento de 100% do
efluente gerado e obterá um potencial máximo de redução de 61% do consumo de água
dos mananciais de captação.
Ou seja, com a reciclagem de efluente industrial, a REDUC poderá reduzir o seu
consumo de água em até 61%. Entretanto, não se pode apenas considerar o volume de
efluente a ser reutilizado. Outros aspectos devem ser levados em consideração quando
se resolve implantar um programa de reúso de água. A qualidade do efluente tratado
deve ser totalmente compatível com o futuro usuário da água de reúso, e, para se
garantir isso, é essencial que se realize um bom programa de monitoramento.
47
Devido às altas concentrações de alguns parâmetros, mesmo que enquadrados segundo
os critérios estabelecidos na legislação ambiental, o reúso não poderá ser de 100% do
efluente gerado por um motivo muito simples: se não realizarmos purgas programas de
efluentes, a concentração dos poluentes se elevará em cada novo ciclo dado pela água,
podendo inviabilizar o reúso. É exatamente por este motivo que se deve primeiro definir
o usuário, em segundo lugar é importante se conhecer a qualidade da água exigida pelo
usuário; em seguida, deve-se tratar o efluente até que se atinja a qualidade desejada,
para, por fim, se reutilizá-la.
Para se aumentar a eficiência do reúso (razão entre água reutilizada e água demandada),
deve-se aumentar a eficiência do tratamento de efluentes. Entretanto, quanto melhor a
eficiência de tratamento, maiores os gastos com sistemas unitários (exemplo:
membranas de ultra-filtração, nano-filtração e osmose-inversa). À luz destas
informações, pode-se facilmente notar que a eficiência do reúso deverá ser ditada
também pela disponibilidade financeira para os investimentos. Na verdade, deverá se
determinar o ponto ótimo, considerando sempre o custo atual e futuro da água de
captação dos rios Saracuruna e Guandu. Todavia, é sempre bom lembrar que o custo da
água hoje certamente será diferente do custo futuro, isso se o consumo de água
continuar aumentando de forma exploratória. Ou seja, em uma situação confortável de
oferta e demanda, os investimentos em reúso ainda podem ser considerados elevados,
mas, em uma situação de escassez de água, o reúso pode ser a única saída.
Para se evitar problemas depois de implantada a nova estação de tratamento de
efluentes, sugere-se uma etapa inicial de teste em uma planta piloto. Nesta etapa, a idéia
é se construir uma pequena unidade de tratamento combinada a uma pequena unidade
de resfriamento. Após uma fase de experimentos, será possível se definir a planta de
tratamento que seja a mais adequada para a refinaria, e, assim, poderá se investir na
implantação do projeto.
No entanto, quando se combina usuários diferentes, a eficiência de reúso aumenta. Por
exemplo, ao se considerar no projeto o uso da água tratada em sistemas de irrigação de
áreas verdes, lavagem de piso e lavagens industriais, a água utilizada não retorna para a
estação de tratamento. Desta forma, estão sendo combinados a necessidade de purga
48
natural do sistema com o reúso em outros usuários. Com isso, será possível aumentar a
eficiência do reúso, reduzindo ainda mais a necessidade de captação de água na região.
49
7.4 Reúso de Esgoto Doméstico das Comunidades Vizinhas
De uma certa forma, apesar de sempre ter existido o reúso de água, o que evolui e
continuará a evoluir é a tecnologia aplicada.
Quando se analisa e se estuda o Ciclo Hidrológico, pode-se facilmente concluir que a
água que bebemos hoje é proveniente de um rio, lago ou aqüífero subterrâneo. Esta
água está presente no corpo hídrico de captação devido ao Ciclo Hidrológico.
O Ciclo Hidrológico é um dos ciclos biogeoquímicos existentes na natureza, e consiste
na evaporação, na precipitação, na infiltração e no escoamento superficial da água. Ou
seja, toda a água presente em um rio, por exemplo, já esteve na forma de vapor d’água
nas nuvens, já precipitou sobre o solo e, agora, está escoando sobre o mesmo na forma
de um rio. Portanto, a água presente no esgoto que despejamos nos mananciais pode
retornar a um outro corpo hídrico na forma de chuvas, resultando, finalmente, em reúso
de água.
Ao implantarmos uma Estação de Tratamento de Esgoto – ETE que visa ao reúso de
água, estamos agregando tecnologia ao processo.
Na seção anterior, foi possível observar que a reciclagem de efluentes industriais, caso
não seja feita de forma adequada e responsável, pode trazer um sério problema às
indústrias, e, no caso específico deste trabalho, à REDUC. A cada novo ciclo do
efluente tratado na refinaria os teores de certos contaminantes podem ser aumentados,
como os sais, já que processos de remoção desses compostos químicos ainda têm preços
consideráveis para o padrão nacional.
O esgoto sanitário de municípios tem características físico-químicas diferentes de
efluentes industriais de refinarias de petróleo. Teores de óleos e graxas, de amônia e de
sais apresentam valores bem inferiores. Outra informação importante é que, pelo fato de
existir pouca variação entre esgotos sanitários de diferentes municípios, a sua
tecnologia de tratamento já é dominada pelo meio acadêmico e empresarial. Já a
50
tecnologia de tratamento de efluentes industriais é diferente para cada indústria,
inclusive em refinarias. Sistemas unitários como separadores de água e óleo, flotadores,
unidades de nitrificação e denitrificação e sistemas de remoção de sólidos dissolvidos
passam a ser importantes nas ETEs (Estações de Tratamento de Efluentes) de indústrias,
principalmente nas ETDIs (Estações de Tratamento de Despejos Industriais) de
refinarias.
O custo de enquadramento para o reúso de água de esgoto sanitário municipal é, na
maior parte das vezes, menor que o custo para o tratamento e enquadramento de
efluentes industriais. Tal observação leva os empresários a considerar atualmente o
reúso de esgoto sanitário doméstico de comunidades vizinhas como uma alternativa
complementar ao abastecimento de água de sua empresa.
Além de possibilitar o aporte de água às suas instalações, o empresário ainda
proporciona uma ação de cidadania com vistas à responsabilidade social e ainda
melhora a sua imagem corporativa perante a comunidade de entorno. Atualmente, com
o mercado cada vez mais concorrido, e, principalmente depois da quebra do monopólio
do petróleo no Brasil, empresas multinacionais iniciaram um processo de altos
investimentos no País, e na área de refino não é diferente. Apesar da Petrobras ser a
maior refinadora de petróleo do Brasil, a Ipiranga e a Manguinhos já possuem unidades
instaladas no Brasil. Até o término do levantamento de dados para a execução desta
dissertação de mestrado, empresas como a PEDEVESA e a SYNOPEC já indicaram a
intenção de se instalarem no Brasil, sendo a primeira no estado de Pernambuco e a
segunda no estado do Espírito Santo.
A certificação na norma SA 8000 (Social Accountability International) já é uma
realidade em diversas empresas brasileiras. A própria Petrobras possui as seguintes
instalações certificadas nessa norma: REGAP, REPLAN, LUBNOR, REDUC e
ABASTECIMENTO (SAI, 2006). A preocupação com a responsabilidade social já faz
parte do hall de preocupações e atenções do empresariado nacional. Com o reúso de
esgotos domiciliares, a refinaria estaria optando por possuir uma nova alternativa
complementar para o seu abastecimento de água, além de propiciar a melhoria do
saneamento básico das comunidades vizinhas do município de Duque de Caxias.
51
Infelizmente o nosso país não conta com um bom programa de saneamento básico.
Diversas residências não contam com água encanada e menos ainda com coleta dos seus
esgotos. Mesmo quando são coletados, muitas vezes os esgotos não são tratados de
forma adequada, levando a poluição para o local de despejo final como, por exemplo, as
saídas dos emissários submarinos ou lagoas próximas que servem de ponto de descarte
do esgoto coletado.
Se a refinaria optar por um processo de coleta, transporte e tratamento de um
determinado volume de esgoto sanitário de Duque de Caxias, estaria contribuindo, sem
sombra de dúvidas, para o desenvolvimento daquela região, para a melhoria da
qualidade de vida daquela população e para uma maior segurança com relação ao
abastecimento de água. Além disso, a REDUC estaria antecipando um planejamento da
CEDAE de instituir um Programa de Reúso, visando estudar no mercado um produto
complementar de uso não potável (CEDAE – Relatório XI – 2004).
Estações de tratamento com tecnologia já utilizada pelas concessionárias de serviços
públicos garantem a remoção de material grosseiro, areia e matéria orgânica do esgoto,
através de processos unitários, tais como gradeamento, caixas de areia, filtros
biológicos, lodo ativado e lagoas de estabilização: facultativa, anaeróbias e aeróbias.
Para possibilitar o reúso de água, faz-se necessária a instalação de processos terciários
de tratamento, capazes de aumentar eficiência na remoção de matéria orgânica e de
sólidos em suspensão, além de permitirem a remoção de sólidos dissolvidos, cuja
eficiência está diretamente ligada ao tipo de processo adotado. Membranas de micro-
filtração e ultra-filtração são comumente utilizadas para tal fim. Em uma etapa final, o
esgoto tratado deverá passar por um processo de desinfecção, com o intuito de se
aumentar a segurança dos trabalhadores, os quais poderão ter algum tipo de contato com
a água de reúso.
52
Figura 4 Diâmetro de corte normalmente empregado em cada
processo de filtração (Fonte: PETROBRAS, 2004 - A e PESSOA
JR. 2005)
Através dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, diversas tecnologias
surgiram nos últimos anos, tais como os biorreatores a membrana. Trata-se de uma
tecnologia recente e ainda pouco explorada no Brasil e no mundo. Os biorreatores a
membrana (Membrane Biological Reactor – MBR) são biorreatores com biomassa
suspensa e altamente concentrada, com a utilização de membranas no seu interior,
combinando assim um processo secundário de tratamento com um processo terciário.
Este processo elimina a necessidade de sistemas de decantação, reduzindo a área
necessária para a construção da ETE. Outra vantagem interessante é a alta eficiência na
remoção de microorganismos, a baixa turbidez do efluente, o maior controle na idade do
lodo, reduzidos tempos de residência hidráulica e baixa produção de lodo. O MBR
viabiliza perfeitamente o reúso, e tal tecnologia já vem sendo empregada no Brasil. A
Petrobras pretende utilizá-la em escala industrial no CENPES, na LUBNOR e na
REVAP. Atualmente, já estão sendo realizados testes na REGAP, em Betim, Minas
Gerais.
53
Figura 5 Módulo de membrana submersa no tanque de aeração e externa ao
tanque de aeração (Fonte: PETROBRAS, 2004 - B)
(a) (b)
Figura 6 Fotografias de membranas de ultra-filtração modelo ZeeWeed®, da
empresa Zenon, (a) antes e (b) depois do uso (Fonte: PETROBRAS, 2004 - D)
Para a viabilização desta modalidade de reúso, e desta alternativa complementar, é
primordial que se façam as seguintes análises:
a) distância entre a REDUC e a comunidade mais próxima;
b) distância entre a REDUC e a ETE existente;
c) existência de sistema de coleta de esgoto sanitário;
d) existência de sistema de tratamento de esgoto sanitário;
e) vazão existente de esgoto gerado e sua variação ao longo do dia, nos fins de
semana e durante o ano; e
f) custos adicionais decorrentes da utilização do esgoto, tais como: desinfecção,
tratamento e remoção de fósforo e amônia e tratamento e disposição final do
lodo gerado.
54
A partir da avaliação dos pontos acima destacados, é possível se realizar um estudo de
viabilidade técnica e econômica do processo proposto, para assim se decidir qual a
vazão a ser (i) coletada e (ii) tratada, para viabilizar o reúso.
Caso não exista um sistema de coleta de esgoto já implantado, o custo do investimento
aumenta, já que será necessária a construção de uma rede de coleta de esgoto domicilar,
para posterior adução para tratamento em uma ETE próxima à REDUC. Tal ETE poderá
utilizar tecnologias convencionais de tratamento, ou tecnologias de vanguarda, como o
MBR. A opinião do autor é que se busque sempre tecnologias avançadas, porém, viáveis
economicamente.
Uma informação que deve ser levada em consideração durante o estudo de viabilidade
técnica e econômica é o retorno do investimento. O reúso de água é proposto em duas
situações: (i) quando há escassez de água e (ii) quando o custo da eventual coleta e do
tratamento compensam a substituição parcial ou total da captação de água utilizada
convencionalmente. Concessionárias de serviços públicos têm custos maiores para
coletar o esgoto sanitário e tratá-lo, e para captar água e distribuí-la para população,
uma vez que sua rede de coleta de esgoto e de distribuição de água possuem dimensões
superiores. Os custos de implantação e de manutenção das redes adutoras e coletoras
são somados a vazamentos de água existentes, à inadimplência nos pagamentos pelos
usuários e no custo de tratamento de água e de esgoto, que, no caso da água, em
situação de estiagem, se elevam demasiadamente devido ao aumento da concentração
de poluentes (redução do volume de água natural de diluição).
São custos como os relatados acima que viabilizam os sistemas de reúso privado, uma
vez que o empresário pode gerenciar melhor sistemas de menor porte. Investimentos em
reúso se pagam em alguns anos através da economia nos gastos relativos a
abastecimento de água, uma vez que em se implantando projetos como os propostos
neste capítulo, haverá a redução no consumo de água de corpos hídricos. O tempo
percorrido até que os investimentos possam ser considerados pagos depende da
tecnologia empregada no tratamento e qual a eficiência da ETE.
55
Além das despesas com o tratamento do efluente, no caso específico da REDUC, os
custos com manutenção da rede adutora de água do rio Guandu deverão ser maiores que
os gastos com a rede de coleta de esgoto sanitário de Duque de Caxias, uma vez que a
extensão da adutora do Guandu é muito maior. Contudo, é importante que a refinaria
considere esta possibilidade no seu estudo detalhado, caso este venha a ser realizado.
Para que seja possível a redução dos custos de implantação da nova rede de coleta de
esgoto sanitário, a REDUC poderá propor à prefeitura e à concessionária uma isenção
de impostos ou a participação nos custos, já que um projeto como o citado neste
capítulo trará ganhos ambientais e de saúde pública à população. Cabe citar que para a
prefeitura e para a concessionária também será interessante dividir esse investimento
com a refinaria, já que se trata de um projeto de utilidade pública que melhora os
índices de saneamento básico, e que deveria ser disponibilizado para todo cidadão.
O reúso de esgoto sanitário é uma medida extremamente sustentável do ponto de vista
ambiental, uma vez que reduz a necessidade de exploração dos mananciais onde a
REDUC capta sua água, desvia o esgoto municipal que seria lançado indevidamente no
meio ambiente para uma ETE adequada, propicia a adequação do saneamento básico da
região, eleva a qualidade de vida da população envolvida e reduz as despesas da
população contemplada com contas de água e esgoto e com saúde pública. Além disso,
investimentos em saneamento básico contribuem para a redução dos gastos em saúde
pública, uma vez que reduzem o número de casos de doenças de veiculação hídrica.
Poderá haver uma negociação no sentido da população contemplada com o projeto,
além de receber um investimento em saneamento básico, obter uma redução no custo de
sua conta d’água, ou mesmo não precisar mais se preocupar com o pagamento de
contas relativas ao tratamento de esgoto, uma vez que o mesmo poderá ser tratado pela
refinaria.
A água tratada visando ao reúso poderia ser utilizada em usos menos nobres da
refinaria, onde a qualidade da água não precisa ter padrão de potabilização.
Normalmente, a água de reúso, tanto de efluente industrial quanto de esgoto doméstico,
tem sido utilizada em sistemas de resfriamento. O principal motivo para se adotar este
56
consumidor final é pelo fato dele ser um grande usuário, respondendo, muitas vezes, por
mais de 50% da água consumida em uma refinaria (MCINTYRE, ____).
A principal preocupação que se deve ter com o sistema de resfriamento de refinarias é
se evitar corrosão e incrustação. Para se evitar tais processos degradantes é importante
se controlar (i) a salinidade, a dureza de cálcio, o pH e a presença de ácido carbônico, o
tipo de fluxo, a formação de depósitos causados pela presença de sílica coloidal, óxido
de ferro e pela redução de sais metálicos dissolvidos na água, além da formação de
borras decorrente da degradação de produtos do tratamento da corrosão.
A tabela abaixo apresenta uma comparação entre a qualidade da água proposta para
indústrias por James Crook (apud MIERZWA, 2002), em 1996, e para refinarias pela
Petrobras, em 2004.
Tabela 13 Padrão de qualidade recomendado para água de resfriamento
Parâmetro Crook Petrobras - tradicional
-
Petrobras - avançado -
Alcalinidade (mg/l de CaCO3) 350 30 60
Alumínio (mg/l) 0,1 2,5 3,0
Amônia (mg/l) N.C. 20 20
Bicarbonato (mg/l) 24 N.C. N.C.
Cálcio (mg/l) 50 N.C. N.C.
Carbono Orgânico Total (mg/l) N.C. 30 80
Cloretos (mg/l) 500 500 5.000
Cloro Livre (mg/l) N.C. 1,5 1,5
Compostos orgânicos1 (mg/l) 1,0 N.C. N.C.
Condutividade (μS/cm) N.C. 5.000 10.000
DBO5,20 (mg/l) 25 N.C. N.C.
DQO (mg/l) 75 N.C. N.C.
Dureza de Cálcio N.C. 300 300 1 Substâncias ativas ao azul de metileno.
N.C. – Não Considerado; S.R. – Sem Restrição.
Fontes: CROOK apud MIERZWA, 2002; PETROBRAS, 2004 - C.
57
Tabela 13 Padrão de qualidade recomendado para água de resfriamento
(continuação) Parâmetro Crook Petrobras
- tradicional -
Petrobras - avançado -
Dureza Total (mg/l) 650 S.R. S.R.
Ferro (mg/l) 0,5 4,0 6,0
Fosfato (mg/l) 4,0 5,5 a 7,0 8,0 a 11,0
Magnésio (mg/l) 0,5 N.C. N.C.
Manganês (mg/l) 0,5 N.C. N.C.
Matéria Orgânica (mg/l) N.C. 15 40
Nitrogênio amoniacal (mg/l) 1,0 N.C. N.C.
Óleos e Graxas (mg/l) N.C. 10 30
pH 6,9 a 9,0 6,5 a 8,5 7,0 a 9,0
População Bacteriana (UFC/ml) N.C. 10.000 10.000
Sílica (mg/l) 50 180 200
Sólidos Dissolvidos Totais (mg/l) 500 N.C. N.C.
Sólidos Suspensos Totais (mg/l) 100 30 200
Substâncias extraídas em Tetracloreto de Carbono (mg/l)
N.C. N.C. N.C.
Sulfato (mg/l) 200 500 5.000
Sulfetos (mg/l) N.C. 4,0 4,0
Temperatura da Película Trocador (oC)
N.C. 70 80
Tempo de Residência (h) N.C. 50 a 150 220
Turbidez (ppm de SiO2) 50 30 200
Zinco Ionizado (mg/l) N.C. 0,9 2,3
Zinco Total (mg/l) N.C. 1,0 a 2,0 2,5 a 4,0 N.C. – Não Considerado; S.R. – Sem Restrição.
Fontes: CROOK apud MIERZWA, 2002; PETROBRAS, 2004 - C.
Quanto maior a diferença entre a qualidade da água atual e a qualidade pretendida, mais
caro o tratamento. Todavia, assim como na atividade de Exploração & Produção de
petróleo, em que um empreendimento passa a ser economicamente viável à medida que
ocorre um aumento considerável no preço do barril de petróleo, com o aumento da
58
poluição nos mananciais de captação, maiores os custos de tratamento da água captada.
Com isso, o reúso de água fica cada vez mais atrativo e, em certas situações, necessário.
No caso específico da região em estudo, as seções 6.1 e 6.2 apresentam uma geração de
esgoto sanitário de:
Baixada Fluminense: entre 360 e 450 mil m³/dia
Duque de Caxias: entre 97 e 122 mil m³/dia
Os dados acima mostram o potencial desse recurso que está disponível para a REDUC e
para as demais indústrias instaladas na região.
59
7.5 Dessalinização da Água da Baía da Guanabara
A dessanilização de água do mar vem sendo estudada e aplicada por diversas cidades do
mundo para evitar a situação da escassez de água. Logicamente, a maior parte dos
exemplos existentes não teve outra alternativa senão a dessanilização.
Principalmente devido ao alto custo, este processo de tratamento de remoção de sal da
água do mar para fins de potabilização ou de aplicação industrial, ainda é evitado. No
entanto, estudos mostram que os custos vêm baixando ano a ano, resultando em uma
taxa de crescimento de aplicação desta tecnologia de 11%. Este crescimento se deve,
principalmente, aos avanços tecnológicos obtidos nos últimos anos. Todavia, a maior
parte dos projetos de conservação e de otimização dos recursos hídricos podem atingir
as mesmas necessidades a 10-25% do custo da dessanilização (WWI, 2004).
Atualmente há no mundo cerca de 9.500 usinas de dessanilização em operação, com
uma capacidade instalada de aproximadamente 11,8 bilhões de m3 por ano, 0,3% do
consumo mundial (vide tabela abaixo). A maior parte das usinas estão localizadas no
Oriente Médio. Israel, por exemplo, tem um projeto de gerar até metade do seu
abastecimento urbano de água da dessanilização até 2008. Em uma região onde diversos
países já se encontram em situação de escassez, projetos como este contribuem para a
melhor distribuição dos recursos hídricos (USDI, 2003).
Tabela 14 Localização das Usinas de Dessalinização de Água em operação em
2001
Região Número de Usinas Capacidade Instalada
(m3/d)
Estados Unidos 1.863 5,129 x 106
América Central 167 0,399 x 106
Canadá / Bermuda 69 0,082 x 106
Caribe 240 0,741 x 106
América do Sul 142 0,261 x 106
Europa 1.572 4,182 x 106
Fonte: USDI (2003).
60
Tabela 14 Localização das Usinas de Dessalinização de Água em operação em
2001 (continuação)
Região Número de Usinas Capacidade Instalada
(m3/d)
África 786 1,662 x 106
Oriente Médio 2.470 15,855 x 106
Ásia 1.994 3,625 x 106
Austrália 134 0,239 x 106
Rússia 32 0,125 x 106
Outros 41 0,071 x 106
Total 9.510 32,373 x 106
Fonte: USDI (2003).
De toda a capacidade instalada de dessalinização de água no mundo, cerca de um terço
tem como objetivo abastecer municípios, e aproximadamente um quarto abastece as
indústrias. Para atender a esta demanda, há diversas tecnologias no mercado, tais como
a Osmose Reversa (OR), Eletrodiálise (ED), Eletrodiálise Reversa (EDR) e Destilação.
Cada uma dessas tecnologias apresenta o seu custo. Entretanto, para se poder avaliar o
benefício que cada uma traz para a indústria, no caso, a REDUC, é importante
considerar os seguintes pontos:
• Qualidade desejada para a água;
• Qualidade e disponibilidade da fonte de água salgada;
• Disponibilidade energética e o custo de energia;
• Distância entre o ponto de captação e o consumo da água tratada;
• Concentração do rejeito gerado e local de disposição final;
• Fatores ambientais, tais como possíveis impactos ambientais causados pela
captação e lançamento da corrente concentrada em sais; e
• Restrições locais para a instalação.
Para cada teor de Sólidos Dissolvidos Totais (SDT), sugere-se uma determinada
tecnologia de tratamento, conforme tabela a seguir.
61
Tabela 15 Processos de Tratamento para cada teor de SDT
Teor de SDT Processo
30.000 – 60.000 mg/l Destilação
1.500 – 45.000 mg/l OR
500 – 2.500 mg/l ED
Fonte: USDI (2003).
Cada um dos processos acima gera um rejeito com uma determinada concentração de
sais, com alta capacidade de corrosão e erosão. Fundamentalmente, considerando uma
baixa variação da qualidade dá água salgada, quanto melhor a eficiência do tratamento,
e, portanto, quanto menor a concentração de sais na água tratada, maior a concentração
de sais no rejeito e maior o cuidado que se deve ter com a sua disposição final. Plantas
de Osmose Reversa para dessalinização da água do mar, por exemplo, podem gerar
rejeitos com concentração entre 70.000 e 80.000 mg/l de SDT. O descarte deste rejeito
em rios e lagos pode causar danos ambientais de grande proporção devido à alta
toxicidade. As formas mais efetuadas de descarte são: emissários com difusores,
levando o rejeito ao mar, reduzindo assim maiores danos; injeção em poços; e
evaporação (USDI, 2003). Para todos os casos, é imprescindível um Estudo de Impacto
Ambiental – EIA.
As tabelas seguintes apresentam alguns exemplos de custo de plantas de tratamento de
diversos portes, e o custo por metro cúbico tratado nas plantas apresentadas. É
importante notar que com o aumento da vazão da planta de dessanilização, ocorre a
redução tanto do custo de instalação quanto de tratamento. O aumento da vazão de
3,785 m³/d para 189.250 m³/d reduz o custo de instalação e de tratamento em até 5
vezes.
62
Tabela 16 Apresentação dos Custos de Tratamento por Osmose Reversa
Unidade de 18.925 m3/d (5.000 g/d)
Unidade de 37.850 m3/d (10.000 g/d)
Custo de uma planta de dessalinização de água do mar
Até US$ 1.500 / m3 Aproximadamente US$ 1.000 / m3
Custo do m3 tratado em uma planta de dessalinização de água do mar
Até US$ 0,75 / m3 Aproximadamente US$ 0,60 / m3
Fonte: USDI (2003).
Tabela 17 Comparação de custos de tratamento por tecnologia
Processo Custo da instalação A (US$)
Custo do Tratamento A,B
(US$ / m³) Evaporação de multi-estágio (91.500 m³/d – SDTi = 34,5 g/l) 217 milhões 1,74
Destilação multi-efeito (91.500 m³/d – SDTi = 34,5 g/l) 141 milhões 0,85
Osmose Reversa (20 mil m³/d – SDTi = 34,5 g/l) 46 milhões 1,12
Eletrodiálise Reversa (10 mil m³/d – SDTi = 3 g/l) 22 milhões 0,83 A Casos reais relatados no Apêndice D do Desalting Handbook for Planners (USDI, 2003). B Inclui custos operacionais, tais como produtos químicos e energia elétrica, depreciação do investimento e reposição das membranas. Fonte: USDI (2003).
Atualmente, no Brasil e principalmente na região onde se encontra a REDUC, a
dessalinização ainda pode parecer economicamente inviável, na medida em que há a
disponibilidade de água em qualidade e quantidade necessárias. Contudo, como o
estudo em questão pretende indicar alternativas complementares para qualquer refinaria
de petróleo e para qualquer indústria, esta seção é muito importante. Além disso,
enquanto os custos de dessalinização reduzem, ano a ano, os índices de poluição hídrica
aumentam. Em alguns anos, talvez, o custo da dessalinização poderá estar compatível
com o custo da despoluição de rios.
A dessalinização, no entanto, traz consigo uma necessidade de estudo da destinação do
seu rejeito. Antes da instalação de processos de dessalinização é importante que se
estude a correta destinação final da salmoura gerada. Como o estudo de caso desta
dissertação é uma refinaria de petróleo, uma idéia seria a sinergia entre as áreas de
63
abastecimento e de exploração & produção, com o intuito de se reutilizar, parcialmente
ou totalmente, o rejeito gerado em produção de salmouras utilizadas como fluidos de
perfuração e completação. Esses fluidos são utilizados na etapa de perfuração e
completação de poços, com o objetivo de garantir o equilíbrio de pressões do poço,
manutenção das suas paredes e o carreamento do cascalho gerado. No caso de fluidos
base água, a utilização de salmouras é usual, entretanto, para cada especificação de
fluido é necessário um tipo específico de salmoura, além do fato de boa parte dos
fluidos utilizados no Brasil serem sintéticos.
Apesar do seu custo elevado atualmente, é importante que essa fonte de abastecimento
não seja esquecida por completo, e que seja considerada nos novos empreendimentos da
REDUC e das demais indústrias. Além disso, é importante o aprofundamento do estudo
de reaproveitamento de rejeitos de unidades de dessalinização em fluidos de perfuração
e completação, utilizados pela atividade de exploração das empresas de petróleo. Dentro
de uma refinaria, são vários os exemplos de resíduos que passaram a ter valor agregado,
como por exemplo o asfalto e o enxofre.
64
7.6 Captação e Uso de Água Subterrânea
O Brasil é um país de clima predominantemente tropical, e com um deflúvio pluvial de
alta intensidade em boa parte do território nacional. Com características hidrogeológicas
que favorecem a infiltração e o armazenamento de água subterrânea, os aqüíferos
formados no território brasileiro podem ter dimensões de até milhões de quilômetros
quadrados, a espessura dos reservatórios subterrâneos podem ser de até centenas de
metros, podendo ainda estar próximos à superfície ou a uma profundidade grande. A
característica do solo pode ainda variar de acordo com a sua permeabilidade, além, é
claro, da influência do solo imediatamente superior e inferior, podendo resultar em
aqüíferos cuja pressão é superior à pressão atmosférica (REBOUÇAS apud AMORIM,
2005). O Ministério de Meio Ambiente estima que as reservas brasileiras de água
subterrânea podem atingir valores de até 112 mil km³ (AMORIM, 2005).
A qualidade da água subterrânea está diretamente ligada à formação rochosa e a
manutenção do Homem. Poços perfurados sem cuidados técnicos podem resultar em
contaminação da água subterrânea, comprometendo seu uso sustentável. Outro fator
limitante é o equilíbrio entre a vazão de captação e a vazão de recarga do aqüífero.
A água subterrânea também deve ser considerada nos estudos de oferta e demanda de
água em uma região onde se situa uma determinada indústria. Na REDUC não pode ser
diferente.
Entretanto, pelo fato da REDUC estar próxima de mananciais de superfície, a captação
de água subterrânea ao lado de um rio, de um lago e do mar pode ser considerada como
a captação de água dos próprios corpos d’água superficiais, a um custo maior. Com a
proximidade dos mananciais de superfície, a água só deve ser considerada como
subterrânea de for de poços arteseanos. Entretanto, como a REDUC dispõe de água
superficial relativamente próxima, talvez, o custo de bombeio da água subterrânea seja
superior ao custo da adução da água do Saracuruna, por exemplo, cuja qualidade é
excelente.
65
8 RACIONALIZAÇÃO DE OFERTA DE ÁGUA
8.1 O Rio Guandu e a Região Metropolitana do Rio de Janeiro
A bacia do Rio Guandu possui, aproximadamente, 1400 km², e tem como usuários de
destaque a LIGHT, responsável por gerar energia, e a CEDAE, responsável por
abastecer cerca de 8 milhões de pessoas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro
(85% da população da RMRJ).
Boa parte da vazão deste rio tão importante para a população fluminense provém do
Complexo Hidrelétrico de Lajes, onde se dá a transposição para o rio Guandu de
180m³/s da bacia do rio Paraíba do Sul (2/3 da sua vazão regularizada), bacia
responsável por 10% do PIB nacional (ABES, 2003).
Figura 7 Localização da bacia do rio Paraíba do Sul e do Complexo Hidrelétrico
de Lajes (Fonte: CAMPOS et al, 2003)
66
Figura 8 Esquema Geral do Complexo Hidrelétrico de Lajes (Fonte: CAMPOS et
al, 2003)
A água transposta, depois de ser utilizada para geração de energia pela Light, é
consumida por diversos usuários, tais como a CEDAE, a Usina Termelétrica de Santa
Cruz e a Gerdau. Da vazão total do rio Guandu, após a transposição, o rio deságua na
baía de Sepetiba, através do Canal de São Francisco. Entretanto, por sofrer a influência
da intrusão salina, deve ser mantida uma vazão mínima de 60m³/s para evitar a
formação da cunha salina, prejudicando os últimos usuários do rio. Ou seja, parte
significativa da vazão daquele rio não pode ser outorgada a nenhum usuário devido à
cunha salina, colocando uma barreira no desenvolvimento econômico da região.
CAMPOS et al, no relatório de 2003, propõem uma série de ações estruturais (ex:
barragem) e não-estruturais (ex: gestão integrada recursos hídricos e integração de
comitês) capazes de conter a intrusão salina, e, portanto, viabilizar o aumento da água
outorgável daquele rio.
67
Para entender o problema da penetração da cunha salina, é importante que, antes, se
conheça os principais usuários da água do rio Guandu, suas vazões de coleta e suas
outorgas. A tabela abaixo apresenta estes dados.
Tabela 18 Demanda de água na bacia do rio Guandu / canal de São Francisco Demanda (m3/s)
Usuário Manancial Atual Futura
Outorga
CEDAE – Piraí Reserv. de Ribeirão das Lajes 0,350 0,350 2000/2010
CEDAE – Miguel Pereira Rio Santana 0,100 0,100 1998/2008
CEDAE – “Calha da CEDAE” Ribeirão das Lajes 5,500 5,500 Sem pedido
Eletrobolt Rio Guandu 0,083 0,083 2001/2011
Riogen – Enron Rio Guandu 0,333 0,333 2001/2011
El Paso Rio Guandu 0,122 0,122 2001/2011
Duke Energy 3 Brasil Rio Guandu 0,227 0,227 2002/2007
Baesa - Pepsi Cola Rio Guandu 0,050 0,050 1995/2005
Cervejaria Kaiser Rio Guandu 0,200 0,200 1997/2007
Cervejaria Brahma Rio Guandu 0,600 0,600 1996/2006
CEDAE – ETA Guandu Rio Guandu 45,000 80,00* 2001/2031
UHE de Paracambi (Light) Ribeirão das Lajes 210,00 210,00 1999/2009
UTE de Paracambi (Light) Ribeirão das Lajes 0,400 0,400 2001/2011
Petrobrás – REDUC Rio Guandu 0,739 0,739 2002/2012
Petroflex Rio Guandu 0,208 0,208 2002/2012
Rio Polímeros Rio Guandu 0,552 0,552 2002/2012
Termorio Rio Guandu 0,500 0,500 2002/2012
Prefeitura Municipal de Japeri Rio dos Poços 0,112 0,112 em análise
Jolimode de Roupas Rio Queimados 0,006 0,006 em análise
Valdeci Pereira da Silva Rio Falcão 0,003 0,003 em análise
Sítio Coragem em Japeri Córrego sem nome 0,002 0,002 em análise
Inepar Energia Canal de São Francisco 1,400 1,400 2000/2010
Fáb. Carioca de Catalisadores (FCC) Canal de São Francisco 0,060 0,060 Renovação
Gerdau/COSIGUA Canal de São Francisco 3,472 3,472 2001/2011
UTE de Santa Cruz Canal de São Francisco 26,000 26,000 2002/2012
* Vazão estimada (CEDAE, 1985), cuja outorga preventiva ainda não foi solicitada. Fonte: CAMPOS et al, 2003.
68
Parte da água captada pelos usuários não retorna para a bacia do rio Guandu,
caracterizando um uso consuntivo. A tabela abaixo correlaciona a vazão outorgada, a
vazão consumida e a restituída relativas a alguns dos usuários da água do rio Guandú.
Tabela 19 Vazões outorgadas, consumidas e restituídas na bacia do rio Guandu Vazão (m3/s)
Usuário Outorgada1 Consumida Restituída
Corpo Hídrico de Lançamento
CEDAE - Reserv. de Ribeirão das Lajes 0,350 0,0702 0,280 Rio Piraí
CEDAE - Miguel Pereira 0,100 0,0202 0,080 Rio Santana
CEDAE – “Calha da CEDAE” 5,500 1,1002 4,400 fora da bacia
Eletrobolt 0,083 0,0747 0,00831 Rio Guandu
Riogen – Enron 0,333 0,250 0,0831 Rio Guandu
El Paso 0,122 0,100 0,0221 Rio Guandu
Duke Energy 3 Brasil 0,227 0,171 0,0561 Rio Guandu
Baesa – Pepsi Cola 0,050 0,0102 0,040 Rio Guandu
Cervejaria Kaiser 0,200 0,0402 0,160 Rio Guandu
Cervejaria Brahma 0,600 0,1202 0,480 Rio Guandu
CEDAE - ETA Guandu 45,000 9,0002 36,000 fora da bacia
UHE de Paracambi (Light) 210,00 - 210,00 Ribeirão das Lajes
UTE de Paracambi (Light) 0,400 0,300 0,1001 Ribeirão das Lajes
Petrobrás – REDUC 0,739 0,1482 0,591 fora da bacia
Petroflex 0,208 0,0422 0,166 fora da bacia
Rio Polímeros 0,552 0,1102 0,442 fora da bacia
Termorio 0,500 0,1002 0,400 fora da bacia
Prefeitura Municipal de Japeri 0,112 0,0242 0,088 Rio dos Poços
Jolimode de Roupas 0,006 0,001 0,0051 Rio Queimados
Valdeci Pereira da Silva 0,003 0,001 0,0021 Rio Falcão
Sítio Coragem em Japeri 0,002 0,00042 0,0016 Córrego sem nome
Inepar Energia 1,400 0,800 0,6001 fora da bacia
Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC) 0,060 0,0122 0,048 fora da bacia
Gerdau 3,472 0,69442 2,7776 fora da bacia
UTE de Santa Cruz 26,000 0,0204 25,980 fora da bacia 1 Valores extraídos dos certificados ou das solicitações de outorga existentes na SERLA. 2 Valores estimados, vazão consumida igual a 20% da captada, critério de CRH/CORHI (1997). 3 Valores obtidos do CONSÓRCIO ETEP-ECOLOGUS-SM GROUP (1998). 4 Valor fornecido pelo usuário. Fonte: CAMPOS et al, 2003.
69
Tabela 20 Demanda hídrica e cobrança dos usuários das transposições da Bacia do Paraíba do Sul / Guandu
Demanda Hídrica (m3/s) Usuário
Outorgada Real RestituídaCorpo Hídrico de
Lançamento Vazão Sujeita a Cobrança (m3/s)
Arrecadação (R$ milhões/ano)
Light (captações Paraíba do Sul
e Piraí) 180,00 150,00 130,00 Ribeirão das Lajes 20,000 17,660
CEDAE (captações Guandu e
Rib. Lajes) 45,35 45,350 36,280 fora da bacia 45,350 40,044
Eletrobolt 0,083 0,083 0,0083 Rio Guandu 0,0747 0,066
Riogen – Enron 0,333 0,333 0,083 Rio Guandu 0,250 0.221
El Paso 0,122 0,122 0,022 Rio Guandu 0,100 0.088
Duke Energy 3 Brasil 0,227 0,227 0,056 Rio Guandu 0,171 0,151
Baesa – Pepsi Cola 0,050 0,050 0,040 Rio Guandu 0,010 0,009
Cervejaria Kaiser 0,200 0,200 0,160 Rio Guandu 0,040 0,035
Cervejaria Brahma 0,600 0,600 0,480 Rio Guandu 0,120 0,106
UHE de Paracambi (Light) 210,00 210,00 210,00 Ribeirão das Lajes - -
UTE de Paracambi (Light) 0,400 0,400 0,100 Ribeirão das Lajes 0,300 0,265
Petrobrás - REDUC 0,739 0,739 0,591 fora da bacia 0,739 0,653
Petroflex 0,208 0,208 0,166 fora da bacia 0,208 0,184
Rio Polímeros 0,552 0,552 0,442 fora da bacia 0,552 0,487
Termorio 0,500 0,500 0,400 fora da bacia 0,500 0,442
Inepar Energia 1,400 1,400 0,600 fora da bacia 1,400 1,236
Fábrica Carioca de
Catalisadores (FCC) 0,060 0,060 0,048 fora da bacia 0,060 0,053
Gerdau / COSIGUA 3,472 0,140 0,112 fora da bacia 0,140 0,123
UTE de Santa Cruz 26,00 0,020 0,004* fora da bacia 0,020 0,018
Disponibilidade para novas
outorgas - - - - 79,965 70,610
TOTAL - - - - 150,00 132,451
Fonte: CAMPOS et al, 2003.
70
Figura 9 Localização dos usuários na bacia do rio Guandu / Canal de São
Francisco (Fonte: CAMPOS et al, 2003)
71
A necessidade de manutenção dos 60m³/s na foz do rio Guandu para evitar a intrusão
salina, prejudicando assim, principalmente os usuários finais das águas do Canal do São
Francisco, pode implicar na necessidade de redução das outorgas. Nada mais justo que
reduzir, inicialmente, a outorga daqueles usuários que não restituem a água para o
mesmo corpo hídrico em que captam. Neste aspecto, a própria UTE de Santa Cruz e a
REDUC estariam enquadradas (CAMPOS et al, 2003). A outorga futura prevista pela
CEDAE deve ser priorizada, uma vez que a Política Nacional de Recursos Hídricos
atribui ao abastecimento público a prioridade em uma situação de escassez.
Portanto, segundo CAMPOS et al (2003), a primeira medida a ser adotada é a
reavaliação de todas as outorgas concedidas, verificando assim, a vazão realmente
utilizada e necessária. Em seguida, ações estruturais deverão ser adotadas para evitar a
intrusão salina, mesmo reduzindo a vazão na foz do rio Guandu, tais como barragens de
concreto ou enrocamento, e barragens pneumáticas.
Além da intrusão salina, outro ponto deve ser sempre salientado: a qualidade da água do
rio Guandu. Três afluentes do rio, Poços/Queimados/Ipiranga, contribuem
negativamente para a qualidade da água no ponto de captação da ETA-Guandu. A bacia
do rio dos Poços tem 123km², e recebe o esgotamento sanitário de Engenheiro Pedreira
e de Jardim Marajoara. A bacia do rio Queimados tem cerca de 48km², sendo o rio mais
poluído da região (LABHID, 2001) devido ao fato de atravessar as populosas áreas de
Queimados e Austin, e por receber os efluentes industriais daquela região. O rio
Ipiranga, com uma área de drenagem de 47km², também apresenta níveis altos de
poluição. É facilmente percebido que o ponto de captação escolhido para a ETA-
Guandu possui níveis consideráveis de poluição, principalmente em tempo de estiagem,
quando a concentração de poluentes se eleva ainda mais. Em 2001, o Laboratório de
Hidrologia da COPPE/UFRJ estimou uma geração de esgoto sanitário da ordem de
33.500 m³/dia no rio Poços/Queimados/Ipiranga, com a geração de uma carga orgânica,
medida através da Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO5,20, de 10.000 kg por dia.
Tal poluição já levou os órgãos públicos a providenciarem projetos de desvio do rio
altamente poluído para pontos a jusante da captação da CEDAE (LABHID, 2000).
72
Tamanha poluição obriga que a CEDAE capte 100m³/s para ETA Guandu e só trate
45m³/s. Os outros 55m³/s têm como objetivo diluir o esgoto lançado no rio, proveniente
de indústrias e de 90% dos 180 municípios localizados na bacia do Paraíba do Sul, já
que este é o número de municípios que não tratam os seus esgotos (SAMPAIO, 2005).
A preocupação com a qualidade da água de captação é antiga, e segundo o descrito no
relatório do LABHID no GPS-RE-001-R0, em 1978 foi formada uma comissão
composta pela SERLA, FEEMA e CEDAE, com o objetivo de solucionar o problema da
poluição naquela região. No ano seguinte, a PROMON Engenharia realizou um projeto
de desvio, o qual não foi executado. Até os dias de hoje, nenhuma intervenção foi
realizada, o que leva a níveis elevados de eutrofização na lagoa do Guandu e a gastos
excessivos com o tratamento de água. Segundo a CEDAE, à época da emissão do
relatório do LABHID, em 2000, somente com produtos químicos (sulfato de alumínio,
cal e cloro) eram gastos entre R$ 1,5 e R$ 2,0 milhões por ano.
Outro aspecto importante que deve ser considerado é a coleta de lixo domiciliar. Em
2000, o serviço de coleta de lixo domiciliar do município de Queimados atendia a 70-
75% da população (LABHID, 2000). Esse resíduo coletado é disposto no Aterro de
Gramacho, exportando assim, parte do seu impacto ambiental para o município de
Duque de Caxias, responsável pelo aterro. Fatalmente, o restante do lixo (25-30%)
acaba sendo disposto nos rios, causando inúmeros problemas para a própria população,
tais como risco de enchentes, propagação de doenças e a paralização temporária da
captação de água pela ETA-Guandu. O motivo para tal paralização é a concentração
elevada de alguns contaminantes na água, até mesmo sólidos grosseiros em suspensão,
em ocasiões de fortes chuvas.
No seu relatório de 2000, o LABHID considerou inclusive no seu estudo o sistema
FLOTFLUX® para o tratamento do rio Poços/Queimados/Ipiranga, que consiste em um
sistema de coagulação, floculação e flotação instalado no próprio rio, resultando em um
processo de remoção de poluentes presentes na água, proporcionando a melhora da sua
qualidade. Este sistema já foi adotado em alguns corpos hídricos da Região
Metropolitana de São Paulo, tais como dois canais de drenagem da Praia da Enseada, no
município do Guarujá, Lago da Aclimação e Córrego Pedra Azul, Córrego do Sapateiro,
73
na Parque do Ibirapuera, Ribeirão Guavirutuba, além do Rio Pinheiros e Rio Tietê,
sendo este último ainda em projeto.
Logicamente, uma outra forma de melhoria da qualidade da água do rio Guandu no
ponto da captação da CEDAE é se coletar e tratar 100% do esgoto sanitário lançado
atualmente nos rios dos Poços, Queimados e Ipiranga, e se dar destinação adequada a
todo lixo urbano gerado. Esta é a solução mais adequada segundo o parecer técnico do
LABHID (relatório GPS-RE-001-R0, 2000) e do autor desta dissertação.
A captação de água da REDUC, no rio Guandu, ocorre em ponto próximo à captação de
água da CEDAE (Figura 9), sofrendo, portanto, os mesmos problemas com relação à
qualidade da água. Por também ser dependente desse manancial, a REDUC também
deve se preocupar com a sua preservação e manutenção. A REDUC precisa participar
ativamente das reuniões do comitê, contribuindo sempre que possível não só para a
melhoria da qualidade da água, como também para otimização das vazões outorgadas.
Um aspecto que sempre deve ser considerado é a possibilidade de ser declarada situação
de escassez de água na bacia do rio Guandu. Em situações como essas, a Política
Nacional de Recursos Hídricos considera como prioritários o abastecimento público e a
dessedentação de animais. Ou seja, a indústria está no final da lista de prioridades.
Portanto, a fim de se evitar conflitos futuros e desabastecimentos, é de fundamental
importância a participação da indústria nas discussões acerca das condições, atual e
futura, do manancial do qual são dependentes. A REDUC já participa das reuniões do
comitê e deve sempre ser uma parte ativa naquele grupo.
74
8.2 A Disponibilidade de Água no Rio Saracuruna
A barragem do rio Saracuruna é uma importante fonte de suprimento de água para a
REDUC, devido à sua excelente qualidade. Com um volume na cota 78,65 m de 5,3 x
106 m³, a barragem foi construída entre os anos de 1960 e 1962, com a finalidade do
suprimento de água da refinaria de Duque de Caxias.
Figura 10 Fotografia do reservatório tirada em 18/08/2003, quando o nível d’água
se encontrava três metros abaixo da crista do vertedouro (Fonte: CANEDO DE
MAGALHÃES, 2003)
No período de estiagem, quase não há contribuição para o reservatório de Saracuruna da
parte superior da bacia, com 30,3 km², uma vez que praticamente toda a água é utilizada
pela 5ª adutora da CEDAE, com capacidade de 1.200 l/s (1,2 m³/s). Entretanto, a bacia
incremental, localizada a jusante da captação da CEDAE, com 12,7 km², alimenta
continuamente o reservatório utilizado pela REDUC.
75
No período de julho de 2001 a julho de 2003, a COPPETEC realizou medições diárias
das vazões captadas pela REDUC, com exceção dos finais de semana. A tabela abaixo
apresenta tais dados.
Tabela 21 Vazões médias mensais captadas pela REDUC Data Vazão (m³/s) Data Vazão (m³/s)
Jul-01 0,369 Ago/02 0,415 Ago-01 0,304 Set/02 0,415 Set-01 0,362 Out/02 0,389 Out-01 0,388 Nov/02 0,414 Nov-01 0,440 Dez/02 0,391 Dez-01 0,428 Jan/03 0,391 Jan-02 0,403 Fev/03 0,445 Fev-02 0,450 Mar/03 0,400 Mar-02 0,405 Abr/03 0,427 Abr/02 0,427 Mai/03 0,397 Mai/02 0,420 Jun/03 0,435 Jun/02 0,440 Jul/03 0,421 Jul/02 0,426
Fonte: CANEDO DE MAGALHÃES, 2004-A.
A REDUC possuía um histórico de leituras dos níveis d’água do reservatório, o que
permitiu à Fundação COPPETEC, no seu relatório R3-E1, de 2003, elaborar a curva
Cota x Área x Volume do reservatório.
Tabela 22 Níveis d’água médios mensais do reservatório Saracuruna Ano jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez 1995 78,60 77,35 76,69 76,05 76,06 76,49 74,99 74,40 75,05 75,70 76,35 77,001996 77,67 78,31 78,77 78,73 78,71 78,44 77,57 76,93 77,95 78,66 78,73 78,771997 78,78 78,68 78,69 78,43 77,46 76,27 74,63 73,21 72,69 72,95 75,26 78,301998 78,72 78,80 78,80 78,81 78,74 78,73 78,70 78,30 78,68 78,86 78,88 78,821999 N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. N.D. 78,79 78,782000 78,80 78,78 78,80 78,80 78,52 77,32 76,63 77,67 78,63 78,38 78,21 78,812001 78,78 78,74 78,55 78,63 78,29 77,59 76,27 76,18 74,32 72,52 73,47 75,522002 78,79 78,77 78,75 78,69 78,71 78,33 77,43 76,19 75,66 75,61 77,66 78,772003 78,81 78,79 78,76 78,76
N.D. – Não Disponível
Fonte: CANEDO DE MAGALHÃES, 2003.
76
Tabela 23 Tabela Cota x Área x Volume do reservatório Saracuruna Cota (m) Área (m2) Volume (m3)
48 50 -
50 2.900 2.950
55 22.120 65.625
60 76.200 312.425
65 186.900 970.175
70 342.930 2.294.750
75 451.970 4.282.000
80 533.630 6.746.000
85 631.940 9.659.925
Fonte: CANEDO DE MAGALHÃES, 2003.
y = -7,47243x4 + 2063,11150x3 - 200528,22857x2 + 8324879,19526x - 126085717,16982R2 = 0,99997
0
2.000.000
4.000.000
6.000.000
8.000.000
10.000.000
12.000.000
40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90
Nível d´água (m)
Volu
me
(m3 )
Figura 11 Curva Cota x Área x Volume do reservatório Saracuruna (Fonte:
CANEDO DE MAGALHÃES, 2003)
77
O estudo realizado pela Fundação COPPETEC calculou as vazões Q95% afluente à
barragem da CEDAE e na barragem do Saracuruna (REDUC) e as vazões Q7,10 nos
mesmos locais, conforme apresentado na tabela abaixo.
Tabela 24 Vazões médias no local afluente à barragem Q95% - Vazões CEDAE
(m³/s) Q95% - Total
(m³/s) Q95% - Incremental
(m³/s) 0,320 0,454 0,134
Q7,10 – Vazões CEDAE (m³/s)
Q7,10 – Total (m³/s)
Q7,10 – Incremental (m³/s)
0,200 0,284 0,084 Fonte: CANEDO DE MAGALHÃES, 2004-A.
Com base nos estudos realizados, a Fundação COPPETEC assessorou a REDUC no
processo de solicitação de outorga de direito de uso do manancial em estudo neste
capítulo. Naquela ocasião, não existiam outorgas já concedidas, mas sim, processos de
solicitação em andamento. A REDUC havia solicitado uma vazão de 417 l/s, a Petroflex
havia solicitado 66 l/s e a Clariant havia entrando com um pedido para outorga de 4,8
l/s, além de seis poços cuja vazão somada é de 2,58 l/s.
O estudo da COPPETEC simulou a outorga solicitada pela REDUC, considerando
como vazão ecológica, adotando critérios da SERLA, 50% do Q7,10 calculada para área
incremental, ou seja, 42 l/s.
Naquele estudo foi considerada como possível a regularização suficiente para uma
vazão mínima de 459 l/s, através da manutenção de uma cota mínima no reservatório de
64,22m.
Em uma segunda simulação, a Fundação COPPETEC calculou a máxima vazão
outorgável para o menor nível de água operacional da barragem, ou seja, 56,30 metros.
Para esta situação, a vazão total seria de 481 l/s, incluindo a vazão ecológica. Isto
representa um aumento de 22 l/s na vazão outorgável.
Foi realizada ainda uma terceira simulação, considerando o rebaixamento da tomada
d’água. No entanto, face aos custos necessários para tal empreendimento, o ganho de 3
litros por segundo sobre a segunda simulação inviabiliza a realização das obras.
78
A conclusão daquele estudo foi que é perfeitamente viável a concessão de outorga
solicitada pela REDUC de 417 l/s, ainda restando ao rio uma vazão ecológica de 42 l/s e
uma vazão outorgável de 22 l/s. Na verdade, segundo CANEDO DE MAGALHÃES
(2004-A), a vazão total outorgável poderia ser de até 466 l/s, uma vez que atualmente,
através de medições realizadas pela COPPETEC, ocorre a defluência de apenas 15 l/s,
provavelmente, desde o início da operação. Ainda segundo CANEDO DE
MAGALHÃES (2004-A), os possíveis impactos causados à biota já estão consolidados
nestes mais de 40 anos de operação. Com isso, a vazão outorgável, descontando a
solicitação da REDUC, passa a ser de 49 l/s.
79
8.3 Aumento da Disponibilidade pelo Aumento da Regularização da Vazão do
Rio Saracuruna
Apesar da refinaria em estudo captar cerca de 87% da sua água no rio Saracuruna,
devido à vazão disponível não ser completamente regularizada, a refinaria necessita de
fontes complementares de água, de onde pode captar a quantidade necessária para
completar os 478 l/s necessários para a operação e processamento no interior da
REDUC.
É muito importante que se busque manter a vazão na barragem do Saracuruna
regularizada, de modo a reduzir a necessidade de uso da água do Guandu e de outras
fontes complementares, foco do estudo do capítulo 7 desta dissertação.
Segundo os estudos realizados pela Fundação COPPETEC em 2003 e 2004, a vazão
Q7,10 total do manancial principal de captação de água da REDUC é de 481 l/s.
Considerando a solicitação da REDUC de outorga do direito de uso de 417 l/s, a
refinaria precisará sempre de um aporte de água de outra fonte, como o Guandu.
No entanto, em agosto de 2001 a vazão captada no rio Saracuruna foi de 304 l/s,
conforme Tabela 21. Por sinal, essa tabela apresenta a variação de vazão na barragem
do rio Saracuruna, favorecendo para a teoria da necessidade de regularização da vazão
para a garantia do aumento da disponibilidade de água. Principalmente quando se avalia
as informações presentes na tabela 21 percebe-se a necessidade, não só de regularização
de vazão, mas também da existência de fontes alternativas e complementares de água.
Caso se construa um cenário de crescimento contínuo do município de Duque de
Caxias, assim como vem ocorrendo nos últimos anos, combinado com o cenário em que
se encontrava o rio Paraíba do Sul, e, por conseguinte o rio Guandu, nos primeiros anos
do novo milênio – proximidade da escassez de água –, e com disponibilidades baixas de
água na barragem do Saracuruna, a REDUC poderá se encontrar em situação crítica.
80
A ampliação da adutora do Guandu não garante uma tranqüilidade tão grande para a
refinaria, uma vez que se for declarada a situação de escassez na bacia do Rio Paraíba
do Sul e Guandu, a prioridade será dada à CEDAE para abastecer a Região
Metropolitana do Rio de Janeiro.
O Saracuruna, por ser um manancial ainda pouco explorado, tem a sua vazão outorgável
praticamente reservada à REDUC. Por isso a importância de se buscar a regularização,
através de estudos de manutenção da integridade física da barragem, redução de
assoreamento no reservatório através da preservação das matas ciliares, redução da
ocupação irregular das margens do rio e da realização de estudos mais aprofundados
sobre o reservatório, tais como batimetria para se conhecer o volume real de água
armazenada. A refinaria deve procurar cuidar da sua principal fonte de abastecimento
de água, considerando também no seu planejamento as ampliações que vêm sendo
realizadas no seu parque de refino, tais como o hidrotratamento (HDT) e o coque, além
daquelas otimizações de processo que poderão ainda ocorrer no futuro.
Através da garantia de regularização da vazão próxima à vazão outorgada pela SERLA,
a refinaria necessitará de um complemento reduzido de água para o seu funcionamento.
Entretanto, trata-se do cenário atual, em que não há outras empresas comprometendo a
manutenção da sua outorga. A REDUC deve sempre ter no seu planejamento cenários
futuros, para que possa, antecipadamente, buscar outras fontes de água, caso seja
necessário.
81
8.4 Rio Saracuruna: A Regularização da Vazão e a Manutenção da Qualidade da
Água
Conforme apresentado na seção anterior, a regularização da vazão do Saracuruna deve
ser uma das primeiras ações adotadas pela REDUC na busca pelo equilíbrio hídrico. Na
seção 8.2, foram apresentadas simulações para a determinação da vazão máxima
outorgável no rio Saracuruna. A terceira simulação feita pela COPPETEC, referente ao
rebaixamento da tomada d’água, mostrou que o ganho em vazão seria mínimo, quando
comparado com os investimentos necessários para tal melhoria.
Outra alternativa que pode ser adotada é o aumento da barragem, elevando assim o
volume de água armazenada no reservatório, contribuindo para um incremento na vazão
regularizada do manancial em questão.
A limpeza do fundo do reservatório, combinada com a preservação das matas ciliares e
com a redução e até mesmo eliminação da ocupação desordenada e irregular das
margens do rio Saracuruna, também pode contribuir com a regularização da vazão.
Afinal, quanto mais assoreado o reservatório, menor o volume de água armazenado, e,
portanto, menor a vazão regularizada.
Ações de reflorestamento das encostas também devem ser contempladas, favorecendo a
redução do transporte de sedimentos durante as chuvas, diminuindo o assoreamento já
detectado em alguns pontos do reservatório e do rio (CANEDO DE MAGALHÃES,
2003).
Nos períodos de cheia ocorre um grande extravasamento de água na barragem que
atende a refinaria. Com a elevação da sua ombreira e, com isso, do ponto de captação,
será possível armazenar parte da água que hoje não é utilizada, incrementando a vazão
regularizada.
Cabe salientar que a vazão média de captação de água pela REDUC no ano de 2004,
tanto no Saracuruna quanto no Guandu, foi de 478 l/s. Considerando que a vazão de 417
l/s solicitada pela REDUC à SERLA, com um aumento da vazão regularizada, a
82
REDUC poderia solicitar um aumento da vazão outorgável à sua instalação, reduzindo
assim a sua dependência atual da água do Guandu.
É principalmente nos períodos de estiagem quando a REDUC necessita mais da água do
Guandu. Portanto, o autor sugere um estudo mais aprofundado da possibilidade de
ampliação do reservatório, através da elevação da barragem e do ponto de captação de
água, combinando às conclusões deste estudo, seus custos e benefícios para que, assim,
a refinaria possa decidir pelo prosseguimento do empreendimento ou por continuar
estudando outras alternativas, como as que são apresentadas neste estudo.
83
8.5 Uso de Águas Pluviais
O uso de águas pluviais nada mais é que a garantia de que a água de chuva que chega ao
solo seja conduzida, preferencialmente com a manutenção da sua qualidade, através de
sistemas de drenagens, para reservatórios subterrâneos ou elevados. Depois de coletada
e reservada, a água pode ser utilizada pelo Homem.
Apesar de parecer uma invenção do homem moderno, o aproveitamento de água de
chuva já faz parte da sociedade há cerca de 5000 anos. A fortaleza de Massada, em
Israel, tem dez reservatórios subterrâneos com capacidade total de 40 milhões de litros
de águas pluviais. No México, na península de Iucutã, há reservatórios mais antigos do
que o “descobrimento da América”, os quais ainda estão em uso. Na Mesopotâmia, há
4750 anos, a população daquela região já utilizava água de chuva. No palácio de
Knossos, na ilha de Creta, em 2000 AC, a água de chuva já era utilizada no saneamento
básico. Em Roma também foram descobertos reservatórios subterrâneos que indicam a
sua utilização para armazenamento de águas pluviais (TOMAZ, 2003).
Nos dias atuais, diversas cidades do mundo praticam o reaproveitamento de águas
pluviais. Segundo Tomaz (2003), na Califórnia, Japão e Alemanha, são fornecidos
investimentos para a construção de reservatórios subterrâneos e de sistemas de captação
de água de chuva. Hamburgo foi o primeiro estado alemão a incentivar mais ativamente
tal prática. Através de investimentos variando entre US$ 1.500,00 e US$ 2.000,00,
aquele estado garantiu a construção de 1500 sistemas privados de coleta de água de
chuva até o ano 2000. Tais sistemas são destinados para a irrigação de jardins,
descargas de bacias sanitárias, máquinas de lavar roupa, além de outros usos comerciais
e industriais.
Em uma refinaria, o uso de águas pluviais também é possível, já que a mesma possui
uma área pavimentada considerável para o trânsito de veículos, estacionamento, bacias
de contenção de tanques de produtos e a tubo-via. Muitas destas áreas são livres da
contaminação por óleo, outras podem possuir óleo no caso de vazamentos e
contingências, e outras têm alta possibilidade de estarem sempre sujeitas a
contaminação por hidrocarbonetos.
84
Apesar das possibilidades de contaminação existirem, o uso de águas pluviais sempre
deve ser considerado nos projetos de reúso em refinarias. Na REDUC não deve ser
diferente.
Para se conhecer o potencial de aproveitamento para a REDUC, faz-se necessário
recordar informações sobre o clima brasileiro, focando na região onde se encontra a
refinaria em estudo.
O Estado do Rio de Janeiro está localizado entre o Trópico de Capricórnio e o Equador,
portanto, está localizado em uma zona tropical.
Figura 12 Mapa do clima do Brasil (Fonte: Portal O Clima Brasileiro)
Tabela 25 Legenda de clima Am temperaturas elevadas e pluviosidade elevada. As médias de temperatura são
maiores que 22°C em todos os meses e as mínimas no mês mais frio são maiores que 20°C.
Aw temperaturas elevadas com chuva no verão e seca no inverno. As médias de temperatura dos meses é maior que 20°C e no mês mais frio do ano as mínimas são menores que 18°C.
Aw´ temperatura elevada com chuva no verão e outono. Temperatura sempre maior que 20°C.
Cwa temperaturas moderadas com verão quente e chuvoso. No mês mais frio a média de temperatura é menor que 20°C.
Fonte: Portal O Clima Brasileiro apud AMORIM [2005].
85
Tabela 25 Legenda de clima (continuação) Cfa temperatura moderada com chuvas bem distribuídas e verão quente. Nos meses
de inverno há ocorrência de geadas sendo a média de temperatura neste período inferior a 16°C. No mês mais quente as máximas são maiores que 30°C.
Af temperatura elevada sem estação seca. Temperaturas sempre maiores que 20°C. As Chuva de inverno e outono com temperaturas elevadas sempre maiores que
20°C. BSh temperaturas altas com chuvas escassas no inverno. Temperaturas maiores que
22°C. Cwb verão brando e chuvoso com temperatura moderada. Há geadas no inverno e as
médias de temperatura no inverno e outono é inferior a 18°C com temperaturas mínimas inferior a 12°C.
Cfb temperatura moderada com chuva bem distribuída e verão brando. Podem ocorrer geadas, tanto no inverno como no outono. As médias de temperatura são inferiores a 20°C, exceto no verão. No inverno média inferior a 14°C como mínimas inferiores a 8°C.
Fonte: AMORIM [2005], apud Portal O Clima Brasileiro.
As precipitações médias anuais das capitais brasileiras são apresentadas na tabela
abaixo:
Tabela 26 Precipitação média anual das capitais dos Estados brasileiros Brasília 1565 mm Macapá 2530 mmManaus 2120 mm Belém 2820 mmRio Branco 1945 mm Porto Velho 2320 mmPalmas* 1700 mm São Luiz 2310 mmTeresina 1440 mm Fortaleza 1545 mmNatal 1770 mm João Pessoa 2090 mmRecife 2380 mm Maceió 2015 mmAracaju 1565 mm Salvador 2080 mmBelo Horizonte 1450 mm Vitória 1225 mmRio de Janeiro 1120 mm São Paulo 1465 mmCuritiba 1430 mm Florianópolis 1550 mmPorto Alegre 1335 mm Campo Grande 1430 mmCuiabá 1320 mm Goiânia 1530 mm
Fonte: TOMAZ (2003) e AMORIM (2005) para Palmas.
Como pode ser visto na tabela acima, o Rio de Janeiro possui uma precipitação média
anual de 1.120 mm, que permitiria à REDUC um aproveitamento de água de chuva
conforme a tabela a seguir.
86
A REDUC possui uma área total “AT” de aproximadamente 14 km², uma área
pavimentada “AP” de 5,6 km² e um coeficiente de escoamento médio “c” igual a 0,8
(PETROBRAS, 2002).
Tabela 27 Potencial de aproveitamento de água de chuva para a REDUC
MESES
CHUVA MÉDIA MENSA
L
DEMANDA
MENSAL
ÁREA DE CAPTAÇÃ
O
VOLUME DE
CHUVA MENSAL
DIFERENÇA COL3 - COL5
(mm) (m³) (m²) (m³) (m³) COLUNA 1 COLUNA 2 COLUNA 3 COLUNA 4 COLUNA 5 COLUNA 6
Janeiro 120 1.581.244 5.600.000 537.600 1.043.644 Fevereiro 110 1.346.002 5.600.000 492.800 853.202 Março 100 1.537.164 5.600.000 448.000 1.089.164 Abril 140 1.378.917 5.600.000 627.200 751.717 Maio 70 1.282.072 5.600.000 313.600 968.472 Junho 70 1.302.823 5.600.000 313.600 989.223 Julho 60 1.392.755 5.600.000 268.800 1.123.955 Agosto 30 1.202.805 5.600.000 134.400 1.068.405 Setembro 80 966.824 5.600.000 358.400 608.424 Outubro 80 1.076.315 5.600.000 358.400 717.915 Novembro 90 919.767 5.600.000 403.200 516.567 Dezembro 170 1.144.328 5.600.000 761.600 382.728 Total 1.120 15.131.017 5.017.600
Fonte: TOMAZ (2003).
Através da análise da tabela acima, pode-se perceber o potencial de aproveitamento de
água de chuva que tem a REDUC. Para uma chuva média anual de 1120mm, podemos
calcular um volume médio potencial de água de chuva a ser coletada e armazenada de
5.017.600 m³ ao longo do ano. Logicamente, o volume de água coletada não será
regularizado, em função da variação das precipitações durante o ano. Para se garantir
uma regularização, é necessária a construção de reservatórios. Contudo, verifica-se que
o volume de água de chuva captada no mês é sempre inferior à demanda mensal de água
da REDUC, o que significa que a água de chuva deve ser encarada como uma fonte
complementar, e não uma fonte alternativa.
Pelo fato de existir uma água captada sem risco de contaminação (sistema de águas
pluviais) e outra com risco de contaminação (sistema de águas contaminadas), é
fundamental para a REDUC que se criem reservatórios distintos, que deverão ser
combinados a pequenas plantas de tratamento para o enquadramento da água captada ao
uso proposto, o que garante o atendimento à norma Petrobras N-38 “Critérios para
87
Projeto de Drenagem, Segregação, Escoamento e Tratamento Preliminar de Efluentes
Líquidos de Instalações Terrestres”. Na grande maioria das vezes, principalmente
quando uma das fontes de abastecimento é uma concessionária de serviços públicos, o
custo de tratamento da água pluvial coletada é inferior ao custo de captação e
tratamento da água captada dos corpos hídricos convencionais.
No caso específico da REDUC, certamente a qualidade da água pluvial captada, antes
de qualquer tipo de contaminação no solo, é superior à qualidade da água proveniente
do rio Guandu, antes de tratada. Ao se adicionar aos cálculos o custo de adução da água
daquele manancial para a refinaria, o uso de águas pluviais passa a ser mais interessante
ainda. Portanto, o uso de águas pluviais deve fazer parte de qualquer projeto da refinaria
de Duque de Caxias.
A composição da água de chuva varia de acordo com a região onde ocorre a
precipitação, com as condições meteorológicas (intensidade e duração, por exemplo),
com a presença de vegetação próxima, assim como com a presença de poluição.
Próximo a mares e oceanos, poderão ser encontradas as mesmas partículas que há nas
águas salgadas dos mares, tais como sódio, potássio, magnésio, cloro e cálcio. Chuvas
distantes de regiões costeiras podem apresentar teores mais consideráveis de sílica,
alumínio e ferro. Já na proximidade de grandes centros urbanos e de pólos industriais,
certamente deverão ser encontradas partículas de dióxido de enxofre, óxidos de
nitrogênio, ou ainda chumbo e zinco. Nestes casos, a água de chuva pode apresentar
uma acidez maior que a natural, de acordo com o teor de tais poluentes, uma vez que
ocorre a formação de ácidos. Quando se diz “uma acidez maior que a natural”, é
importante entender que a água de chuva é naturalmente ácida, e com pH de
aproximadamente 5,0. No entanto, a presença de poluentes atmosféricos pode levar o
pH da chuva a teores próximos de 3,5, resultando no fenômeno conhecido de “chuva
ácida”.
Saber que existe variação entre a composição de águas pluviais é primordial para a
elaboração de projetos de uso deste recurso. Etapas de diagnóstico e análises
laboratoriais são fundamentais para o sucesso do projeto.
88
Entretanto, tão importante quanto se conhecer a qualidade da água que atinge o solo, é o
conhecimento da alteração na sua qualidade após o escoamento superficial.
Principalmente em uma refinaria de petróleo, onde pode haver manchas de óleo e de
produtos químicos, folhas de árvores, poeira e fezes de pássaros e roedores sobre o solo
impermeabilizado, a água de chuva “lava” o piso, carreando a água com possibilidade
de contaminação para os reservatórios. É por este motivo que se recomenda o descarte
da “primeira água”, já que esta tem um maior potencial de contaminação. Assim,
recomenda-se um by pass no sistema de coleta e armazenamento de água de chuva, para
que se possa descartar, ou melhor, não se armazenar, o primeiro volume de água
pluvial, permitindo que a mesma tenha como destino o sistema de drenagem pluvial
existente em qualquer refinaria de petróleo.
Alguns estudos indicam que o primeiro milímetro de chuva deve ser descartado. Outros
estudos recomendam que durante os primeiros 20 minutos de chuva, não se armazene a
água. Naturalmente, ambos os casos devem considerar a intensidade da chuva, já que
intensidades maiores tendem a “lavar” o solo em um menor tempo (TOMAZ, 2003).
Outro dado importante que deve ser considerado é o material que constitui o solo por
onde a água irá escoar. Dependendo da sua composição, tal material pode influenciar
diretamente no pH da água, acidificando-o ou alcalinizando-o.
Dentro do reservatório também pode haver alterações na qualidade da água, uma vez
que microorganismos e algas que foram carreados pela chuva podem se desenvolver no
ambiente fechado. Por isso, recomenda-se evitar a entrada de luz solar no reservatório e
a dosagem de biocidas e de corretores de pH. Além disso, é importante que se realizem
limpezas periódicas do interior dos reservatórios. Tal periodicidade deverá ser ditada
pela qualidade da água no seu interior.
A presença de sedimentos também deve ser considerada, uma vez que haverá sempre a
tendência de se depositarem no fundo dos reservatórios. Por este motivo é interessante
que exista uma distância mínima entre o fundo do tanque e o ponto de recalque de água
para uso, garantindo que não haverá o transporte de sedimentos durante a transferência
89
da água para o usuário final. Bombas flutuantes são equipamentos que devem ser
sempre considerados.
Levando-se em conta a segurança e a preservação ambiental no interior da refinaria,
todo reservatório, seja ele subterrâneo ou elevado, deverá possuir um extravasor de
água, para evitar transbordamentos.
Em alguns casos, dependendo do uso que se destine a água coletada e a sua qualidade,
deverá ser previsto um sistema de tratamento, constituído basicamente de um filtro e de
uma unidade de correção de pH.
Segundo Tomaz (2003), o custo de um reservatório para água de chuva pode variar da
seguinte forma:
Tabela 28 Comparativo de preço de reservatórios
Tipo de Reservatório Volume (m³) Custo (US$ / m³)
Fibra de vidro 50 137
Concreto armado (enterrado) 50 178
Fibra de vidro 300 105
Concreto armado (enterrado) 300 107
Fonte: adaptado de TOMAZ (2003).
A água de chuva sempre é considerada em projetos de refinaria, contudo, a
consideração se faz para a construção de redes de drenagem pluvial. A recomendação
que este estudo apresenta é que se passe a considerá-la também como uma fonte
alternativa de abastecimento, assim como o Centro de Pesquisas Leopoldo Américo
Miguez de Mello – CENPES vem fazendo no seu projeto de ampliação, cujas obras
foram iniciadas em 2005.
O autor desta dissertação de mestrado recomenda que a refinaria em estudo, assim como
qualquer outra indústria que tenha no seu planejamento estratégico a palavra
“sustentabilidade ambiental” ou “responsabilidade social” realize estudos mais
90
aprofundados sobre o tema discutido neste capítulo, com o intuito de implantar sistemas
de uso de águas pluviais, em volumes e vazões técnica e economicamente viáveis.
91
9 O CRÉDITO DE ÁGUA
O crédito de carbono é um conceito que surgiu a partir da assinatura do Protocolo de
Kyoto, em 1997, quando os países do hemisfério Norte se comprometeram a reduzir
suas emissões de gases geradores de Efeito Estufa em 5,2% - em relação aos níveis de
1990 – para o período de 2008 a 2012, dentro e fora dos países signatários (no entanto,
nem todos os países ratificaram seu compromisso – exemplo: Estados Unidos da
América). A redução pode ser atingida através da implantação de projetos de Seqüestro
de Carbono e Crédito de Carbono e de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento
Limpo (MDL). Através do reflorestamento, por exemplo, se garante a retirada da
atmosfera de toneladas de CO2, já que o mesmo é utilizado pelas plantas na fotossíntese.
Desta forma, se reduz a concentração de gases causadores do Efeito Estufa na
atmosfera.
Alguns países e empresas, na sua maioria desenvolvidos, estão investindo em projetos
dessa categoria em países em desenvolvimento. O aterro sanitário de Adrianópolis, no
município de Nova Iguaçu, por exemplo, implantou um sistema de coleta, tratamento e
produção de biogás a partir do gás metano gerado pelo aterro, convertendo-o em energia
elétrica para atender prédios públicos. Esse projeto atraiu o interesse do governo
holandês que fechou contrato com a operadora do aterro para a compra dos créditos de
carbono (SA PAULISTA, 2005).
O crédito de carbono já é um conceito estabelecido e amplamente difundido no mundo,
até mesmo nas bolsas de valores. O Índice Dow Jones de Sustentabilidade é um
indicador da bolsa de valores norte americana que leva em consideração o investimento
de corporações em ações de responsabilidade social, ambiental e empresarial.
Investimentos em crédito de carbono, por exemplo, são ações que garantem à empresa
promotora de projetos como este, a valorização de sua cota, uma vez que os investidores
que aplicam neste mercado se interessam por investimentos na área ambiental.
Principalmente com a ratificação do Protocolo de Kyoto por diversos países, e com a
garantia dos signatários em reduzir a emissão de CO2, projetos de seqüestro de carbono
ganharam vulto no mundo inteiro, tornando-se uma moeda de amplitude global.
92
O Crédito de Água é uma idéia análoga ao Crédito de Carbono, na qual uma empresa
que necessita de mais água para propiciar o seu crescimento produtivo e econômico, e
que já investiu em projetos de racionalização e reúso de água até o limite possível,
busca formas de aumentar a sua outorga.
Em alguns casos, o órgão gestor dos recursos hídricos e o comitê de bacias não têm
mais vazão outorgável disponível para conceder à empresa solicitante, uma vez que
toda a vazão outorgável já está comprometida com outras empresas.
A indústria solicitante, ainda com o interesse de ampliar o seu processo produtivo, pode
realizar, através de um consórcio entre os usuários, um estudo amplo da bacia, com o
objetivo de analisar se todos também estão com processos eficientes e sustentáveis.
Caso a empresa ou o consórcio detecte oportunidades de investimentos em melhorias e
otimizações de processos em uma determinada indústria, poderá ser apresentado um
projeto ao comitê de bacias, com o intuito de incentivar as empresas a implementarem
projetos sustentáveis de racionalização e reúso de água, os quais resultarão na redução
do consumo de água da bacia, aumentando disponibilidade de vazão para novas
outorgas ou para ampliações de outorgas de direito de uso já concedidas.
Em alguns casos, algumas empresas não disporão de recursos para os investimentos
propostos, mesmo interessadas. Em casos como este, a empresa solicitante da outorga
poderá avaliar se ela mesma poderá conceder os recursos, já que poderá ser a única
forma de permitir a ampliação da sua vazão outorgada. Caso tal evento ocorra, é
importante que exista um conjunto de leis que garanta ao investidor a preferência no uso
do recurso hídrico disponibilizado pelo usuário que passou a consumir menos água.
Basicamente, a idéia é em se conceder o crédito da água resultante de ações de
racionalização e reúso em empresas contempladas com o projeto, à empresa responsável
pelos investimentos. Tal incentivo está em consonância com o disposto no inciso I do
artigo 8º da Resolução no 54 de 2005 do CNRH. Contudo, com o atual texto da Política
Nacional de Recursos Hídricos, o crédito de água não pode ser realizado, pois, a água é
um bem de domínio público, e, portanto, não poderia ser reservado a uma empresa,
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independente dos benefícios que traria. É por esse motivo que é importante que se
estude com detalhes o conceito, de forma a permitir que se revise a legislação atual,
permitindo que o crédito de água possa ser implementado.
Diferente do crédito de carbono, que é de âmbito global, o crédito de água só poderá ser
de âmbito regional, e somente na bacia contemplada pelo investimento e pelo projeto, já
que não se pode transferir o recurso de uma bacia para outra, exceto em casos de
transposição.
No caso da REDUC, por ser a terceira maior refinaria de petróleo do País, e por ter
papel importante não só na economia fluminense como também nos resultados do
município de Duque de Caxias, a refinaria deve assumir papel de liderança nas bacias
de onde obtém o recurso mineral finito. A fim de garantir a manutenção das outorgas,
tanto no rio Guandu quanto no rio Saracuruna, a REDUC deve sempre conhecer o
padrão de eficiência no consumo de água de seus vizinhos, sejam eles indústrias ou até
mesmo municípios.
Em um cenário futuro no qual as outorgas de água da refinaria estejam comprometidas
face à concorrência dos diversos usuários, a REDUC poderá estudar a possibilidade de
investir em projetos que concedam a ela o crédito de água.
O assunto discutido neste capítulo deve ser desenvolvido em um estudo a parte, visando
aprofundar a idéia e avaliar a sua viabilidade. Apesar de parecer uma idéia totalmente
viável e lógica, a necessidade de legislação específica e de apoio da sociedade e dos
usuários é fundamental para o seu sucesso, uma vez que com a legislação vigente não
pode ser implantada. Talvez, em um futuro próximo o conceito de crédito de água esteja
tão difundido quanto o conceito de crédito de carbono, que também levou tempo para
ser considerado como indispensável.
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10 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O uso racional da água é imperativo, independente da disponibilidade hídrica da região,
e deve ser a primeira atitude e o primeiro projeto de toda e qualquer indústria. Utilizar
com responsabilidade um recurso finito e tão mal preservado no mundo deve ser
prioritário.
Na REDUC não pode ser diferente, e já não é. A Petrobras vem investindo em projetos
de racionalização do uso de recursos hídricos, através da implantação de grupos de
trabalho formados por técnicos da empresa, que têm como principais objetivos a
avaliação do uso da água, e a sugestão de melhorias de processo.
Finda a etapa de racionalização, a empresa deve estudar os cenários de disponibilidade
hídrica, para a vazão racionalizada. Nesta etapa, a REDUC está realizando o seu papel
de forma responsável, contratando fundações de renome no mercado para assessorá-la
junto aos Órgãos Gestores de Água. Conhecendo os cenários de disponibilidade hídrica
e garantindo a outorga do direito de uso, a REDUC, assim como qualquer indústria, não
pode se sentir em uma situação tranqüila e confortável, uma vez que a outorga do
direito de uso é um direito precário, o qual não é eterno, mas sim temporário, e pode ser
revogado, em situação de escassez, de forma temporária ou até mesmo permanente.
Portanto, a REDUC deve conhecer sempre quais são os usuários e a demanda que
podem comprometer a manutenção da sua outorga, tendo total ciência da região de
entorno.
A partir daí, a REDUC deve sempre buscar se portar de forma dinâmica, quando o
assunto é o uso da água. Projetos de racionalização e reúso devem ser sempre realizados
e implementados.
A refinaria deve buscar aprofundar cada um dos assuntos apresentados nos capítulos 7 e
8 desta dissertação, de modo a verificar a viabilidade técnica e econômica de cada uma
das propostas apresentadas para o cenário atual e para cada um dos cenários futuros que
o seu planejamento estratégico indicar.
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Assim como pode ser verificado nos capítulos anteriores, projetos de reúso de água
estão cada vez mais sendo utilizados pelas empresas do mundo, o que no Brasil não é
diferente. O reúso de água deve passar a ser uma prática comum e obrigatória de
qualquer empresa que se julgue sustentável. É por este motivo que a Petrobras vem
investindo muito em projetos com este fim. Em poucos anos, algumas das refinarias da
Petrobras já contarão com plantas de reúso de água, principalmente nas regiões onde a
escassez já é uma realidade.
No entanto, a reciclagem de efluente industrial deve ser precedida da instalação de
plantas-piloto, com a finalidade de se avaliar previamente a sua viabilidade técnica. Em
muitos casos, o efluente de refinarias, depois de tratado, apresenta teores altos de certos
poluentes, mesmo quando enquadrados nas normas dos órgãos ambientais. O projeto de
reúso de água da Petrobras contempla tal etapa, o que na REDUC é primordial para o
sucesso do projeto.
A REDUC, apesar da alta disponibilidade de água existente hoje, deve sempre
considerar que está localizada em uma região onde a concorrência com o abastecimento
público é grande. Tanto a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, quanto,
especificamente, o município de Duque de Caxias, vem crescendo ano após ano. Com
isso, o consumo de água também cresce.
Em paralelo, com o crescimento populacional a poluição também aumenta, reduzindo o
volume de água de qualidade disponível. Mais um motivo para o investimento em ações
de racionalização e reúso de água, uma vez que contribui para a redução da necessidade
de consumo de água.
Projetos como os de reúso de esgoto municipal são interessantes e precisam ser
detalhados para se aferir a viabilidade. Diferente de efluentes industriais, o esgoto
sanitário é mais fácil e mais barato de ser tratado. Contudo, o custo de coleta e
transporte do esgoto até uma estação de tratamento é elevado. Desta forma, ambos os
projetos precisam ser comparados para a verificação de prioridade. Além de ganhos
econômicos, o reúso de esgoto municipal pode trazer ganhos à imagem da refinaria, mas
também pode resultar em conflitos com usuários que praticam o reúso indireto de água.
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A dessalinização e o uso de águas pluviais também devem fazer parte de projetos como
os apresentados nesta dissertação. No entanto, o custo da construção de reservatórios,
no caso de águas pluviais, deve ser sempre considerado na avaliação comparativa dentre
as tecnologias.
Outro ponto de grande importância é o Rio Saracuruna, estratégico para a REDUC
atualmente, e assim deverá permanecer durante muitos anos. A refinaria deve enveredar
esforços no intuito de se preservar a qualidade e a quantidade de água naquele
reservatório, além da necessidade de se investir em projetos que possam aumentar a
disponibilidade hídrica do Saracuruna. As seções que tratam do assunto devem ser
aprofundadas, e as sugestões apresentadas deveriam ser estudadas com maiores
detalhes. Trata-se de um recurso importante para a refinaria, responsável por cerca de
83% da água ali consumida, e que precisa ser preservado.
Conforme se pode observar nos capítulos 7 e 8, existe uma grande disponibilidade de
água para a REDUC resultante de projetos de racionalização e reúso. Apesar de a
refinaria estar em uma situação confortável atualmente, é interessante que os estudos
sejam aprofundados de tal sorte a se construir uma tabela que apresente com detalhes a
vazão que pode ser disponibilizada por cada projeto e o seu custo. Com isso, a REDUC
poderá adotar as alternativas que contribuírem de forma mais positiva para o seu
processo.
A REDUC está caminhando no sentido correto para atingir patamares de
sustentabilidade. Além de certificações em Sistema de Gestão Integrada, a refinaria
também está contemplada no projeto de reúso de água coordenado pelo Centro de
Pesquisas da Petrobras (CENPES). O corpo técnico da refinaria em estudo, de
comprovada competência, está empenhado em atingir padrões de sustentabilidade que
contribuirão para a preservação ambiental e para a manutenção da imagem da Petrobras
como empresa que respeita o meio ambiente. A sustentabilidade é um desafio para todas
as empresas do mundo, assim como é para a Petrobras e para a própria REDUC.
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