Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
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Teoria versus prática no ensino-aprendizagem de Ciências: barreiras para uma
interdisciplina
Jozimar Carlos Szczepanik Universidade Federal de Santa Catarina / Universidade Comunitária da Região de Chapecó – [email protected]
Liane Keitel Universidade Comunitária da Região de Chapecó – [email protected]
Eixo temático: Teoria e Prática da Interdisciplinaridade
Resumo
Determinados assuntos são muitas vezes abordados por somente uma disciplina, pois são mais específicos, no entanto, a
prática interdisciplinar pressupõe que dimensões diferentes dos objetos de estudo sejam trabalhadas em sala de aula para evitar a
fragmentação dos temas, para que dessa forma a complexidade dos conteúdos seja alcançada. Este trabalho é um relato de um
estudo experimental conduzido como parte de um trabalho de conclusão de curso de graduação em licenciatura em Ciências
Biológicas. A coleta de dados, realizada no segundo semestre de 2009, ocorreu in loco em uma turma de 7ª série (7° ano) do
Ensino Fundamental de uma escola de educação pública de Chapecó-SC. Foi realizada uma caracterização da disciplina de
Ciências Naturais da turma e de seu professor titular. Foram empregadas como ferramentas a observação participante em sala de
aula, a análise documental do plano de ensino do professor e do livro didático da turma, e uma entrevista semi-estruturada com o
professor da disciplina. Objetivou-se analisar a teoria e prática interdisciplinares do processo de ensino-aprendizagem e sua
correspondência. Utilizou-se como veículo para isso a temática do corpo humano e saúde, tentando responder como ocorre o
processo de ensino-aprendizagem baseado na perspectiva interdisciplinar a partir da abordagem do professor em sala. Dessa forma
foram caracterizadas as aulas, contabilizando estratégias e tópicos de conteúdo utilizados pelo professor observando as dimensões
de conhecimento (sociocultural, orgânica, ambiental e psíquica) que a temática do corpo humano e saúde deve abranger para
Ciências Naturais segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Dentro dessa temática foram analisados dois temas que
foram abordados por completo durante os dias de observação participante: o tecido epitelial e o sistema ósseo. Os dados revelaram
que embora as estratégias de ensino-aprendizagem do professor sejam diversificadas, 75% dos tópicos sobre tecido epitelial e
100% sobre sistema ósseo são pertencentes somente à dimensão orgânica, ou seja, relacionados essencialmente às características e
conceitos técnicos e científicos da temática, revelando uma abordagem fragmentada, o que também o é por parte do livro didático,
embora todas as bases teóricas como o plano de ensino e os PCNs assinalem o contrário. Pelas respostas obtidas com a entrevista,
os resultados possivelmente sejam reflexo do cotidiano num ambiente escolar que dificulta um diálogo profissional entre
professores e a ausência de incentivos, tempo e oportunidades impossibilitando de repensar em estratégias eficientes de ensino-
aprendizagem interdisciplinares associados à prática docente. E ainda isso nos remete a um círculo vicioso em que professores
formados dessa maneira tendem a reproduzir o mesmo modelo com seus alunos.
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INTRODUÇÃO
Os fenômenos da natureza são complexos e essa complexidade só é devidamente compreendida a
partir de um estudo interdisciplinar desses fenômenos. Baseados em Morin (2002), vemos que os temas ou
assuntos do processo de ensino-aprendizagem, devem ser compreendidos através de uma perspectiva
interdisciplinar, para que se mostrem elementos que revelem a realidade da educação interdisciplinar na
disciplina de Ciências capaz de envolver a complexidade dos conteúdos trabalhados. E então, a partir desses
elementos revelados, são permitidas discussões a cerca do tema interdisciplinaridade no contexto da
complexidade dos conteúdos trabalhados em sala de aula.
Conforme o que pressupõe a interdisciplinaridade e também o que se apresenta nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), é muito importante que a temática do corpo humano e suas implicações na
saúde não sejam trabalhados em sala de aula de forma mecânica e fechada sobre si mesmos para a disciplina
de Ciências. A questão do corpo humano, e ainda mais sobre a saúde que é um tema bastante diversificado,
não se restringe somente ao seu entendimento físico-químico e biológico. Assim como outros temas, o corpo
humano não possui significado somente nas ciências, possui significados simbólicos, culturais (sociais),
históricos, regionais, etc. Todos esses significados nem sempre contemplados por outras disciplinas, ficando
a cargo da disciplina de Ciências Naturais, são pertinentes para um entendimento da complexidade do corpo
humano, que potencializam o estudo de Ciências e evitam a fragmentação de seus temas. Portanto, também
é importante conhecer a abordagem dessa temática no processo de ensino e aprendizagem. (Parâmetros
Curriculares Nacionais, 1998).
Desde os Parâmetros Curriculares Nacionais de 1998, é afirmado que para o quarto ciclo de ensino-
aprendizagem, é um critério e pressuposto da área de Ciências Naturais o potencial de desenvolver a
interdisciplinaridade ou a multidisciplinaridade. E a Proposta Curricular de Santa Catarina (1998), afirma
para a Educação no estado de Santa Catarina, que o ensino de Ciências é uma alfabetização científica e
tecnológica que deveram permitir que o aluno estabeleça conexões com os fenômenos naturais e sócio-
culturais, e a partir disso interprete de forma mais elaborada a natureza e também a sociedade. A partir disso,
formam-se bases que objetivam nos distanciar de uma educação fragmentada. As mesmas bases que são
consideradas agora neste estudo.
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Quanto à temática do corpo humano e saúde, os PCNs se preocupam com a abordagem de seus
conteúdos em sala de aula sob dois âmbitos: O âmbito ligado aos constituintes físicos concretos do corpo
humano, que diz que “ao se enfocar anatomia e fisiologia humanas é necessário selecionar conteúdos que
possibilitem ao estudante compreender o corpo como um todo integrado, não como somatório de partes”
(Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998, p. 45); afirmando ainda, que para se entender as particularidades
do corpo humano, é necessário às vezes discernir entre as diferentes partes constituintes do mesmo. Mas em
relação a isso faz um alerta, dizendo que a “abordagem isolada não é suficiente para a compreensão da idéia
do corpo como um sistema” (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998, p. 45). O outro âmbito diz respeito
da extensão de conhecimento gerado pela temática do corpo humano, que então, também engloba os seus
aspectos de saúde envolvidos, complementando a temática e a relacionando com outras áreas do
conhecimento, afirmando que “para que o aluno compreenda a integridade do corpo, é importante
estabelecer relações entre os vários processos vitais, e destes com o ambiente, a cultura ou a sociedade. São
essas relações que estão expressas na arquitetura do corpo e faz dele uma totalidade”. (Parâmetros
Curriculares Nacionais, 1998, p. 45). (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998).
Para expor a importância de um trabalho como este, alicerçado na interdisciplinaridade do processo
de ensino-aprendizagem realizado em sala de aula e com o enfoque na ação do professor, é necessário
explicitar a importância da interdisciplinaridade, o porquê da pesquisa em sala de aula e o porquê baseado na
ação do professor. Para isso apóia-se em algumas afirmações: Conforme Morin (2002), afirma que quando a
complexidade do mundo é separada em fragmentos, assim como a separação das áreas do conhecimento em
disciplinas, os problemas desse mundo que são multidimensionais, também são fragmentados se tornando
problemas unidimensionais, isso atrofia as possibilidades de compreensão e visão crítica do mundo, visto
que as disciplinas impõem barreiras num pensar global, consequentemente, a resolução dos problemas desse
mundo não são totalmente suportadas perante esses termos e também não permite uma visão a longo prazo.
Sendo que, quanto mais os problemas se tornam multidimensionais, maior é a incapacidade de pensar sua
multidimensionalidade para resolvê-los. Nisso a interdisciplinaridade atua para propiciar meios para a
resolução dos problemas gerados por essa fragmentação. Por essa razão, “a interdisciplinaridade é uma
exigência natural e interna das ciências, no sentido de uma melhor compreensão da realidade que elas nos
fazem conhecer. Impõe-se tanto à formação do homem como às necessidades de ação, principalmente do
educador.” (FAZENDA, 2000, p. 91). O porquê da pesquisa em sala de aula: “[...] Em se tratando da
explicação de uma teoria da interdisciplinaridade, as pesquisas sobre sala de aula adquirem, a nosso ver,
uma importância primordial, já que é a sala de aula o locus por excelência do conhecimento interdisciplinar
– onde ele habita.” (FAZENDA, 2000, p. 61). O porquê baseado na ação do professor: O que está sendo
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investigado é a interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem, esse processo se dá por
estratégias que se apóiam em metodologias as quais é o professor o detentor, o professor, pois:
A metodologia interdisciplinar em seu exercício requer como pressuposto uma atitude especial ante o
conhecimento, que se evidencia no reconhecimento das competências, incompetências, possibilidades
e limites da própria disciplina e de seus agentes, no conhecimento e na valorização suficientes das
demais disciplinas e dos que a sustentam [...]. (FAZENDA, 2000, p. 69).
A partir disso, este trabalho apresenta uma caracterização in loco da disciplina de Ciências Naturais
de uma turma de 7ª série (7° ano) do Ensino Fundamental e de seu respectivo professor titular, pertencentes
a uma escola de educação pública, objetivando-se analisar a teoria e prática interdisciplinares do processo de
ensino-aprendizagem e sua correspondência. É resultado de um estudo experimental que foi conduzido
como parte de um trabalho de conclusão de curso de graduação em licenciatura em Ciências Biológicas
durante o segundo semestre de 2009. Não temos, por meio deste, a pretensão de afirmar decisivamente a
presença ou a ausência da interdisciplinaridade na disciplina de Ciências Naturais da turma em questão,
simplesmente baseados na experiência vivida durante a coleta dos dados; como também, não é nossa
intenção vir a discutir o conceito do que seria uma interdisciplina e terminologias relacionadas à
interdisciplinaridade. Mas sim, nosso objetivo foi tentar demonstrar o que acreditamos contribuir na
caracterização de uma interdisciplina, ou em outras palavras, uma disciplina de caráter interdisciplinar. Para
isso, baseamo-nos principalmente em pressupostos teóricos dos Parâmetros Curriculares Nacionais que
objetivam direcionar a prática docente interdisciplinar. E a prática docente é o que acreditamos validar ou
não a interdisciplinaridade a qual concede a identidade do que de fato seria uma interdisciplina.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O ambiente escolar e a amostra
Como a grande maioria dos alunos na Educação brasileira frequenta o sistema público, no intuito de
tornar a pesquisa mais representativa, foi escolhida uma escola de educação pública, para que se fosse
realizado o reconhecimento do processo de Ensino-Aprendizagem de Ciências no Ensino Fundamental. Para
isso foi escolhida uma Escola de Chapecó – SC, sendo esta uma instituição vinculada ao governo estadual.
A mesma oferece Educação Básica, formada pela Educação Infantil (Pré-Escolar), Ensino Fundamental,
Ensino Médio e o programa de educação especial SAEDE/DM. Embora a escola esteja localizada em um
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bairro da área urbana ela recebe alunos de outros bairros e também alunos da área rural, desses, alguns
moram até mais de 24 quilômetros distante da escola. Portanto, uma escola com educandos de realidades
diferentes.
A amostra de estudo foi uma turma de sétima série e o respectivo professor titular de Ciências
Naturais dessa turma. A turma de sétima série era composta por 25 a 30 alunos. Conforme o PPP da escola,
o método de avaliação dos alunos é realizado através de notas bimestrais e cabe ao professor a definição do
processo pelo qual os alunos serão avaliados pelas circunstâncias que o professor julgar cabível, que
normalmente decorrem com provas escritas, trabalhos temáticos e ou através da participação nas atividades
executadas em sala de aula que dará elementos para o professor avaliar os alunos.
Um método de interpretar a prática de Ciências
O conhecimento e a prática interdisciplinares são subjetivos, não podem ser diretamente medidos,
nem atribuí-los valores estáticos, visto que a importância dos conhecimentos e das formas de ensino-
aprendizagem podem variar conforme a época, a sociedade, a idade e a variadas implicações particulares.
Supondo a presença da interdisciplinaridade no ambiente da sala de aula, nosso objetivo primordial com esse
estudo era descobrir o quanto ela estaria presente nesse ambiente, ou seja, qual é a frequência do exercício
interdisciplinar durante as aulas de Ciências Naturais, caracterizando assim, a sua prática no sentido de
confrontá-la com a teoria que a sustenta. Para que isso fosse possível era necessário “medir” a
interdisciplinaridade, mesmo que de forma qualitativamente subjetiva. Para realizar essa mensuração da
prática docente interdisciplinar, através de um modo que não fosse vago demais e tão relativo que impedisse
a avaliação dos dados obtidos, utilizamos pressupostos teóricos dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs). Como os dados coletados faziam parte da temática do corpo humano e saúde para o Ensino
Fundamental, utilizamos como critérios de avaliação, as dimensões de conhecimento que essa temática deve
abranger no processo de ensino-aprendizagem segundo os PCNs, analisando os temas pertencentes a essa
temática através de seus assuntos desenvolvidos em aula.
E sobre a temática do corpo humano e saúde, observa-se a interdisciplinaridade de forma clara nos
Parâmetros Curriculares Nacionais, pois como os mesmos afirmam para essa temática, é importante que o
aluno detenha a compreensão do corpo humano como um todo e da saúde humana, estando esses
conhecimentos integrados em suas dimensões sociocultural, orgânica, ambiental e psíquica (veja o
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diagrama abaixo na figura 1), ou seja, os conteúdos da temática, assim como importantes para outras
temáticas, devem ser abordados em sua complexidade. (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998, p. 35).
Figura 1: Diagrama das dimensões de conhecimento que a temática do corpo humano e saúde deve abranger segundo os
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998).
Embora as dimensões de conhecimento, que segundo os PCNs, a temática do corpo humano e saúde
deve abranger em sala de aula não sejam aprofundadas em conceito e delineadas muito além nos mesmos,
mas sim, discutidas criticamente e as subentendendo ao longo de seu texto, a partir do pressuposto teórico
das dimensões de conhecimento apresentadas por ele, encontramo-nos de posse, então, de uma ferramenta
para categorizar os conteúdos desenvolvidos pelas estratégias de ensino-aprendizagem do professor no
decorrer de suas aulas, e dessa forma, qualificar e quantificar os assuntos desenvolvidos pela turma de
sétima série de maneira não arbitrária, embora dependente também da interpretação do avaliador, cuja
função, nesse caso, seria categorizar os assuntos às dimensões (sociocultural, orgânica, ambiental e psíquica)
que essencialmente tais assuntos mais se identificariam, estando ciente da possibilidade de certos assuntos
abarcarem mais do que uma ou todas as quatro dimensões de conhecimento. Assim, a interdisciplinaridade
dos temas trabalhados em sala seria analisada baseada no grau de sua fragmentação quanto às dimensões de
conhecimento que os temas integram, considerando a regra de que quanto mais dimensões os assuntos de
um tema abrangem menos fragmentado será o tema.
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A partir dessa mensuração dos assuntos seria possível também discorrer sobre suas relações causais
com o desenvolvimento da temática em aula. Os dados para essas análises foram provenientes de observação
participante, na qual o observador também participou como sujeito avaliador dos dados colhidos a partir da
observação das aulas. Nossa intenção com essa abordagem não foi o de dividir os assuntos, por essência
indissociáveis, trabalhados em conjunto pelo professor e turma para uma classificação a título de sua mera
avaliação, mas, nossa intenção foi a de conferir identidade a esses assuntos baseados em princípios que
atualmente norteiam o nosso fazer interdisciplinar, para que através desse olhar, chegássemos a um método
próprio de interpretar as aulas de Ciências.
A prática da observação participante
Quanto à prática docente, além de seus fundamentos teóricos, nosso objetivo era analisar a sua
prática de fato, portanto, nos dispomos a exercer o método da observação participante da disciplina de
Ciências Naturais da turma de sétima série, para que através desse modo fosse possível fazer a
caracterização do processo de ensino-aprendizagem situado no contexto de ação social da sala de aula, que é
onde a interdisciplinaridade se constrói. O método ocorreu durante um total de cinco dias, no intervalo do
dia 15 de setembro até o dia 30 de setembro de 2009. Cada dia de observação se constituiu de uma ou duas
aulas de 45 minutos cada, em que o professor titular da disciplina gentilmente permitiu a presença de um
observador (que não interferiu com falas) durante suas aulas. Em nenhum momento foi revelado para o
professor ou para a turma o objetivo ou finalidade da presença do observador, visto que essa prática se
constituiu como parte e continuação do exercício de reconhecimento e vivência do ambiente escolar de
nossa disciplina de estágio da docência. Durante esse intervalo de meio mês de observação participante,
foram observadas sete (07) períodos/aula com a turma, totalizando cinco horas e vinte e cinco minutos de
observação das quais foram analisados dois temas: o tecido epitelial e o sistema ósseo, pertencentes à
temática do corpo humano e saúde que majoritariamente perfaz todo o ano letivo daquela sétima série. De
acordo com o professor, esses dois temas, que integram um plano de ensino modular, foram trabalhados por
completo durante os dias em que houve observação participante, não sendo mais especificamente abordados
no restante do ano. Com a prática de observação participante se objetivou obter o máximo possível de dados
que foram registrados em um diário de campo. Posteriormente, os dados registrados foram utilizados para
categorizar o tema tecido epitelial e o tema sistema ósseo quanto às dimensões de conhecimento que os
mesmos abrangeram durante as aulas observadas.
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As bases da prática
A análise das concepções e fundamentos teóricos que alicerçam e direcionam a prática docente são
essenciais para entendê-la e observar suas correspondências. Para tanto, se fez a análise documental de uma
cópia do plano de ensino do professor, uma análise documental dos capítulos do livro didático utilizados
pelos alunos e professor durante o período em que foi realizada a observação participante. E para que se
pudesse ter uma caracterização menos parcial da turma e professor, almejando uma discussão mais
abrangente da situação em estudo, logo após o último dia de observação participante se fez uma entrevista
semi-estruturada para o professor com as cinco perguntas listadas abaixo:
1. Durante o desenvolvimento das aulas, como você observa a sua interação com os alunos e deles com
você no trabalho com os conteúdos?
2. Quais são os métodos ou estratégias de ensino que você percebe serem os mais efetivos na
construção do conhecimento em sala de aula? Justifique.
3. Você costuma dialogar com professores de outras disciplinas para desenvolver atividades ou
construir estratégias para a disciplina que você leciona?
4. Você acha importante articular diferentes conteúdos e também ligá-los ao cotidiano dos alunos? Por
quê?
5. Você percebe que em certo(s) momento(s) no decorrer da aula deve articular conhecimentos para que
o aluno entenda melhor a temática do corpo humano e saúde? Qual momento ou momentos são
esses?
A análise dos capítulos do livro didático e as respostas obtidas com a entrevista semi-estruturada
foram apenas utilizadas em momentos relevantes, para discutir questões especificamente pontuadas no
texto deste trabalho.
RESULTADOS
O plano de ensino
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A análise do plano de ensino é essencial para uma caracterização geral da disciplina de Ciências
Naturais. O plano de ensino é um mapa que teoricamente direciona grande parte da prática do professor.
Além do mais, não podemos basear e aprofundar questões da discussão de benefícios e de elementos das
estratégias de ensino-aprendizagem se não houver uma exploração do que nele consta. O plano de ensino do
professor de Ciências da turma de sétima série deste estudo é realizado no começo do ano letivo e é flexível
durante o mesmo, não sendo planejado aula-a-aula. Entre suas características fundamentais, constam os
objetivos gerais e conteúdos, explorados a seguir:
Objetivos Gerais do plano de ensino: O plano de ensino é composto por quatro objetivos gerais,
que serão observados com que maneiras o professor concretiza esses objetivos de forma interdisciplinar
atendendo a complexidade do tema abordado; O primeiro objetivo é: “Compreender que a ciência não é um
conjunto de conhecimentos definitivamente estabelecido, mas que se modifica ao longo do tempo, buscando
sempre corrigi-lo e aprimorá-lo” – que se refere à característica não estática e definitiva da ciência,
característica essa que é um objetivo a ser atendido através principalmente da didática do professor; O
próximo objetivo: “Aplicar os conhecimentos adquiridos de forma responsável, de modo a contribuir para a
melhoria das condições ambientais, da saúde e das condições gerais de vida de toda a sociedade” – se
percebe ser um objetivo a longo prazo, em que recai com uma responsabilidade inteiramente ao aluno,
portanto, difícil de se constatar já que extrapola as barreiras da escola e do próprio tempo, podendo se
manifestar ao longo da vida do indivíduo de diferentes maneiras, mas mesmo assim, sendo possível de se
perceber dentro da sala de aula através das atitudes observadas e das atividades que os alunos realizam ou
deixam de realizar; O terceiro objetivo: “Conhecer melhor o próprio corpo, valorizando hábitos e atitudes
que contribuam para a saúde individual e coletiva” – é de grande responsabilidade tanto para o professor
quanto para o aluno, para torná-lo concreto. Chamando-se a atenção agora para dois pontos importantes:
leva em consideração não só a saúde individual como a coletiva, o que é um ponto positivo e muito
importante, pois afinal, nós vivemos em sociedade e também mostra a compreensão de entender da
existência e importância não só do “Eu”, mas sim do “Nós”, em que cada pessoa faz parte de um sistema
mais complexo do que si mesmo e seu corpo, que é a sociedade, tornando o entendimento da relação do
indivíduo com a sociedade importante para a compreensão de ambos. Esses pontos, juntamente com o ponto
- “Conhecer melhor o próprio corpo” - do objetivo, são pontos de partida na análise e discussão de como a
complexidade dos conteúdos pode ser trabalhada entre professor e seus alunos; E o último dos objetivos:
“Relacionar o conhecimento científico ao desenvolvimento da tecnologia e às mudanças na sociedade,
entendendo que esse conhecimento é uma parte da cultura e está ligada a fatores políticos, sociais e
econômicos de cada época e que suas aplicações podem servir a interesses diversos” – é de completo e
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evidente caráter interdisciplinar, se percebe presente a meta de descentralização de si mesma de qualquer
tema da disciplina, e sendo um dos objetivos, é um dado importante na análise e discussão dos outros dados
subseqüentes.
Conteúdos do plano de ensino: Dos conteúdos presentes no plano de ensino, listam-se os seguintes:
- Organização geral dos seres vivos;
- Célula;
- Teoria da célula;
- Níveis de organização dos seres vivos;
- Tecidos;
- Tecido epitelial;
- Tecido conjuntivo;
- Tecido muscular;
- Tecido nervoso;
- Alimentação e digestão;
- Carboidratos;
- Proteínas;
- Lipídios;
- Vitaminas;
- Água e sais;
- Alimentação equilibrada;
- Calorias;
- Intoxicação alimentar;
- Desnutrição;
- Sistema digestório;
- Sistema respiratório;
- Sistema circulatório;
- Sistema excretor;
- Sistema nervoso;
- Sistema ósseo;
- Sistema muscular;
- Os órgãos dos sentidos;
- Sistema endócrino ou glandular;
- Sistema reprodutor masculino e
feminino;
- Gravidez;
- Métodos contraceptivos;
- DST;
- As bases da hereditariedade.
A observação participante e o cotidiano das aulas de Ciências
Através dos dias de observação participante na turma, houve a constatação da temática trabalhada,
com a apresentação do corpo humano em seus sistemas, através de diferentes métodos, que foram
considerados como sendo os principais as atividades que demandaram maior tempo de execução, essas
incluem: prática de leitura, elaboração de resumo, elaboração de desenhos, exibição de figuras esquemáticas
(transparências, painéis, figuras do livro), trabalho de pesquisa, elaboração e resolução de questionário e
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dinâmica de grupos. Todos esses métodos alicerçados de alguma forma no livro didático, com exceção do
trabalho de pesquisa que tinha que ser feito através da internet.
O professor utiliza o livro didático como a principal fonte teórica para os alunos, o livro utilizado é o
Ciências Nosso Corpo de Fernando Gewandsznajder (2007). Durante as aulas se percebeu o esforço do
professor em fazer as atividades propostas darem certo, muitas vezes, elas acabavam um pouco frustradas,
mas todas atingiam de alguma forma o seu objetivo, que era a construção efetiva do conhecimento. O
professor diz que um dos problemas do seu trabalho em sala é dependente da sua interação com a turma, em
que quanto mais baixa é a faixa etária dos alunos, mais difícil se torna a interação professor-aluno no sentido
de alcançar os objetivos propostos. Segundo ele, quanto mais novos são os alunos da turma, mais lento é o
aprendizado e há uma desorganização, pois enquanto alguns alunos entendem de um modo, outros entendem
de forma diferente.
Em relação aos assuntos abordados, os dois temas significativos que foram observados por completo
em sala de aula, o tecido epitelial e o sistema ósseo, levaram um tempo de abordagem na turma praticamente
igual em comparação um com o outro. Abaixo diagramaremos esses dois temas os nomeando
respectivamente: Tema 1 e Tema 2.
Tema 1: tecido epitelial - Na abordagem sobre tecido epitelial, as principais estratégias utilizadas
foram baseadas na leitura, resumo, desenho, pesquisa extra-classe, figuras esquemáticas e questionário. E a
partir disso, os assuntos desenvolvidos por essas estratégias integraram-se nas dimensões de abrangência do
conhecimento para a temática do corpo humano e saúde, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais
(1998), formando-se o diagrama abaixo:
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Figura 2: Diagrama das dimensões de conhecimento que o tema 1 (tecido epitelial) abarcou segundo as categorias de dimensão de
conhecimento para a temática do corpo humano e saúde de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998).
Tema 2: sistema ósseo - Na abordagem do sistema ósseo, as principais estratégias utilizadas foram
baseadas na exibição de figuras esquemáticas e em dinâmicas de grupo. E a partir disso, os assuntos
desenvolvidos por essas estratégias integraram-se nas dimensões de abrangência do conhecimento para a
temática do corpo humano e saúde, segundo os PCNs, formando-se então, o segundo diagrama dos temas,
visto abaixo:
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Figura 3: Diagrama das dimensões de conhecimento que o tema 1 (sistema ósseo) abarcou segundo as categorias de dimensão de
conhecimento para a temática do corpo humano e saúde de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998).
DISCUSSÃO
Quando falamos em corpo humano de forma interdisciplinar, está implícito que o que queremos
comunicar não é um ou alguns aspectos a seu respeito, deve levar em consideração a chance de todas e
quaisquer dimensões que o corpo humano possa abranger, pois o corpo humano é muito mais que apenas um
somatório de suas partes, como muitas vezes é apresentado nos livros didáticos. O corpo humano abrange
uma vasta gama de dimensões, ou seja, hábitos de vida, culturas e sentimentos são formados a partir da
vivência, percepção e compreensão do que é o corpo humano e o que ele representa. Então, trabalhar o
conhecimento do corpo humano e seus aspectos de saúde de forma interdisciplinar em sala de aula significa
considerar as dimensões que ele abrange, pois a “interdisciplinaridade é uma atitude, isto é, uma
externalização de uma visão de mundo que, no caso, é holística.” (FAZENDA et al., 2005, p. 22). Ou seja,
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significa também atender de maneira integrada as dimensões sociocultural, orgânica, ambiental e psíquica
defendidas pelos parâmetros curriculares, para a compreensão dos conteúdos em sua complexidade.
Ao analisarmos, neste estudo, desde a base da disciplina de Ciências nos Parâmetros Curriculares
Nacionais, passando por eixos norteadores nas propostas curriculares do estado de Santa Catarina, chegando
até os elementos que compõem o plano de ensino do professor, sobretudo os objetivos de caráter
interdisciplinar, e finalmente sentando na classe em sala de aula e conhecendo as variadas e criativas
estratégias desenvolvidas pelo professor para a sua turma, percebe-se que tudo isso aponta para uma
educação interdisciplinar e integradora da complexidade dos fenômenos e atividades que foram colocadas
sob responsabilidade principal das aulas de Ciências, estudadas e construídas pelo professor e sua turma na
escola. No entanto, ao analisarmos o diagrama do Tema 1 (Figura 2) ou o do Tema 2 (Figura 3),
perceberemos que o que está sendo proposto nas bases da disciplina de Ciências está efetivamente se
apresentando de forma distorcida e incompleta no exercício de sua prática.
Como se percebe nos diagramas, quase a totalidade das ações em que se concentram as estratégias de
ensino-aprendizagem do professor, é pertencente à dimensão orgânica, ou seja, relacionada essencialmente
às características e conceitos técnicos e científicos da temática. Se compararmos os diagramas dos dois
temas, perceberemos um padrão: A temática do corpo humano e saúde, segundo as dimensões de
conhecimento que a temática deve abranger, que constam nos PCNs, está sendo trabalhada em sala de aula
de forma quase que totalmente Orgânica. Essa característica já era esperada ser observada, considerando que
as aulas são fortemente enraizadas no livro didático da turma e a nossa análise nos mostrou que os tópicos
sobre tecido epitelial e sistema ósseo no livro estão, em suma, relacionados à dimensão orgânica, assim
como a maior parte dos seus capítulos. Apesar disso, embora os dois temas tenham ocupado um tempo de
abordagem na turma praticamente igual em comparação um com o outro, o tema 2: Sistema Ósseo, integra
exatamente a totalidade de seus assuntos somente à dimensão orgânica, portanto, é o único dos dois temas
que podemos considerar fragmentado, sob os aspectos tanto quantitativo quanto qualitativo.
O tema 1: Tecido Epitelial (Figura 2) foi o único que abrangeu todas as dimensões de conhecimento,
porém, se não fosse o professor ter mencionado brevemente aos alunos durante a aula a idéia da pele como
sendo um “raio-X” do corpo, sobre que a aparência da pele revela aspectos de saúde e reflete estados de
humor e sentimentos, a dimensão psíquica não seria abrangida nesse caso, ou seja, percebe-se pelos
diagramas que mesmo quando outra dimensão de abrangência, que não a orgânica, é atingida pelo tema, essa
é trabalhada de forma superficial, e como não, também, de forma bastante resumida se for comparado a
quantidade de itens da dimensão orgânica com as outras dimensões que pelas aulas o tema sobre tecido
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epitelial integrou, apresentando no máximo um item na representação de cada dimensão. Portanto, esse tema
é quantitativamente desproporcional quanto aos seus assuntos.
Não podemos afirmar de forma definitiva a presença ou a ausência da interdisciplinaridade em
relação aos temas analisados, já que esse estudo está baseado em apenas uma faceta do processo de ensino-
aprendizagem da disciplina de Ciências na sétima série, e ainda, há características intrínsecas de cada tema,
assim como da disciplina, que estão atreladas às suas abordagens em relação aos seus assuntos que podem
ser limitantes a certas estratégias e finalidades e, portanto, permitem ir a diferentes distâncias através da
prática interdisciplinar, bem como, outras disciplinas podem às vezes adentrar nessas dimensões. No
entanto, a experiência nos mostra que raramente a temática do corpo humano e saúde é contemplada por
outras disciplinas além das Ciências Naturais, assim, nesse estudo podemos afirmar déficits na ação
interdisciplinar, baseados na fragmentação do conhecimento que foi observada, pois, durante o
desenvolvimento da prática docente nos dias de observação, os dados revelam que embora as estratégias de
ensino-aprendizagem do professor sejam diversificadas, 75% dos assuntos sobre tecido epitelial e 100%
sobre sistema ósseo são pertencentes somente à dimensão orgânica.
A partir das informações obtidas com este estudo, extraímos algumas provas in loco do real
desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem analisado, observando que as barreiras para uma
interdisciplina automaticamente se evidenciam em vários pontos, como, por um alicerçamento do professor
em seguir de forma quase inflexível os conteúdos apresentados pelo livro didático, o qual se fundamenta
estritamente através de uma perspectiva principal que é um tratamento técnico-científico das questões
biológicas relacionadas ao corpo humano. Ponto esse, que deve ser superado através de uma mudança na
prática do docente, buscando fontes de conhecimento além do livro didático, independente de qual livro se
tratar, evitando assim, ou no mínimo diminuído, a fragmentação dos tipos de conhecimento que já são
abordados em aula. A superficialidade da abordagem dos conhecimentos de características mais psíquicas,
ambientais e socioculturais é outro ponto a ser superado, visto que quantidade de assuntos reflete em
qualidade dos temas e vice-versa. E por último, mas não menos importante, a importância do diálogo ativo
entre os profissionais da escola.
Além de outros livros e demais recursos, o professor pode dialogar com outros professores para
encontrar elementos para o seu trabalho e utilizar a vivência e conhecimento de outros como fontes de
inspiração para a sua própria prática. Na conversa com o professor do estudo, ele revelou achar muito
importante o docente trabalhar de forma interdisciplinar, articulando diferentes conteúdos, aprendendo no
diálogo com outros profissionais, bem como, ligando as formas didáticas com o cotidiano dos alunos.
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Contudo, ainda em entrevista, o professor revela que não costuma dialogar com professores de outras
disciplinas para desenvolver atividades ou construir estratégias para a disciplina que ele leciona, porque
embora em uma época os professores da escola já tenham tentando, não houve êxito, pois não se tinha tempo
para planejar as atividades, ou seja, os professores só fazem o que já estão habituados a fazer. E conforme o
que o próprio professor diz em entrevista:
Atualmente está muito no individual, antigamente nós professores até tínhamos tempo de fazer
um planejamento de uma forma interdisciplinar, mas agora não temos mais isso. Agora cada
professor vai para a sua sala e trabalha com a sua metodologia. Não se tem esse momento de
diálogo entre os professores. (Professor de Ciências de sétima série).
A falta de comunicação entre professores de diferentes disciplinas dificulta o desenvolvimento de
projetos interdisciplinares para os alunos. E sabemos que, “somente o trabalho em equipe multi ou
interdisciplinar é capaz de permitir uma divisão racional do trabalho, aumentando, assim, sua eficácia e sua
produtividade” (JAPIASSU, 1976, p. 41). Consequentemente, isso pode acarretar outros problemas de
ordem superior, percebendo que a não comunicação entre os professores distancia a escola e a educação dos
educandos da realidade da comunidade da qual fazem parte, visto que a comunidade é um mundo complexo,
com problemas complexos, e uma única disciplina escolar é incapaz de transmitir soluções que sejam
suficientes para auxiliar a resolução de tais problemas, ainda mais quando as disciplinas escolares são
automáticas em seus conteúdos e cegas quanto à realidade local. Com isso o que exige uma prática
interdisciplinar ativa é que cada especialista (professor) transcenda sua própria área sabendo dos seus limites
para acolher os benefícios de outras áreas, para que junto a essas chegue aos seus objetivos e construa a sua
finalidade, e assim, seus alunos alcancem conhecimentos através de uma concepção holística.
Se segundo Morin (2002), uma fragmentação na educação desde a escola primária é capaz de fazer
mentes jovens perderem as suas próprias aptidões naturais em entender os conhecimentos em sua
complexidade. Naturalmente, as idéias de uma mente já adulta baseadas a partir dessa formação, tendem a
reproduzir e a conceber um conhecimento fragmentado. Ou seja, da escola primária, passando pelos diversos
estágios de ensino, chegando até na graduação superior, e deste, partindo novamente para a escola, com os
professores, carregando uma mentalidade fragmentada do conhecimento, cria um “círculo vicioso”. Mas se
mesmo assim, inserido nessa realidade, as tentativas dos professores (diálogo) de fugir desse “círculo
vicioso” da sua profissão, forem sufocadas pelo próprio cotidiano da escola que não lhes permitem repensar
e aprimorar as suas didáticas, torna-se então difícil, explorar uma temática, como a do corpo humano e saúde
de maneira interdisciplinar, competente em envolver a complexidade do seu conteúdo. Assim, nota-se que
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há realmente barreiras, ausências e talvez até excessos no processo de ensino-aprendizagem (Figura 4) no
intuito de atingir as dimensões dos conteúdos.
Figura 4: Representação de barreira, ausências e excesso nos diagramas das dimensões de conhecimento que os temas se
configuram para este estudo baseada em categorias de dimensão de conhecimentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1998).
A partir de uma mensuração da fragmentação de conhecimentos, através deste trabalho fica mais do
que claro a já conhecida dicotomia discordante existente entre a teoria e a prática no ensino-aprendizagem
de Ciências, e que a própria formação, hábitos e cotidiano dos professores no ambiente escolar agem como
fatores que contribuem para um processo de ensino-aprendizagem fragmentado. Portanto, este estudo
sinaliza para que ocorram mudanças principalmente no que diz respeito à formação, hábitos e cotidiano
docentes, talvez intensificando o debate e práticas que coloquem em evidência a importância da
interdisciplinaridade dentro do próprio ambiente escolar, de uma maneira que ali surtam efeitos e que, no
sentido de uma educação mais integradora, esses efeitos sejam eficazes em sala de aula, porque pouco
adianta avanços teóricos na interdisciplinaridade se a sua prática não muda.
REFERÊNCIAS
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KEITEL, Liane. Desafios epistemológicos na construção da inter e transdisciplinaridade: um estudo a
partir de paradigmas da ecologia. 2008. Dissertação (Mestrado). Universidade Comunitária Regional de
Chapecó, 2008.
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Proposta curricular de Santa
Catarina: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio: Temas multidisciplinares. Florianópolis;
COGEN, 1998.