VOLUME 11, NMERO 1 ANO 2016 ISSN 1980-0894
InterfacEHS Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade Vol. 11 no 1 junho de 2016, So Paulo: Centro Universitrio Senac ISSN 1980-0894 Portal da revista InterfacEHS: http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/ E-mail: [email protected] Esta obra est licenciada com uma Licena Creative Commons Atribuio-No Comercial-SemDerivaes
4.0 Internacional
EDITORIAL
Caro Leitor
Temos satisfao de divulgar neste primeiro nmero do volume 11 de InterfacEHS
Revista de Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade, a metodologia FMEA -
Failure Mode and Effect Analysis, utilizada para analisar falhas potenciais e
propostas de melhoria, de forma confivel e avaliar os riscos ambientais em funo
da facilidade de implantao de aes corretivas. Essa contribuio de Monise Terra
Cerezini, Karina Martins do Amaral e Henrique Quero Polli, possibilita o
conhecimento dos aspectos e impactos ambientais relacionados s atividades da
organizao, permitindo o incio do planejamento de um Sistema de Gesto
Ambiental - SGA.
Neste fascculo contamos com artigos relacionados com os resduos slidos, cujo
tema bastante discutido na atual contemporaneidade. Percebe-se que temos ainda
muito que fazer com relao recuperao e reciclagem de resduos slidos, visto
que fazem 6 anos que a Lei Federal 12.305 foi instituda. Neste contexto, os
autores, Caroline Miranda Correa, Maurcio Dias Marques e Srgio Silva Braga
Junior apresentam sobre os resduos slidos gerados de aougues, mostrando-nos
um estudo comparativo das prticas de logstica reversa. Tratando-se sobre
logstica reversa, o trabalho dos autores Mauricio Dias Marques, Sergio Silva Braga
Junior e Dirceu da Silva nos traz a reflexo se a legislao que implantou e
regulamentou os procedimentos da logstica reversa das embalagens de
agrotxicos est sendo cumprida, mediante uma pesquisa junto aos produtores
rurais no municpio de Tup. Nesta mesma direo, os autores, Karina Costa
Oliveira, Roberta Monique da Silva Santos e lefe Lopes Viana analisaram a
percepo ambiental dos moradores do bairro Jorge Teixeira da cidade de Manaus
em relao aos resduos slidos urbanos.
Os autores Renato Arnaldo Tagnin, Benjamin Capellari e Lucas de Carvalho Damas
Rangel Rodrigues trazem reflexes sobre novas fontes de suprimento de gua para
a macrometrpole Paulista. Neste contexto, analisaram a localizao dessas novas
fontes de suprimento, verificando seu posicionamento em bacias hidrogrficas
desprovidas de vegetao nativa, e objeto de ocupao e expanso urbana,
mediante o cruzamento de dados geogrficos. No bastando novas fontes de
suprimento, a preocupao com a qualidade da gua consumida pela populao
uma realidade. Nesse sentido, apresenta-se neste nmero, a contribuio dos
autores Sabrina Mesquita Rocha e Fernando Yoshiki Nishio, que descreveram sobre
a ocorrncia da contaminao por HPAs em mananciais superficiais e subterrneos
e se h evidncias de risco sade humana pela ingesto e contato com a gua
contaminada no municpio de So Paulo.
O contedo desta publicao , ainda, ricamente abordado sobre os aspectos da
governana para a gesto ambiental sob o ponto de vista da transparncia e
disponibilidade de informaes que permitam a participao e o monitoramento das
polticas pblicas pela sociedade, por meio de indicadores para os portais de rgos
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InterfacEHS Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade - Vol. 10 no 2 Junho de 2016
ambientais dos estados brasileiros e do Distrito Federal de autoria Paula Lopes de
Araujo.
No que tange fotoproteo, como a estratgia de uso de filtro solar na frequncia
adequada, afim de minimizar os riscos com a exposio ao sol, e reduzir a
incidncia dos danos relacionados ao fotoenvelhecimento e ao cncer de pele, os
autores, Marley Dragonetti, Joo Paulo Correia Gomes e Carla Aparecida Pedriali
Moraes analisaram a viabilidade da substituio do uso de protetor solar dirio por
produtos BB cream, averiguando frmulas de 12 produtos, seis nacionais e seis
importados.
Aduza-se em tempo, a contribuio das autoras Amanda Santos de Paiva e Maria
Dalva Horcio da Costa sobre a importncia do fortalecimento da sade ambiental
na perspectiva da teoria social crtica e da determinao social da sade, por captar
esse cenrio de barbrie socioambiental incorporando a politizao da sade no
sentido de vincular o Projeto da Reforma Sanitria.
A seo InterfacEHS foi motivada com o trabalho das autoras Beatriz Tamanaga,
Ctia Almeida, Alice Itani, Silvia Ferreira Mac Dowell que realizaram o diagnstico
socioambiental da Cooperativa de Catadores Mofarrej em So Paulo, em parceria
com o Centro Universitrio Senac e a Associao Brasileira de Engenharia Sanitria
e Ambiental (ABES),
Espero que o contedo da revista enriquea o seu aprendizado. Tenha uma boa
leitura!
Emlia Satoshi Miyamaru Seo
Editora
InterfacEHS Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade Vol. 11 no 1 junho de 2016, So Paulo: Centro Universitrio Senac ISSN 1980-0894 Portal da revista InterfacEHS: http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/ E-mail: [email protected] Esta obra est licenciada com uma Licena Creative Commons Atribuio-No Comercial-SemDerivaes 4.0
Internacional
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Avaliao dos aspectos e impactos ambientais em uma instituio de ensino
com o uso da ferramenta FMEA
Evaluation of environmental aspects and impacts in an educational institution using the
FMEA tool
Monise Terra Cerezini1, Karina Martins do Amaral2, Henrique Quero Polli3
1 Biloga, Ps-graduada em MBA Gesto Ambiental e Sustentabilidade na Universidade Federal de So Carlos, Doutoranda no Programa de Ps-graduao em Cincias Ambientais no Departamento de Cincias Ambientais na Universidade Federal de So Carlos.
2 Bacharel em Qumica, Ps-graduada em MBA Gesto Ambiental e Sustentabilidade na Universidade Federal de So Carlos.
3 Engenheiro Florestal, Mestre em Cincia Florestal, Ps-Graduado em MBA em Gesto Empresarial e Professor
do MBA em Gesto Ambiental e Sustentabilidade na Universidade Federal de So Carlos.
{[email protected], [email protected], [email protected]}
Resumo. A presente pesquisa foi realizada em uma instituio de ensino, situada na
cidade de Ribeiro Preto, Estado de So Paulo. O objetivo deste trabalho foi realizar o
levantamento de aspectos e impactos ambientais, com a utilizao da ferramenta
FMEA (Anlise dos Modos de Falha e seus Efeitos), que permite a elaborao de um
plano de ao para melhoria contnua da gesto com a finalidade de mitigar os
impactos ambientais negativos. O estudo apontou as principais falhas nas atividades
que causam impactos ao meio ambiente e dificultam a gesto ambiental na instituio
em questo. Foram indicadas diretrizes e aes a serem implantadas para melhoria do
gerenciamento ambiental, tais como o armazenamento e descarte correto de
lmpadas fluorescentes, produtos qumicos e demais resduos gerados. A metodologia
utilizada se mostrou eficiente em relao a priorizao de aes para reduo dos
impactos negativos das atividades avaliadas.
Palavras-chave: Gesto Ambiental, Impactos Ambientais, FMEA
Abstract. This research was conducted in a educational institution located in the city
of Ribeiro Preto, So Paulo. The aim of this study was collect data about
environmental aspects and impacts with the use of Analysis of Failure Modes and
Effect (FMEA) tool, which allows the preparation of an action plan for continuous
improvement and mitigate negative environmental impacts. The survey defined which
are the major flaws in the processes that impact the environment and hinder
environmental management at the institution in question and guidelines were
indicated to improve environmental management, such as storage and proper disposal
of fluorescent lamps, chemicals and other waste. The methodology used was efficient
in relation to prioritization of actions to reduce the negative impacts of the activities
evaluated.
Keywords: Environmental Management, Environmental Impacts, FMEA
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1. Introduo
No atual contexto socioeconmico, as organizaes se deparam com a necessidade de
adequao dos seus produtos e servios no que diz respeito s questes econmicas e
ambientais. Para isso, so necessrias algumas mudanas nos seus processos de
gesto, de forma a viabilizar um menor consumo de recursos naturais, menor gerao
de resduos e, por fim, reduzir os custos. Tais transformaes constituem um
diferencial, medida que contribuem com sustentabilidade aumentando a
competitividade e, consequentemente, a lucratividade de tais organizaes.
A gesto ambiental, segundo Barbieri (2007) entendido como diretrizes e atividades
administrativas e operacionais realizadas com o objetivo reduzir ou eliminar os
problemas causados ao meio ambiente pelas aes humanas. Uma das alternativas
utilizadas pelas empresas para alcanarem tais objetivos a adequao aos sistemas
de gesto ambiental (SGAs), que orientam a adoo e a implementao, de forma
sistemtica, de tcnicas de gesto ambiental que podem contribuir para a obteno de
excelentes resultados para todas as partes interessadas.
O sistema de gesto ambiental segundo a Norma Brasileira ISO 14001 especifica os
requisitos necessrios para que as organizaes desenvolvam e implementem uma
poltica ambiental, levando em considerao requisitos legais e informaes referentes
aos aspectos ambientais significativos: as normas de gesto ambiental tm por
objetivo prover as organizaes de elementos de um sistema da gesto ambiental (SGA)
eficaz que possam ser integrados a outros requisitos da gesto, e auxili-las a alcanar
seus objetivos ambientais e econmicos (ABNT NBR ISO 14001, 2004, p. 5).
Diante dessa perspectiva, importante que a organizao defina e implemente
procedimentos para identificar os impactos ambientais decorrentes de suas atividades,
produtos e servios, afim de controlar esses impactos e suas consequncias.
Segundo o Artigo 1 da Resoluo n. 001/86 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA), a definio de impacto ambiental pode ser entendida como:
Qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas,
biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matria ou energia resultante das atividades humanas que
afetem diretamente ou indiretamente: a sade, a segurana, e o
bem estar da populao; as atividades sociais e econmicas; a
biota; as condies estticas e sanitrias ambientais e a
qualidade dos recursos ambientais (BRASIL. CONAMA,
Resoluo 001, 1986).
Esta definio deixa clara a interferncia, causada pelas atividades antropognicas, na
qualidade dos recursos naturais, alterando as propriedades desses recursos e afetando
diversas esferas, e ressalta o carter primordial da mitigao de tais impactos.
A Norma Brasileira ISO 14001, no requisito 4.3.1, destaca que a organizao deve
estabelecer e manter procedimentos para identificar os aspectos ambientais de suas
atividades, produtos ou servios que possam ser controlados, de forma a determinar os
aspectos que tenham ou possam ter impacto significativo sobre o meio ambiente (ABNT
NBR ISO 14001, 2004).
Cabe ressaltar que a identificao dos impactos ambientais inerentes s atividades da
empresa e a avaliao de suas possveis consequncias de fundamental importncia
para o conhecimento real dos impactos causados por suas atividades e constituem os
primeiros passos para a efetiva implementao do Sistema de Gesto Ambiental.
Atualmente observa-se um crescimento das aes adotadas pelas instituies de ensino
que buscam promover a conscientizao ambiental e o controle dos seus aspectos
ambientais significativos (OLIVEIRA, 2012). Como exemplo podemos citar as boas
prticas ambientais de universidade do Reino Unido, Portugal, Alemanha, Espanha
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Frana e Amrica Latina (TAUCHEN et. al., 2006). No Brasil a Universidade do Vale do
Rio dos Sinos - Unisinos, do Rio Grande do Sul, foi a primeira universidade da Amrica
Latina a ser certificada segundo a norma ISO 14001, sendo, nesta poca, a quinta
universidade no mundo com essa distino e a primeira na Amrica Latina (UNISINOS,
Relatrio 2005).
Diversas tcnicas e ferramentas podem ser utilizadas durante a fase de levantamento
dos aspectos e impactos ambientais na implementao do Sistema de Gesto
Ambiental, permitindo que as empresas conheam os riscos ambientais associados s
suas atividades. Nesse processo, alm da escolha da tcnica ideal, faz-se necessrio a
formao de uma equipe multidisciplinar, garantindo a diversidade de saberes e
experincias de profissionais especialistas de diversas reas.
Uma das ferramentas utilizadas para gerenciamento de riscos a FMEA (Anlise dos
Modos de Falha e seus Efeitos), do ingls Failure Modes and Effects Analysis, que
possibilita avaliar de forma sistemtica os possveis tipos de falha que determinado
sistema est sujeito, possibilitando que aes preventivas sejam efetuadas para evitar
os efeitos negativos possivelmente causados pelas falhas detectadas (BRAND et. al.,
2013).
Esta ferramenta foi desenvolvida na dcada de 60, pela National Aeronautics and Space
Administration (NASA), com o objetivo de padronizar um mtodo de avaliao do
sistema e confiabilidade dos equipamentos, a fim de determinar os efeitos de seus
fracassos sobre o sucesso das misses militares (VANDENBRANDE, 1998).
Posteriormente esta metodologia foi utilizada na indstria automobilstica, para
quantificar e ordenar possveis defeitos potenciais no estgio de projeto de produtos
(PUENTE et. al., 2002).
Hoje em dia, a ferramenta FMEA utilizada em diversas situaes, tais como: aumento
da satisfao do cliente; tomada de decises sobre a introduo de novo produto ou
processo; elaborao de planos para controlar processos recentemente estabelecidos;
e anlise de falhas em processos existentes para melhorar a qualidade (MENDES;
EBNER, 2013).
Neste sentido, este trabalho apresenta um estudo de caso em que se utilizou a
ferramenta FMEA no processo de identificao dos aspectos e impactos ambientais em
uma organizao de ensino, tendo como objetivo analisar e priorizar as aes
necessrias para a mitigao dos riscos ambientais e a busca de melhorias na gesto
da ambiental da empresa estudada e discutir a eficincia da ferramenta FMEA para
alcance de tais objetivos.
2. Materiais e Mtodos
Ferramenta FMEA
A presente pesquisa foi realizada por meio da metodologia FMEA (do ingls Failure Mode
and Effect Analysis). Esta uma ferramenta utilizada para analisar falhas potenciais e
propostas de melhoria, concluindo que com sua utilizao, se estar diminuindo as
chances de um produto ou processo falhar. A escolha da ferramenta FMEA deu-se,
basicamente, pela possibilidade de se avaliar de forma confivel os riscos ambientais
em funo da facilidade de implantao de aes corretivas gerando uma lista de aes
a serem implantadas em vrios estgios de tempo e possibilitando o conhecimento dos
aspectos e impactos ambientais relacionados s atividades da organizao, permitindo
o incio do planejamento de um SGA.
Segundo Vandenbrande (1998), avaliar o impacto ambiental das atividades
interessante, mas ser capaz de priorizar aes para reduzir impactos negativos ainda
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mais importante, e este problema pode ser superado com uma abordagem do tipo
FMEA.
Existem quatro tipos de FMEA, classificados de acordo com o objetivo do seu uso: FMEA
DE SISTEMAS, usado na anlise de sistemas em fase de concepo ou projeto; FMEA
DE PROJETO, utilizado em projetos antes que virem produtos; FMEA DE PROCESSO,
usado na anlise de processos de produo; e FMEA DE SERVIO, utilizado na anlise
de servios antes que estes cheguem ao consumidor (STAMATIS, 1995). A metodologia
desta pesquisa foi baseada na FMEA DE SISTEMAS, no qual se analisa as falhas
potenciais de sistemas em fase de concepo, que, neste caso, buscou-se aplicar nas
fases iniciais da elaborao e implementao de um sistema de gesto ambiental.
A ferramenta FMEA consiste no clculo de trs critrios, aqui adotados como:
Severidade (S), Ocorrncia (O) e Deteco (D). Como resultado final esta metodologia
fornece o Nmero de Prioridade Ambiental (NPA) que obtido pela multiplicao dos
valores estimados para os trs critrios citados, fornecendo uma escala hierarquizada
da relevncia de cada processo analisado, variando entre 1 a 250. Segundo Campani
(2006) e Vandenbrande (1998), os aspectos e impactos podem ser hierarquizados
quanto sua relevncia por meio deste nmero.
O critrio de Severidade (S) avalia a gravidade de um impacto ambiental, estimado em
uma escala de 1 a 5 (Tabela 1). O critrio de Ocorrncia (O) trata da probabilidade de
ocorrncia de uma especifica causa de impacto ambiental, estimado em uma escala de
1 a 5 (Tabela 2). O critrio de deteco (D) mostra a relao entre a deteco e a
soluo de uma ocorrncia, em uma escala de 1 a 10 (Tabela 3).
Tabela 1. Parmetros para classificao do critrio Severidade (S).
ndice Descrio
1 Muito baixa para ocasionar um impacto no meio ambiente.
2 Impacto baixo ou muito baixo sobre o meio ambiente.
3 Prejuzo moderado ao meio ambiente.
4 Srios prejuzos sade das pessoas diretamente envolvidas
nas tarefas.
5 Srios riscos ao meio ambiente.
Fonte: Adaptado de (Vandenbrande, 1998).
Tabela 2. Parmetros para classificao do critrio de Ocorrncia (O).
ndice Descrio
1 Remota Ocorrncia improvvel ou anual.
2 Baixa Ocorrncia semestral.
3 Moderada Ocorrncia mensal.
4 Alta Ocorrncia semanal.
5 Muito Alta Ocorrncia diria.
Fonte: Adaptado de (Vandenbrande, 1998).
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Tabela 3. Parmetros para classificao do critrio Deteco (D).
ndice Descrio
1 Deteco rpida e soluo rpida.
2 Deteco rpida e soluo a mdio prazo.
3 Deteco a mdio prazo e soluo rpida.
4 Deteco rpida e soluo a longo prazo.
5 Deteco a mdio prazo e soluo a mdio prazo.
6 Deteco a longo prazo e soluo rpida.
7 Deteco a mdio prazo e soluo a longo prazo.
8 Deteco a longo prazo e soluo a mdio prazo.
9 Deteco a longo prazo e soluo a longo prazo.
10 Sem deteco e/ou sem soluo. (Sem controle)
Fonte: Adaptado de (Vandenbrande, 1998).
rea de estudo
O Servio Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC foi criado em 10 de janeiro de
1946 pela Confederao Nacional do Comrcio de Bens, Servios e Turismo (CNC), por
meio do Decreto-Lei n 8.621. Na mesma data de sua criao foi promulgado o Decreto-
Lei n 8.622, que dispe sobre a atuao da Instituio na aprendizagem comercial. J
em 5 de dezembro de 1967, foi aprovado o Regulamento do SENAC, por meio
do Decreto n 61.843, complementado por alteraes institudas via Decreto n 5.728,
de 16 de maro de 2006 (SENAC, 2016).
Em 2002, o Conselho Regional do SENAC aprovou, por meio da Resoluo n 46/2002,
o Projeto Ecoeficincia. Com ele, foi publicada a Poltica Ambiental da Rede SENAC So
Paulo, denominada Compromisso com o Meio Ambiente. O ato marcou o posicionamento
da organizao quanto preocupao em nortear suas atividades, produtos e servios
pelo respeito ao meio ambiente, buscando o desenvolvimento sustentvel e firmando a
sua responsabilidade social, o que refora o cumprimento da misso institucional
(SENAC ECOEFICINCIA, 2016).
O Programa Ecoeficincia do SENAC So Paulo tem como principais objetivos o uso
eficiente dos recursos naturais, com nfase na reduo do consumo de materiais e da
gerao de resduos e na reutilizao e reciclagem dos materiais, aplicando nas suas
aes a da poltica dos 3Rs reduzir, reutilizar e reciclar (SENAC PROJETO
ECOEFICINCIA, 2016).
O estudo de caso foi conduzido nas instalaes do SENAC, unidade Ribeiro Preto, que
ocupam uma rea construda de, aproximadamente, 6.700 metros quadrados. Sua
infraestrutura conta com 57 salas de aulas convencionais, 12 laboratrios e salas
especiais para o desenvolvimento de atividades dos cursos de Moda, Design de
Interiores, Arte Dramtica e Procedimentos Hospitalares e Farmcia, alm de um
auditrio com capacidade para 140 pessoas, espao de convivncia e biblioteca.
Este estudo foi realizado no primeiro semestre de 2014 e fez parte do processo de
implementao do Projeto Ecoeficincia no SENAC Ribeiro Preto, seguindo as diretrizes
da ISO 14001, norma internacional que especifica um processo para controlar e
melhorar continuadamente o desempenho ambiental de uma companhia.
O trabalho foi iniciado com a apresentao da ferramenta FMEA para o grupo de trabalho
e demais responsveis pela implementao do Sistema de Gesto Ambiental da
unidade. Posteriormente, foram definidos os ambientes a serem considerados para
aplicao da ferramenta FMEA. Devido dimenso do local de estudo, buscou-se
agrupar os espaos que possuam atividades semelhantes para realizar para
identificao dos aspectos e impactos ambientais. Para este estudo foram considerados
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os seguintes ambientes: salas de aula, biblioteca, salas dos professores; banheiros;
secretaria acadmica, secretaria administrativa, laboratrios e cozinha.
Posteriormente, foram realizadas visitas a todos os espaos mencionados, com a
finalidade de identificar os impactos ambientais, as causas potenciais e a forma como
tais impactos estavam sendo administrados. Para cada impacto identificado foi atribudo
os valores dos ndices de Severidade, Ocorrncia e Deteco e ento o Nmero de
Prioridade Ambiental.
3. Resultados
Com a aplicao da ferramenta FMEA foi possvel classificar os impactos ambientais
levantados na rea de estudo de acordo com o valor do Nmero de Prioridade Ambiental
(NPA).
Na anlise realizada esto incorporados os aspectos e impactos ambientais identificados
nos ambientes analisados, assim como suas causas potenciais, formas de controle
atuais e as aes recomendadas pela equipe de trabalho, sempre procurando atender
a legislao ambiental vigente. A tabela 4 discrimina os itens analisados a partir da
metodologia aplicada e define as referidas prioridades conforme o NPA para que possam
ser avaliados os aspectos e impactos ambientais.
Tabela 4. Avaliao de Aspectos e Impactos Ambientais por meio da ferramenta FMEA.
Aspecto Ambiental
Impacto Ambiental
S Causa
Potencial O Controle Atual D
Ao Recomendada
NPA
Gerao de resduos
Contaminao dos Recursos
Naturais
5 Descarte de lmpadas
fluorescentes 5
Armazenamento das Lmpadas
5
Descarte adequado
conforme a legislao (Lei
12.305)
125
3 Gerao de
resduos orgnicos
5 Nenhuma 2 Implantar prtica de compostagem
30
5 Descarte de leo
de cozinha 3 Nenhuma 8
Elaborar plano de descarte do leo de cozinha usado
120
3 Gerao de resduos da
construo civil 3 Nenhuma 5
Descarte
conforme a legislao (Lei
12.305 e CONAMA 307)
45
3 Consumo de
copos descartveis
5 Uso de copos
biodegradveis 4
Adotar campanha conscientizao
para a diminuio do consumo ou uso de canecas
60
Consumo de Energia Eltrica
Esgotamento dos recursos
naturais
3 Falta de
manuteno do ar-condicionado
5 Nenhuma 2
Sistematizar a manuteno
preventiva do ar-condicionado
30
3
Falta de gerenciamento de energia nos computadores
5 Nenhuma 2
Configurar computadores
para economizar energia eltrica
30
3 Consumo
irracional de energia eltrica
5
Ao de conscientizao para economia
de energia
2
Adotar campanha peridica de economia de
energia eltrica
20
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9
Qualidade do ar
Poluio do Ar 4 Falta de limpeza dos filtros de ar condicionado
5 Nenhuma 4
Sistematizar a limpeza do filtro
do ar-condicionado
80
Consumo de gua
Esgotamento dos recursos
hdricos
3
Falta de manuteno hidrulica do
prdio
5 Nenhuma 5
Elaborar plano de manuteno hidrulica do
prdio
75
3 Consumo
irracional de gua
5 Uso de vlvulas econmicas nos
banheiros 4
Adotar campanha de economia de
gua 60
Risco sade dos usurios
4
Reservatrio de gua sem
manuteno ou limpeza
5 Limpeza do reservatrio
2
Elaborar plano de manuteno do reservatrio de
gua
40
Manipulao de produtos
qumicos
Risco sade dos usurios e
poluio ambiental
5
Uso indiscriminado de produtos de
limpeza
5 Nenhuma 2
Elaborar plano de utilizao correta dos produtos de
limpeza
50
4
Falta de Equipamento de
Proteo Individual
3
Uso de Equipamento de
Proteo Individual pelos funcionrios do setor de limpeza
2
Adotar plano de utilizao de
Equipamento de Proteo Individual
24
5 Armazenamento
de produtos qumicos
3 Nenhuma 8
Realizar o correto armazenamento
dos resduos qumicos
120
Manipulao de produtos inflamveis
Risco de
incndio 5
Armazenamento e manuseio de
produtos inflamveis
3 Nenhuma 8
Adequar o armazenamento
de acordo com a NBR 17505
120
Fonte: Dados dos autores, 2014.
4. Concluso
A realizao deste trabalho por meio da ferramenta FMEA proporcionou um maior
entendimento dos processos e servios da organizao estudada e os consequentes
impactos ambientais gerados pelos seus produtos e servios.
Diante dos resultados encontrados, foi possvel identificar os maiores riscos ambientais
existentes na rea de estudo. Conforme as maiores pontuaes no Nmero de
Prioridade (NPA) se destaca o Descarte de lmpadas fluorescentes com pontuao de
125 e os itens Descarte de leo de cozinha, Armazenamento de produtos qumicos
e Armazenamento e manuseio de produtos inflamveis tambm merecem nfase com
pontuao de 120. Estes foram os impactos ambientais provenientes das atividades da
unidade que receberam as maiores notas quanto severidade do impacto (S), a
ocorrncia (O) e deteco (D) e, portanto, precisam ter prioridade na ordem dos
programas e aes a serem implantados no gerenciamento ambiental.
Quanto causa de maior impacto identificada neste estudo, importante lembrar que
no Brasil so consumidas cerca de 100 milhes de lmpadas fluorescentes por ano.
Desse total, 94% so descartadas em aterros sanitrios, sem nenhum tipo de
tratamento. O grande uso dessas lmpadas deve-se a economia de energia que pode
chegar a 80% e elas podem durar at 15 vezes mais do que as incandescentes (ABILUX,
2010). Sendo assim, a simples devoluo dessas lmpadas para o fabricante ou para
empresa especializada na coleta e reciclagem diminuiria o risco ambiental associado a
este aspecto. Neste estudo, o alto NPA para este aspecto deve-se justamente
InterfacEHS Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade - Vol. 11 no 1 junho 2016
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destinao dessas lmpadas, visto que a Lei Nacional de Resduos Slidos estabelece
que os fabricantes devem se responsabilizar pelo recolhimento do material (BRASIL. Lei
12.305, 2010). Mouro e Seo (2012) ressaltam que o Brasil consome um grande
nmero de lmpadas fluorescentes, apresentando um mercado crescente, porm
infelizmente aps o consumo a grande maioria dessas lmpadas descartada
inadequadamente. Essas lmpadas tm uma grande quantidade de mercrio e outros
componentes txicos, que aumentam o risco de contaminar as pessoas, os animais, o
solo e a gua, caso sejam descartadas no lixo comum.
Os demais impactos ambientais que devem ser mitigados e, portanto, priorizados nas
aes de gerenciamento ambiental da unidade so os provenientes das atividades
realizadas no curso de Nutrio e Gastronomia no ambiente da cozinha Descarte de
leo de Cozinha e dos laboratrios onde so realizadas as atividades do curso de
Farmcia Armazenamento de Produtos Qumicos e Armazenamento e Manuseio de
Produtos Inflamveis. Com o correto descarte e armazenamento desses produtos e
resduos, conforme a legislao vigente, possvel mitigar esses impactos de forma
eficiente.
Esta metodologia se mostrou eficiente em relao a priorizao de aes para reduo
dos impactos negativos das atividades avaliadas. Outros estudos encontrados na
literatura tambm ressaltaram a importncia do uso da metodologia. Os autores Akim,
Mergulho e Borrs (2013) utilizaram a ferramenta FMEA para analisar as falhas nas
informaes destinadas avaliao de programas de ps-graduao e ressaltaram a
vantagem da utilizao desta ferramenta no aprendizado e a gerao de conhecimento
entre as pessoas envolvidas na coleta de dados. Senna (2014) em seu trabalho sobre
a determinao do ndice de risco ambiental das instalaes de uma instituio de
ensino superior obteve resultados bastante promissores quanto possibilidade de
implantao de aes corretivas ou preventivas em funo dos aspectos e impactos
ambientais encontrados.
Os aspectos encontrados com grande potencial de impacto ambiental podem facilmente
ser controlados pela simples ao de armazenamento, destinao ou descarte correto
para empresas especializadas. As medidas de melhoria propostas so, em sua maioria,
simples e de fcil e barata implementao, objetivando a mitigao dos impactos que
poderiam trazer consequncias negativas ao meio ambiente.
Diante dos dados levantados neste trabalho, constatamos que o FMEA pode ser uma
ferramenta importante na busca de um processo mais eficiente e eficaz, com menos
falhas e impactos ao meio ambiente. fundamental tambm que a avaliao de riscos
ambientais seja um processo de manuteno contnuo, onde haja sempre uma
retroalimentao da ferramenta a partir de experincias obtidas. Sendo essa rotina de
aprimoramento contnuo a base para um sistema de gesto bem sucedido em todos os
processos de uma empresa.
A utilizao do FMEA, aplicado aos processos para anlise dos riscos ambientais constitui
um mtodo simples para avaliar possveis impactos ambientais segundo uma escala de
severidade que pode ser customizada, permitindo assim o estabelecimento direto de
medidas preventivas ou corretivas para minimizar ou evitar a ocorrncia de danos ao
meio ambiente.
O conhecimento e as aes disseminadas entre o pblico interno da unidade e at
mesmo entre a comunidade trazem benefcios a todos os envolvidos e prope a
eliminao ou a reduo das falhas dos servios e processos da atividade. Assim, do
ponto de vista empresarial, mais do que o retorno financeiro direto, decorrente da
minimizao e eliminao de falhas potenciais, a empresa em questo teve como
vantagem com a aplicao da FMEA, o aumento de confiabilidade do servio prestado,
proporcionando mais qualidade ambiental e uma maior satisfao dos usurios.
Partindo do princpio que cada organizao possui uma realidade especfica, faz se
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necessria a discusso de um processo de planejamento que incorpore os diferentes
olhares presentes no dia-a-dia da organizao por meio da efetiva participao dos
funcionrios e clientes (partes interessadas). Nessa perspectiva, a implementao de
aes e programas para o controle dos riscos ambientais pode constituir um instrumento
pedaggico e poltico de mudana.
Com os resultados obtidos neste trabalho possvel concluir que o conhecimento dos
aspectos e impactos ambientais decorrentes das atividades dirias das organizaes
fundamental, para que seja possvel um correto gerenciamento ambiental, pois o
planejamento da gesto ambiental apenas ser possvel com a correta identificao dos
impactos ambientais causados pelas atividades exercidas. A partir do conhecimento de
todos os principais aspectos ambientais gerados pela instituio estudada ser possvel
conhecer os impactos e implementar diretrizes para o seu gerenciamento.
5. Agradecimentos
equipe do SENAC - Servio Nacional de Aprendizagem Comercial, Unidade Ribeiro
Preto, em especial Coordenadora do Projeto Ecoeficincia da Unidade Suselaine Alves
da Silva e ao Gerente da Unidade Juliano Marcio Calderero por permitirem a realizao
deste estudo de caso.
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Recebido em 31/03/2016 e Aceito em 07/06/2016.
InterfacEHS Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade Vol. 11, n 1 junho de 2016, So Paulo: Centro Universitrio Senac ISSN 1980-0894 Portal da revista InterfacEHS: http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/ E-mail: [email protected] Esta obra est licenciada com uma Licena Creative Commons Atribuio-No Comercial-SemDerivaes 4.0
Internacional
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Gesto de resduos: um estudo comparativo das prticas de logstica reversa realizada por aougues da Alta Paulista
Waste management: a comparative study of reverse logistics practices held by butchers of Alta Paulista
Caroline Miranda Correa, Maurcio Dias Marques, Srgio Silva Braga Junior
Universidade Estadual Paulista, UNESP, Tup-SP
Curso de Administrao e Ps-graduao em Agronegcio e Desenvolvimento
{[email protected], [email protected], [email protected]}
Agradecimentos Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo - FAPESP pelo apoio e financiamento da presente pesquisa. Processo n 2015/00108-1
Resumo. A consolidao de prticas sustentveis no ambiente empresarial abriu espao para novas ferramentas de gesto e retorno de resduos, surgindo a logstica reversa. O presente trabalho tem como objetivo analisar como a logstica reversa implementada para a gesto de resduos em aougues da Alta Paulista. Para atingir o objetivo proposto foi realizado um estudo junto a trs aougues da Alta Paulista, em que foram coletados o tipo, a quantidade e a destinao para cada resduo gerado durante quatro meses, para assim analisar o retorno financeiro ou gastos gerados por esses, alm do impacto ambiental causado por cada resduo.
Palavras-chave: logstica reversa; aougues; resduos; Alta Paulista.
Abstract. The consolidation of sustainable practices in the business environment has opened up new management tools and waste return, appearing the reverse logistics. This study aims to analyze how the reverse logistics is implemented for waste management in butcher shops Alta Paulista. To achieve this purpose a study was conducted with three butcher shops of Alta Paulista, in which were collected the type, quantity and destination for each waste generated for four months, so as to analyze the financial return or expenses generated by these, as well the environmental impact of each waste. Key words: reverse logistic, butchers, waste, High Paulista.
http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/mailto:[email protected]://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/mailto:[email protected]
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1. Introduo
As organizaes esto cada vez mais preocupadas em atingir e demonstrar seu desempenho ambiental, a partir do compromisso permanente por parte dos empresrios na adoo de uma postura que contribua para o desenvolvimento econmico de forma conjunta com o controle dos impactos sobre o meio ambiente de suas atividades, produtos e servios.
Feistel (2011) observa que as exigncias relacionadas preservao ambiental assumem uma importncia crescente para as empresas, devida presso dos consumidores, cada vez mais envolvidos com questes ambientais. Atualmente as empresas demonstram preocupao com sua imagem, de maneira que procuram adaptar-se a essas exigncias.
A comercializao de carnes bovina, suna e de frangos de corte, no Brasil, de modo geral, feita diretamente entre frigorficos, abatedouros e instituies varejistas. O varejo passou a assumir uma nova funo, comprometendo-se com a reduo de lixo gerado, a sua reciclagem e reutilizao, gerando como consequncia o aumento de sua responsabilidade diante do consumidor final (BRAGA JUNIOR e RIZZO, 2008; DIAS e BRAGA JUNIOR, 2016).
Atualmente a legislao ambiental deve caminhar no sentido de tornar as empresas cada vez mais responsveis por todo ciclo de vida de seus produtos, ser legalmente responsvel pelo seu destino aps a entrega dos produtos aos clientes e do impacto que estes produzem no meio ambiente (LACERDA, 2014).
O descarte incorreto de resduos de animais como carcaas, peas anatmicas, vsceras e ossadas em cidades que no possuem infraestrutura para receber este tipo de resduo, que tratado como graxaria, realizado diretamente em lixes ou aterros, sendo descartados sem controle sanitrio e misturados ao lixo comum. Dessa forma, agravam-se os problemas ambientais e de sade pblica, resultando em grande desperdcio, quando se pensa em reciclagem agrcola (MATTAR; FRADE JNIOR; OLIVEIRA, 2014).
Os subprodutos oriundos do processamento da carne bovina so utilizados em diversos segmentos industriais, como o couro na indstria caladista. Tambm o resduo seco da produo de sebo, composto por ossos triturados, aparas de carne e vsceras modas, industrializado e destinado fabricao de rao animal (MARTINS et al., 2011).
Dentro desse contexto, o presente artigo traz uma anlise da logstica reversa realizada por aougues da Alta Paulista. Cada vez mais a logstica reversa tem se tornado importante para a empresa, uma vez que oferece oportunidades para recuperao do valor, bem como economias de custo em potencial.
Sendo assim, a pesquisa teve como objetivo analisar como a logstica reversa implementada para a gesto de resduos em aougues da Alta Paulista. E para alcanar o objetivo proposto foram identificados e apontados quais resduos so gerados e as prticas de logstica reversa existente nos aougues, e por fim avaliou-se os ganhos econmicos e ambientais que podem ser obtidos com a logstica reversa.
2. Reviso Terica
Dentro dos assuntos tratados ao longo da pesquisa, deve-se trazer algumas consideraes para um genrico entendimento sobre aougues, logstica reversa, resduos slidos e resduos orgnicos, o que se faz a seguir.
Aougues
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No Brasil, os tipos mais importantes de varejo para distribuio so hipermercados, supermercados, lojas de convenincia e lojas de especialidades, em que se encontram os aougues. O varejo integra funes clssicas de operao comercial: procura e seleo de produtos, aquisio, distribuio, comercializao e entrega (SANTOS; COSTA, 2014).
Aougues so estabelecimentos de preparo e comercializao de alimentos, que assumem papel importante na qualidade da alimentao oferecida populao urbana (SOTO et al., 2009). So lojas especializadas na venda de carne bovina e afins, alm de oferecer carnes de outros animais, frangos assados, ovos, carvo para churrasco, entre outros produtos e servios.
Os aougues so responsveis por grande volume de resduos de animais. A acumulao de matria orgnica facilmente putrescvel, como as carnes e subprodutos do abate, implica no acrscimo de nveis de riscos laborais, ambientais e a sade pblica (SANTOS 2012). A responsabilidade atribuda manuteno da higiene nesses estabelecimentos deve ser severa para evitar riscos sade dos consumidores.
Segundo Fritzen et al. (2006) a avaliao da qualidade das carnes est baseada em parmetros higinicos sanitrios, os quais permitem uma avaliao global da higiene e limpeza durante o processamento, transporte e armazenamento e do descarte adequado dos resduos gerados pelos aougues. De fato, as empresas que adotam as prticas ambientalmente corretas so reconhecidas pelo consumidor final, gerando assim uma vantagem competitiva no mercado.
Logstica Reversa
A logstica reversa, em sentido amplo, compreende todas as operaes relacionadas com a reutilizao de produtos e materiais, o que engloba todas as atividades logsticas de coletar, desmontar e processar produtos e/ou materiais e peas usadas a fim de assegurar uma recuperao sustentvel (LEITE, 2003).
De acordo com Shibao, Moori e Santos, 2010, Logstica Reversa pode ser definida como:
O processo de planejamento, implantao e controle eficiente e eficaz dos custos, dos fluxos de matrias-primas, produtos em estoque, produtos acabados e informao relacionada, desde o ponto de consumo at um ponto de reprocessamento, com o objetivo de recuperar valor ou realizar a disposio final adequada do produto.
A logstica reversa onde o resduo slido se torna novamente uma matria prima, com valor de recurso natural. Portanto, auxilia a economia ambiental valorizando o setor empresarial, partindo do ponto de vista contrrio, do fim ao recomeo do ciclo produtivo (FONSECA, 2013).
O foco de atuao da logstica reversa envolve a reintroduo dos produtos ou materiais na cadeia de valor pelo ciclo produtivo ou de negcios. Portanto, o descarte do produto deve ser a ltima opo a ser analisada (CHAVES; BATALHA, 2006).
A Lei n 12.305, de 2 de agosto de 2010, que institui a Polcia Nacional de Resduos Slidos (PNRS), define resduos slidos como todo material, substncia, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade. A PNRS surgiu para tentar minimizar o problema dos resduos, uma vez que agora no apenas o governo, mas os produtores e at os consumidores so responsveis pela destinao e tratamento correto do seu material obsoleto, atravs do processo de logstica reversa (THODE FILHO et al., 2015).
As empresas so as principais usurias de recursos naturais e tambm as principais responsveis pelo desenvolvimento econmico mundial. Com as mudanas ocorridas ao longo do tempo, a quantidade de resduos gerados teve um aumento significativo.
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Assim, houve a necessidade de se criar uma alternativa para que esses resduos fossem transformados (BRAGA JUNIOR e RIZZO, 2008).
necessria a possibilidade de revalorizao dos resduos gerados pelas empresas. O conceito de logstica reversa ampara-se justamente na sustentabilidade ecolgica e econmica. As empresas conseguem gerar lucros e riquezas em conjunto com prticas sustentveis que lhe trazem benefcios e garantem a preservao do meio ambiente para as futuras geraes (GUARNIERI, 2011).
Pourmohammadi, Dessouky e Rahimi (2013) ressaltam que a logstica reversa concentra-se em sistemas de recuperao do produto no fim da vida, e que os resduos so entradas potencialmente valiosas para uma variedade industrial, beneficiando desde o fornecedor ao cliente, estendendo significativamente a vida til de um determinado subproduto, e diminuindo seu impacto ambiental.
No caso dos aougues a destinao adequada dos resduos gerados pelos processos de desossa e limpeza direcionada para indstria de gorduras e graxas, que so indstrias que transformam subprodutos da indstria da carne em sebo e em diversos tipos de farinhas utilizadas na produo de adubo ou rao animal (REBOUAS et al., 2010, p. 1220). H indstrias de gorduras e graxas que tambm produzem sebo ou gordura e adubo organomineral somente a partir de ossos (JAHNKE, 2012).
Resduos Slidos
Nas ltimas dcadas, os resduos slidos passaram a ser um problema, provocando grande impacto ambiental decorrente da falta de fiscalizao e de regulamentao. A extrao desenfreada dos recursos naturais, a crena de que estes so renovveis e inacabveis, alm do aumento da escala de produo devido revoluo industrial, estimularam a explorao do meio ambiente e elevaram a quantidade gerada de resduos (GUARNIERI, 2011).
Segundo Fonseca (2013) os resduos gerados pelos processos produtivos, produtos e embalagens, quando terminam a vida til, muitas vezes so depositados em locais inadequados, transformando-se em passivos ambientais e causando srios riscos ao meio ambiente e sade pblica.
Fonseca (2013) ressalta que a busca pela correta gesto dos resduos slidos importante para a conscientizao da sociedade quanto aos problemas ambientais causados por eles, que so os principais causadores de degradao na natureza.
Resduos Orgnicos
Os resduos orgnicos so em sua maioria oriundos de restaurantes, domiclios e supermercados. Entre os mtodos de reaproveitamento e reciclagem deste tipo de resduos se encontra a compostagem, que tem por finalidade gerar um composto, assim como enviar o mnimo de rejeitos para aterros sanitrios (SOUZA, 2015).
Os aougues tambm so responsveis pela gerao de resduos orgnicos, como o couro, sangue, ossos, gorduras, tripas, outras partes condenadas pela inspeo sanitria (JAHNKE, 2012).
A disposio inadequada de resduos orgnicos produzidos das atividades nos aougues pode gerar graves impactos ao meio ambiente, como, por exemplo, a eutrofizao dos corpos dgua; desta forma, torna-se importante a disposio desses resduos de maneira ambientalmente adequada (DORES-SILVA; LANDGRAF; REZENDE, 2013).
Para Pereira (2009) a destinao incorreta dos dejetos provenientes da atividade dos aougues, facilitar, por meio de animais vetores, a instalao de epidemias generalizadas, sobretudo por meio de roedores e outros. A Peste bubnica, o Tifo Murino e o Hantavrus tambm so constantes nas reas com infraestrutura inadequada.
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De acordo com Jahnke (2012), a finalidade do processamento e da destinao dos resduos ou dos subprodutos do abate funo de caractersticas locais ou regionais, como a existncia ou a situao de mercado para os vrios produtos resultantes e de logstica adequada entre as operaes.
Segundo Feistel (2011) do ponto de vista econmico e ambiental muito desses produtos residuais poderiam ser transformados em subprodutos teis para consumo humano, alimento de animais, indstria de raes e fertilizantes.
3. Procedimentos Metodolgicos
O objetivo da pesquisa foi analisar como a logstica reversa implementada para a gesto de resduos em aougues da Alta Paulista. Para atingir o objetivo proposto foi realizado um estudo junto a trs aougues na regio da Alta Paulista durante o perodo de quatro meses para comparar volumes e os tipos de resduos gerados.
Foram mensurados os ganhos econmicos, por meio da renda gerada pela venda dos resduos que retornam para a cadeia produtiva, e os ganhos ambientais (quantificao dos resduos que deixaram de ser descartados no meio ambiental ou que deixaram de ser encaminhados para o aterro sanitrio) por meio de anlises bibliogrficas e do mtodo desenvolvido pelo Instituto Wuppertal, que permite avaliar as mudanas ambientais associadas extrao de recursos de seus ecossistemas naturais (RITTHOFF, ROHN & LIEDTKE, 2002).
A Figura 1 apresenta como a pesquisa foi estruturada quanto ao mtodo utilizado e os resultados atingidos.
Figura 1 Procedimentos Metodolgicos para a pesquisa
Problema da Pesquisa:
Como feita a gesto dos resduos gerados por aougues da Alta Paulista?
Objetivo:
Analisar como a logstica reversa implementada para a gesto de resduos em aougues da Alta Paulista.
Coleta de dados:
Estudos de mltiplos casos
Resultados:
Compreenso do assunto
Mensurar ganhos econmicos
Mensurar ganhos ambientais
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Por meio da logstica reversa, classificou-se e quantificaram-se os resduos que so reaproveitados dentro da cadeia, os resduos que podem ser reaproveitados e os que so descartados por no possurem possibilidade de reaproveitamento.
Para esta pesquisa, o mtodo utilizado foi o qualitativo por ter natureza exploratria com uma amostragem no probabilstica por convenincia (GODOY, 1995; COOPER E SCHINDLER, 2003; VERGARA, 2005). A pesquisa buscou analisar os processos, dados e resultados alcanados pelos aougues como uma tentativa de compreenso detalhada dos significados e das caractersticas situacionais apresentadas pelos casos analisados.
Vergara (2005) classifica uma pesquisa cientfica quanto aos fins e quanto aos meios. Sendo assim, o presente trabalho pode ser considerado, quanto aos fins, como uma pesquisa exploratria qualitativa por ter como objeto de pesquisa trs aougues e suas prticas em logstica reversa para os resduos. Quanto aos meios, ainda pela classificao da autora, como uma pesquisa bibliogrfica e de campo, por serem os mtodos para atingir o objetivo proposto, buscando referncias em trabalhos j publicados sobre o assunto e explorando diretamente nos aougues a execuo do processo da logstica reversa.
Assim, foi avaliada a gesto de resduos implementada pelos aougues que so objeto de pesquisa, em que foram analisados se os processos implementados esto relacionados com a teoria encontrada. Tambm foram coletados os volumes de resduos gerados durante quatro meses e para quais resduos a logstica reversa foi implementada.
Gil (2001) refora dizendo que a pesquisa exploratria se prope a compreender o problema enfrentado pelo pesquisador procurando explorar a situao para prover critrios e um melhor entendimento. A gesto de resduos por meio da logstica reversa praticado por aougues um assunto pouco explorado.
Para Aaker et al. (2001) e Cooper e Schindler (2003), a pesquisa exploratria usada para buscar o entendimento sobre a natureza de um problema quando normalmente h pouca pesquisa (conhecimento, dados) sobre aquilo que se pretende conseguir. Ainda segundo os autores, este mtodo de pesquisa muito flexvel e de carter qualitativo.
Assim, relaes entre circunstncias particulares observadas, a partir destes estudos de caso, podem sugerir conexes que precisam ser exploradas em outras instncias do conhecimento, surgindo assim novos trabalhos dentro do setor ou at mesmo em outros setores da economia, que ainda no se voltaram para estas prticas.
4. Caracterizao dos Aougues
Foram estudados trs aougues do municpio de Tup, regio da Alta Paulista, selecionados de acordo com a disposio de cada um para ceder s informaes necessrias para atingir o objetivo proposto. Tambm levou-se em considerao para escolha o tamanho, a localizao e o pblico que cada um abrange. Os aougues foram denominados de A, B e C para no serem identificados, j que os dados so confidenciais.
O aougue A de grande porte, est localizado em uma rea de comrcio popular da cidade e atende principalmente os pblicos de classe B, C e D. Oferta mensalmente a mdia de 40.000 kg de carnes bovinas, sunas e de aves. Ainda possui o servio de rotisserie e produtos para churrasco e cozinha.
O aougue B de mdio porte, est localizado em uma rea nobre da cidade, e atende os pblicos de classe A e B, por apresentar carnes de qualidade elevada e produtos/servios diferenciados, como: o corte da carne, o tempero, e o atendimento. Oferta mensalmente a mdia de 26.000 kg de carnes bovinas, sunas e de aves. E
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assim como o aougue A, possui rotisserie e produtos para churrasco, como gelo, carvo e espeto.
O aougue C de pequeno porte, est localizado em um bairro de baixa classe mdia, e atende ao pblico local de classes C, D e E. Oferta mensalmente a mdia de 3.000 kg de carnes bovinas, sunas e de aves.
5. Resultados e Discusses
Considerando o objetivo da pesquisa em analisar os resduos gerados por trs aougues da Regio da Alta Paulista, a tabela 1 apresenta o tipo e a quantidade de resduo gerado por cada um dos aougues durante quatro meses.
Tabela 1 Dados coletados nos aougues.
Aougue
Outubro Novembro Dezembro Janeiro
Ossada (kg)
leo/Gord (litros)
Ossada (kg)
leo/Gord (litros)
Ossada (kg)
leo/Gord (litros)
Ossada (kg)
leo/Gord (litros)
A 3.200 50 3.240 55 5.000 200 3.000 50
B 1.000 100 1.200 150 2400 400 1.000 100
C 250 - 250 - 350 - 250 -
Fonte: Dados da pesquisa, 2015/2016.
Foi observado que os principais resduos gerados so a ossada e o leo/gordura. O volume de leo/gordura decorrente do servio de rotisserie oferecidos pelos aougues A e B. Os trs aougues recebem apenas a carne com o osso. Os produtos j chegam livres do sangue, do couro e da carcaa.
Constatou-se que o volume de resduos slidos, como embalagens, irrisrio, e o descarte realizado pelo programa de coleta seletiva do municpio de Tup. O programa auxilia h mais de dez anos na diminuio do impacto ambiental e possui grande importncia social no municpio, garantindo qualidade de vida a dezenas de famlias que viviam no antigo lixo em busca de renda para sobrevivncia.
A ossada de todos os aougues vendida R$ 0,05/kg para uma empresa de reciclagem animal no muncipio de Adamantina, que atua no mercado de industrializao e comercializao de produtos de origem animal atendendo a uma demanda nacional e internacional de farinhas e gorduras animais. A tabela 2 apresenta o ganho econmico que cada aougue teve em outubro, novembro e dezembro de 2015, e em janeiro de 2016.
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Tabela 2. Receita gerada pela venda de ossada.
Aougue A Aougue B Aougue C
Outubro R$ 160,00 R$ 50,00 R$ 12,50
Novembro R$ 162,00 R$ 60,00 R$ 12,50
Dezembro R$ 250,00 R$ 120,00 R$ 17,50
Janeiro R$ 150,00 R$ 50,00 R$ 12,50
Total R$ 722,00 R$ 280,00 R$ 55,00
Fonte: Dados da pesquisa, 2015/2016.
Notou-se que a logstica reversa da ossada no apresenta ganho econmico financeiro atrativo para os empreendimentos. Sendo assim, o ganho ambiental o fator decisrio para a adoo da logstica reversa nos aougues estudados.
Os comrcios analisados geram um elevado volume de ossos de animais todos os meses. O descarte incorreto desse resduo causaria danos ao meio ambiente, como doenas, decorrentes da infraestrutura inadequada, alm de contaminao do solo e da gua.
O leo e gordura so gerados apenas pelos aougues A e B. Ambos destinam esses resduos para uma empresa dedicada produo e comercializao de gros, farelos, leos vegetais e biodieseis no municpio de Tup.
O leo e a gordura so encaminhados juntos para essa empresa, e a cada quatro litros cedidos o aougue recebe um litro de leo novo. A tabela 3 apresenta a quantidade em litros de leo novo que os aougues arrecadaram na troca pelo usado.
Tabela 3. Litros de leo novo arrecadados.
Aougue
A Aougue
B
Outubro 12,5 25
Novembro 13,75 37,5
Dezembro 50 100
Janeiro 12,5 25
Total 88,75 187,5
Fonte: Dados da pesquisa, 2015/2016.
Os aougues A e B tem uma reduo de 25% do custo com leo, destinado aos servios de rotisserie, percentual atrativo para os empreendimentos. Ressalta-se que nenhuma das operaes de Logstica Reversa adotadas nos aougues gera custos para os gestores.
Para mensurar quantitativamente o quanto o leo deixa de poluir o meio ambiente foi utilizado o mtodo Wuppertal. A tabela 4 apresenta a quantidade de gua que cada aougue deixou de poluir com a destinao adequada do leo e da gordura.
Tabela 3. Quantidade de gua que os aougues poluiriam
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Aougue A Aougue B
Outubro 2.552,00 5.104,00
Novembro 2.807,20 7.656,00
Dezembro 10.208,00 20.416,00
Janeiro 2.552,00 5.104,00
Total 18.119,20 38.280,00
Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
Ao se mensurar o ganho ambiental que se teve com a implementao da logstica reversa para o leo, observou-se que, em trs meses, o aougue A deixou de poluir 18.119,20 litros de gua e o aougue B 38.280,00 litros.
A tabela 4 mostra a quantidade de material abitico que seria produzida pelo leo.
Tabela 4. Quantidade de material abitico produzido pelo leo(kg)
Aougue
A Aougue
B
Outubro 157,50 315,00
Novembro 173,25 472,50
Dezembro 630,00 1.260,00
Janeiro 157,50
315,00
Total 1.118,25 2.362,50
Fonte: Dados da pesquisa, 2015.
Com a implantao da logstica reversa, em quatro meses, observou-se que, no total, os aougues deixaram de gerar 3.480,75 kg de material abitico, ou seja, que no transformado no meio ambiente ao longo do tempo.
A tabela 5 apresenta a quantidade de material bitico que seria produzido pelo leo.
Tabela 5. Quantidade de material bitico produzido pelo leo(kg).
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Aougue
A Aougue
B
Outubro 127,00 254,00
Novembro 139,70 381,00
Dezembro 508,00 1.016,00
Janeiro 127,00
254,00
Total 901,70 1.905,00
Fonte: Dados da pesquisa, 2015/2016.
Os aougues deixaram de gerar 2.806,7 kg de matria bitica (que pode ser transformada no meio ambiente) com a adoo da logstica reversa.
A tabela 6 apresenta o quanto os aougues deixaram de poluir o ar.
Tabela 6. Quantidade de ar poludo pelo leo (kg)
Aougue A Aougue B
Outubro 28,00 56,00
Novembro 30,80 84,00
Dezembro 112,00 224,00
Janeiro
28,00
56,00
Total 198,80 420,00
Fonte: Dados da pesquisa, 2015/2016.
Observa-se que a adoo da logstica reversa para o leo e a gordura nos aougues A e B resultam em ganhos ambientais bastante expressivos. Em quatro meses os aougues deixaram de poluir 618,8 kg de ar de acordo com o mtodo Wuppertal.
6. Consideraes Finais
Em todo o mundo, os elos entre desempenho ambiental, competitividade e resultados financeiros esto crescendo a cada dia. A Logstica Reversa tem chamado ateno das empresas nos ltimos anos, devido aos ganhos econmicos que essa atividade pode gerar. E tambm devido conscientizao ambiental e a lei dos resduos slidos de 2010. Empresas esto transformando o desempenho ambiental em uma poderosa arma competitiva. No entanto, ainda um assunto pouco explorado dentro dos aougues.
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Nenhum dos aougues estudados realizava o controle da quantidade de resduos gerados e no sabia o retorno que era obtido pelo descarte correto desses. Tambm no tinham conhecimento que essas prticas eram logstica reversa. Notou-se tambm que os aougues apenas realizam as prticas corretas por causa da fiscalizao.
Foi perceptvel atravs da pesquisa que, apesar das empresas realizarem a logstica reversa, as pessoas no sabem o que significa logstica reversa, e no tm conhecimento dos ganhos financeiros e principalmente ambientais que podem ser gerados pela mesma.
Espera-se contribuir para futuras pesquisas na rea e na avaliao de diferentes tamanhos de mercados quanto a sua viabilidade econmica, ambiental e social. E tambm na conscientizao da populao na adoo da logstica reversa.
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Recebido em 28/03/2016 e Aceito em 15/06/2016.
InterfacEHS Sade, Meio Ambiente e Sustentabilidade Vol. 11 n 1 junho de 2016, So Paulo: Centro Universitrio Senac ISSN 1980-0894 Portal da revista InterfacEHS: http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/ E-mail: [email protected] Esta obra est licenciada com uma Licena Creative Commons Atribuio-No Comercial-SemDerivaes 4.0
Internacional
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A Lei dos Agrotxicos: um estudo sobre responsabilidade prevista, perante os produtores rurais do interior do Estado de So Paulo
The Pesticides Law: a study about expected responsibility, towards the rural
producers of the So Paulo State
Mauricio Dias Marques1, Sergio Silva Braga Junior2, Dirceu da Silva3 1e2Universidade Estadual Paulista UNESP; 3Universidade Estadual de Campinas UNICAMP 1e2Faculdade de Cincias e Engenharia Programa de Ps-Graduao em Agronegcio e Desenvolvimento 3Faculdade de Educao
{[email protected], [email protected], [email protected]}
Resumo. O presente artigo procurou verificar como os produtores rurais do municpio de Tup-SP esto cumprindo a responsabilidade prevista na legislao, quanto logstica reversa das embalagens vazias de agrotxicos. Com base em pesquisa documental, para compreender a determinao da legislao, e em pesquisa bibliogrfica sobre a logstica reversa, foi realizada uma pesquisa de campo com aplicao de um questionrio desenvolvido e validado seguindo as recomendaes de DeVellis (2003) junto a 20 (vinte) produtores rurais do municpio, nos meses de abril e maio de 2015. O objetivo foi verificar como os produtores rurais percebem o procedimento da logstica reversa das embalagens de agrotxicos proposta pela legislao brasileira para essas embalagens. Verificou-se que existe certa tendncia dos produtores, em geral, de no cumprir o que imposto pela legislao e uma das possveis causas levantadas nesta pesquisa pode ser a falta de fiscalizao do Poder Pblico.
Palavras-chave: embalagens de agrotxicos; logstica reversa; legislao.
Abstract. This article aims to check how farmers in the city of Tupa-SP, are fulfilling their liability under the law, as the reverse logistics of empty containers of pesticides. Based on documentary research, to understand the determination of the legislation, and literature on reverse logistics, a field research was carried out with application of a questionnaire developed and validated following the DeVellis recommendations (2003) together with twenty (20) farmers the municipality, in April and May 2015. The objective was to see how farmers realize the reverse logistics procedure of pesticide containers on the first link in the chain proposed by the Brazilian legislation for these packages. It was found that there is a tendency of producers, in general, do not fulfill what law imposes and one of the possible causes raised in this research may be the lack of supervision by the Government.
Key words: pesticide packaging; reverse logistic; legislation.
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1. Introduo
A produo agrcola sofreu grande impulso com utilizao de defensivos agrcolas a partir da dcada de 1920 e, no Brasil, seu uso tornou-se intenso a partir da dcada de 1960. Isso gera grave problema de sade pblica, demandando a implantao de um sistema de vigilncia da sade de populaes expostas a agrotxicos (ORGANIZAO PAN-AMERICANA DA SADE-OPAS / ORGANIZAO MUNDIAL DA SADE-OMS (2010).
O Brasil est entre os principais consumidores mundiais de defensivos agrcolas, e a maior utilizao dessas substncias na agricultura, principalmente nos sistemas de monocultura. A par disso, h discusses em torno do uso de defensivos agrcolas, que abordam as vantagens com respeito aos retornos econmicos e agronmicos que eles proporcionam ao produtor rural e as desvantagens envolvidas nos campos da degradao ambiental e do risco sade humana. E, com respeito s embalagens, existem restries legais relacionadas ao meio ambiente e aos fatores econmicos (SHIBAO; MOORI; SANTOS, 2010).
A Lei Federal n. 7 802 de 11/07/89, regulamentada pelo Decreto n.o 98.816, no seu artigo 2, inciso I, define assim o termo agrotxicos: os produtos e os agentes de processos fsicos, qumicos ou biolgicos destinados ao uso nos setores de produo, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrcolas, nas pastagens, na proteo de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e tambm em ambientes urbanos, hdricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composio da flora e da fauna, a fim de preserv-la da ao danosa de seres vivos considerados nocivos, e, substncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento.
Segundo a OPAS/OMS ( 2010), os produtos comercializados abrangem cerca de 300 princpios ativos em duas mil formulaes comerciais diferentes no Brasil, cuja classificao pode-se resumir em: a) Inseticidas (possuem ao de combate a insetos, larvas e formigas); b) Fungicidas (combatem fungos); c) Herbicidas (combatem ervas daninhas); d) Raticidas (combate a roedores); e) Acaricidas (combate a caros diversos); f) Nematicidas (combate a nematides); g) Molusquicidas (combate a moluscos, basicamente o caramujo da esquistossomose; h) Fundgantes (combate a insetos e bactrias).
Para minimizar o problema em torno das embalagens desses produtos qumicos, a legislao brasileira trata do descarte de embalagens vazias de defensivos. A Poltica Nacional de Resduos Slidos (Lei 12.305/2010) estabeleceu como instrumento de desenvolvimento econmico e social a implantao de sistemas de logstica reversa, consistente num conjunto de aes, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituio dos resduos slidos ao setor empresarial, para aproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou para destinao final ambientalmente adequada, conforme art. 3, XII da Lei. A aplicao da logstica reversa requer integrao entre Unio, Estados, Municpios e particulares, que iro somar investimentos e esforos com a preocupao da conservao do meio ambiente.
A Logstica Reversa do Ps-Consumo (aplicada no caso das embalagens de agrotxicos), abrange os bens que, aps serem produzidos e utilizados, passam a ser de ps-consumo, e devido a isso os mesmos podem ser enviados a destinos finais tradicionais, como por exemplo, incinerao e aterros sanitrios, ou tambm podem retornar ao ciclo produtivo, atravs da reciclagem ou reuso (LEITE, 2003).
Um procedimento que se ocupa da destinao final das embalagens vazias complexo e requer a participao efetiva de todos os agentes envolvidos na fabricao, comercializao, utilizao, licenciamento, fiscalizao e monitoramento das atividades relacionadas com manuseio, transporte, armazenamento e processamento dessas embalagens. O processo de logstica reversa tem oportunidade para a sistematizao dos fluxos de resduos, bens e produtos descartados, seja pelo fim de sua vida til, seja por obsolescncia tecnolgica e o seu reaproveitamento, dentro ou fora da cadeia produtiva de origem, contribuindo dessa
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forma para reduo do uso de recursos naturais e dos demais impactos ambientais. ferramenta organizacional que tem o intuito de viabilizar tcnica e economicamente as cadeias reversas, de forma a contribuir para a promoo da sustentabilidade de uma cadeia produtiva (SHIBAO, MOORI, SANTOS, 2010).
2. Problema e Objetivo
A problemtica est em como a legislao que implantou e regulamentou os procedimentos da logstica reversa das embalagens de agrotxicos est sendo comprida. No caso deste estudo, como a logstica reversa est sendo iniciada pelos produtores rurais no municpio de Tup?
Com o objetivo de verificar como os produtores rurais percebem o procedimento da logstica reversa das embalagens de agrotxicos no primeiro elo da cadeia proposto pela legislao brasileira para estas embalagens, foi realizada uma pesquisa de campo junto a 20 (vinte) produtores rurais do municpio de Tup/SP, nos meses de abril e maio de 2015, com utilizao de formulrio com 19 questes, para verificar como est sendo cumprida a legislao.
3. Fundamentao Terica
Em virtude do objetivo proposto foram buscados conceitos, como a base agrcola de Tup, a legislao relacionada s embalagens vazias de agrotxicos e a logstica reversa sejam tratados.
A agricultura em Tup
A agricultura no municpio de Tup apresenta produo diversificada de alimentos e responsvel por assumir importante destaque na segurana alimentar regional.
Segundo dados do IBGE (2014), o municpio de Tup/SP, tinha em 2014 uma populao estimada em 65.596 habitantes, rea territorial de 628.126 km2. Sua produo agrcola em 2013 desdobrava-se em lavoura temporria: amendoim, arroz, cana-de-acar, feijo, mandioca, melancia, milho, sorgo e tomate; e em lavoura permanente: abacate, banana, borracha, caf, coco-da-bahia, laranja, mamo, manga e tangerina.
A agricultura familiar possui importante papel no municpio de Tup por contribuir com a diversidade de alimentos, mas sem dvida, pensando em elevar a produo, grande parte dos agricultores utilizam insumos qumicos sintticos e se enquadram na obrigatoriedade da devoluo de embalagens de agroqumicos, como ficou evidenciado pelos produtores entrevistados.
A agricultura familiar fonte fornecedora de alimentos in natura para o consumo direto e de matria-prima para as agroindstrias de processamento. Uma nica e pequena unidade produtiva da agricultura familiar pode produzir e fornecer uma infinidade de produtos (TEDESCO, 2001). Porm a grande maioria dos agricultores familiares ainda esto inseridos num sistema de produo convencional, com uso de insumos qumicos sintticos. Poucas unidades de produo priorizam o sistema agroecolgico ou orgnico.
Para regulamentar a aplicao desses insumos qumicos, notadamente os agrotxicos e deles o destino final das embalagens, a legislao brasileira traa regras que devem ser obedecidas.
Legislao
H uma legislao brasileira especfica para o tratamento que deve ser dado s embalagens de agrotxicos at o retorno das embalagens vazias s indstrias por meio da logstica reversa. O Quadro 1 apresenta em ordem cronolgica a sntese da legislao sobre embalagens de agrotxicos.
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De toda essa legislao, ressalta-se o estabelecimento de responsabilidades compartilhadas a todos os agentes que participam do processo de retorno das embalagens vazias de agrotxicos, por meio da logstica reversa. H responsabilidades para os agricultores, que utilizam o agrotxico em suas lavouras; h responsabilidades para o comerciante, revendedor do agrotxico; h responsabilidades para as Unidades de Recebimento controladas pelo INPEV (Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias); h responsabilidades para as indstrias fabricantes dos agrotxicos e h responsabilidades para o Poder Pblico.
Quadro 1: Sntese da legislao ambiental sobre as embalagens de agrotxicos.
Ano Lei/Decreto/Resoluo Escopo
1981 Lei 6.938 Poltica Nacional do Meio Ambiente
1989 Lei 7.802 Lei dos Agrotxicos, disps sobre a pesquisa, a experimentao, a produo, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercializao, a propaganda comercial, a utilizao, a importao, a exportao, o destino final dos resduos e embalagens, o registro, a classificao, o controle, a inspeo e a fiscalizao de agrotxicos, seus componentes e afins; e d outras providncias
1990 Decreto 98.816 Regulamentou a Lei 7.802/89, sendo posteriormente revogado pelo Decreto 98.816/1990
1998 Lei 9.605 Lei dos Crimes Ambientais, disps sobre as sanes penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente
2000 Lei 9.974 Altera a Lei 7.802/1989, traando a obrigatoriedade do recolhimento das embalagens pelas empresas produtoras e comercializadoras de agrotxicos
2000 Decreto 3.550 Deu nova redao aos dispositivos do Decreto 98.816/1990, sendo posteriormente revogado pelo Decreto 4.074/2002
2000 Decreto 3.964 Altera e inclui dispositivos ao Decreto n 98.816/1990, sendo posteriormente revogado pelo Decreto 4.074/2002
2001 Decreto 3.828/2001 Altera e inclui dispositivos ao Decreto n 98.816/1990, sendo posteriormente revogado pelo Decreto 4.074/2002
2002 Decreto 4.074 Regulamenta novamente a Lei no 7.802/1989, revogando os demais
2003 Resoluo CONAMA 334/2003
Dispe sobre os procedimentos de licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens vazias de agrotxicos
2014 Resoluo CONAMA 465/2014
Dispe sobre os requisitos e critrios tcnicos mnimos necessrios para o licenciamento ambiental de estabelecimentos destinados ao recebimento de embalagens de agrotxicos e afins, vazias ou contendo resduos
Dentre todas essas responsabilidades, interessa a este estudo as responsabilidades impostas pela legislao aos agricultores, considerados como usurios ou utilizadores dos produtos. Segundo comentrios de Cometti (2009), Melo et al. (2012), Cantos, Miranda e Licco (2008), Grutzmacher et al. (2006) e Faria e Pereira (2012), seriam estas as responsabilidades dos agricultores: preparar as embalagens vazias para devolv-las nas unidades de recebimento (embalagens rgidas lavveis: efetuar a trplice lavagem ou lavagem sob presso;
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inutilizar, perfurando, para evitar o reaproveitamento; embalagens rgidas no lavveis: mant-las intactas, adequadamente tampadas e sem vazamento; embalagens flexveis contaminadas: acondicion-las em sacos plsticos padronizados); armazenar, temporariamente, as embalagens vazias na propriedade em local adequado; transportar e devolver as embalagens vazias, com suas respectivas tampas, no estabelecimento onde foi adquirido o produto ou na unidade de recebimento indicada na nota fiscal, no prazo de at um ano contado da data de sua compra; manter em seu poder os comprovantes de entrega das embalagens e a nota fiscal de compra do produto por um ano.
E, essas responsabilidades atribudas ao produtor rural so cumpridas por meio da iniciao do processo da Logstica Reversa.
Logstica Reversa
A logstica reversa, estabelecida pela PNRS (Poltica Nacional de Resduos Slidos), Lei 12.305/2010, um instrumento eficaz no retorno das embalagens de agrotxicos, aliada preocupao com o meio ambiente. Tem por princpio o resgate de bens materiais que seriam lanados sem qualquer cuidado na natureza, trazendo-os de volta cadeia de distribuio da empresa. Foi estabelecida como instrumento de desenvolvimento econmico e social, imputando a responsabilidade do ps-consumo aos fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores (MOURO e SEO, 2012).
Conforme Victor (2010), uma das principais atribuies trazidas pela lei 12.305/10 (Poltica Nacional de Resduos Slidos) a logstica reversa, consistente num conjunto de aes, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituio dos resduos slidos ao setor empresarial, para aproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou para destinao final ambientalmente adequada, conforme art. 3, XII da Lei. A logstica reversa torna-se aplicvel, tanto sob o aspecto empresarial, quanto sob a anlise constitucional, necessitando de integrao entre Unio, Estados, Municpios e particulares, somando-se investimentos e esforos com preocupao da conservao do meio ambiente.
Novas abordagens foram sendo inseridas no conceito da logstica reversa, englobando retorno dos produtos, reciclagem, aes para substituio e/ou reutilizao de materiais, disposio final de resduos, reparao, reaproveitamento e remanufatura de materiais, incluindo-se tambm a questo da eficincia ambiental (MOTTA, 2013)
Braga Junior, Merlo e Nagano (2009) explicam que a logstica reversa se apresenta como a rea da logstica empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informaes logsticas do retorno dos bens de ps-venda e de ps-consumo ao ciclo de negcios ou ao ciclo produtivo, agregando-lhes valores: econmico, ecolgico, legal, logstico, de imagem corporativa, e outros.
O retorno das embalagens vazias de agrotxicos enquadra-se na Logstica Reserva de Ps-Consumo, que a rea que equaciona e operacionaliza o fluxo fsico e as informaes correspondentes de bens de ps-consumo descartados pela sociedade em geral, que retornam ao ciclo de negcios ou ao ciclo produtivo por meio de canais de di