Segunda chance (Newborn daddy) Judy Christanberry
Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 1 -
Segunda Chance“Newborn daddy”
Judy Christenberry
Olha quem chegou, papai!Edward Nix soube muito bem tudo sobre a alegria da paternidade... e a dor da perda. Então, jurou que
nunca mais iria se pemitir sentir nada outra vez. Até que olhou através da janela de um berçário na maternidade e
viu seu próprio nome listado como pai dao recém-nascida de Rochelle Davenport! O que ele iria fazer agora?
Rochelle sabia o risco que estava correndo quando se apaixonou loucamente por um homem que se
recusava a abrir o coração. Mas sua linda menininha recém-nascida era a prova de que Edward tinha deixado a
guarda cair uma vez. Talvez fosse o momento para uma segunda chance...
Digitalização: Valéria O.
Revisão: Cris Veiga
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CAPÍTULO I
Edward Nix fitou os recém-nascidos no hospital local. Não estaria ali se sua
irmã, Beth, não tivesse acabado de dar à luz. Costumava evitar contato com bebês
desde que seu filho, Edward Júnior, assim como sua esposa, Merilee, faleceram, três
anos atrás.
Mas tinha de admitir que seu sobrinho era um menino muito lindo.
A enfermeira entrou no berçário carregando um embrulho cor-de-rosa. Uma
menina. Edward já estava quase se afastando da janela do berçário quando a jovem
colocou a garotinha no berço, ao lado do bebê de Beth. Então, pendurou a etiqueta
no lugar. Quando a moça saiu, Edward olhou para a identificação, não a lendo de
verdade até que algo muito familiar lhe saltou aos olhos.
Seu próprio nome. Descrito como sendo o pai!
Sentiu uma pontada no estômago e procurou na etiqueta pelo nome da mãe.
Rochelle Davenport.
Encostando as mãos no vidro para se apoiar, tornou a ler mais dezenas de
vezes, certificando-se de que não se enganara. O que fora escrito ali era um absurdo.
Aquele tinha de ser outro Edward Nix.
Outro Edward Nix que vivera um romance com outra Rochelle Davenport, que
terminara havia sete meses.
Sim, claro.
Mas que coisa! Tinha lhe dito, com todas as letras, que nunca teria outro filho
e que nunca se casaria de novo. Será que ela não o escutara? Na verdade, ele fora
um tanto rude. Talvez Rochelle acreditasse que poderia substituir Merilee e dar-lhe
um filho tão perfeito quanto Edward Júnior, substituindo, assim, sua família
perdida.
Depois que romperam, nunca mais a vira.
Sem pensar, Edward correu para o balcão de informações.
— Em que quarto está Rochelle Davenport?
— No 212, senhor. — A mocinha pareceu pronta para acrescentar algo, mas
Edward não esperou.
O quarto era do lado oposto do de Beth.
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As botas de caubói não eram nada silenciosas. Muito menos naquele
momento, em que ele se apressava, irado, pelo corredor. Sentia-se traído e estava
indo informar aquilo à traidora.
Entrou no quarto e falou, de maneira agressiva:
— Rochelle Davenport!
Uma face pálida, menor do que ele se recordava, estava repousada no
travesseiro.
— Como você ousa?! Eu lhe avisei que não queria um filho! Achou que eu
estava mentindo? Pensou que me forçaria a casar, com essa armadilha?! — Edward
franziu a testa, ao ver que ela nada dizia.
— Rochelle! Você não me ouviu? — A porta se abriu.
— Suponho que todos o ouviram, sr. Nix — disse uma enfermeira que fora
amiga da mãe dele. — Poderia sair do quarto, por favor?
— Não! Eu quero algumas respostas! — Edward encarou Rochelle.
Então, ergueu uma sobrancelha. Suas faces muito brancas tinham perdido
ainda mais a cor. Antes que pudesse expressar preocupação, a enfermeira o pegou
pelo braço.
— Acho que seria melhor você sair. Nossa paciente precisa descansar.
— Rochelle!
— Por favor, vá.
Antes que Edward pudesse tornar a questionar Rochelle, a senhora o
conduziu para o corredor.
— Edward, qualquer assunto que tenha para discutir com a srta. Davenport
terá de esperar, por enquanto. Ela está passando por um momento difícil e precisa
de toda energia para se recuperar.
— O que quer dizer? — Então, Edward se deu conta de quão pálida e apática
Rochelle estava. — O que está errado com ela?
— Vocês, homens! A srta. Davenport acaba de ter uma criança! Agora, fique
fora daquele quarto ou chamarei o médico!
Edward andou de lá para cá, confuso, ainda zangado, porém preocupado.
Passou pelo berçário no caminho para o quarto da irmã e parou para ver a criança
que diziam ser sua.
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Como podia aquela coisinha tão delicada ser parte dele? Até mesmo quando
Edward Júnior era bebê, não parecera tão pequenino. Ou tão delicado. Bonito como
Rochelle.
Contraiu os músculos sem querer. Agira mal sete meses atrás quando...
Sete meses! Horrorizado, respirou fundo e se encostou contra a parede.
Rochelle já estava grávida quando sugerira mudar-se para a casa dele, formarem
uma família.
E Edward gritara com ela e a mandara-a embora.
Sua mãe o criara para ser um cavalheiro, mas não o fora, naquela ocasião.
Gostara do corpo de Rochelle. Até mesmo admitia que gostado dela.
Era diferente de Merilee. Sua esposa fora vibrante, cheia de vida, sempre o
centro de tudo. Rochelle era tranqüila, reservada, às vezes até tímida. Edward
notara que tinha o mesmo tipo de solidão arrebatadora que ele sentia.
Pensara que Rochelle entenderia o porquê de ele não querer nada sério, nada
permanente. E também Rochelle nunca havia lhe cobrado nada.
Quando a deixou, depois daquela sugestão hesitante, nunca lhe ocorrera que
já estivesse grávida. Envergonhara-se do que fizera. Tinha até mesmo considerado
desculpar-se, mas não queria que Rochelle pensasse que ele mudara de ideia. Sorte
dela livrar-se dele e prosseguir sozinha.
Mas não poderia, porque estava grávida.
— Que lástima!
— Edward? Admirando meu filho? Ele não é um presente de Deus? — Jack
Kirby, o marido de Beth, lhe interrompeu os devaneios. — Oh, desculpe-me Edward!
Eu estava tão excitado que me esqueci... quero dizer... Veio ver Beth?
— Sim — assentiu Edward, melancólico. — É isso o que vim fazer.
Os dois seguiram até os aposentos de Beth. A irmã de Edward sorria, e Jack
correu para o lado dela, abraçando-a e beijando-a, antes de se referir a Edward.
— Ei, meu amor, você viu quem está aqui?
— Edward, estou muito feliz que tenha vindo! Você já o viu? Meu bebê não é
lindo? — O semblante de Beth transbordava felicidade.
Tudo o que surgiu na mente de Edward foi a imagem pálida de Rochelle e a
tristeza em seu olhar. Observou em volta. O quarto era idêntico, mas o de Beth
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estava cheio de flores... e com um marido apaixonado.
Rochelle não tinha nada.
O remorso o invadiu. Rochelle estivera sozinha nos últimos meses. De repente,
ficava fácil entender por que sua irmã fora vê-la para oferecer sua amizade depois
que eles terminaram e Rochelle recusara, alegando que seria muito doloroso.
Edward à vezes perguntava a Eeth se tinha notícias sobre Rochelle. Mas ela
não saía muito de casa, vivia reclusa.
Escondendo a gravidez...
— Edward? Isso é muito difícil para você? Se for, vá embora, eu entenderei. —
Beth ofereceu um sorriso amoroso, esquecendo a própria alegria para se preocupar
com o irmão.
Ele se inclinou e a beijou na face.
— Não, querida, estou bem. Seu filho é uma beleza. Tem o direito de se
orgulhar.
Os dois o fitaram.
— Já avisaram papai e mamãe?
— Ah, sim, acabei de falar com eles. Devem estar fazendo as malas agora.
Papai até sugeriu que mamãe viesse de avião, mas ela insistiu em acompanhá-lo de
carro, para certificar-se de que papai não vai se perder. — Beth riu.
Os pais deles eram aposentados e tinham se mudado para a Flórida logo após
o casamento de Beth, dois anos antes.
— Quando terá alta? — Edward imaginou que, uma vez que os dois bebês
tinham nascido no mesmo dia, Rochelle iria para casa no mesmo dia também.
— Amanhã ou quinta. O médico disse que dependerá de nossa recuperação.
Edward, não se incomodou por termos posto seu nome nele?
Ele tentou parecer contente.
— Não, querida, fiquei muito vaidoso. Edward Jackson é um nome e tanto.
Bem, agora tenho de ir. Precisa de alguma coisa, Beth?
— Não, querido, Jack está cuidando muito bem de mim.
E Rochelle estava só.
Ela chegara à cidade fazia quase um ano, para ser a nova bibliotecária. Como
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era tímida, demorou um pouco para fazer amigos, apesar de todos gostarem muito
dela.
Edward a descobrira por acaso, ao fazer compras para Billy, um caubói
aposentado que cuidava de sua casa e da cozinha, e que havia torcido o pé. Rochelle
se oferecera para ajudá-lo na escolha do livro.
A atração instantânea surpreendeu Edward e até mesmo o incomodou, mas
Rochelle não era uma garota que parecia esperar atenção. Depois de todo o mundo
ter tentado empurrá-lo para os braços de alguma mulher, qualquer que fosse, o
desinteresse de Rochelle era... sedutor.
Assim, no dia seguinte, quando flagrara-se pensando nela, voltara à livraria
com alguma desculpa ridícula.
Outra vez ela o auxiliara, sugerindo outro livro para Billy, quando Edward
sabia que seu empregado acharia que ele tinha enlouquecido. E então Rochelle se
afastara.
Nenhum interesse. De novo. Nenhum flerte, nenhuma insistência, nenhuma
maquiagem insinuante ou roupas sugestivas.
Edward ficara parado no balcão, folheando as páginas e, num impulso, a
convidara para jantar quando terminasse o expediente, alegando que odiava comer
sozinho.
Rochelle aceitara o convite. Os olhos castanhos dela, ornamentados por cílios
escuros, tinham brilhado, os lábios delicados se aberto num sorriso, e Edward
perguntara-se se o estaria enganando. Parecia boa demais para estar só.
Porém, após o jantar, ele se dera conta de que a solidão dela não era um
truque. Rochelle não tentara seduzi-lo em nenhum momento.
E aquilo era tudo o que ele queria, assegurou a si mesmo. Exceto que tinha
vontade de passar as mãos por entre aqueles cabelos escuros e sedosos. E tocar sua
pele macia. Não, tudo o que queria era uma companhia para jantar.
Apesar disso, passar na livraria na hora exata de fechar tornara-se um hábito
de Edward. Jantar com Rochelle era algo que passara a esperar com ansiedade.
Então, fora para a casa dela.
Para conversar.
E passara a noite.
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Mas não voltara à livraria nas próximas três semanas. Sentia-se muito
culpado para aparecer. Ela não era virgem, graças a Deus. Mas também não era
experiente.
E quando tornou a procurá-la, Rochelle não disse uma uma palavra sobre sua
ausência.
Assim como não falara nada a respeito do bebe.
— Edward? Tudo bem com você? — perguntou Beth, trazendo-o de volta à
realidade.
— Sim, tudo. Vou indo. Tenho de visitar mais alguém.
— Quem? — Jack quis saber. — Eu não soube de nenhum amigo que...
— Ninguém que você conheça. — Edward se dirigiu à porta.
Nâo sabia o que iria fazer, mas não estava pronto para contar a eles o que
tinha acontecido.
Rochelle sentiu as lágrimas escorrendo de seus olhos fechados. Não sabia por
que chorava. Deveria ser porque se sentia muito fraca. E com medo do futuro.
— Sabia que ele ficaria bravo — resmungou consigo mesma.
Ainda mais descobrindo por outra pessoa. Talvez uma das enfermeiras tivesse
lhe contado. Afinal, ela colocara o nome dele na etiqueta de nascimento.
Aquilo fora um erro.
Mas pretendia lhe contar sobre o bebê. Só que estivera cansada, muito triste e
sem forças para lidar com a situação. Também tivera muito medo de que Edward in-
sistisse em um aborto com o qual ela jamais concordaria.
Rochelle fora abandonada à soleira de uma residência ao nascer. Primeiro,
ficara doente e, por consequência, ninguém quisera adotá-la. Os anos se passaram,
e se mudou de um orfanato para outro. Ficou mais saudável, porém nunca fora o
bebê engraçadinho que alguém desejasse.
Jurara que, se um dia tivesse um filho, ele seria amado, desejado. E cumpriria
aquele juramento, não importando o que acontecesse. Precisaria voltar ao trabalho
na próxima segunda-feira, mas preparara um pequeno espaço para a criança, atrás
do balcão. Levaria Andréa junto.
No entanto, não podia nem se levantar da cama sem ajuda. Rezava para se
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recuperar rápido, sobretudo porque não tinha condições de pagar tantos dias de
internação. E não poderia ficar deitada, em casa.
A porta se abriu de novo, e o homem que ela amava, e que a odiava, entrou.
Pelo menos dessa vez não estava gritando. Mas, de qualquer forma, Rochelle
alcançou a campainha para chamar a enfermeira. Estava exaurida demais para lidar
com Edward no momento,
— Rochelle, está tudo bem com você?
A gentileza dele a surpreendeu, mas sabia que seria melhor não confundir
aquele gesto. A enfermeira, sem dúvida, o avisara para não ser tão barulhento.
— Sim. Lamento muito que alguém tenha lhe...
— Ninguém me contou. Eu estava olhando os... bebês quando a enfermeira
entrou no berçário com o seu. E a etiqueta nomeava-me como pai.
Seu. Ele não podia ter escolhido uma forma melhor de deixar bem claro que
não tinha nenhum interesse no bebê.
— Desculpe-me. — Rochelle se desviou para a janela. A porta tornou a se
abrir.
— Edward Nix, eu lhe avisei para não voltar aqui! — Margie Long, a
enfermeira que o tirara dali da primeira vez, o encarou.
— Ora, sra. Long, estou sendo civilizado. Apenas quero fazer algumas
perguntas.
— Rochelle querida, você quer visitas?
Rochelle continuou olhando para a janela, sabendo que se fitasse Edward não
seria capaz de mandá-lo embora.
— Não, estou cansada.
— Rochelle!
— Desculpe-me, Edward, mas as novas mães são as chefes aqui. Saia. —
Margie o pegou pelo braço e o conduziu para fora.
Rochelle não se moveu até ouvi-los sair. Então, olhou para o lugar onde
Edward estivera, desejando que tivesse tido forças para contemplá-lo. Para
memorizar aquelas feições, para lembrar do toque dele. De seu amor.
Pensara que Edward a tivesse tocado com amor. Em vez disso, fora apenas
sexo. Não sabia muito sobre homens, não acreditara que eles poderiam ir para a
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cama com uma mulher sem sentir nada.
Agora acreditava. Edward deixara aquilo muito claro.
Assim, eram só ela e Andréa. Rochelle se preparara para aceitar esse fato, a
fim de que elas não necessitassem de ajuda. Mas não planejara ficar doente. Ainda
assim, as duas superariam aquilo.
Estava determinada.
— Não leu a etiqueta de identificação da criança? — perguntou Edward,
irritado. — Diz que sou o pai. Isso não me dá alguns direitos, então?
— Daria, se você fosse também o marido. De outra forma, não. Você contou
para sua mãe? — A sra. Long falava de modo a censurá-lo, o que o aborreceu ainda
mais.
Não precisava ser lembrado de que sua mãe ficaria brava com ele.
— Não. Mas que coisa! Só descobri isso há alguns minutos!
— Oh, sim! — Margie pressionou os lábios. — Todos nós ficamos um pouco
surpresos.
Edward pensou sobre todas as visitas que Beth fizera ao médico.
— Rochelle não fez exame pré-natal?
— Ela disse que fez, em Buffalo. — Parecia que a sra. Long não estava bem
certa disso.
Buffalo, no Wyoming, não era grande, mas tinha um hospital maior do que em
Franklin, a cidade deles.
— Buffalo? Por que lá?
— Imagino que a srta. Davenport não queria que ninguém por aqui soubesse.
Houve alguns boatos, mas ela não estava namorando ninguém, então todos
acharam que tinha apenas engordado. Ela usava roupas largas. — Após uma pausa,
indagou: — Vocês terminaram o namoro há muito tempo, não?
— Sim.
— Talvez Rochelle tenha começado a sair com outra pessoa, mas colocou seu
nome na certidão.
O forte sentimento de proteção não permitiria que Edward deixasse dúvidas
sobre aquilo.
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— Não! Não, o bebê é meu.
— Certo.
— O que está errado com ela, sra. Long? Sei que você já disse a palidez se
deve a Rochelle ter acabado de dar à luz, mas vi minha irmã, e Beth está ótima.
— A srta. Davenport teve complicações.
— O bebê está bem? A menina parece tão pequena...
— Oh, é uma linda e saudável garota — comentou a sra. Long, um sorriso de
avó no rosto.
— Então por que Rochelle está tão descorada? — Chegaram no balcão de
informações.
— É o normal dela ser pálida, acho.
— Não me responda desse jeito, Margie. Quero saber o que está errado.
— Você não é o marido, Edward. E não tem o direito de saber sobre o estado
de saúde dela.
— Steve é o médico de Rochelle? Foi ele quem fez o parto?
Steve era um velho amigo de Edward, o homem que fez o parto de seu filho e
tentou salvar tanto Merilee quanto o menino, depois do acidente.
O elevador se abriu, e outra enfermeira chegou ao balcão.
— Desculpe-me pelo atraso, Margie. Olá, Edward. Você veio para ver o bebe de
Beth?
— Sim, Susan. Já o vi. É um lindo menino. — Susan deu um tapinha no
braço dele.
— Bom para você. Eu sabia que você viria, ainda que isso seja difícil.
Edward e Susan tinha frequentado a mesma escola. Depois que Margie Long
acabasse o seu turno, sabia que teria mais chances de obter informações com
Susan. Talvez pudesse até mesmo visitar Rochelle outra vez.
— Não permita que esse rapaz se aproxime do 212. Rochelle não quer
nenhuma visita — ordenou Margie, pegando a bolsa para ir embora. — Além do
mais, ela não está bem o bastante para isso. — Com um aceno de cabeça para
Edward, partiu.
Susan virou-se para ele.
— Você e Rochelle reataram? Pensei...
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— Não. Mas ela teve um bebê meu hoje, e a sra. Long não quer me contar
nada.
Susan ficou impressionada com aquele relato tão brusco.
— Seu filho? — Arregalou os olhos, perplexa.
— Sim. E quero vê-la.
— Não posso deixá-lo entrar, Edward. Não depois da ordem de Margie. Eu
seria demitida. — Susan olhou por cima do ombro dele, como se Margie estivesse
escondida na curva do corredor.
Edward bufou, frustrado.
— Certo. Pode pelo menos me contar por que ela parece tão doente?
Susan puxou a ficha médica e a leu.
— Bom... posso lhe dar uma ideia geral de algumas coisas.
CAPÍTULO II
Não havia muita informação na ficha de Rochelle, pois o registro do pré-natal
não constava ali. Steve fizera uma observação que requisitara do laboratório de
Buffalo.
Rochelle informara que tivera diabete gestacíonal e pressão alta. Mais ainda,
perdera muito sangue durante o parto e precisara de uma transfusão para fortalecê-
la.
Susan não podia revelar mais nada a Edward. Uma vez que tornara a recusar
seu pedido para ver Rochelle, pela terceira vez, ele desistiu e saiu do hospital. Mas
antes deu mais uma rápida olhada no bebezinho embrulhado em uma manta cor-
de-rosa.
Parou nos degraus à saída do hospital e olhou a vista panorâmica da cidade
onde vivera quase toda a vida. Mas, de súbito, tudo havia mudado. O que fazer?
Não poderia aceitar o que tinha acontecido. Não poderia fingir ser um novo pai
feliz... ou um marido ansioso. Duvidava que sobrevivesse, se voltasse a arriscar o co-
ração. Atado ao luto por sua esposa e seu filho, sentia-se muito culpado. Embora
não tivesse cometido uma irregularidade no trânsito, conseguira escapar do acidente
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que os matou.
Muitas noites, Edward se deitara na cama desejando não acordar na manhã
seguinte. Aquela primeira ocasião em que dormira com Rochelle fora a única que
despertara com alegria no peito. Então, o remorso triplicara.
Como voltar a ser feliz, quando Merilee e Edward Júnior estavam perdidos
para sempre? Criaturas doces e delicadas não deveriam fazer parte de seu cotidiano.
Assim, punira-se por três semanas.
Mas retornara à livraria, incapaz de ficar longe, convencendo-se de que ele e
Rochelle retornariam à antiga relação, apenas jantando juntos. Isto é, se ela
aceitasse ao menos conversar.
Rochelle o recebera como amigo. Nenhuma questão, nenhuma cobrança ou
expectativa. Edward ficara impressionado. Quando a beijou de novo, ela
correspondera sem reservas. Ele não pudera resistir.
Por dois meses, tinham feito amor com frequência. Todas as vezes, Edward
usava proteção, porque não tinha a menor intenção de ter um filho. Nenhuma
perspectiva de futuro. Condenava-se sempre que pensava sobre seu comportamento.
Mas tentava não pensar, empurrando a consciência para bem longe.
Até que Rochelle se referira a futuro, a família. Como uma ferida que fora
supurada, seu sofrimento aflorara, indomável, machucando Rochelle.
Ela já estava grávida.
Aquela constatação o torturava.
Ainda assim, não poderia contemplar o porvir. Entretanto, poderia dar suporte
financeiro a Rochelle e ao bebê.
Virando-se, entrou no hospital de novo, e, decidido, foi direto à administração.
— Edward, posso ajudá-lo? — perguntou uma amiga de Merilee.
Aquele era o problema de cidades pequenas. Não se podia fazer nada sem que
os outros soubessem.
— Sim. Preciso fechar a conta de Rochelle Davenport. — A mulher o fitou.
— Por quê?
A expressão dele deve ter mostrado que não gostou de ser questionado, pois
ela acrescentou:
— É que não é permitido revelar informações financeiras, a menos que seja
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para familiares, ou com a autorização do paciente.
— Sou o pai da filha dela e quero pagar a conta.
— Oh! — a mulher exclamou e apressou-se em pegar a pasta de Rochelle. Deu
a Edward o total e sugeriu planos de pagamento.
Edward tirou o talão de cheques.
— Não. Pagarei à vista. Se houver algum custo adicional, por favor envie a
conta para mim. Você tem meu endereço, não?
— Sim, claro.
Edward comprimiu os lábios antes de acrescentar:
— Certifique-se de que ela tenha qualquer coisa que quiser.
A atendente assentiu.
Edward correu para sua caminhonete.
Após dirigir a curta distância entre até o consultório do dr. Steve Lambert,
entrou e pediu para falar com o médico.
— Olá, Edward! Está doente?— quis saber a recepcionista.
— Não, sra. McCallister. Quero apenas conversar com ele. Ah! E quero pagar a
conta de Rochelle Davenport também.
Edward obteve dela a mesma reação que vira no hospital. E sabia que os
comentários seriam quentes aquela noite.
— A srta. Davenport já acertou um plano de pagamento, Edward. E até
mesmo já pagou a primeira prestação no dia em que procurou o dr. Steve.
— Quando ela o contatou? Pensei que Rochelle estivesse indo a um médico em
Buffalo.
— A srta. Davenport veio aqui há duas semanas.
Aquilo deixou Edward até mais ansioso para falar com o médico.
— Dê-me o total do que ela deve, sra. McCallister, mais o custo de hoje. —
Edward já tinha o talão de cheques em mãos.
Depois de pagar, sentou-se na sala de espera, de mau humor, observando os
outros pacientes. Diversas mulheres estavam ali com os filhos pequenos e, sem
nenhum esforço, Edward conseguiu visualizar Rochelle naquele consultório, no
futuro.
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Rochelle e a menina. Nem mesmo sabia o nome da pequena, mas estava certo
de que Rochelle já escolhera um. Ela parecia ter se preparado bastante para a
chegada da criança.
Poucos minutos depois, a recepcionista o chamou:
— O doutor o receberá agora.
Edward foi levado para o consultório de seu amigo. Steve se levantou quando
ele entrou e lhe ofereceu a mão,
— Ei, rapaz! Há quanto tempo! Como vai?
— Quero conversar com você sobre Rochelle Davenport.
Steve o fitou, impassível.
— Por quê?
— Porque foi o parto de minha filha que você fez hoje. — A expressão de Steve
não mudou.
— Imaginei.
— Eu não sabia até que fui ao hospital para visitar Beth. A enfermeira entrou
no berçário com o bebê e vi a etiqueta de identificação, enquanto admirava meu so-
brinho. — Edward não queria que Steve achasse que abandonara Rochelle, como
fez, embora não tivesse sabido da gravidez.
— Lamento que tenha descoberto dessa maneira. Quando ela veio aqui pela
primeira vez, há quinze dias, perguntei sobre o pai, mas Rochelle se recusou a falar
qualquer coisa.
Edward não se surpreendeu. Na verdade, a coisa surpreendente era que
Rochelle tivesse colocado o nome dele na etiqueta. Mas de repente lembrou-se da
conversa dela sobre ter sido uma criança renegada, um bebê que ninguém queria.
Nenhuma certidão de nascimento, nada de pais. Deu-se conta de que Rochelle não
faria a mesma coisa com o próprio filho, mesmo que isso tornasse as coisas mais
difíceis para ela.
— Por que Rochelle não o procurou antes, Steve? — O médico deu de ombros.
— Suponho que para esconder a gravidez...
— Ela fez mesmo o pré-natal em Buffalo? — Steve não se moveu para pegar a
ficha dela.
— Você sabe que não é ético, nem legal, comentar formulários médicos,
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Edward.
— Sou o responsável por Rochelle estar naquele hospital, Steve! Tenho o
direito de saber.
— Pelo que sei, são necessárias duas pessoas para fazer um bebê.
Edward se levantou e pôs-se a caminhar pela pequena sala.
— Apenas me diga o que preciso fazer. Rochelle está muito pálida e me parece
triste demais. As duas estão bem?
— A criança está.
A resposta doeu no coração de Edward.
— E Rochelle? — Respirando fundo, Steve falou:
— Teve diabete gestacional e pressão alta. A recuperação é demorada e difícil.
— Franziu a testa. — A srta. Davenport perdeu muito sangue. Tivemos de fazer uma
transfusão.
— Mas irá se recuperar?
Steve continuou a olhar para o papel. Então encarou Edward.
— Rochelle foi avisada de que deveria parar de trabalhar por seis meses.
Porém, trabalhou até uma hora antes do parto.
— Por quê? Por que ela faria isso? Não se importava com a criança? — Edward
sabia que aquilo não fazia sentido, que Rochelle não era assim.
— Eu diria que agiu assim porque precisava do dinheiro para conseguir
sustentar a criança e a si própria.
— Deveria... — Edward começou a protestar, mas parou no meio da frase.
Rochelle nem mesmo lhe contara sobre seu estado, muito menos lhe pedira
auxílio. Mas como culpá-ia? O comportamento dele sete meses antes não fora nada
amistoso.
— Mas Rochelle vai ficar bem?
— Se se der tempo para se recuperar... Decerto precisará de ajuda nas duas
primeiras semanas. Gostaria que ela não voltasse ao trabalho, pelo menos por seis
semanas. Mas suspeito que recusará meu conselho.
— Você já lhe disse isso?
— Não conversamos desde o parto. Passarei no hospital para examiná-la ainda
hoje, antes de ir para casa.
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Edward estava ali fazia meia hora. Sabia que Steve era um médico dedicado,
querido por todos em Franklin por não medir esforços em benefício dos outros.
— Contratarei alguém para cuidar dela, Steve. Rochelle não ficará sozinha.
— Ótimo.
— Diga-me, ela terá alta em dois ou três dias?
— Tentarei mantê-Ia lá por esse tempo. Na semana passada, Rochelle jurou
que não ficaria mais do que uma noite.
— Mas até então não sabia de seu estado de saúde, certo? — Edward, depois
de tê-la visto, duvidava que Rochelle pudesse até mesmo andar sozinha, que dirá
carregar um recém-nascido.
A expressão fechada de Steve denunciava que não queria discutir mais nada.
— Por favor, me informe quando ela terá alta e eu irei buscá-la para organizar
as coisas.
— Edward, alguém para ver como Rochelle está todos os dias não será o
suficiente. A garota se mostra fraca, mas determinada a cuidar da filha. Se a srta.
Davenport conseguir fazer isso, será um milagre. Esqueça detalhes como limpar,
cozinhar, dar banho no bebê. Rochelle precisa de mais. Acima de tudo, de
companhia. Estou preocupadíssimo pelo estado de depressão em que se encontra.
De novo, o sentimento de culpa. Certo, ele tinha pago algumas contas. Possuía
o dinheiro necessário. Não era, portanto, nenhum sacrifício. Mas a tristeza nos olhos
de Rochelle não o deixava em paz, em oposição à alegria de Beth.
Edward recomeçou a andar de lá para cá, encarando uma decisão difícil. O
dever venceu.
— Certo, vou levá-la para a fazenda comigo. Billy pode limpar e cozinhar.
Contratarei uma das esposas dos caubóis para ficar com Rochelle até que ela
melhore. Assim está bem?
O médico o fitava com compaixão.
— Se isso é o melhor que pode fazer, então acho que sim.
Edward despediu-se depressa. Queria se livrar logo daquele olhar. Precisava
ficar longe do que estava encarando, e tinha muito que fazer.
Chegando à picape, pegou o celular e telefonou para o rancho.
— Billy, pare com tudo o que estiver fazendo e prepare a casa para receber
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dois hóspedes.
— Olá, chefe! Seu pai e sua mãe estão chegando para ver o novo neto?
— Sim, mas ficarão na residência de Beth. Rochelle Davenport e o bebê dela
vão se recuperar aí na fazenda.
Silêncio.
— Tudo bem, patrão. Que idade tem a criança? — Rochelle visitara a
propriedade algumas vezes e logo se tornara a favorita de Billy. Ela costumava
elogiá-lo, e estava sempre se oferecendo para ajudar.
— O bebê nasceu hoje. Prepare o quarto do andar de baixo para Rochelle e
faça uma faxina no quartinho do corredor. Levarei algumas coisas de bebê para
colocar lá. Chame alguém para dar-lhe uma mão.
Edward não se deu tempo para pensar. Correu para uma loja de
departamentos no centro para adquirir tudo o que fosse necessário para acomodar a
menina. Mais tarde, se Rochelle não quisesse nada daquilo, ele poderia dar a Beth
ou manter as coisas lá, para quando a irmã, Jack e o pequeno Edward o visitassem.
A melancolia que vira em Rochelle o instigaram a escolher as cores mais
alegres. Colocou todas as compras na caçamba da picape, pronto para ir para casa.
O estômago, porém, roncou, e Edward pensou em parar para comer, mas
aquilo fez seus pensamentos voarem direto até Rochelle e os jantares
compartilhados. Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Na realidade, evitara
jantar na cidade nos últimos meses.
Assim, foi direto para casa, dirigindo mais rápido do que deveria para chegar à
segurança da fazenda. Embora, em breve, nem ela seria segura.
Afinal, Rochelle e o bebê estariam lá.
Rochelle foi encorajada pelo leve aumento de vigor, que sentiu naquela
manhã. Quase teve de engatinhar do leito até o banheiro, mas fez isso sozinha.
A enfermeira apareceu no momento em que saía do banheiro e a apoiou para
voltar para a cama. Rochelle não poderia recusar, uma vez que sentia todo o corpo
tremendo de fraqueza.
— Você deveria ter nos chamado, senhorita. O doutor disse que não pode se
levantar.
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— Tenho de me fortificar, assim poderei ir para casa hoje. — Rochelle tentou
esboçar um sorriso.
— Ora, menina, depois do que passou?! O médico não está nem mesmo
sonhando em lhe dar alta. Acho que mais uma semana de repouso ainda será
pouco.
Rochelle se apavorou, mas tentou esconder.
— Não preciso de tudo isso. Além do mais, não posso pagar, você sabe... bebês
dão muita despesa.
A enfermeira sorriu com meiguice.
— Não deve se preocupar com isso. Edward já cuidou de tudo.
Graças a Deus já estava na cama, ou teria caído ao chão.
— O que foi que disse?
— Ai... acho que eu não deveria... Pensei que isso fosse lhe dar tranquilidade.
Desculpe-me. — A enfermeira virou-se para sair. — Vou trazer seu desjejum.
Assim que ficou sozinha, Rochelle pegou o telefone. Quando o escritório de
administração atendeu, exigiu saber sobre sua conta.
— Zero, srta. Davenport — informou a atendente.
— Como pode? Não paguei um centavo!
— O pai de seu bebê pagou tudo. E estamos autorizados a enviar para ele
qualquer outra despesa que possa haver. Então, não tem com o que se preocupar.
Rochelle desligou o aparelho, sem responder. Nada para se preocupar...
Pusera o nome de Edward na etiqueta de nascimento porque sabia o quanto aquilo
significaria para sua filha no futuro. Rochelle não soubera o nome de seus pais.
Andréa saberia.
Mas não fizera aquilo para que Edward se sentisse forçado a pagar as
despesas. Rochelle sempre soube que ele era um homem bom. E quando, durante o
relacionamento, descobrira sobre a esposa e o filho, por mais que as palavras dele a
tivessem ferido, chocado, ela o compreendera.
Deveria ter levado adiante o plano de dar à luz em Buffalo, mas ficava a uma
hora de carro, e tivera medo de não conseguir chegar dirigindo sozinha até lá.
Sete meses antes, havia até mesmo considerado parar de trabalhar e se
mudar para Buffalo. Mas não o fizera, porque mantinha a estúpida esperança de
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que Edward mudasse de ideia. Que entraria na livraria e a convidaria para jantar de
novo.
Que boba!
Com lágrimas nos olhos, ergueu a cabeça do travesseiro e olhou ao redor. Sua
mala estava aberta no chão, embaixo da janela. Na véspera, a enfermeira retirara
apenas uma camisola dali.
Assim, tudo o que teria de fazer era ir até a cadeira ao lado, vestir-se e ir
embora. Parando para pegar Andréa no caminho, é claro.
Imaginar ter de andar até o carro, entretanto, foi o bastante para deixá-la
exausta. Carregar a mala e o bebê, então, parecia impossível. Mas não queria que
Edward pagasse mais nada.
Ele não as queria, a nenhuma delas.
Enquanto pensava o que faria, a porta se abriu e a enfermeira entrou com a
bandeja, colocou-a sobre a mesinha hospitalar e empurrou-a sobre o leito de
Rochelle.
— Você se sentirá mais forte depois que se alimentar — aconselhou a mulher,
com alegria. — E o doutor virá examiná-la em breve. Ele veio ontem à noite, mas
você já estava dormindo, e não quis acordá-la.
— Sinto muito... — Rochelle mal se lembrava dele no momento do parto, mas
gostara do médico quando estivera no consultório.
— Sem problemas. Ele achou que o repouso era mais importante do que sua
visita. Fique sabendo que está se recuperando muito melhor do que nós
esperávamos. Ficou muito tempo em trabalho de parto. Beth Kirby chegou aqui
depois de você, e teve o bebê duas horas antes.
— Beth está aqui? Ela teve um bebê? — Rochelle exultou. Amara Beth quase
tanto quanto a Edward, sentindo como se, enfim, tivesse encontrado uma irmã. —
Beth e a criança estão bem? É menino ou menina?
— Se eu soubesse que essa informação a deixaria tão feliz, teria lhe contado
há séculos! — A enfermeira riu, satisfeita.
Rochelle corou, envergonhada por deixar suas emoções transparecerem.
Esperava que a enfermeira não contasse a Beth que ficara tão radiante pela notícia.
Aquilo chocaria a irmã de Edward, depois de Rochelle ter rejeitado sua oferta de
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amizade.
— Eu... a conheço.
— Bem, claro que conhece. Beth é a tia de sua filhinha. Teve um menino, e
mãe e filho passam bem. Nunca verá um pai mais orgulhoso do que Jack Kirby. Ele
não arredou pé daqui desde que deram entrada, a não ser para comprar um lindo
buque de rosas no centro... — Parou de falar de repente.
Rochelle compreendeu o que a fizera se calar. Não havia uma única flor em
seu quarto. Pior que isso, não exista nenhum pai orgulhoso admirando sua filha
pelo vidro do berçário e retornando à cabeceira da mãe.
— Oh, me desculpe, eu...
— Não se incomode com isso, por favor. Quando trará Andréa para mim?
— Depois de você ser examinada pelo médico. — Rochelle assentiu, mas
estava ansiosa para pegar a filha nos braços outra vez.
— Então é melhor que eu tome logo meu café.
Edward parou diante no enorme vidro do berçário, os olhos fixos no pequeno
embrulho cor-de-rosa. O bebê não se movimentara, nem dera o menor sinal de vida
desde que ele chegara.
Quando a enfermeira entrou no berçário, ele bateu de leve no vidro e apontou
a menininha. A moça sorriu e colocou Andréa na primeira fileira, mais perto da
vista. Será que a jovem não percebera que algo estava errado? Edward queria ter
certeza de que o bebê estava respirando.
No momento em que decidiu bater no vidro de novo, uma mão minúscula se
ergueu até a boquinha, fazendo um movimento de sucção.
Talvez a garota tivesse herdado esse hábito dele. A hora de comer estava
sempre era primeiro lugar na lista de prioridades de Edward. Um leve sorriso curvou
seus lábios, até que ouviu passos no corredor.
Steve Lambert juntou-se a ele.
— São pequenos milagres, não?
— Hum... sim. Não vi meu sobrinho.
— Já deve estar no quarto, alimentando-se junto com a mamãe.
— Rochelle não... Quero dizer, a menininha parece faminta.
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— A srta. Davenport deixou claro que vai amamentá-la, mas foi dada água
doce ao bebê até esta manhã. Rochelle vai tentar hoje.
— Como reagiu quando você lhe contou que ela irá para a fazenda comigo? —
Aquela questão tinha ocupado sua mente até mesmo enquanto ele e Billy
arrumavam o quarto da criança, na noite anterior. Não achava que Rochelle
concordaria com facilidade.
— Não falei com ela, Edward. Rochelle dormia quando fui vê-la, ontem.
— Falará com agora?
— Sim. Quer ir comigo? Enfrentaremos isso juntos.
Edward gostaria de ter dito “não”. Pensou que ela concordaria com o médico
com menos relutância se ele não estivesse presente. Porém, era uma covardia
esconder-se atrás de um amigo.
— Tudo bem — assentiu e seguiu pelo corredor com Steve.
Temia cada passo que o levava para mais perto dela.
CAPÍTULO III
Rochelle uniu forças e empurrou o cobertor e o lençol que a cobriam. Se
ficasse ali embaixo, nunca sairia daquele hospital. E decidira que seria melhor ir
embora antes que o médico aparecesse... se conseguisse.
A porta se abriu, e ela puxou as cobertas de volta até o queixo.
O dr. Lambert percebeu o movimento.
— Precisa de ajuda, srta. Davenport? Eu chamarei a enfermeira — ofereceu
ele, gentil, apertando o botão de emergência.
— Não, eu... — Parou de falar assim que viu Edward entrou no quarto.
— Pois não, doutor? — A enfermeira apareceu atrás dos ombros largos de
Edward.
— Acho que a srta. Davenport precisa de auxílio. — Steve deu meia-volta e
saiu, levando Edward pelo braço.
— O que foi, querida? Está sentindo alguma coisa?
— Não, eu estava me levantando para me vestir e...
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— Estava o quê? Não me apronte uma dessa. Eu lhe avisei para ficar deitada.
— Margie ajeitou as cobertas ao redor de Rochelle e, antes que a paciente pudesse
pedir discrição, abriu a porta e informou ao médico que a srta. Davenport estava
tentando sair da cama para se vestir. — Eu a ajudarei, se esta for sua ordem, mas a
última instrução que recebi foi para que permanecesse em repouso.
— Muito obrigado, Margie. Deixe-me examiná-la, e depois falarei com você.
— Sim, senhor, doutor.
Rochelle se recostou no travesseiro. Na certa levaria um sermão, com Edward
assistindo. Fechou os olhos quando ouviu os passos pesados que entravam.
— Srta. Davenport?
Ela ergueu as pálpebras, mas fitou a janela.
— Sim?
— Entendo que esteja ansiosa para nos deixar. — Rochelle mordeu o lábio.
— Não estou reclamando sobre o serviço, doutor, mas minha filha e eu
estamos prontas para ir embora.
O médico se aproximou e pegou a mão dela.
— Acho que vocês duas ficarão ainda melhores se permanecerem aqui por
mais dois ou três dias.
Rochelle deu uma olhada rápida para as feições esculpidas de Edward, então
se dirigiu a Steve.
— Não posso pagar por tudo isso. Prometo ser cuidadosa. Meu bebê estará...
— Você não pode ir, Rochelle — interveio Edward, como se fosse decisão dele.
Ela o ignorou.
— Doutor, prometo seguir suas instruções, mas...
— Minha instrução é que fique no hospital — Steve a interrompeu, com
gentileza.
— Eu paguei suas contas, Rochelle — informou Edward. Ela ficou grata por
aquilo não a pegar de surpresa.
— Assim que puder, devolverei a quantia, Edward.
— Rochelle, você e o bebê são de minha responsabilidade!
— Não! — Por fim, encarou-o. — Eu e minha filha não temos nada a ver com
você!
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— É óbvio que têm! Porque sou o pai!
— Edward, espere lá fora.
Rochelle olhou para o médico, agradecida pela intervenção.
— Steve, eu preciso... — Edward começou a protestar, mas não pôde
prosseguir.
— Edward, espere lá fora — Steve repetiu, com mais firmeza.
Rochelle baixou os cílios. Então, ouviu Edward se afastar.
— Diga-lhe que tirarei o nome dele da certidão do bebê. Eu não quis...
— Está me contando que Edward não é o pai da criança, senhorita?
Rochelle respirou fundo.
— É isso, dr. Lambert. Eu menti.
— Você está mentindo agora, Rochelle, e nós dois sabemos disso.
Rochelle fitou Steve.
— Eu não queria que minha filha tivesse de se perguntar quem são seus pais.
Não pretendia que Edward pagasse por algo que não desejava. É por isso que
preciso ir para casa hoje.
— Como se isso fosse mudar alguma coisa. — Rochelle tentou se sentar, e ele
levantou-lhe a cabeça, ajudando-a.
— Vejo que você o conhece, doutor. Eu também o conheço. Edward é um
homem bom, mas não queria... não me quer e não quer o bebê. Não pretendo vê-lo
pagando as contas por se sentir culpado. Vou conseguir. Prometo honrar todas as
parcelas do plano de pagamento. Por favor, não deixe que Edward lhe pague.
— Tarde demais. Edward já o fez. — O médico esboçou um sorriso. — Ei, isso
não é um problema para ele!
Entre lágrimas que não podia mais segurar, Rochelle murmurou:
— Mas é para mim.
Steve puxou uma cadeira e se sentou.
— Temos uma coisa mais importante do que isso para conversar.
A seriedade dele causou nela um arrepio.
— Andréa está bem? A enfermeira me disse... Elas ainda não a trouxeram
aqui. Não! Não, ela não... Não!
A porta se abriu e Edward irrompeu.
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— O que houve?
O médico ignorou-o e se ergueu, colocando a mão no braço de Rochelle.
— Ouça, sua filha está ótima. Não era a ela que me referia. A enfermeira vai
trazê-la em poucos minutos para lhe ensinar como amamentá-la.
— Você falou para Rochelle que alguma coisa estava errada com a criança? —
Edward ficou alarmado.
— Os dois são loucos! — Steve deu risada. — O bebê goza de plena saúde.
Qual é o nome dela?
— Andréa Leigh. — Rochelle secou as faces.
— Leigh? — repetiu Edward, incrédulo. — Você lhe deu o nome de minha
mãe?
Ela notou uma certa raiva na entonação dele.
— Sim, Andréa Leigh.
— Na esperança de que minha mãe ficasse a seu lado, Rochelle?
— Edward... — avisou o médico.
Rochelle tinha recuperado o controle de alguma forma, e olhou firme para
Edward.
— Sim, dei a ela o nome de sua mãe. Porque é a única avó que Andy terá.
Então, virou o rosto.
— O que precisamos discutir, doutor?
Edward encarou Rochelle. Dois minutos antes, ela estava à beira da histeria.
Então o enfrentou quando lhe perguntou o nome do bebê.
Sua mãe já ia ficar irada o suficiente mesmo antes de saber que a criança
tinha seu nome.
Mais um problema para lidar...
— Não! — gritou Rochelle.
Edward voltou à realidade para fitá-la.
— O que está acontecendo? — Steve suspirou.
— Expliquei sobre sua oferta de levá-la com a criança para a fazenda,
enquanto se recupera.
Rochelle deixava clara sua obstinação.
— Não, muito obrigada.
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Educação com uma atitude, sim, senhor.
— Steve disse que você não pode ir para sua casa, Rochelle. Precisa de alguém
para cuidar de seu bem-estar.
Tinha que ser razoável. Afinal, ele era um homem responsável.
— Não.
Nenhuma atitude, agora. Apenas uma resposta firme e sem emoção.
— Rochelle — intercedeu o médico, mais uma vez —, se você quer deixar o
hospital, precisará ter alguém para ajudá-la com o bebe, limpar a casa e cozinhar.
Tem alguém que possa fazer isso?
Rochelle olhava fixo para a frente, ignorando os dois.
— Eu arranjarei.
— Rochelle, não quero ter de chamar o Serviço Social para se meter nisso —
disse Steve, com toda a calma.
Rochelle engasgou. A mão foi até o pescoço.
— Steve! — protestou Edward, ciente do quanto aquilo a machucaria.
Steve ergueu a mão.
— Não quero fazer isso, mas não posso permitir que arrisque a saúde do bebê,
Rochelle. Ou a sua própria. Não deve carregar nenhum peso, nem mesmo Andréa,
por no mínimo uma semana.
Edward ficou nervoso quando Rochelle empalideceu.
— Ouça-me, Billy está esperando por vocês. Ele tomará conta de tudo, e eu
contratarei uma das esposas dos caubóis que moram no rancho para ajudá-la todos
os dias. Não se preocupe, não irei aborrecê-la.
Edward acreditara que aquelas palavras ajudariam, mas Rochelle o olhou
ainda mais triste. Franzindo o cenho, ele tentou adivinhar o que a aborrecera tanto,
mas não conseguiu chegar a conclusão alguma.
— É o único jeito de eu liberar você antes que a semana termine — adicionou
Steve.
— Por favor, será que eu não poderia...
— Não.
Edward teve vontade de apoiá-la. Rochelle fez com que a oferta dele parecesse
uma tortura. E ele estava tentando dar-lhe uma mão. O que estava errado com
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aquela mulher?
— Se eu concordar em ir para o rancho, eu e Andy poderemos ir embora hoje?
— perguntou Rochelle, a voz trémula.
Steve chegou mais perto do leito e acariciou a mão dela estava pousada sobre
o cobertor.
— Hoje, não. Mas amanhã de manhã, depois que eu a examinar.
Edward prendeu a respiração, esperando pela resposta dela. Sobretudo
porque era a única coisa segura a fazer. Lógico que sua tensão não tinha nada a ver
com Rochelle... ou com a menina.
Cabisbaixa, ela capitulou:
— Tudo bem...
— Otimo, estou feliz! Agora não preciso mais me preocupar com aquela linda
garotinha. — Steve acariciou a mão dela de novo.
Edward observou a cena, lutando contra a vontade de afastar Steve de
Rochelle. O que era ridículo. Steve não era esse tipo de homem. Rochelle estava
segura perto dele.
Então, ela voltou-se para Edward:
— Será que Billy pode me levar até meu apartamento primeiro? Eu
precisarei...
— Nós temos tudo de que precisa. Ele montou um quarto de bebê ontem à
noite.
Aquilo não era exatamente verdade. Billy não fizera tudo sozinho, mas
Rochelle não parecia querer Edward envolvido em nada que tivesse ligação com ela e
com Andréa.
Nada que pudesse aliviar a culpa dele. Desde que vira aquela criança, tão
delicada, sua filha, e se dera conta de que Rochelle já estava grávida quando a
dispensara, o remorso o espicaçava.
— Edward? — Steve interrompeu os pensamentos do amigo. — Rochelle estará
liberada amanhã, por volta das dez. Assim está bem para você?
— Sim, claro.
Rochelle não disse nada, ficou apenas olhando através da janela. A porta
tornou a se abrir, e Edward se virou para ver quem tinha chegado.
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Era a enfermeira, mas não estava sozinha. Carregava o pacotinho cor-de-rosa
nos braços.
Edward se aproximou um passo, buscando uma visão melhor do bebê. Mas
então observou Rochelle, e expressão de pânico que notou o deteve.
Será que ela pensava que ele iria machucar a criança? Por acaso o
consideraria um monstro? Poderia ter escolhido não ter outro filho, mas não
causaria nenhum dano à menina.
Então Edward se afastou, e não lhe passou despercebido o alívio de Rochelle.
A mensagem era clara. Ela estava indo para o rancho porque não tinha escolha, mas
não queria nada com ele. Nem que tocasse a filha dela.
Steve estava em pé ao lado de Rochelle, e ajudou-a se sentar.
— A enfermeira ajudará com a amamentação, mas Andréa não virá aqui esta
noite e será alimentada com mais água doce. Quero que descanse bastante antes de
partir.
— Mas eu posso...
— Não esta noite. Agora, nós a deixaremos sozinha para sua primeira lição.
Até amanhã, Rochelle.
Edward não sabia se acrescentava um “até mais” ou não. Talvez fosse melhor
se apenas desaparecesse dali.
No corredor, caminhou ao lado de Steve, em silêncio.
— Sabe, Edward, fiquei desapontado com você. — Edward parou e encarou o
amigo.
— Por quê?
— Pensei que faria um esforço um pouco maior para auxiliar Rochelle do que
apenas com dinheiro. Os últimos meses foram difíceis para ela.
— Acha que eu não sei disso? Acredita que não estou me condenando sem
parar pela forma como a tratei? Mas Rochelle não quer nada de mim. Mal fala
comigo e evita até mesmo me encarar. Se ela tivesse alguém para quem correr,
decerto não iria para minha casa. Isso ficou evidente.
Steve meneou a cabeça.
— Não tenho tanta certeza. Rochelle pode apenas estar com medo de se
reaproximar de você.
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 28 -
— Sim, porque me odeia. — Voltou a andar. — Estou fazendo o que posso,
Steve. Ela será cuidada, e eu manterei a distância. Isso é o melhor que posso fazer
pelas duas.
Após uma noite quase sem dormir, Edward chegou ao hospital um pouco
adiantado, na manhã seguinte. Falara com Jack na véspera, e por isso sabia que
Beth estava indo para casa naquele dia também.
Jack contratara uma empregada temporária para ajudar a esposa, visto que
ele trabalhava fora como conceituado advogado local.
Edward bateu à porta do quarto da irmã.
— Entre! — gritou Jack.
— Tudo pronto? — Edward tentava se manter impassível.
— Venha, querido. — Beth sorria. — Sim, estamos prontos. Apenas teremos
de esperar Steve passar aqui para assinar a alta.
— Ótimo! Você e o bebê estão bem?
— Sim. Melhor que você, eu diria. — Beth olhou para o marido e depois se
voltou para o irmão.
— Trabalhei até muito tarde, Beth.
— Ah... Achei que estivesse preocupado por não ter me contado nada sobre
Rochelle.
Edward fitou o cunhado, imaginando que fora Jack quem contara à esposa
sobre Rochelle e o bebê.
— Não falei uma palavra. — Jack ergueu os braços.
— Pelo amor de Deus, Edward, a cidade inteira está comentando! Tive de fazer
de conta que já sabia quando minhas visitas contaram o mexerico. Por que não me
disse? Há quanto tempo sabe?
— Beth, eu... descobri quando vi a menina no berçário. Foi um susto e tanto.
— Bem, quero ver Rochelle antes de deixar o hospital. Ela pode não me deixar
visitá-la, depois.
— Não tem de aguardar Steve?
— Deixaremos avisado no balcão de enfermagem onde estarei. Ah, por favor...
— Terá uma recepção melhor, se for sem mim, minha irmã.
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— Mas eu soube que você a está levando para o rancho. — Edward enfiou as
mãos nos bolsos do jeans.
— Sim, mas Rochelle odeia a ideia. Só está indo porque não pode cuidar de si
própria e do bebe. Não correu tudo tão bem quanto para você.
Beth o estudou por alguns segundos e depois virou-se para o marido:
— Pegue uma cadeira de rodas, por favor. Quero levar Jackson para mostrar a
Rochelle.
— Você não pode andar? — Edward ficou preocupado.
— Posso, mas tenho medo de tropeçar com o bebê no colo.
Quando Jack saiu para buscar a cadeira, Edward olhou para seu sobrinho.
Edward Jackson já ganhara meio quilo desde que nascera.
Por outro lado, o bebê de Rochelle ganhara apenas poucos gramas. Contra sua
vontade, Edward sentiu-se triste por isso.
Uma vez que Beth e o filho se acomodaram na cadeira de rodas com Jack a
empurrá-los, todos percorreram a curta distância até os aposentos de Rochelle.
Edward temia ter de encará-la, mas talvez ela ficasse mais acessível com Beth por
perto. Sabia que Rochelle gostava de sua irmã.
— Rochelle? — chamou ele, após bater à porta.
— Sim?
Edward a abriu. Pela expressão atordoada de Rochelle, ficou claro que ela não
reconhecera sua voz.
— Ainda não estou pronta. Preciso me vestir e... — Ele apontou atrás de si.
— Eu sei. É que você tem algumas visitas.
— Beth! — Rochelle sorriu com genuína alegria quando a viu.
— Rochelle! Como está? Soube que passou por momentos difíceis. Eu nem
mesmo sabia que você estava aqui até ontem.
Jack empurrou a cadeira para o lado da cama deRochelle.
— Oh, você trouxe seu menininho! Ele é lindo! E como é grande! Andy é bem
pequenina.
— Andy?
— Sim, minha filha se chama Andréa Leigh.
— Você colocou o nome de mamãe? — Beth a olhou com muita ternura. — Ela
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ficará orgulhosa.
Rochelle deu uma olhada rápida para Edward.
— Eu não tive a intenção...
A enfermeira entrou com o bebê de Rochelle nos braços.
— Não sabia que estava com visitas, srta. Davenport. Quer que eu leve a
menina de volta para o berçário, até que o doutor venha?
— Oh, não! Ela dormiu bem? — Ansiosa, Rochelle estendeu os braços.
— Que sorte a minha! Estava louca para conhecer minha sobrinha.
Os dois homens contemplaram os bebês, trocando cumprimentos. Jack
colocou-se ao lado de Beth, um semblante orgulhoso. Edward permaneceu perto da
soleira, tentando esconder o desejo de ver a filha.
Sua filha...
Ainda achava difícil acreditar naquilo. Então, mais uma vez tornara-se pai.
Era doloroso, porque o levava a pensar em Edward Júnior, que estaria pronto para
frequentar o jardim-de-infância no outono... se não tivesse falecido.
— Ei, cunhado! Aposto que você nunca pensou que uma criança sua seria tão
delicada. Não vai ficar com medo de que ela se quebre quando a estiver segurando?
Eu fico, quando Jackson está em meu colo, e olhe que ele é bem maior que sua
garotinha.
A observação divertida foi seguida de um pesado silêncio.
Edward não sabia o que dizer. Nunca tocara Andréa, muito menos a pegara no
colo.
Rochelle, no entanto, não parecia ter o mesmo problema que ele.
— Edward não segurou o bebê — revelou, com toda a calma.
Beth deu uns tapinhas na mão do marido, que estava em seu ombro.
— Não é fácil para Edward, Rochelle. Dê um tempo a ele.
Rochelle trouxe a filha para mais junto ao peito.
— Não estou exigindo nada de Edward, Beth. Vou me mudar de cidade assim
que puder cuidar de nós duas sozinha.
— Partir? Imagine! Não vá embora, Rochelle — protestou Beth.
Edward ficou feliz por Beth ter falado. Ele não poderia, pois estava paralisado
de emoção.
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 31 -
Naquele instante, Beth, Jack e Rochelle o fitaram. Beth foi a primeira a se
desviar. Edward sabia o que sua irmã e o cunhado queriam. Esperavam que ele
também dissesse para Rochelle não partir.
Mas como poderia?
Pigarreou...
— A que horas Steve ficou de passar aqui? — Foi Jack quem respondeu:
— Prometeu a Beth que ela estaria liberada às dez. Mas ainda faltam quinze
minutos.
— Certo. Eu trouxe um “moisés” para por no carro para... Andréa.
Era a primeira vez que Edward chamava o bebê pelo nome. Deu uma olhada
para Rochelle para sentir se ela protestaria pela intimidade.
— Obrigada. Mas pensei que Bílly viria.
— Ele está em casa, Rochelle, preparando um belo almoço.
Outro silêncio tenso.
— Mamãe e papai estarão aqui em dois ou três dias. — Beth tornou a falar,
muito contente. — Ficarão excitadíssimos ao saber que agora eles têm dois netos.
— Talvez fosse melhor se não soubessem, uma vez que partirei em breve.
Perdoem-me, mas preciso amamentar Andy agora, antes de me vestir.
Rochelle se expressou com certa brusquidão, mas Beth não pareceu ter
entendido a indireta.
— Não precisa se vestir, Rochelle. Apenas ponha um robe. Ninguém espera
que você esteja no auge da moda e, além disso, voltará logo para a cama, assim que
chegar à fazenda.
Rochelle levantou o queixo.
— Não tenho um robe, Beth, então terei de me vestir. Mas isso não vai
demorar — adicionou ela, com um rápido olhar para Edward, como se estivesse com
medo que ele pudesse ficar nervoso pela espera.
Edward tornou a se sentir culpado. Beth ganhara dos pais um robe e uma
camisola novos para levar para a maternidade. Rochelle não recebera nenhum
presente.
— É melhor deixarmos você dar de mamar — sugeriu ele, enviando a Beth
uma mensagem de que eles deveriam sair.
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Rochelle assentiu.
— Obrigada pela visita, Beth.
A irmã de Edward se inclinou, tocando a mão da amiga.
— Sinto saudade de você, Rochelle. Esta não será a última visita.
Então os três se foram, deixando Rochelle e a pequena Andréa a sós.
CAPÍTULO IV
Pela primeira vez naquela manhã, Rochelle estava feliz. Segurar Andréa nos
braços, amamentá-la, sentir-se tão ligada a outro ser humano, fruto seu, fazia a
diferença.
Mesmo que Edward as rejeitasse, tinha agora uma família. Andy, sua filha,
não seria ferida pela atitude de Edward, enquanto ele mantivesse distância.
Acariciou os cabelinhos escuros de Andréa e lhe deu um beijo na testa.
A criança aprendera logo a sugar e, naquela manhã, parecia mais ávida, mais
faminta.
A porta se abriu e a enfermeira entrou.
— Ainda mamando? Andréa tem um grande apetite para alguém tão
pequenino.
Rochelle sorriu.
— Aqui — disse a moça, pondo uma enorme sacola de plástico sobre a cama.
— Edward mandou para você.
A felicidade de Rochelle se dissolveu.
— O que é isso?
— Um daqueles robes maravilhosos da butique do hospital.
Rochelle sentiu-se humilhada.
— Não o quero. Ele que devolva e pegue o dinheiro de volta.
A enfermeira, aturdida, aproximou-se dela.
— Querida, está sendo teimosa. Tem de pensar no que é melhor para você.
Para que gastar energia vestindo-se e depois tirar a roupa outra vez? Além do mais,
deixe-o mimá-la.
Segunda chance (Newborn daddy) Judy Christanberry
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Rochelle quase irrompeu em uma risada histérica. Mimá-la era a última coisa
que Edward queria fazer. O robe devia ter sido ideia de Beth. Deu-se conta de que
tinha sido culpa sua. Poderia ter dito que queria se vestir o pronto.
— Obrigada...
Andréa movimentou a mãozinha contra o seio de Rochelle, reclamando. E ela
se voltou para ajudar o bebê a encontrar de novo o mamilo.
— Além disso, se não estiver relaxada, essa coisinha doce não conseguirá se
alimentar bem — adicionou a enfermeira.
Pelos minutos que se seguiram, as duas mulheres ficaram mudas, até que
Andréa adormecesse.
— Bom trabalho — elogiou a enfermeira, pegando a criança. — Vamos deixá-la
deitada aqui, assim você poderá se levantar e pôr o robe novo. E eu irei buscar a
cadeira de rodas.
Rochelle seguiu as instruções, escorregando o braço dentro do robe caro e
macio. Nunca possuíra nada de luxo, e muito menos depois que descobrira a
gravidez e resolvera economizar cada centavo para o futuro.
Quando a enfermeira voltou com a cadeira, Rochelle estava acompanhada de
Edward e do dr. Lambert.
Foi o médico quem se apressou para acomodá-la.
— Ouvi dizer que Andréa aprendeu a mamar como um patinho aprende a
nadar.
Já sentada, Rochelle tremia de fraqueza e nervoso.
— Sim, ela aprendeu rápido. — Buscou forças para olhar para Edward. —
Agradeço pelo robe.
Ele assentiu, mas nada disse. Steve lhe tomou o pulso.
— Acho que está se recuperando bem, Rochelle, mas não quero que facilite.
Deixe que os outros cuidem das duas, certo? Irei examiná-la no rancho em alguns
dias.
— Obrigada, doutor.
Rochelle suspeitava que aquela consideração toda era por causa de Edward.
Mas a ideia de se arrumar para ir ao consultório do médico era algo que não
conseguia nem imaginar naquele momento.
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 34 -
— Já está tudo pronto, enfermeira?
— Sim, doutor, fiz a mala para ela.
Edward, que ainda não emitira um único som, apanhou a bagagem da mão da
enfermeira.
— Bem, então está liberada, Rochelle. — Steve pegou o bebê e a entregou para
a mãe.
Com Andréa outra vez nos braços, Rochelle relaxou. Não importava para onde
iriam. Ela e Andréa se arranjariam. E teriam sucesso.
Edward observou Rochelle aconchegar a filha no colo. Seu amor era evidente.
Seria uma mãe maravilhosa. Como Merilee fora.
Na verdade, ele reclamara que a esposa não o quisera envolvido na vida de
Edward Júnior até que o menino crescesse um pouco.
Rochelle também não queria que se envolvesse com Andréa.
O bebê abriu os olhos de repente, e Edward juraria que a menina o fitava.
Aqueles olhinhos, que ainda não tinham uma cor bem definida, o hipnotizaram. Era
a primeira vez que estava acordada na sua presença. E tudo o que ele pôde fazer foi
conter um suspiro.
— Já que você está com a mala, empurrarei a cadeira — decidiu a enfermeira.
— E eu irei liberar Beth e Jack. Sei que estão ansiosos para voltar para o lar.
Vejo vocês em poucos dias. — E o dr. Lambert saiu do quarto.
A enfermeira empurrou mãe e filha para fora. Rochelle podia ouvir os passos
de Edward a segui-las. “Quase como uma família...” Rochelle se repreendeu por
aquele pensamento. Não podia sonhar com um futuro com Edward. Não deveria
construir castelos de areia. Aquilo nunca aconteceria.
Edward colocou a sacola no porta-malas de sua sofisticada picape, voltou e
abriu a porta de trás, onde estava, bem presa, a cestinha de bebê.
A enfermeira, ainda em pé atrás da cadeira de rodas, o fez perceber que ela
estava esperando que ele pegasse a criança e a acomodasse.
Edward respirou fundo antes de se inclinar sobre Rochelle. Temia que ela não
lhe entregasse a menina. Porém, após certa hesitação, permitiu-lhe pegar Andréa.
Edward acomodou o bebê na cesta e afivelou o cinto de segurança.
Andréa coçou o pequeno nariz com as mãozinhas e espreguiçou-se. Edward
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 35 -
assistiu àquilo fascinado.
— Você faz isso muito bem para um pai de primeira viagem — brincou a
enfermeira, sorridente.
Ela era nova em Franklin, por isso não sabia que Edward já tivera outro filho.
Mas ele notou a reação de Rochelle, que conhecia toda a história.
— Obrigado. Pronta, Rochelle?
Ela se apoiou nos braços da cadeira para se erguer, mas Edward já notara
como estava fraca. Sem dizer nada, levantou-a com a mesma facilidade com que
erguera o bebê e a ajeitou no banco do passageiro. Atou o cinto de segurança, antes
que Rochelle pudesse se mover. Em seguida, despediu-se da enfermeira.
Rochelle também agradeceu por todo o cuidado e pela atenção que recebera.
Edward deu a volta no veículo, sentando-se ao volante.
— Você está bem?
Rochelle assentiu. Assim, partiram.
O trajeto até a fazenda foi feito na mais absoluta quietude.
Quando Edward estacionou perto da varanda de trás, ela soltou seu cinto.
— Não se mexa — ordenou ele.
Edward tirou Andréa do cesto e foi abrir a porta para Rochelle, colocando o
bebê nos braços dela.
Ela agradeceu, sem fitá-lo. Então, pôs-se a escorregar para a ponta do banco,
como se achasse que ele a deixaria caminhar até a casa.
Em vez disso, Edward a tomou no colo mais uma vez, segurando-a firme
contra si. Recusou-se a admitir como estava gostoso tê-la ali, mas sentira saudade
dela nos últimos sete meses.
Billy segurou a porta de entrada aberta, e Edward levou Rochelle direto para o
quarto que haviam preparado.
— O quarto de Andréa fica no corredor. Eu a colocarei no berço. — Edward viu
Billy e Maria Carter parados à soleira. — Maria a ajudará a se acomodar no leito.
Ele poderia ter pedido para Maria cuidar do bebê, mas o fato de ter segurado
Rochelle nos braços o deixara cheio de desejos. Era melhor ficar longe.
Tirou Andréa de Rochelle e a conduziu para o quarto recém-arrumado.
Billy aproximou-se e puxou um pouco o cobertor de cima da menina.
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— Oh, ela é muito linda, Rochelle!
As pupilas dela brilharam.
Uma inveja indesejada cresceu em Edward. Ele é quem queria ter deixado
Rochelle feliz daquele jeito, provocado aquele glorioso sorriso em seu semblante. Mas
aquilo não aconteceria, estava ciente. Ela mal o olhava, que dirá sorrir-lhe. E não
podia culpá-la.
Edward levou Andréa para o quarto, mas não a colocou no berço de imediato.
Segurou-a, observando-a muito bem pela primeira vez.
Era toda perfeita, e ele procurou traços familiares em seu rostinho. Os cabelos
eram castanhos como os de Rochelle, apesar do tom mais claro. As feições, delicadas
como as da mãe. Mas quando tornou a abrir os olhos, Edward decidiu que seriam
azuis, como os seus, e não castanhos, como os da mãe.
— Alguma coisa errada com o berço? — Billy quis saber, atrás dele.
— Não. Mas eu ainda não tinha tido a chance vê-la direito. Rochelle não quer
que eu a toque.
— Ela é sua?
Edward esperara por aquela pergunta desde o momento em que contara a
Billy que levaria um recém-nascido para a fazenda. Mas Billy não o questionara até
então.
Virou-se, ainda com Andréa no colo.
— Sim, Andy é minha. Mas eu não sabia disso até ir ao hospital visitar Beth.
— Entendo. É melhor colocá-la no berço, para que descanse. Os pequeninos
precisam de muitas horas de sono.
Relutante, Edward acomodou a garotinha.
— Coloque-a de costas. É o que recomendam.
Edward olhou, surpreso, para o idoso caubói.
— Como sabe disso, Billy?
— Comecei a ler algumas coisas sobre bebês quando Beth engravidou.
Imaginei que precisaria tomar conta do menino dela. — Deu risada. — Ainda bem,
porque agora nós temos nosso próprio bebê.
— Billy, Rochelle não ficará mais tempo do que precisa. Ela não se sente
contente por estar aqui. — Edward achou melhor avisá-lo, para que ele não fizesse
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planos para um futuro com a pequena Andréa.
— Por que não? Você é o pai. Para onde mais a criança e Rochelle iriam?
Edward não sabía, mas estava certo de que descobriria em breve.
Mas antes passaria algum tempo com sua filha.
Rochelle ouviu o choro de Andréa e tirou a cabeça do travesseiro. Seus olhos
estavam embaçados. Pensou que estaria muito mais vigorosa depois de uma semana
sendo tão bem-cuidada por Billy e Maria.
E estava. Podia até se levantar sozinha. Mas ainda não carregava Andy.
Quando o dr. Lambert a visitara, dois dias antes, avisara-lhe para não apressar as
coisas. Mas Rochelle decidira que estava bem o bastante. Já se passara uma
semana. Era o suficiente. Em instantes, Maria entrou com Andréa.
— Que bom que acordou. Alguém quer tomar o desjejum muito cedo, hoje.
— Claro. — Rochelle sentou-se. — Que horas são?
— Seis e meia. — Maria passava as noites lá, para ajudar quando o bebê
acordava.
Rochelle calculou que a mulher deveria estar tão exausta quanto ela. Mas,
antes que pudesse comentar, bateram de leve na porta.
— Está tudo bem? — perguntou Edward, do corredor. Maria entregou Andréa
a Rochelle e foi atendê-lo.
— Tudo certo, Edward. Andy acordou cedo — sussurrou.
Rochelle ficou ouvindo, atenta. Vira Edward apenas uma vez durante a
semana era que estava hospedada na casa. Ocasionalmente, escutava-o, enquanto
Billy lhe servia o jantar.
A indiferença dele destruía o conforto de Rochelle. Era horrível se sentir
indesejada. E prometera a si mesma que Andy jamais experimentaria aquelas
emoções que tanto a machucaram durante a vida toda.
E era por isso que iria embora naquele mesmo dia... se pudesse convencer
Maria a ajudá-la.
Maria tornou a entrar quando Rochelle dava de mamar a sua criança faminta.
Andy sugava forte, como se não se alimentasse fazia dias.
— O bebê está com fome, não? — Maria riu.
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— Ela sempre está.
— Puxou ao pai. Tomara que tenha o mesmo metabolismo também. Edward
come muito, mas não engorda.
Rochelle respirou fundo. Não queria pensar nele, muito menos que fosse
comparado a Andy.
— Maria, preciso de sua ajuda.
Como fizera a semana toda, Maria respondeu à questão de Rochelle correndo
para o lado dela.
— Lógico, querida. O que quer?
— Quero que você nos leve para meu apartamento.
Maria arregalou os olhos e aproximou-se um pouco mais de Rochelle.
— O que quer dizer?
— O dr. Lambert falou que eu precisava ficar aqui uma semana, e a semana
termina hoje. Estou pronta para ir para minha casa, mas ainda não posso dirigir. E
meu carro está na cidade.
— Mas Edward... sabe disso?
— Evidente que sim.
Aquilo não era mentira. Edward estava lá quando o médico dissera que ela
teria de ficar por uma semana. E iria se sentir aliviado quando voltasse, aquela
noite, e descobrisse que sua tortura chegara ao fim.
— Bem, claro, posso ajudá-la, mas você não acha que Edward vai querer...
— Não! Ele trabalha muito, Marie. Estará cansado e agradecido quando
souber que não terá de sair depois de ter passado o dia sobre uma sela.
Rochelle sempre sabia quando Edward estava em casa. Havia uma energia
latente que preenchia a atmosfera, uma sensação de que o dia tinha terminado,
quando ele chegava.
— O patrão tem trabalhado muito, mesmo — concordou Maria, ainda meio
duvidosa.
— Tenho tudo preparado no apartamento, então não precisam se preocupar
comigo. E imagino que seu marido deve estar com saudade de você. — Rochelle
notou que devia ter tocado em algum ponto fraco, quando notou a tristeza de Maria.
— Ele tem reclamado, mas sem dúvida gosta do dinheiro extra que estou
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ganhando.
Rochelle engoliu em seco. Odiava pensar em quanto estava devendo a Edward.
Mas sentia-se mais firme. Poderia pôr um ponto final nos sacrifícios dele, voltando
para seu lar.
Até que estivesse bem o bastante para se mudar de Pranklin.
— Quando gostaria de ir, Rochelle?
— Assim que eu acabar de amamentá-la. Enquanto isso, será que poderia ir
guardando as coisas dela? Apenas os macacões que Edward comprou e algumas
fraldas descartáveis.
Rochelle comprara fraldas de pano, mas estavam no apartamento. Esperava
que pudesse comprar fraldas descartáveis, pelo menos por enquanto. Elas
facilitavam tanto as coisas...
— Muito bem, vou arrumar as coisas de Andy. Mas você deve tomar seu café
antes de ir, certo?
Rochelle sorriu.
— Eu nunca rejeitaria uma refeição de Billy.
Maria apressou-se para o quarto de Andréa, depois que Rochelle concordou.
Porém, no caminho, decidiu perguntar ao idoso caubói o que ele achava dos
planos de Rochelle.
— Bom dia, Billy, Rochelle precisa tomar café — disse Marie, entrando na
cozinha.
— Ela acordou cedo hoje, não? — Billy virou-se da pia.
— E verdade. Rochelle falou que vai embora para casa hoje.
Billy a encarou, assustado.
— Hoje?
— Afirmou que o médico permitiu que se fosse depois de uma semana. E que
Edward sabe.
Billy ficou parado, de cenho franzido.
— Quando Rochelle chegou, o patrão mencionou que ela não ficaria muito,
mas não falou mais a respeito. Ou sobre o bebê. Ele vai ver Andy durante a noite,
mas não acho que tenha visitado Rochelle uma só vez. Tive esperança de que...
— Eu também. E aposto que é por isso que ela quer partir.
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Billy exalou um suspiro.
— Bem, não podemos segurá-la aqui. Se é assim o que Rochelle deseja...
— Não acha que Edward despediria Tommy, acha? — Maria se preocupava
com o emprego do marido.
— Porque você fez o que Rochelle lhe pediu? Conhece o patrão muito bem,
Maria. Aquele é um homem justo.
Maria meneou a cabeça.
— Sendo assim, vou arrumar as coisas do bebê. Rochelle quer ir logo depois
da refeição.
— Muito bem, vou preparar uma cesta de coisas gostosas para que leve
consigo. A nova mamãe não deve ficar muito tempo em pé, executando tarefas, pelo
menos por enquanto.
Por volta das três da tarde, o celular de Edward tocou. Ele o tirou do bolso da
sela, puxando as rédeas, em cima do morro.
— Alô?
— Querido, podemos ir aí hoje à noite para ver a pequena Andréa?
— Mamãe... — começou, procurando uma razão para adiar a visita dos pais.
Leigh telefonara três noites atrás, quando chegou da Flórida, contando-lhe
que Beth a aconselhara a ligar porque Edward tinha uma grande novidade.
Ele prometeu-se que iria devolver aquela intromissão para sua irmã. Mas, na
verdade, estava contente por confessar a novidade antes que seus pais soubessem
por outras pessoas. De qualquer forma, tinha pedido para que eles não fossem
visitar Andréa por alguns dias, alegando a saúde de Rochelle.
— Nós não a convidaremos para participar de uma maratona, filho —
protestou Leigh, antes que Edward pudesse arrumar uma desculpa. — Mas quero
que Rochelle saiba que estamos felizes com a chegada do bebê. — Edward respirou
fundo.
— Certo, mamãe, mas terá de ser uma visita rápida.
— Claro. E depois, nós poderemos conversar.
As palavras dela soaram como uma ameaça, mas aquilo não era nada pelo que
ele já não estivesse esperando.
— Sim.
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Depois de guardar o aparelho, Edward cavalgou até o outro pasto, onde seus
funcionários tangiam o rebanho, para falar com seu capataz.
— Baxter, voltarei para casa mais cedo. Está tudo bem por aqui?
— Sem problemas, chefe. Pode ir agora mesmo, se quiser.
Edward não se incomodou em aceitar a oferta de Baxter. Não poderia contar
ao homem que a mãe de sua filha não o queria por perto. Afinal, todos pensavam
que a presença de Rochelle na fazenda era uma coisa definitiva.
Talvez ele pensasse, também. Não fizera nenhum plano e não tomara
nenhuma decisão sobre o futuro. Ficara trabalhando todos os dias até tarde,
certificando-se de estar fora do caminho de Rochelle, perguntando todas as
ocorrências para Billy, à noite.
Mas fora escondido ao quarto de Andréa sempre, antes de ir deitar, incapaz de
ficar longe de sua linda menininha.
Esperava que Rochelle, com boa alimentação e repouso, esquecesse o quanto
o odiava. Até então, aquilo não funcionara.
Quando Edward chegou, Billy se surpreendeu ao vê-lo àquele horário. Mas
aquilo daria ao caubói um tempo maior para preparar alguma coisa para receber
seus pais, e Edward queria preparar Rochelle para a visita, com antecedência.
— Alguma coisa errada, chefe? — Billy indagou pela porta de tela, quando
Edward parou nos degraus da varanda.
— Não. — Edward entrou na cozinha. — Mas não consegui conter meus pais.
Eles virão conhecer o bebê esta noite. E Rochelle.
Edward não percebeu a expressão de Billy, até que pegou um copo e foi ao
lado dele se servir de água.
— O que houve? — Seu coração se acelerou. — Andy está doente? Ou
Rochelle?
— Elas não estão aqui, patrão.
Todos os músculos de Edward enrijeceram. Agarrou o braço de Billy.
— O que está dizendo? Rochelle passou mal? Teve de ir para o hospital?
— Não. Ela pediu que Maria a levasse de volta para seu apartamento, pois já
completara uma semana aqui.
— Droga! A que horas foi isso?
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— Hoje cedo, depois do café.
Edward não parou para conversar mais nada.
— Deixe o quarto dela arrumado, Billy. Ela vai voltar. — Então, entrou na
picape e partiu.
Rochelle sabia que voltar para seu apartamento seria exaustivo. Tanto
emocional quanto fisicamente. Afinal, cortaria qualquer conexão com Edward, sem
mais fantasias. Ela e Andréa estavam no lugar a que pertenciam.
Dormira o tempo todo, acordando apenas quando a criança chorava, pedindo
para ser amamentada. E Rochelle conseguira comer uma das coisas que Billy man-
dara na cesta.
Acabara de se deitar de novo quando o som forte da campainha soou. Andréa,
que dormia ao lado da cama mãe para economizar frequentes viagens de Rochelle
até o quarto dela, acordou, berrando.
— O que... um momento! — Rochelle embalou Andy no moisés, confortando-a,
enquanto se levantava com dificuldade.
Fazer as coisas depressa não era uma opção no momento, mas foi o mais
ligeira que pôde. A campainha continuava soando, Andy não parava de chorar.
Rochelle girou a maçaneta com brusquidao, ansiosa para deter o barulho.
— Pare, por fav... Edward?!
Ele passou por ela, entrando sem dizer nada, e cruzou o pequeno apartamento
em direção ao quarto do bebê.
— Onde ela está? — demandou ele já de volta do pequeno quarto.
Antes que Rochelle pudesse responder, entrou nos aposentos dela.
Rochelle tentou entrar na frente, mas, quando tentou se mover com rapidez,
sentiu-se tonta.
— Edward, o que está fazendo?
Ele a encontrou à soleira, com Andréa nos braços.
— Você é bem-vinda, se quiser, mas Andréa será bem cuidada.
Rochelle experimentou um estremecimento de pavor. Ele não podia levar seu
bebê!
— Eu estou cuidando dela! — exclamou Rochelle, quando Edward tomou a
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menina dela.
— Está muito debilitada para cuidar até de si mesma, que dirá de Andréa. Eu
a manterei em segurança.
Ele tentou passar por ela, mas Rochelle não deixaria ninguém levar seu bebê.
Muito menos Edward.
Quando tentou liberar a menina, a tontura piorou e sentiu que iria cair.
A última coisa que ouviu foi Edward gritando seu nome.
CAPÍTULO V
Edward livrou uma mão para amparar Rochelle, quando ela ia caindo ao
chão. Não pôde segurá-la, mas conseguiu amortecer-lhe a queda. Deitou-a no solo
antes de colocar Andréa no berço, voltou correndo e carregou Rochelle para a cama.
Ela não voltou a si, conforme ele esperara. Invadido por intenso pânico,
apanhou o telefone e ligou para o consultório médico. Sua urgência fez com que a
recepcionista passasse a ligação de imediato.
— Steve, Rochelle morreu! — Após respirar fundo, adicionou: — Ela não volta
a si!
— O que houve? — perguntou o amigo, preocupado. Edward não queria
responder àquela questão, mas não tinha escolha.
— Rochelle deixou a fazenda. Vim ao apartamento dela para levá-la de volta e
nós... discutimos.
— Já estou indo para aí. Dê-me o endereço.
Assim que desligou, Edward voltou para dar uma olhada em Andréa, que
choramingava. Tirou-a do berço e a levou de volta para o quarto de Rochelle. Aquele
em que fora gerada.
Rochelle, muito pálida, permanecia deitada, sem se mover.
— Deus amado, permita que ela fique bem!
Quando Edward perdera sua esposa e filho, mesmo se sentindo culpado por
ter sobrevivido, tivera consciência de que não fizera nada para feri-los. Mas agora
sabia muito bem as condições de saúde de Rochelle e, qualquer coisa que
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acontecesse, a culpa seria inteira dele.
Aconchegou o bebê ao lado de Rochelle, e foi esperar Steve na sala. Quando
ouviu passos na escada, correu para abrir a porta.
— Onde está ela?
Edward apontou a direção a seguir.
Steve pegou uma pequena ampola, quebrou a ponta e balançou perto do nariz
de Rochelle. Os cílios delas tremeram. Então, enfim, abriu os olhos, e Edward deu
um suspiro de alívio.
A voz de Steve era gentil:
— Rochelle, como se sente?
— Eu... não sei. Edward... Edward ameaçou levar Andréa! — gritou, tentando
se levantar, antes de cair de novo no colchão.
— Estou aqui, Rochelle. Andréa também. — Steve o encarou. — Ela saiu de
minha casa hoje, e ainda é muito cedo. Não pode tomar conta de si mesma, muito
menos do bebê, Steve.
— Por que resolveu vir embora, Rochelle?
— Eu não queria ficar lá. Sei quando não sou desejada em um lugar. —
Rochelle não conteve o pranto. — Por favor, doutor, não permita que ele leve minha
filha.
O patético pedido fez Edward se sentir um bruto.
— Eu não podia deixar as duas aqui sozinhas — insistiu, tentando justificar a
atitude estúpida.
— Rochelle acaba de afirmar que você não a quer no rancho, Edward.
— Isso é ridículo! Tenho feito tudo o que posso para me certificar de que ela
está sendo bem cuidada.
— Tem discutido com ela?
— Não! Pelo menos, não até hoje.
— Ele nos ignora. Finge que não existimos. — Rochelle suspirou. — Tive de
suportar isso quando era criança, mas não mais. Minha filha sempre será muito
querida!
Steve olhou para Edward esperando uma resposta.
— Pensei que estava fazendo sua vontade, Rochelle. Que não quisesse que eu
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tocasse nenhuma de vocês duas. Que apenas me queria fora de seu caminho!
Rochelle não disse nada, desviando o olhar. Edward fitou Steve, sem saber o
que falar.
— Rochelle, se Edward prometer fazê-la se sentir bem-vinda, voltará para a
fazenda por mais duas ou três semanas? Daria uma chance a ele?
Edward entrou em pânico, com medo da recusa. E também de que ela
aceitasse. Fazê-la sentir-se bem-vinda? Tivera Billy cuidando das duas o tempo
todo. Contratara Maria para passar a noite inteira. O que mais poderia fazer?
Seu sangue esfriou quando se deu conta de que a única coisa a mais que
poderia dar era ele mesmo. Sua companhia, seus serviços pessoais. Rochelle odiaria
aquilo.
— Edward iria detestar tal coisa — sussurrou Rochelle, ainda sem olhar para
nenhum dos dois.
— Edward?
Ele respirou fundo.
— Não. Eu não detestaria. Estava tentando fazer o que pensei que você
quisesse, Rochelle.
Ela cerrou as pálpebras, calada.
— Rochelle, prometo que mudarei. Não me desgosta o fato de você estar lá. Eu
tenho... tenho ido ver se você está bem todas as noites. E fico admirando Andréa en-
quanto ela dorme. Apenas quero a segurança das duas.
— Acho que precisa de mais algumas semanas para se recuperar, Rochelle —
aconselhou-a Steve. — Hoje não foi fácil estar sozinha aqui, foi?
Rochelle meneou a cabeça.
— Por que não deixa que Edward fique aqui esta noite e cuide de vocês?
Então, amanhã de manhã, ele poderá levá-las para a fazenda. Tudo bem para você,
amigo?
Edward conseguiu engolir o protesto que pretendia fazer. Ficar lá? No
apartamento de Rochelle, onde eles haviam compartilhado tantos momentos de
prazer? Bem, não tinha opção.
— Claro.
— Tem certeza? — Rochelle o encarou.
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 46 -
Aqueles olhos castanhos estavam tão escuros quanto a emoção que ela
experimentava. Rochelle secou as lágrimas, aguardando a resposta dele.
Havia apenas uma a dar:
— Tenho, sim.
— Então, acho que tudo bem. — Steve se levantou.
— Boa menina! Descanse agora. Parece que Andréa já voltou a dormir. — O
médico ajeitou as cobertas em volta dela e virou-se para Edward. — Não quer
colocar Andréa no berço?
— Daqui a pouco. — Não desejava deixar aquele pequeno embrulho quentinho
longe de si. Segurá-la o fazia tanto bem...
— Terá uma chance, amigo. Não pode fingir que as duas não existem, certo?
Edward não poderia discutir seus medos nem mesmo com Steve. Sendo
assim, assentiu e agradeceu a ele por responder tão de pronto a sua chamada.
Depois que Steve se foi, Edward se dirigiu ao quarto de Andréa, colocou-a no
berço e parou, contemplando o bebê.
Sabia que criara laços fortes com Andy. Cada noite em que a observara dormir
dissera a si mesmo que estava apenas verificando se tudo estava em ordem, mas
sabia, no fundo, que se apaixonara pela menina.
E também que aquele tempo passado com Rochelle iria lhe custar uma
violenta dor no coração. Mas não tinha escolha.
Fizera tudo a seu alcance para proteger Merilee e Edward Júnior, e não
poderia fazer menos por Rochelle e Andy. Isso não significava que as amava. Mas as
protegeria, custasse o que custasse.
O choro de Andréa o despertou algumas horas depois. Edward estivera
dormindo no desconfortável sofá de Rochelle, e deu um pulo para ir ver o bebê.
Quando chegou ao quarto da garota, lembrou-se de que Rochelle insistira para que
ele deixasse Andréa em sua cama.
Edward andou até a porta entreaberta dos aposentos de Rochelle. Nas
sombras, observou-a com Andréa, mamando. Era uma cena linda, uma mãe cheia
de amor alimentando a filha.
Sabia que ela ficaria com raiva se soubesse que estava espreitando, mas não
pôde evitar. Além do mais, toda a atenção dela estava focada na filha. A filha deles...
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 47 -
Edward avisara aos pais que a visita não seria possível porque Rochelle tivera
uma recaída. Não mencionou se tratar de uma fuga por ele tê-la ignorado.
Rochelle não reclamaria para eles. Ela nunca exigira nada de Edward. E não
estaria passando por aquele mau momento se não tivesse sido forçada a concordar
em voltar para o rancho. Fora preparada pela vida para lidar com tudo sozinha.
Ele meneou a cabeça. Rochelle era uma mulher forte, determinada. Merilee
também o fora, mas sempre quisera as coisas a seu próprio jeito. E sempre exigira
sua dedicação. Detestando-se por pensar aquelas coisas sobre a esposa, afastou-se
dali. Assim, não poderia mais ver Rochelle com Andréa.
Precisava descansar. Na manhã seguinte, levaria as duas de volta para a
fazenda. E na noite seguinte seus pais iriam visitá-los.
Não contara a Rochelle sobre aquela complicação. Mas contaria no dia
seguinte. Quando os dois estivessem mais descansados.
Rochelle acordou com o resmungo de Andréa um pouco depois das sete. Com
o bebê a seu lado, não precisava de muito esforço para amamentá-la. E agora que
sabia que estava retornando para a fazenda de Edward, onde Billy cuidaria delas,
sentia-se mais confiante.
Desejou poder ter Maria de novo também. Mas Edward teria de pagar um
salário extra, por isso não pediria a ajuda de Maria.
Após ter amamentado Andy, apoiou-se nos travesseiros e começou a falar bem
baixinho com a filha.
— Ela entende você? — perguntou Edward, surpreendendo-a. Estava
encostado no batente, com um leve sorriso nos lábios.
— Creio que não. Desculpe-me se o acordamos.
— Não se importe com isso. Seu sofá pode ser ótimo para nos sentarmos, mas
como cama... Faltam uns trinta centímetros. Você está com fome?
Rochelle ficara mal-acostumada na casa de Edward. Os desjejuns de Billy
eram fantásticos.
— Sinto que não haja muita coisa aqui para preparar um bom café, mas
posso...
— Eu não disse que era para você se levantar. — Edward se aproximou da
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cama, como se necessitasse segurá-la. — Liguei para Billy. A refeição estará pronta
quando chegarmos ao rancho. Isto é, se estiver pronta para ir.
— Sim, não desarrumei minhas coisas ontem.
— ótimo. Carregarei as malas. Embrulhe bem o bebê e vamos embora. Pode
fazer isso?
— Sim. Mas tenho que me vestir antes.
— Não é necessário. Ponha apenas o robe. — Edward virou-se como se fosse
para o quarto da criança.
Rochelle começou um protesto, mas se conteve. Por que não? Ainda precisava
economizar energias. Então, sentou-se e alcançou o robe que deixara ao pé do leito.
Após vesti-lo, escorregou com cuidado para a beirada e se colocou de pé.
Edward passou pela porta dos aposentos dela, com as coisas do bebê nos
braços. Rochelle esperou que ele tivesse deixado uma fralda descartável no quarto,
assim poderia trocar a menina. Para seu alívio, descobriu que deixara várias.
Ela trocou Andy e enrolou o bebê num cobertor. Pegando uma colcha um
pouco maior, tornou a envolver a menina.
Era primavera no Wyoming, mas isso não significava calor. Em geral, nessa
época, os termómetros marcavam catorze ou quinze graus. Rochelle não queria que
sua filha pegasse um resfriado, com todas aquelas idas e vindas.
Uma vez acomodados no carro, Edward dirigiu para fora da cidade.
— Maria está a sua espera.
— Não!
Edward lhe deu uma olhada rápida, antes de voltar a atenção para a estrada.
— Não se deu bem com ela?
— Lógico que sim. Mas já posso fazer algumas coisas sozinha. Não o quero
pagando mais nada para... cuidarem de mim.
Edward continuou dirigindo, sem falar, por vários minutos. Rochelle se
indagava se estaria bravo com ela outra vez.
— Bem, acho que ficará mais barato contratar Maria do que eu ter de parar de
trabalhar para cuidar das duas. Posso parar, claro, mas...
Rochelle viu-se diante de uma decisão difícil. Deixar Edward gastar mais
dinheiro com ela e Andy ou tê-lo a seu dispor vinte e quatro horas por dia.
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— Certo, contrate Maria. Mas eu lhe devolverei tudo o que você já gastou. —
Afinal, tinha seu orgulho.
— Tenho uma ideia melhor. Meu avô era viciado em leitura e deixou-me
centenas de livros, e não tenho tempo de organizá-los. Quando você melhorar,
poderá fazer o projeto de uma biblioteca em uma das salas vagas da fazenda e
organizar todos os volumes. Eu poderia pagar...
— Não. Farei isso com prazer, mas não aceitarei pagamento. Já estou lhe
devendo muito.
— Combinado. Ando me sentindo péssimo por não estar tomando o cuidado
apropriado com a coleção de vovô.
Como ele não a olhava, Rochelle não sabia se estava falando sério ou se
apenas procurava arranjar tarefas para que se sentisse útil.
O que significava que Edward entendia seu amor-próprio. Um pequeno
detalhe, mas que aqueceu o peito de Rochelle.
Quando chegaram ao rancho, ele tirou Andréa do cesto e a colocou nos braços
de Rochelle, levantando-a no colo como fizera da primeira vez.
— Posso andar, Edward.
— Não há necessidade disso se estou por perto. Nenhuma das duas pesa
muito. Aliás, acusarei Billy de a estar matando de fome.
Foi um susto perceber que Edward brincava com ela. Rochelle o recompensou
com uma tentativa de sorriso e um suave protesto. Não rira muito nos últimos sete
meses.
Billy, como da primeira vez, segurava a porta aberta, e a saudou com
entusiasmo.
Rochelle esperava ser levada para a cama de imediato, mas, para sua
surpresa, Edward a acomodou à enorme mesa da cozinha.
— O que você está fazendo?
— Vamos ser mais sociáveis, lembra, Rochelle? Levarei Andy para o quarto e
voltarei para tomar o café com você. — Pegou o bebê adormecido do colo dela e se
afastou.
Quando Rochelle se virou para Billy, constatou que o bom amigo estava tão
perplexo com as ações de Edward quanto ela.
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— Está tudo bem, Rochelle?
— Hum... sim, Billy. O dr. Lambert achou que eu precisava de mais cuidados,
e Edward se ofereceu para me trazer de novo para a fazenda. Espero não dar muito
trabalho para você.
— Claro que não! É uma delícia cozinhar para alguém que aprecia o que a
gente faz. Aquele monstro parece nunca reparar no que lhe sirvo — comentou Billy,
rindo. — Além do mais, Andréa é tão doce que eu já estava começando a sentir
muita saudade dela,
Billy se aproximou do balcão e levou um copo grande de leite para Rochelle.
Então, quando tirava as travessas quentes do forno, Edward retornou.
— Pegue uma xícara e junte-se a nós, Billy. Steve disse que Rochelle precisa
de muita atenção.
As sobrancelhas de Billy arquearam, mas fez o que Edward pediu.
Edward estava aliviado por ter Rochelle e a pequena Andy de volta a seu lar.
Queria ter certeza de que estavam sendo bem cuidadas, dizia a si mesmo. Sua mãe
sempre lhe dissera que a vida era mais alegre quando havia bebês por perto. Tanto
fazia se fossem de galinha, de cachorro, de gatos... Mas sobretudo humanos. E
estava certíssima.
Mas Edward experimentava um certo pânico em conversar com Rochelle. Por
isso estava tão satisfeito que Billy tivesse se juntado a eles.
Billy era um conversador nato. Nunca haveria um minuto de silêncio, se
estivesse ao redor. Exceto pelo longo hiato daquele momento.
— A comida está boa, Billy — comentou Edward, por fim, enviando-lhe uma
mensagem súplice.
Billy entendeu.
— Fico contente que tenha gostado. Maria avisou que estaria aqui por volta
das nove.
— Ah, excelente! Contou-lhe que só precisaremos dela durante o dia? Que
poderá ir para casa ficar com Tommy à noite?
Rochelle o fitou.
— Fico feliz por isso, Edward. Acho que o marido dela estava reclamando por
Maria ficar fora tanto tempo.
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— Não o condene, pequena Rochelle. Um homem gosta de ter sua mulher por
perto.
A piscadela de Billy para Edward deixou as faces de Rochelle em brasa. Ela
logo desviou o rosto.
— Billy, houve algum problema ontem ou hoje? Algo que requeira minha
presença pela manhã? — Edward procurava mudar de assunto.
— Não, nenhum.
— Bom. Rochelle, pensei em ir até o centro. Acho que estamos com poucas
fraldas. Precisa de alguma coisa? Um livro para ler? Ou eu poderia talvez alugar
alguns vídeos.
— Chefe, nós temos o suficiente para... — Mas Billy parou assim que Edward
lhe deu um chute por debaixo da mesa. — Por que fez isso?!
— Desculpe-me Billy, eu não sabia que sua canela estava aqui — mentiu
Edward, evitando encarar o cozinheiro.
— Bem, já que você está com tanta vontade de ir, por que não passa no
supermercado e traz o descafeinado de que sua mãe tanto gosta? O nosso acabou.
Fiz um belíssimo bolo para as visitas desta noite, e ela apreciará um café.
Rochelle empalideceu.
— Seus pais vêm aqui hoje?
Bem, Edward programara contar aquela novidade depois que Rochelle tivesse
se alimentado direito. Mas ela mal dera dois goles na deliciosa e fumegante bebida
que Billy, o linguarudo, preparara.
— Não sei se isso é uma boa ideia. — Rochelle olhava para Edward.
Billy franziu a testa.
— Eles são boa gente, Rochelle. E vão adorar a pequena Andy.
Mas não apreciavam o que ela fizera com o filho deles. Da primeira vez que os
encontrara, Leigh a levara a um canto para expressar sua apreciação por ela estar
tirando Edward do luto. Mas Rochelle tinha quase certeza de que ter um bebê dele e
manter isso em segredo não era o que Leigh esperava.
— Creio que seria melhor se eu não os visse, Edward.
— Falaremos disso depois que você tiver terminado de comer e voltado para a
cama.
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— Não estou com fome. — Poucos minutos atrás, estivera faminta. Agora,
queria se enfiar em um buraco e nunca mais sair dele.
— Eu sabia que Billy a estava matando de fome. Deveria despedi-lo por isso.
— Edward piscou para o amigo.
— Oh, Rochelle, coma alguma coisa mais, para que eu possa manter meu
emprego! — Mas Billy exagerou na representação.
— Você é um farsante! — protestou Rochelle. — Sabe muito bem que Edward
não o demitirá.
— Quem garante? Apenas por segurança, não poderia comer só mais um
pouquinho?
Rochelle, sorrindo, pegou o garfo.
Edward tomou o desjejum enquanto Billy tagarelava. De alguma maneira,
Rochelle se pegou quase esquecendo que os avós de sua filha estavam indo visitá-los
naquela noite.
Esperava que eles fossem gentis. Poderiam até ignorá-la, mas queria que Andy
recebesse todo o carinho do mundo... enquanto fosse possível.
Para surpresa de Rochelle, depois da refeição matinal, Edward pediu
desculpas por não poder almoçar em casa, explicando que tinha de ir para o pasto
distante e perderia muito tempo se voltasse no meio do dia.
— Não espero isso, Edward. O médico não disse que você tem de deixar de
lado seus afazeres. Apenas... conversar comigo de vez em quando — falou Rochelle,
as faces coradas, tendo Billy a observá-los.
— Tudo bem. Mas estarei aqui para o jantar. Papai e mamãe chegarão para a
sobremesa. Durma um pouco à tarde, assim estará descansada.
Billy não hesitou em falar o que lhe veio à cabeça:
— Quem morreu e o nomeou rei?
Edward, que estava indo em direção à saída, deu uma parada abrupta e
encarou o cozinheiro.
— Do que está falando?
— Você está dando ordens a Rochelle como se ela não tivesse bom senso.
— Estou tentando cuidar dela, como Steve mandou. Só isso. Rochelle precisa
descansar.
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— Imagino que a moça saiba disso. Não comece a persegui-la de novo. — Billy
levantou-se e começou a tirar a mesa.
Rochelle olhou para os dois, incapaz de acreditar que estavam brigando por
sua causa.
— Por favor, Billy... Eu precisarei de um descanso. Edward está tentando
mostrar consideração por meu bem-estar. O doutor falou...
— Não preciso de sua proteção, Rochelle!
— Então, eu não preciso de sua preocupação, Edward. Na verdade, nem sei
por que estou aqui.
— Não se atreva a querer ir embora! — Edward quase gritava.
— Está dando ordens outra vez, patrão. Ela não lhe pertence. Você não se
casou com Rochelle, mesmo que a tenha engravidado. — Billy empilhou os pratos na
pia, sem encarar o chefe.
— Agora eu vou mesmo despedi-lo, velho cabeça-dura!
Rochelle levantou-se, pretendendo intervir antes que acontecesse alguma
coisa irremediável. Mas, como se moveu muito rápido, sentiu-se tonta. Gemeu,
chamando a atenção de Edward, que a amparou antes que caísse.
— Mas que coisa! Você não tem nenhum juízo! Não pode se levantar depressa
desse jeito! — Edward tomou-a nos braços e seguiu em direção ao quarto reservado
a Rochelle.
— Eu não queria que vocês discutissem.
— Pode apostar que não foi a primeira vez. — Billy os acompanhava.
Edward a deitou na cama.
— Nós não vamos mais brigar. Estamos os dois tentando protegê-la, cada um
de seu próprio jeito.
— Por favor, eu estou bem. Juro. — Rochelle olhou primeiro para Edward e
depois para Billy.
Edward afastou-se, feliz por Billy estar ali com eles. Aquilo o impediu de beijá-
la. Apenas porque queria deixar claro sua... preocupação. Sim, era só isso.
Preocupação.
— Preciso ir trabalhar. Billy e eu sairemos daqui e a deixaremos dormir. Maria
deve chegar logo.
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Billy o seguiu até a cozinha.
— Billy...
— Chefe...
Eles pararam e se entreolharam, até que Edward gesticulou para que Billy
falasse primeiro.
— Eu não deveria ter interferido — desculpou-se o caubói, baixando a cabeça.
— E eu não deveria ter reagido daquele modo. Sabe que sempre terá um
trabalho aqui. Nunca encontraria um cozinheiro tão bom em nenhum outro lugar.
— Isso é verdade. — Billy empinou o nariz. — Mas você não está indo bem
com Rochelle.
Edward respirou fundo e esfregou a nuca.
— Estou tentando, Billy.
— Agora está. Mas o que disse a ela...
— Quando? — Edward esperava que o caubói não estivesse se referindo ao
passado.
Mas estava.
— Quando terminou com ela.
— Olhe, Billy, Rochelle me surpreendeu. Não estava preparado para desistir
de Merilee e de Edward Júnior. Mais tarde, quis me desculpar, mas tive medo de
que ela pensasse que eu tinha mudado de ideia. Por isso, não o fiz. Mas não tinha a
menor ideia de que estava grávida.
— Não?
— Não.
Edward nada mais disse, mas para Billy aquela única palavra explicou a
atitude de seu chefe pelos últimos sete meses, que se mostrava mais rabugento do
que nunca e quase nunca conversava.
Billy suspirou.
— Certo, então. Mas Rochelle é uma boa garota. Certifique-se de tratá-la bem.
A semana passada...
— Ela me odeia, Billy. Achei que me quisesse longe. Porém, minha atitude a
fez sentir-se indesejável. Estou tentando achar um meio-termo. Portanto,
compartilharemos as refeições quando possível. Espere-me para jantar, mais tarde.
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— Combinado. — Billy esboçou um largo sorriso.
Apesar do longo cochilo, Rochelle não estava se sentindo muito descansada.
Ela e Maria tinham dado banho em Andy e a vestiram com um lindo macacãozinho,
que era tudo o que Rochelle possuía lá para a menina. Comprara diversas
roupinhas, mas, no tumulto de emoções, quando voltara ao apartamento,
esquecera-se de pegá-las.
Sabia que Edward chegaria do trabalho um pouco mais cedo. Maria fora
embora, para ficar com o marido, e Rochelle olhava para sua cama. Era tentador
deitar-se ali e relaxar.
Entretanto, não era covarde. Desse modo, pegou uma camisola limpa, o robe e
foi tomar banho. Estava feliz por ter decidido que se arrumaria para receber as
visitas.
Quando saiu do banheiro, Edward a estava esperando.
— Você está bem?
Rochelle assentiu, sem mencionar que sentia as pernas bambas.
— Parece-me péssima! — E envolveu-a nos braços.
— Muito obrigada! — Rochelle o empurrou, com delicadeza, recusando-se a
aproveitar o carinho dele.
— Eu não quis dizer... É que está branca como giz. Não conseguiu dormir?
— Sim, tirei uma soneca. Preciso apenas me sentar um momento, então me
estarei bem de novo.
— Quer tornar a dormir ou está pronta para o jantar?
— Estou pronta. Comer fará com que eu me sinta mais forte. Desculpe-me por
não estar bem vestida, mas...
— Deixe de bobagem. — Aproximou-se dela.
— Posso andar até a cozinha, Edward. Fiz isso o dia todo.
Depois de acomodá-la à mesa e avisar Billy que estavam prontos para jantar,
Edward a fitou.
— Então é esse o problema? Fez esforço o dia inteiro? — Ele encarou Billy.
— Não olhe para mim — o caubói protestou. — Ela falou que se sentia bem.
— Não, por favor não briguem! — Billy riu, surpreendendo-a.
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— Não se preocupe, Rochelle. Nós brigamos desde que Edward tinha seis anos
de idade e ainda usava calças curtas.
— Billy não me permitia comer todos os biscoitos que eu queria para crescer
robusto.
— Eu não conseguia assar toda aquela enorme quantidade que você queria,
patrão. Agora, você, Rochelle querida, pode ter tudo o que desejar. Apenas mencione
o quê.
— Sabia que você a protegia — brincou Edward. Rochelle ergueu a mão.
— Certo, certo. Acredito em vocês. Não é preciso tanto esforço para me
convencer.
Edward lançou um amplo sorriso ao cozinheiro.
— Imagino que não somos tão bons nessa coisa de representar.
Rochelle sorriu para os dois. Não conseguia acreditar na diferença do
comportamento de Edward. Até mesmo quando haviam namorado, ele tentara
manter seu luto. Estava sempre carrancudo e de mau humor.
— Alguma coisa está com um aroma maravilhoso, Billy.
— É minha especialidade, Rochelle. Caçarola de carne. Muito ferro! E com
legumes.
O caubói colocou os pratos na mesa, e os três jantaram.
Rochelle notara antes que não havia muita conversa à mesa. Todos na fazenda
trabalhavam muito duro e não tinham muito tempo a perder quando se tratava de
comer.
Não demorou muito para que Rochelle estivesse satisfeita, mas permaneceu
sentada, em silêncio, observando-os. Gostaria de voltar para a cama, mas sabia que
Edward e Billy iriam protestar e interromper a refeição. Edward notou as mãos dela
cruzadas.
— Por que não está comendo?
— Já terminei. E estava uma delícia, Billy.
— Você precisa se alimentar melhor.
Ela se contraiu perante o tom autoritário de Edward, porém, tentou relaxar os
ombros.
— Meu apetite está menor agora. Mas estou certa de que vai aumentar em
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breve. E logo terei de fazer regime!
O olhar dele percorreu o corpo de Rochelle, que quase pôde sentir o toque de
Edward fazendo-a arrepiar-se.
— Duvido. Quando você esteve grávida engordou muito?
Rochelle não queria falar sobre a gestação, mas aquela fora uma pergunta
inocente.
— Eu estava muito doente, deprimida. Acabei não ganhando muito peso.
— É por isso que Andréa é tão pequenina? — Ela enrijeceu de novo.
— Fiz o melhor que pude.
— Não estava criticando você, Rochelle. Só comentei porque Jackson é muito
maior que ela.
Rochelle suspirou.
— Andy nasceu duas semanas antes do que devia. E acho que nem foi pela
diabete, e sim devido a minha pressão alta.
— Você é diabética? — Billy alarmou-se. — Mas eu fiz um bolo...
— Tive diabete gestacional, Billy, mas já estou bem. Foram feitos exames
antes que eu deixasse o hospital.
— Certo, mas prestarei atenção ao que vou cozinhar daqui para a frente.
Posso descobrir algumas receitas sem açúcar e...
— Billy, está tudo em ordem. Nenhum de vocês precisa se preocupar. Estou
ficando cada vez mais forte. E estão tendo muita consideração comigo. Agradeço
muito. — Olhou para Edward, entendendo que ele estava se esforçando bastante
para cumprir o que prometera.
Na verdade, até exagerava. Rochelle não queria fazê-!o infeliz.
— Não está causando nenhum incómodo, Rochelle. Escute, não pode comer
um pouco mais da caçarola?
— Estou guardando um espaço para o bolo de Billy, Edward.
Eles abriram a boca para falar, mas ela tornou a erguer a mão.
— Meninos! Eu estou bem. Tanto que posso lavar a louça enquanto você
prepara o resto, Billy. Sei que quer a cozinha em ordem antes que as visitas
cheguem. — Tentou parecer calma e casual, mas a chegada dos pais de Edward a
estava deixando nervosa.
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— Toque em um prato e eu corto sua mão. — Rochelle não conseguiu deixar
de zombar de Billy:
— E depois reclama do comportamento de Edward?! Ele, pelo menos, não
ameaça me aleijar.
Billy gargalhou.
— Minha menina, você não precisa fazer meu serviço.
— E não há motivo para ficar tensa por causa de meus pais, querida. O que
eles mais querem é conhecer Andréa. Minha mãe adora bebês — adicionou Edward.
Pelo visto, ela não conseguira enganá-lo.
— Sei...
Os olhos azuis de Edward mostravam inquietação, e Rochelle teve de lutar
contra o desejo de acreditar que ele se importava com ela.
Quando patrão e empregado terminaram de jantar, o telefone tocou.
Edward atendeu. Pela conversa, Rochelle percebeu que era Leigh. Quando ele
desligou, confirmou sua suspeita:
— Era mamãe, avisando que chegarão logo.
— Vou lavar a louça e fazer o café — decidiu Billy. — Leve Rochelle para o
escritório para que ela relaxe um pouco.
— Agora, quem é o ditador? — perguntou Edward, antes de levantar Rochelle
no colo.
— Eu posso andar!
— Economize energia para as visitas.
Edward ouviu o som de um carro do lado de fora e se levantou. Rochelle o
fitou, assustada.
Ele tentou passar-lhe segurança. Na verdade, ela não tinha motivos para se
preocupar. Edward, sim. Seus pais queriam conversar depois de ver o bebê. Ele
sabia que aquela conversa seria um exame de suas intenções.
Já estava sendo bem complicado seguir as instruções de Steve. Não que ser
amistoso com Rochelle fosse difícil. Só a atitude dela de não exigir nada, a suave
beleza, aquele sorriso... já era um convite a ser carinhoso. Podia lidar com carinho.
Não era uma má pessoa.
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Entretanto, isso também significava abrir-se, expor suas fraquezas. E uma
das fraquezas era o desejo que sentia por Rochelle. Fora capaz de sufocá-lo após ela
ter partido, porque fechou o coração para toda e qualquer coisa sobre Rochelle
Davenport. Mas agora...
— Alguém em casa? — Era Leigh quem chamava.
— Espere aqui — ordenou ele e seguiu para a cozinha. — Olá, mamãe. Papai...
— cumprimentou-os com um abraço. Edward sentia muita saudade deles desde que
se mudaram. — Que bom vê-los de volta!
Billy foi preparar uma bandeja com café e bolo, depois de saudar o casal.
— Estamos com vontade de voltar para cá, ainda mais por causa da linda
novidade. Onde está Rochelle e Andréa?
— Rochelle está no escritório, mãe. Vamos lá cumprimentá-la, e depois vou
ver se Andy está acordada.
— Beth disse que ela é pequenininha. — Leigh seguiu o filho.
— Ela é perfeita! A coisinha mais doce que vocês já viram na vida. — Edward
pigarreou. — É menor que meu sobrinho, mas Rochelle contou que Andy nasceu um
pouco antes do tempo.
Ele ficou à soleira do escritório, assistindo à reação dos pais ao encontrar
Rochelle. Leigh passou por ele, os braços estendidos para abraçar a mãe de sua
neta. Joe beijou-a no rosto, depois do abraço da esposa.
Rochelle parecia impressionada com a amabilidade deles, mas Edward, não.
Seus pais eram adoráveis.
— Edward, não quer ver se Andréa pode nos receber? — brincou Leigh. —
Minha primeira neta! Por que eu ainda não sei o nome completo dela? — Olhou para
Rochelle, em expectativa.
Rochelle fitou Edward e não respondeu.
Ele sabia o que estava errado. Ela não queria dizer o nome do meio de Andy
depois que a acusara de ter a intenção de conquistar a mãe dele como aliada.
— Rochelle lhe deu o nome de Andréa Leigh. Mas a chamamos de Andy.
— Você deu-lhe meu nome?! — Leigh a encarou.
— Espero que não se incomode. A senhora é a única avó que Andy tem, e eu...
queria que minha filha sentisse que tem uma família.
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Embora os pais de Edward tivessem conhecido Rochelle quando eles
namoraram, não sabiam muito sobre ela. Por isso, Joe indagou:
— Sua mãe morreu? — Rochelle empinou o queixo.
— Não sei. Fui abandonada assim que nasci.
Os dois se viraram para olhar para Edward, como se perguntando por que não
os preparara para aquilo.
— Então você foi adotada?
— Não, sra. Nix. Eu era doente quando bebê. Depois disso... nunca fui esco-
lhida. — Fez uma pausa. Então, prosseguiu: — Lamento não ter contado a Edward e
a vocês sobre Andréa até agora, mas tive uma gravidez muito complicada e não
tinha forças para lidar com o que quer que fosse.
Foi o pai dele quem respondeu. Havia se sentado no sofá ao lado da esposa, e
então esticou o braço, pegando a mão de Rochelle.
— Nós entendemos. Edward nos contou que você passou por maus momentos.
Está se sentindo melhor agora?
Os lábios de Rochelle tremeram quando tentou sorrir.
— Estou me fortalecendo. Espero voltar a a ser independente dentro de duas
semanas e então parar de me aproveitar da generosidade de Edward.
Era hora de mudar de assunto, antes que os pais dele dissessem mais do que
deveriam.
— Vou ver se Andréa está acordada. Mamãe, quer vir comigo? — Pronto, agora
era certeza que captara a atenção de Leigh. Só restava esperar que Joe fosse
discreto.
Rochelle estava perplexa com a delicadeza dos pais de Edward.
Observou Edward e Leigh saírem apressados do escritório. Quando voltou o
olhar para o sr. Nix, desviou-o rápido. Não sabia o que dizer.
— Não deve achar ruim que Edward cuide de você, Rochelle. É
responsabilidade dele.
— Não, sr. Nix. Edward não pediu por um filho. E não quer uma família. Eu
cuidarei de minha menina.
Antes que Joe pudesse retrucar, Leigh voltou, carregando Andréa.
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— Oh, Joe, olhe que coisa mais linda! Ela é tão delicada! E tem cabelos. Jack
ainda não tem muitos.
Rochelle evitou encarar Edward, pois não queria que ele notasse sua reação.
Não que não confiasse na família de Edward com sua filha. Mas era uma experiência
nova compartilhar seu bebê com eles.
Andy espreguiçou-se quando a avó se sentou com ela. E então, devagar, abriu
os olhinhos. Leigh engasgou.
— Imaginei mesmo que tivesse olhos azuis! Você não, Joe?
Rochelle sentiu uma pontada de ressentimento. Era como se estivessem
procurando provas de que Andy era filha de Edward.
— Mas ela tem cabelos idênticos aos seus, Rochelle — Joe opinou. — Muito
mais escuros que os de Edward. Porque, quando ele nasceu, era loiro.
Rochelle tentou sorrir, mas estava muito tensa para conseguir.
— Sim...
Ao ouvi-la, o bebê moveu a cabeça, como se estivesse a procurá-la.
— Olhe! Andy já reconhece sua voz, Rochelle. Meu Deus, ela é muito querida!
— exclamou Leigh.
Billy entrou com a bandeja.
— Então? Não é uma garota especial? — O caubói deu risada. — E é uma
menina muito boazinha.
— Está cuidando bem dela, Billy? Tem alguma ajuda?
— Sim, pai — Edward apressou-se em informar os pais. — Maria, a mulher de
Tommy, tem vindo todos os dias.
Rochelle preferiu continuar calada. Decidiu que quanto menos falasse, melhor
seria. Além do mais, toda aquela tensão estava exaurindo suas energias. Desejava ir
para a cama e levar a filha consigo.
— Ela parece tão pequenininha... — Leigh tirou o cobertor para examinar cada
centímetro da neta. — Ainda mais se comparada a Jackson. Ela já engordou?
— Sim, tem um excelente apetite. Já ganhou mais de um quilo depois que
nasceu. — Rochelle sabia que aquilo não significava muito, mas Steve lhe
assegurara que o bebê se encontrava em ótímo estado.
— Isso é ótimo! Jackson não tem comido muito. Andréa ganhou mais peso do
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que ele.
— Beth está bem?
— Está ótima, Rochelle. E Jackson também. Steve explicou que alguns bebes
têm de se adaptar à amamentação. Você está amamentando, não? É muito melhor
para a criança.
Rochelle assentiu, e Edward afirmou:
— Rochelle é uma excelente mãe.
— Lógico, querido! Mas algumas mães preferem dar mamadeira. Eu apenas
queria saber.
Rochelle engoliu em seco e tentou sentar-se mais ereta. Estava sentindo a
energia baixar outra vez.
— Minha mulher não quis criticá-la, Rochelle — interferiu Joe, gentil. — Na
verdade, nós nem questionamos muita coisa. Nossa úníca pergunta é: quando será o
casamento?
Rochelle encarou Edward de olhos arregalados. Ele não parecia surpreso com
a questão do pai.
— Sr. Nix, eu... — Começava a se sentir culpada por ter colocado Edward
naquela posição.
— Papai, podemos discutir sobre isso mais tarde? Rochelle está cansada.
Deixe-me acomodá-la enquanto vocês comem o bolo de Billy. Em seguida, voltarei, e
poderemos... conversar.
Rochelle não quis sair dali. Não achava certo deixar Edward sozinho para
enfrentar a pressão dos pais.
— Não. Preciso explicar para o sr. e a sra. Nix que não vamos nos casar,
Edward. Eu não espero que...
Joe Nix a interrompeu:
— Pois deveria esperar!
CAPÍTULO VII
Um silêncio tenso seguiu o desabafo de Joe.
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Então, para surpresa de Rochelle, Edward se levantou do sofá, pegou-a nos
braços e saiu com ela do escritório.
— Edward, o que está fazendo? Temos de explicar a seus pais que não vamos
nos casar — insistiu, tentando permanecer rígida nos robustos braços dele.
— Eles são meus país Rochelle. Você não tem de explicar nada. Eu cuidarei
disso.
Rochelle percebeu que ele estava com raiva. Ela também, ora! Edward deixara
claro que Rochelle não era, nem nunca seria, parte da vida dele, que não era
querida. De qualquer forma, o coração traidor de Rochelle parecia nunca desistir.
“Tem uma família, sim”, lembrou a si mesma. “Você e Andréa pertencem uma
à outra. E isso é o bastante.” Pelo menos deveria ser.
— Desculpe-me por estar lhe causando tanto transtorno. Quando eu me
mudar...
Edward a colocou deitada.
— Não se preocupe com isso, Rochelle. Apenas repouse. Você está se
desgastando demais.
Ela comprimiu os lábios.
— Quero Andy. Na certa terei de amamentá-la em breve.
— Quando ela quiser, eu a trarei aqui. Acho que minha mãe gostaria de ficar
mais um pouco com o bebê. Está bem assim?
Rochelle apreciou o fato de Edward ter perguntado, em vez de dar ordens.
Então, assentindo com um movimento de cabeça, tentou sorrir. Estava exaurida.
Edward a surpreendeu ainda mais quando, inclinando-se, beijou-lhe o rosto.
Ela o olhou fixo, vendo-o deixar o aposento. Um carinho casual era uma
ocorrência rara para Rochelle. Até mesmo quando eles tinham dormido juntos,
Edward nunca a tocara muito, a não ser quando faziam amor... Sexo, melhor
dizendo.
Não seria daquele modo com Andy, jurou mais uma vez. Já havia prometido
que Andréa sentiria amor por meio de contato físico, mesmo que isso não viesse dos
dois pais.
Respirando fundo, cerrou as pálpebras e tocou a pele onde os lábios de
Edward tinham pousado.
Segunda chance (Newborn daddy) Judy Christanberry
Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 64 -
Edward voltou ao escritório, bravo com os pais. Não queria que eles tivessem
aborrecido Rochelle. Já sabia que teria de explicar o que estava acontecendo, mas
Rochelle não sabia como eram as dinâmicas familiares.
Billy ainda se encontrava lá, conversando com Leigh e Joe, quando Edward se
aproximou. Mas a conversa parou e os três o fitaram.
— O que está acontecendo aqui, filho? — Joe parecia irritado. — Rochelle é
uma dama. Como pôde tratá-la daquele jeito?
Edward não tinha dúvida de que o pai condenaria seu comportamento. Bem,
ele mesmo condenava. Assim, sentou-se e preparou-se para falar.
— Sei que não deveria, pai. Rochelle e eu tivemos... Eu não sabia que ela
estava grávida.
— Não sabe dizer quando uma mulher está prestes a dar à luz? — inquiriu o
pai, com cinismo.
— Não se eu não a vir por sete meses. — Houve um silêncio pesado.
Então Leigh entrou na conversa:
— Estávamos aqui em setembro passado, e Beth me apresentou Rochelle.
Fiquei muito feliz por você, enfim, ter superado a morte de Merilee e Edward Júnior.
Quando rompeu com Rochelle? E por quê?
Billy se levantou.
— Tenho de levar estas coisas para a cozinha. — Recolheu os pratos e saiu do
recinto.
Edward encarou os pais. Então, cruzou as pernas e começou sua confissão:
— Não estou orgulhoso pelo que fiz. Mas não pretendi ferir Rochelle. Nós... nos
tornamos amigos. Estávamos ambos solitários. Saímos para jantar diversas vezes e
conversamos muito. Uma noite, fui para o apartamento dela para conversar mais. E
uma coisa levou a outra.
Fitou os pais de soslaio. A expressão deles era impenetrável.
— Fiquei atordoado com o que tinha acontecido. Não pretendia... Bem, Merilee
ainda estava em meu coração. Mas o que tive com Rochelle foi muito bom. Então eu
não parei.
— Compreensível — Joe murmurou.
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— No começo de outubro, Rochelle veio aqui, na fazenda, num sábado.
Jantamos juntos e assistimos a um filme. Ela parecia um pouco irascível, o que não
é comum. Quando a questionei, sugeriu que vivêssemos juntos e construíssemos
uma família.
Não conseguiu continuar sentado explicando seu comportamento desprezível.
Por isso, levantou-se e começou a andar de lá para cá.
— Soube, então, que tinha cometido um grande erro. Terminei com Rochelle,
dizendo-lhe que nunca teria outra família. Fui cruel, mas não tive a intenção.
Apenas perdi o controle. E ela se foi.
— Você se desculpou?
Edward fez que não e olhou pela janela.
— Sei que deveria, mãe, mas fiquei com medo de que Rochelle achasse que eu
tinha mudado de ideia. Cheguei à conclusão de que seria melhor para ela encontrar
outra pessoa, porque é uma garota especial.
— Mas deve tê-la visto pela cidade, notado que tinha engordado...
— Era inverno, mamãe... Todos permaneciam dentro de casa a maior parte do
tempo. Nunca mais voltei à livraria e também evitei ir ao centro. Perguntei a Beth
sobre Rochelle, porque elas eram amigas, mas minha irmã a vira apenas uma vez,
logo depois da nosso rompimento. E contou que Rochelle se recusara a continuar
com a amizade delas.
— Não houve falatório na cidade?
— Não, papai. Rochelle saiu de circulação. Nem à igreja foi mais. E vestia um
casaco enorme quando ia ao supermercado ou à padaria. Fez o exame pré-natal em
Buffalo.
— Então como você soube?
— Descobri quando fui ao hospital visitar Beth e meu sobrinho. — Fechou os
olhos, relembrando o momento em que tudo mudara.
— Rochelle o chamou? Do hospital? — A testa de Leigh estava franzida, e
Edward soube que começava a ficar brava com Rochelle.
— Não. Vi meu nome no cartão de identificação do bebê quando a enfermeira
entrou com Andy no berçário.
— Rochelle deveria ter lhe contado, Edward. Foi errado da parte dela agir
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como agiu.
Edward sorriu para a mãe, gostando que ela estivesse de seu lado. Mas não
podia permitir que visse a coisa daquele prisma.
— Rochelle ia me contar, mas teve uma gravidez complicadíssima e um parto
ainda pior. Vem melhorando desde então, mas ia encarar em breve um retorno ao
trabalho porque precisa de dinheiro. Estava apavorada. E eu havia sido péssimo da
última vez em que conversamos.
— Então por que não contar a ninguém? Essa moça pretende arruinar sua
reputação?
Edward encarou-os.
— Papai, Rochelle contou que nasceu e foi abandonada e que nunca soube
quem foram seus pais. Nunca faria isso à própria filha. Não acho que tenha se dado
conta de que no hospital eles colocariam a informação na etiqueta. Apenas quis que
a menina tivesse o que ela não teve.
— Oh, pobre criança! — A compreensão de Leigh pendeu, de repente, para o
lado de Rochelle.
— Bem, o que ela está fazendo aqui se vocês não vão se casar?
— Papai, Rochelle não tem recursos, nem ninguém para ajudá-la. Mal pode
ficar de pé porque, de um minuto para outro, cai desmaiada. Eu tinha de cuidar
dela e de Andy. Insisti para que viesse para cá se recuperar. Rochelle lutou contra
isso de todas as maneiras, mas não teve muita escolha. Pensei que a traria para cá e
que nós procuraríamos uma forma de fazer tudo dar certo, mas ela estava com
muita raiva. Deduzi que me queria longe e foi assim que agi. Então, ontem, pediu a
Maria que a levasse de volta para seu apartamento.
— Mas é muito cedo para isso!
— Sim, mãe. Por isso fui buscá-la. E tive de ligar para Steve, porque Rochelle
desmaiou. Afirmou que não queria estar onde ela e Andy não eram desejadas.
— Deus do céu!
— Em consequência, prometi que seria mais amigável e assegurei que as
queria aqui.
— Você vai convencê-la a ficar — exigiu Joe, encarando o filho.
— Estou tentando. Rochelle está falando em se mudar, mas espero poder fazê-
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la mudar de ideia.
Leigh se inclinou para a frente, ansiosa.
— Mas se você a ama...
Edward franziu o cenho e quase gritou:
— Eu não disse isso!
O bebê, que tinha adormecido nos braços de Leigh, choramingou. Edward foi
em direçào à filha, mas sua mãe a segurou mais perto de si.
— Você a está assustando, Edward.
— Não tive intenção. Dê-me. — Pegou Andy e a aninhou no peito, sussurrando
palavras incompreensíveis em voz bem baixa.
Andy parou de chorar, de olhinhos abertos, fitando-o.
— Edward, você não deve deixar Rochelle e o bebê partirem — opinou a mãe.
— Andréa é sua filha. E se Rochelle precisar de algo? E se o bebê ficar doente? Ela
telefonará para você?
Edward não precisava perguntar aquilo a Rochelle para saber a resposta. Não,
ela não ligaria. Não pediria nada. Se as deixasse ir embora, ela nunca mais voltaria.
Contemplou o lindo rostinho da pequena e a apertou forte contra si. Evitara pensar
sobre o futuro desde que resgatara Rochelle e Andy, aquela manhã. Disse a si
mesmo que lidaria com uma coisa de cada vez.
Mas Leigh o forçava a encarar o porvir. E Edward não gostava daquilo.
— Rochelle não entende a importância de uma família, Edward. Portanto, terá
de insistir para que permaneça aqui.
Ele pensou que a mãe estava enganada. Pelas coisas que Rochelle contara
sobre seu passado, acreditava que eja entendia a importância de familiares melhor
do que ninguém, exatamente por sempre ter sido só.
— Vamos confirmar com Jack, filho, mas acho que, se você não for casado,
não terá nenhum direito sobre a criança. Precisará se casar.
Edward encarou o pai. O que ele disse lhe soou muito frio, muito... legal.
Queria que Rochelle fosse feliz, estivesse protegida e soubesse que não era mais
sozinha.
Já presenciara alegria nos olhos dela: quando eles faziam amor. Merilee
esperara ser amada, apreciada. Rochelle sempre fora grata, como se aquilo não fosse
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uma coisa merecida.
O comportamento dele parecia ainda mais odioso agora, quando se lembrava
das reações de Rochelle.
Não notara que seus pais haviam se levantado até que Joe tornou a falar:
— Voltaremos para a casa de Beth e deixaremos que cuide de sua filha.
Depois eu lhe informarei da opinião de Jack sobre a parte jurídica.
Edward quis protestar sobre qualquer plano de uma ação legal contra
Rochelle. Aquilo seria impossível. Mas também não poderia encarar a perda do
contato com a filha. Desse modo, apenas assentiu.
Os pais aproximaram-se e beijaram o bebê, então abraçaram Edward,
despedindo-se.
Edward permaneceu no lugar, com Andy nos braços, por longos minutos. Não
poderia nem imaginar voltar a sua existência solitária, sem Rochelle e Andréa. Até
mesmo naquela semana anterior, quando estivera evitando a presença dela, pensara
nas duas sem parar. E tinha ido ver o bebê todas as noites. E fizera muitas
perguntas a Billy sobre Rochelle.
Dera-se conta de que seu mundo fora envolvido peias duas. Tendo
compartilhado as refeições com Rochelle, tendo apresentado sua filha aos pais,
tendo-a em seu colo, percebeu que não poderia mais desistir delas. O que fazer?!
Duas vezes durante a noite, Rochelle foi acordada por Andy querendo mamar.
Na primeira, saiu da cama com dificuldade. Quando já estava em pé, Edward
aparecera à porta do quarto, com Andy nos braços.
— Não precisa se levantar — dissera ele, passando o bebê para o colo dela.
Rochelle o fitara, tentando alinhar os pensamentos. Será que ele esperava que
amamentasse o bebê diante dele?
Como se tivesse lido sua mente, Edward falara:
— Estarei no escritório. Basta chamar quando ela estiver pronta para voltar
para o berço. — E desaparecera.
Quando ela olhara para o relógio e vira que era quase meia-noite, decidira que
Edward ainda deveria estar acordado, lendo. Assim, concentrara-se em alimentar
sua filha. Depois, cobrira-se, chamando por Edward.
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Com um sorriso, ele pegara Andy e a levara de volta para o berço. Rochelle
adormecera de imediato.
Às quatro, repetiram o processo, Edward de novo aparecendo antes que
Rochelle pudesse sair da cama, trazendo Andy.
— Agora, ela está mesmo faminta, Rochelle. Chorou com toda a força de seus
pequenos pulmões.
— É provável que precise ser trocada, — Rochelle esfregou as pálpebras.
— Eu deveria ter pensado nisso. Estaremos de volta em um segundo.
Edward se virou e se foi. Rochelle o ouviu conversando com o bebê e também
quando o choro de Andréa se transformou em leves murmúrios. Então, retornaram
ao quarto.
— Andy está pronta para mamar, mamãe. — E estendeu-lhe a criança.
— Obrigada. Eu poderia ter feito isso. — Edward deu de ombros e deu-lhe as
costas.
— Como consegue ouvir Andy do seu quarto, lá em cima?
— Eu estava no escritório. — Então, deixou-as.
Rochelle ponderou sobre o que ele dissera. Será que tinha adormecido
enquanto lia? Edward estaria exausto pela manhã. Talvez Andréa pudesse dormir
com ela. Assim o bebe não acordaria Edward.
Quando notou que Andy estava satisfeita, Rochelle decidiu que deveria colocá-
la no berço sem perturbar Edward. De qualquer forma, ele já deveria ter ido dormir.
Tirando as cobertas e sem se importar em vestir o robe, levantou-se, com Andréa
nos braços.
— Por que não me chamou? — exigiu Edward, da soleira.
Rochelle virou-se rápido e titubeou. Edward a apoiou antes que tivesse tido
tempo até mesmo de pensar.
— Volte para o leito antes que desmaie — ordenou-lhe, com severidade. Tirou
Andy dos braços dela e segurou as cobertas para Rochelle se deitar.
— Mas você não dormiu quase nada...
— Nem você. — Então, Edward se inclinou e a beijou na face outra vez, antes
de sair do quarto, levando Andy.
Rochelle fechou os olhos. Aqueles toques suaves poderiam virar um hábito,
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que ela necessitava evitar. Uma imensa tristeza a invadiu até mesmo quando o sono
tomou conta de seu corpo.
Edward deixou o estábulo e entrou apressado na cozinha.
— Você ouviu Rochelle ou Andy, Billy?.
— Nem sinal.
— Certo, bem, apronte o café para daqui a quinze minutos. Vou lavar as mãos
e dar uma olhada nas duas.
— Você manda, chefe. — Billy sorria.
Edward não tinha certeza se Billy estava de acordo com sua nova
programação. Não que os argumentos do caubói fossem fazê-)o mudar de opinião,
mas aquilo significava um trabalho extra para o homem.
Edward decidira levantar-se em seu horário normal, beber apenas uma xícara
de café e executar as tarefas no estábulo antes que Rochelle acordasse. Em seguida,
voltaria para casa para tomar o desjejum com ela, antes de sair para o trabalho.
Depois de lavar as mãos, seguiu até a porta do quarto de Rochelle. Em vez de
bater, abriu-a e espreitou. Rochelle ainda dormia, relaxada sob das cobertas.
O súbito desejo de juntar-se a ela, de acordá-la pressionando aqueles lábios
macios, tomou conta dele. Mas se deteve. Ele e Rochelle não eram mais namorados.
E não eram um casal. Não eram nada, na realidade.
Ora, aquilo não era verdade. Estava cuidando dela naquele momento. E era o
pai de seu bebe.
Como que para dar-lhe certeza, Andréa choramingou. Edward saiu correndo
dos aposentos de Rochelle antes que ela percebesse que ele a observava. Dessa vez,
trocou a fralda de Andréa antes de levá-la para a mãe.
— O que está fazendo aqui? — perguntou Rochelle, assim que ele entrou. —
Já passa das oito.
Edward sorriu.
— Voltei depois de cuidar da cocheira para tomar o café da manhã com você.
Rochelle franziu a testa.
— Edward, não quero que você mude sua rotina por minha causa. E nós
precisamos conversar sobre ontem, também.
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Andy tornou a chorar. Edward deu-a a Rochelle.
— Amamente esta criança insistente. Depois comeremos juntos e conversare-
mos sobre o que você quiser. — E saiu antes que ela pudesse contestar.
Entrou na cozinha, onde Billy tirava biscoitos do forno.
— Quer ajuda para alguma coisa? Rochelle está amamentando o bebê.
— Por que não serve um copo de leite para Rochelle? Ela precisará tomar
muito leite enquanto estiver amamentando.
— Não me diga que leu livros sobre amamentação também — brincou Edward,
enquanto fazia o que Billy sugerira.
— Não. Mas sua mãe me informou isso ontem. E nada de cafeína. Por isso, fiz
um café daquele pó que você trouxe para Leigh.
Edward franziu o cenho.
— Não foi o que tomei hoje cedo, foi? Será que é por isso que ainda estou
dormindo? Café sem cafeína?
— Não! — Billy soltou uma gargalhada.
— Se você está com sono — disse Rochelle, entrando — é porque acordou a
noite inteira com Andy.
Edward ignorou o que escutou e correu para o lado dela.
— Venha sentar-se. Andy voltou a dormir?
— Sim. Mas não deveria ter acordado tantas vezes por causa dela. Não pode
fazer isso e trabalhar o dia inteiro, Edward. Com ou sem cafeína.
Billy colocou a forma de biscoitos na mesa.
— Comam enquanto estão quentinhos.
Edward se sentou na frente dela e lhe estendeu a forma. Depois, serviu-lhe
ovos mexidos com bacon enquanto Billy se juntava a eles.
— Edward, eu posso me servir. Não sou Andy!
— Desculpe, querida, mas estou faminto. Assim é mais rápido. — Edward não
sabia se Rochelle havia acreditado nele, mas sua explicação a fez parar de reclamar.
Na verdade, deixou-o em paz para devorar o desjejum, falando apenas uma
coisa ou outra com Billy. Mas quando ele se recostou no espaldar com um suspiro
de satisfação, Rochelle tentou de novo:
— Você ficou no escritório até de manhã?
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— Sim. Billy, que tal outra xícara de café? Rochelle, Billy preparou descafei-
nado para você. Quer?
— Sim, por favor. E pare de tentar mudar de assunto.
— Não estou fazendo isso. Estou pensando em seu conforto.
— Dormiu no sofá? Se bem me lembro, a última vez que você fez isso,
reclamou.
Bílly se ergueu.
— Acho que vou colocar algumas roupas na máquina e deixar a cozinha para
depois. Até mais.
— Acho que você deixou Billy sem graça — comentou Edward, rindo.
— Estava falando sobre duas noites atrás, quando você foi a meu aparta-
mento! — Rochelle enrubesceu.
— Eu sei. Mas Billy não sabe disso.
— Edward, está tentando me distrair. Por que não dormiu no seu quarto?
— Porque você e Andy precisavam de mim — confessou, simplesmente,
desafiando-a a contradizê-lo.
CAPÍTULO VIII
Rochelle estreitou os olhos ao encarar Edward.
— Eu estou melhorando, Edward. Preciso apenas de uma pequena ajuda com
os afazeres domésticos. Não é necessário que você reorganize sua programação
inteira.
As palavras dela não pareceram afetá-lo, e ele continuou a tomar seu café.
— Então quer que as coisas entre nós continuem como estavam na semana
passada?
Rochelle pensou que não queria a existência estéril a que Edward se referira.
Mas era perigoso tê-lo tão perto. Tanto por ela como por Andy, porque em poucas
semanas tudo aquilo acabaria.
— Eu precisava me sentir bem-vinda aqui. Mas não quero atrapalhá-lo.
— Quer este último pedaço de bacon? — perguntou, ignorando o comentário
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de Rochelle.
— Não. Está me ouvindo, Edward?
— Cada sílaba — assegurou-lhe, distraído com o bacon. Rochelle suspirou.
Poucos homens mudariam toda sua rotina para acomodar uma mulher que não
significava nada para eles.
— Edward, quero que saiba que isso não ê necessário.
— Você está enganada, querida. O café da manhã é a refeição mais importante
do dia.
Rochelle era sempre paciente, sempre meiga, demorava para perder o controle,
mas bateu a mão na mesa com força o bastante para fazer os copos de suco de la-
ranja pularem.
— Edward Nix, você não está me levando a sério!
— Ora, acalme-se, Rochelle. — Segurou os dedos dela. Aquele toque a acal-
mou de imediato, mas Rochelle se soltou. — Olhe, estou apenas tentando fazer o
que o médico mandou. E... bem, na verdade, tenho gostando disso.
— Não precisa parecer tão surpreso!
— Desculpe-me, querida, não me sinto bem esta manhã.
Para maior mortificação de Rochelle, lágrimas brotaram em seus olhos, e
precisou baixar cabeça. O que estava errado com ela?
— Não tive a intenção de reclamar, Edward. Mas ontem à noite...
— Ah, eu não queria discutir sobre ontem.
— Eles estavam... Seus pais me odeiam?
Imaginar-se como a causa de problemas familiares para Edward era horrível.
Edward afastou a cadeira, surpreso.
— Por que a odiariam?
— Edward, tenho certeza de que a cidade inteira está falando sobre mim. Você
também não queria nenhuma de nós duas, e fiz com que não pudesse nos ignorar.
Ele tornou a pegar a mão dela.
— Quero cuidar de vocês, Rochelle. Não duvide disso. Meus pais estavam
desapontados com a situação e queriam ter certeza de que eu agiria com
responsabilidade. — Fez uma pausa antes de levar as mãos dela aos lábios para
uma breve carícia. — E queriam saber o que nós vamos fazer.
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— Sobre o falatório? Isso não vai durar muito, depois que eu for embora,
tenho certeza. Pode dizer que lhe armei uma cilada e...
Ele irrompeu em uma gargalhada.
— Você não sabe muito sobre homens, não é, querida? Eu jamais admitiria ter
caído numa armadilha! Mas não estava falando sobre comentários.
— Não?
— Não. Rochelle, a questão é o que está acontecendo agora. Você, Andy e eu
estamos ligados um ao outro pelo resto da vida.
— Não, nada disso. Você não faz parte dessa ligação. Andy e eu partiremos, e
não vamos nos intrometer em seu caminho. Então, não há nada a ser discutido.
— E se eu não quiser que seja assim? E se estiver querendo participar da vida
de Andy?
Aquelas lágrimas traidoras insistiram em voltar, justo quando achava que
havia recobrado o controle.
— Não. — E, rude, Rochelle soltou-se dele. Edward pigarreou.
— Bem, não tenho nenhuma resposta, mas pensei que, se nós vivêssemos isso
no dia-a-dia, talvez eu conseguisse uma. Precisará permanecer aqui por, pelo
menos, mais um mês. E vai organizar minha coleção de livros enquanto estiver no
rancho. Desse modo, teremos algum tempo para acertar as coisas.
— Um mês?! Pensei que mais uma semana, no máximo duas.
— Veremos. Vamos fazer um acordo. Nós conversaremos sobre os problemas,
todos os dias, durante o café da manhã.
— Mas isso significa que, mais uma vez, você precisará mudar sua pro-
gramação.
— Sim, Rochelle. E estou adorando isso. Todos da equipe de trabalho estão me
dizendo que não fico o bastante com você. Assim, eles ficarão felizes.
— Billy...
— Podemos arranjar outra coisa para ele fazer enquanto isso. Tenho certeza
de que Billy fará qualquer coisa para que você fique.
Rochelle não podia pensar em mais nada para falar. Começou a lhe dizer que
não poderia permanecer, mas Edward estava certo. Ela não poderia partir de
imediato. Não se quisesse manter Andréa segura. Então, esperaria e vivenciaría a
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 75 -
situação.
Edward se levantou para beijar-lhe o rosto. Pelo menos foi isso o que Rochelle
supôs. Mas, para seu horror, notou que os lábios dele pousaram sobre os seus.
Edward aproximou-se de seu capataz e de outros quatro caubóis que
cuidavam do rebanho no pasto das novas mamães e seus bezerrinhos.
— Como vai indo tudo por aqui, Baxter? — perguntou ao capataz, enquanto
cavalgavam.
— Nada mal. Decidi levar algumas vacas e seus filhotes de volta para o
estábulo. Um dos rapazes encontrou pegadas de lobos que andam pela região desde
a última época de chuvas. O que você quer fazer?
— Algum bezerro desaparecido?
— Ainda não.
— Vamos colocá-los no pasto norte, onde o curral está pronto para ser usado
de novo. Podemos conseguir tangê-los ainda hoje, se começarmos já.
— Vai nos ajudar ou tem alguma outra coisa para fazer, patrão?
Edward arqueou as sobrancelhas.
— Eu estou aqui, não estou?
— Sim. E é o chefe. — Baxter estendeu a ordem de Edward para os outros
caubóis e depois virou-se para ele: — É bom vê-lo sorrindo de novo. — E acelerou o
trote.
Edward permaneceu sentado sobre a sela, observando o amigo ir cumprir
suas tarefas. Então deu-se conta de que se sentia mais leve, mais envolvido do que
estivera nos últimos anos. Até mesmo quando namorara com Rochelle no último
outono e estivera lutando sobre o que fazer, se sentindo culpadíssimo, porque estava
gostando mais de acordar de manhã.
Agora, possuía uma razão para Rochelle estar a seu lado. Merilee jamais
esperaria que ele renegasse a própria filha. E aquelas pequenas carícias que vinha
fazendo em Roehelle eram apenas para que ela se sentisse querida na fazenda.
“Sim, claro...” A honestidade forçou-o a admitir que aqueles toques lhe davam
prazer também. Talvez mais do que a Rochelle.
Quando sem querer a beijara na boca, Rochelle se afastara, horrorizada. O
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que, aliás, tinha sido ótimo, porque a intenção dele era beijá-la de novo. Um beijo de
verdade, desta vez.
Agora que seus pais o tinham obrigado a encarar o futuro, Edward admitia
que nunca pretendera deixar que Rochelle e Andy partissem, caindo no mundo
sozinhas, sem proteçao.
“Você não fez um bom trabalho de proteçâo da última vez, com sua amada
esposa e seu filho.” Um ano atrás, aquele pensamento o teria devastado. Mas agora
admitia que não cometera nenhum erro. Naquela ocasião, tirara a manhã livre do
serviço para sair com os dois. O xerife lhe assegurara de que nada poderia ter sido
feito para mudar a triste consequência.
Enfim, Edward começava a aceitar a verdade. Será que era porque muito
tempo se passara? Ou porque se encantara por Rochelle? Não que a amasse como
amara Merilee. Ou que Andy pudesse substituir Edward Júnior. Mas ela precisava
dele. E Andy também.
E aquilo lhe fazia bem.
E o beijo da manhã lhe mostrara que ainda desejava Rochelle. Eles combina-
vam muito bem na cama. Poderiam tentar viver juntos. Seria um bom marido para
ela.
O alívio que experimentou era inacreditável. Alegrava-se porque arranjara
uma maneira de manter as duas por perto. Elas não seriam sua verdadeira família,
mas estaria fazendo a coisa certa.
Tendo organizado tudo na mente, Edward se sentiu até mesmo melhor. Atiçou
a montaria para galopar, entusiasmado com o trabalho como não se sentia fazia
anos. Apenas uma única questão permaneceu: Rochelle concordaria?
Aquele beijo doce permaneceu na memória de Rochelle o dia inteiro.
E disse a si mesma que um mês não era uma possibilidade.
Começou a lavar a louça, até que Billy retornou à cozinha e a repreendeu.
Ela explicou sobre o acordo com Edward de organizar a biblioteca que o avô
tinha lhe deixado. Quando Billy protestou sobre fazer qualquer tipo de trabalho,
Rochelle lhe assegurou que apenas queria ponderar sobre o projeto. Mas precisava
ver os livros antes de mais nada.
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Embora relutante, Billy a levou para o andar de cima, até um quarto cheio de
volumes.
— Oh, meu Deus! — Rochelle não tivera certeza de que Edward falara a
verdade.
Mas falara. Havia muito a ser feito ali.
— Poderia levar duas ou três caixas lá para baixo, por favor, Billy? Assim
poderei analisá-las melhor.
— Se você prometer não se esforçar demais.
— Prometo. Apesar de achar que seria bom começar a fazer um pouco de
esforço para melhorar. Não posso ficar parada de braços cruzados.
— Não vejo por quê. É para isso que estou aqui.
Ela sorriu para o velho caubói e apontou algumas caixas mais acessíveis.
— Tem ideia de qual sala Edward usará como biblioteca?
— Não, mas eu sugeriria a de estar. Ninguém usa aquele espaço. Todo o
mundo entra pela porta de trás e se acomoda na cozinha ou no escritório.
— Bem pensado, Billy. Então, vamos colocá-las na sala de estar. Se assim não
for, pelo menos por enquanto ficarão fora do caminho.
Em poucos minutos, Rochelle estava acomodada com conforto.
— Chamarei você para o almoço — avisou Billy. — E não se esforce muito.
— Combinado — tornou a prometer.
Quando Billy a deixou sozinha, Rochelle respirou fundo e se abaixou para
abrir a primeira caixa.
Porém, para sua surpresa, não eram livros o que havia ali dentro, mas álbuns
de fotografias. Rochelle sabia que o certo seria fechar a caixa e não invadir a
privacidade de ninguém, mas fotos não eram coisas que ela um dia tivera. Possuía
apenas algumas de um dos orfanatos. Vivera lá por dois anos e, quando a dona
ficara doente, fora enviada para um outro.
Não podia imaginar ter uma história de convívio familiar. Com um rápido
olhar para a porta, certificando-se de que ninguém a observava, pegou um álbum e
o abriu.
Rochelle escutou o choro de Andy antes que Billy a chamasse. Fazia quatro
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horas que o bebê fora alimentado, portanto, já estava na hora. Apressou-se para
lavar as mãos e amamentar a filha. Sentia-se cansada... e triste. Pronta para uma
pausa.
Ela e Billy chegaram ao quarto de Andy ao mesmo tempo.
— Como está minha queridinha? — Billy quis saber, passando por Rochelle.
— Parece que está brava. Será que todos os bebês são tão impacientes assim?
— Se for Edward o pai, sim. Edward Júnior... — Ele parou, olhando horro-
rizado para ela. — Desculpe-me, eu não quis...
— Edward nunca fala sobre o filho ou a mulher? — Rochelle ficou curiosa.
Billy pareceu desgostoso.
— Não. E me pediu para não tocar no nome deles.
Rochelle suspirou, imaginando que Edward odiaria que ela visse as
fotografias. Detestaria que colocasse as fotos que encontrara soltas na metade vazia
do álbum de sua família.
— Eu não me importo que me fale sobre eles, Billy. O que aconteceu deve ter
sido duro para você também.
— Foi difícil. Mas Edward quase enlouqueceu. Eu fiquei muito ocupado
tentando cuidar dele, então as coisas foram mais simples para mim. O patrão não
tinha nada que pudesse tirá-lo daquele desespero. Até que você apareceu.
Um meio sorriso se abriu no coração de Rochelle. Até então só ouvira de
Edward que ela fora uma distração e uma liberação física para ele. Nada mais.
— Bem, é melhor amamentar esta criatura faminta. — Rochelle sentou-se na
cadeira de balanço, e Billy voltou para a cozinha.
Apesar de ouvir o telefone tocar enquanto Andy mamava, ela não se
preocupou em atender. Billy estava lá e faria aquilo. Além disso, não era um
membro da família. Fez Andy arrotar e aconchegou-a no peito.
— Rochelle? — chamou-a Billy, dando-lhe a chance de ajeitar a blusa antes
que ele entrasse.
— Sim, entre Billy.
— Você se importa de esperar um pouco para almoçar?
— Claro que não. Aliás, se você preferir, eu posso...
— Nada disso. Leigh e Beth querem fazer a refeição conosco, por isso preciso
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fazer alguma coisa a mais. Não se importa mesmo?
— Que elas venham aqui? De modo algum. Este não é meu lugar, então...
— Evidente que é. Elas estão vindo para vê-la e à princesinha. Expliquei que
estava cansada, pois trabalhou a manhã inteira, mas me disseram que você poderia
tirar uma soneca depois do almoço. — Billy a fitava, como se tentando julgar seu
nível de energia.
— Estou me sentindo bem, Billy.
Rochelle tentou se lembrar de como tinha deixado as coisas na sala de estar.
Não havia guardado os retratos, uma vez que Andréa a chamara e ela saíra
apressada. Mas Billy tinha dito que ninguém entrava lá. Esperava que não. Ficaria
mortificada se alguém descobrisse que andara bisbilhotando.
Andy não parecia muito ansiosa para retornar ao berço, portanto, Rochelle
seguiu Billy para a cozinha, carregando o bebê.
— Vou me ajeitar aqui e ficar só assistindo, se você não se importa, Billy.
— Ter as duas por perto é sempre um prazer.
Rochelle sorriu para ele.
Após alguns minutos de paz, durante os quais ela conversou com Andy,
encorajando-a a emitir sons, Rochelle e Billy ouviram o barulho de um carro.
— Aí estão elas. Na hora certa! — A porta dos fundos se abriu.
— Olá! — Beth e Leigh disseram em uníssono.
— Oh, você está aqui! — exclamou Leigh, correndo para o lado de Rochelle e
estendendo os braços para pegar a neta.
Rochelle entregou-lhe a menina, e Leigh se sentou perto dela. Beth, com
Jackson no colo, acomodou-se do outro lado de Rochelle.
— Como você está, Beth? E Jackson?
— Estamos ótimos, Rochelle. Mamãe está cuidando muito bem de mim. O que
é uma coisa boa, porque Jack pegou um novo caso e está sem tempo algum.
— Agora o pobrezinho tem dois para sustentar — disse Leigh, com todo o
carinho. — Depois que um homem tem o primeiro filho, sente uma nova
responsabilidade.
— Sei disso, mamãe, mas sinto falta dele.
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Rochelle ficou impressionada por Beth estar se sentindo daquele jeito. Logo
ela, que sempre fora tão equilibrada.
— Estou certa de que seu marido está lhe dando mais atenção do que Edward
a Rochelle, e ela não está reclamando.
— Sim, mas Rochelle não é esposa dele, e Andy não é o primeiro filho. — Beth
se aborreceu com a comparação da mãe. Mas levou a mão à boca, desejando engolir
o que dissera. — Oh, Rochelle, me perdoe! Eu não tive a intenção...
— Lógico que não teve! — Leigh a admoestou.
— Por favor, sra. Nix, Beth... está tudo bem. Você não falou nenhuma mentira,
minha querida.
— Sim, mas ela não tinha de jogar isso em sua face. — Leigh fechou o cenho.
Os olhos de Beth se encheram de lágrimas.
— Não queria magoá-la, Rochelle.
— Você não magoou. Deixe-me pegar Jackson. — Rochelle pegou o bebê e
começou a perguntar sobre a amamentação e o apetite dele, e então Beth acabou se
distraindo, enquanto contava sobre o filho.
Logo Biliy serviu o almoço, juntou-se a elas à mesa e a conversa se tornou
trivial.
Rochelle estava gostando de todas as companhias. Passara por uma gravidez
muito solitária, e estava apreciando poder conversar com outras mulheres. Até que
Leigh quis saber sobre seu trabalho.
— Acho maravilhoso que esteja cuidando de todos esses livros, mas não
queremos que se canse muito.
— Oh, não! Não estou fazendo esforço algum. Apenas checando o que há nas
caixas.
— Meu pai era um viciado em leitura. Lia tudo o que lhe caía nas mãos. E lia
para os filhos também. Nós não assistíamos a muita televisão. Claro, era uma outra
época.
— Sim, mas eu ainda me lembro de vovô lendo para mim e para Edward. —
Beth fitou Rochelle. — Nós amávamos aquilo. Vovô tinha uma voz que causava
medo, ao interpretar o que estava lendo.
— Que delícia!
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— Você não teve... — Beth ia dizendo, mas foi interrompida por Leigh.
— Querida, não está deixando que Rochelle aproveite o almoço. Pegue Jackson
para que ela possa comer.
As duas jovens protestaram.
— Na verdade, ele adormeceu. Quer que eu o ponha no quarto de Andy, Beth?
— Mas Andy também dormiu. Vai precisar do berço.
— Edward comprou um moisés e um berço, então temos acomodações
suficientes. — Rochelle levantou-se, pronta para carregar Jackson, mas Billy se
ergueu e correu até ela.
— Eu posso pôr meu amiguinho na cama, Rochelle. Apenas entregue-o a mim.
— E eu cuidarei de Andy. As duas precisam comer mais — ordenou Leigh,
seguindo Billy para fora da cozinha.
Beth achou graça.
— Adoro ouvir todo o mundo me dizendo para comer mais. É a primeira vez,
em anos, que não tenho de me preocupar em não engordar.
Rochelle sorriu.
— Eu nunca poderia adivinhar uma coisa dessas. Você sempre foi tão linda!
— É por isso que adoro você, minha amiga. Mente muito bem, sabia?
As duas ainda estavam rindo quando Billy e Leigh retornaram e se sentaram.
Rochelle estava relaxada, pensando em quão gostoso tinha sido aquele
almoço.
— Rochelle, quando acabarmos de almoçar, eu adoraria dar uma olhada nos
livros de meu pai — sugeriu Leigh. — Você se importa?
Rochelle franziu a testa. Não vira os livros até então. Estivera observando os
álbuns de fotos dos Nix. E agora Leigh e Beth saberiam daquilo.
CAPÍTULO IX
Edward desmontou da sela com um suspiro de satisfação. Depois de um bom
dia de trabalho em um lugar que amava, voltava para casa, para sua família.
Não se sentia daquela maneira desde o acidente. Um elixir que anunciava que
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tudo estava certo no mundo.
— Eu cuidarei de seu cavalo, chefe. Entre — ofereceu-se um de seus caubóis.
Aquilo era tentador, porque queria muito ver Rochelle e Andy, mas assim
mesmo recusou:
— Obrigado, mas posso cuidar do velho Gus.
Quando todas as tarefas tinham sido concluídas, Edward se dirigiu, enfim, à
residência. Havia definido planos para aquela noite. Iria explicar a Rochelle o futuro
que planejara para os dois... não, não. Para os três.
Mas antes mesmo que entrasse, teve a certeza de que precisaria esperar para
revelar os planos a ela. Avistou o carro de sua irmã estacionado na entrada dos
fundos. “Quer dizer que mamãe e Beth vieram para uma visita...” Porém, assim que
fossem embora, tudo voltaria ao normal. A menos que tivessem deixado Rochelle
exausta. Ela estava muito fraca e se esforçando muito.
Edward apressou o passo e então ouviu outro veículo. Visitas para aquela
ocasião não era bem o que tinha em mente.
— Ei, Edward! — Joe o chamou, sorrindo, estacionou e aproximou-se.
— Olá, pai. Olá Jack.
Joe arqueou as sobrancelhas.
— Parece que não somos muito bem-vindos.
— Claro que são, pai! É que eu não sabia que viriam.
— Tinha outros planos?
— Não, imagine. Estou acabando de chegar da lida e preciso tomar um banho
antes de entreter os visitantes. Diferente de Jack, não trabalho com papelada limpa
o dia todo.
Jack meneou a cabeça, aceitando a brincadeira.
— Não tem ideia de quanto é duro o serviço de advogado, Edward. Alguns
daqueles papéis fedem. No mínimo pelo que está escrito neles.
Alcançaram a varanda.
— Vamos entrar.
Billy e Leigh se encontravam na cozinha, e, quando ela os viu, largou a colher
que lavava dentro da pia e correu para abraçar o marido.
Edward recuou quando Leigh se aproximou.
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— Tenho de tomar banho, mamãe.
— Bem, então não demore. O jantar estará pronto em meia hora. — Abraçou
Jack e voltou para o fogão.
— Onde está Rochelle? — Edward quis saber.
— E Beth? — acrescentou Jack, parecendo um pouco perdido.
— Insisti para que as duas se deitassem e descansassem enquanto os bebês
dormem. Vamos acordá-las daqui a pouco.
— Acordarei Beth agora mesmo — decidiu Jack, indo em direção à porta. —
Em que quarto ela está?
Depois que Leigh lhe informou onde achar a esposa, Jack desapareceu.
— Edward, não vai tomar banho?
— Sim, estou indo, mãe.
— Você tem meia hora, lembre-se.
Mas ele esqueceu a pressa assim que fechou a porta atrás de si.
Em vez de subir a escada, olhou pelo corredor, onde ficavam os quartos de
Rochelle e de Andréa, e deu um passo naquele sentido. Então deteve-se.
De repente, imaginou Andréa com três ou quatro anos, aprendendo com o pai
sobre cavalos, enquanto ele a conduzia em cima de um potro pelo curral. Eles
tinham fotos de Beth daquele jeito.
Nutrido por aquela imagem do futuro, virou-se e subiu a escada. Depois do
banho, daria uma olhada em Andy. Queria muito ir ver Rochelle também, mas não
poderia.
Quando desceu, quinze minutos depois, foi até os aposentos de Andy, mas o
encontrou vazio. Seguindo pelo corredor, encostou a orelha na porta do quarto de
Rochelle. A voz doce conversando com o bebê confirmou sua suspeita. Andy estava
jantando.
Rememorou as noites na cama de Rochelle, aquela mesma entonação suave a
envolvê-lo, invadindo-lhe a alma. Aqueles tons baixos e musicais o seduziam tanto
quanto o corpo dela.
E fariam isso de novo. Assim que lhe contasse sobre sua decisão. Não
poderiam fazer sexo por enquanto. Edward se lembrou de quando Merilee dera à luz.
Ela não apenas quisera mais tempo do que o exigido pelo médico, como também não
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o aceitara em seu leito.
Joe saiu da cozinha e gritou:
— Edward, o jantar está servido!
Edward teve um sobressalto, tentando disfarçar o que estava fazendo.
— Ah, estou aqui, pai. Queria ver Andy.
— Sei. Nós ouvimos Andy, e Leigh foi pegá-la. Rochelle disse que estariam
aqui assim que acabasse de amamentar.
— Certo. Já vou indo. — Como se tivesse escolha... Era embaraçoso ter sido
pego naquelas circunstâncias.
Notou, ao voltar para a cozinha, que Beth, com Jackson nos braços, havia se
juntado à família. Cumprimentou a irmã e acariciou a cabecinha do sobrinho. Era
um menino bonito, mas Andy também era linda, decidiu, com orgulho.
— Rochelle já está pronta? — perguntou Leigh, ao colocar uma travessa de
bifes na mesa.
— Acho que não. E não quis perturbá-la, por isso não bati na porta do quarto.
— Vou lá ver. Oh, Edward, nós temos uma agradável surpresa para depois do
jantar. — E então, se foi.
Edward franziu a testa.
— Do que ela está falando, Billy? De alguma sobremesa nova?
O caubói não o encarou, fingindo estar muito ocupado no fogão.
— Hum... não.
Seu cozinheiro era um homem bom, sincero, justo. O que estava acontecendo,
portanto?
— Beth, a que mamãe está sé referindo?
— Não posso dizer. Se eu falasse, não seria mais surpresa. — Ela também não
o olhou nos olhos, mantendo-os fixos no filho.
Será que ele estava reagindo com exagero? Poderia Billy estar tão ocupado
para olhá-lo? Jackson demandava tanta atenção assim da mãe?
Edward ouviu passos vindos do corredor, e Leigh e Rochelle, com Andréa no
colo, entraram. Correu para o lado de Rochelle para tocar a filha. Seus olhinhos
estavam abertos, e ele juraria que Andy o observava.
Pelo menos alguém o fazia, porque Rochelle também não o encarou.
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O apetite de Edward, em geral enorme depois de horas sobre uma sela,
desapareceu. Leigh estava feliz e falante. Rochelle, num mutismo absoluto.
Alguma coisa não ia bem. Teria Leigh ferido os sentimentos de Rochelle?
Rochelle estaria fugindo de novo? O que acontecera?
Não podia perceber nenhuma resposta.
— Billy, posso tomar mais um pouco de chá gelado? — Rochelle pediu.
Ela ainda segurava Andy, apesar de Leigh ter se oferecido para pegá-la.
Billy saiu da mesa e apanhou a jarra de chá de cima do balcão.
Edward aproveitou a oportunidade para insistir em segurar Andy.
— Eu fico com ela enquanto você acaba de jantar, Rochelle. Já terminei.
Rochelle deu uma olhada para o prato dele e depois o fitou, pela primeira vez
desde que Edward chegara em casa.
— Você não comeu nada. — E entregou-lhe a menina.
— Acho que é porque estou muito ansioso com a surpresa de mamãe.
Rochelle empalideceu e pareceu triste.
— Rochelle, o que houve? Está com alguma dor? Quer que eu chame Steve? —
indagou Edward, inclinando-se para ela.
Sem uma palavra, com uma mão cobrindo a boca, Rochelle saiu correndo.
Edward, perplexo, pulou da cadeira para segui-la, o bebê ainda nos braços.
— Edward, espere! — Leigh ordenou. Ele se virou.
— Por quê? O que aconteceu? Você magoou Rochelle?
— Ela... não está magoada. Tudo ficará bem.
— Mamãe — disse Beth, com suavidade. — Não acho que deveríamos...
O maxilar de Leigh se contraiu.
— Eu o farei, filha. É importante. — Joe estudava a esposa.
— O que está fazendo, Leigh? Vai interferir de novo?
— Faço o que tem de ser feito, Joe Nix!
Edward, em pé, segurando sua filha, tentava decidir se deveria ir atrás de
Rochelle primeiro ou tentar entender o que estava acontecendo, quando a porta da
cozinha se abriu de novo e Rochelle entrou.
— Eu... voltei para pegar Andy. Terminei de jantar, então...
— Por que você não me conta por que está aborrecida? — Edward não
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estendeu a criança para ela. — O que minha mãe fez para incomodá-la?
Rochelle tinha vontade de sumir. Tudo estava indo muito mal. E era sua
culpa.
Confessara a Leigh e a Beth que tinha encontrado os álbuns e que vira as
fotografias. Em vez de raiva, deparara com o entusiasmo das duas, que ficaram
ansiosas para ver os retratos também.
Rochelle ficara contente e compartilhara, feliz, aquele tesouro que descobrira.
Leigh e Beth, então, contaram-lhe várias histórias sobre a família. Até mesmo as
fotos do casamento de Edward com a bela Merilee, e algumas dos dois juntos com o
lindo garotinho nos braços, foram comentadas.
Rochelle mostrara a Leigh a pilha de fotografias soltas tiradas no último ano,
antes do acidente, e perguntara se Edward se importaria se ela as colocasse no
álbum, assim não estragariam.
Leigh achara uma boa ideia, e as três tinham passado a tarde fazendo aquilo.
Rochelle sabia que Edward não apreciaria tal atitude, agora, mas em alguns anos
talvez viesse a aprovar. Álbuns de família eram um tesouro precioso.
Em seguida, Leigh tivera uma ideia terrível. Ela e Beth ficariam para jantar,
chamariam os maridos e todos juntos veriam os retratos.
Só de pensar na ira de Edward, Rochelle sentira-se arrasada. Ela protestara,
implorara para não fazerem aquilo. Mas Leigh estava irredutível. Edward precisava
encarar o passado para poder construir um futuro.
— Não é natural ficar de luto tanto tempo quanto Edward. Merilee era uma
boa moça, mas tinha seus defeitos, como qualquer pessoa. Edward a transformou
em uma santa.
Beth tentara intervir:
— Sei que está certa, mamãe, mas acha que esta é uma noite propícia para
isso? Edward não vai gostar.
— Creio que chegou a hora de meu filho encarar o passado. Hoje,
conversaremos sobre o doce garotinho e sobre a felicidade que eles compartilharam.
Então Leigh deixara Rochelle e Beth e fora para a cozinha consultar Billy
sobre o jantar. Rochelle cobrira o rosto.
— Seu irmão vai me odiar ainda mais depois disso!
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— Oh, Rochelle, ele não a odeia!
Rochelle baixara as mãos, a expressão trágica. Então, sussurrou:
— Edward detesta o que fiz a ele. Não queria outro filho, nem uma nova
família.
Beth tomara-lhe a mão.
— Talvez meu irmão não saiba o que realmente quer. Pode ser que mamãe
tenha razão.
Após ouvir as palavras de Beth, uma pequena chama de esperança se
acendera no coração de Rochelle. Mas agora, antes mesmo de descobrir o que iria
acontecer, Edward já estava bravo. A mãe dele se enganara. Rochelle queria sumir
dali.
Mas não sem seu bebê.
— Eu quero Andy. — Rochelle o encarou.
— Poderá pegá-la depois que me contar o que está havendo.
— Você não pode mantê-la como refém!
Antes que Edward pudesse replicar, Joe se ergueu.
— Filho, deixe Rochelle levar o bebê. Sua mãe nos contará o que está
acontecendo, não é, Leigh?
Uma vez que aquilo soou mais como ordem do que como sugestão, Rochelle
não se surpreendeu quando Leigh assentiu.
— Sim, ficarei feliz em contar-lhes. Billy, vamos tirar a mesa. Podemos comer
a sobremesa depois. Então, mostrarei a surpresa para vocês. — Fez uma pausa e
olhou para Rochelle. — Poderia ficar, querida? Eu gostaria muito.
Rochelle concordou, sabendo que não tinha escolha. Se não tivesse se metido
onde não fora chamada e se mantivesse apenas olhado os livros, nada daquilo
estaria acontecendo. Por isso, era justo que permanecesse ali para ser o alvo da
zanga de Edward.
Assim, sentou-se e acomodou Andréa no colo.
Edward sabia que algo estava errado. E tinha uma terrível sensação de que
não gostaria da tal surpresa. Rochelle estava pálida, e ele suspeitava que ela
passara mal depois da refeição, quando fora correndo para o quarto.
Naquele momento, apesar de parecer sob controle, o rosto continuava branco,
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e ela se recusava a encarar qualquer um deles.
Toda a atenção de Rochelle se concentrava em Andy, que estava quase
adormecida.
Billy tirou a louça, e ele e Leigh deixaram o recinto com instruções para que
todos permanecessem lá.
Edward viu Jack e Beth cochichando. Em seguida, um semblante alarmado
instalou-se nas feições de Jack, e seu olhar voou para Edward antes de se desviar,
rápido.
Edward enrijeceu os ombros. Fosse o que fosse, não traria satisfação.
Conhecia Jack, confiava em seu julgamento. O fato de o cunhado ter pensado que
aquela surpresa seria um desastre horrorizou Edward.
Leigh retornou carregando três álbuns grandes e os colocou diante deles. Billy
carregava cinco.
— Hoje, Beth, Rochelle e eu passamos uma tarde maravilhosa vendo estes
álbuns de família. Pensei que seria divertido se todos vocês compartilhassem
também. Lembra-se, Edward, de quando caiu naquela poça de lama e eu peguei a
câmera e bati uma foto? É muito engraçada!
Edward franziu a testa, incapaz de acreditar que sua mãe estava fazendo
aquilo com ele. Todo mundo assistia.
Rochelle permanecia sentada a seu lado, segurando a filha dele. Seu segundo
filho. E sua mãe queria que visse as fotografias de seu primeiro filho e de sua amada
esposa.
Ele se levantou.
— Não! — protestou com dureza, rouco de emoção. — Não posso fazer isso.
— Joe? — Leigh suplicou pelo marido, enquanto bloqueava, com o corpo, a
saída da cozinha.
Joe fitou a esposa e voltou o olhar para o filho. Edward viu o amor e a preocu-
pação estampados no rosto dele. Seus pais tinham sido maravilhosos quando o
acidente acontecera. Ficaram com ele e o ajudaram a superar a agonia. E Edward os
respeitava muito.
Mas não poderia fazer aquilo.
— Filho, acho que sua mãe tem razão. Você está se escondendo da vida mais
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do que devia.
Edward sentiu-se traído. Não podia acreditar que Joe pensasse que aquela
tortura poderia surtir bom efeito.
— Não! Vocês não podem esperar que eu... que eu...
— Volte a viver? — completou Joe, sem desfitá-lo. — Já tem se sacrificado por
muitos anos. Agora ganhou a grande chance para recomeçar.
— Não! — Edward tornou a gritar, cada vez mais alto. — Não quero experi-
mentar aquela agonia outra vez. Não posso... não posso fazer isso!
Embora estivesse se sentindo um covarde, conhecia seus limites. Então, abriu
a porta dos fundos e saiu da casa.
Rochielle ficou sentada, cabisbaixa, com lágrimas escorrendo pelas faces. Já
sabia que Edward ficaria magoado, e deixara que acontecesse. Tinha causado
aquilo. Edward nunca a perdoaria.
Mas então, nunca a perdoaria por Andy também. Ela abraçou seu bebê mais
forte contra o peito. Edward podia se lamentar sobre o nascimento da filha, mas
Rochelle jamais o faria.
Levantou-se da mesa e andou em direção à saída. Mas Leigh ainda
permanecia parada lá, e pousou as mãos no ombro dela.
— Querida, não chore. Por favor, não faça isso — implorou, abraçando-a.
Rochelle jamais esperara sentir um toque materno de Leigh Nix. Mas era
exatamente o que estava recebendo. Aquilo a espantou. Olhou para a mãe de
Edward, num misto de gratidão e sofrimento.
— Desculpe-me, sra. Nix.
Joe deu a volta na mesa ao ouvir o que ela disse.
— Pelo que está se desculpando, Rochelle?
— Foi minha culpa. Eu não deveria ter visto os álbuns, mas... é que eu nunca
tive... Sem termos familiares, não existe muita necessidade de álbuns. Se eu não os
tivesse olhado, isso... — Apoiou-se no tampo. — ...isso não teria acontecido. Edward
não estaria nervoso.
Joe a tirou dos braços de Leigh e a puxou para si, com delicadeza.
— Nada disso é culpa sua. Não fez nada de mal, Rochelle. Você nos deu uma
neta linda e a está compartilhando conosco.
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Rochelle suspirou contra o peito dele e desejou que pudesse sentir aqueles
braços protetores para sempre. Devia ser aquilo o que uma criança sentia quando o
pai a consolava. Com o pai ao lado, um filho sabe que pode conquistar o mundo
todo. Uma sensação que Andy nunca teria.
Não poderia entregar-se àquele sentimento. Assim, afastou-se devagar,
falando:
— Tenho de ir. Edward não vai querer me ver aqui quando voltar.
Todos ali protestaram, mas Rochelle não poderia encarar Edward de novo.
Balançando a cabeça e abraçando Andréa, nem tentou argumentar com eles.
Afastou-se dali e foi para seu quarto.
Edward estava em pé, no curral, apoiado na cerca, cheio de tristeza. Como sua
família pudera ser tão cruel? Eles o tinham ajudado quando Merilee e Edward
Júnior morreram. Por que agora se colocavam contra ele?
— Sentindo pena de si mesmo? — Joe chegara perto, sem fazer ruído algum.
Edward virou-se em sobressalto, quase perdendo o equilíbrio.
— Vocês não me torturaram o suficiente?!
— Sim, ver fotos é a última palavra em termos de tortura, nos dias de hoje.
— Está zombando de mim? Melhor pegar uma faca e me dar uma punhalada.
Deixe-me morrer!
— Certo.
Edward o fitou. O que havia com seu pai aquela noite? Será que
enlouquecera?
— E nós manteremos os olhos bem abertos em Rochelle e Andy — Joe
acrescentou.
Edward levantou o rosto, de repente. Não pensara sobre Rochelle e Andy.
Admitiu que estava apenas pensando em si mesmo. Em sua perda. Em sua própria
dor.
— Eu cuidarei delas — afirmou, com frieza, sem demonstrar emoção. Nãoò ia
contar ao pai o quanto ele o magoara.
— Acho que não, Edward... — Joe deu de ombros. — Parece que Rochelle se
culpa pelo que aconteceu hoje e está lá dentro fazendo as malas.
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CAPÍTULO X
Edward virou-se depressa, pronto para voltar à residência e impedir a partida
de Rochelle. Desta vez seria mais severo. Ela estava sendo ridícula.
Joe segurou-lhe o braço.
— Aonde vai?
— Deter Rochelle. Ela ainda não está boa para assumir a vida sozinha.
Qualquer um pode ver isso!
— Então você vai entrar lá e informá-la de que não pode partir?
— Isso mesmo.
— O que lhe dá o direito de mantê-la aqui? — Edward não gostou da questão
do pai.
— Eu sou o pai de Andy, lembra-se?
— Mas não é o marido dela. Jack disse que você terá de ir à justiça para
requerer o direito a visitas se Rochelle quiser dificultar as coisas.
— Rochelle não faria... Ora! Não importa. Nós vamos nos casar. Eu ia propor
isso a ela esta noite. Se vocês não tivessem interferido, tudo estaria ajeitado agora.
— Ouviu a própria agressividade em sua entonação e se sentiu envergonhado. — Eu
não quis dizer que vocês não foram bem-vindos, mas pretendia me responsabilizar.
Joe pôs a mão no ombro dele.
— Filho, não duvidamos nem por um minuto de que você se responsabilizaria.
Aquele sentimento deveria ter sido bom, mas algo não estava certo.
— Se confiassem em mim, por que fariam o que fizeram hoje, papai?
— Trata-se de sua felicidade.
— Sobre o que está falando?
— Você tem mantido esse luto por Meriiee e seu filho por muito tempo. Isso é
compreensível, foi uma perda pavorosa. Mas precisa superar isso, se quiser ser feliz.
— Já lhe falei que vou me casar com ela! — retrucou Edward, irritado.
— Quando propôs casamento a Merileef você lhe deu ordens?
A pergunta de Joe não fazia sentido.
— Evidente que não! Ela era muito decidida e não iria se submeter a ninguém,
— Edward recordava-se da noite em que a pedira em casamento e de como Meriiee
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sorrira.
— O que o faz pensar que Rochelle é menos merecedora de uma proposta de
casamento de verdade?
— Isso é diferente! — Edward gostava cada vez menos do que estava ouvindo.
— Como?
— Há um bebê envolvido, papai. Rochelle não deveria ter dado à luz por conta
própria.
— Concordo. E sei que você se ofereceu para sustentar a criança. Mas
Rochelle parece ser independente. Decerto porque só pôde contar consigo mesma
desde a infância. Sendo assim, duvido que aceite uma exigência para se casar.
— Ela aceitará. Família é muito importante para Rochelle. Além disso, quer o
melhor para Andy. É lógico que vai aceitar.
As palavras de Joe estavam destruindo sua confiança.
Mas Edward planejara tudo. Daria certo, sem dúvida. Seu pai devia estar
enganado.
— Rochelle vai ficar agradecida, papai. E irei falar com ela agora mesmo. —
Edward se liberou das mãos de Joe e se encaminhou para a casa.
Joe Nix ficou ali, na escuridão noturna, rindo de tanta tolice. Não achava que
a aproximação do filho fosse ter êxito, mas pela primeira vez em anos, Joe esperava
estar errado.
Tanto Leigh como Beth tentaram convencer Rochelle a não partir.
— Apreciei muito o apoio que vocês me deram, mas estou mais forte e acredito
que é muito importante que eu saia do caminho de Edward.
Leigh abriu a boca para contestar, porém, Rochelle ergueu uma mão.
— Acredito que isso é importante também para Andy. Não permitirei que
minha filha seja mais uma derrota no coração do pai dela.
— Tenho certeza de que ele amará a filha — Leigh afirmou, angustiada.
Rochelle tentou sorrir, mas foi difícil.
— Nós ficaremos bem. Economizei dinheiro bastante para cuidar dela,
sobretudo depois que Edward pagou todas as minhas contas de hospital e médico.
Não tinha muitas coisas para arrumar, pois não usara mais do que algumas
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camisolas e o robe, desde que voltara. Na verdade, aquele era o primeiro dia em que
se vestira.
— Acho que isso é tudo. Se vocês crêem que Edward não se importará, levarei
estes pacotes de fraldas descartáveis comigo.
— Leve tudo o que precisar, minha filha. E eu levarei comida para você
amanhã e alguns pacotes de fraldas a mais.
— Sra. Nix, não quero causar problemas entre vocês e Edward. Ficarei bem,
juro.
— Sim, você ficará, porque eu estarei por perto para me certificar disso. E me
chame de Leigh.
— Tem certeza de que não se importa de me levar até a cidade?
— Jack e eu a levaremos. Mamãe e papai ficarão com Jackson.
— Beth, quer mesmo fazer isso. Não está cansada?
— Estou ótima. A única coisa que não está bem é saber que meu irmão está
tão cego que não consegue ver o que está perdendo.
Rochelle a abraçou.
— Não é culpa de Edward se não nos ama, Beth. Não fique com raiva dele.
A porta do quarto se abriu e Edward entrou.
— Rochelle, você não vai embora.
Para surpresa de Rochelle, Leigh se meteu entre ela e o filho.
— Essa decisão pertence a ela, Edward. Não pode mantê-Ia aqui como
prisioneira.
Edward franziu o cenho.
— Rochelle não é prisioneira! Só não há necessidade de partir. Nós vamos nos
casar.
Rochelle quase desmaiou. Então, grossas lágrimas toldaram-lhe a visão.
Aquele era seu sonho sendo servido de bandeja. Tudo o que precisava fazer era dizer
“sim”, e então teria uma família para si e para Andy. Um pai para sua menininha.
Entretanto, precisava recusar, porque a oferta não tinha substância. Edward
não as amava, nem mesmo as queria. Não esquecera Merilee e Edward Júnior, os
verdadeiros donos de seu coração.
— Nós nos casaremos assim que você estiver pronta, Rochelle. Por mim, pode
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 94 -
ser na semana que vem, mas se preferir esperar para fazer uma grande festa,
concordarei.
— Não. — Com toda a calma, apanhou uma das malas que arrumara.
— Não carregue isso, Rochelle, deixe que Jack o faça — sugeriu Beth.
— O que quer dizer com “não”? — questionou Edward.
— Não posso aceitar, Edward. Beth, poderia chamar Jack, por favor? Estarei
pronta para ir assim que pegar Andy do berço.
Edward bloqueou a saída.
— Pensei que era casamento o que queria. Nós seremos uma família. Você
afirmou que sentia falta de pertencer a um lar.
O pranto rolou pelo rosto de Rochelle. Estava encarando um homem teimoso,
que se negava a ser honesto com ela e consigo mesmo. Se não deixasse tudo esclare-
cido, teria Edward à soleira de seu apartamento na manhã seguinte. E queria
acabar com aquele sofrimento de uma vez.
— Por que está me oferecendo casamento, Edward?
— Essa é uma pergunta tola. Nós temos uma filha.
Beth suspirou, e Rochelle teve vontade de fazer o mesmo. Era bom que tivesse
se dado conta de como Edward se sentia.
— O matrimónio é mais do que responsabilidade. Não pretendo esconder Andy
de você. Mas não me casarei sem amor, nem mesmo por ela. Eu já sabia que você
não a queria. E não lhe contei sobre a gravidez porque tive medo que insistisse em
um aborto.
Todo mundo se sobressaltou, exceto Rochelle.
— Quando tomei essa decisão, sabia muito bem que significava que eu teria
de ser responsável por minha filha. E prometo que Andy será feliz. Você não tem de
se preocupar.
Tentou passar por ele, mas Edward a segurou pelo pulso.
— Está sendo ridícula, Rochelle! Nós podemos fazer isso. Porque eu amo...
Porque fui casado antes não significa que não posso me casar de novo.
Rochelle observou aquele homem bonito e bom, parado a sua frente. Amava-o
muito, mas ele não sentia nada por ela, e uma união nesses termos não daria certo.
— Espero que você se case de novo um dia, Edward, quando encontrar alguém
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 95 -
que possa amar. Mas, antes disso, eu não o aconselharia. Agora, se me dá licença,
estou cansada.
A expressão de incredulidade dele fez com que Rochelle tivesse vontade de
abraçá-lo e assegurar-lhe que faria qualquer coisa que ele quisesse. Mas não podia.
— Edward?
Ele fitou Leigh como se não soubesse quem era. Rochelle aproveitou a
oportunidade para passar por Edward e chegar ao corredor.
Andy dormia, embrulhada em seu pequeno cobertor cor-de-rosa. Rochelle
pegou a filha e a cobriu com uma colcha maior. Em seguida, pegou a sacola de
fraldas e se virou.
Edward, parado à porta, a observava.
— Não a leve embora — pediu, com extrema delicadeza.
— Tenho de levá-la, Edward. Andy não pode crescer competindo com um
fantasma. Ela não é aquele seu belo garotinho, mas é um bebê lindo também. O
meu bebê, e quero que Andy saiba disso.
— É minha filha, também!
— Apenas se quiser que ela seja. Terá de decidir isso, Edward, mas não a
manterei longe de você. Se quiser vê-la, sabe onde moro.
Pelo menos por enquanto. Rochelle sabia que precisaria se mudar assim que
pudesse, ou sofreria maiores danos sentimentais.
Passou por Edward, e Leigh pegou a sacola de fraldas da mão dela. Beth tinha
ido chamar Jack na cozinha, e eles vinham entrando de volta ao quarto.
— Pronta? — murmurou Beth, olhando dela para o irmão.
Rochelle assentiu e foi para a cozinha. Lá, emocionou-se ao se despedir de
Billy e Joe, que retornara.
— Avise-me se precisar de qualquer coisa, Rochelle.
— Obrigada, sr. Nix, mas eu ficarei bem.
Então, saiu, apressada, deixando para trás o único homem que amara.
De repente, a casa que estivera cheia ficou triste e vazia.
Billy ainda estava lá, mas em absoluta quietude. Edward percebeu que, até
mesmo se seus parentes tivessem ficado, ainda assim o lar pareceria deserto sem
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Rochelle e Andy.
O que iria fazer?
— Quer um pedaço da sobremesa que sua mãe preparou? — perguntou Billy,
de costas para ele, a voz embargada.
Edward o olhou como se ele estivesse louco.
— Claro que não! Eu disse que me casaria! O que há de ruim nisso? Era o que
Rochelle queria quando falou comigo, em outubro. E agora que concordei, ela vai
embora? Aquela mulher tem um parafuso a menos na cabeça!
Billy, que colocava os pratos na máquina de lavar louça, se virou para encarar
o patrão:
— Eu não sabia que você era tão estúpido! — E o caubói se afastou, pisando
duro.
Edward escutou-o bater com violência a porta do quarto, alguns segundos
depois.
Todo mundo o culpava pela saída de Rochelle. Mas que coisa! Aquela fora uma
decisão dela. Ele não queria que tivesse ido. Prometera que iriam se casar, e a
teimosa jogara aquela oportunidade fora.
As palavras de seu pai ressoaram na memória. Certo, ele não fizera uma
proposta de casamento real. Não se declarara à luz do luar, nem lhe oferecera um
anel de noivado. Mas será que ninguém via que as circunstâncias eram diferentes?
Eles tinham um bebê! A pequena e doce Andy precisava de alguém para cuidar dela!
Edward começou a andar de lá para cá, pensando sobre os eventos daquela
noite, tentando achar uma forma de fazer seus planos funcionarem. Pensou no
quanto estivera feliz quando voltara para casa, aquele dia. De quão certo estivera de
encontrar a felicidade outra vez.
Dera-se conta de que Merilee o entenderia. Ela e Edward Júnior aceitariam
sua atitude, por saber que ainda eram os primeiros em seu coração. Mas precisava
assumir a responsabilidade.
E, casado com Rochelle, não poderia se recusar a compartilhar a cama com
ela. Merilee não esperaria aquilo dele. Afinal de contas, um homem tinha certas
necessidades. E Rochelle seria sua mulher.
Por que Rochelle resolvera causar tanta dificuldade? Por que estava
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arruinando tudo?
Não encontrou respostas. Assim, continuou andando.
Quando Billy entrou na cozinha, na manhã seguinte, descobriu que Edward
ainda estava lá, sentado, com a cabeça apoiada nos braços cruzados sobre o tampo.
— Não foi dormir, é? — O eaubóí ainda sentia raiva do chefe por causa de
Rochelle e do bebê, mas o amor por ele era maior que tudo.
Edward ergueu o rosto e pestanejou.
— Que horas são?
— Cinco e meia. Quer o desjejum?
Edward passou as mãos por entre os cabelos, esperando conter as batidas nas
têmporas. Armara uma estratégia, durante a madrugada. Qual era mesmo?
Ah, sim! Iria procurar Rochelle e explicar quão tola era fora. E iria propor
casamento de novo. Não explicara aquilo direito. Ela, sem dúvida, pensou que ele
pretendia tratá-la como irmã. Mas estava enganada. Porém, ainda era muito cedo
para ir vê-la.
— Vou dormir um pouco, Billy. Acorde-me às oito. Então, tomarei o café.
Não queria contar sua decisão a Billy. O velho caubói estava do lado de
Rochelle.
Além do mais, ele era o chefe. Poderia tomar o café a hora que bem
entendesse.
— Telefone para Baxter e informe que não vou trabalhar hoje.
Baxter e os caubóis poderiam se arranjar sozinhos. Seu capataz era um
sujeita eficiente.
— Certo. — Billy o encarou, e Edward não pôde aguentar o olhar de acusação
que viu ali.
— Estarei em meu quarto.
Billy nada disse. Mas, mesmo depois de Edward se afastar, permaneceu
parado ali, mãos na cintura, sentindo no peito uma grande tristeza,
Rochelle não acordou até que Andy choramingou, às oito. O bebê estava
estabelecendo uma rotina que tornava o planejamento mais fácil. A cada quatro
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horas acordava para mamar.
Levantando-se, correu para o quarto da menina.
— Bom dia, docinho. Mamãe está aqui.
Mamãe e ninguém mais. Sentia falta de ter sempre alguém por perto para dar-
lhe uma mão, para passar-lhe segurança. Para pedir socorro, se viesse a precisar.
Mas endireitou os ombros, determinada a assumir sua decisão.
— Pronta para trocar a fralda, meu anjo?
Rochelle trocou Andy e depois sentou-se com ela na cadeira de balanço que
comprara em uma loja de móveis usados, quando descobrira estar grávida.
Só depois de Andy estar alimentada e de volta ao berço, Rochelle foi tomar
café. Encontrou uma caixa de torradas pela metade em seu armário, na cozinha.
Precisaria ir às compras, com urgência.
Estava tomando seu parco desjejum quando ouviu a campainha. Nem mesmo
tinha vestido o robe. Pelo menos tinha certeza de que não era Edward, mas não
queria que ninguém a visse daquele jeito, com os cabelos despenteados e apenas de
camisola.
— Um minuto, por favor! — E correu para o quarto. Vestiu o robe, passou
uma escova nos cabelos e perguntou, com a porta fechada. — Quem é?
— Leigh e Joe.
Rochelle os atendeu, e eles entraram. Os dois vinham carregados de sacolas
de supermercado.
— O que vocês... — Rochelle começou a falar, mas Leigh, seguida por Joe, foi
direto para a cozinha.
Quando ela os alcançou, Leigh começara a abastecer a despensa.
— Não precisavam ter feito compras para mim. — Rochelle ficara embaraçada
por tanta generosidade.
— Eu sabia que você não devia ter nem ao menos leite aqui, Rochelle, e decidi
cuidar disso. — Leigh esboçou um sorriso tão luminoso que a desarmou. — Como
vai, querida?
— Estou bem, sr. Nix. Andy está no berço, mas creio que ainda está acordada,
se quiserem vê-la.
— Oh, Joe, vá pegá-la e traga-a aqui, enquanto preparo algo bem gostoso para
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Rochelle. — Então, Leigh olhou para ela. — Se você me permite, lógico.
— Não me incomodo que você venha aqui para ver Andy, mas acabei de
preparar meu desjejum.
Leigh observou a pequena mesa na sala de jantar.
— Aquilo não é o bastante para quem está amamentando, meu amor. Além do
mais, Joe e eu ainda não comemos nada. Portanto, sente-se, e eu preparei o café
para todos, certo?
Joe voltou trazendo Andréa, todo sorridente. Rochelle não podia deixar de
sorrir também. Adorava carinhos com sua filha.
— Joe e Rochelle, vão se sentar. Ela não deve ficar em pé, querido, se
agitando. — Leigh abriu uma caixa de ovos e pegou uma bacia para batê-los.
— Vamos, meu bem. Nós podemos nos sentar à mesa. Tome seu chá,
enquanto esperamos pelo prato suculento que Leigh vai fazer.
Em instantes, Leigh colocava uma travessa com ovos mexidos diante deles.
Rochelle ia protestar, mas Joe interveio:
— Cuidar de você a faz se sentir melhor, Rochelle, se isso não a incomodar...
— Não me incomoda, de maneira alguma, mas não é necessário. Voltar para
casa foi uma decisão minha. — Não queria que eles se sentissem culpados por ela e
por Andy, assim como não queria que Edward se sentisse responsável.
Mas, como eles já estavam lá, aceitou a refeição, dando-se conta de que já
estava cansada. Talvez por não ter dormido bem. Edward não era o único que estava
de luto.
— Foi um belo café da manhã, Leigh, e obrigada pelas compras — agradeceu
Rochelle, depois que eles se deliciaram com os quitutes bem feitos. — Mas não
precisam se preocupar, e muito menos achar que têm obrigações comigo. Andy e eu
ficaremos bem.
— Sem dúvida ficarão. Contudo, pretendo fazer parte da vida de minha
netinha, se me permitir, Rochelle. E eu considero você como uma filha.
Os olhos de Rochelle se encheram de lágrimas. Que coisa! Prometera que seria
forte.
— Não quero causar transtornos entre vocês e Edward. Nunca impediria o
contato de vocês com Andy. Mas acho...
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Joe interrompeu-a:
— Rochelle, nós amamos nosso filho. Todavia, isso não significa que temos de
concordar com a atitude dele. Edward terá de lutar para superar o passado, e, até
que consiga, pretendemos nos certificar de que você está bem.
Rochelle sentiu um nó na garganta.
— Não tentem se convencer de que Edward mudará de ideia, meus queridos.
Seu filho não me ama, e isso não é culpa de Edward. Se existe um culpado, sou eu,
porque dormi com ele mesmo sabendo como se sentia.
Joe se ergueu e começou a tirar a louça.
— Limparemos isto num piscar de olhos. Nesse meio tempo, vá descansar,
certo?
— Nem ouse protestar! — Leigh a encarou. — Faz séculos que não vejo Joe se
oferecer para tirar um prato da mesa, quem dirá lavar a louça toda. Estou
começando a gostar disso!
Depois daquela brincadeira, Rochelle não teve alternativa. Agradecendo,
levantou-se para ir ao quarto. Outro toque da campainha a deteve.
— Será que é Beth? Não deixarei que ela se esforce por minha causa — disse
ela, olhando para Joe e Leigh.
— Rochelle? É Edward!
Os três ficaram imóveis. Então, Joe colocou os pratos que tinha recolhido
sobre a mesa.
— Quer que eu atenda? — o pai de Edward se ofereceu.
Rochelle assentiu, incapaz de falar.
Joe girou a maçaneta.
Edward fitou o pai e olhou por cima do ombro dele para avistar Rochelle e
Leigh.
— O que é que vocês dois estão fazendo aqui? É algum tipo de conspiração
para que eu não consiga falar com Rochelle sozinho?
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CAPÍTULO XI
Joe Nix ignorou o protesto do filho e se voltou para Rochelle:
— Quer convidá-lo para entrar ou vai mandá-lo embora?
Rochelle mordeu o lábio para não rir da expressão ultrajada de Edward.
— Ele pode entrar. Eu lhe falei que poderia vir ver Andy.
— Não estou aqui para ver Andy! Vim para falar com você!
Antes que Rochelle pudesse responder, Leigh agarrou o braço de Joe.
— Estaremos na cozinha lavando a louça, querida. Chame-nos, se precisar.
Uma vez que não havia porta entre a cozinha e a sala de estar, eles não teriam
muita privacidade, o que era ótimo. Um simples relance para Edward fez o coração
de Rochelle desejar confortá-lo. Os olhos dele estavam turvos, o semblante, tenso,
como se estivesse sofrendo.
— Não podemos conversar aqui. Vamos para o quarto. — Edward pegou-a pela
mão.
— Não! Podemos falar baixo, Edward. Além disso, não temos nenhum assunto
a discutir.
— Sim, temos. Você me entendeu mal, ontem à noite. Demorei um pouco para
entender o que estava errado, mas, por fim, consegui.
— Conseguiu? Pensei que eu tivesse lhe explicado.
— E explicou, mas eu sabia que sua recusa tinha um motivo, porque eu
estava lhe oferecendo tudo o que me pedira, em outubro passado. As coisas não
faziam sentido para mim. Mas agora eu compreendo.
Rochelle se afastou. Estava absolutamente certa de que entendia tudo muito
melhor do que Edward. — Então, explique-me.
Ele lançou um olhar frustrado em direção à cozinha. Os dois podiam escutar
os pais conversando, ao lavarem a louça.
— Mas que coisa, Rochelle! Não quero que eles nos ouçam!
— Se você não falar alto, não ouvirão. — Cruzou os braços e esperou.
— Não é o que você pensou. Eu não quis dizer que viveríamos juntos como...
como dois irmãos. — Edward corou, mas manteve o olhar fixo nela.
Rocjielle pestanejou várias vezes, processando aquelas palavras. Edward
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achava que ela... Mas aquela possibilidade nunca lhe ocorrera. Nem mesmo quando
ele terminara com ela, jurando não vê-la nunca mais, sabia que Edward ainda a
desejava. A intimidade deles fora algo incrível. Mesmo sendo inexperiente, Rochelle
sabia disso por causa das reações de Edward.
— Nós combinamos um com o outro, Rochelle. Essa parte nunca foi problema.
Quero dizer, ninguém pode condenar o fato de eu ter um... relacionamento. Eu sou
homem, e homens necessitam... Você sabe.
— De sexo?— perguntou ela, apenas para irritá-lo.
— Psiu! — Edward fitou, nervoso, a cozinha.
— Seus pais sabem que nós fizemos sexo, Edward. Caso contrário, Andy não
estaria entre nós agora.
— Eu sei disso! — retrucou ele, aborrecido.
Rochelle viu Joe virar-se para olhar para ela, mas Rochelle lhe enviou um
sorriso que o fez retornar aos pratos.
— Significa que agora que você entende: nós podemos nos casar. — Edward se
aproximou dela.
— Não.
A curta resposta o irritou ainda mais, mas chegou mais perto.
— Não tente me convencer de que não gostava do que fazíamos, Rochelle
Davenport!
Embora ela estivesse sem graça, empinou o queixo.
— Não, eu não negaria isso. Mas, na época, estava apaixonada por você.
— Estava? — Edward franziu o cenho.
Ele queria a verdade. Por que não? Aquilo não faria nenhuma diferença.
— Certo, eu sou apaixonada por você.
Sorrindo, Edward alcançou a mão de Rochelle.
— Otimo. Então, está tudo certo.
— Não.
— Pare de dizer isso! — Edward deu vários passos pela sala e retornou. — Por
que não?
— Porque você não me ama. E não ama Andy. Já lhe expliquei que ela não
pode competir com um fantasma. Bem, e eu também não tenho a menor intenção de
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 103 -
fazer isso. Estive sozinha desde que nasci, Edward. Ninguém me quis. Mas isso não
significa que nunca serei amada por alguém. Algum dia encontrarei quem possa se
dedicar de corpo e alma a mim e a Andy. Até lá, nós duas estaremos bem, uma com
a outra.
— Quer que eu lhe diga que te amo? Ora, posso muito bem fazer isso. Eu te
amo, Rochelle. Por favor, case-se comigo! Era isso o que queria ouvir?!
Rochelle o encarou. Teria de se mudar mais rápido do que planejara. Edward
a destruiria se ela não se distanciasse.
— Não, isso é o que eu gostaria que você sentisse, Edward. Não apenas da
boca para fora.
Antes que Rochelle pudesse continuar, ele a segurou pelos ombros e a beijou.
Um beijo quente, abrasador, cheio de desejo, que enfraqueceu os joelhos dela.
Rochelle se encostou na parede, esperando não cair ao chão. Um frenesi a
percorria de cima abaixo. Até que Edward a tivesse ensinado, pensara que todas
aquelas conversas sobre sexo haviam sido inventadas. Mas, depois de dois meses
nos braços dele, acreditara na magia de compartilhar um amor. Até que Edward a
informara de que o amor era apenas da parte dela. Mas ainda assim o queria.
— Você está bem, Rochelle? — Joe tocou-lhe o braço. Ela não tinha nem
mesmo ouvido o pai de Edward chegar.
— Sim, sim, estou... Só um pouco cansada.
— Acabamos de lavar a louça — Leigh informou, como se nada estivesse
acontecendo.
— Venha trancar a porta e me prometa que irá direto para a cama.
— Sim, Leigh.
O cérebro de Rochelle parecia ter sido revirado pelo beijo de Edward. Ela não
conseguiu pensar em mais nada para dizer.
Quando caiu no leito, depois de eles terem ido embora, algumas lágrimas
escaparam de seus olhos fechados. Mas não ia se entregar ao desespero. Fizera sua
escolha.
E apenas esperava que Edward aceitasse aquilo.
Billy estava servindo o jantar às oito horas, uma semana depois, quando
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Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 104 -
Edward chegou do trabalho.
Nos últimos sete dias, Edward vinha trabalhando duro e por muitas horas,
recolhendo-se tarde. E, quando chegava, quase nunca comia.
Billy começava a ficar preocupado, achando que seu chefe iria ficar doente
antes que conseguisse resolver as coisas. Emagrecera bastante, e estava com
olheiras profundas.
— Você vai jantar hoje ou apenas remexer no prato, como vem fazendo?
Edward olhou para Billy e mordeu um pedaço de torrada.
Billy se sentou a sua frente e se serviu.
— Baxter veio aqui hoje. — Edward levantou a cabeça.
— Algum problema?
— Sim. E o problema é você. Ele se preocupa com o bem-estar do patrão.
— Que bobagem!
— E todos os outros empregados estão aflitos. Perguntam-se qual o tipo de
doença que você pegou e se é contagiosa.
Edward levou um choque, largou a comida e teve um ataque de nervos:
— Eu os colocarei em seus devidos lugares! — gritou, antes que conseguisse
se controlar.
— Duvido.
Edward o encarou, sem retrucar.
— Olhe, chefe, você está agindo do jeito que agiu depois do acidente. Como se
estivesse mais morto do que vivo. Os cachorros estão ficando gordos com as sobras
de seu jantar. Nada disso é saudável.
— Está tudo bem comigo, Billy. — Edward largou o garfo.
— Precisa comer mais do que isso — Billy protestou, e Edward tornou a
segurar o garfo.
Ficaram à mesa em silêncio, com Edward dando uma garfada de vez em
quando, fitando o vazio.
— Falei com Leigh esta manhã. Beth e Rochelle irão ao médico amanhã.
Edward arregalou os olhos.
— Médico? Por quê?
— Mulheres têm de ir ao médico depois de três semanas após o parto, para ver
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se tudo está correndo bem.
— Ela não está tendo nenhum problema, não é? —-Edward inclinou-se para a
frente.
— Acho que Beth está bem — assegurou Billy, com fingida inocência.
— Billy! Sabe muito bem que estou me referindo a Rochelle!
A satisfação de Billy lhe informou que tinha caído na armadilha do caubói.
— Imagino que tudo esteja em ordem. Rochelle não passou por momentos
fáceis como Beth, você sabe.
— Evidente que sei! A que horas, amanhã?
— Sua mãe não comentou o horário. — Edward deu mais uma garfada para
distraí-lo.
— Mas falou que Andy está crescendo. E que é delicada como um botão de
rosa! — Billy acrescentou com um sorriso.
— O que mais esperaria que dissesse da própria neta? — resmungou Edward,
mas sentiu o coração doer.
Não vira ou falara com Rochelle desde que a beijara. Para mostrar-lhe o que
ela estava perdendo, assegurou a si próprio.
Apesar de que tudo o que conseguira fora torturar a si próprio. Não podia
mais dormir, pensando em Rochelle e desejando que ela estivesse a seu lado.
Querendo segurar Andy e acompanhar de perto seu desenvolvimento.
De novo, afirmou a si mesmo que tudo o que tinha a fazer era dizer a Rochelle
que a amava... E que aquilo fosse verdade. Contar-lhe que mal pensava em Merilee
como sua esposa. E não estava mais em luto fechado por Edward Júnior.
Baixou a cabeça e cerrou as pálpebras.
— Ei, garoto, você adormeceu? Eu odiaria vê-lo enterrar o nariz em meu
rosbife tão especial.
— Não, Billy, eu estava pensando.
O mesmo que vinha fazendo todas as horas, todos os dias. E todas as noites.
Montava na sela e se matava de trabalhar na esperança de chegar em casa exausto
e conseguir dormir, mas aquilo não estava dando certo.
Edward se levantou.
—Você ainda não comeu o suficiente — protestou Billy.
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Mas Edward já alcançara a saída.
— Não esta noite. — Suspirou, com tristeza. Então, foi para o escritório, pegou
o telefone e discou.
— Lambert falando.
— Steve, é Edward.
— Olá, Edward! Como vão as coisas?
— Bem. Gostaria de jantar comigo amanhã?
— Claro. O que está acontecendo?
— Nada. Billy não aguenta mais minha companhia, e pensei em dar-lhe uma
folga indo comer fora.
— Bem pensado. Devo sair do consultório por volta das seis. Que horário é
bom para você?
— Seis e meia? Assim terá um tempo de sobra para qualquer emergência.
— Combinado. Até amanhã.
Edward se sentou no pequeno restaurante e pegou o cardápio. Não que
precisasse. Já comera naquele lugar uma centena de vezes, embora não tivesse
voltado lá depois que rompera com Rochelle, em outubro. Lembranças demais...
Passou os olhos pelo menu certificando-se de que não havia nenhuma
alteração. Em seguida, fechou-o e olhou para a porta de entrada, esperando por
Steve.
Leigh teria lhe contado o que ele queria saber, mas não iria perguntar à mãe.
Não queria que Rochelle soubesse que estava preocupado com sua saúde. Não lhe
daria aquela satisfação.
Visualizou a imagem de Rochelle, as delicadas feições, os cabelos escuros, o
belo sorriso. Na primeira vez em que a vira, achara-a uma mulher comum. Até que
ela sorrira.
Então eles tinham ido jantar e ele a achara bonita. Agora ela se tornara a dona
de seus pensamentos.
Porque Rochelle era sua responsabilidade, assegurou a si mesmo.
Antes que pudesse admitir a própria mentira, viu Steve entrando.
— Desculpe-me pelo atraso, amigo. — O médico se acomodou diante de
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Edward.
— Tudo bem. Sabe o que quer comer? Vou pedir filé à moda.
— Isso mesmo, a não ser que tenham mudado o cardápio. — Steve deu risada.
Depois que fizeram o pedido, Steve encarou Edward.
— Está tudo bem com você?
— Não comece, Steve. Billy está em meu encalço a semana toda.
— Mais dois dias e estará só pele e osso. Tem sentido alguma dor? Precisa ir
ao consultório.
— Mas que droga, Steve! Não! Apenas tenho comido um pouco menos e não
tenho dormido bem. Só isso. Vai passar.
A garçonete apareceu com a salada, e Edward teve esperanças de que a
comida distraísse Steve.
— Dia cheio, hoje? — perguntou, tentando parecer casual.
— Não mais que o normal. Como vão os negócios com as vacas? Tendo muitos
bebê?
Edward estreitou os olhos.
— Quero dizer, bezerros. Ouvi dizer que o veterinário anda bem ocupado por
lá.
— Dentro das expectativas. — Os dois puseram-se a comer.
Edward tentou encontrar um tópico seguro para discutir.
— Soube que Baily levou um coice feio do touro dele.
— Sim. Baily insiste em tratar o animal como um bichinho de estimação, mas
o touro é violento demais.
— Fiquei sabendo que recebeu uma oferta por ele no mês passado, uma
quantia ultrajante.
— E deveria ter aceitado. Aquele touro viraria carne de hambúrguer antes que
pudesse atacá-lo de novo. — Steve deu risada, mas Edward pôde sentir que os olhos
do amigo vagavam por ele, como se analisando sua saúde.
— Como está Beth? — Edward tentava entrar no assunto. — Billy me contou
que minha irmã foi a seu consultório hoje.
— Ela está bem.
— E Rochelle?
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Steve o encarou por segundos, antes de responder:
— Bem.
— Isso não me diz o bastante. — Baixando o garfo, Steve falou:
— Edward, sabe muito bem que não é ético que eu discuta o estado de meus
pacientes com outras pessoas.
— Só quero saber se ela está bem. Não estou pedindo um relatório detalhado.
— Já lhe falei que está bem.
A garçonete trouxe os filés e saiu em seguida, retirando os pratos de salada.
— Rochelle está se alimentando direito, Steve?
— Deve estar comendo melhor do que você. Ao menos não mostra esse aspecto
fantasmagórico.
— E Andy? Também a examinou?
— Sim. Você tem uma linda garotinha. Ela nem mesmo chora, o que é bem
diferente de seu sobrinho. Aquele garoto tem pulmões saudáveis.
— Ela engordou um pouco?
— Sim, trezentos gramas.
— Então Rochelle não está tendo nenhum problema em amamentá-la?
— Não, não está. Quer que eu lhe envie o relatório completo pelo correio?
Edward o fitou e assentiu com um movimento de cabeça, antes de perceber
que Steve zombava dele,
— Isso não tem graça!
— Coma seu filé.
Edward pegou o garfo e a faca, mas não tinha apetite algum. Só conseguia
pensar em sua família.
Steve observou o amigo mexendo com os talheres, porém sem comer nada. Ele
estava mesmo muito magro e abatido. Como médico e como amigo, Steve teria de
fazer alguma coisa.
Jack e Joe estavam sentados no escritório aquela noite, assistindo a um jogo
de beisebol. As mulheres, Leigh, Beth e Rochelle, encontravam-se na cozinha,
lavando a louça.
Joe imaginou que elas deveriam estar comparando os bebês e trocando
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informações sobre cuidados, uma vez que não escutava barulho de pratos por um
grande espaço de tempo.
A campainha fez Jack se levantar.
— Acha que é Edward, Joe?
— Duvido. Leigh telefonou hoje para convidá-lo, mas Billy disse que Edward já
tinha compromisso.
— Uma nova garota? — Jack franziu o cenho.
— Não! — Joe fez uma careta. Jack abriu a porta.
— Steve! Entre!
O marido de Beth se afastou para o médico passar e então se lembrou de que
sua esposa estivera no consultório naquela manhã.
— Encontrou alguma coisa errada nos exames?
— Não, Jack. Está tudo bem com Beth, e seu filho é um tourinho de tão forte.
Jack riu, felicíssimo com o comentário.
— Mas há um problema. — Steve apressou-se em adicionar: — Não com os
bebês, nem com Rochelle ou Beth.
Joe se levantou.
— Vou deixar vocês a sós para que possam conversar melhor.
— Não, você é a razão de eu estar aqui.
— Algo errado com Leigh, Steve? O que aconteceu? — Joe agarrou o braço do
doutor com muita força.
— Calma, Joe! Uso esse braço para trabalhar. — Joe o soltou, sem deixar de
encará-lo.
— Perdão...
— Tudo bem. Não é com Leigh. É com seu filho.
— Edward? Ele está doente? — Steve respirou fundo.
— Quando foi a última vez que o viu?
— Acabamos de jantar juntos, Joe. Edward perdeu pelo menos cinco quilos,
na semana que se passou. Está abatido e pálido.
— Talvez tenha pegado uma gripe. Você o examinou?
— No restaurante? Não. Sugeri que fosse ao consultório, mas ele não se
interessou. É por isso que vim. Acredito que você seja o único que pode conseguir
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levá-lo a meu consultório.
Joe coçou o queixo.
— Não sei... Edward tem trabalhado demais, segundo Billy. Mas tentarei.
Amanhã vou até lá, conversar com ele.
— Não espere tanto, Joe.
— Meu filho está tão mal assim?
— Tenho medo de que qualquer coisa possa derrubá-lo. A resistência de
Edward está péssima. — Satisfeito por Joe ter entendido a gravidade da situação,
Steve despediu-se e foi embora.
Leigh colocou a cabeça para fora da porta da cozinha.
— Tem alguém aí com vocês?
— Venha cá, Leigh — chamou-a o marido. Quando Leigh entrou no escritório,
bastou olhar para Joe para que se alarmasse.
— O que houve?
— Era Steve. Ele veio aqui para conversar comigo.
— Sobre Rochelle? Não há nada errado, há? Ela me disse que Steve garantiu
que tudo estava em ordem.
— E está, mesmo. Com Rochelle. Mas não com Edward.
— Nosso filho está doente? Não seja tolo! Ele nunca ficou doente. É robusto
como um tigre.
— Ao que tudo indica, Edward não está dormindo nem se alimentando.
Leigh ficou alarmada.
— Oh, não! A mesma coisa que aconteceu quando Merilee e o bebê morreram.
Steve, na época, deu alguns comprimidos para que ele dormisse. Por que agora não
faz...
— Edward parece não querer ajuda.
— O que vamos fazer? — perguntou Leigh, os lábios trémulos, procurando se
apoiar no marido.
— Amanhã irei falar com ele. Tudo ficará bem, querida, prometo.
Rochelle e Beth vieram ter com eles.
— O que aconteceu?
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— Nada, filha. — Joe ainda confortava Leigh.
A óbvia mentira fez com que Rochelle se afastasse.
— Se vocês precisam de privacidade, eu posso... — Leigh virou-se, secando os
olhos.
— Não seja bobinha, Rochelle querida. Eu estava apenas... é que... Conte a
elas, Joe.
— Edward está um pouco fora de seu equilíbrio.
O coração de Rochelle começou a bater descompassado, enquanto o pavor se
espalhava por todas as veias.
CAPÍTULO XII
—O que houve com Edward, Joe? — Rochelle quis saber, quase parando de
respirar enquanto esperava pela resposta.
— Ele vai ficar bem, meu anjo. Mas no momento não anda dormindo nem
comendo direito. Steve está preocupado com sua saúde. Nós achamos que... que
Edward está triste com tudo.
— O que eu poderia fazer? — perguntou, pronta para entrar em ação.
Não queria que Edward sofresse. Afinal, hão fizera nada errado.
— Nada, querida. — Joe afagou-lhe o ombro. — Vou conversar com ele
amanhã.
— Irei junto.
— Não é necessário, Rochelle.
— Sim, Joe, é. Tudo isso é culpa minha.
Rochelle estava ali, aproveitando a companhia da família dele, enquanto
Edward estava sozinho. Leigh se aproximou dela.
— Meu bem, o que acho que Joe está tentando dizer é que, se você for, isso
dará a Edward falsas esperanças.
— Como assim? — Rochelle fitou Leigh de olhos arregalados.
— Meu filho pensará que você o ama, que está voltando para ele.
— Edward não me quer, Leigh. Eu o amo, mas seu filho não me quer. —
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Mordeu o lábio para esconder o quando tremia.
Joe e Leigh se entreolharam. Então, Joe falou:
— Acho que você e Edward estão confundindo as coisas. Por que acha que ele
não dorme e não come?
Rochelle não podia responder. Não queria expressar a expectativa que fazia
seu ritmo cardíaco acelerar. Não poderia acreditar que Edward a amava. Em vez de
responder à questão de Joe, disse:
— Tenho que ir com você.
— Irei bem cedo.
Ela assentiu, sem palavras. Então, Beth interveio:
— Por que você e Andy não passam a noite aqui? Amanhã poderei ficar com
Andy, enquanto você vai até a fazenda com papai.
— Não se importa, Beth?
— Não, Rochelle. Quero que você e Edward acertem a situação de vez. — Beth
a abraçou. — Você é a irmã que eu não tive, querida.
Os olhos de Rochelle se encheram de iágrimas.
— Levarei você até o apartamento para pegar aquilo de que necessitará —
sugeriu Joe.
O sol mal acabara de nascer quando Joe, Leigh e Rochelle chegaram ao
rancho. Já havia luzes acesas na casa.
— Parece que Edward já acordou — comentou Joe. — É melhor eu entrar
primeiro. Quem sabe em que tipo de humor ele se encontra?
Leigh e Rochelle ficaram do lado de fora, em silêncio. Leigh pegou a mão de
Rochelle e a segurou forte. Elas sabiam quão importante aquele momento poderia
ser.
Rochelle não dormira muito, tentando decidir a atitude a tomar. Se Edward a
quisesse... Prometera a si mesma que não se casaria se ele não a amasse. Mas se
Edward a queria a ponto de ficar doente, ela não sabia o que fazer.
Amava-o muito. Queria-o para pai de Andy.
Tudo dependeria do que aconteceria naquela manhã.
Joe bateu à porta com determinação, então abriu-a e entrou.
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— Olá, papai — cumprimentou-o Edward. Joe levou um susto ao vê-lo.
— Minha nossa, garoto! O que há com você? Está pele e osso!
— Eu não lhe disse? — Billy admoestou-o. Rochelle, ouvindo através da porta,
prendeu a respiração, ansiosa. Tinha muita vontade de confortá-lo.
— Pare de me atazanar, Billy!
— Já tomou o desjejum ou essa xícara de café preto é tudo o que anda
consumindo quando acorda?
Billy falou de novo:
— Estou cansado de insistir para que esse turrão coma. E que durma
também. Mas o cabeça-dura prefere vagando de lá para cá durante a noite, agora.
Rochelle não aguentaria esperar nem mais um minuto. Entrou na cozinha,
com Leigh atrás dela.
Quando deparou com o homem que sempre considerara tão lindo, estremeceu.
Edward se virou para descobrir que Rochelle estava lá.
— Talvez eu não esteja bem, mesmo. Porque agora estou vendo Rochelle,
quando ela não está aqui — confessou, exausto.
— Estou aqui, Edward. Você não está vendo coisas.
Ele ficou imóvel por alguns segundos e depois conseguiu indagar:
— Por quê?
— Fiquei preocupada. Por que está se maltratando assim? — Edward meneou
a cabeça.
— Não sei do que está falando.
— Você não dorme e não come. Por quê?
— Não consigo. Preciso saber de você e Andy. Está tudo bem? — Deu um
passo à frente.
— Nós duas estamos bem. — Rochelle sentiu os olhos se encherem de
lágrimas.
Talvez Edward não a amasse, mas se importava com ela. E sabia que ele
amaria Andy. Será que pedira muito? Poderia aceitar o que Edward oferecia?
Seria um boba se não aceitasse, decidiu. Ela o amava, e isso parecia ser uma
condição permanente.
Rochelle pigarreou.
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— Billy, pode preparar uma bela refeição para todos nós, enquanto levo
Edward para pentear os cabelos? E você, Joe, pode fazer o favor de avisar ao capataz
que o patrão dele não irá trabalhar hoje?
Os dois homens olharam estarrecidos para Rochelle, mas obedeceram sem
demora.
— Mas o que está acontecendo? Não quero comer nada. E posso não estar me
sentindo muito bem, mas irei trabalhar — insistiu Edward, parecendo confuso.
Em vez de argumentar, Rochelle ergueu a mão.
— Venha comigo.
— Rochelle... não posso lhe prometer o que você deseja. Não sou capaz de
esquecer Merilee e Edward Júnior. Eu tentei... mas não consegui. Vi os álbuns de
fotos. Billy me mostrou onde você colocou as últimas fotografias e apreciei sua
atitude. E talvez eu tenha sido obsessivo sobre tudo, mas não posso fingir que eles
nunca existiram.
Era como se Edward estivesse segurando um espelho na frente de Rochelle.
Um remorso enorme a espicaçou.
— Oh, Edward, eu não quis dizer que você deveria esquecê-los!
— Não?
Ela sorriu para ele.
— Vamos, conversaremos mais tarde. Primeiro você precisa comer e dormir.
Edward franziu a testa e a encarou. Por fim, estendeu a mão para tocar a dela,
e Rochelle suspirou, aliviada.
— Dê-nos vinte minutos, Billy.
— Quanto tempo for necessário.
Rochelle conduziu Edward pela escada, esperando que aquela expressão
letárgica do rosto dele se devesse ao choque de vê-la, e não por sua atual condição
física.
Quando chegaram ao quarto dele, ela gentilmente se afastou.
— Quero que tome um banho, Edward. E que se barbeie. — Fazia três dias
que ele não se barbeava, e estava parecendo um mendigo. — — Irá se sentir melhor.
— Rochelle, você escutou o que eu falei? Não posso fazer o que me pediu.
Ela envolveu a cintura dele, ficou na ponta dos pés e lhe deu um beijo rápido.
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— Edward, não me entendeu direito. Se não se importa, Andy e eu voltaremos
a morar aqui. E desta vez sou eu que vou cuidar de você. Quando nós dois estiver-
mos bem outra vez, decidiremos o que fazer.
— Não quero que vá embora de novo, Rochelle. Não posso aguentar isso! —
Abraçou-a apertado.
— Eu sei. Estou aqui para ficar, se você me quiser. — Edward quase desmaiou
de alegria.
— Vá tomar banho, Edward — ordenou Rochelle. Como uma criança
obediente, ele foi para o banheiro da suíte. Quando entrou, Rochelle se deu conta de
que faltara um detalhe em suas ordens.
— Não, Edward!
— O que foi?
— Tire a roupa primeiro.
Franzindo o cenho, ele vacilou, segurando-se na porta do banheiro.
— Ah, sim...
— Precisa de ajuda?
As palavras dela pareceram abrir caminho na letargia dele.
— Você vai ficar? — Ela tornou a sorrir.
— Sim, Edward. Prometo.
Com um suspiro, ele fechou a porta e despiu-se. Enquanto Edward se
banhava, Rochelle trocou as roupas de cama.
Quando ele retornou, quinze minutos depois, parecia bem melhor, apesar de
ainda parecer exausto.
— Quer tomar café lá embaixo ou aqui na cama?
— Onde você estará?
— Onde você estiver, Edward.
— Acho que vou para cozinha. Dará menos trabalho.
Rochelle pegou a mão dele de novo, com medo de que Edward pudesse cair, e
o levou para baixo.
— Você parece melhor, garoto! — exclamou Billy ao vê-los chegar. — Está tudo
pronto.
Rochelle viu Edward olhar para a comida. Como ele não se alimentava fazia
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um bom tempo, seria difícil recomeçar. Ela apertou os dedos dele.
— Tente pelo menos um pouquinho.
Edward a encarou com aqueles bonitos olhos azuis.
— Você vai ficar, mesmo?
— Sim.
Ele se sentou ao lado de Rochelle, ainda sem soltá-la. Os pais se acomodaram,
e Rochelle pediu para Billy servir um copo de leite.
— Edward não está precisando de cafeína nesse momento.
— Claro, Rochelle. Eu deveria ter pensado nisso.
— Leite? — Edward fez uma careta.
— É o que eu e Andy estamos tomando. Acho que você deveria beber também,
para nos apoiar. — Rochelle, sorrindo, se inclinou, tocando de leve os lábios dele
com os seus.
— Bem, certo — concordou, ainda fitando-a.
Billy colocou o leite diante de Edward, que tomou um gole.
— Que tal um pouco de ovos mexidos? Você precisa de proteínas. — Rochelle
pegou uma garfada do próprio prato com a mão que estava livre e comeu.
Edward a observou e, um segundo depois, imitou-a. Leigh suspirou, e Billy e
Joe relaxaram.
— O bacon está uma delícia, Billy! Você frita bacon como ninguém, não é,
Edward? — Ela pegou um pedaço de bacon do prato e levou aos lábios dele.
Edward mastigou, e Rochelle se sentiu feliz com aquilo. Depois do desjejum,
ela o colocaria na cama. Após dormir um pouco, ele começaria a agir de modo mais
normal. Então, ela poderia certificar-se de que Edward queria mesmo sua presença
ali
— Onde está Andy? — Edward quis saber, de repente.
— Com Beth. — Leigh consultou o relógio. — Rochelle terá de voltar lá para
amamentá-la, às oito.
— Você prometeu que ia ficar!
— E ficarei, Edward. Mas tenho de pegar Andy e trazê-la para cá. Se você não
se importar que ela também venha.
Rochelle conteve a respiração. Se sexo fosse tudo o que ele desejava, então
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Andy não teria importância alguma.
— Esta é a casa de Andy. É claro que minha filha tem que vir. Você promete?
Rochelle deu mais um beijinho nos lábios dele, adorando a liberdade de poder
tocá-lo.
— Prometo. E acho que Andy está com saudade de você.
Edward sorriu, e Rochelle notou que os olhos dele estavam quase se fechando.
— Edward, você precisa comer um pouco mais antes de ir se deitar.
Ele deu mais algumas garfadas, obediente.
— Preciso dormir. Promessa?
Ela o entendeu perfeitamente e assentiu.
— Promessa.
— Andy também?
— Com certeza.
Satisfeito, Edward fechou os olhos.
— Joe, precisamos levá-lo para cima.
Joe e BíIIy o apoiaram um de cada lado e o ergueram da mesa.
Rochelle correu na frente deles para o quarto e afastou os lençóis. Leigh os
acompanhou, rezando pelo filho.
Joe ajudou Rochelle a tirar a camisa de Edward e a desabotoar a calça larga.
Depois que Edward se deitou, eles deslizaram o jeans pelas pernas dele, deixando-o
apenas de cueca.
Rochelle o cobriu e se virou para seus assistentes.
— Obrigada pela ajuda. Ficarei mais alguns minutos para estar certa de que
Edward está tendo um sono tranquilo. Assim que eu descer, voltaremos para a
cidade, certo?
Os três se encaminharam para a saída. Joe fez um sinal de positivo com o
polegar, e Leigh lhe sorriu.
Rochelle se sentou na beirada do colchão e passou a mão nos cabelos de
Edward. Pela primeira vez em muitos meses, podia tocá-lo como quisesse. Mesmo
antes, quando eles eram namorados, ele nunca estivera tão perto. Mas agora seria
seu marido. Podia não amá-la da forma como queria, mas desejava-a.
Rochelle pensara que fizera a coisa certa quando exigira o amor dele. Mas não
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tivera a intenção de dizer que ele esquecesse sua primeira mulher e o filho.
Como iria esclarecer isso para Edward? Como convencê-lo de que não tivera a
intenção de afastá-lo das memórias de sua primeira família?
Olhou em volta do quarto, tentando pensar. Então teve uma ideia.
Rochelle sentiu que a família de Edward estava pronta para fazer qualquer
coisa que ela pedisse. Nunca tivera aquele amor de nenhum grupo antes, e queria se
beliscar a cada minuto para constatar que não estava sonhando.
— Estou muito feliz! — exclamou Beth quando Leigh lhe contou que Rochelle e
Edward iriam se casar.
Rochelle sorria.
— Nós temos de esperar até que ele esteja raciocinando bem para não ter
dúvida. Acho que se eu tivesse lhe pedido para assaltar um banco hoje, Edward
teria me perguntado o endereço. Parecia um zumbi.
— Tolice, tudo está acertado — protestou Leigh. — Quando podemos começar
a planejar a cerimónia?
— Não há muito a fazer, Leigh. Não vamos querer um grande evento.
Antes que Leigh pudesse argumentar, o que era óbvio que pretendia fazer, Joe
se adiantou:
— Se acha que vamos deixar que vocês dois se casem como se estivessem
envergonhados do que estão fazendo, enganou-se, Rochelle Davenport. Nós temos
muito o que comemorar.
— Se Edward concordar...
— Ele concordará — afirmou Joe, sorrindo.
— Certo. Acho que posso usar minhas economias.
— Não vai fazer nada disso! — Leigh pôs as mãos na cintura. — Joe e eu
daremos a festa para vocês como presente. E pode começar a pensar em nós como
seus pais, porque depois do casamento é o que seremos.
— Mas... — Rochelle começou, sem graça, porque rezava a tradição que eram
os parentes da noiva que pagavam a festa.
Beth a abraçou.
— Melhor nem tentar protestar, Rochelle. Você é um membro da nossa família
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agora, e já é hora de perceber o quanto os Nix são teimosos.
— Discutiremos o casamento depois que Edward concordar, está bem? Pode
me levar até meu apartamento, Joe? Quero ir logo para a fazenda, pois pretendo
estar lá quando Edward acordar.
Joe assentiu.
— Acho que meu filho vai dormir umas doze horas, pelo menos.
— Sei disso, mas quero ter certeza.
— Eu vou com vocês e a ajudo a fazer as malas, querida.
— Obrigada, Leigh.
Então Rochelle foi buscar Andy, que já tinha mamado e voltado a dormir.
— Tal pai, tal filha — ela murmurou, um enorme sorriso.
Rochelle cuidou de seu plano secreto quando foi à cidade. O balconista da loja
prometeu ter tudo pronto às cinco da tarde. Ela pediria a Billy para ir até lá buscar
sua encomenda.
Então, pegou o próprio carro e dirigiu com Andy até a fazenda. Joe e Leigh se
ofereceram para acompanhá-la, mas Rochelle recusara. Billy poderia ajudá-la a
descarregar o carro.
— Acha que podemos passar o quarto de Andréa para o andar de cima, Billy?
Eu já posso subir e descer escadas agora, contanto que não o faça correndo.
— Sim, lógico. — Billy sorriu largo, como não fazia desde que Rochelle os
deixara pela última vez. Estava demostrando toda sua satisfação pelo retorno delas.
— Talvez eu devesse esperar até que Edward acordasse... — Rochelle pensou
em voz alta.
— Não há necessidade. Vamos ajeitar tudo enquanto ele estiver dormindo.
Edward ficará feliz.
— Espero que esteja certo, Billy.
Rochelle dormiu um pouco naquela tarde. Na cama de Edward. Ele não se
movera desde que o colocara lá pela manhã, mas havia espaço suficiente para ela no
leito. E era uma sensação muito boa dormir ao lado dele. Quando Andy acordou, às
quatro, pronta para a mamada da tarde, o braço de Edward estava em volta de
Rochelle, como se, no sono, estivesse mostrando sua aprovação.
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Rochelle esperava que fosse isso mesmo o que ele estava fazendo.
Soltando-se com delicadeza, eia saiu da suíte e foi atender a filha, no aposento
ao lado.
— Olá, meu anjo. Está com fome? Papai ficará feliz por você estar aqui,
quando acordar. — Então, Rochelle relaxou na cadeira de balanço e amamentou
Andy, aproveitando aquele momento tão especial com seu bebê.
Será que poderia acreditar num final feliz? Ou aquilo era bom demais para ser
verdade? Iria se casar com o homem que amava, viveria entre uma família maravi-
lhosa, criando sua filha.
— Por favor, meu Deus! Faça com que isso seja verdade! — sussurrou.
Quando Andréa tornou a adormecer, Rochelle desceu a escada e entrou na
cozinha. Havia um embrulho sobre a mesa, que Billy fora buscar na cidade.
— Peguei o pacote, Rochelle. O que tem aí dentro?
— Uma surpresa para Edward — respondeu ela, recusando-se a revelar
qualquer coisa a mais. Esperava que estivesse agindo certo.
— Acha que ele vai acordar para o jantar?
— Não sei, Billy. Se Edward tem dormido tão pouco quanto você disse, não é
provável que acorde. Mas ele precisa se alimentar. Talvez eu possa acordá-lo o sufi-
ciente para alimentá-lo.
Quando Billy terminou de preparar o jantar, Rochelle arrumou uma bandeja
com mais leite e um filé, batatas e feijão.
— Voltarei em alguns minutos, liilly.
Lá em cima, teve de se esforçar para acordar Edward. Enfim, após tê-lo
chamado diversas vezes, conseguiu.
— Edward, quero que coma um pouco. Está acordado?
— Hã-hã... — Rolou de lado.
Rochelle, então, fez a única coisa a que achou que ele responderia: beijou-o.
Aquilo causou um bom efeito em Edward, que abriu os olhos.
— Rochelle? Não estou sonhando?
— Não, não está. Mas precisa comer algo. Então, pode voltar a dormir.
— E você estará aqui quando eu acordar? — Ele franziu a testa.
— Bem a seu lado. Vamos, abra a boca... — E deu-lhe uma boa garfada. —
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Mastigue — ordenou, assim que percebeu os olhos dele se fechando de novo.
Edward a obedeceu.
Rochelle tentou o copo de leite, sabendo que não tinha muito tempo até que
ele adormecesse. Edward conseguiu comer mais umas cinco garfadas e tomar
metade do leite antes de cair em sono profundo.
Mas Rochelle estava preocupada. Voltara a morar na fazenda e Edward não
tinha nem mesmo percebido que havia concordado. E se ele ficasse nervoso com o
fato, ao acordar, e a mandasse embora?
Se fizesse aquilo, Rochelle deixaria a cidade de imediato. Mas os país dele
estavam planejando um casamento. Acariciou o rosto de Edward. Tudo o que podia
fazer era aguardar... e ter esperança.
O ronco do estômago de Edward o despertou na manhã seguinte. Seu primeiro
pensamento foi que se sentia melhor do que estivera na última semana. O segundo
foi que a vida parecia mais bonita naquele dia.
O terceiro foi que havia alguém em sua cama.
Seus olhos se arregalaram quando notou as feições tranquilas de Rochelle no
travesseiro a seu lado.
“Rochelle!” Ele lembrava-se mais ou menos de ela e seus pais terem ido ao
rancho. Mas o que acontecera para que Rochelle terminasse em seu leito? Será que
ele tinha prometido a impossível tarefa de esquecer Merilee e o filho?
Se tinha, seria honesto com ela agora. Mas Rochelle poderia ir embora, e a dor
seria ainda maior.
Enfim, admitira para si mesmo que a amava, bem como Andy. Em algum
lugar daquela nebulosidade onde estivera mergulhado, o pensamento surgiu. Talvez
não tivesse de contar a Rochelle que ainda pensava muito sobre sua primeira
família. Se não contasse, pensaria que ele estava fazendo o que ela queria. Será que
isso seria tão ruim? Dessa forma, Edward teria uma chance de ser feliz.
Mas aquilo não seria honesto.
Pensava em tocá-la quando sua filha começou a chorar alto. Andy! Antes que
Edward tivesse tido tempo de sair da cama para ir pegar a filha, Rochelle abriu os
olhos.
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— Bom dia, Edward. Aposto que nossa menina está pronta para o desjejum. E
você?
— Rochelle! Eu... sim!
Ela já estava se levantando, vestida com uma camisola de algodão bem leve, o
que o despertou por completo.
— Volto já.
Será que Rochelle traria Andréa e a amamentaria ali? Até que enfim, poderia
assisti-la alimentando a menina! Quantas vezes desejara compartilhar aquela
experiência com ela!
Ouviu a voz dela:
— Billy, café para todos em meia hora, por favor!
— Certo! — respondeu o caubói.
Então Rochelle apareceu com a pequena Andy.
— Ela não é muito paciente. Billy disse que herdou essa característica de você.
E que Edward Júnior era igualzinho.
Edward ficou abalado quando ela mencionou seu filho. Então, fitou-a com
atenção, enquanto voltava para a cama. Até que Rochelle deitasse Andréa no colo.
— Pode segurá-la enquanto eu acomodo alguns travesseiros?
— Hum... claro. — Edward estava confuso com o comportamento de Rochelle.
Ela se acomodou e ajeitou a camisola, expondo um seio. Então, pegou o bebê
das mãos dele, e Edward observou sua pequena criança sugando o mamilo materno,
como se não comesse havia dias. Rochelle o observou.
— Se não deseja ficar aqui para o desjejum desta criaturinha esfomeada,
tenho certeza de que Billy já tem ao menos um cafezinho pronto.
— Não! Quero admirar essa cena. Mas não acho que você deva chamar essa
príncesinha de esfomeada.
Rochelle achou graça.
— Se fosse você que a estivesse amamentando, garanto que concordaria.
Ficaram em silêncio depois que ele pousou o braço sobre os ombros dela. Ter
as duas por perto fazia-o exultar.
Quando Rochelle precisou trocar Andy de seio, pediu para que Edward a
fizesse arrotar, até que ela estivesse pronta. Ele esfregou as costas da menina até
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que ela produziu um som enorme.
Rochelle riu e pegou a filha de volta.
— É bom ter um especialista por perto! Quanto tempo Edward Júnior levou
para dormir a noite inteira? Eu ia perguntar ao dr. Lambert, mas acabei
esquecendo.
— Rochelle... eu não entendo.
— O quê?
Edward não queria ter uma discussão. Estava às portas do paraíso. Mas não
podia entrar antes que eles conversassem.
— Por que está falando sobre... meu filho?
Rochelle agiu como se não o tivesse escutado, observando Andy mamar. Só
quando ele ia repetir a pergunta foi que ela levantou os olhos.
— Eu queria que você soubesse que cometi um grande engano.
— Sobre o quê?
— Não deixei bem claro o que eu queria.
— Pois conte-me agora.
— Não quis dizer para você esquecer Merilee e Edward Júnior. Sei que você os
amou e que sempre os amará. Tudo o que lhe pedi foi permissão para que nós duas
participássemos de seu amor também.
Lágrimas brotaram nos olhos de Edward, que a abraçou, incluindo Andréa.
— Eu te amo, Rochelle. E amo Andy.
— Então... está tudo bem? Ainda quer que fiquemos aqui?
— Evidente que sim! Como pôde ter dúvidas?!
— Não tinha certeza de que você estava consciente, ontem de manhã. E não
queria presumir... que estava completamente fora de si.
— O que eu falei?
— Que queria que ficássemos.
— Espero que eu tenha acrescentado um “para sempre”. — Rochelle fez que
não.
Edward se inclinou e a beijou com ardor. E com amor. Quando tornou a fitá-
la, disse-lhe:
— Quando Steve falou que poderá... você sabe.
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— Não perguntei, Edward. Não havia nenhum prospecto de... “você sabe”... em
minha última consulta com ele. Além do mais, acho que você ainda não está pronto
para isso. Estava muito fraco, ontem à noite.
Antes que Edward pudesse responder, Andy se soltou de RochelIe, a
barriguinha estufada.
— Mais alguns arrotos por favor. — Rochelle estendeu Andy para o pai.
— Gosto dessas coisas compartilhadas.
— Eu também. — Rochelle esboçou um sorriso brilhante.
— Café! — Billy gritou, lá de baixo.
— Já estamos descendo! — Rochelle tornou a pegar Andy do colo de Edward.
— É melhor você vestir uma calça para descer, ou deixará Billy enrubescido.
— Você vai descer assim?
— Não. Colocarei o maravilhoso robe que ganhei de meu mari... Isto é, o robe
que você comprou no hospital.
— Pode me chamar de marido. Logo estaremos casados, fique sabendo, garota.
— Oh, ótimo. Então posso contar que sua mãe já está planejando a cerimónia.
— Que bom! Quanto antes, melhor.
Edward se levantou e sentiu as pernas um pouco bambas. Cruzou o aposento
para pegar uma camiseta na cómoda e, quando abriu a segunda, percebeu que um
lindo porta-retrato fora colocado sobre a cómoda. Não estava lá antes.
Depois da morte de Merilee e de seu filho, Edward tirara toda e qualquer
fotografia. Não podia aguentar olhar para eles.
Porém, a foto preferida deles três juntos ocupava agora um lugar de honra
sobre o móvel.
— Rochelle? De onde veio isso? — indagou, a voz entrecortada de emoção.
Tendo vestido o robe, com Andréa nos braços, ela juntou-se a ele.
— Espero que não se importe. Achei que isso lhe provaria que não quero
afastá-los de seu coração. Todos nós somos uma família agora. Mandei ampliar o
retrato e colocá-lo nessa bela moldura. Ficou bonito, não?
Edward a abraçou e a seu bebê, sem deixar de fitar a fotografia.
— Ficou lindo. Eu acredito em você, meu amor, e gostei muito que tenha
colocado o porta-retrato aqui. — Deu-lhe um beijo na testa. — Jura que não se
Segunda chance (Newborn daddy) Judy Christanberry
Sabrina … a cegonha chegou no. 77 - 125 -
importa?
— Juro.
Edward a apertou contra si. Até que enfim, possuía uma família de novo.
Todos eles.
— Os ovos estão esfriando! — Billy admoestou-os.
— Você está bem?
— Sim, Rochelle, estou ótimo. Pela primeira vez em muito tempo.
— Então é melhor descermos, porque, se você não engordar um pouco, vão
comentar que sou uma péssima esposa no dia do casamento.
Rochelle e Edward desceram os degraus juntos, com Andy nos braços, como
estariam para todo o sempre.
FM