Por que animação?
Animação como produto artístico e cultural ;
Animação como importante e estratégico setor na Economia da Cultura e na própria Economia Nova.
Fotograma de animação de Roberto Miller
Animação no Brasil
Dificuldade em se pesquisar sobre o tema;
Reflexo da própria história da animação e da questão da memória no Brasil;
Principais fontes de consulta são depoimentos, catálogos e materiais diversos;
Exceção é o livro “A experiência brasileira no cinema de animação”, de Antonio Moreno (Embrafilme, 1978). O livro está esgotado há 20 anos e não contém atualizações referentes às três últimas décadas.
Breve História da Animação Nacional
Há mais de cem anos, em 1907, Raul Pederneiras começa a criar pequenas charges animadas para terminar a exibição dos primeiros cinejornais;
Até a década de 50, são desenvolvidos curta metragens e comerciais de cinema para o governo e a iniciativa privada em animação.
Um dos dois fotogramas remanescentes de “O Kaiser” de Seth (Álvaro Marins). Datado
de 1917, é o mais antigo registro da animação brasileira.
Breve História da Animação Nacional
Com a chegada da TV a animação começa a perder espaço nas salas de cinema.
Diferentemente de outros produtos, como o esporte, o jornalismo, os programas de auditório e as novelas, não houve espaço regular para a animação brasileira em nossa TV – problema que perdura até os dias atuais.
Em 1953 é lançado o primeiro filme de longa-‐metragem em animação brasileiro, “Sinfônica Amazônica” de Anélio Latini.
Fotograma de “Sinfonia Amazônica” de Anélio Latini.
De lá para cá, cerca de 20 outros filmes foram lançados – mais da metade nos últimos 10 anos.
No Brasil, há certa tradição na animação em curta-‐metragem e na publicidade.
O longa em 3D “Cassiopéia”, de Clóvis Vieira (1996)
“Meow”, curta de Marcos Magalhães
“D.D.Drin” comercial animado por Ely Barbosa
Breve História da Animação Nacional
Desafios e soluções para a animação brasileira
“Janela de exibição” tem sido um problema a contornar para a animação brasileira nos cinemas.
Ir além dos “guetos”, atingir, nacional e internacionalmente, o grande público e se firmar como importante produto artístico, cultural e econômico
As séries são, sem dúvida, um eficiente meio para isso.
Séries de animação no Brasil
“Turma da Mônica” (anos 80): produção irregular e não sistemática. Formato direct to video ou package film.
Anos 90: nos programas educativos daTV Cultura surgem, além de quadros e produções próprias, séries de pequena duração, como “Os Urbanóides”, de Cao Hamburguer.
“Os Urbanóides”, de Cao Hamburguer. Série educativa com duração aproximada de um
minuto, exibida no programa “Glub Glub” (TV Cultura, 1991).
Nos anos 90 e 2000, estúdios (como a TV Pinguim e a Martinelli Films) produzem séries de animação de curta duração para emissoras educativas.
“Annabel”, série da Martinelli Films
“Rita”, série da TV Pinguim
Séries de animação no Brasil
Em 2003, a MTV lança “Megaliga dos Vjs Paladinos”. Dirigida por Pavão, ao todo foram produzidas três temporadas, com 56 episódios de 21 minutos cada.
Com baixo orçamento, criatividade e senso de humor adequado ao seu público, a emissora lançou ainda “Fudêncio e seus Amigos” (2005), “RockStar Ghosts” (2007), “The Jorges” (2008) e “Infortúnio com Funéria” (2009).
“Mega Liga dos Vjs Paladinos”, série exibida pela MTV em 2003 “Fudêncio e seus Amigos”, série de 2005
Séries de animação no Brasil
Em 2004, é lançada a TV Rá-‐Tim-‐Bum. Primeiro canal 100% brasileiro, produz atualmente cerca de 300 horas de material inédito/ano, incluindo séries como: “Sidnei” (To Beat Animação) e “Nilba e os Desastronautas” (44 Toons).
Em 2005, é realizada a primeira série brasileira em 3D exibida internacionalmente: “Pixcodelics” (MoP Brasil Digital).
Apoio fundamental da ABPI-‐TV e da Brazilian TV Producers em programas de capacitação e participação brasileira em eventos do setor no exterior.
Modelo de co-‐produção internacional começa a surgir como opção viável de realização.
Séries de animação no Brasil
“Princesas do Mar”, co-‐produção brasileira “Osmar a Primeira Fatia do Pão de Fôrma”
“PixCodelics”, série exibida internacionalmente em 2005
Séries de animação no Brasil
“As Aventuras de Gui e Estopa” (2009), de Mariana Caltabiano
“Turma da Mônica”, de Maurício de Souza
“Escola Pra Cachorro”, de Mixer
“Meu Amigãozão”(2010), de 2D Lab
“Peixonauta”, de TV Pinguim
Além da TV, outras séries nacionais também fazem sucesso na Internet, em sites como “Mundo Canibal” e
“Charges.com”.
Personagens do site “Mundo Canibal” “Tobby Entrevista”, do site Charges.com
Séries de animação no Brasil
ANIMATV: programa inédito com o objetivo de impulsionar a produção de séries de animação no Brasil.
Perspectivas: considerando os últimos 10 anos e o cenário atual, são promissoras. Estimativa atual de 50 projetos profissionais tentando viabilização.
Novos desafios: (1) continuidade de ações no setor; (2) “gargalo” na formação e educação do animador (mão de obra); e (3) ampliação do público nacional e internacional de animação brasileira (espectadores)
Outros aspectos das séries animadas
Séries de animação são altamente interdisciplinares;
Sua produção pressupõe a formação de equipes e o conhecimento de diferentes áreas e setores, muitas vezes aparentemente distantes;
Entre estas áreas podemos destacar a narrativa que, claro, se articula com as demais áreas na produção de uma série de animação.
A narrativa seriada
Serialização não é sinônimo de redundância ou banalidade;
O próprio cotidiano ao mesmo tempo em que se repete, se renova ;
Presença da repetição em outras formas como a música e as arte plásticas. Na narrativa podemos
pensar no romance (folhetim), rádio (radiodrama), cinema (theatricals) e HQs;
• É possível pensar em uma estética da repetição capaz de criar uma “poesia ininterrupta” (Eco): a expressividade desta poética só pode ser experimentada em sua totalidade por meio de “um ato contínuo e fiel de simpatia. ”.
Os breaks possibilitam receita pelo anúncio de comerciais e uma “pausa para respirar”. Essa pausa deve ser explorada com recursos como os “ganchos de tensão”, por exemplo;
A serialização segue os preceitos da produção industrial em série. Agiliza a produção e permite a terceirização de programas;
É necessário ter em mente as características do meio, como a sua recepção em ambiente doméstico.
A narrativa seriada
• É estruturada em capítulos ou episódios com emissões descontínuas ou
fragmentadas. Pensada em forma de blocos em função dos breaks;
Por onde começar?
Antes de qualquer coisa, pensar nas especificidades e potencialidades da animação.
Porque esta série tem que ser feita em animação?
Tipologia: linear, autônoma e temática.
Ideia
Repertório e referências: valorizar e diversificar.
A questão do olhar.
Crítica e autocritica.
Conceito Geral da Série
Um parágrafo (8 linhas) com enredo central, tom, universo, personagens principais e seus relacionamentos;
Texto conciso, claro e objetivo. Deve permitir o entendimento, das principais características e elementos propostos pela série .
Story line (“frase conceito”)
Apresentação
Desdobramento das ideias apresentadas no conceito geral em até três páginas.
Quais são as justificativas e os objetivos do projeto?
Definir o público, dissertar sobre o tema central da série e a maneira pelo qual será abordado (gênero e tom), assim como se dará a articulação entre a forma e o conteúdo propostos.
Estilo do texto pode, portanto, variar entre trechos mais descritivos, criativos, conceituais e teóricos.
Universo
Mais do que seus elementos constituintes, é importante pensar nas redes de relações
que definem suas singularidades.
Suspensão voluntária da descrença (Coleridge)
Cenários
Partes constituintes do universo;
Não devem ser gratuitos;
Domínio da gramática visual;
Sua função principal é a de criar ou reforçar um determinado “clima” ou atmosfera.
Personagem
Série: character driven.
Tipologia -‐ Hierarquia: principais, secundárias ou figurantes. -‐ Função: antagonistas e protagonistas. -‐ Desenvolvimento Psicológico: planas ou esféricas.
Personalidade: virtudes, defeitos, gostos e preferências diversas, hobbies, trabalho ou ocupação principal, estilo de vida.
Formação (background): ficha biográfica contendo local e data de nascimento, criação, família (pais), criação, escola, amigos, infância, juventude, vida adulta, lembranças, traumas etc.
Personagem
Como a personagem se relaciona e é vista nas esferas pública, privada e pessoal?
Dimensão interior da personagem: transmitida ao público da série não só por diálogos e por sua relação com o universo, como também pela dinâmica visual da personagem (acting).
Três paradigmas visuais: a divisão do corpo em cabeça, tronco e membros; a cefalização (concentração dos órgãos sensoriais na cabeça, próximos ao cérebro) e a simetria bilateral, na qual a metade de um lado do corpo é equivalente ao outro.
Model Sheet
Contém“imagem síntese”, turn around, action
poses, expressões faciais, objetos e
acessórios.
Dois testes visuais com personagens:
silhueta e “lado a lado
Sinopse técnica
Muitas vezes, é o primeiro passo para o desenvolvimento de um episódio.
Destinada, aos avaliadores do projeto ou para a equipe de produção, não para o público final da série.
De caráter técnico, dispensa o uso de adjetivos como o artifício persuasivo.
A história do episódio é apresentada de maneira sintetizada, sempre com início, meio e fim, incluindo spoilers.
O objetivo é justamente contar a história de forma resumida, sem deixar nada “no ar”; quanto mais claro tudo for, melhor.
Roteiro
Teorias e estudos sobre narrativa e roteiro sempre podem ajudar, desde que não se esqueçam as especificidades das séries e da animação.
É importante responder às perguntas mais elementares da obra, sobretudo no que tange a sua relação com o autor: por que fazer esta série? Qual a sua relevância? O que se pretende com ela?
Uma maneira de se criar episódios é pensar nas formas pelas quais as personagens interagem entre em si e com o universo narrativo – o que pode gerar as mais diversas situações.
Situações pontuais também podem funcionar, como algum acontecimento imprevisto ou inusitado, por exemplo.
Episódio piloto: cuidado para não colocar “tudo”. Deve, ao mesmo tempo, contar uma história e apresentar os elementos centrais da série.
Possibilidade interessante é pensar em um formato híbrido: curta-‐piloto.
Roteiro pode ser escrito a partir do desenvolvimento da sinopse e de um argumento prévio.
A escrita deve ser clara, direta e objetiva. As descrições devem ser feitas predominantemente em termos de som e imagem, nunca subjetivas.
Softwares (como o Celtx) auxiliam na diagramação e formatação do texto, além de oferecer ferramentas adicionais.
Roteiro e Episódio Piloto
Tratamentos de Roteiro
Primeiro tratamento: foco no story line. Normalmente é feito para corte de tempo morto e ajuste da dinâmica e do ritmo.
Segundo tratamento: Normalmente é feito para se manter o story line do episódio e evitar dispersões ou digressões.
Tratamento reverso: ajustes feitos a partir da leitura reversa do roteiro, isto é, de seu final para seu começo. Permite visualizar melhor eventuais erros de continuidade e lógica estrutural, assim como acrescentar tramas paralelas e detalhes, como os bits de antecipação.
Diálogo
Preferir sempre o mostrar ao contar. Explorar ao máximo recursos como acting, staging e a própria estética como ferramentas narrativas.
Deve ser usado quando não houver outra forma de se passar a mensagem. O “silêncio” pode trazer, ao espectador, descobertas e tempo para assimilação.
Procurar restringi-‐lo ao máximo de três frases por bloco. Considerar as especificidades e diferenças entre fala e escrita: ao invés de simplesmente escrever, o ideal é dizer as falas em voz alta e imaginá-‐las na “boca da personagem”.
Quando utilizado o diálogo deve, de maneira análoga à dinâmica visual, revelar a personalidade da personagem.
Storyboard
Fundamental no desenvolvimento da animação, permite uma découpage do roteiro em diferentes planos e enquadramentos.
Em animação, em princípio, “quanto mais, melhor”. Assim, um mesmo plano pode ter, em caso de movimento da personagem ou de objetos de cena, diversos panels -‐ ainda que se mantenha o mesmo enquadramento.
É possível aproveitar em diferentes camadas (layers) aquilo que permanece igual no quadro.
Os desenhos devem ter qualidade (acabamento) suficiente para que se entenda o que é mostrado.
Storyboard
O ideal é que a história possa ser entendida apenas pelo acompanhamento dos desenhos.
Textos contendo descrições de ambiente, ação, áudio e movimentos de câmera acompanham os desenhos do storyboard .
• Há três tipos de storyboard: rascunho, trabalho e apresentação.
• Devem ser feito em uma janela (moldura) de 16:9.
Animatic
Animatic, também conhecido por story reel ou leica reel, é uma espécie de versão audiovisual do storyboard, uma “pré animação”.
Conforme os planos vão sendo animados, o animatic é atualizado até que, pouco a pouco, se tenha toda a animação finalizada.
Depois que se começa a animar, o ideal é não alterar nada, pois além de ser mais complicado, consome mais tempo e dinheiro da produção.
Dicas e Conselhos
Realizar, ao menos, dois curtas antes de se aventurar nas séries;
Esteja atualizado;
Procure expandir suas referências;
Paixão como elemento motivador;
A criatividade deve estar sempre presente;
Veja o quadro geral e considere aspectos diversos;
Crítica, autocrítica e consultoria;
Conheça seu projeto e nunca o apresente antes do tempo;
Considere a possibilidade de conviver com seu projeto durante algum tempo;
Seja sempre profissional;
Procure acompanhar e participar de todas as etapas;
Dê o máximo de si, sempre;
Bom senso, coerência e jogo de cintura;
Aprenda a lidar com o “fracasso”;
Aprenda a lidar com o “sucesso” .
Dicas e Conselhos