PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Registro: 2011.0000286344
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0041890-
08.2010.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que são apelantes ANA
MARIA DE FARIA, ALCILEIDE GOUVEIA DE LIMA, ANGELA
APARECIDA DO NASCIMENTO, ANGELA MARIA DE ARAUJO,
ANTONIO ONOFRE DOS SANTOS FARIA, CIRENE CHAVES DA SILVA,
DENISE APARECIDA ENTLER DA CRUZ, DEOLINDA BARBOSA DOS
SANTOS BERNANRDES, ELISABETE DE SOUZA GALIANO, ELIZABETE
MARIA FREITAS DE OLIVEIRA, ELIZABETE SIMÃOZINHO AUGUSTO,
ISABEL CRISTINA TEODORO DOS SANTOS, IVANI ALVES DA
FONSECA, IVANI FERRAZ CABRAL, JACQUES DE MACEDO PEREIRA,
JOSÉ CARLOS CARVALHO DOS SANTOS, LYDIO DA SIVLA, MARIA
APARECIDA VILLAS BOAS BOTTACINI, MARIA ALICE DE SOUZA
PIMENTA BUENO, MARIA CECÍLIA NEVES DE MACEDO PEREIRA,
MARIA DE FÁTIMA ALVES FERREIRA, MARIA DE LOURDES ALVES
LUCENA GOMES, ONEIDE LODI GOUVEIA, ROSA ROMANO PACEAU,
ROSANA DONIZETE MORAES DE ALMEIDA, ROSÂNGELA CRISTINA
MORAES ALMEIDA DA SILVA, TEREZINHA DE JESUS GARCIA SALVA,
WALTER GONÇALVES DA SILVA JUNIOR e WASHINGTON PIMENTA
BUENO FILHO sendo apelado FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO.
ACORDAM, em 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de
São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores
MOACIR PERES (Presidente), COIMBRA SCHMIDT E MAGALHÃES
COELHO.
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Apelação nº 0041890-08.2010.8.26.0053 - São Paulo 2
São Paulo, 21 de novembro de 2011.
Moacir PeresPRESIDENTE E RELATOR
Assinatura Eletrônica
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VOTO Nº 20.346
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0041890-08.2010.8.26.0053 de São Paulo
APELANTES: ANA MARIA DE FARIA E OUTROS
APELADA: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
JUIZ SENTENCIANTE: MARCELO FRANZIN PAULO
SERVIDORES PÚBLICOS ESTADUAIS A Lei nº 8.880/94, dispondo sobre o programa de estabilização econômica e o sistema monetário nacional, não trata de reajustamento de vencimentos de servidores públicos Estabelece, apenas, regras de ajuste para a conversão da moeda nacional em unidade de valor (URV), aplicáveis às obrigações em geral, inclusive no âmbito do serviço público estadual Prescrição do fundo de direito não reconhecida. Recurso provido.
Ana Maria de Faria e outros, inconformados com a r. sentença
que julgou improcedente a ação (fls. 130/131), interpuseram recurso de
apelação.
Afirmam que foi desatendido o artigo 22 da Lei nº 8.880/94.
Dizem que se trata de lei nacional com aplicação geral. Argumentam que o
artigo 22, VI, da Constituição Federal, estabelece a competência exclusiva
da União para legislar sobre o sistema monetário. Citam julgados
favoráveis. Dizem que não há se falar em compensação com reajustes
posteriores. Daí, pretenderem a reforma da r. sentença (fls. 137/144).
Com as contrarrazões (fls. 151/162), subiram os autos.
É o relatório.
Não se reconhece a prescrição do “fundo de direito” alegada
em contrarrazões. Em se tratando de ação indenizatória, relacionada às
diferenças de vencimentos, aplica-se o artigo 3º do Decreto nº 20.910/32,
alcançando, apenas, as prestações vencidas antes dos cinco anos anteriores
ao ajuizamento da ação.
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Objetivam os autores, por meio da presente ação ordinária,
seja a Fazenda do Estado de São Paulo condenada “a recalcular os
vencimentos integrais dos autores desde julho de 1994, inclusive as
vantagens pessoais, mediante apuração da média aritmética em URV dos
vencimentos auferidos nos meses de novembro de 1993 a fevereiro de 1994
(art. 22 da Lei 8.880/94), apostilando-se os títulos dos autores para efeitos
futuros, tudo de acordo com a respectiva situação funcional de cada qual”
(Fls. 09, grifos no original).
Assiste razão aos apelantes.
A Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994, estabeleceu que “os
valores das obrigações pecuniárias de qualquer natureza, a partir de 1º de
março de 1994, inclusive, e desde que haja prévio acordo entre as partes,
poderão ser convertidos em URV, ressalvado o disposto no art. 16.
Parágrafo único. As obrigações que não forem convertidas na forma do
caput deste artigo, a partir da data da emissão do Real prevista no art. 3º,
serão, obrigatoriamente, convertidas em Real, de acordo com critérios
estabelecidos em lei, preservado o equilíbrio econômico e financeiro e
observada a data de aniversário de cada obrigação”, sendo que “os valores
das tabelas de vencimentos, soldos e salários e das tabelas de funções de
confiança e gratificadas dos servidores públicos civis e militares, são
convertidos em URV em 1º de março de 1994, considerando o que
determinam os arts. 37, XII, e 39, § 1º, da Constituição” (arts. 7º e 22).
À evidência, referida norma, dispondo sobre o programa de
estabilização econômica e o sistema monetário nacional, não trata de
reajustamento de vencimentos de servidores públicos. Estabelece, apenas,
regras de ajuste para a conversão da moeda nacional em unidade de valor.
Diferentemente do alegado pela Fazenda Estadual, a Lei nº
8.880/94, de repercussão nacional, impõe-se às obrigações em geral,
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inclusive no âmbito do serviço público estadual.
Neste sentido, já assentou esta Egrégia Sétima Câmara de
Direito Público: “I - Servidor público municipal. Vencimentos. Conversão
em URV. Artigo 22 da Lei nº 8.880/94. A norma federal é aplicável
também aos servidores públicos estaduais e não só aos da União, pois não
se trata de comando legal para concessão de vantagens ou reajustamentos
salariais, mas sim de conversão da moeda nacional em unidade de valor.
Assim, não existe violação ao sistema federativo, bem como à autonomia
administrativa no que se refere ao peculiar interesse local, pois tratou-se de
comando de repercussão nacional. II - Prescrição. Esta só abrange as
prestações anteriores ao qüinqüênio que precede a citação para ação, uma
vez que não houve o administrativo indeferitório da pretensão. III
Sentença de extinção do processo, nos termos do artigo 269, inciso IV, do
Código de Processo Civil (prescrição). Recurso provido, para julgar
procedente a ação e condenar a ré ao pagamento das perdas salariais
sofridas pelos autores, decorrentes da conversão dos salários em URV,
acrescidos de juros e correção monetária, além das despesas processuais e
honorários advocatícios fixados em 15% sobre o valor da condenação” (Ap.
Cível nº 365.021.5/7-00, Rel. Des. Guerrieri Rezende, j. 8.5.2006).
Ressalte-se que não se vislumbra ofensa à autonomia dos
entes federativos nem ao princípio da legalidade.
Quanto à alegada ausência de prejuízo aos servidores públicos
em razão da posterior edição de legislação concessiva de reajustes salariais,
adota-se o atendimento assentado pelo Egrégio Superior Tribunal de
Justiça:
“RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. PROCESSO CIVIL.
AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO DE LEI FEDERAL
TIDO COMO VIOLADO. FUNDAMENTAÇÃO DEFICIENTE.
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INCIDÊNCIA DA SÚMULA 284/STF. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL NOTÓRIA. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR
PÚBLICO MUNICIPAL. CONVERSÃO DE VENCIMENTOS EM URV.
APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL Nº 8.880/94. DATA DO EFETIVO
PAGAMENTO. COMPENSAÇÃO COM OUTROS REAJUSTES.
IMPOSSIBILIDADE. NATUREZA DISTINTA. [...] 2. De acordo com
entendimento firmado por este Superior Tribunal de Justiça é obrigatória a
observância, pelos Estados e Municípios, dos critérios previstos na Lei
Federal nº 8.880/94 para a conversão em URV dos vencimentos e dos
proventos de seus servidores, considerando que, nos termos do artigo 22,
VI, da Constituição Federal, é da competência privativa da União legislar
sobre o sistema monetário. Divergência jurisprudencial notória. 3. Os
servidores cujos vencimentos eram pagos antes do último dia do mês têm
direito à conversão dos vencimentos de acordo com a sistemática
estabelecida pela Lei nº 8.880/94, adotando-se a URV da data do efetivo
pagamento nos meses de novembro de 1993 a fevereiro de 1994. 4.
Reajustes determinados por lei superveniente à Lei nº 8.880/94 não têm o
condão de corrigir equívocos procedidos na conversão dos vencimentos dos
servidores em URV, por se tratarem de parcelas de natureza jurídica diversa
e que, por isso, não podem ser compensadas. 5. Recurso especial conhecido
em parte e provido.” (Recurso Especial nº 1.101.726//SP Rel. Min. Maria
Thereza de Assis Moura j. em 13.5.09 v.u).
Assim, fazem jus os autores às verbas pleiteadas.
No tocante aos juros de mora, conforme recente decisão do
Egrégio Superior Tribunal de Justiça, “as normas que dispõem sobre os
juros moratórios possuem natureza eminentemente processual, aplicando-se
aos processos em andamento, à luz do princípio tempus regit actum”
(Embargos de Divergência em Recurso Especial nº1.207.197/Rs Rel. Min.
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Castro Meira j. em 18.5.11). Este entendimento já havia sido consolidado
pelo Excelso Supremo Tribunal Federal (v.g, Agravo Regimental no
Agravo de Instrumento nº 767.094/RS Rel. Min. Ricardo Lewandowski
j. em 2.12.10; e Agravo Regimental no Recurso Especial nº 559.445/PR
Rel. Min. Ellen Gracie j. em 12.6.09).
Destarte, revendo entendimento anterior, tem-se que se aplica
aos juros moratórios a legislação vigente durante a ocorrência da mora.
Daí porque, no caso dos autos, “para fins de atualização
monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a
incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de
remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança”, conforme
determina o artigo 1º-F da Lei nº 9.494/97, na redação trazida pela Lei nº
11.960/09.
No tocante à verba honorária, ainda que se cuide de ação
indenizatória, em que restou vencida a Fazenda do Estado de São Paulo,
nada obsta que os honorários advocatícios sejam fixados em percentual
sobre o valor da condenação. Observando-se, no caso, o grau de zelo do
profissional, o lugar de prestação, a natureza e importância da causa, o
trabalho realizado e o tempo exigido para o serviço, fixa-se a verba
honorária em 10% sobre o valor da condenação (art. 20, § 3º, letras “a”, “b”
e “c”, do Código de Processo Civil).
Ante o exposto, não se reconhece a prescrição e dá-se
provimento ao recurso, para julgar procedente a ação, condenando a
Fazenda do Estado de São Paulo a proceder à conversão dos vencimentos
dos autores, na forma determinada pela Lei Federal nº 8.880/94, pagando as
diferenças apuradas, acrescidas de correção monetária desde a época em
que se tornaram devidas, nos termos da Tabela Prática deste Tribunal de
Justiça de São Paulo até a citação, quando, a partir de então, deve-se aplicar
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a Lei nº 11.960/09, respeitada a prescrição quinquenal, apostilando-se os
títulos. Trata-se de verba de natureza alimentar. Custas, despesas
processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 10% sobre o valor
da condenação, a cargo da vencida.
MOACIR PERES
Relator
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