SIMULADORES NO ENSINO DA CONTABILIDADE: ENTERPRISE SIMULATOR:
CASO DE ESTUDO DO INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E
ADMINISTRAÇÃO DE COIMBRA
Pedro Filipe Sá Silva
Assistente convidado do 1º Triénio
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra
Maria de Fátima Travassos Conde
Equiparada a Professor Adjunto
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra
Jorge Humberto Vaz Ribeiro
Equiparado a Assistente do 2º Triénio
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra
António Rui Trigo Ribeiro
Professor Adjunto
Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra
Área Temática: G) Novas Tecnologias e Contabilidade
Palavras chave:Ensino, Contabilidade, Simulação Empresarial, Enterprise Simulator.
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SIMULADORES NO ENSINO DA CONTABILIDADE: ENTERPRISE SIMULATOR: CASO DE ESTUDO DO INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E
ADMINISTRAÇÃO DE COIMBRA
Resumo
Aproximaro mundo empresarial do mundo académico foi sempre uma preocupação
das escolas de contabilidade e gestão, particularmente do ISCAC, que se traduz na
existência de Unidades Curriculares de Simulação Empresarial, que visam simular a
realidade empresarial. Não obstante se utilizarem ferramentas informáticas para o
registo de transações como sistemas ERP surgiu a necessidade de criar uma
ferramenta informática – o Enterprise Simulator - que permitisse automatizar e
sistematizar as diferentes tarefas a realizar pelos alunos no âmbito da Unidade
Curricular, como sejam, operações comerciais (compra/venda de produtos/serviços),
bancárias(depósitos, pagamentos e transferências bancárias) e fiscais (entrega do
IVA).
Resumen
Llevar el mundo de los negocios a la academia siempre ha sido una preocupación de
las escuelas de contabilidad y gestión, en particular ISCAC, que se traducen la
existencia de unidades curriculares disimulación empresarial, diseñado para simular el
mundo dos negocio. Las herramientas que se utilizan para registrar las transacciones,
como los sistemas ERP, fue la necesidad de crear una herramienta de software–
Enterprise Simulator - permitiendo automatizar y organizar las distintas tareas a ser
emprendidas por los estudiantes en el curso, como por ejemplo, las transacciones
comerciales(compra/venta de productos), bancarias (depósitos y transferencias
bancarias) e impuestos.
Introdução
Num mercado de trabalho cada vez mais exigente, principalmente para quem inicia o
seu percurso profissional, as instituições de ensino desempenham um papel
fundamental na preparação parao mundo empresarial.A crescente complexidade do
tecido empresarial torna este desafio cada vez mais ambicioso. A Unidade Curricular
(UC) de Simulação Empresarial (SE) materializa esse esforço por parte das escolas de
contabilidade e de gestão, tentando importar para a sala de aula a realidade
empresarial. Nesta UC são realizadas diversas operações contabilísticas, recorrendo a
ferramentas informáticas comummente utilizadas nas empresas, como por exemplo,
os sistemas EnterpriseResourcePlanning(ERP). Além destas ferramentas, os
profissionais da contabilidade também contactam com ferramentas exteriores à
empresa como, por exemplo, o homebanking e ferramentas de e-
government.Contudo, estas ferramentas não estão disponíveis para uso educacional,
pelo que é preciso simular a sua utilização. Não obstante se poder criar procedimentos
suportados pelo papel para simular a execução de operações nessas ferramentas,
como por exemplo uma transferência bancária, surgiu a ideia de se criar um simulador
empresarial, o Enterprise Simulator(disponível em www.enterprisesimulator.com), que
permitisse aos alunos experimentar, ainda que num ambiente simulado, a utilização
dessas mesmas ferramentas. Assim, oEnterprise Simulator é um simulador que visa
imitar as principais operações comerciais, bancárias e fiscais. Este projecto procura
promover o contacto dos alunos de contabilidade e gestão com as principais
ferramentas tecnológicas atualmente utilizadas noquotidiano empresarial (e-
commerce, homebanking e e-government).
O presente trabalho inicia com o enquadramento sobre o contributo da simulação no
ensino, descrevendo posteriormente o funcionamento da UC de SE do Instituto
Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC) e do simulador
Enterprise Simulator. Depois são descritos alguns resultados dos três anos de
utilização do EnterpriseSimulator no ISCAC.Finalmentesão apresentadas as
considerações finais, onde é feita uma síntese do trabalho desenvolvidoe apontados
alguns trabalhos a desenvolver no futuro.
Simulação no ensino
A Simulação é amplamente utilizada e já demonstrou ser uma excelente ferramenta
em diversas áreas como, por exemplo, sistemas de produção (p. ex.,em otimização de
linhas de produção e logística), sistemas públicos (p. ex.,na previsão do tempo),
sistemas militares (p. ex.,em simuladores de voo e de cenários de guerra), sistemas
de transporte (p. ex., naotimização de rotas de transporte), sistemas computacionais
(p. ex., em jogos de computador) entre muitos outros(Aldrich 2005; Silva 2010; Silva,
Trigo et al. 2010; Silva, Pedrosa et al. 2011; Silva, Trigo et al. 2011). As áreas de
aplicação são praticamente ilimitadas (Gogg and Mott 1993).
A simulação com fins educacionais começou nas instituições e alargou-se às
empresas como ferramenta de trabalho para formação dos colaboradores. Com a
simulação, os participantes podem explorar questões do mundo real, sem
comprometer o sistema real. Medicina, militares e empresas são principais áreas da
sociedade, onde a simulação já demonstra ser uma abordagem interessante para
ensinar (Uretsky 1995; Robinson 2002; Gaba 2007; Rosen 2008; Pasin and Giroux
2011; Silva, Pedrosa et al. 2011).
Importada porgestores ex-militares para as escolas de gestão e empresas, estas
instituições tambémqueriam beneficiar das vantagens já provadasna áreamilitare na
medicina: melhorar a capacidade de decisão, a possibilidade de
falharsemconsequências reais e aprender fazendo(Aldrich 2005; Pasin and Giroux
2011).
De forma a aumentar a interatividade das simulações, foram introduzidos conceitos da
teoria de jogos, nascendo assim numa nova e poderosa ferramenta de ensino: jogos
de simulação(Magee 2006; Silva, Pedrosa et al. 2011).A diversidade de utilização na
área da gestãoé enorme, provando ser útil em áreas específicas comoa gestão de
recursos, contabilidade analítica, gestão deprojetos, marketing egestão de recursos
humanos(Siddiqui, Khan et al. 2008; Günther, Kiesling et al. 2010; Pasin and Giroux
2011; Silva, Trigo et al. 2011).
No ensino da contabilidade, vários autores (Milner, Hogue et al. 2008; Jiang 2010;
Silva, Trigo et al. 2011) e instituições como a Accounting Education Change
Commission (AECC 1990) e a PriceWaterHouseCoopers(PWC 2003), já identificaram
a potencialidade e interesse da utilização de simuladores educacionais. Comos
simuladores, os alunos podem aplicaros conhecimentos teóricos adquiridosao longo
dos cursos, isto é “aprender fazendo”,simulando cenários reais sem qualquer risco
real.
No plano do ensino superior é fundamental ter em conta as competências,
qualificações ou capacidades dos estudantes na altura em que iniciam a sua atividade
profissional.Quanto maior for a correspondência entre as competências desenvolvidas
ao longo do curso e as competências exigidas pelo mercado de trabalho, melhor será
a integração dos novos profissionais.
Simulação Empresarial no ISCAC
O ISCAC procura constantemente ajustar as competências lecionadas às
competências necessárias para o ingresso no mercado de trabalho.No ano letivo de
1999/2000,surgiu a primeira tentativade aproximar o mundo académico ao mercado de
trabalho, sendo criadas duas novas Unidades Curriculares (UCs), com apenas três
horas semanais,nas licenciaturas de Contabilidade e Auditoria e de Gestão de
Empresas, denominadas Contabilidade e Informática I e Contabilidade e Informática II.
Mais tarde, no ano letivo de 2007/2008, com a adequação do Ensino Superior ao
Processo de Bolonha ecom a adoção das exigências protocoladas com a Ordem dos
Técnicos Oficiais de Contas (OTOC), surgiram no ISCAC asUCsde Simulação
Empresarial (SE).EstasUCs obedecem aos critérios definidos e protocolados com a
OTOC, necessários para o acesso à profissão de Técnico Oficial de Contas (TOC). As
UCs de SE têm como objetivo simular a realidade empresarial, criando para isso um
mercado simulado (ou mercado virtual) de empresas virtuais.Assim, estasUCs
assumem-se como uma interface entre o meio académico e o meio profissional, num
ambiente de simulação que pretende utilizar diferentes áreas de trabalho na promoção
de uma perspetiva multidisciplinar, numa visão do ensino politécnico mais
profissionalizante e capaz de facilitar a inserção dos alunos na vida profissional.O
enquadramento metodológico dasUCs realça a ênfase colocada na aprendizagem
acompanhada das metodologias tipo Problem Based Learning (PBL), ao mesmo
tempo que reforça uma aprendizagem contextual integrada numa realidade que
espelha o ambiente profissional dos futuros licenciados.Na linha ideológica do
“aprender fazendo”, esta UC proporciona aos estudantes uma visão prática da futura
atividade profissional,facilitando assim a entrada no mundo do trabalho.O esforço de
modernização e qualificação encontra-se na base do desenvolvimento do Projeto em
Simulação Empresarial.
Atualmente as UCs de SE do ISCAC enquadram-se no último ano das licenciaturas de
Contabilidade e Auditoria e Gestão de Empresas. Estas UCs têm como objetivos
pedagógicos, em ambiente interativo, entre outros, por exemplo, criar um posto de
trabalho onde o estudante execute tarefas diversificadas e multidisciplinares, solucione
problemas, prepare informação, execute as tarefas de gestão corrente da empresa,
cumpra com obrigações fiscais e parafiscais.
A ideia geral de funcionamento das UCs deSE é a de criar um mercado simulado, em
que é atribuído, pelos docentes, a cada grupo de alunos (3 ou 4 alunos) uma “empresa
virtual”. As atividades das empresas distribuídas pelos grupos permitem interagir entre
eles, promovendo o relacionamento empresarial, dando assim origem a um “mercado
virtual”. No “mercado virtual”são simuladastransações comerciais, bancárias e fiscais,
sendoposteriormente alvo do tratamento contabilístico adequado e registado no
sistema ERP (p. ex. Primavera Software, Sage, SAP, CentralGest, etc.). Tendo em
conta que só as empresas virtuais (grupo de alunos) que negoceiam podem
apresentar trabalho, está lançada a interatividade e criadas as condições para que
cada grupo (empresa)tenha de tomar decisões muito próximas do mundo real.
A Figura 1 mostra graficamente o funcionamento inicial da UC de SE.
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( WDSD� ( VWXGR�GDV�HP SUHVDV�UHDLV
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Figura 1. Funcionamento inicial da unidade curricular de Simulação Empresarial
No início de cada semestre letivo são definidas equipas de alunos para formar
posteriormente empresas. Preferencialmente, estas empresas devem pertencer ao
sector dos serviços. Por exemplo, imaginado que a área de negócio escolhida é a
restauração. Isto significa que todas as empresas devem pertencer a esta (p. ex.
hotéis, restaurantes, cafés, etc.), para depois transacionarem produtos entre si,
criando assim o conceito de Mercado Interno (MI). Esta abordagem facilita a
compra/venda de produtos/serviços das empresas simuladas (p. ex. o hotel compra
produtos refeições ao restaurante).
Definidas as equipes, os alunos começam a estudar e analisar as características da
área de negócio no mundo real (p. ex. através da internet, entrevistas, etc.),
identificando suas principais características, como: produtos e serviços necessários
para laborar(p. ex. serviços de limpeza, alimentos, camas, serviço de lavandaria, SPA,
etc.); preços habitualmente praticados no mercado;identificar potenciais clientes e
fornecedores (p. ex. agências de viagem); termos e procedimentos específicos da
indústria (p. ex. meia pensão, pensão completa, check-in, etc.); e inserir dados no
ERP. Depois de todo este trabalho as empresas simuladas (grupo de alunos) estão
prontas a laborar. Sempre que existe uma necessidade de compra, a empresa
simulada (Grupo A)compra a outra empresa simulada (Grupo B).Como na vida real,
cada transação comercial (p. ex.compras e vendas)gera documentos comercias pelo
sistema ERP (p. ex.fatura, nota de crédito enota de débito). Cada documento é
analisado, classificado contabilisticamente e lançado no sistema ERP. Depois do
tratamento contabilístico, conforme na vida real, os documentos são organizados e
arquivadosnuma pasta organizada de acordo com as práticas contabilísticas (p.
ex.compras, vendas, recebimentos, pagamentos, etc.).
No final do semestre letivo os alunos procedem ao tratamento das demonstrações
financeiras (p. ex. Balanço e Demonstração de Resultados), emitem os documentos
em papel e arquivam nas pastas. Concluído este trabalho os professores recolhem as
pastas para proceder à avaliação (como uma espécie de auditoria).
Para saber mais sobre este tipo de UC consulte os trabalhos de Rui Almeida (Almeida,
Dias et al. 2009),PaulinoSilva (Silva, Santos et al. 2009), Pedro Silva (Silva 2010) e
Eleutério Machado (Machado, Inácio et al. 2000; Machado, Inácio et al. 2001).
O Enterprise Simulator e a sua importância para o funcionamento das UCs de SE
As UCs de SE pretendem desenvolver as competências práticas dos alunos tendo por
base o conhecimento teórico adquirido ao longo da licenciatura.Para isso, conforme
descrito na secção anterior, os alunos formam as empresas simuladas (ou empresas
virtuais)e depois transacionam produtos no Mercado Interno (MI).Contudo, esta
abordagem apenas suporta compra/venda de produtos/serviços existentes dentro do
MI.Isto é, o MI poderá não oferecer a diversidade de produtos necessários para a
normal laboração das empresas simuladas. Pegando no exemplo das empresas da
área da hotelaria da secção anterior, por exemplo, se o hotel precisar de adquirir uma
viatura automóvel não tem empresa simulada no MI que possibilite a transação.Isto é,
com as empresas simuladas é possível realizar algumas transações comerciais,
contudo não é suficiente para responder às normais necessidades de consumo
decorrentes da atividade económica. Criar empresas simuladas que operam em todos
os ramos de atividadeé uma tarefa complexa e inviável.
Para responder a esta dificuldade foi desenvolvido o Mercado Virtual. O Mercado
Virtual tem como principal objetivo disponibilizar produtos (de fornecedores virtuais)
que não estão disponíveis no MI(nas empresas simuladas).Neste mercado as
empresas simuladas (grupo de alunos) podem adquirir produtos a fornecedores
disponibilizados pelo simulador. Ou seja, as empresas presentes neste mercado agem
como fornecedores virtuais. Todas as compras decorrentes nesse mercado geram os
respectivos documentos comerciais (p. ex. fatura) para posterior tratamento
contabilístico.
O pagamento de compras apresentava outro desafio, pois o pagamento era apenas
comprovado pela emissão do recibo.Desta necessidade surgiu o conceito de Banco
Virtual.Esta necessidade torna-se ainda mais importante devido ao facto de todas as
empresas estarem obrigadas a possuir uma conta bancária para
pagamentos/recebimentos, artigo 63º C da Lei Geral Tributária(LGT 2011).O Banco
Virtual tem como principal objetivo simular um banco on-line, onde devem ser
disponibilizados os serviços bancários básicos como pagamentos, depósitos
bancários, consulta de saldo e extrato bancário.
Periodicamente, todas as empresas têm de enviar a informação da sua atividade
económicaàs diferentes entidades do Estado a fim de apuraro montante de impostos
(CIVA 2010). De forma a ser possível simular o cumprimento da entrega obrigatória da
informação surgiu a ideia do Governo Virtual.O Governo Virtual tem como principal
objetivo disponibilizar um espaço onde as empresas simuladas podem cumprir o seu
dever, sem no entanto existir contacto com as ferramentas reais (com consequências
reais).
Todas estas operações devem gerar documentos que comprovem a sua execução,
bem como os professores devem ter acesso a todas as transaçõesefetuadas no
Mercado Virtual, Banco Virtual e Governo Virtual para aprovar o trabalho contabilístico.
O Enterprise Simulator surgiu das necessidades identificadas na UC de SE descritas
anteriormente.Depois de analisadas as necessidades dos utilizadores foram
identificados os seguintes requisitos: possibilidade de acesso fora da escola,
promovendo assim o trabalho autónomo;possibilidade do simulador funcionar em
Sistemas Operativos (SOs) diferentes (p. ex. Windows, MacOs, Android eLinux);
preferências de utilização de ferramentas gratuitas de forma a reduzir ao máximo os
custos associados. Tendo em consideração os requisitos e avaliadas as opções de
desenvolvimento a escolha recaiu para um simulador Web. Os simuladores Web
revelam várias vantagens face às outras ferramentas de desenvolvimento(Byrne,
Heavey et al. 2010): não necessita processos de instalação e atualização por parte
dos utilizadores; execução em vários SOs; utilização de normas mundialmente aceites
e validados. Depois de definida a abordagem, iniciou-se o processo de
desenvolvimento. A Figura 2 mostra o resultado da interface desenvolvida para o
Enterprise Simulator (disponível emwww.enterprisesimulator.com).
Figura 2. Interface principal do Enterprise Simulator
A estrutura da interface do simulador foi desenvolvida de forma a obedecer a uma
estrutura global a todos os utilizadores (professor e aluno), contendo zonas bem
definidas, designadamente: menu principal; menu secundário; página principal; e
informações gerais. Esta abordagem teve como principal objetivo facilitar aos
diferentes utilizadores a identificação das principais zonas do simulador.
No Mercado Virtual as empresas simuladas podem efetuar compras aos fornecedores
virtuais. Cada transação comercial irá gerar um documento como, por exemplo, a
fatura.A Figura 3 mostra um exemplo de umafatura gerada pelo Enterprise Simulator.
Figura 3. Exemplo de faturagerado pelo Enterprise Simulator
Todos os documentos gerados pelo Enterprise Simulator estão devidamente
identificados como não tendo qualquer validade oficial, sendo apenas utilizado para
fins académicos.
Outra funcionalidade é possibilidade de simular as operações de homebanking.O
EnterpriseSimulatorpermite aos alunos simular as operações de pagamentos e
transferências bancárias.A cada empresa simulada é atribuído um Número de
Identificação Bancário (NIB) único, com ele os alunos podem efetuar transferências
bancáriasentre empresas, podendo assim efetuar pagamentos (p. ex. pagamento de
uma compra). Para manter a congruência nas operações, os depósitos apenas podem
ser realizados pelos professores, simulando desta forma o papel de bancário. Todas
as transações bancárias são resumidas num extrato bancário. A Figura 4 mostra um
exemplo de um extrato bancário onde é possível visualizar algumas operações
bancárias realizadas ao longo do tempo de simulação. Com os extrato bancário os
alunos podem proceder à conciliação bancária (manualmente ou através do sistema
ERP).
Figura 4. Extrato bancário do EnterpriseSimulatorAo longo da vida económica da
empresa as empresas simuladas devem cumprir com as suas obrigações fiscais
como, por exemplo, entregar a declaração periódica de IVA.A Figura 5 mostra esta
declaração no EnterpriseSimulator. De notar a semelhança com a aplicação oficial de
entrega das declarações periódicas.
Figura 5. Simulador de IVA do Enterprise Simulator
Ao longo do período letivo poderão ocorrer lapsos involuntários por parte dos alunos
nas operações comerciais, bancárias ou fiscais.Tais lapsos poderão ser regularizados
pelo professor na sua área de administração.
No final do período letivo o professor vai analisar todo o trabalho desenvolvido pelo
grupo de trabalho (empresa simulada).O EnterpriseSimulator disponibiliza um relatório
final de toda a simulação. A Figura 6 mostra um exemplo desse relatório final.
Figura 6. Relatório final das operações efetuadas pela empresa
O relatório final (resultado da simulação) consiste numa lista onde figuram todas as
transaçõesefetuadas por uma determinada empresa. Com ele o professor fica com
mais um elemento para proceder à avaliação dos documentos presentes na pasta
arquivador.
Experimentação
O simulador Enterprise Simulator conta atualmente com um período de utilização de
aproximadamente três anos letivos nas UCs de SE do ISCAC. O EnterpriseSimulator
já foi utilizado por cerca de 300 alunosdo último ano das licenciaturas de Contabilidade
e Auditoria e Gestão de Empresas do ISCAC.
Ao longo destes três anos, os alunos juntamente com os professores foram
participando ativamente na inserção e atualizaçãodos dados de fornecedores e
respetivos produtos (p. ex., nomes, moradas, preços, taxas de IVA, etc.).Atualmentea
base de dados do EnterpriseSimulatorconta com, aproximadamente,60 empresas,180
fornecedores,2.200 produtos,60 declarações entregues,1.500 transaçõescomerciaise
mais de 4.000 transações bancárias.
No final de cada ano letivo existe a preocupação de auscultar a opinião dos alunos e
professores relativamente à experiência de utilização do EntepriseSimulator, por forma
a fazer um levantamento dos aspetos menos positivos da sua utilização. Em todos
estes momentos de avaliação da utilização do Enterprise Simulatorfoi interessante
perceber a motivação de todos os utilizadores, solicitando sempre a adição de novas
funcionalidades e atualizaçãode algumasjá existentes, no sentido de aumentar o
realismo das simulações. Dos inúmeros pedidos realizados pelos alunos/professores
na última avaliação, foram apontados como objetivos de trabalho futuro a possibilidade
das empresas simuladas contraírem empréstimos (para assim os alunos
compreenderem o processo de contratação de empréstimos) e a simulação de mais
ferramentas de e-government, nomeadamente a entrega das declarações à
Segurança Social e a simulação do envio da Modelo 10 (IRS).
Globalmente, os professores e alunosconsideram o EnterpriseSimulator como
umaferramentapedagógicainteressante, que contribui para melhorar a motivação e
interessepor parte dosalunos.
Conclusão
De acordo com aPricewaterhouseCoopers(PWC 2003)e a Accounting Education
Change Commission(AECC 1990)há umanecessidade crescente deferramentas
inovadorasno ensino dacontabilidade e gestão de forma a combater a apatia dos
alunos.O ensino deve orientar-se para a aprendizagem dos alunos, com o intuito de
contribuir para a sociedade do conhecimento e de formar profissionais para o mercado
de trabalho, tendo em conta as necessidades de inovação, polivalência, adaptação,
colaboração e formação ao longo da vida.
As UCs de SE assumem-se como uma interface entre o meio académico e o meio
profissional, num ambiente de simulação que pretende utilizar diferentes áreas de
trabalho na promoção de uma perspetiva multidisciplinar, imprescindível para atingir
um ensino de excelência e, fundamental para a obtenção de competências pelos
alunos.
Nestas UCs são criadas empresas simuladase posteriormente geradas transações
comerciaismais tarde registadas no sistemaERP.Masessas operaçõessão apenasuma
pequena partedo mundo dos negócios.A fim depreencher esta lacuna, surgiu a ideia
doEnterprise Simulator(www.enterprisesimulator.com), quetem como objetivo permitir
simularoperaçõescomerciais externas, financeirase fiscais, a fim de permitir aos alunos
por em prática os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo das licenciaturas de
contabilidade e gestão.
Ao longo de três anos o projeto foi crescendo em funcionalidades e em dados
aproximados à realidade (p. ex. dados de fornecedores e respectivos produtos), sendo
indicado pelos professores e alunos do ISCAC como uma ferramenta pedagógica
interessante no ensino da contabilidade.
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