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CENTRO UNIVERSITÁRIO PLÍNIO LEITE Coordenação do Curso de Serviço Social

Curso Serviço Social

SILVIO JOSÉ PEREIRA DE LIMA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

Niterói

2007

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SILVIO JOSÉ PEREIRA DE LIMA

OS DIREITOS DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA: UM ESTUDO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA COM UMA CRIANÇA PORTADORA DE

SÍNDROME DE WEST

Trabalho de Conclusão do Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da UNIPLI, como requisito para obtenção parcial do grau de Assistente Social.

Orientadora: Profª. Marciane da Silva Ornelas Conceição Mestre em Serviço Social

Niterói

2007

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SILVIO JOSÉ PEREIRA DE LIMA

OS DIREITOS DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA: UM ESTUDO A PARTIR DA EXPERIÊNCIA COM UMA CRIANÇA PORTADORA DE

SÍNDROME DE WEST

Trabalho de Conclusão do Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da UNIPLI, como requisito para obtenção parcial do grau de Assistente Social.

Aprovado em: 28 de junho de 2007

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Profª. Marciane da Silva Ornelas Conceição

Mestre em Serviço Social

___________________________________________

Profª. Maria Elisa Pimentel

Mestre em Serviço Social

___________________________________________

Profª. Sindely Chahim de Avellar Alchorne

Mestre em Serviço Social

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“...as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades

fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o de não serem

submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da

igualdade que são inerentes a qualquer ser humano.” Convenção da Guatemala.

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Resumo

DE LIMA, Silvio José Pereira. as vias de acesso aos direitos dos portadores de deficiência: um estudo a partir da experiência com uma criança portadora de síndrome de west: 2007. 53f. TCC Trabalho de Conclusão de Curso. Coordenação de Serviço Social - Centro Universitário Plínio Leite.

Esse trabalho relata as vias de acesso aos direitos das pessoas com necessidades especiais, a partir da experiência com uma criança portadora de síndrome de west.

Palavras-chave: garantias de direitos. Portadores de deficiências

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus pela força que me foi dada para que

enfrentasse mais esse desafio, mesmo que em alguns momentos tenha

desmoronado, minha força redobrava a cada recomeço.

Meu amor, minha Si..., Obrigado pela compreensão dos dias em que,

mesmo chegando do trabalho, assumiste o controle das tarefas da casa, das

noites que não pudemos passar juntos, dos meus medos, das minhas

reclamações! Agradeço-te a paciência pelo apoio nos momentos difíceis e pelo

encorajamento. Também, gostaria de agradecer por teres aparecido na minha vida

e me dado meus dois anjos. És uma mãe e companheira maravilhosa. Te amo e

acredito que chegamos lá onde nossos sonhos estão.

Ao meu querido filho Pedro que, apesar de pouca idade é um verdadeiro

guerreiro, que muito rápido passou daquele pequeno menino para um grande

homem. Sei que sou muito duro contigo, mas saiba que tu és um filho

maravilhoso. Confio muito em ti. Te amo!

A minha linda filha Mariana, que é força e a razão para que eu tenha

voltado a estudar. Como gosto de chegar em casa, tomar um banho rápido e te

procurar para conversarmos. Sei que você, da sua maneira, me compreende.

Daqui para frente terei mais tempo para conversarmos e te encher de beijos.

Mesmo na sua maneira de ser, tenho muito orgulho de ter-te como filha.. Obrigado

pela alegria que teus lindos olhos me passam. Te amo a cada minuto!

A minha mãe Zilma e às minhas irmãs Silvia, Sandra e Silvana apesar de

muito longe, agradeço todo o apoio e a paciência em tolerar a nossa ausência

neste período.

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Ao pai, Silvio Lima, quanta saudade sinto de ti! Exemplo de homem:

correto, bom, alegre, honesto e amigo de todos. Como eu queria que fôssemos

vizinhos para que tu brincasses e acompanhasses o crescimento do Pedro e da

Mariana.

Ao meu sogro Wilson e Regina. Falo com os amigos que adquiri um pai e

não um sogro. Obrigado pelo apoio que recebemos durante essa trajetória...

Às minhas professoras agradeço a compreensão, ajuda, apoio,

disponibilidade, e acima de tudo, o incentivo para que eu continuasse a acreditar

que poderia vencer todos os obstáculos... Obrigado por tudo.

Assistente Social Ana Paula, minha supervisora de campo, agradeço a

paciência e os ensinamentos passados durante os dois anos de estágio. Tenho

muito a agradecer, pelas cobranças, apoio, profissionalismo e ensinamentos!

Quando crescer, quero ser igual a ti!

A minha orientadora Prof. Sany pelas críticas, sugestões, incentivo,

simpatia e presteza no auxílio às atividades e discussões sobre o andamento e

normatização deste Trabalho de Conclusão de Curso.

As professoras Maria Elisa e Sindely pelas críticas e sugestões e por honrar

com suas presenças em nossa banca examinadora.

As colegas de classe que, durante esses anos, nos deram mostra de

coragem, força, determinação, espontaneidade e alegria na troca de informações

e materiais numa demonstração de amizade, solidariedade e companheirismo.

Em especial, Cássia Bello (KCIA) e ao Jairo, pelo incentivo, apoio e

inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos que me

levaram a execução e conclusão deste trabalho.

Ao meu grande, grande mesmo, colega de trabalho e amigo Paulo César

(PC), que por várias vezes cobriu nossa posição nos horários de estágio,

demonstrando companheirismo e amizade.

Aqui deixamos muitas saudades e gratidão por tudo aprendido, pelo

exemplo recebido de dedicação e informação. Agradecimento à todos pelo

carinho, compreensão e ajuda.

Muito Obrigado

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Sumário

Introdução 11

Capitulo I A Deficiência em Perspectiva Histórica. 12

1.1 O Legado Histórico da Deficiência. 12

1.2 Trabalho e Deficiência. 18

Capitulo II Os Direitos dos Portadores de Deficiência. 22

2.1 Estado Brasileiro enquanto instância privilegiada de garantia dos direitos.

22

2.2 Dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência. 26

2.2.1 Direito à Educação. 27

2.2.2 Direito à Saúde. 28

2.2.3 Direito ao Trabalho e a Formação Profissional. 28

2.2.4 Direitos Previdenciários. 29

2.2.5 Direito ao Benefício da Prestação Continuada– BPC. 30

2.2.6 Direito da Acessibilidade. 30

2.2.7 Da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. 32

2.2.8 Responsabilidades do Ministério Público. 33

2.2.9 Declaração de Salamanca. 33

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Capitulo III

Serviço Social e a questão da garantia do acesso aos direitos dos portadores de deficiência.

35

3.1 Contextualização da profissão. 35

3.2 Atributos Inerentes a Profissão. 43

3.3 Áreas específicas de atuação do Serviço Social com a população portadora de deficiência.

44

3.3.1 Educação. 44

3.3.2 Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. 45

3.3.3 Saúde. 47

3.4 O Serviço Social e a Intervenção na Associação Fluminense de Reabilitação.

48

Conclusão 51

Referências

52

Anexos Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais.

Estatuto dos Portadores de Deficiência.

Declaração de Salamanca.

Síndrome de West e suas necessidades funcionais.

Vivenciando a história.

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Introdução

O presente estudo nos foi inspirado, apriore até mesmo antes do ingresso

na Universidade. A escolha pelo curso de Serviço social se deu a partir da nossa

indignação do quadro que uma família enfrenta com uma criança portadora de

necessidades especiais.

Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, as “pessoas portadoras

de deficiência” correspondem a 10% de toda a população do mundo. Estas

pessoas possuem necessidades especiais devido às suas dificuldades e

limitações, mas necessitam também de ter sua identidade reconhecida e romper

com a tradição de uma globalização que as segrega, uma sociedade que as

marginaliza e exclui.

Este percentual está dividido da seguinte maneira, de acordo com as áreas

de Deficiência:

NÚMERO DE “PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA” NO BRASIL

ÁREA DE DEFICIÊNCIA POPULAÇÃO PORCENTAGEM Deficiência Mental (D.M.) 8.000.000 5% Deficiência Física (D. F.) 3.200.000 2% Deficiência Auditiva (D.A.) 2.400.000 1.5% Deficiência Múltipla 1.600.000 1% Deficiência Visual (D.V.) 800.000 0.5%

Total 16.000.000 10% Fonte: CORDE, 1992 (considerando-se a população brasileira com aproximadamente 160 milhões de habitantes, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística – IBGE)

Nesse contexto, o reconhecimento das deficiências e das “pessoas com

deficiência” representa hoje o grande desafio de todos, no sentido de propiciar

uma equiparação de oportunidades.

A luta para garantirmos estes espaços de igualdade para os cidadãos

significa uma luta política, porque viver em sociedade representa ter deveres e

direitos que devem ser obedecidos e respeitados no planejamento dos projetos

públicos.

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Esta publicação é composta de três capítulos e foi adotada com o propósito

de informar aos usuários com interesse específico no direito das pessoas

portadoras de deficiência, sendo complementada com a documentação em anexo.

O primeiro capítulo tem a finalidade de traçar um panorama histórico da

deficiência, dentro da realidade social brasileira, conceituamos também a questão

perspectiva capitalista.

O segundo capítulo apresenta a legislação brasileira com relação à

deficiência, tais como: educação, saúde, previdência, trabalho, formação

profissional. Assinalamos o direito ao Benefício da Prestação Continuada – BPC

da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS.

O capítulo três, define o Serviço Social e a questão da garantia do acesso

aos direitos das pessoas portadoras de deficiência, a contextualização, os

atributos inerentes a profissão, as áreas específicas de atuação do Serviço

Social. Enumeramos a reabilitação, educação e a assistência.

Esta edição traz em anexo1, os seguintes documentos: o Código de Ética

Profissional dos Assistentes Sociais, o Estatuto das pessoas portadoras de

deficiência, a Declaração de Salamanca2, a Síndrome de West e suas

necessidades funcionais, e Vivência da história como pai da uma criança

portadora da síndrome de west.

Capitulo I A Deficiência em Perspectiva Histórica

1.1 – O Legado Histórico da Deficiência

Nos séculos passados e até os dias atuais, em algumas culturas como os

indígenas, por exemplo, as pessoas que nascem com algum tipo de deficiência,

são sacrificadas. Esse fato se dá, por acreditarem que elas nasceram assim para

que algum erro de vidas passadas fosse corrigido, ou porque seus pais teriam

cometido algum tipo de “pecado” muito grave no passado.

1 Ver documentação em anexo. 2 Declaração de Salamanca: reunião realizada em 1994, na cidade de Salamanca na Espanha, com educadores de vários países com objetivo de discutirem a educação inclusiva para todos.

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Em nossa cultura, até a década de 80, muitos ainda eram escondidos,

viviam em clausuras, por vergonha dos familiares. A própria ditadura militar com

que fomos impostos no período das décadas de 60 a meados da de 80, ajudava a

essa estúpida e covarde prática. Assinalavam que os imperfeitos eram pessoas

vulneráveis e que sofreriam muito. Em 1948, com a Declaração Universal dos

Direitos Humanos, da ONU, essa prática começou a cair em desuso.

A reflexão que se segue refere-se sobre as “pessoas portadoras de

deficiência”. A legislação existente para proteção dos seus direitos e para sua

garantia. No Brasil, pois, a realidade tem se mostrado um cenário de todos os

paradoxos em que, os excluídos estão cada vez mais discriminados.

A crença de que é no existir destas pessoas que as ideais de “deficiência”,

“diferença” e “normalidade” fazem sentido. Torna-se necessário que a abordagem

seja primeiramente sobre elas. Conhecendo as causas e os fatores que

implicaram e complicaram suas limitações. A partir dessas constatações é que

será possível para que se possa traçar as estratégias para a promoção de seus

direitos. Este esclarecimento busca evitar a rotulação ou a estigmatização gerada

por todos os preconceitos ou desconhecimentos existentes ou por valores que

afetam o bom relacionamento humano.

Desta forma, segundo Weber,

“nenhuma pessoa é deficiente em termos absolutos mas em certas situações particulares, face a tarefas dadas. A vida é uma sucessão de grandes situações (a escola, o trabalho, o ônibus...) que podem se decompor em situações menores (subir um degrau, apertar uma campainha, abrir uma porta...). Para abordar estas situações, cada um se encontra mais ou menos bem armado ou deficiente.” (Weber, apud Mettetal-Dulard, op. cit, p. 11).

Os termos “deficiente”, “diferente” e “anormal” carregam subjacente, gestos

ou comportamentos impostos pela sociedade prejudiciais para a manutenção da

vida de qualquer ser humano. Por possuir características afetivas ou motoras

diferentes, podendo-lhes impedir de viver plenamente. Traduzem por tanto,

preconceitos que geram estigmas; traduzem valores morais, culturais e éticos de

uma sociedade e que se consubstanciam na relação entre as pessoas “normais”

ou “anormais”, “iguais” ou “diferentes”, “pessoas portadoras de deficiência” ou não;

e traduzem, acima de tudo, desconhecimento de quem são estas pessoas.

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Esta preferência pelo termo deficiente reflete o seu conceito como um

resultado das barreiras sociais e ambientais que impedem as pessoas com

incapacidades, de participarem em situação de igualdade com as pessoas tidas

como normais.

Contudo, o termo “pessoas com deficiência” segue a definição adotada

mundialmente pela Organização das Nações Unidas (ONU) em sua “Declaração

dos Direitos das Pessoas Deficientes” de 9 de dezembro de 1975, aprovada em

Assembléia Geral,

“O termo ‘pessoas deficientes’ refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas, sensoriais ou mentais” (ONU, apud Ribas, 1985: p. 10).

No Brasil, utilizou-se por muito tempo a palavra ‘excepcional’ e

posteriormente o termo ‘deficiente’. Hoje se utiliza a nomenclatura “pessoa

portadora de deficiência” que caracteriza que a deficiência está na pessoa, mas

não é a pessoa. Por se tratar de uma expressão “ressaltando o conceito de

pessoa”, diminui a desvantagem e o preconceito gerados por uma abordagem,

que até bem pouco tempo, reduzia à sua deficiência e caracterizava este grupo de

indivíduos.

O mais importante nesta nova terminologia é que o deficiente não é mais

um nome e sim um complemento que vem depois de outra coisa. A evolução do

conceito e a nova postura pode ter contribuído para evitar-se a fragmentação de

uma definição que considerava o deficiente unicamente por partes. Introduziram à

imagem que se faz do deficiente, a imagem de si, do grupo, de seu grupo, do

indivíduo global e inteiro.

“Pessoas Portadoras de Deficiência”, “Portadores de Deficiência” ou

“Pessoas com Deficiência”, “People with Disability” (em inglês), “Personas con

Discapacidad” (em espanhol). (Regina Cohen, 2004).

A terminologia “Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais” é aceita

pela área técnica e se constitui em mais uma nomenclatura adotada por algumas

entidades.

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São diversos os termos usados nacionalmente para se referir a um grupo

composto de “pessoas portadoras de deficiência”: excepcional, cego, paralítico,

aleijado, mutilado, inválido, surdo, louco, retardado, debilóide, débil mental,

mongolóide, anormal, indivíduo de capacidade reduzida, indivíduo de capacidade

limitada, etc., além de “deficiente”. As palavras e suas correlações são os reflexos

das imagens que fazemos destas pessoas, tornando-se à sua maneira coisas

concretas de nossa realidade.

Poderíamos ainda inserir um grande número de pessoas portadoras de

características especiais. Por também possuírem suas dificuldades, as crianças,

as pessoas idosas, os obesos e as mulheres grávidas também se encontrariam

em situação de desvantagem.

Para João Batista Cintra Ribas, a porcentagem no Brasil é maior do que os

10% estimados porque a “questão da deficiência” está intimamente relacionada

com a questão social,

“Nós somos considerados um ‘país em desenvolvimento’ (Terceiro Mundo). (...) E, como afirma a Rehabilitation International – RI, os deficientes do Terceiro Mundo são ‘gente para quem as únicas condições de vida são a pobreza, a fome, a ignorância, a miséria e a falta de perspectiva.” (Ribas, op. Cit., p. 40).

O ano de 1981 veio mudar essa conduta cruel e discriminativa, quando foi

declarado pelas Nações Unidas, como o Ano Internacional do Deficiente Físico.

Foi um avanço revolucionário na mentalidade universal. Diversos deficientes

alcançaram o direito de viver, de provarem que eram capazes de trabalhar,

estudar, namorar, casar, apesar de suas deficiências e limitações.

Na Constituição Federal3, existem garantias previstas destinadas aos

portadores de deficiência, e em seu artigo 5º, que garante a igualdade entre todos.

3 Na Constituição brasileira, e na legislação existente, a pessoa portadora de deficiência tem proteção especial. No que

tange às garantias constitucionais, o Brasil possui um sistema legal de proteção bem encadeado. Um dos objetivos fundamentais da República Federativa é a construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I, CF), bem como promover o bem-estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º, IV). O artigo 7º, XXXI, proíbe qualquer tipo de discriminação no tocante aos salários e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência. A Constituição atribui à União, Estados, Municípios e Distrito Federal a responsabilidade de cuidar da saúde e da assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência (art. 23, II). A competência legislativa sobre regras de proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência pertence a todos os Entes Federados (art. 24, XIV), sendo que a lei reservará um percentual de cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de deficiência (art. 37, VIII). A assistência social será prestada aos necessitados, independentemente de contribuição à seguridade social, com objetivo de habilitar e reabilitar as pessoas portadoras de deficiência e promover a sua integração à vida comunitária, garantindo um salário mínimo mensal à pessoa deficiente que comprovar não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família (art. 203, IV e V). Além disso, o Estado tem o dever de garantir o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência (art. 208, III)

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E em sua totalidade, vem defender o direito dos menos validos, tais como:

crianças, adolescentes, idosos e deficientes, com a proposta de estatutos

específicos e legislações, que lhes garantiu o respeito e a cidadania.

A Lei Federal nº 8112, de 11 de dezembro de 1990, impõe que a União

reserve, em seus concursos, até 20% das vagas a portadores de deficiências,

havendo iniciativas semelhantes nos Estatutos Estaduais e Municipais, para o

regime dos servidores públicos.

Neste contesto, o art. 93, caput, da Lei Federal nº 8213 de 24 de julho de

1991, é outro avanço, que estabelece cotas para contratação de funcionários

portadores de deficiência. Pode parecer uma medida discriminativa, mas por

enquanto, é muito necessária, já que não havia interesse da sociedade em

contratá-los. A lei determina que:

Empresas com número de 100 até 200 funcionários deve ter 2% de

deficientes;

de 201 a 500 = 3%,

de 501 a 1000 = 4% e

mais de 1001 = 5%.

Outras legislações vieram somar à garantia de direitos das pessoas

portadoras de deficiência, como o decreto nº 5296/2000, que estabelece o

seguinte:

Decreto nº 3.298/99 – Regulamenta a Lei 7.853 de 24 de outubro de 1989 e

dispõe sobre a Política Nacional para a integração de Pessoa Portadora de

Deficiência, consolida as normas de proteção e outras providências.

Criação de normas gerais e critérios básicos para promoção de

acessibilidade;

e criar programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como a integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos (art. 227, § 1º, II). (Oliveira: 2000, p. 148-149).

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A lei 8742/93, para a formação dos Conselhos, que são canais efetivos de

participação da sociedade civil e pública;

A lei estadual nº 4049/2002 que prevê estacionamento gratuito e integral à

pessoa com deficiência,

O decreto nº 4584/95 que regulamenta a concessão de gratuidade nos

ônibus, entre tantos outros. Os portadores de HIV, câncer e outras doenças

crônicas, acharam nessa legislação um gancho e

A Lei 1722, de 12 de abril de 1999. Veio lhes garantir os mesmos direitos à

gratuidade nos transportes para tratamento médico.

Para garantia dos direitos à educação, em 1994, na cidade de Salamanca

na Espanha, uma reunião com educadores de vários países com objetivo de

discutirem a educação inclusiva para todos, nasceu a Declaração de Salamanca,

que mudou o olhar em relação a integração social. Ela declara que é o meio que

tem que se adaptar ao sujeito e não o sujeito ao meio, como era entendido

anteriormente.

O Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, publicado no Diário Oficial

da União de 21 de dezembro de 1999, veio regulamentar a Lei nº 7.853, de 24 de

outubro de 1989, que dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da

Pessoa Portadora de Deficiência, consolidando as normas de proteção, e dá

outras providências.

Consideramos também os fóruns municipais, estaduais, mundiais se

mobilizam para tratarem do assunto. Hoje vemos uma gama de pessoas que

outrora estavam marginalizadas, mostrando que deficiência nada tem a ver com

eficiência, mesmo que de maneira tímida. Encontramos cadeirantes, cegos,

surdos, síndromes de Down e outros ocupando e disputando o mercado de

trabalho. Essa disputa ainda não é com igualdade.

Existe na sociedade uma divisão entre o que é “normal” e “anormal”, entre

“comum” e “incomum”, entre “iguais” e “diferentes”. Esta divisão acaba por colocar

coisas e pessoas normais de um lado e de outro tudo que diverge das

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expectativas da sociedade ou foge a esta regra: o anormal, o patológico e o que é

diferente.

Podem ser questionadas as regras existentes para definir o que é a norma,

ou se estas evoluem em um determinado contexto. Porém, não existem critérios

absolutos para definir como as pessoas deveriam ser, cada um é o que sua

realidade permite.

O censo de 2000 identificou que no Brasil há pelo menos 24,5 milhões de

deficientes, sendo que, 25% estão em situação de extrema pobreza e 53% são

considerados pobres. A média de escolaridade é de dois anos e meio.

1.2 - Trabalho e Deficiência.

Em uma sociedade organizada sob o patrocínio do mercado competitivo e

do consumo, a posição ocupada pelos indivíduos em relação ao processo

produtivo determina quase que sumariamente todas as outras dimensões da sua

existência – produzem para si e o coletivo sua identidade. O acesso ao emprego

e ao salário é imprescindível porque, ainda que não de direito, mas de fato,

constituem-se na chave de acesso aos direitos básicos da cidadania como

alimentação, saúde, moradia, educação, lazer e todo o resto. E se por um lado

crescem os desejos e a busca pela estabilidade conquistada no emprego formal,

por outro, estreitam-se drasticamente as possibilidades de colocação profissional,

num processo de afunilamento condicionado pelas transformações tecnológicas e

pelas crescentes exigências de formação e especialização do trabalhador.

Considerando que ser visto como eficiente é o diferencial competitivo que

pode conduzir a vitórias neste contexto de competitividade, ser portador de

deficiência pode ser a marca indestrutível da incapacidade e até mesmo da

impossibilidade de se enquadrar aos padrões de desempenho desejados.

A composição da palavra deficiência coloca um prefixo de negação naquilo

que é a qualidade primordial esperada pra a inclusão social: a eficiência. A

subjetividade do indivíduo é esmagada pelo estigma e nele esvaem-se desejos,

sonhos, habilidades, talentos, enfim, o potencial criativo e realizador que

caracteriza a condição humana.

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Em tempos em que os conceitos de responsabilidade social4 ganham

consistência, em que os princípios de parceria e trabalho entre diferentes agentes

sociais são considerados eixos estratégicos para o desenvolvimento humano

sustentável, é premente que a mobilização da sociedade em seus diversos

segmentos e características atue, com ênfase merecida, na implementação de

políticas capazes de reverter a exclusão da pessoa portadora de deficiência. É,

nesse sentido, merece destaque privilegiado a sua inserção no mercado de

trabalho, já que além da superação da invisibilidade e do isolamento social,

proporciona a autonomia e a dignidade existencial próprias ao cidadão. (IBDD,

2004;188p).

As empresas precisam dimensionar a sua importância neste contexto e,

para além das obrigações ditadas pela legislação, compreendem que grande parte

da sua necessidade de mão-de-obra pode ser desempenhada por trabalhadores

portadores de deficiência com igual ou mais eficiência que os demais. Não se

espera atitudes protecionistas, mas acertivas, que eliminem o preconceito ainda

freqüente nos processos de seleção em que os estigmas5 da deficiência e da

“suposição” da ineficiência, criam temores de que no ambiente de trabalho

possam ser criadas toda sorte de situações embaraçosas, como incapacidade,

recorrentes complicações de saúde, problemas psicológicos e rejeição dos

colegas. Nesse sentido, é primordial que a contratação de uma pessoa com

deficiência preencha, em sua primeira etapa, a necessidade da empresa em

relação ao recrutamento de determinado tipo de trabalhador, com tais e quais

qualidades e características, e que só então seja examinada a possibilidade dele

portar uma deficiência. Ou seja, que a escolha se desenvolva de acordo com os

procedimentos adotados pela organização, preservando as prerrogativas de

direitos e deveres inerentes a qualquer relação trabalhista.

4 Responsabilidade Social pode ser entendida como a operação de uma empresa pública ou privada de forma a que essa atenda às expectativas da sociedade em termos de respeito à lei, aos valores éticos, às pessoas, à comunidade e ao meio ambiente. (FIGUEIREDO, 2001)

5 Estigma é uma marca, um rótulo que se atribui a pessoas com certos atributos que se incluem em determinadas classes

ou categorias diversas, porém comuns na perspectiva de desqualificação social. (Goffman, Erving, 1986).

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E se não há perdas internas, se é plenamente possível localizar a

contratação do portador de deficiência no contexto produtivo em padrões

desejados de eficiência, é preciso dar um passo adiante para vislumbrar que, para

os consumidores, cada vez mais, atitudes de responsabilidade social consolidam-

se como critérios de escolha, tornando-se um importante diferencial competitivo.

Segundo pesquisa “Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro”,

realizada em 2002 pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,

para a pergunta “Qual das seguintes atitudes de uma empresa estimularia você a

comprar mais os seus produtos e recomendar aos seus amigos?”, 42% dos

entrevistados responderam “que contrata deficientes físicos”. (IBDD, 2004).

Os benefícios sociais e econômicos desdobram-se em efeito cascata.

Potencializar a capacidade de consumo das unidades familiares que têm pessoas

com deficiência significa, em uma projeção conservadora, atingir a pelo menos a

20% dos brasileiros, contingente populacional expressivo, capaz mesmo de

influenciar positivamente o crescimento da economia. Por outro lado, segundo

estudos da Organização Internacional do Trabalho, a reversão da condição de

“invalidade” atribuída ao segmento e, por extensão, a redução de benefícios

sociais e previdenciários, exigíveis em compensação, pode desonerar

significativamente os custos de produção compostos pelos tributos que

subvencionam as redes públicas de proteção social. (IBDD, 2004).

Contextualizada a questão, de certo permanecem perguntas de ordem

práticas, de como realizar com sucesso uma política de contratação de portadores

de deficiência ou de como estabelecer um processo de comunicação dirigida a

este público durante processos de seleção. Identificando a falta de informação que

caracteriza a temática, um exemplo é Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da

Pessoa Portadora de Deficiência – IBDD que desenvolveu metodologias de

trabalho específicas que oferecem pontes para que as empresas e os portadores

de deficiência construam laços profissionais sob bases sólidas e satisfatórias.

(IBDD, 2004).

Para os portadores de deficiência, no que se refere ao mercado de trabalho,

o ideal seria o investimento na oferta de qualificação profissional, no

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desenvolvimento de habilidades intelectuais e comportamentais favoráveis ao

desempenho profissional, no incentivo à formação educacional formal e no

fortalecimento da pessoa e da sua auto-estima. Para os empresários estão

disponíveis serviços técnicos na área de recursos humanos, acessibilidade e

terceirização de contratações, que oferecem soluções individualizadas, de baixo

custo e de grande eficácia. (IBDD, 2004).

Cada indivíduo tem suas possibilidades de trabalho, é preconizar o

reconhecimento do humano como o cerne. Este pressuposto subverte a ordem

tradicional em que a limitação funcional, ou seja, a própria deficiência, é o fator

determinante de avaliação, que vincula automaticamente que ser amputado de

uma perna possibilita ou não a realização desta ou daquela tarefa. E com essa

premissa não se pretende desconsiderar a necessidade de realizar uma análise

que compatibilize funções e deficiências. O que revoluciona a questão é conjugar

os aspectos funcionais e as limitações dele derivados, com o plus que cada ser

humano é capaz de acrescentar à sua existência, de acordo com os estímulos e

oportunidades experenciados ao longo da vida. (IBDD, 2004).

É preciso ressaltar que as deficiências não têm exatamente características

fechadas, estanques. A título de exemplo vale dizer que um quadro de tetraplegia

pode permitir o movimento do tronco, dos braços e das mãos, com toda força e

precisão, contrariando radicalmente a imobilidade usualmente atribuída a essa

deficiência. Muitos detalhes vão contribuir para a consolidação de possibilidades

e limitações, concorrendo para tanto fatores como: tipo de lesão, qualidade do

processo de reabilitação, capacidade de adaptação e desenvolvimento de

habilidades compensatórias à deficiência, experiências sociais, acesso à

educação, auto-estima, enfim, um conjunto de determinantes que devem ser

analisadas no seu conjunto, e no foco exato onde interagem: em cada

subjetividade. (IBDD, 2004).

O mais importante na reflexão sobre inclusão social e emprego da pessoa

portadora de deficiência é de que não existe compatibilidade ou incompatibilidade

absoluta, tudo depende da capacidade e da personalidade de cada ser humano. O

potencial criativo, impulsionado pela motivação, leva as pessoas com deficiência à

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construção de recursos originais que podem muitas vezes surpreender, mas nem

sempre encontrar reconhecimento em um texto de exclusão e invisibilidade.

(IBDD, 2004).

Capitulo II Os Direitos dos Portadores de Deficientes

2.1 – Estado Brasileiro enquanto instância privilegiada de garantia dos direitos.

Identificamos que as melhorias sociais são obtidas através de conquistas,

e o acesso, por meio da pressão. A participação dos movimentos sociais tem

então o formato e o sentido de resistência à exclusão social, bem como o

significado de integração de múltiplas formas de ação coletiva voltadas para a

obtenção e/ou ampliação do acesso a bens e serviços de consumo coletivo, de

uma população excluída ou subalternizada a estes acessos.

Nas décadas de 1950 e 1960 surgiu a teoria do Estado Desenvolvimentista,

na qual transferia ao Estado a competência para provocar mudanças estruturais

em suas sociedades, para a promoção da industrialização, no desenvolvimento

urbano e nos setores básicos da economia para acelerar o crescimento

econômico-social. (GERMANO, 1994; p 48).

A partir da década de 60, alargam-se as bases sociais, como por exemplo:

da amancipação da mulher, sua inserção no mercado de trabalho, na educação

superior, na vida pública e na defesa de direitos sociais e políticos. É um momento

que a liberdade emerge em função de projetos políticos coletivos e desse

contexto, fortalecem a participação cívica e a cidadania que adquire, em

determinadas situações, direcionamentos anticapitalistas e revolucionários.

O golpe de 64 teve um caráter burguês. As articulações levadas a cabo

pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais e o apoio dos liberais da União

Democrática Nacional confirmam não somente a decisiva participação das classes

dominantes do país, mas ainda a colaboração fundamental da multinacionais e do

próprio governo dos Estados Unidos. Coube, entretanto, às Forças Armadas a

intervenção executiva do golpe. Os militares instalaram-se de forma direta e

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duradoura no governo, e instauraram uma ditadura, violenta e repressiva, que

durou vinte e um anos. (GERMANO, 1994).

Durante a década de 1970, começa a questionar o Estado

Desenvolvimentista, colocando-os como um problema devido ao fracasso em

algumas áreas definidas como prioritárias. O Terceiro Mundo se destaca como

um espaço potencialmente gerador de manifestações político-revolucionárias, pela

política econômica desenvolvimentista, que a partir da década de 50, amplia as

bases de implementação do capitalismo monopolista, agravando as contradições

e desigualdades sociais e acirrando as lutas sociais. (GERMANO, 1994).

A sociedade civil cresceu e se diversificou a partir de meados dos anos 70:

instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil, Associação Brasileira de

Imprensa, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Igreja Católica,

sindicatos de trabalhadores, entidades representativas de professores e

estudantes se mobilizam contra a ditadura. Surge uma imprensa alternativa como

os jornais. Aumenta a resistência, abrem-se espaços democráticos na sociedade,

as greves operárias, voltam a ocorrer a partir de 1977.

Vêm à tona novas formas de organização e mobilização popular,

representadas pelos movimentos sociais oriundos das periferias das grandes

cidades e dos trabalhadores sem terra. No campo educacional, a União Nacional

dos Estudantes se reorganiza, ainda que na ilegalidade. Tudo isso dá conta de um

processo de fortalecimento da sociedade civil, ao contrário do que era almejado

pelo Governo.

“”(...) é que o Regime, modernizando o país, promovendo um intenso desenvolvimento da forças produtivas (...), deu impulso aos fatores objetivos que levam a uma diferenciação social, e, como tal, à construção de uma autêntica sociedade civil entre nós” (COUTINHO, 1981:108 ).

As estratégicas políticas para o seu enfrentamento vinculam-se à política

intervencionista norte-americana do pós-guerra, que viabiliza consecutivos golpes

militares e a repressão aos movimentos populares, que fortalecendo o

conservadorismo.

“A América Latina forma, com outros países do Terceiro Mundo, uma zona mundial de revolução – recém-realizada, iminente ou possível¨”.(Hobsbawm, 1995, 42).

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Evidenciamos a partir da década de 70, período de desgaste do governo

militar – um processo de organização da sociedade civil brasileira que culminou

em um conjunto de leis que é fruto das reivindicações destas pessoas e que partiu

da clara organização destes grupos, dentro de um processo histórico de conquista

de um espaço de igualdade, preconizada na Carta Magna do país,

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, (...)” (Constituição da República Federativa do Brasil - Artigo 5º).

A Constituição Federal promulgada em 1988 é um novo marco para a

democracia brasileira. Descentralização, participação e direitos humanos são suas

principais características. Uma lei que incentiva a descentralização e a

participação popular é o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, que prevê a

criação de Conselhos deliberativos e fiscalizatórios, compostos por membros da

sociedade civil e do poder público. Com a Declaração Universal dos Direitos da

Criança da ONU, em 1959, surge a doutrina da proteção integral, que foi

posteriormente adotada pela Constituição de 1988 e pelo ECA, em contrapartida à

doutrina da situação irregular, tornando mais digno o tratamento concedido aos

indivíduos que possuem uma condição peculiar de seres humanos em

desenvolvimento.

A Constituição Federal representa um avanço na proteção dos direitos dos

cidadãos e das “pessoas portadoras de deficiência”. “Percebeu a significativa

denominação de Constituição-cidadã por expressar um marco, altamente

relevante, do processo de redemocratização e por conter conquistas decorrentes

da luta social desenvolvida durante e após o auge do período autoritário”. (Ribeiro,

1996; p. 22).

Consta da Constituição que os fundamentos da nação são promover a

dignidade da pessoa humana e garantir o exercício da cidadania para que não

haja desigualdades sociais e sejam eliminados quaisquer preconceitos ou

discriminações (Art. 1º, 3º e 6º). Isto significa conceder a todos, direitos sociais à

educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à segurança e à previdência social.

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Seu Capítulo VII, prevê a integração social do adolescente portador de

deficiência, mediante, entre outras coisas,

“(...)a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos” (Fussesp, 1992, p.15). Neste mesmo artigo da lei, sob o título de ordem social, está disposto sobre “a adaptação dos logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência” (Ibid.).

Em 24 de outubro de 1989, estes direitos são ratificados pela Lei Nº

7853/89 transferindo para Estados e Municípios a responsabilidade pela adoção e

efetiva execução de normas referentes ao assunto. E após a promulgação da

nova Carta Magna do país, iniciou-se um processo semelhante nos estados e em

seguida nos municípios. A nova postura em relação à deficiência está refletida em

todas estas etapas nos 27 estados da Nação.

Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre o apoio às

pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria

Nacional para integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE6, institui a

tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a

atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências.

Artigo 1º - Ficam estabelecidas normas gerais que asseguram o pleno

exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência,

e sua efetiva integração social, nos termos desta Lei.

§ 1º - Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os

valores básicos da igualdade de tratamento e oportunidade, da justiça social, do

respeito à dignidade da pessoa humana, do bem-estar, e outros, indicados na

Constituição ou justificados pelos princípios gerais de direito.

§ 2º - As normas desta Lei visam garantir às pessoas portadoras de

deficiência as ações governamentais necessárias ao seu cumprimento e das

demais disposições constitucionais e legais que lhes concernem, afastadas as

6 A Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, trata: do apoio às pessoas portadoras de deficiência e sua integração social; sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE; institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas; disciplina a atuação do Ministério Público e define crimes.

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discriminações e os preconceitos de qualquer espécie, e entendida a matéria

como obrigação nacional a cargo do Poder Público e da sociedade.

Art. 2º - Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar às pessoas

portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos

direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência social, ao

amparo a infância e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e

das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Esses avanços são paulatinos e marcantes. Um fato recente, a lei 11.340

de 7 de agosto de 2006, conhecida com “Lei Maria da Penha”, que tem como

objetivo coibir a violência doméstica familiar, têm agravante, se o fato ocorrer com

uma mulher com deficiência.

2.2 – Dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência.

O que se segue é um recorte sobre as referências constitucionais, nas

diversas políticas sociais, sobre os direitos das pessoas com deficiência.

Evidencia o texto7 que cabe ao poder público e seus órgãos assegurar aos

portadores de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, incluindo-se

a saúde, educação, ao lazer, ao trabalho e previdência social e amparo à infância

e à maternidade dentre outros.

Esses direitos não surgiram gratuitamente. Deu-se em um contexto de

participação política da sociedade brasileira. E dentro dessa possibilidade de

conquistas, construído pelas lutas da classe trabalhadora, no conjunto das

relações da vida cotidiana, que em 1988, no texto da Constituição assegura a

assistência, como parte integrante da seguridade social e definida pelo artigo 203

– “A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente de

contribuição à seguridade social, ...”.

7 Lei 7.853 de 24 de outubro de 1989, que define o princípio da igualdade e respeito à dignidade dos portadores de necessidades especiais.

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2.2.1 - Direito à Educação

Esse direito está contemplado na Constituição Federal (art. 208) como

também na Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB . É importante que se

saiba que a Lei 7853/89 indica que o portador de deficiência tem direito à:

I - inclusão - no sistema educacional, da educação especial como modalidade

educativa que abranja a educação precoce, a pré-escolar, as de ensino

fundamental e ensino médio, a supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais,

com currículos, etapas e exigência de diplomação próprios;

II - a inserção, no referido sistema educacional, das escolas especiais, privadas e

públicas;

III - a oferta obrigatória e gratuita, da educação especial em estabelecimentos

públicos de ensino;

IV - o oferecimento obrigatório de programas de educação especial pré-escolar e

escolar, em unidades hospitalares e congêneres nas quais estejam internados,

por prazo igual ou superior a um ano, educandos portadores de deficiência;

V - o acesso de alunos portadores de deficiência aos benefícios conferidos aos

demais educandos, inclusive material escolar, merenda escolar e bolsas de

estudo;

VI - a matrícula compulsória em cursos regulares de estabelecimentos públicos e

particulares de pessoas portadoras de deficiência capazes de se integrarem ao

sistema regular de ensino.

A educação é um direito de todos. É condição máxima de cidadania – A

negação da educação constitui em relegar à pessoa humana à condição de

desigualdade.

O aprender é o desvendamento de horizontes e possibilidades infinitas, já

que o saber não ocupa espaço no interior do ser humano.

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2.2.2 – Direito à Saúde.

A legislação garante à população em geral e aos portadores de deficiência

em particular uma série de ações e programas de saúde:

III - a criação de uma rede de serviços especializados em reabilitação e

habilitação;

IV - a garantia de acesso das pessoas portadoras de deficiência aos

estabelecimentos de saúde público e privados, e de seu adequado tratamento

neles, sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados;

V - a garantia de atendimento domiciliar de saúde ao deficiente grave não

internado, e

VI - o desenvolvimento de programas de saúde voltados para as pessoas

portadoras de deficiência, desenvolvidos com a participação da sociedade e que

lhes ensejem a integração social.

A pessoa com deficiência é a maior merecedora de um sistema de saúde

eficiente e eficaz. Por ela já ter nascido ou adquirido algum tipo de limitação, sua

habilitação ou reabilitação deve ser garantida para assegurar-lhe o direito de ir e

vir, par freqüentar escolas, lazeres e etc, para garantir uma condição de vida

digna e humana.

2.2.3 - Trabalho e Formação Profissional

A Constituição Federal, Decreto, no Capítulo dos Direitos Sociais, proíbe

qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do

trabalhador portador de deficiência. Decreto 3.298/99.

Prevê ainda, no Capítulo da Administração Pública, o direito da reserva de

mercado de trabalho, que lei estabelecerá percentual dos cargos e empregos

públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá critérios de sua

admissão.

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A lei de Previdência Social prevê que o Poder Executivo crie mecanismos

de estímulo às empresas que se utilizem de empregados portadores de

deficiências. Lei de Cotas, para cada cem funcionários, 2% são destinadas para

as pessoas com deficiência.

No que tange á formação profissional e do trabalho, a legislação prevê o

apoio governamental à formação profissional; o empenho do Poder Público

quanto ao surgimento e à manutenção de empregos.

Criada em 1991 e regulamentada por decreto em 1999, a Lei 8.213 é um

marco divisor no esforço de inserção das pessoas portadoras de deficiência no

mercado de trabalho. Ao tornar obrigatória, para empresas com mais de cem

funcionários, a reserva de 2% a 5% das vagas para indivíduos antes

marginalizados nos processos de recrutamento e seleção, essa lei contribuiu para

acelerar o processo de inclusão social e provocou empresas e organizações de

terceiro setor a se especializarem na capacitação profissional e na colocação

desse público.

A baixa escolaridade das pessoas portadoras de deficiência representa, de

fato, um entrave para a efetivação da Lei de Cotas. Apenas 31% dos portadores

de deficiência, hoje empregados, têm entre oito a 12 anos de escolaridade.

Apenas 10,4% possuem carteira assinada. Boa parte das vagas não é preenchida

em virtude da baixa qualificação aliada ao alto nível de exigência do mercado.

2.2.4 - Direitos Previdenciários

Os trabalhadores segurados da previdência Social têm uma maior proteção

social nos casos de serem acometidos por algum tipo de invalidez, bem como os

seus dependentes gozam de maiores garantias no futuro.

Os trabalhadores acometidos de alguma incapacidade parcial, a lei

previdenciária garante, antes da aposentadoria, o auxílio-acidente no valor de

50% do salário-de-benefício.

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Quando o segurado for considerado incapaz e insusceptível de

reabilitação para o trabalho, ele faz jus à aposentadoria por invalidez. Caso

necessite de assistência permanente de outra pessoa, a aposentadoria será

acrescida de 25%, ainda que o seu valor atinja o máximo legal.

Finalmente, os segurados da Previdência Social, inclusive aposentados, e,

na medida das possibilidades, os dependentes, têm direito também à habilitação

e a reabilitação profissional compreende: o fornecimento de aparelho de prótese,

órtese e instrumentos de auxílio para a locomoção, quando a perda ou redução

da capacidade funcional puder ser atenuada por seu uso e dos equipamentos

necessários à habilitação e reabilitação social e profissional.

2.2.5 - Direito ao Benefício da Prestação Continuada - BPC

Para os portadores de deficiência pobres e que, em geral, não contam com

cobertura previdenciária, é garantido o benefício da assistência social de

prestação continuada de um salário mínimo. Para se obter este benefício, é

necessário que a renda familiar seja inferior a ¼ do salário mínimo por pessoa.

Por exemplo, uma família de quatro pessoas, onde uma delas recebesse

uma renda de um salário mínimo, estaria fora do alcance do benefício. Nesse

critério passa para o sentido de miseráveis, onde a pobreza absoluta acaba

prevalecendo.

2.2.6 - Direito da Acessibilidade

O Decreto nº 5296 de 02 de dezembro de 2004, regula as leis 10.048/2000

que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica e 10.098/2000 que

estabelece normas gerais e critérios básicos para promoção da acessibilidade das

pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, em seu Capítulo

III, Art. 8º, define como acessibilidade, ”as condições para utilização, com

segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliário e

equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos

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dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoas com

deficiência ou com mobilidade reduzida”; e ainda descreve como “barreiras”,

qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de

movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se

comuniquem ou terem acesso à informação, classificadas em barreiras

urbanísticas, nas edificações e nos transportes.

No Brasil, a acessibilidade ao meio físico das cidades contou com a

iniciativa da “Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT”, em conjunto

com profissionais de diferentes áreas e com portadores de deficiência, de elaborar

a norma brasileira NBR 9050: “Acessibilidade de Pessoas Portadoras de

Deficiências a Edificações, Espaço, Mobiliário e Equipamentos Urbanos” que vem

suprir uma carência de referenciais técnicos a respeito da questão da

acessibilidade.

A Constituição prevê, em seu artigo 244, que "a lei disporá sobre a

adaptação de logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de

transporte coletivo atualmente existentes, a fim de garantir acesso adequado às

pessoas portadoras de deficiências". Essas mesmas orientações constam no

texto da Lei 7.853/89.

A desvantagem diz respeito aos obstáculos encontrados pelas “pessoas

portadoras de deficiência” em sua integração com a sociedade: pessoas que

portam alguma deficiência não conseguem arrumar emprego, crianças com

alguma deficiência não conseguem freqüentar uma escola por não terem acesso à

educação, “portadores de deficiência” não podem freqüentar determinados locais

por não serem aceitos pela sociedade, pessoas que se locomovem em cadeira de

rodas não conseguem transitar pelas ruas de uma cidade por causa de obstáculos

físicos encontrados para a sua livre circulação etc.

Com os conceitos propostos pela Organização Mundial da Saúde - OMS, a

desvantagem pode, sob este prisma, ser a resultante de fatores físicos, culturais e

sociais que se transformam em obstáculos ou dificuldades para a integração das

“pessoas portadoras de deficiência” na sociedade em igualdade de condições com

os outros.

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Outros direitos, como o acesso ao lazer (cinemas, teatros e casas de

espetáculo), recebem tratamento semelhante e são direitos humanos

interdependentes. Como aponta Araújo:

“Não se pode imaginar o direito à integração das pessoas portadoras de deficiência sem qualquer desses direitos instrumentais. (...). Sem transporte adaptado, não poderá comparecer ao local de trabalho, à escola e ao seu local de lazer. (...)” (Araújo, 1994, p. 61).

A mesma legislação também define como crime as práticas

discriminatórias contra as pessoas portadoras de deficiência (Art. 2º).

Constituem crimes, passíveis de reclusão de um a quatro anos as

seguintes práticas: recusar, suspender, procrastinar, cancelar ou fazer cessar,

sem justa causa, a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer

curso ou grau, público ou privado. Recusar, retardar ou dificultar internação ou

deixar de prestar assistência médico-hospitalar e ambulatorial, quando possível, a

pessoa portadora de deficiência.

2.2.7 - Da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS

A LOAS, em seu Capítulo I, art. 1º diz: “A Assistência Social, direito do

cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social, não contributiva,

quem provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de

ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às

necessidades básicas.”

Na Seção I – Dos Princípios, art. 4º “A assistência social rege-se pelos

seguintes princípios: (...) – IV- igualdade de direitos no acesso ao atendimento,

sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às

populações urbanas e rurais”.

A LOAS é bem clara em sua definição. As pessoas portadoras de

deficiência são as mais contempladas, pela própria vulnerabilidade de suas

limitações.

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2.2.8 - Responsabilidades do Ministério Público

Artigo 3. - As ações civis públicas destinadas à proteção de interesses

coletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência poderão ser propostas

pelo Ministério Público, pela União, Estados, Municípios e Distrito Federal; por

associação constituída há mais um ano, nos termos da lei civil, autarquia, empresa

pública, fundação ou sociedade de economia mista que inclua, entre suas

finalidades institucionais, a proteção das pessoas portadoras de deficiência.

Artigo 15 - Para atendimento e fiel comprimento do que dispõe esta Lei,

será reestruturada a Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação,

e serão instituídos, no Ministério do Trabalho, no Ministério da Saúde e no

Ministério da Previdência e Assistência Social, órgãos encarregados da

coordenação setorial dos assuntos concernentes às pessoas portadoras de

deficiência.

O Ministério Público é o órgão responsável pela manutenção dos direitos

previstos nas legislações.

2.2.9 - Declaração de Salamanca

Em 14 e 15 de outubro de 2005, representantes de 92 governos e 25

organizações reuniram-se no município da Espanha na província de Salamanca,

com o objetivo de promover a educação para todos, analisando as mudanças

fundamentais de política necessárias para favorecer o enfoque da educação

integradora, capacitando as escolas para atender a todas as crianças, sobretudo

às que têm necessidades educativas especiais. Foi inspirado no princípio de

integração e no reconhecimento da necessidade de ação para conseguir escolas

para todos, isto é, instituições que incluam todas as pessoas, reconheçam as

diferenças, promovam a aprendizagem e atendam às necessidades de cada um,

constituindo uma importante contribuição para o programa com vista à educação

para todos e dar às escolas maior eficácia educativa.

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Concluímos este capítulo, enfatizando que, em nosso país, o campo dos

direitos percorreu uma trajetória muito peculiar. Desde sua independência, a

formalidade das leis, o direito parece não absorver a cultura de como se

estabelecem as relações entre Estado, elite brasileira e o povo em geral. Ao

contrário, os traços paternalistas, conservadores e patrimonialistas têm sido

marcas constantes dessa relação, que retarda a possibilidade de criar condições

para o exercício dos direitos.

Mesmo assim, esse cenário tem sido historicamente o solo da inserção do

trabalho dos assistentes sociais. O tema da assistência social tem sido

recorrente, nos últimos anos, principalmente na última década, associado a

discussão da Lei Orgânica da Assistência Social, de 1993, enquanto uma política

de direito e não de favores, onde a assistência esteve quase sempre ligada a

práticas clientelistas.

Segundo LYRA (1996), os conselhos de cidadania criados a partir de 1988

expressam um significativo mecanismo institucional de exercício da participação e

de controle social do Estado, na medida em que estes, foram criados a partir da

participação ativa da sociedade civil organizada na luta pela democratização da

gestão pública e do controle social das ações do Estado. Conselho proteção as

pessoas portadoras de deficiência e do Idoso, foram criados não a partir de um

processo participativo tendo como propositores as forças sociais da sociedade civil

organizada, mas surgiu a partir de iniciativa do próprio setor público,

especificamente da Secretaria da Cidadania e Justiça. A composição e a

vinculação institucional, desde que discutida e negociada com os setores

representativos e organizados faz parte das regras do jogo democrático. Porém

quando o Estado se antecipa, institucionaliza e controla, ele impede que os

conselhos de cidadania atuem como forças de controle social efetivamente.

A questão da deficiência, tratada sob as diversas perspectivas de políticas

públicas se constitui campo de inserção do trabalho do assistente social, sendo a

efetivação dos direitos, ora apresentados um grande desafio. Neste sentido

consideramos, neste trabalho, discutir o papel deste profissional neste processo.

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Capitulo III Serviço Social e a questão da garantia do acesso aos direitos das

pessoas portadoras de deficiência.

3.1– Contextualização da profissão.

A origem do Serviço Social pode ser explicada num contexto da emergência

da Questão Social, do conjunto das expressões da desigualdade social,

econômica e cultural, provenientes dos problemas da sociedade capitalista, do

antagonismo entre o Capital e o Trabalho.

É na conjuntura da década de 30 e 45 que é caracterizado o surgimento da

profissão no Brasil com influência européia, entretanto a expansão do Serviço

Social no país só ocorre a partir da década de 45, relacionada com as exigências

e necessidades de aprofundamento do capitalismo8 no Brasil e às mudanças que

ocorreram no panorama internacional, coincidindo com dois grandes fatos político-

sociais: o fim da Segunda Guerra Mundial 9 (Europa) e o período do Estado Novo

(Brasil). Só após o Congresso Interamericano de Serviço Social realizado em

1941, em Atlantic City (EUA), que a influência norte-americana na profissão

substituiu a européia, tanto no nível da formação profissional – com alteração

curricular – como nas instituições prestadora de serviços.

A primeira entidade da categoria dos assistentes sociais foi criada em 1940 e foi a Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS) que tinha seções em quase todos os estados brasileiros. A Associação de ensino (ABESS) foi criada em 1946. As demais entidades surgiram a partir de meados de anos 50 e 60 e foram: associações profissionais e sindicatos e o Conselho Federal de Assistentes Sociais, em 1962. (Bravo, 1996)

8 “O Capitalismo, na verdade desenraiza e brutaliza a todos, exclui a todos. Na sociedade capitalista essa é a regra estruturante: todos nós, em vários momentos de nossa vida, e de diferentes modos, dolorosos ou não, fomos desenraizados e excluídos. É próprio dessa lógica de exclusão, a inclusão. A sociedade capitalista desenraiza, exclui, para incluir, incluir de outro modo, segundo suas próprias regras, segundo sal própria lógica”. (MARTINS, 1997, p.32) 9 O neoliberalismo nasceu imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, na Europa e nos Estados Unidos, com um caráter de reação “teórica e política” ao intervencionismo do Estado Social, que se constituía naquele momento. Seu principal expoente foi Hayek, que escreveu um livro intitulado O caminho da servidão, no qual reconhecia esse intervencionismo como uma ameaça à liberdade, não só econômica, mas também política, representando, por conseguinte, um perigo semelhante ao nazismo alemão (Anderson, 1995).

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A organização monopólica obedeceu à urgência de viabilizar um objetivo

primário: o acréscimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados10.

Onde grandes empresas acabam por incorporar outras empresas menores, até o

ponto onde ela é a única produtora do bem e/ou serviço. Caracterizando o

monopólio capitalista. Esta fase do capitalismo monopolista acontece quando há

o amadurecimento avançado de um determinado nicho do mercado.

As organizações monopolistas não promovem a perda parcial ou total da

anarquia da produção que é congenial11 ao ordenamento capitalista; a livre

concorrência é convertida em uma luta de vida ou morte entre os grupos

monopolistas e entre eles e os outros, nos setores ainda não monopolizados.

(NETO, 1992).

Esbatendo-se no mercado mundial – onde a monopolização rearranja

inteiramente a divisão internacional capitalista, dando curso a renovadas políticas

neocolonialistas -, o capitalismo monopolista conduz ao ápice a contradição

elementar entre a socialização da produção e a apropriação privada:

internacionalizada a produção, grupos de monopólios controlam-na por cima de

povos e Estados. (NETO, 1992).

Vale dizer: o Estado funcional ao capitalismo monopolista é, no nível das

suas finalidades econômicas, o “comitê executivo” da burguesia monopolista –

opera para propiciar o conjunto de condições necessárias à acumulação e à

valorização do capital monopolista. (NETO, 1992).

O alargamento da sua base de sustentação e legitimação sócio-política,

mediante a generalização e a institucionalização de direitos e garantias cívicas e

sociais, permite-lhe organizar um consenso que assegura o seu desempenho.

Entretanto, respostas positivas a demandas das classes subalternas podem ser

oferecidas na medida exata em que elas mesmas podem ser refuncionalizadas

para o interesse direto e/ou indireto da maximização dos lucros12.

10 “A característica específica das formas de organização (monopólicas) é que estão deliberadamente destinadas a aumentar os lucros por meio do controle monopolista dos mercados”. (Sweezy, 1977: 289) 11 1. Conforme ao gênio ou à índole de alguém. (Dicionário da língua portuguesa – Aurélio 1999). 12 Aqui, os mecanismos para este jogo são quase inesgotáveis – pense-se, por exemplo, na sincronia entre previdência pública e privada e interesses monopolista na indústria da saúde (serviços, medicamentos, instrumental etc.)

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A funcionalidade essencial da política social do Estado burguês no

capitalismo monopolista se expressa nos processos referentes á preservação e

ao controle da força de trabalho – ocupada, mediante a regulamentação das

relações capitalistas/trabalhadores; lançada no exército industrial de reserva,

através dos sistemas de seguro social. Os sistemas de previdência social

(aposentadoria e pensões), não atendem apenas a estas exigências: são

instrumentos para confirmar a tendência ao subconsumo13, para oferecer ao

Estado massas de recursos que de outra forma estariam pulverizados (os fundos

que o Estado administra e investe) e para redistribuir pelo conjunto da sociedade

os custos da exploração capitalista-monopolista da vida “útil” dos trabalhadores,

desonerando os seus únicos beneficiários, os monopolistas (FALEIROS, 1980).

Por trás, porém, está um processo peculiar: a intervenção estatal sobre a

“questão social” se realiza, fragmentando-a e parcializando-a. E não pode ser de

outro modo: tornar a “questão social” como problemática configuradora de uma

totalidade processual específica é remetê-la concretamente à relação

capital/trabalho – o que significa, liminarmente, colocar um xeque a ordem

burguesa. Enquanto intervenção do Estado burguês no capitalismo monopolista, a

política social deve constituir-se necessariamente em políticas sociais: as

seqüelas da “questão social” são recortadas como problemáticas particulares (o

desemprego, a fome, a carência habitacional, o acidente de trabalho, a falta de

escolas, a incapacidade física etc.) e assim enfrentadas. (NETO, 1992).

Não há dúvidas de que as políticas sociais decorrem fundamentalmente da

capacidade de mobilização e organização da classe operária e do conjunto dos

trabalhadores, a que o Estado, por vezes, responde com antecipações

estratégicas. Entretanto, a dinâmica das políticas sociais está longe de esgotar-se

numa tensão bipolar – segmentos da sociedade demandantes/Estado burguês no

capitalismo monopolista. De fato, elas são resultantes extremamente complexas

de um complicado jogo em que protagonistas e demandas estão atravessados por

contradições, confrontos e conflitos.

13 A tendência ao subconsumo – a que obviamente se conectam os preços inflacionados das mercadorias e serviços produzidas pelos monopólios – é também atenuada pela introdução dos salários indiretos.

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Por outra parte, a criação, individual tomado enquanto unidade orgânica

social e muito simples. Por outra parte, a criação, pela via de ações públicas, de

condições para o desenvolvimento dos indivíduos não exclui a sua

responsabilização social e final pelo aproveitamento ou não das possibilidades

que lhes são tomadas acessíveis. (NETO, 1992).

Na escala em que se programam medidas públicas para enfrentar as

refrações da “questão social”, a permanência das suas seqüelas é deslocada para

o espaço da responsabilidade dos sujeitos individuais que as experimenta.

Finalmente, para acentuar a pluridimensionalidade deste processo, é de

mencionar a interação entre as políticas sociais públicas e as de agências

privadas da sociedade civil – nestas, podem surgir experiências e modalidades de

intervenção que, mesmo apropriadas pelo Estado, inserem matizes novos na

dinâmica do setor afetado. (NETO, 1992).

Resumindo a caracterização do o monopólio capitalista ocorreu com o

aumento da mecanização e da divisão do trabalho nas fábricas que permitiu a

produção em massa, reduzindo os custos por unidade e incentivando o consumo.

A cada progresso técnico introduzido, os países industrializados alargavam o

mercado interno e conquistavam novos mercados eternos. A riqueza acumulava-

se nas mãos da burguesia industrial, comercial e financeira desses países. Ela

não representou o fim da miséria dos trabalhadores, que continuavam submetidos

a baixos salários. As pequenas e médias firmas de tipo individual e familiar

cederam lugar aos grandes complexos industriais.

Nesse contexto do monopólio capitalista o Serviço Social se inscreve até os

anos 60, não teve questionamentos que ameaçasse o bloco hegemônico

conservador que dominou tanto a produção do conhecimento como as entidades

organizativas e o trabalho profissional. Alguns assistentes sociais com posições

progressistas questionavam a direção do Serviço Social, mas não tiveram

condições de alterá-la. Já nos anos 60, esta situação começou a se modificar,

surgindo um debate na profissão questionando o seu conservadorismo. Esse

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debate se explicita com o “movimento de reconceituação14” a partir de 1965. Essa

discussão não surgiu de forma isolada, mas com respaldo das questões

levantadas pelas ciências sociais e humanas, principalmente em torno da temática

do “desenvolvimento” e de suas repercussões na América Latina.

“Esse processo de crítica foi abordado pelo golpe militar de 1964, com a neutralização dos protagonistas sócio-políticos comprometidos com a democratização da sociedade e do Estado” (Bravo, 1996)

A modernização conservadora implantada no país exigiu a renovação do

Serviço Social, face às novas estratégias de controle e repressão da classe

trabalhadora efetivadas pelo Estado e pelo grande capital, bem como para o

atendimento de novas demandas submetidas à racionalidade burocráticas.

O principal veículo responsável pela elaboração teórica do Serviço Social,

no período de 1965 a 1975, foi o Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio

em Serviço Social (CBCISS). Este difundiu a “perspectiva modernizadora” no

sentido de adequar a profissão às exigências postas pelos processos sócio-

políticos emergentes no golpe militar de 1964 (Netto, 1996). Esta perspectiva teve

como núcleo central a tematização do Serviço Social como integrador no processo

de desenvolvimento, com aportes extraídos do estrutural-funcionalismo norte-

americano, sem questionar a ordem sócio-política e sim, com a preocupação de

inserir a profissão numa moldura teórica e metodológica.

No período de 74 a 79, o Serviço Social, apesar do processo de

organização da categoria e do aprofundamento teórico dos docentes do

movimento mais geral da sociedade. O trabalho profissional continuou orientado

pela vertente “modernizadora”. As produções teóricas, apesar de restritas na

área, também não romperam com essa direção.

“Apesar de entre 1979 e 1985 o país ter sido presidido pelo General Figueiredo, esta gestão diferenciou-se dos governos militares anteriores, já que neste período ficou evidenciada a incapacidade da ditadura continuar como tal frente à articulação e mobilização de setores da sociedade civil, principalmente o movimento popular, e o acúmulo de força da resistência democrática”. (Netto,1996)

14 Desde o movimento de reconceituação, que marcou os caminhos da profissão de Serviço Social na América Latina no sentido de uma visão crítica de sociedade ancorada no largo espectro de posicionamentos críticos à dominação capitalista e movimentos anti-imperialistas, na efervescência da luta contra a ditadura, que luta pelos direitos sociais é uma bandeira de segmentos importantes da categoria.(NETTO, 1995).

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A década de 1980, foi um período de grande mobilização política no Brasil,

com também de aprofundamento da crise econômica que se evidenciou na

ditadura militar. Nessa conjuntura há um movimento significativo no Serviço

Social, de ampliação do debate teórico e a incorporação de algumas temáticas

como o Estado e as políticas sociais fundamentadas no marxismo.

Está década é fundamental para o entendimento da profissão hoje, pois

significa o início da maturidade da tendência atualmente hegemônica na academia

e entidades representativas da categoria – intenção de ruptura – e, com isso, a

interlocução real com a tradição marxista. No entanto, os profissionais desta

vertente se inserem, na sua maioria, nas Universidades, onde dentro do processo

de renovação da profissão, pouco efetivamente intervêm nos serviços. (Netto,

1993 e Bravo, 1996).

Em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, no que tange ao

modelo de proteção social, é uma das mais progressistas, onde a Saúde,

conjuntamente com a Assistência Social e a Previdência Social integram a

Seguridade Social.

A história recente da sociedade brasileira, polarizada pela luta dos setores

democráticos contra a ditadura e, em seguida, pela consolidação das liberdades

políticas, propiciou uma rica experiência para todos os sujeitos sociais. Valores e

práticas até então secundarizados (a defesa dos direitos civis, o reconhecimento

positivo das peculiaridades individuais e sociais, o respeito à diversidade, etc.)

adquiriram novos estatutos, adensando o elenco de reivindicações da cidadania.

Particularmente para as categorias profissionais, esta experiência ressituou as

questões do seu compromisso ético-político e da avaliação da qualidade dos seus

serviços.

Nestas décadas, o Serviço Social experimentou no Brasil um profundo

processo de renovação. Na intercorrência de mudanças ocorridas na sociedade

brasileira com o próprio acúmulo profissional, o Serviço Social se desenvolveu

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teórica e praticamente, laicizou-se15, diferenciou-se e, na entrada dos anos de

1990, apresenta-se como profissão reconhecida academicamente e legitimada

socialmente.

É exemplar, a formulação de Iamamoto: “Embora a profissão não se

dedique, preferencialmente, ao desempenho de funções diretamente produtivas,

podendo ser, em geral, caracterizada como um trabalho improdutivo, figurando

entre os falsos custos de produção, participa, ao lado de outras profissões, da

tarefa de implementação de condições necessárias ao processo de reprodução no

seu conjunto, integrada como está á divisão social e técnica do trabalho”.

(IAMAMOTO, 1983; 86).

A dinâmica deste processo - que conduziu à consolidação profissional do

Serviço Social - materializou-se em conquistas teóricas e ganhos práticos que se

revelaram diversamente no universo profissional. No plano da reflexão e da

normalização do Código de Ética Profissional16 de 1986 foi uma expressão

daquelas conquistas e ganhos, através de dois procedimentos: negação da base

filosófica tradicional, nitidamente conservadora, que norteava a "ética da

neutralidade" e afirmação de um novo perfil do técnico, não mais um agente

subalterno e apenas executivo, mas um profissional competente teórica, técnica e

politicamente.

De fato, construía-se um projeto profissional que, vinculado a um projeto

social radicalmente democrático, redimensionava a inserção do Serviço Social na

vida brasileira, compromissando-o com os interesses históricos da massa da

população trabalhadora. O amadurecimento deste projeto profissional, mais as

alterações ocorrentes na sociedade brasileira (com destaque para a ordenação

jurídica consagrada na Constituição de 1988), passou a exigir uma melhor

15 A palavra laico é um adjetivo que significa uma atitude crítica e separadora da interferência da religião organizada na vida pública das sociedades contemporâneas. (...) ao invés de seguir, ou obedecer cegamente às regras, hierarquias e autoridades morais ou eclesiásticas de uma religião organizada. Politicamente, poderíamos dividir os países em duas categorias, os laicos e não laicos, nos países politicamente laicos a religião não interfere na política, como exemplo podemos usar: Brasil, EUA, Japão, os países ocidentais em geral. Entretanto claro que isso não é o que ocorre na realidade, onde num pais que se declara laico como o Brasil, nas cédulas de todas as notas de dinheiro está escrito "Deus seja louvado" e onde questões como o aborto por exemplo ainda são reguladas pela religião. (Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre). 16 Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais - aprovado em 15 de março de 1993. Art.1º - Compete ao Conselho Federal de Serviço Social: a) zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando as ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, instituições e organizações na área do Serviço Social.

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explicitação do sentido imanente do Código de 1986. Tratava-se de objetivar com

mais rigor as implicações dos princípios conquistados e plasmados naquele

documento, tanto para fundar mais adequadamente os seus parâmetros éticos

quanto para permitir uma melhor instrumentalização deles na prática cotidiana do

exercício profissional. (CRESS 7ª Região).

A necessidade da revisão do Código de 1986 vinha sendo sentida nos

organismos profissionais desde fins dos anos oitenta. Foi agendada na plataforma

programática da gestão 1990/1993 do CFESS. Entrou na ordem do dia com o I

Seminário Nacional de Ética (agosto de 1991) perpassou o VII CBAS (maio de

1992) e culminou no II Seminário Nacional de Ética (novembro de 1992),

envolvendo, além do conjunto CFESS/CRESS, a ABESS, a ANAS e a SESSUNE.

O grau de ativa participação de assistentes sociais de todo o País assegura que

este novo Código, produzido no marco do mais abrangente debate da categoria,

expressa as aspirações coletivas dos profissionais brasileiros. (CRESS 7ª

Região).

A revisão do texto de 1986 processou-se em dois níveis. Reafirmando os

seus valores fundantes - a liberdade e a justiça social -, articulou-os a partir da

exigência democrática: a democracia é tomada como valor ético-político central,

na medida em que é o único padrão de organização político-social capaz de

assegurar a explicitação dos valores essenciais da liberdade e da eqüidade. É ela,

ademais, que favorece a ultrapassagem das limitações reais que a ordem

burguesa impõe ao desenvolvimento pleno da cidadania, dos direitos e garantias

individuais e sociais e das tendências à autonomia e à autogestão social. Em

segundo lugar, cuidou-se de precisar a normatização do exercício profissional de

modo a permitir que aqueles valores sejam retraduzidos no relacionamento entre

assistentes sociais, instituições/organizações e população, preservando-se os

direitos e deveres profissionais, a qualidade dos serviços e a responsabilidade

diante do usuário. (CRESS 7ª Região).

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A revisão a que se procedeu, compatível com o espírito do texto de 1986,

partiu da compreensão de que a ética deve ter como suporte uma ontologia17 do

ser social: os valores são determinações da prática social, resultantes da atividade

criadora tipificada no processo de trabalho. É mediante o processo de trabalho

que o ser social se constitui, se instaura como distinto do ser natural, dispondo de

capacidade teleológica, projetiva, consciente; é por esta socialização que ele se

põe como ser capaz de liberdade. Esta concepção já contém em si mesma, uma

projeção de sociedade - aquela em que se propicie aos trabalhadores um pleno

desenvolvimento para a invenção e vivência de novos valores, o que,

evidentemente, supõe a erradicação de todos os processos de exploração,

opressão e alienação. É ao projeto social aí implicado que se conecta o projeto

profissional do Serviço Social - e cabe pensar a ética como pressuposto teórico

político que remete para o enfrentamento das contradições postas à Profissão, a

partir de uma visão crítica, e fundamentada teoricamente, das derivações ético-

políticas do agir profissional. (CRESS 7ª Região).

3.2– Atributos Inerentes a Profissão.

O Serviço Social age no sentido de transformar as políticas sociais em

forma de garantia de direitos sociais e não como estratégias do capitalismo.

Para pensarmos políticas sociais devemos nos remeter ao artigo 5° da

Constituição Federal, os direitos expostos na mesma não são assegurados

juridicamente e por isto são implantadas as políticas sociais como forma de

“amenizar” as expressões da questão social.

Isto posto, podemos definir sobre as políticas sociais como estratégia do

capitalismo para fazer uma “roupagem” a questão social, ou seja, para reprodução

de mão de obra e como garantia de direitos sociais por parte do Serviço Social.

Com a diminuição do papel do Estado na sociedade, na década de 90

devido às transformações societárias em curso, há um repasse de grande parte de

17 Ontologia: Parte da filosofia que trata do ser enquanto ser, do ser concebido como tendo uma natureza comum que é inerente a todos e cada um dos seres. (Dicionário da língua portuguesa – Aurélio 1999)

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tal responsabilidade para a sociedade civil de modo a ser constituídas algumas

alianças em uma maior organização da sociedade civil.

Esta configuração da sociedade faz com que o Serviço Social tenha que

criar um projeto de políticas sociais voltado para o enfrentamento dos sujeitos

coletivos e dos direitos sociais.

Tal projeto fica subordinado a lógica da política neoliberal, o que presume-

se uma dependência das políticas sociais em relação ao capital financeiro, ou

seja, a política econômica.

Tudo isto indica que o processo de trabalho do Serviço Social está

subtendido na reforma do Estado e na sua relação do mesmo com a sociedade, o

que atinge as políticas e/ou ações voltadas a questão social. Há uma

preocupação por parte dos assistentes sociais no projeto ético político em

desburocratizar ações que o Estado acaba condicionando o sujeito.

Grande parte das ações que eram feitas pelo Estado antes da política

neoliberal é também repassada para empresas privadas e para o terceiro setor

que passam a prestar “serviços sociais”.

O Estado – o primeiro setor e o poder privado - segundo setor, são distintos

do terceiro setor, que não é governamental, não possui fins lucrativos e está

voltado para o desenvolvimento social.

3.3 – Áreas específicas de atuação do Serviço Social com a população portadora

de deficiência.

3.3.1 - Educação

De acordo com Art 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência, os Estados reconhecem o direito à educação. Para realizar este

direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados

deverão assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem

como o aprendizado ao longo de toda a vida. Fins assegurar que as pessoas

portadoras de deficiência possam ter acesso à educação comum nas modalidades

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de: ensino superior, treinamento profissional, educação de jovens e adultos e

aprendizado continuado, sem discriminação e sem igualdade de condições com as

demais pessoas.

Deverão também discutir e propor alternativas para a consolidação de uma

escola inclusiva é direito e dever de todos os que acreditam que a escola é o local

privilegiado, e muitas vezes único, onde, de fato, os sujeitos de sua própria

educação, quaisquer que sejam a as suas limitações, podem fazer a experiência

fundamental, e absolutamente necessária, da cidadania, em toda a sua plenitude.

3.3.2 – Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS

A Política de Assistência Social foi regulamentada pela Lei Orgânica de

Assistência Social nº 8.742, de 07/12/93, com princípios de seletividade e

universalidade na garantia dos benefícios e serviços, assegurando a gratuidade

dos direitos e desobrigando a necessidade de contributividade para obtê-los. No

que se refere aos mecanismos de financiamento, esse dispositivo coloca a

necessidade da redistributividade e, quanto à sua forma de organização político-

institucional, prevê a descentralização e a participação.

A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), define o sistema

descentralizado e participativo da sociedade na elaboração e controle da política

de assistência social. Esses princípios darão sustentação organizacional à

assistência social com política pública, redefinindo a relação entre o poder público

federal, o estadual e o municipal, e a relação entre Estado e sociedade, devendo

as ações das três esferas de governo ser realizadas de forma articulada.

Pode-se afirmar que a LOAS estabelece uma nova matriz para a

Assistência Social Brasileira, iniciando-se o processo de torná-la visível como

política pública e direito dos que dela necessitarem. A inclusão na seguridade

mostra também seu caráter de política de Proteção Social, devendo articular-se a

outras políticas do campo social voltadas à garantia de direitos e de condições

dignas de vida. Entende-se por Proteção Social as formas institucionalizadas que

as sociedades compõem para proteger parte ou o conjunto de seus membros,

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levando em consideração as contingências que podem ocorrer na vida natural ou

social, tais como velhice, doença, infortúnio e privações. Podem ser incluídas

neste conceito formas seletivas de distribuição e redistribuição de bens materiais e

culturais, bem como as normas e os princípios reguladores que fazem parte da

vida em sociedade.

Desse modo, a LOAS estará marcada pelo caráter civilizatório – presente

na consagração de direitos sociais –, devendo, também, garantir provisões

assistenciais que sejam pensadas no âmbito do exercício da cidadania. Prevê,

ainda, que o Estado se responsabilize pelo seu controle, pela universalização da

cobertura e garantia de direitos e dê acesso a esses serviços, programas e

projetos, porque só desta forma se estará garantindo a assistência social como

política pública.

Assim como a questão da proteção social, que se tornou mais ampla no

século XX, os mínimos de subsistência também passaram a ter um novo status.

Agora, identificados com os princípios da liberdade, eqüidade e justiça social,

privilegiam as “necessidades sociais como matéria de direito, a ser enfrentada por

políticas resultantes de decisões coletivas” (Pereira, 2000; p. 17).

Justificamos da a importância de se considerarem os mínimos sociais

introduzidos na agenda da política brasileira pela LOAS, “não como uma medida

criada juridicamente a ser desenvolvida por decretos ou por gestões

administrativas, mas, acima de tudo, como um recurso jurídico e político

conflituoso”, pois vivenciamos uma realidade modificada, visto que “tanto o padrão

de acumulação como o modelo de organização do trabalho e da proteção social

diferem do passado (...) e exigem novas formas de enfrentamento político-social”

(Pereira, 2000, p. 21), exigindo um maior aprofundamento e qualificações se

quisermos, através das políticas sociais, satisfazer o pressuposto de que os

mínimos sociais correspondem a necessidades fundamentais.

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3.3.3 - Saúde

O processo de descentralização das gestão do sistema de saúde, em curso

no Brasil, coloca-nos possibilidades e desafios que devem ser assumidos de

forma solidária pelos três entes federados. A pluralidade de contextos vivenciados

pelos municípios e regiões que exige aplicação de políticas públicas capazes de

responder adequadamente às diferentes necessidades advindas dessa

diversidade.

No campo da saúde, de modo geral, o assistente social se inserne na

dinâmica do atendimento à pessoa portadora de deficiência. Existem, porém,

áreas específicas (como por exemplo, reabilitação) em que o trabalho é voltado

exclusivamente para este público. Neste sentido, as ações vêm se pautando.

Há uma consciência crescente de que os sistemas de serviços de saúde

constituem um dos sistemas sociais de maior complexidade, o que os torna de

governança muito difícil (Glouberman e Mintzberg, 2001).

A descentralização, enquanto processo, não constitui conceito unívoco18,

articulado como oposto à centralização. Ao contrário, apresenta-se, na realidade

política, como unidade dialética que se exprime, empiricamente, pela convivência

de tendências de centralização, ainda que o vetor de maior peso deva ser o

descentralizatório.

Há que se precisar bem o que é descentralização porque há entendimentos

diversos sobre este significante e porque a descentralização não constitui um

movimento discreto, mas um processo social cujo ritmo e são estabelecidos pelas

determinações políticas das realidades nacionais (Mendes, 1998).

Conceituamos que a descentralização consiste no deslocamento de

algumas responsabilidades administrativas para níveis hierárquicos inferiores,

dentro de uma mesma organização, sem a correspondente redistribuição do poder

decisório, através dos Ministérios, Secretarias Estaduais ou Prefeituras

Municipais.

18 1. Diz-se de palavra, conceito ou atributo que se aplica a sujeitos diversos de maneira absolutamente idêntica. 2. Que só comporta uma forma de interpretação. 3. Que é homogêneo, uníssono ou homônimo. 4. Mat. .Diz-se da relação, ou da correspondência, entre dois conjunto corresponde apenas um elemento do segundo. (Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio).

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3.4 – O Serviço Social e a Intervenção na Associação Fluminense de

Reabilitação (AFR).

A Associação Fluminense de Reabilitação (AFR) é um Centro de

Reabilitação Humana dotado de todos os meios tecnológicos necessários para a

melhoria da qualidade de vida de pessoas de todas as idades portadoras de

deficiências físicas e crianças com seqüelas neurológicas.

Instituição filantrópica, fundada em 25 de junho de 1958, a AFR foi criada

no auge do surto brasileiro de poliomielite. A partir daí, iniciou um trabalho de

muita dedicação, amor, e tecnologia em prol da Reabilitação Humana.

Inicialmente o paciente passa por uma avaliação física minuciosa: ponto de

partida para o planejamento de um programa personalizado. O departamento

médico realiza consultas e reavaliações periódicas.

Crianças de até onze anos com comprometimento neurológico, ortopédico

e reumatológico fazem fisioterapia. Há serviços de fonoaudiologia, fisioterapia

respiratória, correção postural, terapia ocupacional, entre outros.

Portadores de deficiências físicas, seus familiares e idosos são atendidos

por psicólogos individualmente ou em grupos de apoio. A entidade oferece

também tratamento dentário.

A AFR também participa da formação de especialistas treinando e

atualizando novos profissionais que se dedicam à reabilitação, concedendo

estágio supervisionado para cerca de 400 acadêmicos de dezoito universidades e

faculdades conveniadas.

Atualmente, a AFR conta com mais de 130 funcionários e 430 estagiários,

que atendem a 2.000 pacientes por mês, dos quais 500 são crianças, sendo 230

portadores de paralisia cerebral, oferece quinze serviços ambulatoriais gratuitos,

gerando uma média de 25 mil atendimentos mensais.

O maior desafio da AFR é diminuir a fila de espera de centenas de crianças

e adultos, que necessitam de tratamentos de Reabilitação.

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O Serviço Social atua perante a clientela da AFR, como “porta de entrada”

para a instituição, ao informar os procedimentos para início do tratamento, bem

como análise dos pedidos médicos, orientando o usuário sobre os passos

necessários para o tratamento mais adequado e viável para o atendimento da

problemática apresentada.

Desempenha um papel importante, como suporte no processo de

Reabilitação, por informar e tornar acessível os direitos garantidos pela

Constituição aos portadores de necessidades especiais, sendo exemplos

programas sociais: Transporte Eficiente (Niterói) e outros disponibilizados pelos

respectivos municípios, como o Passe Livre, BPC (Beneficio de Prestação

Continuada), Cheque-Cidadão, entre outros.

O Serviço Social funciona em dois turnos, manhã e tarde, é composto por

três assistentes sociais e cinco estagiárias que atuam na integração do indivíduo à

sociedade estimulando as ações diretas e indiretas sobre o estigma da deficiência.

Atendem a divisão geral e neurologia infantil de tratamento, que atuam na

integração do individuo a sociedade, com finalidade de esclarecer os direitos

sociais dos pacientes, meios de exercê-los e aspectos do tratamento.

As Assistentes Sociais promovem a participação do portador de deficiência

no meio ambiente, em atividades sociais e com a comunidade. Trabalha junto a

família, visando socializar todas as informações possíveis e participar no processo

de transformação de vida do paciente e de seus cuidadores. A equipe desenvolve

orientação individual e familiar, realiza estudo socioeconômico de cada paciente e

promove acompanhamento permanente.

O Serviço Social atua com os pacientes oriundos das duas unidades de

tratamento geral e neurologia infantil, desenvolvendo as seguintes atividades:

Triagem social e médica atendimentos aos usuários e familiares;

Contatos comunitários (telefonemas para escola, instituições, encaminhamentos, etc.);

Orientação escolar geral e neurologia infantil;

Orientação familiar geral e neurologia infantil;

Acompanhamento de caso; e

Avaliação geral e em grupos de apoio.

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Devido esta grande demanda criou-se na instituição o critério de

elegibilidade, na tentativa de identificar o perfil do deficiente que melhor se adapte

a instituição e, principalmente a clientela do Sistema Único de Saúde - SUS.

Diante das limitações citadas para atendimento da demanda institucional,

“via SUS”, foi implantado na instituição o sistema de atendimento por meio de

contribuição.

O Serviço Social na sua intervenção, trabalha com “grupos”, são eles:

Grupo de Reabilitação;

Grupo de Apoio;

Grupo de Diabéticos e Hipertensos;

Grupo de Amputados; e

Grupo de Cuidadores.

Também, tem a finalidade de esclarecer os direitos sociais dos pacientes,

meios de exercê-los e aspectos do tratamento. Trabalha junto à família, visando

socializar todas as informações possíveis e participar no processo de

transformação de vida do paciente e de seus cuidadores.

A equipe participa de Conselhos Municipais onde são discutidas e

deliberadas políticas públicas, entre eles, Conselho Municipal de Assistência

Social (CMAS), Conselho Municipal do Idoso (COMDDPI). Coordena o grupo de

voluntários da AFR e trabalhos como o projeto e-voluntário, em parceria com a

IBM e o Portal do Voluntário, que busca o esclarecimento de ferramentas da

internet e a troca de informações entre os participantes.

As assistentes sociais visitam as escolas para conversar com os

professores, funcionários e diretores que irão receber os alunos deficientes.

"Quase todas as nossas crianças já estão em escolas comuns".

Vivemos hoje um rico momento em nossa sociedade. Governos, empresas

e instituições discutem a responsabilidade social, em nosso País. A seriedade e a

transparência de nossos trabalhos vêm conquistando o imprescindível apoio de

pessoas e empresas comprometidas com a construção de uma sociedade mais

justa.

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Conclusão.

Concluímos que cada profissão exige uma particularidade de seu

profissional, e muitas vezes, profissionais de uma mesma área, devem ter

atributos diferentes, respeitando o código de ética para o exercício da profissão.

Este é o caso do profissional de Serviço social, que atua em várias áreas, entre

tantas, a da assistência social.

Exerce seu trabalho nas organizações públicas ou privadas, com

competência e atribuições específicas.

Profissão que é contrária ao assistencialismo, que no Brasil é histórico e

cultural. Utiliza-se de uma prática que visa a expansão dos direitos e a

emancipação da sociedade, direitos previstos na Constituição, de modo que a

população mais empobrecida saiba que é possuidora de cidadania, ou seja,

possuidora de direitos.

Descrever a experiência do assunto abordado neste trabalho nos levou a

perceber a questão da garantia do acesso aos direitos das pessoas portadoras de

deficiência assegurados na Constituição.

Sabemos que muitas destas normas não são sequer conhecidas; que a

discriminação começa por vezes em casa, movida por atitudes protecionistas,

deixando a família de promover o desenvolvimento das potencialidades do

portador de deficiência.

Visualizamos que a lei existe efetivamente, mas só houve um avanço na

questão da legislação. Avanço este que no início era utilizado como marketing

político, porque a regulamentação destas leis exige programas assistenciais. O

que avançou na legislação não foi acompanhado de políticas de assistência, e

quando existem são recortadas, focalizadas e não são universais.

A População sobrante19 (invisibilidade) que é categoria sociológica, ou seja,

a sociedade não vê um menino dormindo na rua, ele só aparece quando comete

um ato bárbaro, tornando-se visível. O mesmo se dá com uma pessoa portadora

19 “A sociedade moderna esta criando uma grande massa de população sobrante, que tem pouca chance de ser de fato reincluída nos padrões atuais do desenvolvimento econômico”. (MARTINS, 1997)

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de deficiência. Muitos estão renegados à própria sorte, em situação de extrema

vulnerabilidade: abandono, miséria e descaso do poder público que não oferece

políticas que abranjam toda a demanda.

Mas lhes resta a lei, desta não se pode desacreditar, confiando-se na

justiça dos homens a ser provocada a cada lesão de direito e na justiça de Deus

que, misteriosamente, deu a cada um de nós uma alma e um corpo que, por

vezes, cabe ao Estado cuidar melhor, não por filantropia, mas por justiça social.

Enfim, como formandos sabemos que há ainda muito o que fazer, mais

ainda há muito que aprender. O caminho a percorrer é longo, talvez muito duro,

difícil de trilhar e muitos desafios serão colocados para nós futuros assistentes

sociais.

Referências

BAZON, Fernanda Vilhena Mafra. A importância da humanização profissional no diagnóstico das deficiências. Psicologia: teoria e prática, São Paulo, v.6, n.2, jun. 2004. Disponível em: www.scielo.bvs-psi.org.br Acesso em: 31 ago. 2006.

Brasil, Grupo Retina disponível em: https://host4.hostseguro.com/~retinasp/retinasp/informacoes/direitos.asp acesso em: 20 jun 2007.

COHEN Regina Acessibilidade para Todos: Uma Cartilha de Orientação. UFRJ/FAU/RJ, 2004.

CONSELHO Federal de Serviço Social, disponível em: http://www.cfess.org.br/

acesso em: 20 maio 2007.

DICIONÁRIO wikipedia disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Laico, acesso em: 19 jun 2007. FALEIROS, V.P. Trabalho Social. Ideologia e método. São Paulo, Cortez, 1980. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, o dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 19991989

FIGUEIREDO, Rodolfo Antonio de. Desenvolvimento Sustentável, Paradigma ou Ocaso? Revista Análise. Jundiaí. Nº 4, 2001.

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GERMANO, José Willington. Estado militar e educação no Brasil. São Paulo: Cortez, 1994.

GOFFMAN, Erving. Estigma e identidade social. São Paulo: Editora Livros Técnicos e Científicos, 1986. IAMAMOTO, M. V. e CARVALHO. R. Relações sociais e Serviço Social no Brasil, São Paulo, Cortez, 1983

LYRA, Rubens Pinto. A Nova Esfera Pública da Cidadania. João Pessoa. Editora Universitária/UFPB, 1996. NETO, José Paulo, - Capitalismo monopolista e serviço social – São Paulo: Cortez, 1992.

MARTINS, José de Souza, Caminhada no chão da noite, São Paulo, Hucitec, 1989.

Oliveira, Sebastião Geraldo de. Proteção Jurídica ao trabalho dos portadores de deficiência, in Discriminação. Coord. Márcio Túlio Viana e Luiz Otávio Linhares Renault. São Paulo: LTr, 2000, p. 148-149.

PEREIRA, Potyara A. P. Concepções e propostas de políticas sociais em curso: tendências, perspectivas e conseqüências. Brasília: NEPPOS/CEAM/UnB, 1994. PROSERVNET. Síndrome de West. Disponível em: www.proservnet.com.br/index.asp?VarIdNoticia013090&seção=lernoticia, acesso em: 27 ago. 2006.

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Em Anexo:

1 - Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais;

2 - Estatuto dos Portadores de Deficiência.

3 - Declaração de Salamanca;

4 - Síndrome de West e suas necessidades funcionais; e

5 - Vivenciando a história.

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I - Código de Ética Profissional dos Assistente Sociais

Aprovado em 15 de março de 1996

Com as alterações introduzidas pelas resoluções CFESS n° 290/94 e 293/94

Introdução

Princípios Fundamentais

Título I - Disposições Gerais Título II - Dos Direitos e Das Responsabilidades Gerais do Assistente Social Título III - Das Relações Profissionais Capítulo I - Das Relações com os Usuários Capítulo II - Das Relações com as Instituições Empregadoras e Outras Capítulo III - Das Relações com Assistentes Sociais e Outros Profissionais Capítulo IV - Das Relações com Entidades da Categoria e Demais Organizações da Sociedade Civil Capítulo V - Do Sigilo Profissional Capítulo VI - Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento Título IV - Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento

Resolução CFESS N.º 273/93 DE 13 MARÇO 93

Institui o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providências.

A Presidente do Conselho Federal de Serviço Social - CFESS, no uso de suas atribuições legais e regimentais, e de acordo com a deliberação do Conselho Pleno, em reunião ordinária, realizada em Brasília, em 13 de março de 1993, Considerando a avaliação da categoria e das entidades do Serviço Social de que o Código homologado em 1986 apresenta insuficiências;

Considerando as exigências de normatização específicas de um Código de Ética Profissional e sua real operacionalização;

Considerando o compromisso da gestão 90/93 do CFESS quanto à necessidade de revisão do Código de Ética;

Considerando a posição amplamente assumida pela categoria de que as conquistas políticas expressas no Código de 1986 devem ser preservadas;

Considerando os avanços nos últimos anos ocorridos nos debates e produções sobre a questão ética, bem como o acúmulo de reflexões existentes sobre a matéria;

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Considerando a necessidade de criação de novos valores éticos, fundamentados na definição mais abrangente, de compromisso com os usuários, com base na liberdade, democracia, cidadania, justiça e igualdade social;

Considerando que o XXI Encontro Nacional CFESS/CRESS referendou a proposta de reformulação apresentada pelo Conselho Federal de Serviço Social;

RESOLVE:

Art. 1º - Instituir o Código de Ética Profissional do assistente social em anexo.

Art. 2º - O Conselho Federal de Serviço Social - CFESS, deverá incluir nas Carteiras de Identidade Profissional o inteiro teor do Código de Ética.

Art. 3º - Determinar que o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Serviço Social procedam imediata e ampla divulgação do Código de Ética.

Art. 4º - A presente Resolução entrará em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial da União, revogadas as disposições em contrário, em especial, a Resolução CFESS nº 195/86, de 09.05.86.

Brasília, 13 de março de 1993.

MARLISE VINAGRE SILVA Assistente Social CRESS Nº 3578 7ª Região/RJ Presidente do CFESS

Título I

Disposições Gerais

Art.1º - Compete ao Conselho Federal de Serviço Social:

a) zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, fiscalizando as ações dos Conselhos Regionais e a prática exercida pelos profissionais, instituições e organizações na área do Serviço Social;

b) introduzir alteração neste Código, através de uma ampla participação da categoria, num processo desenvolvido em ação conjunta com os Conselhos Regionais;

c) como Tribunal Superior de Ética Profissional, firmar jurisprudência na observância deste Código e nos casos omissos.

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Parágrafo único - Compete aos Conselhos Regionais, nas áreas de suas respectivas jurisdições, zelar pela observância dos princípios e diretrizes deste Código, e funcionar como órgão julgador de primeira instância.

Título II

Dos Direitos e das Responsabilidades Gerais do Assistente Social

Art. 2º - Constituem direitos do assistente social:

a) garantia e defesa de suas atribuições e prerrogativas, estabelecidas na Lei de Regulamentação da Profissão e dos princípios firmados neste Código;

b) livre exercício das atividades inerentes à Profissão;

c) participação na elaboração e gerenciamento das políticas sociais, e na formulação e implementação de programas sociais;

d) inviolabilidade do local de trabalho e respectivos arquivos e documentação, garantindo o sigilo profissional;

e) desagravo público por ofensa que atinja a sua honra profissional;

f) aprimoramento profissional de forma contínua, colocando-o a serviço dos princípios deste Código;

g) pronunciamento em matéria de sua especialidade, sobretudo quando se tratar de assuntos de interesse da população;

h) ampla autonomia no exercício da Profissão, não sendo obrigado a prestar serviços profissionais incompatíveis com as suas atribuições, cargos ou funções;

i) liberdade na realização de seus estudos e pesquisas, resguardados os direitos de participação de indivíduos ou grupos envolvidos em seus trabalhos.

Art. 3º - São deveres do assistente social:

a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade, observando a legislação em vigor;

b) utilizar seu número de registro no Conselho Regional no exercício da Profissão;

c) abster-se, no exercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes;

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d) participar de programas de socorro à população em situação de calamidade pública, no atendimento e defesa de seus interesses e necessidades.

Art. 4º - É vedado ao assistente social:

a) transgredir qualquer preceito deste Código, bem como da Lei de Regulamentação da Profissão;

b) praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou contravenções penais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste Código, mesmo que estes sejam praticados por outros profissionais;

c) acatar determinação institucional que fira os princípios e diretrizes deste Código;

d) compactuar com o exercício ilegal da Profissão, inclusive nos casos de estagiários que exerçam atribuições específicas, em substituição aos profissionais;

e) permitir ou exercer a supervisão de aluno de Serviço Social em Instituições Públicas ou Privadas que não tenham em seu quadro assistente social que realize acompanhamento direto ao aluno estagiário;

f) assumir responsabilidade por atividade para as quais não esteja capacitado pessoal e tecnicamente;

g) substituir profissional que tenha sido exonerado por defender os princípios da ética profissional, enquanto perdurar o motivo da exoneração, demissão ou transferência;

h) pleitear para si ou para outrem emprego, cargo ou função que estejam sendoexercidos por colega;

i) adulterar resultados e fazer declarações falaciosas sobre situações ou estudos de que tome conhecimento;

j) assinar ou publicar em seu nome ou de outrem trabalhos de terceiros, mesmo que executados sob sua orientação.

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Título III

Das Relações Profissionais

Capitulo I

Das Relações com os Usuários

Art. 5º - São deveres do assistente social nas suas relações com os usuários:

a) contribuir para a viabilização da participação efetiva da população usuária nas decisões institucionais;

b) garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e seqüências das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos usuários, mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais dos profissionais, resguardados os princípios deste Código;

c) democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à participação dos usuários;

d) devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários, no sentido de que estes possam usá-los para o fortalecimento dos seus interesses;

e) informar à população usuária sobre a utilização de materiais de registro audio-visual e pesquisas a elas referentes e a forma de sistematização dos dados obtidos;

f) fornecer à população usuária, quando solicitado, informações concernentes ao trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas conclusões, resguardado o sigilo profissional;

g) contribuir para a criação de mecanismos que venham desburocratizar a relação com os usuários, no sentido de agilizar e melhorar os serviços prestados;

h) esclarecer aos usuários, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos e a amplitude de sua atuação profissional.

Art. 6º - É vedado ao assistente social:

a) exercer sua autoridade de maneira a limitar ou cercear o direito do usuário de participar e decidir livremente sobre seus interesses;

b) aproveitar-se de situações decorrentes da relação assistente social - usuário, para obter vantagens pessoais ou para terceiros;

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c) bloquear o acesso dos usuários aos serviços oferecidos pelas instituições, através de atitudes que venham coagir e/ou desrespeitar aqueles que buscam o atendimento de seus direitos.

Capítulo II

Das Relações com as Instituições Empregadoras e outras

Art. 7º- Constituem direitos do assistente social:

a) dispor de condições de trabalho condignas, seja em entidade pública ou privada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional;

b) ter livre acesso à população usuária;

c) ter acesso a informações institucionais que se relacionem aos programas e políticas sociais e sejam necessárias ao pleno exercício das atribuições profissionais;

d) integrar comissões interdisciplinares de ética nos locais de trabalho do profissional, tanto no que se refere à avaliação da conduta profissional, como em relação às decisões quanto às políticas institucionais.

Art. 8º - São deveres do assistente social:

a) programar, administrar, executar e repassar os serviços sociais assegurados institucionalmente;

b) denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da instituição em que trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princípios e diretrizes deste Código, mobilizando, inclusive, o Conselho Regional, caso se faça necessário;

c) contribuir para a alteração da correlação de forças institucionais, apoiando as legítimas demandas de interesse da população usuária;

d) empenhar-se na viabilização dos direitos sociais dos usuários, através dos programas e políticas sociais;

e) empregar com transparência as verbas sob a sua responsabilidade, de acordo com os interesses e necessidades coletivas dos usuários.

Art. 9º- É vedado ao assistente social:

a) emprestar seu nome e registro profissional a firmas, organizações ou empresas para simulação do exercício efetivo do Serviço Social;

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b) usar ou permitir o tráfico de influência para obtenção de emprego, desrespeitando concurso ou processos seletivos;

c) utilizar recursos institucionais (pessoal e/ou financeiro) para fins partidários, eleitorais e clientelistas.

Capítulo III

Das Relações com Assistentes Sociais e outros Profissionais

Art. 10 - São deveres do assistente social: a) ser solidário com outros profissionais, sem, todavia, eximir-se de denunciar atos que contrariem os postulados éticos contidos neste Código;

b) repassar ao seu substituto as informações necessárias à continuidade do trabalho;

c) mobilizar sua autoridade funcional, ao ocupar uma chefia, para a liberação de carga horária de subordinado, para fim de estudos e pesquisas que visem o aprimoramento profissional, bem como de representação ou delegação de entidade de organização da categoria e outras, dando igual oportunidade a todos;

d) incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar;

e) respeitar as normas e princípios éticos das outras profissões;

f) ao realizar crítica pública a colega e outros profissionais, fazê-lo sempre de maneira objetiva, construtiva e comprovável, assumindo sua inteira responsabilidade.

Art. 11 - É vedado ao assistente social:

a) intervir na prestação de serviços que estejam sendo efetuados por outro profissional,salvo a pedido desse profissional; em caso de urgência, seguido da imediata comunicação ao profissional; ou quando se tratar de trabalho multiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada;

b) prevalecer-se de cargo de chefia para atos discriminatórios e de abuso de autoridade;

c) ser conivente com falhas éticas de acordo com os princípios deste Código e com erros técnicos praticados por assistente social e qualquer outro profissional;

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d) prejudicar deliberadamente o trabalho e a reputação de outro profissional.

Capítulo IV

Das Relações com Entidades da Categoria e demais Organizações da Sociedade Civil

Art.12 - Constituem direitos do assistente social:

a) participar em sociedades científicas e em entidades representativas e de organização da categoria que tenham por finalidade, respectivamente, a produção de conhecimento, a defesa e a fiscalização do exercício profissional;

b) apoiar e/ou participar dos movimentos sociais e organizações populares vinculados à luta pela consolidação e ampliação da democracia e dos direitos de cidadania.

Art. 13 - São deveres do assistente social:

a) denunciar ao Conselho Regional as instituições públicas ou privadas, onde as condições de trabalho não sejam dignas ou possam prejudicar os usuários ou profissionais.

b) denunciar, no exercício da Profissão, às entidades de organização da categoria, às autoridades e aos órgãos competentes, casos de violação da Lei e dos Direitos Humanos, quanto a: corrupção, maus tratos, torturas, ausência de condições mínimas de sobrevivência, discriminação, preconceito, abuso de autoridade individual e institucional, qualquer forma de agressão ou falta de respeito à integridade física, social e mental do cidadão;

c) respeitar a autonomia dos movimentos populares e das organizações das classes trabalhadoras.

Art. 14 - É vedado ao assistente social valer-se de posição ocupada na direção de entidade da categoria para obter vantagens pessoais, diretamente ou através de terceiros.

Capítulo V

Do Sigilo Profissional

Art. 15 - Constitui direito do assistente social manter o sigilo profissional.

Art. 16 - O sigilo protegerá o usuário em tudo aquilo de que o assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional.

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Parágrafo único - Em trabalho multidisciplinar só poderão ser prestadas informações dentro dos limites do estritamente necessário.

Art. 17 - É vedado ao assistente social revelar sigilo profissional.

Art. 18 - A quebra do sigilo só é admissível quando se tratarem de situações cuja gravidade possa, envolvendo ou não fato delituoso, trazer prejuízo aos interesses do usuário, de terceiros e da coletividade.

Parágrafo único - A revelação será feita dentro do estritamente necessário, quer em relação ao assunto revelado, quer ao grau e número de pessoas que dele devam tomar conhecimento.

Capítulo VI

Das Relações do Assistente Social com a Justiça

Art. 19 - São deveres do assistente social:

a) apresentar à justiça, quando convocado na qualidade de perito ou testemunha, as conclusões do seu laudo ou depoimento, sem extrapolar o âmbito da competência profissional e violar os princípios éticos contidos neste Código.

b) comparecer perante a autoridade competente, quando intimado a prestar depoimento, para declarar que está obrigado a guardar sigilo profissional nos termos deste Código e da Legislação em vigor.

Art. 20 - É vedado ao assistente social:

a) depor como testemunha sobre situação sigilosa do usuário de que tenha conhecimento no exercício profissional, mesmo quando autorizado;

b) aceitar nomeação como perito e/ou atuar em perícia quando a situação não se caracterizar como área de sua competência ou de sua atribuição profissional, ou quando infringir os dispositivos legais relacionados a impedimentos ou suspeição.

Título IV

Da Observância, Penalidades, Aplicação e Cumprimento Deste Código

Art. 21- São deveres do assistente social:

a) cumprir e fazer cumprir este Código;

b) denunciar ao Conselho Regional de Serviço Social, através de comunicação fundamentada, qualquer forma de exercício irregular da Profissão, infrações a princípios e diretrizes deste Código e da legislação profissional;

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c) informar, esclarecer e orientar os estudantes, na docência ou supervisão, quanto aos princípios e normas contidas neste Código.

Art. 22 - Constituem infrações disciplinares:

a) exercer a Profissão quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não inscritos ou impedidos;

b) não cumprir, no prazo estabelecido, determinação emanada do órgão ou autoridade dos Conselhos, em matéria destes, depois de regularmente notificado;

c) deixar de pagar, regularmente, as anuidades e contribuições devidas ao Conselho Regional de Serviço Social a que esteja obrigado;

d) participar de instituição que, tendo por objeto o Serviço Social, não esteja inscrita no Conselho Regional;

e) fazer ou apresentar declaração, documento falso ou adulterado, perante o Conselho Regional ou Federal.

Das Penalidades

Art. 23 - As infrações a este Código acarretarão penalidades, desde a multa à cassação do exercício profissional, na forma dos dispositivos legais e/ ou regimentais.

Art. 24 - As penalidades aplicáveis são as seguintes:

a) multa; b) advertência reservada; c) advertência pública; d) suspensão do exercício profissional; e) cassação do registro profissional. Parágrafo único - Serão eliminados dos quadros dos CRESS, aqueles que fizerem falsa prova dos requisitos exigidos nos Conselhos.

Art. 25 - A pena de suspensão acarreta ao assistente social a interdição do exercício profissional em todo o território nacional, pelo prazo de 30 (trinta) dias a 2 (dois) anos.

Parágrafo único - A suspensão por falta de pagamento de anuidades e taxas só cessará com a satisfação do débito, podendo ser cassada a inscrição profissional após decorridos três anos da suspensão.

Art. 26 - Serão considerados na aplicação das penas os antecedentes profissionais do infrator e as circunstâncias em que ocorreu a infração.

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Art. 27 - Salvo nos casos de gravidade manifesta, que exigem aplicação de penalidades mais rigorosas, a imposição das penas obedecerá à gradação estabelecida pelo artigo 24.

Art. 28 - Para efeito da fixação da pena serão considerados especialmente graves as violações que digam respeito às seguintes disposições:

Art. 3º - alínea c Art. 4º - alínea a, b, c, g, i, j Art. 5º - alínea b, f Art. 6º - alínea a, b, c Art. 8º - alínea b, e Art. 9º - alínea a, b, c Art.11 - alínea b, c, d Art. 13 - alínea b Art. 14 Art. 16 Art. 17 Parágrafo único do art. 18 Art. 19 - alínea b Art. 20 - alínea a, b

Parágrafo único - As demais violações não previstas no "caput", uma vez consideradas graves, autorizarão aplicação de penalidades mais severas, em conformidade com o art. 26.

Art. 29 - A advertência reservada, ressalvada a hipótese prevista no art. 32 será confidencial, sendo que a advertência pública, suspensão e a cassação do exercício profissional serão efetivadas através de publicação em Diário Oficial e em outro órgão da imprensa, e afixado na sede do Conselho Regional onde estiver inserido o denunciado e na Delegacia Seccional do CRESS da jurisdição de seu domicílio.

Art. 30 - Cumpre ao Conselho Regional a execução das decisões proferidas nos processos disciplinares.

Art. 31 - Da imposição de qualquer penalidade caberá recurso com efeito suspensivo ao CFESS.

Art. 32 - A punibilidade do assistente social, por falta sujeita a processo ético e disciplinar, prescreve em 05 (cinco) anos, contados da data da verificação do fato respectivo.

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Art. 33 - Na execução da pena de advertência reservada, não sendo encontrado o penalizado ou se este, após duas convocações, não comparecer no prazo fixado para receber a penalidade, será ela tornada pública.

§Parágrafo Primeiro - A pena de multa, ainda que o penalizado compareça para tomar conhecimento da decisão, será publicada nos termos do Art. 29 deste Código, se não for devidamente quitada no prazo de 30 (trinta) dias, sem prejuízo da cobrança judicial.

§Parágrafo Segundo - Em caso de cassação do exercício profissional, além dos editais e das comunicações feitas às autoridades competentes interessadas no assunto, proceder-se-á a apreensão da Carteira e Cédula de Identidade Profissional do infrator.

Art. 34 - A pena de multa variará entre o mínimo correspondente ao valor de uma anuidade e o máximo do seu décuplo.

Art. 35 - As dúvidas na observância deste Código e os casos omissos serão resolvidos pelos Conselhos Regionais de Serviço Social "ad referendum" do Conselho Federal de Serviço Social, a quem cabe firmar jurisprudência.

Art. 36 - O presente Código entrará em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial da União, revogando-se as disposições em contrário.

Brasília, 13 de março de 1993. MARLISE VINAGRE SILVA Presidente do CFESS Publicado no Diário Oficial da União N 60, de 30.03.93, Seção I, páginas 4004 a 4007 e alterado pela Resolução CFESS n.º 290, publicada no Diário Oficial da União de 11.02.94.

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II - Estatuto do Deficiente

DECRETO Nº 3.298 - DE 20 DE DEZEMBRO DE 1999 - DOU DE 21/12/99

Regulamenta a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, consolida as normas de proteção, e dá outras providencias.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989,

DECRETA :

1 - CAPITULO I - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS (Art.1 a Art.4)

2 - CAPITULO II - DOS PRINCÍPIOS (Art.5)

3 - CAPITULO III - DAS DIRETRIZES (Art 6)

4 - CAPITULO IV - DOS OBJETIVOS (Art.7)

5 - CAPITULO V - DOS INSTRUMENTOS (Art.8)

6 - CAPITULO VI - DOS ASPECTOS INSTITUCIONAIS (Art.9 a Art.14)

7 - CAPITULO VII DA EQUIPARAÇÃO DE OPORTUNIDADES (Art.15)

7.1 - SEÇÃO I - DA SAÚDE (Art.16 a Art.23)

7.2 - SEÇÃO II - DO ACESSO A EDUCAIÃO (Art.24 a Art.29)

7.3 - SEÇÃO III - DA HABILITAÇÃO E DA REABILITAÇÃO PROFISSIONAL (Art.30 a Art.33)

7.4 - SEÇÃO IV - DO ACESSO AO TRABALHO (Art.34 a Art.45)

7.5 - SEÇÃO V - DA CULTURA, DO DESPORTO, DO TURISMO E DO LAZER (Art.46 a Art.48)

8 - CAPITULO VIII - DA POLÍTICA DE CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS (Art.49)

9 - CAPITULO IX - DA ACESSIBILIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL (Art.50 a Art.54)

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10 - CAPITULO X - DO SISTEMA INTEGRADO DE INFORMAÇÕES (Art.55)

11 - CAPITULO XI - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS (Art.56 a Art.60)

1 - CAPÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º - A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência compreende o conjunto de orientações normativas que objetivam assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência.

Art. 2º - Cabe aos órgãos e as entidades do Poder Público assegurar a pessoa portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos a educação, a saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, a previdência social, a assistência social, ao transporte, a edificação pública, a habitação, a cultura, ao amparo a infância e a maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Art. 3º- Para os efeitos deste Decreto, considera-se:

I - deficiência - toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano;

II - deficiência permanente - aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se altere, apesar de novos tratamentos; e

III - incapacidade - uma redomão efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.

Art. 4º - É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias:

I - deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções;

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II - deficiência auditiva - perda parcial ou total das possibilidades auditivas sonoras, variando de graus e níveis na forma seguinte:

a) de 25 a 40 decibéis (db) – surdez leve;

b) de 41 a 55 db – surdez moderada;

c) de 56 a 70 db – surdez acentuada;

d) de 71 a 90 db – surdez severa;

e) acima de 91 db – surdez profunda; e

f) anacusia;

III - deficiência visual - acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, com a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações;

IV - deficiência mental - funcionamento intelectual significativamente inferior a média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:

a) comunicação;

b) cuidado pessoal;

c) habilidades sociais;

d) utilização da comunidade;

e) saúde e segurança;

f) habilidades acadêmicas;

g) lazer; e

h) trabalho;

V - deficiência múltipla associação de duas ou mais deficiências.

2 - CAPÍTULO II - DOS PRINCÍPIOS

Art. 5º - A Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, em consonância com o Programa Nacional de Direitos Humanos, obedecerá aos seguintes princípios;

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I - desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da sociedade civil, de modo a

assegurar a plena integração da pessoa portadora de deficiência no contexto sócio-econômico e cultural;

II - estabelecimento de mecanismos e instrumentos legais e operacionais que assegurem as pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciam o seu bem-estar pessoal, social e econômico; e

III - respeito as pessoas portadoras de deficiência, que devem receber igualdade de oportunidades na sociedade por reconhecimento dos direitos que lhes são assegurados, sem privilégios ou paternalismos.

3 - CAPÍTULO III - DAS DIRETRIZES

Art. 6º - São diretrizes da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência:

I - estabelecer mecanismos que acelerem e favoreçam a inclusão social da pessoa portadora de deficiência;

II - adotar estratégias de articulação com órgãos e entidades públicos e privados, bem assim com organismos internacionais e estrangeiros para a implantação desta Política;

III - incluir a pessoa portadora de deficiência, respeitadas as suas peculiaridades, em todas as iniciativas governamentais relacionadas a educação, a saúde, ao trabalho, a edificação pública, a previdência social, a assistência social, ao transporte, a habitação, a cultura, ao esporte e ao lazer;

IV - viabilizar a participação da pessoa portadora de deficiência em todas as fases de implementação dessa Política, por intermédio de suas entidades representativas;

V - ampliar as alternativas de inserção econômica da pessoa portadora de deficiência, proporcionando a ela qualificação profissional e incorporação no mercado de trabalho; e

VI - garantir o efetivo atendimento das necessidades da pessoa portadora de deficiência, sem o cunho assistencialista.

4 - CAPÍTULO IV - DOS OBJETIVOS

Art. 7º - São objetivos da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência:

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I - o acesso, o ingresso e a permanência da pessoa portadora de deficiência em

todos os serviços oferecidos a comunidade;

II - integração das ações dos órgãos e das entidades públicos e privados nas áreas de saúde, educação, trabalho, transporte, assistência social, edificação pública, previdência social, habitação, cultura, desporto e lazer, visando a prevenção das deficiências, a eliminação de suas múltiplas causas e a inclusão social;

III - desenvolvimento de programas setoriais destinados ao atendimento das necessidades especiais da pessoa portadora de deficiência;

IV - formação de recursos humanos para atendimento da pessoa portadora de deficiência; e

V - garantia da efetividade dos programas de prevenção, de atendimento especializado e de inclusão social.

5 - CAPÍTULO V - DOS INSTRUMENTOS

Art. 8º - São instrumentos da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência:

I - a articulação entre entidades governamentais e não-governamentais que tenham responsabilidades quanto ao atendimento da pessoa portadora de deficiência, em nível federal, estadual, do Distrito Federal e municipal;

II - o fomento a formação de recursos humanos para adequado e eficiente atendimento da pessoa portadora de deficiência;

III - a aplicação da legislação específica que disciplina a reserva de mercado de trabalho, em favor da pessoa portadora de deficiência, nos órgãos e nas entidades públicos e privados;

IV - o fomento da tecnologia de bioengenharia voltada para a pessoa portadora de deficiência, bem como a facilitação da importação de equipamentos; e

V - a fiscalização do cumprimento da legislação pertinente a pessoa portadora de deficiência.

6 - CAPÍTULO VI - DOS ASPECTOS INSTITUCIONAIS

Art. 9º - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta deverão conferir, no âmbito das respectivas competências e finalidades, tratamento prioritário e adequado aos assuntos relativos a pessoa portadora de

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deficiência, visando a assegurar-lhe o pleno exercício de seus direitos básicos e a efetiva inclusão social.

Art. 10 - Na execução deste Decreto, a Administração Pública Federal direta e indireta atuará de modo integrado e coordenado, seguindo planos e programas, com prazos e objetivos determinados, aprovados pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência - CONADE.

Art. 11 - Ao CONADE, criado no âmbito do Ministério da Justiça como órgão superior de deliberação colegiada, compete:

I - zelar pela efetiva implantação da Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;

II - acompanhar o planejamento e avaliar a execução das políticas setoriais de educação, saúde, trabalho, assistência social, transporte, cultura, turismo, desporto, lazer, política urbana e outras relativas a pessoa portadora de deficiência;

III - acompanhar a elaboração e a execução da proposta orçamentária do Ministério da Justiça, sugerindo as modificações necessárias a consecução da Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência;

IV - zelar pela efetivação do sistema descentralizado e participativo de defesa dos direitos da pessoa portadora de deficiência;

V - acompanhar e apoiar as políticas e as ações do Conselho dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

VI - propor a elaboração de estudos e pesquisas que objetivem a melhoria da qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência;

VII - propor e incentivar a realização de campanhas visando a prevenção de deficiências e a promoção dos direitos da pessoa portadora de deficiência;

VIII - aprovar o plano de ação anual da Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE;

IX - acompanhar, mediante relatórios de gestão, o desempenho dos programas e projetos da Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência; e

X - elaborar o seu regimento interno.

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Art. 12 - O CONADE será constituído, paritariamente, por representantes de

instituições governamentais e da sociedade civil, sendo a sua composição e o seu funcionamento disciplinados em ato do Ministro de Estado da Justiça.

Parágrafo único. Na composição do CONADE, o Ministro de Estado da Justiça disporá sobre os critérios de escolha dos representantes a que se refere este artigo, observando, entre outros, a representatividade e a efetiva atuação, em nível nacional, relativamente a defesa dos direitos da pessoa portadora de deficiência.

Art. 13 - Poderão ser instituídas outras instâncias deliberativas pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, que integrarão sistema descentralizado de defesa dos direitos da pessoa portadora de deficiência.

Art. 14 - Incumbe ao Ministério da Justiça, por intermédio da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, a coordenação superior, na Administração Pública Federal, dos assuntos, das atividades e das medidas que se refiram as pessoas portadoras de deficiência.

§ 1º No âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, compete a CORDE:

I - exercer a coordenação superior dos assuntos, das ações governamentais e das medidas referentes a pessoa portadora de deficiência;

II - elaborar os planos, programas e projetos da Política Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, bem como propor as providencias necessárias a sua completa implantação e ao seu adequado desenvolvimento, inclusive as pertinentes a recursos financeiros e as de caráter legislativo;

III - acompanhar e orientar a execução pela Administração Pública Federal dos planos, programas e projetos mencionados no inciso anterior;

IV - manifestar-se sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, dos projetos federais a ela conexos, antes da liberação dos recursos respectivos;

V - manter com os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e o Ministério Público, estreito relacionamento, objetivando a concorrência de ações destinadas a integração das pessoas portadoras de deficiência;

VI - provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil de que trata a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989, e indicando-lhe os elementos de convicção;

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VII - emitir opinião sobre os acordos, contratos ou convênios firmados pelos demais órgãos da Administração Pública Federal, no âmbito da Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência; e

VIII - promover e incentivar a divulgação e o debate das questões concernentes a pessoa portadora de deficiência, visando a conscientização da sociedade.

§ 2º Na elaboração dos planos e programas a seu cargo, a CORDE deverá:

I - recolher, sempre que possível, a opinião das pessoas e entidades interessadas; e

II - considerar a necessidade de ser oferecido efetivo apoio as entidades privadas voltadas a integração social da pessoa portadora de deficiência.

7 - CAPÍTULO VII - DA EQUIPARAÇÃO DE OPORTUNIDADES

Art. 15 - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal prestarão direta ou indiretamente a pessoa portadora de deficiência os seguintes serviços:

I - reabilitação integral, entendida como o desenvolvimento das potencialidades da pessoa portadora de deficiência, destinada a facilitar sua atividade laboral, educativa e social;

II - formação profissional e qualificação para o trabalho;

III - escolarização em estabelecimentos de ensino regular com a provisão dos apoios necessários, ou em estabelecimentos de ensino especial; e

IV - orientação e promoção individual, familiar e social.

7.1 - SEÇÃO I - DA SAÚDE

Art. 16 - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta responsáveis pela saúde devem dispensar aos assuntos objeto deste Decreto tratamento prioritário e adequado, viabilizando, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

I - a promoção de ações preventivas, como as referentes ao planejamento familiar, ao aconselhamento genético, ao acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, a nutrição da mulher e da criança, a identificação e ao controle da gestante e do feto de alto risco, a imunização, as doenças do metabolismo e seu diagnostico, ao encaminhamento precoce de outras doenças causadoras de deficiência, e a detecção precoce das doenças crônico-degenerativas e a outras potencialmente incapacitastes;

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II - o desenvolvimento de programas especiais de prevenção de acidentes domésticos, de trabalho, de trânsito e outros, bem como o desenvolvimento de programa para tratamento adequado a suas vítimas;

III - a criação de rede de serviços regionalizados, descentralizados e hierarquizados em crescentes níveis de complexidade, voltada ao atendimento a saúde e reabilitação da pessoa portadora de deficiência, articulada com os serviços sociais, educacionais e com o trabalho;

IV - a garantia de acesso da pessoa portadora de deficiência aos estabelecimentos de saúde públicos e privados e de seu adequado tratamento sob normas técnicas e padrões de conduta apropriados;

V - a garantia de atendimento domiciliar de saúde ao portador de deficiência grave não internado;

VI - o desenvolvimento de programas de saúde voltados para a pessoa portadora de deficiência, desenvolvidos com a participação da sociedade e que lhes ensejem a inclusão social; e

VII - o papel estratégico da atuação dos agentes comunitários de saúde e das equipes de saúde da família na disseminação das práticas e estratégias de reabilitação baseada na comunidade.

§ 1º Para os efeitos deste Decreto, prevenção compreende as ações e medidas orientadas a evitar as causas das deficiências que possam ocasionar incapacidade e as destinadas a evitar sua progressão ou derivação em outras incapacidades.

§ 2º A deficiência ou incapacidade deve ser diagnosticada e caracterizada por equipe multidisciplinar de saúde, para fins de concessão de benefícios e serviços.

§ 3º As ações de promoção da qualidade de vida da pessoa portadora de deficiência deverão também assegurar a igualdade de oportunidades no campo da saúde.

Art. 17 - É beneficiária do processo de reabilitação a pessoa que apresenta deficiência, qualquer que seja sua natureza, agente causal ou grau de severidade.

§ 1º Considera-se reabilitação o processo de duração limitada e com objetivo definido, destinado a permitir que a pessoa com deficiência alcance o nível físico, mental ou social funcional ótimo, proporcionando-lhe os meios de modificar sua própria vida, podendo compreender medidas visando a compensar a perda de uma função ou uma limitação funcional e facilitar ajustes ou reajustes sociais.

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§ 2º Para efeito do disposto neste artigo, toda pessoa que apresente redução funcional devidamente diagnosticada por equipe multiprofissional terá direito a beneficiar-se dos processos de reabilitação necessários para corrigir ou modificar seu estado físico, mental ou sensorial, quando este constitua obstáculo para sua integração educativa, laboral e social.

Art. 18 - Incluem-se na assistência integral a saúde e reabilitação da pessoa portadora de deficiência a concessão de orteses, próteses, bolsas coletoras e materiais auxiliares, dado que tais equipamentos complementam o atendimento, aumentando as possibilidades de independência e inclusão da pessoa portadora de deficiência.

Art. 19 - Consideram-se ajudas técnicas, para os efeitos deste Decreto, os elementos que permitem compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou mentais da pessoa portadora de deficiência, com o objetivo de permitir-lhe superar as barreiras da comunicação e da mobilidade e de possibilitar sua plena inclusão social.

Parágrafo único. São ajudas técnicas:

I - próteses auditivas, visuais e físicas;

II - próteses que favoreçam a adequação funcional;

III - equipamentos e elementos necessários a terapia e reabilitação da pessoa portadora de deficiência;

IV - equipamentos, maquinarias e utensílios de trabalho especialmente desenhados ou adaptados para uso por pessoa portadora de deficiência;

V - elementos de mobilidade, cuidado e higiene pessoal necessários para facilitar a autonomia e a segurança da pessoa portadora de deficiência;

VI - elementos especiais para facilitar a comunicação, a informação e a sinalização para pessoa portadora de deficiência;

VII - equipamentos e material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa portadora de deficiência;

VIII - adaptações ambientais e outras que garantam o acesso, a melhoria funcional e a autonomia pessoal; e

IX - bolsas coletoras para os portadores de ostomia.

Art. 20 - É considerado parte integrante do processo de reabilitação o provimento de medicamentos que favoreciam a estabilidade clínica e funcional e auxiliem na

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limitação da incapacidade, na reeducação funcional e no controle das lesões que geram incapacidades.

Art. 21 - O tratamento e a orientação psicológica serão prestados durante as distintas fases do processo reabilitador, destinados a contribuir para que a pessoa portadora de deficiência atinja o mais pleno desenvolvimento de sua personalidade.

Parágrafo único. O tratamento e os apoios psicológicos serão simultâneos aos tratamentos funcionais e, em todos os casos, serão concedidos desde a comprovação da deficiência ou do início de um processo patológico que possa originá-la.

Art. 22 - Durante a reabilitação, será propiciada, se necessária, assistência em saúde mental com a finalidade de permitir que a pessoa submetida a esta prestação desenvolva ao máximo suas capacidades.

Art. 23 - Será fomentada a realização de estudos epidemiológicos e clínicos, com periodicidade e abrangência adequadas, de modo a produzir informações sobre a ocorrência de deficiências e incapacidades.

7.2 - SEÇÃO II - DO ACESSO A EDUCAÇÃO

Art. 24 - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta responsáveis pela educação dispensarão tratamento prioritário e adequado aos assuntos objeto deste Decreto, viabilizando, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

I - a matrícula compulsaria em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de pessoa portadora de deficiência capazes de se integrar na rede regular de ensino;

II - a inclusão, no sistema educacional, da educação especial como modalidade de educação escolar que permeia transversalmente todos os níveis e as modalidades de ensino;

III - a inserção, no sistema educacional, das escolas ou instituições especializadas públicas e privadas;

IV - a oferta, obrigatória e gratuita, da educação especial em estabelecimentos públicos de ensino;

V - o oferecimento obrigatório dos serviços de educação especial ao educando portador de deficiência em unidades hospitalares e congêneres nas quais esteja internado por prazo igual ou superior a um ano; e

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VI - o acesso de aluno portador de deficiência aos benefícios conferidos aos demais educandos, inclusive material escolar, transporte, merenda escolar e bolsas de estudo.

§ 1º Entende-se por educação especial, para os efeitos deste Decreto, a modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para educando com necessidades educacionais especiais, entre eles o portador de deficiência.

§ 2º A educação especial caracteriza-se por constituir processo flexível, dinâmico e individualizado, oferecido principalmente nos níveis de ensino considerados obrigatórios.

§ 3º A educação do aluno com deficiência deverá iniciar-se na educação infantil, a partir de zero ano.

§ 4º A educação especial contará com equipe multiprofissional, com a adequada especialização, e adotará orientações pedagógicas individualizadas.

§ 5º Quando da construção e reforma de estabelecimentos de ensino deverá ser observado o atendimento as normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - A.B.N.T relativas a acessibilidade.

Art. 25 - Os serviços de educação especial serão ofertados nas instituições de ensino público ou privado do sistema de educação geral, de forma transitória ou permanente, mediante programas de apoio para o aluno que está integrado no sistema regular de ensino, ou em escolas especializadas exclusivamente quando a educação das escolas comuns não puder satisfazer as necessidades educativas ou sociais do aluno ou quando necessário ao bem-estar do educando.

Art. 26 - As instituições hospitalares e congêneres deverão assegurar atendimento pedagógico ao educando portador de deficiência internado nessas unidades por prazo igual ou superior a um ano, com o propósito de sua inclusão ou manutenção no processo educacional.

Art. 27 - As instituições de ensino superior deverão oferecer adaptações de provas e os apoios necessários, previamente solicitados pelo aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional para realização das provas, conforme as características da deficiência.

§ 1º As disposições deste artigo aplicam-se, também, ao sistema geral do processo seletivo para ingresso em cursos universitários de instituições de ensino superior.

§ 2º O Ministério da Educação, no âmbito da sua competência, expedirá instruções para que os programas de educação superior incluam nos seus

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currículos conteúdos, itens ou disciplinas relacionados a pessoa portadora de deficiência.

Art. 28 - O aluno portador de deficiência matriculado ou egresso do ensino fundamental ou médio, de instituições públicas ou privadas, terá acesso a educação profissional, a fim de obter habilitação profissional que lhe proporcione oportunidades de acesso ao mercado de trabalho.

§ 1º A educação profissional para a pessoa portadora de deficiência será oferecida nos níveis básico, técnico e tecnológico, em escola regular, em instituições especializadas e nos ambientes de trabalho.

§ 2º As instituições públicas e privadas que ministram educação profissional deverão, obrigatoriamente, oferecer cursos profissionais de nível básico a pessoa portadora de deficiência, condicionando a matrícula a sua capacidade de aproveitamento e não a seu nível de escolaridade.

§ 3º Entende-se por habilitação profissional o processo destinado a propiciar a pessoa portadora de deficiência, em nível formal e sistematizado, aquisição de conhecimentos e habilidades especificamente associados a determinada profissão ou ocupação.

§ 4º Os diplomas e certificados de cursos de educação profissional expedidos por instituição credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente terão validade em todo o território nacional.

Art. 29 - As escolas e instituições de educação profissional oferecerão, se necessário, serviços de apoio especializado para atender as peculiaridades da pessoa portadora de deficiência, tais como:

I - adaptação dos recursos instrucionais: material pedagógico, equipamento e currículo;

II - capacitação dos recursos humanos: professores, instrutores e profissionais especializados; e

III - adequação dos recursos físicos: eliminação de barreiras arquitetônicas, ambientais e de comunicação.

7.3 - SEÇÃO III - DA HABILITAÇÃO E DA REABILITAÇÃO PROFISSIONAL

Art. 30 - A pessoa portadora de deficiência, beneficiária ou não do Regime Geral de Previdência Social, tem direito as prestações de habilitação e reabilitação profissional para capacitar-se a obter trabalho, conservá-lo e progredir profissionalmente.

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Art. 31 - Entende-se por habilitação e reabilitação profissional o processo orientado a possibilitar que a pessoa portadora de deficiência, a partir da identificação de suas potencialidades laborativas, adquira o nível suficiente de desenvolvimento profissional para ingresso e reingresso no mercado de trabalho e participar da vida comunitária.

Art. 32 - Os serviços de habilitação e reabilitação profissional deverão estar dotados dos recursos necessários para atender toda pessoa portadora de deficiência, independentemente da origem de sua deficiência, desde que possa ser preparada para trabalho que lhe seja adequado e tenha perspectivas de obter, conservar e nele progredir.

Art. 33 - A orientação profissional será prestada pelos correspondentes serviços de habilitação e reabilitação profissional, tendo em conta as potencialidades da pessoa portadora de deficiência, identificadas com base em relatório de equipe multiprofissional, que deverá considerar:

I - educação escolar efetivamente recebida e por receber;

II - expectativas de promoção social;

III - possibilidades de emprego existentes em cada caso;

IV - motivações, atitudes e preferências profissionais; e

V - necessidades do mercado de trabalho.

7.4 - SEÇÃO IV - DO ACESSO AO TRABALHO

Art. 34 - É finalidade primordial da política de emprego a inserção da pessoa portadora de deficiência no mercado de trabalho ou sua incorporação ao sistema produtivo mediante regime especial de trabalho protegido.

Parágrafo único. Nos casos de deficiência grave ou severa, o cumprimento do disposto no caput deste artigo poderá ser efetivado mediante a contratação das cooperativas sociais de que trata a Lei nº 9.867, de 10 de novembro de 1999.

Art. 35 - São modalidades de inserção laboral da pessoa portadora de deficiência:

I - colocação competitiva: processo de contratação regular, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, que independe da adoção de procedimentos especiais para sua concretização, não sendo excluída a possibilidade de utilização de apoios especiais;

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II - colocação seletiva: processo de contratação regular, nos termos da legislação trabalhista e previdenciária, que depende da adoção de procedimentos e apoios especiais para sua concretização; e

III - promoção do trabalho por conta própria: processo de fomento da ação de uma ou mais pessoas, mediante trabalho autônomo, cooperativado ou em regime de economia familiar, com vista a emancipação econômica e pessoal.

§ 1º As entidades beneficentes de assistência social, na forma da lei, poderão intermediar a modalidade de inserção laboral de que tratam os incisos II e III, nos seguintes casos:

I - na contratação para prestação de serviços, por entidade pública ou privada, da pessoa portadora de deficiência física, mental ou sensorial: e

II - na comercialização de bens e serviços decorrentes de programas de habilitação profissional de adolescente e adulto portador de deficiência em oficina protegida de produção ou terapêutica.

§ 2º Consideram-se procedimentos especiais os meios utilizados para a contratação de pessoa que, devido ao seu grau de deficiência, transitória ou permanente, exija condições especiais, tais como jornada variável, horário flexível, proporcionalidade de salário, ambiente de trabalho adequado as suas especificidades, entre outros.

§ 3º Consideram-se apoios especiais a orientação, a supervisão e as ajudas técnicas entre outros elementos que auxiliem ou permitam compensar uma ou mais limitações funcionais motoras, sensoriais ou mentais da pessoa portadora de deficiência, de modo a superar as barreiras da mobilidade e da comunicação, possibilitando a plena utilização de suas capacidades em condições de normalidade.

§ 4º Considera-se oficina protegida de produção a unidade que funciona em relação de dependência com entidade pública ou beneficente de assistência social, que tem por objetivo desenvolver programa de habilitação profissional para adolescente e adulto portador de deficiência, provendo-o com trabalho remunerado, com vista a emancipação econômica e pessoal relativa.

§ 5º Considera-se oficina protegida terapêutica a unidade que funciona em relação de dependência com entidade pública ou beneficente de assistência social, que tem por objetivo a integração social por meio de atividades de adaptação e capacitação para o trabalho de adolescente e adulto que devido ao seu grau de deficiência, transitória ou permanente, não possa desempenhar atividade laboral no mercado competitivo de trabalho ou em oficina protegida de produção.

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§ 6º O período de adaptação e capacitação para o trabalho de adolescente e adulto portador de deficiência em oficina protegida terapêutica não caracteriza vínculo empregatício e está condicionado a processo de avaliação individual que considere o desenvolvimento biopsicosocial da pessoa.

§ 7º A prestação de serviços será feita mediante celebração de convenio ou contrato formal, entre a entidade beneficente de assistência social e o tomador de serviços, no qual constará a relação nominal dos trabalhadores portadores de deficiência colocados a disposição do tomador.

§ 8º A entidade que se utilizar do processo de colocação seletiva deverá promover, em parceria com o tomador de serviços, programas de prevenção de doenças profissionais e de redução da capacidade laboral, bem assim programas de reabilitação caso ocorram patologias ou se manifestem outras incapacidades.

Art. 36 - A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a preencher de dois a cinco por cento de seus cargos com beneficiários da Previdência Social reabilitados ou com pessoa portadora de deficiência habilitada, na seguinte proporção:

I - até duzentos empregados, dois por cento;

II - de duzentos e um a quinhentos empregados, três por cento;

III - de quinhentos e um a mil empregados, quatro por cento; ou

IV - mais de mil empregados, cinco por cento.

§ 1º A dispensa de empregado na condição estabelecida neste artigo, quando se tratar de contrato por prazo determinado, superior a noventa dias, e a dispensa imotivada, no contrato por prazo indeterminado, somente poderá ocorrer após a contratação de substituto em condições semelhantes.

§ 2º Considera-se pessoa portadora de deficiência habilitada aquela que concluiu curso de educação profissional de nível básico, técnico ou tecnológico, ou curso superior, com certificação ou diplomação expedida por instituição pública ou privada, legalmente credenciada pelo Ministério da Educação ou órgão equivalente, ou aquela com certificado de conclusão de processo de habilitação ou reabilitação profissional fornecido pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS.

§ 3º Considera-se, também, pessoa portadora de deficiência habilitada aquela que, não tendo se submetido a processo de habilitação ou reabilitação, esteja capacitada para o exercício da função.

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§ 4º A pessoa portadora de deficiência habilitada nos termos dos §§ 2º e 3º deste artigo poderá recorrer a intermediação de órgão integrante do sistema público de emprego, para fins de inclusão laboral na forma deste artigo.

§ 5º Compete ao Ministério do Trabalho e Emprego estabelecer sistemática de fiscalização, avaliação e controle das empresas, bem como instituir procedimentos e formulários que propiciem estatísticas sobre o número de empregados portadores de deficiência e de vagas preenchidas, para fins de acompanhamento do disposto no caput deste artigo.

Art. 37 - Fica assegurado a pessoa portadora de deficiência o direito de se inscrever em concurso público, em igualdade de condições com os demais candidatos, para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que é portador.

§ 1º O candidato portador de deficiência, em razão da necessária igualdade de condições, concorrerá a todas as vagas, sendo reservado no mínimo o percentual de cinco por cento em face da classificação obtida.

§ 2º Caso a aplicação do percentual de que trata o parágrafo anterior resulte em número fracionado, este deverá ser elevado até o primeiro número inteiro subseqüente.

Art. 38 - Não se aplica o disposto no artigo anterior nos casos de provimento de:

I - cargo em comissão ou função de confiança, de livre nomeação e exoneração; e

II - cargo ou emprego público integrante de carreira que exija aptidão plena do candidato.

Art. 39 - Os editais de concursos públicos deverão conter:

I - o número de vagas existentes, bem como o total correspondente a reserva destinada a pessoa portadora de deficiência;

II - as atribuições e tarefas essenciais dos cargos;

III - previsão de adaptação das provas, do curso de formação e do estágio probatório, conforme a deficiência do candidato; e

IV - exigência de apresentação, pelo candidato portador de deficiência, no ato da inscrição, de laudo médico atestando a espécie e o grau ou nível da deficiência, com expressa referência ao código correspondente da Classificação Internacional de Doença - CID, bem como a provável causa da deficiência.

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Art. 40 - É vedado a autoridade competente obstar a inscrição de pessoa

portadora de deficiência em concurso público para ingresso em carreira da Administração Pública Federal direta e indireta.

§ 1º No ato da inscrição, o candidato portador de deficiência que necessite de tratamento diferenciado nos dias do concurso deverá requerê-lo, no prazo determinado em edital, indicando as condições diferenciadas de que necessita para a realização das provas.

§ 2º O candidato portador de deficiência que necessitar de tempo adicional para realização das provas deverá requerê-lo, com justificativa acompanhada de parecer emitido por especialista da área de sua deficiência, no prazo estabelecido no edital do concurso.

Art. 41 - A pessoa portadora de deficiência, resguardadas as condições especiais previstas neste Decreto, participará de concurso em igualdade de condições com os demais candidatos no que concerne:

I - ao conteúdo das provas;

II - a avaliação e aos critérios de aprovação;

III - ao horário e ao local de aplicação das provas; e

IV - a nota mínima exigida para todos os demais candidatos.

Art. 42 - A publicação do resultado final do concurso será feita em duas listas, contendo, a primeira, a pontuação de todos os candidatos, inclusive a dos portadores de deficiência, e a segunda, somente a pontuação destes últimos.

Art. 43 - O órgão responsável pela realização do concurso terá a assistência de equipe multiprofissional composta de três profissionais capacitados e atuantes nas áreas das deficiências em questão, sendo um deles médico, e três profissionais integrantes da carreira almejada pelo candidato.

§ 1º A equipe multiprofissional emitirá parecer observando:

I - as informações prestadas pelo candidato no ato da inscrição;

II - a natureza das atribuições e tarefas essenciais do cargo ou da função a desempenhar;

III - a viabilidade das condições de acessibilidade e as adequações do ambiente de trabalho na execução das tarefas;

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IV - a possibilidade de uso, pelo candidato, de equipamentos ou outros meios que habitualmente utilize; e

V - a CID e outros padrões reconhecidos nacional e internacionalmente.

§ 2º A equipe multiprofissional avaliará a compatibilidade entre as atribuições do cargo e a deficiência do candidato durante o estágio probatório.

Art. 44 - A análise dos aspectos relativos ao potencial de trabalho do candidato portador de deficiência obedecerá ao disposto no art. 20 da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990.

Art. 45 - Serão implementados programas de formação e qualificação profissional voltados para a pessoa portadora de deficiência no âmbito do Plano Nacional de Formação Profissional - PLANFOR.

Parágrafo único. Os programas de formação e qualificação profissional para pessoa portadora de deficiência terão como objetivos:

I - criar condições que garantam a toda pessoa portadora de deficiência o direito a receber uma formação profissional adequada;

II - organizar os meios de formação necessários para qualificar a pessoa portadora de deficiência para a inserção competitiva no mercado laboral; e

III - ampliar a formação e qualificação profissional sob a base de educação geral para fomentar o desenvolvimento harmônico da pessoa portadora de deficiência, assim como para satisfazer as exigências derivadas do progresso técnico, dos novos métodos de produção e da evolução social e econômica.

7.5 - SEÇÃO V - DA CULTURA, DO DESPORTO, DO TURISMO E DO LAZER

Art. 46 - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta responsáveis pela cultura, pelo desporto, pelo turismo e pelo lazer dispensarão tratamento prioritário e adequado aos assuntos objeto deste Decreto, com vista a viabilizar, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

I - promover o acesso da pessoa portadora de deficiência aos meios de comunicação social;

II - criar incentivos para o exercício de atividades criativas, mediante:

a) participação da pessoa portadora de deficiência em concursos de prêmios no campo das artes e das letras; e

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b) exposições, publicações e representações artísticas de pessoa portadora de deficiência;

III - incentivar a prática desportiva formal e não-formal como direito de cada um e o lazer como forma de promoção social;

IV - estimular meios que facilitem o exercício de atividades desportivas entre a pessoa portadora de deficiência e suas entidades representativas;

V - assegurar a acessibilidade as instalações desportivas dos estabelecimentos de ensino, desde o nível pré-escolar até a universidade;

VI - promover a inclusão de atividades desportivas para pessoa portadora de deficiência na prática da educação física ministrada nas instituições de ensino públicas e privadas;

VII - apoiar e promover a publicação e o uso de guias de turismo com informação adequada a pessoa portadora de deficiência; e

VIII - estimular a ampliação do turismo a pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a oferta de instalações hoteleiras acessíveis e de serviços adaptados de transporte.

Art. 47 - Os recursos do Programa Nacional de Apoio a Cultura financiarão, entre outras ações, a produção e a difusão artístico-cultural de pessoa portadora de deficiência.

Parágrafo único. Os projetos culturais financiados com recursos federais, inclusive oriundos de programas especiais de incentivo a cultura, deverão facilitar o livre acesso da pessoa portadora de deficiência, de modo a possibilitar-lhe o pleno exercício dos seus direitos culturais.

Art. 48 - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta, promotores ou financiadores de atividades desportivas e de lazer, devem concorrer técnica e financeiramente para obtenção dos objetivos deste Decreto.

Parágrafo único. Serão prioritariamente apoiadas a manifestação desportiva de rendimento e a educacional, compreendendo as atividades de:

I - desenvolvimento de recursos humanos especializados;

II - promoção de competições desportivas internacionais, nacionais, estaduais e locais;

III - pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, documentação e informação; e

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IV - construção, ampliação, recuperação e adaptação de instalações desportivas e de lazer.

8 - CAPÍTULO VIII - DA POLÍTICA DE CAPACITAÇÃO DE PROFISSIONAIS ESPECIALIZADOS

Art. 49 - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta, responsáveis pela formação de recursos humanos, devem dispensar aos assuntos objeto deste Decreto tratamento prioritário e adequado, viabilizando, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas:

I - formação e qualificação de professores de nível médio e superior para a educação especial, de técnicos de nível médio e superior especializados na habilitação e reabilitação, e de instrutores e professores para a formação profissional;

II - formação e qualificação profissional, nas diversas áreas de conhecimento e de recursos humanos que atendam as demandas da pessoa portadora de deficiência; e

III - incentivo a pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico em todas as áreas do conhecimento relacionadas com a pessoa portadora de deficiência.

9 - CAPÍTULO IX - DA ACESSIBILIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL

Art. 50 - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta adotarão providencias para garantir a acessibilidade e a utilização dos bens e serviços, no âmbito de suas competências, a pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas e obstáculos, bem como evitando a construção de novas barreiras.

Art. 51 - Para os efeitos deste Capítulo, consideram-se:

I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das instalações e equipamentos esportivos, das edificações, dos transportes e dos sistemas e meios de comunicação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;

II - barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a circulação com segurança das pessoas, classificadas em:

a) barreiras arquitetônicas urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público;

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b) barreiras arquitetônicas na edificação: as existentes no interior dos edifícios públicos e privados;

c) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa;

III - pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida: a que temporária ou permanentemente tenha limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio ambiente e de utilizá-lo;

IV - elemento da urbanização: qualquer componente das obras de urbanização, tais como os referentes à pavimentação, saneamento, encanamentos para esgotos, distribuição de energia elétrica, iluminação pública, abastecimento e distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indicações do planejamento urbanístico; e

V - mobiliário urbano: o conjunto de objetos existentes nas vias e espaços públicos, superpostos ou adicionados aos elementos da urbanização ou da edificação, de forma que sua modificação ou translado não provoque alterações substanciais nestes elementos, tais como semáforos, postes de sinalização e similares, cabines telefônicas, fontes públicas, lixeiras, toldos, marquises, quiosques e quaisquer outros de natureza análoga.

Art. 52 - A construção, ampliação e reforma de edifícios, praias e equipamentos esportivos e de lazer, públicos e privados, destinados ao uso coletivo deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis a pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Parágrafo único. Para os fins do disposto neste artigo, na construção, ampliação ou reforma de edifícios, praias e equipamentos esportivos e de lazer, públicos e privados, destinados ao uso coletivo por órgãos da Administração Pública Federal, deverão ser observados, pelo menos, os seguintes requisitos de acessibilidade:

I - nas áreas externas ou internas da edificação, destinadas a garagem e a estacionamento de uso público, serão reservados dois por cento do total das vagas a pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, garantidas no mínimo três, próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas e com as especificações técnicas de desenho e traçado segundo as normas da A.B.N.T;

II - pelo menos um dos acessos ao interior da edificação deverá estar livre de barreiras arquitetônicas e de obstáculos que empeciam ou dificultem a acessibilidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida;

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III - pelo menos um dos itinerários que comuniquem horizontal e verticalmente todas as dependências e serviços do edifício, entre si e com o exterior, cumprirá os requisitos de acessibilidade;

IV - pelo menos um dos elevadores deverá ter a cabine, assim como sua porta de entrada, acessíveis para pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, em conformidade com norma técnica específica da A.B.N.T; e

V - os edifícios disporão, pelo menos, de um banheiro acessível para cada gênero, distribuindo-se seus equipamentos e acessórios de modo que possam ser utilizados por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Art. 53 - As bibliotecas, os museus, os locais de reuniões, conferencias, aulas e outros ambientes de natureza similar disporão de espaços reservados para pessoa que utilize cadeira de rodas e de lugares específicos para pessoa portadora de deficiência auditiva e visual, inclusive acompanhante, de acordo com as normas técnicas da A.B.N.T, de modo a facilitar-lhes as condições de acesso, circulação e comunicação.

Art. 54 - Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal, no prazo de três anos a partir da publicação deste Decreto, deverão promover as adaptações, eliminações e supressões de barreiras arquitetônicas existentes nos edifícios e espaços de uso público e naqueles que estejam sob sua administração ou uso.

10 - CAPÍTULO X - DO SISTEMA INTEGRADO DE INFORMAÇÕES

Art. 55 - Fica instituído, no âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, o Sistema Nacional de Informações sobre Deficiência, sob a responsabilidade da CORDE, com a finalidade de criar e manter bases de dados, reunir e difundir informação sobre a situação das pessoas portadoras de deficiência e fomentar a pesquisa e o estudo de todos os aspectos que afetem a vida dessas pessoas.

Parágrafo único. Serão produzidas, periodicamente, estatísticas e informações, podendo esta atividade realizar-se conjuntamente com os censos nacionais, pesquisas nacionais, regionais e locais, em estreita colaboração com universidades, institutos de pesquisa e organizações para pessoas portadoras de deficiência.

11 - CAPÍTULO XI - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 56 - A Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, com base nas diretrizes e metas do Plano Plurianual de Investimentos, por intermédio da CORDE, elaborará, em articulação com outros órgãos e entidades da Administração Pública Federal, o Plano Nacional de Ações Integradas na Área das Deficiências.

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Art. 57 - Fica criada, no âmbito da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, comissão especial, com a finalidade de apresentar, no prazo de cento e oitenta dias, a contar de sua constituição, propostas destinadas a:

I - implementar programa de formação profissional mediante a concessão de bolsas de qualificação para a pessoa portadora de deficiência, com vistas a estimular a aplicação do disposto no art. 36; e

II - propor medidas adicionais de estímulo a adoção de trabalho em tempo parcial ou em regime especial para a pessoa portadora de deficiência.

Parágrafo único. A comissão especial de que trata o caput deste artigo será composta por um representante de cada órgão e entidade a seguir indicados:

I - CORDE; II - CONADE; III - Ministério do Trabalho e Emprego; IV - Secretaria de Estado de Assistência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social; V - Ministério da Educação; VI - Ministério dos Transportes; VII - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; e VIII - INSS.

Art. 58 - A CORDE desenvolverá, em articulação com órgãos e entidades da Administração Pública Federal, programas de facilitação da acessibilidade em sítios de interesse histórico, turístico, cultural e desportivo, mediante a remoção de barreiras físicas ou arquitetônicas que impeçam ou dificultem a locomoção de pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Art. 59 - Este Decreto entra em vigor na data da sua publicação,

Art. 60 - Ficam revogados os Decretos nº 93.481, de 29 de outubro de 1986, 914, de 6 de setembro de 1993, 1.680, de 18 de outubro de 1995, 3.030, de 20 de abril de 1999, o § 2º do art. 141 do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, e o Decreto nº e 3.076, de 1º de junho de 1999.

Brasília, 20 de dezembro de 1999; 178º da Independência e 111º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

José Carlos Dias

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III - Declaração de Salamanca

Declaração de Salamanca sobre Princípios, Política e Prática em Educação Especial (Salamanca - 1994)

Reconvocando as várias declarações das Nações Unidas que culminaram no documento das Nações Unidas "Regras Padrões sobre Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiências", o qual demanda que os Estados assegurem que a educação de pessoas com deficiências seja parte integrante do sistema educacional.

Notando com satisfação um incremento no envolvimento de governos, grupos de advocacia, comunidades e pais, e em particular de organizações de pessoas com deficiências, na busca pela melhoria do acesso à educação para a maioria daqueles cujas necessidades especiais ainda se encontram desprovidas; e reconhecendo como evidência para tal envolvimento a participação ativa do alto nível de representantes e de vários governos, agências especializadas, e organizações inter-governamentais naquela Conferência Mundial.

1. Nós, os delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, representando 88 governos e 25 organizações internacionais em assembléia aqui em Salamanca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994, reafirmamos o nosso compromisso para com a Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência do providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino e re-endossamos a Estrutura de Ação em Educação Especial, em que, pelo espírito de cujas provisões e recomendações governo e organizações sejam guiados.

2. Acreditamos e Proclamamos que: - toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem, - toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas, - sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades, - aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades, - escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional.

3. Nós congregamos todos os governos e demandamos que eles: - atribuam a mais alta prioridade política e financeira ao aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças,

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independentemente de suas diferenças ou dificuldades individuais. - adotem o princípio de educação inclusiva em forma de lei ou de política, matriculando todas as crianças em escolas regulares, a menos que existam fortes razões para agir de outra forma. - desenvolvam projetos de demonstração e encorajem intercâmbios em países que possuam experiências de escolarização inclusiva. - estabeleçam mecanismos participatórios e descentralizados para planejamento, revisão e avaliação de provisão educacional para crianças e adultos com necessidades educacionais especiais. - encorajem e facilitem a participação de pais, comunidades e organizações de pessoas portadoras de deficiências nos processos de planejamento e tomada de decisão concernentes à provisão de serviços para necessidades educacionais especiais. - invistam maiores esforços em estratégias de identificação e intervenção precoces, bem como nos aspectos vocacionais da educação inclusiva. - garantam que, no contexto de uma mudança sistêmica, programas de treinamento de professores, tanto em serviço como durante a formação, incluam a provisão de educação especial dentro das escolas inclusivas.

4. Nós também congregamos a comunidade internacional; em particular, nós congregamos: - governos com programas de cooperação internacional, agências financiadoras internacionais, especialmente as responsáveis pela Conferência Mundial em Educação para Todos, UNESCO, UNICEF, UNDP e o Banco Mundial: - a endossar a perspectiva de escolarização inclusiva e apoiar o desenvolvimento da educação especial como parte integrante de todos os programas educacionais; - As Nações Unidas e suas agências especializadas, em particular a ILO, WHO, UNESCO e UNICEF: - a reforçar seus estímulos de cooperação técnica, bem como reforçar suas cooperações e redes de trabalho para um apoio mais eficaz à já expandida e integrada provisão em educação especial; - organizações não-governamentais envolvidas na programação e entrega de serviço nos países; - a reforçar sua colaboração com as entidades oficiais nacionais e intensificar o envolvimento crescente delas no planejamento, implementação e avaliação de provisão em educação especial que seja inclusiva; - UNESCO, enquanto a agência educacional das Nações Unidas; - a assegurar que educação especial faça parte de toda discussão que lide com educação para todos em vários foros; - a mobilizar o apoio de organizações dos profissionais de ensino em questões relativas ao aprimoramento do treinamento de professores no que diz respeito a necessidade educacionais especiais. - a estimular a comunidade acadêmica no sentido de fortalecer pesquisa, redes de trabalho e o estabelecimento de centros regionais de informação e documentação e da mesma forma, a servir de exemplo em tais atividades e na disseminação dos resultados específicos e dos progressos alcançados em cada país no sentido de realizar o que almeja a presente Declaração. - a mobilizar FUNDOS através da criação (dentro de seu próximo Planejamento a Médio Prazo. 1996-2000) de um programa extensivo de escolas inclusivas e programas de apoio comunitário, que permitiriam o lançamento de projetos-piloto que demonstrassem novas formas de disseminação e o desenvolvimento de indicadores de necessidade e de provisão de educação especial.

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5. Por último, expressamos nosso caloroso reconhecimento ao governa da Espanha e à UNESCO pela organização da Conferência e demandamo-lhes realizarem todos os esforços no sentido de trazer esta Declaração e sua relativa Estrutura de Ação da comunidade mundial, especialmente em eventos importantes tais como o Tratado Mundial de Desenvolvimento Social ( em Kopenhagen, em 1995) e a Conferência Mundial sobre a Mulher (em Beijing, e, 1995). Adotada por aclamação na cidade de Salamanca, Espanha, neste décimo dia de junho de 1994.

ESTRUTURA DE AÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

Introdução

1. Esta Estrutura de Ação em Educação Especial foi adotada pela conferencia Mundial em Educação Especial organizada pelo governo da Espanha em cooperação com a UNESCO, realizada em Salamanca entre 7 e 10 de junho de 1994. Seu objetivo é informar sobre políticas e guias ações governamentais, de organizações internacionais ou agências nacionais de auxílio, organizações não-governamentais e outras instituições na implementação da Declaração de Salamanca sobre princípios, Política e prática em Educação Especial. A Estrutura de Ação baseia-se fortemente na experiência dos países participantes e também nas resoluções, recomendações e publicações do sistema das Nações Unidas e outras organizações inter-governamentais, especialmente o documento "Procedimentos-Padrões na Equalização de Oportunidades para pessoas Portadoras de Deficiência . Tal Estrutura de Ação também leva em consideração as propostas, direções e recomendações originadas dos cinco seminários regionais preparatórios da Conferência Mundial.

2.O direito de cada criança a educação é proclamado na Declaração Universal de Direitos Humanos e foi fortemente reconfirmado pela Declaração Mundial sobre Educação para Todos. Qualquer pessoa portadora de deficiência tem o direito de expressar seus desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes possam ser realizados. Pais possuem o direito inerente de serem consultados sobre a forma de educação mais apropriadas às necessidades, circunstâncias e aspirações de suas crianças.

3.O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e super-dotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados. Tais condições geram uma variedade de diferentes desafios aos sistemas escolares. No contexto desta Estrutura, o termo "necessidades educacionais especiais" refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades de

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aprendizagem e portanto possuem necessidades educacionais especiais em algum ponto durante a sua escolarização. Escolas devem buscar formas de educar tais crianças bem-sucedidamente, incluindo aquelas que possuam desvantagens severas. Existe um consenso emergente de que crianças e jovens com necessidades educacionais especiais devam ser incluídas em arranjos educacionais feitos para a maioria das crianças. Isto levou ao conceito de escola inclusiva. O desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de bem-sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam desvantagens severa. O mérito de tais escolas não reside somente no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade inclusiva.

4. Educação Especial incorpora os mais do que comprovados princípios de uma forte pedagogia da qual todas as crianças possam se beneficiar. Ela assume que as diferenças humanas são normais e que, em consonância com a aprendizagem de ser adaptada às necessidades da criança, ao invés de se adaptar a criança às assunções pré-concebidas a respeito do ritmo e da natureza do processo de aprendizagem. Uma pedagogia centrada na criança é beneficial a todos os estudantes e, consequentemente, à sociedade como um todo. A experiência tem demonstrado que tal pedagogia pode consideravelmente reduzir a taxa de desistência e repetência escolar (que são tão características de tantos sistemas educacionais) e ao mesmo tempo garantir índices médios mais altos de rendimento escolar. Uma pedagogia centrada na criança pode impedir o desperdício de recursos e o enfraquecimento de esperanças, tão freqüentemente conseqüências de uma instrução de baixa qualidade e de uma mentalidade educacional baseada na idéia de que "um tamanho serve a todos". Escolas centradas na criança são além do mais a base de treino para uma sociedade baseada no povo, que respeita tanto as diferenças quanto a dignidade de todos os seres humanos. Uma mudança de perspectiva social é imperativa. Por um tempo demasiadamente longo os problemas das pessoas portadoras de deficiências têm sido compostos por uma sociedade que inabilita, que tem prestado mais atenção aos impedimentos do que aos potenciais de tais pessoas.

5. Esta Estrutura de Ação compõe-se das seguintes seções:

I. Novo pensar em educação especial

II. Orientações para a ação em nível nacional:

A. Política e Organização

B. Fatores Relativos à Escola

C. Recrutamento e Treinamento de Educadores

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D. Serviços Externos de Apoio

E. Áreas Prioritárias

F. Perspectivas Comunitárias

G. Requerimentos Relativos a Recursos

III. Orientações para ações em níveis regionais e internacionais

6. A tendência em política social durante as duas últimas décadas tem sido a de promover integração e participação e de combater a exclusão. Inclusão e participação são essenciais à dignidade humana e ao desfrutamento e exercício dos direitos humanos. Dentro do campo da educação, isto se reflete no desenvolvimento de estratégias que procuram promover a genuína equalização de oportunidades. Experiências em vários países demonstram que a integração de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais é melhor alcançada dentro de escolas inclusivas, que servem a todas as crianças dentro da comunidade. É dentro deste contexto que aqueles com necessidades educacionais especiais podem atingir o máximo progresso educacional e integração social. Ao mesmo tempo em que escolas inclusivas provêem um ambiente favorável à aquisição de igualdade de oportunidades e participação total, o sucesso delas requer um esforço claro, não somente por parte dos professores e dos profissionais na escola, mas também por parte dos colegas, pais, famílias e voluntários. A reforma das instituições sociais não constitui somente um tarefa técnica, ela depende, acima de tudo, de convicções, compromisso e disposição dos indivíduos que compõem a sociedade.

7. Principio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade à todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola.

8. Dentro das escolas inclusivas, crianças com necessidades educacionais especiais deveriam receber qualquer suporte extra requerido para assegurar uma educação efetiva. Educação inclusiva é o modo mais eficaz para construção de solidariedade entre crianças com necessidades educacionais especiais e seus colegas. O encaminhamento de crianças a escolas especiais ou a classes especiais ou a sessões especiais dentro da escola em caráter permanente deveriam constituir exceções, a ser recomendado somente naqueles casos infreqüentes onde fique claramente demonstrado que a educação na classe regular seja incapaz de atender às necessidades educacionais ou sociais da

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criança ou quando sejam requisitados em nome do bem-estar da criança ou de outras crianças.

9. A situação com respeito à educação especial varia enormemente de um país a outro. Existem por exemplo, países que possuem sistemas de escolas especiais fortemente estabelecidos para aqueles que possuam impedimentos específicos. Tais escolas especais podem representar um valioso recurso para o desenvolvimento de escolas inclusivas. Os profissionais destas instituições especiais possuem nível de conhecimento necessário à identificação precoce de crianças portadoras de deficiências. Escolas especiais podem servir como centro de treinamento e de recurso para os profissionais das escolas regulares. Finalmente, escolas especiais ou unidades dentro das escolas inclusivas podem continuar a prover a educação mais adequada a um número relativamente pequeno de crianças portadoras de deficiências que não possam ser adequadamente atendidas em classes ou escolas regulares. Investimentos em escolas especiais existentes deveriam ser canalizados a este novo e amplificado papel de prover apoio profissional às escolas regulares no sentido de atender às necessidades educacionais especiais. Uma importante contribuição às escolas regulares que os profissionais das escolas especiais podem fazer refere-se à provisão de métodos e conteúdos curriculares às necessidades individuais dos alunos.

10. Países que possuam poucas ou nenhuma escolas especial seriam em geral, fortemente aconselhados a concentrar seus esforços no desenvolvimento de escolas inclusivas e serviços especializados - em especial, provisão de treinamento de professores em educação especial e estabelecimento de recursos adequadamente equipados e assessorados, para os quais as escolas pudessem se voltar quando precisassem de apoio - deveriam tornar as escolas aptas a servir à vasta maioria de crianças e jovens. A experiência, principalmente em países em desenvolvimento, indica que o alto custo de escolas especiais significa na prática, que apenas uma pequena minoria de alunos, em geral uma elite urbana, se beneficia delas. A vasta maioria de alunos com necessidades especiais, especialmente nas áreas rurais, é consequentemente, desprovida de serviços. De fato, em muitos países em desenvolvimento, estima-se que menos de um por cento das crianças com necessidades educacionais especiais são incluídas na provisão existente. Além disso, a experiência sugere que escolas inclusivas, servindo a todas as crianças numa comunidade são mais bem sucedidas em atrair apoio da comunidade e em achar modos imaginativos e inovadores de uso dos limitados recursos que sejam disponíveis. Planejamento educacional da parte dos governos, portanto, deveria ser concentrado em educação para todas as pessoas, em todas as regiões do país e em todas as condições econômicas, através de escolas públicas e privadas.

11. Existem milhões de adultos com deficiências e sem acesso sequer aos rudimentos de uma educação básica, principalmente nas regiões em desenvolvimento no mundo, justamente porque no passado uma quantidade relativamente pequena de crianças com deficiências obteve acesso à educação.

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Portanto, um esforço concentrado é requerido no sentido de se promover a alfabetização e o aprendizado da matemática e de habilidades básicas às pessoas portadoras de deficiências através de programas de educação de adultos. Também é importante que se reconheça que mulheres têm freqüentemente sido duplamente desavantajadas, com preconceitos sexuais compondo as dificuldades causadas pelas suas deficiências. Mulheres e homens deveriam possuir a mesma influência no delineamento de programas educacionais e as mesmas oportunidades de se beneficiarem de tais. Esforços especiais deveriam ser feitos no sentido de se encorajar a participação de meninas e mulheres com deficiências em programas educacionais.

12. Esta estrutura pretende ser um guia geral ao planejamento de ação em educação especial. Tal estrutura, evidentemente, não tem meios de dar conta da enorme variedade de situações encontradas nas diferentes regiões e países do mundo e deve desta maneira, ser adaptada no sentido ao requerimento e circunstâncias locais. Para que seja efetiva, ela deve ser complementada por ações nacionais, regionais e locais inspirados pelo desejo político e popular de alcançar educação para todos.

II. LINHAS DE AÇÃO EM NÍVEL NACIONAL A. POLÍTICA E ORGANIZAÇÃO

13. Educação integrada e reabilitação comunitária representam abordagens complementares àqueles com necessidades especiais. Ambas se baseiam nos princípios de inclusão, integração e participação e representam abordagens bem-testadas e financeiramente efetivas para promoção de igualdade de acesso para aqueles com necessidades educacionais especiais como parte de uma estratégia nacional que objetive o alcance de educação para todos. Países são convidados a considerar as seguintes ações concernentes a política e organização de seus sistemas educacionais.

14. Legislação deveria reconhecer o princípio de igualdade de oportunidade para crianças, jovens e adultos com deficiências na educação primária, secundária e terciária, sempre que possível em ambientes integrados.

15. Medidas Legislativas paralelas e complementares deveriam ser adotadas nos campos da saúde, bem-estar social, treinamento vocacional e trabalho no sentido de promover apoio e gerar total eficácia à legislação educacional.

16. Políticas educacionais em todos os níveis, do nacional ao local, deveriam estipular que a criança portadora de deficiência deveria freqüentar a escola de sua vizinhança: ou seja, a escola que seria freqüentada caso a criança não portasse nenhuma deficiência. Exceções à esta regra deveriam ser consideradas individualmente, caso-por-caso, em casos em que a educação em instituição especial seja requerida.

17. A prática de desmarginalização de crianças portadoras de deficiência deveria ser parte integrante de planos nacionais que objetivem atingir educação para

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todos. Mesmo naqueles casos excepcionais em que crianças sejam colocadas em escolas especiais, a educação dela não precisa ser inteiramente segregada. Freqüência em regime não-integral nas escolas regulares deveria ser encorajada. Provisões necessárias deveriam também ser feitas no sentido de assegurar inclusão de jovens e adultos com necessidade especiais em educação secundária e superior bem como em programa de treinamento. Atenção especial deveria ser dada à garantia da igualdade de acesso e oportunidade para meninas e mulheres portadoras de deficiências.

18. Atenção especial deveria ser prestada às necessidades das crianças e jovens com deficiências múltiplas ou severas. Eles possuem os mesmos direitos que outros na comunidade, à obtenção de máxima independência na vida adulta e deveriam ser educados neste sentido, ao máximo de seus potenciais.

19. Políticas educacionais deveriam levar em total consideração as diferenças e situações individuais. A importância da linguagem de signos como meio de comunicação entre os surdos, por exemplo, deveria ser reconhecida e provisão deveria ser feita no sentido de garantir que todas as pessoas surdas tenham acesso a educação em sua língua nacional de signos. Devido às necessidades particulares de comunicação dos surdos e das pessoas surdas/cegas, a educação deles pode ser mais adequadamente provida em escolas especiais ou classes especiais e unidades em escolas regulares.

20. Reabilitação comunitária deveria ser desenvolvida como parte de uma estratégia global de apoio a uma educação financeiramente efetiva e treinamento para pessoas com necessidade educacionais especiais. Reabilitação comunitária deveria ser vista como uma abordagem específica dentro do desenvolvimento da comunidade objetivando a reabilitação, equalização de oportunidades e integração social de todas as pessoas portadoras de deficiências; deveria ser implementada através de esforços combinados entre as pessoas portadoras de deficiências, suas famílias e comunidades e os serviços apropriados de educação, saúde, bem-estar e vocacional.

21. Ambos os arranjos políticos e de financiamento deveriam encorajar e facilitar o desenvolvimento de escolas inclusivas. Barreiras que impeçam o fluxo de movimento da escola especial para a regular deveriam ser removidas e uma estrutura administrativa comum deveria ser organizada. Progresso em direção à inclusão deveria ser cuidadosamente monitorado através do agrupamento de estatísticas capazes de revelar o número de estudantes portadores de deficiências que se beneficiam dos recursos, know-how e equipamentos direcionados à educação especial bem como o número de estudantes com necessidades educacionais especiais matriculados nas escolas regulares.

22. Coordenação entre autoridades educacionais e as responsáveis pela saúde, trabalho e assistência social deveria ser fortalecida em todos os níveis no sentido de promover convergência e complementariedade, Planejamento e coordenação também deveriam levar em conta o papel real e o potencial que agências semi-

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públicas e organizações não-governamentais podem ter. Um esforço especial necessita ser feito no sentido de se atrair apoio comunitário à provisão de serviços educacionais especiais.

23. Autoridades nacionais têm a responsabilidade de monitorar financiamento externo à educação especial e trabalhando em cooperação com seus parceiros internacionais, assegurar que tal financiamento corresponda às prioridades nacionais e políticas que objetivem atingir educação para todos. Agências bilaterais e multilaterais de auxílio , por sua parte, deveriam considerar cuidadosamente as políticas nacionais com respeito à educação especial no planejamento e implementação de programas em educação e áreas relacionadas.

B. FATORES RELATIVOS À ESCOLA

24. o desenvolvimento de escolas inclusivas que ofereçam serviços a uma grande variedade de alunos em ambas as áreas rurais e urbanas requer a articulação de uma política clara e forte de inclusão junto com provisão financeira adequada - um esforço eficaz de informação pública para combater o preconceito e criar atitudes informadas e positivas - um programa extensivo de orientação e treinamento profissional - e a provisão de serviços de apoio necessários. Mudanças em todos os seguintes aspectos da escolarização, assim como em muitos outros, são necessárias para a contribuição de escolas inclusivas bem-sucedidas: currículo, prédios, organização escolar, pedagogia, avaliação, pessoal, filosofia da escola e atividades extra-curriculares.

25. Muitas das mudanças requeridas não se relacionam exclusivamente à inclusão de crianças com necessidades educacionais especiais. Elas fazem parte de um reforma mais ampla da educação, necessária para o aprimoramento da qualidade e relevância da educação, e para a promoção de níveis de rendimento escolar superiores por parte de todos os estudantes. A Declaração Mundial sobre Educação para Todos enfatizou a necessidade de uma abordagem centrada na criança objetivando a garantia de uma escolarização bem-sucedida para todas as crianças. A adoção de sistemas mais flexíveis e adaptativos, capazes de mais largamente levar em consideração as diferentes necessidades das crianças irá contribuir tanto para o sucesso educacional quanto para a inclusão. As seguintes orientações enfocam pontos a ser considerados na integração de crianças com necessidades educacionais especiais em escolas inclusivas. Flexibilidade Curricular.

26. O currículo deveria ser adaptado às necessidades das crianças, e não vice-versa. Escolas deveriam, portanto, prover oportunidades curriculares que sejam apropriadas a criança com habilidades e interesses diferentes.

27. Crianças com necessidades especiais deveriam receber apoio instrucional adicional no contexto do currículo regular, e não de um currículo diferente. O princípio regulador deveria ser o de providenciar a mesma educação a todas as

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crianças, e também prover assistência adicional e apoio às crianças que assim o requeiram.

28. A aquisição de conhecimento não é somente uma questão de instrução formal e teórica. O conteúdo da educação deveria ser voltado a padrões superiores e às necessidades dos indivíduos com o objetivo de torná-los aptos a participar totalmente no desenvolvimento. O ensino deveria ser relacionado às experiências dos alunos e a preocupações práticas no sentido de melhor motivá-los.

29. Para que o progresso da criança seja acompanhado, formas de avaliação deveriam ser revistas. Avaliação formativa deveria ser incorporada no processo educacional regular no sentido de manter alunos e professores informados do controle da aprendizagem adquirida, bem como no sentido de identificar dificuldades e auxiliar os alunos a superá-las.

30. Para crianças com necessidades educacionais especiais uma rede contínua de apoio deveria ser providenciada, com variação desde a ajuda mínima na classe regular até programas adicionais de apoio à aprendizagem dentro da escola e expandindo, conforme necessário, à provisão de assistência dada por professores especializados e pessoal de apoio externo.

31. Tecnologia apropriada e viável deveria ser usada quando necessário para aprimorar a taxa de sucesso no currículo da escola e para ajudar na comunicação, mobilidade e aprendizagem. Auxílios técnicos podem ser oferecidos de modo mais econômico e efetivo se eles forem providos a partir de uma associação central em cada localidade, aonde haja know-how que possibilite a conjugação de necessidades individuais e assegure a manutenção.

32. Capacitação deveria ser originada e pesquisa deveria ser levada a cabo em níveis nacional e regional no sentido de desenvolver sistemas tecnológicos de apoio apropriados à educação especial. Estados que tenham ratificado o Acordo de Florença deveriam ser encorajados a usar tal instrumento no sentido de facilitar a livre circulação de materiais e equipamentos às necessidades das pessoas com deficiências. Da mesma forma, Estados que ainda não tenham aderido ao Acordo ficam convidados a assim fazê-lo para que se facilite a livre circulação de serviços e bens de natureza educacional e cultural.

Administração da Escola

33. Administradores locais e diretores de escolas podem ter um papel significativo quanto a fazer com que as escolas respondam mais às crianças com necessidades educacionais especiais desde de que a eles sejam fornecidos a devida autonomia e adequado treinamento para que o possam fazê-lo. Eles (administradores e diretores) deveriam ser convidados a desenvolver uma administração com procedimentos mais flexíveis, a reaplicar recursos instrucionais, a diversificar opções de aprendizagem, a mobilizar auxílio individual, a oferecer apoio aos alunos experimentando dificuldades e a desenvolver relações

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com pais e comunidades, Uma administração escolar bem sucedida depende de um envolvimento ativo e reativo de professores e do pessoal e do desenvolvimento de cooperação efetiva e de trabalho em grupo no sentido de atender as necessidades dos estudantes.

34. Diretores de escola têm a responsabilidade especial de promover atitudes positivas através da comunidade escolar e via arranjando uma cooperação efetiva entre professores de classe e pessoal de apoio. Arranjos apropriados para o apoio e o exato papel a ser assumido pelos vários parceiros no processo educacional deveria ser decidido através de consultoria e negociação.

35. Cada escola deveria ser uma comunidade coletivamente responsável pelo sucesso ou fracasso de cada estudante. O grupo de educadores, ao invés de professores individualmente, deveria dividir a responsabilidade pela educação de crianças com necessidades especiais. Pais e voluntários deveriam ser convidados assumir participação ativa no trabalho da escola. Professores, no entanto, possuem um papel fundamental enquanto administradores do processo educacional, apoiando as crianças através do uso de recursos disponíveis, tanto dentro como fora da sala de aula.

Informação e Pesquisa

36. A disseminação de exemplos de boa prática ajudaria o aprimoramento do ensino e aprendizagem. Informação sobre resultados de estudos que sejam relevantes também seria valiosa. A demonstração de experiência e o desenvolvimento de centros de informação deveriam receber apoio a nível nacional, e o acesso a fontes de informação deveria ser ampliado.

37. A educação especial deveria ser integrada dentro de programas de instituições de pesquisa e desenvolvimento e de centros de desenvolvimento curricular. Atenção especial deveria ser prestada nesta área, a pesquisa-ação locando em estratégias inovadoras de ensino-aprendizagem. professores deveriam participar ativamente tanto na ação quanto na reflexão envolvidas em tais investigações. Estudos-piloto e estudos de profundidade deveriam ser lançados para auxiliar tomadas de decisões e para prover orientação futura. Tais experimentos e estudos deveriam ser levados a cabo numa base de cooperação entre vários países.

C. RECRUTAMENTO E TREINAMENTO DE EDUCADORES

38. Preparação apropriada de todos os educadores constitui-se um fator chave na promoção de progresso no sentido do estabelecimento de escolas inclusivas. As seguintes ações poderiam ser tomadas. Além disso, a importância do recrutamento de professores que possam servir como modelo para crianças portadoras de deficiências torna-se cada vez mais reconhecida.

39. Treinamento pré-profissional deveria fornecer a todos os estudantes de pedagogia de ensino primário ou secundário, orientação positiva frente à

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deficiência, desta forma desenvolvendo um entendimento daquilo que pode ser alcançado nas escolas através dos serviços de apoio disponíveis na localidade. O conhecimento e habilidades requeridas dizem respeito principalmente à boa prática de ensino e incluem a avaliação de necessidades especiais, adaptação do conteúdo curricular, utilização de tecnologia de assistência, individualização de procedimentos de ensino no sentido de abarcar uma variedade maior de habilidades, etc. Nas escolas práticas de treinamento de professores, atenção especial deveria ser dada à preparação de todos os professores para que exercitem sua autonomia e apliquem suas habilidades na adaptação do currículo e da instrução no sentido de atender as necessidades especiais dos alunos, bem como no sentido de colaborar com os especialistas e cooperar com os pais.

40. Um problema recorrente em sistemas educacionais, mesmo naqueles que provêem excelentes serviços para estudantes portadores de deficiências refere-se a falta de modelos para tais estudantes. alunos de educação especial requerem oportunidades de interagir com adultos portadores de deficiências que tenham obtido sucesso de forma que eles possam ter um padrão para seus próprios estilos de vida e aspirações com base em expectativas realistas. Além disso, alunos portadores de deficiências deveriam ser treinados e providos de exemplos de atribuição de poderes e liderança à deficiência de forma que eles possam auxiliar no modelamento de políticas que irão afetá-los futuramente. Sistemas educacionais deveriam, portanto, basear o recrutamento de professores e outros educadores que podem e deveriam buscar, para a educação de crianças especiais, o envolvimento de indivíduos portadores de deficiências que sejam bem sucedidos e que provenham da mesma região.

41. As habilidades requeridas para responder as necessidades educacionais especiais deveriam ser levadas em consideração durante a avaliação dos estudos e da graduação de professores.

42. Como formar prioritária, materiais escritos deveriam ser preparados e seminários organizados para administradores locais, supervisores, diretores e professores, no sentido de desenvolver suas capacidades de prover liderança nesta área e de aposta e treinar pessoal menos experiente.

43. O menor desafio reside na provisão de treinamento em serviço a todos os professores, levando-se em consideração as variadas e freqüentemente difíceis condições sob as quais eles trabalham. Treinamento em serviço deveria sempre que possível, ser desenvolvido ao nível da escola e por meio de interação com treinadores e apoiado por técnicas de educação à distância e outras técnicas auto-didáticas.

44. Treinamento especializado em educação especial que leve às qualificações profissionais deveria normalmente ser integrado com ou precedido de treinamento e experiência como uma forma regular de educação de professores para que a complementariedade e a mobilidade sejam asseguradas.

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45. O Treinamento de professores especiais necessita ser reconsiderado com a intenção de se lhes habilitar a trabalhar em ambientes diferentes e de assumir um papel-chave em programas de educação especial. Uma abordagem não-categorizante que embarque todos os tipos de deficiências deveria ser desenvolvida como núcleo comum e anterior à especialização em uma ou mais áreas específicas de deficiência.

46. Universidades possuem um papel majoritário no sentido de aconselhamento no processo de desenvolvimento da educação especial, especialmente no que diz respeito à pesquisa, avaliação, preparação de formadores de professores e desenvolvimento de programas e materiais de treinamento. Redes de trabalho entre universidades e instituições de aprendizagem superior em países desenvolvidos e em desenvolvimento deveriam ser promovidas. A ligação entre pesquisa e treinamento neste sentido é de grande significado. Também é muito importante o envolvimento ativo de pessoas portadoras de deficiência em pesquisa e em treinamento pata que se assegure que suas perspectivas sejam completamente levadas em consideração.

D. SERVIÇOS EXTERNOS DE APOIO

47. A provisão de serviços de apoio é de fundamental importância para o sucesso de políticas educacionais inclusivas. Para que se assegure que, em todos os níveis, serviços externos sejam colocados à disposição de crianças com necessidades especiais, autoridades educacionais deveriam considerar o seguinte:

48. Apoio às escolas regulares deveria ser providenciado tanto pelas instituições de treinamento de professores quanto pelo trabalho de campo dos profissionais das escolas especiais. Os últimos deveriam ser utilizados cada vez mais como centros de recursos para as escolas regulares, oferecendo apoio direto aquelas crianças com necessidades educacionais especiais. Tanto as instituições de treinamento como as escolas especiais podem prover o acesso a materiais e equipamentos, bem como o treinamento em estratégias de instrução que não sejam oferecidas nas escolas regulares.

49. O apoio externo do pessoal de recurso de várias agências, departamentos e instituições, tais como professor-consultor, psicólogos escolares, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, etc.., deveria ser coordenado em nível local. O agrupamento de escolas tem comprovadamente se constituído numa estratégia útil na mobilização de recursos educacionais bem como no envolvimento da comunidade. Grupos de escolas poderiam ser coletivamente responsáveis pela provisão de serviços a alunos com necessidades educacionais especiais em suas áreas e (a tais grupos de escolas) poderia ser dado o espaço necessário para alocarem os recursos conforme o requerido. Tais arranjos também deveriam envolver serviços não educacionais. De fato, a experiência sugere que serviços educacionais se beneficiariam significativamente caso maiores esforços fossem feitos para assegurar o ótimo uso de todo o conhecimento e recursos disponíveis.

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E. ÁREAS PRIORITÁRIAS

50. A integração de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais seria mais efetiva e bem-sucedida se consideração especial fosse dada a planos de desenvolvimento educacional nas seguintes áreas: educação infantil, para garantir a educabilidade de todas as crianças: transição da educação para a vida adulta do trabalho e educação de meninas.

Educação Infantil

51. O sucesso de escolas inclusivas depende em muito da identificação precoce, avaliação e estimulação de crianças pré- escolares com necessidades educacionais especiais. Assistência infantil e programas educacionais para crianças até a idade de 6 anos deveriam ser desenvolvidos e/ou reorientados no sentido de promover o desenvolvimento físico, intelectual e social e a prontidão para a escolarização. Tais programas possuem um grande valor econômico para o indivíduo, a família e a sociedade na prevenção do agravamento de condições que inabilitam a criança. Programas neste nível deveriam reconhecer o princípio da inclusão e ser desenvolvidos de uma maneira abrangente, através da combinação de atividades pré-escolares e saúde infantil.

52. Vários países têm adotado políticas em favor da educação infantil, tanto através do apoio no desenvolvimento de jardins de infância e pré-escolas, como pela organização de informação às famílias e de atividades de conscientização em colaboração com serviços comunitários (saúde, cuidados maternos e infantis) com escolas e com associações locais de famílias ou de mulheres.

Preparação para a Vida Adulta

53. Jovens com necessidades educacionais especiais deveriam ser auxiliados no sentido de realizarem uma transição efetiva da escola para o trabalho. Escolas deveriam auxiliá-los a se tornarem economicamente ativos e provê-los com as habilidades necessárias ao cotidiano da vida, oferecendo treinamento em habilidades que correspondam às demandas sociais e de comunicação e às expectativas da vida adulta. Isto implica em tecnologias adequadas de treinamento, incluindo experiências diretas em situações da vida real, fora da escola. O currículo para estudantes mais maduros e com necessidades educacionais especiais deveria incluir programas específicos de transição, apoio de entrada para a educação superior sempre que possível e conseqüente treinamento vocacional que os prepare a funcionar independentemente enquanto membros contribuintes em suas comunidades e após o término da escolarização. Tais atividades deveria ser levadas a cabo com o envolvimento ativo de aconselhadores vocacionais, oficinas de trabalho, associações de profissionais, autoridades locais e seus respectivos serviços e agências.

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Educação de Meninas

54. Meninas portadoras de deficiências encontram-se em dupla desvantagem. Um esforço especial se requer no sentido de se prover treinamento e educação para meninas com necessidades educacionais especiais. Além de ganhar acesso a escola, meninas portadoras de deficiências deveriam ter acesso à informação, orientação e modelos que as auxiliem a fazer escolhas realistas e as preparem para desempenharem seus futuros papéis enquanto mulheres adultas.

Educação de Adultos e Estudos Posteriores

55. Pessoas portadoras de deficiências deveriam receber atenção especial quanto ao desenvolvimento e implementação de programas de educação de adultos e de estudos posteriores. Pessoas portadoras de deficiências deveriam receber prioridade de acesso à tais programas. Cursos especiais também poderiam ser desenvolvidos no sentido de atenderem às necessidades e condições de diferentes grupos de adultos portadores de deficiência.

F. PERSPECTIVAS COMUNITÁRIAS

56. A realização do objetivo de uma educação bem- sucedida de crianças com necessidades educacionais especiais não constitui tarefa somente dos Ministérios de Educação e das escolas. Ela requer a cooperação das famílias e a mobilização das comunidades e de organizações voluntárias, assim como o apoio do público em geral. A experiência provida por países ou áreas que têm testemunhado progresso na equalização de oportunidades educacionais para crianças portadoras de deficiência sugere uma série de lições úteis.

Parceria com os Pais

57. A educação de crianças com necessidades educacionais especiais é uma tarefa a ser dividida entre pais e profissionais. Uma atitude positiva da parte dos pais favorece a integração escolar e social. Pais necessitam de apoio para que possam assumir seus papéis de pais de uma criança com necessidades especiais. O papel das famílias e dos pais deveria ser aprimorado através da provisão de informação necessária em linguagem clara e simples; ou enfoque na urgência de informação e de treinamento em habilidades paternas constitui uma tarefa importante em culturas aonde a tradição de escolarização seja pouca.

58. Pais constituem parceiros privilegiados no que concerne as necessidades especiais de suas crianças, e desta maneira eles deveriam, o máximo possível, ter a chance de poder escolher o tipo de provisão educacional que eles desejam para suas crianças.

59. Uma parceria cooperativa e de apoio entre administradores escolares, professores e pais deveria ser desenvolvida e pais deveriam ser considerados

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enquanto parceiros ativos nos processos de tomada de decisão. Pais deveriam ser encorajados a participar em atividades educacionais em casa e na escola (aonde eles poderiam observar técnicas efetivas e aprender como organizar atividades extra-curriculares), bem como na supervisão e apoio à aprendizagem de suas crianças.

60. Governos deveriam tomar a liderança na promoção de parceria com os pais, através tanto de declarações políticas quanto legais no que concerne aos direitos paternos. O desenvolvimento de associações de pais deveria ser promovida e seus representante envolvidos no delineamento e implementação de programas que visem o aprimoramento da educação de seus filhos. Organizações de pessoas portadoras de deficiências também deveriam ser consultadas no que diz respeito ao delineamento e implementação de programas.

Envolvimento da Comunidade

61. A descentralização e o planejamento local favorecem um maior envolvimento de comunidades na educação e treinamento de pessoas com necessidades educacionais especiais. Administradores locais deveriam encorajar a participação da comunidade através da garantia de apoio às associações representativas e convidando-as a tomarem parte no processo de tomada de decisões. Com este objetivo em vista, mobilizando e monitorando mecanismos formados pela administração civil local, pelas autoridades de desenvolvimento educacional e de saúde, líderes comunitários e organizações voluntárias deveriam estar estabelecidos em áreas geográficas suficientemente pequenas para assegurar uma participação comunitária significativa.

62. O envolvimento comunitário deveria ser buscado no sentido de suplementar atividades na escola, de prover auxílio na concretização de deveres de casa e de compensar a falta de apoio familiar. Neste sentido, o papel das associações de bairro deveria ser mencionado no sentido de que tais forneçam espaços disponíveis, como também o papel das associações de famílias, de clubes e movimentos de jovens, e o papel potencial das pessoas idosas e outros voluntários incluindo pessoas portadoras de deficiências em programas tanto dentro como fora da escola.

63. Sempre que ação de reabilitação comunitária seja provida por iniciativa externa, cabe à comunidade decidir se o programa se tornará parte das atividades de desenvolvimento da comunidade. Aos vários parceiros na comunidade, incluindo organizações de pessoas portadoras de deficiência e outras organizações não-governamentais deveria ser dada a devida autonomia para se tornarem responsáveis pelo programa. Sempre que apropriado, agências governamentais em níveis nacional e local também deveriam prestar apoio.

O Papel das Organizações Voluntárias 64. Uma vez que organizações voluntárias e não- governamentais possuem maior liberdade para agir e podem responder mais prontamente às necessidades expressas, elas deveriam ser apoiadas no

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desenvolvimento de novas idéias e no trabalho pioneiro de inovação de métodos de entrega de serviços. Tais organizações podem desempenhar o papel fundamental de inovadores e catalizadores e expandir a variedade de programas disponíveis à comunidade.

65. Organizações de pessoas portadoras de deficiências - ou seja, aquelas que possuam influência decisiva deveriam ser convidadas a tomar parte ativa na identificação de necessidades, expressando sua opinião a respeito de prioridades, administrando serviços, avaliando desempenho e defendendo mudanças.

Conscientização Pública

66. Políticos em todos os níveis, incluindo o nível da escola, deveriam regularmente reafirmar seu compromisso para com a inclusão e promover atitudes positivas entre as crianças, professores e público em geral, no que diz respeito aos que possuem necessidades educacionais especiais.

67. A mídia possui um papel fundamental na promoção de atitudes positivas frente a integração de pessoas portadoras de deficiência na sociedade. Superando preconceitos e má informação, e difundindo um maior otimismo e imaginação sobre as capacidades das pessoas portadoras de deficiência. A mídia também pode promover atitudes positivas em empregadores com relação ao emprego de pessoas portadoras de deficiência. A mídia deveria acostumar-se a informar o público a respeito de novas abordagens em educação, particularmente no que diz respeito à provisão em educação especial nas escolas regulares, através da popularização de exemplos de boa prática e experiências bem-sucedidas.

G. REQUERIMENTOS RELATIVOS A RECURSOS

68. O desenvolvimento de escolas inclusivas como o modo mais efetivo de atingir a educação para todos deve ser reconhecido como uma política governamental chave e dado o devido privilégio na pauta de desenvolvimento da nação. É somente desta maneira que os recursos adequados podem ser obtidos. Mudanças nas políticas e prioridades podem acabar sendo inefetivas a menos que um mínimo de recursos requeridos seja providenciado. O compromisso político é necessário, tanto a nível nacional como comunitário. Para que se obtenha recursos adicionais e para que se re-empregue os recursos já existentes. Ao mesmo tempo em que as comunidades devem desempenhar o papel- chave de desenvolver escolas inclusivas, apoio e encorajamento aos governos também são essenciais ao desenvolvimento efetivo de soluções viáveis.

69.A distribuição de recursos às escolas deveria realisticamente levar em consideração as diferenças em gastos no sentido de se prover educação apropriada para todas as crianças que possuem habilidades diferentes. Um começo realista poderia ser o de apoiar aquelas escolas que desejam promover uma educação inclusiva e o lançamento de projetos-piloto em algumas áreas com vistas a adquirir o conhecimento necessário para a expansão e generalização

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progressivas. No processo de generalização da educação inclusiva, o nível de suporte e de especialização deverá corresponder à natureza da demanda.

70. Recursos também devem ser alocados no sentido de apoiar serviços de treinamento de professores regulares de provisão de centros de recursos, de professores especiais ou professores-recursos. Ajuda técnica apropriada para assegurar a operação bem-sucedida de um sistema educacional integrador, também deve ser providenciada. Abordagens integradoras deveriam, portanto, estar ligadas ao desenvolvimento de serviços de apoio em níveis nacional e local.

71. Um modo efetivo de maximizar o impacto refere-se a união de recursos humanos institucionais, logísticos, materiais e financeiros dos vários departamentos ministeriais (Educação, Saúde, Bem- Estar-Social, Trabalho, Juventude, etc.), das autoridades locais e territoriais e de outras instituições especializadas. A combinação de uma abordagem tanto social quanto educacional no que se refere à educação especial requererá estruturas de gerenciamento efetivas que capacitem os vários serviços a cooperar tanto em nível local quanto em nível nacional e que permitam que autoridades públicas e corporações juntem esforços.

III. ORIENTAÇÕES PARA AÇÕES EM NÍVEIS REGIONAIS E INTERNACIONAIS

72. Cooperação internacional entre organizações governamentais e não-governamentais, regionais e inter-regionais, podem ter um papel muito importante no apoio ao movimento frente a escolas inclusivas. Com base em experiências anteriores nesta área, organizações internacionais, inter-governamentais e não-governamentais, bem como agências doadoras bilaterais, poderiam considerar a união de seus esforços na implementação das seguintes abordagens estratégicas.

73. Assistência técnica deveria ser direcionada a áreas estratégicas de intervenção com um efeito multiplicador, especialmente em países em desenvolvimento. Uma tarefa importante para a cooperação internacional reside no apoio no lançamento de projetos-piloto que objetivem testar abordagens e originar capacitação.

74. A organização de parcerias regionais ou de parcerias entre países com abordagens semelhantes no tocante à educação especial poderia resultar no planejamento de atividades conjuntas sob os auspícios de mecanismos de cooperação regional ou sub-regional. Tais atividades deveriam ser delineadas com vistas a levar vantagens sobre as economias da escala, a basear-se na experiência de países participantes, e a aprimorar o desenvolvimento das capacidades nacionais.

75. Uma missão prioritária das organizações internacionais e facilitação do intercâmbio de dados e a informação e resultados de programas-piloto em educação especial entre países e regiões. O colecionamento de indicadores de progresso que sejam comparáveis a respeito de educação inclusiva e de emprego

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deveria se tornar parte de um banco mundial de dados sobre educação. Pontos de enfoque podem ser estabelecidos em centros sub-regionais para que se facilite o intercâmbio de informações. As estruturas existentes em nível regional e internacional deveriam ser fortalecidas e suas atividades estendidas a campos tais como política, programação, treinamento de pessoal e avaliação.

76. Uma alta percentagem de deficiência constitui resultado direto da falta de informação, pobreza e baixos padrões de saúde. À medida que o prevalecimento de deficiências em termos do mundo em geral aumenta em número, particularmente nos países em desenvolvimento, deveria haver uma ação conjunta internacional em estreita colaboração com esforços nacionais, no sentido de se prevenir as causas de deficiências através da educação a qual, por, sua vez, reduziria a incidência e o prevalecimento de deficiências, portanto, reduzindo ainda mais as demandas sobre os limitados recursos humanos e financeiros de dados países.

77. Assistências técnica e internacional à educação especial derivam-se de variadas fontes. Portanto, torna-se essencial que se garanta coerência e complementaridade entre organizações do sistema das Nações Unidas e outras agências que prestam assistência nesta área.

78. Cooperação internacional deveria fornecer apoio a seminários de treinamento avançado para administradores e outros especialistas em nível regional e reforçar a cooperação entre universidades e instituições de treinamento em países diferentes para a condução de estudos comparativos bem como para a publicação de referências documentárias e de materiais instrutivos.

79. A Cooperação internacional deveria auxiliar no desenvolvimento de associações regionais e internacionais de profissionais envolvidos com o aperfeiçoamento da educação especial e deveria apoiar a criação e disseminação de folhetins e publicações, bem como a organização de conferências e encontros regionais.

80. Encontros regionais e internacionais englobando questões relativas à educação deveriam garantir que necessidades educacionais especiais fossem incluídas como parte integrante do debate, e não somente como uma questão em separado. Como modo de exemplo concreto, a questão da educação especial deveria fazer parte da pauta de conferência ministeriais regionais organizadas pela UNESCO e por outras agências inter-governamentais.

81. Cooperação internacional técnica e agências de financiamento envolvidas em iniciativas de apoio e desenvolvimento da Educação para Todos deveriam assegurar que a educação especial seja uma parte integrante de todos os projetos em desenvolvimento.

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82. Coordenação internacional deveria existir no sentido de apoiar especificações de acessibilidade universal da tecnologia da comunicação subjacente à estrutura emergente da informação.

83. Esta Estrutura de Ação foi aprovada por aclamação após discussão e emenda na sessão Plenária da Conferência de 10 de junho de 1994. Ela tem o objetivo de guiar os Estados Membros e organizações governamentais e não-governamentais na implementação da Declaração de Salamanca sobre Princípios , Política e Prática em Educação Especial.

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IV - Síndrome de West e suas necessidades funcionais.

A Síndrome de West é classificada segundo a International League

Against Epilepsy – ILAE, como Encefalopatia epiléptica, caracterizada por

espasmos ou crises mioclônicas. Segundo Cukiert (2006, p.44) são

denominados espasmos epilépticos são caracterizados por contração tônica rápida, com duração de 1 a 15 segundos, da musculatura de pescoço, tronco e membros, podendo assumir caráter em flexão ou extensão (CUKIERT; 2006, p.44).

Ainda, o autor denomina crise mioclônica, como contrações musculares

súbitas, breves semelhantes a choques. Podendo afetar musculatura facial, o

tronco, uma extremidade, um músculo ou um grupo muscular e ser generalizada.

De acordo com Liberalesso (2006), a Síndrome de West foi descrita pela

primeira vez em 26 de janeiro de 1841, pelo médico James West onde relatou o

caso de seu próprio filho à revista Lancet, referindo-se a uma forma peculiar de

crise convulsiva do lactente. Acrescentando Vasquez e Turner (1999 apud LOPES

FILHO, 2004), que, em 1951, correlacionaram os achados clínicos ao padrão de

anormalidade eletroencefálica (hipsarritmia), e como tal, incluíram esta doença na

classificação das epilepsias.

Considerando Fonseca (2000), que apresenta a patologia como

convulsões típicas da infância, caracterizadas por contrações bruscas e

simultâneas de vários grupos musculares, mais freqüentemente em flexão, rápidas

e repetidas, associadas a diferentes graus de retardo no desenvolvimento

neuropsicomotor e padrão típico eletroencefalográfico denominado hipsarritmia.

Referindo Cukiert (2006),

a idade de início é de 3 a 8 meses, com a freqüência aproximada de 1: 4.000 crianças sendo encontrada em 9% de todas as crianças com epilepsia e com predomínio no sexo masculino.

Para Fonseca (2006), a síndrome pode ser referida como hipsarritmia,

disritmia maior lenta, espasmo infantil, massive jerks, blitz und nichtkrampt, tic de

saalam e pequeno mal propulsivo.

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Etiologia

Considerando Cukiert (2006), a etiologia da Síndrome de West é bastante

variável, pois admite formas idiopáticas, sintomáticas e provavelmente

sintomáticas. Sendo que, as sintomáticas são decorrentes de fatores pré-natais

(25%), perinatais (15%) ou pós-natais. Sendo as malformações cerebrais bastante

comuns e podendo ocorrer isoladas ou como parte de determinadas síndromes,

como a Esclerose Tuberosa ou a Síndrome de Aicardi. Várias doenças

metabólicas têm sido referidas. Já, a forma provavelmente sintomática é definida

em crianças que não apresentam alterações estruturais aos exames de

neuroimagem. A forma idiopática caracteriza-se por: ausência de involução

psíquica significativa, manutenção da função visual, desaparecimento das

anormalidades eletroencefalográficas intercríticas focais após injeção endovenosa

de neurolépticos (Valium, Diazepan), reaparecimento do padrão de hipsarritmia

entre espasmos consecutivos ou em salvas, ausência de lesões cerebrais e

evolução favorável.

Conforme Liberalesso (2006), o início das crises acontece, na maior parte

dos casos entre os 4 e 7 meses de vida sendo que, neste momento, em

aproximadamente 95% das crianças já é possível observar certo grau de

deterioração neuropsicomotora. Os casos sintomáticos tendem a apresentar pior

prognóstico quanto ao controle das crises e maior risco de seqüelas neurológicas

permanentes, quando comparados aos casos criptogênicos (ou idiopáticos) ou

provavelmente sintomáticos. Segundo Lopes Filho (2004),

a etiologia dos espasmos infantis está associada a diversos fatores, dentre eles: genéticos, teratogênicos, perinatais, pós-natais e fatores adquiridos. Diversas teorias para o desenvolvimento dos espasmos infantis têm sido pesquisadas, incluindo autoimune, disfunção cerebral e microdisplasia cortical.

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De acordo com Fonseca (2000), as etiologias podem ter origem:

Pré-natal entre as quais pode-se citar as infecções intra-uterinas,

distúrbios da proliferação, migração e organização neuronal, além das

doenças geneticamente determinadas (erros inatos do metabolismo,

facomatoses);

Nas causas perinatais, pode-se citar as más condições de assistência

ao parto, síndrome hipóxico-isquêmica, prematuridade e encefalopatia

bilirrubínica; e

Nas causas pós-natais, destacam-se as infecções do sistema nervoso

central, trauma crânio encefálico, distúrbios metabólicos adquiridos,

reações pós-vacinais (com vírus vivos).

Manifestações clínicas

As manifestações clínicas são descritas comumente pelos autores como

espasmos em flexão ou extensão, associadas ao comprometimento do

desenvolvimento neuropsicomotor e ao padrão eletroencefalográfico de

hipsarritmia.

Segundo Guerreiro (2000), atualmente, admite-se que o espasmo pode

ser em flexão, extensão ou misto, com a cabeça jogada para trás ou para frente,

com a abertura ou flexão dos membros, bi ou unilateral, simétrico ou não. As

várias características do espasmo dependerão do tipo de musculatura envolvida e

de sua duração. Refere que espasmos assimétricos e unilaterais são raros e

apontam alguma patologia cerebral estrutural.

Completa Guerreiro (2000), que a duração de cada crise é de 1 a 15

segundos; apresentando-se caracteristicamente em salvas com mais de 30

ataques em rápida sucessão. Os episódios ocorrem geralmente durante a vigília e

sono, sendo observados no início do sono e imediatamente após despertar. As

crises podem estar associadas à cianose, taquicardia, apnéia, automatismo, choro

ou outras alterações autonômicas (CUKIERT, 2006).

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Já em Proservnet (2006) consta que os espasmos são como se, de

repente, a criança se assustasse e quisesse agarrar uma bola sobre o seu corpo;

porém ressalta que as crises diferem para cada criança.

Citando o retardo no desenvolvimento neuropsicomotor, Liberalesso

(2005) descreve que no momento em que se iniciam as crises, já se observa em

aproximadamente 95% das crianças uma deterioração neuropsicomotora.

Considerando Cukiert (2006),

as anormalidades neurológicas ocorrem em 30% a 90% das crianças com Síndrome de West. De acordo com a etiologia observam-se déficits motores focais (hemiplegia, diplegia, dupla hemiplegia, ataxia, atetose), microcefalia, cegueira, surdez e etc.

Referente aos achados eletroencefalográficos, Lefrève (1996) e Guerreiro

(2000) concordam quando dizem que no eletroencefalográfico a hipsarritmia é

caracterizada como um padrão caótico de ondas lentas de alta amplitude, com

uma freqüência de 1 a 7 c/s, entremeadas por ondas agudas e pontas que variam

em amplitude, morfologia, duração e localização.

Complementa Fernandes (2001) que o EEG caracteriza-se pelo seu

aspecto anárquico, com ondas de grande amplitude, lentas e pontas-ondas lentas.

Não havendo ritmo de base organizado.

Em relação ao prognóstico, Liberalesso (2006) refere que os casos

sintomáticos tendem a apresentar pior prognóstico quanto ao controle das crises e

maior risco de seqüelas neurológicas permanentes quando comparadas aos casos

criptogênicos ou provavelmente sintomáticos. De acordo com Lopes Filho (2004),

conjuntamente aos espasmos, costuma-se observar alterações motoras, sendo a mais freqüente a hipotonia. Alteração da função cognitiva, com retardo mental em cerca de 80 a 90% dos pacientes e epilepsia em mais de 50%. Uma vez levantada a hipótese clínica, o diagnóstico só pode ser definido após a realização do eletroencefalograma que revela uma anomalia específica denominada hipsarritmia.

Conforme Guerreiro (2000), o tratamento precoce influenciará no

prognóstico, especialmente em relação ao retardo mental, principalmente na forma

criptogênica. Cita que,

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os distúrbios cognitivos consistem na combinação de retardo mental, comprometimento da linguagem e, em especial, da presença de hipercinesias e de traços autísticos. Outras síndromes epilépticas podem seguir-se à Síndrome de West, como a Síndrome de Lennox-Gastaut, a epilepsia multifocal ou a epilepsia parcial secundariamente generalizada.

Conclui-se que em qualquer grupo das etiologias, a síndrome mostra uma

face sombria, tanto ao que diz respeito ao tratamento como ao prognóstico. O

portador de Síndrome de West em alguns casos apresenta características

pseudoautísticas, ou seja, muitas vezes essas crianças recebem o diagnóstico de

autismo. Ressalta Cordeiro (2006), que,

durante o período de anormalidade do EEG e depois das crises, supõe-se que o desempenho orgânico dos lactentes se efetue em níveis tão profundamente retardados, que não podem entrar em interação, apresentando, como conseqüência um comportamento pseudoautístico.

Exames para diagnóstico

Diante da suspeita de Síndrome de West, deve ser realizada pelo médico,

uma investigação criteriosa, constando de exames de específicos.

Segundo Fonseca (2006), o profissional pediátrico deve estar atento às

manifestações caracterizadas por sustos, choques, cólicas do lactente e até

mesmo ao Reflexo de Moro. Mas, principalmente estar alerta quando ocorre

alguma involução motora ou cognitiva concomitante. Além dessas manifestações

clínicas, o diagnóstico se baseia em exames de imagem, eletroencefalograma,

sorologias e triagem para erro inato do metabolismo.

Nas investigações a tomografia computadorizada tem detectado

patologias em 75 a 90% dos casos de Síndrome de West, entretanto, a

ressonância magnética tem se mostrado mais sensitiva que a tomografia

computadorizada em detectar lesões em pacientes com crises parciais

(PROSERVNET, 2006).

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Tratamentos disponíveis

Tratamento medicamentoso

Diante do diagnóstico de Síndrome de West, o tratamento de primeira

escolha deve ser o medicamentoso. Sendo que, para o controle das crises são

indicados os fármacos antiepilépticos (FAE).

O tratamento de escolha inicial é a corticoterapia com hormônio

adrenocorticotrópico - ACTH, mas também, podem ser utilizados na terapia para

controle das crises, outras medicações. Tais como: Vigabatrina, Ácido valpróico,

Nitrazepan e Piridoxina (CUKIERT, 2006).

Abordando as características das medicações utilizadas no tratamento da

Síndrome de West, temos:

ACTH: é considerada a droga de primeira escolha no tratamento, porém como cita

Rizzutti (1999),

[...] sérios efeitos adversos têm sido relatados como infecções e hipertensão arterial ocorrendo durante a terapia com ACTH, além da atrofia cerebral, que na maioria dos casos é reversível, mas alguns pacientes desenvolvem coleção subdural ou a melhora da atrofia cerebral ocorre de forma muito lenta.

O autor complementa ainda, que apesar de alguns autores terem

preferência pelo uso de ACTH em relação aos corticoesteróides orais, não existe

distinção da eficácia em relação a sua apresentação.

Vigabatrina: indicado no tratamento das crises de difícil controle, como

coadjuvante no tratamento. Segundo BPR (2005) inibe a enzima responsável pelo

catabolismo do ácido gama-aminobutírico (GABA).

Ácido valpróico: Medicação usada como anticonvulsivante nas crises de

espasmos infantis, mas conforme Cordioli et al (2000), é necessário cautela no

uso com crianças menores de dez anos, pois sua hepatotoxicidade é aumentada

neste grupo. Cita ainda, que, existem ainda existência de hiperexcitabilidade e

disfunção neurológica no desenvolvimento neuropsicomotor associadas ao uso do

ácido valpróico.

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Topiramato: segundo Cordioli et al (2000) apresenta diversos mecanismos de

ação que podem conjuntamente ter maior atividade anticonvulsivante do que

outras medicações. Isoladamente. Nas crianças não é recomendável antes dos 12

anos, pois não existem estudos suficientes.

Ressalta-se ainda, o uso de medicações alternativas no tratamento das

crises, escolhidas como monoterapia ou politerapia. Conforme Rizzutti (1999), há

estudos com tratamentos alternativos para o controle das crises, citando:

Imunoglobulina: A utilização da imunoglobulina foi descrita pela primeira vez por

Péchadre et al. (1976 apud RIZZUTTI, 1999), após observarem melhora clínica e

eletroencefalográfica de crianças que estavam sendo tratados com imunoglobulina

intramuscular para tratamento de infecções de repetição das vias aéreas. Apesar

dos benefícios alcançados com o uso de tal medicação, ainda são escassas as

evidências convincentes sobre o assunto, pois o mecanismo de ação pelo qual a

imunoglobulina melhora a epilepsia, ainda é desconhecido.

Dieta cetogênica: Wilder (1921) citado por Rizzutti (1999), propôs que uma dieta

rica em gorduras e pobre em carboidratos e proteínas poderia produzir a cetose e

a acidose metabólica características do jejum, além de produzir essa condição por

um período de tempo maior. As indicações dessa dieta são dirigidas

principalmente para crianças epilépticas com mais de um ano de idade que

apresentam epilepsia comprovadamente refratária a duas ou mais drogas

antiepilépticas, utilizadas em doses adequadas, ou que apresentam efeitos

colaterais intoleráveis ou ainda, que tenham reações idiossincrásicas.

Tratamento cirúrgico

A opção pelo tratamento cirúrgico é uma proposta que vem sendo

desenvolvida como tratamento para crises epilépticas refratárias ao tratamento

clínico e medicamentoso, no entanto é realizada somente após terem sido

esgotadas todas as opções de tratamento medicamentoso.

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Cita Ragazzo (2002), que em 1992, a Liga Brasileira de Epilepsia nomeou

uma comissão de neurocirurgia a qual permaneceria encarregada de elaborar o

programa nacional de cirurgia para o tratamento da epilepsia, e discutiria sua

implantação, como procedimento de alta complexidade, junto ao Ministério da

Saúde. Sendo assim, em 17 de agosto de 1994, através da portaria MS/140, o

Secretário de Assistência à Saúde incorporou à tabela de procedimentos do SIH-

SUS, a exploração diagnóstica da epilepsia (procedimento 81.100.01-0) e o

tratamento cirúrgico da epilepsia (procedimento 40.101.04-0).

Refere-se Costa (2006), que a epilepsia refratária ao tratamento clínico ou

farmacorresistente é classificada como ”controle inadequado das crises apesar da

terapêutica medicamentosa apropriada com fármacos antiepilépticos (FAE) ou

adequado controle das crises epilépticas, mas com efeitos colaterais inaceitáveis”.

Cita ainda, que o tratamento cirúrgico pode além de determinar um

controle das crises, ser determinante na reversão do quadro de regressão do

desenvolvimento neuropsicomotor.

Tratamento para reabilitação

O tratamento de reabilitação realizado na síndrome de West é o

mesmo indicado na paralisia cerebral. As terapias devem ser

realizadas com a finalidade de desenvolver na criança um elo de

ligação com o mundo, pois estas possuem dificuldade de interação.

Segundo Fernandes (2001), a necessidade de cada criança ser avaliada

como um ser único e distinto, ressalta que embora o esquema de desenvolvimento

seja comum a todas crianças, as diferenças de caráter, de potencialidades físicas

e do meio ambiente explicam porque crianças, consideradas normais possam

desenvolver-se em ritmos diferentes.

Devido aos fatos apresentados é essencial encaminhar a criança

portadora de Síndrome de west para que esta seja avaliada por fonoaudiólogas,

psicopedagogas, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, enfim devem ser

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realizados todos os tipos de terapia possíveis, visando uma recuperação da

capacidade intelectual, motora e sensorial.

Desde algum tempo, há em instituições para reabilitação os Setores de

Estimulação precoce. No qual, o termo usado denomina atividades

multidisciplinares que visam o desenvolvimento global de crianças com algum tipo

de déficit neurológico. Ressaltando, Lefrève (1996):

[...] .early stimulation ou estimulación temprana, cuja idéia básica é a estimulação adequada da criança desde os primeiros dias de vida, a fim de garantir o seu desenvolvimento integral ulterior.

Concordando com o autor, Haerter (2003) acrescenta, a estimulação

precoce ou essencial é toda a atividade que favorece e aprimora o

desenvolvimento físico, mental e social da criança entre 0 e 03 anos de idade,

com algum grau de necessidades especiais. Esse programa tem o intuito de

oferecer subsídios para que essa criança alcance um desenvolvimento pleno e

integral.

Metodologia

Caracterização do estudo

Estudo de caráter descritivo que constitui num relato de experiência,

desenvolvido a partir de vivência pelo autor como pai com sua filha portadora de

Síndrome de West.

Tendo em vista ser um relato de experiência, os dados foram obtidos

pelo autor, a partir de registros realizados após definição do tipo de estudo e do

sujeito.

Foi elaborado um roteiro para facilitar a obtenção dos dados e

estabelecido um diário onde eram colocados os sentimentos vivenciados.

As reflexões após serem sistematizadas foram embasadas na literatura

consultada, para uma melhor compreensão e cientificidade dos dados.

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Por tratar-se de um relato de experiência os princípios éticos estão

embasados na honestidade e fidelidade dos fatos aqui expostos, procurando

sempre manter o anonimato e respeito pela criança embora fique muito claro a

filiação da mesma.

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V - Vivenciando a história

Foram realizadas anotações tendo por base um roteiro previamente

elaborado, na seguinte ordem o período da gestação, a expectativa do

nascimento, o parto, o início das crises, o primeiro impacto, as orientações

recebidas pelos profissionais da saúde, o enfrentamento do problema, o

enfrentamento da família e o hoje. O estudo segue uma seqüência cronológica,

que vai desde a concepção até os dias de hoje. Pode-se perceber que apesar dos

problemas enfrentados diante de um quadro de Síndrome de West, há recursos

disponíveis para o tratamento. Esta oportunidade mostrou-me o quanto é

necessário o conhecimento sobre esta patologia, já que sua detecção é crucial no

prognóstico.

Neste estudo, descrevo os aspectos relacionados à minha vivência nestes

dez anos como pai de criança portadora de síndrome de west, tornando pública a

experiência vivenciada, para que esta possa motivar os pais a realizarem

experiências semelhantes. E ainda, mostrar a importância do conhecimento das

garantias de direitos das crianças deficientes.

Relatar como estão sendo garantidos os direitos das crianças deficientes e

minha experiência como pai de criança portadora de Síndrome de West, desde

seu nascimento até hoje.

Inicialmente apresento a família que fez parte do estudo:

o pai (Respeito), 46 anos de idade; a menina portadora de Síndrome de West (Linda), 10 anos de idade; a mãe (Amor), 38 anos de idade e o irmão (Guerreiro), 15 anos de idade.

A família é a base de sustentação, principalmente quando esta é atingida

por uma enfermidade, pois quando ocorrem, acabam gerando imensa desordem

emocional, sentida, principalmente, no ambiente familiar. Diante disso, muitas

famílias se encontram acuadas e desprotegidas, necessitando de um constante

apoio. Conforme Elsen (2004),

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na vida familiar ocorrem, inevitavelmente, épocas de crise, entre elas as geradas pelas enfermidades.Durante dias, talvez semanas, o bem-estar desta família flutua entre o estável e instável.

Em relação à forma de lidar com as necessidades especiais de um

membro da família, nesse caso uma criança, essa crise sofrerá vários estágios até

que ocorra a aceitação. Sendo que em muitos casos isso não acontecerá nunca,

pois há famílias que permanecem nos estágios de luto anteriores à aceitação,

gerando um atraso na procura de recursos ou até mesmo uma rejeição direta ou

indireta a criança.

“O nascimento de um filho especial traz a tona um sentimento de rejeição inevitável, não pelo filho em si, mas pelo problema que impede que seja o filho sonhado”. HAERTER (2003).

Por esses motivos é extremamente importante a orientação e

acompanhamento dos pais por um profissional de Serviço Social.

Diante disso, exponho a forma de enfrentamento dessa família após

diagnóstico de Síndrome de West.

Para que ocorra melhor análise dos dados, o relato seguirá um roteiro nos

quais emergiram as seguintes categorias:

O período da gestação

A mulher cria a partir de suas vivências e desejos a imagem de um filho

imaginário, sendo esta enriquecida de detalhes ao decorrer de sua gestação,

gerando expectativas positivas e esperançosas.

Ao saber que minha esposa estava grávida, fiquei muito feliz, pois teria

minha tão esperada menina, pois já tinha um menino com cinco anos.

Quando fiquei sabendo que estava a caminho, e que era do sexo

feminino, meu coração se encheu de felicidade.

A gravidez foi sem problemas, fazia todos os meses o pré-natal, os

exames solicitados. Tudo estava normal.

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A expectativa do nascimento

O momento do nascimento de uma gravidez desejada, torna-se um

episódio mágico, pois é um momento repleto de expectativas criadas e sonhadas

durante toda a gestação.

Imaginava que as coisas dariam certo, pensava na minha família reunida,

pois a pequena era muito esperado.

Já estava com a mala arrumada fazia bastante tempo... Não via à hora de

chegar o momento.

Quando a mulher, futura mãe, vai para a maternidade, acontece uma

espécie de festividade familiar, pois todas aquelas pessoas mais próximas se

mobilizam pela espera desse tão desejado ser... A criança que está por nascer.

O parto

Conforme constataremos a seguir e concordando com Branden (2000) a

iminência do trabalho de parto e o nascimento do bebê costumam desencadear

excitação e apreensão nas gestantes, mesmo que esta já tenham passado por um

outro parto.

Com base na anamnese fisioterapêutica, entrevistas com os genitores e

observação clínica durante a prática terapêutica, foi elaborado esta apresentação

de caso, contando um pouco da vida desta paciente desde o seu nascimento aos

dias atuais.

Em 03 de julho de 1996, Amor deu a luz a uma menininha chamada Linda.

O parto foi de cesáriana, com anestesia peridural, indicação de sua ginecologista.

Linda nasceu com 36 semanas, 3.990 kg, 52 cm, chorando após estímulo.

Seu APGAR foi 6(1ª) 8(5ª) medindo o grau de sofrimento ou de – saúde

normal do recém-nascido e indicando condições estáveis ou normais.

Não houve relato de convulsões.

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O início das crises

Aos três meses passou a apresentar espasmos infantis. Nesta mesma

época, numa consulta pediátrica, a médica constatou que ela fazia espasmos,

movimentos que pareciam “sustos”. Esses movimentos eram contínuos. Foi

quando a médica constatou a síndrome de west.

Durante os nove meses de gestação, não houve qualquer relato que

comprovasse a causa do problema de Linda.

Apesar de atrasadas, todas as vacinas foram dadas a Linda. Somente na

tríplice de acordo com orientação médica, foi tirado o componente da coqueluche

que poderia causar febre alta e daí conseqüentes convulsões.

Assim que ela foi encaminhada ao neuropediatra, foram feitos inúmeros

exames: eletro-encefalograma, tomografia, exames de toxoplasmose, rubéola,

citomegalovirus e erros inatos do metabolismo.

Ao saber o resultado do eletro, hipsarritmia, foi necessário entrar com a

medicação do ACTH (hormônio andrenocorticotrófico) com injeções diárias e

também os medicamentos Sabril® e Depakene® em forma de comprimidos.

Segundo a mãe de Linda, “O Neuropediatra, no início do tratamento, nunca

falou como a Linda iria evoluir. Dizia apenas que cada criança é um caso, e que

nunca havia pego uma criança como Linda, com respostas tão insatisfatórias,

principalmente com o uso do ACTH”.

Quando Linda estava com quase três anos, eram constantes os problemas

clínicos, como: pneumonia, amigdalite e otite, obrigando-a à ingestão freqüente de

antibiótico. Devido ao uso de Depakene®, foi detectado uma gastrite muito forte.

Nesse momento, o Neuropediatra informou que, devido a esses problemas

clínicos, já que a parte neurológica estava controlada, ela um dia poderia não

suportar a quantidade de medicamentos.

Durante mais ou menos 40 dias ela tomou o ACTH, sem apresentar

resposta terapêutica e teve vários efeitos colaterais, como por exemplo: os

membros apresentaram-se inchados e houve o crescimento de pelos pubianos,

pressão arterial alta, chegando a 18/13 e dores por todo corpo. Após o tratamento

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com o ACTH, tomou o Rivotril® e o Depakene® por algum tempo e faz uso dos

anti-convulsivos: Sabril® e Nitrazepol®.

Foi submetida a Tomografia Computadorizada de Crânio que revelou leve

aumento do terceiro ventrículo e ventrículos laterais, bem como acentuação e

espessamento de giros corticais. Esta apresentou quadro de difícil controle com

anticonvulsivantes, retardo mental e padrão de hipssarritmia no

eletroencefalograma, a mesma sendo acompanhada por equipe multidisciplinar

desde a fase de investigação extensiva com estudo imunológico, pesquisa de

erros inatos do metabolismo, tomografia computadorizada de crânio e ressonância

magnética de crânio sem identificação etiológica, apresentando também um

quadro com broncoaspiração, conseqüente de crises de difícil controle. Ainda se

submeteu a outros exames como: punção lombar (liquido cefalorraqueano),

amônia – dosagem de ácido láctico (sangue) e ácido valproico.

No início do tratamento utilizou: ACTH, sabril® - vigabratirna, nitrazepol® -

nitrazepan, depakene® - ácido valpróico, leite pregomim® - supporte, vitamina L –

carnitina, vitamina B8 biotina, vitamina B1 tiamina, vitamina B6 piridoxina, vitamina

C ácido ascórbico.

Infelizmente o ACTH não teve 100% de sucesso, mas as crises diminuíram

bastante. As demais medicações conseguem controlar as convulsões que

praticamente cessaram. Os espasmos ainda são notados no comportamento

diário da Linda, porém, ele está sempre ligado com a parte emocional dela. É

uma maneira que ela “encontrou” de reclamar quando algo a incomoda.

Atualmente, utiliza os medicamentos: lamictal® - lamotrigina, nitrazepol® -

nitrazepam e fortini® multi fiber – supporte.

A Linda possui maior sensibilidade frente a algumas doenças. Geralmente,

as gripes são mais freqüentes e, se não forem logo cuidadas, viram pneumonia,

devido a utilização de alguns anticonvulsivos, que aumentam a secreção. Como a

posição que ela fica é mais deitada, há dificuldade de mobilizar a secreção. Esses

problemas clínicos não estão diretamente ligados à síndrome, porém algumas

crianças são mais sensíveis que as outras.

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No início de 2004 Linda, depois de vários episódios de pneumonia, chegou

a nove quilos, havendo necessidade de submeter-se a gastronomia, que foi

realizada em outubro do mesmo ano, cirurgia esta realizada com sucesso no

Hospital Central da Aeronáutica. Linda passou após a cirurgia a pesar dezessete

quilos, engordando 08 kg.

Há um ano Linda se trata com homeopatia e, de lá pra cá, os seus ganhos

foram muito importantes para sua melhora. A partir do momento em que os

problemas clínicos foram resolvidos, sem a necessidade de estar sempre no

hospital, ter que aspirá-la, febre, etc., o problema neurológico ficou controlado.

Para que o trabalho de reabilitação possa se desenvolver, é fundamental

uma estreita parceria com a família, onde as orientações que são dadas para

serem feitas em casa. A família luta por sua recuperação e bem estar.

A Linda hoje se compara a um bebê de quatro meses. Ela não senta, não

anda, não fala. Consegue sustentar o tronco desde que esteja amparada. Sabe-se

que ela escuta muito bem e enxerga, talvez não com precisão, mas percebe

quando entram no quarto, mesmo sem fazer barulho, e costuma olhar também

para o lado em que chamam seu nome.

Pode comer de tudo, desde que batido no liquidificador ou bem amassado.

Ela possui dificuldade de engolir e mastigar. Ela consegue sugar bem sem

engasgar, mas deve-se ter muito cuidado nas horas de alimentação, colocando-a

bem sentada.

Hoje é atendida por uma equipe multidisciplinar, visando um melhor

desenvolvimento do seu quadro e sua melhor reabilitação. Entre eles estão:

pediatra, odontopediatra, neuropediatra e homeopata. Ela faz tratamento no HCA

– Hospital Central da Aeronáutica, na clínica TOPFISIO – Fisioterapia e Terapias.

Tratamento atual de Linda

Desde de 1999, Linda encontra-se em atendimento multidisciplinar diário

na TOPFISIO – Fisioterapia e Terapias. Fazendo um trabalho de Fisioterapia,

Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia e Psicomotricidade.

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O primeiro impacto

Com a descoberta de uma doença, ainda mais quando esta atinge uma

criança na família, os pais e irmãos enfrentam uma espécie de luto, pois há aquele

medo da perda, como podemos perceber na fala abaixo. Neste tema, aparecem

os mecanismos de enfrentamento de situações de crise descritos por Kenner

(2001), tais como:

Pesar: Esta reação aparece claramente, pois os pais e outros familiares

devem adaptar-se lentamente ou experimentar dor e ansiedade esmagadora. O

pesar se caracteriza pelo choque, perda da referência e desorientação.

Quando recebemos a notícia de que Linda tinha esta síndrome ficamos

muito desesperados, porque a pediatra já havia nos preparado para uma possível

convulsão, e já que ela estava indo tão bem, era difícil aceitar que passaríamos

por tudo outra vez.

Culpa:

que manifesta-se pela sensação de angústia e abandono, onde os

pais perguntam-se onde erraram para provocar a anormalidade ou o que deixaram

de fazer para evitá-la.

Fiquei com sensação de angústia, de derrota, de abandono e muita

tristeza, pois o neuropediatra disse que as crises eram muito difíceis de controlar.

Negociação:

nesta fase, os pais podem estar propensos a fazer alguma

coisa que possa ajudar o filho na sua recuperação, buscando formas novas de

tratamento ou cruzar os dedos e rezar.

Fazíamos muitas perguntas aos médicos, principalmente para o

neuropediatra. Ele nos dizia que nós nunca poderíamos esperar que ela se

portasse como as outras crianças, ela seria diferente, lembrando que cada criança

reagiria de uma maneira.

Negação:

neste estágio os pais tentam negar a realidade ou a gravidade

da condição de seu filho.

Perguntávamos para o neuropediatra se aquelas crises não poderiam ter

outra causa.

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Aceitação: essa fase é marcada pelo reatamento da atividade normal

cotidiana. Apesar de ser uma situação crônica, a aceitação plena torna-se difícil,

necessitando de adaptações e enfrentamentos contínuos.

Depois de alguns dias de tratamento decidimos que era uma questão de

tempo, e só atrapalharíamos, se ficássemos ansiosos e descontrolados.

As orientações recebidas pelos profissionais da saúde

Os profissionais envolvidos com a família e a criança devem proporcionar

o auxílio e as orientações necessárias.

A pediatra sempre se fez uma profissional muito presente. Logo que Linda

nasceu ela já esclareceu tudo que havia acontecido, o que poderia apresentar, as

dificuldades que encontraríamos... Enfim, nos preparou para a batalha que

enfrentaríamos.

Busca-se cuidado humanizado, o que engrandece como “pessoa”. Os

profissionais que atuaram junto a família, pois, a cada dia que passa, se fala em

humanização do atendimento em saúde. Concordando com o que foi

apresentado, Bazon (2004) cita que humanizar em saúde é resgatar o respeito à

vida humana, levando-se em consideração as circunstâncias sociais, éticas,

educacionais e psíquicas presentes em todos os relacionamentos humanos, e

assim buscar a importância dos aspectos emocionais.

O enfrentamento do problema

Em se tratando de uma encefalopatia, o tempo é considerado crucial, pois

tão logo seja iniciado o tratamento medicamentoso e a habilitação (termo usado

para reabilitação em crianças), maior a probabilidade de reestruturação cerebral.

De acordo com Chaud et al. (1999), devido à mudança do papel dos pais,

quando deixam de prestar assistência à criança, em função da hospitalização,

apresentam necessidade de compreender a situação e o tratamento do filho, sentir

novamente que são capazes de dar assistência, ter oportunidade para expor seus

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sentimentos sobre a hospitalização, obter informações precisas a respeito de

diagnóstico, tratamentos e cuidados específicos ao seu filho.

Rezávamos muito pedindo a Deus para que a Nossa Linda reagisse, até

que um dia Ele escutou! Pois, Linda começou a apresentar melhoras, cessaram as

crises.

Muitas vezes as pessoas buscam na fé uma forma de superar suas

dificuldades, bem como uma maneira de minimizar os problemas que trazem a

doença, principalmente quando envolve os filhos.

A fé auxilia na aceitação e ao mesmo tempo dá forças para que

possamos ajudar outras pessoas que enfrentam tal problemática.

Logo que Linda nasceu, a pediatra falou que de repente ela iria precisar

de fisioterapia. Foi um choque, acho que naquela hora percebemos que ela

poderia mesmo ter alguma coisa. Depois que ela recebeu alta, a pediatra

encaminhou-a para um centro de reabilitação próximo a nossa casa, Pestalozi

Niterói-RJ. O primeiro contato foi com a assistente social que, após uma longa

conversa, nos agendou com os fisioterapeutas para o início do tratamento.

Aqui constatamos o quanto é saudável e proveitosa a aceitação pois, após

todos os obstáculos, Linda foi encaminhada a um serviço de estimulação precoce

(CENTRINHO), com vistas ao seu desenvolvimento e melhor qualidade de vida.

Acreditamos, na verdade, que os pais, mesmo em casos de

comprometimento gravíssimo, desejam para seus filhos uma vida de vitórias,

mesmo que estas sejam um sorriso, um piscar de olhos, um rolar no chão... enfim,

a equipe deve sempre valorizar o sentimento dos pais, pois aquela criança,

mesmo com seqüelas, será imensamente amada.

Já Bonamigo (2001), reforça a necessidade de estimular a criança

utilizando estímulos do ambiente, que são ricos em qualidade e quantidade, o que

determina um maior desenvolvimento de seus potenciais, fazendo com que estas

respondam ao estímulo recebido.

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O enfrentamento da família

No início da experiência, tudo é muito novo e triste. Mas, com o passar do

tempo, há os cuidados e principalmente, o amor mútuo. As peças vão se

encaixando e a vida vai tomando o seu rumo especial. Apesar das dificuldades

financeiras, disponibilidade para tratamentos, a dor de ver uma criança ingerindo

tantas medicações, existem aqueles sorrisos, aqueles beijos, aqueles abraços e é

esta hora que compensa.

A base para o processo de vivência junto a uma criança especial deve ser

sólida, constituída de aspectos positivos. Isto aparece na forma como a família

encara o problema, vendo que as crises que chegaram, foram superadas,

deixando que o sentimento de compaixão e amor tomasse o lugar da dor.

Hoje, Linda tem um atraso psicomotor importante, não caminha e não fala.

Está fazendo fisioterapia três vezes por semana.

Para Haerter (2003), a relação afetiva pais-criança é extremamente

necessária e importante para seu desenvolvimento, pois é a partir daí que o

mundo começará a ter significado.

Ao entender a Síndrome de West, ficou mais fácil de lidar com Linda, com

os preconceitos e as curiosidades da sociedade.

Considerações finais

Realizar um relato de experiência sobre a minha filha, mobilizou-me

vários sentimentos, proporcionando-me possibilidades de reconhecê-los e

aprender a lidar com os mesmos, especialmente nas situações nas quais as

pessoas perguntam e pedem para que eu conte o que aconteceu.

Considerei esta experiência como um desafio que se apresentou a mim,

mesmo sendo orientado a mudar de campo para aplicação de meu antigo projeto,

mesmo me afastando do tema da minha graduação. Não encontrava outra saída

se não pesquisar sobre a epilepsia, mas precisava de alguém para contar sua

história. Não encontrando, precisei, então, criar coragem e colocar no papel

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episódios e experiências, algumas positivas e outras negativas, vivenciadas com

minha filha Linda.

Foi um grande desafio pois, até então, não me sentia preparado para

expor com clareza os fatos.

A busca pela patologia tornou-me mais seguro, pois aprendi o quanto o

prognóstico varia de criança para criança, não havendo uma regra para a

evolução do caso. Agora vejo que há uma base científica e um sentido para ela

estar evoluindo ao que se referem às partes motora e cognitiva.

Acredito que minha vivência será benéfica, tanto nos aspectos

emocionais, quanto nos técnicos, educando-me para prestar cuidados a pessoas

com necessidades especiais, prestando orientações e encaminhamentos.

Finalizando minhas reflexões, percebo que acrescento à minha formação

como futuro profissional de serviço social uma magnífica experiência de aprender

a cuidar dos seres humanos com sensibilidade e amor.

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