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SEQUÊNCIAS TERMOMECÂNICAS E FRONTEIRAS DO TIPO CSL NO AÇO

API 5L X80

Renato Soares de Castro1; Yogendra Prasad Yadava2; Ricardo Artur

Sanguinetti Ferreira2,*, 1Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Pernambuco-IFPE, Recife-Pe 2,*Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Av. Ac Hélio Ramos s/n, CDU, Recife-PE, [email protected].

Resumo

Os sítios de coincidências, CSL, são tipos especiais de fronteiras criadas a partir de

cristais únicos que são desalinhados por meio da rotação, ou inclinação, de um plano

cristalográfico específico em torno de um eixo, de forma que são gerados novos

cristais com pontos de coincidência entre eles. As fronteiras CSL em aços ARBL e sua

relação com os tratamentos termomecânicos ainda não são citados na bibliografia.

Neste trabalho, a criação deste tipo de fronteira foi estudada em função do nível de

deformação aplicada durante tratamento termomecânico do aço API 5L X80. Os

resultados mostraram que o tratamento termomecânico elevou a ocorrência de

fronteiras do tipo CSL, particularmente as do tipo Ʃ3. A deformação na fase austenítica

(numa temperatura de não-recristalização - TNR) modifica significativamente o grau de

desorientação entre grãos, influenciando a nucleação de subgrãos nos pacotes

cristalográficos de ferrita acicular; evidenciando que o mecanismo de deformação

neste microconstituinte é um fator importante para a formação deste tipo fronteira.

Palavras-chave: Sequência termomecânica; API 5L X80, Fronteira do tipo CLS

INTRODUÇÃO

Os sítios de coincidências, CSL, são tipos especiais de fronteiras nas

quais os cristais vizinhos estão desalinhados por meio da rotação, ou

inclinação, de um plano cristalográfico específico em torno de um eixo de forma

que são gerados pontos de coincidência entre as duas redes. A figura 1 mostra

a representação bidimensional da ocorrência de CSL entre duas redes cúbicas

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desalinhadas entre si pela rotação de 36,9º em torno do eixo ˂100˃. Os pontos

negros representam os sítios de coincidência entre as duas redes cristalinas.

No espaço tridimensional os sítios coincidentes podem ser entendidos como

superestruturas 3D nas quais um número de pontos do reticulado de grãos

vizinhos se sobrepõe (1).

Figura 1 - Contorno Ʃ5 formado pela coincidência entre duas redes cúbicas

desalinhadas em 36,9º em torno do eixo ˂100˃.

Os contornos CSL são descritos por números inteiros ímpares, Ʃ, cuja

razão 1/Ʃ representa a proporção de sítios comuns em ambas as redes(2).

Quanto menor o valor de Ʃ, mais simétrico é o contorno. Considerando-se que

os sítios de coincidência originam um novo reticulado, o valor de Ʃ pode ser

entendido como a razão entre o volume da célula unitária original do reticulado

e volume da célula unitária do super-reticulado formado pelo CSL. Na tabela 1

são apresentados fronteiras CSL presentes no reticulado CCC, com os

respectivos ângulos típicos e eixo de rotação. Nos cristais cúbicos os contornos

CSL estão relacionados aos contornos de alto ângulo, sendo os Ʃ3 Ʃ9 e Ʃ27

caracterizados como contornos do tipo geminado.

Estudos anteriores feitos em aços inoxidáveis(3) mostram que os

contornos CSL apresentam um menor nível de energia quando comparado às

fronteiras desordenadas. Isto tem levado ao estudo de métodos para

desenvolvimento de aços com elevada quantidade de fronteiras CSL a fim de

minimizar o efeito da corrosão intragranular em aços inoxidáveis. No entanto,

na literatura, não observamos haver estudos a respeito de fronteiras CSL em

aços ARBL nem sua relação com a aplicação de tratamentos termomecânicos.

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Tabela I - Simetrias CSL frequente em sistemas cúbicos.

CSL Eixo Ângulo (°)

Ʃ3 111 60

Ʃ5 100 36,9

Ʃ7 111 38,2

Ʃ9 110 38,9

Ʃ11 110 50,5

MATERIAIS E MÉTODOS

O material para estudo foi o aço API 5L grau X80 fornecido pela

siderúrgica USIMINAS. Sua composição química, obtida por espectrometria de

emissão, está dada na tabela abaixo:

Tabela II - Composição química do aço em estudo.

Elemento químico (% em peso)

C S Al Si P Ti V Cr Mn Ni Cu Nb Mo

0,07 0,004 0,036 0,27 0,016 0,018 0,022 0,17 1,55 0,01 0,01 0,069 0,19

Os corpos de prova foram produzidos em forma de tiras com dimensões

de 100 x 9,5 x 6,0 mm, obtidos a partir da usinagem de chapas de 3/4 pol. de

espessura. As faces a serem laminadas foram acabadas pelo processo de

fresagem obtendo dimensão final de 6,0 ± 0,2 mm.

As amostras foram aquecidas em forno do tipo mufla até a

temperatura de 950 ºC, mantidas por 15 min. e laminadas, na direção

longitudinal da amostra, em laminador duo simples com cilindros de 80 mm de

diâmetro a uma taxa de deformação de 1,8 s-1. Os percentuais de deformação

aplicados foram de 10% a 35%, seguidos de resfriamento contínuo em água ou

tratamento isotérmico por imersão em banho de chumbo (figura 2-a).

A temperatura da amostra na saída do laminador (figura 2-b) foi medida

por meio de termocâmera com emissividade ajustada para 0,95. Foram

produzidas amostras a partir de diferentes condições de deformação e

resfriamento, definidas a partir da interpretação de resultados citados na

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literatura. A fim de se conseguir uma microestrutura com predominância de

ferrita acicular, as temperaturas escolhidas para realização do tratamento

isotérmico abrangem o intervalo de temperatura no qual distintos autores

relatam ser favorável à formação deste microconstituinte (4-7)

Figura 2 – (a) representação gráfica do tratamento termomecânico: 1-

resfriamento contínuo, 2-tratamento isotérmico; (b) Medição de temperatura por

termografia

No tratamento com resfriamento contínuo investigou-se o efeito da

deformação plástica na microestrutura resultante. Amostras submetidas a

resfriamento contínuo foram deformadas plasticamente de 10% até 35%, sendo

este valor máximo de deformação limitado pela potência do laminador.

Amostras não deformadas também foram tratadas para fins de comparação.

No tratamento isotérmico estudaram-se amostras deformadas em 10% e

submetidas a distintas temperaturas de tratamento (400, 550 e 600 C). Diante

dos primeiros resultados obtidos para o tratamento isotérmico, verificou-se que

este percentual de deformação seria o mínimo suficiente para favorecimento à

formação de microestrutura acicular, sendo então mantido para a condição

isotérmica na qual se trataram amostras com distintos tempos de permanência

e temperaturas.

As análises microestruturais foram realizadas com uso de microscópio

eletrônico de varredura de marca JEOL modelo JSM-5900LV equipado com

módulo para EBSD (figura 3.3). Utilizou-se magnificação de 500x e uma malha

de 247x147 pontos, com step de 1 µm. A taxa média de indexação nas

análises foi de 80%, considerada como muito boa, pelos parâmetros do

(a)

(b)

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fabricante do equipamento, onde valores a partir de 57% já são tidos como

aceitáveis. A aquisição e análise dos dados foram realizadas com uso dos

software Flamenco e Tango, partes integrantes do pacote CHANNEL 5 (HKL

Company, 2010).

As amostras para análise de EBSD foram cortadas com disco de corte

de precisão e lixadas manualmente com papeis de granulometria 400, 600,

800, 1200 e 1500. O polimento foi realizado com pasta de diamante de

granulometria de 6 µm e 1 µm, seguidas de polimento em alumia coloidal de 1

µm por 2 horas.

Figura 3 - Análises de EBSD: (a) imagem da superfície da amostra durante a

varredura da superfície para aquisição de sinal de EBSD (b) microscópio JEOL

modelo JSM-5900LV com detector para EBSD – LNNANO-LNLS.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os mapas de polo inverso (figura 4.) mostram o aspecto geral das

microestruturas do aço como recebido e das amostras submetidas ao

tratamento termomecânico com percentual de deformação de 10%, 25% e

35%. Os grãos, definidos a partir de fronteiras com grau de desorientação

superior a 15°, são representados em cores correspondentes a respectiva

orientação cristalográfica, dadas pela figura de polo.

Pode-se observar uma evolução na microestrutura de uma morfologia

com contornos regulares e grãos definidos (figura 4-a e 4-b) para uma

morfologia menos regular e mais refinada (figura 4-c e 4-d). O aspecto

quantitativo desta modificação microestrutural será tratado nos tópicos

seguintes.

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Figura 4.17 - (a): Mapas de polo inverso (a) aço como recebido, (b) 10% de

deformação (c), 25% de deformação(d), 35% de deformação.

Pode observar-se, a partir da comparação entre os histogramas da

figura 5, que o aço como recebido apresenta grãos cuja frequência de

distribuição aproxima-se do perfil de distribuição log normal. (figura 5-a). Para a

condição de tratamento com deformação de 10% observa-se o aumento da

frequência em baixos ângulos (2° a 15°) e também em alto ângulo (50° a 60°)

(figura 5-b) quando comparado ao aço como recebido. Esta tendência é

mantida para as demais condições, tendo sido verificada a maior frequência em

baixo ângulo na amostra com deformação de 25%. Este resultado, reforçado

pela análise das micrografias de MEV, mostra que a modificação no perfil de

distribuição do grau de desorientação é uma consequência do efeito da

deformação plástica sobre a nucleação da ferrita e formação de subgrãos nos

pacotes cristalográficos de ferrita acicular.

O aumento da deformação plástica da austenita em temperatura de não

recristalização (TNR) estimula a formação de sítios intragranulares favoráveis à

nucleação da ferrita acicular (8) cuja microestrutura é formada por pacotes

cristalográficos com um grau de desorientação entre si em torno dos 5°, com

subunidades desalinhadas de 1° a 2° (5). Tal análise é também é coerente com

c

b a

d

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o resultado obtido no estudo das frações recristalizadas, subestruturadas e

deformadas, onde as maiores frações de fase subestruturada ocorrem nas

amostras deformadas de 10% e 25% (figura 4.24), evidenciando a presença

destes subgrãos, conforme já mostrado anteriormente (1).

Figura 5 - Perfil de distribuição do grau de desorientação (a) aço como

recebido, (b) 10% de deformação (c), 25% de deformação(d), 35% de

deformação.

Guo e colaboradores (9), ao estudar propriedades mecânicas em juntas

soldadas de aço com predominância de ferrita acicular, atribuíram o aumento

de dureza em determinadas regiões à presença de graus de desorientação de

até 3º nessa microestrutura. Segundo aquele autor a alta frequência de baixo

ângulo é uma boa indicação do grau de refinamento da estrutura. Aqui é

possível relacionar este fator aos valores de dureza apresentados na tabela

4.1, onde o crescente nível de deformação coincide com maiores valores de

durezas e maiores frequência em baixo ângulo.

Estudando-se o perfil de distribuição do grau de desorientação também

foi possível identificar a presença de fronteiras do tipo CSL, identificadas pelas

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linhas coloridas nos mapas da figura 6. Os contornos de grão com grau de

desorientação superior a 15° estão representados em preto.

Figura 6 - Mapas de contorno de grão e fronteiras CSL (a) aço como recebido,

(b) amostra com 10% de deformação.

Figura 7 - Histograma de distribuição de fronteiras CSL (a) aço como recebido,

(b) amostra com 10% de deformação.

A figura 4.19 mostra a distribuição de fronteiras CSL para as condições

como recebido e tratado com deformação de 10%, nesta última observa-se o

evidente aumento de fronteiras do tipo Ʃ3, assim como a diminuição de outras

simetrias. Na tabela 3 pode-se verificar que o tratamento termomecânico

elevou a ocorrência de fronteiras do tipo CSL, particularmente as do tipo Ʃ3,

em todas as condições de tratamento termomecânico quando comparado à

condição do aço como recebido. O percentual de ocorrência de 29% de Ʃ3 no

material como recebido (não deformado) elevou-se para 43% na amostra

submetida a 10% de deformação, mantendo-se em patamares próximos a este

para deformações superiores (tabela III), evidenciando que o mecanismo de

deformação é um fator importante na formação deste tipo fronteiras especiais.

a b

a b

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Tabela III - Frequência de ocorrência de fronteiras CSL e seu efeito no perfil de

desorientação para diversas condições de deformação.

Deformação

(%)

CSL (%) Ʃ3 (%) Ʃ3/CSL (%) Desorientação

(58°-60°)(%)

0 12,1 3,5 29 5,6

10 16,2 7,0 43 11,4

25 15,2 7,1 47 10,6

35 12,9 5,7 44 8,8

A ocorrência de fronteiras do tipo CSL está associada a fenômenos do

tipo geminado (10) onde o ordenamento da sequência de empilhamento de

planos é interrompido por uma sequencia de empilhamento distinta do

ordenamento do reticulado voltando, em seguida, ao ordenamento normal. Esta

situação gera fronteiras que separam regiões de mesmo ordenamento

designadas como gêmeas (1-2). Este tipo de fenômeno foi constatado em

regiões intragranulares de amostras deformadas, sendo possível observar a

ocorrência de grau de desorientação simétrico das regiões ordenadas

(geminadas) em relação à fronteira, conforme já mostrado (1). Esta ocorrência é

fator favorável à formação de fronteiras especiais do tipo CSL.

Pode-se observar a existência de uma relação entre o perfil de

desorientação e a ocorrência de fronteiras do tipo CSL. Considerando-se que

no reticulado CCC as fronteiras do tipo Ʃ3 são geradas a partir da rotação de

um ângulo de 60° do plano ˂111˃ pode-se inferir que o aumento dos contornos

Ʃ3 deve ter uma equivalente modificação no perfil de distribuição do grau de

desorientação das fronteiras em valores próximos a 60°. A figura 5-b confirma

esta expectativa ao mostrar um acréscimo da frequência dos ângulos de

desorientação no intervalo de 58°a 60°. No aço como recebido a porcentagem

de contornos com grau de desorientação incluído neste intervalo corresponde

apenas a 5,6% (tabela 4.4) do total enquanto que na amostra deformada em

10% (onde ocorre elevado acréscimo de fronteiras do tipo Ʃ3) esta ocorrência

sobe para 11,4% e se mantém, nas amostras submetidas a maiores

deformações, em patamares superiores àquele observado no aço como

recebido.

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Assim como para as fronteiras Ʃ3, a alteração da quantidade de outras

simetrias Ʃ pode ser detectada pela respectiva modificação no perfil de

desorientação. A tabela IV mostra a frequência de ocorrência de fronteiras CSL

e a modificação no perfil de desorientação em torno do ângulo característico de

cada simetria Ʃ. O acréscimo de frequência de fronteiras Σ3 e Σ11, assim como

a redução de fronteiras Σ5, Σ7 e Σ9, detectada nas amostras deformadas em

10% (quando comparado ao material como recebido) têm uma respectiva

variação no perfil de desorientação.

A fim de sumarizar estas evidências a tabela 4 mostra para estes tipos

de fronteiras, a frequência de ocorrência de fronteiras CSL e respectiva

alteração do perfil de desorientação para cada simetria Ʃ. O desvio máximo

aceitável para cada tipo de CSL pode ser calculado usando-se como

paramento o critério de Brandon (HKL company, 2010) definido como 15°/Ʃ1/2.

Tabela IV – Frequência de ocorrência de fronteiras CSL e respectiva alteração

do perfil de desorientação para cada simetria Ʃ.

Ʃ

Eixo

Ângulo(°)

CSL (%) Freq. do grau de

desorientação

(%)

0%

def.

10%

def.

Var* 0%

def.

10%def. Var*

3 111 60,0 28,7 43,3 14,6 5,6 11,4 5,8

5 100 36,9 3,1 1,8 -1,3 8,5 3,6 -4,9

7 111 38,2 4,6 2,1 -2,5 9,3 3,9 -5,4

9 110 38,9 4,8 2,1 -2,7 9,4 4,1 -5,3

11 110 50,5 5,6 9,6 4,0 12,6 14,6 2,0

*Var = variação dos percentuais de CSL entre o material como recebido e

tratado com 10% de deformação.

A diminuição das fronteiras CSL do tipo Ʃ5, Ʃ7 e Ʃ9, verificada nas

amostras submetidas a tratamento termomecânico (figura 7-b), quando

comparada ao material como recebido, pode ser evidenciada no perfil de

desorientação (figura 6-b) por meio da diminuição da frequência no intervalo de

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33,5 a 41,5. Ao passo que o acréscimo de fronteiras do tipo Ʃ11 se revela com

o aumento da frequência em torno dos 50°.

Em estudos anteriores(3) é relatado que o aumento da fração de

contornos especiais tem influência significativa nas propriedades do

material(3,11). Contornos de baixo ângulo, assim como CSL de baixo Σ são

inativos e mais resistentes à fratura do que as fronteiras aleatórias de elevada

energia (12).

Levando-se em conta que a tensão de fratura é muito maior para

contornos coincidentes com baixo Σ (3), o aumento da quantidade de contornos

de baixo Σ ou a diminuição de contornos de elevado Σ é um fator determinante

para o controle da fragilidade intragranular por meio do controle da distribuição

de contorno de grão (13). Assim é de se esperar que a amostra submetida a

tratamento termomecânico com deformação de 25% apresente a maior

resistência à fratura intragranular uma vez que associa uma elevada fração de

fronteiras Σ3 com baixa ocorrência de contornos com Σ˃29.

Suzuki et al (14) não somente verificou a importância de fronteiras de

baixo Ʃ, como também conseguiu medir seus limites de resistência ao

desenvolver um método para avaliação da resistência de fronteiras CSL em

materiais metálicos. Esse autor comparou os valores de limite de resistência à

fratura para distintos tipos de contornos especiais em uma liga Cr-Ni e concluiu

que a resistência a fratura é maior para fronteiras do tipo Ʃ3 e decresce para as

fronteiras Ʃ5, Ʃ9, Ʃ7 e Ʃ11, nesta ordem.

Considerando-se os resultados de Suzuki et al (14), o significativo

aumento de 3,5 para 7,0% na quantidade de fronteiras Ʃ3, evidenciado na

amostra deformada em 10% (tabela 4), favorece o aumento da resistência do

material. No entanto, os decréscimos das quantidades de Ʃ5, Ʃ7, Ʃ9 podem

comprometer este benefício, uma vez que apesar de serem fronteiras menos

resistentes que as Ʃ3, não se pode mensurar qual o efeito de sua diminuição

na resistência do material. A constatação de Suzuki et al (14) para ligas de Cr-

Ni, reforça a influência positiva da aplicação do tratamento termomecânico, em

aços ARBL, uma vez que promoveu o acréscimo significativo de fronteiras Ʃ3

em todas as amostras quando comparadas ao material como recebido.

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CONCLUSÕES

É possível obter a microestrutura predominantemente de ferrite acicular em aço

HSLA desde que sequências termomecânicas adequadas sejam aplicadas, a

partir da temperatura não recristalização (TNR) da austenita;

A formação de fronteiras do tipo CSL é influenciada por tratamento

termomecânico onde é possível relacionar a alteração de perfil desorientation

com o aumento de fronteiras do tipo Σ3 e Σ11 e inibição da formação de

fronteiras do tipo Σ5 Σ7 e Σ9;

A formação de fronteiras do tipo Σ3, estimulada por sequências

termomecânicas, mostrou-se benéfica para melhorar a resistência, onde a

intensidade de deformação desempenha um papel importante no

desenvolvimento de limites especiais CSL.

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THERMOMECHANICAL SEQUENCE AND CSL BOUNDARIES IN API 5L X80

STEEL

ABSTRACT

The coincidence sites lattice - CSL are special types of boundaries created from

single crystals that are misaligned by rotation or tilting, to a specific

crystallographic plane around an axis. So these crystals are generated new

coincidence points between them. The CSL boundaries in HSLA steels and its

relationship with the thermomechanical treatments are not yet listed in the

bibliography. In this work, the creation of this type of boundary was studied as a

function of the level of applied strain during thermomechanical treatment of

steel API 5L X80. The results showed that the thermomechanical treatment

increased the occurrence of boundaries of the CSL, particularly of the type Σ3.

The deformation in the austenitic phase (at temperature of not-recristalização-

TNR) modifies significantly the degree of misorientation between grains,

influencing the nucleation of subgrains in crystallographic packages of acicular

ferrite; showing that the deformation mechanism in this microconstituent is an

important factor for the formation of this boundary type.

Keywords: Thermomechanical sequence; API 5L X80, CLS Boundary

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